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MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA

Estágio em Emergência Médica: a Realidade


Pré-Hospitalar
Filipe Jorge Figueiredo Gonçalves de Almeida
Rocha

M
2021
ESTÁGIO EM EMERGÊNCIA MÉDICA: A REALIDADE PRÉ-HOSPITALAR
Dissertação de candidatura ao grau de Mestre em Medicina, submetida ao Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto

Filipe Jorge Figueiredo Gonçalves de Almeida Rocha


Aluna do 6º ano profissionalizante de Mestrado Integrado em Medicina

Afiliação: Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto

Endereço: Rua de Jorge Viterbo Ferreira nº228, 4050-313 Porto

Endereço eletrónico: up201506247@up.pt

Orientador: Professor Doutor António Marques da Silva


Assistente Graduado Sénior de Anestesiologia, Diretor do Departamento de Anestesiologia, Cuidados
Intensivos e Emergência, Adjunto do Diretor Clínico do Centro Hospitalar Universitário do Porto,
Professor Catedrático Convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar-UP

Afiliação: Centro Hospitalar Universitário do Porto. Largo do Prof. Abel Salazar, 4099‐001 Porto, Portugal

Endereço: amarques@chporto.min-saude.pt

Coorientador: Professora Doutora Isabel Maria Pereira Alves de Almeida


Directora do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar do Porto, Professora Catedrática Convidada do
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar-UP

Afiliação: Centro Hospitalar Universitário do Porto. Largo do Prof. Abel Salazar, 4099‐001 Porto, Portugal

Endereço: diretora.su@chporto.min-saude.pt

i
Porto, junho de 2021

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ii
Agradecimentos
A todos aqueles que fizeram parte deste caminho que foi o curso de Medicina e muito mais, que me
ensinaram e partilharam momentos comigo.
À minha família e amigos pelo seu apoio, amizade e partilha.
Ao INEM pela oportunidade de realização deste estágio, sua organização, e pelo acolhimento.
A todos os profissionais do INEM com quem contatei e que partilharam comigo os seus
conhecimentos, histórias, e vivências, e que sempre me receberam abertamente.
Ao Prof. Dr. António Marques por toda a sua orientação, ensinamentos, tempo e disponibilidade,
pelos conselhos úteis para a realização da tese e para a vida, e pela partilha de histórias e ideias
enriquecedoras.
À Prof. Doutora Isabel Almeida pela disponibilidade enquanto coorientadora desta tese.
Ao ICBAS por ter servido de casa durante todo este caminho.

i
Resumo
A Emergência Médica Pré-Hospitalar é um ramo diferenciado da medicina com determinadas
particularidades que o tornam único, como a necessidade de rapidez de chegada e atuação, a
diversidade de situações e contextos, e a prestação de cuidados médicos fora do hospital em
ambiente não controlado com recursos limitados.

Em Portugal, o Instituto Nacional de Emergência Médica é a instituição responsável pela organização


e prestação de cuidados de Emergência Médica Pré-Hospitalar, tendo para isso ao seu serviço vários
tipos de meios com diferentes níveis de diferenciação, espalhados por todo o país. Um deles é a
Viatura Médica de Emergência e Reanimação, um meio diferenciado tripulado por um médico e um
enfermeiro com capacidade para realização de Suporte Avançado de Vida.

Com o intuito de aprofundar o conhecimento e experiência já existentes nesta área como socorrista
voluntário na Cruz Vermelha Portuguesa e averiguar o interesse em continuar a exercer esta
atividade como médico no futuro profissional, realizou-se um estágio observacional de 84 horas nos
meios de emergência pré-hospitalar, sobretudo nas Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação
(correspondente a 72 horas).

No final do estágio, foram contabilizadas um total de 20 ativações, das quais 13 por doença súbita e
4 por trauma. A causa mais frequente de ativação foi a Paragem Cardiorrespiratória, contudo em
nenhuma foi decidido iniciar Suporte Avançado de Vida. Observou-se um número significativo de
ocorrências que não necessitavam realmente de apoio médico diferenciado, o que aponta para a
necessidade de um sistema de triagem mais específico. Algumas das saídas foram especialmente
marcantes e ricas em aprendizagem devido a serem mais delicadas, exigentes, ou fora-do-comum,
com destaque para os cenários de operações multivítimas, as ocorrências pediátricas, e as Paragens
Cardiorrespiratórias.

Apesar do número reduzido de ativações e da baixa percentagem de ocorrências que realmente


necessitavam de apoio médico diferenciado, ainda assim este estágio contribuiu profundamente
para a aprendizagem e aprofundamento de conhecimentos e competências na área da Emergência
Médica Pré-Hospitalar, bem como para a solidificação do interesse e gosto pela mesma e desejo de
a exercer no futuro profissional como médico.

ii
Abstract
Prehospital Emergency Medicine is a differentiated branch of medicine with certain particularities
that make it unique, such as the need for quick arrival and action, the diversity of situations and
contexts, and the provision of medical care outside the hospital in an uncontrolled environment
with limited resources.

In Portugal, the National Institute of Medical Emergency is the institution responsible for the
organization and provision of Pre-Hospital Medical Emergency care, having at its service diverse
types of means with different levels of differentiation, spread throughout the country. One of them
is the Emergency and Resuscitation Medical Vehicle, a differentiated means crewed by a medical
doctor and a nurse capable of performing Advanced Life Support.

In order to deepen the already existing knowledge and experience in this area as a volunteer first-
aider in the Portuguese Red Cross and to ascertain the interest in continuing to exercise this activity
as a medical doctor in the professional future, an observational internship of 84 hours was carried
out in the means of pre-hospital emergency, especially in the Emergency and Resuscitation Medical
Vehicles (corresponding to 72 hours).

At the end of the internship, a total of 20 activations were recorded, of which 13 were due to
sudden illness and 4 to trauma. The most frequent cause of activation was cardiac arrest, but in
none of them was it decided to begin Advanced Life Support. A significant number of occurrences
were observed that did not truly need differentiated medical support, which points to the need for a
more specific triage system. Some of the ocorrences were particularly striking and rich in learning
due to being more delicate, demanding, or unusual, with emphasis on the scenarios of multi-victim
operations, pediatric occurrences, and cardiac arrests.

Despite the small number of activations and the low percentage of occurrences that really needed
differentiated medical support, even so this internship contributed deeply to learning and
deepening knowledge and skills in the area of Pre-Hospital Medical Emergency, as well as to
solidifying the interest and enjoyment for it and the desire to practice it in the future as a
professional medical doctor.

iii
Lista de abreviaturas
A – alergias
aa – em ar ambiente
AEC – Alteração do Estado de Consciência
AEM – Ambulância de Emergência Médica
AP – Auscultação Pulmonar
AS – Ambulância de Socorro
AVC – Acidente Vascular Cerebral
AVD – Atividades de Vida Diária
AVDS – Alerta - Voz - Dor - Sem resposta
AVP – acesso venoso periférico
bpm – Batimentos por minuto
CAPIC – Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise
CHMA-UHF – Centro Hospitalar do Médio Ave - Unidade Hospitalar de Famalicão
CHPV-VC – Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim - Vila do Conde
CHUP-HSA – Centro Hospitalar e Universitário do Porto - Hospital Geral Santo António
CIAV – Centro de Informação Anti-Venenos
CODU – Centro de Orientação de Doentes Urgentes
CODU-Mar – Centro de Orientação de Doentes Urgentes Mar
COVID+ – Positivo para infeção por SARS-COV-19
COVID-19 – Doença por vírus SARS-COV-19
cpm – Ciclos por minuto
CS – Centro de Saúde
CVP – Cruz Vermelha Portuguesa
DPOC- doença pulmonar obstrutiva crónica
Dx – glicemia capilar
ECG – Eletrocardiograma
EO – exame objetivo
EPH – Emergência Pré-Hospitalar
EV – endovenoso
F - Feminino
FA – Fibrilhação Auricular
FC – Frequência Cardíaca
FR – Frequência Respiratória
FV – Fibrilhação Ventricular
GCS – escala de coma de Glasgow
GNR – Guarda Nacional Republicana
HGSA – Hospital Geral de Santo António
HSJ – Hospital de São João
HTA – Hipertensão Arterial
IC – Insuficiência Cardíaca
INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica
iTeams – INEM Tool for Emergency Alert Medical System
M - Masculino
MEM – Motociclo de Emergência Médica
mmHg – Milímetros de mercúrio
NA – Não aplicável

iv
NC – Não conhecido
O2 – Oxigénio
OVA – Obstrução da Via Aérea
PA – Própria altura
PAD – Pedido de Apoio Diferenciado
PCR – Paragem Cardiorrespiratória
PEM – Posto de Emergência Médica
PR – Posto Reserva
PSP – Polícia de Segurança Pública
Sa – Saturação arterial
SA – Sem alterações
SatO2 – Saturação periférica de oxigénio
SAV – Suporte Avançado de Vida
SBV – Suporte Básico de Vida
SHEM – Serviço de Helicópteros de Emergência Médica
SIEM – Sistema Integrado de Emergência Médica
SIV – Suporte Imediato de Vida
SNA – Serviço Nacional de Ambulâncias
SpO2 – Saturação arterial periférica de oxigénio
SU – Serviço de Urgência
T – Temperatura
TA – Tensão Arterial
TAS – Tripulante de Ambulância de Socorro
TAT – Tripulante de Ambulância de Transporte
TCE – Trauma Crânio-Encefálico
TEPH – Técnico(s) de Emergência pré-hospitalar
TETRICOSY – TElephonic TRIage and COunseling SYstem
TIP – Transporte Inter-hospitalar Pediátrico
TOTE – Técnico de Operações e Telecomunicações em Emergência
TPC – Tempo de Preenchimento Capilar
UMIPE – Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência
VA – Via Aérea
VIC – Viatura de Intervenção em Catástrofe
VMER – Viatura Médica de Emergência e Reanimação
VMIR – Viatura Médica de Intervenção Rápida

v
Índice
Agradecimentos .......................................................................................................................................i
Resumo ................................................................................................................................................... ii
Abstract .................................................................................................................................................. iii
Lista de abreviaturas .............................................................................................................................. iv
Índice ...................................................................................................................................................... vi
Introdução.............................................................................................................................................. 1
Objetivos ............................................................................................................................................ 1
A emergência médica pré-hospitalar ................................................................................................. 2
A história da Emergência Médica em Portugal .................................................................................. 3
O SIEM e o INEM ................................................................................................................................ 4
Os meios do INEM.............................................................................................................................. 6
Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) .................................................................... 6
Postos de Emergência Médica (PEM) ............................................................................................ 8
Postos de Reserva (PR)................................................................................................................... 8
Ambulâncias de Emergência Médica (AEM) .................................................................................. 9
Motociclo de Emergência Médica (MEM) ..................................................................................... 9
Ambulâncias Suporte Imediato de Vida (SIV) .............................................................................. 10
Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) ............................................................... 10
Serviço de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM) ............................................................. 11
Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência (UMIPE) .......................................... 11
Ambulância de Transporte Inter-hospitalar Pediátrico (TIP) ....................................................... 12
Viatura de Intervenção em Catástrofe (VIC) ................................................................................ 12
Hospital de Campanha ................................................................................................................. 13
Métodos ............................................................................................................................................... 13
Resultados ............................................................................................................................................ 13
Estágios VMER.................................................................................................................................. 13
Estágio 1 (06/10/2020 – 8:00-14:00) ........................................................................................... 13
Estágio 2 (06/10/2020 – 14:00-20:00) ......................................................................................... 14
Estágio 3 (17/10/2020 – 14:00-20:00) ......................................................................................... 14
Estágio 4 (24/10/2020 – 14:00-20:00) ......................................................................................... 16
Estágio 5 (31/10/2020 – 08:00-14:00) ......................................................................................... 17
Estágio 6 (31/10/2020 – 14:00-20:00) ......................................................................................... 17

vi
Estágio 7 (11/11/2020 – 14:00-20:00).......................................................................................... 18
Estágio 8 (25/11/2020 – 14:00-20:00).......................................................................................... 21
Estágio 9 (09/12/2020 – 14:00-20:00).......................................................................................... 22
Estágio 10 (23/12/2020 – 14:00-20:00)........................................................................................ 23
Estágio 11 (08/02/2021 – 08:00-14:00)........................................................................................ 24
Estágio 12 (26/03/2021 – 08:00-14:00)........................................................................................ 24
Estágios SIV ....................................................................................................................................... 24
Estágio 1 (04/02/2021 – 08:00-14:00).......................................................................................... 24
Estágio 2 (10/02/2021 – 08:00-14:00).......................................................................................... 25
Discussão .............................................................................................................................................. 26
Conclusões ............................................................................................................................................ 33
Bibliografia............................................................................................................................................ 35
Anexos .................................................................................................................................................. 36

vii
Introdução
Objetivos
A motivação para a realização de um estágio nos meios de emergência do INEM (Instituto Nacional de
Emergência Médica), em particular nas VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação), no âmbito
da unidade curricular “Dissertação/Projeto/Estágio”, surgiu como uma oportunidade para completar e
aprofundar a formação numa área da medicina pela qual existia já interesse, e que infelizmente ainda
não possui contato e formação adequados nas escolas de formação médica: a Emergência Médica, em
particular a pré-hospitalar.

O interesse nesta área começou por acaso, durante a procura de oportunidades de voluntariado no 2º
ano do curso. Uma das encontradas foi a integração nas equipas de emergência da Cruz Vermelha
Portuguesa (CVP), tendo suscitado curiosidade e interesse. Realizou-se nesse ano a formação pela
Delegação do Porto, incluindo o curso TAT – Tripulante de Ambulância de Transporte, certificado pelo
INEM, sendo um curso inferior ao TAS – Tripulante de Ambulância de Socorro, contudo aquele que a
CVP oferece aos novos recrutas. Assim, existia já uma experiência de mais de 3 anos na Emergência
Médica Pré-Hospitalar, que se desejou aprofundar e expandir, tendo também em conta o possível
desempenho desta atividade como médico no futuro.

Ao iniciar os turnos nas ambulâncias, e mesmo durante a própria formação, rapidamente foi ganhado
um gosto significativo pela emergência médica pré-hospitalar, nomeadamente pela junção do
conhecimento e atuação médicas com a necessidade de pensamento rápido e adaptação a situações
muito diversas, e ainda com o contato íntimo que se tem com as vítimas e familiares nestas situações e
a diferença que se pode fazer nas suas vidas naquele curto espaço de tempo entre a chegada ao local e
a passagem do doente no serviço de urgência.

Para além disso, a emergência pré-hospitalar possibilitou o contato com casos reais e com os serviços e
funcionamento das várias entidades da medicina (principalmente pré-hospitalar), como os diversos
meios da Emergência Pré-Hospitalar (INEM, Bombeiros, …), o CODU (Centro de Orientação de Doentes
Urgentes), diversas jurisdições da polícia (especialmente a PSP), os Serviços de Urgência, a Triagem de
Manchester, entre outros; bem como a colocação no lugar de participante ativo – a atuação cabia ao
próprio. Assim, ofereceu uma componente prática que faltava muito no curso de Medicina, tendo
contribuído para uma maior motivação e melhor aprendizagem no mesmo.

1
Tendo em conta isto, surgiu assim a vontade de melhorar e aprofundar o contato, conhecimento e
experiência nesta área da emergência médica pré-hospitalar, nomeadamente como futuro médico, bem
como compreender se esta é uma área na qual gostaria de exercer no futuro profissional,
nomeadamente através do trabalho como médico nas VMER.

Os objetivos do estágio foram:

• Compreender melhor o funcionamento do SIEM (Sistema Integrado de Emergência Médica);


• Aplicar os conhecimentos adquiridos a situações reais;
• Aprofundar conhecimentos na área da emergência médica;
• Reconhecer situações graves de emergência médica e traumatológica;
• Aprender a abordar e lidar com casos emergência médica com recursos limitados;
• Compreender a atuação do médico na abordagem de um doente em contexto de emergência
pré-hospitalar;
• Conhecer e aplicar os protocolos de atuação e os algoritmos existentes;
• Aprender e utilizar técnicas life-saving, fundamentais na abordagem ao doente grave;
• Adquirir competências de trabalho em equipa e de gestão em situações de elevada pressão;
• Partilhar experiências, conhecimentos e competências com os profissionais do INEM;
• Compreender melhor o meu interesse nesta área podendo vir ou não a ter impacto na minha
decisão de escolha da especialidade.

A emergência médica pré-hospitalar


A emergência é uma área diferenciada da medicina com aspetos particulares que lhe são únicos,
nomeadamente a necessidade de rapidez na avaliação e atuação sem, contudo, comprometer a
adequação e eficácia do tratamento. A medicina de emergência não tem como objetivo o
estabelecimento de diagnósticos definitivos, mas sim a estabilização e correção do quadro clínico
emergente que coloque o doente em risco de vida ou dano grave/irrecuperável.

Na Emergência Pré-Hospitalar (EPH), isto torna-se ainda mais verdadeiro. A EPH concerne o socorrer da
vítima ainda no local do evento, a sua abordagem e estabilização primárias, e o seu transporte
adequado e atempado para uma unidade hospitalar onde cuidados de emergência médica mais
completos lhe possam ser administrados, bem como seu posterior encaminhamento para um
diagnóstico e tratamento definitivos. Assim, os cuidados de EPH são normalmente centrados numa
estabilização inicial da vítima, correção de desvios, e tratamento de sinais e sintomas, para que assim

2
que esta esteja estabilizada (nos casos em que tal é possível) se proceda o mais rapidamente ao seu
transporte para uma unidade hospitalar adequada.

Os cuidados de EPH são, na maioria das situações, os primeiros a serem administrados a uma vítima, e,
por isso, os mais fundamentais na cadeia de sobrevivência que vai determinar a sua mortalidade e
morbilidade. Por esse motivo, a rapidez na chegada ao local de meios diferenciados é um ponto fulcral
na EPH, assim como a qualidade dos tratamentos prestados durante o transporte até chegada a uma
unidade de saúde diferenciada. Assim, e tal como é explicado abaixo na estrela da vida, os resultados
finais de mortalidade e morbilidade da vítima estão altamente dependentes dos cuidados de EPH. Por
sua vez, claro, os cuidados de EPH de nada servirão se não forem seguidos por cuidados hospitalares
diferenciados de qualidade.

O facto de ser “pré-hospitalar”, ou seja, no local do evento e não nos estabelecimentos de saúde, é
outra grande diferença da EPH, na medida em que os profissionais se podem deparar com e ter de atuar
numa miríade de situações, contextos, e locais diferentes, muitas vezes fora do habitual e desafiantes
em múltiplos aspetos. Para além disso, e ao contrário dos serviços de urgência normais, as patologias
encontradas podem ser de qualquer tipo, variando grandemente. Por fim, os equipamentos, fármacos,
recursos humanos e outros recursos são marcadamente limitados em comparação com o ambiente
hospitalar. Assim, a adaptabilidade, praticidade e criatividade são características essenciais num
profissional da EPH.

A história da Emergência Médica em Portugal


A Emergência Pré-Hospitalar como atividade organizada e desempenhada pelo Estado teve início em
1965, aquando da implementação do número de socorro “115”, que inicialmente apenas estava
destinado a vítimas de acidente na via pública de Lisboa e com posterior expansão ao Porto, Coimbra e
Setúbal, que ativava uma ambulância tripulada por dois agentes da PSP que prestavam primeiros
socorros à vítima e a transportavam para o hospital.

Em 1971 foi criado o Serviço Nacional de Ambulâncias que ficou responsável por “assegurar a
orientação, coordenação e a ciência das atividades respeitantes à prestação de primeiros socorros a
sinistrados e doentes, bem como ao respetivo transporte”. Este serviço apenas geria as ambulâncias no
país, não realizando a coordenação de várias entidades na prestação de socorro à vítima.

Foi em 1980 que foi criado o SIEM e em 1981 o INEM como “organismo coordenador da atividade de
Emergência Médica a executar pelas diversas entidades do sistema”. Foram feitos protocolos com as

3
várias entidades, como Bombeiros, PSP e Cruz Vermelha, e entre 1987 e 2000 foram progressivamente
sendo criados os centros CODU Lisboa, Porto, Coimbra e Algarve, tendo posteriormente estes sido
unidos num CODU Nacional único em 2011.

A primeira Viatura Médica de Intervenção Rápida (VMIR) entrou em funcionamento em 1989, sendo que
em 1996 estas viaturas passaram a designar-se de Viatura de Emergência Médica e Reanimação (VMER).
Nesse mesmo ano iniciaram-se também os serviços de helitransporte de doentes.

Em 1999, o Número Nacional de Socorro (115) foi alterado para o Número Europeu de Emergência
(112).

O primeiro CAPIC (Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise) e os motociclos iniciaram a sua
atividade em 2004.

Em 2006, os CODU passaram a abranger 100% da população nacional, e todas as chamadas passaram a
ser atendidas por profissionais treinados pelo INEM. Apesar do nome, pode-se observar que o INEM
demorou cerca de 30 anos a ser verdadeiramente nacional, ou seja, a cobrir ocorrências em todas as
localidades do país.

Em 2011, deu-se início à integração dos meios de emergência pré-hospitalar na rede de serviços de
urgência permitindo a sua gestão conjunta por parte do INEM e serviços de urgência hospitalares.1,2

O SIEM e o INEM
Em Portugal, a EPH está organizada e estruturada num sistema chamado de SIEM – Sistema Integrado
de Emergência Médica, que é regulado pelo INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica.

O SIEM tem como objetivo a integração e cooperação de diversas entidades (Polícia de Segurança
Pública (PSP), a Guarda Nacional Republicana (GNR), os Bombeiros, a Cruz Vermelha Portuguesa, o INEM
e os Hospitais e Centros de Saúde) para um fim comum: a da prestação de socorro rápido e eficaz a
vítimas de emergência médica ou acidente. A atuação do SIEM é explicada pela “Estrela da Vida”, que
consiste em 6 fases:

1. Deteção: Deteção da situação de emergência médica e presença de uma ou mais vítimas no


local, usualmente por civis não treinados.
2. Alerta: O pedido de ajuda através do contato dos serviços de emergência e relato da situação,
localização, número e estado das vítimas, utilizando o Número Europeu de Emergência (112).

4
3. Pré-socorro: Prestação dos primeiros socorros e cuidados imediatos na medida das suas
capacidades, até à chegada da equipa de socorro.
4. Socorro: Cuidados prestados pela equipa de emergência pré-hospitalar, com o intuito de as
estabilizar, consoante o seu grau de diferenciação.
5. Transporte: Transferência da vítima para uma unidade de saúde adequada numa ambulância ou
helicóptero para cuidados especializados, com prestação de cuidados médicos durante o
transporte.
6. Tratamento definitivo: Os cuidados especializados apropriados são prestados no na unidade de
saúde adequada.

As fases da Estrela da Vida também são chamadas de elos, pois cada uma é essencial para a
sobrevivência e tratamento da vítima, e sem qualquer uma delas as outras tornam-se impossíveis e
ineficazes. Por exemplo, se não existir o alerta nunca irão chegar ao local meios diferenciados para
prestar os cuidados apropriados à vítima. Do mesmo modo, se não existir o pré-socorro, quando os
meios diferenciados chegarem a vítima poderá já não ser recuperável ou ter sofrido danos
irrecuperáveis. Todos os elos têm uma importância fundamental e são necessários para a redução da
mortalidade e morbilidade das vítimas.1

O INEM é a entidade reguladora do SIEM, tendo como funções:

5
1. Prestação de cuidados de emergência médica em ambiente pré-hospitalar, nas suas vertentes
medicalizados e não medicalizados;
2. Referenciação e transporte de urgência/emergência;
3. Receção hospitalar e tratamento urgente/emergente;
4. Formação em emergência médica;
5. Planeamento civil e prevenção;
6. Rede telecomunicações de emergência.1

Os meios do INEM
O INEM possui diferentes tipos de meios com diferentes funções, características e diferenciação que
trabalham de forma conjunta e dinâmica para a melhor prestação de socorro a vítimas de doença súbita
ou trauma. Eles são:

Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU)


O CODU é a central de operações e comunicações da Emergência Pré-hospitalar, onde são geridas e
avaliadas todas as chamadas e acionados e coordenados os meios. Quando se liga para o 112, a
chamada é inicialmente triada numa central da PSP, que a reencaminha para o CODU no caso de se
tratar de uma emergência médica. No CODU, trabalham técnicos TEPH ou os antigos técnicos formados
pelo INEM com a competência TOTE (Técnico de Operações e Telecomunicações em Emergência), que
triam a chamada com base em algoritmos (sistema TETRICOSY®- TElephonic TRIage and COunseling
SYstem) e acionam os meios necessários, apropriados, e disponíveis para cada situação. Com vista a
providenciar o socorro mais rápido possível, o técnico irá acionar a ambulância mais próxima do local do
evento, que poderá ser do INEM, dos Bombeiros ou da CVP. No CODU trabalha ainda pelo menos um
médico regulador que tem como função regular, validar e suportar tanto a equipa do CODU como as
equipas no terreno.1,3

Existem 4 centrais CODU em Portugal, que atendem chamadas de todo o país:

• CODU Porto
• CODU Coimbra
• CODU Lisboa

6
• CODU Faro

O CODU possui ainda os seguintes subsistemas:

Centro de Orientação de Doentes Urgentes Mar (CODU-Mar)


O CODU-Mar é um ramo do CODU que tem por missão prestar aconselhamento médico a situações de
emergência que se verifiquem a bordo de embarcações. Uma equipa de médicos garante os cuidados a
prestar, procedimentos e terapêutica a administrar à vítima, podendo também acionar a evacuação do
doente, organizar o acolhimento em terra, e encaminhá-lo para o serviço hospitalar adequado.

Centro de Informação AntiVenenos (CIAV)


O CIAV é um centro médico de consulta telefónica cuja missão é o fornecimento de todo o tipo de
informações, a tempo útil, referentes a intoxicações agudas ou crónicas, relativas ao diagnóstico, quadro
clínico, terapêutica e prognóstico da exposição a tóxicos, a profissionais de saúde ou público em geral,
de modo a possibilitar a melhor abordagem a vítimas de intoxicações de todos os tipos.

Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC)


O CAPIC é atendido por psicólogos clínicos e presta apoio em situações de crise psicológica, emergências
psicológicas e intervenção psicossocial em catástrofe.1,3

7
Postos de Emergência Médica (PEM)
As PEM são ambulâncias operacionadas por entidades que não o INEM (Bombeiros ou CVP) mas que
têm acordos com este, integrando inteiramente assim o SIEM. As ambulâncias podem pertencer ao
INEM ou à delegação, dependendo do acordo, e são tripuladas por dois técnicos com a formação TAS –
Técnico de Ambulância de Socorro. Estas ambulâncias estão equipadas com material de SBV,
desfibrilhador, equipamento de via aérea básico, equipamento de primeira abordagem, equipamento de
oxigenoterapia não invasiva, e equipamento de primeiros socorros de doença súbita e trauma. Em
janeiro de 2021 existiam 361 PEM em Portugal.1,4,5

Postos de Reserva (PR)


As PR são ambulâncias pertencentes a e tripuladas por entidades que não o INEM, em tudo iguais às
PEM, mas que funcionam como Postos de Reserva. Em janeiro de 2021 existiam 125 PR em Portugal.1,4,5

8
Ambulâncias de Emergência Médica (AEM)
As AEM são ambulâncias do INEM tripuladas por Técnicos do INEM com formação TEPH de 910 horas,
sendo de resto grandemente equiparáveis às PEM. Em janeiro de 2021 existiam 56 AEM em Portugal.4,5

As AEM e as PEM e PR são a primeira linha da EPH, deslocando-se a praticamente todas as situações, e
têm como função deslocação rápida de uma equipa de emergência pré-hospitalar ao local para
estabilização clínica, com aplicação de medidas de Suporte Básico de Vida (SBV), e transporte
acompanhado para o serviço de urgência mais adequado.1,4

Motociclo de Emergência Médica (MEM)


O MEM é um motociclo do INEM tripulado por um TEPH e equipado com um Desfibrilhador Automático
Externo (AED), equipamento de oxigenoterapia, adjuvantes da via aérea e equipamentos de avaliação
de sinais vitais e glicemia capilar. É especialmente adaptado a trânsito citadino permitindo uma célere
chegada ao local e administração de primeiros socorros e preparação para o transporte. Em janeiro de
2021 existiam 9 MEM em Portugal.1,4,5

9
Ambulâncias Suporte Imediato de Vida (SIV)
As SIV são ambulâncias do INEM sediadas em hospitais de Urgência Básica, tripuladas por um
enfermeiro e um TEPH, equipada com a carga de uma Ambulância de Suporte Básico de Vida, acrescida
de um monitor-desfibrilhador e diversos fármacos, e permitindo ainda a transmissão de
eletrocardiograma e sinais vitais. Têm como função a prestação de cuidados diferenciados enquanto
não está disponível uma equipa com capacidade de Suporte Avançado de Vida (SAV). Em janeiro de
2021 existiam 41 SIV em Portugal.1,4,5

Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER)


As VMER são veículos ligeiros destinados ao transporte rápido de uma equipa médica até ao local. São
tripulados por um médico e um enfermeiro, e possuem capacidade e equipamento de SAV em doença
súbita e trauma, tendo como principal objetivo a estabilização pré-hospitalar e o acompanhamento
médico durante o transporte das vítimas. Atuando na dependência direta dos CODU, as VMER têm base
hospitalar, funcionando como uma extensão do Serviço de Urgência à comunidade. Em janeiro de 2021
existiam 44 VMER em Portugal.1,4,5

10
Serviço de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM)
Os Helicópteros de Emergência Médica são utilizados no transporte de doentes graves entre o local da
ocorrência e a unidade de saúde (missões primárias) ou entre unidades de saúde (missões secundárias).
O SHEM poderá ainda ser usado para outras missões, nomeadamente transporte de órgãos para
transplantação. Estão equipados com material de Suporte Avançado de Vida e a sua tripulação é
constituída pela equipa de pilotos (o comandante e um piloto) e pela equipa médica (um médico e um
enfermeiro) com formação específica. Em janeiro de 2021 existiam 4 HEM em Portugal.1,4,5

Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência (UMIPE)


As UMIPE são tripuladas por um psicólogo e um TEPH e intervêm com as vítimas no local da ocorrência
em situações com necessidade de apoio e intervenção psicológica de emergência, como em casos de
risco de suicido, crises de ansiedade, emergências psiquiátricas, acidentes de viação e outros, mortes
inesperadas ou traumáticas, abuso/violação física ou sexual, ocorrências que envolvam crianças, entre
outros. Em janeiro de 2021 existiam 4 UMIPE em Portugal.1,4,5

11
Ambulância de Transporte Inter-hospitalar Pediátrico (TIP)
O TIP é um serviço que se dedica ao transporte de recém-nascidos e doentes pediátricos em estado
crítico entre Unidades de Saúde. As ambulâncias que asseguram este serviço são tripuladas por um
médico especialista, um enfermeiro e um (TEPH). Diferem dos restantes meios na medida em que
apenas realizam transportes secundários (entre hospitais) e não transportes primários (do local da
ocorrência para o hospital). Sendo anteriormente só para cuidados neonatais, apenas a partir de 2010 é
que passaram a ser pediátricas. Em janeiro de 2021 existiam 4 TIP em Portugal.1,4,5

Viatura de Intervenção em Catástrofe (VIC)


A VIC é utilizada em situações multivítimas, sendo equiparada a um pequeno hospital de campanha que
permite o tratamento de 8 vítimas muito graves em simultâneo. Está equipado com material igual ao da
VMER. Existem 4 VICs: no Porto, Coimbra, Lisboa e Faro.1,4,5

12
Hospital de Campanha
O Hospital de Campanha é uma unidade móvel que permite a organização e prestação de apoio médico
pré-hospitalar em situações de catástrofe e cenários multivítimas. É constituído por 17 tendas
insufláveis, tem uma capacidade total de 60 camas, e inclui espaço para uma UCI, um Bloco Operatório,
e métodos imagiológicos.1,4

Métodos
Para a realização do estágio proposto começou-se por entrar em contacto com o INEM – Delegação
Norte e pedir autorização, que foi aceite mediante fornecimento de seguro de acidentes pessoais e
assinatura de um Termo de Responsabilidade.

Inicialmente, os estágios programados estavam divididos entre as VMER (9 turnos de 6 horas), SIV (2
turnos), AEM (2 turnos) e CODU (1 turno de 3 horas). Contudo, devido à pandemia COVID-19, o INEM
viu-se obrigado a suspender os estágios tanto nas AEM como no CODU, tendo perfazido as horas em
falta nas VMER, o que acabou por ser construtivo já que o interesse principal era este meio, tendo já
experiência nas AS.

Foram realizadas, assim, um total de 84 horas de estágio, distribuídas da seguinte forma:

• 12 turnos de 6 horas na VMER (11 no CHUP-HSA e 1 no CHMA-HAF), num total de 72 horas


• 2 turnos de 6 horas na SIV (CHPV-VC), num total de 12 horas

Resultados
Estágios VMER
Estágio 1 (06/10/2020 – 8:00-14:00)
Sem ativações

13
Estágio 2 (06/10/2020 – 14:00-20:00)
Ativação 1
Sexo: M Idade: 85 Motivo da chamada: Dispneia
Hora ativação: 17:35 Hora chegada: 17:38 Local: Cedofeita, lar da 3ª idade
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: residente em lar de idosos, com
A via aérea: Patente e permeável infeção respiratória há 2 dias, com recente
B ventilação: FR: 22 cpm | SpO2: 94% (aa) | deslocação ao hospital, sem casos COVID-19
cianose ligeira próximos conhecidos
Circulação: FC: 84 bpm | TA: 134/92 mmHg Historial: DPOC, Demência
Disfunção: AVDS | GCS: 11 | Pupilas: isocóricas, Alergias: NC
reativas e simétricas | Dx: 133 mg/dl Medicação: Salbutamol, brometo de ipatrópio,
memantina, terapêutica antibiótica não
Exposição: palidez cutânea | T(ºC): 37
especificada
Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: sem alterações Dispneia, astenia, prostração
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
NA Oxigénio: 5L/min por máscara simples
Transporte: Acompanhado Triagem: Amarelo

Estágio 3 (17/10/2020 – 14:00-20:00)


Ativação 2
Sexo: F Idade: 27 Motivo da chamada: Reação anafilática
Hora ativação: 15:31 Hora chegada: 15:33 Local: Miragaia, via pública
Avaliação
Primária Secundária
A via aérea: Patente e permeável, ligeiro edema
Circunstâncias: Ingestão acidental de molho de
da língua e orofaringe
gambas, alergia conhecida. Tomou logo anti-
B ventilação: FR: 19 cpm | SpO2: 99% (aa) | AP:
histamínico.
sem alterações
Historial: NC
Circulação: FC: 91 bpm | TA: 135/95 mmHg
Alergias: Marisco
Disfunção: AVDS | GCS: 15 | Pupilas: isocóricas,
Medicação: NC, anti-histamínico em SOS
reativas e simétricas | Dx: 145 mg/dl
Última refeição: 30 min
Exposição: SA
Monitorização Sinais e sintomas

14
Dispneia, ansiedade, sensação de bloqueio na
ECG: sem alterações
garganta
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Acesso venoso periférico Hidrocortisona 50mg
Transporte: Acompanhado Triagem: Amarelo

Ativação 3
Sexo: M Idade: 1,5 meses Motivo da chamada: OVA
Hora ativação: 17:20 Hora chegada: 17:24 Local: Cedofeita, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: OVA presenciada pelos pais e avó
A via aérea: Patente e permeável
enquanto mamava, com observação de cianose
B ventilação: FR: 35 cpm | SpO2: 99% (aa) | AP:
labial, com recuperação antes da chegada da
sem alterações
VMER
Circulação: perfundido, corado
Historial: NA
Disfunção: Alerta, reativo e ativo, fixa e segue a
Alergias: NC
mãe | Pupilas: isocóricas, reativas e simétricas
Medicação: NC
Exposição: SA
Última refeição: 5 min
Monitorização Sinais e sintomas
NA NA
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
NA
NA
Tranquilização da mãe e avó
Transporte: Não Triagem: NA

Ativação 4
Motivo da chamada: Acidente viação com
Sexo: F Idade: 80
encarceramento
Hora ativação: 20:00 Hora chegada: 20:08 Local: Ramalde, via pública
Avaliação
Primária Secundária

15
A via aérea: Patente e permeável Circunstâncias: Acidente entre 2 veículos ligeiros,
B ventilação: FR: 17 cpm | SpO2: 98% (aa) | AP: embate fronto-lateral de táxi na porta do
sem alterações condutor do veículo da vítima, na diagonal, de
Circulação: FC: 82 bpm | TA: 176/92 mmHg média cinética. Porta amassada e vítima
Disfunção: AVDS | GCS: 15 | Pupilas: isocóricas, encarcerada.
reativas e simétricas | Dx: 151 mg/dl | Historial: NA
Cooperante e orientada Alergias: NC
Exposição: SA, sem hemorragias visíveis ou Medicação: NA
palpáveis Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: sem alterações NA, sem dor
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Estabilização da cervical, desencarceramento e
extração com colete de extração para plano duro NA
pelos bombeiros sapadores do Porto
Transporte: Não acompanhado Triagem: NC

Estágio 4 (24/10/2020 – 14:00-20:00)


Ativação 5
Sexo: F Idade: 70 Motivo da chamada: PCR
Hora ativação: 16:11 Hora chegada: 16:24 Local: Lordelo do Ouro, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
A via aérea: NA Circunstâncias: Encontrada em casa em decúbito
B ventilação: FR: 0 | SpO2: NA dorsal em PCR, após alguns dias sem contato.
Circulação: FC: 0 bpm | TA: NA Historial: IC
Disfunção: AVDS | GCS: 3 | Pupilas: midríase fixa Alergias: NC
Exposição: rigidez cadavérica, livores e sinais de Medicação: Não especificado
putrefação Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
NA Sinais claros de morte e de putrefação
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Declaração de óbito NA
Transporte: NA Triagem: NA

16
Estágio 5 (31/10/2020 – 08:00-14:00)
Ativação 6
Motivo da chamada: Queda PA com TCE + crise
Sexo: M Idade: 66
convulsiva recuperada
Hora ativação: 10:12 Hora chegada: 10:15 Local: Cedofeita, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
A via aérea: Patente e permeável Circunstâncias: queda PA com TCE em contexto
B ventilação: FR: 16 cpm | SpO2: 97% (aa) de crise convulsiva presenciada pelos vizinhos,
Circulação: FC: 88 bpm | TA: 149/90 mmHg entretanto recuperada
Disfunção: AVDS | GCS: 15 | Pupilas: isocóricas, Historial: Epilepsia
reativas e simétricas | Dx: 163 mg/dl | sem Alergias: NC
descontrolo de esfíncteres, sem alt. neurológicas Medicação: Medicação antiepilética não
| cooperante e moderadamente orientado especificada
Exposição: lesão incisa sangrante occipital Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: sem alterações Ligeira confusão
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Limpeza, desinfeção, penso da lesão pela CVP
NA
Acesso venoso periférico
Transporte: Acompanhado Triagem: Amarelo

Estágio 6 (31/10/2020 – 14:00-20:00)


Ativação 7
Sexo: M Idade: 69 Motivo da chamada: PCR
Hora ativação: 18:12 Hora chegada: 18:20 Local: Bonfim, lar da 3ª idade
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: PCR há 20 min presenciada por
funcionários do lar, à nossa chegada a receber
A via aérea: Patente, sem obstrução visível SBV ineficaz (compressão mínima, em cima do
B ventilação: FR: 0 | SpO2: NA colchão)
Circulação: FC: 0 bpm | TA: NA Historial: dependência acentuada para AVD, com
Disfunção: AVDS | GCS: 3 | Pupilas: midríase fixa pioria recente, IC, HTA, demência moderada
Exposição: palidez cutânea Alergias: NC
Medicação: Bisoprolol, Losartan, Furosemida,
Pravastatina

17
Última refeição: NC

Monitorização Sinais e sintomas


ECG: assistolia NA
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Suspensão de manobras, verificação do óbito NA
Transporte: NA Triagem: NA

Estágio 7 (11/11/2020 – 14:00-20:00)


Ativação 8
Motivo da chamada: Incêndio, queimado com
Sexo: M Idade: 32
atingimento da via aérea
Hora ativação: 14:02 Hora chegada: 14:08 Local: Campanhã, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
A via aérea: Patente e permeável
B ventilação: FR: 15 cpm | SpO2: 98% (aa) | AP: Circunstâncias: Incêndio domiciliar com origem
sem alterações no extrator da cozinha, tentou apagar usando as
Circulação: FC: 89 bpm | TA: 143/88 mmHg mãos.
Disfunção: AVDS | GCS: 15 | Pupilas: isocóricas, Historial: NA
reativas e simétricas | Dx: 148 mg/dl | Alergias: NC
Cooperante e orientado Medicação: NA
Exposição: queimaduras 2º grau nas palmas das Última refeição: NC
mãos e plantas dos pés
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: sem alterações Tosse, dor nas mãos e pés
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Aplicação de compressas com soro fisiológico NA
Transporte: Não acompanhado Triagem: NC

Ativação 9
Sexo: F Idade: 96 Motivo da chamada: Dispneia + AEC
Hora ativação: 14:44 Hora chegada: 14:53 Local: Gondomar, rendez-vous com bombeiros

18
Avaliação
Primária Secundária
A via aérea: Patente e permeável Circunstâncias: doente com infeção respiratória,
B ventilação: FR: 33 cpm | SpO2: 86% (aa) | AP: prostração progressiva, sem contatos COVID+
crepitações generalizadas | cianose labial conhecidos
Circulação: FC: 88 bpm | TA: 174/93 mmHg Historial: DPOC, IC, demência ligeira
Disfunção: AVDS | GCS: 4 | Pupilas: isocóricas, Alergias: NC
pouco reativas | Dx: 161 mg/dl Medicação: Medicação crónica não especificada
Exposição: palidez cutânea | T(ºC): 37.9 Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: sem alterações NA
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Oxigenoterapia 10L/min, com melhoria da SpO2
Acesso venoso periférico
para 93%
Transporte: Acompanhado Triagem: Laranja

Ativação 10
Motivo da chamada: PAD – tentativa de suicídio,
Sexo: F Idade: 45
hemorragia não controlável
Hora ativação: 15:50 Hora chegada: 15:59 Local: Cedofeita, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: Tentativa de suicídio por corte no
A via aérea: Patente e permeável punho direito em conjunto com intoxicação
B ventilação: FR: 21 cpm | SpO2: 98% (aa) alcoólica e ingestão medicamentosa
Circulação: FC: 72 bpm | TA: 159/97 mmHg (paracetamol e um outro não especificado).
Disfunção: AVDS | GCS: 12 | Dx: 131 mg/dl | Não Vítima em decúbito dorsal em chão manchado de
cooperante e desorientada sangue, a ser socorrida pelos TEPH.
Exposição: ferida cortante profunda no punho Historial: Perturbação depressiva
direito, com hemorragia arterial ativa, mesmo Alergias: NC
com compressão local e garrote Medicação: Não especificada
Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: sem alterações Discurso confuso e repetitivo, desorientação
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Acesso venoso periférico Fluidoterapia: plasmalyte 500ml

19
Transporte: Acompanhado Triagem: Vermelho

Ativação 11
Sexo: M Idade: 3 Motivo da chamada: Reação anafilática
Hora ativação: 16:34 Hora chegada: 16:39 Local: Santo Ildefonso, via pública
Avaliação
Primária Secundária
A via aérea: Patente e permeável, ligeiro edema
Circunstâncias: ingestão de frutos secos na escola
da língua, orofaringe e lábios
1 hora antes com alergia conhecida, tendo logo
B ventilação: FR: 26 cpm | SpO2: 99% (aa) | AP:
realizado prednisolona 20mg + fenistil 50 gotas,
sem alterações
entretanto com o pai que o tinha ido buscar
Circulação: FC: 95 bpm | TPC < 2s
Historial: NA
Disfunção: AVDS | GCS: 15 | Pupilas: isocóricas e
Alergias: frutos secos
reativas | Dx: 138 mg/dl
Medicação: Prednisolona / EpiPen em SOS
Exposição: edema marcado da região
Última refeição: 1 hora
periorbicular
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: sem alterações Edema labial e periorbicular
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Acesso venoso periférico Hidrocortisona 50mg
Transporte: Acompanhado Triagem: Laranja

Ativação 12
Sexo: M Idade: 69 Motivo da chamada: Dor torácica
Hora ativação: 17:24 Hora chegada: 17:39 Local: Ermesinde, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
A via aérea: Patente e permeável Circunstâncias: início da sintomatologia há cerca
B ventilação: FR: 18 cpm | SpO2: 98% (aa) | AP: de 24 horas, sem fator precipitante
sem alterações Historial: Antecedentes patológicos cardíacos
Circulação: FC: 91 bpm | TA: 207/105 mmHg que não souberam especificar
Disfunção: AVDS | GCS: 15 | Pupilas: isocóricas e Alergias: NC
reativas | Dx: 108 mg/dl Medicação: Medicação variada não especificada
Exposição: SA Última refeição: 5 horas
Monitorização Sinais e sintomas

20
Dor pré-cordial com irradiação para o braço
ECG: sem alterações esquerdo com início 24 horas antes, com
melhoria, atualmente sem dor / dor ligeira
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
NA Captopril sublingual
Transporte: Não acompanhado Triagem: NC

Estágio 8 (25/11/2020 – 14:00-20:00)


Ativação 13
Sexo: F Idade: 74 Motivo da chamada: PCR
Hora ativação: 16:42 Hora chegada: 16:51 Local: Bonfim, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: vítima encontrada em PCR em
casa pelo filho, na casa-de-banho, com presença
A via aérea: Patente, sem obstrução visível
de fezes e urina espalhadas, último contato há 18
B ventilação: FR: 0 | SpO2: NA
horas, à nossa chegada a receber SBV pelo filho
Circulação: FC: 0 bpm | TA: NA
Historial: Patologia cardíaca (não especificada),
Disfunção: AVDS | GCS: 3 | Pupilas: midríase fixa
HTA, dislipidemia, diabetes tipo 2, obesidade
Exposição: presença de fezes e urina na roupa e
Alergias: NC
espalhadas no chão
Medicação: Medicação múltipla não especificada
Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: assistolia Palidez, rigidez cadavérica, corpo frio
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Suspensão de manobras, verificação do óbito NA
Transporte: NA Triagem: NA

Ativação 14
Sexo: M Idade: 54 Motivo da chamada: AEC – acidente de viação
Hora ativação: 18:15 Hora chegada: 18:22 Local: Campanhã, autoestrada
À nossa chegada não conseguimos localizar acidente. Saída anulada pelo CODU.

21
Estágio 9 (09/12/2020 – 14:00-20:00)
Ativação 15
Sexo: F Idade: 45 Motivo da chamada: Taquicardia
Hora ativação: 16:04 Hora chegada: 16:15 Local: Sra da Hora, centro de saúde
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: Vítima em área COVID do CS Sra.
A via aérea: Patente e permeável
da Hora, recorreu por tosse. Foi detetada
B ventilação: FR: 21 cpm | SpO2: 97% (aa) | AP:
taquicardia variando entre 120-190bpm com
sem alterações
descidas ocasionais até aos 60bpm
Circulação: FC: 80-120 bpm | TA: 135/93 mmHg
Historial: FA
Disfunção: AVDS | GCS: 15 | Pupilas: isocóricas e
Alergias: NC
reativas | Dx: 146 mg/dl
Medicação: Apixabano + propafenona
Exposição: SA
Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: arrítmico, FA Tosse, palpitações, ansiedade
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
NA NA
Transporte: Não acompanhado Triagem: NC

Ativação 16
Motivo da chamada: Acidente de viação – 2
Sexo: M Idade: 43
vítimas, 1 encarcerada
Hora ativação: 18:52 Hora chegada: 19:05 Local: Gaia, via pública
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: Colisão frontal de média cinética
entre dois veículos ligeiros com 1 ocupante cada,
A via aérea: Patente e permeável
com encarceramento de um. Joelho e pé
B ventilação: FR: 26 cpm | SpO2: 99% (aa)
bateram na parte frontal do lugar do condutor. O
Circulação: FC: 118 bpm | TA: 148/94 mmHg
outro condutor saiu do carro e abandonou o local
Disfunção: AVDS | GCS: 15 | Pupilas: isocóricas e
antes da nossa chegada.
reativas | Dx: 166 mg/dl
Historial: NA
Exposição: Sem deformidades ou hemorragias
Alergias: NC
visíveis ou palpáveis. Dor no joelho e pé direitos.
Medicação: NA
Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas

22
ECG: sem alterações Dor leve-moderada no joelho e pé direitos.
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Estabilização da cervical, desencarceramento e
extração com colete de extração para plano duro NA
pelos bombeiros sapadores de VN Gaia
Transporte: Não acompanhado Triagem: NC

Estágio 10 (23/12/2020 – 14:00-20:00)


Ativação 17
Sexo: F Idade: 93 Motivo da chamada: PCR
Hora ativação: 17:07 Hora chegada: 17:12 Local: Cedofeita, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: PCR há 12 minutos presenciada
A via aérea: Patente, sem obstrução visível na cama pelos filhos, após ida à urgência por dor
B ventilação: FR: 0 | SpO2: NA lombar anormal.
Circulação: FC: 0 bpm | TA: NA Historial: IC não especificada, HTA
Disfunção: AVDS | GCS: 3 | Pupilas: midríase fixa Alergias: NC
Exposição: palidez cutânea Medicação: aspirina, outra medicação não
especificada
Última refeição: NC
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: assistolia NA
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Verificação do óbito NA
Transporte: NA Triagem: NA

Ativação 18
Sexo: F Idade: 65 Motivo da chamada: Queda PA com AEC
Hora ativação: 18:23 Hora chegada: 18:30 Local: Cedofeita, Casa da Música
Avaliação
Primária Secundária

23
A via aérea: Patente e permeável
B ventilação: FR: 25 cpm | SpO2: 96% (aa)
Circunstâncias: Queda em escadas com TCE,
Circulação: FC: 112 bpm | TA: 154/98 mmHg
amiga afirma ter tropeçado
Disfunção: AVDS | GCS: 14 | Pupilas: isocóricas e
Historial: NC
reativas | Dx: 168 mg/dl | cooperante,
Alergias: NC
desorientada, amnésia anterógrada
Medicação: NC
Exposição: lesão inciso-contusa sangrante +
Última refeição: NC
hematoma de grandes dimensões na região
periorbicular direita
Monitorização Sinais e sintomas
Confusão e desorientação, amnésia anterógrada,
ECG: sem alterações
dor no local da contusão
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
Estabilização da cervical, passagem para plano
Morfina 3mg
duro, acesso venoso periférico
Transporte: Acompanhado Triagem: Laranja

Estágio 11 (08/02/2021 – 08:00-14:00)


Sem ativações

Estágio 12 (26/03/2021 – 08:00-14:00)


Sem ativações

Estágios SIV
Estágio 1 (04/02/2021 – 08:00-14:00)
Ativação 19
Sexo: F Idade: 86 Motivo da chamada: AEC > PCR
Hora ativação: 13:13 Hora chegada: 13:21 Local: Póvoa de Varzim, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
Circunstâncias: vítima em casa com a filha, que
chamou 112 por prostração da mãe. À nossa
A via aérea: Patente e permeável
chegada vítima consciente e desorientada a ser
B ventilação: FR: 12 cpm | SpO2: 94% (aa)
avaliada pelos bombeiros, filha extremamente
Circulação: FC: 65 bpm | TA: 93/43 mmHg
ansiosa (sofre de perturbação depressiva).
Disfunção: AVDS | GCS: 11 | Pupilas: isocóricas e
Historial: IC, HTA, episódios de hipotensão
reativas | Dx: 169 mg/dl
Alergias: NC
Exposição: SA
Medicação: Medicação antihipertensiva e para a
IC múltipla não especificada

24
Última refeição: 4 horas

Monitorização Sinais e sintomas


ECG: sem alterações Prostração, confusão, astenia
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
NA NA
Transporte: Não acompanhado Triagem: NC

Ativação 20
Sexo: M Idade: 84 Motivo da chamada: AEC (COVID+)
Hora ativação: 13:49 Hora chegada: 13:58 Local: Vila do Conde, domicílio
Avaliação
Primária Secundária
A via aérea: Patente e permeável Circunstâncias: Doente COVID+, prostração
B ventilação: FR: 21 cpm | SpO2: 92% (aa) | AP: progressiva há 3 dias, hoje recusa alimentar
crepitações difusas Historial: DPOC, IC, HTA, demência
Circulação: FC: 88 bpm | TA: 142/88 mmHg Alergias: NC
Disfunção: AVDS | GCS: 9 | Pupilas: isocóricas e Medicação: Furosemida, ácido acetilsalicílico,
amiodarona, ranitidina, ramipril, bisoprolol,
reativas | Dx: 86 mg/dl
clopidogrel, pantoprazol, brometo de ipatrópio
Exposição: SA
Última refeição: 12 horas
Monitorização Sinais e sintomas
ECG: sem alterações Prostração, recusa alimentar
Atuação
Procedimentos Fármacos e fluídos
NA NA
Transporte: Não acompanhado Triagem: NC

Estágio 2 (10/02/2021 – 08:00-14:00)


Sem ativações.

25
Discussão
Ao longo do estágio foram contabilizadas um total de 20 ativações, sendo 18 na VMER e 2 na SIV. Com
uma média de 1,43 ativações por turno (6h), tratou-se de um estágio com atividade inferior à esperada
e desejada, principalmente tendo em conta a existência de 4 turnos sem qualquer ativação (cerca de
29% dos turnos). Tanto o número médio de ativações por turno como a percentagem de turnos sem
ativações foram significativamente baixos e elevados, respetivamente, quando comparados com a
média geral do INEM, mesmo durante a pandemia por COVID-19, pelo que foi possível perceber através
da conversa com os profissionais da instituição.

Turnos por Nº ativações % Turnos por Nº ativações


4
Média = 1.43 7%
3 7% 0
28%
Turnos

2 1
2
1
29% 3
0 5
0 1 2 3 4 5 29%
Nº ativações

Gráfico 1: Turnos por Nº ativações Gráfico 2: % Turnos por Nº ativações

Dentro destas ativações, a grande maioria (13 ativações, correspondendo a 65% do total) foram por
doença médica, com o trauma ocupando uma percentagem bastante menor (20%). Estas estatísticas vão
de encontro ao que seria de esperar e à média do INEM, tendo em conta as crescentes medidas de
proteção e prevenção do trauma, especialmente no contexto de acidentes de viação. Para além disso, a
quase totalidade dos estágios foram realizados na VMER do CHUP-HSA, uma VMER predominantemente
urbana, onde se espera uma forte prevalência de ativações por doença médica.

26
Nº ativações por tipo

1
2 5%
10%
Doença médica

4 Trauma
20% Outros
13
Anulada
65%

Gráfico 3: Nº ativações por tipo

Dentro das ativações por doença médica, destaca-se a PCR como sendo a mais frequente. Pelo seu
contexto e definição, a PCR é uma situação que ativa sempre a VMER, para eventual realização de
Suporte Avançado de Vida (SAV), caso o médico decida investir. Contudo, na grande maioria das PCR o
médico decide não investir, muitas vezes devido à idade avançada da vítima, existência de
comorbilidades, e por vezes tempo de PCR e até estado de decomposição.

No caso do presente estágio, em nenhuma das vítimas PCR foi decidida a realização de SAV. Isto não
invalida, porém, a importância da deslocação da equipa médica diferenciada às situações de PCR, pois,
como pude perceber através da conversa com os profissionais do INEM, há algumas, apesar de em
menor percentagem, em que a sua intervenção fará realmente a diferença e permitirá a recuperação da
circulação espontânea e da vida de uma pessoa.

Outros dos motivos de ativação por doença médica mais frequentes são a Alteração do Estado de
Consciência (AEC) e a dispneia, como se pode ver no gráfico abaixo. A reação anafilática é algo comum
porém não ao nível das anteriores, contudo no presente estágio observou-se a mesma frequência. A dor
torácica também é outro motivo de ativação por doença médica muito frequente, apesar de apenas ter
existido uma ocorrência no total durante o estágio.

27
Nº de saídas por motivo de ativação por
doença médica
PCR
Reaçao anafilática
AEC
Motivo

Dispneia
Crise convulsiva
Taquicardia
Dor torácica

0 1 2 3 4
Nº saídas

Gráfico 4: Nº de saídas por motivo de ativação por doença médica

Por outro lado, dentro das ativações por trauma, a grande maioria correspondeu a acidentes de viação
(63%), algo não tão esperado dado a localização da VMER CHUP-HSA. Uma menor percentagem deveu-
se a quedas, e uma saída correspondeu a um Pedido de Ajuda Diferenciada (PAD) pelos TEPH do INEM,
neste caso por hemorragia incontrolável.

FREQUÊNCIA DE MOTIVOS DE ATIVAÇÃO POR


TRAUMA

15%

Acidente viação

22% Queda

63% PAD

Gráfico 5: Frequência de motivos de ativação por trauma

Em relação à análise demográfica das vítimas, observou-se uma paridade entre os sexos, com igual
número de saídas por cada sexo. Em relação à distribuição por idades, observou-se uma distribuição ao

28
longo do espectro, com especial tendência para idades mais avançadas (>60 anos). De notar a especial
frequência de vítimas no intervalo de (60, 70] anos de idade, que corresponderam a quase um terço do
total de ativações.

Nº ativações por Sexo


10

0
F M

Gráfico 6: Nº ativações por Sexo Gráfico 7: Nº ativações por Idade

Num meio tão diferenciado e precioso como a VMER, uma estatística importante a ter em conta é a
percentagem de ativações que realmente justificam a ativação e deslocação deste meio à ocorrência.
Como pode ser verificado no decorrer do estágio, uma grande parte (maioria) das ocorrências não
justificam a saída e deslocação da VMER. A maioria são situações de menor gravidade ou que podem ser
resolvidas exclusivamente pelos técnicos, mas em que a VMER é ativada devido ao sistema de triagem
padronizado do CODU.

Apesar de não ter exisitido oportunidade para realizar estágio no CODU, pelo que se pode perceber
através da conversa com os profissionais do INEM, este utiliza um sistema de triagem (Telephonic Triage
and Couseling System - TETRICOSY®) que visa padronizar a avaliação das situações de emergência e
ativação dos meios. Contudo este dá origem a muito falsos positivos que acabam por muitas vezes
resultar na ativação desnecessária de meios diferenciados. Dado que não é possível passar a autonomia
de decisão médica para os técnicos, seria importante criar algoritmos de responsabilidade médica com
maior especificidade, sem diminuir a sua sensibilidade; ou implementar a validação pelo médico
regulador do CODU. Os profissionais do INEM com quem contatei revelaram que, durante a primeira
fase da pandemia, em que foi ativada a revalidação das ativações pelos médicos reguladores, o número
de ativações não justificadas diminui substancialmente.

29
Pode-se afirmar que ao longo de todo o estágio, não existiu nenhuma ocorrência em que a atuação da
VMER tenha feito realmente diferença no resultado da situação (mortalidade e morbilidade das
vítimas), quando existiu sequer. Muitas das situações não requeriam à partida a ativação da equipa
médica diferenciada, enquanto que muitas outras poderiam ter sido potencialmente graves mas que
acabaram por se resolver sem incidentes e portanto sem necessidade da atuação da VMER (por
exemplo a OVA no bebé de 1,5 meses e os acidentes de viação com encarceramento). Tal também pode
ser observado tendo em conta que apenas um terço das ativações justificaram acompanhamento
médico da vítima ao hospital (gráfico 6). Contudo, durante a realização dos estágios houve a
oportunidade de ouvir os profissionais do INEM relatarem situações em que a sua presença e atuação
significou toda a diferença para a vida das vítimas, sendo estas as situações em que o trabalho na EPH
realmente tem significado e realização.

Doentes com necessidade de transporte


8

0
Acompanhado Não Acompanhado Sem Transporte

Gráfico 8: Doentes com necessidade de transporte

Apesar do número relativamente baixo de ativações e da ausência de ocorrências com necessidade de


intervenção médica significativa, ainda assim este estágio foi indubitavelmente importante e
enriquecedor. Existiu a oportunidade de frequentar e participar na rotina das equipas médicas das
VMER, de conhecer este meio e o seu funcionamento, o material, os vários procedimentos e rotinas.
Pude conviver e conversar com os profissionais do INEM, ouvindo e discutindo as suas experiências,
ideias e opiniões. De observá-los em ação, tanto em procedimentos e técnicas individuais como no
trabalho em equipa – desde a equipa pequena do meio em si a equipas de grandes dimensões em
cenários complexos. De partilhar das suas emoções e decisões. De conhecer e observar o

30
funcionamento de material, os contatos com o CODU, as checklists do material do meio, a reposição do
material, as trocas de veículos, e muito mais.

Por exemplo, houve contato com o sistema informático do INEM – a plataforma iTeams (INEM Tool for
Emergency Alert Medical System), que veio substituir a anterior iCare que tinha bastantes falhas. O
INEM tem vindo a proceder à informatização dos seus registos, base-de-dados e comunicações, uma
decisão fundamentada nos vários benefícios que pode trazer – como mais rápido registo dos dados, um
registo padronizado dos mesmos que permita uma fácil e rápida leitura por outros profissionais de
saúde e assim torne a passagem de dados mais eficiente, bem como a sua análise estatística por parte
do INEM com fins de conhecimento do seu funcionamento e posterior melhoria. Contudo, é importante
ter em conta possíveis problemáticas como a dificultação do preenchimento das fichas para os
profissionais em campo, a necessidade de carregar um aparelho eletrónico constantemente, e a questão
da cibersegurança. Segundo os profissionais do INEM com quem se contatou, o atual sistema iTeams
possui muito melhor funcionamento e acessibilidade do que o anterior iCare, tendo ainda contudo
alguns pontos a melhorar – por exemplo, o preenchimento da ficha do doente ainda é muito demorado.

Teve-se a oportunidade de estar presente em ocorrências muito diversas, de vários tipos e em vários
contextos – desde PCRs e todos os procedimentos inerentes, a acidentes de viação com
encarceramentos, cenários multivítimas com existência de cenário de operações e articulação com
outras entidades como os Bombeiros e os agentes da autoridade (PSP/GNR), ocorrências com crianças e
até mesmo bebés quase recém-nascidos, incêndios, … De presenciar situações médicas e sociais
diferentes e desafiantes. De observar como a equipa médica se adapta e responde a cada situação
específica. A interação com a vítima, os familiares, e os transeuntes.

Apesar de a maioria das ocorrências não ter requerido atuação médica diferenciada significativa, ainda
assim existiu a oportunidade de conhecer e aprender as técnicas, procedimentos e fármacos que seriam
essenciais e life-saving caso estas fossem necessárias, muitas vezes através da discussão verbal dos
casos com os profissionais. Por fim, houve a oportunidade não só de observar como de participar em
todos estes procedimentos e atuações, desde as checklists, a deslocação ao local da ocorrência, a
abordagem à vítima, a administração de primeiros socorros, a movimentação e transporte da vítima, a
passagem no serviço de urgência, e o preenchimento de dados na plataforma iTeams. Houve ainda a
oportunidade de aprender a realizar acessos venosos periféricos com uma das enfermeiras da VMER.

31
Em relação às saídas que foram proporcionadoras de maior aprendizagem e/ou desafio, poder-se-ia
começar por destacar as PCR, que são situações especiais e delicadas. Apesar de em nenhuma ter sido
decidida a realização de SAV nem ter havido recuperação de circulação espontânea, ainda assim foi
possível observar e aprender a abordagem à vítima em PCR, a avaliação de sinais de morte, os critérios
para a decisão do médico em iniciar SAV ou não, o contato, cuidado e abordagem com a família, a
verificação do óbito, e a articulação com as forças de autoridade.

Outro tipo de ocorrências que foram enriquecedoras foram todas as que envolveram a montagem de
cenários de operações com articulação com outras entidades e existência de múltiplas vítimas,
nomeadamente os acidentes de viação e o incêndio. Nestas foi possível a observação de procedimentos
importantes em cenários de operações, como o reconhecimento e identificação perante o comandante
de operações (o bombeiro mais graduado no local), perceber como cada elemento tem, sabe e cumpre
o seu papel e o funcionamento e trabalho em equipa organizado, a observação de atuações como o
desencarceramento e extração de vítimas encarceradas, e ainda a abordagem às vítimas por
prioridades.

Nunca é demais realçar a importância do trabalho multidisciplinar e em rede na EPH. Os profissionais da


EPH têm de se saber articular e atuar em conjunto com diversas outras entidades, médicas e não-
médicas, para poderem prestar o cuidado de maior qualidade às vítimas. No desempenhar das suas
funções vão necessitar de cooperar com outras entidades como Bombeiros, PSP, GNR, Proteção Civil,
técnicos, outros médicos e profissionais de saúde, entre outros. Assim, neste trabalho multidisciplinar e
em rede é muito importante que cada um conheça, respeite e cumpre as suas funções e as dos outros,
que saiba trabalhar em equipa, e que haja uma liderança forte e uníssona.

Ainda outro tipo de ocorrências que foram sem dúvidas marcantes foram as que envolveram vítimas
pediátricas, neste caso ambos crianças pequenas e uma até mesmo um bebé quase recém-nascido.
Nota-se claramente o sentido exponenciado de urgência na equipa médica da VMER em casos com
crianças, especialmente em casos com risco de vida como a OVA e a reação anafilática. Como as médicas
partilharam após a ocorrência, nestas saídas com crianças até as próprias sentem aumentado
nervosismo e preocupação, e vão durante o caminho a rever mentalmente todos os processos e calcular
doses que possam ser necessários, especialmente no caso de ocorrer PCR.

Por fim, de salientar também a primeira saída na SIV, que alerta para o facto de a forma como a
informação é passada ao CODU poder ser incorreta ou distorcida e isso influenciar que meios são

32
ativados. Neste caso, a interlocutora sofria de uma doença psiquiátrica (perturbação depressiva major) e
a forma como comunicou a situação levou à ativação da SIV por PCR, que na verdade nunca se chegou a
verificar.

Conclusões
O INEM é a instituição responsável pela organização e execução do socorro em emergência médica pré-
hospitalar em Portugal. Ao longo dos anos e através de medidas progressivas, o INEM tem conseguido
vir a aumentar e melhorar o seu serviço à população portuguesa, conseguindo cada vez mais chegar a
todo o lado, mais rapidamente, e mais eficazmente. Por outro lado, ainda tem, sem dúvida, pontos onde
pode melhorar, como por exemplo o sistema de triagem de chamadas de emergência e a frota de
veículos que precisa de ser renovada.

O INEM só por si não possui recursos humanos suficientes para responder à maior parte das chamadas
de emergência médica do país. Por isso, necessita de recorrer à colaboração e articulação com outras
entidades, nomeadamente as associações de bombeiros e a Cruz Vermelha Portuguesa. Tendo isto em
conta, torna-se essencial assegurar a correta formação, fornecimento de material, e controlo de
qualidade destas instituições e seus serviços. O INEM deveria também investir na formação de mais
profissionais para a própria instituição e reforçar a formação dos já existentes.

O INEM tem uma capacidade de resposta às situações de emergência do país consideravelmente boa.
Contudo, é importante lembrar que esta resposta só existirá se houver em primeiro lugar uma deteção e
alerta das ocorrências, e só será eficaz se existirem primeiros socorros básicos no local até à chegada
das primeiras equipas – ou seja, está grandemente dependente do funcionamento dos primeiros elos da
cadeia de sobrevivência. Tendo em conta que na quase totalidade das situações quem realiza estas
funções é a população em geral, seria muito importante e sensato investir na formação em primeiros-
socorros e atuação em caso de emergência médica para a população em geral, especialmente nas
escolas.

Este foi um estágio que permitiu conhecer e experienciar a realidade da EPH do ponto de vista médico
(complementando a que já existente nas ambulâncias), enquanto que ao mesmo tempo deixou a
desejar por mais. No geral, os objetivos do estágio foram cumpridos, sendo que permitiu ficar a
compreender melhor o funcionamento do SIEM, aprofundar os conhecimentos na área da emergência
médica e aplicá-los a situações reais, adquirir competências de trabalho em equipa e gestão de cenários
de elevada pressão, e compreender melhor o meu interesse nesta área.

33
De salientar que esta seria uma experiência muito útil e enriquecedora a constar na formação médica
básica. Como já foi referido, a Emergência Médica Pré-Hospitalar é uma área muito significativa e
importante da medicina que, contudo, possui muito escasso ou por vezes nenhum contato e formação
adequadas ao longo do curso de Medicina. Seria construtivo todos os alunos poderem ter estas
experiências, contato, e formação na EPH, tal como já existe para muitas outras áreas médicas.

Este estágio permitiu consolidar o gosto pela emergência médica pré-hospitalar e perceber que esta é
uma área de trabalho da medicina de fortemente considerar desempenhar, independentemente da
especialidade que escolha. Existe capacidade de agir em situações fora-do-comum e imprevisíveis, com
acesso a recursos limitados e necessidade de rapidez, agilidade e adaptabilidade de atuação. Sendo
assim, esta é uma conclusão importante a que este estágio permitiu chegar.

Pode-se indicar como palavras-chave deste estágio: equipa, liderança, celeridade, adaptabilidade,
protocolização, coordenação, qualificação, companheirismo, empatia, voluntariado.

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Bibliografia
1. Instituto Nacional de Emergência Médica, Manual do SIEM, 2017. Disponível em:
https://www.inem.pt/wp-content/uploads/2017/06/Sistema-Integrado-de-Emerg%C3%AAncia-
M%C3%A9dica.pdf
2. História do INEM. Disponível em https://www.inem.pt/category/inem/o-inem/
3. Meios de Emergência. Disponível em https://www.inem.pt/category/cidadaos/meios-de-
emergencia/
4. Instituto Nacional de Emergência Médica, Relatório de Atividade dos meios de emergência médica,
2020. Disponível em: https://www.inem.pt/wp-content/uploads/2021/04/Relatorio-Anual-Meios-
de-Emergencia-Medica-2020-VF.pdf
5. Evolução Diária do Número de Meios de Emergência Médica Pré-Hospitalar. Disponível em
https://transparencia.sns.gov.pt/explore/dataset/no-de-meios-de-emergencia-medica

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Anexos
- Declaração de realização de estágio de Filipe Jorge Figueiredo Gonçalves de Almeida Rocha - Assinada
pelo Centro de Formação da Delegação Regional do Norte em 27 de abril de 2021.

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