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COM QUE ALICE EU VOU?

ABELARDO MORELL

ADRIANA PELIANO

Dossier de conclusão do Módulo - OS CLÁSSICOS DA ERA DE OURO - conduzido por ISABEL


LOPES COELHO, no curso de pós-gradução O LIVRO PARA A INFÂNCIA da CASA TOMBADA.
Sendo pesquisadora, colecionadora e apaixonada pelas aventuras de
COM QUE ALICE EU VOU?

Alice, é comum as pessoas me perguntarem que edição brasileira eu


recomendo. A resposta é sempre, depende. Existem diferenças mais
ou menos evidentes entre as traduções e adaptações e seus propósitos
específicos, entre ilustradores e linguagens estéticas, entre múltiplas
possibilidades gráficas expressas no design e que se traduzem na
materialidade do livro. Também é importante levar em conta abordagens
editoriais distintas que se consolidam através de notas, posfácios,
prefácios e apêndices que favorecem um aprofundamento do leitor no
texto e no contexto da obra.
Uma outra questão que é particularmente intrigante em se tratando
de Alice é: que edições de Alice a pessoa já tem e o que espera dessa
primeira ou dessa nova edição? Quer uma edição com conteúdo de
referência e pesquisa e uma tradução de maior relevância acadêmica
ou quer uma edição de colecionador artisticamente mais ousada e
desafiadora? As vezes essas características se combinam, outras vezes
não. Para quem é o livro? Qual a relação que o leitor tem com arte e
literatura? É criança? É adulto? Que critérios são mais relevantes?
Estou fora de casa, passando a pandemia em Brasília, longe dos meus
livros. Portanto, ao invés de me estender em aspectos que exigiriam
que eu tivesse com os livros nas mãos, resolvi falar um pouco de
algumas edições que eu indico. Pelo mesmo motivo peço desculpas pelas
imprecisões. Reformulei e complementei informações que já pesquisei
e publiquei em meus blogs na última década, com base no que foi
apresentado e questionado em sala de aula. Desloquei o foco costumeiro
que prioriza as imagens para englobar o livro em seus diferentes
aspectos, incluindo o contexto da publicação e a relação que as
diferentes edições estabelecem com as motivações dos leitores. Esse foi
o fio condutor desse trabalho: o que me atrai em três edições brasileiras
das Alices e alguns motivos para indicá-las.
Em seguida farei um pequeno histórico sobre a presença de Alice na
minha vida, como pesquisadora e artista ao longo das últimas décadas.
ADRIANA PELIANO
Brasília, outubro de 2020.
adrianapeliano.blogspot.com
alicenagens.blogspot.com A Toca do Coelho. YAYOI KUSAMA. 2012.
alicenations.blogspot.com
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CARROLL, Lewis. The Annotated Alice.
Introduction and notes by Martin Gardner. The ANNOTATED Alice não é somente uma edição da obra de Lewis Carroll com
ZAHAR E MARTIN GARDNER

Illustrated by John Tenniel. comentários, mas uma obra dialógica que abriu uma nova era na compreensão dos
New York: Bramhall House Book, 1960 (2nd. ed.) livros de Alice. A obra foi lançada em 1959 com notas e prefácio de Martin Gardner,
que continuou sua pesquisa por décadas publicando novas edições com informações
complementares. Gardner fez uma intensa pesquisa em bibliotecas e arquivos históricos
além de se corresponder com pesquisadores de todo o mundo, incluindo diversos
membros das Sociedades Lewis Carroll da Inglaterra e dos Estados Unidos. Em 1999 foi
lançada uma edição ampliada e em 2015 foi lançada uma edição especial comemorativa e
a cores, incluindo imagens de dezenas de ilustradores de todo o mundo, opção diferente
das edições anteriores que mantinham as clássicas ilustrações de John Tenniel.
Com o nome de Alice: Edição Comentada essa obra foi traduzida e publicada no Brasil em
2002 pela editora Zahar. Nesse século o livro tem sido um dos carros chefes das edições
de Clássicos da editora. Ao longo dos anos se desdobrou em outros formatos. Entre as
edições da Zahar, se mantém a presença das ilustrações de John Tenniel para as edições
originais de Alice no País das Maravilhas (1865) e Através do Espelho (1871) e a competente
tradução de Maria Luiza X. de A. Borges, vencedora do prêmio Jabuti em 2002. Mas o
grande diferencial dessa edição são mesmo a introdução e as notas de Martin Gardner.
Vou comentar um detalhe interessante da capa da edição brasileira. Alice segura a
garrafa de bebida como uma referência direta às primeiras edições do livro. Essa Alice
CARROLL, Lewis. ALICE: Edição Comentada. colorida da que aparece na capa foi criada por John Tenniel, mas não para a primeira
Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do Espelho. edição de Alice no País das Maravilhas de 1865 tais como as ilustrações em preto e
Introdução e notas de Martin Garnder. branco do miolo. Essa imagem foi criada para o livro The Nursery ‘Alice’, versão de Alice
Ilustrações originais de John Tenniel. para crianças menores que Lewis Carroll escreveu e publicou em 1890. Nessa edição
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. 328 pág. 26.4 cm x 21cm as ilustrações de Tenniel foram coloridas pelo artista e Alice aparece com seu vestido
amarelo. Esse amarelo, quase laranja, se espalha pela capa é dá identidade às edições de
Alice produzidas pela Zahar a partir de então, mesmo que a Alice vestida de amarelo não
apareça mais nas outras capas. Eu entendo esse amarelo como uma marca de fidelidade
ao espírito da Inglaterra Vitoriana em contraposição ao vestido azul associado à animação
de Walt Disney (1951).
A edição comentada e ilustrada de Alice ganha
novo formato, seguindo o padrão da coleção
Clássicos Zahar (16 cm x 23 cm) com capa dura e
mais acolhedora para manuseio.
Ambas as edições contêm as ilustrações de John
Tenniel e esboços do artista recém descobertos.
Contêm introduções que apresentam o contexto
da obra na Inglaterra Vitoriana. Também estão
incluídas uma bibliografia sobre a obra de Lewis
Carroll e uma filmografia. Outro destaque é
o episódio inédito de Através do Espelho “O
Marimbondo de Peruca.”
CARROLL, Lewis. ALICE: Aventuras de Alice No País Das Maravilhas & Através do Espelho
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges Ilustrações originais de Sir John Tenniel The Annotated Alice: The Definitive Edition. The Annotated Alice: 150th Anniversary Deluxe Edition.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012 (1a. ed.) 415 pp. 16 cm x 23 cm. W. W. Norton & Company, 1999. W. W. Norton & Company, 2015.
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Os comentários de Martin Gardner, que Uma sincronicidade promoveu meu encontro
LEWIS CARROLL (1832-1898) era o pseudônimo
acompanham o texto lado a lado incluem temas com a equipe da editora Zahar em 2013 quando
do reverendo Charles Lutwidge Dodgson, escritor
como matemática, lógica, conceitos científicos, jogos houve uma exposição especial sobre Alice na arte
inglês nascido em Cheshire e que viveu a maior
de linguagem e também associações com aspectos da na Tate Liverpool, na Inglaterra. Eu e o Rodrigo
parte de sua vida em Oxford, na universidade de
vida do autor e do contexto da Inglaterra vitoriana. Lacerda fomos convidados para falar de Alice e
Christ Church, onde dava aulas. Escreveu muitos
descobrimos que éramos vizinhos. Começamos
livros e poemas, mas suas obras mais famosas são Foi Gardner quem primeiro decodificou muitos
a esboçar projetos, o que culminou com a edição
os livros de Alice e também “A caça ao Snark” dos enigmas matemáticos e jogos de palavras que
comemorativa de 150 anos de Alice.
(1876). Entre múltiplos talentos e atividades, Carroll estavam engenhosamente embutidos nos livros de
foi professor de matemática e lógica, desenhista, Alice. É interessante observar também o número Como eles já trabalhavam com a Alice clássica
fotógrafo e criador de paradoxos, quebra cabeças de notas que ligam Alice ao século XX: as palavras de Tenniel, as imagens criadas foram um
e truques mágicos. Ele é considerado um mestre valise de James Joyce, a filosofia da linguagem e a desdobramento da minha pesquisa de releitura
do nonsense pela riqueza dos jogos de linguagem e
realidade virtual são algumas conexões. Gardner das ilustrações originais de John Tenniel, em
desafios filosóficos presentes em sua obra.
mostra Alice com uma lógica intertextual e de diálogo com a história da arte. A Alice vitoriana
hipertexto, cruzando várias áreas do conhecimento, interage com imagens de Surrealistas, psicodélicos,
em que trechos da história se tornam links para artistas da Op Art e aqueles que propõem
informações que amplificam e potencializam a geometrias impossíveis. A ideia era trabalhar
leitura. Alice se revela um labirinto onde ler é com deslocamentos, paradoxos e a linguagem dos
percorrer múltiplos caminhos. sonhos para dialogar com a polissemia do texto.
Sir JOHN TENNIEL (1820-1914) foi um ilustrador
inglês, principal cartunista político da revista A edição trás as duas obras invertidas, com duas
Esse conteúdo faz dessa edição comentada um
semanal de sátira e humor ‘Punch’. Se destacava capas, uma na frente e outra no verso, capa dura
item fundamental de consulta entre leitores que
na caricatura e na representação de animais. Seus com lombada em tecido. Escrevi um posfácio
desenhos para os livros de Alice se transformaram desejem compreender melhor a obra através de
em que falo sobre as ilustrações originais de
em gravuras através do trabalho dos irmãos Dalziel. uma leitura mais acessível do que grande parte dos Tenniel e minhas releituras no panorama das
A experiência como cartunista favoreceu para que textos acadêmicos. Leitura instigante para curiosos, transformações e ressignificações de Alice em
seus personagens ganhassem um caráter de crítica estudiosos e amantes das aventuras de Alice. seus 150 anos.
aos costumes e à política da Inglaterra Vitoriana.
Suas ilustrações são consideradas inseparáveis da
obra e vêm influenciando por mais de um século
e meio, ilustradores e artistas nas mais diversas
mídias, linguagens e viagens.
MARTIN GARDNER foi o colunista de “Jogos
Matemáticos” da revista Scientific American de
1956 a 1981. Era filósofo, polímata, mágico, e autor
de mais de 70 livros. “The Annotated Alice” foi
seu maior sucesso de vendas e já foi publicado em
diversos países em edições sucessivas com novas
informações e ilustrações.
Ilustração que fiz para a sessão de filmografia da CARROLL, Lewis. ALICE: Edição comemorativa de
edição The Annotated Alice: 150th Anniversary Deluxe Edition. 150 anos. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges.
(capa na pág. 5) Colagens de Adriana Peliano sobre ilustrações de
John Tenniel. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.
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Outra opção é uma edição de Alice de bolso com capa
dura (12 cm x 17 cm), que tem a vantagem de ser menor e
mais fácil de manusear e transportar. Essa edição não tem
as notas de Gardner, mas preserva a mesma tradução e
ilustrações.
A Alice de bolso aparece em diferentes caixas com outros
clássicos da Zahar. Especialmente atraente e rapidamente
esgotada a cada nova impressão é a caixa que vem com
os clássicos O Mágico de Oz, Peter Pan e Contos de Fadas. A
sinergia entre as obras é evidente, tratam-se dos grandes
clássicos para a infância que criam mundos de fantasia e vêm
encantando gerações tanto na literatura, quanto através
do cinema, das animações e de uma presença maciça na
cultura pop. A caixa é impressa com tinta especial criando
um efeito mágico que brilha no escuro, fazendo com que
viajemos da floresta dos Contos de Fadas para o céu
estrelado, voando como Peter Pan para a Terra do Nunca
ou sorrindo como o Gato de Alice.
Por outro lado, não consigo compreender os critérios que
reúnem os livros dessa outra estranha e pesada caixa cor
de tijolo. Quiz: Ganha um doce quem me contar a afinidade
entre Alice e o Conde de Monte Cristo.
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Edição Original: CARROLL, Lewis. Alice’s Adventures in Wonderland. Illustrations by Yayoi Kusama.London:
YAYOI KUSAMA

Penguin Classics, 2012.


Edição Brasileira: CARROLL, Lewis. Aventuras de Alice no País das Maravilhas. Ilustrações de Yayoi Kusama.
Tradução Vanessa Bárbara. Globo livros: 2014.
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desejo, acompanhados de fantásticas vitrines com estátuas da artista e instalações
YAYOI KUSAMA

que dialogavam com a estética do seu trabalho. A publicação foi uma parceria da
Penguin Books com a galeria Gagosian e a campanha de lançamento do livro na
Inglaterra esteve associada à exposição na Tate e a campanha da marca de luxo.
Naquele contexto artista foi convidada a ilustrar Alice, tendo em vista a conexão
com a obra de Lewis Carroll assumida desde a década de 60. Em turnê por vários
países, em 2013 a exposição de Kusama percorreu três capitas brasileiras, Rio de
Janeiro, São Paulo e Brasília com visitação recorde de mais de 200 mil visitantes.
Em 2014 a editora Globo lançou a edição em português, um ano depois do
estouro das exposições e um ano antes da comemoração de 150 anos de Alice,
quando dezenas de novas edições chegariam nas livrarias.
Tenho 3 edições do livro, uma inglesa, uma brasileira e uma japonesa e pude
constatar que o projeto gráfico e a qualidade de impressão é bastante similar. É
uma edição sofisticada, com capa dura, coberta em tecido e papel encorpado.
As guardas revelam o conceito do design: as bolas, ou “polka dots” que marcam
o trabalho da artista em sua visão “alicinatória”, percorrem as páginas do livro,
como Alice em um mundo onde as fronteiras entre sonho e realidade, entre
“Eu, Kusama, sou a Alice no País das Maravilhas moderna”, afirmou em 1968 texto e imagem são desterritorializadas. Stefanie Posavec é considerada uma
artista japonesa Yayoi Kusama, pioneira da pop art e do minimalismo. Em das designers de informação mais criativas da atualidade. Ela elabora a tipografia
pinturas, colagens, poemas, performances, textos, esculturas e instalações para criar ritmos gráficos e mudar as fontes de tamanho, brincando com a
surpreendentes, ela compartilha obsessões e visões do infinito. Na década escala do texto em diálogo com as experiências e transformações de tamanho
de 60’, a artista foi para Nova York, onde realizou uma série de happenings de Alice, além de fazer os dots de Kusama criarem um jogo de interferências e
políticos, promovendo o amor livre e uma reação contra a Guerra do Vietnã sobreposições com os textos e as imagens. Enquanto a performance no Central
e todos os poderes autoritários e repressores. Park era marcada por dots amarelos, vermelhos e verdes, o azul aqui assume o
lugar do verde, afirmando a trilogia de cores primárias e o contraponto entre o
Para Kusama, Alice era a avó dos hippies. “Como Alice, que passou pelo azul de Alice e o vermelho da Rainha de Copas.
espelho, eu sou Kusama (que morei por anos em meu famoso quarto
especialmente construído coberto por espelhos), abri um mundo de fantasia As chamadas “ilustrações” de Kusama fogem das convenções e estereótipos do
e liberdade.” Assim anunciou a artista no mesmo ano, quando realizou uma imaginário de Alice. Os dots proporcionam um estado alterado de percepção
performance no Central Park na famosa estátua dedicada à Alice no País das e estão também presentes em cenas e objetos, com os cogumelos, a toca do
Maravilhas. Construída em 1959 por José de Creeft, a estátua se tornaria um coelho e a piscina de lágrimas. A figuração dá espaço para sensações e vertigens.
ponto turístico visitado por fãs de Alice de várias partes do mundo. Alice não aparece nas imagens: me pareceu inicialmente que Kusama era a Alice,
mas depois percebi que nos tornamos também Alices nessa viagem. Conversando
Kusama chegou ao Central Park como o Chapeleiro, com dançarinos com diversos leitores percebi que é uma edição que agrada bastante ao público
nus, convidando a todos a beberem o chá que estava sendo servido sob o conectado com arte contemporânea, em especial os admiradores de Kusama, que
cogumelo mágico. Pontos vermelhos, verdes e amarelos podiam representar é bem conhecida no Brasil desde a turnê de 2013. Entretanto, outros leitores que
a terra, o sol ou a lua, de acordo com Kusama. Ela pintou pequenos círculos buscam ilustrações mais literais e reconhecíveis seguindo os cânones de Tenniel
nos corpos dos presentes, para que as pessoas se despojassem de seus e Disney, acham as ilustrações estranhas e sem conexão clara com o texto. E
contornos para voltar “à natureza do universo”, incorporando uma visão isso não deixa de ser verdade. Sabe porque? O livro apresenta algumas imagens
psicodélica da realidade, numa experiência ao mesmo tempo sensorial e criada para essa edição, mas também várias pinturas de fases antigas da carreira
espiritual. de Kusama, criadas muitos anos antes do convite para ilustrar o livro. Na época
eu cheguei a pesquisar imagem por imagem. Em vários momentos as conexões do
Décadas depois, durante uma grande exposição de seu trabalho na TATE texto com as imagens não são claras mesmo, como no caso da jarra com flores e
Modern em Londres em 2012, a genial obra de Kusama ganhou fama e da melancia no capítulo da Festa do Chá apresentadas aqui. Mas, se lembrarmos
notoriedade no ocidente para o grande público. Uma poderosa campanha da de suas performances em 68 quando disse que abriu “um mundo de fantasia e
marca Louis Vuitton ajudou a promover a artista que customizou com seus liberdade”, esse livro é uma grande homenagem à vida e a obra da mais marcante
famosos “polka dots” uma série de itens sofisticados de moda e objetos de Alice moderna que sabe como ninguém viajar na loucura e criar mil maravilhas.
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COSAC NAIFY, LUIZ ZERBINI E ROSÂNGELA RENNÓ

Caixa especial de colecionador com edição dupla lançada pela editora de livros de arte
Cosac Naify em 2015, ano de comemoração dos 150 anos de Alice. A caixa vem com as
duas obras - Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho - com ilustrações autorais dos
artistas plásticos brasileiros Luiz Zerbini e Rosângela Rennó, respectivamente.
Essa caixa mágica apresenta dobras transversais e dupla face: do lado de fora está o verso
de uma gigantesca carta de baralho representando o País das Maravilhas, do lado de
dentro encontramos uma superfície espelhada mutante e flexível representando o Espelho
de Alice. As cartas da capa do livro do País das Maravilhas se refletem na superfície da
caixa internamente como se os dois livros fossem as peças de um jogo e a caixa fosse o
tabuleiro. Impressos em preto e vermelho sobre fundo branco, o xadrez da estampa da
caixa e a rosa dos ventos das cartas da capa do livro são pistas de um enigma para ser
degustado a cada página. Não seria a cada cartada?
Uma faca especial cria uma abertura na capa de onde podemos ver Alice do outro lado
olhando para nós como quem olha através da portinha misteriosa para o jardim secreto ou
através do espelho em busca de si mesma. Na outra capa Alice Liddell olha através de um
prisma multifacetado, criando uma vertigem caleidoscópica. Tudo se conecta.
A carta é a peça chave no conceito gráfico de todo o livro do País das Maravilhas. As
bordas arredondadas transformam o livro em um grande baralho. Carta que é página, que
é porta, que é enigma, que se desdobra em múltiplas materialidades e leituras polissêmicas.
O leitor se torna também um jogador, num jogo de linnguagens entre palavras e imagens,
como os sonhos dentro de sonhos de Alice e seus espelhos inesgotáveis.
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No final de suas aventuras no País das Maravilhas Alice é confrontada num
julgamento com leis absurdas. Ela desafia a Rainha de Copas e os demais
personagens da corte com sua célebre frase: “Vocês não passam de cartas
de um baralho!” Essa é uma deixa para falar das ilustrações de Luiz Zerbini
para a edição da Cosac Naify publicada originalmente em 2009 em uma
edição básica e uma edição especial para os alicinados.
O artista plástico Luiz Zerbini criou 31 ilustrações para a história a partir
LUIZ ZERBINI

de cartas de baralho, recortadas e remontadas em verdadeiras maquetes


teatrais. Os efeitos especiais foram garantidos pela iluminação e as
fotografias de Julio Calado. A linguagem era bastante singular dentro do
panorama mundial de ilustrações de Alice e ao mesmo tempo apresentava
Direção: Jan Svankmajer. Alice, 1998. uma solução quase que evidente. Cartas, é lógico! Até aquele momento o
que eu conhecia de mais parecido com as Alices de Zerbini eram as cartas
do baralho do filme surrealista Tcheco de Jan Svankmajer, o mais fascinante já
realizado sobre Alice.
No período em que elucubrava sobre o desafio de ilustrar Alice, Zerbini
esteve em Bolonha na prestigiada feira de livros e entrou numa loja de
baralhos, onde achou um jogo com figuras dos personagens do livro. A
partir dali buscou outros jogos com bichos, peixes e flores para completar
as maquetes e foi atrás de baralhos de vários países, para suprir a ausência
de alguns personagens.
O objetivo do artista era não repetir o que estava no escrito texto, mas
criar uma história paralela. O livro é então tratado por Zerbini como um
grande jogo em que os personagens saem das cartas e desafiam o leitor.
Luiz Zerbini, 2009.
Luiz Zerbini, 2009. Direção: Jan Svankmajer. Alice, 1998. Folheando o livro atravessamos uma partida enigmática, no ponto de vista de
quem também faz parte de um jogo de metalinguagem.
No início do livro Alice atravessa a carta e a capa do livro. A materialidade
da carta, da capa e da própria página é desafiada. Em contraponto, as duas
últimas imagens do livro são fundamentais para reverter a situação para a
protagonista e o leitor. Em uma imagem vemos uma menina real do ponto
de vista de uma carta e, na outra, vemos as cartas do ponto de vista da
Alice. Ela cresce, acorda e pode ver o jogo de uma perspectiva nova e
abrangente. Ela não é mais uma peça sendo jogada por outra pessoa em
um jogo de cartas marcadas controlado por uma Rainha que manda cortar
a cabeça de todos. Ela se torna consciente de quem é, de que cresceu e de
que tudo não passou de um sonho dela.
A tradução é de Nicolau Sevchenko que foi um historiador brilhante,
que reunia a erudição acadêmica com o espírito lúdico e o amor pelo
nonsense e a subversão de linguagem. Em sua tradução ele soube conciliar
o conhecimento histórico da Inglaterra Vitoriana com o desejo de
descomplicar a linguagem e torná-la leve e bem humorada para o público de
hoje. Não é de se estranhar que tenha existido algum descompasso entre a
visão do historiador e a do artista, um querendo afirmar a contextualização
histórica, o outro operando o deslocamento e a ressignificação no jogo da
arte contemporânea. Nessa dinâmica podemos escolher desafiar as regras e
nos tornar livres para atribuir novos sentidos à arte e à vida.
Luiz Zerbini, 2009.
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ROSÂNGELA RENNÓ

Louise Fazenda como Rainha Branca


Rosangela Rennó. Ataque à Dama, 1987, da série Alice 27 x 35 cm,
Alice in Wonderland (1933)
fotografia em papel de prata/gelatina.
Direção Norman Z. McLeod.
No início de sua carreira como artista plástica, Rosângela Rennó se apropriou de vários
objetos ligados à infância, alguns provenientes de sua história pessoal. A obra Alice (1987
/ 1988), foi feita no ano em que se formou na escola Guignard em Belo Horizonte, e era
composta por uma série de oito fotos em que usava fotografias de uma antiga boneca, que
se tornou a sua Alice, sobre um tabuleiro de xadrez. A partida tinha começado.
Rosangela Rennó é fotógrafa e trabalha a muitos anos com material iconográfico encontrado,
apropriando-se de fotografias de vários tipos de arquivos (álbuns de família, carteiras de Rosângela Rennó transforma o Coelho Branco do País das
identidade, fotos de policiais criminais, etc) e antigos equipamentos fotográficos para pensar Maravilhas na Rainha Branca do Xadrez do Espelho. É bom
a fotografia e suas dinâmicas culturais, semióticas e identitárias. lembrar que quando a Rainha se transforma em ovelha, portanto
é um personagem metamórfico. Ingredientes: Frame do filme do
Quando foi convidada para ilustrar a edição de Alice através do Espelho da Cosac Naify a Svankmajer recolorizado, rosto da Rainha Branca, peso de papel,
artista apoveitou a oportunidade para produzir uma grande montagem fotográfica operando prato de vidro, agulhas de tricô. Magnífico!
novas apropriações e deslocamentos. Rosângela interferiu em registros imagéticos de Alice, Alice (Neco z Alenky, 1988)
com destaque para ilustrações de Tenniel e frames de filmes clássicos das duas Alices de Direção de Jan Švankmajer.
Lewis Carroll, alterando as cores e fotografando novamente as imagens através de lentes
fotográficas e outros objetos transparentes colocados diretamente sobre as imagens.
Ela criou um grande dispositivo de metalinguagem fazendo com que a lente, instrumento

ROSÂNGELA RENNÓ, 2015.


óptico que atua pela refração da luz, se torne metáfora para o espelho, que atua pela
reflexão, mas que em Alice pode ser atravessado. Esses dispositivos ópticos permitem que
possamos ver a realidade “através de”.
A capa mostra a imagem clássica de Alice Liddell fotografada por Lewis Carroll em vermelho
com um “cristal” multifacetado sobre seu rosto atuando como mais uma lente que aponta
para a identidade multifacetada e caleidoscópica da personagem através da história. E neste
jogo Rosângela Rennó mistura várias Alices vistas através da visão de ilustradores e artistas e
através da lente cinematográfica criando um mise-en-abyme de sonhos dentro de sonhos.
A edição mantém rigorosamente a paleta do vermelho / branco / preto sendo o vermelho
a cor do tabuleiro de xadrez de Alice no texto. Nas ilustrações as peças do xadrez são
parte de um jogo que mescla peças transparentes contra peças translúcidas, transformadas
também em lentes na dinâmica proposta pela artista. O projeto gráfico também se torna Natalie Gregory como Alice em
um jogo, com inversões a cada capítulo alternando um texto branco sobre fundo vermelho e Alice in Wonderland (1985)
vice-versa. Um convite especial para entrarmos na grande partida de xadrez que é o livro de Direção de Harry Harris.
Carroll.
18 19
“O grande paradoxo que percorre as aventuras de Alice, diz Deleuze, “Em diferentes encarnações novas Alices
QUEM É ALICE PARA MIM?

é a perda do nome próprio, identidade infinita, eterno devir. Quando a não buscam reproduzir em imagens o que
lagarta pergunta para a menina, quem é você? Alice não sabe a resposta. está escrito nos livros, mas de viajar em suas
Eu sei quem EU ERA mas tenho me transformado várias vezes desde veias e teias, entre mergulhos, travessias e
então. Num paradoxo Alice diz que não, mas também diz que sim: sei cogumelias. Inúmeras alicinações podem ser
quem sou, contínua transformação. Como Alice, quando parece que criadas desvairando em paradoxos, línguas
sabemos quem somos, já somos outros, e o que achamos que somos inventadas, desejos nômades, metamorfoses
é o que um dia fomos. E o mundo que conhecemos já é outro a cada sem cabeças, sonhos dentro de sonhos,
instante. Menina que nasceu no rio de Heráclito, que sabe que o ser e caminhos erráticos, risos loucos pairando no
o não ser conversam todo tempo, num eterno ciclo de se criar a todo ar, desloucamentes. Ao invés da pergunta:
momento. quem é Alice, hoje desdobram caminhos para “Faz tempo que Alice já não é mais apenas
quem Alice pode tornar-se...” nome de menininha, ou de personagem de obra
Quando Alice diz que só sabe quem foi, diz que estamos sempre em extravagante. Alice é nome de viagem, sonho,
movimento. E quando foi ilustrada por John Tenniel na Inglaterra Alicis Especularis. metamorfose e desafios enigmágicos. Alice é viva
vitoriana, inaugurou uma tradição de Alices que seguiram o seu https://adrianapeliano.blogspot.com/2013/04/ e desafia todo saber instituído despertando a
caminho. Mas Alice já não é mais a Alice vitoriana, mas o caleidoscópio alice-por-enquanto.html multiplicidade caleidoscópica da metamorfose de
vivo de todas as possibilidades. Quantos artistas foram de fato movidos tudo o que existe. Um livro de perguntas móveis
pela necessidade de superação dos modelos estereotipados da menina e mutantes que nos convida a procurar o jardim
e seu mundo surpreendente, e pela procura por novas aventuras na das inesgotáveis possibilidades criativas que
linguagem?” existe em cada um de nós. Como disse o escritor
Paulo Mendes Campos em carta para sua filha
PELIANO, Adriana. A caça à Alice em 7 crises. Maria da Graça: “Esse livro é doido, o sentido
está em ti!”
LITERARTES. “Publicação científica digital do grupo de pesquisa
Produção literária e cultural para crianças e jovens da USP”. Entrevista para o site Elefante Voador
SUZY LEE SUZY LEE
20 21
A primeira Alice que conheci, aos 4 anos de idade, foi a do desenho da Hannah
ALICE EM MINHA VIDA

Barbera1. Era uma Alice pós-moderna, que ao invés da toca do coelho, caía dentro do
aparelho de TV, encontrava Fred Flinstone e andava pela estrada de tijolos amarelos
do mágico de Oz (na minha memória eram amarelos, depois de anos descobri que
eram azuis). Esse jogo intertextual de cruzamentos de universos ficcionais conduz
até hoje meu interesse por Alice, fascinada que sou pelas viagens da menina por
outros reinos, como o Sítio do Picapau Amarelo de Monteiro Lobato. Alice de fato
conheceu Emília e Narizinho em algumas estórias do autor brasileiro.
Me recordo também das leituras ávidas e curiosas da coleção “Thesouro da
Juventude”2 , enciclopédia que ficava na última prateleira da estante da casa dos meus
avós e que eu precisava puxar a cadeira para alcançar. Entre “cousas que podemos
fazer”, “o livro dos porquês”, “lições atraentes”, ciência e literatura, encontrei uma
versão reduzida das aventuras de Alice no livro dos contos. Publicada ainda na década
de 20, essa coleção apresentou Alice em português bem antes da primeira edição
de 1931 da Companhia Editora Nacional, adaptada por Lobato. As ilustrações eram
de Harry Furniss, ilustrador que trabalhou com Lewis Carroll e criou imagens mais
sombrias e perturbadoras do que as clássicas imagens de John Tenniel.
1. 3.
Aos nove anos ganhei a minha primeira edição de Alice, ilustrada pelo Nicolas
Guilbert3. Diferente da Alice loira e comportada da Disney, essa Alice era morena
e angustiada, e me identifiquei logo com ela e seus conflitos em um mundo estranho
onde ela tentava encontrar o seu lugar. Aos quinze anos descobri a edição da
Summus4, com um complexo prefácio de Sebastião Uchôa Leite que me revelou
novas Alices atravessadas pela teoria literária, a psicanálise e a filosofia. A obra
de Gilles Deleuze “A Lógica do Sentido”5 foi então a travessia do Espelho, numa
investigação desnorteante dos paradoxos de Lewis Carroll. Outra grande inspiração
foram as anotações fundamentais de Martin Gardner e sua rede de conexões
intertexutais em “The Annotated Alice”6 . Em 1996 começei uma pesquisa de iniciação
científica sobre as ilustrações de Alice. Em 2001 o livro seria publicado com grande
sucesso no Brasil pela editora Zahar com o nome de “Alice: edição comentada”.
2.
4. 5. 6.
22 23
Ainda na década de 90 fui visitar em Brasília, onde morava,
uma exposição de ilustradores de Alice. Fiquei tão
fascinada que decidi que dali pra frente também ilustraria
os livros de Alice e embarquei numa viagem nesse mundo
fascinante, labiríntico e paradoxal. Ilustrei as duas obras
(Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Através do
Espelho e o que Alice encontrou lá) com uma técnica híbrida
e original, misturando objetos, assemblagens7, fotografia
e computação gráfica. Essa imagem ao lado é o Coelho
Branco que criei com objetos que tinha em casa. Partindo
7. 10.
das fotos fiz as ilustrações digitais. Essas ilustrações
foram mostradas em 1998 em Oxford, em Christ
Church8 , universidade onde Carroll trabalhou e viveu, na
comemoração do centenário da morte do autor8 .
Oxford em 98 eu tinha começado uma tradução e idealizado o projeto,
anos depois consegui fazer o design da tipografia baseada na letra do
Me tornei então membro das Sociedades internacionais autor. A ideia era manter o projeto gráfico de Lewis Carroll, que ilustrou
dedicadas ao estudo e a divulgação da obra de Lewis e diagramou o manuscrito que deu de presente para Alice Liddell em
Carroll. Naquele momento minha coleção de edições de 1864, dois anos depois do famoso passeio de barco em 4 de julho de
Alice crescia rapidamente, na medida em que freqüentava 1862. O livro ganhou um prêmio Jabuti em 2012 pelo projeto gráfico.
sebos e encomendava edições raras de diferentes partes
do mundo. Hoje sou membro das Sociedades Lewis Carroll Nesse mesmo ano conclui meu mestrado na USP, onde apresentei a
da Inglaterra, dos Estado Unidos, da Holanda e do Japão. dissertação “Através do Surrealismo e o que Alice encontrou lá”, com
orientação de Kátia Canton. Nessa pesquisa analisei a importância dos
Em 2009 decidi criar a Sociedade Lewis Carroll do Brasil artistas surrealistas na ressignificação das Alices de Carroll, expandindo
em parceria com Mark Burstein, que já foi presidente o imaginário vitoriano e abrindo as portas para o sonho e a expansão de
da Sociedade Lewis Carroll dos Estrados Unidos e meu consciência através da literatura e das artes visuais.
marido na época Paulo Beto. O objetivo era reunir outros
Ao mesmo tempo eu alicinava em produções artísticas envolvendo
alicinados como eu, pesquisar e divulgar a obra, além de
assemblagens12 , fotografias, instalações, performances, vídeos
produzir novas reinações inspiradas em Alice. Começamos 8. participando de exposições e publicações com artigos e ilustrações.
com um grande evento multimídia com música, literatura,
Essa imagem ao lado fez parte de uma série criada com bonecas antigas
cinema e artes plásticas no Centro Cultural Brasileiro que participou da edição limitada de uma caixa de cartões “alicedélicos”
Britânico9 que contou com cerca de 400 pessoas. Novos 12.
criados em parceria com os artistas Indio San e Anderson Rezende.
eventos foram realizados na Casa das Rosas, na Casa das
Caldeiras e no Salão Circus Hair em São Paulo10.
A Sociedade tem três blogs onde publico centenas de
informações de pesquisa sobre o assunto, com enfoque nas
representações de Alice na ilustração e nas artes. Ofereci
também palestras sobre a história das ilustrações de Alice
e workshops onde as pessoas recriam Alice no imaginário
caleidoscópico contemporâneo, através de colagens e livre
associações de ideias.
Em 2012 realizei um projeto que tinha idealizado 14
anos antes: pubicar em português o manuscrito original
das “Aventuras de Alice no Subterrâneo”11. Voltando de
9. 10.
24 25
Em 2015 foi celebrado o aniversário de 150 anos de Alice
no País das Maravilhas. Nesse ano ilustrei as duas Alices de
Lewis Carroll para uma edição comemorativa da Zahar,
com tradução de Maria Luiza Borges. Essa colagem recria
uma ilustração de John Tenniel14, interagindo com os relógios
moles de Salvador Dalí15, uma figura de M. C. Escher e Meret
Oppenheim.
No mesmo ano fui aos Estados Unidos participar dos eventos
promovidos pela Sociedade Lewis Carroll de lá. Apresentei
uma palestra no NYIT sobre Alice através das colagens na
arte e na ilustração. Tenho também participado do evento
Carrolliano de Beatriz Mom em Belo Horizonte, o Carrollsday.
Em 2016 colaborei na exposição “Experiência Alice”,
idealizada pela Ong Orientavida, que contou com a cenografia
do Caselúdico, partindo do imaginário Disney. A exposição foi
realizada no Shopping JK Iguatemi em São Paulo e em Fortaleza
e foi visitada por um público de mais de 60.000 pessoas. Fiz a
curadoria e montagem dos livros na primeira sala emprestando
70 livros da minha coleção. Também fiz mini assemblagens, criei
colagens e textos para as portas enigmágicas que cercavam o
espaço. Nas próximas páginas inclui imagens da exposição e da
montagem do quebra cabeças na minha casa. 11. 16.
Entre 2020 e 2021 estarei lançando meu novo livro em
português e inglês: ‘Alice em 7 chaves’’16, uma releitura da obra
de Carroll através de um jardim de sonhos e bebidas mágicas
que darão origem a novas aventuras.
15.
13. 14.
26 27
Mapa da Sala Lewis Carroll
Quinze vitrines criam um caminho para o público passando pelas aventuras de
Alice em seus momentos-chave. Em cada vitrine podemos ver como diferentes
artistas representaram o mesmo capítulo da história criando um grande quebra-
cabeças. Cada vitrine corresponde a uma das próximas salas da exposição. ENTRADA
Vitrines:
1 } Lewis Carroll
eAlice
8} Transflormações 7} Casa do Coelho
6) Corrida
Porta 1 em Comitê
A VIAGEM DE BARCO... 5} Jardim 4} Chave 3} É tarde! É tarde! 2} Pela toca do Coelho
deAmaravilhas do Tamanho É tarde!
Porta 2
OS ESPELHOS DE ALICE
9} Gato que Ri 10} Um Chá Maluco 11} A Rainha de Copas 12} O Julgamento 13}AcordaAlice! 14} Tweedle Dee
& Tweedle Dum
15} Através
Porta 3 Porta 3 do Espelho
ALICE EM 7 CHAVES ANIMAÇÃO WALT DISNEY
Cenpgrafia: Caselúdico / Livros e objetos: Adriana Peliano
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EXPOSIÇÃO EXPERIÊNCIA ALICE


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“Alice para mim é muito esse lado impulsivo, esse lado
ALICE por NICOLAU SEVCENKO

criativo, esse lado irreverente, que agente tende a associar


com a infância, com a juventude, e que obviamente vai
sendo sufocado em cada um pelo processo educativo e pelo
modo que vamos nos sujeitando às regras do meio social
e às injunções de uma vida professional que acaba criando
uma série de limitações e nos põe num trilho que nos torna
imensamente previsíveis e que de certa forma aniquila a Alice
que há em cada um de nós.
Eu acho que todo mundo é Alice. Alice para mim é o brilho
nos olhos quando você sente a vivacidade, quando você sente
a pulsação, quando você sente essa vibração que todo ser
humano tem em si, aquele elemento singular, aquela espécie
de energia íntima, criativa, espontânea, imprevisível, que faz
de todo ser humano uma surpresa permanente desde que
ele tenha esse espaço e essa possibilidade de colocar o seu
brilho para fora, de irradiar, de brilhar. Alice para mim é esse

ALICE LIDDELL por ROSÂNGELA RENNÓ


brilho, essa irradiação.
O que eu acho que o livro faz é essa mágica de deflagrar o
gatilho de Alice de cada um e uau! Quando agente entra no
mundo da Alice agente se torna Alice. Nesse sentido Alice
está em todos nós, todos nós somos Alice, em suma: Alice é
o melhor de cada um de nós.”
Nicolau Sevcenko, 2009.
Entrevista inédita, transcrição minha.
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