Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
, diz Carvalho (2015). Em “Pele negra, máscaras brancas”, Fanon disseca as atitudes do
negro ante a branquitude, e como a linguagem delimita os lugares de cada um. Espera-se que seja
um “bom preto”, que assimile a cultura branca-européia, como o antilhano que ia à metrópole e
retornava sentindo-se superior aos que não a conheciam. Por isso, diz ele que uma nova referência
necessita ser construída pelos próprios negros – sem com isso correr em provar aos brancos a
existência de uma civilização negra.
Analisa o personagem Jean Veneuse do romance de René Maran, embasado na psicanálise
da suíça Germaine Guex. Veneuse é um homem negro, considerado europeu por viver desde a
infância em França, e constantemente querendo provar – para eles e para si – que são semelhantes.
De estrutura psíquica neurótica, apaixona-se por uma mulher branca e, ao pedir conselho a um seu
amigo branco, este lhe diz que ele (Veneuse) não sabe nada dos antilhanos pois sempre viveu em
Bordeaux, e isso o torna “um dos nossos”. Isso corrobora o argumento de Fanon, de acordo com
Carvalho (2015), sobre o papel do colonizador em apagar todas as referências negras, que faz com
que negros queiram “elevar-se até o branco”, como num “Complexo de Cinderela” (CARVALHO,
2015).
Estando culturado e desculturado, diz Fanon (1980), encontrando o racismo não como uma
constante intrínseca do humano, mas de um sistema social e cultural de ser, após apelar aos valores
supremos, ao amor etc, aquele que foi inferiorizado, após passar por todo um estranhamento, o
negro parte numa busca por sua cultura abandonada e rejeitada em estado de graça. Torna-se motivo
de escândalo, uma agressão, o exibir sua tradição. Abre-se um paradoxo: essa retomada cultural o
revigora e o torna, ao olhar dos opressores, um irrecuperável. Valoriza e afirma antigos costumes
enfrentando e silenciando a ironia dos demais. Já não há mais volta, tal conhecimento é o passo que
deflagrará a luta contra todas as formas de exploração e alienação e, em se tratando dos argelinos,
pela libertação do território nacional – à época ainda colonizado pela França.
Fanon (1980) complementa que a luta do que foi inferiorizado está num nível diferente, mais
humano, sob uma nova perspectiva, pois ao lutar pela libertação, um povo raramente legitimará o
racismo. Tal luta será chamada fanatismo e primitivismo, porém o mecanismo opressor responderá
da mesma forma. Excluindo-se o estatuto colonial, finaliza, a universalidade virá dessa relativização
recíproca entre as diferentes culturas.
Argumenta ainda, nas palavras de Carvalho (2015), que a superação do racismo implica uma
reestruturação desse mundo que discrimina determinadas maneiras de ser, o rompimento com a
exploração de um grupo com determinado grau de desenvolvimento técnico sobre outro. Para isto,
observa ser necessário mergulhar no passado, regressar à sua cultura e tradições, com objetivo de
tornar visível o que foi invisibilizado pelo “Outro”. A tomada de consciência como forma de pôr
fim a esse dilema e gerar condições para uma nova maneira de existir.