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A FAVELA, ONTEM E HOJE

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

EUCLIDES DA CUNHA, provavelmente foi o primeiro escritor


brasileiro a escrever a palavra “FAVELA”, segundo o texto da obra “OS
SERTÕES”, onde retrata a campanha da GUERRA DE CANUDOS, valendo
salientar de que o mesmo morreu e não chegou a tomar conhecimento do
significado pejorativo do referido termo em âmbito nacional nos dias atuais.

Primitivamente, o emprego da palavra FAVELA, na obra Os Sertões,


não tinha o significado pejorativo que tem nos dias de hoje. Em Os Sertões, a
palavra FAVELA tem acepção meramente geográfica, o autor assim escreve:
“TODAS TRAÇAM, AFINAL, ELIPTICA CURVA, FECHADA AO SUL POR UM
MORRO, O DA FAVELA, EM TORNO DE LARGA PLANURA ONDEANTE
ONDE SE ERIGIA O ARRAIAL DE CANUDOS – E DAÍ, PARA O NORTE, DE
NOVO SE DISPERSAM E DECAEM ATÉ ACABAREM EM CHAPADAS ALTAS
À BORDA DO SÃO FRANCISCO” (p. 19). Faz referências diretas ao morro da
FAVELA nas páginas, 21, 348; 349. 350 e 352. É importante lembrar de que
faz uma citação indireta na página 240. Todas as citações de páginas de Os
Sertões, referem-se a 23.ª ed., Editora Francisco Alves, 1954.

O escritor Pedro A. Pinto, no raríssimo “Os Sertões de Euclides da


Cunha” (Vocabulário e Notas Lexicológicas), Rio, Editora Francisco Alves,
1930, define o termo FAVELA como: “Monte ao sul de Canudos”. Cita
também o termo faveleira, afirmando ser uma espécie de planta euforbiácea,
que segundo o próprio Euclides da Cunha, significa leguminosa. Por último, a
descrição botânica do termo FAVELA, encontra-se às páginas 37 e 38 da obra
citada da seguinte forma: “AS FAVELAS, ANÔNIMAS AINDA NA CIÊNCIA –
IGNORADAS DOS SÁBIOS, CONHECIDAS DEMAIS DOS TABARÉUS –
TALVEZ UM FUTURO GÊNERO CAUTERIUM DAS LEGUMINOSAS, TÊM,
NAS FOLHAS DE CÉLULAS ALONGADAS EM VILOSIDADES, NOTÁVEIS
APRESTOS DE CONDENSAÇÃO, ABSORÇÃO E DEFESA”.

Assim sendo, o termo FAVELA, citado em OS SERTÕES de Euclides da


Cunha, não tem o significado pejorativo que tem nos dias de hoje: “FAVELA,
(...) Conjunto de casebres toscos e miseráveis, geralmente em morros,
onde habitam marginais (...).” (Dicionário Caldas Aulete, Rio, Delta, Edição
Brasileira, 1958.)

É de se concluir que o termo FAVELA no Brasil, de ontem e de hoje, teve


e tem os seguintes significados:I)Substantivo comum, designativo de arbustos
e árvores da caatinga nordestina;II) Substantivo próprio; hipônimo de um morro
situado nas proximidades de Canudos, Estado da Bahia;III) Substantivo
próprio: topônimo de um morro na cidade do Rio de Janeiro;IV) Substantivo
comum, com sentido depreciativo e/ou pejorativo, ligando-se a habitações de
marginais;V) Substantivo comum, perdido o sentido depreciativo e/ou pejorativo
e evidenciada a significação socioeconômica do tipo de habitação popular que
designa o termo favela;VI) A partir da acepção atual, abertura da possibilidade
de formação de substantivos, verbos e adjetivos cognatos, alguns ainda não
dicionarizados.

A etimologia do termo FAVELA, tem duas hipóteses prováveis: O termo


liga a FAVA, planta, segundo Antônio Geraldo da Cunha, no Dicionário
Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Saraiva, Rio: 1982. e/ou
relaciona-se com o FAVO, ex-vi o que escreve José Pedro Machado, no
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 4ª,
1987.

O Padre Fernando Bastos de Ávila, S.J., em sua Pequena Enciclopédia


de Moral e Civismo, Rio, MEC/FENAME, 2.ª edição revista e atualizada, 1972,
afirma textualmente o seguinte: “FAVELA. Etimologicamente é um termo latino
que significa pequena fava. Historicamente, é o nome de uma pequena colina
de uma região da Bahia, de onde provieram os migrantes que se instalaram,
pela primeira vez, no Rio de Janeiro, nas imediações da Estação Pedro II da
Central do Brasil. Ocuparam, na ocasião, uma pequena elevação, que, pela
semelhança com a colina baiana, chamaram de favela. Daí o nome se
estendeu a todas as aglomerações de barracos construídos na cidade do Rio
de Janeiro, seja em escarpas, seja em regiões planas, em geral alagadiças, e
que apresentam as seguintes características: 1) ocupação efetiva do terreno,
sem título jurídico que dê aos ocupantes a posse legal do mesmo; 2) carência
de serviços básicos de qualquer aglomeração urbana, principalmente água e
esgotos; 3) precariedade das construções dos barracos, feitos pelos próprios
moradores, não só sem nenhum plano de conjunto que os proteja contra
incêndios e facilite a circulação, como sem garantias de estabilidade contra a
ação das intempéries, especialmente das chuvas torrenciais; 4) condições
subumanas de vida, em especial devidas à exigüidade do espaço que obriga a
uma vida de promiscuidade. (...) As favelas são o resultado de dois fatores
básicos: 1) o ritmo das migrações internas (...); 2) o baixo nível dos salários.
(...) Não existe uma solução única para todas as favelas; nem se pode tratar de
erradicá-las para as transplantar para as zonas periféricas, porque a favela não
é um fenômeno vegetal, e sim humano: nem se trata de urbanizá-las todas ‘in
loco’, porque muitas estão localizadas em sítios que exigiriam custos
vultosíssimos para o mínimo de condições indispensáveis de urbanização. (...)”

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Psicopedagogo, Professor – Advogado – Mestre e Doutor em Ciências da Educação

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