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Pe NeTAN | S CESAR BARIONI DE OES ERNESTO JOAO ROBBA = histe)lerq eo mmm ee 14) ee Tat 0 setor elétrico brasileiro, assim como em muitas partes do mundo, tem sofrido grandes transformagGes nos tiltimos anos. Por um lado, houve um processo de grandes mudangas em sua estrutura, com a desverticalizagao das empresas de energia elétrica e a criagdo de empresas com fungoes responsabilidades especfficas de geragao, transmissao e distribuigao. Da privatizacio de grande parte das empresas distribuidoras, surgiu a neces- sidade de 6rgaos reguladores para o estabelecimento de novas regras para a prestagao dos servicos puiblicos de fornecimento de energia elétrica aos consumidores finais. Ao mesmo tempo, a incrivel evolugdo tecnolégica, que criou a chamada era digital, propicia o surgimento de equipamentos elétri- cos cada vez mais sofisticados, porém altamente sensiveis qualidade de fornecimento da energia elétrica. Finalmente, a crescente conscientizagao da populagao brasileira com relacao os seus direitos de consumidor, e a ne- cessidade premente de garantir a universalizacao do acesso, torna a energia elétrica um produto indispensavel e que 6 requerido cada vez mais, no 86 em intensidade como também em qualidade. Todas essas mudangas trouxeram novos desafios aos profissionais que atuam nas empresas do setor elétrico, Particularmente aqueles das empresas de distribuigao, que sao 0 elo direto de conexao dos consumidores com 0 sistema, necessitam hoje de uma formagao técnica bastante sdlida e ampla, para correta compreensdo dos problemas e das possiveis solugdes a serem adotadas. Os autores deste livro se especializaram, ao longo dle suas carreiras profissionais, além de suas atividades didaticas como professores de enge- Sao Paulo, no estudo nharia elétrica na Escola Politécnica da Universidade de Sa e desenvolvimento de projetos de pesquisa e desenvolvimento voltados aos problemas técnicos dos sistemas de distribuicdo, em suas varias areas: pla- nejamento, operacao, prote¢do, engenharia e qualidade, dentre outras Tanto nos cursos de graduagao, como de pés-graduagao e de especiali- zagao ministrados, e também nos contatos com nossos colegas engenheiros das empresas, sentimos falta de referéncias bibliogréficas mais especificas que fornecessem 0 embasamento tedrico, com o grau de profundidade ne- cessirio, para 0 entendimento dos aspectos técnicos basicos que reger 0 funcionamento dos sistemas de distribuigao, Isto nos motivou a escrever este livro, com o intuito de auxiliar na for- macio e especializagao de engenheiros elétricos para atuagao na area de distribuigdo de energia elétrica, Trata-se de um livro introdutério, podendo ser utilizado nos niveis de graduagao ou de pés-graduagao. Os capitulos foram preparados de forma tal que podem ser consultados de maneira independente, conforme o interesse Introducao aos Sistemas de Distribuicéo de Energia Elétrica ou necessidade do leitor, sem a obrigatoriedade de seguir a ordem em que fo- ram organizados, embora exista uma seqiténcia ldgica em sua composicao. No primeiro capitulo apresentamos uma visao geral da constituigao dos sistemas de poténcia, enfocando os sistemas de geracao, transmissioe distribuigao, com maior énfase, obviamente, neste tiltimo. Sao apresentadbos, de forma geral, os principais tipos de configuragdes ou arranjos e formas operativas das redes de subtransmissao, subestagdes, redes primérias, transformadores de distribuigao e redes secundarias O segundo capitulo trata da elassificagao da carga e dos fatores tipicos utilizadlos para sua representacdo nos estudlos das redes de distribui- 80. Sao apresentados os conceitos e as definigdes de demanda, diversidade da carga, fatores de clemanda, de utilizacao, de carga e de perdas. Também so apresentados conceitos basicos de tarifagio da energia elétrica, sem no entanto abordlar este tema de forma mais detalhada, que foge ao escopo deste livro. No terceiro capitulo tratamos do estabelecimento da corrente admis- sivel dos condutores utilizados em linhas de distribuigdo. Apresentamos 08 conceitos e 0 equacionamento térmico para a obtengao da corrente admiss{vel em regime permanente, ou seja, para condigao normal de ope- ragdo, e em regime de curta duragdo, ou seja, quando da ocorréncia de um curto-circuito na rede. Para a corrente admissivel em regime permanente, so considerados os cabos nus, muito utilizados em redes aéreas, os cabos protegidos, que vém sendo cada vez mais utilizados em dreas urbanas, ¢ 0s cabos isolacos, utilizados principalmente em redes subterraneas. 0 quarto capitulo 6 dedicado ao célculo de parametros elétricos de linhas aéreas ¢ subterrdneas. Apresentamos o célculo das chamadas constantes quilométricas, impedancia série e capacitancias em derivagao, em termos de componentes de fase e de componentes simétricas, para as linhas aéreas, com a utilizago do método das imagens, e para linhas que utilizam cabos isolaclos. Neste caso 0 célculo torna-se mais complexo, ¢ so considerados separadamente no célculo a parte interna dos cabos e o meio externo onde esto instalados. 0s transformadores de distribuig&o sao objeto do quinto capitulo. Inicialmente, relembramos de forma sucinta 0 prinefpio de funcionamento ea determinacao do circuito equivalente para um transformador monofé- sico. Em seguida analisamos os transformadores triffsicos, com enfoque ao calculo de desequilibrios de tensao e de corrente para transformadores nas ligagdes em triangulo e em estrela. Consideramos aqui que o leitor jé conhece a andlise dos varios tipos de ligagao de transformadores trifési- cos, com 0 calculo de correntes e tensdes de fase e de linha, para sistemas equilibrados ou desequilibrados, pois 0 assunto jé foi amplamente abordaco em varias outras publicagdes. Finalmente, abordamos com maior grau de profundidade o problema do carregamento admissivel de transformadores, Apresentamos 0 equacionamento térmico de transformadores resfriados a 6leo, ¢ 0 calculo da perda de vida e da vida ttil estimada em fungao da curva de carga didria. No sexto capitulo enfocamos 0 estudo de fluxo de poténeia da rede. Iniciamos 0 capitulo pela modelagem da carga e da rede. Para a represen- Introducao aos Sistemas de Distribuicéo de Energia Elétrica tagao da carga no sistema, analisamos seu comportamento em fungao da tensao, através dos modelos de poténcia, corrente e impedancia constante com a tensiio, Analisamos também a distribuigdo da carga na rede, carga concentrada e uniformemente distribufda, a representagao da carga por sua demanda maxima e pela utilizagao de curvas de carga tipicas. Apresentamos os modelos de linha curta (impedancia série), linha média (w nominal) e linha longa (a equivalente), e 0 célculo da queda de tensao em um trecho de rede, em funcao do modelo utilizado para a representagao da carga. Em seguida, detalhamos as formulagdes para os estudos de fluxo de poténcia em redes radiais, considerando os casos de redes triffsicas simétricas com cargas equilibradas e sua extensfo para redes assimeétricas com cargas de- sequilibradas. Finalmente, apresentamos os métodos para estudo de fluxo de poténcia em redes que operam em malha, com a representagao matricial da rede e os métodos de Gauss e Newton-Raphson, Os estudos de curto-cireuito so 0 objeto do sétimo capitulo. Intro- duzimos o assunto analisando a natureza da corrente de curto-circuito e as suas componentes transitérias e de regime permanente. Apresentamos em seguida o equacionamento para a obtengao das correntes, tensdes e poténcias nos estudos de curto-circuito trifisico, fase-terra, dupla-fase e dupla-fase & terra. Nos defeitos envolvendo a terra, sao considerados os defeitos francos 0s com impedancia de defeito. Apresentamos ainda uma andlise da relagao entre as correntes de curto-circuito e dos fatores de sobretensao em fungao das impedancias de seqiiéncia nula e direta, definindo os sistemas aterrados eisolados. Finalizamos o capitulo estendendo as formulagdes dos estudos de curto-circuito para redes em malha, com a representacao matricial da rede para 0 calculo das impedancias equivalentes de Thévenin. No oitavo e tiltimo capitulo, tratamos do tema da qualidade do servigo, basicamente entendida como a continuidade do fornecimento de energia elétrica. Iniciamos com uma introduedo sobre a qualidade de energia elétrica, apresentando os conceitos bisicos de qualidade do servico e de qualidade do produto. Em seguida, apresentamos os principais indicadores utilizados para a avaliagdo da continuidade de fornecimento, como DEC, FEC, END, DIC, FIC. Na seqiiéncia, mostramos a metodologia utilizada pela ANEEL para o estabelecimento de metas de qualidade de servico a serem obtidas pelas empresas distribuidoras. Finalmente, apresentamos uma metodologia para avaliagao da continuidade de fornecimento a priori, ou seja, um método de simulacao para se obter estimativas dos indicadores. Os autores Siio Paulo, novembro de 2004 Introduc&o aos Sistemas de Distribuigéo de Energia Elétrica SA VR CONTEUDO ie ie 13 14 Fatores tipicos da carga. 2.1 2.2 Constituicado dos sistemas elétricos de potémetea..........0.c cece Introdugio..... Sistema de geragao. Sistema de transmissao.... Sistema de distribuigao 14.1 Sistema de subtransmissao 14.2 Subestagdes de distribuigao 14.3 Sistemas de distribuigao primaria 14.3.1 Consideragdes gerais. 14.3.2 Redes aéreas - Pri 14.3.3 Primério seletivo io radial... Primario operando em malha aberta Spot network 14.4 Bstagdes transformadoras 14.5 Redes de distribuig&o secundaria 14.5.1 Introdugao. 14.5.2 Redes secundarias aéreas 14.5.3 Rede reticulada Classificacao das cargas ... 2.1.1 Introducao. 2.12 Localizacdo geogrifica 2.1.3 Tipo de utilizagdo da energia ccc 2.14 Dependéncia da energia elétrica 2.1.5 feito da carga sobre o sistema de distribuicao ... 2.1.6 Tarifagao : 2.7 Tensao de fornecimento. Fatores tipicos utilizados em distribuigao 2.2.1 Demanda 2.2.2 Demanda maxima 2.2.3. Diversidade da carga.. 2.2.4 Fator de demanda. 2.2.5 Fator de utilizag’o 2.2.6 Fator de carga. 2.2.7 Fator de perdas. 2.2.8 Correlagdo entre fator de carga e fator de perdas 2.2.9 Curva de duragao de carga. Conceitos gerais de tarifagao Introducao aos Sistemas de Distribuicao de Energia Elétrica Corrente admissivel em linhas. .. 3.1 Introducao. 3.1 Consideragdes gerais 3.12 Segdes da série milimétrica 3.13 es definidas pela American Wire Gage 3.14 Cabos isolados 3.2 Corrente admissivel em cabos. 3.2.1 Introdugao: 3.22 Equacionamento térmico ~ Pequenas variagbes de corrente 3.2.3. Bquacionamento térmico ~ Grandes variagdes de corrente 3.24 Corrente de regime ~ Cabos nus 3.2.4.1 Consideraces gerais. 3.2.4.2 Dispersao do calor por convecgao. 53 3.2.4.3. Dispersdo de calor por irradiacao.. a coensenB 3.2.4.4 Calor absorvido por radiagao solar . ce oe 3.2.5 Corrente de regime - Cabos protegidos 63 3.2.51 Conceitos basicos de transferéneia de calor ~ Modelo andlogo 63 3.2.5.2. Céleulo de condutor protegido imerso ao ar... 66 3.2.6 Corrente de regime ~ Cabos isolados. mr) . 69 2.6.2 Perdas no condutor a a 3.2.6.3 Perdas na blindagem e na armagao...... : ee oT 3.2.64 Perdas dielétricas na isolagao ...... os 72 3.2.65 Procedimento geral de céleulo para redes com magttas térmicas.... 72 3.2.7 Corrente admissivel - Limite térmico 81 3.2.7.1 Cabos nus 81 .2.7.2 Cabos protegides . . ce el 3.2.7.3. Cabos isolados an — ee) Constantes quilométricas de linhas aéreas e subterraneas. 4.1 Introducao. 42. Constantes quilométricas de Tinhas aéreas 4.2.1 Consideragées gerais. : 4.2.2 Célculo da admitancia em derivagio — Capacitancia.. 4.2.3. Elementos série - Impedancia. 4.3 Constantes quilométricas de cabos isolaclos. 4.3.1 Introdugao. 4.3.2. Impedancias série. 4.3.3 Capacitancia em derivagao.... 96 99 Transformadores de poténcia 5. 52 53 54 Fluxo de poténcia 61 6.2 64 Introducao aos Sistemas de Distribuicdo de Energia Elétrica ; Introdugao. ‘Transformadores monofaisicos 5.2.1 Consideragdes gerais. 5.2.2. Principio de funcionamento 5.2.3 Corrente de magnetizacio. 5.24 Circuito equivalente ‘Transformadores trifésicos .. 5.3.1 Consideragdes gerai 5.3.2 Ligagao triangulo 5.33. Ligagao estrela. Carregamento admissivel de transformadores 1 5.4.1 Introducao... 1 54.2 Bquacionamento térmico. 1 5.4.2.1 Temperatura do dleo durante transitérios 1 5.4.2.2 Temperatura do dleo em regime permanente ee 1 5.4.2.3 Constante de tempo térmica do dleo..... : 1 1 1 1 1 1 1 5.4.2.4 Equagao térmica do ponto quente 5.4.2.5 Correcao do valor da resisténcia dhmica do enrolamento 5.4.2.6 Variagao da temperatura ambiente... 54.2.7 Perda de vida de transformadores 5.4.2.8 Valores caracteristicos para transformadores..... 5.4.3 Vida ttil de transformadores.... Introdugao. Modlelagem da rede e da carga 6.2.1 Consideragdes gerais. 6.22 Representacao de ligagoes de rede 6.2.2.1 Representagao de trechos de rede. 6.2.2.2 Representagao de transformadores 6.2.8 Representacao da carga em funcao da tensdo de fornecimento 6.2.3.1 Consideragdes gerais. 6.2.32 Carga de poténeia constante com a tensao 6.2.3.3 Carga de corrente constante com a tensao . 6.2.3.4 Carga de impedancia constante com a tensao 6.2.3.5 Composigao dos modelos anteriores A representagao da carga no sistema 6.3.1 Consideracdes gerais. 632 Carga concentrada e carga uniformemente distributda 6.3.3. Carga representada por sua demanda maxima. 6.3.4 Carga representada por curvas de carga tipicas. Céleulo da queda de tensao em trechos de rede... 6.4.1 Consideragies gerais. 642 Trecho de rede trifésica simétrica com carga equilibrada 64.3 Trecho de rede triffisica assimétrica com carga desequilibrada 66 7 72 73 74 16 7 Curto cireuito. Introducao aos Sistemas de Distribuicao de Energia Elétrica een Estudo de fluxo de poténcia em redes radiais 179 6.5.1 Consideracdes gerais. 179 6.5.2 Ordenagao da rede nese 480 . 5.3 Fluxo de poténcia em redes radiais trifasicas simétricas ¢ equilibradas.... 184 5.4 Galculo do fluxo de poténcia nos trechos e perdas na rede .. ae see 185, : 5.5 Caleulo do fluxo de poténcia com representagao complexa. ener 9B) 6.5.6 Calculo do fluxo de poténcia em redes assimétricas com carga desequilibrada....... 204 Estudo de fluxo de poténcia em redes em malha.. 207 6.6.1 Consideragdes gerais. 207 6.6.2 Métodos de Solugao. 209 6.6.2.1 Consideragées gerais.... . 209 6.6.2.2 Solugao do sistema de equacdes pelo método de Gauss : seesene 209 6.6.2.3 Solugao do sistema de equacées por triangularizagao da matriz serene 210, 6.6.2.4 Solugao do sistema de equagdes pelo método de Newton-RaphsOn ....seenn 216 Introdugao e natureza da corrente de curto-circuito Anélise das componentes transitérias e de regime permanente 721 Consideragdes gerais...... 7.2.2 Coriponente de regime permanente. 72.3 Componente unidirecional.. Estudo de curto circuito triffsico. 73.1 Célculo da corrente de curto circuito 73.2 Poténcia de curto circuito I 7.83 Barramento infinito e paralelo das poténcias de curto circuito Estudo do curto circuito fase terra... 74.1 Calculo de correntes e tens6es.... 74.2. Curto clrcuito fase & terra com impedancia... 74.3. Poténcia de curto circuito fase a terra... Estudo dos curtos circuitos dupla fase e dupla fase & terra 7.5.1 Curto circuito dupla fase 7.5.2. Curto circuito dupla fase a terra ‘ 75.3 Curto circuit dupla fase & terra com impedancia Andlise de sistemas aterrados e isolados 76.1 Consideragdes gerais 76.2. Andlise de defeito fase a terra 76.3. Andlise de defeito dupla fase a terra 7.6.4. Sistemas aterrados e isoladbs.... Estudo de curto circuito em redes em malha 7.71 Consideragdes gerais. 772. Representado matricial da rede .... 7.73 Calculo das correntes de curto circuito ribuigéo de Energia Elétrica Qualidade do servico. 8.1 Introdugdo - Uma visdo de qualidade de energia 82 Continuidade de fornecimento.... 8.2.1 Avaliagdo da continuidade de fornecimento a posteriori. 8.2.2 Avaliacdo da continuidade de fornecimento a priori Anexo I - Matrizes de rede. ALL Consideragdes gerais. AL2. Matriz de admitancias nodais .. AL.2.1 Definigao AI.2.2 Montagem da matriz de admitancias nodais. AL3_ Matriz de impedancias nodais..... ALB.1 Definigao AL3.2 Montagem da matriz de impedancias nodais Al4 Correlagio entre tensdes e correntes numa rede... AL5 Solugdo de sistemas de equacdes lineares AL5.1 Introdugao. AL5.2 Retro-substituigao. a 5.3 Triangularizagao da matriz 5.4 Corregao do termo conhecido apés a triangularizagao da matriz. Anexo II - Ordenacao da Rede no Método de Newton Raphson. AIL. Método de ordenagao do Jacobiano, ven CONSTITUICAO DOS SISTEMAS ELETRICOS DE POTENCIA 1.1 INTRODUCAO Os sistemas elétricos de poténcia tém a fungao precipua de fornecer energia elétrica aos usuarios, grandes ou pequenos, com a qualidade ade- quada, no instante em que for solicitada. Isto 6, 0 sistema tem as fungdes de produtor, transformando a energia de alguma natureza, por exemplo, hidrdulica, mecanica, térmica ou outra, em energia elétrica, e de distribuidor, fornecendo aos consumidores a quantidade de energia demandada, instante a instante. Em nao sendo possivel seu armazenamento, o sistema deve contar, como seré analisado a seguir, com capacidade de produgao e transporte que atenda ao suprimento, num dado intervalo de tempo, da energia consumida eA maxima solicitacdo instantanea de poténcia ativa. Deve-se, pois, dispor de sistemas de controle da produgdo de modo que a cada instante seja produ- zida a energia necesséria a atender A demanda e as perclas na produgao e no transporte. Identificar-se-4, em tudo quanto se segue, os blocos de produgéio de energia por sua designacao corrente de “blocos de geragdo”™; destaca- a impropriedade do termo, de vez que, nao hé geracao de energia, mas sim, transformacao entre fontes de energia diferentes. se Aqui, no Brasil, face ao grande potencial hidrico existente, predomina a produgao de energia elétrica pela transformacdo de energia hidraulica em elétrica, usinas hidroelétricas, e estando os centros de produgao, de modo geral, afastados dos centros de consumo, é imprescindivel a existéncia de um elemento de interligagao entre ambos que esteja apto a transportar a energia demandada, Sendo o montante das poténcias em jogo relevante e as distancias a serem percorridas de certa monta, torna-se inexeqiiivel o transporte dessa energia na tensao de geragao. Assim, no diagrama de blocos da fig. 1.1, sucede ao bloco de geracao o de elevacao da tens&o, no qual a tensdo é elevada do valor com o qual foi gerada para o de transporte, “tensdo de transmissdo”. O valor dessa tensio é estabelecico em fungao da distancia a ser percorrida e do montante de energia a ser transportado. Por outro lado, em se chegando aos centros de consumo, face a grande diversidade no montante de poténcia demandada pelos varios consumidores, varidvel desde a ordem de grandeza de centenas de MW até centenas cle W, 6 invidvel o suprimento de todos os usuarios na tensio de transmii 0. Diagrama de blocas do sistema, 1 — Constituicdo dos Sistemas Elétricos de Poténcia Exige-se, portanto, um primeiro abaixamento do nivel de tensdo para valor compativel com a demanda dos grandes usudtios, “tensiio de sub- transmissao”. O abaixamento de tensao € feito através das “subestacdes de subtransmissdo”, que so supridas através de linhas de transmissao, suprin- do, por sua vez, linhas que operam em nivel de tenstio mais baixo, “tensdo de subtransmissao” ou “alta tensdo”. Ulteriores abaixamentos no nivel de tensio, em fungao das caracteristicas dos consumidores, so exigidos. Assim, © sistema de subtransmissdo supre as “subestagdes de distribuigéio”, que so responsaveis por novo abaixamento no nivel de tensao para a “tensdo de distribuigdo primdria” ou “média tensdo”. A rede de distribuigao primaria, por sua vez, ird suprir os transformadores de distribuicao, dos quais se deriva arede de distribuicao secundaria ou rede de baixa tensao, cujo nivel de tensio € designado por “tensdo secundaria” ou “baiwa tensdo”. GERAGKO « Hidréulica Transforma energia * Térmica” em Elétrica + Outra ¥ SE Elevadora dle transmissao Eleva a tensao de geragao para a tenséo de transmissao a Sistema de transmisso 2 a Consumidores em tenséo ‘Transporta a eneigia dos cents de produgéo | it aos centras de consumo Sa ¥ SE Abaixadora de subtransmisso Reduz a fensdo de transmissao para a de subtransmissao ¥ Sistemas de subtransmiss@0 : Distrbui a energiaelétrica em Lp} Consumidores em tensdo tensdo de subtransmisséo ¥ SE de distribuicao Reduz a tensdo de subtransmissdo para a de distribuicdo priménia ba Sistema de distibuigdo primera aes Distribui a energia em tensdo de |» s em tei ‘istibuigao primera ‘e distribuigdo primaria - Transformadores de distribui Reduz a tensdo priméria para a de distrituigao secundéria eo Sistema de distibuiggo secundéria Distribui a energia em tensdo de |__-»| distribuigéo secundéria Consumidores em tenséo de distribuigdo secundaria Se 1.1 — Introducéo 3 Assim, conforme apresentado na fig. 1.1 os sistemas elétricos de poténcia podem ser subdivididos nos trés grandes blocos: + Geragao, que perfaza funcao de converter alguma forma de energia em. energia elétrica; + Transmissio, que ¢ responsavel pelo transporte da energia elétrica dos centros de produgao aos de consumo; * Distribuigdo, que distribui a energia elétrica recebida do sistema de transmissao aos grandes, médios e pequenos consumidores, Os valores eficazes das tensoes, com frequiéncia de 60 Hz, utilizados no Brasil, que estao fixados por decreto do Ministério de Minas e Energia, esto apresentados na Tab. 1.1, onde se apresentam as areas do sistema nas quais sio utilizadas, Apresenta-se também algumas tensdes nao padronizadas ainda em uso. No sistema de geragao a tensdo nominal usual ¢ 13,8 KV, encontrando-se, : no entanto, tensdes desde 2,2 kV até a ordem de grandeza de 22 KV. Desta- ca-se ainda a existéncia de pequenas unidades de geragao, que podem ser conectadas diretamente no sistema de distribuigao. Na fig. 1.2 apresenta-se um diagrama unifilar tipico de um sistema elétrico de poténcia, onde se destaca a existéncia de trés usinas, um conjunto de linhas de transmissio, uma rede de subtransmissio, uma de distribuigao primaria ¢ trés de distribuigéo secundaria. Observa-se que o sistema de transmissao opera, no caso geral, em malha, o de subtransmissao opera radialmente, po- dendo, desde que se tomem cuidados especiais, operar em malha, O sistema de distribuigao primédria opera, geralmente, radial e o de distribuigao secundaria pode operar quer em malha, quer radialmente, oe i “ansmissto | | Sibiransmisséo} een Fig. 1.2 H Diagrama unifilar de sistema elétrico ds poténcia, 4 1 — Constituicao dos Sistemas Elétricos de Poténcia 1.2 - SISTEMA DE GERACAO Obtém-se energia elétrica, a partir da conversao de alguma outra forma de energia, utilizando-se méquinas elétricas rotativas, geradores sincronos ou alternadores, nas quais 0 conjugaclo mecanico ¢ obtido através de um processo que, geralmente, utiliza turbinas hidrdulicas ow a vapor. No caso de aprovei- tamento hidréulico o potencial disponivel ¢ definido pela queda d’agua, altura de queda e vazio, podendo ter-se usinas desde algumas dezenas de MW até milhares de MW. Assim, a titulo de exemplo, a usina Henry Borden, na Serra do Mar, em Sao Paulo, conta com poténcia instalada de 864 MW, ao passo que a Usina de Itaipu conta com poténcia instalada de 12.600 MW, Por outro lado, dentre as usinas térmicas, que se baseiam na conversio de calor em energia elé- trica, hé aquelas em que o vapor produzido numa caldeira, pela queima do combustivel, aciona uma turbina a vapor que fornece o conjugado motor ao alternador. Como combustivel dispde-se, dentre outros, do dleo combustivel,, carvao, bagaco de cana, ou madeira. Nas centrais atémicas, como é 0 caso da Usina de Angra dos Reis, o calor para a producao do vapor ¢ obtido através da fissdo nuclear As usinas hidrdulicas apresentam um tempo de construgdo bastante longo, com custo de investimento elevado, porém, seu custo operacional 6 extremamente baixo. Para melhor visualizagao do vulto das obras necessarias, cita-se, a titulo de exemplo, a usina de Itaipu', que dispde de 18 unidades geradoras, 9 operando em 60 Hz e 9 em 50 Hz, com tensao nominal de 18 kV G- 5% ~ 10%), poténcia nominal 823,6 MVA, para as unidades em 50 Hz, e 737,0 MVA, para as em 60 Hz, tendo cada unidade peso total de 3.348 t (50 Hz) e 3.242 t (60Hz). Apresenta bacia hidrografica com area de drenagem de 820.000 km”, reservatorio com area de 1.350 km*, extensao de 170 km, cota maxima de 220 me volume de dgua de 29 10°m®. Suas barragens principais e laterais, que sao construidas em concreto, terra e enrocamento, apresentam Fonte: um comprimento total de 7.760 m, altura maxima de 196 m e exigiram, em sua site www.itaipu.gov-br construcao, volumes de 8.100 m? de concreto e 13,2 x 10° m* de terra e en- ‘Campo de aplicagao Area do sistema de poténcia 0,220/0,127. 0110 Distribuigéo 0,380/0,220) 0,230/0,115) secundéria (87) 13.8 119 Distribuiggo 345 22.5) primera (MT) Distribuigdo 34,5 i 03,0 880 Subtransmisséo (an) 138,0 138,0 230.0 40,0 : : 3450 7500 Transmisséo Transmissio = 500,0 1.2 — Sistema de Geracao rocamento, Seu vertedouro apresenta largura total de 390 m, comprimento total da calha mais a crista de 483 m, contando com 14 comportas de 20 X 21,34 m’ e com capacidade maxima de descarga de 62.200 m'/s. Seus condutos forgados tém comprimento de 142 me didmetro de 10,5 m que garantem descarga nominal de 690 m’/s. A entrada em operacao das prime ras duas unidades geradoras deu-se em 1984, e completou-se a entrada em operagao das dezoito unidades em 1991. Por sua vez as usinas térmicas apresentam tempo de construgdo e custo de investimento sensivelmente menores, apresentando, no entanto, custo operacional elevado, em virtude do custo do combustivel. primeiras situam-se, geograficamente, onde haja disponibilidade de gua com desnivel que permita a construgao, através de barragens, do reserva- t6rio, exigindlo, em geral, a construgio de sistema de transmissio. Destaca-se ainda como inconveniente o alagamento de areas férteis, perda de terrenos produtivos, ¢ possiveis modificagdes no clima da micro-regido. As térmicas, por sua vez, também necessitam de agua, para a concensagao do vapor, po- 6m, em ordem de grandeza menor que a consumida pelas hidréulicas, o que permite maior grau de liberdade em sua localizagao, podendo situar-se em maior proximidade dos centros de consumo. Tal fato se traduz pela redugéo de investimentos no sistema de transmissdo. Apresentam como inconveniente aemissao, na natureza, de poluentes, residuos da combustao, e, conforme seu tipo, a utilizagio de combustivel ndo renovavel. De modo geral, sempre que haja disponibilidade de energia hidréulica a opgao de maior economicidade éa das usinas hidrelétricas. ‘Atualmente vao ganhando espaco as turbinas a gas, que jé permitem a constru¢ao de unidades geradoras de até 500 MW. Outro aspecto assaz importante da geracao 6 representado pelo “uso muiltiplo”, isto 6, 0 vapor produzido na caldeira, usualmente supersaturado, 6 utilizado para 0 acio- namento da turbina a vapor que produz eletricidade, e sua descarga libera vapor, temperatura mais baixa, para aplicacdes industriais e para, através de maquina térmica, producao de frio. Este tipo de aplicagao aumenta muito 0 rendimento de todo o proceso, chegando a viabilizar sua utilizacao em grandes indtistrias ou grandes centros dle consumo. Salienta-se, ainda, a “cogeragao”, em que indlistrias de grande porte geram a energia elétrica que necessitam e injetam o excedente na rede de distribuigd Brasil, que dispde de um dos maiores potenciais hidréulicos do mundo, conta, basicamente, com quatro grandes bacias: © Bacia Amazénica; © Bacia do Sao Francisco; © Bacia do Tocantins; + Bacia do Parana; das quais a tiltima, por sua maior proximidade com os grandes centros de consumo, é a mais explorada, A bacia Amaz6nica est praticamente inexplo- rada, o que é justificado por seu afastamento dos centros de consumo, que exigiria a construcao ce sistema de transmissao sobremodo caro. Além disso, em se tratando de regitio de relevo sensivelmente plano, seria necessério 0 alagamento cle enormes areas. Sem mee EN 1 — Constituicao dos Sistemas Elétricos de Poténcia 1.3 SISTEMA DE TRANSMISSAO Osistema de transmissdo, que tem por funcao precfpua o transporte da energia elétrica dos centros de produgdo aos de consumo, deve operar interligado. Tal interligacdo é exigida por varias razdes, dentre elas destacando-se a con- fiabilidade e a possibilidade de intercambio entre dreas. A titulo de exemplo, destaca-se a existéncia de ciclos hidrolégicos diferentes entre as regides de Sao Paulo, onde 0 perfodo das chuvas corresponde ao verao, e do Parana, onde tal perfodo concentra-se no inverno. Deste modo a operacao interligada do sistema permite que, nos meses de verao Sao Paulo exporte energia para © Parand, e que no inverno importe energia co Parané. O esgotamento das reservas hidricas, préximas aos centros de consumo, impés que fosse iniciada a exploracdo de fontes mais afastadas, exigindo 0 desenvolvimento de sistemas de transmissao de grande porte, envolvendo 0 transporte de grandes montantes de energia a grandes distancias. Este fato exigiu que as tensées de transmissao fossem aumentadas, com grande esforco de desenvolvimento tecnolégico. Atualmente, no mundo, hé linhas operando em tens6es proximas a 1.000 kV. Outra area que ganhou grande impulso 6 a transmisséo através de elos em corrente continua, atendidos por estacao retificadora, do lado da usina, e inversora, do lado do centro de consumo. O Brasil apresenta-se dentre os pioneiros nessa tecnologia, tendo em operagao no sistema o elo em corrente contfnua de Itaipu, que é um dos maiores do mundo pela poténcia transportada e pela distancia percorrida. Opera com dois bipolos nas tensdes de + 600 kV e ~ 600 kV em relagao & terra, que cor- responde a tensio entre linhas de 1.200 kV. Desenvolve-se desde Itaipu até Ibitina, SP, cobrindo uma distancia de 810 km e transportando uma poténcia de 6.000 MW. Para distancias relativamente pequenas, que representam a maioria do sistema de transmissao, as linhas sao trifasicas e operam em tensio na faixa de 230 a 500 kV, percorrendo centenas de quilémetros. Subestagdes, SEs, de transmissdo ocupam-se em realizar as interligagdes e compatibilizar os varios niveis de tensao, Exige-se elevada confiabilidade dos sistemas de transmissio, de vez que sao os responsdveis pelo atendimento dos grandes centros de consumo, Esse objetivo ¢ atendido através de rigorosos critérios de projeto e de operagio e da existéncia, obrigatoria, de capacidade de transmissao ociosa e de interli- gagoes. Na fig. 1.3 apresentam-se as principais linhas de transmissao e bacias hidrograficas brasileiras. 1.4 SISTEMA DE DISTRIBUICAO 1.4.1 SISTEMA DE SUBTRANSMISSAO. Este elo tem a fungio de captar a energia em grosso das subestagdes de subtransmissfo e transferi-la as SEs de distribuicdo e aos consumidores, em tensao de subtransmissao, através de linhas trifésicas operando em tensdes, usualmente, de 138 kV ou 69 kV ou, mais raramente, em 34,5 kV, com capaci- dade de transporte de algumas dezenas de MW por cireuito, usualmente de 20 ee 1.4 — Sistema de Distribuicao 150 MW. Os consumidores em tensio de subtransmissao sao representados, usualmente, por grandes instalagdes industriais, estagdes de tratamento bombeamento de Agua. O sistema de subtransmissio pode operar em configuragao radial, com possibilidade de transferéncia de blocos de carga quando de contingéncias. Com cuidados especiais, no que se refere 4 protegado, pode também operar em malha. Para elucidar este conceito, na fig.1.4 apresentam-se trechos da rede de transmissao, em 345 kV, e 0 fechamento de malha através da rede de subtransmissio, 138 kV, Na condicao normal, fg.1.4a, observa-se, inicialmente, Fig. 1.3, a impossibilidade de controle da distribuigao do fluxo de poténcia na rede Bacias hidrogréficas brasileiras (Fonte de subtransmissao, isto 6, ter-se-d sua distribuigdo em obediéncia as leis de www.ons.org.br), INTEGRAGAO ELETROENERGETICA oh eos A Qe ae Cuiada @.,, LEGENDA ay Brasilia Goidnia” ‘Paranaiba > 230 KY « \ 5) — i 500 ky —$—$—> cam en 750 KV | Patan @ Principais vacies © Principais centros de carga 1. — Constituicao dos Sistemas Elétricos de Poténcia {@ Condigéo normal (b) Condigéo contingéncia : ae os pe fedode rensmissiof— 4 1 D 1 Db D 345 KV 345 KV: 138 ky Rede de subtransmissa0 te ee g.1.4 eragdo da subtransmisséo em malha, Ohm e Kirchhoff. J4 na condicdo de contingéncia, fig.1.4b, quando, devido a existéncia de defeito, ocorrerd a isolagdo do trecho de transmissao, pela abertura dos dois dlisjuntores extremos, passando a carga a jusante do sistema de transmissdo a ser suprida pela rede de subtransmissio, com inversio no sentido do fluxo pelo transformador. Evidentemente, esta situagao ¢ inviavel, exigindo-se que o sistema de subtransmissio conte com dispositivos de prote- Ao que bloqueiem o fluxo de poténcia em sentido inverso nos transformadores das SEs de subtransmissao. Observa-se que o fechamento cle malha entre as redes de transmissdo e de subtransmissao exige cuidados especiais no que tange & filosofia de protecao a ser adotada. Na fig. 1.5 apresentam-se esquemas tipicos utilizaclos em redes de sub- transmissao, onde se clestacam arranjos com suprimento tinico, configuragio radial, fig.1.5.a, e arranjos com duas fontes ce suprimento, Dentre estes, oda fig 1.5.b apresenta maior continuidade de servico e flexibilidade de operagao. Em todos os arranjos 0 bloco situado imediatamente a montante do transformador, “chave de entrada”, representa um disjuntor, uma chave fusivel ou uma chave seccionadora. A seguir analisar-se-4, sucintamente, cada um dos atranjos. © Rede 1:este arranjo, fig. 1.5.a, que apresenta, dentre todos, 0 menor custo de instalacao, ¢ utiliz4vel quando o transformador da SE de distribuigdo nao excede a faixa ce 10 a 15 MVA, como ordem de grandeza. Sua con- fiabilidade esta intimamente ligada ao trecho de rede de subtransmissio, pois, como é evidente, qualquer defeito na rede ocasiona a interrupgao de fornecimento a SE. A chave de entrada, que visa unicamente a protecao do transformador, é usualmente uma chave fusivel, podendo, no entanto, ser utilizada uma chave seccionadora, desde que 0 transformador fique protegido pelo sistema de protecio da rede de subtransmissio; * Rede 2: neste arranjo, fig. 1.5.b, observa-se que, para defeitos a montan- te de uma das barras extremas da rede de subtransmissio ou num dos trechos da subtransmissio, 0 suprimento da carga nao é interrompido permanentemente. As chaves de entrada sao usualmente disjuntores ou chaves fusiveis, dependendo da poténcia nominal do transformador. Estas chaves tém a funcdo adicional de evitar que defeitos na SE ocasionem desligamento na rede de subtransmissdo; 1.4 — Sistema de Distribuico (a) Rede 1 (b) Rede 2 Subtransmisséo (c) Rede 3 Subtransmisso * Rede 3: neste arranjo, fig. 1.5.c, 0 barramento de alta da SE passa a fazer parte da rede de subtransmissao e a interrup¢ao do suprimento é com- pardvel com a do arranjo anterior, exceto pelo fato que um defeito no barramento de alta da SE impde 0 seccionamento da rede, pela abertura das duas chaves de entrada. Elimina-se este inconveniente instalando-se ‘a montante das duas chaves de entrada uma chave de seccionamento, que opera normalmente aberta. As chaves de entrada sao usualmente disjuntores; * Rede 4: este arranjo, fig. 1.5.4, que é conhecido como “sangria” da linha, € de confiabilidade e custo inferiores aos das redes 2 ¢ 3. E utilizdvel em regides onde ha varios centros de carga, com baixa densidade de carga. ‘As chaves de entrada devem ser fusiveis ou disjuntores, tendo em vista a protegao da linha. 1.4.2. SUBESTACOES DE DISTRIBUICAO As subestacoes, SEs, de distribuigao, que sao supridas pela rede de subtrans- missao, sao responsaveis pela transformacao da tensao de subtransmissao para a de distribuicao priméria. H4 intimeros arranjos dle SEs possiveis, varianco com a poténcia instalada na SE. Assim, em SEs que supr formador da SE com poténcia nominal na ordem de 10 MVA, é bas m regides dle baixa densidade de carga, trans. stante fre- Fig. 1.5 Arranjos tipicos de redes de subtrans: mmissdo, Fig.1.6 ‘SE com barra simples. 1 — Constituicdo dos Sistemas Elétricos de Poténcia fee te NF NA D D na fe i eae t (2) Barra simples (b) Barra simples (©) Saida dos | Un cicuito de Doi circitos de alimentadores | suprimento suprimento orimaros qiente a utilizagao do arranjo designado por “barra simples”, fig. 1.6, que apresenta custo bastante baixo. Este tipo de SE pode contar com uma tinica linha de suprimento, fig. 1.6a, ou, visando aumentar-se a confiabilidade, com duas linhas, fig. 1.6b. Quando suprida por um tinico alimentador, dispord, na alta tensio, de apenas um dispositivo para a protecao do transformador. Sua confiabilidade é muito baixa, ocorrendo, para qualquer defeito na subtransmissio, a perda do suprimento da SB. Aumenta-se a confiabilidacle dotando-se a SE de dupla alimentagao radial, isto é, 0 alimentador de subtransmissio 6 construido em circuito duplo operando-se a SE com uma das duas chaves ce entrada aberta, Havendo a interrupgao do alimentador em servico abre-se sua chave de en- trada, NF, e fecha-se a chave NA do circuito de reserva. Para a manutencao do transformador ou do barramento é necessario o desligamento da SE. Nor- malmente, instalam-se chaves de interconexao, na saida dos alimentadores primérios, fig. 1.6.c, que operam na condicao NA, e quando se deseja proceder a manutencao dos disjuntores de saida transfere-se, em hora de carga leve, por exemplo, de madrugada, toda a carga de um alimentador para o outro € isola-se o disjuntor. Em regides cle densidade de carga maior aumenta-se o niimero de trans- formadores utilizando-se arranjo da SE com maior confiabilidade e maior flexibilidade operacional. Na fig. 1.7, apresenta-se o diagrama unifilar de SE com dupla alimentagao, dois transformadores, barramentos de alta tensio independentes ¢ barramento de média tensao seccionado. Neste arranjo, ocorrendo defeito, ou manutengao, num dos transformadores, abrem-se as chaves a montante e a jusante do transformador, isolando-o. A seguir, fecha- se a chave NA de seccionamento do barramento e opera-se com todos os circuitos supridos a partir do outro transformador. Evidentemente cada um dos transformadores deve ter capacidade, na condicao de contingéncia, para suprir toda a demanda da SE. £ usual defi- nir-se, para SEs com mais de um transformador a poténcia instalada, Sing, como sendo a soma das poténcias nominais de todos os transformadores, 1.4 — Sistema de Distribuicgo Q@ 98 ag IITTTTI) 6 L | (@) Barra dupla {) Saida dos os circutos de suprimento alimentadores primarios e “poténcia firme”, Sire, aguela que a SE pode suprir quando da safda de servico do maior transformador existente na SE. No caso de uma SE com “n” transformadores, de poténcias nominais Spoqs( i), comi= 1, ...,1, admitindo- se que o transformador “k” é 0 de maior poténcia nominal e que, em condigo de contingéncia, os transformadores podem operar com sobrecarga, em pu, de f,op, valor classico 1,40, isto é, 40 % de sobrecarga, que seja possivel a transferéncia de poténcia, Srrars, Para outras SEs, pela rede priméria, através de manobras rapidas de chaves, ter-se-4 para a poténcia firme o valor: Sa = D Sma Stone = feo 3 Sum (+Syace a A titulo de exemplo, seja uma SE com dois transformadores de 60 MVA, com fator de sobrecarga em contingéncia de 1,20. Nestas condigées, sem transferéncia de carga para outras SEs, resulta para a poténcia firme 60 x 1,2 = 72 MVA. Ou seja, em condigao normal de operagio cada transformador operaré com somente 36 MVA, que representa 60% da poténcia nominal, Destaca-se que, quando a poténeia firme é maior que a instalada, fixa-se a firme igual a instalada. Exemplificando, no caso de uma SE que dispée de 4 transformadores de 25 MVA, que o fator de sobrecarga em contingéncia é 1,40 e que seja possivel a transferéncia, pela rede primaria, quando de con- tingéncia de até 5 MVA, resulta: Sip =4- 25 = 100MVA Spaye 4. 8. 25+5=110MVA vm Para este caso, a poténcia firme é fixada em 100 MVA. Para a manutengao dos disjuntores dos circuitos primérios, 0 procedi- mento utilizado é 0 mesmo do arranjo precedente, Fig.1.7 SE com dois transformadores. 12 ig. 1.8 E com barramentos duplicados. 19 com barra principal e de transferéncia, Constituicéo dos Sistemas Elétricos de Poténcia ae i Uma evolugio desse arranjo est apresentada na fig. 1.8 em que se distribuiu os circuitos de saida em varios barramentos, permitindo-se maior flexibilidade na transferéncia de blocos de carga entre os transformadores. Uma possibilidade de aumentar a flexibilidade para atividades de manu- tengao dos disjuntores da SE, é a utilizagdo do arranjo de barra principal ¢ transferéncia. Na fig. 1.9 apresenta-se o diagrama unifilar deste arranjo, des- tacando-se que: todos os disjuntores sao do tipo extraivel, ou contam com chaves seccionadoras em ambas as extremidades; o disjuntor que perfaz a interligagao entre os dois barramentos ¢ designado por disjuntor de transfe- réncia. Em operagao normal o barramento principal é mantido energizado e [D] Disjuntor L F] Chave de faca ne [> FINA Barramento de transferéncia, Barramento principal ne[D FINA neo] [F]na 1.4 — Sistema de Distribuigao o de transferéncia desenergizado, isto é, 0 disjuntor de transferéncia é man- tido aberto. Desejando-se realizar manutenco, corretiva ou preventiva, num qualquer dos disjuntores 0 procedimento resume-se nos passos a seguir: « Fecha-se o disjuntor de transferéncia, energizando-se 0 barramento de transferéncia; « Fecha-se a chave seccionadora do disjuntor que vai ser desligado, pas- sando a sada do circuito a ser suprida pelos dois barramentos; + Abre-se o disjuntor e procede-se & sua extragio do cubfculo, ou, caso néo seja extraivel, abre-se suas chaves seccionadoras, isolando-o; © Transfere-se a protecao do disjuntor que foi desenergizado para o de transferéncia. Ao término da manutengao 0 procedimento € 0 inverso, isto é: © Insere-se o disjuntor no cubfculo, ou fecham-se suas chaves; * Abre-se a chave seccionacora de transferéncia; © Abre-se o disjuntor de transferéncia e retorna-se a protecao ao disjuntor principal | Neste arranjo de SE, para a manutencao do barramento principal, € ne- cesgéria sua desenergizacdo, impossibilitando o suprimento aos alimentadores. Este inconveniente pode ser sanado utilizando-se um barramento adicional, “barramento de reserva” 1.4.3. SISTEMAS DE DISTRIBUICAO PRIMARIA 1.4.3.1 Consideragées gerais s redes de distribuigdo priméria, ou de média tenséo, escopo primordial deste livro, emergem das SEs de distribuigéio e operam, no caso da rede aé- rea, radialmente, com possibilidade de transferéncia de blocos de carga entre circuitos para o atendimento da operacao em condigoes de contingéncia, deviclo A manutengio corretiva ou preventiva. Os troncos dos alimentadores empregam, ustialmente, condutores de seco 36,4 MCM permitindo, na ten- sio de 13,8 kV, o transporte de poténcia maxima de cerca de 12 MVA, que, face a necessidade de transferéncia de blocos de carga entre alimentadores, fica limitada a cerca de 8 MVA. Estas redes atendem aos consumidores primé- rios e aos transformadores de distribuigao, estagdes transformadoras, ETS, que suprem a rede secundaria, ou de baixa tensdo. Dentre os consumidores primdrios destacam-se indtistrias de porte médio, conjuntos comerciais (“sho- pping centers"), instalagoes de iluminagao puiblica, etc. Pociem ser aéreas ou subterraineas, as primeiras de uso mais difundido, pelo seu menor custo, , as segundas, encontrando grande aplicacao em areas de maior densidade dle carga, por exemplo zona central de uma metrépole, ou onde ha restrigoes paisagisticas. As redes primérias aéreas apresentam as configuragdes: ‘* Primério radial com socorro; * Primario seletivo: eas redes subterrneas podem ser dos tipos: + Primario seletivo; * Primério operando em malha aberta; © Spot network.

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