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Sa 7 i l LP BONNET ee Lb bal oll Loon He f | Benevolom= | i! Gl DAD E if ' OVA EDICAO, REVISTA A } SSD (| N * a > SUMARIO INTRODUGAO u 0 AMBIENTE PRE-HISTORICO E A ORIGEM DA CIDADE 15 ‘A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO 27 A CIDADE NO EXTREMO ORIENTE 63 A CIDADE LIVRE NA GRECIA or ROMA: A CIDADE E 0 IMPERIO MUNDIAL 153 208 As Estradas eas Pontes 210 Os Aquedutos 215 As Linhas Fortificadas 218 A Colonizacao dos Territorios Agricolas 222 As Novas Cidades AS CIDADES MUGULMANAS 255 INTRODUCAO ste livro é um relato elementar da historia do ambiente construido por meio de um texto breve e uma farta coletinea de ilustracoes. Grande parte do material aqui reunido deriva do curso de desenho ministrado no Ensino Médio ~ publicado recentemente pela mesma editora -, uma tentativa de formular uma educacao de base sobre o ambiente fisico, dirigido a estudantes que ainda nao escolheram sua profissao futura. Os programas vigentes nas escolas italianas 86 permitem essa tentativa no Ensino Médio, utilizando-se de uma matéria tradicional (o desenho) equidistante dos diversos interesses especializados (0 artistico ¢ 0 técnico) que, ao contrario, sao exclusivos nas escolas com outro tipo de orientagao. Contudo, a exigencia dessa educacao de base vale para todos os cidadaos, que deveriam aprender a compreender — sistemitica e historicamente — 0 ambiente fisico em que vivem: a ler e escrever o mundo dos objetos materiais, além do mundo dos discursos, de modo a poder discuti-lo, modificé-lo e nfo apenas suporté-lo passivamente. Pensamos, portanto, em reunir os volumes hist6ricos do curso de desenho ~ dedicados a Antiguidade cléssica, 4 Idade Média, a Fra Moderna e a Contemporanea ~ num tinico yolume destinado a um publico mais amplo de leitores nao profissionais. As limitagdes proprias de um curso escolar nao subsistem aqui, ja que foi possivel enriquecer 0 material original com uma série de documentos sobre outras cidades mais longinquas no tempo ¢ no espaco, de modo a oferecer um quadro mais completo e sistematico do desenvolvimento urbano nos varios paises. Mesmo com essa complementagao, esse livro mantém um fio condutor tinico, isto é, 0 nascimento e as transformagdes do ambiente urbano na Europa eno Oriente, e leva em conta os acontecimentos nas outras reas ~ no Extremo Oriente, na Africa e nas Américas ~ somente com rela¢ao ao acontecimento europeu: descreve as cidades das populacdes autéctones encontradas pelos europeus e as construidas em consequéncia da colonizagao ¢ da hegemonia mundial europeia. 12 Com relagio 4 area euro: ca, justifica-se a escolha da cidade como paradi forma dominante do ambiente construido. Foi precisamente af que nasceu aide siandlade como estabelecimento mais completo e integrado, que contém ejusines todos os estabelecimentos menores ~ bairros, edificios etc. - como partesou cabogos parciais, Todavia, cidade permanece como criago histérica particular, ela nao existiu desde sempre, mas teve inicio num dado momento da evolucig social e pode acabar, ou ser radicalmente transformada, num outro momento, Nag existe por uma necessidade natural, mas uma neces idade histérica, que tem um inicio e pode ter um fim. importante, portanto, explicar a origem da cidade no mundo antigo ¢ também, na medida do possivel, o seu destino no momento atual. Para fazé-lo, devemos lembrar em poucas palavras as grandes mudangas da organizagao produtiva, que transformaram a vida cotidiana dos homens e provocaram, a cada vez, um salto no desenvolvimento demogrifico. 1, O homem apareceu na face da terra ha, talvez, 500.000 anos e, durante um tempo muito longo (que, em geologia, corresponde 2o periodo Pleistocénico), viveu coletando seu alimento e procurando abrigo no ambiente natural, sem modificé-lo de forma profunda e permanente. A essa época, osarquedlogos dao o nome de Paleolitico (pedra antiga), que compreende mais de 95% da aventura total do homem; ainda hoje, algumas sociedades isoladas, nas selvas ¢ nos desertos, vivem na Idade da Pedra. 2, HA cerca de 10.000 anos ~ apés 0 degelo glacial, a tiltima transformagao profunda do ambiente natural, que assinala a passagem do Pleistoceno para © Holoceno - os habitantes da faixa temperada aprenderam a produzir seu alimento, cultivando plantas e criando animais, e organizaram estabelecimentos estveis — as primeiras aldeias ~ nas proximidades dos locais de trabalho. Ba época Neolitica (pedra nova) que, para muitos povos, se prolonga até o encontro: com a colonizagao europeia (para os maoris da Nova Zelandia, até 0 inicio do século passado). 3, Ha cerca de 5.000 anos, nas planicies de aluviao do Oriente Proximo, algumas aldeias se transformaram em cidades; os produtores de alimento sao persuadidos ou obrigados a produzir um excedente a fim de manter uma populagao de especialistas: artesios, mercadores, guerreiros e sacerdotes, que residem num assentamento mais complexo, a cidade, e dali controlam 0 campo. Essa organizacao social requer a invengao da escrita; dai comeca, de fato, a civilizagao ea histéria escrita, em contraposicao a Pré-Hist6ria, De agora em diante, todos os acontecimentos historicos sucessivos dependem da quantidade e da distribuigao desse excedente, Os estudiosos distinguem a Idade do Bronze, na qual os metais usados para os instrumentos e as armas sao raros e dispendiosos, sendo reservados, portanto, a uma classe dirigente restrita que absorve todo o excedente dispontvel, mas que pelo seu consumo limitado, também limita o crescimento dos habitantes ¢ da produgao; ea Idade do Ferro, que se inicia por volta de 1200 a.C. com a difusao de um instrumental metdlico mais econdmico, da escrita alfabética e da moeda INTRODUGAO. a cunhada, ampliando assim a classe dirigente e permitindo um novo aumento da populacao. As civilizagoes greco-romana e chinesa desenvolvem essa organizagéo em duas grandes areas unitarias ~ a Bacia Mediterra da Asia Oriental -, mas passam por uma série de cri séculos V exy. nica e a zona temperada es € retrocessos entre os 4, Outras transformagoes histéricas ~ a civilizagao feudal ea civilizacao burguesa - preparam o proximo salto histérico: o desenvolvimento da produgao com os métodos cientificos, que caracteriza nossa civilizagao industrial, em todos os continentes. O excedente assim produzido, crescente e ilimitado, nao é reservado necessariamente a uma minoria dirigente, mas pode ser distribuido para a maioria e, teoricamente, para toda a populagao, que pode crescer sem obstculos econdmicos, até atingir ou ultrapassar os limites de equilibrio do ambiente natural. Nessa nova situacdo, como iremos ver, a cidade (sede das classes dominantes) ainda se contrapde ao campo (sede das classes subalternas), mas esse dualismo nao é mais inevitavel e pode ser superado. Dessa possibilidade nasce a ideia de um novo organismo, completo em si mesmo, como a cidade antiga (chamado, portanto, com 0 mesmo nome), mas estendido a todo o territorio habitado: a cidade moderna. Nessearco histérico completo, examinaremos as transformagGes do ambiente: fisico, que é influenciado por todos 0s outros fatos da vida civil e, por sua vez, os influencia de varias maneiras. Bl O crinio de um antepassado do homem (0 Australopithecus)_ ‘que viveu ha cerca de trés milhies de anos na Africa Meridional Atris dos 08308 da parte anteriof: 0 molde do eérebro. O AMBIENTE PRE-HISTORICO E A ORIGEM DA CIDADE al podemos imaginar; de maneira aproximada, o mundo em que viveram, por dezenas de milhares de geracdes, os homens paleoliticos. O ambiente construido nao passava de uma modificacao superficial do ambiente natural, imenso e hostil, no qual o homem comegou a se mover: o abrigo era uma cavidade natural ou um reftigio de peles sobre uma estrutura simples de madeira; nesse interim, as ultimas grandes transformacées geolégicas estavam ainda formando o ambiente natural que hoje, na breve perspectiva de nossa histéria, nos parece estabilizado eimével. Os antigos ilustradores procuraram inventar, sem documentos, acena da vida dos homens primitivos (Fig. x) Os arquedlogos modems, escavando e estudando os vestigios materiais dos primeiros homens, nos oferecem uma imagem mais realista, embora mais confusa, Os artefatos descobertos nas escayacdes € que documentam os assentamentos mais antigos sao, sobretuda, residuos da atividade humana: sobras de alimentos, fragmentos provenientes do trabalho das pedras ¢ da madeira e, entre eles, produtos acabados, usados e depois abandonades ou enterrados. A disiribuigao desses objetos no entorno do miicleo da fogueira — sinal especifica da presenga do homem, que aprendera a usar o fogo ~ indica um conjunto unitario, que podemos chamar de habitagao primitiva (Figs. 4,5: 8 & 9). % * hh GR eo. ae : EB 0s lugares onde foram encontrados os restos do homem primitivo © 6 provavel caminho de sua propagagao, reconstruido por Leakey e Lewin, ARNG 8 ‘ Sys Vila lie VETS . mi : 3 ‘ 2 ale 4 ile le E A 0 AMBIENTE PRE-HISTORICO E A ORIGEM DA CIDADE Uma habitacdo paleolitica descobera no sitio argu deTerta Amaia, nos arredores de Nice, Ee ums peda arquedioges fs primelra obra de edificacio até agora conhecida, que reronia ha cerca de trezentos mil anos. 18 BD Quatro wtensilios de 0550 do perfodo paleolitico encontrados hha Europa Setentrional campamenios do periodo paleoltien em 1 na Ale O AMBIENTE PRE-HISTORICO E A ORIGEM DA CIDADE TD comspanuaninascis ef owsocmmssrniosoervtos BBzoNs5 ves css 1D © mundo na época glacial, com as 7ronas octipads pelas geleiras e seus dette. HIB Morelo em termeota de uma abana neol'tica em Popiicin na Llerania; percel d foro, os rec pit ig lum esitado em forma de cruz ea md (cerca de 2000 2.C), 20 Oambiente das sociedades neoliticas penas um abrigo na Ratureza, mas up fragmento de natureza transformado segundo um projeto humano; compreende os terrenos cultivados para Produzir, ¢ nao apenas para apropriar-se do alimento, os abrigos dos homens e dos animais domésticos; o¢ depésitos do alimento Produzido para uma estagao inteira ou para um period mais longo; para o cultivo, a criagao, a d esse ambiente com certa pre ma 08 utensiliog Si @ ornamentasio eo culto. Podemos reconsteuip 0 porque os arquedlogos escavaram niicleos ssrumerosos, maiores jd organizados de forma regular: podemos completar as partes faltantes e reconstruir o Projeto segundo o qual foram construfdos (Figs. 12-20). Os etndlogos estudam, entao, as sociedades que ainda hoje vivem com unia economia e ui instrumental neolitico nas zonag marginais do mundo contemporaneo, Podemos confrontar suas aldeias com as do passado: pertencem uma historia diferente que Prossegue paralelamente a dos poyos civilizados e se encontra com essa, necessariamente, no mundo unificado atual (Figs, 21-22), eo Mrosdscstics & foguciras traced do recints fortiieade <== limitecdas eseavacses = alleerces des mutes Planta da aldeia neoin Hallstat, na Alemania, ade 0 AMBIENTE PRE-HISTORICO E A ORIGEM DA CIDADE 22 O AMBIENTE PRE-HISTORICO E A ORIGEM DA CIDADE Ge ei Uma aldeia contemporinea en) Camaroes (Africa, O AMBIENTE PRE-HISTORICO E j ORIGEM DA CIDADE i A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO cidade - local de um niicleo equipado, diferenciado e, 20 mesmo tempo privilegiado, sede da autoridade — nasce da aldeia, mas nao apenas uma aldeia que cresceu. Como vimos, ela se forma quando as indistrias € 08 servicos ja nao sio executados pelas pessoas que cultivam @ terra, mas por outras que nao tém essa obrigagao e que sao mantidas pelas primeiras com o excedente do produto total Nasce, assim, 0 contraste entre dois grupos sociais: dominantes e subalternos; mas, nesse meio tempo, as indiistrias e os servicos ja podem se desenvolver através da especializagao, e a producto agricola pode crescer utilizando esses servicos e esses instrumentos. A sociedade torna-se capaz de evoluir e projetar a sua evolugao. BHED Casas na aldeia neolitica de Flnellar, na Turquia (cerca de 5000 a.C.). Toda casa ‘comreende urn amplo vio, sustentad per colunas de madeira e dividido por tabiques leves. A escacla A direta leva a um andar superior destinado talvez a servir de dgua-furtada ou terrago, 3000-2500 a.C. A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO. 23 © desenvolvimento da civilizagao turbana de 3500. 1500 aC. 30 tural do Oriente Centers dara glacial RM riorsmsmins cla. Os oasis 10 dos rns Nilo, Tigre tomar as primeiras aco urbana, no IV (Ed serpreverde bosses Seman eepes Serna HB osscen0s S Uma tabuinha de argila sume encontrada em Nipur, com a plat de um territorio agricola A cidade, centro motor dessa evolugao, nae sg € maior do que a aldeia, mas se transforma toy velocidade muito superior. Ela as sinala 0 temp, da nova hist6ria civil: as lentas transformacos, do campo (onde 0 excedente é produridoy documenta as mudangas mais raras de estrutye econdmica; as répidas transformacées da cidad, (onde é distribuido 0 excedente) mostram, a» conirdirio, as mudangas muito mais profundas aa composicio e das atividades da classe dominan. que influenciam toda a sociedade. Tem inicio « aventura da “civilizagao” que, continuamente corrige as suas formas. Esse salto decisivo (a “revolugao urbanz’ come foi chamado) comeca - segundo a documentacss atual — no vasto territério quase plano, em forms de meia lua, entre os desertos da Africa ¢ da Arabia e os montes que os encerram 20 norte. de Mediterraneo ao Golfo Pérsico ‘Apés a mudanga de clima no fim da era glacial essa zona se cobre de uma vegetac3o desigual, mais rala do que as florestas setentrionais, mas contrastante com 0 deserto meridional (Fig A planicie ¢ cultivavel somente por onde passe ou pode ser conduzida a Agua de um rio ov de uma nascente; nela crescem, em estado selvasem diversas plantas frutiferas (oliveira, videirs, tamareira, figueira); os rios, os mares € 0 terren® aberto as comunicacies favorecem as trocas de mercadorias e de noticias; 4 noite, os céus, gas sempre serenos, permitem ver os moyimentes regulares dos astros e facilitam a medicao do tempo. Aqui, algumas sociedades neoliticas - que i conhecem os cereais cultivaveis, o manuseio €8 metais, a roda, 0 carro de bois, 0 burro deces as embarecagdes a remo ou a vela - encontram 4 ambiente mais dificil de explorar, mas capaz produzir recursos muito mais abundantes, trabalho em comum organizado. a O cultivo dos cereais ¢ das drvores frutifer=s nos ricos e umidos terrenos, proporcions colheitas excepcionais e ainda pode ser amples A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO 31 melhorando ¢ irrigando terrenos ¢ Parte dos viveres pode ser eure ta comerciais e grandes trab, : assim, a espiral da nova economiase wes producio agricola, a concentracto down nas cidades e ainda o aumento de produtos, garantido pelo dominio da cidade sobre o campo, la vez maiores, lida para troca alhos coletivas, omega, nto da excedente Populagio ede Wécnico e militar Na Mesopotémia ~ a planicie aluvial banhada pelo Tigre e pelo Eufrates ~ 0 excedente se concentra nas mos dos governantes das cidades, representantes do deus local; nessa qualidade, recebem os rendimentos de parte das terras comuns, a maior parte dos despojos de guerra ¢ administram essas riquezas, acumulando provisoes alimentares para toda a populacio, fabricando ou importando os utensilios de pedra e de metal para o trabalho e para a guerra, registrando as informages e os nimeros que dirigem a vida da comunidade. Essa organizacao deixa seus sinais no terreno: os canais que distribuem gua nas terras recuperadas e permitem transportar para toda parte, mesmo de longe, os produtos eas matérias-primas; as muralhas do entorno, que individualizam a area da cidade e a defendem dos inimigos; os armazéns, com sua provisto de placas de argila escritas em caracteres cuneiformes; os templos dos deuses, que se erguem sobre o nivel uniforme da planicie com seus terracos; e as pirémides em degraus Essas obras ¢ as casas das pessoas comuns sao construidas de tijolos e argila, como ainda hoje no Oriente Proxima; o tempo faz on que desmoronem e acaba por incorpora-las novamente ao terreno, mas assim 0 Cs conserva, camada por camada, 0s wealege los artefatos construidos em cada perfodo histérco e, entre esses, as preciosas nae ae as cronicas escritas que, @ pe oe eee temos condiges de ler com S°€ reconstruir, escavagies arquenlogicas Pee passo a passo, a formagao € ey ‘elo homem, 40 cidades mais antigas construidas P. a 1v milénio a.C. em diante, Ge one aa planta da 32 As cidades sumerianas, no inicio do 11 milénio a.C,, ja sto muito grandes ~ Ur (Figs. 37-44) mede cerca de cem hectares ~ e abrigam varias dezenas de milhares de habitantes. Sao circundadas por uma muralha e um fosso que as defendem e que, pela primeira vez, excluem 0 ambiente aberto natural do ambiente fechado da cidade, Também 0 campo no entorno é transformado pelo homem: em lugar do pantano ¢ do deserto, encontramos uma paisagem artificial de campos, pastagens® pomares, percorrida pelos canais de irrigagao. Na cidade, os templos se distingue™ das casas comuns em fungao de sua maior dimensao e altura: compreendem de fa" além do santuario ¢ da torre-observatério (zigurate), oficinas, armazéns, lojas onde vivem e trabalham diversas categorias de especialistas AORIGEM DA € ” Bh to quae? oo Inala se rept | eal | eT 1 Plana do quai 4 afi DD planta eh corte dn casa ‘embaixo, 2 esquerda, O terreno da cidade ja é dividido em propriedades individuais entre os cidadaos, ao passo que 0 campo é administrado em comum, por conta das divindades, Em Lagash, 0 campo é repartido entre umas vinte divindades; uma dessas possui cerca de 3250 hectares, trés quartos dos quais atribuidos em lotes 4 familias individuais, um quarto cultivado por assalariados, por arrendatarios (que pagam um sétimo ou um oitavo do produto) ou pelo trabalho gratuito dos Outros camponeses. Em sett templo, trabalham 21 padeiros auxiliados por 27 escravas, 25 cervejeiros com 6 escravos, 40 mulheres encarregadas do preparo dala, fandeiras, tecelds, um ferreiro, além dos funcionérios, dos eseribas e dos sacerdotes, A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO 35, 36 A ORIGEM DA CIDADE No. ORIENTE PROXIMO 37 Até meados do 11 mil@nio, as eidadles da M Fotados independentes, cuelitum eraec ee completamente colonizada, irtigada pelos desenvolvimento econdmico ¢ tal poder que impoe seu domir império estavel (durante mais tarde, sua tentatiy, Mina formam outros tantos fepartir a ph I pelos dois ris, Esse 86 terminam qu nio sobre toda cerea de lanicie, entao s conflitos limitamo nclo 0 chefe de uma cidade adquire regio. O primeito fundador de um tim século, por volta de 2500) & Sargio da Acddia 4.€ repetida prelos reis s ‘ tentativa g »s teis suumerios de Ur, por Hamurabi d Babilonia, pelos reis assitios e persis, Ae consequtnclas fies de see ee as fisicas de seus feitos sao: 1. A fundagio de novas cid; ladles residenciais, onde templo, ma © palicio do rei a cidade-p (Figs, 55-61) e, mais tarde, os pal estrutura dominante nio licio de Sargio 11 nos arredores de Ninive tos-cidade dos reis persas, Pasirgada e Persepolis, A ampliacao de algumas eidades, que se tornam capitais de um império, e onde se concentram nao s6 o poder politico, mas também 0 intercimbio comercial eo instrumental de um mundo muito maior: Ninive, Babildnia. Sao as primeiras supercidades, as metropoles de dimensoes comparaveis s modernas que, durante muito tempo, permaneceram como simbolos € prototipos de toda grande concentracio humana, com seus méritos e defeitos. Babil6nia, a capital de Hamurabi, planejada por volta de 2000 a.C., uum grande retangulo de 2500 por 1500 metros, dividido em duas metades pelo Eufrates (Figs. 64-69). A superficie contida pelas muralhas é de cerca de quatrocentos hectares, € outra muralha mais extensa compreende quase 0 dobro da drea; mas toda a cidade, e nao somente 98 templos e os palicios, parece tracada ony regularidade geomeétrica: as ruas sio ae ie largura constante, € as muralhas sao ote e em angulo reto, Desaparece asim 4 6isinei0 entre os monumentes e as zonas habitadas re pessoas comuns; a cidade ¢ formada por ie série de recintos — os mais externos oe iS todos, os mais internos reservados i s sacerdotes. Esses personagens La . coisas desse mundo. z ae a a ilustrada na fig. 63 ~ reproduzem ot Pras escala a forma dos templos ¢ 40s P3 ay a rie. < eas muralhas estriacas. de patios internos e as ™ assifio, talver Sarg30 |, Bie ee 0a) A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO: 39 (© paldcio de Sarga0 tem Khorsaba sdesenho do final do sécuio XIN; alto do zigurate Cr wall ‘A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO a agoes na zona oriental da cidace; Junto ao templo de Ista (stat) la de Marducapalidina bra a doagio de um yssalo babilonio pelos rels 42 BOGAZKOY 1, Oaysentam mi e" ee nlamenio mals antigo (coca de 190) 2.) 2 templo de los Hat eda de rately a3" eda pinto 130-1200 4A ada meraional ge tscavada (12004) 5, Um canola (2D 8.33 6. Aporta ral (140 a.) 710 es ‘pin a Cay 11,4 porte da Exfinge (1400 0.C) 12. A porta do Leto (140 aC.) 13. Ocaielo MS {fant Ch 140 caseloamateo (120046) fe de Hatusa, capital do BD Planta da ci II ¢ cio templo principal reino dos hitita: MO RIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROX! Aol Bi Planta deum bairro residencial de de um patio central A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO 46 AS piramiddes de Giré paisagem da deserto. supa do ty 9 antigo, BD Obicrdgiifo egipcio que indica a cidade Ents A ie No Egito, a origem da civilizagao urbana nao pode ser estudada como na Mesopotamia: os estabelecimentos mais antigos foram eliminados pelas enchentes anuais do Nilo, e as grandes cidades mais recentes, como Méntfis e Tebas, se caracterizam por monumentos de pedra, tumbas e templos, nao pelas casas e pelos palicios nivelados sob os campos e habitagdes modernas. A documentagio arqueolégica revela a civilizacdo egipcia jé plenamente formada depois da unificagao do pais, no final do tv milénio aC, Os documentos encontrados nas primeiras tumbas reais explicam que 0 soberano no poder havia conquistado as aldeias precedentes ¢ absorvido as paderes magicos das divindades locais. Ele nio & 9 representante de um deus, como os goyernantes sumérios, mas é ele mesmo um deus, que garante a fecundidade da terra e, especialmente, a grande inundagio do Nilo, que ocorre com regularidade num periodo determinado do ano. Assim, 0 fara tem 0 dominio completo sobre o pais inteiro € recebe um excedente de produtos bem maior que o dos sacerdotes asidticos. Com esses recursos, constr6i obras piblicas, cidades, templos dos deuses locais e nacionais, mas sobretudo sua tumb? monumental, que simboliza a sua sobrevivencia além da morte e garante, com a conservagao ‘lo st corpo, a continuagao de seu poder em proveito ¢ comunidade, as A ORIGEM DA CIDADE NO ORMENTE PROXIMO GB Mapa da zona de Moos: No 111 milénio, a medida que © Egito se torna mais populoso e rico, ganham mais imponéneia, em ais nbora sia forma externa permaneca bastante simp) ade uma pirimide quadrangular, A maior, a de Quéops da tv dinastia, mede 246" metros de comprimento e quase 150 metros de altura; 6 um dos simbolos ‘mais Lubressionantes que o homem deixou na superficie terrestre e, segundo ume tradi¢ao lembrada por Herddoto a que os estudiosos modernos costumam dar crédito, exigiu o trabalho de 100.000 pessoas durante vinte anos, Como se coloca semelhante obra na paisagem habitada no vale inferior do Nilo? Sabemos que Mens, o primeiro farad, funda a cidade de Ménfis nas proximidades do vértice do delta e cerca-a com um “muro branco” 0 templo da divindade local, Ptah, nao fica na cidade, mas “ao sul do muro”; ao redor, nas fimbrias do deserto, surgem as pirdimides dos reis das primeiras quatro dinastis (Figs. 79-84) ¢ os templos solares da quinta (Figs. 87-88). A forma de conjunto do estabelecimento permanece desconhecida, e nao ¢ fécil imaginar a relacdo entre esses monumentos colossais e os locais de habitacao dos vivos, com certers bastante diferente da relacdo entre templo e cidade na Mesopotamia. No Rgito, sobretudo nos primeiros tempos, nao encontramos uma ligacao, mas um contraste entre essas duas realidades, realcado de todas as maneiras possiveis. Os monuumentos ndo formam o centro da cidade, mas sao dispostos de per se como uma cidade independent, divinae eterna, que domina e toma insignificante a cidade transitéria dos homens. A cidade divina ¢ construida 5845 tumbas Planta do conjunto das piramides de Gizé (em pontilhaclo, a5 trés piramides de Quéops, Quéiren © Miquerinos; em preto, as constructes menores) J corte da grande piramide de Quéops, AORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PRO ‘OXIMO 49 [Bl Cabega colossal de um farab da dinastia (Cerca de 275040.) BD Vista de uma aresta da grande pitirnide de Quéops de pedra para permanecer jmutavel no curso do tempos é povoada de formas Jiscos ou estatuas gigantescas come a geométricas simples: prismas, piramides, obel Grande Esfinge, que nao tem ‘relagaio com as propor .es humanas &, pela grandeza, se aproximam dos elementos da paisagem natural € habitada pelos mortos, que repousam cercados de todo o necessario para ‘a vida eterna, mas é feita para ser vista de longe, como o fundo sempre presente da cidade dos vivo Fssa, a0 contrario, € construida de tijolos, inclusive 08 paldcios dos farads 9° poder sera logo arruinad © permanece como morada. temporaria, a Ser abandonada mais cedo ou mais tarde, Uma parte significativa da popullagdo = 08 0P vados na construgio das pirdmides ¢ dos templos, com suet familias ~ jos empreg vinha de morarnosacampaments encontrados pelos arquediogos junto ays abandonados tao loge terminasse 0 trabalho ( ves monuumentoss € ile Fa Bigs. 99 ¢ 92-95). l ot Ponta de un casa da Wdinastia om Giz6 (eee 2600 ac} | sscxrtcros Prion ‘© templo solar de Horus em Abusir, dav dinastia (cerca de 2500 a.C.): 9 planta ef vista reconstituidora A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO 51 DB Modelo de um barco de transporte, encontrado numa BD A aldeia de €! Lahun, realizada por Sesostris i! (cerca tumba da XII dinastia (cerca de 1800 a.C.), ide 1800 a.C.) para 0s operarios destinados 2 construcao de ‘uma pirémide, Planta do conjunto e de uma casa tipica 52 Por outros aspectos, a cidade divina ~ ay inca porlemos vere estudar hoje = ¢ uma eépia aq dacidade humana, onde todos os perry 08 abjetos da vida cotidi mantidos imutave reptoduzem com realism as fisionomias dog modelos ¢ os imobilizam, numa tentativa de encerrar para sempre também os aspectos fy da vida (Figs, 85 ¢ 91). “_ Esse intuito de construir uma cépia perfeita e estavel da vida humana ~ de acumular os recy, no além, em ven de acumulé-los no munde presente ~ ndo prossegue sempre com a mesma intensidade. A economia assim orientada entre em crise em meados do 111 milénio; quando ela se reorganiza ~ sob 0 Médio Império, no 1 milénio a.C. —, 0 contraste entre os dois mundos parece atenuado e as duas cidades separadas tendem a se fundir numa tinica cidade Bens. tury A capital do Médio Império, Tebas, ainda esta dividida em dois setores: 0 povoado, na margem direita do Nilo, ea necrépole, nos vales da margem esquerda (Fig. 97); mas agora os edificios dominantes sio os grandes templos construidosm cidade dos vivos ~ Karnak, Luxor (Figs. 98-102) as tumbas esto escondidas nas rochas (Figs. 103-104) € permanecem visiveis somente os templos de acesso, semelhantes aos anteriores (Bigs. 212-113). Entre esses marcos monumentals devemos imaginar as habitagdes e os arrabaldes que abrigam uma sociedade mais variada, onde riqueza é mais difundida. O farad ocupa 0cum dessa hierarquia social e seu poder se manifestt porque pode escolher, para seus palicios 0 sua tumba, os produtos mais ricos € acabades, as roupas, as joias e os méveis encontrados tumbas reais, fabricados com um trabalho 4 bs altissima qualidade, fazem pensar numa Pre Me ampla e abundante, da qual foram selecion esses objetos. 4 e vido da Xil Fstétva de madeira de um individ ae [cerca de 1800.a.C). A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO mpétio Aiéelo que i tatu A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIMO RI A ORIGEM DA CIDADE No oRIENTE PROXIMO 1380 a.C,) no vale I Pianta da tumba de Amenotep ii (cerea de aredes 0 fara6 com dos Reis, ef) um detalhe das pinturas nas Ps of. 4 yersonagem real @ 1 Lina estita de Amenotep iv em ede Perso” reo com realism incor a da estrada real da ponte entre OB Mapa do império persa das rinas de Do vr.ao ty séculos a.C., todo o Oriente Médio € unificado no Império Persa is. (Fig. 11). O territério examinado até aqui - desde 0 Egito até o vale do Indo - goza assim de um longo perfodo de paz e de administracdo uniforme, que permite a circulagao de homens, mercadorias ¢ ideias de uma extremidade a outra, Na residéncia monumental dos reis persas - conhecida pelo nome grego de Persépolis - os modelos arquiteténicos dos varios paises do império sio combinados entre si dentro de um rigido esquema cerimonial (Figs. 10, 12-14) 4 ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PROXIM 10 IP Mapa do coniunio monumental se Persepolis e B Uma decora cio de Dario HD As tumbas dos 0 pared

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