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MORTALIDADE INFANTIL

Com vistas na dificuldade do controle da mortalidade infantil - morte de crianças


com menos de 1 ano de idade - o Ministério da Saúde traçou políticas públicas
objetivando reduzir de 47,1 óbitos a cada mil nascimentos (1990) para 15,7 óbitos a
cada mil nascimentos em 2015. Em 2007, o valor se encontrava em 1,93%. A
mortalidade no país, no entanto, não se manifesta de forma homogênea no território
nacional: a desigualdade de condições socioeconômicas, investimentos públicos em
saúde e o acesso a cuidado médico é variado, o que reflete diretamente no acesso à
alimentação de qualidade, exposição a infecções e patologias diversas, “saneamento
básico e habitação, acesso aos serviços de saúde, cuidados de higiene entre outros”.
Estes fatores têm relação direta com a mortalidade infantil, o que se reflete nos
números da população de risco. Segundo os autores, crianças pobres, nascidas de
mães negras e indígenas são as mais expressivas nos dados públicos, o que traz uma
objeção ao número supostamente otimista alcançado: em populações mais
vulneráveis, o número não parece igualmente triunfante.

CADERNETA DE SAÚDE DA CRIANÇA


Uma das estratégias para a redução da mortalidade infantil foi a elaboração da
Caderneta de Saúde da Criança (CSC). A fim de melhorar os índices registrados de
morbimortalidade, a CSC surgiu com objetivo e proposta de detecção precoce dos
problemas e déficits de crescimento e desenvolvimento de crianças até 10 anos de
idade, e orientação aos pais quanto à promoção e manutenção da saúde e prevenção
de agravos. A vigilância do crescimento da criança é realizada através dos gráficos de
peso, altura e comprimento, IMC e perímetro cefálico. Quanto à vigilância do
desenvolvimento da criança, são observados os marcos do desenvolvimento para cada
idade. Ademais, a CSC registra os dados desde o nascimento para o acompanhamento
e cuidado longitudinal. Após sua identificação, registram-se a história obstétrica,
história neonatal, crescimento e desenvolvimento, aleitamento materno, alimentação,
saúde bucal, saúde auditiva e vacinação.

A completude e amplitude dos dados registrados e identificados na Caderneta de


Saúde visa um rastreio universal para a detecção precoce de intercorrências no
desenvolvimento da criança, de forma a aumentar as chances resolutivas, reabilitação
ou mesmo a prevenção de futuros acometimentos, influenciando diretamente na
diminuição da morbimortalidade da sua população alvo. Partindo desse princípio -
aliada à orientação em saúde,- a CSC se propõe a, com a detecção precoce dos
riscos, reduzir o índice de mortalidade infantil.
No entanto, em campo prático, os autores relatam que a ferramenta idealizada é
corriqueiramente subutilizada, e de preenchimento insatisfatório (“registros precários,
dados de identificação incompleta, falhas nas informações registradas ou ausência
delas”). Na análise do estudo, a ferramenta não atinge o seu potencial prático. Os
autores destacam, em especial, um estudo realizado em Alfenas (MG), em que, em
113 CSC, uma proporção elevada de registros em branco foi encontrada.

O PROFISSIONAL DE SAÚDE E O USO DA CSC


A Caderneta de Saúde da Criança é uma ferramenta a ser utilizada pelo profissional
de saúde e - com a sua orientação - pelos responsáveis da criança registrada. Dessa
forma, algumas responsabilidades são delegadas ao orientador para que garantir o seu
manuseio correto. O profissional de saúde deve realizar as atividades de
acompanhamento e registrar os dados em toda a consulta de puericultura. Ele também
é o veículo principal de informação dos responsáveis sobre a utilização do documento,
e o profissional deve orientá-los sobre a funcionalidade e importância do seu registro
completo para a saúde da criança, tornando a vigilância em saúde uma atividade
colaborativa. Os autores destacam que as mães que relataram terem sido orientadas
quanto ao uso da CSC preenchiam mais as curvas de crescimento, possivelmente por
compreender a importância da caderneta na saúde dos filhos e, consequentemente, se
tornarem mais vigilantes quanto ao seu registro completo.
No entanto, os autores identificaram, em revisão integrativa, que os próprios
profissionais de saúde não conhecem a sua importância e forma correta de uso,
considerando a CSC um "mero identificador de atualização de vacinas” em vez de uma
forma de vigilância e política de controle da mortalidade infantil. Foram referenciados
os estudos de Andrade, GN de (2011), e de Ratis CAS e Batista Filho M (2004) para
sustentar que os profissionais não estão capacitados para o uso e preenchimento
correto da CSC, ou para a orientação dos pais. A dificuldade do orientador no
manuseio, falta de sensibilização quanto a sua importância e outros achados da
revisão de literatura foram sintetizados no quadro 3 do estudo. Consequentemente, e
em consonância com a observação acima relatada de que as mães devidamente
orientadas são mais vigilantes quanto ao preenchimento correto, a CSC é
frequentemente preenchida de forma incorreta, e se observa a falta de atenciosidade
dos pais que, desinformados de sua importância, desconhecem a funcionalidade da
caderneta, carregam-a incompleta ou a esquecem com frequência nas consultas de
puericultura, além de reproduzirem a ideia equivocada de que a funcionalidade dessa
seria como a de um cartão de vacina. O quadro 3 sintetiza os achados quanto à
utilização da CSC.
CONCLUSÃO E CAMINHOS FUTUROS
A Caderneta de Saúde da Criança é uma ferramenta subutilizada, o que cega a sua
capacidade de redução da mortalidade infantil. A falta de capacitação para o uso da
CSC contribui para que essa seja utilizada primordialmente como um cartão de
vacinação e preenchida incorretamente (ou de forma incompleta). Com base nisso, os
autores propõem como estratégia resolutiva: (1) realização de estudos qualitativos que
identifiquem com maior nuance as dificuldades no preenchimento da caderneta e (2)
educação continuada dos profissionais de saúde quanto à orientação e preenchimento
completo da ferramenta, e da sua importância como ferramenta de vigilância e
promoção de saúde.
Ademais, importa que não semente profissionais da saúde e os pais observem as
informações registradas, mas todos os responsáveis pela população infantil, incluindo
creches e pré-escolas

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