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Governo do Estado

Do Rio Grande do Norte


Sistemas
de Produção
07
ISSN 1983-280 X
Ano 2009

CULTIVO DE TILÁPIAS
EM GAIOLAS

ORGANIZADORA
ANA CÉLIA ARAÚJO BARBOSA
GOVERNADORA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
WILMA MARIA DE FARIA

SECRETÁRIO DA AGRICULTURA, DA PECUÁRIA E DA PESCA


FRANCISCO DAS CHAGAS AZEVEDO

EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DO RIO GRANDE NORTE


DIRETORIA EXECUTIVA DA EMPARN
DIRETOR PRESIDENTE
HENRIQUE EUFRÁSIO DE SANTANA JUNIOR

DIRETOR DE PESQUISA & DESENVOLVIMENTO


MARCONE CÉSAR MENDONÇA DAS CHAGAS

DIRETOR DE OPERAÇÕES ADM. E FINANCEIRAS


AMADEU VENÂNCIO DANTAS FILHO

INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO RN


DIRETORIA EXECUTIVA DA EMATER-RN
DIRETOR GERAL
LUIZ CLÁUDIO SOUZA MACEDO

DIRETOR TÉCNICO
MÁRIO VARELA AMORIM

DIRETOR DE ADM. RECURSOS HUMANOS E FINANCEIROS


CÍCERO ALVES FERNANDES NETO
ISSN 1983-280 X
Ano 2009

Sistemas de Produção 07
CULTIVO DE TILÁPIAS
EM GAIOLAS

Ana Célia Araújo Barbosa

Natal, RN
2009
Sistemas de Produção 01
CULTIVO DO COQUEIRO NO RIO GRANDE DO NORTE
EXEMPLARES DESTA PUBLICAÇÃO PODEM SER ADQUIRIDOS
EMPARN - Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN
UNIDADE DE DISPONIBILIZAÇÃO E APROPRIAÇÃO DE TECNOLOGIAS
AV. JAGUARARI, 2192 - LAGOA NOVA - CAIXA POSTAL: 188
59062-500 - NATAL-RN
Fone: (84) 3232-5858 - Fax: (84) 3232-5868
www.emparn.rn.gov.br - E-mail: emparn@rn.gov.br
COMITÊ EDITORIAL
Presidente: Maria de Fátima Pinto Barreto
Secretária-Executiva: Vitória Régia Moreira Lopes
Membros
Aldo Arnaldo de Medeiros
Amilton Gurgel Guerra
Francisco Canindé Maciel
Francisco das Chagas Ávila Paz
Leandson Roberto Fernandes de Lucena
Marciane da Silva Maia
Marcone César Mendonça das Chagas
Terezinha Lúcia dos Santos Fernandes
Revisor de texto: Maria de Fátima Pinto Barreto
Normalização bibliográfica: Biblioteca Central Zila Mamede – UFRN
Editoração eletrônica: Giovanni Cavalcanti Barros (www.giovannibarros.eti.br)

1ª Edição
1ª impressão (2008): tiragem
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
Holanda, José Simplício de.
Cultivo do coqueiro no Rio Grande do Norte / José Simplício de Holanda,
Maria Cléa Santos Alves, Marcone César Mendonça das Chagas. – Natal, RN:
EMPARN, 2008.
27 p. – (Sistemas de produção; 1)
ISSN: 1983-280-X

1. Cultura do coco. 2. Produção de coco. 3. Manejo do coco. 4. Sanidade.


I. Alves, Maria Cléa Santos. II. Chagas, Marcone César Mendonça das. III. Titulo.
IV. Série.
CDD 634.6
RN/UF/BCZM CDU 633.528
EMPARN 2009

ORGANIZADORA
Ana Célia Araújo Barbosa
SUMÁRIO

Apresentação......................................................................................................................... 07
1.Introdução ......................................................................................................................... 09
.......................................
CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

APRESENTAÇÃO

A água é um bem natural essencial a sobrevivência dos seres


vivos. Trata-se de um recurso renovável em seu ciclo natural, mas
um bem finito, pois suas reservas são limitadas. O uso irracional
e irresponsável da água pode comprometer a vida no planeta.
Por isso, é imprescindível a conscientização da população sobre
a importância do seu uso sustentável.

A agricultura é o setor que mais consome água entre todas


as atividades humanas e é imperativo sensibilizar os produtores
rurais, os técnicos, multiplicadores, estudantes, extensionistas
e pesquisadores em relação ao respeito à utilização correta das
reservas de água. Precisamos garantir a preservação das reser-
vas aqüíferas para que as gerações futuras não sofram com a
escassez de água.

Isso se faz, entre outras ações, levando conhecimento e


educação para junto da população, para que desenvolvam uma
nova consciência não só da importância da quantidade de água
disponível, mas também da sua qualidade. São gestos simples
que precisam se transformar em práticas usuais, como evitar o
desperdício, não usar venenos nas plantações, armazenar água da
chuva corretamente e proteger as nascentes e as matas ciliares.

O Governo do Estado do Rio Grande do Norte através da Em-


presa de Pesquisa Agropecuária do RN – EMPARN e do Instituto de
Assistência Técnica e Extensão Rural do RN – EMATER, afiliadas da
Secretaria da Agricultura, da Pecuária e da Pesca – SAPE, contando
com o apoio de diversos outros parceiros, promovem em 2009 o
VI Circuito de Tecnologias Adaptadas para a Agricultura Familiar.

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. . . . . . . . VI. CIRCUITO
. . . . .DE. TECNOLOGIAS
. . . . . . .ADAPTADAS
. . . . . PARA
. . .A .AGRICULTURA
. . . . . .FAMILIAR
....

O tema desse ano é: Conservar os Recursos Naturais do Semi-


árido Gerando Renda e Mais Alimentos. Este Circuito se propõe,
além de ações diretamente relacionadas com a conservação da
água, disponibilizar tecnologias para a conservação do solo, outro
problema para a atividade agropecuária, principalmente para os
pequenos agricultores familiares.

Esse tema foi desenvolvido baseado na Declaração Uni-


versal dos Direitos da Água, documento de 1992 da ONU, que
preconiza: “A água não deve ser desperdiçada, nem poluída,
nem envenenada. De maneira geral, sua utilidade deve ser feita
com consciência e discernimento para que não se chegue a uma
situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das
reservas atualmente disponíveis.

Muito obrigado pela sua presença.

Henrique Eufrásio de Santana Júnior


Diretor Presidente da EMPARN

Luiz Cláudio de Souza Macedo


Diretor Geral da EMATER

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

APRESENTAÇÃO
A criação de peixes é uma atividade há muito praticada
em diferentes partes do País. Nos últimos anos, vem se ex-
pandindo e despontando como um recurso alternativo im-
portante na geração de emprego e renda. Além dos avanços
tecnológicos, a reintegração da tilápia, outrora considerada
como peixe de má qualidade, vem contribuindo para que
a piscicultura de águas interiores tome seu merecido lugar
como atividade produtiva. Essa espécie, de origem africana,
tem se destacado pela gama de produtos que fazem parte
da sua linha de comercialização, pois, além do filé, com
alto valor econômico e rendimento da ordem de 35% a 40%
em exemplares com peso médio de 0,45g, ressalta-se ainda
o seu couro para fabricação de cintos, bolsas e calçados
e o aproveitamento dos subprodutos do beneficiamento
na preparação de outros produtos comestíveis como iscas,
hambúrgueres e embutidos, entre outros, e na formulação
de rações. Podem ser cultivadas em diferentes ambientes e
modalidades: extensivamente (1.000 a 2.000 peixes/ h a), de
forma semi-intensiva (2.000 a 5.000 peixes / ha), de forma
intensiva (10.000 a 30.000 peixes / ha) e de forma superin-
tensiva (tanques-rede/gaiolas: até 600 peixes/m3).

Contemplado com características climáticas extrema-


mente favoráveis e com grande disponibilidade de áreas,
o nordeste brasileiro poderá vir a ser, em poucos anos,
um grande polo de produção de peixes, não só para con-
sumo, como também para comercialização e reposição
dos estoques naturais que estão a cada dia mais escas-
sos. Além de áreas apropriadas para os cultivos, fatores

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. . . . . . . . VI. CIRCUITO
. . . . .DE. TECNOLOGIAS
. . . . . . .ADAPTADAS
. . . . . PARA
. . .A .AGRICULTURA
. . . . . .FAMILIAR
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essenciais à exploração da piscicultura como a existência


de laboratórios de produção de alevinos, centros de ben-
eficiamento, fábricas de gelo, etc., vêm estimulando o
crescimento da atividade.

2. IMPORTÂNCIA DAS TILÁPIAS

A tilápia é um peixe de origem africana, que vive em água


doce, e que na década de 30 começou a ser introduzido fora do
continente africano tendo o seu cultivo se expandido rapidamente
ocupando, atualmente, o segundo lugar dentre os peixes de
água doce cultivados no mundo. As primeiras espécies de tilápia
chegaram ao Brasil nos anos 50, sendo sua introdução oficializada
somente na década de 70.

As tilápias possuem carne saborosa, de cor branca e com


baixo teor de gordura. Têm altas taxas de crescimento, são rús-
ticas, muito resistentes a doenças e a baixos níveis de oxigênio
na água.

Com hábitos alimentares bem rudimentares, ingerem uma


grande variedade de alimentos naturais, tais como o plâncton
(pequenos animais e vegetais), folhas verdes, organismos
bentônicos (que vivem no fundo dos reservatórios), invertebrados
aquáticos, larvas de outros peixes, detritos e matéria orgânica
em decomposição. Restos ou subprodutos de atividades agro-
pecuárias, como batata doce, mandioca, milho, frutas, etc. são
bem aceitos por esses peixes. O esterco animal, frequentemente
utilizado na piscicultura como fertilizante, também é aproveitado
como alimento. Em geral, o alimento natural é utilizado de ma-
neira tão eficaz que em ambientes bem fertilizados, os cultivos
podem atingir produtividades acima de 1.500 kg / ha.

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

Comercialmente, tem ampla aceitação nos mais diferentes


mercados, dentro e fora do País, com um amplo espaço para
exportação de seu filé.

3. O CULTIVO EM GAIOLAS

A criação de peixes em gaiolas se caracteriza pela alta


concentração de indivíduos por unidade de área e pela exigên-
cia de renovação contínua da água de cultivo. Como a maioria
dos demais tipos de aquicultura, o sistema de cultivo em gaiolas
tem sua origem no sul da Ásia, e hoje é praticado em mais de 35
países em todo o mundo. No Brasil, pode ser considerada uma
atividade nova, porém está passo a passo tomando seu espaço.

Dentre as grandes vantagens na sua utilização está a possibili-


dade que ela oferece de poder ser praticada nos mais diferentes
corpos d’água, como açudes, lagoas, rios, canais, entre outros.
Diferentes espécies de peixes vêm sendo cultivadas em
gaiolas, entretanto, algumas delas respondem melhor a esse
sistema de criação, sobretudo aquelas filtradoras-onívoras que
aproveitam com muita propriedade o alimento natural, como é
o caso das tilápias.

O investimento inicial nesse tipo de cultivo é relativamente


baixo, quando comparado com aquele em viveiros convencionais
(aproximadamente 60 a 70% menor).

O tempo de cultivo é variável em função do mercado.


Peixes com 350g podem ser obtidos em até 3 meses de cultivo,
o que permite a realização de até 4 ciclos por ano. Exemplares
com peso de 500g são obtidos com 4 a seis meses de cultivo.
Em gaiolas de pequeno volume, pode-se produzir até 300 kg de
tilápias/m3

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. . . . .DE. TECNOLOGIAS
. . . . . . .ADAPTADAS
. . . . . PARA
. . .A .AGRICULTURA
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Além de proporcionar altas produtividades, a tecnologia é


facilmente assimilável, permitindo a observação constante dos
peixes, a movimentação das gaiolas, manuseio dos peixes e
despesca rápida. Quando bem conduzidos os cultivos, o impacto
ambiental é muito baixo.

O fato dos peixes permanecerem confinados não podendo


explorar o alimento natural disponível no reservatório condiciona
essa modalidade de cultivo ao uso de rações nutricionalmente
completas, o que se constitui numa desvantagem nessa modali-
dade de cultivo.

4. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DAS GAIOLAS

As gaiolas são confeccionadas com diferentes tipos de


material, como aço inox, alumínio, ferro galvanizado (revestido ou
não de PVC) telas niqueladas, nylon e telas plásticas, essas últimas
só sendo recomendadas para reservatórios onde não existam
predadores, pois são facilmente rasgadas por peixes como piau,
piranha, traíra, etc.

Na sua armação são utilizados principalmente o alumínio, o


ferro galvanizado, tubos de PVC, e vários tipos de madeira. Dentre
esses materiais o alumínio, apesar do seu alto custo, é mais indicado,
tanto pela sua durabilidade como por ser um material leve facilitando
o manuseio das gaiolas. A madeira, mais barata que os demais
materiais, dificilmente suporta mais que dois ciclos de cultivo, pois
normalmente apodrece na água antes desse tempo. Os tubos de
PVC também têm pouca durabilidade, ressecam com o tempo e os
joelhos que fazem as conexões laterais racham com facilidade com
o manuseio ou mesmo com o movimento da água em momentos
de ventos mais fortes. O ferro galvanizado tem sido uma opção
bastante utilizada, embora seja de durabilidade mediana.

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

O tamanho das gaiolas é variável, podendo ser de 1m3 (muito


utilizadas na China), até de 1.000m³ ,mais frequentes em países
como o Chile e recentemente a Colômbia ( Barbosa, 2000). Gaiolas
de pequeno porte, até 4m3 (padrão em quase todo o Brasil), são
consideradas como mais vantajosas do ponto de vista produtivo,
uma vez que a taxa de renovação de água no seu interior é bem
maior, oferecendo mais oxigênio e passagem de mais alimento
natural para os peixes ali confinados ( ASA, 1993)

Com relação ao seu formato, as gaiolas podem ser quadra-


das, cilíndricas, retangulares e hexagonais. As gaiolas cilíndricas
tendem a desviar parte da água que incide sobre suas laterais, o
que as torna mais indicadas para as grandes hidrelétricas onde
as correntes d’água são normalmente mais intensas. Por sua
vez, gaiolas de formatos retangular e quadrado proporcionam
uma passagem mais homogênea da corrente d’água pelo seu
interior (ASA, 1993).

Com relação à flutuação, os materiais mais utilizados são


canos de PVC (100mm), bombonas plásticas, tambores de ferro,
pneus, etc.

Para contenção e melhor aproveitamento da ração pelos


peixes, as gaiolas são providas de comedouros, dessa forma
se evita que os “pellets” sejam arrastados pelo movimento da
massa d’água.

Diferentes tipos de materiais e disposições são utilizados


com esse fim, alguns com maior ou menor eficiência, entre
os quais, telas plásticas, cercados plásticos de pedaços de
bombonas ou simplesmente mangueiras formando um círculo
no centro da gaiola.

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. . . . .DE. TECNOLOGIAS
. . . . . . .ADAPTADAS
. . . . . PARA
. . .A .AGRICULTURA
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Modelo de gaiola retangular

5. ESCOLHA DO LOCAL

As gaiolas requerem para sua instalação, áreas protegidas


de ventos e com baixa velocidade de correntes. Quando muito
fortes, as correntes podem causar estresse físico aos peixes e
influenciar no seu desenvolvimento, pois os mesmos dispendem
também energia no processo de natação contra elas. Devem-se
evitar igualmente águas barrentas ou muito verdes; estas entopem
as malhas prejudicando a circulação da água diminuindo, dessa
forma, o oxigênio para os peixes. Águas próximas de esgotos,
curtumes e lavagem de roupas, são poluídas e não se prestam
para a piscicultura.

A profundidade também é fator primordial na escolha do


local. Para gaiolas de pequeno volume, deve-se ter em conta
uma profundidade mínima de 2,0 metros no período em que o
reservatório esteja com o seu nível mínimo (ASA, 1993).

A posição das gaiolas com relação às correntes e aos ventos


é de suma importância para o bom desenvolvimento do cultivo.
O posicionamento mais adequado é aquele em que as gaiolas
são dispostas em fileiras, distando uma gaiola da outra de 2 a 4
metros. As gaiolas são presas entre si por meio de cordas de nylon

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

e as extremidades da cada fila são amarradas de lados opostos do


reservatório, para evitar deslocamentos. Essas fileiras devem ficar
dispostas em posição perpendicular ao sentido das correntes, o
que evita que a água com eventual baixa qualidade que saia de
uma gaiola atravesse outra logo em seguida. A instalação das
gaiolas em blocos não é recomendada pois impede a boa circu-
lação da água, e em consequência, a sua oxigenação.

Posição correta para instalação de gaiolas,


perpendicular ao fluxo da corrente

O número de gaiolas que podem ser colocadas em um


reservatório depende, sobretudo, da capacidade de renovação e
qualidade da água do mesmo. Estipula-se que uma área máxima
de 1% do espelho d’água possa ser utilizada sem que se incorra
em riscos de poluição do ambiente.

6.CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS PARA


A ÁGUA DE CULTIVO

Durante os cultivos, são liberados na água, fezes dos peixes e


restos de ração (com eventuais antibióticos e hormônios na sua com-
posição), que podem gerar, em menor ou maior escala, a poluição do
ambiente. Para que não ocorra uma poluição rápida da água, a reco-
mendação de Schmittou (1997), de que seja utilizada uma taxa máxima
de 8 quilos de ração/ha/dia deve ser levada em consideração.

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. . . . . PARA
. . .A .AGRICULTURA
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Diferentemente do ambiente de cultivo em viveiros, cujas


características da água podem ser modificadas por meio de trocas,
nos grandes reservatórios isso se torna impossível. Entretanto, tais
características devem ser acompanhadas rotineiramente, pois isso
permite se conhecer a qualidade da água de cultivo.

Desde a escolha do local e durante todo o cultivo, o piscicultor


deverá fazer esse acompanhamento, pois isso lhe dará suporte
para realizar eventuais trocas, temporárias ou não, da localização
de suas gaiolas. Para tanto, existem no mercado kits para análise
química da água com preços razoáveis e de fácil operação. A
seguir enumeramos as características mais importantes e de
maior impacto sobre os peixes, caso suas variações sejam mais
acentuadas. Esses parâmetros devem ser verificados pelo menos
três vezes ao dia (Tabela 1)

6.1. Temperatura

A temperatura é um fator de grande importância para a


criação de peixes, e tem influência direta sobre o consumo de
alimento. Para as tilápias, a faixa de temperatura que favorece
melhor ganho de peso está entre 29º C e 31º C.

6.2. Oxigênio dissolvido

O oxigênio dissolvido é um dos componentes da água que


mais variam durante o dia. Para um bom desenvolvimento das tilá-
pias, são requeridos níveis mínimos de 2mg/l, sendo o ideal acima
de 5mg/l. Níveis mais baixos comprometem o desenvolvimento,
sobretudo, quando se mantêm por períodos prolongados.

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

6.3. pH

As tilápias suportam bem faixas de pH entre 5 e 9; abaixo e


acima desses valores, apresentam baixa sobrevivência e menores
taxas de desenvolvimento

6.4. Transparência

A transparência da água pode ser utilizada como parâmetro


indicativo da riqueza ou não da água em alimento natural (for-
mado por animais e vegetais invisíveis a olho nu). É medida com
um instrumento chamado disco de Secchi ou qualquer objeto
graduado de zero a 100cm, na coluna d’água. Águas muito trans-
parentes são pobres; quando muito turvas, impedem a entrada
dos raios solares e em consequência a fotossíntese pelas plantas.
Águas com transparências entre 40 e 60cm são consideradas
boas para cultivos.

Disco de Secchi

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. . . . .DE. TECNOLOGIAS
. . . . . . .ADAPTADAS
. . . . . PARA
. . .A .AGRICULTURA
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7. PROCESSO PRODUTIVO

O cultivo em gaiolas pode ser conduzido em duas ou em


uma única fase. No primeiro caso, os alevinos são adquiridos com
peso entre 0,3 e 1,0g os quais são estocados em tanques-rede
berçários (fase de alevinagem) onde permanecem durante 50 a
60 dias (função do tamanho inicial e riqueza do ambiente em
alimento natural) e em seguida transferidos para gaiolas (fase
de engorda), onde são mantidos até a despesca. No segundo,
os peixes são adquiridos já com peso médio mínimo de 30g
(alevinões) e cultivados em gaiolas durante todo o cultivo. A
escolha de um ou outro método além de se considerar tempo de
cultivo e custos, vai depender da disponibilidade dos alevinões,
nem sempre disponíveis em muitas regiões.

Em ambos os casos recomenda-se a utilização somente de


exemplares machos por estes apresentarem melhor desenvolvi-
mento que as fêmeas. A produção de machos de tilápia em labo-
ratórios especializados é feita rotineiramente, sendo, portanto,
um ponto forte para a atividade.

7.1. Transporte e povoamento

Os peixes são normalmente transportados até o local de


cultivo em caminhões contendo tanques de fibra de vidro e sob
atmosfera de oxigênio. Esse transporte deve ser realizado nas
horas menos quentes do dia para evitar mortalidade. O povoa-
mento nos tanques-rede/gaiolas também segue esse princípio
para diminuir o estresse dos animais causado tanto pelo transporte
como pelo manuseio no momento da transferência. Nesse mo-
mento, é necessário que uma adaptação ao novo ambiente seja
efetuada, a qual consiste em misturar gradativamente a água de
transporte com aquela do reservatório para evitar, assim, que os

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

peixes sofram choque devido a possíveis diferenças nas variáveis


físico-químicas das duas águas.

7.2. Densidade populacional

O número de peixes por gaiola é variável. Locais bem are-


jados e com água de boa qualidade permitem que se coloque
até 300 peixes/m3.. Entretanto, experiências mostram que culti-
vos em gaiolas de pequeno volume (até 4m3) com densidades
de 300 peixes/m3 produzem peixes com peso final bem mais
heterogêneo de que aqueles com densidades de 250 peixes/m3
(Barbosa et al, 2002), o que torna mais difícil sua comercialização.
Nas condições descritas acima, recomenda-se até 800 peixes/m3
em tanques-rede.

Para amenizar o problema da heterogeneidade no seu de-


senvolvimento, característica intrínseca das tilápias e de maneira
mais acentuada em cultivos intensivos, pode-se separar os peixes
por faixa de peso agrupando-os em diferentes gaiolas. Esse mé-
todo é bastante utilizado quando existe mercado para peixes de
diferentes faixas de peso e em períodos diferentes do ano.
Recomenda-se em gaiolas de 4m² uma densidade de 1.000
peixes até os peixes atingirem peso médio de 300g, a partir do
qual essa densidade deve diminuir para 700 a 800 até o final do
cultivo (Mesquita, 2008)

7.3. Alimentação

A ração recomendada para os cultivos em gaiolas é do


tipo extrusada (flutua na água). Rações peletizadas não são
economicamente viáveis, pois possuem baixa estabilidade na
água ocasionando perdas, bem como dificultam a observação
do consumo por parte do piscicultor.

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. . . . .DE. TECNOLOGIAS
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Existem no mercado diversos tipos de ração de variadas


marcas e preços, na sua maioria, com garantia da qualidade dos
seus insumos. O ponto mais importante relativo às rações, são
os níveis de proteína bruta contidos nas mesmas, pois nas difer-
entes fases de vida, os peixes requerem níveis protéicos também
diferentes para o seu desenvolvimento. Vale ressaltar que níveis
de proteína mais altos implicam em custos mais elevados, porém,
rações com níveis mais baixos (28 e 24%) e, em consequência, de
menor custo, quando usadas em todo o decorrer do cultivo não
promovem um crescimento satisfatório dos peixes.

Recomenda-se o uso de rações cujos níveis variem de 40%


a 55% de proteína bruta, no caso da alevinagem, e de 35% , 32%
e 28% na engorda.

7.3.1. Níveis e frequência de arraçoamento

A frequência de arraçoamento nos cultivos em berçário pode


variar de 6 a 8 vezes ao dia, nas proporções de 15% da biomassa,
no início, até 8% no final dessa fase.

Nos cultivos em gaiolas, a distribuição da ração pode ser feita


de 3 a 5 vezes ao dia, de preferência nos horários com tempera-
turas mais elevadas, quando o metabolismo dos peixes é maior,
culminando num maior consumo.

A quantidade de ração diária a ser distribuída é calculada


com base na porcentagem da biomassa, a qual é calculada
multiplicando-se o número de peixes estocados pelo peso médio
desses peixes.

Para calcular a quantidade de ração a ser administrada por


dia, observa-se o seguinte exemplo:

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

Supondo o povoamento de uma gaiola com 1.000 peixes


com peso médio de 30 gramas.

A biomassa dessa gaiola será: 1.000 X 30 = 30.000 gramas


ou 30 kg de peixe. Estipulando uma taxa inicial de alimentação
igual a 5% dessa biomassa, chegaremos a um total de 1.500g/
dia ou 1,5kg/dia.

Resultados práticos comprovam que o nível inicial de 5% da


biomassa proporciona melhores resultados técnicos e econômicos
do que níveis iniciais de 4 e 3%. (Barbosa et al. 2005)

No decorrer da engorda, a taxa inicial é diminuída grad-


ualmente a cada mês, chegando ao final de 5 ou 6 meses ao
equivalente a 1% (Quadro 1)

Quadro 1. Recomendações para as taxas de alimentação (em % de peso


vivo) para tilápias cultivadas em gaiolas
Peso dos peixes (g) Taxa de Alimentação (%)
30 a 100 5
100 a 230 4
230 a 320 3
320 a 420 2
Acima de 420 1

A ração deve ser armazenada em local seco e fresco


e deve ser pesada e anotada a cada administração. Dessa
forma, é possível acompanhar o consumo, avaliar a taxa de
conversão alimentar (discutida no item 7.5) e os custos finais
da produção.

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. . . . .DE. TECNOLOGIAS
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7.4. Pesagem

Para acompanhar o andamento do cultivo, a cada mês uma


pesagem de parte dos peixes de cada gaiola deve ser realizada.
Esse trabalho permitirá não só acompanhar o desenvolvimento
dos peixes, mas também que se faça um reajuste na alimentação
ofertada. Para tanto, são retirados de 5 a 10% dos peixes de parte
das gaiolas e colocados em baldes ou bombonas com água do
reservatório e levados para pesagem.

Nessa operação faz-se uso de uma balança de plataforma


na qual se pesa previamente o balde ou bombona com a água.
Após a pesagem dos peixes, subtrai-se o valor encontrado para os
recipientes só com a água, e o resultado é dividido pelo número
de exemplares que foram pesados. Os peixes são devolvidos em
seguida para suas gaiolas de origem, para um melhor controle da
sobrevivência/gaiola e taxa de conversão alimentar.

Pesagem dos peixes

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

7.5. Conversão alimentar

A taxa ou índice de conversão alimentar é um dos principais


parâmetros de um cultivo. O piscicultor deve ter total conhecimen-
to da mesma, pois ela serve para calcular custos de produção e
funciona como indicador da necessidade de eventuais mudanças
no manejo.

A taxa de conversão é definida como a relação entre a quan-


tidade de ração utilizada e a quantidade de peixe produzido.
Quando se fala em conversão alimentar de 1,4:1,0, isso significa
que foram necessários 1,4 kg de ração para se produzir cada quilo
de peixe. Durante um cultivo, fatores como a palatibilidade e es-
tabilidade da ração, riqueza da água em alimento natural, níveis
de arraçoamento, temperatura e densidade de estocagem têm
influência direta na taxa de conversão alimentar.

Índices de conversão entre 1,4 e 1,5 são considerados bons


para cultivos em gaiolas (Kubitza, 1999).

8. CUIDADOS ESPECIAIS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS


DURANTE O MANEJO

8.1 Colmatagem das malhas

A troca de água entre o ambiente de cultivo e a gaiola pode


ser dificultada pela colmatação de suas malhas, que é o fecha-
mento das mesmas causado pela aderência de algas e outros
organismos que vivem na água, que podem obstruir parcialmente
a circulação da água. Sempre que necessário, uma limpeza ex-
terna deve ser feita com uma escova. O aspecto geral da gaiola
deve ser verificado diariamente e malhas com furos devem ser
reparadas imediatamente para evitar a fuga dos peixes.

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. . . . . . . . VI. CIRCUITO
. . . . .DE. TECNOLOGIAS
. . . . . . .ADAPTADAS
. . . . . PARA
. . .A .AGRICULTURA
. . . . . .FAMILIAR
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8.2. Comportamento anormal dos animais

A observação do comportamento dos peixes é fundamental


para se detectar alguma anormalidade no cultivo. Mudanças na
atividade natatória são um alerta de que existe algum fator fora
da normalidade e que providências deverão ser tomadas junto a
um técnico. Peixes sãos nadam ativamente, alimentam-se bem
e reagem a estímulos externos como, por exemplo, a chegada
do alimentador.

8.3. Consumo da alimentação

Se forem constatadas sobras de alimentação, ou os peixes


estão com problemas ou o cálculo foi superestimado, devendo-
se nesse último caso diminuir gradativamente até encontrar um
ponto em que o consumo seja total.

8.4. Aspecto externo do cardume

É importante se verificar se os peixes apresentam alguma


deformidade ou necroses sobre o corpo, que indicam a presença
de doenças no cardume e nesse caso também é indispensável
a presença de um especialista .

8.5. Monitoramento da mortalidade

Diariamente devem ser retirados das gaiolas e registrados


os eventuais peixes mortos. Essa operação permite melhor
reajuste da ração a cada biometria, e possibilita o cálculo da taxa
de sobrevivência.

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

9. DESPESCA

A despesca nesse sistema de cultivo é uma operação


extremamente fácil e não necessita de grande contingente de
mão de obra. O momento ideal para efetuá-la depende do peso
com o qual se deseja fazer a comercialização. O processo se inicia
com a liberação da primeira gaiola das cordas que a prendem
às demais. Em seguida, ela é ligeiramente suspensa pelos opera-
dores, retirada da água e levada para a margem do reservatório.
Com a ajuda de puçás, os peixes são retirados e pesados na sua
totalidade. A sobrevivência esperada nesse tipo de cultivo gira em
torno de 90%. Produtividades acima de 120 kg/m3 são facilmente
alcançadas.

Os peixes podem ser comercializados no próprio local e


de diferentes maneiras (inteiros, eviscerados, resfriados), ou ainda
transportados para unidades de beneficiamento visando agregar
valor ao produto, que pode chegar ao consumidor final sob várias
formas de apresentação: filetados, salgados, secos, defumados,
embutidos, etc. sendo os filés, frescos ou congelados sem a pele,
os produtos de maior demanda pelos consumidores. Quando
colocados no mercado em embalagens apropriadas, atrativas e
com informações aos consumidores, esses filés podem alcançar
até 4 vezes o preço do peixe in natura.

Retirada de gaiola para despesca

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. . . . . . . . VI. CIRCUITO
. . . . .DE. TECNOLOGIAS
. . . . . . .ADAPTADAS
. . . . . PARA
. . .A .AGRICULTURA
. . . . . .FAMILIAR
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Peixes acondicionados para comercialização

Exemplares de tilápias cultivadas

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CULTIVO DE TILÁPIAS EM GAIOLAS

10.REFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, A.C.A. Relatório de Atividades do Treinamento Sobre


Cultivo de Tilápias em Gaiolas. Relatório Interno de Viagem, 22pp.
2000.

BARBOSA, A.C.A.; ALMEIDA, L. D.L.; FONSECA, R. B. Cultivo de


Tilápia Nilótica em gaiolas flutuantes na Barragem de Assu-RN-
Boletim de Pesquisa EMPARN, nº 27, 22pp. 2000.

BARBOSA, A.C.A.; ALMEIDA, L. D.L.; FONSECA, R. B. Dados não


publicados. 2000.

BARBOSA, A.C.A.; ALMEIDA, L. D.L.; FONSECA, R. B. Avaliação de


Diferentes Seqüências de Arraçoamento no Desenvolvimento de
Tilápias Cultivadas em Gaiolas Boletim de Pesquisa e Desenvolvi-
mento EMPARN, nº31 , 14 pp. 2005

KUBITIZA, F. Nutrição e Alimentação dos Peixes Cultivados. 3° Ed.


122pp. 1999.

MESQUITA, P.E.C. Mesa redonda: Efeito das Variações Climáticas


e as Medidas Preventivas para a Piscicultura em Tanques-rede –
Anais do XII Seminário Nordestino de Pecuária – 1 pp. 2008

SCHMITTOU, H.R. Produção de Peixes em Alta Densidade em


Tanques-Rede
de Pequeno Volume. ASA – Associação Americana de Soja. 79
pp, 1993.

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