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A ORQUESTRA DO IMPERIAL TEATRO SÃO

PEDRO D’ ALCÂNTARA: O FINAL DO


PRIMEIRO REINADO (1830-1831)

Antonio J. Augusto
antoniojaugusto@gmail.com
“Olha a surra, fora chapéus franceses,
fora” Esta documentação, ao lado dos
registros em periódicos, poderia então
promover algumas elucidações,
principalmente em torno de um aspecto
que particularmente nos interessa: a
orquestra do Teatro, sua relação com a
direção que comandava o espaço e o
papel que ocupava em uma forte
sociedade hierarquizada. Também é
instigante perceber como a mudança de
função do espaço público do teatro de
local de ostentação do poder
monárquico para palco de contestação
e manifestação que muitas vezes fugiam
ao controle das autoridades poderia ser
um fator ser agregado nas profundas
mudanças que ocorreriam no âmbito
musical nas próximas décadas.
As fontes: Arquivo Nacional
Instruções que devem reger os empregados do
Imperial Teatro de S. Pedro d’ Alcântara
Ele era o responsável por sugerir
alterações ou mudanças nas óperas a
serem encenadas, atento às limitações
técnicas dos cantores. Era o
responsável por arregimentar a
orquestra, escolhendo entre os
melhores músicos disponíveis e fixando
os valores que cada um receberia, bem
como as multas por falhas cometidas.
O Mestre de Música supervisionava os
trabalhos do arquivista, do copista e do
ponto e tinha o poder de demitir e
indicar quem lhe aprouvesse para
assumir essas funções.
histórias de transposições
“Importa, meus senhores, e importa muito, que os
tenores sejam tenores, ou do contrário não se
precisa deles. (...) Como, pois não importa que a
parte de tenor em uma ópera seja desempenhada
por um cantor que não tenha os requisitos
necessários? E se é isso indiferente, os baixos
podem também cantar as partes de sopranos,
contanto que as transportem uma terça ou uma
sexta abaixo, e que vistam saia! Com esta sábia
resolução muito devem lucrar, sem dúvida, os
diretores dos teatros, porque não se verão nunca
embaraçados por falta de cantores apropriados;
basta que tenham um transpositor para arranjar a
música de modo que possa ser cantada pela gente
que houver nas companhias, e tudo irá muito bem.
É verdade que assim as óperas não seriam as
mesmas, e talvez os próprios compositores se as
ouvissem não as reconhecessem; mas isso que
importa?” (Pena, 1965, p. 43)
Relação de
Artistas e
Empregados
do Imperial
Teatro
Receitas e despesas do Imperial Teatro. Maio e Junho de 1830. Valor
pré-fixado pela direção do Imperial Teatro para uma récita comum da orquestra era de 56$440
(cinquenta e seis mil e quatrocentos e quarenta réis).

Receitas e Despesas do Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara, sendo diretores os Exmos. Srs. Joaquim
José de Siqueira e José Bernardes M onteiro Guimarães. 30 de junho de 1830
De s pe zas
Ordenado dos Empregados, e das Companhias Nacional e de Dança 3:951$730
Diarias de espetáculo 409$140
Orquestra 673$350
Vestuário, ornamentos 747$130
Calçado 51$440
Iluminação 555$000
Seges 147$000
Música 87$200
Obras 384$7000
Despezas 370$080

Receitas e Despesas do Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara no mês de maio, sendo diretores os
Exmos. Srs. Joaquim José de Siqueira e José Bernardes M onteiro Guimarães. 31 de maio de 1830
De s pe zas
Ordenado dos Empregados, e das Companhias Nacional e de Dança 3:674$120
Diarias de espetáculo 575$720
Orquestra 741$760
Iluminação 700$000
Vestuário 922$340
Calçado 80$960
Obras 476$890
Seges 165$000
Despezas 321$230
Lista da Orquestra
do Imperial Teatro
de São Pedro
d’Alcântara
Quatro níveis: a) 1º violino,
4$800; b) primeiras
posições, 2$400; c)
músicos de fila, 2$000; e d)
segundas posições, 1$800.
O vencimento de um
professor de orquestra do
Imperial Teatro orbitava
entre 21$600 e 28$800,
mesmo patamar dos
figurantes da Companhia
de Dança. A exceção:
primeiro violino, valor de
57$600, compatível com o
último ator da Companhia
Nacional.
Uma noite de gala para Amélia de Leuchtenberg: La
Gazza Ladra A nossa jovem Imperatriz completou seus 18 anos no sábado 31 de julho, e
por tão plausível motivo tiveram lugar na Corte todas as solenidades
próprias de tais dias. Ao despontar da aurora, ao meio dia e ao pôr do sol,
salvaram todas as fortalezas e navios de guerra surtos no porto, e se
embandeiraram com profusão. A uma hora da tarde chegou no Paço da
Cidade Sua Majestade a D. Maria II, em grande estado, e pouco depois
S.S.M.M.I.I., igualmente em grande estado, e acompanhados pela Imperial
Guarda de Honra. Seriam duas horas mais ou menos quando começou o
beija-mão, a que haviam concorrido os Ministros das Potencias
Estrangeiras, nobreza, magistratura, oficialidade de mar e terra, e um
extraordinário número de pessoas distintas, cujas ricas equipagens cobriam
todo o largo do Paço, Praça da Assembleia, princípio da rua Direita, etc. A
noite S.S. M.M. e A. A. I.I. e S. M. a Rainha de Portugal honraram o
Teatro de São Pedro de Alcântara que se achava ricamente adornado: na
frente dos camarotes (novamente forrados de ricos papéis) haviam
bambinelas de sedas cor de rosa e brancas entrelaçadas com gosto.
Iluminavam a sala cinco riquíssimos lustres de cristal, e um número
prodigioso de lampiões novos, cujas luzes refletindo sobre os brilhantes da
Ordem nobre, e Imperial Tribuna, tornavam a perspectiva mais
arrebatadora. (...) tocou a orquestra o Hino Nacional, findo o qual seguiu
se um drama alegórico, que rematou com a aparição de uma pirâmide em
cujo centro se lia o idolatrado nome de Brasil e as firmas de S. S.M.M.I.I.
que deram motivo a redobrarem-se os Vivas ainda com maior entusiasmo.
A Companhia Italiana representou a Gazza Ladra, excelente peça de
música, rematando o espetáculo com a nova e aparatosa dana a Esposa
Europeia. (Jornal do Comércio, 1830)
Lista dos
participan
tes dos
ensaios
Gazza
Ladra
Novas possibilidades
Correio Mercantil, 27 de outubro de 1830

Correio Mercantil,
24 de dezembro de 1830

Jornal do Comércio, 28 de outubro de 1830


Imperial Teatro São Pedro d’ Alcântara

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