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Antonio J. Augusto
antoniojaugusto@gmail.com
“Olha a surra, fora chapéus franceses,
fora” Esta documentação, ao lado dos
registros em periódicos, poderia então
promover algumas elucidações,
principalmente em torno de um aspecto
que particularmente nos interessa: a
orquestra do Teatro, sua relação com a
direção que comandava o espaço e o
papel que ocupava em uma forte
sociedade hierarquizada. Também é
instigante perceber como a mudança de
função do espaço público do teatro de
local de ostentação do poder
monárquico para palco de contestação
e manifestação que muitas vezes fugiam
ao controle das autoridades poderia ser
um fator ser agregado nas profundas
mudanças que ocorreriam no âmbito
musical nas próximas décadas.
As fontes: Arquivo Nacional
Instruções que devem reger os empregados do
Imperial Teatro de S. Pedro d’ Alcântara
Ele era o responsável por sugerir
alterações ou mudanças nas óperas a
serem encenadas, atento às limitações
técnicas dos cantores. Era o
responsável por arregimentar a
orquestra, escolhendo entre os
melhores músicos disponíveis e fixando
os valores que cada um receberia, bem
como as multas por falhas cometidas.
O Mestre de Música supervisionava os
trabalhos do arquivista, do copista e do
ponto e tinha o poder de demitir e
indicar quem lhe aprouvesse para
assumir essas funções.
histórias de transposições
“Importa, meus senhores, e importa muito, que os
tenores sejam tenores, ou do contrário não se
precisa deles. (...) Como, pois não importa que a
parte de tenor em uma ópera seja desempenhada
por um cantor que não tenha os requisitos
necessários? E se é isso indiferente, os baixos
podem também cantar as partes de sopranos,
contanto que as transportem uma terça ou uma
sexta abaixo, e que vistam saia! Com esta sábia
resolução muito devem lucrar, sem dúvida, os
diretores dos teatros, porque não se verão nunca
embaraçados por falta de cantores apropriados;
basta que tenham um transpositor para arranjar a
música de modo que possa ser cantada pela gente
que houver nas companhias, e tudo irá muito bem.
É verdade que assim as óperas não seriam as
mesmas, e talvez os próprios compositores se as
ouvissem não as reconhecessem; mas isso que
importa?” (Pena, 1965, p. 43)
Relação de
Artistas e
Empregados
do Imperial
Teatro
Receitas e despesas do Imperial Teatro. Maio e Junho de 1830. Valor
pré-fixado pela direção do Imperial Teatro para uma récita comum da orquestra era de 56$440
(cinquenta e seis mil e quatrocentos e quarenta réis).
Receitas e Despesas do Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara, sendo diretores os Exmos. Srs. Joaquim
José de Siqueira e José Bernardes M onteiro Guimarães. 30 de junho de 1830
De s pe zas
Ordenado dos Empregados, e das Companhias Nacional e de Dança 3:951$730
Diarias de espetáculo 409$140
Orquestra 673$350
Vestuário, ornamentos 747$130
Calçado 51$440
Iluminação 555$000
Seges 147$000
Música 87$200
Obras 384$7000
Despezas 370$080
Receitas e Despesas do Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara no mês de maio, sendo diretores os
Exmos. Srs. Joaquim José de Siqueira e José Bernardes M onteiro Guimarães. 31 de maio de 1830
De s pe zas
Ordenado dos Empregados, e das Companhias Nacional e de Dança 3:674$120
Diarias de espetáculo 575$720
Orquestra 741$760
Iluminação 700$000
Vestuário 922$340
Calçado 80$960
Obras 476$890
Seges 165$000
Despezas 321$230
Lista da Orquestra
do Imperial Teatro
de São Pedro
d’Alcântara
Quatro níveis: a) 1º violino,
4$800; b) primeiras
posições, 2$400; c)
músicos de fila, 2$000; e d)
segundas posições, 1$800.
O vencimento de um
professor de orquestra do
Imperial Teatro orbitava
entre 21$600 e 28$800,
mesmo patamar dos
figurantes da Companhia
de Dança. A exceção:
primeiro violino, valor de
57$600, compatível com o
último ator da Companhia
Nacional.
Uma noite de gala para Amélia de Leuchtenberg: La
Gazza Ladra A nossa jovem Imperatriz completou seus 18 anos no sábado 31 de julho, e
por tão plausível motivo tiveram lugar na Corte todas as solenidades
próprias de tais dias. Ao despontar da aurora, ao meio dia e ao pôr do sol,
salvaram todas as fortalezas e navios de guerra surtos no porto, e se
embandeiraram com profusão. A uma hora da tarde chegou no Paço da
Cidade Sua Majestade a D. Maria II, em grande estado, e pouco depois
S.S.M.M.I.I., igualmente em grande estado, e acompanhados pela Imperial
Guarda de Honra. Seriam duas horas mais ou menos quando começou o
beija-mão, a que haviam concorrido os Ministros das Potencias
Estrangeiras, nobreza, magistratura, oficialidade de mar e terra, e um
extraordinário número de pessoas distintas, cujas ricas equipagens cobriam
todo o largo do Paço, Praça da Assembleia, princípio da rua Direita, etc. A
noite S.S. M.M. e A. A. I.I. e S. M. a Rainha de Portugal honraram o
Teatro de São Pedro de Alcântara que se achava ricamente adornado: na
frente dos camarotes (novamente forrados de ricos papéis) haviam
bambinelas de sedas cor de rosa e brancas entrelaçadas com gosto.
Iluminavam a sala cinco riquíssimos lustres de cristal, e um número
prodigioso de lampiões novos, cujas luzes refletindo sobre os brilhantes da
Ordem nobre, e Imperial Tribuna, tornavam a perspectiva mais
arrebatadora. (...) tocou a orquestra o Hino Nacional, findo o qual seguiu
se um drama alegórico, que rematou com a aparição de uma pirâmide em
cujo centro se lia o idolatrado nome de Brasil e as firmas de S. S.M.M.I.I.
que deram motivo a redobrarem-se os Vivas ainda com maior entusiasmo.
A Companhia Italiana representou a Gazza Ladra, excelente peça de
música, rematando o espetáculo com a nova e aparatosa dana a Esposa
Europeia. (Jornal do Comércio, 1830)
Lista dos
participan
tes dos
ensaios
Gazza
Ladra
Novas possibilidades
Correio Mercantil, 27 de outubro de 1830
Correio Mercantil,
24 de dezembro de 1830