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INTRODUÇÃO
Estudos experimentais relativamente recentes têm demonstrado a preocupação em medir
calor específico de líquidos e sólidos para fins pedagógicos (MATTOS & GASPAR, 2003;
WELTNER & MIRANDA, 1998). Diferentemente da maioria das abordagens, SIMONI & JORGE
(1990) não utilizaram um termômetro de laboratório, mas sim um termistor como sensor elétrico de
temperatura em um circuito do tipo ponte de Wheatstone. Termistores são dispositivos
semicondutores que podem exibir um coeficiente negativo de resistência com a temperatura (NTC),
e geralmente são utilizados para medidas precisas de temperatura entre –50ºC a +300ºC
(HOROWITZ & HILL, 1989). Em geral, não é difícil desenhar um circuito elétrico contendo um
termistor NTC cuja tensão de saída é aproximadamente linear com a temperatura. Neste trabalho,
utilizou-se um termistor NTC de 10 kΩ (a 25ºC) em série com um resistor de carbono de 10 kΩ.
Esse sistema apresenta uma tensão de saída linear à temperatura ambiente, o que é desejável, neste
caso em particular, uma vez que as temperaturas a serem medidas são desta ordem. Com esse
sistema, variações de temperatura podem ser medidas como uma alternativa ao termômetro de
laboratório do tipo líquido-em-vidro. Para este estudo, utilizou-se o polietilenoglicol 400, que é um
líquido viscoso à temperatura ambiente com peso molecular 400 g/mol e formado por moléculas
poliméricas, cujo calor específico molar à temperatura ambiente é cerca de 840 Jmol-1 K-1 .
Polietilenoglicóis têm suas aplicações mais importantes na indústria farmacêutica, na indústria
cosmética e na indústria alimentícia (CLARIANT FUNCTIONAL CHEMICALS, 2002). O alto
valor do calor específico molar do polietilenoglicol 400 torna este composto uma substância
interessante para realização de estudos calorimétricos para fins pedagógicos, uma vez que o
equilíbrio térmico é de fácil determinação, potencializando sua aplicação em experimento didático.
O valor obtido neste estudo para o calor específico molar dessa substância foi corrigido, medindo-se
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MATERIAIS E MÉTODOS
Calibração do termômetro
O termômetro a ser calibrado consiste de um circuito elétrico série contendo um termistor
NTC de 10 kΩ, um resistor de filme de carbono de 10 kΩ e uma fonte de alimentação regulada em
5,20 V (circuito do termômetro). Um termômetro de laboratório de álcool-em-vidro graduado entre
–10ºC...+50ºC, com resolução de 0,1ºC, foi utilizado como padrão para esta calibração. O
termômetro de álcool em vidro e o termistor (ligado ao circuito do termômetro) foram mergulhados
no interior de um béquer de vidro de 250 ml contendo água previamente aquecida. A mudança da
temperatura da água foi medida a cada 0,5ºC no termômetro de álcool-em-vidro entre, 32ºC a
15,5ºC. Para cada leitura da temperatura no termômetro de álcool em vidro, foi efetuada a leitura da
tensão correspondente em um voltímetro (fundo de escala de 20V) em paralelo com o resistor de
carbono. A curva de calibração do termômetro foi obtida a partir de um ajuste linear pelo método de
mínimos quadrados aos dados experimentais de temperatura, em graus Celcius, e tensão, em volt.
Capacidade calorífica do calorímetro
A capacidade calorífica do calorímetro pode ser obtida pela diferença entre a razão da
quantidade de calor liberada pela resistência de aquecimento e a mudança de temperatura ∆t
medida, e a capacidade calorífica da quantidade de líquido,
Ccal = qR/∆t – (ml /M)cp ,l (1)
em que Ccal é a capacidade calorífica do calorímetro em J/K, qR é a quantidade de calor em J, ∆t é a
mudança de temperatura em K, ml é a massa do líquido em gramas, M é a massa molecular do
líquido em g/mol, e cp,l é o calor específico molar do líquido à pressão constante em Jmol-1 K-1 . Para
efetuar as medidas necessárias, foi utilizada uma garrafa térmica com capacidade de 250 ml como
vaso calorimétrico, cuja tampa foi preparada com um agitador mecânico, um pequeno orifício, e
dois bornes para alimentar uma resistência de aquecimento de níquel-cromo, interna à garrafa. Foi
utilizado um volume de 150 ml de água destilada como líquido para aferição da capacidade
calorífica do calorímetro. Com a tampa fechada e com o conteúdo de água destilada no seu interior,
introduziu-se o termistor (ligado ao circuito do termômetro) através do orifício, e após cerca de 10
min. com agitação moderada, a medida da tensão inicial foi efetuada no voltímetro. A seguir, o
circuito de aquecimento contendo a resistência de níquel-cromo foi alimentado por uma fonte de
tensão regulada em 5,99 V (constantemente monitorada por meio de um segundo voltímetro
conectado em paralelo aos bornes da fonte) por 5 min, e a medida de corrente efetuada no
amperímetro em série neste circuito. Transcorridos cerca de 10 min, sob agitação moderada, a
medida da tensão final foi efetuada com o voltímetro correspondendo à medida de temperatura do
equilíbrio térmico. A curva de calibração foi, então, utilizada para aferir as temperaturas inicial e
final e calcular a mudança de temperatura. Foram efetuados mais 4 ensaios independentes para
medidas da tensão inicial, Vi, e final, Vf, com os circuitos do termômetro e aquecimento, e a curva
de calibração foi novamente utilizada para a conversão das medidas de tensão para medidas de
temperatura inicial, ti, e final, tf, e então, calculadas as respectivas mudanças de temperatura, ∆t. A
seguir, a conversão direta das medidas de ∆t de ºC para K foi realizada.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para temperaturas próximas à temperatura ambiente e em uma faixa de variação pequena,
um comportamento linear é observado para a tensão como resposta a mudanças de temperatura a
que o termistor fica submetido. A curva de calibração do termômetro obtida por regressão linear é
expressa através da equação
t (ºC)= –22,848 + 17,659V. (3)
As medidas obtidas de Vi, Vf e da corrente I para as estimativas da capacidade calorífica do
calorímetro e do calor específico molar do polietilenoglicol, estão listadas na Tabela 1. Os
resultados obtidos para as mudanças de temperatura ∆t, obtidos a partir da curva de calibração
(Equação 3) para obter ti e tf, foram utilizados nas Equações 1 e 2 para estimar a capacidade
calorífica do calorímetro e o calor específico molar do polietilenoglicol. Essas estimativas, para os 5
ensaios utilizados, e os respectivos resultado médio e desvio padrão, estão mostrados na Tabela 1. A
quantidade de calor qR liberada por aquecimento da resistência foi obtida, fazendo-se o produto da
tensão de alimentação do circuito de aquecimento (5,99 V) pela corrente I no circuito no intervalo
de tempo de 300 s, para as estimativas da capacidade calorífica do calorímetro, e 180 s, para as
estimativas do calor específico molar do polietilenoglicol. As seguintes considerações foram feitas:
(a) massa molecular da água de 18,01 g/mol; (b) a massa em gramas de água obtida como o produto
do volume utilizado (150 ml) pela densidade da água à temperatura ambiente de 0,99075 g/ml
(NIST CHEMISTRY WEBBOOK, 2003); (c) cp,l da água à temperatura ambiente de 75,328 J mol-
1 -1
K (NIST CHEMISTRY WEBBOOK, 2003), (d) masssa molecular do polietilenoglicol de 400
g/mol; (e) a massa em gramas utilizada de polietilenoglicol 400 obtida como o produto do volume
utilizado (150 ml) e da densidade do líquido à temperatura ambiente de 1,126 g/ml (CLARIANT
FUNCTIONAL CHEMICALS, 2002). O desvio percentual do resultado médio obtido neste estudo,
relativo ao resultado médio experimental, é de 5,8%, e o desvio-padrão indica que houve
reprodutibilidade das medidas realizadas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido a grande solubilidade do polietilenoglicol 400 em água e a contração de volume
esperada para esta mistura binária (CLARIANT FUNCTIONAL CHEMICALS, 2002), a obtenção
da entalpia de dissolução para esta reação exotérmica, com o sistema elétrico de medida de
temperatura utilizado, é outra aplicação didática interessante.
AGRADECIMENTOS
Apoio financeiro da PRPGP/UNIFRA, através do Projeto de Pesquisa “A Física no Ensino
Médio: uma proposta de trabalho pedagógico em termodinâmica e seus processos” (Edital
002/2004), e do Programa PROBIC/UNIFRA (Edital 08/2003).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CLARIANT FUNCTIONAL CHEMICALS. Your universally applicable Polymer: Polyethylene Glycols / Macrogols
for the pharmaceutical and cosmetic industry. Edition 2002.
HOROWITZ, P.; HILL, W. The art of electronics. 2. ed. Cambridge: University Press. 1989.
MATTOS, C.; GASPAR, A. Uma medida de calor específico sem calorímetro. Revista Brasileira de Ensino de
Física, v. 25, n.1, 2003.
NIST CHEMISTRY WEBBOOK. 2003. Thermophysical properties of fluid systems .
http://webbook.nist.gov/chemistry/fluids. jun/2004, jul/2004, Set/2004.
SIMONI, J. A.; JORGE, R. A. Um calorímetro versátil e de fácil construção. Química Nova, v.13, n.2, p.108-111.
1990.
WELTNER, K.; MIRANDA, P. O caldeirão como calorímetro em classe. Revista Brasileira de Ensino de Física, v.
20, n.3, 1998.