PUCRS- Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Nome: Pedro Alcântara Soares Ghisio
Data: 31/05/2019
Turma: 149
Disciplina: História Contemporânea (Era das Revoluções)
Questões do texto 2, sobre Nacionalismo:
A) Existem semelhanças entre o pensamento de René Rémond e Isaak Kramnick assim
como divergências, no que tange a ideia de autoconsciência que uma nação tem de si mesmo no processo histórico, afinal, a nação se forma a partir do contato com o outro, com o estrangeiro. Além disso, o nacionalismo era plural e entrava em composição com vários tipos de filosofias políticas do período. René atenta para o fato de que o nacionalismo do século XIX é diferente, como conceito, do nacionalismo exacerbado da Alemanha nazifascista e da Itália fascista dos anos 30. Pois aqui, o que se estuda são as características que formam a consciência nacional, a ideia de nação e as coisas em comum que unem um povo frente ao outro. O nacionalismo integra diretamente as mentalidades, o modo de pensar e perceber-se a si mesmo como individuo singular perante outro, como dito neste trecho: “O fenômeno, portanto, não conta como força, se não torna um fator de mudança senão a partir do momento em que passa a se integrar no modo de pensar, de sentir, em que pensa a ser percebido como um fato de consciência, um fato de cultura”(pág. 150). O trabalho da formação nacional, para ele, é um movimento feito por intelectuais, linguistas, historiadores, filósofos e etc, como foi citado no primeiro parágrafo da página 150: “Como tal, ele interessa a todo o ser, ele se endereça a todas as faculdades do indivíduo, a começar pela inteligência”. Se esse trabalho intelectual é feito a partir de cima, também envolve interesses políticos e econômicos das elites dominantes de determinado país, como a burguesia italiana que desejava a unificação do país pois acreditava no potencial econômico do território. Como fenômeno universal, a ideia nacional no XIX não tem caráter uniforme e determinado, mas entra em confluência com diversas correntes intelectuais e ideológicas dependendo de cada contexto. É correto, portanto, falar em diversos nacionalismos plurais e diversos, como dito no segundo parágrafo da página 152: “A ideia nacional, por sua necessidade de se associar a outras ideias políticas, de se amalgamar com certas filosofias, pode entrar, por isso, em combinações diversas, que não são predeterminadas. A ideia nacional pode-se dar bem, indiferentemente, com uma filosofia de esquerda ou uma ideologia de direita.” Já Isaak aponta para o fato de que é difícil identificar as causas da formação de uma nação e a ideia de coletividade, mas assemelha-se a René no que concerne na composição do nacionalismo como plural, mas que apesar disso tem um passado e experiencia em comum que os une, como dito nesse trecho: “Uma nação é um grupo que por uma razão qualquer, é tão consciente de sua individualidade que rejeita ser governada por estrangeiros e exige um Estado soberano próprio. (pág. 38)” Outro ponto que divergem ambos os autores estão no fato que o nacionalismo se associa diretamente a ascensão da ideologia e dos interesses políticos, valores idealizados frente ao cosmopolitismo e universalismo francês, mas que convergem para interesses estritamente territoriais. Para Isaak: “Apesar de suas origens obscuras, o crescimento do nacionalismo está claramente associado à ascensão da ideologia. Embora os rudimentos do sentimento nacional tenham raízes muito mais antigas, seu desenvolvimento foi entravado por um forte sentido de respeito à autoridade tradicional”. Enquanto para René, o nacionalismo não nasce como ideologia, mas adota diversos tipos de correntes intelectuais, justamente por ser mais antigo e complexo do que os mesmos: “O fato nacional, sem dúvida porque se estende por um período mais longo do que o de cada uma das outras três correntes, provavelmente também porque diz respeito a países muito diferentes uns dos outros, não é marcado por nenhuma ideologia determinada, não tem nenhum laço substancial com nenhuma dessas três ideologias, não tem uma cor política uniforme.”
B) A fonte do nacionalismo está em correntes radicais do período revolucionário, do
romantismo, historicismo (tradicionalismo) assim como se utiliza de pensadores iluministas. Para René, por questões de efeitos, a revolução francesa influencia, de seus princípios de 1789, o nacionalismo moderno no sentido em que a renegação completa do passado e da prisão com o antigo regime quebra a lógica do estamento de ordem ou da sociedade hierárquica, distanciando-se daquela realidade e criando um novo futuro, sendo este indeterminado ou indefinido, como diz no primeiro parágrafo da página 158: “A soberania da nação não se restringe apenas à ordem interna: ela tem consequências também nas relações externas. O direito dos povos de dispor de si mesmos é o prolongamento da liberdade individual e da soberania nacional. A revolução age também por sua inspiração, que tende a negar o passado, a recusar-lhe legitimidade, que derruba não só os edifícios históricos, a ordem social do antigo regime, mas também as estruturas políticas dos monarcas...”. A revolução também desencadeia um efeito de patriotismo não só na própria França, mas também em outros lugares com as guerras napoleônicas, crescendo o sentimento nacional de expulsar o estrangeiro, o diferente daquele patriota, como citado no último parágrafo da página 158: “A Revolução age, enfim, pelas reações que provoca, e é talvez essa forma de ação que mais contribuiu para o despertar do sentimento nacional.” René menciona então uma segunda fonte para o nacionalismo, que inverte a lógica da revolução em relação a construção do imaginário de uma comunidade, que é o historicismo. O historicismo ou tradicionalismo, inspira a tomada de consciência dos particularismos culturais de determinada sociedade, dá ênfase a singularidade de cada território, reforçando as diferenças por conta de suas diferentes experiencias passadas. O romantismo é um influencia intelectual dessa segunda corrente do nacionalismo, ao mesmo tempo em que a língua, como efeito mental, acaba eliminando gradualmente os dialetos locais e impondo uma língua oficial através do historicismo. Tanto a história, quanto a língua e até mesmo a religião, são pontos de apoio e confronto no processo de integração cultural da comunidade, buscando apoio nas forças tradicionais que são responsáveis pela coesão social, como autor diz: “Se da abordagem intelectual passarmos para a abordagem sociológica, essa segunda corrente do nacionalismo, precisamente porque exalta as tradições históricas e se relaciona com um passado aristocrático, feudal e religioso, irá buscar apoio nas forças sociais tradicionais. (pág.156)” Para Isaac, o nacionalismo estava em constante conflito e contradição tanto com o liberalismo e com o conservadorismo, ou seja, ao contrário de René, tradicionalismo e valores liberais não eram aliados passíveis da vontade geral do povo, como Isaac justifica: “O problema está em que o nacionalismo é essencialmente democrático, um apelo à vontade do povo; e a vontade do povo não é necessariamente conservadora. O nacionalismo típico está disposto a grandes sacrifícios, inclusive o sacrifício de valores tradicionais, pelo poder e pela união da nação. (pág. 39)” Para ele, valores conservadores e nacionalistas estavam em constante conflito, principalmente por conta da Santa Aliança, uma manifestação conservadora perante as mudanças do inicio do século XIX. Se o conservadorismo era distante disso, o seu real beneficiário seria o liberalismo, sendo que ambos, liberais e nacionalistas, tinham pontos em comum. O principal deles estava no fato de querer libertar sua terra de uma dominação estrangeira (princípio de autogoverno), confluindo princípios da liberdade individual e do direito de governo nacional. Porém, para Isaac, o liberalismo também tinha suas contradições perante o nacionalismo, sendo inconsistente no seus aspectos superficiais, como diz nesse trecho: “Do ponto de vista liberal, o principio da autodeterminação nacional só era admissível na hipótese de que todas as nações libertadas respeitassem as liberdades individuais e reduzissem ao mínimo as funções do governo. Tal premissa, no entanto, era precária na realidade e duvidosa mesmo em teoria. A essência no nacionalismo, afinal de contas, é a crença em que os interesses da nação são mais importantes que os de qualquer indivíduo em que o governo é um fator indispensável à expressão de tais interesses. (pág.40)” Para ambos os autores, portanto, o nacionalismo é gerado de forma diferente, sendo que para Isaac primeiro os países se utilizam dos valores conservadores para se afirmarem como nação (Ex: Alemanha, Itália, França...), e René acredita que o nacionalismo se cria a partir de uma premissa liberal em que constrói seu próprio futuro se desprendendo justamente daquilo que o aprisionava no passado, o estamento de ordem.