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ACÓRDÃO
Documento: 1266615 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2014 Página 1 de 6
Superior Tribunal de Justiça
Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade
dos votos e das notas taquigráficas a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr.
Ministro João Otávio de Noronha, renovou-se o julgamento. Após a sustentação oral, a Terceira por
maioria, dar parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro João Otávio
de Noronha, que lavrará o acórdão. Vencidos os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Paulo de Tarso
Sanseverino. Votaram com o Sr. Ministro João Otávio de Noronha, os Srs. Ministros Ricardo Villas
Bôas Cueva e Marco Aurélio Bellizze.
Relator
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.381.606 - DF (2013/0058831-6)
RELATÓRIO
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.381.606 - DF (2013/0058831-6)
VOTO
I. Do sobrestamento do processo.
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1.149.594/RS e 1.142.490/RS, Rel. Min. Luiz Fux e Castro Meira, DJe de 08.11.2010,
consolidou o entendimento de que o reconhecimento da repercussão geral pelo STF, com fulcro
no artigo 543-B, do CPC, não tem o condão de sobrestar o julgamento dos recursos especiais
pertinentes.
Isso porque, os artigos 543-A e 543-B do CPC asseguram apenas o
sobrestamento de eventual recurso extraordinário, interposto contra acórdão proferido pelo STJ
ou por outros tribunais, versando sobre controvérsia de índole constitucional cuja repercussão
geral tenha sido reconhecida pelo Pretório Excelso.
Em outras palavras, o sobrestamento do feito, ante o reconhecimento da
repercussão geral, configura questão a ser apreciada tão somente no momento do exame de
admissibilidade de eventual recurso dirigido ao STF.
Não se ignora o fato de que alguns Ministros integrantes da 4ª Turma têm optado
por determinar a baixa à origem de processos que se encontrem nessa situação, mas se trata de
decisão discricionária do Relator, conforme as peculiaridades de cada caso, sendo certo que na
espécie não se verifica nenhum motivo plausível a justificar o sobrestamento.
Diante disso, rejeito o pedido e prossigo no julgamento do recurso.
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No mais, pacífico no STJ o entendimento de que os aclaratórios, mesmo quando
manejados com o propósito de prequestionamento, são inadmissíveis se a decisão embargada
não ostentar os vícios que autorizariam a sua interposição.
Constata-se, em verdade, a irresignação da recorrente com o resultado do
julgamento e a tentativa de emprestar aos embargos de declaração efeitos infringentes, o que se
mostra inviável no contexto do art. 535 do CPC.
Na ótica da recorrente, o comando do art. 206, § 1º, II, “b”, do CC/02, incidiria
em “toda e qualquer pretensão do segurado contra o segurador”, ressalvando que “mesmo sendo
aplicável o prazo prescricional constante do § 3º do referido art. 206 em relação à pretensão
revisional, este não se aplica, de modo algum, à pretensão de devolução dos valores pagos pelos
segurados” (fl. 570, e-STJ).
A presente ação pretende seja reconhecida, à luz do Estatuto do Idoso e do CDC,
a abusividade de cláusula contratual, com o consequente ressarcimento dos segurados que
tiverem sido lesados.
Todavia, nenhuma dessas normas contém previsão específica acerca do prazo
prescricional aplicável à hipótese dos autos. Não se ignora a previsão contida no art. 27 do CDC,
mas seu campo de incidência fica restrito às ações de reparação de danos causados por fato do
produto ou do serviço, do que não se cogita na espécie.
Por outro lado – sendo o CDC lei especial para as relações de consumo – as
quais não deixam de ser, em sua essência, relações civis – e o Código Civil, lei geral sobre direito
civil, convivem ambos os diplomas legislativos no mesmo sistema, de modo que, em casos de
omissão da lei consumerista, afigura-se perfeitamente possível a aplicação do CC/02.
Não se olvide que o art. 7º do CDC caracteriza esse diploma legal como uma
codificação aberta, estabelecendo o denominado diálogo de fontes, de modo que toda lei que
garanta algum direito ao consumidor poderá se somar a seu microssistema.
Conforme anotam Cláudia Lima Marques, Antônio Herman Benjamin e Bruno
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Miragem, “o CDC é um sistema permeável, não exaustivo, daí determinar o art. 7º que se utilize a
norma mais favorável ao consumidor, encontre-se ela no CDC ou em outra lei geral, lei especial
ou tratado do sistema de direito brasileiro (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor.
São Paulo: RT, 2003, p. 185).
Em outras palavras, esse permeabilidade do CDC, voltada para proteger o sujeito
dos direitos fundamentais, ou seja, o consumidor, permite que o Código Civil, ainda que lei geral,
encontre aplicação nas relações de consumo, quando importante para a consecução dos
objetivos da norma consumerista.
Outro não é o entendimento do STJ, conforme se depreende dos seguintes
precedentes: REsp 995.995/DF, 3ª Turma, minha relatoria, DJe de 16.11.2010; e REsp
1.261.469/RJ, 3ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe de 19.10.2012.
Dessa forma, frente à lacuna existente, tanto no Estatuto do Idoso, quanto no
CDC, no que concerne ao prazo prescricional aplicável em hipóteses em que se pleiteia a
devolução de valores indevidamente cobrados, bem como considerando a subsidiariedade do
Código Civil às relações de consumo, deve-se aplicar, na espécie, o prazo prescricional de 03
anos previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC/02.
Aliás, a própria recorrente fundamenta sua tese recursal na aplicação subsidiária
do CC/02, divergindo apenas com relação a qual regra do art. 206 incidiria na hipótese específica
dos autos.
Nesse aspecto, ao contrário do que sustenta, o art. 206, § 1º, II, “b”, do CC/02
não se aplica a toda e qualquer pretensão do segurado frente à seguradora. A leitura do
dispositivo legal evidencia que este incide apenas em situações envolvendo sinistro.
Por outro lado, igualmente equivocada a sua alegação genérica – sem apontar a
qual inciso estaria se referindo – de que o prazo prescricional do art. 206, § 3, do CC/02 não se
aplicaria à pretensão de devolução dos valores pagos pelos segurados.
Como destacado pelo TJ/DF, essa pretensão se enquadra no inciso IV do art.
206, § 3º, do CC/02, relativo à pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa ou, ao
menos, no inciso V do mesmo parágrafo, relacionado à pretensão de reparação civil, ambas
sujeitas ao prazo prescricional de 03 anos.
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Seja como for, inexiste violação do art. 206, § 1º, II, “b”, do CC/02.
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No processo em julgamento, tem-se a controvérsia instaurada porque os fatos
nascidos na lei antiga, a partir, portanto, da pactuação, produzem efeitos sob a égide da lei nova.
Isso ocorre porque a previsão de reajuste contida na cláusula depende de um elemento básico
prescrito na lei, isto é, o direito está sujeito, conforme já mencionado, à ocorrência de um fato
futuro e incerto exigido pela lei, e o contrato só poderá operar seus efeitos, nesse ponto, quando
satisfeita a condição contratual e legal, qual seja, completar o segurado a idade de 60 anos.
Portanto, se o implemento da idade de 60 anos, que confere à pessoa a condição
jurídica de idosa, realizou-se sob a égide da Lei nova, não estará o consumidor usuário do plano
de saúde sujeito ao reajuste estipulado no contrato e permitido pela lei antiga. Estará amparado
pela Lei nova.
Diante disso, não se vislumbra violação do art. 6º da Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro (antiga LICC), porque a aplicação da Lei nova, no particular, não prejudica
o ato jurídico perfeito ou o direito adquirido.
A questão também deve ser apreciada à luz da própria natureza dos contratos de
assistência à saúde, perspectiva essa adotada no recente julgamento, por esta 3ª Turma, do REsp
1.228.904/SP, de minha relatoria, DJe de 08.03.2013, no qual se concluiu que “o surgimento de
norma cogente (impositiva e de ordem pública), posterior à celebração de contrato de trato
sucessivo, como acontece com o Estatuto do Idoso, impõe-lhe aplicação imediata, devendo
incidir sobre todas as relações que, em execução contratual, realizarem-se a partir da sua
vigência, abarcando os planos de saúde, ainda que firmados anteriormente à vigência do Estatuto
do Idoso”.
Os contratos de assistência à saúde envolvem a transferência onerosa de riscos
que possam afetar o futuro bem-estar físico e psicológico do segurado e seus dependentes,
mediante a prestação de serviços de assistência médico-ambulatorial e hospitalar, diretamente ou
por rede credenciada, ou ainda pelo simples reembolso das despesas.
Como característica principal, sobressai o fato de envolver execução periódica ou
continuada. Por se tratar de contrato de fazer de longa duração, que se prolonga no tempo, os
direitos e obrigações dele decorrentes são exercidos por prazo indeterminado e sucessivamente:
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mês a mês o consumidor efetua o pagamento das mensalidades para ter acesso à cobertura
contratualmente prevista, o que, em contrapartida, lhe assegura o direito de, também mês a mês,
ter prestada a assistência à saúde tal como estabelecida na lei e no contrato.
Dessarte, ao firmar o contrato de assistência à saúde, o consumidor tem como
objetivo primordial a garantia de que, no futuro, quando ele e/ou sua família necessitarem, será
dada a cobertura nos termos em que contratada. A operadora, por sua vez, a qualquer momento,
pode ser acionada, desde que receba mensalmente o valor estipulado na avença.
Portanto, também sob essa ótica – de os contratos de assistência à saúde serem
de trato sucessivo – não se verifica violação de ato jurídico perfeito ou de direito adquirido.
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idosos, tanto que em seu parágrafo único veda a variação de contraprestações pecuniárias
previstas no caput para consumidores com mais de 60 anos de idade detentores de planos
privados de assistência à saúde há mais de dez anos.
Não se ignora as ressalvas feitas pela recorrente quanto à álea e ao equilíbrio dos
contratos de assistência à saúde, mas a partir das considerações tecidas acima, constata-se que a
idade do segurado, notadamente o seu enquadramento na condição jurídica de idoso, não deve
ser tomada isoladamente como um fator objetivo de risco atribuível de maneira exclusiva ao
segurado individualmente considerado.
Embora seja indiscutível que, à medida que a idade avança, a chance de utilização
do plano de saúde aumenta, esse risco, a partir dos 60 anos de idade, deve ser diluído entre os
participantes mais jovens do grupo segurado, tendo em vista a maior catividade do idoso e,
principalmente, a importância social que a assistência à saúde tem para os mais velhos.
Em outras palavras, na realização dos cálculos atuariais, o aumento de custo
representado pelo incremento da idade para além dos 60 anos deve ser repartido entre todos os
segurados, de modo a que não haja sobrecarga de preço para os idosos.
Aliás, conforme se depreende da tabela transcrita na sentença, retirada da própria
cláusula contratual em discussão, esse raciocínio já vinha sendo aplicado pela recorrente, apenas
de forma diferida no tempo, isto é, ao invés dos aumentos cessarem aos 60 anos, eles cessam aos
70 anos de idade.
Ora, partindo do argumento da própria recorrente – de que, como o reajuste por
faixa etária advém da natureza do contrato, o aumento da idade implica inexorável elevação do
risco segurado – o seu contrato deveria prever novos aumentos para outras faixas etárias: de 70 a
79 anos, de 80 a 89 anos, e assim por diante.
E por que não há essa previsão? Justamente porque, a partir dos 70 anos, a
recorrente suspende os aumentos de prêmio por idade, sendo certo que, a partir daí, o inevitável
incremento de custos é, necessariamente, diluído entre os demais segurados.
Conclui-se, portanto, que o Estatuto do Idoso não inovou quando impôs que, a
partir de um dado momento, a elevação de custos advinda do envelhecimento dos segurados seja
suspensa (e consequentemente diluída entre os demais segurados). Na realidade, o legislador
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apenas fixou como marco inicial desse rateio a idade de 60 anos, fazendo coincidir, por
coerência, com o momento em que as pessoas passam a ser juridicamente consideradas idosas.
Nem se diga que a aplicação dessa premissa para grupos já existentes – derivada
da incidência imediata do Estatuto do Idoso – seria impossível, pois, dada a rotatividade dos
grupos, com a constante entrada e saída de segurados, nada impede a administradora de rever os
prêmios a serem pagos pelos novos aderentes ou, no limite, até mesmo promover a
reestruturação total do grupo, mediante demonstração da inviabilidade financeira de
implementação da política de distribuição dos custos decorrentes do aumento da idade.
Na realidade, ao que parece, há certa conveniência na metodologia de cálculo
empregada pelas operadoras, que privilegia o ingresso de novos segurados, mais jovens, ainda
que cobrando um prêmio menor, estimulando a saída dos segurados antigos, idosos, que, mesmo
pagando mais caro, representam elevado custo.
Seja como for, resta demonstrado que a incidência imediata do Estatuto do Idoso
não desvirtua a natureza dos contratos firmados antes da sua entrada em vigor, tampouco
prejudica de forma indelével o equilíbrio financeiro do grupo de segurados.
Em síntese, não se vislumbra violação dos arts. 6º da Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro (antiga LICC); 15 da Lei nº 9.656/98; e 51 do CDC.
Noto, por fim, que não se está aqui alçando o idoso à condição que o coloque
acima do sistema privado de planos de assistência à saúde, permanecendo ele sujeito a todo o
regramento emanado em lei e decorrente das estipulações dos contratos que entabular,
ressalvada a constatação de abusividade que, como em qualquer contrato de consumo que busca
primordialmente o equilíbrio entre as partes, restará afastada por norma de ordem pública.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SUL AMÉRICA COMPANHIA DE SEGURO SAÚDE
ADVOGADOS : FERNANDO NEVES DA SILVA E OUTRO(S)
ANTONIO CARLOS DANTAS RIBEIRO E OUTRO(S)
LUIS FELIPE FREIRE LISBOA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ADRIANA BARBOSA DE CASTRO E OUTRO(S)
ADVOGADOS : CRISTINA MARIA GAMA NEVES DA SILVA E OUTRO(S)
RAFAEL MAGALHÃES MARTINS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS CONSUMIDORES EXPLORADOS DO DISTRITO
FEDERAL
ADVOGADO : AUCELI ROSA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). GUILHERME VALDETARO MATHIAS, pela parte RECORRENTE: SUL AMÉRICA
COMPANHIA DE SEGURO SAÚDE
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto da Sra. Ministra Nancy Andrighi, negando provimento ao recurso especial,
pediu vista o Sr. Ministro João Otávio de Noronha.
Aguardam os Srs. Ministros Sidnei Beneti e Paulo de Tarso Sanseverino. Ausente,
justificadamente, o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.381.606 - DF (2013/0058831-6)
VOTO-VISTA
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Para tanto, a associação sustentou violação do art. 15, § 3º, da Lei n. 10.741/2003,
afirmando que essa lei revogou tacitamente o art. 15, parágrafo único, da Lei n. 9.656/1998.
A ação foi julgada procedente em primeira instância, e a sentença foi confirmada pelo
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
a) art. 535, II, do Código de Processo Civil já que houve omissão quanto à aplicação
retroativa da Lei n. 10.741/2003, sem que se tenha mencionado o ato jurídico perfeito e o direito
adquirido, questões interligadas à retroatividade da lei;
b) art. 6º da Lei de Introdução do Código Civil, pois o acórdão recorrido feriu o ato
jurídico perfeito e o direito adquirido;
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Superior Tribunal de Justiça
c) art. 51, VI, do Código de Defesa do Consumidor porquanto o reajuste por faixa etária
decorre da natureza do contrato;
d) arts. 15 e 35-E da Lei n. 9.656/1998 visto que os reajustes dos contratos sub judice
estão dentro dos parâmetros e limitações legais, observando-se, inclusive, a época de sua
comercialização;
e) arts. 206, § 1º, II, “b”, do Código Civil uma vez que o prazo prescricional para
restituição aos segurados dos valores pagos a maior é de um ano.
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Em relação aos ditos planos de saúde, que tomaram um vulto nos últimos anos, pois
preenchem as frestas deixadas pelo Estado na assistência à saúde, é certo, como afirmou a Ministra
relatora, que “passaram a ser imprescindíveis para a vida e conforto do homem, havendo grande
estímulo ao aparecimento desse tipo contratual, socialmente relevante e merecedor de respostas
equitativas do Judiciário quando provocado a se manifestar”.
Contudo, essa resposta do Judiciário deve ponderar uma série de questões, primando
pela legalidade do ajuste de forma ampla. Isso, todavia, não significa a flexibilização de normas
jurídicas a ponto de impor o que a lei não previu.
Concluiu a relatora que tal custo “deve ser diluído entre os participantes mais jovens do
grupo segurado, tendo em vista a maior catividade do idoso e, principalmente, a importância social
que a assistência à saúde tem para os mais velhos". Acrescenta: “[...] em outras palavras, na
realização dos cálculos atuariais, o aumento de custo representado pelo incremento da idade para
além dos 60 anos deve ser repartido entre todos os segurados, de modo a que não haja sobrecarga
de preço para os idosos”.
Ora, além de tal fundamento transbordar do objeto da lide, que não tratou da repartição
de custos dos planos, tal solução é impraticável num grupo de seguro-saúde já formado, o que, ao
fim, faria da prestação jurisdicional ofertada ineficaz.
Essa solução encontrada pela relatora, além de irregularmente redirecionar custos para
quem não foi parte na demanda, deixa de mensurar a capacidade contributiva dos demais
segurados.
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Caso se aumente um dos itens, de onde esse consumidor irá tirar dinheiro suficiente
para pagar o plano com custos maiores que os contratados? Essa conta vai desaguar em algum
lugar. No mínimo, o segurado irá reduzir as possibilidades de seu plano ou rescindi-lo. Em muitos
casos, desamparam-se uns (os mais jovens e suas famílias) para pretensamente amparar outros, isto
é, os mais velhos.
Essa é uma solução rasa para uma situação complexa que envolve vários elementos,
além de ultrapassar o objeto do presente feito.
Até agora, os planos de saúde são ajustados de forma que aquele que apresente maior
risco – na verdade, que mais se utiliza do plano –, arque com os custos disso. Tal fato não é
discriminatório, pois não se está onerando uma pessoa pelo simples fato de ser idosa, mas
por demandar mais do serviço ofertado.
A discriminação, que é ato coibido por lei, é fomentada pelo preconceito, o qual, por sua
vez, localiza-se na esfera da consciência do indivíduo e, ao ser externado, acaba por ferir direitos
positivos.
Nesse sentido, se considerado que os aumentos dos planos de saúde visam cobrir a
maior demanda, não se pode falar em discriminação, que somente existiria na hipótese de o aumento
decorrer, pura e simplesmente, do advento da idade. Aí sim, seria violado o art. 15, § 3º, do Estatuto
do Idoso.
Mas, na hipótese dos autos, o objeto restringe-se à análise da pretensa divergência entre
a Lei n. 9.656/1998 e o art. 15, § 3º, do Estatuto do Idoso, que veda a discriminação pela cobrança
de valores maiores no ditos planos de saúde.
Feitas essas considerações, volto ao objeto da minha divergência. Como afirmei, essa
matéria já foi decidida na Quarta Turma, sendo vencedor o voto do Ministro Raul Araújo, ao qual
somei o meu, e que utilizo como razão de decidir no presente feito. Confira-se o teor do julgado:
"De início, faz-se oportuna uma digressão sobre os contratos de seguro,
gênero no qual se inserem os seguros e planos de saúde.
O seguro, de acordo com Sérgio Cavalieri Filho 'é o contrato pelo qual o
segurador, mediante o recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a
obrigação de pagar-lhe uma determinada indenização, prevista no contrato, caso o
risco a que está sujeito se materialize em um Sinistro. Segurador e segurado
negociam as consequências econômicas do risco, mediante a obrigação do segurador
de repará-las' (in Programa de Direito do Consumidor, 2ª edição, pág. 214).
Ainda segundo o renomado autor, são três os elementos essenciais do seguro:
o risco, a mutualidade e a boa-fé.
O primeiro elemento divide-se em: a) risco objetivo, que traduz as
circunstâncias fáticas que envolvem a coisa ou a pessoa segurada, influindo na
probabilidade de ocorrência do evento danoso; e b) risco subjetivo, que se relaciona
com as características pessoais do segurado, definindo o seu perfil.
A mutualidade, por sua vez, caracteriza-se por ser o 'elemento econômico do
seguro'. Sobre tal elemento, ensina o ilustre autor que:
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gravame imposto.
Cabe, por isso mesmo, quanto a este aspecto, concluir: o critério
especificador escolhido pela lei, a fim de circunscrever os atingidos por uma
situação jurídica - a dizer: o fator de discriminação - pode ser qualquer elemento
radicado neles; todavia, necessita, inarredavelmente, guardar relação de
pertinência lógica com a diferenciação que dele resulta. Em outras palavras: a
discriminação não pode ser gratuita ou fortuita. Impende que exista uma
adequação racional entre o tratamento diferenciado construído e a razão diferencial
que lhe serviu de supedâneo. Segue-se que, se o fator diferencial não guardar
conexão lógica com a disparidade de tratamentos jurídicos dispensados, a
distinção estabelecida afronta o princípio da isonomia.' (in 'O Conteúdo Jurídico
do Princípio da Igualdade', Ed. Malheiros, 3a. ed. SP, 2010, p. 38)
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Ora, se não se reconhece a ilegalidade da cláusula contratual, igualmente
improcedente é o pedido de o julgador, atuando como legislador, fixar um percentual
determinado para os aumentos das mensalidades, de forma prospectiva e rígida, sem
levar em conta a dinâmica do contrato de trato sucessivo. Tal negócio, como cediço,
pode ser afetado por mudanças no complexo quadro fático que envolve a relação
jurídica de direito material a ser regulada pela decisão. Trata-se, assim, de pretensão
incompatível com o reconhecimento da legalidade das cláusulas impugnadas.
Evidentemente, como se deixou registrado acima, caso algum consumidor
segurado perceba abuso no aumento de sua mensalidade, em razão de mudança de
faixa etária, aí sim poder-se-á cogitar de ilegalidade, cujo reconhecimento autorizará
o julgador a revisar o índice aplicado, seja em ação individual ou coletiva.
Diante do exposto, conheço e dou provimento ao recurso especial, para julgar
improcedente a ação civil pública, invertendo-se os ônus sucumbenciais.
É como voto."
É como voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. LINDÔRA MARIA ARAÚJO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SUL AMÉRICA COMPANHIA DE SEGURO SAÚDE S/A
ADVOGADOS : FERNANDO NEVES DA SILVA E OUTRO(S)
ANTONIO CARLOS DANTAS RIBEIRO E OUTRO(S)
LUIS FELIPE FREIRE LISBOA E OUTRO(S)
ADVOGADA : ADRIANA BARBOSA DE CASTRO E OUTRO(S)
ADVOGADOS : CRISTINA MARIA GAMA NEVES DA SILVA E OUTRO(S)
RAFAEL MAGALHÃES MARTINS E OUTRO(S)
ASSISTENTE : FEDERAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - FENASAÚDE
ADVOGADOS : GUILHERME VALDETARO MATHIAS
ANDRÉ LUIZ SOUZA DA SILVEIRA
ANDRÉ TAVARES
LUIS FELIPE FREIRE LISBOA
SÉRGIO BERMUDES E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO DOS CONSUMIDORES EXPLORADOS DO DISTRITO
FEDERAL
ADVOGADO : AUCELI ROSA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Minsitro João Otávio de Noronha,
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renovou-se o julgamento. Após a sustentação oral, a Terceira Turma, por maioria, deu parcial
provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro João Otávio de Noronha, que
lavrará o acórdão. Vencidos os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Paulo de Tarso Sanseverino.
Votaram com o Sr. Ministro João Otávio de Noronha, os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva
e Marco Aurélio Bellizze.
Documento: 1266615 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 31/10/2014 Página 26 de 6