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CDU 373.2
A maneira como hoje vejo as crianças, como seres ativos, que podem se
tornar cada vez mais competentes para lidar com as coisas do seu mundo, se
tiverem oportunidades para isso, me faz defender algumas ideias que não são
absolutamente minhas, nem totalmente originais.
Ao considerarmos que vivemos em contextos culturais e históricos em
permanente transformação, podemos incluir aí também a ideia de que as crian-
ças participam igualmente desta transformação e, neste processo, acabam tam-
bém transformadas pelas experiências que vivem neste mundo extremamente
dinâmico. Portanto, penso que é de extrema importância nos darmos conta de
que as mudanças que ocorrem com a crianças, ao longo da infância, são mui-
to importantes e que algumas delas jamais se repetirão. Em razão disso, con-
sidero da maior relevância defender o direito da criança à sua infância, o que
tem sido negado a muitas delas.
Continuo pensando que a criança nos desafia porque ela tem uma lógica
que é toda sua, porque ela encontra maneiras peculiares e muito originais de
se expressar, porque ela é capaz através do brinquedo, do sonho e da fantasia
de viver num mundo que é apenas seu. Outro desafio que as crianças nos
fazem enfrentar é o de perceber o quanto são diferentes e que esta diferença
não deve ser desprezada nem levar-nos a tratá-las como desiguais.
Tudo isso leva-me a pensar que a experiência da educação infantil preci-
sa ser muito mais qualificada. Ela deve incluir o acolhimento, a segurança, o
lugar para a emoção, para o gosto, para o desenvolvimento da sensibilidade;
não pode deixar de lado o desenvolvimento das habilidades sociais, nem o
domínio do espaço e do corpo e das modalidades expressivas; deve privilegiar
o lugar para a curiosidade e o desafio e a oportunidade para a investigação.
Por tais razões, as instituições de educação infantil são hoje indispensá-
veis na sociedade. Elas tanto constituem o resultado de uma forma moderna
de ver o sujeito infantil quanto solução para um problema de administração
social, criado a partir de novas formas de organização da família e de partici-
pação das mulheres na sociedade e no mundo do trabalho.
Para além disso, porém, penso que as creches e pré-escolas vão ainda,
por muito tempo, constituir um importante espaço de “descoberta do mundo”
para um sem-número de crianças. Ora, cumprir esta responsabilidade social
de compartilhar com as crianças esta descoberta tão instigante não é pouca
coisa. Ela nos desafia, nos compromete e nos convoca. Cabe a nós a opção.
NOTAS
1
Estas condições de aparecimento da escola nacional são desenvolvidas de forma bastante
extensa por Varela e Álvarez-Uría, 1992.
22 Craidy & Kaercher
2
Com relação a este argumento ver também o texto de Jane Felipe: “O desenvolvimento
infantil na perspectiva sociointeracionista: Piaget, Vygotsky, Wallon”, nesta coletânea.
3
Cf. Forquin, 1993, p. 13.
4
Esta concepção de currículo foi bastante desenvolvida no Parecer da Faculdade de Educa-
ção da Ufrgs, 1996.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FELIPE, Jane. O desenvolvimento infantil na perspectiva sociointeracionista: Piaget, Vygotsky,
Wallon. Nesta coletânea.
FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
Parecer da FACED/UFRGS. Educação & Realidade, v. 21, n. 1, p. 229-241, jan./jun., 1996.
VARELA, Júlia; ALVAREZ – URIA, Fernando. A maquinaria escolar. Teoria & educação, v. 6,
p. 68-96, 1992.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.