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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

Av. de Moçambique Km 1, Campus de Lhanguene, Caixa Postal 4040, Tel. 823050345, Maputo-Moçambique

TEXTO DE APOIO
PLANIFICAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Por: Daniel Nivagara [danivagara2000@yahoo.fr]

0. INTRODUÇÃO GERAL

O material que aqui lhe apresentamos é parte do programa do curso de Metodologia de


Ensino oferecido pela Faculdade de Ciências da Educação e Psicologia. E no caso particular
deste texto, ele foi extraido do módulo elaborado por Daniel Nivagara, intitulado “Didáctica
Geral: aprender a ensinar”, no qual são apresentados vários temas e exercícios que permitem
compreender a actividade do professor, bem como do aluno, no processo de ensino-
aprendizagem (PEA).

No caso concreto desta parte, pretende-se discutir com os cursantes a questão sobre a
planificação do PEA, num total de cinco aulas, a partir das quais analisam-se questões
relacionadas com o conceito de planificação do PEA, a importância de planificação do PEA,
níveis de planicação e componentes de planificação do PEA.

Pelo que, esperamos que com estas aulas, os cursantes encontrem-se entre os que definem e
explicam a importância da planificação do PEA, mas também que tenham a competência de
planificar o PEA, particularmente aulas, tendo em conta os níveis de planificação e as
componentes dessa planificação.

Para o efeito, caro cursante, preste atenção aos objectivos propostos em cada uma das aulas,
faça a leitura conveniente deste texto e de outros materiais bibliográficos para certificar-se do
domínio destes objectivos, com os quais irá desenvolver as competências desejáveis de um
professor planificador do PEA. Tenha, por outro lado, o interesse de realizar as actividades de
discussão propostas no início de cada uma das aulas e, igualmente, resolva os exercícios da
auto-avaliação.

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Lição 1

CONCEITO E IMPORTÂNCIA DA
PLANIFICAÇÃO DO PEA

1 – Introdução

Uma aula implica a relação professor e aluno, além de outras categorias didácticas que se
interrelacionam igualmente nesse momento. De facto, nela estão envolvidos vários elementos
como os objectivos, tanto da sociedade como do aluno, os métodos e técnicas de ensino, os
meios de ensino, as condições da sala de aulas, o meio social e cultural em que decorre a
leccionação, as condições de ordem política e económica do país.

A conjugação destes elementos todos, orientados para o fim de se conseguir a aprendizagem


dos alunos, requer do sector da educação uma planificação, ao mesmo tempo em que o
professor deve também ter seu plano de aula, de ensino.

Ao completar esta unidade / lição, esperamos que você seja capaz de:

 explicar em que consiste a “planificação do PEA”;


Objectivos
 justificar a importância da planificação das aulas por parte do
professor;

 explicar em que consiste a flexibilidade do(s) plano de aula(s)


elaborado(s) pelo professor.

2- O que se entende por planificação do PEA?

A planificação é uma prática corrente em todas as actividades humanas, especificamente as


que são realizadas intencionalmente. Por isso, será fácil para você concluir que o plano de
aula (ou seja, a planificação do PEA) é a previsão mais objectiva possível de todas as

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actividades escolares para a efectivação do processo de ensino-aprendizagem que conduz o
aluno a alcançar os objectivos previstos. Nesse sentido, a planificação do ensino é uma
actividade que consiste em traduzir em termos mais concretos e operacionais o que o
professor e os alunos farão na aula para conduzir os alunos a alcançarem os objectivos
educacionais propostos.

A planificação do PEA é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das actividades
didácticas em termos da sua organização e coordenação em face dos objectivos propostos,
quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. A planificação é um
meio para se programarem as acções docentes, mas é também um momento de pesquisa e
reflexão intimamente ligado à avaliação.

Se terá sido fácil definirmos a planificação do ensino, não parece tão simples falarmos da
importância da planificação do ensino, sobretudo com uma parte dos nossos professores que
trabalham nas nossas escolas há relativamente muito tempo. Referimo-nos a aqueles “muito
experientes” que pensam ser dispensável o plano de aula, como acontece também com alguns
recém-formados ou contratados que não desenvolveram ainda nem hábito, nem suficiente
capacidades para fazer a planificação das aulas.

Sempre que se inicia um empreendimento complexo, tendo em vista alcançar determinadas


metas, torna-se importante fazer uma previsão básica da acção a ser realizada, previsão essa
que funcione como um fio condutor susceptível de orientar a acção. No complexo
empreendimento que é a educação, esta necessidade torna-se ainda mais forte. Com efeito, na
medida em que a acção educativa põe em causa o presente e o futuro da criança, do
adolescente e do jovem, pondo consequentemente em causa a própria comunidade, não se
pode permitir que ela se desenrole ao sabor dos acasos da improvisação. Também não pode
ser estruturada na exclusividade do bom senso e da intuição de quem a pratica.

Com a planificação da aula, o professor determina os objectivos a alcançar ao termino do


processo de ensino-aprendizagem, os conteúdos a serem aprendidos, as actividades a
serem realizadas pelo professor e aluno, a distribuição do tempo, etc., ou seja, a
planificação permite visualizar previamente a sequência de tudo o que vai ser
desenvolvido em dia lectivo. Assim, a planificação da aula é a sistematização de todas as

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actividades que se desenvolvem no período de tempo em que o professor e aluno interagem
numa dinâmica de ensino e aprendizagem.

1) Em que consite o plano de aula?


2) Qual é a importância, para o professor, de planificar as suas aulas?
Actividade

3- A importância da planificação

A importância dada à planificação não significa que se negue que “as melhores aulas surjam
de repente, por causa de uma palavra, de uma insignificância em que o professor não tinha
pensado antes”. Uma aula pode e muitas vezes deve “acontecer”, porque uma coisa é a aula
inerte no papel e outra é a aula viva, dinâmica, que a trama complexa de interrelações
humanas, a diversidade de interesses e características dos alunos não permite ser um decalque
do que está no papel. Estes alunos, aqueles alunos, os factos que ocorrem no meio fazem as
aulas acontecer....

Mas isto não significa de modo algum que não tenha importância o tal “fio condutor”, que
existe numa planificação. Significa é que ele não pode ser um fio rígido, mas sim flexível ao
ponto de permitir ao professor inserir novos elementos, mudar de rumo, se o exigirem as
necessidades/ou interesses do momento se, de repente, se descobre uma forma mais rica, mais
original ou mais adequada de explorar determinado assunto. Isso significa, de facto, que os
planos podem tomar, na prática, no momento de execução, um sentido novo que as
circunstâncias provocarem. A planificação, que se transformou neste caso, em recurso
aparentemente não utilizado, funciona agora como um marco de referência em relação ao
qual se identifica, o que de forma inesperada se atingiu, evidenciando também o que, não
deixando de ser importante, não se conseguiu atingir.

A propósito desta questão de o plano de ensino concebido nem sempre corresponder com o
que se passa realmente na sala de aula, importa salientar que este é um instrumento de acção,
devendo servir como guia de orientação, apresentar ordem sequencial, objectividade,
coerência e flexibilidade.

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Preste atenção à seguinte conversa entre professores (A, B , C, D e
E), extraída de Cortesão e Tores (1983:67):
A: Recuso-me a fazer planos. ...Mas...planificar, para quê? As aulas
Actividade constroem-se por si! As planificações limitam a minha
liberdade de acção!
B: Muitas vezes acontece que os meus alunos não se interessam
pelas actividades que planificamos no início do ano.
C: Mas os planos fazem-se para se cumprirem! Portanto, há que
obrigá-los a fazerem o que foi previsto
D: Não há dúvida de que tudo tem de ser realizado como foi
previsto. Não se pode perder tempo com coisas que os alunos se
lembram de querer discutir!
E: Mas...Como é? Deve-se planificar ou não se deve planificar?

Agora que você conheceu esta conversa, o que diria ao professor


E? Deve-se planificar ou não as aulas? Por quê?

Sumário

A planificação do PEA por parte do professor afigura-se como uma etapa necessária se
admitirmos que se trata de prever o conjunto de actividades (do professor e dos alunos) que
estarão ao centro do PEA, incluindo o conteúdo, meios seleccionados tendo em conta os
objectivos que se pretendem atingir e as condições em que se irá realizar o PEA.

Ao falarmos da planificação das aulas, sobretudo da sua importância, compreendemos porque


a aula não pode ser um improviso. Cada aula enquadra-se dentro de um universo do sistema
de saberes que se pretendem sejam propriedade dos alunos mediante o PEA, os quais estão
interligados e respondem a interesses curriculares. Estamos, portanto, cientes que cada aula
dada significa aula planificada, não que isso signifique que o que vai acontecer na sala de
aulas é uma simples reprodução mecânica do plano.

O plano de aula é um instrumento flexível. Aliás, o momento de aula é dinâmico por envolver
uma relação dialéctica entre alunos e destes para com o professor, o que suscita reacções,

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interrelações, a ajustar/equilibrar, de forma a que o PEA respeite o ritmo do que se passa
efectivamente na sala de aula : dificuldades de aprendizagens dos alunos, perguntas e
contribuições dos alunos, recursos existentes na sala de aula antes não previstos mas que têm
grande potencialidade para a aprendizagem dos alunos, tempo (disponibilidade e escassez),
etc.

Nas nossas escolas temos vários professores, cada um com seus


hábitos particulares. Entretanto, a escola é uma organização, uma
Auto-avaliação entidade responsável por realizar o PEA, uma actividade com
carácter sistemático e planificado como vimos na aula sobre as
características do PEA. Nesse sentido, você concordaria ou não
concordaria com o professor que:

a. as suas aulas ocorrem espontaneamente, ao curso do que


acontece na aula;

b. as suas aulas são minuciosamente planificadas ao ponto de


nelas não se tratarem, nem se discutirem assuntos, tarefas,
problemas que não estavam previstos no plano de lição;

c. orienta aulas atractivas, « movimentadas », cujo dinamismo


é sustentado por aquilo que se passa na sala, mas sem deixar
à parte seu plano de aula.

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Lição 2

IMPORTÂNCIA DA PLANIFICAÇÃO DO PEA


(Conclusão)

1 - Introdução
Sem dúvida, compreende-se a importância da planificação do PEA, mas exactamente, por
causa desta importância, queremos, nesta aula, apresentar outros elementos que possam
firmar, na prática pedagógica dos professores e nas suas reflexões teóricas sobre o ensino,
mais elementos para justificarmos a importância da planificação do PEA.

Nesta abordagem, partiremos das características de um plano de ensino; depois veremos a


questão sobre o número de lições que se devem planificar de uma vez e, finalmente,
queremos discutir consigo em que medida a planificação não é « panaceia » de todos os
problemas de ensino.

Ao completar esta lição, esperamos que você seja capaz de:

 explicar o significado de cada uma das características do plano


Objectivos de aula;

 apresentar fundamentações que possam justificar a necessidade


de se planificarem várias aulas e não apenas uma de cada vez;

 justificar em que medida o plano de aula deve ser visto como


algo « flexível ».

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2 – Características do plano de ensino.

Você já estudou que o plano de ensino é um guia de orientação porque nele estão
estabelecidas as directrizes e os meios de realização do trabalho docente. Como a função de
planificação é orientar a prática, partindo das exigências da própria prática, ele não pode ser
um documento rígido e absoluto, pois uma das características do processo de ensino é que
está sempre em movimento, está sempre sofrendo modificações face às condições reais.

Depois, dissemos que o plano deve apresentar ordem sequencial e progressiva, visto que,
para alcançar os objectivos são necessários vários passos, de modo que a acção docente
obedeça a uma sequência lógica. Não se quer dizer que, na prática, os passos não possam ser
invertidos.

Em relação à objectividade, entendemos a correspondência do plano com a realidade a que


se vai aplicar. Não adianta fazer previsões fora das possibilidades humanas e materiais da
escola, fora das possibilidades dos alunos. Por outro lado, é somente tendo conhecimento das
limitações da realidade que podemos tomar decisões para superação das condições existentes.
Por seu turno, há coerência entre os objectivos gerais, objectivos específicos, conteúdos,
métodos e avaliação.

Coerência é a relação que deve existir entre as ideias e a prática. É também a ligação lógica
entre os componentes do plano. Se dizemos nos objectivos gerais que a finalidade do trabalho
docente é ensinar os alunos a pensar, a desenvolver suas capacidades intelectuais, a
organização dos conteúdos e métodos deve reflectir esse propósito. Quando estabelecemos
objectivos da matéria, a cada objectivo devem corresponder conteúdos e métodos
compatíveis.

Finalmente, a flexibilidade do plano sugere que no decorrer do ano lectivo o professor está
sempre organizando e reorganizando o seu trabalho. A relação pedagógica está sempre sujeita
a condições concretas, a realidade e está sempre em movimento, de forma que o plano está
sempre sujeito a alterações.

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1. Para ser um bom plano de ensino, deve apresentar as seguintes
características: a) servir como guia de orientação, b) apresentar
ordem sequencial, c) apresentar objectividade, d) apresentar
Actividade
coerência e e) apresentar flexibilidade.

2. Explique em que consiste cada uma destas características.

3-Como planear uma aula?Devemos planear uma aula a cada vez ou em conjunto?

É preciso que se compreenda que devemos planear não uma aula, mas um conjunto de aulas,
visto que:
 na preparação de aulas, o professor deve reler os objectivos gerais da matéria e a
sequência de conteúdos do plano de ensino. Não deve esquecer que cada tópico
novo é uma continuidade do anterior: é necessário, assim, considerar o nível de
preparação inicial dos alunos para a matéria nova;

 o professor deve tomar o tópico de unidade a ser desenvolvido e desdobra-lo numa


sequência lógica, na forma de conceitos, problemas, ideias. Trata-se de organizar
um conjunto de noções básicas em torno de uma ideia central, formando um
significado que possibilite ao aluno uma percepção clara e coordenada do assunto
em questão. E ao mesmo tempo que são listadas noções, conceitos, ideias e
problemas, é feita a previsão do tempo necessário;

 em relação a cada tópico, o professor redigirá um ou mais objectivos específicos,


tendo em conta os resultados esperados da assimilação de conhecimentos e
habilidades. A previsão do tempo, nesta fase, ainda não é definitiva, pois poderá ser
alterada no momento de detalhar o desenvolvimento metodológico;

 é importante que o professor tenha sempre presente uma visão de conjunto e da


interrelação dos seus elementos constituintes, de modo a que cada situação de
ensino e aprendizagem que propõe constitua uma peça de um todo. Esta peça vai
permitir que a acção educativa se complete em resultado de uma dialéctica
constante entre aquilo que é preconizado no plano a longo prazo para os alunos de
forma mais geral e o que é mais adequado para aqueles alunos naquele momento.

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Também é importante sublinharmos que a alteração do tempo do plano poderá dever-se ao
detalhe metodológico, mas também da avaliação da própria aula. Sabemos que o êxito dos
alunos não depende unicamente do professor e do seu método de trabalho, pois a situação
docente envolve muitos factores de natureza social, psicológica e o clima geral da dinâmica
da escola. Entretanto, o trabalho docente tem um peso significativo ao proporcionar
condições efectivas para o êxito escolar dos alunos.

1. Suponha que temos dois professores, um professor A que planifica uma aula de
cada vez e outro professor B que planifica um conjunto de aulas. Que
comentários (a favor ou contra) faria em relação ao procedimento destes
professores?
Actividade

A resposta a esta questão é um tanto quanto divergente, tal como vemos nessa diferenciação
de práticas entre os professores A e B. Em todo o caso, devemos partir da consideração de
que a aula é um período de tempo variável. Dificilmente completamos numa só aula o
desenvolvimento de uma unidade ou tópico de unidade, pois o processo de ensino e
aprendizagem se compõe de uma sequência articulada de fases ou funções didácticas, dentro
das quais se faz a preparação e apresentação de objectivos, mediação de novos conteúdos,
realização de actividades, consolidação (fixação, exercícios, recapitulação, sistematização,
aplicação) e avaliação do ensino e aprendizagem.

4 – A planificação é uma panaceia?

De facto, a planificação não é uma panaceia de todos os problemas de educação, mais


concretamente do ensino. A PLANIFICAÇÃO, como ilustra a figura a seguir, é apenas uma
parte do que normalmente chamamos ciclo docente, visto que para além dela temos a
REALIZAÇÃO e a AVALIAÇÃO.

Por esta razão, mesmo que o professor tenha uma planificação mais correcta possível, se a
realização e a avaliação do processo de ensino-aprendizagem tiverem problemas, não poderá
alcançar facilmente os objectivos que pretende.

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Contudo, se feita com rigor e simultaneamente com a flexibilidade e a abertura
indispensáveis, ela assume uma importância vital na prática profissional de todos aqueles que
se esforçam na construção de uma escola empenhada numa comunicação clara entre os
elementos implicados na acção educativa; uma escola mais lúcida e mais humana que actua
com base na realidade dos seus alunos, uma escola mais eficiente no aproveitamento do
tempo e do espaço de que dispõe para ajudar os seus alunos a “crescer”. Enfim, uma escola
que quer estar consciente do modo como decorrem as situações que ela desencadeia e/ou se
lhe deparam no dia a dia, situações essas sobre as quais deseja agir a fim de, se necessário, as
modificar.

Definição dos Analise das condições AVALIAÇÃO


objectivos (concretas)
PLANIFICAçÃO

Concretização dos objectivos

Analise da Valorização e
Selacão e Selecção das formas de realização classificação
ordenação dos organização e dos meios das dos
conteudos e dos métodos de ensino actividades resultados

Actividades Mediação dos Organização das Apuramento


do professor conteudos actividads dos alunos, dos resultados
REALIZAçÃO

das relações sociais e


das condições materiais

Autoregulação das Produçção


Actividades Asimilação actividades, da comunicação dos
dos alunos dos conteudos e das relações sociais resultados

Figura 1 -Planificação, avaliação e realização


Fonte: KLINGBERG (1972)

Quando nos referimos a esta modificação, se necessário, das situações de ensino-


aprendizagem, percebemos, de partida, que a planificação não é uma coisa acabada,
definitiva, mas sim um instrumento que necessita de ser constantemente experimentado em
face da realidade com que se trabalha. Isto porque a interacção do grupo turma

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(professor/aluno, aluno/aluno) é o alicerce sobre o qual assenta toda a concretização do
processo de ensino-aprendizagem.

Como tal, o que acontece numa sala de aula é muito mais complexo do que os factos que são
colocados no papel. Uma situação de aprendizagem é dinâmica, com consequências muitas
vezes imprevisíveis, as quais por vezes constituem a parte mais importante dessa
aprendizagem. É indispensável que o professor saiba interpretar e aproveitar cada
oportunidade que surge desse processo dinâmico, desligando-se de uma forma livre e
criadora do plano que previamente traçou.

O plano funciona como uma hipótese de trabalho, que como tal necessita de ser
experimentado. Em função do que ocorreu, ou está ocorrendo na realidade, a hipótese pode
ser reforçada ou reformulada. Mais, o plano de aula é um fio condutor, o que significa que
não deve ser rígido, mas sim flexível ao ponto de permitir ao professor inserir novos
elementos, mudar de rumo, se o exigirem as necessidades e/ou interesses do momento, se de
repente se descobre uma forma mais rica, mais original ou mais adequada de explorar
determinado assunto.

1. Acabámos de ver a importância de planificação do ensino, mas


subsistem duas questões:
Actividade
a. A planificação é uma panaceia que resolve todos os problemas da
educação? Por quê?

b. A planificação tem de ser encarada como uma proposta de trabalho


possível ou como algo definitivo, rígido, de cumprimento
obrigatório?

Sumário

E verdade sim que é importante fazermos a planificação do PEA, mas para termos um bom
plano requer-se que obedeça a determinadas condições, nomeadamente:

a) servir como guia de orientação;

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b) apresentar ordem sequencial;

c) apresentar objectividade;

d) apresentar coerência;

e) apresentar flexibilidade.

Estas características se impõem, sobretudo, quando estamos a ser apelados para a necessidade
de não planificar apenas uma aula, mas várias, obedecendo à interligação que estas
representam.

Ao proceder desta forma (interligação de vários planos de aula), o plano de aula deverá
continuar sempre como uma proposta possível, a ser enriquecida pelos acontecimentos que
irão decorrer na sala de aula . Ao mesmo tempo, a sua qualidade depende não exclusivamente
da sua boa elaboração, mas também da sua implementação e avaliação.

E é precisamente nestes dois aspectos (implementação ou realização e avaliação) que vários


planos de aula (e mesmo um único plano) precisarão ser revistos, de modo que isso traga a
retro-alimentação, a continuidade do PEA em termos de saber se progredimos na matéria (a
partir donde), recuamos ou continuamos a insistir sobre determinados aspectos do plano
realizado: isso irá traduzir uma planificação do PEA em permanente movimento e que serve,
efectivamente, como guia de trabalho permanente do professor.

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Dentre as ideias seguintes, uma delas não é totalmente correcta. Qual é?
Justifique.
Auto- a. O plano de aula é um fio condutor, o que significa que não deve ser rígido,
avaliação
mas sim flexível ao ponto de permitir ao professor inserir novos elementos,
mudar de rumo, se o exigirem as necessidades e/ou interesses do momento,
se de repente se descobre uma forma mais rica, mais original ou mais
adequada de explorar determinado assunto

b. É indispensável que o professor saiba interpretar e aproveitar cada


oportunidade que surge do processo dinâmico de aula, desligando-se de uma
forma livre e criadora do plano que previamente traçou.

c. Planificar várias aulas e não apenas uma permite ao professor ter uma visão
de conjunto e da inter relação dos seus elementos constituintes, de modo a
que cada situação de ensino e aprendizagem, que propõe, constitua uma
peça de um todo.

d. A coerência do plano de ensino faz com que os métodos, por exemplo,


propostos para uma aula correspondam aos objectivos pretendidos, no
sentido em que estes levam (infalivelmente) ao alcance daqueles.

e. A função de planificação é orientar a prática do ensino do professor, por isso


é correcto que um inspector que assiste a aula dum professor avalie-o
negativamente pelos aspectos ocorridos na aula que não constam no plano,
ou pela não realização integral do plano de aula.

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Lição 3

NÍVEIS DE PLANIFICAÇÃO DO PEA

1 - Introdução
A prática do ensino mostra que o que acontece na escola com as experiências da
aprendizagem faz parte do currículo previsto para esse nível, classe ou tipo de ensino.

O professor, na sua planificação, desempenha, nesse sentido, o papel de quem operacionaliza


e concretiza no terreno uma planificação anteriormente feita a níveis acima dele. Isto, em
parte, orienta o professor, mas ao mesmo tempo, como vimos anteriormente, nenhum plano
do PEA pode considerar-se uma posição rígida, acabada, o que faz com que, da sua parte, o
professor planifique, à sua maneira, as suas aulas.

Ao completar esta lição, esperamos que você seja capaz de:

 especificar o que se faz ao nível de planificação central do PEA;

 explicar em que consiste a planificação ao nível do professor;


Objectivos
 identificar os elementos constantes nos modelos de plano de aula que
normalmente são utilizados pelos professores;

 planificar, ao nível de uma escola, obedecendo a um modelo de plano de


aulas apropriado e definido pelos elementos do grupo de disciplina, da
classe, etc.

2 - Os níveis de planificação do PEA

Conforme a figura a seguir, a planificação do processo de ensino-aprendizagem realiza-se em


dois níveis fundamentais: o central e o do professor, passando por um nível intermediário, o
da planificação pela escola.

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Programa de disciplina Central
Nivel de Planificação Central
Programa do ano (Planificação Curricular)

Unidade de ensino

Nivel de Planificação pelo


AULA Professor

Figura 18– A planificação do ensino-aprendizagem

Ao nível central, a planificação curricular é feita para todos os níveis e graus de ensino-
aprendizagem (ao nível da nação) e, na base disso, procede-se á definição do perfil de saída
do nível/grau, curso, disciplina, ano, etc. a partir do qual se faz:
 a definição de objectivos, competências, conteúdos e métodos gerais;
 a distribuição destes objectivos pelos anos (semestres, trimestres, etc.) e pelas unidades
do PEA;
 a elaboração dos programas detalhados por disciplina;
 a elaboração do livro do aluno, do manual do professor e de outros meios de
ensino-aprendizagem. com base nos programas detalhados.

3 – Em que consiste a planificação ao nível do professor?

Como podemos ver através da experiência de educação em Moçambique, por exemplo, a


planificação do professor começa, juntamente com outros colegas, com a elaboração do plano
anual da disciplina, geralmente denominada “dosificação”, na qual o grupo de disciplina faz a
distribuição das unidades de ensino em semanas, prevendo momentos de aula, de avaliações,
para além de outras que mereçam destaque na planificação anual ou semestral.

E, a seguir a isso, o professor individualmente (principalmente) ou em grupo faz o plano de


aula(s), ou seja, a previsão do desenvolvimento do conteúdo para uma aula ou conjunto de
aulas, tendo em conta um carácter bastante especifico em termos do tema (conteúdo),
métodos e técnicas de ensino, objectivos, meios, isto é, das condições concretas em que se
realiza(rá) o ensino-aprendizagem.

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Em termos de modelos para a planificação das aulas, convém realçar que existem muitos, em
função do autor que os propõe. Por isso, nos parece marginal a discussão sobre qual é o
melhor modelo, desde que se chegue ao ponto de incluir os elementos que simbolizam a
dinâmica do processo de ensino-aprendizagem.

Assim, por uma questão meramente elucidativa, incluiremos, a seguir, alguns modelos de
plano de aula, deixando ao critério do professor, em grupo de disciplina ou nível da escola, e
em função da disciplina que lecciona adoptar este ou aquele modelo, ou ainda a combinação
entre eles.

Escola..........................................................................................................................
Classe......................................Turma.....................................Ano lectivo..................
Tema......................................................................................Lição número...............

Objectivos de ensino Conteúdos Estratégias Material (meios Tempo


de ensino)

Objectivo Geral
..........................
..........................
..........................
..........................
Objectivos específicos
..........................
..........................
..........................
..........................
..........................
Tabela 1: Modelo de Plano de aula (1)

Escola..........................................................................................................................
Classe......................................Turma.....................................Ano lectivo..................
Tema......................................................................................Lição número...............
Objectivos:
Objectivos Gerais..........................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................
Objectivos específicos...................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................
.....................................................................................................................................

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Tempo Função Actividades Variantes Meios
didáctica Conteúdos Do Dos alunos metódicas de
Função Didáctica Professor ensino

Tabela 2: Modelo de Plano de aula 2

1. Depois da planificação central, em que vai consistir a planificação


ao nível do professor?
2. Quais são os modelos existentes para a elaboração do plano de
Actividade aula?

Sumário

A planificação do professor tem como base a planificação curricular que, por sua, vez orienta
a planificação ao nível da escola. Deste plano da escola, que reflecte o currículo, o professor
serve-se para planificar as suas aulas.

A planificação das aulas, uma etapa essencial da actividade do professor como pudemos ver
nas aulas anteriores, é realizada, regra geral, obedecendo a determinados modelos. Em todo o
caso, mesmo com esta diversificação de modelos de planificação de aulas, parece haver
algum consenso de que ela comporta actividades do professor e dos alunos (traduzindo os
métodos « variantes metódicas básicas » de ensino a utilizar), os meios de ensino, o tempo, o
conteúdo, os objectivos e as funções didácticas (na sua integralidade, incluindo momentos de
introdução e motivação, mediação e assimilação, domínio e consolidação e, finalmente,
controle e avaliação).

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Coloque V ou F nas afirmações que são, respectivamente,
verdadeiras ou falsas:
Auto-avaliação a. A planificação do nível central é importante por orientar o
professor sobre as experiências educativas que deverá
organizar para os seus alunos( ).

b. Em função das condições concretas, o professor pode


incorporar ou enriquecer o currículo para poder ajustá-lo às
condições da sua escola e às particularidades dos seus
alunos( ).

c. O plano central, portanto, o currículo, deve ser cumprido


sequencialmente e de forma linear ( ).

Lição 4

COMPONENTES DE PLANIFICAÇÃO DO PEA

1 - Introdução
A tentativa de apresentação dos modelos de plano de lição já foi um bom passo para
visualização dos componentes (ou elementos) que orientam a elaboração da planificação do
PEA e, quiçá, em todos os níveis de planificação do PEA. Estes componentes, em parte,
devem ser cuidadosamente analisados, visto que qualquer plano de ensino, para ser
funcional, deve, por exemplo, ajustar-se aos alunos, aos conteúdos, aos meios existentes
e a outros componentes de que a seguir nos iremos debruçar deles.

Ao completar esta lição, esperamos que você seja capaz de:

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 identificar os componentes que se deve ter na planificação do PEA;
Objectivos  explicar em que medida é útil se ter em conta cada um desses componentes.

2 - COMPONENTES DE PLANIFICAÇÃO DO PEA

De certeza que não estará espantado se dissermos quee em toda a planificação do PEA, nos
diversos níveis, se definem os objectivos, se seleccionam conteúdos a privilegiar, se
identificam estratégias, se estabelecem tempos de realização e se prevêem actividades de
avaliação. E no caso da planificação ao nível do professor, tudo se passa com mais pormenor,
pesando muito mais a preocupação de adequar as propostas às características do contexto. E
ao realizar esta adequação o professor deve tomar decisões, as quais devem preceder uma
série de interrogações, tais como: a planificação:

 está adequada às características do meio em que estou a trabalhar?

 Toma em consideração os recursos e as limitações que o meio e a escola oferecem?

 Mobiliza todos os recursos humanos disponíveis (alunos, professores, funcionários


da escola e elementos da comunidade?

 É possível de ser executada por professores com as características dos que


trabalham nesta escola?

 Toma em consideração as aprendizagens anteriores realizadas por estes alunos?

 Irá desencadear uma aprendizagem progressiva?

 Toma em consideração as características da turma?

Considerando as interrogações anteriormente referidas, quando se faz uma planificação terão


de se tomar em linha de conta os seguintes componentes:

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a. O meio envolvente à escola

Só artificialmente se pode considerar a escola separada do meio. As paredes da sala de aula


são unicamente barreiras físicas, totalmente permeáveis aos problemas, interesses e hábitos
culturais da zona em que ela está inserida. Se estes factores, aparentemente estranhos à turma,
não são considerados nas propostas de aprendizagens, corre-se o risco de não interessarem ou
de serem inacessíveis aos alunos. Os exemplos que se dão, os exercícios que se vão propor,
as motivações que se utilizam, a linguagem que se usa, tudo tem de ser adequado ao meio. E,
evidentemente, esta adequação tem muito que ver com as limitações e com os recursos, quer
materiais, quer humanos que a escola e o meio oferecem.

Com efeito, as condições em que se trabalha são por vezes tão fortemente imitantes que será
utópico não as tomar em consideração. E assim, frequentemente o professor é forçado, por
exemplo, a mudar de estratégia porque não é mesmo possível concretizá-la com o material de
que dispõe. Mas considerar de forma realista as limitações a que se está sujeito não significa
que se adopte face a elas uma atitude de submissão; bem pelo contrário, é fundamental que
elas se encarem sempre como um desafio à criatividade e iniciativa de cada um tal como é
ilustrado pelo caso de um professor de Português que, não tendo qualquer biblioteca na
escola, nem qualquer biblioteca de turma, e estando muito empenhado em desenvolver o
gosto pela leitura com seus alunos, faz com eles uma recolha de contos tradicionais da região.
Esses contos foram escritos pelos alunos, por eles ilustrados e policopiados, constituindo um
pequeno embrião de uma colecção de textos à disposição de todos, talvez uma “biblioteca”
mais viva e mais útil que muitas outras.

b. Recursos/meios de ensino existentes

É importante conseguir o aproveitamento óptimo dos recursos existentes. Desde o quadro


preto à árvore do pátio da escola, à mão do professor que pousa amigavelmente no ombro do
aluno, às experiências vividas que podem contribuir para que as aprendizagens se tornem
mais ricas e gratificantes.

O facto de a escola ter ou não máquina de projectar filmes, slides, retroprojector, ter
laboratórios bem ou mal equipados, o facto de a região ter ou não indústrias, explorações

21
mineiras, etc., abertas a uma colaboração com a escola, ou ainda mercados ou feiras,
artesanatos característicos que se possam explorar, irá ser decisivo na escolha de estratégias.

O mesmo também se aplica para o caso de recursos humanos. Por exemplo, o facto de se
saber que há alguém que pode dar sobre um determinado assunto (exemplo, o início da luta
armada de libertação de Moçambique, etc.) um depoimento vivo e que se põe à disposição
dos alunos para contar a sua experiência e responder perguntas, pode alterar completamente e
enriquecer uma estratégia anteriormente pensada. Há pois que contar com a riqueza de que
são portadores os professores, os alunos, os familiares dos alunos, bem como os elementos da
comunidade.

Finalmente, pensando nos recursos, é importante que o professor pense também que ele
constitui um excelente recurso de ensino, pois tudo depende do seu “empenhamento, das
atitudes, da natureza e da qualidade da relação pedagógica investida no processo educativo”.
O professor ao planear a sua acção tem, pois, de estar bem consciente dos seus aspectos
positivos e das suas limitações como pessoa e como profissional, a fim de que possa delas
tirar o maior partido possível.

E é assim que no corpo docente ou entre os funcionários se descobre que há musicólogos,


poetas, arqueólogos amadores, fotógrafos, agricultores, oleiros, marceneiros, cozinheiros, etc.
cujos saberes podem enriquecer as actividades escolares de determinadas disciplinas
(exemplo, ofícios, educação visual, educação musical, desenho, etc.). E o mesmo se pode
aplicar no caso dos encarregados de educação que, dentre eles, se pode recorrer como
portador de alguma riqueza cultural, o que igualmente é bom sob ponto de vista afectivo, que
consiste em um filho ver que o que o pai ou a mãe fazem é valorizado a ponto de eles serem
chamados à escola para ajudar, para ensinar como qualquer professor.

c. O aluno

Qualquer criança, adolescente ou jovem é portador de uma experiência de vida, de um saber,


cujo aproveitamento é um recurso económico e eficaz (a compreensão de um determinado
assunto é muitas vezes mais fácil se esse assunto for tratado por um colega em vez do
professor), e o facto de permitir ao aluno trazer o contributo do seu próprio mundo ao PEA

22
permite-lhe sentir que é um dos protagonistas desse processo e fá-lo-á sentir-se digno de
crédito, confiante em si mesmo e nos outros.

Por outro lado, uma componente importante na planificação do PEA é a sua adequação ao
aluno. Realmente, para além da compreensão das características próprias do nível etário do
aluno e das características médias da população escolar, certamente tidas na elaboração dos
programas, é fundamental que o professor conheça as características pessoais do aluno.

Com efeito, se a verdadeira aprendizagem é sempre o produto da actividade pessoal de cada


um, então o papel do professor consiste em tentar criar situações que favoreçam em cada
aluno a mobilização óptima de todos os seus recursos, particularmente dos seus pré-requistos.
De facto, é fundamental que o aluno domine os pré-requisitos daquela unidade de
ensino/aprendizagem, isto é, que domine aqueles conhecimentos e possua aquelas
capacidades sem as quais não é possível realizar as aprendizagens subsequentes.

O aluno, como conjunto, agrupado em turma merece também ser conhecido. Cada turma é
um grupo dotado de uma dinâmica própria e é necessário que o professor conheça essa
dinâmica, os hábitos e o modo de reagir da turma para planificar a sua acção, de forma a tirar
o máximo partido da turma como um recurso. A confrontação de pontos de vista diferentes, o
aceitar pôr-se em questão, o hábito de ouvir os outros, de respeitar pontos de vista diferentes
dos seus, de se exprimir claramente, de ajudar e de ser ajudado, de lutar pelo que considera
certo são, entre outras, aprendizagens que o trabalho na turma pode proporcionar e que
permitem contribuir para o desenvolvimento cognitivo, social e afectivo dos alunos.

O conhecimento do comportamento da turma irá ainda ter uma influência decisiva no


tipo de trabalho que se irá propor: a uma turma irrequieta será preciso fazer propostas
mais dinâmicas que canalizem aquela energia excessiva para uma actividade produtiva.
Para alunos excessivamente competitivos, o professor terá de insistir em propostas assentes
no trabalho de grupo, etc.

d. Conteúdos

Os conteúdos a se terem em conta na planificação do PEA pelo professor já vêm indicados,


em linhas gerais, pelos programas de ensino que se baseiam nos esquemas conceptuais que os

23
presidem e os temas organizadores. Neste sentido, quando os professores de uma mesma
escola não trabalham em conjunto sobre um mesmo programa pode haver diferenças de
interpretação. Isso é que faz com que, na mesma escola, diferentes professores dêem as
rubricas com ênfases diferentes e por ordens diferentes. Este facto poderá
aparentemente não ser importante, mas a discrepância de situações em que
inevitavelmente os alunos se encontrarão ao enfrentarem os exames repercutirão,
naturalmente, a nível da classificação.

Neste sentido, o importante consiste em perceber que para além da organização do


conhecimento em si, com base nas suas regras, o conteúdo abrange todas as experiências
educativas do conhecimento, devidamente seleccionadas e organizadas pela escola. E na
selecção da matéria deve-se ter em conta o valor funcional que mais se liga aos
problemas da actualidade e tenha valor social. A selecção deve ter em conta os interesses
regionais bem como as necessidades e fases do desenvolvimento do aluno.

1. Quais são os componentes a ter em conta para planificar o PEA?

2. Por que é que cada um desses componentes é relevante para uma boa
Actividade planificação do PEA?

Sumário

O ambiente escolar. Esse sim, é um elemento fortemente a considerar na planificação do


PEA. O professor, em qualquer disciplina que seja, não poderia dar aula indistintamente, quer
esteja nesta ou naquela escola, neste ou naquele ponto do país, sobretudo em função das
condições de que dispõe : é uma questão de pragmatismo e de adequação às condições locais,
para que, efectivamente o plano seja funcional sob o ponto de conseguir levar os alunos a
atingir os objectivos de aprendizagem que se desejam.

Igualmente diríamos para o caso de outros componentes que acabámos de retratar : meios ou
recursos de ensino, conteúdos e o aluno. E como poderemos ver na aula que se segue, o
exercício vai ter que ser sempre o mesmo em relação a outros componentes, nomeadamente
objectivos, procedimentos (métodos) de ensino e a avaliação do plano de ensino.

24
Seleccione apenas as afirmações verdadeiras do conjunto das seguintes
frases:

Auto- a. Para além da organização do conhecimento em si, com base nas suas

avaliação regras, o conteúdo abrange todas as experiências educativas do


conhecimento, devidamente seleccionadas e organizadas pela escola
(em grupo de professores da mesma disciplina ou classe);

b. Nenhum plano de aula teria espaço para acomodar os vários


aspectos do ambiente envolvente : o que interessa é que ele se
restrinja ao que consta no programa;

c. A verdadeira aprendizagem é sempre o produto da actividade


pessoal de cada um, razão pela qual o papel do professor consiste em
tentar criar situações que favoreçam em cada aluno a mobilização
óptima de todos os seus recursos, particularmente dos seus pré-
requistos;

d. O que se disse na alínea anterior obriga o professor a planificar as


suas aulas em função das particularidades dos seus alunos;

e. Se pudéssemos contar com a riqueza cultural das pessoas existentes


à volta da escola para servirem de meios de ensino, isso iria atrasar
ainda mais o cumprimento do programa.

25
Lição 5

COMPONENTES DE PLANIFICAÇÃO DO PEA


(Conclusão)

1 - Introdução
Objectivos, procedimentos de ensino e avaliação constituem os últimos componentes de que
nos resta falar. A abordagem que fazemos nesta aula enquadra-se no que fizemos na aula
passada, ou seja, procurar sobretudo ajudar a compreender a necessidade de tê-los em conta
ao longo do processo de planificação do PEA.

Ao completar esta lição, esperamos que você seja capaz de:

 explicar em que consistem os objectivos, os procedimentos de ensino e a


Objectivos avaliação enquanto componentes do processo de planificação do PEA.

2 – Objectivos,procedimentos de ensino e a avaliação como componentes de planificação


do PEA

Você algum dia pensou em que consistem esses momponentes de palnificação do PEA?

Depois de tudo quanto temos discutido ao longo deste módulo, falar dos objectivos, dos
procedimentos e da avaliação como componentes de planificação do PEA é bastante fácil. De
facto, indo na mesma ordem de apresentação destes componentes tal como estão ordenados
na questão que lhe foi colocada, de certeza que você conclui o seguinte :

a. Objectivos

Os objectivos consistem na descrição clara do que se pretende alcançar como resultado da


nossa actividade. Os objectivos nascem da própria situação (comunidade, da família, da
escola, da disciplina, do professor e, principalmente, do aluno).

26
b. Procedimentos de ensino

Trata-se de acções, processos ou comportamentos planeados pelo professor para colocar o


aluno em contacto directo com as coisas, factos e fenómenos que possibilitem modificar a sua
conduta, em função dos objectivos previstos.

Eles relacionam-se com os recursos didácticos, teóricos e materiais que o professor tem de
utilizar para alcançar os objectivos de aprendizagem dos seus alunos: compreende métodos e
técnicas de ensino e de todos os recursos auxiliares usados para estimular a aprendizagem do
aluno.

d. Avaliação

A avaliação justifica-se como componente essencial do plano de ensino pelo facto de ajudar
na determinação do grau e quantidade de resultados alcançados em relação aos objectivos
definidos. Nesta ordem de ideais, quando terminam os trabalhos previstos para o ano lectivo,
para aquela unidade de ensino ou para aquela lição, bem como as actividades que, por se ter
de atender a qualquer acontecimento inesperado, substituíram ou complementaram o que
estava planificado, a próxima etapa é avaliar o plano executado, referindo determinadas
perspectivas: a sua eficácia, o seu rendimento e optimização, a sua maximização. Veja o
quadro a seguir.

Quadro 3: Pespectivas de avalição, suas questões e indicadores


Perspectiva de Algumas questões a colocar Indicadores
avaliação
Os resultados de uma acção educativa são as
modificações do saber, saber fazer e saber
Eficácia O plano....tem produzido ser/estar dos alunos, são as aprendizagens
resultados? Quais são ou foram que se espera tenham sido adquiridas. Para se
esses resultados? Estão eles em concluir se elas se concretizaram, é
conformidade com os objectivos? necessário verificar, através de testes, de
diálogo e de observação directa, o que os
alunos possuem agora comparando com o
que possuíam à entrada: se a maioria dos
alunos conseguiu adquirir as aprendizagens

27
previstas, então o plano foi eficaz. Pode
considerar-se 80 a 85%de êxito num dado
item, uma percentagem indicadora de que o
assunto está adquirido pela turma
Os resultados foram ou não O rendimento e optimização podem ser
obtidos de forma mais rentável? verificados através da análise da prática do
Rendimento e Isto é, o plano funcionou de próprio ou de outros colegas: comparando
Optimização
maneira “económica”?...Para com o que sucedeu em acções planeadas de
dado resultado, tem havido modo diferente se pode ver se os resultados
esforços de redução do custo, de justificam os esforços empreendidos, se não
tempo, de energia (dos alunos, se investiu de mais para o que se conseguiu,
dos professores, da se não se poderia chegar ao mesmo, de uma
colectividade...)? A relação entre maneira mais fácil, por exemplo, lançando
o conjunto dos meios mão de menos recursos ou gastando menos
mobilizados e os resultados tempo. Em suma, o rendimento e a
efectivamente obtidos é a melhor optimização traduzem-se pelo dispêndio do
possível? mínimo para obtenção do mais elevado
resultado
Poderá apreciar-se a maximização
Os objectivos visados e as comparando os objectivos estabelecidos à
estratégias utilizadas para os partida com os resultados a que se chegou,
Maximização
alcançar foram os que permitiram comparando os efeitos obtidos neste plano
chegar ao mais elevado nível de com os efeitos obtidos com outros planos
conhecimentos, ao maior realizados pelo próprio professor ou por
desenvolvimento das outros professores. Quando, por exemplo, se
personalidades, à melhor estrutura uma aula pondo os alunos a
preparação para a vida, à melhor trabalhar em grupo pode conseguir-se que
adaptação às condições sociais e eles apreendam o conteúdo em questão,
culturais, etc. Ou ainda: soube-se desenvolvendo simultaneamente algumas
utilizar a situação para dela tirar capacidades. Com efeito, se conseguirmos
o máximo de possibilidades? que os alunos, ao apreenderem determinado
conceito, desenvolvam ao mesmo tempo as
suas capacidades cognitivas e psicomotoras e

28
ainda se enriqueçam sob o ponto de vista
humano, então estamos no caminho da
maximização da actividade. É, pois, uma
questão de explorar ao máximo as
potencialidades da estratégia e dos materiais
adoptados.

1. Em que consistem os objectivos, os procedimentos de ensino e a


avaliação como componentes da planificação do PEA?
Actividade

Sumário

Nos modelos de plano de aula fez-se referência aos elementos que devem constar nele. E
nesta aula, assim como na anterior, procurámos sistematizá-los, apresentando elementos que
os caracterizam e, a partir disso, o que justifica a sua pertinência como elementos importantes
a ter em conta em toda a planificação do PEA.

Em relação a esta aula particularmente, vemos que o plano tem que ter claramente o que se
pretende alcançar em termos de aprendizagem como resultado da actividade de ensino, a qual
se realiza utilizando procedimentos de ensino que, por sua vez, permitirão colocar o aluno em
contacto directo com as coisas, factos e fenómenos que possibilitem modificar sua conduta,
assimilar conceitos, esquemas de pensamento, desenvolver habilidades, enfim, aprender, em
função dos objectivos previstos.

Exactamente, colocando o plano do ensino ao serviço da aprendizagem dos alunos, visto que
o ensino é uma actividade finalizada. Após e ao longo da realização do PEA (com plano de
ensino apropriado), faz-se a avaliação do plano executado, referindo determinadas
perspectivas: a sua eficácia, o seu rendimento e optimização, a sua maximização.

29
Veja se dentre as afirmações que se seguem existe alguma
verdadeira:
a. O professor, ao planificar uma aula, basta ter os conteúdos a
Auto-avaliação
explicar posteriormente aos alunos, mesmo sem clareza do
que se pretende que eles sejam capazes de fazer, na
sequência dessa aula. Por isso, colocar os objectivos no
plano de lição é, às vezes, dispensável.

b. No plano de lição os procedimentos de ensino


compreendem métodos e técnicas de ensino e todos os
recursos auxiliares usados para estimular a aprendizagem do
aluno.

c. A avaliação do plano do ensino ajuda a determinar o grau e


a quantidade de resultados alcançados em relação aos
objectivos definidos.

Actividade independente
1. Para cada uma das questões/actividades de auto-avaliação, faça uma sintese das
respostas de professores que tenha entrevistado para darem a sua opinião sobre elas,
procurando demonstrar nessa sintese a sua análise pessoal, de modo a dar
recomendações precisas aos professors sobre a boa prática didáctica na planificação
do PEA

2. Solicite aos professores de uma escola/disciplina alguns modelos de planos analíticos


e planos de aula em uso. E, na base deles, identifique:

a. Os aspectos comuns e as diferenças entre os vários modelos de plano analítico e de


aula
b. O modelo de plano analítico e de aula que preferia utilizar [Obs: é preciso justificar]
3. A partir do plano temático de uma disciplina que lecciona ou que gostaria de leccionar,
elabore uma proposta de:
a. Um plano analítico semestral da disciplina
b. Um mínimo de 5 e máximo de 10 planos de aulas modelo

30
Actividade de final de curso
Quando terminar seu curs sobre Metodologia de Ensinoo, terá mais um desafio pela frente.
Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire

http://www.youtube.com/watch?v=YzURD6CgVs4&feature=related

Clique neste site e assista ao vídeo.


Depois diga o que você entende por:

a) Não há docência sem discência


b) Educar não é transferir conhecimento
c) Educar é uma forma de intervenção no mundo.

Bibliografia

1. CORTESÃO e TORRES. Avaliação Pedagógica II-Mudança na Escola, Mudança na


Avaliação ; Porto Editora, Porto, 1990.
2. KLINGBERG, Lothar. Introducción a la didáctica general. Editorial Pueblo y educación;
Ciudad de la Habana, 1972.
3. LIBANEO, J. Didáctica ; Cortez editora ; SP, 1992.
4. NIVAGARA, Daniel. Didáctica: Aprender a Ensinar; Rio de Janeiro; Edição da Fundação
CECIERJ, 2010
5. PILETTI, C. Didáctica ; Cortez editora ; SP, 1990.
6. SANT’ ANNA, Ilza Martis e MENEGOLLA, Maximiliano. Didáctica: Aprender a
ensinar, Sao Paulo, Edições Layola, 1989
7. VV. Pedagogia; Editorial Pueblo y Educacional; Habana, 1981.

31
Preste atenção à seguinte conversa entre professores (A, B , C, D e E),
extraída de Cortesão e Tores (1983:67):
A: Recuso-me a fazer planos. ...Mas...planificar, para quê? As aulas

Actividade constroem-se por si! As planificações limitam a minha liberdade de


acção!
B: Muitas vezes acontece que os meus alunos não se interessam pelas
actividades que planificamos no início do ano.
C: Mas os planos fazem-se para se cumprirem! Portanto, há que obrigá-
los a fazerem o que foi previsto
D: Não há dúvida de que tudo tem de ser realizado como foi previsto.
Não se pode perder tempo com coisas que os alunos se lembram de
querer discutir!
E: Mas...Como é? Deve-se planificar ou não se deve planificar?

Agora que você conheceu esta conversa, o que diria ao professor E?


Deve-se planificar ou não as aulas? Por quê?

Nas nossas escolas temos vários professores, cada um com seus hábitos
particulares. Entretanto, a escola é uma organização, uma entidade

Auto-avaliação responsável por realizar o PEA, uma actividade com carácter sistemático
e planificado como vimos na aula sobre as características do PEA. Nesse
sentido, você concordaria ou não concordaria com o professor que:

a. as suas aulas ocorrem espontaneamente, ao curso do que acontece


na aula;

b. as suas aulas são minuciosamente planificadas ao ponto de nelas


não se tratarem, nem se discutirem assuntos, tarefas, problemas
que não estavam previstos no plano de lição;

c. orienta aulas atractivas, « movimentadas », cujo dinamismo é


sustentado por aquilo que se passa na sala, mas sem deixar à parte
seu plano de aula.

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1. Para ser um bom plano de ensino, deve apresentar as
seguintes características: a) servir como guia de orientação, b)
apresentar ordem sequencial, c) apresentar objectividade, d)
apresentar coerência e e) apresentar flexibilidade.
Actividade
Explique em que consiste cada uma destas características

1. Suponha que temos dois professores, um professor A que planifica


uma aula de cada vez e outro professor B que planifica um conjunto
de aulas. Que comentários (a favor ou contra) faria em relação ao
procedimento destes professores?
Actividade

1. Acabámos de ver a importância de planificação do ensino, mas


subsistem duas questões:
c. A planificação é uma panaceia que resolve todos os problemas
Activida da educação? Por quê?
de
d. A planificação tem de ser encarada como uma proposta de
trabalho possível ou como algo definitivo, rígido, de
cumprimento obrigatório?

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Dentre as ideias seguintes, uma delas não é totalmente correcta. Qual é?
Justifique.
f. O plano de aula é um fio condutor, o que significa que não deve

Auto- ser rígido, mas sim flexível ao ponto de permitir ao professor

avaliação inserir novos elementos, mudar de rumo, se o exigirem as


necessidades e/ou interesses do momento, se de repente se
descobre uma forma mais rica, mais original ou mais adequada
de explorar determinado assunto

g. É indispensável que o professor saiba interpretar e aproveitar


cada oportunidade que surge do processo dinâmico de aula,
desligando-se de uma forma livre e criadora do plano que
previamente traçou.

h. Planificar várias aulas e não apenas uma permite ao professor


ter uma visão de conjunto e da inter relação dos seus elementos
constituintes, de modo a que cada situação de ensino e
aprendizagem, que propõe, constitua uma peça de um todo.

i. A coerência do plano de ensino faz com que os métodos, por


exemplo, propostos para uma aula correspondam aos objectivos
pretendidos, no sentido em que estes levam (infalivelmente) ao
alcance daqueles.

j. A função de planificação é orientar a prática do ensino do


professor, por isso é correcto que um inspector que assiste a
aula dum professor avalie-o negativamente pelos aspectos
ocorridos na aula que não constam no plano, ou pela não
realização integral do plano de aula.

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