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Engenharia Química

Inovação e tradição em tempos de


pandemia
Organização:
Poliana Mendes de Souza
Elizama Aguiar de Oliveira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Even3 Publicações, PE, Brasil)

S729i SOUZA, Poliana Mendes de.


Inovação na Educação Superior Brasileira: metodologias e
casos / Poliana Mendes de Souza. – 1. ed. – Recife: Even3
Publicações, 2021.
1 livro digital

Bibliografia.
ISBN: 978-65-5941-155-9

1. Educação Superior. 2. Metodologias Ativas. 3. Inovação


na Educação. I. Poliana Mendes de Souza , org. II. Título.

CDD 378.81
CDU 378
Comissão Organiza
Organizadora
dora do I WENDEQ:

ORGANIZAÇÃO GERAL
Presidente: Profª. Drª. Poliana Mendes de Souza (UFVJM)
Vice-Presidente:
Presidente: Prof. Dr. José Izaquiel Santos da Silva (UFVJM)
Prof. Dr. Rogério Alexandre Alves de Melo (UFVJM)

COMITÊ CIENTÍFICO
Coordenadora: Profª. Drª. Elizama Aguiar de Oliveira (UESC)
Prof. Dr. Antonio Marcos de Oliveira Siqueira (UEA)
Prof. Dr. Clairon Lima Pinheiro (UEA)
Profª. Drª. Cláudia Cândida Silva (UEA)
Prof. Dr. Filipe Alves Coelho (USF)
Prof. Dr. Jaiver Efren Jaimes Figueroa (UFMA)
Profª. Drª. Mara Heloisa N. Olsen Scaliante (UEM)
Profª. Drª. Marisa Fernandes Mendes (UFRRJ)
Profª. Drª. Monica Tais S. D'Amelio Felippe (USF)
Profª. Drª. Patricia de Souza Pinto Hidalgo (UEA)
Profª. Drª. Rena
Renata Nunes Oliveira (UFRRJ)
Profª. Drª. Roberta Martins da Costa Bianchi (USF)
Prof. Dr. Welisson de Araújo Silva (UEA)

COMITÊ DE PROGRAMAÇÃO
Coordenadora/Palestras: Profª. Drª. Ellen Raphael (UEA)
Coordenador/Minicursos: Prof. Dr. Rodolfo Rodrigues (UFSM)
Profª. Drª. Aline Dettmer (UPF)
Profª. Drª. Andrea Lopes de Oliveira Ferreira (UFPB)
Bruno Lobato Augusto (UFRRJ)
Prof. Dr. Carlos Eduardo Domingues Nazario (UFMS)
César V. Toniciolli Rigueto (UPF)
Prof. Dr. Jefferson Grangeiro (UEA)
Profª. Drª. Regina Yan
Yanako Moriya (UEA)
Prof. Dr. Rogério Navarro C. de Siqueira (PUC
(PUC-Rio)
Profª. Drª. Thaís Damacena Passos (UESC)

COMITÊ DE DIVULGAÇÃO E COMUNICAÇÃO


Coordenadora: Profª. Drª. Karina Klock da Costa (FAM)
Anne Carmen ten Boom (UFVJM)
Eric Sanches Simões (UNIVALI)
Felipe Matheus Müller (UNIVALI)
Fernanda Hugo Figueiró (UFVJM)
Gabriel Pinheiro de Souza (UEA)
Lucas Anselmo Marques (UFAM)
Robson Rodrigues (UFRPE)
SUMÁRIO
PREFACIO .................................................................................................................... 14

AUTORES ..................................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1: CHEMICAL ENGINEERING AND TRANSDISCIPLINARITY AGAINST


COVID-19 - Alessandra Suzin Bertan, Marco Aurélio Cremasco ............................................... 24

CAPÍTULO 2: ESTUDO E ANÁLISE DE SANEANTES DOMISSANITÁRIOS


CLANDESTINOS - Grazielma Ferreira de Melo, Ronaldo Ferreira da Silva Filho ................... 43

CAPÍTULO 3: NANO E MICROEMULSÕES DE ÓLEO DE CANABIDIOL PARA


APLICAÇÃO EM COSMÉTICOS - Pedro Paulo Alves Sampaio de Souza, João Victor Nicolini
..................................................................................................................................................................... 59

CAPÍTULO 4: REVISÃO DA LITERATURA: Ceriporiopsis subvermispora NA


PRODUÇÃO DE ENZIMAS LIGNINOLÍTICAS - Maira Fernanda Alves Bueno, Sandra de
Cássia Dias ............................................................................................................................................. 75

CAPÍTULO 5: ESTRATÉGIAS DE CAPTURA DE CO2 DURANTE A COGERAÇÃO E


FERMENTAÇÃO EM USINAS DE CANA-DE-AÇÚCAR - Felipe de Oliveira Gonçalves,
Daniele da Silva Campanholi, Melina Savioli Lopes ....................................................................... 89

CAPÍTULO 6: IMPACTOS NO MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL DEVIDO À


PROIBIÇÃO DE QUEIMADAS NAS LAVOURAS DE CANA-DE-AÇÚCAR T- Felipe de
Oliveira Gonçalves, Daniele da Silva Campanholi, Melina Savioli Lopes ................................. 104

CAPÍTULO 7: APLICAÇÃO DE CONCEITOS ECONÔMICOS EM PROJETOS DE


INVESTIMENTO POPULAR - Felipe de Oliveira Gonçalves, Daniele da Silva, Campanholi,
Fabio Ferraço, Melina Savioli Lopes ............................................................................................... 120
CAPÍTULO 8: CERÂMICAS BIFÁSICAS DE FOSFATOS DE CÁLCIO: UM
MAPEAMENTO CIENTÍFICO -José Rosa de Souza Farias, Ycaro Breno Alves de Almeida,
Genivaldo Melo da Rocha, Valdeci Bosco dos Santos, Aluska do Nascimento Simões Braga
.................................................................................................................................................................. 137

CAPÍTULO 9: NANOCELULOSE PRODUZIDA POR BACTÉRIAS DO GÊNERO


Gluconacetobacter A PARTIR DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS PARA APLICAÇÃO
NAS ÁREAS ALIMENTÍCIA E BIOMÉDICA -Kátia dos Santos Morais, Iule Biank Pairana,
Patrícia Lopes Leal, Elizama Aguiar Oliveira ................................................................................. 149

CAPÍTULO 10: ADSORÇÃO DE CONTAMINANTES EMERGENTES DE ÁGUAS


RESIDUAIS: UM REVIEW - Cesar Vinicius Toniciolli Rigueto, Ingridy Alessandretti, Aline
Dettmer ................................................................................................................................................ 161

CAPÍTULO 11: ADSORVENTES NANOESTRUTURADOS PARA O TRATAMENTO DA


ÁGUA DE PRODUÇÃO - Victor Rabelo Pessoa, João Victor Nicolini ................................ 177

CAPÍTULO 12: RECOMENDAÇÕES PARA NOVOS TRABALHOS EM


DESSALINIZAÇÃO ULTRASSÔNICA - Yago Fraga Ferreira Brandão, Manoel P. de Andrade
Filho, Gleice Paula de Araujo, Leonardo Bandeira dos Santos, Leonildo Pereira Pedrosa Júnior,
Valdemir Alexandre dos Santos ....................................................................................................... 193

CAPÍTULO 13: SUGESTÃO DE UM MODELO PREDITIVO ADEQUADO PARA


TRABALHOS PRELIMINARES EM DESINFECÇÃO ULTRASSÔNICA - Manoel P. de
Andrade Filho, Yago Fraga Ferreira Brandão, Gleice Paula de Araujo, Leonardo Bandeira dos
Santos, Leonildo Pereira Pedrosa Júnior, Valdemir Alexandre dos Santos .............................. 208

CAPÍTULO 14: TUBO DE VÓRTICE DE RANQUE-HILSCH: ANÁLISE DE SUA


EVOLUÇÃO HISTÓRIA E DE MODELOS NUMÉRICOS RECENTES - Danillo Lanzieri
Modesto, Joseph Youssif Saab Junior, Efraim Cekinski ................................................................ 220

CAPÍTULO 15: FERMENTADOS ALCOÓLICOS DE FRUTAS TROPICIAS, UMA


REVISÃO DA LITERATURA - Ramon dos Santos Araújo, Elizama Aguiar de Oliveira
.................................................................................................................................................................. 238
CAPÍTULO 16: A SECAGEM EM CAMADA DE ESPUMA E O MASTRUZ COMO
MATÉRIA-PRIMA: UMA REVISÃO - Maria Rayanne Lima de Moraes, Jaquelyne Morais de
Caldas ................................................................................................................................................... 250

CAPÍTULO 17: PONTOS DE CARBONO OBTIDOS DE DIFERENTES PLANTAS E


FRUTOS - Rangel De Castro Barbosa, Paula Fernanda Contes Campos, Ellen Raphael ..... 266

CAPÍTULO 18: MODELAGEM DE UMA DOENÇA ARTERIAL COMO DIDÁTICA NO


ENSINO DE ENGENHARIA QUÍMICA - Leonardo Voltolini, Poliana Sander Ferreira,
Luizildo Pitol-Filho ............................................................................................................................ 281

CAPÍTULO 19: PROGRAMA DIDÁTICO EM VBA PARA ANÁLISE DE CICLOS DE


POTÊNCIA RANKINE IDEAL - Aldair Antonio de Sousa, Luan Silva de Brito, Vinicius
Dourado dos Santos, Raphael Ribeiro Cruz Santos, Karina Klock da Costa ........................... 295

CAPÍTULO 20: ALTERNATIVAS PARA O BRANQUEAMENTO DO ÓLEO DE ARROZ


- Natallia Britto Azevedo Souza, Nicole Dall’Accua Lopes, Rogério da Silva, Valéria Terra Crexi,
André Ricardo Felkl de Almeida ...................................................................................................... 310

CAPÍTULO 21: MENOS UM PLÁSTICO: UMA CAMPANHA VIRTUAL DE


CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL SOBRE RESÍDUOS PLÁSTICOS - Rebeca Jacqueline
Machado, Débora Daniele Ricardo Terra, Fernanda Veras Cardoso, Hannah Soeiro Pereira,
Maria Clara Cruz da Cunha, Matheus Vinicius do N. Coutinho, Yves Nathan Melo de Faria, Ellen
Raphael ................................................................................................................................................. 326

CAPÍTULO 22: DO FAZER AO ENSINAR: VIVÊNCIA E ESTRATÉGIAS DE ENSINO


EM PESQUISA APLICADA À ENGENHARIA QUÍMICA DURANTE A PANDEMIA DE
COVID-19 - João Walber Cabral da Silva, Melânia Lopes Cornélio ......................................... 341

CAPÍTULO 23: QUÍMICA DAS EMOÇÕES: DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA MEDIANTE


OFICINAS VIRTUAIS E MIDIAS SOCIAIS COMO FERRAMENTAS DE
CONSCIENTIZAÇÃO À SAÚDE EMOCIONAL NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE
COVID-19 - Felipe Matheus Müller, Nicoli Fernanda Veyra, Beatriz Batista Warmling, Jaíne
Santos de Moura, Jennifer Machado, Julia Spohr Grigolo, Sophia Miskowiec, Ferreira da Silva,
Patrícia Fóes Scherer Costódio, Anelise Ehrhardt, Gizelle Inácio Almerindo ......................... 355

CAPÍTULO 24: UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE MALTE NA ELABORAÇÃO DE


BISCOITOS TIPO COOKIES: UMA REVISÃO DA LITERATURA - Paola Fontana de
Vargas, Adriane Pagani, Caroline Tombini, Maria Manuela Camino Feltes, Josiane , Francieli
Dalcanton, Maria Muneron de Mello ............................................................................................. 368

CAPÍTULO 25: PRODUÇÃO DE BEBIDA PROBIÓTICA DE MAÇÃ UTILIZANDO


Lactobacillus plantarum 299v: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - Juliane Cordeiro Pinto,
Katlyn Thaís Nalepa, Cíntia Maia Braga ......................................................................................... 384

CAPÍTULO 26: QUITOSANA E SUA RELAÇÃO COM OS OBJETIVOS DO


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO DA LITERATURA - Giovana
Marchezi, Bruna Strieder Machado, Larissa Crestani, Danielli Martins Sanderi, Thaís Strieder
Machado, Jeferson Steffanello Piccin .............................................................................................. 399

CAPÍTULO 27: SURFACTANTES NATURAIS NA RECUPERAÇÃO AVANÇADA DO


PETRÓLEO - Bianca Floriano da Rocha, João Victor Nicolini ................................................ 412

CAPÍTULO 28: PERSISTÊNCIA FOTOQUÍMICA AMBIENTAL DE PESTICIDAS EM


ÁGUAS SUPERFICIAIS: UMA ABORDAGEM HÍBRIDA EXPERIMENTAL-
COMPUTACIONAL - Carolina Mendes Rocha, Arlen Mabel Lastre-Acosta, Bruno Ramos,
Isadora Luiza Climaco Cunha, Antonio Carlos Silva Costa Teixeira ......................................... 428

CAPÍTULO 29: DIVULGAÇÃO DE CONHECIMENTOS EM SUSTENTABILIDADE,


RECICLAGEM E SAÚDE PLANETÁRIA - Carolina Tostes Marana, Jose Luis de Paiva, Ana
Maria da Costa Ferreira, Maria da Conceição da Costa Golobovante ....................................... 450

CAPÍTULO 30: APLICAÇÃO DE CROMATOGRAFIA PARA ANÁLISE E SEPARAÇÃO


DE CAROTENOIDES POR CULTIVO SUBMERSO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -
Camila Luciana Silva de Mesquita, Giulia Torres Silveira, Jadson Gonçalves Batista, Maisa
Cavalcanti Coelho, Josevan da Silva, Andrea Ferreira de Oliveira Lopes ................................. 460
CAPÍTULO 31: MODELAGEM DA PRODUÇÃO DE ETANOL UTILIZANDO O
GLICEROL RESIDUAL DE BIODIESEL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - Jadson
Gonçalves Batista, Camila Luciana Silva de Mesquita, Giulia Torres Silveira, Andrea Lopes de
Oliveira Ferreira, Giovanilton Ferreira Silva ................................................................................... 479

CAPÍTULO 32: PRODUÇÃO DE AROMAS NATURAIS A PARTIR DA HIDRÓLISE DA


GORDURA DO LEITE FAVORECIDA POR ULTRASSOM - Arthur Pompilio da Capela,
Alécia Daila Barros Guimarães, Isabela Soares Magalhães, Bruno Ricardo de Castro Leite Júnior
.................................................................................................................................................................. 495

CAPÍTULO 33: AVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE EXTRAÇÃO NA ATIVIDADE


ANTITUMORAL DE PLANTAS MEDICINAIS BRASILEIRAS - Brunno Almeida de
Carvalho e Silva, Isabela Cristina Porto Assumpção, Marisa Fernandes Mendes .................... 509

CAPÍTULO 34: INFLUÊNCIA DAS TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO NA ATIVIDADE


ANSIOLÍTICA DE DIFERENTES PLANTAS MEDICINAIS - Isabela Cristina Porto
Assumpção, Maria Helena Durães Alves Monteiro, Marisa Fernandes Mendes ..................... 524

CAPÍTULO 35: ELEMENTOS TERRAS RARAS: UM DEPÓSITO IMPORTANTE DA


PARAÍBA - Jaquelynne Cássia de Amorim, Andrea Lopes Oliveira Ferreira .......................... 539

CAPÍTULO 36: HIDRÓXIDOS DUPLOS LAMELARES: APLICAÇÕES E


PERSPECTIVAS PARA REMOÇÃO DE CORANTES EM ÁGUA - Lorranny Oliveira Lemes,
Bruno Ramos, Renato Rosseto ........................................................................................................ 554

CAPÍTULO 37: PROCESSO DE PURIFICAÇÃO DA LIGNINA: UMA BREVE REVISÃO


- Henrique Straioto, Paula Valéria Viotti, Wardleison Martins Moreira, Mara Heloisa Neves Olsen
Scaliante, Marcelo Fernandes Vieira ................................................................................................ 569

CAPÍTULO 38: ABORDAGEM QUÍMICA SOBRE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS:


UMA VISÃO DOS PROCESSOS DE SEPARAÇÕES DE MISTURAS - Mailson Moreira
Costa Silva, Alexandre Franco Aranha Junior, Ana Clara Moreira de Santana Santos, Raquel Goes
Paim, Ana Lúcia Barbosa de Souza ................................................................................................. 584
CAPÍTULO 39: TRICLOSAN: OCORRÊNCIA, RISCOS E TÉCNICAS DE REMOÇÃO -
Liane Carmen Ruszcyk, Gabriel André Tochetto ......................................................................... 598

CAPÍTULO 40: EQUAÇÕES DE CUSTO PARA SÍNTESE E OTIMIZAÇÃO DE REDES


DE TROCADORES DE CALOR: UMA REVISÃO - Syntia Lemos Cotrim, Mauro Antônio da
Silva Sá Ravagnani .............................................................................................................................. 611

CAPÍTULO 41: PROPRIEDADES DE FIBRA DE CARBONO ATIVADO E CARVÕES


ATIVADOS - UMA REVISÃO DE LITERATURA - Danielly Cruz Campos Martins ...... 626

CAPÍTULO 42: LEITE CAPRINO: CARACTERÍSTICAS, DESAFIOS E


POTENCIALIDADES - Isabela Soares Magalhães, Alécia Daila Barros Guimarães, Arthur
Pompilio de Capela, Ana Flávia Coelho Pacheco, Letícia Bruni de Souza, Bruno Ricardo de
Castro Leite Júnior ............................................................................................................................. 642

CAPÍTULO 43: HIDRÓLISE DE PROTEÍNAS VEGETAIS - Letícia Bruni de Souza, Ana


Flávia Coelho Pacheco, Alécia Daila Barros Guimarães, Isabela Soares Magalhães, Bruno Ricardo
de Castro Leite Junior ........................................................................................................................ 653

CAPÍTULO 44: USO DO ULTRASSOM PARA POTENCIALIZAR A HIDRÓLISE


ENZIMÁTICA - Ana Flávia Coelho Pacheco, Letícia Bruni de Souza, Alécia Daila Barros
Guimarães, Isabela Soares Magalhães, Bruno Ricardo de Castro Leite Junior ......................... 669

CAPÍTULO 45: APLICAÇÃO DE NANOMATERIAIS NO DESENVOLVIMENTO DE


EMBALAGENS PARA ALIMENTOS - Elise dos Santos Lauria, João Victor Nicolini
.................................................................................................................................................................. 684

CAPÍTULO 46: AVANÇOS NA PRODUÇÃO DE QUITOSANA FÚNGICA E SUAS


POTENCIAIS APLICAÇÕES: UMA REVISÃO DA LITERATURA - Larissa Crestani,
Danielli Martins Sanderi, Giovana Marchezi, Bruna Strieder Machado, Thaís Strieder Machado,
Jeferson Steffanello Piccin ................................................................................................................ 700
CAPÍTULO 47: PRINCIPAIS FONTES DE ENERGIA NO BRASIL E SEUS IMPACTOS
SOBRE O MEIO AMBIENTE - Matiara Semêdo da Costa Amaral, Marilia Gabriella Dinelli
Silva, Cristiane de Souza Siqueira Pereira ....................................................................................... 715

CAPÍTULO 48: CATALISADORES HETEROGÊNEOS NA FOTODEGRADAÇÃO DE


CAFEÍNA E FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS EM SOLUÇÃO - Camila Pinheiro
Bertoglio, Ingrid Luíza Reinehr, Alexandre Tadeu Paulino, Luiz Jardel Visioli, Heveline Enzweiler
.................................................................................................................................................................. 727

CAPÍTULO 49: UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE MALTE NA ELABORAÇÃO DE


BISCOITOS TIPO COOKIES: UMA REVISÃO DA LITERATURA - Paola Fontana de
Vargas, Adriane Pagani, Caroline Tombini, Maria Manuela Camino Feltes, Josiane Maria
Muneron de Mello, Francieli Dalcanton ......................................................................................... 741

CAPÍTULO 50: PROTEÍNAS DO LEITE: FONTE DE PEPTÍDEOS BIOATIVOS E


HIDROLISADOS PROTEICOS COM ATRAENTES PROPRIEDADES - Alécia Daila Barros
Guimarães, Isabela Soares Magalhães, Ana Flávia Coelho Pacheco, Letícia Bruni de Souza, Bruno
Ricardo de Castro Leite Júnior ......................................................................................................... 757

CAPÍTULO 51: EXTRATO AQUOSO DE ILEX PARAGUARIENSIS: INCLUSÃO


FITOTERÁPICA ANTIOXIDANTE PARA O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - Kátia
Gualberto Corrêa, Wilson José Gonçalves ..................................................................................... 768

CAPÍTULO 52: β-TCP DOPADO COM ESTRÔNCIO: UMA BREVE REVISÃO - Slanna
Larissa Olimpio Costa, Ycaro Breno Alves de Almeida, José Rosa de Souza Farias, Valdeci
Bosco dos Santos, Aluska Nascimento Simões Braga .................................................................. 782

CAPÍTULO 53: CORANTES NATURAIS EM ALIMENTOS: ESTUDO DO POTENCIAL


DA PITAYA PARA PRODUÇÃO DE CORANTES - Poliana Mendes de Souza, Carlos
Alberto Gois Suzart, Adnane Beniaich ........................................................................................... 795

CAPÍTULO 54: PRESENÇA DE METAIS PESADOS E PROCESSOS CONVENCIONAIS


PARA O TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIAS TÊXTEIS BRASILEIRAS -
Juan Pablo Pereira Lima, André Aguiar .......................................................................................... 806
CAPÍTULO 55: BIOPOLÍMEROS OBTIDOS A PARTIR DE AMIDO DE BATATA
DOCE E COLÁGENO DE PEIXE - Wellington Wolf Oenning, Marieli Rosseto, César
Toniciolli Rigueto, Sumaya Ferreira Guedes, Claudinéia Aparecida Queli Geraldi, Raquel
Aparecida Loss .................................................................................................................................... 820
eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

PREFÁCIO
Enquanto o SARS-CoV-2 parece estar controlado na China, a epidemia avança
rapidamente para oeste. O que há poucas semanas parecia um feito impossível – impor e
aplicar medidas restritas de quarentena e isolar dezenas de milhões de pessoas do resto do
mundo – agora é realidade em muitos países. As pessoas na Europa e noutras partes do
mundo terão de se adaptar e inventar novos estilos de vida naquele que é o evento mais
perturbador desde a Segunda Guerra Mundial.
A situação atual nos obrigada a repensar a vida quotidiana e a buscar alterantivas para
executar as atividades em formato remoto. A humanidade está a enfrentar uma doença
desconhecida e ameaçadora que geralmente é grave e fatal. Os sistemas de saúde ficarão
sobrecarregados e ainda não existe tratamento comprovado. Tal situação não existe desde a
pandemia da gripe em 1918. Acreditamos que uma mente clara é crucial em tempos de
excesso de informação, com dezenas de artigos científicos publicados todos os dias, notícias
sobre centenas de estudos planeados ou em curso e os media ao misturar dados concretos com
rumores e notícias falsas.
Em tempos de adaptação os eventos anteriormente presenciais passaram para o
formato online e neste contexto nasceu o Web Encontro Nacional de Engenharia Química,
um evento que nasceu online e pensado para permanecer online. No WENDEQ tivemos a
oportunidade de fomentar a participação e interação de participantes de todo o Brasil, todos
em busca de discutir esta formação e em busca de inovar, se reinventar e se atualizar. Com as
obras apresentadas no WENDEQ foi organizado este e-book.

Profa. Dra. Poliana Mendes de Souza


Profa. Dra. Elizama Aguiar de Oliveira

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eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

AUTORES
Adnane Beniaich - Polytechnic University Mohammed VI, email: beniaich@gmail.com

Adriane Pagani - Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), email:


adrianepagani@unochapeco.edu.br

Alécia Daila Barros Guimarães - Universidade Federal de Viçosa (UFV), email:


aleciabarros@live.com

Alessandra Suzin Bertan - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), email:


alesuzinbertan@gmail.com

Alexandre Tadeu Paulino - Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), email:


alexandre.paulino@udesc.br

Aldair Antonio de Sousa - Faculdade de Americana (FAM), email:


sousaaldair583@gmail.com

Alexandre Franco Aranha Junior - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da


Bahia (IFBA), email: franco.aranha.junior34@gmail.com

Aline Dettmer - Universidade de Passo Fundo (UPF), email: alinedettmer@upf.br

Aluska Nascimento Simões Braga - Universidade Federal do Piauí (UFPI), email:


aluskasimoes@hotmail.com

Ana Clara Moreira de Santana Santos - Centro Universitário SENAI-CIMATEC, email:


a.santos@aln.senaicimatec.edu.br

Ana Flávia Coelho Pacheco - Universidade Federal de Viçosa (UFV), email:


ana.f.pacheco@ufv.br

Ana Lúcia Barbosa de Souza - Centro Universitário SENAI-CIMATEC, email:


ana.lbs@fieb.org.br

Ana Maria da Costa Ferreira - Universidade de Sao Paulo (USP), email: amdcferr@iq.usp.br

André Aguiar - Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), email: aguiar@unifei.edu.

André Ricardo Felkl de Almeida - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), email:


andrealmeida@unipampa.edu.br

Andrea Lopes Oliveira Ferreira - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


andrea.ferreira@academico.ufpb.br

Anelise Ehrhardt - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email: anelisee@univali.br

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eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

Antonio Carlos Silva Costa Teixeira - Universidade de São Paulo (USP), email:
acscteix@usp.br

Arlen Mabel Lastre-Acosta - Universidade de São Paulo (USP), email:


arlenlastre@gmail.com

Arthur Pompilio de Capela - Universidade Federal de Viçosa (UFV), email:


arthurpompilio@hotmail.com

Beatriz Batista Warmling - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


beatrizwarmling@hotmail.com,

Bianca Floriano da Rocha - Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), email:


biancaflorianod@gmail.com

Bruna Strieder Machado - Universidade de Passo Fundo (UPF), email: 173882@upf.br

Brunno Almeida de Carvalho e Silva - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


(UFRRJ), email: brunnoacesilva@gmail.com

Bruno Ramos - Universidade de São Paulo (USP), email: bruno.ramos@usp.br

Bruno Ricardo de Castro Leite Júnior - Universidade Federal de Viçosa (UFV), email:
bruno.leitejr@ufv.br

Camila Luciana Silva de Mesquita - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


camilalsmesquita@gmail.com

Camila Pinheiro Bertoglio - Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), email:


camilabertoglio1011@gmail.com

Carlos Alberto Gois Suzart - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
(UFVJM), email: engsuzart@ict.ufvjm.edu.br

Carolina Mendes Rocha - Universidade de São Paulo (USP), email: carolinamr@usp.br

Carolina Tostes Marana - Universidade de Sao Paulo (USP), email: carolinamarana@usp.br

Caroline Tombini - Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), email:


caroline.tombini@unochapeco.edu.br

César Toniciolli Rigueto - Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS,
email: cesartoniciolli@gmail.com

Cesar Vinicius Toniciolli Rigueto - Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), email:
cesartoniciolli@gmail.com

Claudinéia Aparecida Queli Geraldi - Universidade do Estado de Mato Grosso


(UNEMAT), Nova Mutum, MT, email: claudineia.geraldi@unemat.br

Cíntia Maia Braga - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email: cmb@univali.br

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eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

Cristiane de Souza Siqueira Pereira - Universidade de Vassouras (UV), email:


crispereirauss@gmail.com

Daniele da Silva Campanholi - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), email:


daniele.campanholi@sou.unifal-mg.edu.br

Danielli Martins Sanderi - Universidade de Passo Fundo (UPF), email:


danisanderi@gmail.com

Danielly Cruz Campos Martins - Universidade Estadual de Maringá (UEM), email:


daniellyccmartins@gmail1.com

Danillo Lanzieri Modesto - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo


(IPT), email: danillomodesto@yahoo.com.br

Débora Daniele Ricardo Terra - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email:


ddrt.geq20@uea.edu.br

Efraim Cekinski - Instituo Mauá de Tecnologia (IMT), email: cekinski@gmail.com

Elise dos Santos Lauria - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), email:
lauriaelise@hotmail.com

Elizama Aguiar-Oliveira - Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), eaoliveira@uesc.br

Ellen Raphael - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email: eraphael@uea.edu.br

Fabio Ferraço - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), email: fabio.ferraco@unifal-


mg.edu.br

Felipe de Oliveira Gonçalves - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), email:


felipe.goncalves@sou.unifal-mg.edu.br

Felipe Matheus Müller - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


mm.felipe@outlook.com

Fernanda Veras Cardoso - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email:


fvc.geq20@uea.edu.br

Francieli Dalcanton - Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó),


email: fdalcanton@unochapeco.edu.br

Gabriel André Tochetto - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), email:


tochettogabriel@gmail.com

Genivaldo Melo da Rocha - Universidade Federal do Piauí (UFPI), email:


genivaldo.eng1@ufpi.edu.br

Giovana Marchezi - Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, email:
173887@upf.br

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eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

Giovanilton Ferreira Silva - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


giovanilton@ct.ufpb.br

Giulia Torres Silveira - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


giulia.silveira1102@gmail.com

Gizelle Inácio Almerindo - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


gizelle.almerindo@univali.br

Gleice Paula de Araujo - Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), email:


gleeicearaujo@hotmail.com

Grazielma Ferreira de Melo - Universitário do Vale do Ipojuca (UNIFAVIP), email:


gferreirademelo@outlook.com

Hannah Soeiro Pereira - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email:


hsp.geq20@uea.edu.br

Henrique Straioto – Universidade Estadual de Maringá (UEM), email:


henriquestraioto72@gmail.com

Heveline Enzweiler - Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), email:


heveline.enzweiler@udesc.br

Ingrid Luíza Reinehr - Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), email:


ingridreinehr@gmail.com

Ingridy Alessandretti - Universidade de Passo Fundo (UPF), email:


ingridyalessandretti7@gmail.com.

Isabela Cristina Porto Assumpção - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


(UFRRJ), email: isabelaassumpcao@outlook.com

Isabela Soares Magalhães - Universidade Federal de Viçosa (UFV), email:


isabela.magalhaes@ufv.br

Isadora Luiza Climaco Cunha - Universidade de São Paulo (USP), email:


isadoracunha@usp.br

Iule Biank Pairana - Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), iule.biank@hotmail.com

Jadson Gonçalves Batista - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


Jadson.goncalves@academico.ufpb.br

Jaíne Santos de Moura - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


jainem@edu.univali.br.

Jeferson Steffanello Piccin - Universidade de Passo Fundo (UPF), email:


jefersonpiccin@upf.br

18
eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

Jennifer Machado - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


jennifermachado350@hotmail.com

Jaquelyne Morais de Caldas - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


jaquelynemorais1@hotmail.com

Jaquelynne Cássia de Amorim - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


jaquelynne@gmail.com

João Victor Nicolini - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), email:
jvnicolini@gmail.com

João Walber Cabral da Silva - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


joao.walber@academico.ufpb.br

Jose Luis de Paiva - Universidade de Sao Paulo (USP), email: jolpaiva@usp.br

José Rosa de Souza Farias - Universidade Federal do Piauí (UFPI), email:


joseng2020@ufpi.edu.br

Joseph Youssif Saab Junior - Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), email: saab@maua.br

Josevan da Silva - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email: josevanufpb@gmail.com

Josiane Maria Muneron de Mello - Universidade Comunitária da Região de Chapecó


(Unochapecó), josimello@unochapeco.edu.br

Juan Pablo Pereira Lima - Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), email:


juanpablotp3@unifei.edu.br

Julia Spohr Grigolo - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


juliaspohrgrigolo@hotmail.com.

Juliane Cordeiro Pinto - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


julyannecp@hotmail.com.

Karina Klock da Costa - Faculdade de Americana (FAM), email: kkckarina@gmail.com

Kátia Gualberto Corrêa - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), email:
katiagcorrea546@gmail.com

Kátia dos Santos Morais - Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), katia-
kaki@hotmail.com

Katlyn Thaís Nalepa - Universidade Federal do Paraná (UFPR), email:


katlynthais@ufpr.com

Larissa Crestani - Universidade de Passo Fundo (UPF), email: larissacrestani@live.com

Leonardo Bandeira dos Santos – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),


email: Leonardo.bandeira@iati.org.br

19
eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

Leonardo Voltolini - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, email:


leovoltolini@edu.univali.br

Leonildo Pereira Pedrosa Júnior - Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), email:


leopedrosajr2@gmail.com

Letícia Bruni de Souza - Universidade Federal de Viçosa (UFV), email: leticia.bruni@ufv.br

Liane Carmen Ruszcyk - Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), email:


lianersk@hotmail.com

Lorranny Oliveira Lemes - Estadual de Goiás (UEG), email: lorranny.lemes@gmail.com

Luan Silva de Brito - Faculdade de Americana (FAM), email: luansilvadebrito@hotmail.com

Luiz Jardel Visioli - Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), email:


luizjvisioli@gmail.com

Luizildo Pitol-Filho - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email: luizildo@univali.br

Maira Fernanda Alves Bueno - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), email:


mairabueno00@gmail.com

Mailson Moreira Costa Silva - Centro Universitário SENAI-CIMATEC, e-mail:


mailson.silva@aln.senaicimatec.edu.br

Maisa Cavalcanti Coelho - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


maisaccoelho@gmail.com

Manoel P. de Andrade Filho – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),


email: manoandrade2005@hotmail.com

Mara Heloisa Neves Olsen Scaliante - Universidade Estadual de Maringá (UEM), email:
mhnoscaliante2@uem.br

Marcelo Fernandes Vieira - Universidade Estadual de Maringá (UEM), email:


mfvieira2@uem.br

Marco Aurélio Cremasco - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), email:


cremasco@unicamp.br

Maria Clara Cruz da Cunha - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email:


mccdc.geq20@uea.edu.br

Maria da Conceição da Costa Golobovante - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


(PUC), email: mccgol@gmail.com

Maria Helena Durães Alves Monteiro - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), email: isabelaassumpcao@outlook.com

20
eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

Maria Manuela Camino Feltes - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), email:
manuela.feltes@ufsc.br

Maria Rayanne Lima de Moraes - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


mraylima93@gmail.com

Marieli Rosseto - Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, email:
mmarielirossetto@gmail.com

Marilia Gabriella Dinelli Silva - Universidade de Vassouras (UV), email:


gabidinelli@gmail.com

Marisa Fernandes Mendes - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), email:
marisamendes@globo.com

Matheus Vinicius do N. Coutinho - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email:


mvnc.geq17@uea.edu.br

Matiara Semêdo da Costa Amaral - Universidade de Vassouras (UV), email:


matiarasemedo@gmail.com

Mauro Antônio da Silva Sá Ravagnani - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),


email: massravagnani@uem.br

Melânia Lopes Cornélio - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), email:


melania.cornelio@academico.ufpb.br

Melina Savioli Lopes - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), email:


melina.savioli@unifal-mg.edu.br

Natallia Britto Azevedo Souz - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), email:


naatybs94@gmail.com

Nicole Dall’Accua Lopes - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), email:


nicole.dallaccua@gmail.com

Nicoli Fernanda Veyra - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


veyranicoli@gmail.com

Paola Fontana de Vargas - Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó),


email: paola.vargas@unochapeco.edu.br.

Patrícia Fóes Scherer Costódio - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


pscherer@univali.br

Patrícia Lopes Leal - Universidade Federal da Bahia (UFBA), lealpat@yahoo.com.br,

Paula Fernanda Contes Campos - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email:


p.fernandacontes@gmail.com

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eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
ISBN: 978-65-594-1262-4

Paula Valéria Viotti - Universidade Estadual de Maringá (UEM), email:


paulavaleriaviotti@gmail.com

Pedro Paulo Alves Sampaio de Souza - Instituto de Tecnologia, Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (UFRRJ), email: pedrosampaios@outlook.com.

Poliana Mendes de Souza - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri


(UFVJM), email: poliana.souza@ict.ufvjm.edu.br

Poliana Sander Ferreira - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


polianasander@edu.univali.br

Rangel De Castro Barbosa - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email:


rangelc.barbosa@gmail.com,

Raphael Ribeiro Cruz Santos - Universidade São Francisco (USF), email:


raphaelrcsantos@gmail.com

Raquel Aparecida Loss - Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Barra do


Bugres, MT, email: raquelloss@unemat.br

Raquel Goes Paim - Universitário SENAI-CIMATEC, email:


raquel.paim@aln.senaicimatec.edu.br

Rebeca Jacqueline Machado - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Manaus, AM,


email: rjm.geq19@uea.edu.br

Renato Rosseto - Universidade Estadual de Goiás (UEG), renato.rosseto@ueg.br

Rogério da Silva - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), email:


rogeriocamargo.aluno@unipampa.edu.br

Ronaldo Ferreira da Silva Filho - Centro Universitário do Vale do Ipojuca (UNIFAVIP),


email: ronaldo.971@outlook.com

Sandra de Cássia Dias - Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), email:
sandra@ufsj.edu.br,

Slanna Larissa Olimpio Costa - Instituto Federal do Piauí (IFPI), email:


slanna12larissa@gmail.com

Sophia Miskowiec Ferreira da Silva - Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), email:


sophiamfds@gmail.com.

Sumaya Ferreira Guedes - Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Nova


Mutum, MT, email: sumayaguedes@unemat.br

Syntia Lemos Cotrim - Universidade Estadual de Maringá (UEM), email: slcotrim2@uem.br

Thaís Strieder Machado - Universidade de Passo Fundo (UPF), email:


thaiis.strieder@hotmail.com

22
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ISBN: 978-65-594-1262-4

Valdeci Bosco dos Santos - Universidade Federal do Piauí (UFPI), email:


zvaldeci@bol.com.br

Valdemir Alexandre dos Santos – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),


Recife, PE, e-mail: valdemir.santos@unicap.br

Valéria Terra Crexi - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), email:


valeriacrexi@unipampa.edu.br

Victor Rabelo Pessoa - Instituto de Tecnologia, Universidade Federal Rural do Rio de


Janeiro (UFRRJ), email: v_r_pessoa@hotmail.com

Vinicius Dourado dos Santos - Faculdade de Americana (FAM), email: vds-


2009@hotmail.com

Yago Fraga Ferreira Brandão - Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), email:


yagoffb9@gmail.com

Ycaro Breno Alves de Almeida - Universidade Federal do Piauí (UFPI), email:


ycarobreno26@gmail.com

Yves Nathan Melo de Faria - Universidade Estadual do Amazonas (UEA), email:


nathan.yves@hotmail.com

Wardleison Martins Moreira - Universidade Estadual de Maringá (UEM), email:


wmmoreira@uem.br

Wellington Wolf Oenning - Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Barra do


Bugres, MT, email: Wellington.oenning@unemat.br

Wilson José Gonçalves - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), email:
wilson.goncalves@ufms.br

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CAPÍTULO 1
CHEMICAL ENGINEERING
AND TRANSDISCIPLINARITY
AGAINST COVID-19
Alessandra Suzin Bertan1
Marco Aurélio Cremasco2

1Doutoranda em Engenharia Química (UNICAMP), email: alesuzinbertan@gmail.com,


ID Lattes: 0194206713118072.

2Professor
Titular em Engenharia Química e Livre Docente em Transferência de
Massa na Faculdade de Engenharia Química (UNICAMP), email:
cremasco@unicamp.br, ID Lattes: 3603838759913454.

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CHEMICAL ENGINEERING AND TRANSDISCIPLINARITY


AGAINST COVID-19

ABSTRACT
Covid-19 has changed the planetary social scene, establishing the urgency and the
need to highlight the life. It is important to understand life in different nuances, from
its artistic representation to the choice of an appropriate adsorbent for obtaining
pure oxygen to maintain it, reflecting the essential transdisciplinarity against Covid-
19. Chemical Engineering can and should be part of the effort opposed to this
invisible agent, contributing strongly with several applications of its knowledge to life
preservation. This chapter shows a reflection about the importance of the
transdisciplinarity to understand the relevance of different knowledge areas contrary
to Covid-19, and the contextualization of Chemical Engineering in this scenario.
Key-words: Life. Transdisciplinarity. Chemical Engineering. Covid-19.

ENGENHARIA QUÍMICA E TRANSDISCIPLINARIDADE


NO COMBATE À COVID-19

RESUMO
A Covid-19 mudou o cenário social em nível mundial, estabelecendo a urgência e a
necessidade de enfatizar a vida. É importante compreendê-la em diferentes facetas,
desde a sua representação artística até a escolha de um adsorvente adequado para a
obtenção de oxigênio puro, refletindo o quanto a transdisciplinaridade é essencial no
combate à Covid-19. A Engenharia Química pode e deve fazer parte do esforço em
oposição a esse agente invisível, contribuindo fortemente a partir de várias aplicações
de seu conhecimento para a preservação da vida. Este capítulo apresenta uma
reflexão sobre a importância da transdisciplinaridade para compreender a relevância
das diferentes áreas do conhecimento frente à Covid-19, e a contextualização da
Engenharia Química nesse cenário.
Palavras-chave: Vida. Transdisciplinaridade. Engenharia Química. Covid-19.

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LIFE
Life. Life is something that we have in a beautiful place, but one day it will end.
Beginning, middle and end (Grammelsbacher, 2021). This quote can be associated
with “The journey of life” by Thomas Cole (1801-1848), which are four paintings
representing childhood, youth, manhood, and old age floating down the river of life
(Figure 1). In these artworks, there is somebody, a boat, and a river. The childhood
picture shows a child, ready to stand for the first step in life. In the youth painting, the
child becomes a young with dark hair, covered in a red tunic, perhaps to remind we
are ephemeral. In manhood, there is a man with a black beard, tormented. In old age,
the man has a beard and white hair, wrinkled and serene face. The river is a metaphor
for life that, in childhood, emerges from a spring of a cave as mother's womb,
following its course through cool lake in youth until, in manhood, the waters are
turbulent on the cliff edge. In old age, the river calms down again. If the person is the
flesh over time, the boat is his soul that flows through life (Cremasco, 2018, p. 61).

Figure 1: The journey of life (1840 - 1842) – Thomas Cole.

Childhood. Youth.

Manhood. Old age.

Source: https://www.nationalgallery.org.uk.

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Life is everything. Life is health (Suzin, 2021). This testimony shows the beauty
of life. However, the first one is of a nine-year-old child and the second of a sixty-
three-year-old person. Far from psychology to understand the interpretation of these
statements about the perception of finitude by a child, his report is near to everyday
experience in pandemic times. During our lives, we go through changes and
transformations; we mature and age. But these are changes that occur on continuum.
Death, on the contrary, is a sudden and discontinuous change. It is a breakpoint that
interrupts continuity; it makes the very possibility of change or transformation cease
(Marton, 2018, p. 23). Covid-19 interrupts the human natural cycle navigating the
river, which is life, according to the Thomas Cole’s brushstrokes and memorized in
the reinterpretation presented in Figure 2.

Figure 2: The journey interruption: a reading from Thomas Cole.

Source: Elaborated by the authors.

Covid-19 provokes the urgency and the need to focus on the life concept. This
question is not simple, because life does not exist in the abstract, and the search for
its understanding and meaning is one of the greatest philosophical and scientific
challenges of all times (Rodrigues, 2019, p. 16). For common people, life is associated
with happiness and vicissitudes, while for psychologists the psychic life; for
sociologists, social life; for theologians, spiritual life. In this case, there is the
conception that life was inflated in the matter by God, and so it is a kind of miracle
and not a result of natural laws. However, over the last two centuries, the origin of life
is approached scientifically, through laboratory experiments and the study of
theoretical processes (Damineli and Damineli, 2007, p. 265).

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eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
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Corrêa et al. (2008, p.11) pointed some philosophical and historical categories
for life: (a) life as a divine creation, comparable to that found in the Thomas Aquino’s
view; (b) life with the specific presence of a substance from living beings, from the
vital principle; (c) life as an organism that ascends from the struggle between its
parts, present in Nietzsche's philosophy, in which life would be the will to power
based on games of self-perpetuation and self-intensification (Ferraro, 2009, p. 4).
Putting the concept of life in the center of the epistemological discussion is essential
to understand its potency and its effects inside a discourse that, before being
scientific, is philosophical (Ferraro, 2009, p. 2). The Federal Constitution of Brazil, in
article 5, shows that the right to life is inviolable, dialoguing strongly that life will be
the primary right and a necessary condition for other rights (Moreira and Peixoto,
2008, p. 481).
Life is a topic that involves different disciplines, such as cosmology,
astrophysics, geology, organic chemistry, molecular biology, mathematics, and
complex systems theory (Damineli and Damineli, 2007, p. 265). The year 2020
entered to mankind history, exposing its fragility in the face of a virus, which affects
from prime ministers to a population that remains invisible to public policies (Bertan
and Cremasco, 2020, p. 540). In this way, the present study shows the importance of
the transdisciplinarity concept to understand the importance of different knowledge
areas against Covid-19, and the contextualization of Chemical Engineering in this
scenario.

TRANSDISCIPLINARITY AND INTERDISCIPLINARITY


Covid-19 represents an abrupt interruption of life, and its study is not limited to
a discipline, which is sometimes understood as a knowledge area (Conrad, 2007, p.
111). It is necessary to understand life with all its interrelationships, renouncing
arrogance, finding a place in nature, and not above it (Rodrigues, 2019, p. 30). The
victory of life against Covid-19 requires deep scientific and technological foundation,
including different areas, stimulating reciprocity in exchanges and mutual
enrichment, to generate new perspectives and knowledge (Choi and Pak, 2006, p.
359). A group of researchers from the University of Campinas (Unicamp) gathered
equipment, supplies, and volunteers to perform tests on the new coronavirus in
Campinas City (Brazil). In addition, they aim to study alternative methods of

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ISBN: 978-65-594-1262-4

detection, the action of the virus in the body, and drugs that can act contrary to Covid-
19 (Julião, 2020). The United Nations (UN), for example, mobilized researchers from
twenty-five countries to define national and international criteria to recover from the
socioeconomic crisis that spread on the planet because of the Covid-19 pandemic
(Izique, 2020). Those implemented, in research themes, were distributed in five
priority examined areas, namely: protection of health services and systems;
guarantee of social protection and basic services; scheduling the resumption of jobs,
small and medium-sized enterprises, and opportunities for workers in the informal
sector; support for macroeconomic response and multilateral collaboration; and
fostering social cohesion and community resilience. Science, in the UN view, is the
“best chance” for the planet to recover from Covid-19, since it can produce
transformative changes, which involve ingenuity, research in all knowledge areas,
partnerships, and collaboration (Izique, 2020). The recognition of the
interdependence of all aspects of reality (Max-Neef, 2005, p. 9) translates the
transdisciplinarity concept, as shown in Figure 3, which shows the interdependencies
of knowledge areas, in which there are no solid boundaries among them, constituting
a superior integration stage and, therefore, transcending the disciplinary boundaries
to see the dynamics of whole systems (Choi and Pak, 2006, p. 359).

Figure 3: Transdisciplinarity among knowledge areas based on CNPq classification.

Health
Sciences

Applied
Biological Social
Sciences Sciences

Agricultural Human
Sciences Sciences

Exact and Linguistics,


Earth Language
Sciences and Arts

Engineering

Source: Elaborated by the authors.

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In Health Sciences, the professionals working in the frontline, such as nurses,


physiotherapists, and physicians, also essential in direct contact with the patient,
develop research about the virus characterization, monitoring the viral load. In
Biological Sciences it is the ability to work in different niches, like immunology. In
addition to discovering ways to prevent and avoid the virus contagion. The Applied
Social Sciences area is essential as it studies and evaluates social behavior to reduce
the virus spread, as well as public and private administration in the economic and
health crisis. In the Political Sciences area besides assessing the impact of economic
nature, it is recognized that the dichotomy between those who defend isolation
measures and those who are against it can cause an increase in mortality, also the
opening of investigations about irregularities in the purchasing of respirators for
oxygen supply. Human Sciences show that the statistic is not only numbers, because
there are human beings with their history and collective history. It is important to
mention the Education area, in the Human Sciences, with the total readjustment as
construction and contents mediation, in the adequacy of remote classes and their
impact on learning. Agriculture Sciences create production strategies to serve the
population affected by the pandemic, considering the need to produce and enable
food, ensuring health. Exact and Earth Sciences, where Chemistry, Physics, and
Mathematics are found, is essential for the understanding of drugs molecular
structures used in the Covid-19 treatment; in the development of models for the virus
spread, aiming at planning control measures. In the Engineering area, there is
technological and logistical support for the application of science and public actions,
from the project to the construction of hospitals; large-scale production supplies
emergency, along with the recent development of the artificial lung that supports life
since it can keep the patients until their lungs recover. In the area known as
Linguistics, Language, and Arts, there is the essence of the artwork’s lives, which, in
Ilya Prigogine’s words, is the symbol of the universe that we see today (Prigogine,
2002, p. 69). Additionally, this area contributes to a clear, unified, and effective
communication with the population and between all points of the assistance network.
The present work, in the exercise of metalanguage, begins with a paintings and
clippings from a chronicle to contextualize life and thus seek interrelationships from
the most diverse knowledge area in contrast with the sad Covid-19 pandemic.

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The United Nations coordinated researchers from different nations so that,


together, they can define national strategies, clearly adopting the transdisciplinarity
approach to discuss and come up with solutions against Covid-19. Transdisciplinarity
establishes the maximum relationship between disciplines (in this context
understood as knowledge areas), to be integrated within the global system. This
system facilitates an interpretative unit to compose science and its goal is to
understand the present world (Nicolescu, 1999, p. 2). Exploring the Covid-19,
understanding it as an axiomatic factor common to a group of disciplines,
transdisciplinarity makes it possible to find and transpose common points and
working across several disciplines (Whitfield and Reid, 2004, p. 435). It should be
noted that transdisciplinarity is not limited to knowing the interactions existing
between research performed but emphasizes knowing the importance of each
connection in the process and its role in solving the problem to achieve the full
dynamics of reality (Klein, 1990, p. 66) which, in the present situation, is against
Covid-19. The recognition of the interdependence of all reality aspects (Max-Neef,
2005, p. 10) results in the concept of transdisciplinarity, as shown in Figure 3.

Figure 4: Interdisciplinarity among knowledge areas based on the CNPq classification.

Health
Sciences

Applied
Biological Social
Sciences Sciences

Agricultural Knowledge Human


Sciences Areas Sciences

Exact and Linguistics,


Earth Language
Sciences and Arts

Engineering

Source: Elaborated by the authors.

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The preservation of life requires scientific and technological knowledge, among


the different knowledge areas. When a specific area is called upon to act within their
characteristics, it still maintains dialogue with another knowledge area, referring to
the possibility of cooperation between disciplines, requiring their integration,
transferring methods from one discipline to another, it is interdisciplinarity
(Nicolescu, 1999, p. 2), shown in Figure 4. There is cooperation among the disciplines,
however, maintaining their expertise, as well as presenting solid frontiers of
knowledge (Max-Neef, 2005, p.13).

CHEMICAL ENGINEERING AGAINST COVID-19


The National Council for Scientific and Technological Development (CNPq)
subdivides the major knowledge areas, related to research activities, in sub-areas
associated with each area, such as Engineering, as shown in Figure 5.

Figure 5: Transdisciplinarity among knowledge areas related to Engineering based on


the CNPq classification.

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Biomedical
Materials
Electrical and
Metallurgy

Nuclear
Mines

Production
Naval
and
Oceanic

Aerospace
Civil

Sanitary
Mechanics

Transport Chemical

Source: Elaborated by the authors.

While there are more qualifications for the engineering profession, recognized
in the Ministry of Education (MEC), for example, Agricultural, Agronomic, Food,
Forestry, Fishing, Telecommunications, Textile, among others, that are equally
important, and which are not included in this figure. Figure 5 illustrates the
transdisciplinarity relations among sub-knowledge areas and professional expertise.
Here, similarly, the concepts of transdisciplinarity are used, but in a more restricted
context compared with that one formulated in Figure 3. Also, it is possible to extend
the concept of interdisciplinarity, illustrated in Figure 4, for Engineering, where there
are several points in common and not including limits, as shown in Figure 6.

Figure 6: Interdisciplinarity among knowledge areas related to Engineering based on


the CNPq classification.

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Biomedical
Materials
Materials
Electrical
and
and
Metallurg
Metallurgy
y

Nuclear
Mines

Production
Naval
and
Oceanic Engineering

Aerospace
Civil

Sanitary
Mechanics

Transport Chemical

Source: Elaborated by the authors.

And Chemical Engineering, usually linked to technological processes? Chemical


Engineering is part of the scientific and technological context in both its
transdisciplinarity and interdisciplinary relationships that can be understood as the
Engineering area involved with processes, where raw materials change their
composition, energy content or physical state, through processing, in which the
products fulfil a specific purpose (Cremasco, 2015, p. 21). The Chemical Engineering
professional is increasingly involved in product design to complement the design
process. This requires a greater effort by the professional to meet the needs of
stakeholders, which are the various actors who interact with an organization,
influencing it and playing an important role for it and in reverse.
The stakeholders establish a network of relationships, involving the various
audiences affected by the activities of certain organization, just as it is affected by
such audiences (Cremasco, 2015, p. 22). In the current pandemic situation, an

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eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
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organization or company is planet Earth, while the stakeholders are mankind. It is


necessary to identify the human needs as a priority in relation to the optimization of
financial funds as (bio) chemical project against Covid-19.
Because of its characteristics and abilities, it is possible to list some Chemical
Engineering contributions to preserve life, such as:
1. Obtaining and processing vaccines and active drugs against Covid-19.
2. Development of nanoparticles that operate as vectors for drugs used to combat
Covid-19.
3. Production of intelligent membranes for the manufacture of protective masks that,
also operating by size exclusion, have anti-viral action.
4. Use of polymers for the production, through 3D printing, of the transparent face
shield, as well as spare parts for hospital equipment.
5. Monitoring the pandemic based on Artificial Intelligence and Chaos Theory.
6. Study of airborne virus transmission using CFD techniques and a probabilistic
approach.
7. Study fluid dynamics to evaluate the diameter and aerosol velocity droplets to
establish social distance.
8. Development of air filters and room purifiers to eliminate microbiological
contamination.
9. Optimization in scaling up to produce alcohol gel as well as other antimicrobial
agents.
10. Improvement of hospital oxygen production techniques, for example the use of
pressure swing adsorption (PSA), to allow the installation of micro-plants next to
hospitals, mainly in small municipalities.

COVID-19 IMPACT ON THE PROFESSIONAL CURRICULUM OF CHEMICAL


ENGINEERING
The professional curriculum of Chemical Engineering combines principles of
mathematics, chemistry, physics, and biology with engineering sciences and
technological aspects, allowing the resolution of problems related to the design,
construction, and operation of facilities, where practically any type of materials
transformation occurs, at molecular or macroscopic levels, in small or large scale and
continuous or batch operations (Cremasco, 2015, p. 23). It is noted, therefore, that

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the curriculum related to Chemical Engineering is transdisciplinary, largely with


other Engineering, Exact, and Biological Sciences. The curriculum of this professional
makes it possible to act in the fields of expertise in product and process engineering;
the professional can act as a manager, teacher, researcher, salesperson, demanding to
relate to others, such as employees, students, customers, even with the population,
since their activity also involves, for example, environmental aspects. The ethical
aspect is important because no discussion of decision-making is complete without its
inclusion. It is not enough to be an excellent technician if you cannot comprehensively
understand the meaning of the activity you are performing (Cremasco, 2015, p. 33),
adding the very meaning of life, as explained in Figure 1. It is essential to promote and
contextualize the preservation of life in the curriculum of Chemical Engineering
professionals. Such an action does not necessarily need specific content. In this case,
just a proactive and transdisciplinary approach with the reality that transcends the
technique, but that requests for its contribution. As suggestion, someone can
approach the Covid-19 problem in the scope of a Chemical Engineering topic. We
exemplify this proposal in the form of evaluation applied via remote in Mass Transfer
class:
Covid-19 represents an abrupt interruption of life. Brazilian News, released in April
2021, shows the number of youth hospitalizations in the Intensive Care Unities (ICU)
exceeded that of adults; the deaths surpassed births, including the number doubled
for pregnant and postpartum women who contracted the coronavirus. The study
about life preservation involves knowledge and abilities associated with health,
human, biological, exact, social sciences, as well as engineering, art, literature, as it is
urgent to understand and measure life in its fullness by virtue that Covid-19
interrupts its natural course. The effort to combat Covid-19 transcends (trans =
beyond) the specificity of any knowledge and professional area, including everyone
as cells to form a single tissue. And concerning Chemical Engineering, usually, linked
to technological processes according to CNPq, or as a profession directed to the
technique by technique, whose aim of process optimization is strongly aimed at
financial benefits? A sad Covid-19 experience transforms the classic fundamentals
related to professional curriculum of Chemical Engineering, imposing the need for
multiple and systemic abilities (highlighting the interconnection between technical
and human skills), to expand curriculum beyond the natural sciences; consciousness

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must be extensive, human, and social, linked to solid technical curriculum resulting in
creative and feasible solutions in different situations, especially for those
unpredictable ones. The ability to work in teams, for example, needs to go beyond the
frontiers of Chemical Engineering to be transdisciplinary. It is important that
Chemical Engineering be proactive in discussions about Covid-19. It is the
responsibility of Chemical Engineering when it receives a demand from society, to try
to find alternatives to develop innovative processes in obtaining vaccines; in studies
of social distance through mathematical models; in the materials developed for the
production of intelligent masks that, besides concepts inherent to the mechanical
separation of the virus, may include agents that fight it; increasing the scale for the
production of alcohol gel; optimization of hospital oxygen production to support life.
In this case, the chemical engineer needs to dialogue incessantly with clinical
directors, which extract information about the time patients stay in ICU, considering
comorbidities, age group, etc., besides that, the optimization of the process does not
refer only to energy spent from capturing humid air to generate O2, to provide energy
and financial savings to the hospital, but which connects the patient vital need. Yes,
the most important variable to be considered: human needs. To reconcile the human
and social dimension as intrinsic expertise to Chemical Engineering must be vigorous
in its conceptual foundations. For example, mass transfer. In this case, one of the
chemical processes used to obtain hospital oxygen is the use of the pressure swing
adsorption (PSA) approach, Figure 7. It classically based this technique on the use of
two adsorption columns that operate in pressurization and depressurization cycles,
in which adsorption occurs at high pressure and desorption, at low pressure, usually
developed in four stages: pressurization, adsorption, blowdown, and purge. In the
PSA process it is important to choose the adsorbent, traditionally zeolites of types A
and X, to provide greater affinity through N2 release O2 with high purity in the
refining stream, as shown in Figure 7.

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Figure 7: Air processing system to obtain O2.


Raffinate

O2

Coluna
Adsorption Adsorption Storage
Armazenagem
column de
column
adsorção

Extract Extract

N2 Dry air N2

Coluna
Silica
Silica
Silica
de
column
column
column
sílica

Compressor
Compressor
Compressor
Humid air
Wet air
Humid air
Source: Elaborated by the authors.

Before feeding the gas stream to the columns that operate in PSA, it is
necessary to remove the humidity present in the air stream, captured from the
atmosphere, since the water molecule has a smaller kinetic diameter than those of N2
and O2 and, therefore, competing in PSA adsorption, compromising the O2 purity. The
removal of humidity also occurs by adsorption via zeolites (3A, for example) or silica
gel, which is the most used. From this, consider the situation in which you want to
remove humidity from the air with 80 % relative humidity, in an operating condition
of 3.5 bar and at 30°C. For this purpose, silica gel is used while adsorbent, whose
particles have 0.37 porosity, and average pore diameter of 2.5 nm. Assuming that
(dry) air consists of 79.1% N2 and 20.9 % O2, and if humid air becomes a pseudo-
binary gas mixture (dry air/water vapor), we ask:

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a) What is the predominant diffusive mechanism in the diffusion of humid air in the
considered adsorbent?
b) Obtain value of the effective diffusion coefficient of water vapor, given by

p 1 p  1  dq H 2O
D ef  D K  DS   
2   p
2  
 p
 q s
 H 2O
 dPH O
 2
(1)

where Dk is Knudsen's diffusion coefficient; εp, particle porosity; DS, surface diffusion
coefficient; qsH2O, adsorption capacity of an adsorbent monolayer, with dqH2O/dPH2O
evaluated in the operational condition of partial pressure of water vapor considering
its relative humidity, whose adsorption isotherm follows the model of Tóth,

q H 2O bPH 2O

q sH 2O 1  bP  
H 2O
t 1t
(2)

qH2O is the adsorbed amount of moisture (g/g) and PH2O partial pressure of water
vapor in operational condition considering its relative humidity (Pa); t is the Tóth
constant equal to 10; qsH2O = 0,4 g/g, and

 5.866,53 
b  1,409  10 12 exp  (3)
 T 

with T in K and b in Pa-1; The surface diffusion coefficient, obtained in cm2/s,

 2.044,63 
D S  2,39  10 4 exp   (4)
 T 

In previous class to the evaluation, the flowchart shown in Figure 7 was


explained, as well as “The journey of life” was presented and discussed (Figure 1),
emphasizing to students the importance of everyone, particularly in days of
negativism in relation to science, and that knowledge can prevent the interruption of
this journey, illustrated in class through the presentation of Figure 2.

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CONCLUSION
The Covid-19, at the beginning of the 2020s, introduces the urgency to
emphasize the life concept, which is not trivial because the search for its
understanding; and its meaning is one of the greatest philosophical and scientific
challenges. According to the Universal Declaration of Human Rights and the
Brazilian’s Constitution of 1988, everyone is equal, guaranteeing the right to life,
freedom, and personal security. It is urgent, therefore, to understand life in different
aspects, since its artistic representation until the choice of an appropriate adsorbent
for obtaining pure oxygen, reflecting the transdisciplinarity against Covid-19.
Chemical Engineering can and should be part of an unprecedented task effort against
an invisible agent who does not care about the life, that the human being, at the top of
his/her philosophy, quests to understand. When called to discuss with other
professionals in a transdisciplinary relationship and requested within their
experiences and abilities, Chemical Engineering has a lot to contribute to life
maintenance. For this, it should start from the school, face-to-face or remotely, it does
not matter. It is essential to highlight that transdisciplinarity approach involves
public authorities to guarantee the well-being of the population, besides individual
protection measures, life is preserved through the guarantee of Human Rights, the
contribution of knowledge areas with social and sustainable commitment, and the
effective performance of public policies aimed at the well-being of the population, as
is shown in the Ishikawa diagram (Figure 8).
It is crucial to emphasize the human needs in Chemical Engineering while
priority to other conditions of (bio) chemical projects. It is enough to contextualize
the sad coronavirus problem offering a certain subject in the Chemical Engineering
classes. We offer a single experience in the classroom (or in rooms, bedrooms,
kitchens, service areas, etc., as the virtual world allows almost everything), with
transdisciplinary approach, highlighting the seminal knowledge importance of
Chemical Engineering, the start with the basic understanding of mass diffusion that
enables the chemical project for the generation of medicinal O2, indispensable for
maintaining the patients’ lives affected by Covid-19. It may not be the best experience,
but it is the best within our reach, at that moment, that could be done. Who knows,
maybe that answer will be for someone who, in the future, will ask us – What did you

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do when the pandemic broke out? We did our best, and Chemical Engineering was
fundamental for that.

Figure 8: Ishikawa diagram for the life preservation.

Contribution of knowledge areas, Social distancing


human and sustainable commitment

Life
preservation

Action by public Guarantee Individual protection


authorities in of Human Rights
ensuring the
population well-being

Source: Elaborated by the authors.

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CAPÍTULO 2
ESTUDO E ANÁLISE DE
SANEANTES
DOMISSANITÁRIOS
CLANDESTINOS

Grazielma Ferreira de Melo1


Ronaldo Ferreira da Silva Filho2

1
Graduanda em Engenharia Química, Centro Universitário do Vale do Ipojuca
(UNIFAVIP), Caruaru, PE, E-mail: gferreirademelo@outlook.com , ID Lattes:
5084749887691686.
2
Graduando em Engenharia Química, Centro Universitário do Vale do Ipojuca
(UNIFAVIP), Caruaru, PE, E-mail: ronaldo.971@outlook.com , ID Lattes:
2244776640248121.

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ESTUDO E ANÁLISE DE SANEANTES DOMISSANITÁRIOS CLANDESTINOS


RESUMO
As substâncias ou soluções destinadas à desinfecção e higienização de ambientes são
chamadas de saneantes, quando direcionadas para ambientes coletivos ou públicos
são classificadas como domissanitários. Para a produção e comercialização dos
saneantes, faz-se necessário ter autorização da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA). Os saneantes domissanitários quando produzidos e
comercializados sem autorização da ANVISA, são considerados clandestinos. O
seguinte trabalho é uma revisão integrativa, que objetivou analisar os impactos
negativos causados pela produção e comercialização de saneantes domissanitários
clandestinos, com ênfase no cenário de pandemia causada pelo SARS-CoV-2 e a
utilização de álcool gel. Foi identificado em diferentes amostras de saneantes
domissanitários clandestinos: ausência de rotulagem, detecção de formaldeído,
contaminação dos saneantes, acidentes e danos ao meio ambiente. Logo, há
necessidade de regularização para com os saneantes domissanitários.
Palavras-chave: Saneantes domissanitários. Saneantes clandestinos. ANVISA. Álcool
gel. SARS-CoV-2.

STUDY AND ANALYSIS OF CLANDESTINE HOUSEHOLD SANITARY SANITARY

ABSTRACT
Substances or solutions that are used to disinfect and sanitize environments are
called sanitizers, when directed to collective or public environments, they are
classified as household cleaning products. For the production and sale of sanitizers, it
is necessary to have permission from the National Health Surveillance Agency
(ANVISA). Household sanitizers, when available and marketed without ANVISA's
authorization, are considered illegal. The following work is an integrative review,
which aimed to analyze the impacts caused by the production and sale of clandestine
household sanitizers, with an emphasis on the pandemic scenario caused by SARS-
CoV-2 and the use of alcohol gel. It was identified in different clandestine household
sanitizer administrators: lack of labeling, formaldehyde detection, sanitizer
contamination, accidents and damage to the environment. Therefore, there is a need
for regularization with household sanitizers.
Keywords: Household sanitizers. Clandestine sanitizers. ANVISA. Alcohol gel. SARS-
CoV-2.

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INTRODUÇÃO
Em diferentes contextos, se faz necessário a utilização de produtos químicos
que atribuem limpeza e minimização ou eliminação total de microrganismos, tais
produtos são chamados de saneantes. Os saneantes são soluções ou substâncias ao
qual objetiva atingir mitigações de infecções em locais e/ou proporcionar
higienização (Santos et al., 2011). Para a produção desses produtos faz-se necessário
a utilização e manejo de diversos compostos químicos afirma Corrêa (2005),
utilizando de substâncias como solventes, inibidores de corrosão, abrasivos, agentes
antimicrobianos e enzimas. Faz-se necessário a presença de um responsável técnico
para produzir e adequar o processo de produção de saneantes de acordo com seu
grau de risco, destinação e finalidade do uso, segundo os parâmetros estabelecidos
pela legislação.
Para os saneantes destinados a utilização residencial ou locais públicos leva-se
à especificação em sua nomenclatura de domissanitários, declara a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA), enquadrados produtos como inseticidas,
detergentes, água sanitária, removedores de manchas e repelentes, com diferentes
princípios ativos em sua composição (Jannini e Araújo, 2020). Embora utilizados
comumente em atividades corriqueiras de limpezas e desinfecção, deve-se atentar-se
quanto a caracterização físico-química e microbiológica do produto, essa garantia é
dada através da ANVISA, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, no entanto há
saneantes domissanitários produzidos sem responsáveis técnicos e comercializados
sem autorização, sendo esses produtos clandestinos. As normas que regem a
produção e comercialização dos saneantes são: resolução nº 40, de 05 de junho de
2008; portaria nº 393, de 15 de maio 1998; portaria nº 874, de 5 de novembro de
1998; resolução nº 01, de 25 de outubro de 1978; resolução nº 913, de 25 de junho de
2001; resolução - RDC nº 225, de 25 de agosto de 2003; portaria nº 327, de 30 de
julho de 1997; portaria DISAD nº 10, de 15 de setembro 1980; resolução - RDC nº 35,
de 3 de junho de 2008 (Diretrizes, 2011).
A utilização de saneantes domissanitários clandestino é dado como um
potencial caso de saúde pública, dado que tais produtos podem não atingir
especificações como eliminação de microrganismos, conter concentrações
inadequadas de gás cloro e ácidos por exemplo, assim como misturas em proporções
propulsoras de reações químicas que podem ser danosas a saúde (Pinheiro et al.,

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2014). As literaturas (Santana, 2003; Côrrea, 2005; Freitas, 2012) determinam o alto
percentual de acidentes utilizando os saneantes clandestinos. Intoxicações humanas,
queimaduras e síndromes respiratórias são os problemas mais comuns associados a
utilização de saneantes clandestinos, além dos danos causados a nível ambiental. Os
descartes incorretos de efluentes, devido a não fiscalização e não adequação das
normas no processo de produção de saneantes, poluem diretamente corpos d’água
através dos produtos químicos atuantes.
O seguinte trabalho tem como objetivo central, estudar os impactos negativos
causados pela comercialização e utilização de saneantes clandestinos, através de uma
revisão integrativa de pesquisas científicas, enfatizando a caracterização físico-
química de amostras e redução de agente microbianos e quadros de intoxicações
perante tais produtos, voltando-se para o cenário de pandemia do SARS-CoV-2.

METODOLOGIA
Fez-se uso de revisão integrativa, que segundo De Souza, Da Silva e De
Carvalho (2010), é dada como um método de pesquisa ao qual tem-se um problema
central que utiliza diferentes dados empíricos e analíticos de fontes primárias,
sintetizando-os de modo detalhado, gerando resultados relevantes. As etapas para
realização da seguinte pesquisa, é demonstrada na Tabela 1.

Tabela 1: Etapas para realização de uma revisão integrativa.


ETAPAS OBJETIVOS
1 Fase
a Definição do problema central da
pesquisa
2 Fase
a Seleção de referências bibliográficas
3 Fase
a Separação de dados
4a Fase Análise crítica e estudo dos dados
5 Fase
a Discussão dos dados
6 Fase
a Documentação da revisão integrativa
Fonte: Elaborado pelos autores.
A pesquisa em questão, debruçou-se sobre diferentes pesquisas científicas,
separadas cuidadosamente. Realizou-se a captação de tais arquivos, através das
plataformas Google Acadêmico e Scientific Electronic Library Online (SciELO),
utilizando os respectivos descritores, em inglês e português: saneantes, saneantes
domissanitários, intoxicação por produtos químicos, intoxicação por produtos de
limpezas, análises físico-químicas de saneantes. O estudo foi realizado no período de
fevereiro à abril de 2021.

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REVISÃO DE LITERATURA
O tópico em questão, trata-se do embasamento teórico de tópicos
introdutórios ao objetivo central da pesquisa. Inicia-se definindo os saneantes
domissanitários e as normas que regem sua produção e comercialização,
posteriormente, fala-se sobre as características físico-químicas dos saneantes, bem
como a necessidade de rotulagem e suas respectivas padronizações, seguido da
definição e características dos saneantes domissanitários e produção e
comercialização de álcool gel clandestino.
Saneantes domissanitários
As indústrias brasileiras de saneantes domissanitários é presente e
propulsoras da economia do país (Côrrea, 2005). Esses produtos que geralmente tem
por finalidade higienização e desinfecção, são produzidos através da associação de
diferentes compostos químicos e princípios ativos ao qual exige-se técnica de
manuseio, de produção, de armazenamento, distribuição e descarte (Jannini, 2020). A
classificação dos saneantes domissanitários são classificados de acordo com seu uso,
sendo regido de diferentes normas pela ANVISA. A Agência Nacional de Vigilância
Sanitária é responsável por realizar o procedimento de análise, verificação, liberação
e fiscalização quanto a produção e comercialização de saneantes. As principais
normas quanto aos saneantes domissanitários produzidos no Brasil, é mostrado na
Tabela 2.
A classificação dos saneantes dá-se em: produtos saneantes de risco 1 e
produtos saneantes de risco 2. Segundo Da Silva et al. (2013), os saneantes de risco 1
são aqueles ao qual não são formulados com princípios ativos nocivos diretamente
em mamíferos, como os detergentes e amaciantes, enquanto os saneantes de risco 2
são os produtos ao qual tem como finalidade ações antimicrobianas, corrosivas e
desinfecção, frequentemente atrelados as águas sanitárias, inseticidas e desinfetante
para potabilidade de água. O controle de qualidade deve ser realizado
frequentemente para produção de saneantes domissanitários, objetivando
verificação, segurança e garantia de qualidade dos produtos.
Parâmetros físico-químicos, microbiológicos e rotulagem para produção e venda de
saneantes domissanitários
As análises físico-químicas, refere-se à caracterização do produto quanto as
substâncias que os compõe, logo deverá ser realizadas listagens específicas de

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análises para cada produto produzido (Granja e Junior, 2019), contudo, Moreira
(2019) afirma que as análises essenciais para os saneantes é a determinação do pH,
viscosidade, densidade, teor de cloro, índice de espuma, acidez livre e teor de
umidade.

Tabela 2: Principais normas referentes a produção e comercialização de saneantes.

NORMA DIRETRIZES

Resolução nº 40, de 05 de junho de 2008 Aprova o Regulamento Técnico para Produtos


de Limpeza e Afins harmonizado no âmbito do
Mercosul através da Resolução GMC nº 47/07.

Portaria nº 393, de 15 de maio 1998 Método para Determinação da


Biodegradabilidade de Tensoativos Aniônicos

Resolução nº 913, de 25 de junho de 2001 Dispõe sobre a obrigatoriedade de Notificação


dos Saneantes Domissanitários de Risco I.

Resolução - RDC nº 225, de 25 de agosto de Institui o modelo do Certificado de Boas


2003 Práticas de Fabricação para Saneantes
Domissanitários e Modelo de Formulário de
Petição.

Portaria nº 327, de 30 de julho de 1997 A necessidade do constante aperfeiçoamento


das ações de controle sanitário na área de
Saneantes Domissanitários, visando a proteção
da saúde da população e a importância de
compatibilizar os regulamentos nacionais, com
os instrumentos harmonizados no MERCOSUL.

Portaria DISAD nº 10, de 15 de setembro 1980 Necessidade de padronização para as


embalagens e rotulagens dos saneantes
domissanitários. Classificação Geral das
Embalagens dos Produtos
abrangidos pelas Normas Baixadas pela
presente Portaria.

Resolução nº 01, de 25 de outubro de 1978 Aprova Regulamento Técnico para Produtos de


Limpeza e Afins, harmonizado no âmbito do
Mercosul, e dá outras providências.

Resolução - RDC nº 35, de 3 de junho de 2008 Dispõe sobre conservantes permitidos para
produtos saneantes.

Portaria n° 15, de 23 de agosto de 1988 Formulações que têm na sua composição


substâncias microbicidas e apresentam efeito
letal para microrganismos não esporulados.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Meschial et al. (2015), afirma que os saneantes domissanitários precisam estar


livre em sua composição de substâncias teratogênicos, carcinogênicos e mutagênicos,
logo há necessidade de padronização, parâmetros objetivando segurança operacional
e dos produtos, embalagens e matérias-primas. Um dos principais objetivos quanto a
utilização de saneantes é mitigar ou eliminar total micróbios, sendo realização pelo
processo de desinfecção química ou física.
Para a eliminação específica de determinados micróbios, faz-se necessários os
agentes químicos específicos, e a eficácia dos agentes químicos dependem de fatores
internos como sua estrutura química e condições externas como o meio físico que
atuará o saneante. O potencial hidrogeniônico, concentração de sais e óxidos na água
e temperatura são fatores que interferem na eficiência dessas substâncias. Os
principais compostos químicos presente em desinfetantes são mostrados na Tabela 3.

Tabela 3: Principais compostos químicos em desinfetantes.


COMPOSTO QUÍMICO UTILIZAÇÃO

Álcoois Etanol
Biguanidas Clorexidina
Compostos liberados de cloro Hipoclorito de sódio
Aldeídos Formaldeído
Fenólicos o-fenilfenol, o-benzil-pclorofenol e
amilfenol-pterciário
Quaternário de amônio Cloreto de bezalcônio
Fonte: Andrade (2017), adaptado.

A essencialidade da rotulagem correta dos saneantes é dada devido as


informações necessárias para comercialização e utilização dos produtos, sendo a
ANVISA órgão responsável, regendo as especificações através da resolução - RDC nº
14, de 28 de fevereiro de 2007.
Logo os rótulos devem conter: classificação do produto, riscos e advertências,
restrições para utilização, instruções de utilização, nível adequado para diluição do
produto, tempo para contato com o produto, caracterização da limitação,
essencialidade da frase “ANTES DE USAR LEIA AS INSTRUÇÕES DO RÓTULO”,
princípios químicos ativo, número do registro e responsável técnico no estado parte

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receptor (Andrade, 2017). A figura 1, mostra um rótulo genérico de produtos de risco


I, que contenham em sua composição álcool etílico com graduações superiores a 54º
GL, vendidos como gel desnaturado.

Figura 1: Rotulagem genérica para álcool gel, classificado como risco I.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para cada tipo de produto faz-se necessário rotulagens específicas, enfatizando


o risco e suas características químicas, levando em consideração os decretos e
normas, como mostra a Tabela 4.

Tabela 4: Normas e decretos específicos para rotulagem de diferentes produtos de


risco I.
PRODUTO NORMAS E DECRETOS
Detergentes, sabões, lava-roupas, Decreto No 79.094/1976, Resolução RDC
amaciantes, desincrustantes No 184/2001 e Resolução RDC No 40/2008
Álcool gel Decreto No 79.094/1976, Resolução RDC No
184/2001 e Resolução RDC No 46/2002
Eliminador e neutralizador de odores Decreto No 79.094/1976, Resolução RDC
No 184/2001 e Resolução RDC No
208/2003
Produtos com concentração superior a Decreto No 79.094/1976, Resolução RDC
0,01% v.v de benzeno No 184/2001 e Resolução RDC No
252/2003
Produtos com a presença de Decreto No 79.094/1976, Resolução RDC No

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percloroetileno 184/2001 e Resolução RDC No 161/2004


Fonte: Elabora pelos autores.

Os diferentes decretos e normas atuam de modo a auxiliar os produtores e


compradores dos saneantes, diminuindo a probabilidade de acidentes, bem como,
informar o modo adequado de utilização, enfatizando o respectivo grau de risco.
Saneantes domissanitários clandestinos
Os saneantes clandestinos são aqueles produzidos e comercializados sem
registros para com à ANVISA, logo não há verificação quanto aos procedimentos
operacionais utilizados nas empresas, categorização do produto, classificação de
risco, concentrações de substâncias químicas e se há presença de mão de obras
técnicas para realização desses processos químicos (Campos et al., 2017).
Comumente são produtos com aromas fortes, cores vibrantes e sem rótulos, ao qual
são comercializados em pequenos estabelecimentos ou até mesmo de residência em
residência.
A possibilidade de intoxicações, queimaduras, efeitos cáusticos e não ações
antimicrobianas são possíveis resultados da utilização de saneantes domissanitários
clandestinos. Dado que em seu processo de produção, frequentemente não há
especialistas químicos para manuseio correto dos produtos químicos e cálculos
corretos de concentrações dos reagentes, para atingir as especificações corretas dos
produtos sem causar malefícios aos receptores dos saneantes.
Produção clandestina de álcool gel
Os saneantes com a presença de álcool, podem ser encontrados em seu estado
líquido, gel ou espuma. Segundo De Andrade et al. (2007), o álcool gel é um
desinfetante a base de álcool que objetiva limpeza de modo fácil e eliminação de
microrganismos. A ANVISA é responsável por determinar, a nível nacional, os
procedimentos para produção de álcool etílico 70% (p/p) e 77% (v/v), álcool
glicerinado 80% (v/v), álcool isopropílico glicerinado 75% (v/v) e álcool etílico em
gel (Sequine et al., 2020). Na Figura 2 é demonstrado a forma molecular do álcool
etílico, presente em álcool gel e soluções alcoólicas que são vendidas comercialmente.
O mecanismo de ação do álcool etílico é dado como desnaturando a proteína e
colapsando as membranas celulares, atuando como biocida.

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Devido a pandemia causada pelo SARS-CoV-2, viu-se a ascendência abrupta da


demanda de álcool gel 70%, devido a sua eficiência quanto a eliminação de
microrganismos e limpeza das mãos. Contudo, o mercado não estava preparado para
à alta demanda do produto, fazendo com que muitos produtores produzissem e
comercializassem álcool gel de modo clandestino, logo não sendo comprovado a
eficiência quanto a eliminação dos diferentes micróbios, enfatizando a não eliminação
do SARS-CoV-2, além de ter possibilidades de estar em concentrações inadequadas de
álcool e outros compostos químicos que podem ocasionar queimaduras, como já
relatado por Hohl et al. (2020).

Figura 2: Estrutura do álcool etílico.

Fonte: Elaborado pelos autores.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Através das pesquisas científicas selecionadas, mostradas na Tabela 5, busca-
se avaliar através dos resultados reportados, os impactos negativos ocasionados pela
utilização de saneantes domissanitários clandestinos.
De Oliveira (2012), analisou 46 amostras de saneantes clandestinos de Belo
Horizonte – MG, procedendo análises físico-químicas, microbiológicas e rotulagem
para as amostras, enfatizando o controle de ação microbiana dos saneantes e a
determinação de eficiência dos princípios ativos do produto diante da concentração
de micro-organismos. Para a rotulagem, 41% das amostras não as tinham, e para os
59% das amostras que constava a rotulagem enfatiza-se que 91% delas estavam com
ausência de informações necessárias. Identificou que em 19,6% das amostras possuía
como princípio ativo o formaldeído, dada como substância carcinogenicidade. A
eficiência quanto a redução de Staphylococcus aureus e Escherichia coli e a diluição
das amostras de saneantes é demonstrada na Figura 3, que evidencia que se faz
necessário maior diluição para ter bons resultados. A presença de Escherichia coli
evidencia falta de procedimentos operacionais correto e higienização no momento de

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produção e vendas (Miyagi, 2000), já a presença de Staphylococcus aureus é


comumente encontrada em ambientes corriqueiros, sendo capaz de alojar na pele
humana e causar lesões.

Tabela 5: Trabalhos selecionados.


TÍTULO AUTOR
Avaliação da Qualidade de Saneantes (De Oliveira; Caetano; Gomes,
Clandestinos comercializados em Belo 2012)
Horizonte
Exposições tóxicas em crianças a saneantes de (Campos et al., 2017)
uso domiciliar de venda legal e clandestina
Gravidade de intoxicações por saneantes (Santos et al., 2011)
clandestinos
Avaliação da contaminação bacteriana em (Miyagi; Timenetsky; Alterthum.,
desinfetantes de uso domiciliar 2000)
Análise do ciclo de vida para determinação dos (Da Silva et al., 2014)
impactos da produção de detergentes de forma
irregular
Covid-19 quarantine has increased the (Hohl et al., 2020)
incidence
of ethyl alcohol burns
A química dos saneantes em tempos de covid- (Lima et al., 2020)
19: você sabe como isso funciona?
Fonte: Elaborado pelos autores.

Identificou-se também que 50% das amostras não são eficazes para mitigação
de micróbios, em diferentes espaços de tempo de análises. Quanto as análises de
potencial de hidrogeniônico das amostras obteve-se valores entre 2,42 e 8,55.
Enfatiza-se 6 amostras que apresentaram contaminação por micro-organismos,
possivelmente desenvolvidos por fermentação das próprias bactérias, sendo
alarmante para fatores como procedimentos operacionais de produção e
concentrações impróprias de reagentes para os produtos, assim como Miyagi,

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Timenetsky e Alterthum (2000) que estudaram 53 amostras distintas de


desinfetantes e obteve que em 30,77% das amostras, constavam a presença de
bactérias.

Figura 3: Determinação da eficiência de redução de micro-organismos específicos e


diluição das amostras.
120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12

Eficiência da redução de Staphylococcus aureus


Eficiência da redução de Escherichia coli

Fonte: De Oliveira (2012), adaptado.

Para a análise de turbidez, De Oliveira (2012) obteve valores entre 0,02 e 793
NTU, entre as 46 amostras. A ampla faixa de valores pode estar atrelada a presença de
substâncias que inibem a visualização de particulados. Por outra perspectiva, Campos
et al. (2018) debruça-se sob acidentes causados por saneantes clandestinos e legais
em crianças, onde avaliou que a maior parte dos acidentes ocorreu com crianças até 3
anos, por ingestão e via cutânea. Apesar dos saneantes clandestinos serem 9,5% dos
acidentes analisados, os mesmos foram mais agressivos as vítimas. Já para Santos et
al. (2011), o estudo focou em intoxicações, resultando em 40,6% dos casos
classificados como acidentes individuais e 5,9% por acidente ocupacional. Os
produtos de limpezas geralmente possuíam em sua composição hidróxido de sódio e
hipoclorito de sódio, sendo substâncias corrosivas e extremamente danosas ao
sistema gástrico e vias respiratórias. No mais, faz-se possível a compreensão de que
se faz presente substâncias que em concentrações erradas podem ser prejudiciais à
saúde humana, diretamente ou indiretamente, além de que comumente não está de

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acordo com as utilizações ao qual o produto propõe, podendo resultar em não


mitigação bacteriana por exemplo.
Segundo Lima et al. (2020), se faz necessário conhecer os princípios ativos dos
saneantes, bem como suas respectivas concentrações e o tempo de atuação mediante
suas funções e certificar-se se tais produtos estão registrados corretamente pelo
órgão responsável do país. Com a pandemia ocasionado pelo SARS-CoV-2 se faz
necessário, maior responsabilidade para produzir, comercializar e comprar
saneantes, visto que a utilização de álcool gel e produtos de desinfecção tornou-se
medidas de prevenção e controle para a propagação do vírus. Já Hohl et al. (2020),
reporta que a produção e comercialização irregular de álcool gel tem propulsionado
os casos de queimaduras mediante a utilização de álcool gel.
Por outra perspectiva, o meio ambiente também é atingido pela produção e
comercialização irregular de saneantes, Jannini (2020) afirma que a produção
irregular de saneantes produz resíduo líquido contendo diversos componentes
agressivos ao meio hídrico, como moléculas orgânicas dos surfactantes (Pinheiro,
2014), além do recorrente descarte incorreto. Da Silva et al. (2014), destaca
problemas como vazamentos de reagentes, reações químicas não programadas e
incêndios.
Embora os saneantes domissanitários clandestinos não se apresentem como
produtos perigosos, eles podem atuar como prejudiciais e inseguros a saúde humana
e agressivos ao meio ambiente, logo há necessidade de maior fiscalização perante
empresas que produzem saneantes e sua comercialização, além da essencial presença
de profissionais capacitados para desenvolver saneantes domissanitários de forma
segura e seguindo os regulamentos exigidos.

CONCLUSÃO
A pesquisa em questão teve como objetivo examinar a produção e
comercialização de saneantes domissanitários clandestinos e os respectivos impactos
negativos, através do método de revisão sistemática. Os resultados determinados
enfatizaram a presença de compostos proibidos na composição de alguns saneantes,
assim como a não eliminação de micróbios. Além da inconsistência quanto à eficiência
dos saneantes produzidos de modo irregular para suas respectivas funcionalidades,
se torna evidente possíveis acidentes a partir desses produtos, desde o processo de

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produção até a utilização para com o consumidor. Outro importante aspecto a


enfatizar é a necessidade de um profissional da área química para desenvolver os
processos e produtos de modo correto, fazendo uso das substâncias químicas
corretas e em proporções eficientes.

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SEQUINE, Rodrigo; LENZ, Guilherme Felipe; DA SILVA, Francis Josiane Liana Baumgardt; DA SILVA,
Fabiano Rosa. SOLUÇÕES A BASE DE ÁLCOOL PARA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS E SUPERFÍCIES NA
PREVENÇÃO DA COVID-19: COMPÊNDIO INFORMATIVO SOB O PONTO DE VISTA DA QUÍMICA
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CAPÍTULO 3
NANO E MICROEMULSÕES DE
ÓLEO DE CANABIDIOL PARA
APLICAÇÃO EM COSMÉTICOS

Pedro Paulo Alves Sampaio de Souza1


João Victor Nicolini2

1
Graduando em Engenharia Química, Departamento de Engenharia Química, Instituto de
Tecnologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ,
email: pedrosampaios@outlook.com, ID Lattes: 7294140900309516.
2
Professor do Departamento de Engenharia Química, Instituto de Tecnologia, Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, email: jvnicolini@gmail.com,
ID Lattes: 0525713504125196.

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ANO E MICROEMULSÕES DE ÓLEO DE CANABIDIOL PARA APLICAÇÃO EM


COSMÉTICOS

RESUMO
O canabidiol (CBD – Cannabis sativa), composto extraído da maconha, vem ganhando
destaque em diversos setores do mercado em consequência das suas propriedades
medicinais, apresentando eficácia no tratamento de doenças dermatológicas, câncer,
AIDS, Alzheimer, distúrbios do sono, dentre outras. À medida que pesquisas são
realizadas e seus benefícios comprovados, empresas de cosméticos tem incorporado
em seu portfólio produtos à base de CBD. Entretanto, o caráter hidrofóbico do
composto somado à oxidação após a administração medicamentosa no organismo
compromete a sua biodisponibilidade e consequentemente, diminui o efeito causado.
A fim de superar essa dificuldade, nano e microemulsões tem sido estudadas para
aumentar a biodisponibilidade e potencializar sua ação.
Palavras-chave: Canabidiol. Cosméticos. Biodisponibilidade. Nanoemulsão.
Microemulsão.

NANO E MICROEMULSIONS OF CANNABIDIOL OIL FOR APPLICATION IN COSMETICS

ABSTRACT
Cannabidiol (CBD – Cannabis sativa), a compound extracted from marijuana, has
gained prominence in several market sectors as a result of its medicinal properties,
showing efficacy in the treatment of dermatological diseases as cancer, AIDS,
Alzheimer's, sleep disorders, among others. As research is carried out and its benefits
proven, cosmetic companies have incorporated CBD-based products into their
portfolio. However, the hydrophobic character of the compound added to oxidation
after drug administration in the body compromises its bioavailability and,
consequently, reduces the effect caused. In order to overcome this difficulty, nano and
microemulsions have been studied to increase bioavailability and enhance their
action.
Keywords: Cannabidiol. Cosmetics. Bioavailability. Nanoemulsion. Microemulsion.

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INTRODUÇÃO

Os estudos acerca das propriedades medicinais do canabidiol (CBD) são


relativamente recentes, muito devido as controvérsias causadas pelo composto ser
derivado da maconha, planta considerada ilegal com o cultivo severamente regulado
em diversos países, em razão do seu efeito psicoativo. Em contrapartida, à medida
que a eficácia medicinal do composto é demonstrada através de pesquisas, líderes
políticos e sociedade vem debatendo acerca da ilegalidade da planta, tendo alguns
países já liberado seu consumo até mesmo para uso recreativo, além do medicinal.
O CBD (Figura 1) está presente no óleo extraído da maconha, sendo isento de
tetra-hidrocanabidiol (THC), composto responsável pelos efeitos psicoativos
causados pela planta (Costa et al., 2006). Nos últimos anos, o potencial terapêutico do
composto não-psicoativo vem sendo comprovado no tratamento de diversas
enfermidades, como câncer (Daris et al., 2019), HIV/AIDS (Grotenhermen e Müller-
Vahl, 2012) e transtorno de estresse pós-traumático (Hsiao et al., 2012).
Para pele humana, a interação do sistema endocanabinóide (SEC) presente no
órgão com o composto promove uma ampla gama de efeitos. Essa interação se deve a
presença de receptores canabinóides acoplados na principal proteína de membrana, a
proteína G. Esses receptores são chamados de receptor canabinóide tipo 1 (CB1) e
receptor canabinóide tipo 2 (CB2) (Matsuda et al., 1990).

Figura 1: Estrutura química do CBD.


CH3

OH
H H
H3C
CH2
OH CH3

Diante das inúmeras propriedades já conhecidas e das descobertas que vem


sendo realizadas através de pesquisas, produtos à base de óleo de CBD ganham
destaque, chamando a atenção de indústrias dos mais variados setores – de beleza,
alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos. Um estudo feito pela Research and
Markets em 2020 estima que o mercado global de cultivo de Cannabis deve atingir a

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marca de US$ 358,8 bilhões até 2027 (Research and Markets, 2020). A adoção da
planta para o tratamento de doenças crônicas vem causando uma crescente
legalização global para o cultivo, impactando positivamente o crescimento da
indústria farmacêutica e abrindo espaço para outros setores.
Os hábitos de higiene reforçados com a pandemia causada pela Covid-19,
introduziram uma maior preocupação com a saúde na rotina das pessoas, fazendo
com que a indústria de cosméticos apresente perspectivas positivas de crescimento.
Tal fato somado ao lucro gerado pelo mercado de produtos à base de CBD e a
crescente legalização faz com que empresas e startups comecem a incluir o composto
em suas formulações. Grandes empresas do ramo como a Sephora e Avon já possuem
produtos contendo CBD em seu portfólio, ganhando mercado e atraindo cada vez
mais clientes (Smoke Buddies, 2020).
Entretanto, estudos concluíram que o óleo de CBD possui uma
biodisponibilidade muito baixa quando administrado de forma oral, apresentando
cerca de 13% a 19%. Essa biodisponibilidade aumenta quando administrado via
inalação, chegando a 31% (Millar et al., 2018). As taxas relativamente baixas
anteriormente citadas se devem ao caráter hidrofóbico da molécula (Ozturk et al.,
2015) e as perdas por degradação que o composto sofre percorrendo o trajeto que vai
desde sua administração até a chegada ao seu receptor. Visando superar essa barreira
causada pela administração e aumentar a biodisponibilidade do CBD no organismo,
recorre-se à nanotecnologia, através da criação de partículas minúsculas, com
diâmetro inferior ou próximo a 100 nanômetros. Esses nanofármacos são utilizados
na distribuição de medicamentos pouco solúveis, melhorando a absorção e
permitindo um maior efeito sobre o corpo (Suri et al., 2007).
A presente revisão visa discutir métodos envolvidos na formulação de emulsões
de produtos derivados da maconha, comparando técnicas, materiais envolvidos e
analisando as propriedades físico-químicas das partículas obtidas. Emulsões são
dispersões líquido-líquido termodinamicamente estáveis de gotículas esféricas cujo
diâmetro da gota de fase dispersa (D) apresenta tamanho próximo ou abaixo de 200
nm (McClements, 2011).

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REVISÃO DA LITERATURA

Propriedades do Canabidiol para Aplicação em Indústria Farmacêutica e Cosmética


O uso de derivados da maconha para tratamento de doenças de pele remonta da
medicina tradicional chinesa, onde o óleo extraído da planta era utilizado contra
doenças inflamatórias como psoríase e eczema (Casares et al., 2019). Reforçando essa
tradição, o efeito positivo da Cannabis sativa para reparação de desordens cutâneas
vem sendo comprovado ano após ano.
Além dos efeitos medicinais causados pelo tratamento com óleo de CBD,
auxiliando pacientes com diferentes enfermidades e atraindo a atenção de empresas
farmacêuticas, o extrato de CBD vem crescendo no ramo de cosméticos anti-idade,
devido a sua riqueza mineral, contendo vitaminas A, C e E (Kowalska et al., 2015) e
seu grande caráter antioxidante. De acordo com a literatura, existem dois
mecanismos principais envolvendo derivados do fenol que explicam o seu papel
protetor e antioxidante (Leopoldini et al., 2011). Um desses mecanismos ocorre
através da transferência do átomo de hidrogênio H do composto antioxidante ArOH,
se ligando ao radical livre R (Equação 1). O outro mecanismo se dá via transferência
de um elétron, onde o composto antioxidante doa um elétron ao radical (Equações 2 e
3), que deve estar estável, a fim de evitar reações com radicais em cadeia (Borges et
al., 2013). Esses compostos livres danificam o DNA e favorecem o envelhecimento,
uma vez que o mesmo é atenuado pelo aumento de danos genéticos e redução de
reparos genômicos (Gava e Zanoni, 2005).

(1)
(2)
(3)

Além disso, acredita-se que a atividade antioxidante mais importante do CBD


está associada ao efeito que esse composto causa nos seus receptores CB1 e CB2, que
dependendo da concentração, pode ativar, antagonizar ou inibi-los (De Petrocellis et
al., 2017). CB1 e CB2 apresentam forte expressão no sistema nervoso central e
principalmente no sistema imunológico, também ocorrendo em outros tecidos. Esses
receptores ativam os canais de potássio e a proteína quinase ativada por mitógeno
(MAPK) (Callén et al., 2012). A via MAPK desempenha um importante papel na

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regulação da sobrevivência, proliferação e apoptose da célula (Giacoppo et al., 2015),


contribuindo assim com a renovação celular e eliminação de células mortas. Desta
forma, o uso de CBD no tratamento de doenças dermatológicas como acne (Oláh et al.,
2014), dermatite alérgica e psoríase (Palmieri et al., 2015) e câncer (Sultan et al.,
2018) tem sido mostrada em alguns estudos.
Estratégias de Manipulação de Compostos derivados da Maconha
Embora o CBD apresente um peso molecular razoável (314,46 Da), seu alto
valor de log P (partição de lipídio – água) de ~ 6 traz desafios para sua aplicação
transdérmica (Thomas et al., 1990). Quanto maior o coeficiente de partição lipídio –
água, maior será a lipossolubilidade da molécula, facilitando a travessia da mesma na
membrana biológica. Entretanto, para ser absorvida pelo organismo, o composto
também deve possuir hidrossolubilidade, sendo capaz de se dissolver em meio
aquoso (Ujváry e Hanus, 2016). Como dito anteriormente, o alto valor de log P
apresentado pelo CBD faz com que o mesmo obtenha características extremamente
lipofílicas (Hall et al., 1998), diminuindo sua capacidade de solubilidade em soluções
aquosas. O CBD diretamente administrado no organismo necessita de um intenso
cisalhamento para dispersar os canabinóides, causando degradação excessiva e
diminuindo sua biodisponibilidade (Ujváry e Hanus, 2016).
No entanto, existem métodos de superar o caráter hidrofóbico do CBD através
de sistemas carregadores adequados, visto que canabinóides apresentam boa
solubilidade em solventes não-polares, como óleos e gorduras. As nanopartículas são
interessantes como sistemas de liberação, pois ao envolver a substância a ser
liberada, as cápsulas evitam o contato direto com os tecidos protegendo a molécula
contra a degradação direta, tanto durante o armazenamento quanto após a
administração (Mohanraj e Chen, 2006). Essas partículas coloidais normalmente têm
um núcleo apolar em que os canabinóides são dissolvidos e uma concha polar que
entra em contato com a água circundante. Alguns exemplos deste tipo de sistema
coloidal são destacados na Figura 2 e incluem microemulsões, nanoemulsões,
emulsões, nanopartículas de biopolímero e grânulos de hidrogel preenchidos
(McClements, 2020). As principais características, vantagens e desvantagens dos
possíveis sistemas de encapsulamento de canabidiol são destacadas na Tabela 1.

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Figura 2: Principais sistemas de entrega coloidal.

Tabela 1: Características dos principais tipos de sistemas de entrega coloidal que


podem ser adequados para o encapsulamento e liberação controlada de canabinóides
cosméticos.
Sistema de
Principais características
entrega
Partículas de diâmetro de 5–100 nm; termodinamicamente
estável; boa estabilidade; opticamente claro; necessidade de
Microemulsões
níveis elevados de surfactante; baixa capacidade de carga e
toxicidade.
Partículas de diâmetro de 100 nm a 100 μm; variam de
opticamente claro a opaco; carregamento alto;
Emulsões
termodinamicamente instável; suscetível a agregação de
gotículas.
Partículas de diâmetro de 100 nm a 100 μm; fornece proteção
Nanopartículas extra para moléculas quimicamente instáveis; pode retardar a
sólidas lipídicas liberação; carregamento alto; termodinamicamente instável;
suscetível à agregação e sedimentação de partículas.
Partículas de diâmetro de 50 nm a 50 μm; pode carregar
moléculas hidrofílicas e lipofílicas em um sistema; baixa
Lipossomas
estabilidade em muitos produtos comerciais; altos custos de
fosfolipídios.
Partículas de diâmetro de 50 nm a 2.000 μm; proteger
Microgéis moléculas quimicamente instáveis; partículas grandes podem
afetar a estabilidade e os atributos sensoriais.
Fonte: Adaptado de McClements, 2020.

Quando uma emulsão possui gotículas, um diâmetro médio menor que 200 μm,
às vezes a solução é chamada de nanoemulsão. Deve-se ater, no entanto, que não
existe atualmente um consenso sobre o limite superior do diâmetro médio de gota
que defina uma nanoemulsão (McClements, 2020). Em diferentes artigos de revisão, o

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limite superior foi proposto como 100 nm (Dasgupta e Ranjan, 2018; Zhou et al.
2018), 200 nm (Mason et al., 2006; McClements, 2011), 500 nm (Gupta et al., 2016) e
1000 nm (Abramovits et al., 2010).

Emulsões
Com o objetivo de driblar o carácter hidrofóbico do CBD, as emulsões surgem
como uma alternativa promissora. Através da incorporação do óleo de CBD em
emulsões de óleo em água (O/W), essa técnica visa elevar a compatibilidade aquosa
da molécula, aumentando sua biodisponibilidade e acelerando seu efeito (Ozturk et
al., 2015).
As emulsões são dispersões líquido-líquido cineticamente estáveis de gotículas
esféricas cujo diâmetro da gota de fase dispersa (D) apresenta tamanho próximo ou
abaixo de 200 nm (McClements, 2011). Essas gotículas apresentam uma alta relação
superfície/volume, gerando uma elevada tensão superficial (γ). O alto valor de γ em
comparação ao pequeno valor de D causa uma diferença de pressão considerável
entre o interior e o exterior da superfície da gota, pressão essa conhecida como
pressão de Laplace (McClements, 2021), e para que as emulsões sejam formadas, essa
barreira energética criada deve ser superada.
Emulsões voltadas para entrega de compostos geralmente apresentam uma fase
oleosa, contendo a molécula lipofílica dissolvida em um óleo transportador,
surfactante(s) e água. Óleos transportadores contribuem para o processo diminuindo
a viscosidade da fase oleosa (Wooster et al., 2008), aumentando a biodisponibilidade.
Essas espécies além de causar a redução da tensão superficial entre as duas
fases imiscíveis, diminuindo a barreira energética anteriormente citada, são
fundamentais para estabilidade a longo prazo das emulsões pois são capazes de
sustentar pequenas gotas, permitindo que haja movimento browniano e evitando
com isso, perdas provenientes de separação gravitacional (Singh et al., 2017). A
presença da fase polar na superfície da gota protege as partículas da floculação ou
coalescência, causada pela repulsão eletrostática/estérica, favorecendo a estabilidade
do sistema (Wooster et al., 2008).
Os métodos de produção de emulsões podem ser divididos em técnicas de baixa
energia e técnicas de alta energia. Abordagens de baixa energia, como Temperatura
de Inversão de Fases (TIF) que utiliza a variação de temperatura para controlar a

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afinidade relativa do surfactante entre as diferentes fases da composição (Salager et


al., 2004), geralmente necessitam de quantidades muito elevadas de surfactantes
agressivos, como os sulfatos, que se originam a partir do ácido sulfúrico e podem
causar irritações na região dos olhos e dermatite na pele (Singh et al., 2017; Bondi et
al., 2015). Com isso, acabam apresentando desvantagem devido ao custo dos
materiais, sendo inviável para produção de emulsões além da escala laboratorial
(Gupta et al., 2016).
As técnicas de alta energia contam com dispositivos mecânicos que promovem
uma cavitação de alta intensidade na formulação (Singh et al., 2017). A cavitação gera
forças de cisalhamento extremamente elevadas, causando a quebra e dispersão do
óleo, criando as gotículas estáveis. O processamento de líquido ultrassônico de alta
intensidade tornou-se uma técnica bem estabelecida para a preparação desse tipo de
solução (Peshkovsky e Bystryak, 2014).
Este método, demonstrado na Figura 3, baseia-se na condução de um transdutor
acoplado a uma sonda, que vibra com uma frequência de aproximadamente 20 kHz e
uma amplitude de pico a pico de 80-100 μm. Esta vibração intensa promove cavitação
acústica, gerando uma implosão assimétrica de bolhas de vácuo (Peshkovsky e
Peshkovsky, 2011) e forças intensas de cisalhamento na solução, que causa a quebra
e dispersão das gotas de óleo. A recém-formada superfície de óleo é preenchida pelo
surfactante presente (Peshkovsky et al., 2013).
Todas as fases anteriormente descritas juntamente com as propriedades físico-
químicas da mistura, intensidade e o tempo de cavitação determinarão o tamanho
final das gotículas da emulsão formada. Leibtag e Peshkovsky (2020) prepararam
nanoemulsões de óleo de CBD, através de um extrato de CBDX (apresentando 55% de
CBD) utilizando diferentes surfactantes, dois sintéticos de qualidade alimentar, sendo
eles Tween 80 (HLB = 15) e Span (HLB = 4.3) e um de origem natural, também com
qualidade alimentar, Q-Naturale® (14% m/m de saponina de quilaia, HLB = 13,5),
além do óleo carregador azeite refinado e água. Previamente, foi realizada uma
otimização das proporções de surfactantes e óleo afim de que a solução final se
aproximasse da translucidez. A translucidez, além de proporcionar uma melhor
absorção digestiva (Bekerman et al., 2004) faz com que a solução possa ser
incorporada em produtos à base de água, sem causar alteração visual (Leibtag e
Peshkovsky, 2020), sendo alcançada quando o diâmetro médio das partículas em

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solução atinge valores menores de 100 nm (Peshkovsky et al., 2013). Foram


analisadas emulsões obtidas através da utilização do surfactante natural e dos
sintéticos, no primeiro caso, foi usada a seguinte proporção: Saponina de Quilaia (Q-
Naturale) em 12,1%, extrato de CBDX (55% CBD) em 5,4%, azeite de oliva refinado
em 7,2% e água em 75,5%. Para o segundo caso, utilizou-se tween 80 em 10,4%, span
80 em 2,2%, extrato de CBDX (55% CBD) em 5,4%, azeite de oliva refinado em 7,2% e
água em 74,8%. Durante o processamento, o recipiente de preparo foi mantido em
banho de gelo, visando manter a temperatura do líquido abaixo de 60 °C. As amostras
foram filtradas em filtros de fibra de vibra, possuindo range de 1μm e depois diluídas
100 vezes. O diâmetro médio obtido no primeiro e segundo caso foi, respectivamente,
de 110 e 80 nm, determinado por difração a laser (Leibtag e Peshkovsky, 2020).

Figura 3: Esquema de formação de microemulsões e nanoemulsões por


ultrasonicação.

Nos estudos de Nakano e colaboradores (2019), visando melhorar à absorção


intestinal de CBD, foi proposta a formulação de nanoemulsões. Para tal, utilizou-se pó
de CBD com 99% de pureza (30 mg), acetato de vitamina E em 1,70%, tween 20 em
70%, etanol em 3,80% e água em 24,5%. Assim como no estudo conduzido por
Leibtag e Peshkovsky (2020), analisou preliminarmente as proporções afim de
otimizar as taxas, obtendo uma mistura transparente e clara. A mistura foi realizada

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através de um agitador magnético a temperatura ambiente (23 +/- 5 °C) e a


nanoemulsão formada foi mantida a 4 °C e diluída 3 vezes com água destilada. O
diâmetro médio, determinado por meio de difração a laser, foi analisado após a
preparação, no dia seguinte e 1 semana depois, obtendo 35,3 +/- 11,8 nm, 43,8 +/-
22,0 nm, 44,5 +/- 14,0 nm, respectivamente (Nakamo et al., 2019).

Nanoemulsões e Microemulsões
Ainda existem poucos estudos sobre o encapsulamento de compostos
provenientes da maconha, como canabinóides (THC e CBD) em emulsões,
nanoemulsões e microemulsões. Após a demonstração desses métodos, a Tabela 2
apresenta um comparativo entre alguns parâmetros observados em cada estudo.

Tabela 2: Parâmetros e principais características dos estudos para encapsulamento


de CBD por microemulsões e nanoemulsões.
Fase
% de apolar Classificaçã
Método de Surfactant Diâmetr
extrat / o Referência
preparo e o médio
o Fase da emulsão
polar
Tween 80
Micro [1]
Span 80 5,4 1:6 80 nm Leibtag e
Ultrasonicaçã Nano [2] [3]
Peshkovsky
o
Emulsão [1] , 2020
Q-Naturale 5,4 1:6 110 nm
Nano [4] [5]
-
Misturador 44,5 +/- Micro [1] Nakamo et
Tween 20 3
mecânico 14,0 nm Nano [2] [3] al., 2019

[1] McClements, 2019; [2] Dasgupta e Ranjan, 2018; [3] Zhou et al. 2018; [4] Mason et al., 2006; [5]
McClements, 2011.

Uma análise dos estudos conduzidos demonstrou ser possível obter partículas
com diâmetro inferior a 200 nm através da utilização de diferentes metodologias.
Com a otimização prévia das proporções entre a combinação de surfactantes
sintéticos e óleo carregador obteve-se soluções translúcidas nas três situações,
proporcionando melhorias significativas na combinação de surfactantes sintéticos e
óleo carregador. Os três estudos citados proporcionaram melhorias significativas na
adsorção digestiva de ativos lipofílicos (Bekerman et al., 2004). Na pesquisa

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realizada por Leibtag e Peshkovsky (2020) não foi possível obter esse
comportamento translúcido com a aplicação do surfactante natural, sendo observado
que o aumento da concentração do surfactante causou o aumento do diâmetro médio
das partículas, devido a capacidade de empacotamento do surfactante. Em baixas
concentrações, Q-Naturale se apresentou mais eficiente na formação de gotículas
menores, quando comparado ao Tween 80 e Span 80. O aumento da concentração do
surfactante faz com que grupos hidrofílicos volumosos de saponina de quilaia se
aglomerem, causando repulsão estérica entre os grupos vizinhos, evitando qualquer
redução adicional do tamanho da gota, fazendo com que seja alcançado o diâmetro
médio mínimo. O Tween 80, por outro lado, apresenta grupos hidrofílicos lineares
que se compactam mais firmemente, podendo sustentar gotas menores, permitindo
que mais moléculas se adsorvam em sua superfície (Leibtag e Peshkovsky, 2020).
Na pesquisa feita por Nakamo e colaboradores (2019), a comparação realizada
nos perfis de absorção biliar em ratos após a administração oral entre uma
nanoemulsão contendo CBD e uma solução convencional de óleo de CBD demonstrou
que a biodisponibilidade aumentou em 65% para solução de nanoemulsão contendo
CBD. Além disso, no experimento conduzido com nanoemulsões, concentrações de
CBD no plasma foram detectadas em menos de 1 hora após a administração,
enquanto no procedimento com óleo convencional, as concentrações foram
detectadas a partir de 2 horas após a administração. Devido a diferença entre o
metabolismo do CBD em ratos e humanos (Stott et al., 2013; Samara et al., 1991), os
estudos demonstraram que a biodisponibilidade absoluta óleo de CBD é bem mais
elevada em ratos (70%) quando comparada com humanos (6-19%) (Nakamo et al.,
2019).

CONCLUSÃO
Com a utilização da ultrasonicação e misturadores magnéticos evidenciou-se
que é possível produzir emulsões em sua escala micro e nano contendo CBD. Além
disso, a modelagem do balanço hidrofílico-lipofílico demonstrou que à otimização da
formulação é essencial para a utilização das proporções corretas tanto do óleo
carregador como dos surfactantes, gerando nanoemulsões translúcidas (Leibtag e
Peshkovsky, 2020), aumentando a biodisponibilidade e consequentemente, seu efeito
no organismo.

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Estudos futuros poderiam avaliar o efeito de diferentes surfactantes e também


se a pureza do CBD causa alguma influência no tamanho do diâmetro médio das
partículas finais, quando submetidos a uma mesma metodologia de emulsificação. A
utilização de surfactantes não tóxicos poderia conduzir estudos clínicos em humanos
visando avaliar a biodisponibilidade de CBD quando administrado em forma de óleo
convencional e emulsões.
Há claramente uma necessidade de pesquisas mais sistemáticas sobre o
encapsulamento e distribuição de canabinóides usando nanoemulsões e
microemulsões. Deve ser possível formar emulsões totalmente naturais com boa
estabilidade e perfis farmacocinéticos. A associação dessas emulsões em produtos
cosméticos poderia potencializar o efeito do tratamento de doenças dermatológicas,
melhorando a qualidade de vida e autoestima dos usuários.

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CAPÍTULO 4
REVISÃO DA LITERATURA:
Ceriporiopsis subvermispora NA
PRODUÇÃO DE ENZIMAS
LIGNINOLÍTICAS

Maira Fernanda Alves Bueno1


Sandra de Cássia Dias2

1
Mestranda em Biotecnologia, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Alfenas, MG,
email: mairabueno00@gmail.com, ID Lattes: 9648867885168617.
2
Professora do Departamento de Química, Universidade Federal de São João Del Rei
(UFSJ), Ouro Branco, MG, email: sandra@ufsj.edu.br, ID Lattes: 8339793010218033.

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REVISÃO DA LITERATURA: Ceriporiopsis subvermispora NA PRODUÇÃO DE ENZIMAS


LIGNINOLÍTICAS

RESUMO
O Ceriporiopsis subvermispora é um dos fungos da podridão branca, decompositor de
madeira, pertencente à família Polyporaceae. As principais enzimas produzidas por
este fungo são a lacase (Lac), a manganês peroxidase (MnP) e a lignina peroxidase
(LiP). Essas enzimas são de interesse industrial, utilizadas em indústria de papel, pré-
tratamento de material lignocelulósico, biorremediação, descoloração de corantes
sintéticos, alimentos, farmacêutica, química fina, têxtil, entre outras aplicações. A
síntese das mesmas depende da composição do meio de cultura, do tipo de cultivo,
presença de indutores e regime de alimentação. Os fungos filamentos crescem
aderidos à superfícies sólidas, característica utilizada em biorreatores com biomassa
imobilizada. O objetivo foi realizar uma revisão da literatura sobre o metabolismo e
imobilização celular do C. subvermispora visando a produção de enzimas
ligninolíticas.
Palavras-chave: Lacase. Manganês Peroxidase. Lignina Peroxidase. Imobilização
Celular. Fungos da Podridão Branca.

LITERATURE REVIEW: Ceriporiopsis subvermispora IN THE PRODUCTION OF


LIGNINOLYTIC ENZYMES

ABSTRACT
Ceriporiopsis subvermispora is one of the white rot fungi, wood decomposers,
belonging to the Polyporaceae family. The main enzymes produced by this fungus are
laccase (Lac), manganese peroxidase (MnP) and lignin peroxidase (LiP). These
enzymes are of industrial interest, used in the paper industry, pre-treatment of
lignocellulosic material, bioremediation, decolorization of synthetic dyes, food,
pharmaceuticals, fine chemicals, textiles, among other applications. Their synthesis
depends on the composition of the culture medium, the type of culture, presence of
inducers and feeding regime. Filament fungi grow adhered to solid surfaces, a
characteristic used in bioreactors with immobilized biomass. The objective was to
perform a literature review on the metabolism and cellular immobilization of C.
subvermispora aiming the production of ligninolytic enzymes.
Key-words: Lacase. Manganese Peroxidase. Lignin Peroxidase. Cellular
Immobilization. White Rot Fungi.

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INTRODUÇÃO

O Ceriporiopsis subvermispora é um fungo da podridão branca muito estudado


e utilizado na biopolpação, devido a sua capacidade de degradar lignina. As principais
enzimas produzidas por este fungo, responsáveis pela degradação da lignina, são a
lacase (Lac), a manganês peroxidase (MnP) e a lignina peroxidase (LiP) (Fernández-
Fueyo et al., 2012; Van Kuijk et al., 2015).
A Lac, MnP e LiP são enzimas de interesse industrial, principalmente, para
aplicação ambiental como: tratamento de efluentes, biorremediação e descoloração
de corantes sintéticos. Elas também podem ser empregadas na indústria de
alimentos, química fina, de papel, têxtil, farmacêutica entre outras aplicações. Para
muitos desses processos as enzimas não precisam apresentar um grau de pureza
elevado (Babič et al., 2012; Macedo et al., 2015). No entanto, a produção destas
enzimas depende da composição do meio de cultura, do tipo de cultivo, da presença
de indutores, do tipo de substrato e do regime de alimentação.
Normalmente, os fungos filamentos crescem aderidos à superfícies sólidas,
como madeiras. Essa característica é utilizada em biorreatores com biomassa
imobilizada, quando se utiliza material orgânico imobilizado no reator, em
biorreatores de leitos embalados, biorreatores de discos rotativos e biorreatores de
biofilme (Babič et al., 2012). Biorreatores de biofilme são reatores biológicos, onde a
o microrganismo é imobilizado sobre um suporte formando um biofilme. Os fungos
filamentosos iniciam esse processo com a adesão de esporos a uma superfície. Esta
etapa é influenciada por fatores físicos, químicos e ambientais. Em superfícies
porosas, a imobilização ocorre a partir da penetração da hifa nos poros provocando
assim a adsorção do fungo filamentoso ao suporte (Babič et al., 2012; Germec et al.,
2020).
Portanto, os fungos filamentosos podem ser imobilizados em superfícies que
ofereçam suporte para a adesão celular e nutrientes para o metabolismo fúngico,
como biomassa vegetal (cavacos de madeira, palha de arroz, palha de milho e palha
de trigo). A Luffa cylindrica é outro exemplo deste tipo de biomaterial que apresenta
em sua composição lignina, celulose e hemicelulose, além de porosa (Babič et al.,
2012; Mao, et al., 2021)
No cultivo utilizando células imobilizadas, a transferência de substrato e O2 no
meio deve ser adequada e favor a nutrição das células e a biossíntese dos produtos de

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interesse. Outros fatores, como tempo de cultivo, concentração celular, tamanho dos
poros do suporte e viscosidade do meio também interferem na biossíntese dos
produtos de interesse (Covizzi, et al., 2007; Martins, et al., 2013; Bouabidi et al.,
2019). Outros fatores, como pH e temperatura são importantes para crescimento dos
microrganismos. A temperatura ideal de crescimento do C. subvemispora é em média
27 ± 2º C e o pH ideal 4,5 a 5,0 (Aguiar e Ferraz, 2012).
O objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão da literatura sobre o
metabolismo e a imobilização celular do Ceriporiopsis subvermispora para a
produção de enzimas ligninolíticas.

REVISÃO DA LITERATURA

Ceriporiopsis subvermispora
Os fungos do gênero Ceriporiopsis Dom. são conhecidos como causadores da
decomposição branca da madeira, pertencentes à família Polyporaceae (Burdsall Jr.,
1998). O C. subvermispora apresenta seletividade para a degradação de lignina em
madeiras duras e moles (Ferraz et al., 2008), são ótimos colonizadores da madeira o
que facilita sua imobilização nas mesmas ou em estruturas parecidas (Vicentim,
2007).
O C. subvermispora tem sido estudado em aplicações de alimentação animal, na
utilização de suas enzimas para o tratamento de biomassa lignocelulósica. Além disso,
é uma alternativa potencial que pode substituir os métodos atuais que envolvem
produtos químicos no tratamento de biomassa lignocelulósica, pois quando
adicionados em substratos utilizados em ração animal apresenta resultados seguros,
com qualidade e eficácia (Van Kuijk et al., 2015; Mao et al., 2021).
O C. subvermispora é reportado na literatura como um dos fungos mais
seletivos para à hidrólise da lignina, as suas enzimas fúngicas hidrolisam,
primeiramente, a lignina e os polissacarídeos não celulósicos sem provocar uma
hidrólise extensa da celulose (Ferraz et al., 2003; Babič et al., 2012; Van Kuijk et al.,
2015; Vicentim, 2007; MAO, et al., 2021).
Os fungos da podridão-branca são considerados um dos microrganismos mais
eficientes para decompor biomassa altamente lignificada, causam hidrólise da lignina
e hemicelulose, sendo empregados para aumentar a disponibilidade de

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polissacarídeos estruturais, celulose e hemicelulose para outros microrganismos


(Mao, et al., 2021).
A lignina é um polímero natural, polifenólico e amorfo, altamente reticulado, e
resistente à degradação biológica (Carvalho et al., 2009; Macedo et. al., 2015). É um
indutor natural para a produção de enzimas ligninolíticas pelo C. subvermispora
(Šušla et al., 2007; Babič et al., 2012). Portanto, suportes contendo lignina em sua
composição podem estimular a produção de enzimas ligninolíticas.
O Ceriporiopsis subvermispora pode ser empregado em diversas aplicações
industriais, principalmente em pré-tratamento de material lignocelulósico, para
liberação de lignina e celulose, na indústria de papel, têxtil, alimentos, química fina,
farmacêutica, tratamento de efluentes como biorremediação de poluentes (corantes
têxteis) e degradação de organopoluentes (pesticidas e efluentes da indústria
farmacêutica) (Babič et al., 2012; Mao, et al., 2021).

Imobilização Celular
Os fungos filamentosos possuem característica natural para aderir às
superfícies, portanto, podem ser empregados em diferentes tipos de biorreatores,
como em biorreatores com biomassa imobilizada, em biorreatores de leitos
embalados, biorreatores de discos rotativos e biorreatores de biofilme (Babič et al.,
2012).
Os fungos filamentosos como C. subvermispora tem uma morfologia complexa
com estruturas celulares diferentes em cada etapa do seu ciclo de vida. São
microrganismos eucarióticos amplamente utilizados em processos fermentativos
industriais, principalmente na produção de enzimas comerciais (Covizzi et al., 2007;
Mao et al., 2021). Para a Imobilização Celular (IC) empregam-se suportes porosos. A
imobilização celular de fungos filamentosos requer poros de maior tamanho, pois as
células fúngicas em crescimento (hifas) penetram no suporte com maior facilidade
ocupando os espaços internos vazios (Covizzi et al., 2007).
Diferentes materiais, como espuma de poliuretano (Faria, 2010), madeiras
(Babič et al., 2012), alginato (Elizei et al., 2014) dentre outros podem ser utilizados
para realizar a imobilização celular de fungos filamentosos. Materiais sintéticos e não
biodegradáveis utilizados como suporte para imobilização celular necessitam de
descarte correto após o término do cultivo para não gerar efeitos ambientais

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negativos. Por isso, o estudo de materiais alternativos, renováveis, biodegradáveis, de


baixo custo e fácil disponibilidade é importante (Covizzi et al., 2007; Martins et al.,
2013).
A imobilização celular pode facilitar a recuperação do produto de interesse
(Martins, et al., 2013) e ajudar na manutenção dos biorreatores uma vez que
problemas de adesão e obstrução celular nos eletrodos e tubulação é menos
frequente (Covizzi et al., 2007). Além disso, pesquisas utilizando novos materiais
para a imobilização celular indicam que os processos fermentativos com células
imobilizadas podem ser realizados em diversos valores de pH e condições ambientais
adversas (Bouabidi et al., 2019). Dessa maneira, é possível trabalhar em condições
não ideais para células, por exemplo, em tratamento de efluentes contaminados com
fenóis e derivados ou em águas residuais (Covizzi et al., 2007; Babič et al., 2012;
Bouabidi et al., 2019). Isso acontece porque a matriz de imobilização confere em uma
maior proteção ás células evitando a morte celular (Bouabidi et al., 2019).
Também não há necessidade de adaptação do microrganismo ao meio de
cultura, favorecendo bateladas contínuas, diminuindo o risco de contaminação,
menor produção de subprodutos, e por consequência facilitando a recuperação do
produto final diminuindo os custos e tempo de produção (Covizzi et al., 2007;
Bouabidi et al., 2019).
A imobilização celular de células microbianas pode ocorrer naturalmente ou por
processo químico (Martins, et al., 2013). Diferentes tipos de imobilização foram
estudas, como ligação covalente, captura utilizando membrana semipermeável,
encapsulamento, aprisionamento e adsorção (Bouabidi et al., 2019). Os tipos de
imobilização podem ser agrupados em; "passiva" quando existe uma tendência
natural dos microrganismos de se aderirem as superfícies - naturais ou sintéticas, e
crescerem sobre elas. E "ativa" quando são empregados agentes floculantes, fixação
química e encapsulamento em gel (Martins, et al., 2013).
A composição do meio de cultura, pH, temperatura, tipo de suporte utilizado
para a imobilização influenciam à adsorção das células. A principal desvantagem da
imobilização celular é a dificuldade na transferência de massa que afeta a fisiologia e
a cinética de crescimento celular. Quando a difusão de oxigênio não é uniforme, as
células da superfície tendem a migrar para o meio externo não tendo uma
imobilização celular efetiva, causando o rompimento da matriz (Martins, et al., 2013).

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A matriz celular utilizada pode se romper devido ao crescimento celular, a


geração de gases, isto ocorre por causa da limitação de transferência de oxigênio. A
utilização de matriz de poros maiores, ou com maior quantidade de poros diminui o
rompimento da matriz (Covizzi et al., 2007; Martins, et al., 2013; Bouabidi et al.,
2019).

Enzimas Ligninóliticas
Em relação às enzimas ligninóliticas, o C. subvermispora produz,
principalmente, lacases (Lacs), manganês peroxidases (MnPs) e liginina peroxidases
(Lips) (Fernández-Fueyo et al., 2012; Mao et al., 2021). Normalmente, as enzimas,
envolvidas na mineralização da lignina e na decomposição da madeira são
sintetizadas no interior celular e secretadas para o meio extracelular. Atuam em
conjunto com compostos de baixa massa molar (Aguiar e Ferraz, 2008; Fernández-
Fueyo et al., 2012; Mao et al., 2021).
O C. subvermispora produz diferentes ácidos orgânicos em comparação com a
maioria dos fungos da podridão branca, denominados de ácidos ceripóricos, que são
uma classe de ácidos alc (en) ilitacônicos como os ácidos -7-hexadecenilitacônicos
(Nishimura et al., 2008; Mao et al., 2021). Estes ácidos são importantes para a
degradação da parede celular da célula vegetal, acidificando o substrato e C.
subvermispora libera açúcares livres durante a colonização de biomassa
lignocelulósica (Mao, et al., 2021).
A lignina é um indutor natural na produção de enzimas ligninolíticas no C.
subvermispora (Šušla et al., 2007; Babič et al., 2012). Portanto, suportes a base de
lignina estimulam a produção destas enzimas. A degradação da lignina ocorre devido
ao complexo oxidativo presente no metabolismo do C. subvermispora, as enzimas
envolvidas são a lacases (Lacs) e manganês peroxidase (MnPs) juntamente com
mediadores de baixa massa molar, ácidos ceripóricos, iniciam à decomposição da
madeira e facilitam a penetração das enzimas envolvidas na hidrólise da lignina
(Macedo et al., 2015).
A maneira exata da ação destes compostos não é completamente elucidada.
Provavelmente, os compostos de baixa massa molar atuam na parede celular dos
vegetais, desorganizando sua estrutura, aumentando o tamanho dos seus poros. Além
de serem cofatores de enzimas oxidativas (LiP, Lac e MnP) que participam da

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hidrólise da lignina (Fernández-Fueyo, et al., 2012). O álcool veratrílico, ácido oxálico,


ácido 3-hidroxi-antranílico são alguns exemplos de compostos de baixa massa molar
que desempenham papel fundamental na hidrólise da lignina (Aguiar e Ferraz, 2008;
Fernández-Fueyo, et al., 2012).
Normalmente, a degradação de lignina pelo C. subvermispora também é
explicada devido à penetração de suas hifas na parede da célula da madeira e na
secreção de enzimas ligninolíticas. A hemicelulose e a celulose são despolimerizadas,
já a lignina é hidrolisada e convertida em substâncias solúveis susceptíveis ao
metabolismo fúngico que culmina na geração de energia, CO2 e água (Ervenet et al.,
2020). Isso explica o fato desses fungos serem boas ferramentas para a biotecnologia,
uma vez que podem atuar sobre estruturas complexas como a lignina, celulose e
hemicelulose.
Quando o C. subvermispora é cultivado utilizando diferentes fontes de carbono
pode-se induzir a síntese de enzimas do complexo celulolítico (endoglucanase, β-
glicosidase e exoglucanase), hemicelulolítico (xilanases, β-xilosidase) e ligninolítico
(manganês peroxidase, lacase e lignina peroxidase) e de proteases (Faria, 2010).
Magalhães (2005) investigou a presença das enzimas hidrolíticas produzidas pelo C.
subvermispora em biorreatores contendo cavacos de Pinus taeda, por 30 dias a 27º C.
A produção das enzimas variou no cultivo em biorreator obtendo-se xilanase,
mananase, endoglucanase, β-glicosidase e baixas atividades de β-xilosidase.
Fernández-Fueyo et al. (2012) relataram que o genoma de C.
subvermispora codifica 16 enzimas de classe II da superfamília da peroxidase planta-
fungo-bacteriana, onde LiPs e VPs (peroxidases versáteis) são classificadas. As 16
enzimas codificadas incluem 13 peroxidases de manganês putativas e uma peroxidase
genérica, mas mais notavelmente duas peroxidases contendo o triptofano catalítico
característico de LiPs e VPs (peroxidases versáteis).
Em Fernández-Fueyo et al. (2012) de mostraram a presença de genes LiPs no
genoma do fungo C. subvermispora. Entretanto a atividade da lignina peroxidase
(LiP) não foi detectada em cultivos do C. Subvermispora (Faria, 2010). Porém, Tanaka
et al. (2009) descreveram pela primeira vez a atividade de LiP em um cultivo de doze
semanas em cavacos de Fagus crenata. Na segunda semana observaram a atividade
da LiP tendo uma melhor produção na terceira semana. Após a terceira semana, a
atividade da LiP começou a diminuir até a oitava semana de cultivo.

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A celobiose desidrogenase (CDH), também, é produzida pelo C. subvermispora.


Ela está associada aos sistemas celulolíticos e oxidativo de fungos basidiomicetos,
ascomicetos e em algumas bactérias (Henriksson et al., 2000; Zámocký et al., 2006;
Faria, 2010). Harreither et al (2009) detectaram a atividade da CDH em cultivo do C.
subvermispora em meio líquido contendo celulose e extrato de levedura. Durante a
última fase do cultivo a concentração de CDH foi 2,5 % m/m da proteína extracelular.
As isoformas das enzimas MnPs e Lacs, do C. subvermispora são codificadas por
três e dois genes, respectivamente, com seus respectivos alelos (Larrondo et al.,
2003). De acordo com Faria (2010) a regulação da expressão gênica é determinada
por sítios encontrados em algumas regiões nos genes de MnP (mnp) que possuem
elementos proximais comuns como: TATA box, sítios AP1 e AP2, bem como sítios
para regulação da transcrição por metais (MRE), cAMP (CRE), compostos
xenobióticos (XRE) e choque térmico (HSE), e para os genes de Lac (lcs) a regulação
ocorre por elementos promotores TATA box, sítios CAAT e MREs e elementos ACE1.
Para a expressão da MnP o Mn2+ causa uma regulação diferencial no gene mnp
(1 e 2) em C. subvermispora. Provavelmente, o íon metálico tem participação ativa na
modificação transcricional de RNAm (mnp) (Fernández-Fueyo et al., 2012). Na
ausência de Mn2+ a MnP é sintetizada e acumulada intracelular, e quando há adição
do íon ocorre a secreção da enzima (Mancilla et al., 2010).
Manubens et al. (2007) avaliaram o efeito do Mn2+ na produção de lac
extracelular. Eles observaram que em altas concentrações de Mn2+ a transcrição de
RNAm (lcs) da lacase foi diminuída, já em baixas concentrações foram obtidos altas
expressão do RNAm lcs. Isso foi confirmado pelas as análises de “Northern blot”.
Porém, na presença do Cu2+ ou Ag+ foi observado uma alta transcrição de RNAm (lcs)
apenas em culturas com ausência de Mn2+. Neste estudo também observou que o
Mn2+ estimula o crescimento do micélio do fungo. Outra questão interessante é a
regulação diferencial do Cu2+ na síntese da Lac e MnP. RNAM de Lacs e MnPs foram
detectados por Northern blot quando Cu2+ foi adicionado ao meio de cultivo (Álvarez
et. al., 2009; Faria, 2010).
A MnP tem aplicações em diversas áreas da indústria, como em tratamentos de
efluentes, degradação de corantes, branqueamento de resíduos e na produção aromas
para a indústria alimentícia. Além de ser aplicada na indústria de papel, celulose,
têxtil, farmacêutica (Kumar e Chandra, 2020).

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Lacases (Lac's) pertecem ao grupo das oxidases azuis de cobre, denominadas


multicobre oxidases azuis, que catalisam a oxidação de fenóis, aminas aromáticas, e
outros compostos aromáticos, realizando a redução do oxigênio molecular à água
(Debnath e Saha, 2020). As lacases tem massa molar na faixa de 50 a 130 kDa
(Debnath e Saha, 2020) e contém íons de cobre no seu sítio ativo. Onde, dois destes
são responsáveis por fazer a transferência de elétrons durante as reações redox (Fan
et al., 2014).
A Lac é promissora em processos biotecnológicos, uma vez que pode atuar
sobre a estrutura de diversos compostos químicos, semelhantes à lignina, como
pesticidas, corantes eherbicidas degradando-os, antes de serem descartadosno meio
ambiente (Debnath e Saha, 2020).
Estudos relatam que o sistema ligninolítico do C. subvermispora não produz
lignina peroxidase em culturas sólidas ou líquidas necessitando de estratégias para
sua produção (Lobos et al., 2001; Hofrichter, 2002; Hakala et al., 2004).
Porém as LiPs são enzimas chave no processo de degradação de lignina, têm
potencial redox maior que 1,4 V na presença de H2O2. Promovem a clivagem
oxidativa de ligações C-C e C-O-C em estruturas aromáticas não fenólicas, diferencial
em relação a outras peroxidases (Wong, 2009). Ao realizar essa oxidação, produz
radicais livres catiônicos arílicos que convergem para oxidação de álcoois benzílicos,
hidroxilação, desmetilação, abertura de anéis aromáticos e dimerização ou
polimerização entre fenóis (Esposito e Azevedo, 2004; Biko et al., 2020).
Como a LiP requer H2O2 para a atividade catalítica, o metabolismo dos
microrganismos necessita produzir o peróxido de hidrogênio por diferentes vias
metabólicas. A expressão dessas vias depende dos nutrientes disponíveis no meio de
cultura e das condições de cultivo (Biko et al. 2020).
As ligninas peroxidases têm potencial para aplicação em diversos setores
industriais, como biocombustíveis, cosméticos e alimentos. No entanto, a falta de LiP
comercial tem dificultado sua aplicação industrial. Além disso, elas são instáveis em
altas temperaturas, desativadas por solventes, suscetíveis à inativação por peróxido
de hidrogênio e sua produção em larga escala ainda é um desafio (Biko et al. 2020).
As enzimas ligninolíticas têm enorme potencial para aplicações industriais em
várias áreas, incluindo processamento de alimentos, cosmética, degradação de

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celulose, têxteis, efluentes de destilaria, biossíntese de produtos químicos finos e


produção de biocombustíveis (Kumar e Chandra, 2020).
Também, existe a possibilidade de conversão de resíduos de lignocelulose em
produtos de maior valor agregado por meio do tratamento da biomassa
ligninocelulósica. Porém, alguns desafios para a produção em larga escala, como
custo, estabilidade da enzima, potencial redox da enzima e substrato precisam ser
superados (Kumar e Chandra, 2020). O cultivo utilizando biomassa imobilizada
oferece vantagens, como facilidade do processo de downstream, devido a menor
produção de subprodutos, diminui a inibição do metabolismo fúngico durante o
cultivo, aumento da produtividade das enzimas de interesse, prolonga o tempo de
cultivo (Bouabidi et al., 2019). Além disso, própria biomassa lignocelulósica recurso
renovável e de baixo custo pode ser utilizada como substrato e agente imobilizante.

CONCLUSÕES

O C. subvermispora, dependo das condições de cultivo, pode sintetizar a lacase,


a lignina peroxidase e a manganês peroxidas. A síntese destas enzimas é dependente
da composição do meio de cultivo, tipo de fermentação (fermentação submersa,
fermentação em estado sólido, células imobilizadas), pH, temperatura, aeração e
presença de substâncias indutoras. A fermentação em estado sólido por simular as
condições naturais do hábitat pode favorecer a síntese de enzimas e metabólitos pelo
C. subvermispora, otimizando a produção de enzimas ligninolíticas e favorecer a
etapa de downstream. Também facilita a produção em sistema contínuo, por proteger
as células imobilizadas contra as condições adversas do meio de cultivo.

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CAPÍTULO 5
ESTRATÉGIAS DE CAPTURA
DE CO2 DURANTE A
COGERAÇÃO E
FERMENTAÇÃO EM USINAS
DE CANA-DE-AÇÚCAR

Felipe de Oliveira Gonçalves1


Daniele da Silva Campanholi2
Melina Savioli Lopes3

1
Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Poços
de Caldas, MG, email: felipe.goncalves@sou.unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
5186889853288964.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Poços
de Caldas, MG, email: daniele.campanholi@sou.unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
0848392204450968.
3
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL, Poços de Caldas, MG, email: melina.savioli@unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
0635740739677769.

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ESTRATÉGIAS DE CAPTURA DE CO2 DURANTE A COGERAÇÃO E FERMENTAÇÃO EM


USINAS DE CANA-DE-AÇÚCAR

RESUMO
A indústria sucroenergética brasileira teve desde o início o seu desenvolvimento
atrelado aos incentivos governamentais. O primeiro programa criado, que deu
resultados significantes para a indústria do etanol no Brasil foi o Programa Nacional
do Álcool, em 1975. O mais recente programa governamental foi o RenovaBio, o qual
foi criado em 2016 com o intuito de fomentar o desenvolvimento da indústria do
etanol visando cumprir os acordos de redução de emissão de CO2, firmados durante a
COP21. Atualmente, o etanol é produzido em larga escala por mais de 300 usinas
localizadas em todo território nacional. Entretanto, vale destacar que as usinas
sucroenergéticas obtém outros produtos à partir da cana-de-açúcar e não apenas o
açúcar e o etanol, como exemplo, tem-se a bioeletricidade. Um fato interessante sobre
a bioeletricidade da cana e o etanol é que ambos se tratam de fontes energéticas
obtidas de uma fonte renovável. Tal aspecto está diretamente ligado com os
compromissos de sustentabilidade ambiental firmados pelo governo brasileiro
durante a COP21. Nesse sentido, este projeto de pesquisa objetiva-se a identificar
estratégias para a otimização da produção de etanol e de bioeletricidade, de modo a
reduzir a emissão de CO2.
Palavras-chave: Redução de emissão de CO2. Indústria sucroenergética brasileira.
Sustentabilidade ambiental.

STRATEGIES TO CAPTURE CO2 DURING COGENERATION AND FERMENTATION IN


SUGARCANE MILLS

ABSTRACT
The Brazilian sugarcane industry had since the beginning of its development
associated with government incentives. The first program created that provided
significant results for the ethanol industry was the National Program of Alcohol, in
1975. The most recent governmental program was the RenovaBio, which was created
in 2016 aiming to incentive the development of the ethanol industry and to reduce
the CO2 emissions according to the agreement made during COP21. Currently, ethanol
is produced on large scale by more than 300 sugarcane mills located over the
Brazilian territory. However, it is important to highlight that sugarcane mills obtain
other products from the sugarcane for example the bioelectricity. An interesting fact
about sugarcane bioelectricity and ethanol is that both are renewable energies. Such
aspect is directly associated with the agreement of environmental sustainability made
during COP21. Thus, this study aims to identify strategies to optimize ethanol and
bioelectricity production in order to reduce CO2 emissions.
Key-words: Reduction of CO2 emissions. Brazilian sugarcane industry. Environmental
sustainability.

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INTRODUÇÃO

Entre os aspectos relacionados ao conhecimento de uma usina de cana-de-


açúcar, um dos pontos cruciais é entender quais são os principais produtos.
Tradicionalmente, as usinas focam na produção de etanol e de açúcar (ZABED et al.,
2017). Contudo, vale destacar que a partir do processamento da cana-de-açúcar é
possível obter outros produtos como, por exemplo, a bioeletricidade e aguardente
(IBGE, 2017). No ano de 2017, por meio de uma ação do governo brasileiro, houve o
surgimento de mais um produto para que usinas sucroenergéticas possam
comercializar. Esse produto chama-se crédito de descarbonização (CBio), o qual tem
uma forte ligação com a sustentabilidade ambiental (PASQUAL et al., 2018).
O mercado de crédito de descarbonização tem sua origem atrelada à criação do
programa RenovaBio, o qual foi iniciado em 26 de dezembro de 2017, à partir da lei
n.º 13.576. O motivo pelo qual os CBios possuem ligação com a sustentabilidade
ambiental é pelo fato de serem provenientes da quantidade de toneladas de CO2 que
deixam de ser liberadas na atmosfera devido à utilização de biocombustíveis
(SAMPAIO et al., 2019).
Outro produto das usinas de cana-de-açúcar que está relacionado a
sustentabilidade ambiental é o etanol. Nos últimos anos o consumo energético tem
aumentado, principalmente devido ao crescimento populacional. As principais fontes
energéticas utilizadas no mundo ainda são as de origem fóssil, como o petróleo e seus
derivados. O uso de fontes fósseis para fins energéticos tem como principal problema
resultante o aumento da emissão de CO2 na atmosfera, o que leva ao aquecimento
global. Nesse sentido, a substituição de combustíveis fósseis por renováveis, como o
etanol é uma forma de reduzir as emissões de gases que agravam o efeito estufa
(NEAMHOM et al., 2016).
Ainda no quesito de sustentabilidade ambiental, as usinas sucroenergéticas
contam também com a geração de energia elétrica à partir da biomassa da cana,
sendo, portanto, mais uma fonte energética baseada em recurso renovável (Silva,
Marchi, e Seifert 2016). A utilização da bioeletricidade da cana-de-açúcar apresenta
grande relevância ambiental, pois evita-se a liberação de CO2 na atmosfera. No ano de
2017, o uso da bioeletricidade da cana-de-açúcar contribuiu para que não fossem
liberadas 9,6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera (ÚNICA, 2018).

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Observa-se, portanto, que as usinas sucroenergéticas possuem maior parte de


seus produtos relacionados à sustentabilidade ambiental, no sentido de colaborar
para a redução de emissão de CO2 na atmosfera. Além disso, isso mostra que as
usinas sucroenergéticas estão alinhadas com objetivos governamentais, como
exemplo, tem-se o acordo firmado durante a COP21, na qual o governo brasileiro se
comprometeu em reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa até 2030,
considerando os níveis de emissões de 2005 (OLIVEIRA; COELHO, 2019; BORDONAL
et al. 2018).
Visando garantir o cumprimento do acordo firmado durante a COP21, o governo
brasileiro criou o programa RenovaBio. Esse programa tem o intuito de estimular a
produção de biocombustíveis e de fomentar avanços tecnológicos para o setor
brasileiro de biocombustíveis (PASQUAL et al., 2018). Desse modo, o governo
brasileiro pretende incentivar o crescimento do setor de biocombustíveis baseado em
sustentabilidade ambiental e econômica (SILVA et al., 2018). Como mencionado
anteriormente, por meio do RenovaBio criou-se um novo produto, o CBio, o qual visa
estimular a produção de biocombustível, no caso de usinas, o etanol.
Nota-se que as usinas já tem sido utilizadas pelo governo brasileiro como um
instrumento para reduzir as emissões de CO2. Além disso, percebe-se também que as
usinas sucroenergéticas tem grande potencial para colaborar com as metas firmadas
pelo governo brasileiro. Esse projeto de pesquisa visa identificar soluções
tecnológicas para usinas, de modo a potencializar as ações para redução de emissão
de gases de efeito estufa. Para tanto é importante focar no processo de produção de
dois produtos previamente mencionados, a bioeletricidade da biomassa da cana e o
etanol.
O processo de geração da bioeletricidade da cana apresenta vantangens de
redução de emissão, como apresentado anteriormente. Contudo, a cada tonelada de
cana processada para gerar eletricidade há a emissão de 0,7 toneladas de CO2 na
atmosfera. Além disso, para a produção do etanol é necessário realizar a fermentação,
etapa na qual, segundo estudos, é possível reduzir a emissão em 27,7 megatoneladas
de CO2 por ano (MILÃO et al., 2019).
Em suma, as usinas sucroenergéticas brasileiras representam como aliadas para
a redução de emissão de gases estufa, no entanto elas podem ser ainda mais eficientes
nesse objetivo. Portanto, é necessário que haja estudos para a identificação e

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disseminação de tecnologias que permitam a melhoria na eficiência quanto a


diminuição de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.

REVISÃO DA LITERATURA

Relevância do setor sucroenergético brasileiro


A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum spp.) tem importância econômica no
Brasil desde o período colonial (ARAÚJO; SANTOS, 2013; HAAG; ACCORSI, 1978).
Atualmente, o setor sucroenergético brasileiro é responsável por gerar mais de 950
mil empregos formais apenas na cadeia produtiva da cana e conta com cerca de 70
mil produtores independentes. Além disso, a cadeia sucroenergética é responsável
por movimentar mais de 100 bilhões de dólares brutos e ter um produto interno
bruto (PIB) do setor igual a 2% do PIB nacional. Do ponto de vista ambiental, o setor
sucroenergético também possui grande relevância. Considerando-se desde o início da
comercialização de carros flex, no Brasil, houve a redução em 350 milhões de
toneladas equivalentes de CO2 (UNICA; CEISE 2016).
Conforme mencionado anteriormente, os processos de geração da
bioeletricidade e da produção do etanol, receberão o foco, pois são os que tem maior
potencial para redução de emissão de CO2, além do fato de ter-se a oportunidade de
aumentar a eficiência ambiental dos mesmos. Nesse sentido, é importante entender a
relevância do etanol e da bioeletricidade da cana para o Brasil.
O consumo brasileiro de etanol, somando-se o anidro e hidratado, atingiu 29,7
bilhões de litros no ano de 2018, o que representa um aumento de aproximadamente
16% em relação ao ano anterior. Para o ano de 2019, até o mês de junho, o consumo
de etanol anidro foi 6,7% menor em relação ao mesmo período de 2018. Já o consumo
de etanol hidratado nesse período aumentou em mais de 2 bilhões de litros, o que
significa um crescimento de 33%. Desse modo, espera-se que o consumo de etanol em
2019 seja maior que os anos anteriores (ÚNICA, 2019). No contexto mundial, os
principais produtores de etanol são os Estados Unidos e Brasil (EIA, 2015).
Em relação ao etanol é interessante analisar a demanda futura do
biocombustível. A frota brasileira de veículos entre os anos de 2017/2018 era
composta por aproximadamente 39 milhões de veículos, dos quais 24% eram
veículos flex, ou seja, movidos tanto a etanol quanto a gasolina. No entanto, para os

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anos de 2027/2028 espera-se que a frota brasileira atinga por volta de 45 milhões de
veículos, sendo que 26% serão automóveis flex. O aumento de 2% aparentemente é
pequeno, contudo, tal aumento significa um acréscimo de 3 milhões de veículos.
Outro fator a ser observado, é que mesmo os veículos que não são flex e que são
movidos apenas a gasolina, ainda possuem uma porcentagem de etanol adicionado à
gasolina (FIESP, 2017).
É interessante, também, analisar a expectativa de crescimento da demanda
doméstica e de exportação. A expectativa para os anos de 2027/2028 o crescimento
na demanda doméstica seja de 41% em relação ao ano de 2017 e espera-se que o
crescimento da demanda para exportação de etanol para os anos de 2027/2028 em
relação a 2017 seja de 269%, em contrapartida, para o açúcar o aumento esperado é
de 30% (FIESP, 2017). Quanto ao volume de etanol, espera-se a demanda de 47,1
milhões de metros cúbicos para o ano de 2028 (BARROS, 2018).
No que diz respeito a bioeletricidade da cana, é interessante analisar o setor
como um todo. O setor de bioeletricidade possui grande potencial no Brasil. Em 2016,
estima-se que tal tipo de eletricidade tenha tido o potencial técnico de gerar 150,9
TWh, o que seria aproximadamente a quatro usinas com a magnitude de Belo Monte
no Pará. Entretanto, no mesmo ano, apenas 21,2 TWh foram exportados para rede
(ÚNICA, 2018). Um dos fatos que explicam o baixo aproveitamento da bioeletricidade
no país é o número de usinas que não vendem energia elétrica. Em 2016, 47% das
usinas sucroenergéticas instaladas no país não fizeram a venda do excedente de
energia elétrica (EPE, 2017). Na Tabela 1 estão as principais fontes utilizadas no país
para geração de energia elétrica.
Conforme a Tabela 1, observa-se que a energia elétrica proveniente da biomassa
é a terceira principal fonte utilizada no Brasil. Em 2018, a bioeletricidade constituía
9% da potência outorgada pela ANEEL. Outro ponto interessante é que a fonte fóssil
possui aproximadamente o dobro da potência outorgada da biomassa. Esse fato
indica uma maior relevância das fontes fósseis em relação à biomassa. No entanto,
separando-se os constituintes das fontes fósseis, tem-se que o gás natural possui
potência outorgada de 13.705 MW, sendo consideravelmente menor que a biomassa
(ÚNICA, 2018).

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Tabela 1: Fontes de geração de energia elétrica nas plantas em operação no Brasil em


2018
Fonte Potência Outorgada (MW) %
Hídrica 107.546 64,9
Fóssil 28.023 16,9
Biomassa 14.675 8,9
Eólica 12.533 7,6
Nuclear 1.99 1,2
Solar 1.026 0,6
Total 165.793 100
Fonte: Adaptado de (UNICA 2018)

Outro ponto a ser destacado é quanto as fontes de energia renovável, nesse


quesito a biomassa apresenta-se como a principal fonte. Mais especificamente sobre a
bioeletricidade resultante da biomassa, tem-se a cana-de-açúcar como a principal
fonte de geração. Na Tabela 2 estão representadas as principais fontes de biomassa
para a geração de energia elétrica.

Tabela 2: Tipo de biomassa utilizada nas plantas de geração de energia elétrica no


Brasil em 2018.
Fonte Potência Outorgada (MW)
Cana-de-açúcar 11.247
Floresta 3.161
Biogás 1
Resíduos sólidos urbanos 135
Arroz 45
Capim elefante 32
Biocombustível líquido 5
Resíduos animais 4
Total 14.63
Fonte: Adaptado de (UNICA 2018)

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Pela Tabela 2, nota-se que a cana-de-açúcar é sem dúvidas a fonte mais


importante para a geração de energia elétrica a partir da biomassa. Tal fato,
consequentemente, ressalta não só a importância do setor sucroenergético, como
também a relevância de um produto nem tão conhecido dessa indústria, a energia
elétrica. Além disso, quando se considera a geração de energia elétrica liberada na
rede em 2017, a bioeletricidade foi responsável por fornecer 25.482 GW, desse total,
84,15% foi proveniente da cana-de-açúcar (ÚNICA, 2018).
Com as informações apresentadas é possível entender que o setor
sucroenergético brasileiro possui grande relevância no âmbito econômico, social e
ambiental. Além disso, trata-se de um setor com longo histórico no Brasil e que possui
produtos que estão diretamente alinhados com estratégias governamentais para a
redução da emissão de gases de efeito estufa. Portanto, é de grande valia a
identificação e disseminação de tecnologias que permitam aumentar o potencial
ambiental de produtos de usinas sucroenergéticas, os quais já apresentam grande
valor para a redução de problemas climáticos, como o aquecimento global.
Nesse sentido, o presente projeto possui aderência com mais de uma área
prioridade do governo brasileiro. Primeiramente, esse projeto visa a melhoria de
tecnologias de produção de produtos na indústria e consequentemente no
agronegócio, uma vez que as usinas sucroenergéticas possuem a interface entre o
agronegócio e a indústria. Além disso, por meio da otimização de processos para a
produção de etanol e da geração da bioeletricidade, é possível colaborar para o
desenvolvimento de tecnologias de energia renovável, uma vez que etanol e a
bioeletricidade da cana são obtidas à partir de fontes renováveis. Ainda, é possível
contribuir para o tratamento da poluição, em razão das reduções de emissão de CO2
que serão obtidas com a identificação de tecnologias para reduzir a liberação de CO2
no processo de produção do etanol e da bioeletricidade.

Rotas para obtenção de etanol, açúcar e bioeletricidade a partir da cana-de-açúcar


Atualmente, os principais produtos finais são o etanol e o açúcar (ZABED et al.,
2017). Na Figura 3, está representado, de modo simplificado, a rota necessária para a
obtenção dos produtos mencionados.

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Figura 3: Rota necessária para a produção de etanol e açúcar a partir da cana-de-


açúcar.

Fonte: Adaptado de (Dias et al. 2015)

Conforme a Figura 3, observa-se que há etapas compartilhadas para a produção


de produtos finais e outras que não são. Outro aspecto interessante é a bifurcação
presente após a extração de açúcares, tal divisão indica que as empresas devem
escolher entre a produção de etanol ou açúcar. Portanto, isso mostra que há
competitividade entre a produção de açúcar e etanol, e essa produção é orientada por
fatores econômicos, como o valor de mercado desses produtos (CASTRO et al., 2019).
A energia elétrica também pode ser considerada como um produto obtido
diretamente a partir da cana-de-açúcar (SMITHERS, 2014). A geração de energia
elétrica em usinas é feita a partir da queima do bagaço de cana obtido após o
processamento dos colmos para a obtenção dos açúcares (BEEHARRY, 1996). Entre
os benefícios de se obter eletricidade a partir da cana-de-açúcar está a menor emissão
de gases estufa na atmosfera, pois, se evita a utilização de combustíveis fósseis,
estima-se que a redução seja em torno de 17%, além de benefícios socioeconômicos
(JOHNSON et al., 2007).

Oportunidade de otimização na fermentação


A fermentação no Brasil é realizada de duas maneiras, em processo contínuo e
em batelada. O processo mais difundido é o em batelada, contudo, há a utilização de
processo contínuo algumas destilarias. O processo contínuo apresenta a vantagem de
ter menores custos relacionados à sua instalação. Entretanto, a eficiência nesse tipo
de processo é menor que em batelada em razão da maior contaminação bacteriana
causada pela impossibilidade de limpeza frequente do reator (CASTRO et al., 2019).
Apesar do processo em batelada apresentar menos problemas devido à
contaminação bacteriana se comparado com o processo contínuo, o mesmo ainda

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possui algumas desvantagens. Entre os problemas enfrentados na fermentação em


batelada, estão o alto custo de instalação e a dificuldade de controle de parâmetros
como gradiente de temperatura e presença de zonas mortas (CASTRO et al., 2019).
Dentre os vários aspectos que podem ser otimizados durante a fermentação no
processo de produção do etanol, um deles é a captura de CO2. O sequestro de dióxido
de carbono é uma atividade de grande relevância, pois é possível evitar a emissão de
uma grande quantidade dessa substância (RESTREPO-VALENCIA; WALTER, 2019).
De modo geral, a captura do CO2 é composta por 4 etapas distintas. A primeira
consiste no condicionamento da corrente que contém CO2, de modo a obter o gás de
interesse com maior pureza. Em seguida realiza-se a captura de fato, e após isso é
feito a compressão do gás e estocagem até que o dióxido de carbono seja destinado
para alguma outra aplicação (IPCC, 2014). No caso da captura de CO2 durante a
fermentação é um processo mais fácil, pois a reação de fermentação libera o dióxido
de carbono com elevada pureza, não sendo necessário realizar a primeira etapa que
consiste na purificação da corrente (MOREIRA et al., 2016).

Oportunidade de otimização na cogeração


Atualmente o sistema de cogeração utilizado pelas usinas sucroenergéticas
brasileiras baseia-se no ciclo de Rankine. O bagaço e a palha da cana-de-açúcar são
queimados no boiler e o vapor produzido expande-se em turbinas que são acopladas
com geradores elétricos. A energia produzida é então utilizada para abastecer várias
operações unitárias presentes em uma usina (DIAS et al., 2015). De modo geral, os
avanços realizados na cogeração de eletricidade em usinas nos últimos anos foi
relacionado em aumentar a capacidade de geração por meio da substituição de
boilers antigos por mais modernos e turbinas capazes de operar em maiores pressões
(DIAS et al., 2015; CHANDEL et al., 2019).
Além dessas alternativas para otimizar o sistema de cogeração, é possível
aplicar mais uma tecnologia, no entanto, com foco diferente, a redução de emissão de
CO2. O processo de captura de dióxido de carbono a partir dos gases liberados pela
combustão da biomassa da cana é semelhante ao processo utilizado para a
fermentação, porém com algumas etapas a mais. A remoção do CO2 dos gases de
exaustão inicia-se com o o resfriamento dos gases antes de entrar na coluna de
absorção onde haverá a interação com o solvente. Em seguida, começa a etapa de

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absorção fazendo-se uso de um solvente, geralmente aminas, as quais absorvem o


dióxido de carbono e posteriormente por meio do aumento de temperatura ou
redução de pressão libera o CO2. Uma vez que se tem o CO2 com elevado grau de
pureza, realiza-se a compressão do mesmo e estocagem até a sua destinação a alguma
aplicação (RESTREPO-VALENCIA; WALTER, 2019).

Ganhos com as mudanças sugeridas


Estima-se que, durante a fermentação, ocorra a emissão de 0,78kg de CO2 para
cada litro de etanol produzido (RESTREPO-VALENCIA; WALTER, 2019). Se
considerarmos a produção brasileira de etanol no ano de 2018, conforme
apresentado anteriormente produziu-se 29,7 bilhões de litros, seria possível apenas
com o sequestro de CO2 durante a fermentação evitar a emissão de 23,2 milhões de
toneladas de dióxido de carbono. Além disso, considerando a demanda futura de
etanol, apresentada previamente, igual a 47,1 milhões de metros cúbicos, seria
possível evitar a emissão de 36,8 milhões de toneladas no ano de 2028. Outro ponto
interessante sobre a captura do CO2 é que se trata de uma operação com custo
relativamente baixo e que não consome grande quantidade de energia elétrica, e
desse modo não afeta a usina de modo geral. Além disso, contribui significativamente
para a redução da emissão de gases de efeito estufa.
Por outro lado, a aplicação da tecnologia de captura de CO2 a partir da
produção de bioeletricidade não é economicamente viável, pois o consumo energético
exigido para ambas operações afetaria a usina como um todo, e, portanto, geraria
impactos na autossuficiência energética da planta. Uma alternativa para a
compensação do gasto energético extra seria por meio da venda de créditos de
descarbonização (Cbio), produto proveniente do programa governamental
RenovaBio.
O mercado resultante da RenovaBio é promissor. Na Tabela 3, estão
apresentadas movimentações financeiras hipotéticas do mercado de CBios com base
em valores de produção de etanol da safra de 2018/2019 e a quantidade de litros
necessária para gerar 1 CBio.
De acordo com a Tabela 3, observa-se que com base nos volumes de etanol
anidro e hidratado produzidos na safra de 2018/2019, considerando-se que ambos
são apenas de primeira geração percebe-se que o mercado proveniente da venda de

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CBios mostra-se promissor. Considerando-se valores esperados pelo Ministério de


Minas e Energia para o CBio, conforme diferentes cenários, sendo de R$ 45,00 para o
cenário pessimista e R$ 149,00 para o cenário otimista é possível fazer uma
estimativa dos ganhos gerados com a venda desse ativo no mercado financeiro (MME,
2017). No cenário mais pessimista tem-se um mercado de 2 bilhões de reais gerados
pela comercialização de CBios. No entanto, em um cenário otimista as vendas de CBio
podem chegar a 6,5 bilhões de reais.

Tabela 3: Simulação quanto as movimentações financeiras no mercado de CBio.


Aspectos Etanol Anidro Etanol hidratado

Produção na safra 2018/2019 (bilhões


11,24 19,17
de litros) (CONAB, 2018b)

Quantidade de litros de combustível


668,69 703,56
para gerar 1 CBio (NovaCana 2018)

Quantidade de CBios resultantes


16,.8 27,24
(milhões)

Preço do CBio a R$45,00 (milhões de


756,4 1.226,1
R$) (MME, 2017)

Preço do CBio a R$97,00 (milhões de


1.630,4 2.642,9
R$) (MME, 2017)

Preço do CBio a R$149,00 (milhões de


2.504,5 4.059,8
R$) (MME, 2017)

Fonte: Próprio autor

CONCLUSÕES

Analisando-se o setor sucroenergético brasileiro percebe-se que se trata de um


setor com vasto histórico e com grande relevância socioeconômica para o país. Além
disso, as usinas brasileiras possuem um papel importante no quesito ambiental, pois
produzem o etanol, que é um combustível de origem renovável e que emite menos
gases de efeito estufa na atmosfera. Outro ponto que as usinas colaboram para o meio

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ambiente é na questão da geração de bioeletricidade a partir da biomassa da cana.


Contudo, apesar das vantagens ambientais apresentadas, há ainda oportunidades
para se fazer melhorias nas usinas sucroenergéticas brasileiras, principalmente no
quesito de redução de emissão de CO2. A etapa de fermentação e cogeração são umas
das principais etapas onde é possível reduzir emissão de dióxido de carbono. No
entanto, verificou-se que devido a viabilidade financeira, atualmente, com as
tecnologias disponíveis, apenas a captura de CO2 da fermentação é interessante de
ser feita. Vale destacar que a captura de dióxido de carbono proveniente da cogeração
de eletricidade pode se tornar economicamente viável por meio da venda de créditos
de descarbonização, os quais são um produto derivado do programa RenovaBio.
Desse modo, os gastos da captura durante a cogeração seriam compensados pela
venda de Cbios.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao apoio da UNIFAL-MG e UNICAMP.

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CAPÍTULO 6
IMPACTOS NO MERCADO
BRASILEIRO DE ETANOL
DEVIDO À PROIBIÇÃO DE
QUEIMADAS NAS LAVOURAS
DE CANA-DE-AÇÚCAR

Felipe de Oliveira Gonçalves1


Daniele da Silva Campanholi2
Melina Savioli Lopes3

1
Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Poços
de Caldas, MG, email: felipe.goncalves@sou.unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
5186889853288964.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Poços
de Caldas, MG, email: daniele.campanholi@sou.unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
0848392204450968.
3
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL, Poços de Caldas, MG, email: melina.savioli@unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
0635740739677769.

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IMPACTOS NO MERCADO BRASILEIRO DE ETANOL DEVIDO À PROIBIÇÃO DE


QUEIMADAS NAS LAVOURAS DE CANA-DE-AÇÚCAR

RESUMO
Atualmente, no Brasil há mais de 370 usinas de cana operando e elas são
responsáveis por gerar cerca de 795 mil empregos para a população brasileira. O
setor sucroenergético recebe incentivos governamentais desde 1931 e maior parte
desses incentivos tem como objetivo o aumento da produção de etanol para reduzir a
dependência de combustíveis fósseis. No entanto, em 2016 o governo brasileiro criou
um programa chamado RenovaBio, que visa aumentar a produção de etanol para
reduzir emissão de gases de efeito estufa. Uma outra ação pública no Brasil com viés
ambiental foi a lei estadual de São Paulo de número 11.241/02. Essa lei é válida
apenas para o estado de São Paulo e visa proibir as queimadas na colheita da cana.
Como vários produtores de cana utilizam a queimada na colheita da cana devido á
topografia não permitir o uso de máquinas, é necessário fornecer alternativas para
otimizar a colheita da cana. As alternativas visam reduzir o impacto da lei estadual de
São Paulo na produção de etanol. Esse estudo sugere a utilização de espaçamento
duplo nas lavouras de cana e o uso de controle de tráfego. Tais técnicas permitem
aumento de produtividade e redução de emissão de gases de efeito estufa.
Palavras-chave: Espaçamento duplo. Controle de tráfego. Colheita da cana. Produção
de etanol.

IMPACTS ON THE BRAZILIAN ETHANOL MARKET DUE TO THE PROHIBITION OF


BURNINGS ON SUGARCANE HARVEST

ABSTRACT
Currently in Brazil, there are more than 370 sugarcane mills operating and they are
responsible for providing around 795 thousand jobs for the Brazilian population. The
sugarcane sector receives incentives from the government since 1931 and most of
these incentives aimed the increase of ethanol production to reduce the dependence
of fossil fuels. However, in 2016 the Brazilian government created a program called
RenovaBio, which has as one of the objectives the increase of ethanol production in
order to reduce greenhouse gas emissions. Another public action in Brazil that was
associated with environmental aspects was the São Paulo State Law n. 11,241/02.
This law is valid only for the state of São Paulo and has as the objective to prohibit the
burning in sugarcane harvest. Since many sugarcane producers use the burning in
sugarcane harvest because the topography does not allow the use of machines, it is
necessary to provide alternatives to optimize the sugarcane harvest. The alternatives
aims to reduce the impact of the São Paulo State Law n. 11,241/02 in the ethanol
production. This paper suggests the use of double row spacing in sugarcane crops and
the use of traffic control. These techniques allows the increase of productivity and the
reduction of greenhouse gas emissions.
Key-words: Double row spacing. Traffic control. Sugarcane harvest. Ethanol
production.

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INTRODUÇÃO

A indústria da cana-de-açúcar brasileira, em 2018, tinha 370 usinas cadastradas


no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2018). Em 2016, esse
setor foi responsável por gerar cerca de 795 mil postos de trabalho, o que mostra a
relevância socioeconômica dessas usinas (GILIO et al., 2018). O setor sucroenergético
brasileiro, recebe incentivos do governo do Brasil, desde 1931. Contudo, maior parte
das ações governamentais visavam a produção de etanol para reduzir a dependência
de combustíveis fósseis (CORTEZ, 2016).

Em 2016, o governo brasileiro criou o programa RenovaBio, o qual foi o


primeiro programa com o propósito de incentivas a produção de etanol para reduzir
impactos ambientais, como a emissão de gases de efeito estufa (BARROS, 2018;
PASQUAL et al, 2018). Além disso, a redução de emissões está relacionado com
compromisso firmado durante a COP21, na qual o Brasil se comprometeu a reduzir
suas emissões até 2028. Portanto, o RenovaBio tem a função colaborar para que o
governo atinja tal objetivo (SOUZA et al, 2018).
O RenovaBio é interessante, pois fornece um novo produto para as usinas de
cana, visando motivá-las a aumentar a suas eficiências ambientais (KLEIN et al.,
2019). O produto criado chama-se crédito de descarbonização (CBio), o qual
corresponde à uma tonelada de dióxido de carbono que deixou ser liberada na
atmosfera devido ao uso de biocombustíveis (SAMPAIO et al, 2019). Entretanto, é
importante destacar que com o CBio, o RenovaBio também se objetiva a atender
critérios financeiros relacionados à produção de biocombustíveis (SILVA et al, 2018;
OLIVEIRA; COELHO, 2019).
Outra importante ação para reduzir as emissões de carbono foi tomada pelo
governo do estado de São Paulo (BORDONAL et al, 2018). Esse estado, que é o maior
produtor de cana-de-açúcar no Brasil, criou a lei número 11.241 em setembro de
2002 com o intuito de reduzir gradativamente as queimadas na colheita da cana,
sendo o prazo para áreas em que é possível a colheita mecanizada até 2021, e para as
demais áreas até 2030 (CONAB , 2019; SÃO PAULO, 2002). Além dessa lei, algumas
usinas paulistas, por meio do protocolo agroambiental concordaram em evitar
queimadas nas lavouras até 2014, em áreas possíveis de se realizar a colheita

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mecânica e até 2017 nas demais. Vale destacar que esse protocolo é válido apenas
para empresas que o assinaram (GRANCO et al., 2015; MATOS, 2014).
Atualmente, é possível obter açúcar, etanol, eletricidade e coprodutos da cana-
de-açúcar (PINA et al., 2017; OLIVÉRIO et al, 2017). Desses produtos, etanol é o que
está associado à aspectos ambientais e à um programa governamental para redução
de emissões. Portanto, deve-se entender as demandas de biocombustível para o
futuro. Considerando a demanda doméstica, espera-se que o consumo de aumente em
41% até 2028, em relação à demanda de 2017. A respeito das exportações,
comparando-se o mesmo período, espera-se um aumento de 269% (FIESP, 2018). No
que diz respeito ao volume de etanol, a demanda esperada para 2028 é de 47,1
milhões de metros cúbicos (BARROS, 2018).
Considerando que o estado de São Paulo é o maior produtor de cana do país e
que o mesmo possui uma lei que proíbe a queimada de cana durante colheita; além
disso, observando a demanda futura de etanol e os compromissos ambientais do
governo brasileiro, é essencial que se entenda o impacto causado por essa lei. A razão
para isso é que a queimada da cana na colheita manual é algo necessário (DIAS,
2008). Esse fato pode levar produtores de cana, em áreas que não é possível utilizar
colheita mecanizada, a migrarem para outros tipos de plantações. Como
consequência, a produção de etanol pode reduzir e afetar negativamente o mercado
brasileiro de etanol e os compromissos governamentais.

REVISÃO DA LITERATURA

Benefícios gerados pelo mercado de cana-de-açúcar


A indústria sucroenergética tem impacto positivo na economia brasileira e em
aspecto sociais e ambientais (CARDOSO et al., 2019). No Brasil, há cerca de 70 mil
produtores trabalhando no cultivo da cana. Além disso, o setor da cana-de-açúcar
colabora para economia nacional com uma renda bruta de 100 bilhões de dólares, que
representa 2% do produto interno bruto do Brasil (UNICA, 2016).
Considerando-se o impacto ambiental, desde a introdução de veículos flex no
mercado brasileiro, houve uma redução nas emissões de dióxido de carbono igual a
350 milhões de toneladas (UNICA, 2016). Outro ponto interessante é que o
desenvolvimento sustentável de um país a geração de energia de modo eficiente.

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Nesse contexto, a cana-de-açúcar tem uma importante contribuição para a matriz


energética devido à grande quantidade que tem sido usada para gerar a
bioeletricidade (MORATO et al., 2018). Em 2018, a biomassa foi a quarta maior fonte
utilizada para gerar eletricidade, sendo a biomassa da cana a mais usada. A biomassa
foi responsável pela geração de 11.247 MW (megawatts) no mesmo ano (UNICA,
2018).
Além disso, uma vantagem interessante da bioeletricidade da cana é que a
mesma é ofertada durante o período da colheita, que vai de maio a novembro. Nesse
período ocorre a estiagem e, portanto, é mais difícil gerar eletricidade por meio das
hidrelétricas. Isso significa que a bioeletricidade da compensa dificuldades
encontradas por hidrelétricas. Outra vantagem é a curta distância entre as usinas e
grandes cidades, o que reduz a perda de energia elétrica durante a transmissão
(KHATIWADA et al., 2012).

Incentivos governamentais para usinas de cana


A indústria brasileira de cana-de-açúcar recebe incentivos governamentais
desde os anos de 1930. Em geral, os incentivos visavam o aumento de produção e
desenvolvimento tecnológico do setor. Na tabela 1, estão apresentados as ações do
governo que objetivaram o desenvolvimento das usinas brasileiras.

Tabela 3: Incentivos fornecidos pelo governo brasileiro às usinas de cana.


Ano Incentivo Referência

1931 Criação do Instituto do Açúcar e Álcool [25]

1975 Início do Pró-Álcool [26]

Criação do Programa de Incentivo às Energias


2002 [3]
Renováveis
2016 Introdução do RenovaBio [10]

De acordo com a tabela 1, é possível perceber que a primeira ação para


alavancar o setor sucroalcooleiro foi a criação do Instituto do Açúcar e Álcool. Esse
instituto visou fornecer recursos financeiros para as usinas de cana que produziam
etanol. Além disso, o instituto era responsável pelo controle de alguns aspectos da

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indústria de cana, como a formação de preço (IBGE, 2017). Em 1975, o governo


brasileiro implementou o Pró-Álcool, o qual tinha como objetivo a redução da
necessidade de importar combustíveis fósseis (BORDONAL et al, 2018). Inicialmente,
o Pró-Álcool focava na produção de etanol anidro com intuito de misturá-lo à
gasolina. Contudo, quatro anos após o início do programa, o alvo passou a ser a
produção de etanol hidratado (KLEIN et al., 2019).
O terceiro incentivo conforme a tabela 1 foi o Programa de Incentivo às Energias
Renováveis. O principal objetivo desse programa foi estimular a geração de energia
elétrica utilizando fontes alternativas, por exemplo, o vento e a biomassa (MIGUEL et
al., 2017). Ainda que esse programa não tivesse foco na produção de etanol, esse
programa foi um incentivo para a geração de energia elétrica utilizando o bagaço da
cana (DUTRA et al., 2008).
O último incentivo governamental foi o RenovaBio. Esse programa foi criado
para assegurar que o país conseguisse reduzir suas emissões de gases de efeito estufa
em 43%, conforme acordado durante a COP21 (CHANDEL et al., 2019). O principal
objetivo do RenovaBio é impulsionar a produzir de biocombustíveis, tais como, o
etanol de segunda geração, biodiesel e biometano (PASQUAL et al, 2018; SOUZA et
al, 2018). Além disso, o aumento na produção desse tipo de combustível está baseado
em três princípios: sustentabilidade ambiental, econômica e financeira (SILVA et al,
2018). O programa é interessante para produtores de biocombustível porque fornece
maior estabilidade para o setor e produtores também recebem créditos de
descarbonização (CBio) (GRASSI et al., 2019). O CBio é um título financeiro e sua
quantidade está atrelada ao volume de biocombustível produzido. De acordo com o
programa, distribuidores de combustível devem adquirir CBios com intuito de
compensar as suas emissões de gases de efeito estufa (MME, 2020). Além disso, os
CBios podem ser negociados na bolsa de valores (GRASSI et al., 2019).

The São Paulo State Law n. 11,241/02


No Brasil, além dos incentivos governamentais apresentados na seção anterior,
há uma outra ação tomada com intuito de reduzir as emissões devido à operação de
usinas de cana. A lei paulista de número 11.241/02 está relacionada à uma das etapas
necessárias para se obter os produtos finais das usinas, a colheita (FREITAS et al.,
2019).

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Atualmente, a colheita da cana pode ser feita de duas maneiras diferentes,


manualmente ou mecanicamente. A colheita manual é uma técnica que demanda a
queimada das lavouras de cana antes da realização do corte. Isso ocorre devido aos
perigos de acidentes causados por cortes com as folhas da cana (DIAS, 2008). Por
outro lado, a colheita mecanizada é interessante porque não requer a queima
(TORQUATO et al., 2013).
Em relação a colheita manual, quando se compara com a colheita mecânica, essa
possui desvantagens técnicas, econômicas e ambientais. Primeiramente, o aspecto
negativo no quesito técnico relacionado à colheita manual é a perda de açúcar devido
ao calor causado pela queima da lavoura. Além disso, não apenas a perda de açúcar,
mas há a perda da palha. Isto é interessante porque a palha pode ser utilizada como
recurso para gerar eletricidade ou pode ser deixada no campo, e assim fornecer
benefícios para solo como redução de custo com herbicidas (DIAS, 2011).
No quesito ambiental, há três importantes fatores, a fauna, flora e emissões de
gases de efeito estufa. A flora é negativamente afetada, pois o fogo das queimadas
pode se espalhar para áreas de proteção ambiental. Com relação à fauna, o problema
está na rapidez com que o fogo se espalha, podendo não haver tempo suficiente para
animais e insetos escaparem (RONQUIM, 2010). Sobre as emissões, as queimadas nas
lavouras são responsáveis por 30,3% das emissões durante a fazer agrícola
(BORDONAL et al, 2018).
Quanto ao fator econômico, no comparativo entre a colheita mecânica e manual
há uma vantagem para a utilização de máquinas. Durante a colheita manual, um
trabalhador rural é capaz de cortar 8,67 toneladas de cana por dia, enquanto que uma
máquina consegue cortar 549 toneladas por dia. Ao final da colheita, é possível uma
redução de 64 trabalhadores rurais (TORQUATO et al., 2013). Ainda que o custo de
aquisição de uma máquina para cortar cana seja elevado, quando se utiliza colheita
mecânica pode-se obter redução de 25% apenas na colheita (RONQUIM, 2010).

Production of sugarcane and ethanol in Brazil


Visando analisar a produção brasileira de cana, primeiramente é importante
entender quais regiões do país possuem maiores níveis de produção. Na figura 1, está
apresentado a produção de cana, no Brasil, considerando-se duas macrorregiões,
Centro-Sul e Norte-Nordeste.

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Figura 1: Produção de cana no Brasil entre 2010 e 2019.

Fonte: Adaptado de ÚNICA (2020).

De acordo com a figura 1, é evidente que a região Centro-Sul é a principal


responsável pela produção brasileira de cana. Além disso, outro importante aspecto a
ser analisado é a quantidade de cana produzida por cada estado da região Centro-Sul.
Na figura 2, está apresentada a produção de cana por estado na região Centro-Sul
entre 2010 e 2019.
Conforme a figura 2, observa-se que o estado de São Paulo é o principal
produtor do Centro-Sul. Além disso, sua produção é significativamente maior que a de
outros estados, o que coloca São Paulo como o principal produtor de cana no Brasil.
Como o estado de São Paulo é o maior produtor de etanol no Brasil e esse estado
possui uma lei que proíbe as queimadas na lavoura de cana, é interessante
compreender quais regiões do estado de São Paulo estão aptas a utilizarem a colheita
mecanizada.
Na tabela 2, está apresentado o índice de mecanização para a colheita de cana
em algumas cidades do estado de São Paulo.
De acordo com a tabela 2, nota-se que a maioria das cidades que produzem
etanol no estado de São Paulo possui elevado índice de mecanização. No entanto, em
cidades como Bragança Paulista e Itapetininga as lavouras de cana possuem baixo
nível de mecanização, porém ambas cidades tem produção significativamente menor
que as demais.

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Por outro lado, Sorocaba, Mogi-Mirim e Campinas, onde a produção de cana é


consideravelmente alta, o índice de mecanização em 2016/2017 foi abaixo de 80%.
Além dessas cidades, há outras cidades com alta produção e índices de mecanização
abaixo de 90%, por exemplo, Catanduva, General Salgado e Jaú.

Figura 2: Produção de cana em cada estado localizado na região Centro-Sul entre os


anos de 2010 e 2019.

Produção de cana por estado da região


Centro-Sul
400 000
Espírito Santo
Produção (1.000 toneladas)

350 000
300 000 Goiás
250 000 Mato Grosso
200 000
150 000 Mato Grosso do Sul
100 000 Minas Gerais
50 000 Paraná
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Rio de Janeiro
Ano Rio Grande do Sul

Fonte: Adaptado de ÚNICA (2020).


É importante destacar que em algumas cidades, devido a topografia é difícil
aplicar a colheita mecânica, portanto, agricultores estão migrando para outras
lavouras (FREDO; CASER, 2017). Esse fato representa um risco para o setor brasileiro
de cana-de-açúcar, pois a produção do principal estado pode ser afetada devido à
impossibilidade de utilizar máquinas na colheita. Consequentemente, pode ser difícil
atender à demanda futura de etanol.
Alternativa para aumentar produtividade da cana-de-açúcar
Ao mesmo tempo que é essencial fornecer soluções par aumentar a produção de
cana no Brasil visando aumentar a quantidade de etanol produzida, é necessário não
negligenciar aspecto como a segurança alimentar (SOUZA et al, 2018). Portanto, não
seria adequado utilizar maior área para produzir cana, com intuito de aumentar a
produção do biocombustível (MARTÍNEZ-JARAMILLO et al., 2019). A consequência de
utilizar mais terras para produzir mais biocombustível sem planejamento adequado
pode levar ao aumento do preço de alimentos e, portanto, piorar a questão da

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segurança alimentar (SUWANDARI et al., 2020). Uma estratégia interessante para


aumentar a quantidade de cana produzida é melhorar a produtividade ao invés de
utilizar maior área para plantio. A produtividade maior é um fator importante para o
sucesso do negócio (SUWANDARI et al., 2020).

Tabela 2: Índice de mecanização de cidades produtoras de cana no estado de São


Paulo durante a safra de 2016/2017.

Índice de
Mecanização Produção (t)
Cidade (%) Produção (t) Mecanização Manual
Andradina 99,5 20.579.255 20.473.495 105.76
Araçatuba 95,5 17.699.011 16.948.321 750.69
Araraquara 92,1 22.557.932 20.709.449 1.848.483
Assis 94,2 17.346.024 16.415.943 930.081
Avaré 91,3 4.971.690 4.566.565 405.125
Barretos 93,2 35.973.468 33.609.502 2.363.966
Bauru 77,7 6.507.391 5.018.456 1.488.936
Botucatu 86,5 6.780.790 5.856.466 924.344
Bragança Paulista 26 158.725 40.04 118.685
Campinas 77,3 2.143.455 1.656.590 486.865
Catanduva 88,1 20.146.181 17.749.975 2.396.206
Dracena 83,6 10.347.535 8.709.080 1.638.455
Franca 92,3 12.727.670 11.711.863 1.015.807
General Salgado 85,7 11.975.622 10.344.650 1.630.972
Itapetininga 56,1 3.653.028 2.091.200 1.561.828
Jaboticabal 92,3 23.003.575 21.281.455 1.722.120
Jaú 86,3 19.750.740 16.920.006 2.830.734
Limeira 81,8 13.709.972 11.249.309 2.460.663
Lins 97,9 12.374.178 12.115.213 258.965
Mogi-Mirim 78 3.621.480 2.935.262 686.218
Orlândia 92,7 29.997.616 27.796.227 2.201.389
Piracicaba 82,2 12.660.790 10.445.875 2.214.916
Presidente Prudente 88,5 20.066.531 17.820.989 2.245.542
Presidente Venceslau 98,6 8.692.793 8.579.024 113.769
Ribeirão Preto 84,4 27.695.382 23.432.978 4.262.405
São José do Rio Preto 89,5 22.650.770 20.317.945 2.332.825
Sorocaba 72,7 2.401.960 1.730.512 671.488
Tupã 87,7 10.848.798 10.634.855 776.967
Votuporanga 98 10.848.798 10.634.855 213.943
Fonte: Adaptado de FREDO; CASER (2017).

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A respeito da colheita da cana, foi mostrado anteriormente que há dois métodos


utilizados, mecânico e manual. Além disso, a colheita mecânica apresenta maiores
vantagens quando comparado ao método manual, especialmente considerando-se
aspectos ambientais e de produtividade. No entanto, é possível melhorar o método
mecânico visando torna-lo mais eficiente.
O uso da colheita mecanizada permitiu aumentar a produtividade das lavouras
de cana, contudo, atualmente esse método é responsável por dificultar o aumento de
produtividade nas lavouras de cana. A razão para esse fato é que o tráfego de
máquinas pesadas causa a compactação do solo, logo, há redução da capacidade de o
solo absorver água e nutrientes (SOUSA et al., 2017). Devido ao tráfego desse
maquinário nas lavouras, estima-se que a compactação do solo seja de 60%. Então, é
necessário que se utilize métodos que diminuam a compactação do solo, para que seja
possível aumentar a produtividade (ESTEBAN et al., 2019).
Uma possibilidade para mitigar a compactação do solo é usar GPS ( Global
Positioning System) para controlar o tráfego de máquinas pesadas. Essa solução
permite que as máquinas circulem por um caminho que não cause compactação do
solo em uma região que seja prejudicial para a planta (FREITAS et al., 2019; SANTOS,
2016). Outra alternativa para reduzir a compactação do solo e que pode ser aplicada
em conjunto com o GPS é uma nova maneira de espaçamento das fileiras das plantas.
Um exemplo da segunda alternativa está apresentado na figura 3.
Na figura 3, à direita, o espaçamento da fileira das plantas sugerido permite que
as máquinas se adaptem melhor ao desenho da lavoura. Outra vantagem do método
sugerido é a possibilidade de melhorar a área disponível para a cana (ESTEBAN et al.,
2019). O ganho de produtividade com a aplicação do espaçamento duplo é
significativo. De acordo com experimentos realizados em lavoura de cana durantes
duas safras consecutivas, foi possível obter-se aumento de produtividade igual a
17,25 toneladas por hectare (ESTEBAN et al., 2019). Além disso, o uso do controle de
tráfego na lavoura de cana permitiu redução nas emissões de gases de efeito estufa.
Houve a redução de 56,3 gramas equivalentes de dióxido de carbono (CHAGAS et al.,
2015).

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Figura 3: Exemplo de espaçamento da fileira das plantas. À esquerda está apresentado


o espaçamento com fileira simples e à direita está apresentado o espaçamento com
espaçamento duplo

Fonte: ESTEBAN et al. (2019).

Portanto, ambas otimizações sugeridas são interessantes, pois permitem


obtenção de resultados benéficos para a indústria de etanol. Além do aumento de
produtividade e ganhos ambientais, há outra razão para o uso dessas técnicas, que é a
redução de custo no cultivo da cana. Estima-se que 40% dos custos operacionais na
produção de cana estejam relacionados com a colheita (PECEGE, 2015).

CONCLUSÕES

A análise do setor sucroenergético brasileiro mostra que se trata de um setor


bem consolidado, com vasto histórico e de grande importância para a economia do
país. A indústria da cana tem um papel relevante no setor energético brasileiro, por
meio do fornecimento de combustível renovável e bioeletricidade para a população.
Entretanto, devido às leis de restrição ambiental no estado de São Paulo, o qual é o
principal produtor de cana no Brasil, a produção de etanol está em risco. Essa
situação representa um problema porque há necessidade de suprir a demanda futura
de biocombustível. Logo, é de suma importância que sejam fornecidas soluções para

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aumentar a produção de etanol, mas também fornecer soluções que permitam a


redução de emissão de gases de efeito estufa. O uso de diferentes técnicas como o
espaçamento duplo e controle de tráfego na lavoura permite o aumento de
produtividade e redução de emissões.

AGRADECIMENTOS
Os autores desse trabalho são gratos ao suporte fornecido pela CAPES, UNIFAL-
MG e UNICAMP.

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CAPÍTULO 7
APLICAÇÃO DE CONCEITOS
ECONÔMICOS EM PROJETOS
DE INVESTIMENTO POPULAR

Felipe de Oliveira Gonçalves1


Daniele da Silva Campanholi2
Fabio Ferraço3
Melina Savioli Lopes4

1
Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Poços
de Caldas, MG, email: felipe.goncalves@sou.unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
5186889853288964.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Poços
de Caldas, MG, email: daniele.campanholi@sou.unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
0848392204450968.
3
Professor do Departamento de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL, Poços de Caldas, MG, email: fabio.ferraco@unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
3877313369139256.
4
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL, Poços de Caldas, MG, email: melina.savioli@unifal-mg.edu.br, ID Lattes:
0635740739677769.

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APLICAÇÃO DE CONCEITOS ECONÔMICOS EM PROJETOS DE INVESTIMENTO


POPULAR

RESUMO
A saúde financeira das famílias brasileiras é um dos principais aspectos a serem
observados pela população. Uma das maneiras de melhorar a renda familiar é através
da realização de investimentos. Contudo, devido ao baixo nível de educação
financeira, de modo geral, dos brasileiros, muitas pessoas ainda não investem, ou
aplicam na poupança. Há vários motivos para que os investimentos se concentrem na
poupança, porém, um dos mais frequentes é o desconhecimento de alternativas tão
seguras quanto a poupança. Outra possibilidade para melhorar a saúde financeira de
famílias brasileiras é a redução de despesas, como por exemplo a de eletricidade.
Nesse sentido, a população pode realizar a compra de placas solares, para reduzir
essa conta. Esse presente trabalho visa apresentar opções de investimento tão
seguras quanto a poupança e compará-las com a aquisição de placas solares,
objetivando orientar a população brasileira sobre qual opção é mais vantajosa para se
investir.
Palavras-chave: Saúde financeira. Investimento. Placas solares. Educação financeira.

APPLICATION OF ECONOMIC CONCEPTS IN POPULAR INVESIMENT PROJECTS

ABSTRACT
Brazilian family's financial health is one of the aspects that deserves attention from
the population. One of the best ways to improve family income is through
investments. However, due to the low level of financial education, in general, the
Brazilian population still do not invest or only invest in savings. There are many
reasons they keep their money in savings, but the most frequent is the lack of
knowledge regards other possibilities with low risk. Another possibility to improve
the quality of the Brazilian family's financial health is by reducing the expenses, such
as the electricity bill. To do so, the population may purchase solar panels. This paper
aims to present low-risk investment options as an alternative to savings and compare
them to solar panels acquisition, to indicate to the Brazilian population which
alternative has more advantages.
Key-words: Financial health. Investment. Solar panels. Financial education.

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INTRODUÇÃO

A falta de orientação financeira do povo brasileiro é uma realidade histórica,


não há, em geral; um incentivo à cultura do conhecimento do dinheiro, dos meios
necessários e disponíveis para fazê-lo render, como a utilização de aplicações outras
além da tradicional poupança (Comissão de Valores Mobiliários [CVM], 2018; Bruhn
et. al, 2013). Aliado à falta de educação financeira, os elevados gastos domésticos
como a conta de energia elétrica podem resultar em dificuldades financeiras para os
brasileiros, especialmente com os aumentos que ocorrem em períodos de seca
(SILVA; NETO; SEIFERT, 2016).
Quando se trata do custo da energia elétrica é essencial analisar qual a fonte
utilizada para a produção de energia elétrica. Tal aspecto é relevante, pois a fonte
utilizada influencia diretamente no preço para o consumidor final. No Brasil, dentre
as fontes utilizadas, as termelétricas representam a produção mais cara (CEMING,
2018).
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), atualmente há no
Brasil aproximadamente 7.200 empreendimentos para a geração de energia elétrica,
tendo-se no total uma potência instalada de 162.517.875 kW. Entre os
empreendimentos em funcionamento, as usinas hidrelétricas representam 60,48% do
total, enquanto que as termelétricas constituem uma parcela de 24,84%. No entanto,
quando considera-se empreendimentos em construção e com construção iniciada, as
usinas termelétricas representam 41,68% e 39,84%, respectivamente. (AGÊNCIA
NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2018).
Nos dias atuais, com o relativo barateamento de tecnologias como placas
fotovoltaicas, tal advento começa a ser um atrativo para uma parte da população, uma
opção de investimento seguro e de retorno garantido, na forma de créditos no
fornecimento de energia. Outro ponto interessante é de tratar-se de uma tecnologia
ambientalmente favorável e sustentável, contribuindo assim para a manutenção de
um meio ambiente mais saudável (DINÇER, 2011). Porém, por ainda ser um
investimento custoso e de retorno a médio ou longo prazo, são requeridas outras
formas de investimento para que o “poupador” pequeno e médio possam ter como
opções de mercado.
Outra maneira que o consumidor pode fazer uso é de investir a quantia que
seria gasta com a compra e instalação de placas solares em renda fixa. Há opções

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disponíveis de investimento com elevada liquidez e risco baixo como por exemplo
Tesouro Direto, Certificado de Depósito Bancário (CDB) e a Poupança Nova.
Nesse presente artigo, além de propiciar melhor entendimento da composição
da conta de energia elétrica e das maneiras de aplicar o dinheiro para obter
economia, tem-se também o objetivo de apresentar para o consumidor qual opção é
mais interessante para se aplicar, de modo a obter a maior economia a partir das
oportunidades citadas anteriormente.

METODOLOGIAS
Objetivando-se fazer a análise de qual investimento é mais interessante para o
consumidor do estudo de caso proposto, fez o comparativo entre CDB e o sistema
fotovoltáico, pois o CDB, conforme a tabela 3 é o investimento com maior
rentabilidade dentre as aplicações consideradas. Para que fosse possível comparar
esses dois investimentos utilizou-se dois parâmetros o Valor Presente Líquido (VPL)
e a Taxa Interna de Retorno (TIR).
O Valor Presente Líquido de um determinado investimento é definido como a
diferença entre o valor presente das receitas e o valor presente dos custos. O VPL
pode ser calculado conforme a Equação 1 (SILVA; FONTES, 2005).

(1 ) (1 ) (1)

Em que: Rj: Valor das receitas no período j; Cj: Valor dos custos no período
atual; i: Taxa de juros; j: Ano no qual as receitas ou custos são efetuados; n:
Quantidade de anos que se considera para o investimento.
A Taxa Interna de Retorno (TIR) pode ser definida como a taxa de juros na qual
tem-se que o Valor Presente Líquido para um determinado investimento é igual a
zero. Para o cálculo da Taxa Interna de Retorno pode-se fazer uso da Equação 1, no
entanto, considera-se que o VPL é igual a zero e “i” é representado pela TIR. O intuito
é identificar para qual valor de “i” tem-se o VPL igual a zero (BALARINE, 2003).
Outra ferramenta utilizada foi o Payback descontado, com o intuito de saber
quanto tempo o consumidor brasileiro precisaria para ter o retorno no seu
investimento. Para tanto fez-se uso da Equação 2 (ARCO-VERDE; AMARO, 2014).

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PBD = T, quando (2)

Sendo que, PBD – Payback descontado; Rj: Valor das receitas no período j; Cj:
Valor dos custos no período atual; i: Taxa de juros; j: Ano no qual as receitas ou custos
são efetuados; I: Investimento inicial; T: Tempo necessário para que se tenha
igualdade entre o fluxo de caixa e o investimento inicial.

REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Fontes de energia elétrica no Brasil


A principal fonte utilizada para a geração de energia elétrica no Brasil tem sido
as hidrelétricas devido a grande quantidade de águas disponível par a essa finalidade.
Entretanto, uma das limitações das hidrelétricas é a sazonalidade. Nos períodos de
seca no país a geração de eletricidade por meio desse empreendimento é mais
limitada fazendo com que haja a necessidade de utilização de outras fontes (MOORE;
REGO; KULAY, 2017). Na Tabela 1, estão apresentadas as principais fontes utilizadas
para a geração de eletricidade em 2016.

Tabela 4: Matriz energética brasileira em 2016.


Contribuição (TeraWatt
Fonte
hora - TWh)
Hidrelétrica 68,1
Gás natural 9,12
Biomassa 8,20
Eólica 5,41
Derivados de petróleo 3,68
Carvão e derivados 2,89
Nuclear 2,60
Solar Não representativo
Total 620
Fonte: Adaptado de Moore, Rego, and Kulay (2017).

Pela Tabela 1 pode-se observar que as hidrelétricas além de serem a principal


fonte de produção de energia elétrica no país, também tem contribuição muito maior
do que qualquer outra fonte utilizada no Brasil. As hidrelétricas têm uma
contribuição 7 vezes maior que a segunda fonte que mais contribui para a geração de
energia elétrica no país. No entanto, além da fonte utilizada para produção de energia

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elétrica é essencial saber qual o custo de produção de cada uma delas. Dessa maneira,
pode-se compreender qual fonte de geração é também a mais economicamente viável
e que causará menor impacto nas finanças dos brasileiros. Na Tabela 2 estão
apresentados os valores do custo do MegaWatt (MWh) para cada fonte citada na
Tabela 1.

Tabela 5: Custo em dólares americanos por MWh de cada fonte utilizada.


Fonte Custo em USD por MWh
Derivados de petróleo 300,30
Solar 168,00
Biomassa 166,20
Eólica 112,3
Gás natural 106,60
Carvão e derivados 99,12
Nuclear 98,06
Hidrelétrica 64,09
Fote: Adaptado de Moore, Rego, and Kulay (2017).

Conforme a Tabela 2, observa-se que o custo da energia elétrica produzida por


meio do potencial hídrico é consideravelmente menor que das demais fontes
utilizadas no Brasil. O custo de geração de energia elétrica a partir dos derivados de
petróleo chegam a ser 4,6 vezes maior que a eletricidade produzida pelas
hidrelétricas. Desse modo, é justificável que o preço do kiloWatt hora (kWh) da conta
de energia elétrica seja maior em períodos que é feito o uso de outras fontes, que não
a hidrelétrica, para a geração de eletricidade.
Uma vez observado quais as principais fontes utilizadas para a energia elétrica
no país e qual o custo de produção de cada uma delas, torna-se interessante analisar
quais fontes encontram-se em maior expansão. Dessa maneira, pode-se ter um
melhor entendimento de qual seria uma provável tendência de evolução do preço da
energia elétrica no país.
Para o ano de 2019 é esperado que a capacidade de geração de energia elétrica a
partir de fontes hídricas cresça em 42,6%, aumentando de 82 GigaWatt (GW) para
117 GW. Por outro lado, a expansão de termelétricas é esperado crescer 78,5%,
atingindo 25 GW. Outra fonte que tem-se uma expectativa de grande crescimento é a
nuclear, da qual espera-se um crescimento de 70% (BRASIL, 2010).

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Ainda no que concerne a expansão de energia elétrica, é interessante analisar as


obras destinadas a geração de eletricidade, no Brasil. As construções de termelétricas
são em maior quantidade, sendo 90 empreendimentos, os quais em conjunto
possuem uma potência outorgada igual a 4.432.742 kiloWatt (kW). As construções
para geração de energia eólica também se destacam. Atualmente estão em fase de
construção 75 obras, as quais possuem potência outorgada de 1.873.730 kW. Nesse
quesito, as construções de usinas hidrelétricas e pequenas centrais hidrelétricas
(PCH’s) possuem pouca contribuição. Há apenas 1 hidrelétrica em construção e 29
obras de PCH’s em andamento (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2018).
Além das obras em construção, há aquelas que já possuem uma determinada
potência outorgada, no entanto não tiveram suas obras iniciadas. Nesse quesito
destacam-se as centrais geradoras eólicas, as quais possuem 128 empreendimentos
não iniciados, os quais em conjunto possuem potência outorgada igual a 4.373.715
kW. Obras para a geração de energia fotovoltáica possuem grande destaque também,
com 95 empreendimentos com potência outorgada de aproximadamente 4.000.000
kW. As usinas termelétricas possuem em conjunto potência similar aos
empreendimentos fotovoltáicos, contando com 55 obras a serem iniciadas. Nesse
aspecto, a geração de energia a partir de hidrelétricas e PCH’s possuem em conjunto
uma potência outorgada de aproximadamente 2.000.000 kW (AGÊNCIA NACIONAL
DE ENERGIA ELÉTRICA, 2018).

1.2 Sistemas fotovoltáicos existentes


Os sistemas fotovoltáicos são composto por vários componentes com funções
específicas. Basicamente, a configuração de um sistema fotovoltáico constitui de um
arranjo fotovoltáico, uma unidade de controle e condicionamento de potência e uma
unidade de armazenamento. O arranjo fotovoltáico é constituído por módulos, os
quais são compostos por células fotovoltáicas, diodos com a função de proteção,
conexões para interligar os módulos e estruturas de suporte (FADIGAS, 2013).
A unidade de controle e condicionamento de potência possui a função de ligar
ou desligar o arranjo fotovoltáico, fazer o controle em relação aos níveis de carga da
bateria e converter a corrente contínua em corrente alternada. No que diz respeito à
unidade de armazenamento, a mesma é composta por uma bateria a qual pode ser

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feita de diferentes tipos de materiais e consequentemente podendo ter preços e


demais características variadas (FADIGAS, 2013).
Outra característica interessante dos sistemas fotovoltáicos é que os mesmo
podem ser configurados de duas maneiras on-grid ou off-grid. O sistema on-grid
trata-se do sistema ligado a rede de energia elétrica (PARIDA; INIYAN; GOIC, 2011).
Desse modo, é possível que as residências obtenham energia elétrica da rede de
transmissão em dias nublados ou quando haja menor irradiação (CHATTERJEE,
Shantanu; KUMAR, Prashant; CHARTTERJEE, Saibal, 2018). Por outro lado, caso o
sistema fotovoltáico gere mais energia que a residência precisa, esse excesso pode ser
repassado para a rede de transmissão e desse modo os consumidores podem obter
créditos. É importante destacar que caso esses créditos não sejam utilizados dentro
de um período de 60 meses, o consumidor perde o direito de usá-los. (AGÊNCIA
NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2012). Na Figura 1 está representado um sistema
fotovoltáico on-grid.

Figura 3: Esquema de um sistema fotovoltáico on-grid (Neo Solar, 2018).

O sistema fotovoltáico off-grid, diferentemente do on-grid, trata-se de um


sistema também conhecido como autônomo, pois não está conectado a rede de
transmissão. Para tanto, o mesmo faz uso de baterias as quais são responsáveis por
armazenar energia elétrica. O sistema off-grid é uma alternativa interessante
especialmente para comunidades localizadas em regiões remotas e isoladas, onde
geralmente se utilizam óleo diesel em geradores. Entre as desvantagens de se utilizar
o óleo diesel estão a questão ambiental devido a poluição causada pela queima do

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combustível e as variações de preço do mesmo (QOAIDER; STEINBRECHT, 2010). Na


Figura 2 está apresentado a configuração de um sistema off-grid.

Figura 4: Esquema de um sistema fotovoltáico off-grid (Neo Solar, 2018).

1.3 Tipos de placas solares


Atualmente existem diferentes tipos de tecnologias relacionadas à construção
das placas fotovoltaicas. As mais difundidas no mercado são as compostas por silício,
tanto monocristalino quanto policristalino (PARIDA; INIYAN; GOIC, 2011). De modo
geral, a diferença entre os dois tipos de placas constituídas de silício é que no
monocristalino existe uma estrutura homogênea ao longo de toda placa, enquanto
que o mesmo não ocorre nas de silício policristalino. Tal diferença, faz com que as
placas de silício monocristalino sejam mais caras em relação às de silício
policristalino (BRASIL, 2012).
Outro tipo de tecnologia existente, é a de filme fino. Geralmente, são utilizados
materiais como silício amorfo, telureto de cádmio ou disseleneto de cobre índio gálio.
Esse tipo de tecnologia apresenta menor custo de produção em relação as placas
feitas de silício mono ou policristalino, pois utiliza-se materiais de baixo custo nos
diferentes substratos (BRASIL, 2012).
Apesar da existência da tecnologia de filme fino, o mercado de placas
fotovoltaicas ainda é composto em quase sua totalidade, por placas mono e
policristalinas. O principal motivo para esse fato é que as placas solares de filme fino
ainda não são comercializadas devido à baixa eficiência que possuem. Dentre as
placas cristalinas, as policristalinas são as que possuem maior participação no
mercado (HOSENUZZAMAN, M. et al., 2015).

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No quesito de durabilidade, as placas solares, de modo geral, possuem um


tempo de vida útil em torno de 25 anos. Durante esse período as placas solares em si
praticamente não necessitam de manutenção. A durabilidade de 25 anos é baseada no
fato de que durante esse tempo as placas solares mantenham de 80% a 90% da
eficiência obtida no início das suas vidas úteis (JÄGER, K.D. et al., 2014).
Há vários motivos que provocam tal redução na eficiências, como por exemplo
as mudanças de temperaturas durante o dia e noite ou entre diferentes estações,
estresse mecânico causado pelo vento e neve e danos causados por materiais
particulados como poeira, areia e outros agentes. Além disso, a humidade
proveniente da chuva ou mesmo do ar atmosférico podem afetar, de modo negativo,
as placas solares. Outro fator que prejudica as placas solares com o passar dos anos é
a irradiância solar. Os raios UV com o passar dos anos danifica muitos materiais e
consequentemente reduzindo a eficiência das placas (JÄGER, K.D. et al., 2014).

1.4 Qual o custo médio de aquisição de um sistema fotovoltáico?


O custo de aquisição de um módulo fotovoltáico varia de acordo com a demanda
de energia de um determinado estabelecimento ou residência. O consumo de energia
elétrica em uma residência varia, de modo geral, conforme a quantidade de pessoas e
o tamanho do imóvel. Considerando-se uma residência pequena, que acomode duas
pessoas, um sistema fotovoltáico indicado é de 1,32 kWp (quilo-watt pico). Já para
uma casa de porte médio, na qual residam quatro pessoas, indica-se um sistema de
2,64 kWp. No entanto, para uma casa grande, onde habitam cinco pessoas,
recomenda-se um sistema fotovoltáico de 6,6 kWp. No caso de uma mansão, na qual
residam mais de cinco pessoas, são indicados sistemas de até 10,56 kWp. Vale
destacar que tais valores de potência dos sistemas fotovoltáicos, são baseados em
médias, portanto, podem variar (PORTAL SOLAR, 2018).
De acordo com a Figura 3, percebe-se que o investimento inicial feito para a
aquisição de um sistema fotovoltaico pode variar consideravelmente tendo em vista a
demanda de energia elétrica de uma residência.

1.5 Formas seguras de investimento para o brasileiro


Neste artigo abordar-se-á formas de investimentos para um perfil de investidor
que não deseja correr risco. O intuito de utilizar tais investimentos para serem

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comparados com placas solares é que esse tipo de equipamento oferece, também,
poucos riscos ao consumidor no quesito de perda de investimento, haja vista a
durabilidade do equipamento informada anteriormente.

Figure 3: Preços médios residenciais por potência de gerador Solar (PORTAL SOLAR,
2018).

Atualmente, no Brasil, os investimentos mais seguros são: Tesouro Direto,


Poupança, Letras de Câmbio (LC), Letras Hipotecárias (LH), Letras de Crédito
Imobiliário (LCI) e Certificado de Depósito Bancário (CDB). O motivo desses
investimentos serem considerados seguros é pelo fato de existir uma instituição que
garante o pagamento do retorno do investimento. No caso do Tesouro Direto o
governo federal é o responsável por garantir o pagamento (TESOURO DIRETO, 2018).
Quanto aos demais investimentos citados anteriormente, a instituição
responsável por garantir o pagamento é o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Vale
ressaltar que no caso do FGC há condições para a garantia do pagamento, entre elas é
o reembolso de até R$250.000,00 do saldo limite existente, por CPF, por instituição
(TESOURO DIRETO, 2018).
O FGC é uma instituição sem fins lucrativos que foi criada em 1995 com o intuito
de fornecer estabilidade para o setor financeiro brasileiro. A função dessa instituição
é admistrar mecanismos que protegem os titulares de créditos em instituições
financeiras, ou seja, atua como um pagador de dívidas. Além disso, o FGC objetiva-se a
manter o funcionamento de maneira eficaz e harmônica do sistema bancário e
financeiro no Brasil (FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITOS, 2018).
Um ponto importante de se considerar em relação aos investimentos,
principalmente para um perfil seguro de investidor é a liquidez. A liquidez pode ser

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definida como o quão rápido é possível se desfazer um determinado investimento


para obter o dinheiro em conta (COMO INVESTIR, 2018). Dentre as possibilidade de
investimento citadas, as que possuem maior liquidez são o Tesouro Direto, CDB
(Certificado de Depósito Bancário) e poupança (MIDORI, 2017).
Quanto a rentabilidade mensal, na Tabela 3 a seguir estão presentes os
rendimentos de cada um dos investimentos com liquidez diária ou com possibilidade
de resgate no dia seguinte após a venda do título.

Tabela 6: Rendimento mensal de rendimentos com elevada liquidez em 2018


(Tesouro Direto, 2018; Toro Radar, 2018).

Investimento Rendimento mensal (%)


Poupança nova 0,3715
CBD 0,53
Tesouro Direto 0,4091

2 ESTUDO DE CASO
No estudo de caso proposto neste presente artigo, ter-se-á o objetivo de
verificar qual alternativa é mais interessante para uma família de quatro pessoas
residentes na cidade de Machado, localizada no sul de Minas Gerais, fazer o
investimento de uma determinada quantia de dinheiro em um sistema fotovoltáico
on-grid ou aplicar a mesma quantia em um tipo de investimento considerado de baixo
risco.
A potência do sistema fotovoltáico será considerada de 2,64 kWp, pois como
informado anteriormente, essa é a potência mais indicada, considerando o consumo
médio de uma família de quatro pessoas. Além disso, o custo de tal equipamento será
considerado de R$17.570,00, como sendo o preço médio para o sistema com essa
determinada potência.
Sobre os gastos da residência, considerou-se que são gastos em média 240
kWh/mês. No que diz respeito a conta de energia elétrica considerou-se a tarifa no
valor de bandeira amarela, como sendo um valor médio entre a bandeira verde (mais
barata) e a bandeira vermelha (mais cara). O valor para a bandeira amarela, já
considerando impostos, é de R$ 0,97388 e mais o adicional de bandeira amarela de

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R$1,50 a cada 100 kWh consumido. Além disso, considerou-se o valor de R$18,02 de
iluminação pública.
Outro ponto interessante a ser destacado é que mesmo com a instalação do
sistema fotovoltáico on grid a conta de energia elétrica não será igual a zero. O motivo
para isso é que de acordo com o artigo 98 da resolução 414 da ANEEL as companhias
de fornecimento de energia elétrica estão autorizadas a cobrar o custo de
dispobilidade. Esse custo é referente ao caso de uma determinada residência
necessitar de energia elétrica em situações que as placas solares não gerarem
eletricidade. Nesse estudo de caso considerou o custo de disponilidade referente a
50kWh. Outro fator que faz com que a energia elétrica não seja igual a zero é a
cobrança da iluminação pública. (BRASIL, 2010).
Para a execução dos cálculos de VPL e TIR considerou-se que a quantidade de
anos (n) igual a 25 anos, pois se tratar da vida útil das placas solares, conforme
informado anteriormente. O valor das receitas por período foi considerado como
sendo o mesmo, conforme apresentado na Equação 3.

12 (240 0,97388 1,5 18,02) (3)

Portanto, tem-se que o valor de Rj é igual a R$ 3057,01. No entanto, como a


cobrança do custo de disponibilidade será feita e a iluminação pública continuará
sendo cobrada, é preciso fazer a correção de Rj, para saber-se a economia real.

( ) (50 x R 0,97388) R 18,02 x 12 meses (4)

Como resultado da Equação 4 tem-se que o Rj (corrigido) é de R$ 2.256,45. Na


Tabela 4 estão os valores utilizados para o cálculo da economia real por ano que se
tem com a utilização de placas solares.
A taxa de juros utilizada para o cálculo do Valor Presente Líquido foi igual a
6,5% ao ano, como sendo o rendimento do CDB, de acordo com os valores
apresentados na Tabela 4. A escolha do CDB deve-se ao fato de ser o investimento de
renda fixa com o maior rendimento anual e maior liquidez. O valor Cj foi igual a
R$17.570,00, pois conforme mostrado na Figura 3, este é o valor do sistema
fotovoltáico indicado para essa residência.

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Tabela 7: Valores utilizados para o cálculo da economia real.

Tipo Valores
Investimento inicial (R$) 17,570.00
Gasto mensal (kWh) 240.00
Bandeira amarela (R$) 0.97388
Adicional bandeira amarela (R$) a cada 100kWh 1.50
Iluminação pública (R$) 18.02
Gasto mensal (R$) 254.75
Gasto annual (R$) 3,057.01
Custo de disponibilidade (50 kWh) em 12 meses 584.33
Iluminação pública (R$) em 12 meses 216.24
Economia real (R$) 2,256.45

Após a execução dos cálculos da TIR e VPL obteve-se como resultado o VPL igual
a R$ 9.346,38 enquanto que a taxa interna de retorno foi igual a 12,105%. Esses
valores representam que a aquisição de placas solares é um investimento mais
interessante que a aplicacação da mesma quantia no CDB. Sobre a TIR, é interessante
notar que para um investimento ser mais rentável que a aquisição das placas solares,
seria preciso que gerasse um rendimento maior que 12,105% ao ano. Em relação ao
tempo de retorno do investimento, identificou-se que o brasileiro que optar pela
aquisição da compra de placas solares, na situação proposta, terá retorno do seu
investimento em 11 e 3 meses.
Outro ponto interessante de se notar é que nesse presente trabalho não
considerou-se variações no custo da energia elétrica. Tal fato reforça ainda mais o
quão viável é a compra de placas solares, pois como informado na revisão
bibliográfica, há mais obras de termelétricas em andamento as quais possuem custo
de energia elétrica mais caro. Como consequência, pode-se ter o encarecimento da
energia elétrica para o brasileiro. Além disso, é importante destacar que há a inflação
nesse período, fazendo com que o custo do kWh aumente.
Por outro lado, o custo para aquisição de placas solares tem reduzido ao longo
dos anos devido a fatores como a redução no preço da matéria-prima utilizada,
aumento do número de fabricantes chineses, inovações tecnológicas e maiores
investimentos feitos na indústria fotovoltaica (PILLAI, 2015). Como resultado do
menor preço das placas no mercado tem-se a maior viabilidade para o consumidor.

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CONCLUSÕES

Em suma, tem-se que o investimento em placas solares é uma opção


interessante para os brasileiros que desejam obter economia nas contas relativas à
residência. A opção de placas solares mostra como uma forma de investimento seguro
tendo em vista a durabilidade e pouca manutenção necessária e mais rentável quando
comparada a outras aplicações financeiras como o CDB.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao apoio da UNIFAL-MG e UNICAMP.

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CAPÍTULO 8
CERÂMICAS BIFÁSICAS DE
FOSFATOS DE CÁLCIO: UM
MAPEAMENTO CIENTÍFICO
José Rosa de Souza Farias1
Ycaro Breno Alves de Almeida2
Genivaldo Melo da Rocha3
Valdeci Bosco dos Santos4
Aluska do Nascimento Simões Braga5

1
Graduando em Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina,
Pi, email: josefarias2100@gmail.com , ID Lattes: 9404467330103347.
2
Graduando em Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina,
Pi, email: ycarobreno26@gmail.com , ID Lattes: 4070307554924095.
3
Graduando em Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina,
Pi, email: genivaldo.eng1@ufpi.edu.br , ID Lattes: 4165901488191140.
4
Professora do Departamento de Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Piauí
(UFPI), Teresina, Pi, email: valdecisantos@ufpi.edu.br , ID Lattes: 0011700686113389.
5
Professora do Departamento de Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Piauí
(UFPI), Teresina, Pi, email: aluskasimoes@hotmail.com, ID Lattes: 2429557575387821.

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Cerâmicas Bifásicas de Fosfatos de Cálcio: Um mapeamento científico


RESUMO
A procura por novos materiais com o intuito de satisfazer as necessidades exigidas
em implantes, próteses e até mesmo em cirurgias reconstrutivas fez dos biomateriais
uma classe amplamente estudada e desenvolvida. Dentre os biomateriais, as
cerâmicas bifásicas de fosfatos de cálcio (cerâmicas BCP) compostas pela junção de
Hidroxiapatita (Hap) e beta fosfato tricálcico (β-TCP) recebem lugar de destaque
frente às demais, em virtude de suas excelentes propriedades de osteocondutividade,
biodegradabilidade e não toxicidade. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo
apresentar os dados coletados dos últimos seis anos sobre as cerâmicas bifásicas de
HAp e β -TCP elucidando os dados quanto a quantidade de artigos, países envolvidos
nas publicações, tipo e método de síntese e aplicações, com o intuito de demonstrar a
importância dessa biocerâmica de fosfato de cálcio.
Palavras-chave: Biocerâmicas. Fosfatos de Cálcio. Biomateriais. Pesquisa. Revisão.

Biphasic Calcium Phosphate Ceramics: A Scientific Mapping


ABSTRACT
The search for new materials in order to meet the needs required in implants,
prostheses and even in reconstructive surgery has made biomaterials a class that has
been widely studied and developed. Among the biomaterials, biphasic calcium
phosphate ceramics (BCP ceramics) composed of the junction of Hydroxyapatite
(Hap) and beta tricalcium phosphate (β-TCP) receive a prominent place compared to
the others, due to their excellent osteoconductivity and biodegradability properties
and not toxicity. In this sense, this work aims to present the data collected over the
last six years on biphasic ceramics of HAp and β -TCP, elucidating the data regarding
the number of articles, countries involved in the publications, type and method of
synthesis and applications, with the to demonstrate the importance of this calcium
phosphate bioceramic.
Key-words: Bioceramics. Calcium Phosphates. Biomaterials. Research. Revision.

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de biomateriais constitui uma área de investigação onde a


colaboração entre a biologia, a bioquímica, a química, a medicina, a farmácia e as
engenharias se revela fundamental à necessidade de se obter um material artificial
que possa ser usado em diversas aplicações, tais como enxertos ósseos, implantes, e
no processo de regeneração óssea, de maneira segura e satisfatória sem riscos ao
paciente (Duarte, 2009; Albuquerque, 2004; Dick, 2016; Bose et al.,2012).
Biomaterial pode ser definido como qualquer material, natural ou artificial, que
compreende o todo ou uma parte de uma estrutura viva ou um dispositivo biomédico
que executa, acrescenta ou substitui uma função natural (Chim e Gosain, 2009).
Dentre os biomateriais, as biocerâmicas também chamadas de cerâmicas de alta
tecnologia ou cerâmicas avançadas são definidas como sólidos inorgânicos podendo
ser constituídas por fases cristalinas ou amorfas, podendo ser, quimicamente inertes
ou não (Gilapa, 2001). A aplicação das biocerâmicas se deve especialmente à sua
bioatividade, apresentando uma capacidade de se aderir, como exemplo, ao tecido
ósseo circundante ou ainda como substituto a fragmentos danificados do corpo
humano. Apesar dos variados tipos de biocerâmicas existentes, poucas são as que
atualmente são utilizadas na clínica, pois para aplicações biológicas, devem ser
inertes, biodegradáveis e bioativas. Os materiais inertes são biocompatíveis,
causando respostas mínimas nos tecidos; os biodegradáveis são incorporados aos
tecidos vizinhos, podendo ser degradados com o tempo e os bioativos estimulam o
crescimento ósseo (Farias et al., 2020; Ramakrishnan et al., 2013; Azevedo, 2008).
Dentre as cerâmicas de fosfatos de cálcio, a hidroxiapatita (HAp) e o beta fosfato
tricálcico (β-TCP) são os fosfatos de cálcio mais estudados e utilizados para
finalidades clínicas, uma vez que a HAp é o constituinte principal da fase mineral dos
tecidos calcificados, representando de 30 a 70% da massa óssea e dentária (Freire,
2013; Zavaglia, 2011) e o β-TCP apresenta altas taxas de reabsorbilidade, sendo
rapidamente absorvido pelo corpo humano (Cruz, 2008).
As cerâmicas bifásicas de fosfatos de cálcio (BCP, biphasic calcium phosphates),
compreendem uma mistura de diferentes concentrações de HAp e β-TCP com o
intuito de aperfeiçoar o controle de dissolução de íons Ca+ e P- nos processos
biológicos de neoformação óssea (Bouler, 2017), uma vez que a concentração ideal de
HAp pode promover a proliferação e diferenciação celular, e uma concentração ideal

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de β-TCP pode controlar a absorção levando a um reparo ósseo eficaz (Fardjahromi,


2021).
Diante disto, o objetivo deste trabalho consiste em apresentar os dados
coletados nos últimos seis anos sobre as cerâmicas bifásicas de HAp e β -TCP,
apresentando a quantidade de artigos publicados, os países envolvidos nas
publicações, as principais aplicações, os métodos de síntese utilizados, a quantidade
de dopagens e compósitos formados bem como a quantidade de publicações que
sintetizaram as cerâmicas bifásicas puras, visando explorar a literatura acerca das
pesquisas desenvolvidas até agora com essa importante biocerâmica.

MATERIAL E MÉTODOS
O levantamento bibliográfico e coleta de dados foi realizado por meio da busca
eletrônica na base de dados Science Direct. Os critérios de inclusão definidos foram:
artigos de pesquisa publicados nos últimos 6 anos, isto é, de 2016 até os 3 primeiros
meses do ano de 2021. Terminada a etapa de levantamento bibliográfico, os dados
foram organizados e as informações agrupadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Obteve-se um total de 64 trabalhos publicados ao realizar-se as buscas.


Percebeu-se que o número de publicações anual vêm aumentando, onde 2020 foi o
ano com o maior número de artigos representando 39% do total de publicações, o
que enfatiza a importância e o crescente interesse dessa biocerâmica para a
comunidade científica. A Figura 1 é um gráfico que apresenta a quantidade de
publicações por ano, dos últimos 6 anos.
Analisando a maneira pela qual foram produzidas as cerâmicas BCP, isto é,
puras, dopadas com íons ou junto com outros materiais formando compósitos,
concluiu-se que as cerâmicas BCP sintetizadas de forma pura concentra a maior parte
das pesquisas, correspondendo a 40,62% das sínteses, seguida da formação de
materiais compósitos com 39,07% e da dopagem com íons com 20,31% dos
trabalhos. A Figura 3 é um gráfico que apresenta essa relação.

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Figura 1: Número de artigos por ano.

Figura 2: Quantidade de publicações por país.

Com referência aos países com publicações nos últimos seis anos obteve-se um
total de 25 países distintos, onde a China com 19 artigos é o país que mais publicou
nos últimos três anos, seguido da Malásia e do Irã, com 8 e 7 artigos respectivamente.
A Figura 2 é um gráfico que apresenta de maneira simplificada os principais países
com as respectivas quantidades de publicações.

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Figura 3: Avaliação da fase BCP.

Ananth et al. (2020) investigaram as vantagens do uso de compósitos a base de


cerâmicas bifásicas de fosfato de cálcio (BCP), polivinilpirrolidona (PVp) e óxido de
grafeno (GO), com o intuito de estimular a diferenciação celular bem como melhorar
a resistência à compressão de scaffolds. O estudo chegou à conclusão que o aumento
da proporção de óxido de grafeno aumenta a resistência à compressão do compósito,
as propriedades mecânicas podem ser melhoradas por meio da dispersão dos
conteúdos de GO e às fortes interações interfaciais entre o GO e a matriz BCp-PVp, as
propriedades térmicas também podem ser melhoradas por meio de uma interação
sanduíche entre a estrutura conjugada através da interação de empilhamento π-π,
onde o crescimento celular, a proliferação e a diferenciação da superfície dos
scaffolds aumentaram significativamente nos experimentos em cultura de células,
concluindo-se que este compósito pode ser um candidato promissor como implante
na regeneração óssea para a aplicação na engenharia tecidual.

Draenert et al. (2020) propuseram a manutenção da formação óssea visando


aumento ósseo a partir de implantes compostos por cerâmicas bifásicas de fosfatos
de cálcio constituídas por hidroxiapatita e beta fosfato tricálcico. Os resultados da
pesquisa concluíram que houve uma rápida formação óssea seguida da

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osseointegração completa do implante, confirmando o avanço na formação óssea o


que irá permitir a redução do tempo de colocação de um implante dentário.

Aplicações

Dentre os 64 trabalhos analisados nos últimos 6 anos, 45 trabalhos estudaram


as propriedades das cerâmicas BCP no intuito do desenvolvimento de biomateriais, o
que corresponde a 70% do total de publicações. Dentre estes, 37,80% são aplicações
em scaffolds (Wang et al., 2021) 17,80% em enxertos ósseos (Fakhraei et al., 2017) ,
33,40% em reparos ósseos, (Xu et al., 2020) e os 11% restantes em diversas outras
aplicações tais como biomarcadores, direcionadores de fármacos e implantes (Silva et
al.,2016; Tavakkoli-Gilavan et al., 2018).

Xu et al. (2020) projetaram um oligossacarídeo de quitosana modificado com


ácido siálico (SA) à base de fosfato de cálcio bifásico (nanobastões biomiméticos),
visando formação óssea sinérgica em terapias contra artrite reumatóide. O estudo
relatou que a modificação permite que mais osteoblastos se fixem e realizem o
processo de proliferação e diferenciação celular. Desse modo concluiu-se que tais
melhorias contribuíram para a resposta inflamatória leve e a redução da destruição
na cartilagem / osso, fornecendo uma nova estratégia para terapia de artrite
reumatóide via dimensão em escala nanométrica, imitando os tecidos ósseos.

Rustom et al. (2016) avaliaram a capilaridade induzida por microporos na


regeneração óssea in vivo através da quantificação da distribuição de implantes de
scaffolds de cerâmicas BCP implantadas em mandíbulas de suínos por um período de
três semanas. Os resultados mostraram que a distribuição óssea foi mais homogênea
nos scaffolds com capilaridade induzida por microporos ativos (MP-Dry) do que em
scaffolds com a capilaridade dos microporos suprimida (MP-Wet), embora não tenha
sido observada diferença significativa nas frações médias de volume ósseo para os
dois grupos analisados. Dessa maneira o estudo concluiu claramente que a
capilaridade melhora a capacidade de distribuição óssea em macroporos de scaffolds.

Constatou-se que 30% do total de artigos analisados o que corresponde a 19


publicações, tinham como objetivo o estudo das propriedades das cerâmicas BCP, tais
como propriedades mecânicas (Fakhry et al., 2016) e propriedades térmicas
(Albayrak et al., 2016).

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Albayrak. (2016) estudou a influência da dopagem do boro em cerâmicas BCP,


avaliando os efeitos dos diferentes teores de boro e as diferentes temperaturas de
sinterização na sinterabilidade dos produtos. Após a análise dos resultados o estudo
concluiu que à medida que o conteúdo de boro usado no estágio de precipitação
aumenta, o conteúdo de β-TCP da razão Boro HAp/β-TCP aumenta, mas a
sinterabilidade, a densidade e a microdureza se deterioram. Todavia, à medida que a
temperatura de sinterização aumenta, o conteúdo de βTCP, a densidade e a
microdureza das amostras aumentam e a sinterabilidade melhora.

Fakhraei et al. (2016) sintetizaram um compósito utilizando cerâmicas bifásicas


de hidroxiapatita e beta fosfato tricálcico como fase matriz e nanopartículas de
zircônia estabilizada com ítria como agente de reforço, com o objetivo de melhorar as
propriedades mecânicas do BCP. Os resultados mostraram que o valor máximo de
tenacidade à fratura de 2,11 Mpa é o dobro do valor da tenacidade do BCP puro,
concluindo que a combinação descrita melhora as propriedades mecânicas,
especialmente em termos de fratura e dureza.

Métodos de síntese

O principal método de síntese utilizado para produção das cerâmicas bifásicas


de fosfatos de cálcio foi o método de precipitação química (Macintosh et al., 2021;
Goldberg et al., 2020), embora diversos outros métodos tenham sido utilizados, tais
como o método hidrotermal assistido por micro-ondas (Cui et al., 2020), método da
réplica da esponja polimérica (Khallok et al., 2020), pelo processo freeze-casting (He
et al., 2016) e pelo processo de calcinação de carbonatos de cálcio de fontes naturais
como cascas de ovos de galinha, ossos bovinos e espinhas de peixe (Zhu et al., 2017).

Chamada de precipitação em via úmida, química ou aquosa o método de


precipitação química é o processo pelo qual uma substância solúvel é convertida para
uma forma insolúvel ou por reação química ou por mudanças na composição do
solvente para diminuir a solubilidade da substância nela contida apresentando a
vantagem da facilidade no controle dos parâmetros do processo, obtenção de pós com
partículas finas, elevada área superficial específica, homogeneidade química e uso de
reagentes de baixo custo permitindo a obtenção de cerâmicas densas em

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temperaturas de sinterização inferiores às temperaturas necessárias para pós obtidos


por outros métodos (Liang, 1997., Yamagata, 2004).

Zhu et al. (2017) analisaram a biocompatibilidade de cerâmicas bifásicas de


fosfato de cálcio produzidas a partir das espinhas de três espécies diferentes de peixe
(Salmo salar, Anoplopoma fimbria e Sardinha). Os resultados concluíram que o
material não apresentou citotoxicidade óbvia, a cerâmica bifásica resultante contém
grande quantidade de β-TCP retendo a hidroxiapatita carbonatada onde o grão BCP
produzido teve tamanho uniforme, alto grau de cristalinidade e estrutura nano-
mesoporoso natural uniformemente distribuída. Com base no estudo acredita-se que
as três espécies de peixes têm potencial para serem preparados como matéria-prima
para scaffolds ósseos biocerâmicos porosos, que terão boas perspectivas de aplicação
como biomateriais.

Khallok et al. (2020) sintetizaram espumas bifásicas de hidroxiapatita / β-


fosfato tricálcico utilizando a técnica de replicação partindo de uma pasta coloidal de
hidroxiapatita estequiométrica precipitada (HAP) e glicerofosfato de sódio (GP)
usando baixas temperaturas de sinterização, onde foram investigados o efeito do
tempo de moagem, o carregamento de sólidos, a quantidade de dispersante e os
processos de corrosão, replicação e sinterização. Os resultados concluíram que o pré-
tratamento alcalino do molde aumentou a aspereza e a hidrofilia da superfície do
molde tornando o revestimento mais fácil e melhorando a adesão entre as camadas
revestidas. O uso de glicerofosfato de sódio melhorou a estrutura mecânica das
espumas cerâmicas sinterizadas a uma temperatura de 1000°C, que é
significativamente menor do que a temperatura normalmente usada, ou seja, 1200° C.
A reação entre GP e HAP durante o processo de sinterização leva a decomposição de
HAP e a formação do Na-β-fosfato tricálcico como uma segunda fase que pode
melhorar tanto a mecânica quanto a compatibilidade biológica das espumas obtidas.

CONCLUSÕES
Após a análise dos 64 artigos indexados na base de dados ScienceDirect
concluiu-se que há a contribuição de 25 países nas publicações onde a china com 19
publicações é a maior contribuinte, a maior parte das aplicações é voltada para o
campo dos biomateriais, principalmente na produção e desenvolvimento de scaffolds.

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O principal método de síntese é o método de precipitação química, onde há a


presença de 13 publicações envolvendo dopagens com íons metálicos, 25 publicações
envolvendo a formação de compósitos e 26 publicações que sintetizaram as
cerâmicas bifásicas de forma pura. Dessa forma, esse estudo confirma a importância
das cerâmicas BCP para a humanidade e o motivo pelas quais estas são amplamente
estudadas pelos pesquisadores.

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CAPÍTULO 9
NANOCELULOSE PRODUZIDA
POR BACTÉRIAS DO GÊNERO
GLUCONACETOBACTER A
PARTIR DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS PARA
APLICAÇÃO NAS ÁREAS
ALIMENTÍCIA E BIOMÉDICA

Kátia dos Santos Morais1


Iule Biank Pairana2
Patrícia Lopes Leal3
Elizama Aguiar-Oliveira4

1
Doutoranda em Biologia e Biotecnologia de Microrganismos (PPGBBM), Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA, katia-kaki@hotmail.com,
https://orcid.org/0000-0001-8466-360X.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC),
Ilhéus, BA, iule.biank@hotmail.com, http://lattes.cnpq.br/2430851235518331.
3
Professora Doutora, Instituto Multidisciplinar em Saúde, Campus Anísio Teixeira (IMS-
CAT), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vitória da Conquista, BA,
lealpat@yahoo.com.br, http://lattes.cnpq.br/9819699799135050.
4
Professora Doutora, Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas (DCET),
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA, eaoliveira@uesc.br,
https://orcid.org/0000-0001-7700-6724.

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NANOCELULOSE PRODUZIDA POR BACTÉRIAS DO GÊNERO


Gluconacetobacter A PARTIR DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS PARA
APLICAÇÃO NAS ÁREAS ALIMENTÍCIA E BIOMÉDICA

RESUMO
A nanocelulose bacteriana (NCB) é um biopolímero muito versátil. Neste trabalho, foi
realizada uma revisão bibliográfica de artigos publicados entre 2015 e 2021 sobre a
produção de NCB por bactérias do gênero Gluconacetobacter cultivadas em meios
contendo resíduos agroindustriais (RAI) como fontes alternativas de carbono.
Buscou-se também avaliar a aplicação da NCB nas áreas alimentícia e biomédica
devido ao grande potencial deste biopolímero que se caracteriza como um material
com propriedades diferenciadas em comparação com a celulose obtida de fontes
vegetais. Assim, a obtenção de NCB a partir de RAI tem grande relevância
biotecnológica e deve ser estimulada.
Palavras Chaves: Biocelulose; Komagataeibacter; Biomassa lignocelulósica.

NANOCELLULOSE PRODUCED BY BACTERIA OF THE GENUS


Gluconacetobacter FROM AGROINDUSTRIAL WASTE FOR APPLICATION IN
FOOD AND BIOMEDICAL AREAS

ABSTRACT
Bacterial nanocellulose (BNC) is a very versatile biopolymer. In this work, it was
carried out a literature review of articles published between 2015 and 2021 on the
production of BNC by bacteria of the genus Gluconacetobacter cultivated in media
containing agro-industrial residues (AIR) as alternative carbon sources. It was also
evaluate the application of NCB in food and biomedical areas due to the great
potential of this biopolymer, which is characterized as a material of differentiated
properties when compared to cellulose obtained from vegetable sources. Thus,
obtaining NCB from AIR has great biotechnological relevance and should be
encouraged.
Key-words: Biocellulose; Komagataeibacter; Lignocellulosic biomass.

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INTRODUÇÃO

A nanocelulose bacteriana (NCB), ou biocelulose, é um biopolímero que tem


recebido bastante atenção nos últimos anos devido, não apenas a sua forma de
obtenção (cultivo microbiano), mas também à suas características diferenciadas em
relação à celulose vegetal (Jacek et al., 2019; Soleimani et al., 2021). Essas
propriedades permitem a obtenção de biofilmes que podem ser utilizados em
diferentes áreas. A NCB é sintetizada por diferentes bactérias, em especial as do
gênero Gluconoacetobacter que tem sido cultivada em meios com composição
variada, mas, em sua maioria, sintéticos (Souza et al., 2020).

Assim, tendo em vista a proposta de emprego de resíduos agroindustrais (RAI)


como fonte alternativa de carbono para produção de NCB, esta Revisão Bibliográfica
se propôs a analisar artigos científicos publicados entre 2015 e 2021 obtidos em
bases de dado científica (Scielo, Science Direct e Google Acadêmico) que
relacionassem a produção por bactérias do gênero Gluconoacetobacter
(recentemente renomeadas para Komagataeibacter) no emprego da NCB obtida para
aplicação nas áreas de alimentos e biomedicina. Com os dados obtidos deste trabalho
é possível sintetizar o conhecimento divulgado sobre a temática específica definida
acima e assim adquirir conhecimentos importantes que possibilitem a produção de
NCB empregando RAI locais.

O uso de RAI deve ser investigado e proposto para bioprocessos, pois além de
contribuir para a valorização destes compostos ricos em celulose e hemicelulose é
possível obter bioprodutos de reduzido impacto ecológico com valorosas
características tecnológicas (Li et al., 2015) além de estimular o desenvolvimento dos
bioprocessos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Biopolímeros e nanocelulose

A vida moderna exigiu a criação de compostos e produtos que pudessem


atender às crescentes demandas relacionadas ao cotidiano. Os polímeros, por
exemplo, estão presentes na vida da grande maioria das pessoas e podem ser
classificados em sintéticos ou naturais (De Assis; Dos Santos, 2020). Um dos

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polímeros sintéticos mais conhecidos é o plástico, produzido a partir de derivados do


petróleo e têm sido alvo de fortes críticas devido ao seu impacto ecológico
(Devasahayam et al., 2019). Já os polímeros naturais, também chamados de
biopolímeros (De Assis; Dos Santos, 2020; Filho; Sanfelice, 2018), também
apresentam versatilidade de aplicação assim como os polímeros sintéticos, porém
com um apelo ecológico muito mais favorável, por exemplo, devido a sua fonte de
origem.
Um biopolímero bastante conhecido é a celulose, o material polimérico mais
difundido no planeta (Luzi et al., 2019) e que pode ser produzido tanto por plantas
(celulose vegetal) quanto por microrganismos (celulose bacteriana). A celulose
apresenta muitas vantagens em comparação com os plásticos, especialmente o fato de
ser atóxica e biodegradável (De Amorim et al., 2020; Filho; Sanfelice, 2018; Xue; Mou;
Xiao, 2017). Uma das fontes mais abundantes de celulose são os materiais
lignocelulósicos que correspondem a 60 % da biomassa do planeta, sendo compostos
por 30 – 50 % de celulose, 15 – 35 % de hemicelulose e 10 – 30 % de lignina (Pereira
et al., 2021; Xu et al., 2018); estes materiais são um recurso valioso e sustentável.
Apesar de todas as vantagens e características apresentadas pela celulose vegetal,
uma das maiores dificuldades associadas ao seu emprego é a necessidade do uso de
diferentes produtos químicos para a purificação das microfibrilas de celulose (De
Amorim et al., 2020; Nechyporchuk; Belgacem; Bras, 2016). A utilização desses
agentes químicos torna o processamento da celulose vegetal uma prática de forte
impacto ecológico (Stanisławska, 2017). Mesmo assim, o uso dessas microfibrilas é
extremamente importante para diversas funções industriais e do cotidiano.
As MFCs (microfibrilas de celulose) podem ser obtidas por diferentes processos
e caracterizadas de acordo com seu tamanho, chegando a escalas nanomérica,
chamadas de nanocelulose (NC), que por sua vez podem ser divididas em três tipos:
celulose nanofibrilada ou microfibrilada (NCF), nanocristais de celulose (NCC) e
nanocelulose bacteriana (NCB) (Klemm et al., 2018; Luzi et al., 2019; Sharma et al.,
2018). A Tabela 1 apresenta algumas propriedades destes três tipos de NC sendo que
a NCF pode ser obtida por processos de homogeneização mecânica em alta pressão
(Stanisławska, 2017) e a NCC por hidrólise ácida ou alcalina (Thomas et al., 2020).
Já a NCB, considerada como o “material do futuro” é produzida
biotecnologicamente por bactérias (Klemm et al., 2018; Thomas et al., 2020) e se

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caracteriza como um composto de alto interesse tecnológico devido às algumas


propriedades diferenciadas que serão mencionadas a seguir (Heise et al., 2020).

Tabela 1. Comparação entre a morfologia, fonte e aplicação dos diferentes tipos de


nanocelulose.

Tipo de Tamanho das fibras


Fonte Aplicações
nanocelulose (nm)
Produção de biofilmes,
Bactérias, embalagens, máscaras
Nanocelulose
principalmente as faciais, curativos,
bacteriana 20 – 100
do gênero implantes médicos;
(BNC)
Gluconacetobacter embalagens, liberação de
drogas
Celulose Preparo de aerogéis;
Madeira e
nanofibrilada 5 – 60 reforço em compostos e
tubérculos
(CNF) filmes
Celulose Madeira, algodão, Produção de matrizes
nanocristalina 5–7 celulose de algas e biodegradáveis e blends
(CNC) bactérias. poliméricos
Fontes utilizadas na elaboração: Klemm et al. (2018); Luzi et al. (2019); Nagmetova et al. (2020);
Sharma et al. (2018).

Nanocelulose bacteriana (NCB): propriedades e aplicações


A NCB, sintetizada principalmente por bactérias do gênero Gluconacetobacter,
é um exopolissacarídeo linear formado por monômeros de β-D-glucopiranose unidos
por ligações β-1,4-glicosídicas que dão origem a um material nanofibrilar (Jacek et al.,
2019). Embora a NCB seja quimicamente semelhante à celulose vegetal ela apresenta
algumas características físico-químicas diferenciadas, o que a torna um nanomaterial
promissor (Dhar et al., 2019; Jacek et al., 2019; Soleimani et al., 2021). A NCB é capaz,
por exemplo, de apresentar alta capacidade de absorção de água, alta resistência a
impactos, forte coesão, capacidade para modificações químicas (Jacek et al., 2019,
2021; Soleimani et al., 2021) e tantas outras propriedades diferentes em comparação
com a NC de origem vegetal. Assim sendo, é inegável o valor tecnológico da NCB
sendo que neste trabalho será dada mais atenção para as áreas de alimentos e
biomédica.
A utilização da NCB na indústria de alimentos pode acontecer, por ser atóxica,
como ingrediente de diferentes produtos atuando, por exemplo, como espessante,

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emulsificante e fibra dietética (Lin et al., 2020) ou ainda na imobilização de enzimas


de uso alimentício (Chen; Zou; Hong, 2015). Mas a grande contribuição da NCB na
área de alimentos está relacionada ao desenvolvimento de novas embalagens, visto a
gravidade do uso frequente de embalagens plásticas. Devido a suas características a
NCB, por exemplo, permite o desenvolvimento de embalagens biodregradáveis
(Cazón; Vázquez, 2021), mais resistentes (Azeredo; Rosa; Mattoso, 2016) ou ainda
impregnadas com certos compostos que forneçam propriedades adicionais como
capacidade antibacteriana (Nagmetova et al., 2020) ou de barreira seletiva para
líquidos (Sommer et al., 2020).
Os benefícios da utilização da NCB podem ser ressaltados também, na área
biomédica; mais especificamente na engenharia de tecidos. Para aplicação nesta área
em avanço crescente, a NCB dispõe de uma característica bastante relevante: uma alta
biocompatibilidade com o tecido humano que reduz significativamente as chances de
rejeição do material implantado devido à sua semelhança com as fibras do colágeno
(Moniri et al., 2017; Xue; Mou; Xiao, 2017; Naomi; Idrus; Fauzi, 2020). Essa
propriedade é de fundamental importância pois influencia na adesão, proliferação e
sobrevivência das células no local do implante (Naomi; Idrus; Fauzi, 2020). Ainda na
engenharia de tecidos, a NCB pode agir como reforço (scaffold) de matrizes aplicadas
em implantes (Moniri et al., 2017; Sharma; Bhardwaj, 2019) e seu uso na obtenção de
tecido ósseo (Aki et al., 2020), curativos oculares (Yan et al., 2020) e outros tipos de
implantes tem crescido vertiginosamente.
Cabe também ressaltar que essa biocompatibilidade com a pele humana e a
capacidade de formação de uma malha porosa ultrafina capaz de reter outros
compostos também permite a proposta de uso da NCB em produtos cosméticos, como
por exemplo, máscaras faciais para microagulhamento e tratamento anti-idade
(Fonseca et al., 2021).

Produção de NCB
Algumas espécies de bactérias estão relacionadas à produção de NCB,
especialmente as do gênero Gluconacetobacter (Gupta; Shukla, 2020; Rahman et al.,
2021) que, recentemente, foi renomeado para Komagataeibacter (Lin et al., 2020).
A NCB é produzida, geralmente, por fermentação submersa em meios líquidos
(estáticos ou sob agitação) (Jozala et al., 2016; Rahman et al., 2021), mas o cultivo

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destas bactérias também pode ocorrer em estado sólido (Lin et al., 2020; Rahman et
al., 2021). Na fermentação submersa estática a NCB é acumulada na forma de uma
película espessa branca; já na fermentação sob agitação, esta ocorre sob a forma de
grânulos (Dhar et al., 2019; Rahman et al., 2021). Rahman et al. (2021) cita que os
grânulos obtidos na fermentação sob agitação são preferidos, principalmente, por
conta do menor tempo de incubação e agitação.
A produção de NCB pode ser resumida bioquimicamente em três estágios
(Jozala et al., 2016; Zhong, 2020). No primeiro, fase intracelular, ocorre a
polimerização dos resíduos de glicose em β-1-4-glucana (Ruan et al., 2016). No
segundo estágio, ocorre a liberação extracelular das cadeias lineares e no terceiro,
ocorre a organização e cristalização das cadeias de glucanas através de ligações de
hidrogênio e forças de Van der Waals, formando as fibrilas de celulose (nanocelulose)
(Zhong, 2020).
As cepas de Gluconacetobacter utilizam diferentes fontes de carbono como
precursor da NCB em meios sintéticos, entre elas: sacarose, maltose e glicose, sendo
que a glicose é geralmente a preferida (Jozala et al., 2016; Moniri et al., 2017). Apesar
disso, substratos alternativos também têm sido empregados nessa biossíntese.

Utilização de resíduos agroindustriais pra produção de NCB


Os resíduos agroindustriais (RAI), como cascas, bagaços e extratos, são um
exemplo de material lignocelulósicos ricos em açúcares simples que são de fácil
obtenção, boa diversidade e custo reduzido, podendo competir de forma alternativa e
positiva com fontes de carbono tradicionais para a composição dos meios de cultivo
(GuptA; Shukla, 2020; Tsouko et al., 2015; Yu et al., 2021). O emprego dos RAI pode
ainda requerer etapas de pré-tratamentos físico e/ou químico e/ou enzimático ou
outras metodologias como explosão a vapor, que irão expor as fibras de celulose para
liberação da glicose (Dhar et al., 2019; Gupta; Shukla, 2020; Gupta; Shukla, 2020). Ao
serem pré-tratados, os RAI podem proporcionar resultados na produção de NCB,
similares ou melhores em comparação com os compostos sintéticos. A Tabela 2
apresenta alguns exemplos de RAI utilizados como substratos alternativos na
produção de NCB, mas, de forma complementar, o trabalho de Lin et al. (2020)
também lista exemplos de RAI aplicados à produção de celulose bacteriana o que
reforça a importância da valorização destes resíduos.

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Tabela 2. Diferentes fontes de resíduos agroindustriais utilizados para síntese de NBC.

Resíduos Microrganismos Referências


Vinhaça de trigo Gluconacetobacter
sucrofermentans B- Revin et al. (2018)
Soro de leite
11267
Komagataeibacter
Suco de sisal Lima et al. (2017)
hansenii ATCC 23769
Kumbhar; Rajwade;
Casca de abacaxi K. hansenii MCM B-967
Paknikar (2015)
Resíduos de frutas K. xylinus IITR DKH20 Khan et al. (2021)
Bagaço da indústria
G. xylinus ATCC 23768 Akhtar et al. (2015)
cervejeira
Gluconacetobacter
Melaço de soja Souza et al. (2020)
xylinus ATCC 53582
Palha de cana K. xylinus ATCC 11142 Dhar et al. (2019)
Acetobacter xylinum
Palha de milho Cheng et al. (2017)
ATCC 23767

Melaço da cana-de açúcar G. hansenii UCP1619 Costa et al. (2017)

Melaço da cana-de açúcar K. rhaeticus Machado et al. (2018)

CONCLUSÕES

Diante da necessidade de preservação do meio ambiente, quer seja pela busca


de novos bioprodutos, quer seja pela iminente necessidade de propor rotas
biotecnológicas para valorização dos resíduos, este trabalho de revisão bibliográfica
veio contribuir para reforçar a potencialidade e importância do emprego de bactérias
do gênero Gluconacetobacter cultivadas em meios contendo resíduos agroindustriais
para produção de nanocelulose bacteriana (NCB). Mais estudos que permitam a
expansão deste importante bioprocesso devem ser valorizadas pois a NCB se
constitui um composto de imensa versatilidade tecnológica.

AGRADECIMENTOS
Os autores são gratos à FAPESB e a CAPES pelo apoio financeiro.

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CAPÍTULO 10
ADSORÇÃO DE
CONTAMINANTES
EMERGENTES DE ÁGUAS
RESIDUAIS: UM REVIEW
Cesar Vinicius Toniciolli Rigueto1
Ingridy Alessandretti2
Aline Dettmer3

1
Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), Santa Maria, RS, email: cesartoniciolli@gmail.com, ID Lattes:
5053497434546209.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: ingridyalessandretti7@gmail.com, ID Lattes: 0137426888881020.
3
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo
(UPF), Passo Fundo, RS, email: alinedettmer@upf.br, ID Lattes: 3783457265210946.

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ADSORÇÃO DE CONTAMINANTES EMERGENTES DE ÁGUAS RESIDUAIS: UM REVIEW

RESUMO
Esse trabalho objetivou realizar uma revisão bibliométrica e bibliográfica acerca do
uso da técnica de adsorção para remoção de contaminantes emergentes de águas
residuais, destacando os principais materiais adsorventes, parâmetros do processo e
resultados promissores reportados em estudos recentes. A análise bibliométrica
mostrou que o interesse pelo tema remoção do diclofenaco de águas residuais é
crescente, e a China é o país que mais publica trabalhos sobre essa temática. Os
contaminantes emergentes mais reportados em estudos de adsorção foram: Cafeína,
Diclofenaco, Carbamazepina, Ciprofloxacina, Acetaminofeno/Paracetamol,
Amoxicilina, Tetraciclina e Atenolol. De forma geral, o uso de carvões ativados de
fontes comerciais ou residuais proporcionaram boas capacidades de adsorção e/ou
remoção na maioria dos fármacos estudados.
Palavras-chave: Fármacos. Material adsorvente. Capacidade de adsorção.

ADSORPTION OF EMERGING CONTAMINANTS FROM WASTEWATER: A REVIEW

ABSTRACT
This work aimed to carry out a bibliometric and bibliographic review on the use of
the adsorption technique to remove emerging contaminants from wastewater,
highlighting the main adsorbent materials, process parameters, and promising results
reported in recent studies. The bibliometric analysis showed that interest in the topic
of removing diclofenac from wastewater is growing, and China is the country that
most publishes works on this topic. The most-reported emerging contaminants in
adsorption studies were Caffeine, Diclofenac, Carbamazepine, Ciprofloxacin,
Acetaminophen/Paracetamol, Amoxicillin, Tetracycline, and Atenolol. In general, the
use of activated carbons from commercial or residual sources provided good
adsorption and/or removal capacities in most of the drugs studied.
Key-words: Drugs. Adsorbent material. Adsorption capacity.

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INTRODUÇÃO

Os contaminantes emergentes (CE) podem ser classificados como fármacos e


produtos de higiene pessoal (PPCP’s), pesticidas, corantes, plastificantes, entres
outros (Rigueto et al., 2020). Os PPCP’s vêm ganhando destaque devido a detecção
destes em águas superficiais, residuais e de consumo, no qual a presença desses tem
causado uma preocupação, devido a seus danos à saúde humana e ao ecossistema
(Nguyen et al., 2020).
A presença dos CE em recursos hídricos pode ocorrer por meio de processos
industriais, hospitais, estações de tratamento de efluentes, excreção pela urina e fezes
de humanos e animais e pelo descarte incorreto em pias de banheiro ou como
resíduos sólidos (Sousa et al., 2018). Os CE são encontrados nas águas em
concentrações de ng L-1 e μg L-1 (Quesada et al., 2019), como nos estudos de Rivera-
Jaimes et al. (2018), que detectou concentrações em média de 430, 313, 231 ng L -1
para o acetaminofeno, diclofenaco e ibuprofeno, respectivamente, na cidade de
Cuernavaca no México em águas superficiais.
Os efeitos dos CE nos seres vivos ainda não são bem compreendidos, contudo
diversas pesquisas vêm sendo realizadas, devido esses compostos apresentarem
persistência e bioacumulação no meio ambiente. Tais estudos mostraram potencial
tóxico, estresse oxidativo e diminuição do crescimento de cianobactérias e redução
do crescimento e reprodução de mosquitos (Streit et al., 2021; Fatima et al., 2020;
Nieto et al. 2017).
Além do uso de águas superficiais, as águas residuais para irrigação de
culturas já é uma realidade, dessa forma, Santiago et al. (2016) estudaram a absorção
de produtos farmacêuticos e produtos de higiene pessoal por culturas vegetais
(acelga, ervilha, nabo coentro, alface, manjericão e couve), verificando que todas as
culturas vegetais avaliadas absorveram os três compostos testados (atenolol,
ofloxacina e diclofenaco).
Uma das técnicas que pode ser utilizada para remover os CE é a adsorção, que
consiste na transferência de massa de uma fase líquida a qual contém os
contaminantes (adsorbato) para uma fase sólida (adsorvente). A adsorção destaca-se
por pelo baixo custo, alta eficiência, e fácil operação, possibilitando a recuperação e
reúso do material ao fim do processo de tratamento. Os principais adsorventes
utilizados são provenientes de materiais carbonáceos, sílicas e zeólitas, no entanto,

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resultados promissores têm sido reportados em estudos empregando materiais de


fontes residuais (Rigueto et al., 2021a; 2021b)
Nesse contexto, esse trabalho teve por objetivo realizar uma revisão
bibliográfica sobre o uso da técnica de adsorção para remoção de contaminantes
emergentes de águas residuais, destacando os resultados mais promissores
reportados em estudos recentes, além de apresentar correlações bibliométricas
acerca do tema em estudo.

MATERIAL E MÉTODOS
O levantamento dos artigos foi realizado por meio da busca de termos
específicos na base de dados Scopus. Foram inseridos os termos "ADSORPTION" AND
"EMERGING CONTAMINANTS" AND "WASTEWATER", que estavam presentes nos
títulos, resumos e/ou palavras-chave dos trabalhos, totalizando 247 artigos. Os
resultados obtidos na busca preliminar na base de dados Scopus foram explorados
por meio da ferramenta “Bibliometrix” do software RStudio® versão 1.4.1106, em que
período de busca foi limitado de 2010 a 2021, apenas com artigos experimentais
(reviews, trabalhos de conferência e livros e capítulos foram excluídos da análise),
totalizando 181 artigos. A partir dessas publicações, foi possível sistematizar o
estado da pesquisa, e produzir discussões e correlações sobre a adsorção de
contaminantes emergentes de águas residuais.

ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

Pela análise bibliométrica, observa-se que o interesse pelo tema remoção de


contaminantes emergentes é crescente, com taxa de crescimento anual de 17,46%.
Além disso, nota-se que um crescimento acentuado de publicações ocorreu no ano de
2016, com maior pico atingido em 2020 (Figura 1a). O país que mais publica artigos
voltados para temática de estudo é a China, seguida da Espanha, EUA, Brasil e
Portugal (Figura 1b). No entanto, na Figura 1c, verifica-se que grande parte dos
autores são afiliados da Universidade do Aveiro (Portugal), seguido pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil) e Universidade de Tsinghua
(China), sugerindo parcerias entre essas instituições ou países.

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Figura 1: a) Produção científica global anual de artigos relacionados a adsorção de


contaminantes emergentes, b) Produção científica de artigos por país, c) Principais
afiliações dos autores dos artigos analisados, d) Nuvem de palavras com as 50
palavras mais citadas nas palavras-chave dos artigos analisados
a) b)

c)

d)

Na nuvem de palavras gerada com as 50 palavras mais citadas nas palavras-


chave dos artigos analisados (Figura 1d), fica evidente que os principais
contaminantes emergentes que tiveram sua remoção objetivada pela técnica de
adsorção, foram: carbamazepina, ciprofloxacina, diclofenaco,
paracetamol/acetaminofeno, amoxicilina, cafeína, tetraciclina e atenolol, portanto, os
tópicos dessa revisão foram definidos levando em consideração a adsorção de cada
um desses contaminantes emergentes destacado na nuvem de palavras, gerada a
partir da análise bibliométrica.

REVISÃO DE LITERATURA

A seguir são apresentados os tópicos da revisão, definidos conforme a nuvem de


palavras da Figura 1d. Como exemplificado na Figura 2, os contaminantes emergentes

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de diversas origens podem estar presentes não apenas em águas residuais, mas
também contaminar águas superficiais.

Figura 2. Contaminação e exposição humana aos contaminantes emergentes.

Contaminantes emergentes: definições e detecção


A presença de contaminantes emergentes de origem farmacêutica pode ser
detectada até mesmo em águas superficiais e de consumo, uma vez que, após
ingeridos são excretados na urina juntamente com seus metabolismos, e podem
atingir os sistemas hídricos por meio das estações de tratamento esgoto, descarte de
alimentos, bebidas e medicamentos, entre outros (Rigueto et al., 2020; Sousa et al.,
2018).
A cafeína é um alcaloide pertencente à família das metilxantinas, e presente
naturalmente em cafés, chás, chocolates e refrigerantes, e tem efeito estimulante no
sistema nervoso central, que causa uma redução temporária da sonolência (Mersal,
2012). Com relação aos efeitos que a constante exposição da cafeína aos organismos
vivos, estudos utilizando peixes como modelo experimental, mostraram que a cafeína
pode interferir nos mecanismos de biotransformação, diminuir a atividade
locomotora em doses mais altas e atuar como estimulante em doses mais baixas
(Santos-Silva et al., 2018).

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O diclofenaco é comumente disponível nas formas de sais de sódio ou potássio,


ambos classificados como anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), usados como
analgésicos para aplicação em humanos ou animais, para tratamento de inflamação e
dores (Coimbra et al., 2016).
No Brasil, a presença de diclofenaco foi detectada em águas superficiais do rio
Jundiaí em São Paulo-SP, com 364 ng L-1, represa Billings em São Paulo-SP, com
concentrações médias de 8,1 - 394,5 ng L-1, nas águas dos ribeirões Pinheiros (96 ng
L-1) e Anhumas (115 ng L-1) em Campinas-SP, e no rio Iguaçu (285 ng L-1) em
Curitiba-PR (Kramer et al., 2015; Montagner e Jardim, 2011; Almeida e Weber, 2005).
A carbamazepina é um anticonvulsivo comumente prescrito e altamente
recalcitrante à degradação biológica, sendo um fármaco usado como um indicador de
influências antropogênicas em ambientes aquáticos. Foi relatado que a
carbamazepina causa defeitos congênitos, retardo e deformidade física em espécies
de peixes em concentrações na faixa de mg L-1, no entanto, em concentrações
encontradas em afluentes (na faixa de ng L-1), nenhum efeito fisiológico foi observado
(Kent e Tay, 2019).
A ciprofloxacina é um antibiótico fluoroquinolona mais prescrito do mundo,
usado para tratar infecções articulares, ósseas, urinária, de pele e respiratórias. Os
metabólitos desse fármaco são excretados por meio da urina e fezes ao meio
ambiente (Antonelli et al., 2020). Este medicamento mesmo em concentrações
ínfimas, persiste no meio ambiente, o que pode causar resistência bacteriana,
reduzindo a eficácia do fármaco (Zhang et al., 2015). Outro ponto negativo, é inibição
do crescimento de lodo ativado em estações de tratamento de efluentes, o que reduz a
eficiência da etapa de biodegradação (Cao et al., 2017).
O acetaminofeno também conhecido como paracetamol, é um dos antipiréticos e
analgésicos mais comuns do mundo, usado para aliviar dores de várias doenças, como
dor de cabeça e febre (Nguyen et al. 2020). Esse fármaco possui potencial
bioacumulativo nos organismos aquáticos, e sua degradação forma compostos
carcinogênicos e tóxicos (4-aminofenol), que pode causar mutação as células
humanas (Żur et al., 2018).
A amoxicilina é um antibiótico beta-lactâmico, da classe das penicilinas,
utilizado em animais e humanos no combate de infecções causadas por bactérias
(Jafari et al., 2018). Os produtos de degradação da amoxicilina, podem ser ainda mais

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tóxicos, e assim gerar resistência bacteriana, que reduz a eficácia do medicamento e


assim um aumento na dose de consumo (Gozlan et al., 2013).
A tetraciclina é uma classe de antibiótico, utilizado em humanos e animais no
tratamento de doenças não infecciosas, como artrite reumatoide e câncer. Este
fármaco pode provocar a proliferação de bactérias resistentes, que pode afetar o
ecossistema e saúde humana (Costa et al., 2020).
O atenolol é pertencente ao grupo dos β-bloqueadores mais prescritos,
utilizado para tratar doenças cardiovasculares, angina, hipertensão, reduzir a chance
de ataques cardíacos e controlar as formas de arritmias. Os efeitos do atenolol foram
testados em organismos aquáticos, no qual apresentaram potencial tóxico, devido a
alteração do ritmo cardíaco e diminuição da mobilidade de espermatozoides
(Dehdashti et al. 2019).
Nesse contexto, a Tabela 1 apresenta estudos recentes que objetivaram a
remoção desses contaminantes emergentes de origem farmacêutica utilizando a
técnica de adsorção.

Tabela 1: Adsorção de contaminantes emergentes de origem farmacêutica.


Principais
Capacidade de
Remoção parâmetros
Adsorvente adsorção Referência
(%) Tipo de
(mg g-1)* pH
solução
Cafeína
Sotelo et al.
Carvão ativado 271,00a - ST 3
(2012)
Marçal et al.
Saponitas modificadas 88,00a - ST 6
(2015)
Carvão ativado de Cunha et al.
272,30a - ST 6,2
folhas vegetais (2018)
Yanala e Pagilla
Biochar 0,396b - ER 7,9
(2020)
Diclofenaco
333,00a - ST - Coimbra et al.
Carvão ativado
88,00a - ER 7,8 (2016)
Mallek et al.
Rolha granulada - 100 ST 6
(2018)
Pó de Ziziphus Qureshi et al.
- 88 ST 4
mauritian L. (2019)
Rigueto et al.
Esferas de gelatina 36,65a - ST 8,1
(2021a)
Carbamazepina
Oliveira et al.
Carvão a partir de 93,00a - ST -
(2018)
polpa de papel
80,00a - ER 7,3

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Mallek et al.
Rolha granulada - 50 ST 6
(2018)

Tabela 1: Adsorção de contaminantes emergentes de origem farmacêutica (Continuação).


Principais
Capacidade de
Remoção parâmetros
Adsorvente adsorção Referências
(%) Tipo de
(mg g-1)* pH
solução
Carbamazepina (Continuação)
Reator de lodo granular Qureshi et al.
0,044a - ST -
aeróbio (2019)
Carvão ativado granular 24,00a - ST -
Jaria et al. (2019)
de lodo 10,00a - ER 7,7
Ciprofloxacina
Duan et al.
Alumina - 53 ST 7,5
(2018)
Biochar de resíduos Ashiq et al.
167,36c - ST 5
sólidos urbanos (2019)
Carvalho et al.
Carvão ativado de Jerivá 317,70a - ST 7
(2019)
- 75 ER
Polieletrólito de alumina 6 Dao et al. (2020)
- 98 ST
Paracetamol/Acetamifeno
Lodo de fábrica de Coimbra et al.
16,79d - ER
celulose pirolisado (2019)
Carvão ativado a partir Lima et al.
411,00e - ST 7
de cascas de castanha (2019)
Nguyen et al.
Carvão ativado comercial 203,00a - ER 7
(2020)
Carvão ativado de lodo Streit et al.
145,40d - ST 8
de bebida (2021)
Amoxicilina
Compósito magnético 238,1a - ST Jafari et al.
6
com caroço de oliva - 97,9 ER (2018)
156a - ST Chaba e
Nanofibra de carbono
7,5 Nomngongo
com óxido de zinco - 100 ER
(2019)
Carvão ativado a partir Rodrigues et al.
- 94,4 ST 7
de biomassa de azeitona (2020)
Tetraciclina
Khanday e
Cinza de palma ativada 244,63a - ST 4
Hameed (2018)
Biochar de esterco de Zhang et al.
26,73a - ST 6
vaca (2019)
- 92,7 ST 4 Costa et al.
Carvão ativado
- 99,4 ER (2020)
32,17a - ER - Martínez-Olivas
Argila/ Hidroxiapatita
61,46a - ST - et al. (2020)
Atenolol
Carvão ativado de galhos Marques et al
555,60a - ST -
de macieiras (2018)

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Hidrogel acrilamida e Mhammed e


- 94,2 ST 6
ácido maleico Faiq (2019)
Dehdashti et al.
Nanotubos de carbono 61,76a - ST 6
(2019)
Metais orgânicos Rojas et al.
- 90,0 ER -
porosos (2021)
Capacidades de adsorção estimadas pelos modelos de: aLangmuir, bThomas de segunda ordem, cHills,
dSips e eLiu.

ST= Sintética e ER= Efluente real.

Influência do pH na adsorção dos fármacos


A capacidade de adsorção ou porcentagem de remoção, são altamente
dependentes da condição de pH inicial, uma vez que os íons hidrogênio podem
competir com sítios ativos na superfície do adsorvente (De Rossi et al., 2020).
De acordo com a Tabela 1, observa-se que a na maioria dos estudos abordando
remoção de cafeína, soluções com meio ácido-neutro foram usadas para garantir que
o pH seja menor que a alta constante de dissociação da cafeína (pKa=10,4). A
adsorção de cafeína é mais acentuada na faixa de pH de 5–8. Em um pH mais básico,
os íons hidroxila, que estão presentes em concentrações mais altas, tendem a
competir com a cafeína pela sorção em locais ácidos (Rigueto et al., 2020).
Em relação ao efeito do pH na adsorção do diclofenaco, nota-se que foi
utilizada uma ampla faixa de pH (Tabela 1), abrangendo as zonas ácida e básica de
acordo com cada estudo. A carga do diclofenaco é controlada pelo valor da constante
de dissociação (pKa=4,15). Assim, em pH<pKa, as moléculas de DCF são carregadas
positivamente, enquanto em pH>pKa, essas moléculas são carregadas negativamente.
Vale ressaltar que o ponto de carga zero (pHPZC) de cada material adsorvente
desenvolvido também é um parâmetro que definirá a melhor faixa de pH a ser
utilizada, bem como os mecanismos que irão reger a adsorção, uma vez que, a
superfície do o adsorvente é carregado positivamente quando pH<pHpzc e carregado
negativamente quando pH>pHpzc (De Rossi et al., 2020).
A adsorção de carbamazepina por carbonáceos como grafeno, é mediada por
interações π-π, interações eletrostáticas e efeitos hidrofóbicos, dependendo da
proximidade das moléculas de ligação. Além disso, seu valor de pKa=13,9 tem
influência no processo, pois em valores de pH<pKa, a carbamazepina estará presente
na forma protonada, facilitando sua captação pelos grupamentos negativos do
material (Bhattacharya et al., 2020).

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A adsorção de ciprofloxacina é influenciada por meio da variação pH, pois


apresenta dois pontos isoelétricos (pKa1= 6,1 e pKa2=8,7), sendo que em pH<5,56 o
composto é catiônico (grupo amino protonado) e em pH>8.77, a forma é aniônica
(grupo de ácido carboxílico desprotonado), assim o pH influência na interação
eletrostática com a superfície do adsorvente, pois em um meio com densidade
positiva e superfície positiva, há repulsão eletrostática, o que desfavorece a adsorção
(Antonelli et al., 2020).
O acetaminofeno é um ácido fraco (pKa=9,38), sendo que em pH<pKa sua
forma predominante é a protonada e ao contrário em pH>pKa sua forma é a
desprotonada (Quesada et al., 2019). Deste modo, estudos como os de Nguyen et al.
(2020) e Quesada et al. (2019), mostram que em uma faixa de pH 2-10, não houve
diferença significativa na capacidade de adsorção, o que mostra que as interações
eletrostáticas entre o fármaco e materiais estudados não descrevem o principal
mecanismo de adsorção.
O pH da solução de amoxicilina afeta na ionização dos contaminantes e na carga
superficial do adsorvente, e assim na adsorção e em seus mecanismos, sendo o
predominante por atração eletrostática. A amoxicilina possui três diferentes pontos
isoelétricos (pKa1=2,68, pKa2=7,49 e pKa3=9,63), sendo que cada um refere-se a um
grupo funcional que são os carboxílicos, aminos e hidroxílicos fenólicos,
respectivamente. Assim, em pH<pKa1 ocorre a protonação do grupo amino (forma
catiônica) e ao inverso em pH>pKa3 obtém-se a desprotonação do grupo hidroxila
fenólica no qual a molécula é duplamente carregada na forma negativa. Entre as
faixas de pKa1 e pKa2, há a predominância da forma zwitteriônica, com desprotonação
do grupo carboxílico e por fim entre o pKa2 e pKa3 observa-se a forma desprotonada
de grupos carboxílicos e amina (Pezoti et al., 2016).
A tetraciclina possui três pontos isoelétricos, ou seja, valores de pKa, sendo
3,3; 7,7 e 9,7, assim, em pH<3,3 a forma predominante é catiônica (TCH 3+), entre a
faixa de pH 3,3-7,7 é a forma zwitterion (TCH2+) e em pH>7,7 adquire forma aniônica
(TCH- e TC2-) (Zhang et al., 2019). Portanto, a adsorção da tetraciclina depende do pH
do meio e carga da superfície do material. No estudo de Khanday e Hameed (2018),
utilizou-se pH 4 em razão do adsorvente possuir carga superficial negativa, logo nesta
faixa a quantidade de grupos protonados era maior, o que favorece uma atração
eletrostática TC-adsorvente.

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O pKa do atenolol é de 9,6, a partir disto, relata-se que em pH<pKa o atenolol


adquire forma catiônica, com densidade positiva (H+) e ao inverso, ou seja, em
pH>pKa, o composto adquire forma aniônica devido a protonação dos grupos aminos,
o que resulta em um aumento da presença de OH- (Marques et al., 2018).
Uma visão geral sobre os materiais adsorventes utilizados

Conforme apresentado na Tabela 1, verifica-se que a maioria dos materiais


utilizados para remoção de cafeína foram carbonáceos (grafeno, carvões comerciais
ou obtidos de fontes residuais e biochar). Para o diclofenaco, tanto o uso de carvão
ativado, quanto materiais residuais como rolha granulada e pó de folhas de Ziziphus
mauritian L. carbonizadas, foram eficazes para remoção desse fármaco.
No entanto, para carbamazepina, nos ensaios com efluentes reais as
capacidades de adsorção foram inferiores, se comparadas com as soluções sintéticas
(monocomponente). Essa redução ocorre, uma vez que, em sistemas
multicomponentes quanto mais semelhantes forem a estrutura molecular e as
propriedades físico-químicas dos outros adsorbatos competidores presentes no meio
aquoso, maior será a competição (Lerman et al., 2013).
De forma geral, para a maioria dos contaminantes emergentes de origem
farmacêutica reportados, os carvões ativados obtidos de resíduos forneceram boas
capacidades de adsorção ou remoção, ampliando as possibilidades de aplicação
desses materiais oriundos de fontes alternativas.

CONCLUSÕES

A revisão bibliográfica apresentada, abordou os principais contaminantes


emergentes presentes em água residuais e sua remoção por meio da técnica de
adsorção. De modo geral, observou-se que o uso de carvões comerciais ou obtidos a
partir fontes residuais apresentaram altas capacidade de adsorção e/ou remoção
desses fármacos de meio aquoso.
O avanço de tecnologias sustentáveis para a remoção de contaminantes
emergentes da água impacta positivamente vários dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), portanto, é necessária a continuidade de estudos acerca dessa
temática, que engloba aspectos ambientais e de saúde pública.

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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES, CNPq e FAPERGS pelo apoio financeiro.

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CAPÍTULO 11
ADSORVENTES
NANOESTRUTURADOS PARA
O TRATAMENTO DA ÁGUA DE
PRODUÇÃO

Victor Rabelo Pessoa1


João Victor Nicolini2

1
Graduando em Engenharia de Materiais, Departamento de Engenharia Química, Instituto
de Tecnologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ,
email: v_r_pessoa@hotmail.com, ID Lattes: 9145925558347627.
2
Professor do Departamento de Engenharia Química, Instituto de Tecnologia, Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, email: jvnicolini@gmail.com,
ID Lattes: 0525713504125196.

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ADSORVENTES NANOESTRUTURADOS PARA O TRATAMENTO DE ÁGUA DE


PRODUÇÃO

RESUMO
A remoção de óleo disperso altamente estável produzido durante os processos de
recuperação de óleo é um desafio, especialmente em operações offshore.
Recentemente, o uso de nanomateriais como nanoadsorventes tem sido amplamente
utilizado devido suas propriedades como alta área de superfície,
hidrofilicidade/hidrofobicidade, funcionalidade de superfície e alta reutilização. Este
capítulo discute a aplicação de nanoadsorventes para o tratamento de águas de
produção, abordando as características desses nanomateriais e seus híbridos para
tratamento de água contendo óleo.
Palavras-chave: Água de produção. Adsorventes. Nanotecnologia. Petróleo. Emulsão.

NANOSTRUCTURED ADSORBENTS FOR PRODUCTION WATER TREATMENT

ABSTRACT
Removal of highly stable dispersed oil produced during oil recovery processes is a
challenge, especially in offshore operations. Recently, the use of nanomaterials as
nanoadsorbents has been widely used due to their properties such as high surface
area, hydrophilicity/hydrophobicity, surface functionality and high reuse. This
chapter discusses the application of nanoadsorbents for the treatment of production
water, addressing the characteristics of these nanomaterials and their hybrids for oily
water treatment.
Key-words: Produced water Adsorbents. Nanotechnology. Crude oil. Emulsion.

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INTRODUÇÃO

Com o rápido desenvolvimento do setor industrial, grandes quantidades de


efluentes contendo diversos tipos de poluentes orgânicos são liberados no meio
ambiente. Efluentes na forma de emulsões de óleo em água (O/A) são produzidos por
refinarias de petróleo, plantas petroquímicas e derramamento de petróleo bruto no
mar (Cui et al., 2021). Mas a maior fonte desse tipo de emulsão é gerada durante os
processos de extração e exploração de petróleo e essas águas residuais, conhecida
como água produzida, contêm altas concentrações de óleo que variam de 4000 a 6000
mg/L (Putatunda et al., 2019).
A água produzida abrange uma mistura complexa de diversos constituintes,
como hidrocarbonetos, sais, material orgânico dissolvido e disperso, material
inorgânico, metais pesados, produtos químicos (inibidores de corrosão,
emulsionantes e bactericidas) e materiais radioativos (Bagheri et al., 2018). Suas
características e propriedades físicas variam com a localização geográfica do campo, a
formação geológica na qual a água de formação esteve em contato e o tipo de produto
de hidrocarboneto sendo formado. O volume e algumas propriedades da água
produzida também podem estar variando ao longo da vida útil do reservatório, onde
sua produção é consideravelmente superior à de óleo (Igunnu e Chen, 2012).
O óleo pode estar presente na água em diferentes formas, como óleo livre
(gotículas maiores que 150 μm), óleo disperso (gotículas de 20 a 150 μm), óleo
emulsionado (gotículas menores que 20 μm) e óleo solúvel (gotículas menores que 5
μm) (Yang et al., 2020). Nas águas residuais provenientes da exploração do petróleo,
o óleo se encontra na forma emulsionada e/ou solúvel, onde as gotas estão
estabilizadas por carga elétrica e agentes tensoativos como surfactantes, conforme
mostrado na Figura 1A.
Existem vários métodos para eliminar o óleo da água e a seleção do método
apropriado irá depender de diversos fatores, como as características do óleo
(hidrocarboneto leve, pesado hidrocarboneto, graxa, dentre outros), porcentagem de
óleo na água, pH e presença de outras composições na água (sal, fino partículas,
dentre outras) (Goh et al., 2019).
O tratamento de água produzida possui três etapas principais, sendo elas, o pré-
tratamento, tratamento principal e polimento final. A etapa de polimento final é a
mais complexa, pois o óleo está emulsionado em gotículas menores que 50 μm, se

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tratando de uma emulsão estável (Al-Ghouti et al., 2019). Vários métodos podem ser
aplicados para remover este óleo emulsionado, incluindo coagulação química,
eletrocoagulação, degradação fotocatalítica, troca iônica, tratamento eletroquímico,
filtração por membranas e adsorção (Jiménez et al., 2018). Dentre eles, o fenômeno
da adsorção é considerado uma das tecnologias de tratamento de água devido à sua
facilidade de operação, baixo custo, alto desempenho, excelente estabilidade térmica
e química, alta seletividade e à acessibilidade com uma ampla variedade de
adsorventes, sendo alguns ambientalmente corretos (Dickhout et al., 2017).

Figura 1: (A) Emulsão de óleo em água. Estabilização das gotas de óleo por: (a)
surfactantes e partículas sólidas; (b) cargas elétricas formadas pela dissociação de
asfaltenos e resinas na interface. (B) Representação do processo de adsorção e
principais componentes.

A adsorção é um processo limitado à superfície. No processo de adsorção, as


moléculas de um fluido “grudam” na superfície de um líquido ou sólido para formar
uma camada ou filme de moléculas nessa superfície (Worch, 2012). O líquido ou
sólido no qual ocorrerá o processo de adsorção é denominado de adsorvente e a fase
que constitui os componentes retidos pelo adsorvente é designado como adsorbato,
conforme mostra a Figura 1B. O desempenho da adsorção é expresso como a
quantidade de material adsorvido no equilíbrio, que geralmente é medido usando o
equilíbrio do material do sistema de adsorção. Neste processo, o adsorbato adsorve
na superfície do adsorvente por mecanismos químicos ou físicos (Liu et al., 2021).

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Um material adsorvente para ser eficaz em um processo de separação ou


purificação deve apresentar alta área superficial, possuir boas propriedades
mecânicas, como força e resistência ao atrito e apresentar boas propriedades
cinéticas, sendo capaz assim de transferir moléculas adsorventes rapidamente para
os sítios de adsorção (Wahi et al., 2013). Desta forma, a nanotecnologia vem de
encontro para o desenvolvimento de adsorventes com estas propriedades específicas.
Recentemente, nanoadsorventes tem atraído atenção na eliminação de
hidrocarbonetos de água residuais. Logo, o objetivo é fornecer informações úteis
sobre potenciais nanomateriais que podem ser empregados como nanoadsorventes
para a remoção de óleo das águas residuais provenientes da exploração de petróleo.

REVISÃO DA LITERATURA

Propriedades dos nanoadsorventes


Nanoadsorventes podem ser sintetizados e utilizados para a remoção dos mais
diferentes tipos de poluentes da água. Estes possuem características como
porosidade, tamanho, área superficial específica, composição, morfologia,
estabilidade a longo prazo e estrutura que permite alta capacidade de adsorção em
variadas condições ambientais experimentais e naturais (Sun et al., 2014; Khan et al.,
2019). As propriedades inerentes das nanopartículas que as tornam bons
adsorventes são a grande superfície específica e a multifuncionalidade de superfície
(Punia et al., 2020).
Modificações significativas nas propriedades da superfície podem ser feitas
anexando diferentes grupos funcionais nos nanomateriais. Essa funcionalização de
nanomateriais pode melhorar as propriedades de adsorção do material, por ligações
específicas com o poluente a ser removido. Além disso, a funcionalização da superfície
pode impedir a agregação de nanomateriais e, assim, aumentar a seletividade. A
adição de grupos funcionalizados à superfície dos nanomateriais pode adicionar
características adsorventes, incluindo rápida dessorção e maior eficiência de
absorção (Sun et al., 2014).

Nanoadsorventes para remoção de óleo


Os nanoadsorventes podem ser categorizados em vários grupos que incluem
nanopartículas metálicas, nanopartículas magnéticas, nanopartículas de óxidos

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metálicos e óxidos mistos, nanomateriais de carbono, nanomateriais de silício,


nanoargilas e nanomateriais à base de polímeros. As Tabelas 1 e 2 apresentam os
principais resultados destes nanoadsorventes quando empregados para remoção do
óleo emulsionado e/ou disperso.

Tabela 1: Resultados experimentais dos principais nanoadsorventes estudados –


Parte 1.
Principais % de
Adsorvente Solução qmáx* Referência
características remoção
Nanopartículas metálicas
Diâmetro médio de Gasolina / 86
Fe3O4 88 Elmobarak
15 a 19 nm. água mg/mg
e
Diâmetro médio de
Gasolina / 93 a 187 Almomani,
Fe3O4/SiO2 28 nm. Propriedades
água 94,3 mg/mg 2021
hidrofóbicas.
Presença de grupos
hidroxila na Óleo de
γ-Fe2O3/ Anushree et
superfície com girassol / >93 -
MnOx al., 2020
diâmetro médio de água
31 nm.
Concentrações de
materiais orgânicos e
Óleo Mirshahgha
Fe3O4/ íons influenciam na
MC252 100 - ssemi et al.,
PVP remoção de óleo.
/ água 2019
Diâmetro médio de
127,4 nm.
Nanomateriais de carbono
Cinética rápida
Diesel / 13,35 Diraki et al.,
Grafeno atingindo 90% da 90
água mg/mg 2019
capacidade em 4 min.
A presença de íons
metálicos, como
Gasolina /
cálcio e magnésio, e
Nanotubos querosene Liu et al.,
surfactantes - 15 g/g
de carbono / diesel / 2015
aumentou a
água
capacidade de
adsorção.
qmáx atingida em 15
Nanotubos Gasolina /
min. Diâmetro médio - 7 g/g
de carbono água
de 24 nm.
Diâmetro médio dos Fard et al.,
Nanotubos
nanotubos de 24 nm. 2016
de Gasolina /
Tamanho médio das - 7,7 g/g
carbono/ água
nanopartículas de 1 a
Fe3O4
5 nm.
*qmáx = quantidade máxima de óleo adsorvido

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Tabela 2: Resultados experimentais dos principais nanoadsorventes estudados –


Parte 2.
Principais % de
Adsorvente Solução qmáx* Referência
características remoção
Nanomateriais de silício
Área de 260 m2/g,
hidrofóbicas e Gasolina Syed et al.,
SiO2 97 a 99 18 g/g
melhor adsorção / água 2011
em pH 7.
Modificação da
Aerogel de superfície com Gasolina 15,95 Nguyen et
-
sílica grupos CH3 – / água g/g al., 2018
hidrofobicidade.
Diâmetro de 162
Óleo
SiO2/ nm e área de 0,342 Akhayere
bruto / 85
Fe3O4 superfície de ~ 120 mg/mg et al., 2020
água
m2/g.
Nanoargilas
Filmes de Óleo
Warr et al.,
Halloysite nanoargilas finos < bruto / 90 -
2021
15 μm. água
Nanoargila Gasolina
Zawrah et
MMT modificada / diesel / 97,32 -
al., 2018
por grupos organo. água
Óleo
Alto desempenho
bruto / 193,7 Franco et
Alumina de adsorção em pH -
água mg/g al., 2014
7.
salgada
Nanocompósitos
Hidrofóbicos e
Metacrilato
magnéticos.
de metila/ Óleo / 9,41 Gu et al.,
qmáx em 30 s. -
estireno/ água g/g 2014
Reutilização de 10
Fe3O4
ciclos.
qmáx após 90 min Óleo
MMT 54,05 Ewis et al.,
usando 0,1 g a 100 diesel / 67
/Fe3O4 mg/g 2020
ppm de óleo. água
Aerogel com Óleo
206,79 Zhang et
Nanocelulose densidade de 1,50 bruto / -
g/g al., 2019
mg/cm . 3 água
*qmáx = quantidade máxima de óleo adsorvido; MMT: Montmorilonita.

Nanopartículas magnéticas (Fe3O4) têm mostrado grande potencial de aplicação


na separação de água e óleo em emulsões. Estudos mostram que o uso bem-sucedido
de nanopartículas magnéticas em tal aplicação está relacionado à morfologia de
superfície bem definida, excelente capacidade de adsorção, propriedades físicas bem

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determinadas, biocompatibilidade, alta dispersão, baixa citotoxicidade e simples


separação de compósito multifásico (Elmobarak e Almomani, 2021).
Se nanopartículas magnéticas são adicionadas a uma emulsão, o efeito
demulsificante, ou seja, de separação do óleo da água, ocorre devido às gotículas de
óleo serem cobertas por nanopartículas interfacialmente ativas, criando a chamada
emulsão de Pickering. Esta atividade interfacial é tipicamente introduzida pela adição
de revestimentos (como sílica) e grupos funcionais, como grupos hidroxila, carboxil,
amina, ácido oleico, conforme Figura 2A (Elmobarak e Almomani, 2021). Além disso,
as nanopartículas magnéticas apresentam como principal vantagem após o seu uso, a
facilidade de separação do óleo adsorvido usando um campo magnético (Liang e
Esmaeili, 2021).

Figura 2: (A) Modificação superficial de nanopartículas magnéticas pela (a)


funcionalização com grupos funcionais e (b) separação do óleo adsorvido usando
campo magnético. (B) Mecanismos de interação de nanopartículas de sílica
magnetizadas com óleo emulsionado.

Em nanopartículas de Fe3O4 revestidas com SiO2, logo após a interação


interfacial, a separação ocorre devido a propriedades hidrofóbicas que fixam as
gotículas de óleo, podendo ser posteriormente separadas pela aplicação de um
campo, tornando estas nanopartículas um demulsificador eficaz para recuperar e
separar o óleo da emulsão O/A (Shehzad et al., 2018). Em nanopartículas de
Fe3O4 revestidas com MnOx, a hipótese de sorção de óleo ocorre através da troca de

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grupos hidroxila superficiais camada de MnOx. Nanopartículas de Fe3O4 revestidas


com polivinilpirrolidona (PVP) foram testadas a partir de emulsões de óleo
modelo/água em condições sintéticas e naturais. Os resultados mostraram uma
excelente eficiência de remoção de até 100% de amostras de água sintéticas e reais,
com relativa influência da presença de materiais orgânicos naturais e íons
(Mirshahghassemi et al., 2019).
Nanopartículas de sílica (SiO2) têm tamanho médio de 7 nm e uma área de
superfície em torno de 200 a 300 m2/g podendo ser empregada para adsorver
seletivamente o óleo da água. Outra questão de suma importância na seleção
preliminar de nanomateriais é sua toxicidade. Nanopartículas de sílica com um teor
de dióxido de silício de mais de 99,8% são um excelente candidato a respeito da
toxicidade devido ao fato de este composto ser quimicamente inerte e não apresentar
implicações para a saúde conhecidas (Syed et al., 2011).
Modificações superficiais podem ser realizadas para aumentar a capacidade de
adsorção destes nanomateriais. Nanopartículas de sílica possuem como vantagem a
capacidade de alteração de suas propriedades de carga e hidrofílicas. Reagentes como
polidimetilsiloxano podem empregados para conferir caráter hidrofóbico às
nanopartículas devido a funcionalização com grupos CH3 e posteriormente aumentar
a capacidade de adsorção de óleo. Em um estudo recente, nanopartículas de aerogel
de sílica foram preparadas com sucesso e modificadas pelo método sol-gel usando
polidimetilsiloxano. As nanopartículas exibiram alta hidrofobicidade devido à
funcionalização, alta área de superfície e grande largura de poro, o que aumentou
consideravelmente a difusão do adsorvente nesses canais. A capacidade de adsorção
de óleo aumentou de 15,38 para 153,47 gramas de óleo por grama de adsorvente
após modificação de superfície (Nguyen et al., 2018).
Nanopartículas de sílica podem ser magnetizadas com nanopartículas de Fe3O4.
Estudo com esta finalidade mostrou a obtenção de nanopartículas de sílica
magnéticas com potencial zeta médio de 28,2 mV, em condições ácidas. O potencial
zeta das nanopartículas mostra como as nanopartículas podem formar estruturas
estáveis em relação à fase coloidal, que é de importância específica em aplicações de
tratamento de água (Akhavere et al., 2020).
Com o tempo, as nanopartículas provaram ser bons sorventes, principalmente
devido à sua grande área de superfície, favorecendo a atração eletrostática entre os

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grupos funcionais negativos do óleo e os sítios positivos das nanopartículas. O estudo


também mostrou a importância do pH para a adsorção do óleo, interferindo nas
condições de carga superficial das nanopartículas. Essas características interessantes
das nanopartículas magnéticas permitiram a reciclagem deste material com base em
sua sensibilidade ao pH, onde pode ser usado como um adsorvente eficaz para
remover gotículas de óleo emulsificado sob condições ácidas e neutras, e podem ser
recicladas em solução alcalina através de um simples enxágue conforme pode ser
observado na Figura 2B (Akhayere et al., 2020).
Nanotubos de carbono têm mostrado potencial na eliminação de contaminantes
orgânicos de águas residuais, entre eles, hidrocarbonetos. A alta hidrofobicidade dos
nanotubos de carbono os torna bons candidatos para melhorar o processo de
remoção de óleo de águas residuais. Desta forma, a modificação da superfície dos
nanotubos pode ser realizada para melhorar suas propriedades superficiais, como o
aumento de sua área superficial, mudança de sua carga superficial, dispersão e
hidrofobicidade. Estes tratamentos incluem impregnação com metais, tratamento
com ácido e funcionalização com grupos funcionais (Fard et al., 2016).
Estudos mostraram que a presença de metais comumente encontrados na água
de formação, como cálcio e magnésio, em emulsões de óleos modelos (gasolina,
querosene e diesel) e água afetaram a capacidade de adsorção de nanotubos de
carbono. A existência de íons metálicos aumentou a capacidade de adsorção de óleo
de nanotubos de carbono de paredes múltiplas, pois esses íons criam pontes de
ligação entre os componentes orgânicos do óleo e os grupos funcionais das
superfícies dos nanotubos, além de neutralizar as cargas negativas do óleo e,
enfraquecer a repulsão entre moléculas orgânicas e os nanotubos de carbono.
Atualmente, com a aplicação de métodos de recuperação avançada do petróleo, os
surfactantes são amplamente utilizados. A presença de surfactantes, como sulfonato
de petróleo, também favorece a adsorção de óleo pelos nanotubos de carbono. Isso
ocorre, pois os surfactantes dispersam os nanotubos e disponibilizam mais locais de
adsorção para as moléculas de óleo, aumentando a adsorção (Liu et al., 2015).
Nanotubos de carbono podem ser recobertos com nanopartículas magnéticas de
Fe2O3, reduzindo o sinal negativo e a magnitude do potencial zeta. Esta estratégia,
além de facilitar a separação do óleo da água, aumenta a quantidade de óleo
adsorvido pela redução dos efeitos repulsivos das duplas camadas elétricas

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permitindo que as gotículas de óleo de tamanho micrométrico formem gotículas


maiores por meio da coalescência. Portanto, o aumento da porcentagem de Fe 2O3 na
superfície de nanotubos de carbono aumenta a remoção do óleo emulsionado da água
(Fard et al., 2016).
Em particular, o grafeno, um nanomaterial à base de carbono, tem atraído
interesse desde sua descoberta em 2004 devido às suas propriedades únicas,
incluindo grande área de superfície específica, resistência e condutividade
(Maliyekkal et al., 2013). Óxido de grafeno tem uma alta capacidade de sorção, além
de alta flexibilidade, baixa densidade, alta resistência mecânica e alta estabilidade
química. Além disso, a presença de grupos funcionais carboxila e hidroxila em sua
estrutura aumenta sua capacidade de sorção, não requerendo tratamentos adicionais
(Lingamdinne et al., 2016). Estudos mostram que em ambientes salinos, que é o caso
de emulsões presentes em água de produção, o aumento da salinidade para 1%
aumentou a capacidade de adsorção do grafeno em 75%, permanecendo constante
depois disso, confirmando a adequação do material para a remediação da água
produzida com solução salina. A adsorção foi extremamente rápida, atingindo mais de
90% da capacidade de equilíbrio em 4 minutos (Diraki et al., 2019).
Os minerais de argila são conhecidos por sua excelente capacidade de adsorção,
dentre eles a bentonita (4SiO2.Al2O3), halloysite (Al2Si2O5(OH)4), caulinita
[(Al,Mg,Fe)4(Si4O10)(OH)8], paligorskite [(Mg, Al)2Si4O10(OH).4(H2O)],
montmorilonita (Na, Ca)0,3(Al, Mg)2Si4O10(OH)2 e alumina. Estes minerais são
caracterizados por possuírem alta área de superfície, capacidade de inchamento,
capacidade de troca catiônica e alta resistência. Reduzindo-se o tamanho das argilas
para escala nanômetro, a área de superfície específica é significativamente
aumentada e o material resultante demonstra uma maior capacidade de adsorção
(Pandey, 2017). Franco e colaboradores (2014) investigaram em seu estudo a
adsorção de óleo em nanopartículas de alumina hidrofóbica para redução da
quantidade de óleo presente em emulsões de água salgada. Foram avaliadas a
influência da natureza química das nanopartículas, tempo de contato, temperatura,
pH da solução, conteúdo de resíduo de vácuo e concentração de sal. Os resultados
obtidos pelo autor indicam que adsorção de óleo se apresentou maior para sistemas
neutros e ácidos se comparados com sistemas básicos, além de apresentar um

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aumento na adsorção com o aumento da quantidade de resíduo de vácuo na


superfície da alumina funcionalizada (Franco et al., 2014).
As argilas também podem atuar como um material de suporte para síntese de
nanocompósitos com nanopartículas de metais e óxidos de metais. Um estudo recente
distribuiu nanopartículas de Fe3O4 de tamanho médio de 3,55 nm na superfície de
bentonita. Os resultados mostraram que o pH tem grande influência em processos de
adsorção. Geralmente, a porcentagem de remoção em condições ácidas ou alcalinas é
menor do que a condição neutra. Esse comportamento pode ser devido à dissociação
parcial dos grupos funcionais de superfície em solução emulsionada óleo/água ácida
ou alcalina, que resulta em repulsão eletrostática entre as gotas de óleo e o
nanocompósito Fe3O4/Bentonita (Ewis et al., 2020).
Nanomateriais à base de polímeros possuem um grande potencial no campo da
separação óleo-água devido à possibilidade de se criar superfícies com características
altamente hidrofóbicas ou superhidrofóbicas por meio do processo de polimerização
em emulsão. Objetivando encontrar um método de fácil remoção de óleo de
superfícies de água, estudos mostram o desenvolvimento de nanocompósitos
poliméricos altamente hidrofóbicos, superoleofílicos e magnéticos. As nanopartículas
desenvolvidas apresentam vantagens como baixo custo, estabilidade térmica,
fabricação escalonável, facilidade de operação e são ambientalmente amigáveis. Esses
nanocompósitos poliméricos alcançam uma absorção de óleo máxima em um tempo
médio de 30 segundos e ainda possuem a capacidade de serem reutilizados mesmo
após 10 ciclos de remoção de óleo devido à possibilidade de se utilizar um campo
magnético externo para recuperar essas nanopartículas (Gu et al., 2014).
O emprego de classe de nanomateriais de fontes naturais, também tem se
destacado, como é o caso da nanocelulose. Em um estudo realizado por Zhang et al.
(2018), o efeito da concentração de nanocelulose e do surfactante dodecilsulfato de
sódio na fabricação de uma espuma de aerogel de nanocelulose adsorvente contendo
estrutura hierárquica 3D superleve foi explorado. A espuma de aerogel foi
desenvolvida utilizando do método de espumação mecânica de alta velocidade de fase
aquosa com um agente espumante de dodecilsulfato de sódio. A adição do agente
espumante de dodecilsulfato de sódio se faz muito importante, pois o mesmo exibe
uma propriedade de adsorção de óleo extremamente alta. Os resultados demonstram
que a espuma de aerogel desenvolvida é um candidato promissor para a preparação

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de estrutura de rede hierárquica 3D a partir de polímero natural de celulose para


aplicação em adsorção de óleo (Zhang et al, 2019).

CONCLUSÕES

Diversas características e propriedades de diversos nanomateriais foram


discutidas, bem como os seus principais estudos na remoção de óleo emulsionado e
disperso, como nanopartículas magnéticas, grafeno, nanotubos de carbono,
nanopartículas de sílica, nanoargilas, nanocompósitos poliméricos e nanocelulose.
Dentre os nanoadsorventes, os mais promissores são o uso de nanoadsorventes
magnéticos, uma vez que as gotículas de óleo adsorvidas podem ser rápida e
eficientemente separadas com a aplicação de um campo magnético externo. Os
resultados empregando diferentes tipos de nanoadsorventes na adsorção de óleo
emulsionado/disperso indicam uma forma promissora de superar as dificuldades das
atuais tecnologias de tratamento da água produzida.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ.

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CAPÍTULO 12
RECOMENDAÇÕES PARA
NOVOS TRABALHOS EM
DESSALINIZAÇÃO
ULTRASSÔNICA
Yago Fraga Ferreira Brandão1
Manoel P. de Andrade Filho2
Gleice Paula de Araujo3
Leonardo Bandeira dos Santos4
Leonildo Pereira Pedrosa Júnior5
Valdemir Alexandre dos Santos6

1
Mestrando em Desenvolvimento de Processos Ambientais, Universidade Católica de
Pernambuco (UNICAP), Recife, PE, e-mail: yagoffb9@gmail.com, ID Lattes:
4376835512286424.
2
Doutorando em Biotecnologia da RENORBIO-UFRPE, Recife, PE, e-mail:
manoandrade2005@hotmail.com, ID Lattes: 9307675637592100.
3
Bacharel em Engenharia Química da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
Recife, PE, e-mail: gleeicearaujo@hotmail.com, ID Lattes: 0508679979858591.

4
Doutorando em Biotecnologia da RENORBIO-UFRPE, Recife, PE, e-mail:
Leonardo.bandeira@iati.org.br, ID Lattes: 0751197377184819.
5
Bacharel em Engenharia Química, Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
Recife, PE, e-mail: leopedrosajr2@gmail.com, ID Lattes: 2043338086937927.
6
Professor da UNICAP ICAM-TECH e da RENORBIO-UFRPE, Recife, PE, e-mail:
valdemir.santos@unicap.br, ID Lattes: 6361567059632670.

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RECOMENDAÇÕES PARA NOVOS TRABALHOS EM DESSALINIZAÇÃO ULTRASSÔNICA

RESUMO
A água é um bem indispensável para a vida humana, porém com o passar dos anos
vem tornando-se cada vez mais escasso. Adicione-se a isto o fato de que a maior parte
da água do mundo não ser potável, isto é, com grande presença de sais. Dessa forma, a
dessalinização surge como uma alternativa para geração de água para consumo
humano. Neste trabalho foram discutidas algumas das formas de aplicação do
ultrassom (US), tanto como tecnologia auxiliar, quanto como tecnologia isolada.
Preliminarmente, os autores forneceram um texto básico sobre características do US,
destacando-se sua geração e sua propagação, além das propriedades que levam o US a
ser utilizada como uma tecnologia para ser aplicada à dessalinização de águas
salobras. Sobre os trabalhos analisados abordou-se pontos importantes como
parâmetros relevantes, metodologia e aparelhagem. Para considerações finais optou-
se por comentários relativos a condições adequadas de elaboração e planejamento de
novos estudos, para os casos de uso do US como técnica principal.
Palavras-chave: Técnicas ultrassônicas; Águas salobras; Arranjo experimental;
Frequência ultrassônica; Inércia térmica.

RECOMMENDATIONS FOR NEW WORK IN ULTRASONIC DESALINATION

ABSTRACT
Water is an indispensable asset for human life, but over the years it has become
increasingly scarce.Added to this is the fact that most of the world's water is not
drinkable, that is, with a large presence of salts.Thus, desalination emerges as an
alternative for generating water for human consumption.In this work, some of the
ways of applying ultrasound (US) were discussed, both as an auxiliary technology and
as an isolated technology.Preliminarily, the authors provided a basic text on US
characteristics, highlighting its generation and propagation, in addition to the
properties that lead US to be used as a technology to be applied to the desalination of
brackish waters.Important points were approached about the works covered, such as
relevant parameters, methodology, experimental arrangement and apparatus.For
final considerations, comments regarding the appropriate conditions for the
preparation and planning of new studies were chosen, this time with the option of
using US as the main technique.
Key-words: Ultrasonic techniques; Brackish waters; Experimental arrangement;
Ultrasonic frequency; Thermal inertia.

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INTRODUÇÃO

O processo de dessalinização de água vem sendo aprimorado com o tempo


devido à crescente necessidade de se obter água doce. Apesar do alto nível de
desenvolvimento tecnológico da humanidade ainda existem dificuldades enfrentadas
na luta por esta substância essencial à vida (Sheata et al., 2019). A busca por novas
tecnologias de dessalinização deu origem a diferentes processos, sendo alguns dos
mais recorrentes: osmose reversa (Werber et al., 2017), solar (Ahmed et al., 2019),
eletrodiálise (Alkhadra et al., 2020), entre outros.
Apesar da considerável variedade desses processos de dessalinização algumas
barreiras ainda são encontradas, sendo a maior delas o custo (Farooque, 2020; Alhaj
e Al-Ghamdi, 2019). Utilizando como exemplo a dessalinização solar, o custo pode
variar entre US$0,94/m3 até US$4,31/m3 (de água doce) (Alhaj e Al-Ghamdi, 2019),
tomando como base o Brasil onde se retira, em média, 2098 m³/s dos corpos hídricos
(Brasil, 2017). Dessa forma, seriam necessários (utilizando como base o valor médio
entre os custos citados em Alhaj e Al-Ghamdi (2019), de US$2,625/m3) mais de cinco
mil e quinhentos dólares por segundo para atender a demanda do País.
Outro problema com a maioria dos métodos de dessalinização é o alto consumo
de energia que, mesmo com o passar dos anos continua dificultando, não só a
operação em si, mas aumentando seu custo (Qin et al., 2019). O problema da energia
pode ser evidenciado na região do Gran Canaria (Espanha) onde as fontes de energia
são escassas para lidar com o consumo gerado pela dessalinização (Sadhwani e De
Ilurdoz, 2019). Os impactos ambientais causados pelo processo de dessalinização dão
origem a mais problemas a serem resolvidos para a realização da dessalinização. Tais
impactos negativos são (Mannan et al., 2019): acidificação, eutrofização, toxicidade
humana, ecotoxicidade aquática marinha, oxidação fotoquímica, entre outros.
A tecnologia do ultrassom (US) vem sendo utilizada como uma tecnologia
auxiliar a processos de dessalinização, obtendo resultados animadores na remoção de
sais com amônia (Faryadi et al., 2014), aumentando o fluxo através de membranas
(Hashemi Shahraki et al., 2015) ou purificando substâncias (Otu et al., 2018). O uso
de US como técnica isolada também teve resultados promissores com a produção de
uma água descalcificada, com baixo índice de incrustação (Min et al., 2016) e a
remoção de sais em substâncias orgânicas e inorgânicas (Nadler, 2001).

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Com base em uma rápida revisão das técnicas convencionais de dessalinização


este trabalho prepara o leitor para refletir sobre vantagens e desvantagens de uso do
US como técnica auxiliar ou individual de dessalinização. Posteriormente um rápido
comentário sobre as características básicas das ondas de US auxiliam a uma reflexão
sobre possíveis estratégias que poderão levar a uma investigação voltada para o uso
individual do US. Para isto, evidencia-se a necessidade de se planejar os experimentos
de modo a estabelecer correlações bem definidas entre fatores independentes, e
destes com aqueles considerados dependentes – eficiência de dessalinização.

REVISÃO DA LITERATURA

Características Básicas das Ondas Ultrassônicas


O ultrassom, também conhecido como onda ultrassônica ou som ultrassônico, é
uma onda sonora (acústica) viajando a uma frequência superior a 20 kHz, estando
por isso acima do alcance auditivo humano (Qasim et al., 2018). Ainda segundo o
referido autor, em comparação com o som audível o ultrassom é caracterizado pela
capacidade de gerar efeitos físicos e químicos especiais, transmitindo alta resistência
através de pequenos movimentos mecânicos.
A cavitação acústica é causada por variações de pressão das ondas ultrassônicas
que passam através de um fluido. As ondas acústicas criam microcavidades onde as
bolhas de gás crescem e depois colapsam (Madinson et al., 2018). A cavitação acústica
em meio líquido gera vários efeitos físicos e químicos. A oscilação e colapso de bolhas
de cavitação, acionadas em baixas frequências ultrassônicas (por exemplo, 20 kHz),
podem gerar fortes forças de cisalhamento, microjatos e ondas de choque (Yusof et
al., 2016).
À medida em que uma onda de ultrassom passa por um meio, ela transporta
energia através do meio. A taxa de transporte de energia é conhecida como "poder". O
ultrassom médico é produzido em feixes que geralmente são focados em uma
pequena área, e o feixe é descrita em termos de potência por unidade de área,
definida como a "intensidade" do feixe. Esta intensidade é geralmente descrita em
relação a alguma intensidade de referência. Por exemplo, a intensidade das ondas de
ultrassom enviadas ao corpo pode ser comparada com a intensidade ultrassônica
refletida de volta à superfície por estruturas no corpo (Hendee e Ritenour, 2003).

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A velocidade de uma onda de ultrassom através de um meio varia com a


propriedade física do meio. Em meios de baixa densidade, como ar e outros gases, as
moléculas podem se movem por distâncias relativamente grandes antes que
influenciem as moléculas vizinhas. Dentro nesses meios, a velocidade de uma onda de
ultrassom é relativamente baixa. Nos sólidos, moléculas são limitadas em seus
movimentos e a velocidade do ultrassom é relativamente alta. Líquidos exibem
velocidades de ultrassom intermediárias entre as de gases e sólidos (Hendee e
Ritenour , 2003).
O uso de US tem sido empregado para melhorar o processo de dessalinização da
água do mar (Lingyun et al., 2011). Para isto tem-se investigado a temperatura
apropriada para a evaporação provocada pela atomização ultrassônica. Experimentos
têm mostrado que a evaporação ultrassônica é acelerada com o aumento da
temperatura. Isto pode resultar em ressonância quando a frequência natural das
ondas ultrassônicas e das ondas capilares da água salobra é a mesma. A ressonância
aumenta e como consequência também aumentam a velocidade e a aceleração das
moléculas de água na superfície das gotas líquidas. Dessa forma, mais moléculas de
água têm energia suficiente para superar a tensão superficial, e a taxa de evaporação
da água é aumentada.

Trabalhos que Utilizaram Ultrassom na Dessalinização


Em Li et al. (2016) o trabalho teve como objetivo analisar os resultados do uso
da tecnologia ultrassônica no ácido oxálico em um sistema de limpeza de uma
membrana de osmose reversa usada para dessalinização e tratamento de águas
residuais. O sistema também conta com o auxílio de bombas peristálticas, um
espectrofotômetro do tipo UV, um medidor de condutividade com célula de
condutividade de passagem de fluxo, uma coluna de resina aniônica fortemente
básica, uma coluna de resina catiônica fortemente ácida, um detector de referência
K+/Na+/Cl-/Ca2+, dois registradores, seis válvulas de controle de três vias, uma
válvula de injeção, um aparelho de alcalinidade e um filtro.
Inicialmente foram realizados testes para duas frequências: 40 kHz e 50 kHz,
com variações de intensidade ultrassônica para 0,318 W/cm2; 0,477 W/cm2 e 0,636
W/cm2. Além disso, foram utilizados sete reagentes no processo: ácido oxálico, ácido
cítrico, ácido fosfórico, ácido acético, hidróxido de sódio, ácido hidroclorídrico e

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hidrogenoftalato de potássio. Para realizarem os testes foram utilizados o hidróxido


de sódio e o hidrogenoftalato de potássio como amostras teste para representação de
matéria orgânica e inorgânica; para os ácidos foi utilizado 0,2 % de ácido oxálico;
0,5% de ácido fosfórico; 0,24% de ácido hidroclorídrico; 0,6 % de ácido acético e 1 %
de ácido cítrico. Os ácidos foram utilizados no teste de limpeza com auxílio
ultrassônico, o ultrassom foi aplicado na solução de ácido de limpeza quando os
valores de absorbância e condutividade se mantêm estáveis. Para encontrar a melhor
condição operacional ultrassônica os testes foram realizados com três amostras de
água, a primeira amostra foi a água que circulou no sistema para obter o valor branco
(BW), a segunda a água de circulação e limpeza (CW) e por último a água de limpeza
ultrassônica gerada pelo sistema (UW).
Os resultados (de variação de absorbância por tempo) mostram que com
frequência de 50 kHz e intensidade de 0,636 W/cm2 obteve-se o melhor resultado,
além disso, é possível observar a melhoria na absorbância da água que recebeu
ultrassom em relação às outras amostras. Os resultados (variação de condutividade
por tempo) indicaram a mesma faixa de operação para frequência e intensidade
ultrassônica para poluentes inorgânicos. A partir desta determinação os autores de Li
et al. (2016) realizaram um teste para checar possíveis danos à membrana de osmose
reversa de forma a determinar o melhor intervalo de tempo para operação. Foram
testados os tempos de 0, 30, 40, 50 e 60 minutos. Todos os tempos foram testados sob
temperatura de 43ºC (de forma a testar o efeito nas membranas secas), os autores
observaram que o melhor tempo de intensidade se encontrava antes dos 40 minutos.
Foi observado que o índice de esvaziamento (diminuição de incrustação) com uso
singular do ultrassom foi de 72% no tempo de 10 min.
Ainda em Li et al. (2016) ao checar a remoção dos íons K+/Na+/Cl-/Ca2+, os
autores observaram que o uso do ultrassom foi efetivo para remoção de Na+, Cl- e
Ca2+; essa remoção foi atribuída, segundo os autores, pela frequência utilizada ser
capaz de esfoliar as camadas de incrustação da superfície da membrana de osmose
reversa. Além disso, com a combinação com o ácido oxálico foi possível aumentar
ainda mais a remoção de Ca2+, pois a interação das duas substâncias pode gerar um
complexo solúvel fazendo com que o íon em questão seja diluído da membrana.
Em El-Said & Abdelaziz (2020) os autores tiveram como objetivo estudar a
influência da utilização de um atomizador de altas frequências ultrassônicas (HFU)

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em um destilador solar (SS), para isso, foram realizados testes operacionais usando
HFU no destilador (HFU-SS) e sem o uso de ultrassom (C-SS). Foi utilizada água
salgada atomizada para que pudesse ampliar o processo de umidificação dentro da
cavidade do SS. O arranjo utilizado para testes continha uma cobertura de vidro, uma
válvula reguladora, um timer (On-Off), um reservatório com água salgada, um
recipiente com água doce, seis atomizadores de HFU e uma fonte de energia.
Os atomizadores utilizados tinham formato cilíndrico com 40 mm de diâmetro e
30 mm de altura; os atomizadores operaram com frequência de 1,7 MHz numa
potência de 40 W, os autores destacam que o custo total com os atomizadores foi de
US$ 20 e o custo total do arranjo (incluindo a montagem) foi de US$ 215. Para
operação foram determinadas cinco variáveis: intensidade solar, temperatura
ambiente, temperatura da cobertura de vidro, temperatura da água e produtividade
(quantidade de água produzida); observando quatro condições: o número de
atomizadores (1, 2, 3, 4, 5 e 6); altura da água do reservatório (3, 5, 4, 5, 6 e 7 cm);
salinidade da água de alimentação (500, 3200 e 6600 ppm) e on-time e off-time (0, 10
e 25 min).
Os autores de El-Said e Abdelaziz (2020) relatam que a temperatura máxima do
vidro foi de 56,3°C para o C-SS e 57,1°C de HFU-SS; esta diferença de temperatura foi
atribuída à camada de névoa formada no HFU-SS que atrapalhou a transferência de
parte da energia térmica, ou seja, uma parte do calor á ser transmitido ficou alojada
no vidro. A intensidade solar do C-SS atingiu o máximo de 1150 W/m2 e 1030 W/m2
para HFU-SS. Todos os resultados de temperatura reforçam a afirmação dos autores
que à camada de névoa interferiu na eficiência térmica do arranjo utilizando
ultrassom. Apesar disso os autores destacam que o uso de HFU aumentou
significativamente a taxa de evaporação dentro da cavidade do destilador solar.
A produtividade diária de água para C-SS e HFU-SS foram respectivamente 3,58
L/m2 e 4,41 L/m2, ou seja, apesar dos problemas de eficiência térmica os
atomizadores conseguiram produzir mais água que o dessalinizador solar comum. Os
autores explicam que a média da eficiência térmica aumentou entre 28,75% - 55,75%
quando a altura da água no reservatório permaneceu constante, sendo desta forma
considerada pelos autores como a principal variável operacional. Através dos testes
com altura da água no reservatório foi estabelecido pelos autores uma relação entre o
aumento de altura e a eficiência térmica, quando a altura da água foi de 3,5 cm a

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eficiência térmica foi 40,5% havendo uma variação de 0,34% (eficiência em 40,16%)
quando a altura foi até 5 cm; de 5 para 6 cm houve um decréscimo de 4,52% até
atingir a altura final e consequentemente a menor eficiência (35,61%). Essa diferença
de eficiência é explicada pelos autores devido á altura dos atomizadores, quando a
água atinge a altura de 6 cm o nível ultrapassa os atomizadores de forma que há uma
diminuição na transferência de calor diminuindo dessa forma a eficiência térmica.
Ainda em El-Said e Abdelaziz (2020) quando os atomizadores operaram com o
timer em 0 minutos (para on e off) houve redução da transferência térmica, devido ao
aumento da névoa. Além disso, a transferência de massa foi reduzida. Ao trabalhar
com o timer 10 minutos a eficiência térmica aumentou cerca de 28% comparada com
a operação contínua; e com o timer em 25 minutos aumentou cerca de 72% em
comparação com a operação de forma contínua. Em relação ao número de
atomizadores os autores encontraram através de testes que o melhor número é de
dois atomizadores; quando os autores utilizaram apenas dois atomizadores foi
observado que a maior eficiência térmica foi atingida (40,5%) havendo redução desta
eficiência com o funcionamento de mais atomizadores; esta queda na eficiência foi
relacionada com a densidade da névoa produzida pelo processo, quanto maior o
número de atomizadores mais difícil se torna o processo de evaporação devido ao
aumento da densidade da névoa.
O melhor desempenho com dois atomizadores, nas condições de 6600 ppm de
salinidade, altura da água do reservatório de 4 cm e com timer de 25 minutos para as
condições de on-off. A condição ótima de salinidade foi de 3200 ppm; quando se
operou nessa salinidade obteve-se uma água de saída de 72 ppm com taxa de
produtividade recuperada de 15,8%; para salinidade de 6600 ppm à água de saída
teve concentração de 80 ppm com taxa de produtividade recuperada de 6,88%. O
custo do processo em 3200 ppm é cerca de 8% menor do que o de 6600 ppm. Ainda
foi realizada uma comparação de custo entre a produção de água usando C-SS e HFU-
SS. O custo para produção utilizando um C-SS varia entre 0,022 US$/L e 0,012 US$/L;
enquanto o custo usando HFU-SS varia entre 0,01915 US$/L e 0,01025 US$/L,
mostrando que o uso de HFU faz com que a produção de água fique entre 12,94% e
14,54% mais barato que utilizando um C-SS.
O processo desenvolvido em Basheer et al. (2019) utiliza o método de extração
direcional de solvente, sendo por isso um processo simples. A água salgada preparada

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(3,5% m/m) foi misturada com ácido octanóico saturado a diferentes temperaturas e
proporções de solventes para testes em dois diferentes períodos de tempo, 45 e 60
min. Após a mistura, formou-se uma emulsão, a qual foi deixada por 50 min em
repouso, para formação duas fases. A fase emulsificada continha água e solvente e a
fase decantada continha salmoura. As referidas fases foram separadas por
decantação. Após essa separação foi realizado o resfriamento até a temperatura
ambiente, obtendo-se emulsão e água levemente salgada separadamente.
Para fazer uma comparação do efeito do ultrassom, o mesmo procedimento foi
realizado novamente, porém desta vez com uso de ultrassom entre a mistura e a
separação das duas fases. O processo de dessalinização realizado por Basheer et al.
(2019) utilizou US com frequência fixada em 45 kHz e colocado com baixa potência
(esta última não especificada pelos autores), para evitar qualquer modificação na
estrutura molecular do solvente. Os autores deste trabalho ressaltaram que o uso do
US mostrou um substancial desempenho em melhorar a capacidade do ácido
octanóico de extrair água dessalinizada da água salgada, chegando a reduzir a
salinidade em 50% (na temperatura de 80°C). Outras melhorias obtidas com o uso do
ultrassom foram: rendimento de água em 47% na temperatura média (60°C);
redução da proporção máxima de solvente; salinidade da água do produto reduzida
para 0,09%; reduzir o resíduo do solvente.
Os resultados da comparação de dessalinização com e sem ultrassom, onde US
representa o uso de ultrassom para diferentes temperaturas. Pode-se observar ainda
que a melhor salinidade foi obtida a 80ºC, este resultado diverge de trabalhas como
El-Said & Abdelaziz (2020) onde a máxima temperatura que o vidro atingiu foi em
torno de 68°C. O resultado em questão mostra que não só o uso do ultrassom melhora
o processo, mas que o melhor desempenho não está associado a um aumento
indefinido de temperatura. No caso em questão esse decaimento da dessalinização ao
chegar a temperaturas de 85°C a 90°C, pode-se atribuir ao fato dessas temperaturas
já estarem próximas da temperatura de ebulição da água (100°C), fenômeno onde as
moléculas da água já se encontram em livre movimentação. Ao chegar próximo de
atingir essa mudança de fase, as moléculas começam a ter uma movimentação mais
livre, diminuindo a quantidade de água em estado líquido sub resfriado no sistema.
Nesta condição, ultrapassa-se o que se pode chamar de temperatura ideal para
irradiação, condição encontrada em Li et al. (2016) e El-Said e Abdelaziz (2020). Os

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referidos autores inferiram que ao ultrapassar esta temperatura a remoção de sais


perde eficácia porque o efeito térmico que afeta os sais passa a afetar exclusivamente
a água, semelhante ao que ocorreu em El-Said e Abdelaziz (2020) onde a amostra
mais concentrada de sais teve resultados menores em temperaturas altas comparada
com água de salinidade menor. Entretanto, este efeito de perda de eficácia pelo US a
temperaturas próximas à temperatura de ebulição da água também pode ser
explicado pela perda de elasticidade do meio (Delalande et al., 2017).
Destaca-se ainda que o aumento de temperatura consequentemente aumenta-se
o gasto de energia, o que como mostrado no caso da dessalinização solar nos casos de
Alhaj e Al Ghamdi (2019), Qin et al. (2019), Sadhwani e De Ilurdoz (2019), Al-
Harahsheh et al. (2018) e Xu et al. (2018) o custo não é viável para o uso do método
em larga escala.
Para a extração a indicação de que o processo ocorre em uma temperatura ideal
fica visivelmente mais evidente, auxiliando nas afirmações feitas anteriormente de
que a temperatura é de suma importância para utilização de tecnologia ultrassônica.
Foi ressaltado pelos autores que mesmo atingindo 0,09% de salinidade a extração
não se encaixa no padrão da OMS que é de 0,05%. Sugere-se aqui uma alteração na
frequência ultrassônica de forma que estabilizada com a temperatura possa se atingir
o que a OMS considera como água potável. É necessário ressaltar que apesar dos
significativos resultados obtidos pelos autores do trabalho, manter o estudo em uma
única frequência foi prejudicial do ponto de vista ultrassônico; variações de
frequência mesmo que chegassem a danificar a estrutura seriam de suma
contribuição para encontrar uma frequência ideal, como feito em Li et al. (2016). A
mesma compreensão tem-se para a potência aplicada no processo que em nenhum
momento foi citada no texto, mas em casos como Li et al. (2016) a variação da
intensidade (parâmetro ligado á potência) foi um fator que influenciou o processo.
Destaca-se que em El-Said e Abdelaziz (2020) também foi definida como parâmetro a
salinidade da água de entrada do sistema de dessalinização.
Em Hosseingholiloua et al. (2019) um sistema de dessalinização por ultrassom
foi proposto e avaliado em termos de salinidade e quantidade de água dessalinizada
produzida, utilizando-se a metodologia da superfície de resposta (RSM). Verificou-se
que a salinidade da água salobra foi o fator que teve o maior impacto no nível de
salinidade da água tratada. O arranjo experimental utilizado munido de um canal de

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ar quente foram confeccionados em vidro e chapa galvanizada, respectivamente.


Consistiu basicamente em um reservatório de alimentação de água salina na entrada,
um tanque de evaporação, um canal de ar quente para controle da temperatura do
sistema de entrada de água salina e um condensador. O arranjo experimental utilizou
transdutores (com frequência de 1,7 MHz), os quais foram colocados no fundo do
reservatório de água salina. O tanque de evaporação possui dois respiradouros para
permitir a entrada de água salina e a remoção de água quente restante após cada
teste. O sistema contém uma entrada de ar quente e duas saídas para permitir a saída
do vapor gerado. Para criar um fluxo de ar quente os autores utilizaram um
ventilador e dois elementos térmicos ao longo do canal de ar quente.
O pré-aquecimento e o controle da temperatura do sistema de Hosseingholiloua
et al. (2019) incluem um termostato, sensores de temperatura e elementos térmicos.
Os autores utilizaram uma parte de formato diagonal dentro do sistema, para facilitar
o movimento do fluxo como resultado da atomização da água por ondas
megassônicas.
Para aumentar a taxa de atomização da água por ultrassom, foi utilizado um
ventilador acima do nível da água, que foi conectado ao sistema através da entrada do
reservatório de água salgada durante o teste. Os sensores de temperatura do arranjo
tinham uma precisão de ±1°C e operaram num intervalo de tempera de -50 até 80°C,
da mesma forma os cristais piezoelétricos trabalharam de 5 até 50°C. Através do
sistema de pré-aquecimento e controle foi atingida a temperatura da água salina
desejada (15-45°C), a água salgada utilizada nos testes tinha salinidade entre 5000 e
15000 ppm. A fim de se obter a faixa de temperatura no tanque de evaporação entre
40 e 80ºC foram utilizados os elementos térmicos no canal de ar quente, sendo o fluxo
de ar quente guiado para reservatório de evaporação.
Foram utilizadas como variáveis independentes: o nível de salinidade da água
de entrada X1 (5000 e 15000 ppm), a temperatura da água salina X2 (15 e 45 °C), a
temperatura do ar quente X3 (40 e 80°C) e a potência ultrassônica dos cristais
piezoelétricos X4 (48 W e 96 W). As variáveis dependentes foram: Y1 - nível de
salinidade da água produzida e Y2 - a quantidade da água dessalinizada. Os resultados
mostram que ao se aumentar a temperatura do ar quente recebido, o nível de
salinidade Y1 diminuiu, e ao se aumentar o poder do ultrassom, a quantidade de água
produzida Y2 aumentou.

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Após a realização dos experimentos os autores encontraram como condições


ótimas de operação: a salinidade da água de entrada de 5000 ppm, água salina de
entrada temperatura de 15°C, temperatura do ar quente de entrada de 75°C e a
potência ultrassônica dos cristais piezoelétricos de 73 W. Nestas condições ótimas a
água produzida teve salinidade de 545 ppm; este valor de salinidade atende as
exigências de Organização Mundial da Saúde (OMS) para água potável. Ainda se fez o
registro da taxa de produção de água, que foi de 200,4 mL/h.
Os cristais piezoelétricos consumiram aproximadamente 16% da energia total
do sistema, o que através das condições ideias de taxa de produção de água (200,737
mL/h) e da salinidade atingida (545 ppm) os autores estimaram que o consumo
anual de eletricidade (adotando a tarifa de eletricidade do Irã de 0,01 US$/kWh) seria
de US$ 39,42/ano (para 365 dias úteis).

CONCLUSÕES

Após a revisão bibliográfica aqui apresentada, levando-se em consideração os


diferentes estudos de caso, espera-se que este trabalho possa contribuir para avanços
do uso individual da tecnologia ultrassônica no desenvolvimento de novos processos
de dessalinização. Ainda sobre a revisão realizada neste trabalho ressaltaram-se as
seguintes observações:
Parâmetros relevantes - Em geral pode-se extrair, dos trabalhos revisados neste
artigo, que as informações sobre a dessalinização por ondas ultrassônicas precisam
ser mais esclarecedoras. Quanto aos parâmetros relevantes existe uma relação entre
temperatura e a taxa de dessalinização que precisa ser mais investigada. Também é
preciso realizar testes com frequência e potência, esta última também variável.
Planejamento dos experimentos - Dos trabalhos apresentados observou-se que
apenas em Hosseingholiloua et al. (2019) foi mostrado um planejamento
experimental, fazendo uma análise de interação entre os fatores. Nos casos de El-Said
e Abdelaziz (2020) e Basheer et al. (2019) foram realizados experimentos com
valores fixos de frequência, potência ou temperatura. Torna-se então necessário que
haja variações de todas as variáveis citadas, de forma que sejam abordados todos os
possíveis efeitos que contribuam para esta área de pesquisa. Não se deve esquecer,
contudo, da necessidade de uma prévia seleção estatística dos dados experimentais,
antes de utilizá-los. Em Hosseingholiloua et al. (2019), apesar dos resultados terem

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sido relevantes, muitas das respostas encontradas podem ser tratadas ainda como em
estágio de sondagem, para posterior aplicação de um novo planejamento e, obtenção
de uma condição de otimização operacional.
Arranjo experimental - Os arranjos apresentados pelos trabalhos analisados nem
sempre comentaram sobre as condições experimentais que poderiam dificultar a
reprodução de novos trabalhos. Seria interessante que detalhes maiores dos arranjos
utilizados fossem relatados como em Hosseingholiloua et al. (2019). A importância do
arranjo experimental também é refletida no custo do processo, visto que uma
recorrente vantagem encontrada na revisão bibliográfica é o baixo custo de operação
ultrassônica, como demonstrado em El-Said e Abdelaziz (2020) e Hosseingholiloua et
al. (2019).
Viabilidade econômica - Os custos com a dessalinização ultrassônica é outro ponto
que necessita ser investigado. Por exemplo, parte da energia utilizada para sonicar a
água perde-se devido à inércia térmica do líquido no acondicionamento da fase
líquida antes da evaporação Hosseingholiloua et al. (2019). Assim, o
reaproveitamento desta energia térmica ou a realização da dessalinização
ultrassônica auxiliada por células fotovoltaicas (El-Said e Abdelaziz, 2020) podem ser
disponibilidades a serem verificadas.

AGRADECIMENTOS
Este estudo foi financiado pelo Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Termoelétrica Termocabo SA,
Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE),
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os autores
agradecem ao Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Católica de
Pernambuco e ao Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), Brasil pela
oportunidade de realização do presente trabalho.

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CAPÍTULO 13
SUGESTÃO DE UM MODELO
PREDITIVO ADEQUADO PARA
TRABALHOS PRELIMINARES
EM DESINFECÇÃO
ULTRASSÔNICA

Manoel P. de Andrade Filho1


Yago Fraga Ferreira Brandão2
Gleice Paula de Araujo3
Leonardo Bandeira dos Santos4
Leonildo Pereira Pedrosa Júnior5
Valdemir Alexandre dos Santos6

1
Doutorando em Biotecnologia da RENORBIO-UFRPE, Recife, PE, e-mail:
manoandrade2005@hotmail.com, ID Lattes: 9307675637592100.
2
Mestrando em Desenvolvimento de Processos Ambientais, Universidade Católica de
Pernambuco (UNICAP), Recife, PE, e-mail: yagoffb9@gmail.com, ID Lattes:
4376835512286424.
3
Bacharel em Engenharia Química, Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
Recife, PE, e-mail: gleeicearaujo@hotmail.com, ID Lattes: 0508679979858591.

4
Doutorando em Biotecnologia da RENORBIO-UFRPE, Recife, PE, e-mail:
Leonardo.bandeira@iati.org.br, ID Lattes: 0751197377184819.
5
Bacharel em Engenharia Química, Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
Recife, PE, e-mail: leopedrosajr2@gmail.com, ID Lattes: 2043338086937927.
6
Professor da UNICAP ICAM-TECH e da RENORBIO-UFRPE, Recife, PE, e-mail:
valdemir.santos@unicap.br, ID Lattes: 6361567059632670.

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SUGESTÃO DE UM MODELO PREDITIVO ADEQUADO PARA TRABALHOS


PRELIMINARES EM DESINFECÇÃO ULTRASSÔNICA

RESUMO
Os modelos preditivos permitem uma previsão do comportamento microbiano e o
que afeta seu crescimento sob diferentes condições ambientais. Ao final desta breve
revisão, sobre os efeitos das ondas ultrassônicas na inativação de microrganismos,
são propostos critérios para a escolha de um modelo preditivo adequado em relação a
diferentes fases das pesquisas nesta área. A utilização de diferentes modelos foi
analisada em alguns trabalhos. A necessidade de adoção de modelos preditivos
terciários para a fase preliminar foi recomendada no início de cada nova pesquisa.
Essa recomendação está relacionada à necessidade de informações importantes,
correlacionando as variáveis independentes entre si e entre elas e a eficiência da
inativação microbiana, como forma de facilitar a interpretação dos mecanismos
envolvidos.
Palavras-chave: Ondas ultrassônicas; Inativação microbiana; Modelos preditivos;
Planejamentos experimentais.

SUGGESTION OF AN SUITABLE PREDICTIVE MODEL FOR PRELIMINARY WORK IN


ULTRASONIC DISINFECTION

ABSTRACT
Predictive models allow a prediction of microbial behavior and what affects its
growth under different environmental conditions. At the end of this brief review, on
the effects of ultrasonic waves on the inactivation of microorganisms, criteria are
proposed for choosing an adequate predictive model in relation to different phases of
research in this area. The use of different models was analyzed in some works. The
need to adopt tertiary predictive models for the preliminary phase was
recommended at the beginning of each new survey. This recommendation is related
to the need for important information, correlating the independent variables with
each other and between them and the efficiency of microbial inactivation, as a way to
facilitate the interpretation of the mechanisms involved.
Key-words: Ultrasonic waves; Microbial inactivation; Predictive models;
Experimental designs.

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INTRODUÇÃO

A qualidade bacteriológica mais utilizada para a avaliação das condições


sanitárias da água é a presença de bactérias do grupo coliforme (coliformes totais,
Escherichia coli e Bactérias Heterotróficas). Tais bactérias estão presentes no trato
intestinal humano sendo eliminadas pelas fezes, indicando alta probabilidade da
presença de outros organismos patogênicos (Al-Gheethi et al., 2014). As estações de
tratamento de esgoto são dimensionadas prioritariamente para a remoção de
material orgânico (DBO e DQO). Com raras exceções, o tratamento biológico
secundário não consegue eliminar de maneira eficiente microrganismos indicadores e
patogênicos e, portanto, necessitam de unidades específicas para a desinfecção, a qual
se torna uma barreira imprescindível para uma considerável diminuição de riscos à
saúde pública (Zotesso et al., 2017). Dessa forma, os atuais métodos de eliminação de
bactérias da água a ser reutilizada pela unidade de processamento, encontra-se sob a
ação direta de cloro, a aplicação de ozônio e processos oxidativos avançados (Souza et
al., 2019).

A tecnologia do uso de ultrassom (US) tem demonstrado uma boa eficácia no


tratamento de águas residuais, através de possível letalidade microbiana do meio
sonicado. Essa técnica tem assumido um papel proeminente entre os tratamentos de
natureza física e, principalmente, devido à facilidade de operação, flexibilidade e
capacidade de variar as intensidades necessárias das condições de cavitação
(Hawrylik, 2019). Ainda segundo o referido autor, a aplicação de ultrassom tem
como uma de suas principais vantagens, evitar o uso de produtos químicos. Estas
substâncias promovem alta letalidade dos microrganismos, mas podem ser
prejudiciais à saúde dos ecossistemas.

As diferentes formas de medir a efetividade das taxas de letalidade dão origem


aos modelos preditivos, para os quais chama-se a atenção. Quando se conhece as
contribuições individuais e interativas das diferentes variáveis independentes, a
modelagem preditiva pode ser praticada sem grandes preocupações (Gil et al., 2017).
No caso em que a pesquisa se encontre em fase preliminar de estudos, cada modelo
preditivo deve ser cuidadosamente analisado e respaldado no grau de conhecimento
do analista. Dessa forma, deve-se chamar a atenção, tanto para as condições
ambientais, quanto para as condições de sonicação, para que a taxa de inativação

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microbiana tenha uma maior compreensão junto aos pesquisadores responsáveis por
desenvolvimento de novos trabalhos.

REVISÃO DA LITERAUTURA

Cavitação ultrassônica

Quando um efluente se encontra sob um campo ultrassônico, microbolhas formadas


por meio de grandes oscilações de pressão (500 a 10000 atm) implodem, dando
origem a altas temperaturas (3000 a 5000 K) no interior dessas microbolhas,
associando tais condições à produção de espécies ativas como radicais livres. Estudos
têm comprovado que os mecanismos de inativação de microrganismos por ultrassom
derivam desses efeitos ultrassônicos, denominados de cavitação acústica e de suas
consequências como forças de cisalhamento e microjatos, levando à ruptura completa
da membrana de encapsulamento celular (Li et al., 2016). A sonicação, denominação
dada à junção desses efeitos, pode também destruir aglomerados de microrganismos
e flocos em efluentes. Contudo, Alliger (1975) recomenda que para o caso de
inativação microbiana a frequência ultrassônica usada deve estar a uma frequência
abaixo de 2,5 MHz, pois a cavitação não ocorrerá acima deste nível.

Modelos Preditivos

Os modelos preditivos têm papel importante no controle dos processos de


inativação microbiana, sendo por isso uma ferramenta imprescindível no emprego de
técnicas existentes e no desenvolvimento de novos trabalhos (Amim et al., 2013).
Segundo ainda os referidos autores a variabilidade de respostas dos microrganismos,
frente a diferentes condições impostas pela técnica de desinfecção, justifica a
necessidade da seleção de modelos adequados para uma interpretação precisa na
validação dos resultados obtidos.

A classificação de modelos preditivos em primários, secundários e terciários


foi proposta por Whiting e Buchanan (1993). Os modelos primários consideram
apenas a variação da concentração celular no tempo. Tais modelos não levam em
consideração variáveis do meio como pH, temperatura, estágio de crescimento

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microbiano, entre outras. Os trabalhos que se fundamentam nesses modelos


apresentam curvas de letalidade dos microrganismos. Nos modelos preditivos
secundários as variações de fatores ambientais são consideradas. Neste caso
encontram-se os modelos polinomiais dos efeitos causados por condições ambientais
sobre o crescimento ou letalidades de microrganismos. Dessa forma, a partir de
velocidades de crescimento de modelos primários, pode-se determinar por regressão,
os coeficientes do modelo secundário (Stavropoulou e Bezirtzoglou, 2019). Os
modelos considerados terciários referem-se a softwares e permitem uma análise das
respostas de diversos microrganismos. Segundo ainda Stavropoulou e Bezirtzoglou
(2019), a tendência dos últimos anos tem sido o uso desses softwares em ambiente
on-line operados a partir de um navegador de internet, flexibilizando o seu uso.

Um modelo cinético de primeira ordem, empregado normalmente como


modelo preditivo de primeira ordem, descreve a cinética de inativação térmica de
microrganismos, principalmente bactérias, a qual pôde ser modelada assumindo um
decaimento de primeira ordem (Drakopoulou, 2009):

(1)

Em que N é a concentração de células viáveis, t é o tempo de aplicação da


técnica de inativação e kD é a constante de velocidade de inativação microbiana.

Experimentos sobre a influência da pressão, temperatura e ondas ultrassônica


na inativação de Yersinia entercolitica, realizados por Raso et al. (1998), geraram
uma equação para prever valores de D ao usar manotermosonicação (efeitos da
pressão, temperatura e frequência ultrassônica). Supondo que o calor e as ondas de
US afetam o meio, independentemente umas das outras, o valor de D da
manotermosonicação pôde ser estimado com um modelo secundário usando a
seguinte equação:

(2)

Em que DMTS é o tempo de redução decimal de manotermosonicação (min), DT é a


redução decimal de tratamento térmico (min) e DMS é o tempo decimal de redução do
tratamento manosônico (min).
A avaliação dos efeitos do US de alta intensidade em a inativação de micróbios
no leite e no suco de laranja usando Metodologia de Superfície de Resposta (SRM) foi

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realizada por Ganesan et al. (2015). Para adoção deste modelo preditivo terciário
foram utilizadas três variáveis independentes: 1 = tempo (intervalo de 0,17 a 5
min), 2 = temperatura (faixa de 10 a 84°C) e 3 = amplitude de sonicação (variação
de 0 a 216 m). A variável de resposta foi a redução log10 ( 1) de micróbios em
comparação com controles não sonicados. O polinômio de segunda ordem gerado
como modelo usado na análise da superfície de resposta foi do tipo:

Y β β β β (3)

Em que 0, , e são os coeficientes de regressão para termos de


interceptação, linear, quadrática e de interação e e são as variáveis
independentes. A validade do modelo polinomial foi testada com análise de variância
(ANOVA). Os significados de todos os termos no polinômio foram julgados
estatisticamente por cálculo o valor em = 0,05. O significado de falta de ajuste,
bem como 2e ajustado foram avaliados para a precisão do modelo.

Uso de modelos preditivos

Drakopoulou et al. (2009) estudaram o efeito do ultrassom na desinfecção de


bactérias gram-negativas e gram-positivas, na presença e ausência de partículas
sólidas de dióxido de titânio. Para US de alta energia (5400 W/L) de 24 kHz a taxa de
desativação média de bactérias gram-negativas, tais como coliformes totais,
coliformes fecais e Pseudomonas spp. foi de 99,5%, 99,2% e 99,7%, respectivamente.
Contudo, as bactérias gram-positivas Clostridium perfringens e Streptococci fecal
apresentaram-se resistentes à desativação com remoção média de 66% e 84%. Além
da adoção de um modelo primário, a análise estatística aplicada aos dados
experimentais demonstrou uma grande preocupação dos autores em validar os dados
preliminares para posterior aplicação, embora não se tenha discutido importantes
conceitos sobre a forma de cálculo das incertezas dos mesmos.
A irradiação ultrassônica de suspensões bacterianas, em presença do t-butanol
como eliminador de radicais livres, foi realizada por Koda et al. (2009) para
investigar o efeito desses radicais na inativação de microrganismos. Os experimentos
foram realizados com auxílio de duas frequências individuais, de 20 e de 500 kHz,
empregando dois tipos de reatores. A frequência de 20 kHz foi utilizada como

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referência. US a 500 kHz foi utilizado para inativação dos microrganismos Escherichia
coli e Streptococcus mutans em função do empo de sonicação e da potência fornecida.
Na sonicação com 500 kHz foi usado um reator sonoquímico do tipo HSR-01 (Honda
Electronic Co. Ltd.). O diâmetro e a altura da célula de vidro de irradiação foram 43 e
112 mm, respectivamente. Para sonicação com 20 kHz foi usado um Sonifier 450D
(Branson Ultrasonics Co.). Neste caso uma célula de vidro de parede dupla com 55
mm de diâmetro interno e 80 mm de altura, com volume de 50 cm3. Para evitar uma
desinfecção térmica simultânea, a temperatura foi regulada para 10 °C. A sonicação
de suspensões bacterianas foi realizada em quatro potências ultrassônicas diferentes,
variando de cerca de 1 e 14 W. A adoção de um modelo preditivo pseudo primário
mostrou que o logaritmo da taxa de sobrevivência diminuiu linearmente com o tempo
de irradiação, exceto para E. coli, na faixa em faixa de mais alto nível de potência. Foi
observado que as constantes de velocidade aumentam com a potência ultrassônica
fornecida à solução e diminuem drasticamente com o aumento da concentração de t-
butanol como eliminador de radicais livres na suspensão bacteriana.
Para avaliar os potenciais científico e econômico e otimizar a desinfecção de
águas residuárias (E. coli e Streptococci fecal), Blume e Neis (2004) aplicaram uma
combinação de US com UV na etapa de um pré-tratamento. A aplicação de ultrassom
por 20 s em baixa densidade de 30 W/L reduziu a distribuição do tamanho de
partícula das amostras, variando o diâmetro médio das partículas de 70 para 11 mm.
O reator de ultrassom foi um '' Branson Sonifier W-450 '', um sonotrodo de chifres
equipado com uma ponta do chifre de 1,3 cm de diâmetro que é operada a 20 kHz.
Pela aplicação de um modelo secundário, como variáveis independentes destacam-se
a energia elétrica utilizada, na faixa de 41-154 W, a intensidades ultrassônica de 1,7 a
60,8 W/cm2, e densidades de 10 a 400 W/L. Como fonte de UV uma lâmpada de arco
de mercúrio de baixa pressão (fabricante: ‘‘Pureflow Ultraviolet Inc.’’, de
comprimento nominal: 20 cm, diâmetro: 1,3 cm) foi instalada no interior de uma
câmara flutuante tubular (volume: 300 mL). Uma fina camada circundante de quartzo
protegeu o vidro da lâmpada da amostra que fluía paralelamente à orientação da
lâmpada. O consumo de energia foi de 14 W, dos quais 3 W são emitidos a 254 nm (37
mW/cm2 @ 1 m), o comprimento de onda relevante para a inativação de bactérias.
Ganesan et al. (2015) investigaram os efeitos do ultrassom de alta intensidade
na inativação de bactérias selvagens no leite pasteurizado (esporos de Bacillus

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atrophaeus inoculados em leite estéril e Saccharomyces cerevisiae inoculados em


suco de laranja estéril). Utilizando um modelo preditivo secundário, os autores
aplicaram um planejamento experimental para correlacionar as variáveis
independentes: temperatura de sonicação (faixa de 0 a 84°C), amplitude (intervalo de
0 a 216 m) e tempo (intervalo de 0,17 a 5 min). Como variável resposta foi
monitorada a redução logarítmica de microrganismos. A Otimização da inativação de
microrganismos foi encontrada em 84,8°C, amplitude de 216 m e tempo de 5,8 min.
Os autores não se reportaram a estudos anteriores para definição dos fatores
utilizados na definição de condições operacionais otimizadas do processo.
Para identificar o processo ideal de desinfecção de água que possa satisfazer o
padrão nacional de qualidade de água potável nos EUA, um novo sistema piloto de
fluxo contínuo, foi proposto por por Zou e Tang (2019). O referido sistema combina
os efeitos de cloração e de ultrassom. Escherichia coli (E. coli), Bacillus subtilis (B.
subtilis) e Staphylococcus aureus (S. aureus) foram os microrganismos selecionados
como indicadores dos efeitos de desinfecção neste sistema de tratamento. Os
próprios autores projetaram e construíram o sistema de US-clorinação em aço
inoxidável com componentes interligados por tubos. Diferentes processos de
desinfecção podem ser selecionados por meio de válvulas, incluindo tratamento de US
isolado, desinfecção com cloro isolada, ou uma combinação de US e cloro. Cada reator
ultrassônico foi equipado com transdutores ultrassônicos de duas frequências
diferentes (reator I: 17 e 33 kHz, reator II: 70 e 100 kHz). Cada grupo de transdutores
ultrassônicos montados na parede do reator de reação é controlado
independentemente por chaves elétricas de acionamento. Assim, o reator
ultrassônico poderia funcionar em frequências simples ou duplas. A potência de
entrada dos transdutores ultrassônicos foi ajustável na faixa de 0 a 350 W. Os
resultados, analisados por meio de um modelo secundário, mostraram que a radiação
de US de dupla frequência teve melhores efeitos de inativação em comparação com a
US de frequência única, embora não tenha conseguido atingir um nível de desinfecção
ideal (desinfecção completa). Além disso, o pré-tratamento de US de dupla frequência
de 17 + 33 kHz teve um aumento óbvio da eficiência de desinfecção, com reduções
logarítmicas de 3,85 (E. coli), 3,65 (S. aureus) e 3,52 (B. subtilis), quando 8 mg/L de
NaClO foi usada por 10 minutos. Todas as três bactérias alcançaram uma redução de
4 log após 30 minutos. A água tratada atendeu ao padrão nacional chinês para a

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qualidade de água potável, em que a concentração de cloro residual era inferior a 4


mg/L.
A ausência de coliformes fecais em águas residuais tratadas é um indicador de
segurança para uso em atividades como áreas verdes de irrigação. Com base nessa
premissa coliformes totais e fecais foram usados como indicadores padrão por
Amabilis-Sosa et al. (2018), visando a redução do estresse hídrico, com o reuso de
águas residuárias municipais recuperadas por tratamento utilizando US na inativação
dessas bacterianas. Os testes de inativação foram realizados em culturas puras de
Escherichia coli (EC) ATCC 11229 e Bacillus subtilis (BS) ATCC 6633. Durante a
experimentação, amplitude (35%) e frequência (20 kHz) foram mantidas constantes.
Assim, o tratamento estatístico foi baseado em dois fatores: (1) O tipo de
microrganismo foi avaliado com dois níveis de EC e BS; (2) O tempo de sonicação foi
avaliado com quatro níveis de 15, 30, 45 e 60 min. Na adoção de um modelo terciário
todas as combinações foram realizadas em triplicata com monitoramento de
temperatura. Dessa forma, durante os experimentos a amplitude e a frequência foram
mantidas constantes. Assim, os experimentos foram baseados em dois fatores: (1) O
tipo de microrganismo, avaliado com dois níveis – EC e BS; (2) O tempo de sonicação
foi avaliado com quatro níveis de 15, 30, 45 e 60 min. A inativação total de bactérias
coliformes fecais foi obtida pela combinação de 30 min de sonicação, frequência de 20
kHz e amplitude de 35%.

CONCLUSÕES

Em geral a taxa de inativação de microrganismos por ondas ultrassônicas


depende da duração da sonicação, do nível de energia ultrassônica, frequência, das
propriedades dos microrganismos, incluindo o tamanho e a forma da célula, estágio
de desenvolvimento e espécies. Dessa forma, faz-se necessário que a adoção de um
modelo preditivo seja acompanhada de informações sobre o estágio atualizado da
pesquisa, com citações de trabalhos anteriores, onde se possa justificar a ausência de
dados sobre todas as variáveis envolvidas.

A análise dos dados coletados neste trabalho de revisão permitiu observar que
na maioria das vezes, quando se adota modelos primários ou secundários, se não
houver prévio conhecimento de interrelações entre as variáveis independentes e as

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correlações destas últimas com a eficiência de inativação, tanto as informações


prestadas pela pesquisa quanto aquelas necessárias à comparação dos referidos
resultados ficariam prejudicadas. O uso de ferramentas da estatística multivariada
como a análise de componentes principais (Arhouma et al., 2016) também pode ser
pode ser utilizado para o estabelecimento de parâmetros relevantes e suas
respectivas contribuições para a variabilidade do fenômeno de inativação microbiana.

A aplicação da metodologia de superfície de resposta (RSM) é uma ferramenta


recomendada para elaboração de um bom um modelo terciário. Este tipo de
ferramenta estatística leva às seguintes etapas de trabalho) (da Silva et al., 2019;
Cervantes-Elizarrará et al., 2017): (i) Busca por seleção das variáveis mais relevantes,
ou com consequente redução do número de variáveis (screening); (ii) Planejamento
que leva às proximidades de condições otimizadas (Planejamento fatorial Completo);
(iii) Condições operacionais para se chegar a uma inativação otimizada
(Delineamento Composto Central Rotacional – DCCR.

AGRADECIMENTOS

Este estudo foi financiado pelo Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da


Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Termoelétrica Termocabo SA,
Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE),
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os autores
agradecem ao Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Católica de
Pernambuco e ao Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), Brasil.

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CAPÍTULO 14
TUBO DE VÓRTICE DE
RANQUE-HILSCH:
ANÁLISE DE SUA EVOLUÇÃO
HISTÓRIA E DE MODELOS
NUMÉRICOS RECENTES

Danillo Lanzieri Modesto1


Joseph Youssif Saab Junior2
Efraim Cekinski3

1
Mestrando Profissional em Processos Industriais, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo (IPT), São Paulo, SP, email: danillomodesto@yahoo.com.br, ID
Lattes: 8110022434141700.
2
Professor do Departamento de Engenharia Mecânica, Instituto Mauá de Tecnologia
(IMT), São Caetano do Sul, SP, email: saab@maua.br, ID Lattes: 3452036309991787.
3
Professor do Mestrado Profissional de Processos Industriais, Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), São Paulo, SP e Professor do Departamento
de Engenharia Química, Instituo Mauá de Tecnologia (IMT), São Caetano do Sul, SP,
email: cekinski@gmail.com, ID Lattes: 0337742870204492.

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ISBN: 978-65-594-1262-4

TUBO DE VÓRTICE DE RANQUE-HILSCH: ANÁLISE DE SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA E


DE MODELOS NUMÉRICOS RECENTES

RESUMO
A presente pesquisa tem o intuito de apresentar a geometria e parâmetros
operacionais do tubo de vórtice de Ranque-Hilsch, além dos modelos numéricos
utilizados e investigações ao longo de sua história. Com isto, foi possível conhecer o
estado da arte do RHVT, os modelos numéricos aplicados recentemente para o seu
estudo e concluir que pouco tem evoluído em seu conceito físico, desde a sua
invenção, em 1934, por Georges Joseph Ranque.
Palavras-chave: tubo de vórtice. tubo de vórtice de Ranque-Hilsch. TVRH.

RANQUE-HILSCH VORTEX TUBE: ANALYSIS OF ITS HISTORICAL EVOLUTION AND


RECENT NUMERICAL MODELS

ABSTRACT
This research aims to present the geometry and operational parameters of the
Ranque-Hilsch vortex tube, in addition to the numerical models used and
investigations throughout its history. Therefore, it was possible to know the state-of-
the-art of the RHVT, the numerical models applied recently for its study and conclude
that little has evolved in its physical concept, since its invention, in 1934, by Georges
Joseph Ranque.
Key-words: vortex tube. Ranque-Hilsch vortex tube. RHVT.

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INTRODUÇÃO
De acordo com Modesto e Cekinski (2021), cada vez mais estudos buscam a
otimização no desempenho e recuperação energética em todas as escalas, seja em
máquinas, equipamentos, residências, plantas industriais, veículos automotores,
dentre outros. Em um âmbito mais social, a eficiência energética pode ser um meio
fundamental para alcançar a sustentabilidade.
Este não é um cenário recente, mesmo que essas mudanças tenham sido mais
intensas e rápidas nos dias atuais com o uso mais frequente de computadores e
automatização de sistemas, recursos estes que ainda consomem energia. O desafio
tem sido justamente em aumentar o desempenho destes sistemas de modo a
consumir o mínimo de energia possível (Modesto e Cekinski, 2021).
Neste contexto, para Modesto e Cekinski (2021), existe um dispositivo chamado
RHVT (Ranque-Hilsch Vortex Tube, em inglês), também conhecido como tubo de
Ranque-Hilsch ou simplesmente tubo de vórtice, que tem sido objeto de estudo por
oferecer uma alternativa aos meios atuais de obtenção de uma corrente de ar fria e
quente a partir de um mecanismo tecnicamente simples. A Figura 1, adaptada de
Aljuwayhel, et al. (2005), apresenta o funcionamento e as partes que compõem um
tubo de vórtice de contrafluxo, que é o modelo mais comumente encontrado.

Figura 1: Funcionamento e composição de um tubo de vórtice de contrafluxo.

De acordo com Dörr (2017), durante muitos anos o tubo de vórtice se mantém
como objeto de pesquisa para diversos profissionais de áreas em que há interesse em
obter uma maneira de separação de temperaturas, sem haver a necessidade de
nenhum componente móvel em sua construção e sem nenhum tipo de reação química
no seu interior. Desde a sua invenção por Georges Joseph Ranque, em 1934, a
geometria do RHVT sofreu poucas alterações e também poucas variações nos
resultados até então registrados.

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A Tabela 1, que foi elaborada por Bazgir et al. (2019) e complementada pelos
autores do presente artigo, apresenta uma visão geral da literatura sobre os estudos
em RHVT.

Tabela 1. Visão geral da literatura sobre os estudos em RHVT. (continua)


Autor Ano Pesquisa
Ranque 1933 Primeira separação de temperatura em tubo de vórtice
Primeiro estudo detalhado dos parâmetros de separação de temperatura em
Hilsch 1946
RHVT
Knoernschild 1948 Explicação do efeito Ranque-Hilsch
Elser e Hoch 1951 Separação dos gases em tubo de vórtice
Deissler e Perlmutter 1960 Análise da separação de energia
Reynolds 1961 Mecanismo da separação de energia
Erdelyi 1962 Explicação do efeito Ranque-Hilsch
Sibulkin 1962 Fluxo circular instável, viscoso
Gulyaev 1965 Efeito Ranque-Hilsch em baixas temperaturas
Bruun 1969 Separação experimental de energia em tubo de vórtice
Linderstrom-Lang 1971 Cálculos 3D de velocidade e temperatura em tubo de vórtice
Takahama e Yokosawa 1981 Separação de energia divergente em tubo de vórtice
Kurosaka 1982 Corrente acústica em fluxo turbulento
Stephan et al. 1983 Investigação experimental de separação de energia
Stephan et al. 1984 Formulação matemática da separação de energia
Eckert 1986 Separação de energia em tubo de vórtice
Balmer 1988 Efeito de Ranque-Hilsch em líquidos
Ahlborn et al. 1994 Limites de separação de energia
Ahlborn e Groves 1997 Fluxo secundário em tubo de vórtice
Gutsol 1997 Revisão do efeito de Ranque-Hilsch
Gutsol e Bakken 1998 Explicação do efeito Ranque-Hilsch
Fröhlingsdorf et al. 1999 Análise CFD do tubo de vórtice (padrão k-ε)
Mischner e Bespalov 2002 Produção de entropia em tubo de Ranquel-Hilsch
Shannak 2004 Separação de temperatura em tubo de vórtice
Aljuwayhel et al. 2005 Estudo numérico do tubo de vórtice (RNG k-ε, padrão k-ε)
Behera et al. 2005 Estudo numérico de RHVT (RNG k-ε)
Gao et al. 2005 Estudo experimental de RHVT
Piralishvili e Fuzeeva 2005 Estudo analítico e experimental de RHVT
Piralishvili e Fuzeeva 2006 Critérios para separação de energia
Sky et al. 2006 Estudo numérico do tubo de vórtice (RNG k-ε, padrão k-ε)
Sohn et al. 2006 Estudo experimental e numérico do tubo de vórtice
Eiamsa-ard e
2006 Estudo numérico do tubo de vórtice
Promvonge
Eiamsa-ard e
2007 Estudo numérico de RHVT
Promvonge
Eiamsa-ard e
2008 Revisão do RHVT
Promvonge
Dincer et al. 2008 Estudo experimental de RHVT
Behera et al. 2008 Estudo numérico de RHVT (RNG k-ε)
Xue e Arjomandi 2008 Efeito do ângulo de vórtice no RHVT
Yilmaz et al. 2009 Revisão sobre os critérios de projeto para tubo de vórtice
Secchiaroli et al. 2009 Estudo numérico de RHVT (RANS e LES)
Zin et al. 2010 Estudo numérico de tubo de vórtice (RNG k-ε)
Xue et al. 2010 Revisão da separação de temperatura
Xue et al. 2013 Estudo experimental de separação de temperatura
Rafiee e Rahimi 2013 Estudo experimental e 3D do RHVT, validação e optimização em CFD
Liu et al. 2014 Estudo numérico de tubo de vórtice (k-ε)
Xue et al. 2014 Análise de energia em tubo de vórtice
Derivação analítica do efeito de Ranque-Hilsch a partir das equações de
Kobiela 2014
conservação
*Rafiee e Sadeghiazad 2014 Análise de exergia 3D do desempenho de um RHVT
*Thakare e Parekh 2014 Análise CFD da separação de energia do RHVT com diferentes gases
*Bej e Sinhamahapatra 2014 Estudo CFD sobre os efeitos do número de bocais em um RHVT
*Bej e Sinhamahapatra 2015 Estudo CFD sobre os efeitos do cisalhamento viscoso em um RHVT

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Tabela 1: Visão geral da literatura sobre os estudos em RHVT. (conclusão)


Autor Ano Pesquisa
Estudo CFD dos efeitos da pressão de entrada na separação de energia em um
*Pourmahmoud et al. 2015
RHVT
*Pourmahmoud et al. 2015 Análise CFD do efeito do comprimento do RHVT como um critério de projeto
*Pourmahmoud et al. 2015 Estudo paramétrico CFD sobre o desempenho de um RHVT
*Dhillon e
2015 Análise CFD de tubo de vórtice
Bandyopadhyay
*Abdelghany e Kandil 2015 Análise numérica e modelagem 3D de RHVT
Revisão de estudos experimentais, numéricos e de otimização de tubo de
Thakare et al. 2015
vórtice
Manimaran 2016 Análise computacional da separação de energia
*Rafiee e Sadeghiazad 2016 Simulação 3D baseado em modelo experimental
*Rafiee e Sadeghiazad 2016 Análise 3D para otimização do ângulo de aceleração para um RHVT
*Rafiee e Sadeghiazad 2016 Análise experimental e 3D utilizando diferentes formatos de válvula “hot-end”
*Thakare e Parekh 2017 Análise computacional e experimental em RHVT
*Rafiee e Sadeghiazad 2017 Estudo CFD e experimentais comparativos entre RHVTs
*Rafiee e Sadeghiazad 2017 Estudo experimental e CFD usando diferentes formas de válvulas “hot-end”
Estudo experimental e CFD na otimização de parâmetros geométricos do
*Rafiee e Sadeghiazad 2017
RHVT
*Rafiee e Sadeghiazad 2018 Estudo experimental e CFD de RHVT de circuito duplo
*Chýlek et al. 2018 Comparação experimental e CFD de RHVT
*Manickam e
2019 Análise de CFD em RHVT com diferentes diâmetros de orifício frio
Prabakaran
*Aghagoli e Sorin 2019 Desempenho termodinâmico de um RHVT
*Bazgir et al. 2019 Análise numérica de tubo de vórtice (RNG k-ε)
* incluído pelos autores.

Nota-se que alguns fabricantes dispõem no mercado modelos variados para


atender diversas aplicações. É possível destacar o seu uso em situações como o
resfriamento de um indivíduo que utiliza macacão como Equipamento de Proteção
Individual que está submetido a um ambiente severamente quente, resfriamento de
equipamentos eletrônicos, gabinetes elétricos, resfriamento de peças que saem de
fornos e injetoras, peças soldadas, resfriamento de amostras de laboratório, entre
outras aplicações (Nex Flow Air Products Corporation, 2021).
São poucos os autores que desenvolveram suas pesquisas em um destes
modelos, mas entre os mais precedentes trabalhos está o de Skye et al. (2006), que foi
utilizado como referência para tantos outros, como os de Rafiee e Sadeghiazad
(2014), Abdelghany e Kandil (2015) e Qyyum et al. (2019), em que comparam seus
resultados com uma versão de RHVT comercial e observaram que os dados obtidos
entre a fluidodinâmica computacional e o modelo comercial estudado são bem
próximos. A Tabela 2 apresenta os modelos numéricos estudados ao longo dos anos
para compreender os fenômenos do tubo de vórtice, essa tabela foi compilada a partir
das contribuições de Eiamsa-ard e Promvonge (2008) e Thakare e Parekh (2015),
com contribuição dos autores deste artigo, até o ano de 2019. As avaliações para os
resultados comparados com as medições foram ponderadas de acordo com as
conclusões dos autores de suas respectivas pesquisas.

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Tabela 2: Estudos numéricos com validações experimentais em RHVT. (continua)


Fluido Método ou software Resultados comparado
Autor Modelo
considerado utilizado com as medições
Incompressív
Linderstrom-Lang (1971) Equação zero Função de fluxo Ruim, mas tendencioso
el
Equação zero ou
2D Tendência ruim, mas
Schlenz (1982) comprimento de Técnica de Galerkin
compressível qualitativa
mistura
Justa, mas suposições
Amitani et al. (1983) 2D compres. negligenciada Diferença finita
em dúvida
Campo de
velocidade induzido Qualitativamente de
Borissov et al. (1993) Incompres. -
por vórtice acordo
helicoidal
Guston e Bakken (1999) 2D compres. k–ε Fluent Razoavelmente bom
Frohlingsdorf e Unger
2D compres. k–ε CFX Razoavelmente bom
(1999)
Promvonge (1999) 2D compres. ASM e k – ε Volume finito Bom
Frohlingsdorf e Unger
2D k–ε CFX Bom
(1999)
Behera et al. (2005) 3D compres. k – ε e RNG k – ε Star-CD Razoavelmente bom
Aljuwayhel et al. (2005) 2D compres. k – ε e RNG k – ε Fluent Razoavelmente bom
k–ε e
Skye et al. (2006) 2D compres. Fluent Razoavelmente bom
RNG k – ε
Eiamsa-ard e Promvonge
2D compres. ASM e k – ε Volume finito Bom
(2006)
Qualitativamente de
*Sohn et al. (2006) 3D compres. k–ε CFD-ACE
acordo
Farouk e Farouk (2007) 2D LES CFD-ACE Muito bom
Behera et al. (2008) 3D RNG k – ε Star-CD Bom
Farouk et al (2009) 2D LES CFD-ACE Razoavelmente bom
*Secchiaroli et al (2009) 2D compres. RNG k – ε e LES Fluent Bom
Shamsoddini e Nehzad
3D RNG k – ε Fluent Bom
(2010)
Qualitativamente de
*Zin et al. (2010) 3D k–ε Fluent
acordo
k – ε, k – ω,
Baghdad et al. (2011) 3D Fluent Muito bom
SST k – ω e RSM
Pourmahmoud et al. (2012) 3D k–ε Fluent Muito bom
Spalart-
Khazaei et al. (2012) 2D Allmarasmodel,Standa Fluent Bom
rd k–ε model, RSM
Ouadha et al. (2013) 3D RSM Fluent Bom
*Liu et al. (2014) 3D compres. k – ε Realizável Fluent Bom
*Rafiee e Sadeghiazad
3D compres. k–εek–ω Fluent Bom
(2014)
*Thakare e Parekh (2014) 2D compres. k–εek–ω Fluent Bom
*Pourmahmoud et al.
2D compres. k–ε Fluent Bom
(2015)
*Pourmahmoud et al.
3D compres. k–ε Fluent Bom
(2015)
*Dhillon e Bandyopadhyay
3D compres. k–ε Fluent Razoável
(2015)
2D compres. 2D Bom e 3D
*Abdelghany e Kandil
e k–ε Fluent qualitativamente de
(2015)
3D compres. acordo
2D compres e
*Thakare et al. (2015) k – ε e RNG k – ε CFX Bom
3D compres.
*Rafiee e Sadeghiazad
3D compres. k–ε Fluent Bom
(2016)
*Rafiee e Sadeghiazad
3D compres. k–ε Fluent Bom
(2016)
*Rafiee e Sadeghiazad
3D compres. RSM Fluent Bom
(2016)

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Tabela 2: Estudos numéricos com validações experimentais em RHVT. (conclusão)


Fluido Método ou software Resultados comparado
Autor Modelo
considerado utilizado com as medições

*Rafiee e Sadeghiazad 3D compres. RSM Fluent Bom


(2016)
*Rafiee e Sadeghiazad
3D k–ε Fluent Bom
(2017)
*Rafiee e Sadeghiazad
3D compres. RSM Fluent Bom
(2017)
*Thakare e Parekh (2017) 2D compres. k–ε Fluent Bom
k – ε, k – ε Realizável, k
*Chýlek et al. (2018) 3D compres. Star-CCM+ Bom
– ω, SST k – ω e RSM
*Manickam e Prabakaran Fluent
3D compres. k–ε Bom
(2019)
*Aghagoli e Sorin (2019) 3D compres. k–ε Fluent Bom
*Bazgir et al. (2019) 3D compres. RNG k – ε Fluent Bom
* incluído pelos autores.

Para Modesto e Cekinski (2021), os autores e/ou coautores que mais


publicaram assuntos com os termos associados à “vortex tube” e “CFD” são
apresentados na Tabela 3, por ordem de citações. A relação entre quantidade de
citações e as publicações dos principais autores e coautores, sem distinção, que mais
contribuíram na principal base de periódicos que detém os termos “ vortex tube” e
“CFD” (Modesto e Cekinski, 2021).

Tabela 3: Frequência de autores nas dez publicações mais citadas e quantidade de


publicações.
Autor / Coautor Quant. de citações Publicações Autor / Coautor Quant. de citações Publicações
Nellis, G.F. 334 2 Ram, S.N. 147 1
Klein, S.A. 334 2 Dinesh, K. 147 1
Aljuwayhel, N.F. 183 1 Jacob, S. 147 1
Rafiee, S.E. 176 10 Sadeghiazad, M.M. 129 9
Skye, H.M. 151 1 Rahimi, M. 47 1
Behera, U. 147 1 Thakare, H.R. 42 2
Paul, P.J. 147 1 Parekh, A.D. 42 2
Kasthurirengan, S. 147 1 Pourmahmoud, N. 14 3

O volume de produção científica entre 2000 e 2020 (que compreendeu o


período de 01 de janeiro de 2000 a 05 de junho de 2020) dentro do tópico de
engenharia na base de periódicos que detém a maior coleção a respeito do assunto
acerca do tubo de vórtice de Ranque-Hilsch simulado por meio da fluidodinâmica
computacional, tem um total de 27 trabalhos divulgados, o que representa em torno
de 1,35 publicações por ano e que ainda evidencia uma diminuição na quantidade de
publicações desde 2016 (Modesto e Cekinski, 2021).

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Ainda de acordo com Modesto e Cekinski (2021), fica evidente a concentração


da maior parte do assunto pesquisado em poucos periódicos e é percebido que o
número de publicações vem diminuindo nos últimos quatro anos, o que pode
representar um desinteresse ao assunto ou uma limitação da atual tecnologia.
Portanto, ainda que se observa um universo promissor em melhorar ainda mais
o desempenho do tubo de vórtice, o propósito deste trabalho é apresentar o estado da
arte deste dispositivo e os modelos numéricos utilizados no estudo do fenômeno do
tubo de vórtice, de modo a estimular e contribuir como ponto de partida para futuras
pesquisas.

METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão em bibliografias na base de coleção utilizada por
Modesto e Cekinski (2021), que abordassem os termos de tubo de vórtice, tubo de
Ranque-Hilsch, vortex tube, Ranque-Hilsch vortex tube e RHVT. Desta forma, foi
possível apurar as pesquisas acerca do dispositivo e sua evolução ao longo dos anos.
Assim sendo, neste trabalho é apresentado uma síntese do que se conhece até o
momento e o estado da arte do tubo de vórtice, dispondo em subcapítulos suas
características, de modo que seja conhecida cada parte de sua estrutura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como fruto desta revisão bibliográfica, a seguir algumas abordagens que
envolvem o tubo de vórtice.

Definição
Vale ressaltar que o tubo de vórtice, ou RHVT, é um dispositivo sem qualquer
parte mecânica que se movimenta enquanto está em funcionamento, que converte um
fluxo de gás inicialmente homogêneo de temperatura em dois fluxos separados de
temperaturas diferentes. Ele separa a corrente de gás comprimido em uma região de
baixa temperatura e outra em alta. Essa separação do fluxo em regiões de baixa e alta
temperatura total é chamada de efeito de separação da temperatura (ou energia)
(Yilmaz et al., 2009).

Nomenclatura

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Alternativamente, o nome de tubo de Ranque-Hilsch, como também é


conhecido, é devido a homenagem a estes dois pesquisadores por suas descobertas,
Ranque foi o primeiro a inventar o método e o dispositivo, e Hilsch o primeiro a
aperfeiçoar essa proposta.
Não foi encontrado uma regra ou padrão para que seja designado o tubo de
vórtice. Como já mencionado, há termos como “vortex tube”, “Ranque-Hilsch vortex
tube”, “RHVT”, além de suas traduções e adaptações para o idioma local. De acordo
com Modesto e Cekinski (2021), na base de periódicos investigado, em geral, o termo
mais recorrente é “vortex tube”.

Geometria
De acordo com Gao (2005), os aspectos de geometria dizem respeito ao
posicionamento dos componentes. Basicamente, para o posicionamento da saída de
fluido frio, existem dois tipos diferentes de sistemas RHVT, que foram propostos pelo
próprio Ranque (1934), são eles: sistema RHVT de contrafluxo (Figura 2.a) e sistema
RHVT unifluxo (Figura 2.b), ambas as figuras foram adaptadas de Gao (2005).

Figura 2: Desenho esquemático de um sistema RHVT contrafluxo (a) e Desenho esquemático


de um sistema RHVT unifluxo (b).

Quando a saída fria é colocada do outro lado da saída quente, é chamado de


contrafluxo. Quando a saída fria é disposta no mesmo lado da saída quente, ele é
denominado unifluxo. A partir de investigações experimentais, verificou-se que o
desempenho do sistema unifluxo é pior que o do sistema contrafluxo. Assim, na
maioria das vezes, a geometria do contrafluxo é escolhida. Hilsch (1947) foi o
primeiro a estudar o efeito da geometria no desempenho do sistema RHVT (Gao,
2005).
Dada a grande variedade de concepções e particularidades encontradas acerca
do tubo de vórtice, muitas delas experimentais, a Figura 3, adaptada de Aydin e Baki

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(2006), apresenta a versão mais comumente encontrada, o tubo de vórtice de


contrafluxo.

Figura 3: Representação de um RHVT contrafluxo.

Corpo
De acordo com as pesquisas de Yilmaz et al. (2009), é enfatizado que o
comprimento do tubo de vórtice afeta significativamente o desempenho, a razão L/D
ideal é uma função dos parâmetros geométricos e operacionais, e não há alterações
significativas no desempenho para uma razão L/D > 45. Sendo, L (mm) o
comprimento do corpo do RHVT, e D (mm) o diâmetro interno do corpo do RHVT.
Na pesquisa de Saidi e Valipour (2003) também foram analisados os efeitos do
comprimento e diâmetro do tubo de vórtice. Em seus estudos, diferentes tamanhos de
tubos foram selecionados e examinados e é demonstrado que o valor ideal de L/D
estaria dentro do intervalo apresentado como: 20 / 55,5.

Freio de Fulton
Fulton (1965), registrou uma patente apresentando uma espécie de freio para o
fluxo de gás e que permite diminuir o comprimento do corpo, com a proposta de
reduzir o comprimento do tubo para L/D < 20.
Fulton (1965) descreve que uma ação de frenagem ainda mais intensiva teve
que ser criada em um comprimento curto de tubo, mas sem perturbar o fluxo e a
rotação suave e simétrica do ar dentro do tubo. O acabamento da superfície da parede
interna do tubo produz turbulência e mistura que compensam qualquer ganho.
Reduzir a quantidade de ar injetado reduz a capacidade e aumentar o diâmetro do
tubo requer um aumento concomitante do gerador, comprometendo a compactação e
aumentando os custos. Avançar o freio para mais perto do gerador produz torque
excessivo.
A invenção de Fulton (1965) contempla o uso de um freio e um anel de controle
de contrafluxo que, colocado diretamente à frente do freio, permite que o tubo seja
encurtado ainda mais sem perda de eficiência, redução de capacidade ou outra
alteração das dimensões. A Figura 4.a apresenta o anel e freio proposto por Fulton e

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na Figura 4.b está a sua localização, ambas as figuras foram adaptadas de Fulton
(1965).

Figura 4: Modelo (a) e localização (b) do anel e freio propostos por Fulton.

Bocal de entrada do fluido (gerador)


Eiamsa-ard e Promvonge (2008), demonstra a importância da definição do
tamanho do bocal de entrada e do posicionamento em relação a extremidade de saída
do fluido frio.
Um bocal de entrada muito pequeno daria origem a uma considerável queda de
pressão no próprio bocal, levando a baixas velocidades tangenciais e, portanto, a
baixa temperatura de separação. Um bocal de entrada muito grande falharia em
estabelecer o fluxo de vórtice adequado, resultando novamente em baixa difusão de
energia cinética e, portanto, baixa separação de temperatura. A localização do bocal
de entrada deve estar o mais próximo possível do orifício para produzir altas
velocidades tangenciais. Uma localização do bocal afastada do orifício levaria a baixas
velocidades tangenciais próximas ao orifício e, portanto, a uma separação de baixa
temperatura (Eiamsa-ard e Promvonge, 2008).
Porém, de acordo com Yilmaz et al. (2009), alguns estudos do efeito do número
de bocais de entrada no desempenho do RHVT sugerem que o aumento do número de
bocais melhora a separação de temperatura, enquanto outras sugerem que o
desempenho do RHVT diminui com o aumento do número de bocais. De acordo com o
primeiro grupo de pesquisadores, o aumento do número de bocais de entrada resulta
em fluxo para acelerar e um aumento da taxa de fluxo. Um forte fluxo de turbilhão
dentro do tubo de vórtice é criado. Além disso, isso causa alta dissipação de fricção
entre as camadas de fluxo e alta transferência de momento das regiões central para as
circunferenciais. Finalmente, a temperatura do fluxo na região central diminui e a
temperatura nas regiões circunferenciais aumenta. De acordo com outros
pesquisadores, com o aumento da quantidade de bocais, o fluxo no interior do tubo de
vórtice se torna mais turbulento devido às interações dos fluxos de entrada, misturas
de fluxo quente e frio e, assim, a separação de temperatura diminui (Yilmaz et al.,

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2009). A Figura 5 apresenta algumas configurações discutidas por Yilmaz et al.


(2009).

Figura 5: Configurações de bocais de entrada.

Em que,

a) Bocal
b) de entrada eonvencional;
c) Bocal de entrada proposta por Wu et al. (2007, apud Yilmaz et al., 2009);
d) Bocal de entrada
e) de Archimedes.

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Extremidade de saída do fluido quente


Para Yilmaz et al. (2009), o volume e a temperatura do ar frio produzido são
geralmente controlados por uma válvula localizada na saída do fluxo quente. Uma
válvula cônica no final deste trecho restringe o fluido de saída a regiões próximas à
parede do tubo e bloqueia o gás na parte central, impedindo-o de fazer uma saída
direta. Essa válvula é chamada de plugue “hot-end”. A válvula é cônica e é posicionada
para permitir a regulagem das quantidades relativas de gases quentes e frios.
Ajustando a válvula, a fração fria pode ser controlada.

Extremidade de saída do fluido frio


Em seus experimentos, Hilsch (1947) observa que a partir dos resultados de
inúmeros testes preliminares mostraram que, para um efeito de resfriamento
favorável, o orifício “B” deve ser instalado o mais próximo possível do bocal de
entrada “Dvt”.
Não foi encontrada outra referência que corrobora ou não essa recomendação,
prevalecendo a indicação de Hilsch para a obtenção de um resultado mais favorável
dentro dos que experimentou. Entretanto, há estudos para dimensões de diâmetro
para a saída de ar frio. Yilmaz et al. (2009) chegou numa razão para o diâmetro do
orifício frio, que é definida como a razão entre o diâmetro do orifício frio e o diâmetro
do tubo de vórtice, como segue na Equação 1, em que são empregados os valores de
relação entre o diâmetro do orifício lado frio e diâmetro do RHVT β (mm), o diâmetro
do orifício do lado frio dc (mm) e o diâmetro interno do corpo do RHVT D (mm).

(1)

Os valores satisfatórios, segundo Yilmaz et al. (2009), são de acordo com a

expressão: 0,4 0, . Atualmente, devido as suas vantagens de fácil manutenção,

ausência de componentes elétricos ou compostos químicos, sua praticidade,


compacto, leve, resistência mecânica (dada a sua utilização), entre outros benefícios,
algumas empresas oferecem o RHVT como alternativa de aplicação em situações em
que é necessária refrigeração pontual, por exemplo, em processo de usinagem e
soldagem, câmaras climatizadas, resfriamento de amostras de laboratório, etc.

A fração de massa fria é a porcentagem de ar comprimido que é liberado através


da extremidade fria do tubo. Geralmente, quanto menos ar frio liberado, mais frio

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seria o ar. O ajuste da válvula plugue “hot-end” varia a fração de massa fria. Uma
grande fração de massa fria corresponde a um fluxo de ar maior, mas eles não
produzem a temperatura mais baixa possível. A combinação de grande fração de
massa fria e temperatura fria, produz a capacidade máxima de refrigeração, mas uma
fração de baixa massa fria, por outro lado, significa um volume menor de ar saindo
muito frio. Em resumo, quanto menos ar for liberado, mais frio o ar (Mohamad et al.,
2013).
Congruente, para Skye et al. (2006), a fração fria é definida como a fração do
fluxo mássico de entrada que sai da extremidade fria do tubo.
Para um modelo específico (15 scfm) em condições predeterminadas, a Nex
Flow Air Products Corporation (2021) e Exair Corporation (2021) divulgam
especificações com valores similares, o que representa o mesmo desempenho de seus
produtos. Estes resultados podem ser conferidos na Tabela 4, que foi adaptada de Nex
Flow Air Products Corporation (2021), onde é apresentada os valores aproximados
de redução e aumento de temperatura nas saídas a partir da temperatura de entrada
no tubo de vórtice para cada fração na saída fria, que irá variar com outros tamanhos
e capacidades.

Tabela 4: Variação aproximada de temperatura nas saídas quente e fria a partir da


temperatura de entrada.
Pressão de entrada Variação de temperatura nas Fração na saída fria (%)
(bar) respectivas saídas ( °C) 20 30 40 50 60 70 80
Queda na saída fria 34 33 31 28 24 20 16
1,4
Aumento na saída quente 8 14 20 28 26 46 59
Queda na saída fria 48 46 42 39 34 28 20
2,8
Aumento na saída quente 11 18 28 38 50 62 80
Queda na saída fria 57 55 51 46 40 33 25
4,1
Aumento na saída quente 14 22 33 44 57 73 92
Queda na saída fria 63 62 56 51 45 36 28
5,5
Aumento na saída quente 14 24 35 47 63 80 100
Queda na saída fria 68 65 61 55 48 39 30
6,9
Aumento na saída quente 14 25 37 50 66 84 106
Queda na saída fria 72 69 64 58 50 41 31
8,4
Aumento na saída quente 14 26 38 52 68 86 108

CONCLUSÕES

Desde a invenção do dispositivo, em 1934, por Ranque, observaram-se poucas


variações na geometria.
Apesar de algumas otimizações introduzidas ao longo dos anos, como o freio de
Fulton que tornou menor o comprimento do tubo, observa-se que os aspectos

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geométricos gerais e suas peculiaridades têm sido preservados ao longo dos anos,
desde o modelo original de Ranque, apesar dos diversos estudos realizados.
Avanços tecnológicos como a fluidodinâmica computacional, CFD, contribuíram
para a compreensão dos fenômenos que ocorrem em seu interior, porém a evolução
física do RHVT ainda não se beneficiou de forma sensível dessa importante
ferramenta de análise. Contudo, observa-se que nas mais recentes simulações, a
maioria tem sido realizada com o uso do software Fluent, modelo de turbulência k-ε e
modelagem do tubo de vórtice em três dimensões.
A revisão da bibliografia sobre o tema permitiu atualizar os quadros de visão
geral da literatura sobre os estudos em tubo de vórtice, elaborada por Bazgir et al.
(2019) e de modelos numéricos preparados por Eiamsa-ard e Promvonge (2008) e
Thakare e Prekh (2015), com dados mais recentes, constituindo uma importante
referência para as pesquisas a serem realizadas na área.

AGRADECIMENTOS
Ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).
Ao I Web Encontro Nacional de Engenharia Química (I WENDEQ).
Aos editores do presente eBook.

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CAPÍTULO 15
FERMENTADOS ALCOÓLICOS
DE FRUTAS TROPICAIS, UMA
REVISÃO DA LITERATURA
Ramon dos Santos Araújo1
Elizama Aguiar-Oliveira2

1 Mestrando em Biologia e Biotecnologia de Microrganismos (PPGBBM), Universidade


Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA, reneketonsd116@gmail.com,
https://orcid.org/0000-0001-7423-0827.

2 Professora Doutora, Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas (DCET),


Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA, eaoliveira@uesc.br,
https://orcid.org/0000-0001-7700-6724.

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FERMENTADOS ALCOÓLICOS DE FRUTAS TROPICAIS, UMA REVISÃO DA LITERATURA

RESUMO
Os fermentados (vinhos) de frutas são bebidas alcoólicas cada vez mais desejadas
pelos consumidores como uma alternativa ao vinho tradicional de uva. As frutas
tropicais vêm sendo cada vez mais propostas e utilizadas para este fim devido a seus
sabores característicos resultando em produtos de maior valor agregado. Neste
trabalho, são mencionados diferentes aspectos relatados em trabalhos recentes da
literatura relacionados a fermentação de frutas tropicas por leveduras para obtenção
de bebidas.
Palavras-chave: Vinho de frutas. Fermentação alcoólica. Saccharomyces cerevisiae.
Frutas tropicais. Fermentação.

ALCOHOLIC FERMENTATION FROM TROPICAL FRUIT, A LITERATURE REVIEW

ABSTRACT
Fermented fruit wines are alcoholic beverages increasingly desired by consumers as
an alternative to traditional wines (from grape). Tropical fruits have been
increasingly proposed and used for this purpose due to their characteristic flavors
resulting in products with greater added value. In this work, different aspects
reported in recent works in the literature related to the fermentation of tropical fruits
by yeasts to obtain beverages are mentioned.
Key-words: Fruit wine. Alcoholic fermentation. Saccharomyces cerevisiae. Tropical
fruits. Fermentation.

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INTRODUÇÃO

A fermentação (alcoólica) de polpas de frutas é uma técnica viável para o


desenvolvimento de novos produtos com qualidades físico-químicas e sensoriais
modificadas, principalmente em relação ao sabor e componentes nutricionais
(Saranraj et al., 2017). O mercado de bebidas alcoólicas tem demonstrado uma
continua expansão e exige cada vez mais investimentos em tecnologias e matérias-
primas inovadoras (Lopes et al., 2019).
Nos últimos anos, tem havido um interesse crescente por bebidas não
tradicionais (elaboradas com substratos diferenciados, como por exemplos, polpas de
frutas tropicais). Essas bebidas estão ganhando mercado e mais atenção tanto em
relação à forma de produção quanto à qualidade (Adamenko et al., 2019). De acordo
com Lopes et al. (2019) diversos motivos estimulam o uso de diferentes polpas de
frutas como substratos como, por exemplo, a disponibilidade e a possibilidade de
valorização das frutas.
As regiões tropicais, como o Brasil, apresentam uma variedade de frutas que
podem ser aplicadas na produção alimentícia. O que pode ser entendido como um
grande potencial para o desenvolvimento de fermentados de frutas.
Assim, esta Revisão Bibliográfica se propôs a analisar artigos científicos
publicados entre 2015 e 2021 obtidos em bases de dado científica (Scielo, Science
Direct e Google Acadêmico) relatando o uso de frutas tropicais na produção de
fermentados alcoólicos e assim avaliar aspectos gerais relacionados à produção
como: os tipos de frutas e as leveduras empregadas e características dos produtos
finais obtidos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Fermentados de frutas
A produção de bebidas alcoólicas vem sendo realizada pela humanidade há mais
de 5.000 a.C, como resultado da fermentação promovida por leveduras em substratos
diferentes como: cevada, arroz, mel, frutas etc. e que variam a depender da
disponibilidade de cada região e época (Pimenta et al., 2020). O vinho e a cerveja são
dois exemplos de bebidas alcoólicas fermentadas produzidas desde tempos remotos e
que perduram até os dias de hoje. Como comentado por Lopes et al. (2019), a

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fermentação alcoólica é um processo em que açúcares fermentescíveis são


transformados em etanol por ação de microrganismos, normalmente leveduras.
Com base na legislação brasileira, vinho é uma bebida proveniente
exclusivamente da fermentação alcoólica da uva ou do suco de uva (Brasil, 2014) e
quando se utiliza exclusivamente uma outra fruta, deve-se empregar a denominação
“fermentado de fruta” cujo teor alcoólico deve estar contido entre 4 e 14 % (v/v)
(Brasil, 2009). Popularmente, os fermentados de fruta também são denominados de
“vinhos de fruta”, como por exemplo, um fermentado de pitaia pode também ser
referenciado como “vinho de pitaia” e, em outros países, essa denominação seria feita
como pitaya wine.
O consumo de bebidas fermentadas movimenta um importante setor industrial
e comercial. De acordo com Pereira et al. (2020), o Brasil é um mercado vinícola em
ascensão e a sua produção anual gira, atualmente, em torno dos 330 milhões de litros,
sendo 1,7 litro per capita, isto é, quase duas garrafas por habitante. Isso sugere que o
Brasil é mercado com um bom potencial para a introdução de fermentados de frutas.
A obtenção de fermentados alcoólicos ocorre devido ao cultivo de um
microrganismo (especialmente as leveduras) no mosto fermentativo que se trata de
um líquido açucarado que pode ser obtido de diferentes fontes como: cana de açúcar,
frutas, cereais etc. (Moreira et al., 2019). O mosto pode ainda ser ajustado ou não com
adição de açúcar (Santos e Faria, 2016), ou ter a acidez inicial corrigida (Dantas e
Silva, 2017), ou ser adicionado de nutrientes para crescimento ou compostos que
inibam o crescimento de outros microrganismos indesejáveis (Neves et al., 2020). Em
muitos casos, esses ajustes são necessários para o correto desempenho da cepa
microbiana empregada.

Cepas empregadas na fermentação


As leveduras são organismos unicelulares microscópicos, classificados no
reino dos fungos (Saranraj et al., 2017) e são as mais conhecidas e aplicadas para
processos de fermentação. Sua cultura pode ser feita sem grandes exigências
nutricionais do meio (Pereira et al., 2015) sendo obtidas boas conversões de açúcares
em etanol.
Uma das espécies mais aplicadas para a obtenção de variadas bebidas
fermentadas é a Saccharomyces cerevisiae (Coutinho et al., 2020); ela também é

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responsável pela produção de bebidas fermento-destiladas, como a cachaça e


aguardentes (Paula e Faria, 2017). A aplicação de leveduras do tipo S. cerevisiae pode
ser citada, por exemplo na fermentação de polpas de: caju por Rêgo et al. (2020),
framboesa por Liu et al. (2020) e laranja por Alcântara e Menezes et al. (2017).
A preferência por leveduras do tipo S. cerevisiae se dá basicamente em função
da sua excelente capacidade de crescimento e fermentação nos mais variados meios e
por resultar em melhores rendimentos alcoólicos, em comparação com outras
leveduras, bactérias e fungos (Wei et al., 2018). Contudo, outros tipos de leveduras
também podem ser empregados, basicamente, quando se deseja um perfil sensorial
diferenciado (Holt et al., 2018) ou ainda com menores teores alcoólicos (Alonso-del-
real et al., 2017). As espécies denominadas não-Saccharomyces também são capazes
de contribuir para a complexidade do aroma e aumentam os rendimentos de
compostos desejáveis (Pongkan et al., 2018; Zhong et al., 2020).
Liu et al. (2018) estudou individualmente três tipos de leveduras na
fermentação de mirtilo S. cerevisiae, Torulaspora delbrueckii e Schizosaccharomyces
pombe e os resultados demostram que, em comparação com a S. cerevisiae, T.
delbrueckii foi capaz de reduzir a concentração de etanol e ácido acético, enquanto S.
pombe conseguiu aumentar a síntese de glicerol e manter um alto teor de
antocianinas. Em outro estudo, a T. delbrueckii recebeu atenção devido ao seu efeito
positivo e distinto no aroma geral dos vinhos (Benito, 2018).
Já a Pichia kluyveri foi estudada por Vicente et al. (2021), na produção de
vinho e demonstrou ser capaz de promover melhores composições de tióis, ésteres
frutados e terpenos. Ho et al. (2020), por exemplo, conduziu a co-fermentação de
polpa de graviola com Pleurotus pulmonarius e S. cerevisiae e obteve um vinho de
fruta com cerca de 20 % (v/v) de teor alcoólico. Outras leveduras também podem ser
utilizadas como a Hanseniaspora vineae (Del-fresno et al., 2020) e Candida
zemplinina (Tufariello et al., 2020). A Tabela 1 apresenta alguns exemplos de
aplicação de diferentes cepas para obtenção de fermentados de frutas.

Frutas tropicais como mostos para fermentação


No Brasil, a colheita anual de frutos tropicais é de aproximadamente 45
milhões de toneladas, o que coloca o país em terceiro lugar entre os maiores
produtores mundiais (Souza et al., 2020).

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A proposta de uso de frutas tropicais, como alternativa ao uso predominante


de uva (vinho) e maçã (sidra) está em expansão (Hranilovic et al., 2020) e devem ser
consideradas as exigências dos consumidores por diferentes experiências sensoriais
e, mais recentemente, sobre o impacto ecológico dos processos (Saranraj et al., 2017).
As frutas colhidas podem sofrer rápida deterioração se não houver instalações
adequadas de processamento e armazenamento, especialmente nos trópicos úmidos,
onde as condições ambientais predominantes aceleram o processo de decomposição
(Lopes et al., 2019).
Faz-se necessário ainda ressaltar a grande variedade de espécies que podem
ser encontradas em diferentes regiões tropicais, em especial, citamos os biomas
brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal que
apresentam uma interessante variedade de frutas que podem ser exploradas de
forma consciente para que possa ser reduzido o desperdício, como mencionado acima
(Pessôa e Ribas, 2020).
Na Tabela 1 é possível também observar alguns exemplos de frutas aplicadas
sendo que é importante reforçar que as fruta investigadas resultaram em
fermentados dentro dos padrões de qualidade dos países de origem e resultaram em
produtos que, em muitos casos, foram avaliados por etapas de análise sensorial e
foram bem aceitos pelos provadores.

Fermentações
As condições de fermentação variam a depender do tipo de polpa ou da cepa
empregada. De acordo com os dados apresentados na Tabela 1, pode-se observar
alguns exemplos de tempo e temperatura empregados em fermentações diversas. De
forma geral, as temperaturas empregadas giram em torno de 25 – 30 °C (Tab. 1).
Outro aspecto importante é a quantidade de sólidos solúveis (°Brix) iniciais.
Diferentes valores Brix tem sido empregados, a depender das características do
processo, por exemplo, 24 °Brix (Santos e Souza, 2020) 29 °Brix (Fonseca et al.,
2020), 20 °Brix (Dantas e Silva., 2017). Além disso, o pH também é importante para o
crescimento microbiano e deve-se considerar as características de cada fruta
empregada, por exemplo, pode-se citar os valores de pH iniciais de: 4,99 para polpa
de graviola (Ho et al., 2019), 3,27 para polpa de maracujá da catinga (Santos et al.,
2019) e 3,5 para polpa de goiaba (Santos et al., 2020).

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Tabela 1- Fermentados de frutas, suas cepas e condições de fermentação

Fruta(s) Cepa(s) Temperatura e Referência


tempo
Melancia (Citrulus S. cerevisiae 25 – 29 °C / 3 dias. Zainab (2018)
lanatus)
Pitomba (Dimocarpus S. cerevisiae F33 20 °C / 6 - 9 dias. Liu (2018)
longan)
Pitaia (Hylocereus T. delbrueckii 20 °C / 14 dias. Jiang (2020)
polyrhizus)
Tamarindo (Tamarindus S. burgundy 30°C / 10 dias. Pongkan
indica) (2018)
Kiwi (Actinidia deliciosa) Pichia fermentans JT- 28 °C / 16 dias. Zhong (2020)
1-3
Jamelão (Syzygium S. cerevisiae CCMB520 24 °C / 15 dias. Brandão
cumini) (2017)
Cupuaçu (Theobroma Lactobacillus casei 30 °C / 1 dia. Pereira
grandiflorum) NRRL B-442 (2017)
Carambola (Averrhoa S. cerevisiae 25 °C / 7 dias Muotolu e
carambola) e manga Mbaeyi-
(Mangifera indica) Nwaoha
(2020)
Melão (Cucumis melo L.) S. cerevisiae 32 °C / ~1 dia Bessa (2018)
Umbu (Spondias S. cerevisiae 22 °C / 11 dias Dantas e Silva
tuberosa) (2017)
Mirangolo (Carissa S. cerevisiae NCIM 25 ° C/ 21 dias Mundaragi e
spinarum) 3215 Thangadurai
(2017)
Borojó (Borojo apatinoi S. cerevisiae 7013 38 °C/ 30 dias Zapateiro et
cuatrec) al. (2016)
Maracujá-do-mato S. cerevisiae 26 – 3 ºC/ 12 dias Ferreira et al.
(Passiflora cincinnata) (2020)
Banana prata (musa ssp) S. cerevisiae 28 °C/ 9 horas Filho et al.
(2015)

Em alguns casos, se faz necessário o pré-tratamento das polpas com enzimas


(geralmente pectinases) para sua clarificação, ou seja, redução do teor de pectina que
pode resultar em precipitados ou em turbidez. Jiang et al. (2020), por exemplo,
utilizou pectinases comerciais para clarificação prévia da polpa de pitaya. No entanto,
tem-se investigado a condução da fermentação ao mesmo tempo que a clarificação.

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Rollero et al. (2018), por exemplo, empregou a cepa Kluyveromyces marxianus IWBT
Y885, que possui capacidade de produzir pectinases durante a fermentação. Contudo,
Yang et al. (2020) ressalta que utilizar leveduras não Saccharomyces apenas pela
capacidade de produzir pectinases é uma prática arriscada pois, o metabolismo da
cepa pode resultar em metabólitos indesejáveis. No trabalho de Koelher (2020)
também foi selecionada uma cepa de S. cerevisiae com boa capacidade de produção
de pectinases que apresentou resultados promissores para a obtenção de um vinho
de mel e polpa de cacau. Além das pectinases, as proteases também podem ser
aplicadas para clarificação, como realizado por Zhang et al. (2016) com mosto de
jujuba (Ziziphus jujuba Mill) o que resultou na melhora da intensidade e
complexidade do aroma devido ao aumento do nitrogênio assimilável.
Ao mosto fermentativo podem ainda ser adicionados compostos para
favorecer a nutrição do microrganismo, como realizado por Sharma et al. (2017) que
adicionou ao mosto de caqui 0,1 % (p/v) de amônio hidrogenofosfato (DAHP) e 0,3 %
de ácido cítrico, o que resultou numa maior taxa de fermentação e maior teor
alcoólico. Os tempos de fermentação são bem variáveis, podendo levar vários dias
(Tab. 1), nesses casos, é recomendável que sejam adicionados compostos que
auxiliem no controle do crescimento de outros microrganismos contaminantes como
por exemplo, metabissulfito de potássio (Leite et al., 2019).

CONCLUSÃO
Os vinhos podem ser produzidos a partir de qualquer fruta que não seja a uva,
nesta Revisão, foi demonstrado que o vinho pode ser preparado, em especial, a partir
de frutas tropicais. A elaboração de bebidas alcoólicas fermentadas representa uma
boa opção no aproveitamento destas frutas evitando desperdícios e agregando valor
para o desenvolvimento de novas bebidas. Muitos aspectos ainda precisam ser
otimizados seja nas concentrações de mosto ou no uso de microrganismos
diferenciados em tipos de substratos diferentes, mas há um grande campo de estudo
e de desenvolvimento tecnológico associado a este tema.

AGRADECIMENTOS
Os autores são gratos à CAPES pelo apoio financeiro.

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CAPÍTULO 16
A SECAGEM EM CAMADA DE
ESPUMA E O MASTRUZ COMO
MATÉRIA-PRIMA: UMA
REVISÃO
Maria Rayanne Lima de Moraes 1
Jaquelyne Morais de Caldas 2

1
Mestranda em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: mraylima93@gmail.com, ID Lattes: 9120641227657712.
2
Bacharela em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: jaquelynemorais1@hotmail.com, ID Lattes: 2298404655793794.

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A SECAGEM EM CAMADA DE ESPUMA E O MASTRUZ COMO MATÉRIA-PRIMA: UMA


REVISÃO

RESUMO
A Chenopodium ambrosioides L. é uma das plantas mais utilizadas como medicina
comum no mundo, conforme os levantamentos da OMS. Por estar no RENISUS e ser
uma planta importante para estudos, o mastruz é candidato para o desenvolvimento
de novos produtos. Portanto, é imprescindível analisar as ferramentas necessárias
para tal finalidade e um dos desafios nessa questão é a vida útil dos materiais
orgânicos após a colheita. Uma das mais importantes operações industriais para
obter propriedades funcionais é a secagem para produzir uma forma de pó. A
conversão de produtos naturais frescos em pó tem vantagens importantes como fácil
manuseio, longa vida útil, embalagem e transporte mais fáceis e econômicos e
armazenagem sem refrigeração. O uso de modelos matemáticos que correspondem
aos dados experimentais é significativo porque reduz a quantidade de tempo gasto no
laboratório. Vários modelos estatísticos, teóricos, semiempíricos e empíricos têm sido
propostos na literatura.
Palavras-chave: Plantas Medicinais. Secagem. Mastruz. Camada de Espuma.
Parâmetros de secagem.

A SECAGEM EM CAMADA DE ESPUMA E O MASTRUZ COMO MATÉRIA-PRIMA: UMA


REVISÃO

ABSTRACT
Chenopodium ambrosioides L. is one of the most widely used plants as folk medicine
in the world, according to WHO reports. Belonging to RENISUS and an important
plant for studies, the mastiff is a candidate for the development of new products.
Therefore, it is essential to analyze the tools needed for this purpose and one of the
challenges in this area is the shelf life of organic materials after harvesting. One of the
most important industrial operations to obtain functional properties is drying to
produce a powder form. Converting fresh natural products into powder has
important advantages such as easy processing, long shelf life, easier and more
economical packaging and transportation, and storage without refrigeration. The use
of mathematical models that fit the experimental data is significant because it reduces
the amount of time spent in the laboratory. A variety of statistical, theoretical, semi-
empirical and empirical models have been proposed in the literature.
Key-words: Medicinal Plants. Foam -mat drying. Epazote. Drying parameters.

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INTRODUÇÃO

Segundo Almeida (2011): “A origem do conhecimento do homem sobre as


virtudes das plantas confunde-se com sua própria história”. A utilização e o
aproveitamento das plantas para promoção da saúde e do bem-estar são saberes
amplamente conhecidos e aplicados em diversas culturas do globo. Desde a
antiguidade, os seres humanos têm ansiado pela natureza para atender às suas
necessidades básicas, especialmente medicamentos. Em 1985, foi estimado pela OMS,
que quase 65% da população mundial dependia de medicamentos tradicionais,
derivados de fontes vegetais. Uma planta individual pode ser usada para tratar mais
de uma doença. Assim, os produtos naturais desempenham um papel fundamental na
produção de moléculas bioativas e agentes farmacêuticos (Tauchen et al., 2019).
De acordo com Noronha et al. (2020), as plantas são a principal fonte para cerca
de um quarto dos medicamentos prescritos globalmente. Frequentemente, a
tendência para o uso de plantas para fins terapêuticos e tratamento de doenças é
atribuído as pessoas mais velhas, tendo em vista que as receitas caseiras são passadas
através das gerações, preservando o conhecimento da cultura e da medicina popular.
Segundo Fernandes (2004), foi a partir do século XX que a discussão e os estudos
acadêmicos das plantas medicinais começaram a ser desenvolvidos e firmados.
Conforme Almeida (2011): “Isso significa que praticamente com exceção do século
XX, toda a história da cura encontra-se intimamente ligada às plantas medicinais e aos
recursos minerais.”
Segundo Gossell-Williams, Simon e West (2006), nas primeiras civilizações,
acreditava-se que a doença era geralmente devido ao castigo divino. Os índios astecas da
América do Sul, por exemplo, acreditavam que doenças específicas eram ligadas a deuses
específicos.
Com a queda do Império Romano e o avanço do cristianismo nas culturas
ocidentais, o uso de plantas para cura foi desencorajado. A Europa passou por um grande
momento de obscurantismo científico entre os séculos V e XV, a trevosa Idade Média.
Ironicamente, embora os primeiros cristãos também viam as doenças e enfermidades como
punição divina (enviada do céu), eles acreditaram que só poderiam ser curados por meio do
arrependimento e da oração, não pelo uso de plantas medicinais (ALMEIDA, 2011;
GOSSEL-WILLIAMS, SIMON e WEST, 2006).

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Apesar da influência negativa do Cristianismo sobre as plantas medicinais, os


árabes das sociedades orientais continuaram a compilação de dados a respeito desses
materiais. Eles traduziram os manuscritos gregos originais para o árabe e adicionaram suas
próprias observações produzindo muitos documentos (ALMEIDA, 2011; GOSSEL-
WILLIAMS, SIMON e WEST, 2006).
O principal responsável por estabelecer o papel da química na medicina foi
Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, conhecido por Paracelso,
precursor da homeopatia (HARGRAVE, 2021; MONTEIRO e BRANDELLI, 2017). Este
cientista explorou a separação de compostos de medicamentos que antes eram
considerados indispensáveis, o que ele chamou de Quinta Essência. A Quinta Essência é
muito provavelmente a primeira definição da teoria bioativa (ALMEIDA, 2011).
Com o desenvolvimento da Química, o foco foi isolar e identificar compostos
biologicamente ativos de plantas, por serem consideradas de maior valor terapêutico além
de fornecer o ponto de partida para síntese laboratorial de novos compostos. Com a
atualização dos métodos químicos, outras substâncias ativas de plantas medicinais também
foram descobertas, como taninos, óleos etéricos, vitaminas, hormônios, etc.
(THIRUMURUGAN et al. 2018; PETROVSKA, 2012; GOSSEL-WILLIAMS, SIMON e
WEST, 2006). A razão para o uso de drogas baseadas em plantas é devido às seguintes
vantagens: segurança, eficácia, cultura, preferências, economia e fácil disponibilidade
(NORONHA et al., 2020).
Os relevantes grupos de substâncias químicas concebidos pelos vegetais e que
possuem atividade medicinal nos seres humanos são mucilagens, substâncias fenólicas,
taninos, flavonoides, cumarinas, iridoides, óleos essenciais, terpenoides, saponinas,
alcaloides, substâncias com enxofre, proteínas e lectinas, ácidos graxos (ômega 3-6-9),
vitaminas e carotenoides, minerais entre vários outros metabólitos (BUENO, 2016).
Além disso, nas últimas décadas vem sendo notado não só no Brasil, mas em
diversos países, o interesse do mercado em investir nesses produtos de alto valor
agregado por seu apelo salubre. Neste contexto, é oportuno elaborar investigações
acadêmicas em universidades e institutos de pesquisa. Há uma desproporção entre os
estudos levantados pelas universidades e institutos de pesquisa e a aplicação
industrial. Almeida (2011, p.5 ) complementa que: “a tendência nas últimas décadas
é adotar o estudo científico das plantas já conhecidas pelas sociedades primitivas.

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Dessa forma, o estudo acadêmico da chamada medicina popular vem desmistificando


a questão do uso de plantas medicinais” (Fernandes, 2004).
Em fevereiro de 2009, o Ministério da Saúde divulgou a Relação Nacional de
Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (RENISUS). Este
documento traz uma lista com 71 espécies vegetais de grande interesse à comunidade
científica ao passo que direciona as atenções às plantas que têm grande potencial
fitoterápico. Uma das espécies encontradas na RENISUS é a Chenopodium
ambrosioides L., conhecido popularmente no Brasil como mastruz, erva de Santa
Maria, erva de bicho, mastruço, menstruço, ambrosina, mentruz, erva-do-formigueiro,
chá do México, lombrigueira, erva-mata-pulga, quenopódio, tendo o seu uso
largamente difundido pelo país. (Maia, 2019; Marmitt et al., 2015; Sá, 2013). Tem sido
usada por séculos na Mesoamérica para eliminação de vermes parasitas no corpo.
Malária, infecções pulmonares, pneumonia e cólera são algumas das enfermidades
tratadas por esta planta (Figueiredo et al., 2019).
O mastruz é uma planta conhecida no Nordeste do Brasil e utilizada numa
bebida chamada “mastruz com leite”. Essa bebida é utilizada para tratar vermes
intestinais, e na América do Sul é empregada na culinária em feijões e pratos diversos.
Além disso, é aplicada em compressas e ataduras de feridas na pele. A planta tem ação
estomáquica, antirreumática, anti-helmíntica. Sua composição é farta de ascaridol,
facilitando sua ação acaricida e inseticida (Azevedo, 2017).
Pesquisadores conduziram um relatório sobre a capacidade do mastruz
(Chenopodium ambrosioides) como fitomedicamento para uso contra a covid-19. A
publicação discute a capacidade dos compostos encontrados na planta como
inibidores das enzimas envolvidas na replicação do vírus SARS-CoV-2, que causa a
covid-19, usando uma abordagem computacional. Os flavonoides contidos no mastruz
que entram no corpo humano após a ingestão, demonstraram forte capacidade de
ancorar as enzimas virais, inibindo-as e sugerindo seu potencial contra a covid-19, de
acordo com os pesquisadores. A tese utilizou uma técnica analítica teórica (em silico)
para modelar processos naturais em um ambiente simulado. No caso específico, a
abordagem utilizada (ancoragem molecular) permitiu simular as interações de
substâncias conhecidas (ligantes) com enzimas específicas do coronavírus. O
resultado sugere as substâncias rutina e nicotiflorina, dois dos principais flavonoides
do mastruz, como possíveis alternativas no combate ao vírus da covid-19. O estudo

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aponta a rutina como uma possível alternativa à heparina de baixo peso molecular
(HBPM), devido aos seus efeitos anticoagulantes e anti-inflamatórios e sua proteção
potencial contra lesões agudas do pulmão (LAP) (Silva et al., 2020; Siqueira e Coelho,
2020).
Por estar no RENISUS e ser uma planta importante para estudos, o mastruz é
candidato para o desenvolvimento de novos produtos. Portanto, é imprescindível
analisar as ferramentas necessárias para tal finalidade e um dos desafios nessa
questão é a vida útil dos materiais orgânicos após a colheita. Uma das alternativas
justificadas para tal empecilho é a produção de pós, que atualmente já é um método
utilizado pelas indústrias farmacêuticas, alimentícias e agroquímicas, por exemplo
(Oliveira et al., 2020).
Para que a planta medicinal tenha a ação farmacológica esperada, ela deve ser
corretamente definida, bem como saber qual parte dela é tradicionalmente utilizada e
contém o princípio ativo (substância responsável pela ação medicinal), bem como as
condições ambientais em que foi realizado o plantio, em que momento do ciclo o
benefício vegetativo da hortaliça contém o maior volume desse princípio ativo e qual
é a melhor época de colheita para uso como medicamento. Os flavonoides são
abundantemente encontrados nas partes aéreas de C. ambrosioides (Maqbool et al.,
2019).
As ervas medicinais têm um futuro brilhante porque há quase meio milhão de
plantas no planeta, a maioria das quais ainda não foi estudada na prática médica, e
testes médicos existentes e futuros serão úteis na cura de doenças. (Jamshidi-Kia et
al., 2018). Nos campos da química, como as ciências sintéticas, combinatórias e
biotecnológicas, um enorme progresso foi feito ao longo dos anos, e as plantas
medicinais ainda podem ser usadas como ponto de partida para a síntese de novos
compostos com vários parâmetros estruturais (Khan, 2014).
Uma das mais importantes operações industriais para obter estas propriedades
funcionais é a secagem para produzir uma forma de pó. A conversão de produtos
naturais frescos em pó tem vantagens importantes como fácil manuseio, longa vida
útil, embalagem e transporte mais fáceis e econômicos e armazenagem sem
refrigeração (Sahin et al., 2018). Além disso, a demanda pelo consumo de produtos
naturais de conveniência (refeições prontas para comer e/ou prontas para cozinhar)
está crescendo gradualmente.

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A remoção de umidade de alimentos é uma operação simultânea de


transferência de calor e massa (Jafari et al. 2016). O calor ajuda a adicionar energia
suficiente à água causando a evaporação. Os vapores viajam para a superfície a partir
de dentro do produto, como resultado da difusão de vapor de água desenvolvido
entre diferentes camadas do produto. A transferência de calor e massa ocorre a um
nível molecular. A condutividade térmica do produto limita a transferência da taxa de
calor dentro do produto, e sobre a superfície o gradiente de temperatura e coeficiente
convectivo controlam a taxa de transferência do calor (Qadri et al., 2019).
Todavia, diversas alternações inconvenientes surgem nas substâncias
cultivados pelo calor, como a variação sensorial, na cor e na textura, perdas de
antioxidantes e a destruição de vitaminas. Embora alguns estudos correlatarem o
processamento industrial e seus efeitos na qualidade nutricional, a consciência desse
assunto, ainda, é dispersado e deficiente, sendo que algumas alterações, em alguns
produtos, são desejáveis (Indah et al., 2020; Ferreira, 2017).
Uma das técnicas de secagem que permite a preservação de propriedades
importantes devido as baixas temperaturas em comparação com os demais métodos,
é a secagem em camada de espuma. Nessa modalidade de secagem, o material líquido
ou semilíquido é convertido em uma espuma consistente utilizando o processo de
batedura e incorporação de ar ou outro gás, para finalmente ser levado para secar
numa fina camada sobre uma superfície (Nobre et al., 2019). A maior área superficial,
que é uma das características da desidratação via foam mat drying, facilita a troca de
calor entre a água e a amostra, e consequentemente, há uma redução no tempo de
secagem (Fellows, 2016; Pereira, 2015).
Devido ao promitente mercado brasileiro e mundial de plantas medicinais e a
conveniência de se estudar uma das plantas presentes no RENISUS, o presente
trabalho é justificado. Vale ressaltar que há na literatura uma carência de estudos que
mostrem diversos parâmetros de secagem do mastruz em diversas condições e de
suas respectivas curvas cinéticas de secagem.
A secagem em leito de espuma evoluiu como um método importante de
secagem. Trata-se de um processo que envolve a conversão de um produto líquido em
espuma estável seguida de secagem ao ar. Esta é uma técnica simples e tem mostrado
bons resultados na secagem de alimentos líquidos com baixa temperatura de
transição vítrea. A secagem por espuma é adequada para a secagem de alimentos

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sensíveis ao calor, com alto teor de açúcar e viscosos, que geralmente são difíceis de
secar. Além disso, é uma alternativa econômica e viável a muitos outros métodos de
secagem para a produção de alimentos em pó (Qadri et al., 2019).
A secagem em camada de espuma é um processo no qual um material líquido ou
semilíquido é agitado para formar uma espuma estável através da adição de gás e
agente estabilizador e posteriormente desidratado usando um fluxo de ar quente à
pressão atmosférica. Quanto mais porosa a estrutura da espuma, maior a área da
superfície líquida, o que aumenta a transferência de calor e a taxa de secagem. Como
resultado, pode-se obter uma maior qualidade nutricional e organoléptica (Hamzeh
et al., 2019).
A técnica é composta por três etapas: a) alteração da consistência líquida do
suco ou polpa em uma espuma estável, pela adição de agentes espumantes; b)
secagem do material em camada fina e c) pulverização do material desidratado.
Durante o processo, a estrutura, a capacidade de expansão e a estabilidade da espuma
desempenham um papel importante na movimentação de água durante a secagem e,
consequentemente, na qualidade do produto final (Hamzeh et al., 2019; Fellows,
2016).
Nesta operação, o material líquido/semilíquido é convertido em espuma, pela
adição de uma fracção de um agente espumante, como a proteína de soja, albumina,
ésteres de ácidos graxos e mono estearatos de glicerol, e a incorporação de ar ou
outros gases como o nitrogênio (por ser inerte) por injeção direta ou agitação. A
adição de agentes espumantes e estabilizantes colabora para alongar a estabilidade
da espuma durante a secagem. Enquanto a concentração de estabilizantes é ampliada,
a densidade da espuma é reduzida, visto que uma maior porção de ar é agrupada
durante a mistura (Hardy e Jideani, 2020; Ferreira, 2017).
A estabilidade da espuma é de importância fundamental para o sucesso da
secagem. Termodinamicamente elas são instáveis por causa de sua alta energia
interfacial. A estabilidade inicial é muito importante, pois qualquer colapso na
estrutura pode resultar em um distúrbio de todo o sistema de secagem. Se a espuma
sobreviver à fase inicial de secagem, à medida que a secagem prossegue, com a
remoção da umidade a estrutura se torna mais firme o que eventualmente leva a uma
fina camada seca final (Hardy e Jideani, 2020; Sangamithra et al., 2014).

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De acordo Diógenes (2018) a secagem em leito de espuma concede várias


oportunidades comerciais, sobretudo para alimentos sensíveis ao calor por ser uma
técnica simples e barata que assegura a produção de produtos em pó com
propriedades preservadas. Muitos pesquisadores utilizaram diferentes métodos de
secagem para produzirem um produto com baixo teor de água estudando vários
materiais biológicos. A exemplo: acerola (Coelho et al., 2019), bacaba (De Cól, 2021),
banana (Gurgel, 2019), cacau (Buljat et al. 2019), camarão (Hamzeh, 2019), folha de
graviola (Oliveira, 2018), mastruz (Simões, 2017), mamão (El-Salam, Mohammed e
Hammad, 2021), maracujá (Sousa et al., 2020), sangue bovino (Oliveira, 2017), entre
outros.
A modelagem cinética dos parâmetros do processo é muito útil nos processos
alimentícios. Os processos envolvidos são principalmente (bio) reações químicas e
físicas. Estas mudanças prosseguem a um certo ritmo e com certa cinética. A
modelagem cinética nos permite descrever estas mudanças e suas taxas
quantitativamente. Na modelagem cinética, temos uma ferramenta poderosa que
pode ajudar a desvendar os mecanismos básicos de reação. A compreensão dos
mecanismos básicos é vital para a modelagem de qualidade e o controle de qualidade
(Inyang et al., 2018).
Portanto, o estudo da cinética de secagem ajudará a identificar métodos de
secagem apropriados e a controlar os processos de secagem. Também é importante
para a engenharia e otimização dos processos. É por vezes caro conduzir uma
experiência em escala real para determinar as condições adequadas para a secagem.
Assim, a cinética de secagem é utilizada para expressar o processo de remoção de
umidade e sua relação com as variáveis do processo e, portanto, um bom
entendimento da taxa de secagem é importante para desenvolver um modelo de
secagem. Ou seja, é um pré-requisito para simular ou ampliar com sucesso todo o
processo para otimização ou controle das condições de operação. Modelos simples
com um significado físico razoável são eficazes para fins de engenharia. A modelagem
matemática do processo de desidratação é uma parte inevitável do projeto,
desenvolvimento e otimização de um secador (Gupta e Patil, 2014).
O estudo elaborado da cinética de secagem descreve os mecanismos e a
influência que certas variáveis de processo exercem sobre a transferência de
umidade. Em outras palavras, pode ser utilizado para estudar as variáveis de

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secagem, avaliar a cinética de secagem e otimizar os parâmetros de secagem e as


condições (Yun et al., 2013).
A maioria dos trabalhos desenvolvidos em camada de leito de levam em questão
os modelos cinéticos de secagem para simular os experimentos. Além disso, várias
experiências foram realizadas para classificar os materiais obtidos após a secagem e
para avaliar as melhores condições de operação, tais como temperatura de secagem,
espessura da camada, tipo e concentração de aditivos (espumantes/estabilizantes)
(Qadri et al., 2019).

REVISÃO DA LITERATURA)

Analisar as características de secagem das folhas na literatura pode nortear os


próximos estudos sobre o mastruz, já que os estudos dos parâmetros do pó obtido
por secagem ainda são escassos.
Assis (2021) realizou o estudo da modelagem matemática e propriedades
termodinâmicas na secagem da polpa de graviola em leito de espuma, para as
condições de temperaturas 50 °C, 60 °C e 70 °C utilizando estufa com circulação de ar.
Após coletados, os dados de secagem foram analisados pelos modelos matemáticos de
Logarítmico, Page, Henderson e Pabis e Midilli.
De Cól (2021) estudou a secagem da camada de espuma da polpa de Bacaba,
avaliando os parâmetros de formação de espuma e os efeitos da camada de espessura
(5-15 mm) e temperatura (50-70 °C) durante o processo de secagem. Os resultados
mostraram a necessidade de um emulsificante, além do agente espumante, para obter
uma espuma de baixa densidade e estável.
Sousa et al. (2020) realizou a cinética de secagem em camada de espuma de
polpa de maracujá a temperatura de 80 °C, utilizando diferentes aditivos. Foram
realizadas três formulações: Formulação 1, contendo 3% de Emustab®; formulação 2,
com 3% de Emustab® e 2% de Superliga-Neutra®; formulação 3, 3% de Emustab®,
2% Superliga-Neutra® e 15% de Maltodextrina. Diferentes modelos matemáticos
como Henderson & Pabis, Cavalcanti Mata, Midilli & Kucuk, Page e Thompson, foram
empregados para predizer a secagem, por meio de análise de regressão não linear.
Gurgel (2019) estudou a secagem das espumas de bananas verde e madura com
albumina, considerando como variáveis independentes a concentração de albumina
(2,5; 5,0 e 7,5%), temperatura de secagem (60, 70 e 80 °C) e a espessura da camada

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de espuma (0,8; 1,3 e 1,8 ± 0,02 cm). Investigou-se o efeito da concentração de


albumina e do tempo de batimento na densidade e expansão das espumas. Foram
obtidas as curvas de secagem e ajustados os modelos de Page e Midilli, aos dados
experimentais de razão de umidade em função do tempo ao longo de todo o período
de secagem e o modelo Fick aos dados do período de taxa decrescente. Avaliou-se o
efeito da temperatura (60, 70 e 80 °C) sobre as características físico químicas dos pós
obtidos na secagem das espumas com 5% de albumina e espessura de 0,8 cm.
Guimarães et al. (2017) avaliaram a cinética de secagem em camada de espuma
da polpa de manga cv. Keitt, com a incorporação de 1% de Emustab® e 1% de Super
Liga Neutra®, para um tempo de batimento de 20 min, desidratada em estufa com
circulação forçada de ar em diferentes temperaturas (50, 60 e 70 °C) e espessuras de
camada de espuma (0,5, 1,0 e 1,5 cm). A partir dos dados obtidos durante a cinética
de secagem foram construídas as curvas de secagem e ajustados os modelos de Page,
Henderson, Henderson e Pabis, Logarítmico e Exponencial de dois termos.
Simões (2017) definiu os melhores parâmetros para a secagem em camada de
espuma da folha de mastruz. Foram testados vários espumantes e a espuma foi
caracterizada através de análises de densidade, incorporação de ar (over run),
estabilidade da espuma e umidade. Dos espumantes testados o Emustab® foi o que
apresentou melhor resultado. Com base nos resultados o autor concluiu que as
condições do experimento 8 (70 °C, 6 min e 30%) são bastante satisfatórias para que
o método de secagem em camada de espuma ocorra de forma eficiente. Notou-se que
as condições experimentais que formaram a espuma menos estável foram as do
experimento 1 (40°C, 4 min e 10%), pois apresentou o maior valor de volume
drenado. Enquanto que o experimento que apresentou o menor valor de volume
drenado, nessa temperatura, consequentemente portando-se como a espuma mais
estável foi o experimento 7. Notou-se que o aumento no tempo de agitação, como nos
experimentos 3 (40°C, 4 min e 30%) e 7 (40°C, 6 min e 30%), proporciona um menor
volume drenado, logo a espuma formada será mais estável. O experimento 4 (70°C, 4
min e 30%) apresentou uma espuma mais estável, pois o volume drenado foi menor.
Ao avaliar os experimentos 6 (70°C, 6 min e 10%) e 8 (70°C, 6 min e 30%) onde
existe apenas a variação da concentração do espumante, é possível concluir que
quanto maior a concentração do espumante mais estável será a espuma formada.

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Ferreira et al. (2020) elaboraram e caracterizaram um produto farináceo a


partir da folha do umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) utilizando diferentes
métodos de secagem. Os procedimentos experimentais consistiram em produção de
farinhas a partir da secagem de 30 g de folhas em estufa de circulação de ar à 60 °C
por 6 h e em forno micro-ondas (FMO) com potência de 100% em ciclo único de 2
min e 30 s. Os parâmetros físicos e químicos avaliados tanto nas folhas in natura,
quanto nas farinhas elaboradas foram: teor de água (TA), atividade de água, pH,
sólidos solúveis totais (SST), proteína bruta (PB), resíduo mineral fixo (RMF) e
quantificação de minerais.
Ribeiro et al. (2020), avaliaram os parâmetros cinéticos da secagem de caules
de couve folha em forno elétrico. Os autores submeteram os caules de couve folha
com raio de 1,5 mm ao processo de secagem em forno elétrico (1200 W) nas
temperaturas de 50, 70 e 90 °C. Os dados experimentais obtidos modelos
matemáticos empíricos (Lewis, Henderson & Pabis e Page) e difusivo (condição de
contorno do primeiro tipo) foram ajustados.
Gasparin et al. (2017) avaliaram a secagem, das folhas de hortelã pimenta e
para a obtenção das curvas foram utilizadas as temperaturas no intervalo de 30 a 70
°C com variação da velocidade do ar de secagem: 0,3 e 0,5 m/s. Para a realização da
secagem das folhas, foi utilizado um secador de leito fixo em escala de laboratório,
que possui um ventilador para a movimentação do ar e sistema de aquecimento.
Silva et al. (2017) estudaram as propriedades termodinâmicas e cinéticas de
secagem de folhas de pata-de-vaca. O objetivo neste trabalho foi determinar o
coeficiente de difusão efetivo e as propriedades termodinâmicas das folhas de
Bauhinia forficata Link, considerando-se duas formas de medição de espessura, bem
como descrever o processo de secagem por meio do ajuste de modelos matemáticos.
As folhas foram coletadas, levadas ao laboratório e preparadas para dar início ao
processo de secagem em quatro temperaturas (40, 50, 60 e 70 °C). Após a secagem
determinou-se o coeficiente de difusão efetivo por meio da teoria da difusão líquida
permitindo a obtenção dos valores da energia de ativação, entalpia, entropia e energia
livre de Gibbs. Já a descrição do processo de secagem foi realizada por meio do ajuste
de treze modelos matemáticos constantemente utilizados para representação de
secagem de produtos agrícolas.

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CONCLUSÕES

O mastruz (Chenopodium ambrosioides L) possui propriedades


comprovadamente medicinais e estudadas em todo o mundo. É uma planta que pode
trazer diversos benefícios e valor agregado. Na literatura há carência de estudos
sobre a secagem da planta, em comparação com os demais alimentos utilizados na
técnica de secagem, como a banana. A técnica de secagem em camada de espuma do
mastruz traz uma inovação no que diz respeito as novas tecnologias que podem ser
utilizadas para obtenção de um produto com fácil armazenamento, transporte e
validade. Os estudos são pertinentes para avaliação de novos horizontes dessa planta
tão importante.

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CAPÍTULO 17
PONTOS DE CARBONO
OBTIDOS DE DIFERENTES
PLANTAS E FRUTOS
Rangel De Castro Barbosa 1
Paula Fernanda Contes Campos 2
Ellen Raphael 3

1
Cursando Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Manaus-
AM, email: rangelc.barbosa@gmail.com, ID Lattes: 4055820218874914.
2
Cursando Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Manaus-
AM, email: p.fernandacontes@gmail.com, ID Lattes: 9021574635650610.
3
Professora do Curso de Engenharia Química, Escola Superior de Tecnologia,
Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Manaus-AM, email: eraphael@uea.edu.br, ID
Lattes: 1077764607984864.

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PONTOS DE CARBONO OBTIDOS DE DIFERENTES PLANTAS E FRUTOS

RESUMO

Uma classe muito recente de nanomateriais fotoluminescentes, esféricos e com


tamanho inferior a 10 nm, chamados de pontos de carbono, tem despertado o
interesse tecnológico devido principalmente às suas excepcionais propriedades óticas
de absorção e emissão, bem como baixo custo, baixa toxicidade, estabilidade coloidal
com elevada resistência a fotodegradação, além de facilidade de preparo. Inúmeros
materiais podem ser utilizados como precursores, sejam materiais puramente
carbonáceos, ou qualquer outro material contendo carbono em sua composição:
desde resíduos urbanos ou da biomassa, até precursores oriundos de fontes animais
ou vegetais. Este trabalho apresenta uma revisão da literatura, comparando os
principais resultados obtidos com a utilização de diferentes plantas ou frutos como
precursores, na obtenção de pontos de carbono, visando um material bibliográfico
base, para aplicações de outros precursores desta mesma categoria.
Palavras-chave: Pontos de Carbono; Nanomateriais; Nanotecnologia; Luminescência;
Emissão.

CARBON DOTS OBTAINED FROM DIFFERENT PLANTS OR FRUITS

ABSTRACT
A very new class of spherical photoluminescent nanomaterials with less than 10 nm
in size, called carbon dots, has aroused technological interest mainly due to their
exceptional optical absorption and emission properties, as well as low cost, low
toxicity, colloidal stability with great photodegradation resistance and easy
preparation. A great number of materials can be used as precursors sources, whether
they are just carbonaceous materials, or any other material containing carbon in its
composition: from urban or biomass residues to animal or vegetable precursor
sources. This work presents a literature review, comparing the main results obtained
using different plants or fruits as precursors sources, in obtaining carbon dots, aiming
a bibliographic base material for applications of other precursors from the same
category.
Key-words: Carbon Dots; Nanomaterials; Nanotechnology; Luminescence; Emission.

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INTRODUÇÃO

A nanotecnologia, nas últimas décadas, tornou-se uma ciência com grande


relevância no âmbito cientifico, seja por suas várias aplicações industriais, ou mesmo
devido seu alto potencial tecnológico, principalmente nas áreas de química, física,
eletrônica, ciência da computação, medicina, biologia e engenharia (Duran et al.,
2006). O estudo das propriedades dos materiais em nanoescala é importante e
também baseado na influência que o tamanho tem sobre as propriedades de um
material, como por exemplo aumento de reatividade ou possibilidade de ajuste de
propriedades óticas com controle do tamanho (Oliveira et al, 2020). A explicação para
isso está em que as propriedades definidas para um material em tamanho macro só
começam a existir a partir de um determinado tamanho, denominado ponto crítico.
Os nanomateriais estão definidos com tamanhos menores que os pontos críticos o
que acaba justificando a alteração das propriedades que existem em tamanho macro
(Zarbin, 2007).
A formação desses materiais, com tamanhos geralmente entre 1 e 100
nanômetros (nm), ocorre a partir da incorporação de moléculas ou estruturação de
nanopartículas, através de um dos processos a seguir: Top-Down (de cima para
baixo), que tem como base a divisão de grandes estruturas, e Bottom-Up (de baixo
para cima), que faz uso das propriedades químicas e das interações atômicas criando
uma aglomeração organizada e consequentemente estruturas em nanoescala, porém
dentro destes processos há uma grande diversidade de metodologias que podem ser
empregadas, e a escolha depende muito do tipo de nanomaterial que se deseja obter,
bem como as propriedades e aplicações (Oliveira et al, 2020).
De modo geral, a síntese de nanomateriais está se tornando a cada dia mais
acessível quanto à complexidade experimental e custos, no entanto, o processo de
síntese de nanopartículas ainda apresenta algumas dificuldades devido a sua
natureza termodinamicamente instável, além da facilidade com que se aglomeram, de
modo que conseguir estabilizar uma nanopartícula muitas vezes se torna um desafio
e muitos parâmetros ainda devem ser estudados e controlados para melhorar a
qualidade dos nanomateriais obtidos (Zarbin, 2007).
Há diversas classes de nanomateriais que recebem diferentes classificações, seja
pela sua composição: orgânicos, híbridos ou inorgânicos, ou ainda de acordo com sua
morfologia: nanopós, nanobastões, nanofios, nanoesferas, entre outras. Existe uma

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classe específica de nanomateriais à base de carbono que tem se destacado devido à


grande variedade de formas que suas estruturas podem obter, além de suas
propriedades únicas, entre eles estão os fulerenos, grafenos, nanotubos de carbono e
pontos de carbono (Jesus et. al., 2012).
Um material ainda mais novo, e de destaque entre os nanomateriais a base de
carbono, são os chamados pontos de carbono (PCs), um tipo de partícula com
propriedades peculiares, cuja composição estrutural, de forma geral, é um núcleo
nanocristalino grafítico de carbono (carbono sp2 e sp3) acoplado a uma região
amorfa, que dispõe de uma variabilidade de grupos funcionais orgânicos que se
relaciona diretamente aos produtos de origem da síntese (Wang e Hu, 2014). Estes
materiais também recebem a nomenclatura, conforme a literatura, de: carbon dots,
carbon nano dots, carbon quantum dots e frequentemente são chamados de C-dots
(Machado, et. al., 2015).
Dentre as metodologias de síntese para PCs podemos citar alguns métodos
físicos, por abordagem top-down, como: oxidação eletroquímica, que possibilita a
obtenção de produtos com tamanho controlável em etapa única, porém são poucos os
precursores de baixa massa molecular que podem ser utilizados com sucesso;
irradiação com laser, procedimento que permite obter partículas com controle de
superfície ajustáveis, de maneira muito rápida, porém com baixo rendimento
quântico e difícil controle de tamanho ou tratamento ultrassônico, que permite a
obtenção de PCs a partir de materiais de baixo custo e rapidez, porém é difícil o
controle de tamanho da nanopartícula; e alguns métodos químicos, por abordagem
bottom-up, como: oxidação ácida, procedimento este no qual várias matérias primas
acessíveis, de baixo custo, podem ser utilizadas como precursores, porém é um
processo mais lento e sem controle no tamanho do produto ou tratamento
hidrotérmico, procedimento não tóxico que possibilita utilizar materiais de baixo
custo porém é um método com baixo controle sobre os tamanhos das partículas
sintetizadas (Andrade, 2016).
O primeiro registro sobre síntese de pontos de carbono ocorreu em 2004
durante a purificação de nanotubos de carbono (Jelinek, 2016). Esse evento serviu
como matriz teórica de pesquisa para vários estudos posteriores utilizando diversos
precursores e técnicas, como exemplo das principais matérias primas podemos citar:
carbono grafite (Machado, 2019), polímeros (Carmo, 2020), ácido cítrico (Andrade

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Junior, 2020) (Lopes, 2020) (Cruz, 2016), resíduos orgânicos (Gunjal et. al., 2019) e
Biomassa (Kang et. al, 2020).
Como característica geral dos PCs, observa-se boa solubilidade em água,
formando soluções que vão desde uma coloração amarelada a marrom escura, que
exibem fluorescência quando expostos à radiação ultravioleta, fluorescência esta que
pode ter a emissão alterada com a variação do comprimento de onda da excitação,
além de apresentar biocompatibilidade e baixa toxidade (Vaz et. al., 2015) (Machado
et. al., 2015). A luz emitida por esses materiais a base de carbono é mais intensa
comparada com as dos outros átomos cuja emissão depende da área superficial, e este
fenômeno está relacionado com seus defeitos de superfície, que podem apresentar
porosidade, ligações químicas livres e grupos funcionais. Esse fator faz com que haja
perdas energéticas no processo de recombinação de elétrons e buracos, resultando
alterações no comprimento de onda, e na faixa de energia. (Zheng et al., 2009)
As pesquisas e estudos, desses emergentes nanomateriais, têm avançado e
aumenta cada vez mais, com interesse mais expressivo a partir de 2012 (Machado, et.
al., 2015), buscando melhor compreender seus propriedades óticas e físico-químicas,
aprimorar as metodologias e rotas sintéticas, adequar processos de passivação de
superfície, bem como desenvolver novas aplicações. Um ponto importante é realizar
um comparativo entre os candidatos a precursores e as metodologias e condições de
síntese, visando a obtenção de materiais com melhores propriedades óticas.
Este trabalho teve como objetivo principal dar um embasamento da literatura,
sobre as potencialidades de obtenção de pontos de carbono a partir de diferentes
plantas e frutos em geral, a partir de diferentes metodologias de sínteses,
comparando as propriedades óticas, morfológicas e estruturais, assim produzindo
uma material base de referência para futuros trabalhos aplicando precursores desta
mesma categoria.

METODOLOGIAS

Com base em um levantamento na literatura utilizando plantas e frutos como


principal precursor de carbono, as principais metodologias de síntese empregadas
são baseadas em tratamento hidrotermal, onde os precursores são normalmente
dispersos em solução aquosa, ou uma composição de água e outro solvente polar, e
submetidos a uma elevação de temperatura, acima da temperatura de ebulição dos

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solventes, sob pressão, ou ainda pela metodologia de carbonização em forno, seja


microondas ou mufla, onde o precursor é submetido à queima. A relação de diferentes
precursores avaliados neste trabalho, seguindo a cronologia, e suas respectivas
metodologias de síntese, estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Metodologias de síntese e precursores


Precursor Metodologia Condições de Pós-preparo Referência
empregadas aquecimento /purificação
Suco de laranja Tratamento Tempo médio de Lavagem com (Sahu et al.,
hidrotermal 15 minutos a diclorometano seguido 2012)
121 °C de acetona e
centrifugação
Suco de banana Tratamento Tempo médio de Lavagem com água, (De e Karak,
hidrotermal 4 horas a 150 °C centrifugação e 2013).
filtragem
Batata Tratamento Tempo médio de Lavagem com ( Mehta et.
hidrotermal 12 horas a 170 diclorometano, al., 2014)
°C Filtração,
centrifugação e diálise
Bagaço da cana- Tratamento 180 °C por 3 Centrifugação, diálise e (Du et al.,
de-açúcar hidrotermal horas liofilização a vácuo 2014)
Bagaço da cana- Tratamento 150 °C, 170 °C, Centrifugação, diálise e (Chung et
de-açúcar hidrotermal 190 °C e 210 °C liofilização a vácuo al., 2020)
Goma de caju Carbonização Tempo de Centrifugação e (Pires et al.,
por aquecimento 30 liofilização. 2015)
microondas - 40 minutos
Suco de maçã Tratamento Aquecimento Filtração e (Mehta et.
hidrotermal por 12 horas a centrifugação al., 2015)
150 °C
Suco de abacaxi Tratamento 120 °C, 130 °C, Filtração, (Andrade,
hidrotermal 140 °C e 150 °C centrifugação e diálise 2016)
Fruto de ginko Tratamento Aquecimento Sem informações (Li et al.,
hidrotérmico por 12 e 16 fornecidas 2017)
/ horas a 200 °C /
Carbonização 15 minutos em
por microondas
microondas
Suco de Tratamento Aquecimento Lavagem com (Guo, et. al.,
melancia hidrotermal por 12 horas a diclorometano, 2018)
190 °C Filtração,
centrifugação e diálise
Suco de maça Tratamento Aquecimento Lavagem com (Guo, et. al.,
hidrotermal por 12 horas a diclorometano, 2018)
190 °C Filtração,
centrifugação e diálise
Suco manga Tratamento Aquecimento Lavagem com (Guo, et. al.,
hidrotermal por 12 horas a diclorometano, 2018)
190 °C filtração,
centrifugação, diálise

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Suco de Cebola Carbonização Potência de 1450 Centrifugação e diálise (Monte-


e de limão por W por 6 minutos Filho et al.,
microondas 2019)
Cascas de Carbonização 2 horas de Sem informações (Aggarwal
maçãs em forno aquecimento a fornecidas et al., 2020)
mufla 300°C
Resíduos de Tratamento 3 horas de Centrifugação e diálise (Yang et al.,
maracujá hidrotermal aquecimento a 2020)
180 °C,

REVISÃO DA LITERATURA

Pontos de Carbono Obtidos por Tratamento Hidrotermal

Procedimentos utilizando tratamento hidrotérmico têm sido bem mais


frequentes na literatura, para diferentes precursores vegetais, devido principalmente
à simplicidade do processo, não necessitando de instrumentação sofisticada,
produzindo pontos de carbono de qualidade com boa fluorescência (Hu, et al., 2010).
Em teoria, os pontos de carbono que possuem heteroátomos, principalmente quando
dopados com enxofre e nitrogênio, apresentam maior fluorescência e maior
qualidade para ajustar suas propriedades eletrônicas e químicas (Duan et al., 2016).
PCs obtidos a partir do bagaço de cana-de-açúcar em solução, apresentaram-se
monodispersos, sem agregação aparente, de forma esférica, com diâmetro médio de
1,8 nm, exibindo fotoluminescência (PL) multicolorida sob diferentes excitações,
observada por meio de microscopia de fluorescência, onde uma gota da solução
aquosa de PCs exibiu luminescência azul, verde e vermelho sob irradiação
ultravioleta (330-386 nm), azul (460-495 nm) e verde (530-550 nm),
respectivamente, sendo observado um deslocamento do pico de emissão para o
vermelho, de 450 para 550 nm, quando o comprimento de onda de excitação mudou
de 330 para 510 nm (Du et al., 2014). Em 2020 foram obtidos resultados
semelhantes, porém com variação nos tamanhos das partículas, ao se analisar PCs
obtidos de solução de bagaço de cana-de-açúcar, em diferentes temperaturas.
Exibiram fluorescência azul, com menor intensidade nos produtos sintetizados em
150 °C e a maior intensidade na síntese a 190 °C. Uma justificativa apresentada para
as amostras sintetizadas em 210°C não apresentarem a maior intensidade de
fluorescência, ser devido a danificação de grupos funcionais localizados na superfície
da partícula, resultando em menor energia de superfície e consequentemente menor
intensidade (Chung et al., 2020).

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Os PCs obtidos a partir de suco de melancia, de maçã e de manga apresentaram


dispersão uniforme, sem agregação, segundo análises por microscopia eletrônica de
transmissão (TEM), com partículas maiores para PCs obtidos a partir do suco de
melancia, de 4,68 + 1,04 nm, enquanto que os PCs obtidos a partir da manga e maçã
apresentaram menores partículas de 2,43 + 0,64 nm e 2,22 + 0,39 nm
respectivamente. Por análises de espectroscopia no infravermelho (FTIR), foi
possível identificar abundantes grupos alquila, além da existência de carbonilas,
amidas, ésteres, e presença de carbonos insaturados, indicando que os PCs recém
preparados contêm uma configuração de olefinas. A análise por espectroscopia
Raman indicou a presença de carbonos sp2 e sp3, além de alto grau de grafitização
(pelo cálculo da intensidade ID/IG). Através de análise elementar e por
Espectroscopia de Fotoelétrons por Raios X (XPS) identificaram predominância de
carbono e oxigênio, e presença, em menor quantidade, de nitrogênio e enxofre.
Maiores rendimentos quânticos de luminescência foram observados para PCs
preparados a partir do suco de maçã: 7,0 %, em pH 4,7, amostras preparadas a partir
do suco de manga e de melancia apresentaram 5,0 e 4,9 % respectivamente, sendo
superior também a um estudo anterior o mesmo precursor: suco de maçã (Mehta, et.
al., 2015), nesse caso os autores atribuíram a uma maior temperatura de síntese. Os
pesquisadores também observaram um aumento do rendimento quântico de
luminescência, com aumento do pH, encontrando os seguintes valores, para os PCs a
partir do suco de maçã: pH 3 = 5,3 %, pH 4,7 = 7,0 %, pH 7 = 8,1 %, pH 10 = 15,9 %,
além de um deslocamento da banda de absorção dos PCs de 250 nm em pH 3, para
270 nm em pH 10, estas mudanças na transição π – π*, provocadas pela concentração
de H+ e OH- podem ser atribuídas a transição eletrônica nos nanodomínios de grafite
do PCs por descarga ou recarga das bandas de valência. Os picos de emissão de
fluorescência também foram deslocados de 392 nm para 405 nm e 421 nm com a
variação de pH de 3 para 7 e para 10, sendo atribuído à uma passivação provocada
pelas hidroxilas na superfície sobre os originais defeitos na superfície dos PCs,
diminuindo as recombinações não radiativas, observado como uma diminuição
gradual do tempo de vida, de 5,82 nseg pH 3 a 0,98 nseg pH 10 (Guo, et. al., 2018).
Utilizando batata como precursor, o produto obtido apresentou propriedades
luminescentes semelhantes a PCs derivados de glicose e sacarose, exibindo forte
fluorescência azulada sob iluminação UV a 365 nm, no entanto, com o aumento do

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comprimento de onda de excitação de 300 para 540 nm, os picos de emissão são
desviados de 380 nm para o vermelho em 540 nm, enquanto as intensidades de PL
diminuem notavelmente, Além disso, os PCs preparados mostraram boa capacidade
de emitir cores diferentes (azul, verde e vermelho) em diferentes comprimentos de
onda de excitação, com tempo de vida da fluorescência muito curto, refletindo um
rápido processo de recombinação de éxcitons. O produto obtido foi altamente
dispersível na água devido à composição da região amorfa, enriquecida de grupos
carbonila, ácido carboxílico e hidroxilas, observado por FTIR, proveniente das
biomoléculas da batata (Mehta et al., 2014).
Os PCs obtidos a partir da laranja também apresentaram excelente solubilidade
na água sem modificação química posterior devido à presença de hidroxila, carbonila
e ácido carboxílico além de epóxi na região amorfa, entretanto foi observada a
formação de dois grupos de PCs possíveis de serem separados por controle de
centrifugação, os maiores sendo menos fluorescentes e os menores, quase
monodispersos, altamente fluorescentes. A solução resultante apresentava-se com
coloração amarela e transparente em luz do dia, porém verde intenso sob excitação
UV, apresentando absorção em 288 nm (para os CDs menores e altamente
luminescentes). Ocorreu um deslocamento dos espectros de emissão para o vermelho
com o aumento do tamanho das partículas, de 455 nm para 474 nm. O mecanismo de
fotoluminescência mostrou ser controlado tanto pelo tamanho quanto pelos defeitos
de superfície, sendo dependente do pH. Foi obtido rendimento quântico de 26 % para
as partículas menores e altamente luminescente, e de 20 % para as partículas
maiores, valores estes bem maiores que encontrados par outros PCs sintetizados por
outras metodologias. Os pesquisadores relataram que a intensidade de PL diminuiu
muito em pH extremamente alcalino e diminuiu ligeiramente em pH
exorbitantemente ácido, mas permaneceu quase inalterado em pH 4,8–8,7 (Sahu et
al., 2012).
Nos pontos de carbono obtidos pela síntese hidrotérmica de caroços de
maracujá, os autores destacaram como principais características morfológicas:
nanopartículas esféricas com tamanho médio de 5 nm, rede cristalina de núcleo
grafítico de 0,28 nm, e presença dos grupos amino, carboxila, além de outros grupos
funcionais solúveis contendo oxigênio, na região amorfa (Yang et al., 2020).

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As soluções aquosas de PCs obtidos a partir do suco de abacaxi apresentaram a


coloração amarelo castanho na luz visível. Quando expostas a radiação ultravioleta
(comprimento de onda de 380 nm) os PCs sintetizados nas temperaturas de 120 e
130 ° C apresentaram uma forte emissão de PL azul, enquanto empregando a
temperatura de 140 ° C apresentaram uma forte emissão de fluorescência na região
do verde. Os valores de rendimento quânticos variam entre 6,27 % (120 °C), 8,76 %
(130 °C), 9,32 % (140 °C) e 4,45 % (150 °C). Na superfície das nanopartículas
identificou-se a presença dos grupos O – H, N – H, C–H, C – N, C = C, C – O – C
(Andrade, 2016).
Na síntese de PCs a partir da banana foram obtidos nanomateriais com tamanho
médio de 3 nm, e presença de ligações na região amorfa: – OH, – C–H, C–O–C, C–O,
além de uma pequena quantidade (0,92 % em peso ou 0,31 % em proporção atômica)
de potássio. As amostras obtidas apresentaram luminescência verde em exposição de
luz ultravioleta, com intensidade dependente da concentração dos PCs, sendo que a
intensidade dos espectros PL nitidamente aumenta com a diminuição da
concentração de PCs. O pico de absorção observado na região de UV (máximo em 283
nm), está relacionado à transição principal n – π*, com uma cauda estendendo-se até
a faixa visível, atribuída para a transição π – π* da banda conjugada. Observa-se uma
intensidade alta de fotoluminescência na faixa de pH fisiológico, entre 4 e 8,
encontrando rendimento quântico de 8,95 % (De e Karak, 2013).
Os pontos de carbonos sintetizados a partir de resíduos de maracujá,
apresentaram dois tempos de vida de decaimento de fluorescência de 1,69 ns e 6,98
ns, com rendimento quântico calculado de 1,8 %, valor este relativamente baixo
quando comparado com pontos de carbono sintetizados por frutas ricas em ácido
cítrico. (Yang et al., 2020).

Pontos de Carbono Obtidos por Carbonização em Forno

Nos procedimentos de carbonização, seja por forno microondas ou por mufla, os


autores utilizaram como precursores suco de cebola com limão, caju, ginko e cascas
de maça. Na utilização do suco de cebola com limão (tratamento por microondas) os
autores identificaram por TEM uma distribuição de tamanhos de 4,23 a 8,22 nm, de
tamanho médio de 6,15 nm, com formação de um núcleo esférico grafítico, observado
por difração de raios X, e a região amorfa apresentando incorporação de grupos de

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amina, hidroxila e sulfeto, identificados por FTIR. Os PCs resultantes apresentaram


rendimento quântico de 23,6%, rendimento esse entre os melhores, quando
comparado com os estudos de síntese de PCs utilizando como a biomassa como fonte
precursora (Monte-Filho et al., 2019).
Com a goma de caju, foram obtidas soluções de PCs de coloração amarela com
tons de castanhos quando expostas à luz visível, entretanto, e em contato com a luz
ultravioleta exibia emissão intensa de coloração azul. Não foi empregado nenhum
método de passivação, e os PCs sintetizados apresentaram rendimento quântico
similar aos materiais obtidos a partir de biomassa e com níveis de toxicidade neutros.
Também foi observado que houve uma variação no tamanho das partículas de
diâmetro entre 3 a 9 nm (Pires et al., 2015).
Através de carbonização por forno tipo mufla, e utilizando-se casca de maçã
como precursor, foram obtidos PCs de formato esférico e inferiores a 5 nm conforme
análises por TEM, contendo núcleo grafítico, observado espectroscopia Raman e TEM,
com presença de: carbono com aproximadamente 60,30 %, oxigênio com
aproximadamente 37,47 % e nitrogênio 2,23 % na superfície, com formação de
ligações C-C, C-O/N, O-N/C, COO-, -C-N e –C=N, observado por XPS (Aggarwal et al.,
2020).

Tratamento Hidrotermal versus Carbonização em Forno

No experimento o qual utilizaram a fruta de ginko para sintetizar pontos de


carbono, foi possível avaliar as duas diferentes metodologias de síntese: tratamento
hidrotermal e carbonização em forno de microondas, onde destaca-se os principais
resultados: as amostras submetidas a tratamento hidrotermal em temperatura de
200 °C por 12 horas, foram obtidos PC de tamanho médio de 3,81 nm, com morfologia
mais regular e uniforme, apresentando a melhor intensidade de fluorescência, com
rendimentos quânticos de 3,33% e tempo de vida de 6,16 ns com boa estabilidade em
meio ácido ou alcalino, enquanto amostras que foram aquecidos por 15 minutos em
forno de microondas, apresentaram tamanho médio de 2,82 nm (TEM) e exibiram
rendimento quântico de 0,65% e tempo de vida de 4,14 ns (Li et al., 2017), o que
condiz com os resultados de literatura, que apresentam a técnica hidrotermal como
mais adequada para síntese de pontos quânticos a partir de precursores vegetais.

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CONCLUSÕES

Com base nos trabalhos aqui reportados, é possível observar uma


predominância da metodologia de tratamento hidrotérmico para a síntese de pontos
de carbono a partir de precursores vegetais produzindo pontos de carbono de
qualidade com boa fluorescência. Também pode-se constatar que os PCs obtidos a
partir de plantas e frutos apresentam morfologia esférica, homogênea, com pouca
dispersão de tamanhos, e inferiores a 10 nm. Quanto à estrutura, apresentam um
núcleo grafítico e uma região amorfa, cuja composição está relacionada com as
estruturas dos compostos bioquímicos presentes na matéria prima. Um exemplo
disso são os pontos de carbono que apresentaram uma pequena quantidade de
potássio derivado da sua matéria prima (suco de banana) e os pontos de carbono
obtidos a partir do suco de limão com cebola, que apresentaram grupos sulfetos. Os
principais grupos identificados em comum em todos os produtos foram grupos
carbonila e hidroxila.
No que diz respeito à fluorescência e rendimento quântico, os resultados variam
muito, e embora alguns artigos não avaliaram este tipo de resultado, os melhores
valores de rendimento quânticos de fluorescência foram obtidos para PCs
sintetizados pelo método hidrotermal, a partir do suco de cebola com limão: 23,6 %,
e suco de laranja: 23 %, valores condizentes com pontos de carbono sintetizados a
partir da biomassa em geral. Essa maior eficiência pode ser justificada pela presença
dos heteroatomos: enxofre e nitrogênio, (presentes na cebola) e pela presença do
ácido cítrico, (presentes no limão e na laranja). O pH também mostrou influenciar no
rendimento quântico de luminescência, muito provavelmente por passivar a
superfície e diminuir recombinações não radiativas.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES, ao CNPq, à FAPEAM e a UEA pelo suporte e
apoio financeiro recebido e à organização do I WENDEQ pela oportunidade de
divulgação do trabalho.

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CAPÍTULO 18
MODELAGEM DE UMA
DOENÇA ARTERIAL COMO
DIDÁTICA NO ENSINO DE
ENGENHARIA QUÍMICA

Leonardo Voltolini1
Poliana Sander Ferreira2
Luizildo Pitol-Filho3

1
Graduado em Engenharia Química, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí,
SC, email: leovoltolini@edu.univali.br, ID Lattes: 9448916214015145.
2
Graduada em Engenharia Química, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC,
email: polianasander@edu.univali.br, ID Lattes: 6117353880072836.
3
Professor da Escola do Mar, Ciência e Tecnologia, Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI), Itajaí, SC, email: luizildo@univali.br, ID Lattes: 9098394611142005.

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MODELAGEM DE UMA DOENÇA ARTERIAL COMO DIDÁTICA NO ENSINO DE


ENGENHARIA QUÍMICA

RESUMO
A aterosclerose é uma doença vascular que afeta a saúde humana por meio do
acúmulo de colesterol e outras substâncias na parede arterial, incorrendo na redução
da sua área de sessão transversal. Na literatura, alguns modelos matemáticos
descrevem a progressão dessa doença. No entanto, o presente estudo se diferencia ao
apresentar o objetivo de modelar e simular a progressão da aterosclerose como
metodologia de aprendizagem baseada em problemas no ensino de Engenharia
Química. Como resultado, o método ativo aplicado a um contexto díspar da indústria
química ressaltou o interesse dos acadêmicos pela busca de conhecimentos. Além
disso, contribuiu para a construção de um olhar inovador e criativo, afora dos
padrões convencionais da graduação e vida profissional. Por fim, a integração
numérica dos modelos desenvolvidos pelos alunos mostrou a redução do raio arterial
quando níveis de LDL acima do recomendado foram admitidas como condição inicial,
assim como esperado.
Palavras-chave: Aterosclerose. Modelagem. Simulação. Aprendizagem baseada em
problemas. Engenharia Química.

MODELLING OF AN ARTERIAL DISEASE AS A DIDACTIC ON CHEMICAL ENGINEERING


EDUCATION

ABSTRACT
Atherosclerosis is a vascular disease that affects human health by accumulating
cholesterol and other substances in the arterial wall, incurring the reduction of its
cross-sectional area. In the literature, some mathematical models describe the
progression of this disease. However, the present study differs from them by
presenting the objective of modelling and simulating the progression of
atherosclerosis as a problem-based learning methodology in Chemical Engineering
education. As a result, the active method applied to a different context of the chemical
industry highlighted the interest of academics in the search of knowledge. In addition,
it contributed to the construction of an innovative and creative look beyond the
conventional standards of graduation and professional life. Finally, the numerical
integration of the models developed by the students showed a reduction in the
arterial radius when LDL levels above the recommended were admitted as an initial
condition, as expected.
Key-words: Atherosclerosis. Modeling. Simulation. Problem-based learning.
Education. Chemical Engineer.

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento tecnológico exige da sociedade contemporânea e da


educação tradicional a formação de cidadãos e profissionais com novas perspectivas
de comunicação, trabalho, aprendizagem e relacionamento. De tal maneira,
educadores e instituições de ensino superior vêm buscando recursos educacionais
para formar profissionais aptos a esta realidade (Guisso et al., 2019). Na literatura,
experiências de ensino e estudos de caso revelam que os métodos ativos de
aprendizagem facilitam a obtenção de conhecimentos e a aquisição de habilidades
interpessoais e de pensamento. Entre as diferentes metodologias ativas disponíveis,
pode-se citar: gamificação, sala de aula invertida, learning-by-doing, design thinking,
aprendizado eletrônico e aprendizagem baseada em problemas (Díaz-Sainz et al.,
2021).
A aprendizagem baseada em problemas (ABP) se configura como uma
abordagem educacional por meio de problemas da vida real com o propósito de
motivar e facilitar a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de atitudes que
sejam relevantes à futura atuação profissional do aluno (Ribeiro, 2008). Ela deve
estar relacionada com a experiência e o cotidiano dos acadêmicos, permitindo-lhe
formular problemas, desafiar seus próprios limites e habilidades e se preparar para
novos aprendizados. Neste cenário, surge a eclosão do ABP como potencial
metodológico, com a utilidade de auxiliar docentes e discentes no compartilhamento
e aquisição de conteúdo teórico, fortalecimento e ampliação de suas capacidades,
resolução de problemas e envolvimento com a aprendizagem (Guisso et al., 2019).
Schwartz et al. (2007) relata que na ABP é comum trabalhar com pequenos
grupos de estudantes juntamente com um professor que tem como papel atuar como
facilitador das discussões e da aprendizagem e não como fonte direta de informações.
Esse método de aprendizado se fundamenta em uma série de ciclos de trabalho, que
podem ou não ser modificados durante o desencadeamento da técnica para que os
objetivos educacionais sejam alcançados.
O ciclo básico é iniciado com a apresentação do problema (Passo I). Os alunos
interagem entre si e exploram o conhecimento existente no que tange ao problema
(Passo II); e formulam e testam hipóteses sobre os mecanismos que o explique (Passo
III). Posteriormente, identificam novas necessidades de aprendizagem (Passo IV);
realizam auto estudo entre as reuniões do grupo para atendimento das necessidades

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de aprendizagem identificadas (Passo V); retornam ao grupo para integrar o


conhecimento recém-adquirido e aplicá-lo ao problema (Passo VI). Conforme
necessário, os passos III a VI são repetidos (Passo VII). Por fim, refletem sobre o
processo e o conteúdo aprendido (Passo VIII) (Ribeiro, 2008; Schwartz et al., 2007).
Em um outro contexto, a disciplina de Análise e Simulação de Processos é parte
fundamental da grade curricular do ensino superior em Engenharia Química (Belton,
2016). Disciplinas que envolvem modelagem e simulação permitem a integração de
conceitos como cálculo, física, métodos numéricos, projeto de reatores,
termodinâmica e fenômenos de transporte. Esses conceitos quando incorporados em
cenários realísticos aumentam a motivação dos acadêmicos de engenharia (Manrique
e Póvoa, 2020). Como exemplo, é possível citar a sua aplicação na avaliação do
comportamento dinâmico de doenças que afetam a humanidade, como glaucoma,
cálculo renal e aterosclerose.
A aterosclerose é uma doença arterial provocada pela formação e crescimento
de placas gordurosas formadas pela migração de partículas de lipoproteína de baixa
densidade – LDL – e outras substâncias através do endotélio (Nematollahi et al.,
2012). O endotélio é uma membrana seletiva que promove o equilíbrio entre o
sangue e a parede arterial por meio do controle de entrada e saída de cargas iônicas,
substâncias e células. Altas concentrações de LDL no sangue podem promover
alteração da permeabilidade do endotélio, contribuindo para um posterior acúmulo
de lipídios na camada arterial íntima, local onde a placa aterosclerótica, ou ateroma,
se desenvolve (Silva et al., 2020).
A modelagem e simulação do processo de formação da aterosclerose já são
discutidos na literatura (Cilla et al;. 2014; Nematollahi et al., 2012; Silva et al., 2020).
Porém, não foram encontrados trabalhos científicos que tratem desse problema com
o enfoque educacional. Assim, o presente trabalho propõe a aplicação da metodologia
de aprendizagem baseada em problemas para a investigação do comportamento
dinâmico da aterosclerose por acadêmicos de Engenharia Química.

METODOLOGIAS

Abordagem didática
A metodologia de aprendizagem baseada em problemas foi aplicada no
desenvolvimento de um trabalho com a turma de Análise e Simulação de Processos,

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do curso de Engenharia Química da Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí – SC. O


processo foi orientado pelo professor da disciplina ao longo do semestre letivo. Os
acadêmicos tinham por objetivo realizar a compreensão do fenômeno dinâmico de
doenças humanas – como escorbuto, tártaro, glaucoma, cálculo renal e aterosclerose –
e realizar a modelagem e simulação matemática dessas doenças empregando
conhecimentos aprendidos ao longo do curso e da disciplina.

Descrição do fenômeno
Sistemas dinâmicos são descritos por modelos de transporte de massa, energia
ou quantidade de movimento entre dois pontos de um espaço físico contínuo,
denominado volume de controle (Haefner, 2005). Na formação da aterosclerose,
delimita-se a artéria como volume de controle, uma vez que através dela ocorre o
fluxo sanguíneo e o transporte de substâncias, Figura 1.

Figura 1: Artéria (A) normal e (B) com formação de placas gordurosas (ateroma).

Em um processo de modelagem é fundamental definir as hipóteses do problema


estudado, afim de fornecer simplificações ao modelo matemático. Logo, no processo
de formação do ateroma, considerou-se que:
i. O sangue e o LDL apresentam propriedades termofísicas constantes.
ii. O fluxo de sangue e substâncias no lúmen apresentam perfil de
velocidade característico a um reator de fluxo empistonado.
iii. A geometria da artéria e do ateroma é cilíndrica.
iv. As partículas de LDL têm dimensões esféricas.

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v. A transferência de massa de LDL através do endotélio ocorre pelo


fenômeno de difusão por membranas permeáveis.
vi. A temperatura do sistema é constante, considerando-se a temperatura
média do corpo humano.
vii. Não há variação da concentração de LDL na posição radial da artéria.
viii. A transferência de massa por difusividade através do lúmen é muito
menor que a transferência por convecção, sendo considerada
desprezível.
ix. As partículas de LDL que atingem a camada íntima formam a placa
aterosclerótica sem apresentar resistência à transferência de massa.
Problemas que apresentem balanço material necessitam da formulação de um
modelo matemático que os descrevam coerentemente (Basmadjian, 2003). De forma
genérica, o balanço de massa global para qualquer volume de controle é definido na
Equação 1 (Haefner, 2005).

Acúmulo Entradas Sa das (1)

Aplicando o teorema anterior à problemática da aterosclerose, verifica-se que o


termo de acúmulo se refere a quantidade de massa de LDL que se deposita na artéria;
o termo de entrada é a transferência de massa convectiva devido ao fluxo sanguíneo e
o termo de saída é representado por dois fenômenos: difusão mássica através do
endotélio e transferência mássica convectiva no lúmen arterial. A Equação 2
apresenta um balanço mássico que representa o transporte de LDL através do lúmen.

( ) ( )
( ) ( ) (2)

Na Equação 2, é observado que a variação da massa de LDL m (kg) em relação


ao tempo t (s) é função da área de transferência de massa AT (m²), da velocidade
sanguínea v (m/s), da diferença de contração de LDL C (kg/m³) nas posições x e
x+dx, e da variação da massa de LDL através do endotélio mend (kg) em função do
tempo t (s).
O conceito referente ao fenômeno de transferência mássica de LDL através do
endotélio é definido por meio de uma condição de contorno aplicada à sua superfície,
Equação 3 (Nematollahi et al., 2012).

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(3)

Na equação anterior, a difusividade de LDL no endotélio Dend (m²/s) e o


diferencial de concentração de LDL ao longo da posição normal à parede, isto é, a
espessura do endotélio eend (m) são equivalentes ao coeficiente de transferência de
massa através do endotélio Kw. (m/s) e a concentração de LDL na superfície do
endotélio Cw (kg/m³), que foi considerada a mesma concentração de LDL para
qualquer posição radial da artéria, conforme as hipóteses do modelo (Ethier, 2002).
Fisicamente, Kw é representado pela razão entre a difusividade de LDL e a espessura
do endotélio, Equação 4 (Basmadjian, 2003).

(4)

Em processos de difusão por membranas permeáveis (hipótese v) existe uma


relação entre taxas de concentração de um soluto percolado por uma membrana e
dissolvido na parede desta membrana. Comumente, essa relação é atribuída ao
número de Sherwood Sh (adimensional), Equação 5 (Basmadjian, 2003).

(5)

Na Equação 5, tem-se o diâmetro da artéria dart (m) e a difusividade de LDL no


sangue Dsangue (m²/s). O número de Sherwood depende dos números de Reynolds Re
(adimensional) e Schmidt Sc (adimensional), os quais apresentam diferentes
correlação conforme o regime de escoamento e geometria do sistema (Bergman et al.,
2014). Para o escoamento de um líquido, em regime turbulento e geometria
cilíndrica, Sherwood é dado pela Equação 6 (Hottel et al., 2007).

,
0,023 (6)

O número de Reynolds é um parâmetro que, para o fenômeno em estudo,


representa a razão entre as forças inerciais e as forças viscosas no escoamento
sanguíneo, Equação 7 (Fox et al., 2014).

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(7)

Na Equação 7, aplicam-se as propriedades termofísicas do sangue: massa


específica ρ (kg/m³) e viscosidade dinâmica μ (Pa.s). O número de Schmidt é a razão
entre a força viscosa e a difusão mássica no sangue, Equação 8 (Cremasco, 2019).

(8)

O termo de difusividade de LDL no sangue Dsangue (m²/s) na Equação 8 foi


determinado através do modelo de Stokes-Einstein, Equação 9. Este modelo prevê
que partículas de geometria esféricas suspensas em um líquido são desaceleradas
pela força viscosa do meio (Cremasco, 2019).

(9)

Na Equação 9, são empregados o valor da constante de Boltzmann kB (J/K), a


temperatura do corpo humano T (K) e o diâmetro da partícula de LDL dLDL (m). Estes
parâmetros são apresentados na Tabela 1.
Determinados os parâmetros, Equações 4 a 9, obtém-se o termo de saída
referente a transferência de massa de LDL através do endotélio descrito na Equação
2. O qual depende da condição de contorno assumida na Equação 3, e da área de
transferência mássica que está relacionada a espessura do endotélio eend e ao
comprimento infinitesimal do volume de controle dx, Equação 10.

( )
( ) (10)

Descrevendo a massa de LDL em termos de sua massa específica ρLDL (kg/m³) e,


por consequência, pelo volume de transferência mássica, deriva-se a expressão da
variação dinâmica do raio da artéria rart, Equação 11.

(11)

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Tabela 1: Parâmetros e condições iniciais aplicados à modelagem e simulação da


aterosclerose.

Parâmetro Descrição Valor Referência

Viscosidade dinâmica
μsangue 0,0032 Pa s Tu et al. (2015)
do sangue
Constante de
kB 1,3806.10-23 J/K Cremasco (2019)
Boltzmann
Massa específica do
ρsangue 1.060 kg/m³ Tu et al. (2015)
sangue (37 ºC)
Temperatura do
T 37 °C Tu et al. (2015)
sangue
Massa específica do
ρLDL 1034,5 kg/m³ Wada e Karino (2000)
LDL
Diâmetro de partícula
dLDL 2,3.10-8 m Wada e Karino (2000)
do LDL
Difusividade de LDL Calculado pela relação
Dsangue 6,2.10-12 m²/s
no sangue de Stokes-Einstein
Diâmetro da artéria Hammer e McPhee
dart 25 mm
aorta (2016)
Espessura do Hammer e McPhee
eend 2 mm
endotélio para a aorta (2016)

Por fim, a equação geral de balanço de massa para a artéria, Equação 12, é
obtida através da aplicação das condições para a migração de LDL através do
endotélio na equação 2.

2 (12)

Dada a sua natureza, as Equações 11 e 12 foram solucionados por métodos


numéricos. Os acadêmicos optaram por utilizar método de Runge-Kutta de ordem
quatro para a resolução da Equação 11. Este método é baseado na expansão da
derivada em séries de Taylor até a 4ª ordem (Ruggiero e Lopes, 2000). A Equação 12
apresenta duas variáveis independentes – tempo e posição - se caracterizando como
uma equação diferencial parcial (Chapra e Canale, 2008). Para sua resolução
numérica, optou-se pelo método de diferenças finitas. Que consiste em reduzir a

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equação na forma diferencial em uma equação de diferenças finitas, podendo ser


resolvida na forma de um sistema de equações (Ruggiero e Lopes, 2000).

Nas simulações, os acadêmicos avaliaram a influência de diferentes


concentrações de LDL, 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 kg/m³, na variação do raio arterial. Estas
concentrações foram selecionadas por serem superiores ao limite definido como
aceitável para um adulto com mais de 20 anos e com baixo risco cardiovascular,
segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Faludi, 2017). Outras
condições iniciais aplicadas à simulação estão apresentadas na Tabela 1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Resolução numérica
A integração numérica da expressão da variação dinâmica do raio da artéria,
Equação 11, indica que para o caso mais grave avaliado para a concentração de LDL, o
raio arterial foi reduzido para menos de 5 mm (mais de 80%) em menos de 40 anos,
Figura 2a. Por outro lado, considerando-se uma dieta constante de 1,5 kg/m³ de LDL,
a redução do raio foi mais lenta, sendo necessário cerca de 75 anos para atingir 5 mm
de raio arterial. Logo, verifica-se que o modelo predito apresenta alta sensibilidade a
concentração de LDL.
O aumento relativo do coeficiente de transferência de massa é justificado pela
diminuição da área da artéria que interfere no aumento do módulo da velocidade e
afeta, consequentemente, os números adimensionais de Reynolds e Sherwood, Figura
2b. O valor inicial de Kw é de aproximadamente 4,9x10-8 m/s para o modelo
apresentado, isto é, está na mesma ordem de grandeza daquele determinado por
Nematollahi et al. (2012), 4.10-8 m/s. Complementando este resultado, aponta-se que
a difusividade inicial através do endotélio foi de 9,8.10-11 m²/s; a difusividade através
do lúmen arterial foi de 6,2.10-12 m²/s, mesma ordem de grandeza relatado por Silva
et al. (2020), 5.10-12 m²/s.
A resolução numérica da equação geral de balanço de massa para a artéria,
Equação 12, apresentou tempo de convergência extremamente rápido, ou seja,
observa-se uma elevada variação da concentração ao longo do tempo e da posição
axial. Portanto, o modelo predito não permite acompanhar a dinâmica de

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concentração de LDL. Este resultado pode ser oriundo de diferentes fatores. Como
exemplo, Ethier (2002) relata que modelos numéricos para determinação da
aterosclerose devem ser baseados em dados fisiológicos experimentais relevantes,
como geometria da artéria, taxa de consumo das espécies transportadas, dependência
da permeabilidade do endotélio na tensão de cisalhamento. Porém, estes dados não
são de obtenção trivial e estão sujeitos a elevada incerteza.

Figura 2: Comportamento dinâmico (a) do raio com a progressão da doença e (b) do


coeficiente de transferência de massa.

(a) 30
1,5 kg/³
25 2 kg/m³
Raio (mm)

20 2,5 kg/m³
15 3,0 kg/m³

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70
Tempo (anos)

(b) 2×10 -6
1,5 kg/³
2 kg/m³
1.5×10 -6
2,5 kg/m³
Kw (m/s)

1×10 -6 3,0 kg/m³

5×10 -7

0
0 20 40 60 80
Tempo (anos)

No proposto estudo, realizam-se considerações que simplificam o problema,


mas não necessariamente fornecem um bom ajuste. A consideração da geometria
cilíndrica é uma consideração que provém elevada simplicidade. Porém, a pesquisa de
Ethier (2002) acerca da transferência de massa em artérias com diferentes
geometrias - segmentos retilíneos, bifurcações, em regiões curvadas – é apontado que

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estas variações geométricas inferem diretamente nos parâmetros de coeficiente de


transferência de massa, difusividade, Reynolds e Sherwood.
Uma segunda simplificação relevante realizada no presente trabalho é a
aproximação da artéria ao reator de fluxo empistonado, sem variação da velocidade
na posição radial. Em diferentes estudos, autores consideram um perfil de velocidade
parabólica com base na fluidodinâmica de escoamento em tubos, uma vez que apesar
de pequena, apresenta interferência em fenômenos de transporte de massa (Cilla et
al., 2014; Nematollahi et al., 2012).
Outro fator de importância para o fenômeno, mas que não foi considerado no
modelo predito, remete a formação e progressão da aterosclerose ocorre devido a
processos inflamatórios, o que causa um estado crônico de inflamação e aumento dos
níveis de proteína C-reativa (Bahia et al., 2006). Logo, a formação do ateroma não se
deve somente a migração de LDL, como foi considerado, mas há diversas outras
substâncias como colesterol, monócitos, macrófagos, células espumosas, citosina
entre outras (Cilla et al., 2014). Portanto, registra-se que com o nível das hipóteses e
parâmetros abordados, o modelo não descreveu estes demais fenômenos de acúmulo
de massa referente a aterosclerose.

Aprendizagem baseada em problemas


Guisso et al. (2019) ressalta que as novas formas de ensinar e de aprender são
além de positivas, são necessárias. De fato, a aplicação da ABP no ensino de Análise e
Simulação de Processos se destacou como alicerce metodológico na busca,
envolvimento e enraizamento de conhecimentos; e no desenvolvimento e
intensificação de habilidades pessoais e interpessoais. O estudo baseado em
problema com ênfase na progressão da aterosclerose, e de outras doenças estudadas,
permitiu aos acadêmicos desenvolverem um novo olhar acerca da aplicação dos
fundamentos de engenharia em processos distintos daqueles referentes a realidade
industrial.
Por fim, além de gerar maior interesse do estudante, o desenvolvimento desse
trabalho incorporou a eles a possibilidade de integração de conhecimentos teóricos
aprendidos em outras disciplinas a questões de áreas como medicina e biologia. O
estudo fortaleceu a capacidade analítica e de resolução de problemas dos estudantes
para o seu futuro desempenho profissional.

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CONCLUSÕES

A disciplina de Análise e Simulação de Processos agrega conhecimentos


significativos à formação de Engenheiros Químicos. Neste estudo, ela foi
intermediadora da integração de diferentes áreas do conhecimento e da aplicação do
método de ensino-aprendizagem baseado em problemas, gerando resultados
positivos ao estimular a resolução de problemas e atender aos anseios de uma
geração tecnológica e desafiadora, por suas características de trabalho em equipe,
comunicação e promoção de autonomia.
Por ora, o emprego de cenários distintos aos usualmente desenvolvidos em sala,
permitiu aos acadêmicos uma visão generalista do conhecimento. Por exemplo, eles
identificaram a partir do estudo da aterosclerose que a predição da evolução de
doenças humanas são capazes de serem descritos pelos mesmos fenômenos de
transferência daqueles apresentados em um reator químico. Como resposta a
simulação, identificou-se que a concentração de LDL no sangue interfere diretamente
na velocidade de redução do raio arterial – estando de acordo com a descrição da
doença na literatura e com as hipóteses utilizadas na simplificação do trabalho.

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CAPÍTULO 19
PROGRAMA DIDÁTICO EM
VBA PARA ANÁLISE DE
CICLOS DE POTÊNCIA
RANKINE IDEAL

Aldair Antonio de Sousa1


Luan Silva de Brito2
Vinicius Dourado dos Santos3
Raphael Ribeiro Cruz Santos4
Karina Klock da Costa5

1
Graduando em Engenharia Química, Faculdade de Americana (FAM), Americana, SP,
email: sousaaldair583@gmail.com, ID Lattes: 1271385052873103.
2
Graduando em Engenharia Química, Faculdade de Americana (FAM), Americana, SP,
email: luansilvadebrito@hotmail.com, ID Lattes: 7245718431063265.
3
Graduando em Engenharia Química, Faculdade de Americana (FAM), Americana, SP,
email: vds-2009@hotmail.com, ID Lattes: 0814340100521964.
4
Professor de Engenharias, Universidade São Francisco (USF), Campinas, SP, email:
raphaelrcsantos@gmail.com, ID Lattes: 8794290988821492.
5
Professora de Engenharias, Faculdade de Americana (FAM), Americana, SP, email:
kkckarina@gmail.com, ID Lattes: 9983716659341278.

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PROGRAMA DIDÁTICO EM VBA PARA ANÁLISE DE CICLOS DE POTÊNCIA RANKINE


IDEAL

RESUMO
O estudo de ciclos de potência é de grande importância nos cursos de engenharia.
Além dos conceitos gerais, é importante que o aluno desenvolva a análise crítica para
avaliar as condições de operações do processo. Isto pode ser realizado analisando a
eficiência térmica de um ciclo. Para isto, desenvolveu-se um programa utilizando VBA
com o pacote termodinâmico CoolProp, que disponibiliza propriedades
termodinâmicas de diferentes fluidos e permite verificar a influência da modificação
de condições operacionais em ciclos de potência Rankine ideais operando com água e
diferentes fluidos orgânicos.
Palavras-chave: Ciclo de Rankine ideal. VBA. CoolProp. Programa didático.

EDUCATIONAL VBA SOFTWARE FOR ANALYSIS OF IDEAL RANKINE CYCLES

ABSTRACT
The study of power cycles is important in engineering courses. In addition to general
concepts regarding thermodynamics, it is important for the student to develop critical
thinking to evaluate the conditions of process operations. This can be done by
analysing the thermal efficiency of a thermodynamic cycle. Therefore, a program was
developed using VBA (Visual Basic for Applications) applying the CoolProp
thermodynamics package that allows obtain thermodynamic properties of different
fluids and verify the influence of operational conditional changes on ideal Rankine
cycles operating with water and different organic fluids.
Key-words: Ideal Rankine Cycle. VBA. CoolProp. Educational software.

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INTRODUÇÃO

Os ciclos de potência são de grande importância industrial e, por consequência,


nos cursos de engenharia. Dentre as disciplinas que englobam estes podem ser
citadas: Termodinâmica, Sistemas Térmicos, Estudos de Processos, entre outras. Os
ciclos podem ser divididos em dois grupos: os de tecnologia baseada em combustão e
os de tecnologia baseada em eletroquímica. Nos primeiros tem-se a turbina a gás e as
microturbinas do ciclo de Brayton, o motor Stirling e o motor a combustão interna do
ciclo Diesel ou Otto e turbinas a vapor do ciclo de Rankine. Já para as tecnologias
baseadas em eletroquímica tem-se as células combustíveis (Santiago, 2020).
O ciclo de potência Rankine (Figura 1) é baseado na geração de potência em
uma turbina através do fluido de trabalho, que convencionalmente é o vapor de água.
O vapor produzido pela caldeira é encaminhado para a turbina que irá produzir
trabalho por meio da movimentação das pás acopladas a um eixo. Ao sair da turbina,
o fluido, que pode estar na forma de vapor ou mistura saturada, é transportado para
um condensador, onde perde calor, mudando para fase líquida, e é então bombeado
para a caldeira para que se inicie novamente o ciclo (Santiago, 2020).

Figura 1: Esquema de um ciclo de Rankine com destaque para a nomenclatura das


correntes.

Os ciclos de Rankine podem ser classificados em convencional e orgânico, sendo


a diferença entre eles o fluido de trabalho. No ciclo orgânico utilizam-se fluidos
orgânicos ao invés de água pura, que é aplicada no ciclo convencional e será utilizado
neste trabalho. Os fluidos orgânicos possuem vantagem com a recuperação de energia
em baixa temperatura em relação à água, devido apresentar pontos de ebulição mais
baixos que a água (Almeida, 2018).

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Este tipo de ciclo é utilizado para produzir energia pelo uso de quatro
componentes: uma caldeira, ou gerador de vapor, que é um trocador de calor com
função de transferir grandes quantidades de calor para o fluido de trabalho, neste
caso, a água; uma turbina a vapor, utilizada para produzir energia mecânica a partir
do vapor superaquecido proveniente da caldeira por transmissão de torque
rotacional; um condensador, em que o calor é removido do fluido de modo a
condensá-lo ao estado líquido; e, uma bomba de água, que é utilizada para aumentar a
pressão do líquido proveniente da etapa anterior. A energia produzida no processo
deve ser utilizada para acionar a bomba, o que costuma não afetar o funcionamento
do ciclo pois a energia produzida pela turbina é muito maior (Kroos e Potter, 2016).
Considera-se que o processo ideal de aquecimento na caldeira e o resfriamento
no condensador sejam realizados à pressão constante. O processo ideal no interior da
turbina e da bomba podem ser considerados isentrópicos (Almeida, 2018).
Algumas condições de operação podem ser alteradas de maneira a aumentar a
eficiência de um ciclo ideal (Çengel e Boles, 2013). Dentre elas podem ser destacadas:
 Diminuir a pressão no condensador, que, por consequência, diminui a
temperatura do vapor, aumentando o trabalho líquido do ciclo.
 Aumentar a temperatura do vapor na caldeira até temperaturas, sem aumentar
a pressão de operação, gerando um acréscimo também no trabalho líquido da
operação.
 Aumentar a pressão de operação da caldeira, por meio do aumento da pressão
na bomba. Isto causa uma elevação na temperatura de ebulição que, por sua vez,
eleva a eficiência térmica do ciclo.
Ou seja, as condições de operação podem ser variadas de acordo com os
conceitos adquiridos nas disciplinas, e o aluno pode, então, verificar como a eficiência
do ciclo é alterada conforme as modificações são aplicadas.

Uso de interfaces gráficas no auxílio do ensino da engenharia


De acordo com Depcik e Assanis (2005), as interfaces gráficas de usuário (GUIs)
estão sendo cada vez mais usadas em sala de aula para fornecer aos usuários de
simulações de computador uma abordagem amigável e visual para especificar todos
os parâmetros de entrada, tornando mais fácil descrever o que é necessário para
executar a simulação de um problema. Embora isso possa ser feito de forma eficaz

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por linhas de comando, solicitando ao usuário parâmetros de entrada sucessivos, uma


GUI permite que o usuário veja as possibilidades suportadas pelo programa de uma
vez. Dessa forma, a entrada de dados se torna mais acessível com o auxílio visual.
Outro aspecto importante é a possibilidade de processar os dados e fornecer ao
usuário respostas de forma rápida, o que para Depcik e Assanis (2005) é
especialmente importante ao realizar estudos paramétricos onde as variáveis são
alteradas em um determinado intervalo, facilitando a visualização das mudanças e
reforçando aspectos aprendidos em aula.
Para Wideberg (2003), o uso de GUIs tem mostrado que o aprendizado
baseado em visualização ativa usando programas interativos pode aumentar muito a
compreensão e a retenção. Usando uma abordagem visual interativa direta para a
aprendizagem, é possível diminuir algumas barreiras convencionais que impedem o
ensino e a aprendizagem de conceitos da ciência e engenharia, auxiliando o aluno a
entender os conceitos e aplicá-los em problemas reais.
Dentre os softwares disponíveis de acesso abrangente para alunos de
graduação, encontra-se o pacote Office da Microsoft®, que inclui o Excel®. Este é um
programa que contém planilhas eletrônicas bastante empregado em engenharia por
possuir ampla disponibilidade e ser facilmente encontrado em computadores
pessoais e empresariais, além de possuir grande quantidade de funções estatísticas e
matemáticas pré-definidas, diversas ferramentas de análises e a possibilidade de
estender as funcionalidades com a criação de rotinas com cálculos próprios através
da linguagem de programação chamada de VBA - Visual Basic for Applications. O VBA
permite o desenvolvimento de módulos programáveis com interação com o Excel®,
podendo ser executado do próprio programa com bom desempenho computacional.
Os campos de aplicação para a programação VBA são extensos e muitos trabalhos
podem ser desenvolvidos utilizando essa ferramenta, como estimar propriedades
volumétricas, termodinâmicas e residuais através de um aplicativo completo e de fácil
utilização (Oliveira, 2017).
Uma vez que os cálculos de ciclos podem se tornar repetitivos ao modificar as
condições de operação, buscou-se desenvolver um programa para realizá-los de
maneira rápida, com uma interface intuitiva em que os alunos possam aplicar os
conceitos aprendidos para realizar modificações nas condições de operação de um
ciclo de Rankine ideal e verificar quais as implicações destas na eficiência do mesmo.

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O mesmo também pode ser utilizado com um conjunto de fluidos orgânicos, além de
água, para verificar a eficiência obtida.

METODOLOGIA
A diferença entre o trabalho produzido pela turbina, WT (kJ) e trabalho
requerido pela bomba, Wb (kJ) é o trabalho líquido. A eficiência de um ciclo de
Rankine ideal pode ser definida como a razão entre o trabalho líquido e a entrada de
energia na caldeira, Qg (kJ), conforme Equação (1).

(1)

Para calcular os valores de trabalho ou calor de cada um dos equipamentos,


considerou-se a primeira lei da termodinâmica aplicada a sistemas abertos, com
energias cinéticas e potenciais desprezíveis. Os cálculos foram feitos de modo que os
valores obtidos sejam sempre positivos., pois a rigor, a transferência de calor no
condensador e o trabalho da bomba são negativos. A nomenclatura utilizada para as
correntes do ciclo é a ilustrada na Figura 1.
O trabalho da turbina, WT (kJ), pode ser obtido pela Equação (2), na qual h
representa a entalpia específica (kJ/kg) e (kg/s), a vazão mássica.

( ) (2)

A transferência de calor no condensador, QC (kJ) é representada pela Equação


(3).

( ) (3)

O trabalho da bomba, Wb (kJ), pode ser calculado pela relação entre as entalpias
específicas das correntes 1 e 2, conforme Equação 4.

( ) (4)

No caso da bomba, como o escoamento é incompressível e não há variação


significativa de temperatura, a variação de energia interna é desprezível e o trabalho
da bomba pode ser calculado também pela Equação (5), em que P (Pa) é a pressão de

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cada uma das correntes e (kg/m³) é a massa específica do fluido de processo. A


Equação (4) foi aplicada no programa desenvolvido.

(5)

Por fim, a transferência de calor necessária pelo gerador é dada pela Equação
(6).

( ) (6)

Determinação de propriedades termodinâmicas: Suplemento CoolProp


Para a determinação das propriedades termodinâmicas das correntes foi
utilizado o suplemento CoolProp, que consiste em uma biblioteca que possui
propriedades termofísicas para diversos fluidos, com linguagem de programação
C++ que pode ser aplicada na simulação de ciclos termodinâmicos e para obter
propriedades do fluido de trabalho em cada ponto do ciclo.
Os responsáveis pelo desenvolvimento do CoolProp foram os pesquisadores do
Departamento de Engenharia da Universidade Técnica da Dinamarca e da
Universidade de Liège em Sistemas Energéticos na Bélgica. O suplemento contém
uma lista completa de 118 componentes, além da função PropsSI que fornece
parâmetros importantes do fluido como pressão crítica, valores de temperatura,
potencial de aquecimento global – GWP, potencial de destruição de ozônio-ODP e
toxidade (Izidoro, 2016).
O CoolProp é uma biblioteca Open Source que é compatível com diversas
linguagens de programação, como Pyton, C++ e pode ser adicionado como um
suplemento no Microsoft Excel® (Rego, 2020). Seu download pode ser realizado no
site dos desenvolvedores: Welcome to CoolProp (Bell, 2021).
A função PropsSI é utilizada para chamar as propriedades de um fluido, de
acordo com um par de propriedades de entrada. Um exemplo é demonstrado na
Figura 2, sendo primeiro parâmetro, T, a temperatura, que corresponde à
propriedade de saída, e será retornada do PropsSI. Já, P e Q são, a pressão e o título,
com valores de 101325 Pa e 0, respectivamente, que correspondem aos dados de
entrada. Water é o fluido de operação, ou seja, água. A resposta obtida é 373,12 K.

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Figura 2: Exemplo da Função PropsSI.


= PropsSI("T","P",101325,"Q",0,"Water")
Fluidos de Processo
O fluido mais utilizado em problemas didáticos de engenharia é a água, porém,
alguns ciclos são projetados para operar com outros fluidos, como por exemplo, os
ciclos orgânicos. O trabalho de Pinheiro e D’angelo (2020) faz uma comparação entre
fluidos orgânicos em Ciclos de Rankine por simulação computacional, sendo eles:
butano, isobutano, pentano, isopentano, benzeno e tolueno. No trabalho de Patel et al.
(2016), a amônia é destacada como o fluido de processo mais adequado dentre os 9
estudados quando analisados com base na eficiência térmica e exergética.
Com base nestes trabalhos, a possibilidade de modificação do fluido de processo
foi aplicada no programa desenvolvido, sendo que sua escolha é realizada por meio
de uma caixa de seleção, conforme Figura 3. Os fluidos disponíveis são: água,
benzeno, n-butano, n-pentano, isobutano, isopentano, tolueno e amônia. Optou-se por
manter a nomenclatura em inglês para que seja identificada pelo suplemento
termodinâmico Coolprop de maneira automática.

Figura 3: Seleção do Fluido de Processo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos neste trabalho consistem em um programa que utiliza as


equações apresentadas na seção anterior, combinadas com o suplemento CoolProp e
a função PropsSI, inseridos no VBA, do Excel®, cujos detalhes serão apresentados na
sequência, finalizando com um exemplo de aplicação.
A interface do programa, ativada diretamente da planilha, é ilustrada na Figura
4. O usuário deve escolher as propriedades disponíveis e inserir os valores delas para
cada corrente nas caixas superiores, além da vazão mássica do processo.

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Os resultados obtidos são apresentados na parte inferior da janela, incluindo


cinco propriedades de cada uma das correntes: pressão, temperatura, entalpia
específica, entropia específica e título, trabalho da turbina e da bomba, calor da
caldeira e do condensador, além da eficiência do ciclo.
Como considera-se a turbina e a bomba com operação isentrópica, para as
correntes 4 e 2 há a necessidade de apenas uma das propriedades.

Figura 4: Interface do programa desenvolvido.

Botões disponíveis
Ao clicar no botão Instruções, o usuário poderá visualizar a janela ilustrada na
Figura 5, que corresponde aos detalhes de operação de um ciclo ideal e sugestões de
preenchimento do programa.
Na extremidade superior direita, três botões estão disponíveis. Ao clicar em
Caso exemplo, as informações necessárias para cálculo de um ciclo são preenchidas
com um exemplo, cujos resultados serão demonstrados na sequência. Após o
preenchimento, o usuário ainda pode editar os valores conforme desejado. O botão
Calcular fará com que os resultados sejam obtidos e os campos inferiores serão
preenchidos e Fechar encerra o programa.
Para um sistema ideal, tem-se que a pressão nas correntes 4 e 1 são iguais, logo,
ao selecionar a variável Pressão [Pa] para a corrente 4 e preencher seu valor, o

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programa automaticamente sugere o preenchimento da primeira propriedade da


corrente 1 como sendo o mesmo. Um procedimento semelhante é realizado com as
correntes 3 e 2, uma vez que a caldeira também trabalha de forma isobárica. A Figura
6 ilustra o código utilizado para o preenchimento automático da corrente 1, que é
semelhante à corrente 2, alterando apenas as posições.

Figura 5: Instruções de uso do programa.

Figura 6: Preenchimento automático de pressões.


'Sugestão de preenchimento automático da pressão na corrente 1 igual à corrente
4
Private Sub ComboBox7_Change()
Application.EnableEvents = False
If ComboBox7.ListIndex = 0 Then
ComboBox1.ListIndex = 0
End If
Application.EnableEvents = True
End Sub

Private Sub TextBox7_Change()


Application.EnableEvents = False
If ComboBox7.ListIndex = 0 Then
TextBox1 = TextBox7
Application.EnableEvents = True
End If
End Sub

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Para a identificação das correntes e propriedades que foram disponibilizadas


pelo usuário, foram utilizadas variáveis índice referenciando cada uma das listas
suspensas a serem preenchidas pelo usuário (ComboBox). Na Figura 7 é
exemplificado o procedimento para a corrente 1, sendo os índices correspondentes à
variável do tipo vetor prop, cuja nomenclatura corresponde à utilizada pela função
PropsSI. Os índices i4 e i8 são fixados como 3, correspondendo à entropia das
correntes 4 e 2.

Figura 7: Relação entre as listas suspensas e propriedades escolhidas para a corrente


1.
'Declaração dos índices
Dim i1, i2, i3, i4, i5, i6, i7, i8, fluido As String

prop = Array("P", "T", "H", "S", "Q")


C1 = Array(1, 1, 1, 1, 1)

'Índice selecionado pelo usuário.


i1 = ComboBox1.ListIndex
i2 = ComboBox2.ListIndex

'Valor inserido pelo usuário


C1(i1) = TextBox1.Value
C1(i2) = TextBox2.Value

Para seleção do fluido de processo, o vetor fluid (Figura 8a) corresponde aos
fluidos disponíveis para que o usuário faça a seleção. Uma vez selecionado um dos
fluidos, a caixa de seleção se torna a variável fluido (Figura 8b), que será solicitada
pela função PropsSI (Figura 9).

Figura 8: Seleção e identificação do Fluido de Processo.


a) fluid = Array("Water", "Benzene", "n-Butane", "n-Pentane",
"IsoButane", "Isopentane", "Toluene", "Ammonia")
b) fluido = ComboBox8.Value

A função PropsSI é utilizada então para o cálculo das propriedades faltantes de


cada uma das correntes. Inicia-se obtendo-se as propriedades das correntes 1 e 3. Por
exemplo, se forem especificadas a pressão e a temperatura, são calculados: entalpia,
entropia e título (Figura 9). Em caso de fluidos não saturados, o título resulta no valor
de -1, independente da fase.
Os valores de entropia obtidos para estas correntes são especificados como
iguais para as correntes 2 e 4, e as Labels correspondentes são alteradas para o valor

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obtido na interface inicial (Figura 10). Com estes valores fixos, dá-se a sequência no
cálculo para as correntes 2 e 4 utilizando a função PropsSI.

Figura 9: Cálculo das propriedades com a função PropsSI.


For i = 0 To 4
C1(i) = PropsSI(prop(i), prop(i1), C1(i1), prop(i2), C1(i2), "fluido")
C3(i) = PropsSI(prop(i), prop(i5), C3(i5), prop(i6), C3(i6), "fluido")
Next i

C2(i4) = C1(3)
Label45 = "Entropia = " & Round(C2(i4), 4) & " [J/kg.K]"
C4(i8) = C3(3)
Label46 = "Entropia = " & Round(C4(i8), 4) & " [J/kg.K]"

For i = 0 To 4
C2(i) = PropsSI(prop(i), prop(i3), C2(i3), prop(i4), C2(i4), "fluido")
C4(i) = PropsSI(prop(i), prop(i7), C4(i7), prop(i8), C4(i8), "fluido")
Next i

Figura 10: Entropia calculada para uma corrente de processo isentrópico.

Uma vez que as propriedades estão calculadas, as Equações (1) a (6) são
aplicadas para determinação de trabalho ou calor de cada um dos equipamentos e
eficiência do ciclo (Figura 11).

Figura 11: Equações aplicadas.


'Vazão mássica
mass = TextBox38.Value
'Trabalho da turbina
WT = mass * (C3(2) - C4(2)) / 1000
TextBox32.Value = Round(WT, 4)
'Bomba
Wb = mass * (C2(2) - C1(2)) / 1000
TextBox33.Value = Round(Wb, 4)
'Caldeira
Qg = mass * (C3(2) - C2(2)) / 1000
TextBox34.Value = Round(Qg, 4)
'Condensador
Qc = mass * (C4(2) - C1(2)) / 1000
TextBox35.Value = Round(Qc, 4)
'eficiência do ciclo
ef = (WT - Wb) / Qg
TextBox36.Value = Round(ef, 4)

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Para exemplificar os dados obtidos pelo programa, a Figura 12 ilustra o exemplo


aplicado no programa, que está disponível com o preenchimento automático pelo
botão Caso exemplo, que irá preencher automaticamente os campos seguindo o
exemplo 8-1 de Kroos e Potter (2016). As condições de entrada neste caso
correspondem à vazão mássica de 25 kg/s, corrente 1 como líquido saturado, ou seja,
possui título igual a 0 e pressão igual à da corrente 4. A corrente 2 possui pressão de 6
MPa e entropia igual à da corrente 1. Na saída da caldeira tem-se uma temperatura de
873K e modo de operação isobárico. Por fim, a corrente 4 possui pressão estabelecida
como igual à 20kPa e entropia igual à da corrente 3.

Figura 12: Caso exemplo com as respostas obtidas.

Para estas condições, obteve-se o trabalho da turbina (WT) igual à 32387 kJ,
trabalho requerido pela bomba igual à 151 kJ, calor do gerador de vapor como sendo
85022 kJ e no condensador 52787 kJ, todos apresentados com valores positivos. Com
estes valores, tem-se a eficiência do ciclo como sendo igual à 37,91% que
corresponde ao valor esperado (Kroos e Potter, 2016).
A Tabela 1 apresenta valores obtidos variando as condições de operação de
maneira a avaliar a eficiência do ciclo, mantendo as demais condições do caso
exemplo. As condições aplicadas correspondem àquelas que permitem aumentar a
eficiência do ciclo e os dados obtidos permitem confirmar tal afirmação.

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Tabela 1: Alteração de condições de operações para verificação da eficiência do ciclo.


Variável modificada Valor
Caso exemplo - 37,91%
Pressão no condensador (P1 e P4) 10kPa 39,91 %
Temperatura do vapor superaquecido (T3) 950 K 39,2%
Pressão de operação da Caldeira (P2) e (P3) 8MPa 39,03%

Além das modificações de condições de operação, também foi desenvolvido um


exemplo utilizando Benzeno como fluido de processo (Figura 13), com condições
semelhantes às apresentadas por Pinheiro e D’angelo (2020), ressaltando que neste
trabalho são consideradas as eficiências da turbina e da bomba como sendo 75%,
bem como variações nas configurações do ciclo de Rankine.

Figura 13: Exemplo de aplicação com o fluido orgânico Benzeno, com as respostas
obtidas.

O exemplo consiste em uma caldeira operando à 450 kPa e vapor aquecido até
423 K, saída da turbina com temperatura de 344 K e líquido condensado até a
temperatura de 27 °C (ou 300 K) com pressão de 15 kPa. Obteve-se como eficiência
do processo o valor de 16,84%, que é coerente com o obtido por Pinheiro e D’angelo
(2020), uma vez consideradas as diferenças entre os processos.

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CONCLUSÕES

O programa desenvolvido atingiu as expectativas, uma vez que permite realizar


os principais cálculos de um ciclo de Rankine ideal, utilizando água como fluido de
processo, de maneira rápida, permitindo que o aluno verifique quais propriedades
possuem interferência na eficiência, bem como em cada um dos equipamentos e
apliquem os conceitos aprendidos em sala de aula. A programação no VBA,
combinada com o suplemento Coolprop, em específico a função PropsSI, permitiram o
desenvolvimento da interface, sem a necessidade da inserção de tabelas de dados de
propriedades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, P. F. F. Análise Exergoeconômica de um Ciclo Rankine Orgânico Aplicado em Uma Planta de


Microcogeração. Recife: PPG, 2018. 0-82 p.
Bell, I. Welcome to CoolProp. Disponivel em: <http://www.coolprop.org/>. Acesso em: maio 2021.
Çengel, Y. A.; Boles, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2013.
Depcik, C.; Assanis, D. N. Graphical user interfaces in an engineering educational environment.
Computer Applications in Engineering Education, 13:48‐59, 2005. DOI: 10.1002/cae.20029.
Izidoro, D. L. Recuperação de Calor Residual de Baixa Qualidade em Usinas Termelétricas de Ciclo
Combinado. Dissertação de Mestrado, Itajubá, 2016. 0-185.
Kroos, K. A.; Potter, M. C. Termodinâmica para engenheiros. 1. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
Oliveira, F. D. S. Desenvolvimento de Aplicativo Excel/VBA Para Estimativas de Propriedades Físicas e
Termodinâmicas Utilizando Grupos Funcionais. Programa de Pós-Graduação, João Pessoa, 2017.
Patel, P.; Modh, J.; Patel, V. Parametric Analysis of Organic Rankine Cycle (ORC) for Low Grade Waste
Heat Recovery. In: Proceedings of The National Conference on Thermal Fluid Science And Tribo
Application, 2016. DOI: 10.13140/RG.2.1.1941.464
Pinheiro, G. M. V.; D’Angelo, J. V. H. Análise da Eficiência de Ciclos de Rankine Orgânicos para Diferentes
Configurações e Fluidos de Trabalho. XXVIII Congresso Virtual De Iniciação Científica Da Unicamp,
2020.
Rego, M. M. D. M. Análise de Ciclos Combinados Operando Com CO2 Supercrítico. Projeto de Graduação
, Rio de Janeiro, 2020.
Santiago, T. S. A. Análise do Desempenho Termodinâmico de Um Sistema de Trigeração com Diferentes
configurações Aplicado a Um Hospital de Médio Porte. Dissertação de Mestrado, Campinas, 2020.
Wideberg, J. A graphical user interface for the learning of lateral vehicle dynamics. European Journal of
Engineering Education, 28:2, 225-235, 2003. DOI: 10.1080/0304379031000079059

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CAPÍTULO 20
ALTERNATIVAS PARA O
BRANQUEAMENTO DO ÓLEO
DE ARROZ

Natallia Britto Azevedo Souza1


Nicole Dall’Accua Lopes2
Rogério da Silva1
Valéria Terra Crexi3
André Ricardo Felkl de Almeida3

1
Mestranda em Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Pampa
(UNIPAMPA), Bagé, RS, email: naatybs94@gmail.com;
rogeriocamargo.aluno@unipampa.edu.br, ID Lattes: 8659306842093979;
7362692610557737 .
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA),
Bagé, RS, email: nicole.dallaccua@gmail.com, ID Lattes: 5332844350861345.
3
Professor de Engenharia, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Bagé, RS,
email: andrealmeida@unipampa.edu.br; valeriacrexi@unipampa.edu.br, ID Lattes:
0168456777470325; 5769618461481408.

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ALTERNATIVAS PARA O BRANQUEAMENTO DO ÓLEO DE ARROZ

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo a produção de adsorventes a partir do
resíduo da casca da acácia-negra moída e seca, tratada quimicamente com solução de
H3PO4 40% m/m e NaOH 20%, em que foram aplicados no processo de
branqueamento do óleo de arroz neutralizado e comparados com carvão ativado
comercial. Verificou-se nos ensaios de branqueamento que todos os adsorventes
produzidos apresentaram redução para o percentual de peróxidos, carotenoides, ɣ-
orizanol e de cor, demonstrando um resultado satisfatório. O destaque foi o material
impregnado com NaOH que obteve uma redução de carotenoides em 69,43% e acidez
em 19,80%, além do melhor resultado para a redução da cor e a menor perda para o
teor de ɣ-orizanol, com 17,5%.
Palavras-chave: Acácia-negra. Branqueamento. Adsorvente. Impregnação. Resíduos.

ALTERNATIVES FOR BLEACHING RICE OIL

ABSTRACT
The present work had as objective the production of adsorbents from the residue of
black wattle bark, ground and dried, chemically treated with a solution of H3PO4
40% m/m and NaOH 20%, which were applied in the bleaching process of oil.
neutralized rice and compared with commercial activated carbon. It was found in the
bleaching tests that all adsorbents produced showed a reduction in the percentage of
peroxides, carotenoids, ɣ-oryzanol and color, demonstrating a satisfactory result.
Highlighting the material impregnated with NaOH, which obtained a reduction of
carotenoids by 69.43% and acidity by 19.80%, in addition to the best result for color
reduction and the lowest loss for the ɣ-oryzanol content, with 17 .5%.
Key-words: Black wattle. Bleaching. Adsorbent. Impregnation. Waste.

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INTRODUÇÃO

O estado do Rio Grande do Sul produz aproximadamente 70% do arroz gerado


em território brasileiro. Quando efetuado o beneficiamento do grão para a produção
do arroz branco, o grão passa por inúmeras etapas, onde há a geração de um resíduo,
conhecido como farelo, um subproduto de baixo valor agregado que por possuir entre
15 e 20% de óleo é utilizado como matéria prima para a extração do óleo comercial
de arroz. Contudo, há impurezas na composição do óleo bruto que é extraído do
farelo de arroz que devem ser retidas durante o refino. O refino conta uma etapa de
branqueamento, onde é retirada as impurezas que impactam na cor e qualidade do
óleo de arroz (PESTANA, 2007; BRUSCATTO et al., 2012;).
O branqueamento é um fenômeno de transporte que engloba uma operação
unitária onde é estabelecido o contato entre um fluído e um sólido, que ocasiona uma
transferência de massa da fase fluída para a superfície do sólido, que é conhecido
como adsorvente (FOUST et al., 1982). O carvão ativado é um adsorvente muito
utilizado, pois contém uma grande área superficial e alta porosidade (TONUCCI,
2014). Porém, os adsorventes comerciais de alta eficiência (como o carvão ativado,
sílica em gel, argilas e zeólitas) possuem um custo elevado, o que é uma desvantagem
para a aplicação de sistemas de grande escala (SILVA et al., 2019).
O estudo com novos potenciais adsorventes não convencionais está
aumentando, visto que possuem área superficial elevada e grande eficiência. Entre
eles têm-se o uso do endocarpo do coco babaçu (Attalea speciosa) (SOUSA, 2018), da
casca de arroz (Oryza sativa L.), do bagaço de uva (ANTUNES, 2011), entre outros.
Deste modo, o resíduo da casca da acácia-negra pode ser utilizado como
adsorvente, material esse que já vem sendo estudado como matéria prima viável para
a produção de carvão ativado (LINHARES et al., 2016). A acácia-negra (Acacia
mearnsii De Wild) é uma espécie arbórea originalmente da Tasmânia e das regiões
sul e sudeste da Austrália e pertence à família Fabaceae (SCHNEIDER; TONINI, 2003).
No Brasil, seu cultivo concentra-se no estado do Rio Grande do Sul, onde ocupa a
terceira maior área entre as espécies florestais cultivadas, o que torna seu cultivo
uma importante atividade econômica no estado, beneficiando cerca de 40 municípios
e diversas famílias (AGEFLOR, 2016). O valor econômico dessa espécie florestal está
relacionado à extração da madeira, utilizada na indústria de celulose, na produção de

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energia para padarias e olarias, para a produção de carvão vegetal e também está
relacionado à produção de taninos a partir da casca do tronco (MORA, 2002).
O tanino obtido da casca do tronco da acácia-negra gera uma enorme
quantidade de resíduos e grande parte deste material é destinados à compostagem ou
disposto em aterros (AGEFLOR, 2016). Somente em 2018, foram produzidas cerca de
145 mil toneladas de casca de acácia-negra (IBGE, 2018).
Em frente a este cenário, o presente estudo buscou desenvolver e avaliar
materiais adsorventes a partir do resíduo da casca da acácia-negra oriundo da
extração de tanino, na forma moída e tratada com H3PO4 e NaOH afim de empregá-los
no processo do branqueamento do óleo de arroz e compará-los com o carvão ativado
comercial.

MATERIAL E MÉTODOS
O material utilizado como matéria-prima foi o resíduo da casca da acácia-negra
proveniente da extração do tanino da indústria SETA - Sociedade Extrativa Tanino de
Acácia Ltda., localizada no município de Estância Velha. O resíduo foi moído em
moinho de facas para uniformização e obtenção de granulometria menor que 1 mm,
lavado para que ocorresse a remoção de qualquer tipo de coloração e seco na estufa
durante 24h à 105ºC. O óleo de arroz foi cedido pela Indústria Riograndense de Óleos
Vegetais – IRGOVEL, localizada na cidade de Pelotas/RS. Ressalta-se aqui que foi
necessário neutralizar esse material para os ensaios de branqueamento.
A impregnação da casca da acácia-negra foi feita utilizando uma solução de
ácido fosfórico 40% m/m com razão de H3PO4/precursor 1:1 em massa e uma
solução NaOH 20% na proporção de massa 3:1. A amostra ficou em contato com o
agente impregnante sob temperatura ambiente por 24h e, no término desse período,
foi submetida a uma secagem em estufa a 105ºC durante 24h. Como etapa
subsequente, foi neutralizada com água destilada e novamente seca em estufa a
105ºC durante 24h.
A caracterização física e físico-química foi realizada quanto a massa específica
real, obtida através da picnometria gasosa e a massa específica aparente por ensaio
de proveta. O diâmetro médio de partícula foi obtido tanto por ensaios de
peneiramento como por análises em granulômetro CILAS. A porosidade do leito de
partículas foi estimada pela relação entre as massas específicas real e aparente. As

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análises imediatas foram realizadas de acordo com as normas ASTM-D1762 para a


umidade, ASTM-E1755 para as cinzas e ASTM-E872 para análise dos voláteis e
carbono fixo. A análise termogravimétrica (TGA) foi realizada em uma termobalança
(Shimadzuu, TGA – 50) em atmosfera de nitrogênio gasoso a 50mL/min e com uma
taxa de aquecimento de 10°C/min até 700°C. A análise das fases cristalinas foi feita
por difratometria de raios-X (DRX).
As condições de branqueamento do óleo de arroz neutralizado com os
adsorventes produzidos foram estabelecidas a partir de ensaios preliminares e
considerando a literatura de Patricio, Hotza e Júnior (2014), Figueredo, Pereira e
Silva (2004) e Ludtke (2016). O processo ocorreu com a adição de 50 gramas de óleo
em um reator de clarificação, submetido a vácuo de 500 mmHg, agitação de 200 rpm
e aquecido a 90˚C, durante 25 minutos. A proporção de adsorvente utilizado foi de 1%
em relação à massa de óleo. Ao final do processo de adsorção (branqueamento), o
material adsorvente foi removido por filtração à vácuo, utilizando como meio filtrante
uma pré-capa com terra diatomácea. A Figura 1 ilustra o esquema do equipamento
utilizado para o ensaio de branqueamento.

Figura 1: Equipamento utilizado, onde (1) agitador magnético com aquecimento; (2)
bomba de vácuo; (3) balão kitasato; (4) termopar; (5) entrada do adsorvente.

Fonte: Autores (2021).

O óleo de arroz neutralizado e o óleo de arroz branqueado com os adsorventes


produzidos foram caracterizados quanto a compostos de oxidação (peróxidos),
acidez, carotenoides, y-orizanol e cor. As análises do índice de peróxidos e de acidez
foram realizadas conforme metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2008). O teor de

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carotenoides foi determinado por espectrofotômetro na região visível (Quimis, Q108,


Brasil), segundo metodologia adotada por Strieder et al., (2015). O teor de y-orizanol
foi realizado de acordo com a metodologia de Bucci et al., (2003), utilizando um
espectrofotômetro UV a 327 nm. Já a análise de cor, foi realizada conforme a
metodologia de Lovibond (Lovibond® 1080 Colour).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 mostra os valores obtidos para a caracterização física dos


adsorventes produzidos a partir da casca da acácia nas conformações material moído
(MM), impregnado com H3PO4 (MIH3PO4), impregnado com NaOH (MINaOH) e do carvão
ativado comercial (CC).

Tabela 1: Caracterização dos materiais adsorventes na forma moída e impregnada.


Amostra ρr (g/cm3) ρb (g/cm3) ԑ dp (µm)
MM 1,4705 ± 0,001 0,2138 ± 0,008 0,14 121,7
MIH3PO4 1,6103 ± 0,005 0,2787 ± 0,003 0,17 41,9
MINaOH 1,7332 ± 0,001 0,5001 ± 0,002 0,28 67,5
CC 1,7105 ± 0,000 0,5871 ± 0,004 0,34 159,4
Fonte: Autores (2021).

Observa-se na Tabela 1 que o diâmetro da partícula do MM apresentou uma


redução de 65,57% e 44,54% quando comparado ao material impregnado, MIH3PO4 e
MINaOH, respectivamente, além de chegar a um diâmetro próximo ao do carvão ativado
comercial, o que indica um provável consumo de certos compostos do material
adsorvente quando entram em contato com o agente ativante, resultando na
modificação da estrutura do material.
Analisando a massa específica real, nota-se que ambos os materiais tiveram um
aumento depois de serem impregnados com H3PO4 e NaOH, com destaque para o
material impregnado com NaOH que teve um valor maior que o carvão comercial, o
que pode indicar a formação de poros decorrente da impregnação, concordando com
os valores encontrados para a porosidade. A massa específica real apresentou valores
aproximados com a literatura para a MM, de acordo com o resultado encontrado por
Signorelli et al. (2017) para a casca do coco catolé, que foi de 1,42 g/cm³.

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Para a porosidade do leito fixo, verificou-se que essa foi relativamente baixa
para todos os adsorventes quando comparado aos valores encontrados na literatura
para outros resíduos agrícolas, como Silva et al. (2020) que encontrou valores
próximos de 0,90 para os materiais produzidos a partir da palha de Azevém e palha
de trigo. Segundo Maia et al., (2014), independente da metodologia empregada para a
produção dos matérias, a massa específica aparente será baixa quando forem
utilizadas matérias primas orgânicas de características mais fibrosas, que o que pode
ser uma explicação para a baixa porosidade dos adsorventes produzidos.
A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos das análises imediatas do material
adsorvente da casca de acácia nas conformações material moído (MM), impregnado
com H3PO4 (MIH3PO4) e impregnado com NaOH (MINaOH).

Tabela 2: Resultados das análises imediatas dos quatro materiais adsorventes.


Amostra Ubu (%) CZ (%) MV (%) CF (%)
MM 3,05 ± 0,52 6,30 ± 0,19 82,76 ± 0,46 9,89 ± 0,16
MIH3PO4 5,69 ± 0,63 47,87 ± 0,71 33,48 ± 0,25 13.90 ± 0,42
MINaOH 5,50 ± 0,80 8,77 ± 0,52 55,97 ± 0,30 31.66 ± 0,42
CC 15,88 ± 0,37 5,32 ± 0,80 32,11 ± 0,66 49,79 ± 0,13
Fonte: Autores (2021).

Os valores de umidade encontrados na Tabela 2, apresentam um pequeno


aumento em relação ao material moído, no entanto, são valores bem menores que o
obtido para o carvão comercial e quando comparado com outros autores, são valores
relativamente baixos. Silva et al. (2020) encontrou um teor de umidade de 6,28%
para palha de Azevém e Mani et al. (2004) 6,9% para a palha de cevada e 6,2% para
palha de milho. Essa diferença nos valores deve-se ao fato das diferentes formas e
condições de produção de cada adsorvente. Esse baixo teor de umidade é um
resultado bom, visto que o material quanto mais úmido menos poros disponíveis ele
tem para a adsorção dos compostos, pois os poros estariam preenchidos com
moléculas de água (SILVA, 2019).
Nota-se também uma grande elevação nos valores de teor de cinzas para o
material impregnado com H3PO4 em relação ao MM e ao material impregnado com
NaOH, que teve um valor próximo ao do carvão comercial. Essa elevação no valor
pode indicar que as substâncias inorgânicas não foram totalmente eliminadas no
decorrer da preparação da amostra e processo de lavagem, podendo ocasionar em

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uma queda na capacidade de adsorção, já que as substâncias inorgânicas podem


afetar a estrutura porosa do material (YACOB; SWAIDAN, 2012).
Para os valores de teores de voláteis, esses apresentaram uma redução quando
realizada a impregnação do material, principalmente o material impregnado com
H3PO4, que teve um valor bem próximo ao encontrado para o carvão comercial.
Segundo Maulina e Iriansyah (2018), ao realizar as etapas de impregnação a
estrutura e as propriedades do material são modificadas, dado que parte das
substâncias voláteis são eliminadas durante esses processos. O percentual alto de
teor de voláteis para a MM pode ser considerado um ponto positivo, indicando que o
material vegetal possui altos níveis de porosidade (DUKU, 2014; REIS et al., 2012).
Os valores de carbono fixo aumentaram após a impregnação do material, visto
que este corresponde a quantidade de biomassa depois da remoção da umidade, das
cinzas e do material volátil. Aqui dá-se destaque para o material impregnado com
NaOH que teve um valor aproximado com o carvão comercial.
A Figura 2 apresenta as difratometria de raios-X (DRX) para o material
adsorvente moído (MM), impregnado com H3PO4 (MIH3PO4), impregnado com NaOH
(MINaOH) e para o carvão comercial (CC).

Figura 2: DRX dos materiais adsorventes moído e impregnado.

Fonte: Autores (2021).

É possível notar na Figura 2, que a intensidade dos picos dos adsorventes


diminui quando o material passa pela ativação química, o que indica a redução da

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cristalinidade, fazendo com que aconteça uma degradação da celulose. A celulose é


um polímero complexo que têm regiões cristalinas e amorfas, onde a cristalinidade
indica a porcentagem de regiões cristalinas em relação ao material total (RAHNAMA
et al., 2013; BANSAL et al., 2010).
De acordo com Alemdar e Sain (2018), as ligações de hidrogênio entre as
moléculas de celulose são organizadas em um sistema regular, resultando em um
sistema ordenado com propriedades de cristal. Neste sentido, tratamentos químicos e
térmicos podem afetar a estrutura e a cristalinidade das fibras celulósicas, como é o
caso do NaOH, responsável pela remoção de parte das hemiceluloses e da lignina,
conforme pode ser observado na Figura 3, que representa a análise
termogravimétrica realizada nos materiais. Essa figura mostra as curvas de perda de
massa para o material moído (MM), impregnado com H3PO4 (MIH3PO4). impregnado
com NaOH (MINaOH) e para o carvão comercial (CC).

Figura 3: Análise termogravimétrica dos materiais adsorventes moído e impregnado.

Fonte: Autores (2021).

A redução da cristalinidade também pode ser atribuída à redução da força de


algumas ligações de hidrogênio em regiões ordenadas que resultaram parcialmente
na conversão para regiões desordenadas. Segundo Lima et al., (2018), a
desorganização das regiões cristalinas das fibras de celulose é um aspecto
interessante para fins de adsorção, visto que proporciona o desenvolvimento de
espaços vazios que podem facilitar a adsorção.

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Verifica-se na Figura 3 que o material moído tem dois pontos bem determinado,
um em temperaturas menores que 100ºC em razão da perda de água do material, e
outro em que ocorreu o maior pico em aproximadamente 350ºC, em consequência da
degradação dos grupos com oxigênio na superfície do material como a celulose e
hemicelulose (BREBU; VASILE, 2009).
Para os materiais impregnados pode-se observar uma perda de massa mais
discreta abaixo dos 300ºC, que implica na decomposição das hemiceluloses. Em geral
os resultados apresentaram-se satisfatórios, visto que a decomposição térmica de
materiais lignocelulósicos apontam picos de perda de massa entre 220 e 315°C para a
hemicelulose, 315 e 400°C para a celulose e entre 100 e 900°C para a lignina (YANG
et al., 2007). Já no carvão comercial, nota-se um pico bem definido a baixo dos 100ºC,
atribuído a perda de água do material.
Com os materiais devidamente caracterizados, realizou-se os ensaios de
branqueamento do óleo de arroz empregando o material adsorvente na forma moída
(MM), impregnado com H3PO4 (MIH3PO4), impregnado com NaOH (MINaOH) e
utilizando também o carvão ativado comercial. A Tabela 3 mostra o percentual de
variação de redução dos compostos no óleo de arroz branqueado, em relação ao seu
percentual de redução de peróxido, acidez, carotenoides e y-orizanol quando
comparados com o óleo neutralizado.

Tabela 3: Percentual de variação de redução dos compostos no óleo de arroz


branqueado.
(%) de variação do (%) de variação de (%) de variação de (%) de variação
Amostra
índice de Peróxido Acidez carotenoides de y-orizanol.
MM -14,61 ± 0,19 -11,13 ± 0,013 -31,65 ± 1,037 -35,00 ± 0,007
MIH3PO4 -31,83 ± 0,11 5,16 ± 0,011 -46,54 ± 0,261 - 45 ± 0,007
MINaOH -27,75 ± 0,22 -19,80 ± 0,01 -69,43 ± 0,81 - 17,50 ± 0,03
CC -30,27 ± 0,29 -8,35 ± 0,01 -43,64 ± 0,85 -3,29 ± 0,001
Fonte: Autores (2021).

Verifica-se na Tabela 3, que todos os adsorventes produzidos e o carvão ativado


comercial foram capazes de adsorver os peróxidos, carotenoides e y-orizanol
presentes no óleo de arroz neutralizado. No entanto, em razão do agente impregnante
empregado ser um ácido no material MIH3PO4, o índice de acidez aumentou em torno
de 5%. Esse aumento de percentual de acidez apresenta um resultado não almejado,

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pois, a presença de ácidos graxos livres em altas concentrações pode proporciona a


formação de sabores e odores desagradáveis (ENGELMANN et al., 2016).
Analisando apenas os adsorventes produzidos quanto a redução do percentual
de ɣ-orizanol, percebe-se que a casca de acácia ativada quimicamente com NaOH
obteve o menor percentual, de 17,5%, na qual pode ser considerado um resultado
positivo ao ser comparado com os demais, já que o óleo de arroz aumenta sua
estabilidade em razão da presença deste composto, que é um antioxidante
encontrado somente neste óleo, ao qual também se atribuiu efeito
hipocolesterolêmico. Pelo mesmo motivo foi verificado que o carvão comercial
também apresentou um resultado positivo, com uma redução de ɣ-orizanol só de
3,29% (SEETHARAMAIAH; CHANDRASEKHARA, 1993).
Já o material impregnado com NaOH apresentou uma redução de acidez 11,45%
maior que o carvão comercial e também uma redução de carotenoide de 25,79%
maior que o carvão comercial. Essa redução de 69,43% de carotenoide do material
impregnado com NaOH é semelhante ao valor reportado por Strieder et al. (2015),
que obteve um percentual de redução de 65% de carotenoides no óleo de arroz,
utilizando como adsorvente blendas de terra e carvão ativado.
A Tabela 4 mostra os valores encontrados para as medidas de cor Lovibond no
óleo de arroz branqueado com os adsorventes utilizados. De acordo com o Menacho
et al., (2007), quanto mais baixo os valores para os parâmetros de leitura vermelho e
amarelo, mais baixo são as concentrações de carotenoides. Já que o óleo neutralizado
possuía uma coloração escura, não possibilitando a leitura deste pelo equipamento
utilizado, os resultados dos adsorventes utilizados foram positivos, visto que foi
possível fazer sua leitura.

Tabela 4: Medidas de cor Lovibond no óleo de arroz branqueados.


Amostra Vermelho Amarelo Azul Neutro
MM 86 70 0 0
MIH3PO4 82 70 0 0
MINaOH 70 70 0 0
CC 73 70 0 0
Fonte: Autores (2021).

Verifica-se através da Tabela 4, que o maior valor de leitura do parâmetro


vermelho foi para a amostra do óleo de arroz branqueado com a casca da acácia

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moída e seca. Destaca-se, que este valor está de acordo com o resultado demonstrado
na Tabela 3, onde verifica-se que a casca de acácia moída e seca foi a responsável pelo
menor percentual de redução de carotenoides. Esta relação também é verificada para
os demais adsorventes, com destaque para o material impregnado com NaOH que
teve o menor valor para o parâmetro vermelho, consequentemente possuindo o
maior percentual de remoção de carotenoides (69,43%). A retirada dos compostos
que dão cor aos óleos vegetais procura mais satisfazer uma exigência dos
consumidores, do que um requisito de qualidade, visto que os corantes naturais não
são classificados como prejudiciais, e sua remoção pode até provocar uma diminuição
das propriedades alimentícias e nutricionais (MENACHO et al., 2007).
Diante dos resultados obtidos nas Tabelas 3 e 4, pode-se afirmar que todos os
materiais adsorventes produzidos apresentaram potenciais adsortivos para serem
empregados na etapa do branqueamento. No entanto, sugere-se o uso do MINaOH, uma
vez que este apresentou maior redução de carotenoides, cor e acidez, com menor
perca de ɣ-orizanol.

CONCLUSÕES

Os resultados para as caracterizações físicas dos adsorventes produzidos


apresentaram-se satisfatórios, em concordância com a literatura. O diâmetro de
partículas teve uma redução maior para o adsorvente MIH3PO4 que foi de 65,57%,
porém o MINaOH apresentou uma maior porosidade, de 0,28, juntamente com o carvão
ativado comercial que apresentou uma porosidade de 0,34. As análises de DRX
apresentaram uma diminuição da intensidade de cristalinidade ao longo dos
processos para a produção dos materiais adsorventes, o que ocasionou a hidrólise e a
degradação da celulose. O TGA demonstrou que material moído teve degradação da
celulose e hemicelulose e os materiais impregnados tiveram uma decomposição da
hemicelulose.
Com base nos estudos realizados do emprego dos adsorventes no
branqueamento do óleo de arroz, percebeu-se que todos os materiais possuem
resultados satisfatórios, visto que apresentaram uma redução para o percentual de
peróxidos, carotenoides e cor. Porém, obteve-se um aumento de acidez para o
material MIH3PO4 devido ao agente utilizado no tratamento químico ser um ácido. O
material que apresentou uma maior redução de peróxido foi o material impregnado

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com H3PO4, com 4,08% a mais que o material impregnado com NaOH, um valor bem
próximo ao carvão comercial que teve uma redução de 30,27%. No entanto, o MINaOH
teve uma redução de carotenoides 22,89% maior que o MIH3PO4, e 25,79% maior que o
carvão comercial, resultado condizente com a análise das cores, já que foi o
adsorvente que teve a maior redução nas medidas de cor Lovibond na faixa do
vermelho (70). Analisando o índice de y-orizanol o CC e o MINaOH apresentaram os
valores mais baixos de redução. Considerando somente os materiais produzidos, o
MINaOH que foi o adsorvente que apresentou o menor índice de redução, com 17,5%,
indica que dentre todos os adsorventes produzidos este é o que teve os melhores
resultados, uma vez que esse parâmetro indica uma maior estabilidade em razão da
presença desse composto.

AGRADECIMENTOS
Os autores deste trabalho agradecem a Universidade Federal do Pampa por toda
a infraestrutura e bolsa de auxílio fornecida, pela concessão de bolsa de mestrado da
CAPES e de iniciação científica da FAPERGS, além da indústria SETA - Sociedade
Extrativa Tanino de Acácia Ltda. por toda a matéria prima disponibilizada.

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CAPÍTULO 21
MENOS UM PLÁSTICO: UMA
CAMPANHA VIRTUAL DE
CONSCIENTIZAÇÃO
AMBIENTAL SOBRE RESÍDUOS
PLÁSTICOS

Rebeca Jacqueline Machado1


Débora Daniele Ricardo Terra2
Fernanda Veras Cardoso3
Hannah Soeiro Pereira4
Maria Clara Cruz da Cunha5
Matheus Vinicius do N. Coutinho6
Yves Nathan Melo de Faria7
Ellen Raphael8

1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA),
Manaus, AM, email: rjm.geq19@uea.edu.br, ID Lattes: 3205812873324510.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA),
Manaus, AM, email: ddrt.geq20@uea.edu.br, ID Lattes: 4331795117541397.
3
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA),
Manaus, AM, email: fvc.geq20@uea.edu.br, ID Lattes: 5417043797336731.

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4
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA),
Manaus, AM, email: hsp.geq20@uea.edu.br, ID Lattes: 2159400803568971.
5
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA),
Manaus, AM, email: mccdc.geq20@uea.edu.br, ID Lattes: 1514037978599293.
6
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA),
Manaus, AM, email: mvnc.geq17@uea.edu.br, ID Lattes: 8343815515094448.
7
Graduando em Engenharia Química, Universidade Estadual do Amazonas (UEA),
Manaus, AM, email: nathan.yves@hotmail.com, ID Lattes: 1608884389691256.
8
Professora do Curso de Engenharia Química, Escola Superior de Tecnologia,
Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Manaus-AM, email: eraphael@uea.edu.br,
ID Lattes: 1077764607984864.

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MENOS UM PLÁSTICO: UMA CAMPANHA VIRTUAL DE CONSCIENTIZAÇÃO


AMBIENTAL SOBRE RESÍDUOS PLÁSTICOS

RESUMO
O descarte inadequado de resíduos sólidos urbanos se tornou um sério problema
ambiental nas grandes cidades. Nesse contexto, os plásticos têm destaque devido,
principalmente, ao seu longo tempo de degradação. Para diminuir os desequilíbrios
ambientais causados por esses materiais, é necessário que a população tenha ciência
do problema e das alternativas disponíveis, para que sejam possíveis mudanças de
comportamento não apenas em relação ao tratamento dos resíduos pós-consumo,
mas também nas decisões pré-consumo de plásticos. A cidade de Manaus implantou
recentemente a coleta seletiva e a prefeitura, em parceria com algumas empresas,
disponibiliza pontos voluntários de coleta, porém, ainda há pouca adesão da
população, que carece de informações sobre o assunto. Este trabalho apresenta a
avaliação de resultados de uma campanha 100 % virtual de conscientização sobre
impactos ambientais, e informações sobre separação de plásticos e coleta seletiva em
Manaus.
Palavras-chave: Meio Ambiente; Resíduos Sólidos; Coleta Seletiva; Reciclagem;
Plásticos.

“MENOS UM PLÁSTICO”: AN ENVIRONMENTAL VIRTUAL AWARENESS CAMPAIGN ON


PLASTIC WASTE

ABSTRACT
The inadequate disposal of urban solid waste has been a serious environmental
problem in large cities. In this context, plastics stand out mainly due to their long
degradation time. To reduce the environmental imbalances caused by these
materials, the population must be aware of the problem and the available alternatives
so that behavioral changes are possible concerning the treatment of post-consumer
waste and in pre-consumption decisions of plastics. The city of Manaus has recently
implemented selective collection and the city hall, in partnership with some
companies, provides voluntary collection points, however, there is still little
participation from the population, which lacks information on the subject. This work
presents the evaluation of the results of a 100 % virtual awareness campaign on
environmental impacts, and information on plastic separation and selective collection
in Manaus.
Key-words: Environment; Solid Waste; Selective collection; Recycling; Plastics.

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento industrial e comercial, impulsionado pela globalização, tem


provocado mudanças expressivas no estilo de vida de várias sociedades. A forma
desordenada e sem planejamento pelo qual esse crescimento ocorreu vem causando
crescentes níveis de poluição e degradação ambiental, devido principalmente ao
aumento da quantidade de resíduos sólidos urbanos (RSUs) descartados
incorretamente no meio ambiente (Braga et al., 2005). Esses resíduos resultam de
atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços
e de varrição, podendo se apresentar nos estados físicos sólido e semi-sólido (ABNT
2004). O impacto ambiental causado por estes materiais deve-se à interação destes
com o meio, paralelamente ao esgotamento de sua capacidade de depuração (Bidone,
2001). Diante disso, a grande geração de RSUs, ocasionada pelo constante aumento
do consumo nas cidades, somado ao descarte inadequado, implica em um sério
problema, principalmente nas grandes cidades.
Ao longo do último século, os polímeros, devido principalmente à sua alta
resistência, baixa densidade e acessibilidade notável se difundiram em praticamente
todos os aspectos de nossas vidas, com as mais diversas aplicações, apresentando um
aumento exponencial de produção, uso e descarte desde 1950. Como a maioria das
resinas usadas hoje, incluindo polietileno, polipropileno, poli (cloreto de vinil) e
poliestireno, são derivados de fontes de petróleo não renováveis e não
biodegradáveis, persistem no meio ambiente por décadas ou séculos além de suas
vidas úteis (Fortman et al., 2018) (Canevarolo, 2002). Enquanto práticas
ecologicamente corretas, como fabricação de materiais biodegradáveis ou coleta
seletiva, possuem um crescimento anual linear lento. Tal cenário evidencia a
problemática da produção e descarte exacerbados de plásticos (Geyer et. al., 2017).
O descarte inadequado prejudica o meio ambiente, além da saúde da população,
seja pela contaminação do solo, dos reservatórios de água ou mesmo da atmosfera
(Monteiro et al., 2001). A presença de materiais não-biodegradáveis, nesses resíduos,
acarreta um desequilíbrio ao meio ambiente, sendo que no caso dos plásticos existe a
possibilidade de liberação de resíduos mais complexos de serem degradados, tais
como os microplásticos (Belone et al., 2021). Para evitar esse cenário catastrófico, é
necessário que esses resíduos tenham destinação final adequada. Embora os lixões a
céu aberto continuem a receber uma porcentagem dos RSU (sem qualquer pré-

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tratamento), atualmente, a maior parte dos resíduos gerados são destinados a aterros
sanitários (Moraes, 2010).
Em 2010, como uma alternativa para aproveitamento de materiais descartados,
além da correta destinação de resíduos, foi instituída a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), pelo sancionamento da Lei n° 12.305, regulamentada pelo decreto
7.404/10, sendo um marco no setor de RSU e incentivando o descarte correto.
Todavia, esta política é pouco efetiva na prática, principalmente pela desinformação
da sociedade brasileira e falta de articulação entre governo, setores privados e/ou
cooperativas e os cidadãos (Brasil, 2010).
Uma boa alternativa para reduzir o número de descarte de materiais,
minimizando a dispersão de agentes nocivos no meio ambiente, é através da
reciclagem (Mei, 2017). Visto que a economia de energia, preservação de fontes
esgotáveis de matéria-prima, preservação de recursos naturais e financeiros,
aumento da vida útil dos aterros sanitários, redução de gastos com a limpeza e saúde
pública, além de geração de emprego e renda são aspectos importantes que justificam
não só ações ambientais individuais, mas também políticas públicas voltadas para a
reciclagem.
Apesar da importância da reciclagem, o comportamento do consumidor não é
importante apenas no final da vida dos produtos plásticos. É imprescindível que a
conscientização comece nas decisões de compra e no comportamento pós-consumo,
como por exemplo, fazendo a reutilização. Os clientes que compram produtos
plásticos têm um papel potencialmente importante para evitar o aumento da poluição
causada por eles no meio ambiente (Sheldon e Norton, 2020).
Desta forma, o desenvolvimento deste trabalho possui como estratégia
disseminar as informações que contribuam com a mudança de comportamento pré e
pós consumo do plástico pela população. O projeto também visa contribuir para a
conscientização da população, que poderá cobrar uma maior articulação do poder
público e da iniciativa privada para o sucesso da implantação de coleta seletiva na
cidade de Manaus. Ademais, a campanha propõe abordar a substituição de plásticos
sintetizados a partir de combustíveis fósseis pelos plásticos obtidos a partir de uma
origem biológica (biopolímeros e polímeros biodegradáveis). Uma alternativa
promissora, no entanto, pouco conhecida (Brito et al., 2011).

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Desde 2020, devido à pandemia do Coronavírus, o distanciamento social vem


sendo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como principal
medida para evitar a disseminação do vírus. Por isso, ferramentas de comunicação e
aprendizagem remota se tornaram uma necessidade. Os formatos virtuais estão cada
vez mais comuns e acessíveis, sendo alternativa ideal para a realização deste trabalho
de conscientização. Este projeto foi elaborado pensando em aproveitar dos diversos
recursos audiovisuais disponíveis para montar uma campanha atraente que possa
contribuir com a conscientização da população amazonense, em especial da cidade de
Manaus, a respeito dessa temática tão relevante, porém ainda negligenciada.
Neste contexto, a campanha realizada dentro deste projeto de extensão teve
como objetivos: promover a divulgação da problemática dos resíduos plásticos,
evidenciar as questões ambientais ligadas ao descarte de resíduos, levantar
informações sobre pontos de coleta seletiva na cidade de Manaus, divulgar a
importância da reutilização e da reciclagem à comunidade amazonense. A campanha
foi realizada em um condomínio na cidade de Manaus, sendo que, as etapas futuras do
desenvolvimento do projeto visam contemplar outros condomínios e os
desdobramentos deste projeto visa levar a informação a diversos outros grupos da
cidade, como escolas e a população em geral. O curso de engenharia química fornece
em seu componente curricular uma formação adequada para que estudantes possam
atuar dentro dessa temática, ampliando ainda mais seus conhecimentos, que vão
desde os diferentes tipos de polímeros e biopolímeros, técnicas de processamento e
produção, aplicação de polímeros naturais e biodegradáveis como uma alternativa
aos sintéticos além da reciclagem de materiais poliméricos em geral.

METODOLOGIAS
Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada a montagem de uma
campanha toda desenvolvida no formato virtual, levando-se em conta principalmente
a questão da pandemia de Covid-19, intitulada: “Menos Um Plástico” com elaboração
de materiais informativos, na forma de cartazes e pequenos vídeos, que foram
divulgados, em um grupo de WhatsApp. A elaboração contou com as seguintes
etapas:
1 – Levantamento bibliográfico sobre a problematização ambiental dos
plásticos, tipos de biopolímeros, tipos de polímeros biodegradáveis, diferentes

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aplicações dos tipos de polímeros, separação de materiais, reciclagem e um


levantamento sobre coleta seletiva e pontos de coleta em Manaus;
2 – Contato com o condomínio, criação do grupo de WhatsApp e da página no
Instagram;
3 – Aplicação de questionário online (elaborado pelo Google Forms) para
levantar os conhecimento pré-campanha, dos participantes, sobre os assuntos deste
projeto;
4 – Elaboração de cartazes e pequenos vídeos informativos, através da
plataforma de design gráfico Canva, contendo as informações bibliográficas
levantadas, seguida da disseminação dessas informações nas redes sociais;
5 – Avaliação, por meio de questionário pós-campanha, dos impactos da
realização da campanha virtual.
Durante o desenvolvimento da campanha foram realizadas diversas reuniões
online entre a equipe do projeto, algumas das quais contaram com a presença da
coordenadora. Nesses encontros, foram levantadas, analisadas e definidas propostas
para a elaboração da campanha virtual. Também foram atribuídas tarefas para os
alunos na elaboração dos materiais informativos da campanha, entre elas: moderação
do grupo, elaboração dos textos, confecção das mídias, apresentação dos conteúdos,
interação com os condôminos participantes e postagem dos materiais.
O contato inicial com o condomínio parceiro e seus condôminos foi feito pela
coordenadora, através de mensagens e divulgação de dois cartazes de convite no
grupo de WhatsApp do condomínio em questão. Na sequência foi disponibilizado um
link para os interessados adentrarem, por adesão voluntária, no grupo criado
especificamente para a campanha.
A campanha virtual foi estruturada com duração de quatro semanas. A cada
semana foi abordado um tema em específico, através da disponibilização de cartazes
e vídeos.

Semana 1: Apresentação
A primeira semana teve como abertura a divulgação de um vídeo de
apresentação do projeto e dos participantes. Além disso, foi apresentado, também, a
rede social externa de divulgação: o Instagram, e na sequência foi aplicado o
questionário pré-campanha para avaliar os conhecimentos iniciais dos interessados.

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Semana 2: Impactos Ambientais


Na segunda semana, o tema abordado foi meio ambiente e impactos ambientais,
com informações sobre impactos ambientais ocasionados pelo descarte inadequado
do lixo em geral, com destaque para materiais plásticos. Foram apresentados, de
maneira atrativa e acessível, dados confiáveis sobre: redução de consumo,
reutilização e reciclagem de plásticos, cuidados e consequência do descarte indevido
e separação de materiais.

Semana 3: Reciclagem
Na terceira semana, foram apresentadas informações sobre as diferentes
classificações dos materiais poliméricos e quais tipos de plásticos podem ser
recicláveis. Também foram apresentadas informações sobre a destinação dos
materiais descartados em geral, possibilidades de reciclagem e opções para descarte
adequado, além da divulgação dos pontos de coleta existentes na cidade de Manaus.

Semana 4: Biopolímeros e fechamento


Na quarta semana, foi reforçada a importância do descarte adequado de
polímeros e da campanha aplicada, além de apresentar a opção ainda pouco
conhecida: a substituição de polímeros sintéticos por biopolímeros ou
biodegradáveis. Ainda nessa semana foi feito o fechamento da ação, aplicando o
questionário pós-campanha, para levantar os conhecimentos adquiridos com a
campanha e analisar os impactos imediatos e futuros da mesma.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente foram elaborados dois cartazes convites para divulgação da


campanha, apresentados na Figura 1. Ambos os cartazes foram postados no grupo de
WhatsApp do condomínio selecionado, seguidos da disponibilização de um link para
o morador participar da campanha.
A primeira semana da campanha resultou na elaboração de 2 cartazes e 1 vídeo
informativo. Com o grupo de Whatsapp criado e os participantes definidos
(totalizando 15), foi apresentado um vídeo de apresentação da equipe e da proposta
do projeto, que se encontra disponível no Instagram da campanha
(@menos1plástico.uea).

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Figura 1: Cartazes elaborados para convidar os interessados em participar da


campanha.

Foi disponibilizado um link para preenchimento de um questionário pré


campanha. Este continha 13 perguntas e foi respondido pelos participantes. A partir
dele, foi possível avaliar os conhecimentos prévios e traçar um perfil individual,
avaliando os interesses sobre reciclagem, conforme apresentado na Figura 2.

Figura 2: Interesses dos participantes sobre reciclagem.

A segunda semana resultou em um maior volume de produção de conteúdo.


Foram elaborados e apresentados 11 cartazes e 6 vídeos informativos. Os
participantes levantaram indagações relevantes sobre os temas, as quais foram
respondidas ao final da respectiva semana. Nela, os integrantes da equipe puderam
definir os tipos de mídia mais adequados para cada tipo de conteúdo (cartaz x vídeo).
Alguns dos cartazes informativos elaborados e aplicados nesta etapa do projeto, estão
apresentados na Figura 3. Os vídeos encontram-se disponíveis no Instagram da
campanha (@menos1plástico.uea).
Na terceira semana, foram produzidos 9 cartazes e 7 vídeos informativos,
abordando os aspectos gerais e econômicos dos temas principais da semana: coleta
seletiva e reciclagem. Alguns desses cartazes encontram-se representados na Figura
4, já os vídeos encontram-se disponíveis no Instagram da campanha
(@menos1plástico.uea). Durante essa etapa da campanha, a partir da interação dos
participantes, confirmou-se que pouco se conhecia sobre a coleta seletiva na cidade
de Manaus.

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Figura 3: Cartazes elaborados e aplicados na segunda semana da campanha virtual.

Figura 4: Cartazes elaborados e aplicados na terceira semana da campanha virtual.

Na quarta e última semana, foram produzidos 4 cartazes e 5 vídeos informativos


apresentando alternativas para diminuição do volume de resíduos, principalmente,
dos plásticos, além da elaboração de um cartaz com recomendações de filmes que

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abordam a problemática ambiental discutida durante toda a campanha, conforme


apresentado na Figura 5.

Figura 5: Cartazes elaborados e aplicados na quarta semana da campanha virtual.

Ainda na quarta semana, com o término da campanha, foi produzido um


questionário para avaliar os conhecimentos pós-campanha dos participantes,
contendo um total de 20 perguntas: 10 sobre a campanha em si e as outras 10 sobre
os temas abordados. As 10 últimas proporcionaram fazer a comparação das respostas
dos dois questionários (pré x pós), permitindo observar o aprimoramento dos
participantes acerca do conhecimento sobre o descarte do lixo na cidade de Manaus.
Além disso, receberam informações úteis sobre o modo de separação de material,
reciclagem e pontos de coleta seletiva, de modo que a campanha também foi capaz de
incentivar as pessoas à adesão desta prática. Foi verificado que houve um impacto no
sentido de reconhecer a importância de se aplicar tanto a reciclagem quanto a prática
de novos hábitos, como reutilização de materiais ou mesmo utilização de materiais
alternativos.
Para o fechamento da campanha, foi divulgado aos participantes um vídeo
(Resultados da primeira campanha) com um resumo dos resultados, no qual também
foi feito um agradecimento pela participação e interesse de todos. De modo geral, a
campanha foi avaliada como muito boa a excelente (Figura 6), sendo o tema da
campanha considerado extremamente relevante, trazendo muitas informações e
conteúdo adequado, sendo, vídeo, o tipo de mídia preferido pelos participantes.

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Figura 6: Avaliação geral da campanha.

O comparativo dos dados coletados antes e depois da aplicação da campanha


está apresentado na Tabela 1.

Tabela 1: Comparativo dos conhecimentos dos participantes antes e depois da


aplicação da campanha.

Foi constatado, ainda, que o assunto mais impactante foi justamente a questão
dos impactos do descarte inadequado de plásticos no meio ambiente, como é possível
observar no gráfico da Figura 7.
Já a Figura 8 exibe quais assuntos, dentre os debatidos, trouxeram mais
informações, sendo possível avaliar aqueles que a população tem menos
conhecimento.

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Figura 7: Impacto dos temas abordados.

Figura 8: Quantidade de informações novas repassadas ao público.

Dentre as dificuldades encontradas no processo de aplicação da campanha


virtual, é possível citar como a principal, a adequação da linguagem utilizada nos
materiais ao público participante. Nisso inclui-se: a quantidade de texto, o tamanho
das fontes nos cartazes, velocidade dos vídeos e modo de interação no grupo. Essas
dificuldades foram constatadas logo nas primeiras semanas, através da interação com
os participantes. A partir de então, a equipe discutiu sobre esses pontos e realizou
uma revisão, adequando os materiais que ainda estavam por ser apresentados. Outro
ponto importante a se destacar é uma certa dificuldade em conseguir a adesão das
pessoas na campanha: algumas relataram dificuldades de tempo para acompanhar,

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receio de terem que fornecer informações pessoais, vergonha ou medo de


eventualmente precisarem se expor, ter que se comprometer a de fato promover
alguma iniciativa dentro do tema apresentado ou ainda por simples falta de interesse.

CONCLUSÕES

Com a aplicação da campanha virtual “Menos Um Plástico” e análise dos dados


coletados com os formulários, foi possível verificar que o trabalho contribuiu de
modo positivo. As ações desenvolvidas cumpriram seu objetivo de divulgar
informações importantes a respeito da problemática do descarte inadequado de
resíduos sólidos, principalmente dos plásticos, no meio ambiente, sendo consideradas
extremamente relevantes pelos participantes que as avaliaram. Além disso, foram
recebidas sugestões para que a campanha fosse levada para além dos condomínios.
O formato virtual da campanha foi um aspecto importante, uma vez que
permitiu rápido transporte de informações, através das quais foram possíveis ajustes
e melhoramentos do conteúdo durante a campanha. As plataformas digitais: CANVA,
Google Forms, Instagram e WhatsApp mostraram-se extremamente úteis para
elaboração dos conteúdos. O modelo digital se mostrou uma ferramenta eficiente
para a disseminação de conhecimento à população de Manaus, de modo que será
estendida à novos condomínios.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UEA pelo apoio recebido, à direção da EST – UEA pela
anuência na execução do projeto, ao Condomínio Pôr do Sol e seus condôminos
participantes da campanha virtual e à organização do I WENDEQ pela oportunidade
de divulgação do trabalho.

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CAPÍTULO 22
DO FAZER AO ENSINAR:
VIVÊNCIA E ESTRATÉGIAS DE
ENSINO EM PESQUISA
APLICADA À ENGENHARIA
QUÍMICA DURANTE A
PANDEMIA DE COVID-19

João Walber Cabral da Silva1


Melânia Lopes Cornélio2

1
Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: joao.walber@academico.ufpb.br, ID Lattes: 3444020271104338.
2
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), João Pessoa, PB, email: melania.cornelio@academico.ufpb.br, ID Lattes:
9470334173934601.

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DO FAZER AO ENSINAR: VIVÊNCIA E ESTRATÉGIAS DE ENSINO EM PESQUISA


APLICADA À ENGENHARIA QUÍMICA DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

RESUMO
O presente trabalho descreve vivências e estratégias de ensino-aprendizagem na
disciplina de Pesquisa Aplicada à Engenharia Química, dentro do contexto de ensino
remoto emergencial adotado em razão da pandemia do SARS-CoV-2. O estudo foi
realizado nos períodos de 2020.1 e de 2020.2 da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), com alunos de graduação em Engenharia Química. A metodologia utilizada
foi majoritariamente descritiva; todavia, sempre que se revelou necessário, procedeu-
se a uma quantificação dos dados analisados. As ações, de modo geral, contaram com
a abrangente utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICS). Foi
observado que o ensino remoto na disciplina atendeu às expectativas dos alunos e ao
processo de aprendizagem.
Palavras-chave: Pesquisa Aplicada à Engenharia Química. Ensino Remoto
Emergencial. Docência. Aprendizagem.

FROM DOING TO TEACHING: EXPERIENCE AND TEACHING STRATEGIES IN RESEARCH


APPLIED TO CHEMICAL ENGINEERING IN THE COVID-19 PANDEMIC

ABSTRACT
This study describes experiences and teaching-learning strategies in the discipline of
Applied Research in Chemical Engineering, within the context of emergency remote
teaching adopted due to the SARS-CoV-2 pandemic. The study was carried out in the
2020.1 and 2020.2 academic periods of the Federal University of Paraíba (UFPB),
with undergraduate students in Chemical Engineering. The methodology used was
mostly descriptive; however, whenever necessary, the data analyzed were quantified.
The activities, in general, relied on the extensive use of Information and
Communication Technologies (ICTs). It was observed that remote teaching in the
discipline satisfied the students' expectations and the learning process.
Key-words: Applied Research in Chemical Engineering. Emergency Remote Teaching.
Teaching. Learning.

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INTRODUÇÃO

Em razão do surto do novo coronavírus, nada está acontecendo como planejado,


onde metas e objetivos foram substituídos por novas demandas e competências
(Rêgo et. al, 2020). Tal fato pode ser justificado pois, devido à ampla dispersão e
crescimento exponencial de casos e óbitos (Da Silva et. al, 2020), fez com que o
quadro rapidamente se agravasse de modo que, em 11 de março de 2020, evoluísse
de um estado de Emergência e passasse a ser classificado como pandemia pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) (Brasil, 2020a; Cucinotta e Vanelli, 2020).
Para dar continuidade às atividades e, em razão do isolamento e distanciamento
social adotado como mecanismo para a diminuição da transmissibilidade do vírus, a
terminologia reinvenção virou estratégica. Ela foi, também, incorporada às salas de
aula que saem emergencialmente do ambiente físico e migram para o modo remoto.
As instituições de ensino, então, adaptaram metodologias típicas do contexto
físico para o virtual, num modelo de ensino designado de ensino remoto de
emergência (Moreira et. al, 2020). Destaca-se que o ensino é remoto pelo
distanciamento físico e, como também, é emergencial, pois todo o planejamento
pedagógico teve que ser rapidamente adaptado (Behar, 2020).
No Brasil, em razão da evolução do cenário pandêmico, o Ministério da
Educação (MEC) dispôs em 17 de março de 2020 a portaria nº 343 na qual permitiu a
substituição das aulas presenciais por aulas remotas, pelo prazo de 30 dias ou, em
caráter excepcional, podendo ser prolongado enquanto perdurar a pandemia (Brasil,
2020b).
Todavia, é importante ressaltar que, devido aos desafios gerados pelas
mudanças na educação, como dificuldades de adaptação do currículo e estratégias
pedagógicas em um curto tempo (Bao, 2020), houve a necessidade de que o Conselho
Nacional de Educação (CNE) aprovasse em 28 de abril de 2020 novas diretrizes para
orientar instituições de ensino durante a pandemia do novo coronavírus, com o
levantamento de recursos tecnológicos recomendados (Brasil, 2020c).
A Universidade Federal da Paraíba (UFPB), acompanhando recomendações das
autoridades competentes educacionais, dispôs no dia 6 de agosto de 2020 a
Resolução nº 19 de 2020, na qual ofertou componentes curriculares remotamente em
um calendário suplementar para o período 2020.1, sendo complementado pela
Resolução nº 35 de 2020 na qual possibilitou uma nova oferta no subsequente

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período remoto de 2020.2 (Universidade Federal da Paraíba, 2020a; Universidade


Federal da Paraíba, 2020b)
Um dos componentes curriculares implantados remotamente como resultado
destas resoluções foi a disciplina de Pesquisa Aplicada à Engenharia Química,
ofertada aos alunos de graduação em Engenharia Química pelo Departamento de
Engenharia Química (DEQ) no Centro de Tecnologia (CT), Campus I, da UFPB.
Esta disciplina, em destaque, foi uma dos contempladas pelo Edital Simplificado
nº 18 de 2020 da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), no qual dispôs sobre a oferta e
seleção de projetos de monitoria para o ensino remoto emergencial no período
suplementar de 2020.1 (Universidade Federal da Paraíba, 2020c).
É importante ressaltar que a monitoria acadêmica é regulada pelo artigo 41 da
Lei Federal nº 5.540, de 28 de novembro de 1968 (Brasil, 1968), e pela Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996 (Brasil, 1996). Ela é uma modalidade de ensino-
aprendizagem na qual envolve o aluno-monitor nas atividades do trabalho docente
(Garcia, 2013), propiciando o exercício e interesse pela docência (Pessôa, 2007).
Seu objetivo está no estabelecimento de planos de aulas, projetos pedagógicos,
metas educacionais e a identificação das dificuldades e perfil dos alunos (Vicenzi et
al., 2016). E, por tal, constitui-se como importante ferramenta para a graduação,
diante ao observado aumento na participação e rendimento acadêmico após sua
implementação (Gonzaga e Pereira, 2017).
Diante ao exposto, o presente trabalho teve como objetivo descrever as
vivências e estratégias de ensino-aprendizagem remotas implantadas na disciplina de
Pesquisa Aplicada à Engenharia Química na UFPB, como também discorreu sobre a
percepção dos estudantes para com o papel da educadora, aluno-monitor e o
processo de aprendizagem, dentro do contexto de ensino remoto emergencial devido
a pandemia do SARS-CoV-2.
Dentre os objetivos específicos, foi adotada a promoção do conhecimento sobre
pesquisa, busca, patentes, desenvolvimento de novas metodologias ativas, elaboração
de projeto científico, desenvolvimento de um projeto para criação de uma empresa
tecnológica em engenharia química, conceitos de inovação e produtos tecnológicos,
como também um estímulo para a participação acadêmica, contribuindo para o
aprimoramento pessoal e futura atuação profissional.

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Pelo o que afirma Hernández (1998), o desenvolvimento de projetos de


trabalho coopera para uma ressignificação da aprendizagem, visto que se volta para a
formação de alunos ativos, reflexivos, atuantes e participativos.
Como também, é importante ressaltar que tais objetivos estipulados estão de
acordo ao que preconiza as diretrizes curriculares para os cursos de engenharia, no
qual se incentiva o desenvolvimento das competências no que tange ao se estar apto
para a pesquisa, ao desenvolvimento, à adaptação e utilização de novas tecnologias,
para uma atuação inovadora e empreendedora (Brasil, 2019).

METODOLOGIAS
O trabalho tem caráter descritivo, com abordagem qualitativa e quantitativa, no
qual busca diminuir o distanciamento entre os dados levantados e a literatura,
analisando-os por meio de sua descrição e interpretação (Teixeira, 2007). Seu
objetivo é descobrir os fenômenos e observá-los, buscando descrevê-los, classificá-los
e interpretá-los (Rudio, 2007).
O estudo, de modo geral, se interessou em discorrer a vivência do ensino
remoto na disciplina de Pesquisa Aplicada à Engenharia Química, ofertada aos
graduandos em Engenharia Química na UFPB nos períodos suplementares de 2020.1
e de 2020.2.
É importante ressaltar que, na educação, as mudanças geram oportunidades de
desenvolvimento de competências na docência, necessidade de inovação educacional,
organizacionais e exigência de respostas céleres para o ensino e a participação dos
estudantes (Rêgo et. al, 2020).
Sendo assim, é necessário que o educador conheça as limitações e
características dos canais de comunicação, sejam eles síncronos e assíncronos
(Salmon, 2000). E, diante disso, houve a divisão das ações de ensino entre as
plataformas assíncrona e síncrona, respectivamente. Como também, foi feita a
utilização abrangente das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICS), por
intermédio de Recursos Educacionais Abertos (REA).
O professor, de modo geral, necessita interagir ativamente com os alunos,
promovendo uma aprendizagem dinâmica, de modo que organize atividade para ser
desenvolvida e publicada no decorrer da semana (Behar, 2020). E, sendo assim,
procedeu-se à elaboração e à disponibilização contínua de exercícios assíncronos na

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plataforma Google Forms, além da oferta de aulas síncronas na plataforma Google


Meet e a disponibilização de vídeos informativos sobre sites de buscas acadêmicas
(periódicos da Capes, Scopus, Scielo, Engineering Village) e plataformas de buscas de
patentes (INPI, Google Patentes, USPTO, Espacenet) no YouTube.
Foi adotada a criação de grupos em WhatsApp como mecanismo de retirada de
dúvidas e acompanhamento síncrono dos discentes. Essa escolha deve-se ao fato de
que os estudantes geralmente preferem a utilização de plataformas mais informais
(Moreira et. al, 2020).
Houve também a disponibilização do correio eletrônico da professora e do
monitor aos alunos, pelo fato deste permitir uma comunicação privada, rápida e
econômica (Morais e Cabrita, 2007).
Para uma melhor adaptação da educadora e do aluno monitor às plataformas
digitais é aconselhável a realização de capacitações a respeito de estratégias de
ensino-aprendizagem no modo remoto. E, sendo assim, ressalta-se que, antes do
início da vigência do projeto de monitoria remota, o monitor da disciplina participou
no Moodle da instituição do Curso Preparatório para o Uso de Tecnologias Digitais no
Ensino Remoto, com carga horária de 30 horas, sendo este promovido pela
Superintendência de Educação a Distância (SEAD) da UFPB.
Como, também, foram realizadas reuniões síncronas semanais pela professora e
pelo monitor na plataforma Google Meet, a fim de alinhamento, elaboração do
cronograma das atividades e orientações em torno do projeto de ensino remoto da
disciplina. Tal fato é corroborado pelo que defende Vianna e Carvalho (2001), no qual
afirma que é preciso refletir sobre o exercício da docência e os conteúdos lecionados.
Sendo assim, o conteúdo programático da disciplina foi disponibilizado e
discutido desde o início das atividades, promovendo o conhecimento antecipado aos
alunos. As vivências obtidas, exercícios desenvolvidos e materiais elaborados para o
período de 2020.1 foram armazenados, aprimorados e reempregados, quando
adequados, no desenvolver das atividades do subsequente período de 2020.2.
Foram disponibilizadas todas essas informações e materiais desenvolvidos aos
estudantes pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) denominado módulo
Turma Virtual, no qual se encontra disponibilizado no Sistema Integrado de Gestão de
Atividades Acadêmicas (SIGAA).

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Por ser uma ferramenta gratuita e viável para sistematizar os resultados


(Monteiro e Santos, 2019), foi utilizado um formulário eletrônico em plataforma
Google Forms como mecanismo de coleta da percepção dos discentes para com as
estratégias de ensino-aprendizagem implementadas no ensino remoto da disciplina.
Por se tratar de uma pesquisa majoritariamente qualitativa, o tratamento dos
dados foi essencialmente descritivo. Todavia, sempre que necessário, foi feita uma
quantificação dos dados obtidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No questionário, os discentes avaliaram diversos pontos no que diz respeito ao


apoio remoto dado na disciplina. No preenchimento, a pesquisa contou com a
participação de 30 alunos de Pesquisa Aplicada à Engenharia Química entre os
períodos de 2020.1 e de 2020.2 na UFPB.

Quesitos avaliados pelos alunos acerca do ensino remoto na disciplina


Um dos quesitos avaliados foi a contribuição dada na compreensão dos
conteúdos da disciplina, no qual obteve-se como resposta: excelente (73,33%), bom
(20,00%) e regular (6,67%). De fato, este resultado foi potencializado pela utilização
abrangente das tecnologias digitais na disciplina, com o uso das TICS. Elas permitem o
registro, a visibilização do processo de aprendizagem individual e de todos os
envolvidos, facilitando como nunca múltiplas formas de comunicação horizontal
(Morán, 2015).
O segundo ponto avaliado foi em relação ao apoio dado no repasse dos
conteúdos, no qual se obteve: excelente (63,33%), bom (23,33%) e regular (13,33%).
Para tal resultado, foi importante a atuação ativa da educadora e do monitor, sempre
observando os exemplos utilizados e a linguagem adotada. Como confirma Masetto
(2003), o monitor pode contribuir na preparação das aulas, verificando se a
linguagem utilizada está compreensível aos alunos.
Destaca-se que houve o compartilhamento de experiências e ideias, de modo a
proporcionar um ambiente de comunicação ativa entre os envolvidos. Uma das
propostas levantadas foi o desenvolvimento de vídeos informativos sobre o uso das
ferramentas de buscas acadêmicas e de patentes para uma melhor aprendizagem dos
educandos.

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Figura 1: Lista de vídeos disponibilizados aos estudantes sobre sites de buscas


acadêmicas e patentes.

A escolha é corroborada no que menciona Foutsitzi (2018), no qual afirma que o


uso de recursos audiovisuais pode proporcionar mudanças no processo de ensino-
aprendizagem. Sendo assim, vídeos foram desenvolvidos e disponibilizados em
YouTube, no qual foi dividido em módulos curtos, dos quais destacam-se: Google
Acadêmico, Google Patentes, diretórios de busca de patentes do INPI, USPTO e
Espacenet. A escolha da elaboração dos vídeos em tópicos curtos é sugerida na
literatura para que não se cause a perda de atenção e desmotivação nos estudantes
(Moreira et. al, 2020).
E, para promover um maior processo de incentivo à aprendizagem, foi possível
convidar à professores para a realização de palestra com temáticas atuais que
dialogavam com o conteúdo programático da disciplina e, ao mesmo tempo, buscando
suprir a necessidade de aperfeiçoamento interdisciplinar dos futuros profissionais.
Uma das palestras ministradas a partir desta ação foi “Empreendedorismo como
Opção de Carreira”, contando com a participação de um professor do Departamento
de Administração (DA) do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da UFPB.
Outro quesito investigado foi em relação às atividades remotas, no qual foi
obtido como resposta: excelente (73,33%), bom (23,33%) e regular (3,33%). Foi

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observado que os estudantes, por serem “nativos digitais”, estão mais habituados ao
uso de plataformas digitais. Eles passaram a vida inteira cercada e usando
ferramentas digitais das quais são partes integrais de suas vidas (Prensky, 2001).
Sendo assim, este fato contribuiu para eles se adaptarem mais rapidamente ao “novo
normal” remoto educacional, visto que já estavam acostumados, dando-lhes a
oportunidade de ter um melhor aproveitamento das atividades remotas elaboradas.
Enquanto isso, na avaliação do auxílio dado à resolução dos exercícios remotos,
os estudantes classificaram como: excelente (66,67%), bom (23,33%), regular
(6,67%) e ruim (3,33%). O resultado obtido é devido à constante prática de
alinhamento entre os envolvidos, onde questionamentos levantados e propostas de
ajustes no plano de ensino foram debatidos. Nesse contexto de transformações, o
professor está constantemente desafiado a explorar os diversos recursos tecnológicos
que, por sua vez, são importantes na acessibilidade por permitir acrescentar,
diversificar e, sobretudo, melhorar o processo de ensino e aprendizagem (Girardi,
2011).
Sendo assim, é necessário o ajuste do método de ensino às mudanças, ter
habilidades comunicativas, dominar a linguagem informacional e utilizar as mídias e
multimídias em suas aulas (Libâneo, 2014). Por ser a primeira oportunidade em que
os discentes realizaram seus estudos de forma totalmente remota, foi observado que
tanto estudantes, como professora e monitor tiveram que constantemente se adaptar
a essa nova forma de ensinar, estudar e aprender.
Na educação, o isolamento e o ensino remoto vêm operando novas formas nas
quais os alunos interagem com alunos, professores com alunos e professores com
professores (Oliveira e Lisbôa, 2020). O monitor, nesse contexto, tem o papel de
auxiliar em comunicar as dificuldades dos alunos ao professor (Masetto, 2003). Ao
refletirem e dialogarem acerca das situações vivenciadas, entende-se que os
indivíduos conjuntamente aprendem e, assim, ao possibilitar o crescimento mútuo,
constroem as bases necessárias às práticas educativas (Garcia, 2013).
E, por último, foi avaliado quanto à forma na qual ocorreu o relacionamento com
a turma através das mídias digitais, onde se obteve: excelente (66,67%), bom
(23,33%), regular (6,67%) e ruim (3,33%). O docente, de modo geral, tem de
aprender a se comunicar na língua e no estilo de seus alunos (Prensky, 2001), e saber

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que eles não aceitam um ensino vertical, autoritário e uniforme de se aprender


(Morán, 2015).
Observa-se que as plataformas síncronas promovem a proximidade entre
participantes, onde as conversas fluem com maior naturalidade (Morais e Cabrita,
2007). E, por isso, foi utilizado, além do correio eletrônico, a comunicação por
intermédio de grupos no WhatsApp.

Comentários dos alunos acerca do ensino remoto na disciplina


Também foram coletadas opiniões sobre o ensino remoto na disciplina, no qual
se destacam os seguintes comentários sobre o monitor: “ ... demonstra muito solícito
e interessado, ele é um ótimo monitor, está ajudando bastante” (A1). “ ... é um
monitor super presente. Ele mesmo fala com a gente oferecendo ajuda. Super
prestativo” (A2).
De fato, os estudantes assistidos pela monitoria ressaltam o papel em que a
mesma promove o autoconceito e a autoformação, apoiando para a qualidade de
ensino e aprendizagem de todos os envolvidos (Frison e De Moraes, 2011), na qual
proporciona a aproximação, facilita a relação interpessoal e o conhecimento teórico
das habilidades da profissão (Barros et al., 2020).
Foram coletados comentários da percepção para com o ensino remoto
emergencial. O aluno A3 disse: “Eu, pessoalmente, gosto bastante do método
utilizado. Apesar do ensino remoto, que se torna mais complicado, a aplicação de
atividades, indicação de vídeos, artigos e outros materiais complementares torna o
aprendizado melhor e às vezes bem mais leve também.” (A3).
Baseado no comentário do aluno A3 foi constatada a importância das
tecnologias na educação, mencionada também por Morán (2015), pois estas
possibilitam a pesquisa online, trazer materiais, atualização de conteúdos, de
comunicação, difusão de projetos e atividades.
O aluno A4, também, discorre: “Estou tendo total proveito do conhecimento da
disciplina.” (A4). E, também, pelo aluno A5: “Acredito que por ser remota, a
possibilidade de acompanhar o acesso a bases digitais e pesquisas de livros ajuda a
assimilar melhor o conteúdo.” (A5).
Para os alunos da disciplina, conforme apresentado, o ensino remoto tem sido
proveitoso em adquirir novos conhecimentos. O que está em consonância com as

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diretrizes curriculares para o ensino de engenharia (Brasil, 2019). Tal fato é, também,
corroborado com o que afirma Barbosa e De Moura (2014):

“O ensino de Engenharia deve ter como objetivo propiciar uma aprendizagem


significativa, contextualizada e orientada para o uso das tecnologias contemporâneas.
Deve também favorecer o uso dos recursos da inteligência, gerando habilidades em
resolver problemas e conduzir projetos nos diversos segmentos do setor produtivo.”
(Barbosa e De Moura, 2014).

Também é corroborado pelo o que afirma Demo (2002), no qual discorre que
aprender não deve ser simplesmente uma ação de escuta, mas também de pesquisa e
elaboração, no qual devem ser disponibilizados meios para construir o aluno-
pesquisador, pois assim gerará uma melhor assimilação das informações.

CONCLUSÕES

Considera-se que o ensino remoto na disciplina de Pesquisa Aplicada à


Engenharia Química demonstrou atender aos objetivos estipulados previamente
como também às expectativas dos alunos matriculados nos períodos suplementares
de 2020.1 e 2020.2 na UFPB.
De modo geral, o acompanhamento e desenvolvimento contínuo de atividades
remotas, com o uso ativo de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICS), como
ferramentas efetivas para a continuidade e êxito das atividades pedagógicas da
disciplina.
Sendo assim, sugere-se como futuros trabalhos a análise da implementação das
metodologias ativas no vindouro ensino híbrido e, a partir dos dados obtidos neste
trabalho, realizar a avaliação comparativa entre o ensino remoto emergencial e o
ensino híbrido, de modo a se apontar sugestões para o “novo normal” do ensino em
engenharia química.

AGRADECIMENTOS
Ao programa de Monitoria para o Ensino Remoto – CPPA/PRG/UFPB, ao Centro
de Tecnologia – CT/UFPB e ao Departamento de Engenharia Química –
DEQ/CT/UFPB.

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ISBN: 978-65-594-1262-4

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19/2020, de 6 de agosto de 2020. Dispõe sobre a regulamentação de oferta de componentes
curriculares para a graduação em um Período Suplementar, considerando o isolamento social
decorrente da pandemia da Doença causada pelo Coronavírus 2019 (Covid-19), com início em 08
de setembro e término em 16 de dezembro de 2020. João Pessoa, PB: Universidade Federal da
Paraíba, 6 ago. 2020a. Disponível em: http://ct.ufpb.br/ccec/contents/noticias/resolucao-no-19-
2020. Acesso em: 18/06/21.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Resolução nº
35/2020, de 14 de dezembro de 2020. Dispõe sobre a regulamentação de oferta de componentes
curriculares para a graduação em um Período Suplementar, considerando o isolamento social
decorrente da pandemia da Doença causada pelo Coronavírus 2019 (Covid-19), com início em 03
de março a 03 de julho de 2021. João Pessoa, PB: Universidade Federal da Paraíba, 14 dez. 2020b.
Disponível em: http://ct.ufpb.br/ccec/contents/noticias/resolucao-no-35-2020. Acesso em:
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Pró-Reitoria de Graduação. Edital Simplificado nº 018/2020,
de 11 de agosto de 2020. Dispõe sobre a seleção de projetos de monitoria para o ensino remoto de
componentes curriculares para a graduação em um Período Suplementar, considerando o
isolamento social decorrente da pandemia da Doença causada pelo Coronavírus 2019 (Covid-19),
com início da atuação dos monitores em 15 de setembro de 2020 e término em 30 de dezembro de
2020. João Pessoa, PB: Universidade Federal da Paraíba, 11 ago. 2020c. Disponível em:
http://www.prg.ufpb.br/prg/codesc/processos-seletivos/noticias/edital-simplificado-no-018-
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CAPÍTULO 23
QUÍMICA DAS EMOÇÕES:
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
MEDIANTE OFICINAS
VIRTUAIS E MIDIAS SOCIAIS
COMO FERRAMENTAS DE
CONSCIENTIZAÇÃO À SAÚDE
EMOCIONAL NO CONTEXTO
DA PANDEMIA DE COVID-19

Felipe Matheus Müller1


Nicoli Fernanda Veyra2
Beatriz Batista Warmling3
Jaíne Santos de Moura4
Jennifer Machado5
Julia Spohr Grigolo6
Sophia Miskowiec Ferreira da Silva7
Patrícia Fóes Scherer Costódio8
Anelise Ehrhardt9
Gizelle Inácio Almerindo10

1
Graduando em Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e Tecnologias, Universidade
do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail: mm.felipe@outlook.com,
ID Lattes: 7953975470892818.

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2
Graduanda em Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e Tecnologias, Universidade
do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail: veyranicoli@gmail.com.
ID Lattes: 6647887984233467.
3
Graduanda em Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e Tecnologias, Universidade
do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail: beatrizwarmling@hotmail.com,
ID Lattes: 9793039256104251.
4
Graduanda em Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e Tecnologias, Universidade
do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail: jainem@edu.univali.br,
ID Lattes: 8957240855192405.
5
Graduanda em Educação Física, Escola de Ciências da Saúde, Universidade do Vale do
Itajaí (UNIVALI), Biguaçu, SC, e-mail: jennifermachado350@hotmail.com.
6
Graduanda em Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e Tecnologias, Universidade
do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail: juliaspohrgrigolo@hotmail.com.
7
Graduanda em Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e Tecnologias, Universidade
do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail: sophiamfds@gmail.com.
8
Coordenadora e Professora do Curso de Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e
Tecnologias, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail:
pscherer@univali.br, ID Lattes: 6940556017059735.
9
Professora do Curso de Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e Tecnologias,
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail: anelisee@univali.br, ID
Lattes: 9720056813398582.
10
Professora do Curso de Engenharia Química, Escola do Mar, Ciência e Tecnologias,
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, e-mail:
gizelle.almerindo@univali.br, ID Lattes: 0901627978516694.

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QUÍMICA DAS EMOÇÕES: DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA MEDIANTE OFICINAS VIRTUAIS E


MIDIAS SOCIAIS COMO FERRAMENTAS DE CONSCIENTIZAÇÃO À SAÚDE EMOCIONAL
NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19

RESUMO
O cenário de incertezas causado pela pandemia de COVID-19 vem afetando a saúde
emocional da população a nível mundial. Em meio ao agravamento deste cenário pelo
aumento da disseminação de fake news de cunho científico, o projeto de extensão
Química Social abordou a Química das Emoções através de oficinas virtuais síncronas
e mídias sociais com 186 estudantes de diferentes escolas. Foram contextualizados
diferentes hormônios e neurotransmissores, suas ações no corpo humano e sua
importância para o bem-estar, sendo correlacionados com a realização das atividades
físicas. Através das interações dos participantes bem como das métricas das
atividades assíncronas utilizando as redes Instagram e YouTube, foi analisada a
eficácia da utilização de novas ferramentas para a divulgação e popularização
científica, bem como a importância da multidisciplinaridade através da correlação do
bem-estar e hormônios pela Engenharia Química e Educação Física.
Palavras-chave: Hormônios. Neurotransmissores. Engenharia Química. Educação
Física. Fake News.

THE CHEMISTRY OF EMOTIONS: SCIENTIFIC DISCLOSURE THROUGH VIRTUAL


WORKSHOPS AND SOCIAL MEDIA AS A TOOL FOR EMOTIONAL AWARENESS IN THE
CONTEXT OF COVID-19 PANDEMIC

ABSTRACT
The uncertain scenario cause by the COVID-19 pandemic has been affecting
emotional issues all around the world. Due to the aggravation of this situation by
scientific fake news, the extension program Química Social approached the Chemistry
of Emotion through virtual workshops and social media with 186 students from
several schools. Different hormones, their effects on the human body, and their
impact on our well-being were conceptualized and correlated to physical activities
practice. According to the listerners' interaction and the asynchronous metrics (from
Instagram and YouTube), the efficacy of employing new tools for scientific disclosure
and popularization was analyzed, as well as the important role of multidisciplinarity
through the correlation of well-being and hormones by Chemical Engineering and
Physical Education.
Key-words: Hormones. Neurotransmitters. Chemical Engineering. Physical Education.
Fake News.

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INTRODUÇÃO

A nova realidade causada pela pandemia de COVID-19 inferiu em inúmeras


incertezas e inseguranças sociais e econômicas para a população global. Agências de
saúde com influência global, como a OMS (Organização Mundial de Saúde) (WHO,
2020), OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) (PAHO, 2020a; PAHO, 2020b) e
CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) (CDC, 2021;
Stephenson, 2021), vêm reportando os efeitos desses eventos, os quais desencadeiam
e potencializam a ansiedade, depressão e estresse. As ações destas desordens não
atingem um público alvo em específico, sendo seus efeitos notados em grupos de
diferentes idades, mas com maior incidência e severidade em indivíduos adultos em
situação de vulnerabilidade social, residentes em países em desenvolvimento. Essa
maior incidência, é decorrente de uma maior pressão social sob esta parcela da
população por serem os provedores de seu núcleo familiar e estarem, no contexto da
pandemia, enfrentando situações críticas relacionadas à incerteza alimentar, de saúde
e de residência, gerando uma preocupação acerca da saúde mental desta população e
as possíveis consequências desta situação (Czeisler et al., 2020; Kumar e Nayar, 2020;
Pfefferbaum e North, 2020; Kola et al., 2021).
O risco das consequências sobre o estado da saúde mental desta população
enfrenta um agravamento mediante ao aumento da presença de fake news via redes
sociais, Whatsapp e outros canais de comunicação. Os mecanismos das fake news
mais agravantes sob este contexto ocorrem por meio da apropriação errônea e
distorção de conceitos científicos, bem como pela depreciação da ciência, tornando
cientistas como vilões da sociedade, gerando o caos e discordância (Galhardi et al.,
2020). A rápida disseminação das fake news por meio de mídias sociais atua como
um catalisador para o surgimento de gatilhos negativos para o desencadeamento de
transtornos que afetam a saúde mental da população (Dohle et al., 2020ª; Neto et al.,
2020; Salaverria et al., 2020; TCF, 2020; Dharmastuti, 2021).
Cabe ao meio científico agir contra estes mecanismos e defender seus ideais em
prol do bem-estar social e desenvolvimento da humanidade. Programas de extensão
universitária, como o programa Química Social, focado na divulgação, alfabetização e
popularização científica, apresentam-se como uma potencial ferramenta de
comunicação e combate a disseminação de fake news de teor científico. Com foco
nessa missão, juntamente com a importância da manutenção da saúde mental da

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sociedade mediante o atual contexto, o programa de extensão Química Social da


Escola do Mar, Ciência e Tecnologia da Universidade do Vale do Itajaí propôs oficinas
virtuais nos anos de 2020 a 2021 para estudantes da Educação para Jovens e Adultos
(EJA), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e para uma escola da
rede pública de ensino médio estadual com foco na alfabetização e divulgação
científica sobre emoções através da contextualização de hormônios e
neurotransmissores, suas correlações com a ciência, produção em nosso corpo e
efeitos na saúde mental, trazendo dicas de como promover a sua síntese através de
um estilo de vida saudável e balanceado.

MATERIAL E MÉTODOS
As oficinas virtuais propostas foram aplicadas pela equipe do projeto de
extensão Química Social, sendo conduzidas por três docentes e seis discentes do
curso de Engenharia Química e uma discente do curso de Educação Física. O público
foi composto por estudantes e professores de 12 a 50 anos de diferentes grupos do
programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola S (SESI/SENAI Litoral) e
do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), ambas localizadas em
Itajaí, SC, assim como, da Escola de Educação Básica Adelaide Konder da rede
estadual de ensino, em Navegantes, SC, totalizando um total de 186 participantes.
As oficinas foram aplicadas em parceria com as instituições de ensino citadas
por meio de encontros virtuais organizados pelas mesmas através da plataforma
Google Meet, por onde eram conduzidas de maneira virtual em consonância com as
regras de distanciamento social requeridas pelo atual contexto da pandemia de
COVID-19. Este modelo, com descrições detalhadas a seguir, foi aplicado para todas as
oficinas realizadas, seguindo o tema proposto pelas instituições de ensino, sendo que
uma destas contou com a inclusão de uma sessão de meditação e uma
contextualização prática sobre atividades físicas conforme a temática proposta.
Inicialmente, os ouvintes foram acolhidos com uma breve apresentação do
projeto de extensão e a importância da divulgação e popularização científica. Após
isso, cinco hormônios e seus efeitos, fontes e os fatores que influenciam a sua
produção no corpo humano foram apresentados por meio de conceitualizações
visuais utilizando uma apresentação de slides. Para cada hormônio, os
apresentadores adaptavam seus gestos, postura e entonação de voz de modo a trazer

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uma correlação visual e auditiva da ação dos hormônios em nosso corpo (afeto para
oxitocina, agitação para adrenalina, calma para metalonina, euforia para endorfina e
felicidade para serotonina). Com esta contextualização, foi possível que o público
conseguisse reconhecer o papel dos hormônios em suas emoções diárias, onde por
meio de analogias simples, também fossem reconhecidos o que o desregulamento dos
neurotransmissores interfere também em nossas emoções por serem precursores da
produção hormonal. Ao fim da abordagem sobre hormônios, uma breve recapitulação
foi feita, sendo citados novas emoções não apresentadas anteriormente, de modo a
instigar o público a despertar a curiosidade do público e instigar uma iniciação na
pesquisa científica por meio de pesquisas realizadas por eles mesmos neste assunto.
Para uma das oficinas, conforme o tema proposto, a importância do exercício
físico foi explanada sob a visão da temática de produção de hormônios e saúde
mental. Foram abordados os conceitos de atividade e exercício físico, respiração –
através de uma interação prática de respiração para análise do seu modo de inspirar
e expirar - e meditação, tratando sobre a importância da prática destes e seu efeito na
fisiologia humana. Dicas de aplicativos gratuitos para realização de meditação e
exercícios físicos foram mencionados, e uma interação prática foi realizada com os
ouvintes, os quais foram convidados a encontrar um local calmo e silencioso para que
pudessem realizar uma meditação guiada de cinco minutos. Após a interação, os
ouvintes foram questionados sobre os sentimentos relacionados à prática realizada.
Após foram instigados a definirem, durante a sua rotina, momentos e locais calmos e
silenciosos que poderiam ser aproveitados para a realização da prática de meditação.
Os comentários e interações dos ouvintes foram computados ao fim de todas as
oficinas, sendo estes considerados dados relacionados ao público direto das oficinas.
Em conjunção as temáticas expostas, materiais visuais complementares (e.g.,
reels com dicas de exercícios físicos para a promoção do bem-estar) foram publicados
na página da rede social Instagram do projeto de extensão Química Social, ao longo da
semana após as oficinas, de modo a promover uma continuidade da divulgação
realizada. As interações realizadas nestas postagens, bem como nos vídeos postados
pelas instituições de ensino organizadoras dos eventos na plataforma YouTube ,
foram contabilizadas como interações indiretas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao longo das quatro oficinas virtuais aplicadas, conforme demonstrado na


Tabela 1, 186 pessoas foram atingidas pela metodologia aqui exposta. Indiretamente,
até o dia 28 de abril de 2021, por meio das postagens na rede Instagram e dos vídeos
na plataforma YouTube onde as métricas foram obtidas, foi atingido um público total
de 1810 pessoas, sendo que destes, respectivamente para cada ferramenta citada,
foram de 1410 e 400.

Tabela 1: Relação de público direto e indireto por número de ouvintes.


Audiência Audiência Indireta
Local Título do Evento
Direta Instagram YouTube
SESI Setembro Amarelo – Um Alerta pra Vida 52 293 215
EEBAK Setembro Amarelo – Todos pela Vida 22 293 185
Mudanças – Quando Tudo Muda, Eu
SESI 27 824 *
Escolho a Oportunidade
SENAC Saúde Mental em Tempos de Pandemia 85 * *
* Materiais não públicos até a data de coleta das métricas.

Comparação das Métricas Síncrona e Assíncrona da Plataforma YouTube


Os dados obtidos para a audiência, conforme a Tabela 1, demonstram um
grande engajamento obtido durante a aplicação das oficinas. A audiência direta,
obtida durante as oficinas virtuais, e indireta, analisando o público atingido pela
plataforma YouTube são estratégias similares, onde o objetivo principal é a
visualização pelo ouvinte da oficina, seja essa de forma síncrona ou assíncrona, e,
portanto, podem ser comparadas de modo a analisar a influência de seu uso. O
público atingido aumentou significantemente entre a forma síncrona e assíncrona das
oficinas, com um crescimento de 300 a 700% desde a primeira até a última oficina
aplicada com métricas disponíveis para o YouTube. Estes dados demonstram que o
público pode ter vindo a apresentar o interesse de reassistir as oficinas ou de indicar
os mesmos para conhecidos, trazendo uma presença de novos ouvintes que não
estavam de maneira síncrona durante as oficinas, uma vez que estes vídeos na
plataforma não foram divulgados ao grande público. A diferença de engajamento
entre ambas as modalidades permite uma análise sobre o novo perfil a ser seguido

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pelos profissionais que atuam na divulgação e popularização científica e quais


ferramentas estão disponíveis para uma maior abrangência de forma mais eficaz,
como, no caso, da plataforma YouTube, que permite a aplicação destas oficinas de
forma assíncrona sem a necessidade de compatibilidade de horários e local, sendo
assistida em qualquer local do mundo com acesso a internet.

Análise das Métricas Assíncronas da Rede Social Instagram


Diferentemente da relação síncrona com a plataforma YouTube, o público
indireto obtido por meio da rede Instagram não pode ser comparado com o público
síncrono uma vez que ambos os métodos não atingem de forma igual o público. Neste
caso, os números analisados são utilizados para entender a importância da utilização
de um material visual didático complementar, além da oficina virtual, após a sua
realização de modo a auxiliar os ouvintes a fixarem o conhecimento obtido.
Indiretamente, a audiência obtida pelo Instagram foi 463, 1231 e 2951% maior,
respectivamente pelas ordens de aparecimento na Tabela 1, quando comparada a
audiência direta de público, demonstrando que o uso da rede social além de auxiliar a
fixar o conhecimento, leva a possibilidade de uma maior disseminação destes
materiais além do público-alvo inicial.
Considerando a audiência direta, o número de audiência indireta atingido pelas
postagens na rede social demonstra a eficácia de uma disseminação de conceitos
científicos de forma mais ampla, uma vez que a métrica de público contabilizado não
contabiliza visualizações duplas (ou seja, mesmo que a mesma pessoa venha a re-
visualizar o post, apenas 1 visualização é computada), demonstrando através de uma
comparação entre os valores que, mesmo que hipoteticamente toda a audiência direta
tivesse consumido as postagens, ainda assim uma grande quantidade de público novo
foi atingida. A mesma análise pode ser aplicável tanto individualmente quanto para
comparar as postagens entre si, as quais demonstram um perfil crescente de público
desde a primeira (293 pessoas) até a última oficina (824 pessoas), o que é explicado
pelo crescimento da audiência fixa que segue a página na rede social e pela migração
crescente de audiência que o mecanismo de indicação que o Instagram possui. Para
ambos os casos, balanços positivos em termo de audiência, tanto pelo público-alvo
quanto pelo público externo, foram obtidos, demonstrando os pontos positivos que

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esta e demais ferramentas apresentam a favor de uma divulgação científica de maior


qualidade e abrangência.
Análise das Interações Síncronas
Ao longo da abordagem sobre meditação, os comentários e interações orgânicas
dos participantes foram contabilizados, apresentando a tendência de serem divididos
em diferentes grupos conforme os momentos que foram realizados: comentários
relacionados a um local calmo e silencioso no seu dia a dia, a análise dos sentimentos
desencadeados durante a meditação e comentários gerais sobre a relação dos
hormônios com as emoções da meditação.
Quando indagados sobre a existência de um local calmo e silencioso no seu dia a
dia para a realização de meditação, os ouvintes apresentaram respostas sobre
diferentes locais, conforme a Figura 1, abordando espaços durante seu lazer,
descanso e locomoção. Com estes dados foi possível, ao longo da abordagem sobre a
meditação, indicar aos ouvintes as diferentes possibilidades que estes teriam de
realizar tal prática nas suas rotinas.

Figura 1: Relação dos comentários dos ouvintes identificando locais para


meditação.

Após demonstrada a possibilidade de realização da meditação no seu dia a dia,


procedeu-se com o início da prática para demonstração de como realizar tal
procedimento. Durante este procedimento, os ouvintes foram direcionados a
resgatarem os sentimentos referentes aos locais citados. Após a meditação, o público
foi convidado a compartilhar seus sentimentos e comentários sobre a prática,

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conforme compilados na Figura 2, sendo demonstrados sentimento de calma, paz e


tranquilidade.
Figura 2: Compilação dos comentários e sentimentos após a prática de
meditação.

A mesma estratégia de convite para compartilhamento de sentimentos e


comentários foi realizada após a abordagem sobre hormônios e emoções, conforme
compilado demonstrado na Figura 2. É possível perceber que, conforme o andamento
da oficina, diferentes respostas eram obtidas, podendo ser divididas em dois
principais momentos: o primeiro onde os ouvintes correlacionavam o assunto
abordado com seu dia a dia, e um segundo momento o do despertar científico, onde
os ouvintes já se apropriaram dos nomes dos hormônios relacionando com as suas
emoções, realizando indagações sobre o conteúdo abordado.
A ênfase sobre a sua importância sobre as nossas emoções e a importância da
ciência no nosso dia a dia promoveu um momento de bem-estar durante um contexto
tão atípico. A realização das oficinas virtuais proporcionou uma interação clara e
didática sobre os conceitos químicos de hormônios e neurotransmissores e a sua
influência sobre a fisiologia humana. De modo a levar estes conhecimentos para sua
rotina e salientando a obtenção do conhecimento promovido pela oficina de modo a
promover a busca por melhorias em seu estilo de vida, aplicativos gratuitos para
meditação e exercícios físicos foram indicados de modo a promover um estilo de vida
mais saudável e balanceado, instigando os ouvintes a pesquisarem sobre a sua

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importância e influência sobre nosso corpo devido a sua relação com os hormônios e
neurotransmissores.

Figura 3: Compilado de comentários ao longo da abordagem sobre hormônios.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos demonstram o potencial do novo normal propiciado pela


internet e as ferramentas presentes nessa. Devido a possibilidade de consumo
assíncrono destas plataformas, uma maior abrangência foi atingida com a
disponibilização da oficina gravada e dos materiais didáticos complementares.
Conforme os dados, é possível perceber a assimilação de conhecimento pelo público
direto, presente sincronamente na oficina, através do entendimento com correlações
ao seu dia a dia, bem como com o momento de despertar científico, identificando
pontos de dúvida e curiosidade sobre a temática exposta.
Desta maneira, síncrona ou assincronamente, o estilo de vida remoto permite a
continuidade das ações de popularização e divulgação científica, papel o qual se torna
indispensável no atual contexto para combate às fake news de cunho científico.
Através do uso de diferentes ferramentas, até então pouco exploradas, profissionais e
organizações responsáveis por divulgar conceitos científicos, como projetos de
extensão, podem realizar suas ações de forma mais abrangente e eficaz. Sendo
indispensável a realização destas atividades de forma multidisciplinar trazendo

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conhecimentos de diferentes áreas para a abordagem de um mesmo assunto, como a


correlação entre bem-estar, exercícios físicos e o balanço hormonal abordados pela
ligação entre a Engenharia Química e a Educação Física.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Universidade do Vale do Itajaí pelo suporte técnico e
financeiro, assim como, os convites para participação nos eventos propostos pela
equipe de profissionais da Escola de Educação Básica Adelaide Konder, realizado pela
Diretora Geral Tatiana Cardozo Anacleto Gonçalves e professora Liliane dos Santos
Queiroz; do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC Itajaí), pela
Coordenadora Marianne Bernardes e a professora e psicóloga Giani Ester Munhoz; e
da Escola S (SESI/SENAI Litoral) pela Coordenadora de Qualidade Educacional e
Pedagógica Renata Teixeira Martins e pelas professoras Liliane dos Santos Queiroz e
Juliana Thais Guidi Magalhães.

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CAPÍTULO 24
UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE
MALTE NA ELABORAÇÃO DE
BISCOITOS TIPO COOKIES:
UMA REVISÃO DA
LITERATURA
Paola Fontana de Vargas1
Adriane Pagani2
Caroline Tombini3
Maria Manuela Camino Feltes⁴
Josiane Maria Muneron de Mello⁵
Francieli Dalcanton⁶

1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Comunitária da Região de Chapecó
(Unochapecó), Chapecó, SC, email: paola.vargas@unochapeco.edu.br, ID Lattes:
9558599518136752.
2
Graduanda em Nutrição, Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó),
Chapecó, SC, email: adrianepagani@unochapeco.edu.br, ID Lattes: 4966620915578811.

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³Mestranda em Tecnologia e Gestão da Inovação, Universidade Comunitária da Região de


Chapecó (Unochapecó), Chapecó, SC, email: caroline.tombini@unochapeco.edu.br, ID
Lattes: 6454742409883288.

⁴Professora do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal


de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, email: manuela.feltes@ufsc.br, ID Lattes:
0382558773540069.

⁵Professora da Área de Ciências Exatas e Ambientais e do Programa de Pós Graduação


Stricto Sensu em Tecnologia e Gestão da Inovação e Ciências Ambientais, Universidade
Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), Chapecó, SC, email:
josimello@unochapeco.edu.br, ID Lattes: 4452075001099749.

⁶Professora da Área de Ciências Exatas e Ambientais do Programa de Pós Graduação


Stricto Sensu em Tecnologia e Gestão da Inovação, Universidade Comunitária da Região
de Chapecó (Unochapecó), Chapecó, SC, email: fdalcanton@unochapeco.edu.brbr, ID
Lattes: 7708949855601731.

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UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE MALTE NA ELABORAÇÃO DE BISCOITOS TIPO COOKIES:


UMA REVISÃO DA LITERATURA

RESUMO
O bagaço de malte é o principal subproduto da indústria cervejeira, correspondendo a
85% dos resíduos gerados por ela. A reutilização do mesmo com destino à
incorporação de produtos panificados, como os cookies, torna-se uma solução
promissora do ponto de vista econômico, nutricional e ambiental. À vista disso, o
objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura (2016 até 2021), a fim de
encontrar estudos que utilizassem o bagaço de malte na elaboração de cookies,
produtos de grande interesse comercial e amplamente consumidos. Para atingir este
objetivo, realizou-se uma busca nas bases de dados do Portal de Periódicos da Capes e
Google Acadêmico, com a utilização das palavras-chave brewer's spent grain, malt
bagasse, cookies e bagaço de malte. As obras selecionadas demonstraram que o
bagaço de malte, por possuir propriedades nutricionais importantes, pode ser
incorporado nas formulações de cookies, agregando caráter mais saudável a este
alimento.
Palavras-chave: Bagaço de malte. Tecnologia de alimentos. Reaproveitamento.

THE USE OF MALT BAGASSE IN THE DESIGN OF COOKIE BISCUITS: A LITERATURE


REVIEW

ABSTRACT
Malt bagasse is the main by-product of the brewing industry, corresponding to 85%
of the waste generated by it. The reuse of the same for the incorporation of baked
products, such as cookies, becomes a promising solution from an economic,
nutritional and environmental point of view. In view of this, the objective of this study
was to carry out a literature review (2016 to 2021), in order to find studies that used
malt bagasse in the preparation of cookies, products of great commercial interest and
widely consumed. To achieve this goal, a search was carried out in the Capes Journal
Portal and Google Academic databases, using the keywords brewer's spent grain, malt
bagasse, cookies and bagaço de malte. The selected works demonstrated that malt
bagasse, due to its important nutritional properties, can be incorporated into cookie
formulations, adding a healthier character to this food.
Key-words: Malt bagasse. Food technology. Reuse.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, há uma constante preocupação, por parte das indústrias


alimentícias, na busca pelo desenvolvimento de produtos diferenciados e inovadores
com qualidade nutricional e sensorial que atendam às exigências do mercado
consumidor e ao mesmo tempo, garantam a competitividade empresarial. Dessa
maneira, uma alternativa que vem ganhando notoriedade ao longo dos últimos anos é
o aproveitamento integral e/ou parcial de resíduos não utilizados pelas indústrias.
Grande parte do que é descartado pode ser aproveitado na produção de novos
alimentos contribuindo assim para aspectos econômicos, nutricionais e ambientais
(Belinazo et al., 2020).
Nesse sentido, a utilização de farinhas mistas com maiores teores de fibras e/ou
proteínas ou que possua componentes funcionais, tornou-se alvo de investigação pela
área da panificação para a elaboração de produtos com melhores qualidades
nutricionais (Rigo et al., 2017). Assim, o bagaço de malte pode ser uma opção para
incorporação nesses produtos.
O bagaço de malte é constituído basicamente pelas cascas dos grãos de cevada e
é o principal subproduto da indústria cervejeira, correspondendo a 85% dos resíduos
gerados por ela. A facilidade em encontrar tal resíduo, seu baixo custo e suas
características de composição, fazem desse resíduo um meio para o
reaproveitamento em alimentos para o consumo humano (Rigo et al., 2016). Devido
às suas características nutricionais, que incluem altos níveis de fibra dietética e
proteínas, além de ser fonte de minerais, polifenóis e lipídios, o bagaço de malte
torna-se um material com grande potencial para a produção, principalmente, de
alimentos panificados. Além de ser um subproduto muitas vezes descartado pelas
cervejarias, sua principal destinação é para a alimentação animal, sendo limitada
devido a alta umidade presente neste resíduo e o baixo valor agregado a essa
finalidade (Padia, 2019).
Na área da panificação, os alimentos que vêm ganhando destaque são os
cookies. A legislação Resolução RDC n° 263 de setembro de 2005, define biscoitos ou
bolachas, produtos obtidos pela mistura de farinha (s), amido (s) e ou fécula (s) com
outros ingredientes, submetidos a processos de amassamento e cocção, fermentados
ou não. Podendo apresentar cobertura, recheio, formato e textura diversos. Esses
produtos são de grande interesse comercial, que devido a sua facilidade de fabricação,

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comercialização, distribuição e shelf-life, são amplamente consumidos (Weege et al.,


2017).
De acordo com Rigo e colaboradores (2016), com o objetivo de incrementar a
formulação em termos nutricionais, especialmente com relação ao teor de fibras e
proteínas, a incorporação do bagaço de malte na produção de cookies torna-se uma
interessante estratégia e vem sendo alvo de diversos estudos que comprovam que o
seu uso como substituição parcial da farinha de trigo, pode ser muito vantajoso.
Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo avaliar publicações na
literatura que utilizaram o resíduo de bagaço de malte com foco na produção de
cookies, visto que este subproduto representa uma possibilidade de aumento do
desempenho desses produtos no mercado, beneficiando o consumidor final com um
alimento mais interessante, saudável e diversificado.

MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento da presente pesquisa realizou-se uma revisão da
literatura, em que o levantamento de dados deu-se em abril de 2021, nas bases de
dados do Portal de Periódicos da Capes e Google Acadêmico. Os idiomas selecionados
foram português e inglês, sendo utilizadas as palavras-chave “brewer's spent grain”,
“malt bagasse”, “cookies” e “bagaço de malte”. Através dessa busca, objetivou-se
encontrar estudos com foco na utilização do resíduo de bagaço de malte para
produção especificamente de biscoitos tipo cookies.
Em primeiro momento, o resultado da busca apresentou 126 trabalhos no
Google Acadêmico e 48 trabalhos no Portal de Periódicos da Capes, totalizando 174
trabalhos. Posteriormente, selecionou-se os estudos publicados nos últimos cinco
anos (2016 até 2021) e que estavam de acordo com a temática preferida para a
pesquisa, avaliando o título e resumo dos mesmos. Desta forma, selecionou-se 10
trabalhos para realização do presente estudo, como apresentado na Figura 1.
REVISÃO DA LITERATURA

Através da pesquisa realizada, analisou-se os 10 trabalhos selecionados que


apresentaram a utilização do bagaço de malte para a produção de biscoitos tipo
cookies, com estudos de elaboração, desenvolvimento, características nutricionais e
avaliação sensorial. Buscando proporcionar um maior conhecimento a respeito do
tema, detalha-se cada estudo a seguir.

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Figura 1 - Fluxograma de pesquisa de estudos publicados

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

Belinazo et al. (2020) visaram aproveitar o potencial nutritivo do bagaço de


malte na elaboração de cookies com raspas de casca de laranja, em que avaliaram a
substituição parcial da farinha de trigo pela farinha de bagaço de malte. Para a
avaliação da aceitação, inicialmente realizou-se uma pesquisa de mercado sobre o
interesse do consumidor, mostrando que o consumo da farinha de bagaço de malte
não está presente na alimentação dos entrevistados, porém, há um potencial
interesse de consumo deste produto. Posteriormente, foram elaboradas três
formulações com 15%, 30% e 50% de farinha de bagaço de malte, os quais foram
avaliados quanto aos atributos sensoriais e intenção de compra.
Os resultados mostraram que em relação ao atributo aparência não houve
diferença estatística, já os atributos cor, odor, sabor, textura e impressão global houve
diferenças entre as formulações, sendo que as formulações com 15% e 30% de
substituição tiveram maior aceitabilidade e possibilidade de compra. Os autores
mostraram através do estudo realizado, a possibilidade de utilização da farinha de
bagaço de malte em até 30% na elaboração de biscoitos tipo cookies e a utilização de

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algum tipo de aroma, como no caso em estudo, utilizou-se casca de laranja,


melhorando as características sensoriais e nutricionais.
Okpala e Ofoedu (2018) realizaram seu estudo em biscoitos produzidos a partir
de misturas de farinha de 70% de trigo e 30% de batata-doce fortificada com níveis
variados de farinha de bagaço de malte. Os biscoitos foram fortificados com 3, 6 e 9%
de farinha de bagaço de malte e apresentaram alta qualidade nutricional e
organoléptica, sendo melhores do que os biscoitos produzidos com 100% da farinha
de trigo no que se diz respeito aos teores de proteínas, cinzas e fibra, bem como seus
parâmetros sensoriais, com exceção dos biscoitos elaborados com 9% de bagaço de
malte, cuja aceitação foi menor em comparação aos biscoitos elaborados com 3 e 6%.
Os autores evidenciaram que tal fortificação ajudará a reduzir a desnutrição, bem
como minimizar os resíduos da indústria cervejeira.
Os estudos realizados por Rigo e colaboradores (2016) e Wust (2018),
primeiramente avaliaram a composição centesimal da farinha de malte obtida e,
posteriormente, a incorporação nos biscoitos tipo cookies. Wust (2018), avaliou a
farinha de malte proveniente de dois tipos de cerveja APA e Saison, preferindo a
primeira, de acordo com o resultado de seu estudo. Já Rigo e colaboradores (2016),
não especificaram o tipo de farinha de malte utilizada em sua pesquisa.
Como mencionado, o estudo de Rigo e colaboradores (2016) determinaram a
composição centesimal da farinha obtida do bagaço de malte e avaliaram as
características físico-químicas e sensoriais de formulações de biscoitos tipo cookies
elaboradas com substituição parcial da farinha de trigo por farinha obtida de bagaço
de malte, tendo como resultado que a adição desse resíduo, em 10, 20 e 30%,
diminuiu o teor de carboidratos e a umidade e aumentou o teor de fibras e proteínas
em relação à formulação padrão (0% de bagaço de malte). Em relação a análise
sensorial, os cookies elaborados com 30% de bagaço de malte apresentaram sabor
residual, segundo alguns avaliadores. Já os cookies contendo 10% e 20% de bagaço
de malte, apresentaram um alto índice de aprovação, sugerindo viabilidade da
incorporação parcial deste resíduo na produção de biscoitos.
Ademais, os autores citam que novos estudos podem ser realizados para
desenvolver formulações de biscoitos com alto teor de farinha de bagaço de malte,
utilizando-se alguns tipos de aditivos (aromas), com o objetivo de melhorar as
características sensoriais do produto e aumentar a sua quantidade de fibras.

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O foco do estudo realizado por Wust (2018) foi na avaliação proximal de


umidade, cinzas, lipídios, fibras, proteínas, carboidratos e valor energético, além de
análises físicas como parâmetros de cor, atividade de água (Aw), diâmetro, espessura,
fator de expansão, volume específico e textura de biscoitos tipo cookies elaborados
com farinha de malte proveniente de cerveja APA, nas porcentagens 25, 50, 75 e
100% em substituição a farinha de trigo. Primeiramente, o autor realizou análises de
cor, luminosidade e teores de umidade, cinzas, lipídios e fibras de dois tipos de
farinha malte provenientes dos tipos de cerveja APA e Saison, optando pela farinha de
malte APA, pois a mesma apresentou maiores valores de luminância (cor mais clara),
maiores teores de cinzas e consequentemente, maiores quantidades de minerais e
menores quantidades de lipídios. Através desses resultados, o autor utilizou a farinha
de malte APA para conduzir seu estudo, com a incorporação da mesma nos cookies.
Quando compara-se as formulações com diferentes porcentagens de bagaço de
malte, verificou-se, como esperado, que o aumento da proporção de farinha de malte
adicionada levou a um aumento dos teores de cinzas, fibras e proteínas e uma
diminuição da umidade e conteúdo de carboidratos. Além disso, registrou-se que a
adição de farinha de malte aumentou a espessura e a firmeza e reduziu o diâmetro
dos biscoitos e o volume específico. Dessa forma, o autor concluiu que a reutilização
desse resíduo é promissora na produção de produtos panificados.
Padia (2019) objetivou com sua pesquisa, elaborar cookies funcionais
utilizando 25% e 50% de bagaço de malte obtido a partir da produção de chopp
Pilsen, comparando nutricionalmente com cookies encontrados em supermercados. A
autora comprovou através de seu estudo, que o uso do bagaço de malte como
ingrediente principal elevou a quantidade de proteínas e o teor de fibra alimentar nos
cookies, a medida que a concentração de bagaço de malte aumentava, transformando-
os dessa forma, em um alimento funcional, tendo em vista que a quantidade de fibras
auxilia diretamente na taxa de digestão e absorção de nutrientes nos indivíduos.
Outrossim, foi observada que a maior porcentagem de bagaço de malte reduziu
o valor calórico e a quantidade de carboidratos nos cookies, tornando esse produto
altamente desejado por muitos consumidores preocupados em consumir alimentos
menos energéticos, mas de boa qualidade nutricional. Quando compara-se os cookies
elaborados com resíduo de bagaço de malte e os cookies comercializados em

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supermercado, notou-se que os primeiros, além de possuírem uma receita simples,


prática e nutritiva, são produtos de baixo custo.
Ikuomola, Otutu e Oluniran (2017), avaliaram a qualidade proximal, física e
sensorial de biscoitos produzidos com 5, 10, 20 e 50% de bagaço de malte, oriundo de
cevada (Hordeum vulgare). O resultado proximal encontrado pelos autores está em
concordância com os artigos anteriormente mencionados, registrando aumento de
proteínas, cinzas, lipídios, fibra bruta, bem como a diminuição no teor de umidade,
carboidratos e valor energético conforme o nível de substituição da farinha de bagaço
de malte aumenta. As propriedades físicas dos cookies: peso, diâmetro, espessura,
proporção de espalhamento aumentaram, enquanto a resistência à ruptura diminuiu
com o aumento da porcentagem de bagaço de malte. Nos resultados sensoriais, os
biscoitos elaborados com 5 e 10% de farinha de malte tiveram maior aceitação para
crocância e cor, sendo que de todas as formulações a amostra de biscoito com 5% de
bagaço de malte teve a maior aceitação quanto ao sabor.
Petrović e colaboradores (2017), Ferreira (2017) e Weege et al. (2017),
diferente dos demais estudos que utilizaram-se da farinha de bagaço de malte,
fizeram uso do bagaço de malte úmido, apresentando uma proposta diferenciada de
incorporação deste resíduo para o desenvolvimento dos biscoitos.
Petrović e colaboradores (2017), tiveram como objetivo em seu estudo, avaliar
o teor de fibra e proteína, parâmetros instrumentais de cor, estabilidade microbiana e
características sensoriais dos biscoitos com a substituição parcial de farinha de trigo
pelo bagaço de malte úmido e não moído, nas porcentagens 15, 25 e 50%. Conforme
os autores, os resultados confirmaram que bagaço de malte é um potencial
suplemento alimentar nutritivo. As amostras de biscoitos produzidas pelo bagaço de
malte tinham 1,75 vezes mais proteínas e 5 vezes mais fibras em comparação a
amostras preparadas com farinha de trigo. Embora o bagaço de malte in natura
apresentasse Enterobacteriaceae, estes microrganismos não foram detectados nas
amostras dos cookies. Em análise sensorial, observou-se no estudo que o percentual
de utilização não deve ultrapassar 25% de substituição de bagaço de malte devido à
sua dureza, arenosidade e sabor. Os autores também destacaram que porcentagens
de substituição acima desta tiveram impacto negativo em relação a mastigabilidade,
uma vez que as partículas maiores do bagaço de malte não moído levaram a um
atraso na mastigação.

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Ademais, embora a utilização do bagaço úmido nos cookies não tenha


prejudicado o estado microbiológico, a estabilidade e as características nutricionais
dos mesmos, os autores destacaram que o uso desse resíduo na forma in natura deve
ser imediatamente após o processamento da cerveja.
O estudo realizado por Ferreira (2017) mostrou a utilização do bagaço de malte
na formulação de biscoitos integrais feitos em substituição parcial da farinha de trigo
integral por bagaço de malte úmido. Foram elaborados quatro tipos de biscoitos,
sendo um padrão (0% de bagaço de malte) e os demais contendo 10%, 30% e 50% do
bagaço de malte. A avaliação iniciou-se com a análise físico-química dos biscoitos
elaborados. Do ponto de vista nutricional, observou-se que nas formulações com
10%, 30% e 50% de bagaço de malte, houve aumento nos valores de fibras e
proteínas em relação à formulação padrão que não possuía bagaço de malte. Na
análise sensorial, os produtos tiveram boa aceitação, porém entre todas as
formulações a que mais se destacou foi o do biscoito com 10% de bagaço de malte.
Portanto, evidenciou-se no estudo que o bagaço de malte é um ingrediente de
características sensoriais aceitáveis, de alto valor nutricional, sendo rico em fibras.
Apesar da autora ter utilizado bagaço de malte úmido, diferente da maioria dos
estudos que realizaram a secagem do mesmo, os resultados de atividade da água dos
biscoitos (entre 0,51 e 0,59) ficaram dentro da faixa exigida para que não houvesse
proliferação de microrganismos (0,6). No entanto, a mesma cita que a secagem do
bagaço de malte é essencial, já que padronizaria a formulação, facilitaria o transporte
e aumentaria o tempo de armazenamento deste resíduo.
Weege et al. (2017), buscaram analisar os aspectos nutricionais e as
características funcionais de cookies de canela com adição de 20% de bagaço de
malte úmido oriundo da cerveja Weizen (contém malte Pilsen Alemão Globalmalt,
malte Chateau Wheat Blanc e malte Chateau Munich) em relação a farinha de arroz. O
estudo teve como resultado um aumento do teor de proteínas por porção de cookies e
uma diminuição da quantidade de gorduras e calorias quando comparados aos
cookies comerciais.
Em relação a análise de polifenóis, substâncias que desempenham ação
antioxidante no organismo, verificou-se que os cookies enriquecidos com malte
apresentaram essa propriedade, visto que a fonte de polifenóis é proveniente do
bagaço e da canela. Embora este estudo tenha feito uso do bagaço de malte úmido,

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levando a um teor de umidade elevado, as características dos cookies não foram


alteradas.
Diferentemente dos demais estudos apresentados, que avaliaram a utilização do
bagaço de malte em biscoitos doces, Glüger e Gurak (2020) estudaram a
potencialidade tecnológica da incorporação de farinha de bagaço de malte
proveniente da produção de cerveja do tipo Pilsen, em biscoitos salgados tipo
aperitivo. Para isso, utilizaram-se de testes em formulações com 0%, 25% e 50% de
farinha de bagaço de malte em substituição a farinha de trigo. Como resultado,
apontou-se que a incorporação de farinha de bagaço de malte apresentou um
aumento de proteínas, teor de cinzas, lipídios e fibras em relação a farinha de trigo.
Também observou-se a diminuição no teor da umidade e carboidratos conforme o
aumento do percentual de adição de farinha de bagaço de malte. A análise sensorial
apontou que os biscoitos com 25% de farinha de bagaço de malte tiveram maior
aceitabilidade. Por fim, os autores destacam o bagaço de malte como um insumo de
possível desenvolvimento de novos produtos destinados à alimentação humana, além
de incentivar os cuidados com o meio ambiente.
Através da leitura e análise dos artigos, observou-se que a percentagem geral de
aceitação sensorial dos biscoitos elaborados com substituição parcial da farinha de
trigo, farinha de arroz ou farinha de batata doce pelo bagaço de malte foi entre 5 e
25%. Valores acima desses, resultaram na alteração de sabor, aroma e propriedades
físicas, como a cor, do produto final.
Em relação a alteração de sabor e aroma, a incorporação de
aromatizantes/aditivos torna-se uma opção interessante do ponto de vista
nutricional e sensorial dos cookies elaborados com o bagaço de malte, visto que além
de neutralizar o sabor acentuado e característico do bagaço, tornaria os biscoitos
mais saudáveis. Dessa forma, das obras selecionadas, 70% destas fizeram uso de
algum aditivo: essência de baunilha (30%); casca de laranja (10%); chocolate meio
amargo (10%); canela (10%); e orégano, alecrim, manjerona, sálvia e tomilho (10%).
O restante das obras (30%), não utilizou nenhum aditivo na formulação, como pode
ser observado na Figura 2.
Dos estudos avaliados, a maioria optou pela substituição parcial da farinha de
trigo, farinha de arroz ou farinha de batata doce pelo bagaço de malte, cuja
porcentagem variou de 3 a 75%, com exceção da pesquisa realizada por Wust (2018),

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que além da substituição parcial, realizou a substituição total (100%) da farinha de


trigo pela farinha de bagaço de malte.

Figura 2 - Utilização de diferentes aditivos nos trabalhos avaliados

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

Em relação à avaliação dos biscoitos tipo cookies, 6 entre os 10 estudos


selecionados realizaram análise sensorial e centesimal, enquanto que os outros 4
realizaram apenas a determinação centesimal.
O bagaço de malte utilizado para o desenvolvimento dos biscoitos tipo cookies
nos estudos selecionados foram, em sua maioria, provenientes do resíduo de malte
Pilsen. Porém, Weege et al. (2017) fez a utilização do malte tipo Weizen que contém
três tipos de malte: Malte Pilsen Alemão Globalmalt, Malte Chateau Wheat Blanc e
Malte Chateau Munich. O autor destaca que a utilização de diversos tipos de malte na
mesma formulação faz com que a cerveja produzida tenha aromas, texturas e sabores
diferenciados. E Wust (2018) também diferenciou-se utilizando Malte tipo APA e
Saison porém, não relata o motivo de tal escolha.
Outrossim, o bagaço de malte foi utilizado na forma de farinha pela maioria dos
estudos avaliados (70%), com exceção de Petrović et al. (2017), Ferreira (2017) e
Weege et al. (2017), que o utilizaram na forma in natura.
Analisando a composição centesimal dos biscoitos apresentados nos artigos
estudados, ficou evidenciado o potencial nutricional da utilização do bagaço de malte.
Os estudos registraram um aumento nos níveis de proteínas, fibras, cinzas e lipídios e
diminuição de umidade e teor de carboidratos, conforme o aumento da porcentagem
de bagaço de malte.

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O aumento do teor de fibras e o baixo teor de carboidratos registrados nos


cookies é um ponto positivo, segundo Padia (2019) e Ikuomola, Otutu e Oluniran
(2017), visto que o aumento de fibras, em quantidades adequadas, possui
propriedades importantes que atuam prevenindo problemas gastrointestinais e
inibindo LDL (Low Density Lipoproteins) - colesterol, reduzindo o risco de doenças
cardiovasculares.
Em relação ao conteúdo de cinzas, Ikuomola, Otutu e Oluniran (2017), citam que
o aumento registrado, sugere que os cookies fornecerão mais minerais aos
consumidores. Os mesmos autores também afirmam que a presença de maiores
teores de lipídios melhoram a qualidade do produto, em termos de sabor e textura.
No entanto, concordam com Rigo et al., (2016) que sugerem que lipídios podem
sofrer oxidação, alterando os atributos sensoriais e ocasionando perdas de valor
nutricional e comercial dos biscoitos, além de aumentar o valor calórico dos mesmos.
Todos os estudos avaliados afirmaram que o aumento do teor de proteínas é
atribuído à quantidade significativa de proteína presente no bagaço de malte, sendo
benéfico quando agregado aos cookies. Também, a baixa umidade presente nos
produtos desenvolvidos é visto como positivo, pois reduz as chances de deterioração
por microrganismos garantindo, consequentemente, boa estabilidade de
armazenamento e vida útil.
Nota-se, portanto, que essas características, tornam o produto final, no caso
estudado, os cookies, mais saudáveis e nutritivos. Desta forma, verifica-se que um
resíduo que atualmente é descartado pelas indústrias, na maior parte ou
encaminhado para nutrição animal e que tem sua utilização limitada devido a alta
umidade em que deixa o processo de produção de cerveja, pode ser utilizado para fins
mais nobres, como enriquecer alimentos, configurando um potencial uso de
características sustentáveis e agregar valor ao subproduto.
Na Figura 3, pode ser observado um resumo com as principais informações
apresentadas pelos artigos selecionados para estudo, bem como os principais
resultados atingidos.

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Figura 3 - Principais informações sobre os trabalhos selecionados para estudo

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

CONCLUSÕES

Tendo em vista a demanda cada vez maior por parte dos consumidores por
alimentos que promovam saúde, bem-estar e redução de risco de doenças, observa-
se, através dos estudos acerca da utilização do resíduo de bagaço de malte, que esta é
uma importante opção para incorporação em produtos como os cookies, visto que as
propriedades nutricionais do mesmo, como proteínas e fibras conferem a esse

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alimento características mais saudáveis. Outrossim, a destinação desse subproduto


para a alimentação humana torna-se promissora do ponto de vista ambiental e
econômico, visto que propicia uma redução no impacto ambiental, além de que, os
custos com o descarte desse resíduo pela indústria cervejeira, seriam minimizados e
ainda, evidencia-se a possibilidade de obter-se retorno financeiro sobre a destinação
do bagaço de malte para esta finalidade de maior valor agregado.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Programa de Bolsas Universitárias de Santa
Catarina (UNIEDU) e às Bolsas de pesquisa do programa PIBIC/CNPq.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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laranja. Ponta Grossa: Atena Editora, 2020. E-Book. 23 p. DOI 10.22533/at.ed.13920100212. Disponível
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setembro de 2005. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2005/rdc0263_22_09_2005.html#:~:text=Regulamento
%20t%C3%A9cnico%20que%20aprova%20o,1999. Acesso em: 24 jun. 2021.
FERREIRA, M. S. B. Elaboração de biscoito integral empregando resíduo da indústria cervejeira na
formulação. 2017. 58 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de Alimentos) -
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10.1080/23311932.2017.1293471. Disponível em: https://doi.org/10.1080/23311932.2017.1293471.
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Journal, Abakaliki, v. 6, n. 1, p. 113-119, 2018. DOI 10.12944/CRNFSJ.6.1.12. Disponível em:
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industrializado. 2018. 62 f. Monografia (Graduação em Nutrição) - Universidade Regional do Noroeste

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http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/5669. Acesso em: 27 abr. 2021.
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Feed Research, Novi Sad, v. 44, n. 1, p. 57-63, 2017. DOI 10.5937/FFR1701057P. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/318428384_Quality_properties_of_cookies_supplemented_with
_fresh_brewer's_spent_grain. Acesso em: 27 abr. 2017.
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bagaço de malte como fonte de fibra. Ambiência, Guarapuava, v. 13, n. 1, p. 47-57, 2016. Disponível em:
https://pdfs.semanticscholar.org/2cda/dc04466bf86f93a663146cc7c2bf0bfa1561.pdf. Acesso em: 27 abr.
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WEEGE, K. A. et al. Desenvolvimento e características nutricionais de cookie de canela com adição de
bagaço de malte tipo Weizen. Revista Processos Químicos, Blumenau (SC), v. 11, n. 22, p. 35-40, 2017.
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abr. 2021.
WUST, D. M. Elaboração e caracterização de biscoito tipo cookie com bagaço de malte proveniente da
produção de cerveja artesanal. 2018. 27 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de
Alimentos) - Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2018. Disponível em:
http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/2364. Acesso em: 28 abr. 2021.

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CAPÍTULO 25
PRODUÇÃO DE BEBIDA
PROBIÓTICA DE MAÇÃ
UTILIZANDO Lactobacillus
plantarum 299v: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Juliane Cordeiro Pinto1
Katlyn Thaís Nalepa2
Cíntia Maia Braga3

1
Engenheira Química, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, email:
julyannecp@hotmail.com, ID Lattes: 3213106119867268.
2
Mestranda em Engenharia Química, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba,
PR, email: katlynthais@ufpr.com, ID Lattes: 7919091975215399.
3
Professora e Pesquisadora da Escola do Mar Ciência e Tecnologia, Universidade do Vale
do Itajaí (UNIVALI), Itajaí, SC, email: cmb@univali.br, ID Lattes: 6442839028183242.

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PRODUÇÃO DE BEBIDA PROBIÓTICA DE MAÇÃ UTILIZANDO Lactobacillus plantarum


299v: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

RESUMO
São considerados alimentos funcionais aqueles que impactam positivamente a saúde
de seus consumidores. Entre estes, pode-se destacar a maçã, fruta que apresenta em
sua composição uma série de nutrientes benéficos ao organismo. Pesquisas afirmam
que o suco de maçã utilizado como matriz alimentar é um excelente substrato para o
crescimento da cepa Lactobacillus plantarum 299v, microrganismo reconhecido
cientificamente por apresentar benefícios como probiótico. Desta forma, a utilização
desta fruta para a formulação de uma bebida probiótica demonstra-se benéfica e
estratégica para o mercado atual, o qual se mostra cada vez mais interessado em
alimentação saudável. Com isto, objetiva-se neste trabalho, realizar a revisão
bibliográfica quanto à fabricação de bebida probiótica, utilizando suco de maçã como
meio e o microrganismo L. plantarum 299v como cepa probiótica, para obtenção de
um produto alimentício com apelo funcional de base não láctea.
Palavras-chave: Alimento probiótico. Suco de maçã. Microrganismo probiótico.

APPLE PROBIOTIC DRINK PRODUCTION USING Lactobacillus plantarum 299v: A


BIBLIOGRAPHIC REVIEW

ABSTRACT
Functional foods are considered those that positively impact their consumers' health.
Among these, we can highlight the apple, fruit that presents a series of beneficial
nutrients to the organism in its composition. Researches confirm that the apple juice
used as a food matrix is an excellent substrate for the growth of the strain L.
plantarum 229v, a microorganism scientifically recognized for presenting benefits as
a probiotic. Thus, using this fruit to formulate a probiotic drink proves to be beneficial
and strategic for the current market, which is increasingly interested in healthy
eating. Therefore, the objective of this work is to carry out a literature review
regarding the manufacture of probiotic drinks, using apple juice as a medium and the
microorganism L. plantarum 299v as a probiotic strain to obtain a non-dairy food
with a functional appeal.
Key-words: Probiotic food. Apple juice. Probiotic microorganism.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, o alimento tem sido visto como forma de promoção do bem estar
do ser humano, além de ser veículo de nutrientes essenciais para a saúde humana
(Granato et al., 2010). Com isso, propôs-se o termo alimentos funcionais, definindo-o
como alimentos naturais ou formulados, que possuem em sua composição
substâncias capazes de promover benefícios à saúde humana, além de nutrir, atuando
no metabolismo do indivíduo (Souza, 2015).
Entre os alimentos com propriedades funcionais destaca-se a maçã (Souza,
2015), que possui em sua composição as vitaminas A, C e D, e ácido fólico (Editora
Insumos, 2019) e propriedade antioxidante (Van Der Sluis et al., 2001).
Segundo Furtado (2017), a maioria dos produtos com probióticos são
categorizados como alimentos funcionais. Probióticos são microrganismos vivos, que
se administrados em quantidades adequadas afetam positivamente a saúde do
consumidor (FAO/WHO, 2016).
Dentre as bactérias mais frequentemente utilizadas como probióticas estão as
bactérias láticas, sendo majoritariamente do gênero Lactobacillus (Walter, 2016;
Souza, 2015), destacando-se a espécie Lactobacillus plantarum (Collins; Sullivan;
Thornton, 1998; Lee et al., 1999).
Conforme Granato et al. (2010) a aplicação de probióticos em alimentos se dá,
principalmente, em produtos lácteos, como iogurtes, kefir e bebidas fermentadas
(Almeida et al., 2008; Zoellner et al., 2009). No entanto, o consumo de produtos de
matriz láctea apresenta algumas desvantagens, como a alta prevalência de
intolerância à lactose e alergia às proteínas do leite. Além disso, há uma demanda
crescente da tendência contínua do veganismo (Granato et al., 2010). Frente a isso, o
desenvolvimento de novos produtos probióticos não lácteos tem se tornado essencial
para o mercado alimentício.
Com isto, este trabalho tem como objetivo realizar a revisão bibliográfica
quanto à fabricação de bebida probiótica, utilizando suco de maçã como matriz
alimentícia e o microrganismo L. plantarum 299v como cepa probiótica, para
obtenção de um produto alimentício com apelo funcional de base não láctea.

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MATERIAL E MÉTODOS
No presente estudo utilizou-se como método a análise qualitativa de
referências encontradas em bases de dados (SCIELO, Portal de Periódicos CAPES,
Ciência Science e BDTD), com linguagens em português, inglês e espanhol, publicados
entre 2000 e 2020. Tomou-se como estratégia de busca termos como probiótico,
bebida, suco de fruta e Lactobacillus plantarum 299v. Utilizou-se como critério de
inclusão estudos que apresentassem a aplicação de Lactobacillus em suco de fruta
probiótico e, como critério de exclusão, estudos que não apresentassem análise de
viabilidade do microrganismo utilizado. Após a seleção dos artigos conforme os
critérios definidos, realizou-se a leitura e interpretação analítica dos textos, com
posterior redação dos conhecimentos adquiridos.

REVISÃO DA LITERATURA

Além de ser um produto saudável, o suco de fruta apresenta sabor refrescante, e


pode ser apreciado por pessoas de várias faixas etárias (Furtado, 2017). Estes
também apresentam vantagens em relação a outras matrizes para produtos
probióticos, pois estes permanecem menos tempo no estômago não expondo as
culturas probióticas por muito tempo ao ambiente ácido estomacal (Kumar,
Vijayendra e Reddy, 2015).
Dentre os microrganismos, o genêro Lactobacillus é um dos que contém cepas
que apresentam maior aplicabilidade a alimentos probióticos, devido ao seu
reconhecimento como parte da microbiota natural de seres humanos e animais, bem
como estudos de segurança e evidências que indicam benefícios à saúde (ILSI, 2013;
Champagne et al., 2011; Gaggia et al., 2011; Itsaranuwat; Shalhaddad; Robinson,
2003).
A seguir são apresentados estudos os quais apontam a aplicabilidade do suco de
maçã como matriz para culturas probióticas. Citam-se, também, pesquisas com
aplicação de bactérias do gênero Lactobacillus em outras matrizes alimentares, para
obtenção de produtos probióticos.

Sucos probióticos de maçã


Espirito-Santo, Carlin e Renard (2015), com o propósito de determinar entre os
sucos de maçã, uva e laranja, aquele com melhor desempenho bacteriano durante a

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fermentação por cepas de Lactobacillus, a 40°C por 48 horas, realizaram um estudo


com as cepas comercializadas: L. acidophilus Lafti L10, L. casei Lafti L26 e L.
rhamnosus LGG; culturas isoladas de produtos comercialmente disponíveis: L.
paracasei 33 e L. plantarum 299v; e cepas isoladas de produtos alimentares
artesanais: L. acidophilus (CIRMBIA 1674), L. casei (CIRMBIA 667), L. paracasei
(CIRMBIA 672), L. plantarum (CIRMBIA 466) e L. rhamnosus (CIRMBIA 607).
As culturas de Lactobacillus foram inoculadas previamente em caldo MRS
(MAN, ROGOSA e SHARPE) a 40°C por 12 horas, de modo a atingir 9 log UFC/mL. Os
pesquisadores utilizaram amostras de sucos sem inóculos, mantendo as mesmas
condições de fermentação, para controle das análises. Após 48 horas de fermentação,
o suco de frutas que apresentou maior contagem de bactérias foi escolhido para fazer
suplementação simples com as cepas láticas. Os pHs iniciais e as faixas obtidas após
as 48 horas de fermentação foram, respectivamente, 3,7 e 3,4-3,6 em suco de maçã;
3,4 e 3,3–3,5 em suco de uva; e 3,6 e 3,2–3,4 em suco de laranja (Espirito-Santo;
Carlin; Renard, 2015).
Conforme os autores, a contagem de Lactobacillus no suco de maçã foi mais alta
(8,7-10,3 log UFC/mL) do que na uva (8,0-9,8 log UFC/mL) e no suco de laranja (7,9-
8,4 log UFC/mL). Além disso, as cepas comerciais se adaptaram mais rapidamente ao
suco de maçã em 8 horas de fermentação (Espirito-Santo; Carlin; Renard, 2015).
O suco de selecionado, não fermentado, foi inoculado com as cepas a 9 log
UFC/mL e, armazenado a 5 ºC por quatro semanas. Na maioria dos casos, a contagem
de bactérias foi maior nos sucos fermentados (5,5 a 9,5 log UFC/mL) do que nos
sucos de maçã suplementados com probiótico, porém sem fermentação (4,2 a 5,7 log
UFC/mL), na quarta semana de armazenamento a frio. Os autores salientam que,
durante 4 semanas de armazenamento a frio, as contagens de Lactobacillus
permaneceram acima de 5-6 log UFC/mL, o que significa, considerando uma dose de
100 mL de suco de maçã, a ingestão probiótica diária considerada ideal pelos autores,
de 8 log UFC. Durante o período de armazenamento a frio, o pH dos sucos de maçã
suplementados com Lactobacillus não diminuiu significativamente em relação aos
controles não suplementados; os sucos de maçã fermentados não apresentaram
diferença entre os dias 1 e 28 de armazenamento a frio. Com isso, os pesquisadores
concluíram que o suco de maçã foi o melhor substrato para o crescimento de

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Lactobacillus, sendo uma possibilidade adequada às matrizes lácteas (Espirito-Santo;


Carlin; Renard, 2015).
Borges et al. (2016) também propuseram o estudo com aplicação da cepa L.
plantarum 299v em maçã. Entretanto, a pesquisa visava o desenvolvimento de pós de
frutas com a adição da cepa probiótica, utilizando também banana e morango no
estudo, além da maçã. No estudo foram propostas duas metodologias de preparo do
produto, utilizando tecnologias de secagem: a secagem por convecção do fruto com o
microrganismo incorporado por imersão; e a secagem do fruto por convecção com
posterior adição da cultura probiótica seca por pulverização. A cultura probiótica foi
cultivada para apresentar densidade celular de 10 log UFC/mL.
Segundo os autores, o processamento da primeira metodologia proposta causou
redução notável na viabilidade do probiótico para a maçã. Quando ressuspensa em
solução Ringer, a redução foi de mais de 7,5 log UFC/g, tanto na secagem quanto na
moagem; e de 2,6 log UFC /g quando ressuspensa em leite desnatado. Para banana e
morango, tal redução foi menor, obtendo-se pós de frutas com quantidade entre 6 e 7
log UFC por grama (Borges et al., 2016).
Já na elaboração da segunda metodologia, a sobrevivência da cepa utilizada foi
consideravelmente maior durante a secagem. Os autores obtiveram conteúdo
microbiano de 108 a 109 UFC por g de produto, após a combinação com os pós de
frutas, sendo que a maçã apresentou maior quantidade dentre os demais (Borges et
al., 2016).
Durante o período de 3 meses, foi avaliada a viabilidade dos pós de frutas. Estes
foram armazenados em recipientes plásticos a 4 ºC e temperatura ambiente. Os
autores relatam que a viabilidade do L. plantarum 299v diminuiu, mas não foi afetada
pela quantidade de probiótico utilizado (15 e 30 %), nem pela temperatura de
armazenamento. Utilizando-se a maçã, obtiveram-se os melhores resultados. Desta
forma, a segunda metodologia apresentada, se mostrou melhor para a produção deste
produto (Borges et al., 2016).
Outro estudo utilizando o suco de maçã como matriz probiótica foi realizado por
Garcia et al. (2018), no qual se avaliou a sobrevivência dos microrganismos L.
plantarum 49, L. brevis 59, L. paracasei 108, L. fermentum 111 e L. pentosus 129.
Além do suco de maçã, foram utilizados também suco de laranja e uva. Os sucos
comerciais foram submetidos a esterilização em autoclave durante 15 minutos a 121

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ºC e, posteriormente, resfriados em banho de gelo. Os pesquisadores inocularam 2 g


das cepas a uma concentração entre 8 e 9 log UFC/mL. Após a inoculação, os sucos
foram armazenados a 4 ºC por 21 dias. Utilizaram-se também, amostras de suco sem
adição das cepas, para controle das análises.
Segundo os autores, o conteúdo de glicose diminuiu durante os 14 dias de
armazenamento em todos os sucos contendo L. paracasei 108 ou L. plantarum 49,
enquanto que nenhuma alteração foi observada em sucos sem adição de
Lactobacillus. Houve aumento no teor de ácido em todos os sucos de frutas com
adição de células de Lactobacillus. O suco de maçã, com ou sem adição de células
(qualquer uma das cinco cepas testadas), mostrou um aumento nos valores de pH no
dia 21 de armazenamento. Aumentos na acidez total no dia 21 foram observados
apenas no suco de maçã contendo L. fermentum 111 e L. pentosus 129. Os valores de
teor de sólidos solúveis aumentaram no dia 21 de armazenamento em suco de maçã
contendo L. brevis 59, L. fermentum 111 ou L. pentosus 129 (Garcia et al., 2018).
A sobrevivência de células liofilizadas de L. plantarum 49, L. brevis 59, L.
paracasei 108, L. fermentum 111 ou L. pentosus 129 diminuíram em sucos de maçã,
uva e laranja durante o período de armazenamento refrigerado de 21 dias. Todas as
cepas de Lactobacillus analisadas apresentaram frações de sobrevivência maiores
que 0,75 (consideradas altas pelos pesquisadores) até o dia 14 de armazenamento
em suco de maçã, enquanto apenas L. paracasei 108 e L. plantarum 49 tiveram o
mesmo valor de fração de sobrevivência em suco de uva e laranja até o dia 14 do
armazenamento. Assim, os autores concluíram que o suco de maçã foi o melhor
substrato para a sobrevivência das cepas liofilizadas probióticas L. plantarum 49, L.
brevis 59, L. paracasei 108, L. fermentum 111 e L. pentosus 129, ao longo do tempo
(Garcia et al., 2018).
Neves (2005) em seu estudo, desenvolveu um fermentado probiótico utilizando
suco de maçã para avaliar o crescimento de L. casei Lcc e de L. acidophillus La-5 no
suco clarificado, das cultivares Gala e Fuji. A pesquisadora preparou o inóculo em
leite desnatado reconstituído, caldo MRS e suco de maçã Gala, a 37 ºC por 18 horas.
Utilizaram-se dois valores fixados de pH para os sucos, de 4,0 e 5,5, sendo que o
segundo foi ajustado com NaOH (hidróxido de sódio) 0,1 N estéril. Os sucos
preparados foram submetidos à fermentação a 37 ºC por 20 horas, com inóculo com
concentração de 8 log UFC/mL de microrganismos.

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Segundo a autora, as alterações fisico-químicas promovidas pelas cepas ao


longo da fermentação, nas análises de pH e acidez titulável, são semelhantes entre as
cultivares de maçã, porém quando comparadas em conjunto com os microrganismos,
estas apresentam diferenças estatísticas. Ainda segundo Neves (2005), após 20 horas
de fermentação, o suco da cultivar Fuji apresentou maior média de biomassa. E o suco
de maçã Gala utilizando a cepa L. casei, obteve o maior número de células probióticas
sendo igual a 8,3 log UFC/mL, em suco sem ajuste de pH (Neves, 2005).
Por fim, a pesquisadora conclui que o número de células viáveis presentes nos
produtos desenvolvidos, é suficiente para indicar o suco fermentado de maçã como
alimento probiótico, sem necessidade de correção do pH original dos sucos (Neves,
2005).
Li et al. (2018), realizaram o estudo que examinou o efeito da fermentação por
L. plantarum (ATCC14917) utilizando suco de maçã. A cepa foi ativada em caldo MRS
e incubada a 37 ºC por 24 horas. O pH inicial do suco de maçã foi ajustado para 6,2
com solução de NaOH 2 M. O suco foi submetido ao processo de pasteurização à 80 ºC
por 5 minutos. Após realizada a adição das culturas probióticas, o suco foi fermentado
a 37 ºC por 24, 48 e 72 horas. As mesmas condições foram utilizadas para incubar o
suco de maçã sem probiótico, utilizado como controle.
De acordo com os resultados, durante as primeiras 24 horas de fermentação
observou-se rápido crescimento das células e, após esse período, o crescimento de
células diminuiu. A cepa atingiu 8,37 log UFC/mL, sendo o número máximo viável de
células às 48 horas de fermentação. Notou-se a queda do pH do suco após 72 horas de
fermentação, bem como a sua concentração de glicose e frutose (Li et al., 2018).
A fermentação com a cepa proporcionou aumento na atividade antioxidante
celular do suco de maçã. No entanto, o processo diminuiu o conteúdo total de
fenólicos e flavonóides do suco de maçã. Ainda assim, os pesquisadores concluíram
que o suco de maçã fermentado com L. plantarum (ATCC14917) pode ser utilizado
para melhorar a biodisponibilidade de polifenóis na bebida (Li et al., 2018).
A viabilidade de L. plantarum (NCIMB 8826) em suco de maçã fermentado,
armazenado por 15 dias a 4 ºC foi estudada por Roberts et al. (2018). O pH inicial do
suco de maçã foi ajustado para 5,0 com Na2CO3 (carbonato de sódio). O suco foi
submetido ao processo de fermentação por 72 horas a 37 ºC após adição da cultura
probiótica.

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Durante a fermentação observou-se que o pH diminui, assim como o teor de


sólidos solúveis (ºBrix), de 5,05 para 4,32 e de 12,6 para 12,3, respectivamente;
enquanto que para o teor de ácido lático, notou-se crescimento com o decorrer do
processo. Durante a fermentação, a viabilidade das células diminuiu de 7,89 para 7,44
log UFC/mL. Aos 15 dias de armazenamento refrigerado, a viabilidade da cepa
permaneceu acima de 107 UFC/mL. Segundo os pesquisadores, o suco de maçã
desenvolvido e armazenado em refrigerador por 15 dias, pode ser utilizado como
uma alternativa para bebidas probióticas não-lácteas (Roberts et al., 2018).
Champagne e Gardner (2008) avaliaram nove linhagens probióticas de
Lactobacillus, quanto à capacidade das bactérias de sobreviver em bebida comercial
de frutas armazenada a 4 °C por até 80 dias. As cepas utilizadas foram L. acidophilus
LB2, LB3 e LB45, L. brevis LB6, L. rhamnosus LB11 e LB24, L. fermentum LB32, L.
plantarum LB42 e L. reuteri LB38. As culturas liofilizadas foram reidratadas em meio
composto por peptona, triptona e extrato de levedura, por 10 minutos. A cepa foi,
então, inoculada em caldo MRS e incubada a 37 ºC por 16 horas.
Para o estudo, foram utilizados sucos comerciais de frutas, nos quais destacam-
se o de maçã, abacaxi, laranja e maracujá. Os sucos inoculados com as células de
Lactobacillus (4 mL de suspensão de células frescas) foram armazenados a 4 ºC e
analisados ao longo do tempo até 80 dias de incubação, por meio de contagens de
microrganismos viáveis e análises de pH. O pH dos sucos permaneceu inalterado
após 28 dias de armazenamento, indicando fraca atividade metabólica do probiótico a
4 ºC. A maioria das cepas ainda apresentavam alta viabilidade após 80 dias de
armazenamento a 4 ºC (acima de 8 log UFC/mL), com exceção das cepas L.
acidophilus LB2 e L. acidophilus LB3, que alcançaram valores menores que 2 log
UFC/mL (Champagner; Gardner, 2008).
Os estudos apresentados, demonstram que a maçã além de possuir em sua
composição química diversas substâncias bioativas também apresenta-se como um
excelente substrato para aplicação de microrganismos probióticos, dentre eles a cepa
L. plantarum 299v. Além disso, a maçã apresenta sabor agradável (Vieira et al., 2009),
e promove ações benéficas para a saúde (Feliciano et al., 2010; Liu, 2003), por ser
fonte de polifenóis (Babbar et al., 2011), carotenóides (Setiawan et al., 2001),
vitamina C e D, e ácido fólico (Editora Insumos, 2011).

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Utilização de L. plantarum como cepa probiótica em outros sucos de fruta


Um estudo avaliando a viabilidade de bactérias probióticas em suco tropical de
manga foi realizado por Furtado (2017), no qual uma das cepas utilizadas foi a L.
plantarum 299v. As células microbianas foram adicionadas ao suco, com contagem de
8 log UFC/mL, e armazenadas por 28 dias a 8 ºC.
Segundo a autora, a viabilidade de L. plantarum 299v foi de 7,74 log UFC/mL, ao
longo dos 28 dias de armazenamento refrigerado. No decorrer dos 28 dias de
armazenamento, o suco apresentou redução significativa no pH. Apesar disso, para a
acidez e o teor de sólidos solúveis, não foi constatada influência do tempo. A autora
concluiu com seu estudo que o suco tropical de manga pode ser considerado ótimo
veículo para L. plantarum 299v (Furtado, 2017).
Outro estudo utilizando a espécie L. plantarum em suco de fruta foi realizado
por Nguyen et al. (2019). Os autores realizaram a fermentação do suco de abacaxi
com bactérias probióticas L. acidophilus, L. plantarum e Bifidobacterium lactis,
inoculadas a uma densidade celular de cerca de 108 a 109 UFC/mL de suco. Os sucos
de abacaxi foram neutralizados antes da fermentação (pH 6,7) com solução de NaOH
4 N. Segundo os autores, todas as cepas utilizadas exibiram boas propriedades de
crescimento em suco de abacaxi sem suplementação de compostos nutricionais,
sendo que a maior produtividade volumétrica foi observada utilizando a cepa L.
plantarum 299v (3,5.108 UFC/mLh).
Com a fermentação adicionada de frutooligossacarídeo, os autores constataram
que a contagem de L. acidophilus La5, L. plantarum 299V e B. lactis Bb12 chegou a
1,64.108, 2,01.108 e 2,14.107 UFC/mL, respectivamente. Segundo os pesquisadores, o
conteúdo fenólico total e a capacidade antioxidante aumentaram ligeiramente
durante a fermentação, e caíram durante o processo de armazenamento (realizado a
4 ºC por dois meses). Além disso, a população microbiana não mudou
significativamente durante o primeiro mês de armazenamento (Nguyen et al., 2019).
Os pesquisadores concluíram que as linhagens de Lactobacillus e
Bifidobacterium utilizadas foram capazes de crescer bem no suco de abacaxi sem
suplemento de quaisquer nutrientes. Por fim, os autores realizando comparação entre
as bactérias láticas, concluíram que a contagem de células da cepa L. plantarum 299v
foi significativamente maior que a da cepa L. acidophilus La5 (Nguyen et al., 2019).

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A utilização de bactéria lática da espécie L. plantarum também foi avaliada por


Hashemi et al. (2017), por meio do estudo da fermentação do suco de limão doce
(Citrus limetta) utilizando a cepa L. plantarum LS5. Os pesquisadores reportaram que
a concentração da bactéria aumentou de 7,0 para 8,63 log UFC/mL durante a
fermentação (37 °C por 48 horas) e, diminuiu de 8,63 para 7,14 log UFC/mL após
armazenamento (4 °C por 28 dias). Descreveram também que, imediatamente após a
fermentação, o pH, a quantidade de ácido lático e a capacidade antioxidante das
amostras aumentaram, enquanto que a quantidade de glicose e frutose, acidez total,
ácido cítrico e fenólicos diminuíram. Durante o armazenamento, a medida de
fenólicos e atividade antioxidante diminuíram nas amostras fermentadas e, também,
nas amostras não fermentadas, consideradas para controle.
Vivek et al. (2019) também avaliaram a utilização de bactéria da espécie L
plantarum como microrganismo probiótico aplicado a alimentos. O estudo utilizou a
cepa L. plantarum ssp. plantarum para realizar a fermentação do suco de Sohyang
(Prunes nepalensis), fruta disponível amplamente na parte nordeste da Índia.
Três amostras foram preparadas, A, B e C, com cargas iniciais de 4, 6 e 8 log
UFC/mL, respectivamente. Durante a fermentação dessas amostras, conduzida a 37
ºC por 72 horas, o número de células probióticas aumentou para 6, 9 e 10 log
UFC/mL, nas amostras A, B e C, respectivamente. Os pesquisadores também
relataram que, mesmo após quatro semanas de armazenamento a 4 °C, a população
microbiana foi superior a 6 log UFC/mL. Durante a fermentação, a concentração de
frutose e glicose diminuiu significativamente, enquanto o conteúdo fenólico total e
atividade antioxidante aumentaram. Tais resultados sugeriram a adequação e
viabilidade do desenvolvimento de uma bebida probiótica não láctea a partir do suco
de Sohiong, utilizando L. plantarum ssp. plantarum (Vivek et al., 2019).
Mousavi et al. (2011) examinaram outras quatro outras linhagens de bactérias
láticas para a produção de suco de romã probiótico. A fermentação do suco foi
realizada com adição das cepas L. acidophilus (DSMZ 20079), L. plantarum (DSMZ
20174), L. delbrueckii (DSMZ 20006) e L. paracasei (DSMZ 15996), e foi realizada a
30 °C por 72 horas, contendo densidade celular inicial de 7 log UFC/mL.
Por meio dos resultados obtidos observou-se uma queda na população
microbiana de todas as cepas durante as primeiras 24 horas da fermentação, devido
ao stress induzido pela diferença entre a pré-cultura e o meio de fermentação

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(Mousavi et al., 2011). Além disso, as cepas de L. plantarum e L. delbrueckii


aumentaram acentuadamente o pH nos estágios iniciais da fermentação e o consumo
de açúcar também foi maior em comparação com outras cepas. Após 48 horas de
fermentação todas as cepas atingiram 108 UFC/mL. O metabolismo do ácido cítrico e
do açúcar pelas bactérias láticas durante a fermentação provou que L. plantarum e L.
delbruekii foram capazes de consumir maior quantidade de substrato em
comparação com outras cepas. Estas mesmas cepas demonstram capacidade de
sobrevivência nas duas primeiras semanas de armazenamento. Por fim, os
pesquisadores concluíram que o suco de romã provou ser um meio adequado para a
produção de uma bebida probiótica fermentada (Mousavi et al., 2011).
Tibanquiza (2011) estudou a aplicação da espécie L. plantarum na elaboração
de uma bebida probiótica de soja. Diferentes preparos da bebida foram utilizados,
com variação na massa de inóculo e concentração de açúcares, para implementação
na fermentação realizada por 8 horas à 37 ºC. Segundo o autor, a utilização de 0,03 g
de inóculo e 3,4 % de açúcar foi considerada o melhor tratamento, conforme as
respostas experimentais e análise sensorial. Foi registrado aumento da acidez
expressa em ácido lático e diminuição do pH, a concentração de sólidos solúveis
também diminuiu com o passar do tempo de fermentação. Após a fermentação, a
bebida apresentou 1,2.108 UFC/mL. Essa foi armazenada por 25 dias a 2 ºC e, de
acordo com a contagem de bolores e leveduras presentes, apresentou 18 dias de
prazo de validade.
Por meio de análise dos estudos citados, conclui-se que a interação entre
microrganismo probiótico e matriz alimentar utilizada influencia tanto na
concentração da cepa ao longo do tempo quanto nas características físico-químicas e
sensoriais do produto. Desta forma, a escolha desses dois fatores é de suma
importância para o desenvolvimento de novos produtos. Além da presença de
nutrientes e açúcares, e a ausência de inibidores de crescimento, as condições de
armazenamento do produto impactam na viabilidade do microrganismo de interesse,
conforme o metabolismo do mesmo. Sendo que dentre as bactérias láticas
empregadas em alimentos pertencentes ao gênero Lactobacillus destaca-se a L.
plantarum 299v (Collins; Thornton; Sullivan,, 1998; Lee et al., 1999).

CONCLUSÕES

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Fator de suma importância para o desenvolvimento de alimentos probióticos é a


seleção da cepa utilizada, bem como a escolha da matriz alimentar na qual esta será
inoculada, uma vez que interação do microrganismo com a matriz na qual é
implementada influencia não só nas características físico-químicas e sensoriais do
produto, como na concentração de células presentes que atuarão no organismo
consumidor proporcionando benefícios.
Na escolha da matriz deve considerar-se a disponibilidade de nutrientes
presentes no meio, bem como a presença de promotores ou mesmo inibidores de
crescimento e a concentração de açúcares. Fatores atrelados ao processamento
também podem influenciar a viabilidade do microrganismo e, assim, a vida útil do
produto final que baseia-se na viabilidade do probiótico. Dentre estes fatores podem-
se destacar o nível de oxigênio disponível, temperatura e tempo de armazenamento.
No entanto, os principais fatores que levam à perda da viabilidade de um
microrganismo probiótico são o acúmulo de ácidos orgânicos, resultado do
crescimento das células, e a redução do pH do meio devido à presença dessas
substâncias.
Estudos afirmam que a maçã quando utilizada como matriz para alimentos
probióticos é tão eficiente para o crescimento das cepas quanto produtos lácteos, ou
ainda, sucos de outras frutas. Além disso, o suco de maçã se mostra benéfico ao
consumo, uma vez que a fruta apresenta diversas substâncias bioativas como
polifenóis e carotenóides, aos quais são associados os efeitos nutracêuticos da fruta.
Em diversas pesquisas o suco de maçã demonstrou ser um excelente substrato
para o crescimento de bactérias pertencentes ao gênero Lactobacillus, sobretudo para
cepa L. plantarum 299v, já reconhecida em diversos estudos como bactéria
probiótica.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos à UNIVALI e ao Grupo Fischer pelo apoio e parceria no
desenvolvimento desta pesquisa.

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CAPÍTULO 26
QUITOSANA E SUA RELAÇÃO
COM OS OBJETIVOS DO
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO
DA LITERATURA

Giovana Marchezi1
Bruna Strieder Machado2
Larissa Crestani3
Danielli Martins Sanderi4
Thaís Strieder Machado5
Jeferson Steffanello Piccin6
1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: 173887@upf.br, ID Lattes: 5154808287883850.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: 173882@upf.br, ID Lattes: 6131395154506111.
3
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: larissacrestani@live.com, ID Lattes: 7665563197998906.
4
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: danisanderi@gmail.com, ID Lattes: 2954165668709736.
5
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, email:
thaiis.strieder@hotmail.com, ID Lattes: 9644112526589073.
6
Professor no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, Universidade
de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, email: jefersonpiccin@upf.br, ID Lattes:
5392030005352784.

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QUITOSANA E SUA RELAÇÃO COM OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO DA LITERATURA

RESUMO
A quitosana é um biopolímero renovável e biodegradável, proveniente
majoritariamente de resíduos agroindustriais e que é utilizada em diversas
aplicações. Porém, é necessário relacionar os seus reais impactos no
desenvolvimentos sustentável. Com isso, o objetivo foi realizar uma revisão da
literatura abordando as relações entre a quitosana e os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS), apresentando aspectos gerais, aplicações,
importância ambiental e desafios relacionados a este biopolímero. Verificou-se que a
quitosana se relaciona diretamente com os seguintes ODS: 6) água limpa e
saneamento; 9) indústria, inovação e infraestrutura; 12) consumo e produção
responsáveis e 14) vida na água; e indiretamente com os ODS: 8) trabalho decente e
crescimento econômico; 11) cidade e comunidades sustentáveis e 17) parcerias e
meios de implementação.
Palavras-chave: Biopolímero. Aplicações. Aspectos ambientais. ODS.

CHITOSAN AND ITS RELATION TO SUSTAINABLE DEVELOPMENT GOALS: A


LITERATURE REVIEW

ABSTRACT
Chitosan is a renewable and biodegradable biopolymer, mainly coming from agro-
industrial wastes and which is used in several applications. However, it is necessary
to relate its real impacts in the sustainable development. Thus, the objective was to
carry out a literature review addressing the relation between chitosan and the
Sustainable Development Goals SDGs), presenting general aspects, applications,
environmental importance and challenges related to this biopolymer. It was found
that chitosan is directly related to the following SDGs: 6) clean water and sanitation;
9) industry, innovation and infrastructure; 12) responsible consumption and
production and 14) life in water; and indirectly with the SDGs: 8) decent work and
economic growth; 11) sustainable city and communities and 17) partnerships and
implementation means.
Key-words: Biopolymer. Applications. Environmental aspects. SDG.

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INTRODUÇÃO

Os ODS auxiliam a identificar as temáticas diversificadas que devem contemplar


a humanidade até 2030. Os ODS abordam 17 objetivos que devem ser alcançados
através de diversas implementações e melhorias no contexto global. A partir de cada
objetivo, estes apresentam metas específicas que visam assegurar as principais
atividades necessárias para serem alcançados.
Atualmente, diversos artigos científicos relacionam novos produtos,
principalmente aqueles provenientes de fontes renováveis, com os ODS (Nazari et al.,
2020). No entanto, não se verificam muitos estudos que discutam a relação da
quitosana com os ODS. Como a quitosana é um biopolímero em constante ascensão,
torna-se importante analisar seus aspectos positivos e negativos perante a sociedade
e ao ecossistema.
Por se tratar do uso de um biopolímero produzido majoritariamente a partir de
resíduos de crustáceos, a quitosana consegue se relacionar de forma direta e indireta
com os ODS. Para essa relação com os ODS, é necessário considerar cada objetivo e
suas respectivas metas.
Assim, o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura abordando
as relações entre a quitosana e os ODS. Para isso, foram apresentados aspectos gerais,
aplicações, importância ambiental e desafios relacionados a este biopolímero.

REVISÃO DA LITERATURA

Aspectos gerais da quitosana


A quitosana é um polímero catiônico formado por repetidas unidades de 2-amino 2-
desoxi-D-glicopiranose e unidades residuais de quitina, 2-acetamido-2-desoxi-D-
glicopiranose (NEGM et al., 2020; Kumar, 2000). Esse biopolímero é o segundo
polissacarídeo mais abundante do planeta, podendo ser obtido a partir de resíduos de
pescados, exoesqueletos de insetos e da parede celular de fungos (Vallejo-Domíngues
et al., 2021; Ahmed et al., 2020; Bakshi et al., 2020; Weska et al., 2007; Kumar, 2000),
sendo que a maior parte da produção é proveniente de carapaças de crustáceos (Crini
e Badot, 2008).
Para a obtenção da quitosana, inicialmente é necessária a separação da quitina
de outros componentes presentes nas carapaças de crustáceos (Moura et al., 2015;

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Weska et al., 2007). Essa separação ocorre, através de um processo químico que
envolve as etapas de desmineralização, desproteinização e desodorização (Vallejo-
Domíngues et al., 2021; Moura et al., 2015; Weska et al., 2007). Após a secagem da
quitina, a quitosana é obtida a partir da desacetilação alcalina (Vakili et al., 2014;
Weska et al., 2007). Nesse método, os grupos acetila da quitina são hidrolisados e
convertidos em grupos de aminas livres, verificado pelo grau de desacetilação (GD)
do produto (Vakili et al., 2014). Outro método para obtenção de quitosana é por
meios enzimáticos, no entanto a desacetilação alcalina é a mais utilizada (Weska et al.,
2007).
O GD da quitosana pode ser verificado por espectroscopia no infravermelho por
transformada de Fourier (FTIR) (Tan et al., 2003) e por titulação potenciométrica
(Jiang et al., 2003). Esse grau é dependente da eficiência do processo de
desacetilação, em função da concentração de hidróxido de sódio (NaOH), temperatura
e tempo (Piccin et al., 2011; Weska et al., 2007; Rege et al., 2003). Para ser
considerada quitosana, essa deve apresentar GD superior a 40% ou 65% (Piccin et al.,
2011; Rege et al., 2003; Tan et al., 1998). Esse parâmetro também é de suma
importância para definir as características desejadas e a aplicação em um produto
final (Piccin et al., 2011).
Do ponto de vista químico, a quitosana pode ser caracterizada como não tóxica,
catiônica, linear, com elevado peso molecular e solúvel em ácidos orgânicos, pois em
meio com presença de ácido fraco os grupos aminas da quitosana protonam (Vakili et
al., 2014). Já a biocompatibilidade da quitosana se deve pelo fato de sua
biodegradação resultar em aminoaçúcares (Bakshi et al., 2020).
As propriedades da quitosana são determinadas pelo GD, peso molecular,
cristalinidade e grupamentos de aminas livres (Bakshi et al., 2020). No Quadro 1 são
apresentadas as principais propriedades físicas, químicas e biológicas da quitosana.
Por ser insolúvel em água, com baixa área superficial e poucas propriedades
mecânicas, a produção de compósitos a base de quitosana para melhorar as suas
características físicas, químicas e mecânicas vem sendo estudada (Bakshi et al., 2020;
Vakili et al., 2014). Além disso, estudos recentes sugerem diferentes possibilidades de
aplicações deste biopolímero em diversas áreas (Usman et al., 2021; Ahmed et al.,
2020; Bakshi et al., 2020; Pereira et al., 2020).

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Quadro 1: Principais propriedades da quitosana de origem crustácea.


Estrutura rígida de D-glucosamina
Alta cristalinidade
Insolúvel em água e solventes orgânicos
Solúvel em soluções ácidas aquosas diluídas
Propriedades quelantes e complexantes
Propriedades físicas e químicas Grupos reativos para reticulação e ativação química, sendo
que os principais grupamentos são amina e hidroxila
Base fraca; o grupo amino desprotonado atua como um
poderoso nucleófilo (pKa 6,3)
Capacidade de formar ligações de hidrogênio
intermolecularmente
Alta viscosidade
Biocompatibilidade
Baixa toxicidade
Propriedades biológicas Biodegradável
Adsorvível
Atividade antimicrobiana
Fonte: Adaptado Crini e Badot (2008)

Aplicações da quitosana
A quitosana pode ser aplicada em alimentos, produtos farmacêuticos,
biotecnologia, medicina, agricultura, remoção de poluentes emergentes de águas e
efluentes, dentre outros (Ahmed et al., 2020; Bakshi et al., 2020; Kumar, 2000), como
esquematizado na Figura 2. Sua ampla abrangência de aplicações é devido a
maleabilidade do polímero e a presença de grupos amina e hidroxila reativos, aliado a
diversas possibilidades de modificações (Bakshi et al., 2020).
Na indústria alimentícia, a quitosana tem sido utilizada como auxiliar no
controle da obesidade devido a sua capacidade de se ligar à gordura (Bakshi et al.,
2019; Kumar, 2000). Também tem sido empregada como aditivo alimentar,
conservante natural de carnes e bebidas (Bakshi et al., 2020).
Na indústria farmacêutica é utilizada como excipiente em formulações de
medicamentos, emulsificante em cosméticos e dentre outros produtos farmacêuticos
(Kumar, 2000). A quitosana também pode ser utilizada como transportadora no

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controle de liberação de drogas devido à sua natureza não tóxica e bioabsorvível


(Bakshi et al., 2020; Pereira et al., 2020).
Devido à propriedade de alta afinidade por proteínas e disponibilidade de
grupos funcionais reativos, a quitosana pode ser aplicada como suporte de
imobilização de enzimas, para reação direta com enzimas e modificação química
(Bakshi et al., 2020).
Além disso, a aplicação da quitosana como adsorvente não convencional no
tratamento de efluentes tem recebido considerável atenção (Melara et al., 2021;
Usman et al., 2021; Ahmed et al., 2020; Crini e Badot, 2008; Tan et al., 1998). Além de
ser utilizada na sua forma natural, também pode ser utilizada como matéria-prima na
formulação de compósitos adsorventes (Melara et al., 2021; Bakshi et al., 2020).
A utilização de compósitos adsorventes tem como objetivo amenizar
características desvantajosas da quitosana, como a baixa área superficial de 1,6 a 4,2
m²/g, baixa resistência mecânica e térmica, fraca estabilidade e solubilidade em
meios ácidos (Ahmed et al., 2020; Bakshi et al., 2020; Vakili et al., 2014; Piccin et al.,
2011; Crini e Badot, 2008). Sendo possível a atuação dos compósitos na remoção de
corantes, surfactantes, fármacos, defensivos agrícolas e metais pesados (Melara et al.,
2021; Upadhyay et al., 2021; Ahmed et al., 2020; Pereira et al., 2020; Bakshi et al.,
2020; Kumar, 2000). Desta forma, contribuindo para reduzir a contaminação de
recursos hídricos.

Figura 2: Principais aplicações da quitosana de origem crustácea.

Alimentos

Tratamento
Medicamentos
de águas

QUITOSANA

Biotecnologia Agricultura

Medicina

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Importância ambiental da quitosana e desafios


A utilização de adsorventes de baixo custo é uma alternativa eficaz e
econômica para a descontaminação da água (Ahmed et al., 2020; Crini e Badot, 2008).
Uma grande variedade de materiais adsorventes não convencionais foi estudada por
sua capacidade de remover diversos contaminantes emergentes (Ahmed et al., 2020;
Crini e Badot, 2008). Porém, o uso da quitosana como adsorvente é justificado pelas
seguintes vantagens: a) baixo custo em relação ao carvão ativado comercial; b)
apresenta excelente comportamento de quelação, sendo capaz de se ligar fortemente
a contaminantes, em particular a íons de metais pesados (Bakshi et al., 2020; Vakili et
al., 2014; Crini e Badot, 2008).
Além disso, a maioria dos polímeros comerciais e resinas de troca catiônica e
aniônica são derivados de matérias-primas à base de petróleo, no qual o
processamento nem sempre é seguro ou ecológico (Crini e Badot, 2008). Dessa forma,
o crescente interesse no desenvolvimento de alternativas naturais e de menor custo
ainda é uma necessidade atual.
Sabe-se que muitas fábricas de processamento de frutos do mar enfrentam um
problema relacionado ao descarte das carapaças de crustáceos, uma vez que a
biodegradação da quitina ocorre de forma lenta, resultando no acúmulo de grandes
quantidades de resíduos que, em muitos casos, são considerados poluentes
(Bontempi et al., 2021; Bakshi et al., 2020). Portanto, a utilização destes resíduos para
a obtenção de quitosana reduz o impacto ambiental causado pelo acúmulo nos locais
onde é gerado ou estocado (Bakshi et al., 2020).
A quitina é produzida comercialmente em diferentes países, como é o caso da
Noruega, Índia, Japão, Polônia e Austrália (Bakshi et al., 2020). Estima-se que 1010 a
1012 toneladas de quitina são produzidas anualmente na natureza, tornando-se uma
fonte de baixo custo e prontamente disponível (Bakshi et al., 2020). Dessa forma, a
desacetilação da quitina e conversão em quitosana, um produto de alto valor
agregado, é uma alternativa que vem sendo aplicada para diminuir os impactos
ambientais (Vallejo-Domíngues et al., 2021).
Porém, apesar de apresentar características ambientalmente interessantes, o
seu processo de produção apresenta algumas desvantagens. A conversão de quitina
em quitosana, como já mencionado anteriormente, geralmente envolve três etapas:
desmineralização, desproteinização e desacetilação (Vallejo-Domíngues et al., 2021;

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Moura et al., 2015; Weska et al., 2007). A primeira etapa requer tratamentos com
ácidos fortes como o ácido clorídrico (HCl), enquanto a segunda e a terceira etapa
requerem reações com bases fortes como o NaOH e o hidróxido de potássio (KOH)
(Vallejo-Domíngues et al., 2021). A grande desvantagem destas etapas é a geração de
efluentes e lodo devido aos produtos químicos empregados (Crini e Badot, 2008).
Dessa forma, seria desejável reduzir a quantidade de resíduos dessas reações sem
afetar as propriedades da quitosana.
Vallejo-Domíngues et al. (2021) estudaram a aplicação de um ultrassom na
produção de quitosana, mais especificamente na etapa de desproteinização, com o
intuito de diminuir a utilização de produtos químicos e obtiveram GD de 80,60; 92,86
e 94,03%. Assim, esses resultados sugerem uma boa alternativa para a obtenção de
quitosana, com redução no consumo de reagentes.
Outras fontes, como leveduras e fungos podem ser empregadas para a obtenção
da quitosana, podendo ser facilmente cultivados em meios de cultivo simples e
utilizados como uma fonte alternativa de quitosana (Berger et al., 2020; Machado et
al., 2020; Crini e Badot, 2008, Suntornsuk et al., 2001).
Porém, outro desafio é a dificuldade de aplicação da quitosana no tratamento de
efluentes reais, uma vez que o processo é difícil de ser transferido para larga escala
(Crini e Badot, 2008). Isso é devido as características da quitosana não se
apresentarem de forma uniforme e da dificuldade em controlar a reprodutibilidade
de maneira análoga desse biopolímero (Crini e Badot, 2008). Assim, sendo necessário
uma padronização do processo de produção (Crini e Badot, 2008). Desta forma, fica
evidente a necessidade da análise dos aspectos positivos e negativos deste
biopolímero, para que estudos visando um processo mais sustentável no viés
ambiental e econômico, sejam possíveis de serem realizados.

Relações entre a quitosana e os objetivos do desenvolvimento sustentável


Os 17 ODS são uma solicitação da Organização das Nações Unidas (ONU) que
deriva de três pilares: economia, sociedade e meio ambiente, e que objetiva alcançar a
sustentabilidade da humanidade (Bontempi et al., 2021; Halkos e Gkampoura, 2021).
Embora os ODS sejam reconhecidos como prioridade na maioria dos países, sua
implementação avança em níveis diferentes e com inúmeras dificuldades, também
devido ao contexto pandêmico que vem sendo enfrentado (Bontempi et al., 2021).

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No atual contexto global torna-se evidente a preocupação com o meio


ambiente, e a busca por novos materiais de fontes renováveis, origem residual e que
impactem menos na poluição global (Bontempi et al., 2021). Assim, novos estudos
envolvendo a aplicação da quitosana vêm sendo realizados (Bontempi et al., 2021;
Vallejo-Domíngues et al., 2021; Upadhyay et al., 2021; Ahmed et al., 2020). Isso deve-
se, principalmente, por ser uma matéria-prima renovável, proveniente de resíduos
agroindustriais e por apresentar propriedades satisfatórias relacionadas a algumas
aplicações, como é o caso da adsorção (Kumar, 2000).
A quitosana pode ser relacionada de forma direta e indireta com os ODS.
Levando em consideração as metas de cada objetivo, o biopolímero está diretamente
relacionado com os ODS 6, 9, 12, 14 e indiretamente conectado aos ODS 8, 11 e 17,
conforme apresentado na Figura 3.

Figura 3: Relações da quitosana com os ODS

DIRETAMENTE INDIRETAMENTE

O acesso a serviços de água e saneamento é um direito humano inegável, uma


vez que é necessário para manter as condições básicas de vida. Muitas comunidades
ao redor do mundo dependem de fontes de água contaminadas, e muitas vezes com
presença de compostos que causam danos à saúde humana (Bontempi et al., 2021). A
exemplo disso, pode-se citar contaminantes emergentes como, corantes, defensivos
agrícolas, metais pesados e fármacos (Upadhyay et al., 2021; Usman et al., 2021;
Ahmed et al., 2020; Bakshi et al., 2020; Pereira et al., 2020). Alguns desses
contaminantes são difundidos nas águas superficiais e subterrâneas, devido à sua

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estabilidade e hidrofilicidade, podendo persistir também nas estações de tratamento


de efluentes (Bontempi et al., 2021). Neste caso, a técnica de adsorção pode ser
aplicada através da utilização de adsorventes não convencionais, como a quitosana,
apresentando um bom desempenho no sequestro de contaminantes em matrizes
hídricas (Vallejo-Domíngues et al., 2021; Crini e Badot, 2008). Assim, a quitosana
pode ser relacionada com o ODS 6, contribuindo para assegurar a melhoria na
qualidade da água e promovendo a proteção de ecossistemas aquáticos (Halkos e
Gkampoura, 2021).
Além disso, a quitosana está diretamente associada com o desenvolvimento de
tecnologias e inovações, uma vez que pesquisas apontam para técnicas de obtenção
mais sustentáveis, com maior rendimento e aplicações com maior eficiência e menor
custo (Bontempi et al., 2021; Vallejo-Domíngues et al., 2021). Isso também contribui
para o alcance do ODS 9, que prevê a industrialização, inovação e infraestrutura de
maneira mais sustentáveis (Halkos e Gkampoura, 2021).
Materiais sustentáveis podem ser definidos como aqueles que derivam de
recursos renováveis e que o impacto para a extração e produção sobre a sociedade e o
meio ambiente seja zero ou mínimo (Bontempi et al., 2021). Com relação a quitosana,
este objetivo se refere a um desafio que deve ser superado, tornando o processo de
obtenção da quitosana o mais sustentável possível e contribuindo para o ODS 12, o
qual se refere ao consumo e a produção sustentável (Halkos e Gkampoura, 2021).
Atualmente a maior produção de quitosana provém de crustáceos (Crini e
Badot, 2008), dessa forma, a produção de quitosana pode ser relacionada ao ODS 14,
vida na água. Este ODS visa a preservação de ecossistemas aquáticos, o
desenvolvimento sustentável de pessoas que tem como renda a pesca e extinguir com
a pesca não regulamentada.
Quando avaliada as metas propostas pelos ODS 8 (trabalho decente e
crescimento econômico), ODS 11 (cidades e comunidades sustentáveis) e ODS 17
(parcerias e meios de implementação), a quitosana se relaciona de forma indireta
com estes.
No ODS 8 algumas metas a serem alcançadas com o desenvolvimento de
pesquisas relacionadas a quitosana seriam o desenvolvimento de novos empregos,
aumentar a eficiência de produção e consumo, dissociando assim o crescimento
econômico e a preservação ambiental. Para cidades e comunidades sustentáveis, ODS

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11, com a produção de compostos adsorventes para tratamento de águas e efluentes,


a população poderia ter acesso a recursos hídricos e água potável de melhor
qualidade. Já para o ODS 17, parcerias internacionais podem promover e disseminar o
desenvolvimento científico e tecnológico.

CONCLUSÕES

A quitosana apresenta propriedades que permitem sua aplicação em diversas


áreas, auxiliando na redução de resíduos e para que mais pessoas tenham acesso a
água limpa e de qualidade. Desta forma, é evidente que o aprimoramento de técnicas
de obtenção e de aplicação deste biopolímero impactam no alcance dos ODS,
contribuindo para a sustentabilidade e economia das sociedades, promovendo uma
melhor qualidade de vida. Além disso, a obtenção e uso da quitosana contribui para o
alcance de metas dos ODS, sendo diretamente relacionada aos ODS 6, 9, 12 e 14, e
indiretamente com os ODS 8, 11 e 17.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES – Código Financeiro 001), Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPQ) e a Universidade de Passo Fundo (UPF).

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CAPÍTULO 27
SURFACTANTES NATURAIS
NA RECUPERAÇÃO
AVANÇADA DO PETRÓLEO

Bianca Floriano da Rocha1


João Victor Nicolini2

1
Graduanda em Engenharia de Materiais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, email: biancaflorianod@gmail.com, ID Lattes:
1475770697511635.
2
Professor do Departamento de Engenharia Química, Instituto de Tecnologia, Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, email:
jvnicolini@gmail.com, ID Lattes: 0525713504125196.

412
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SURFACTANTES NATURAIS NA RECUPERAÇÃO AVANÇADA DO PETRÓLEO

RESUMO

Surfactantes são moléculas frequentemente empregadas na recuperação avançada do


petróleo, por serem capazes de gerar alteração da tensão interfacial e da
molhabilidade. Devido à atual demanda e incentivo do uso preferencial de
substâncias não nocivas ao meio ambiente, surfactantes naturais têm sido uma
possibilidade de substituição aos surfactantes sintéticos comumente usados, visto
que são considerados atóxicos, biodegradáveis, além de economicamente viáveis e de
apresentam resultados iguais ou superiores aos advindos de fonte petrolífera. Desta
forma, este capítulo foi elaborado através de um levantamento bibliográfico acerca de
surfactantes naturais, suas propriedades, emprego e benefícios na recuperação
avançada do petróleo; certificando a viabilidade e eficácia de seu uso.
Palavras-chave: Surfactantes naturais. Recuperação Avançada de Petróleo. Tensão
interfacial. Molhabilidade.

NATURAL SURFACTANTS IN ENHANCED OIL RECOVERY

ABSTRACT
Surfactants are molecules often used in Enhanced Oil Recovery, as they can alter
interfacial tension and wettability. Due to the current demand and incentive for the
preferential use of substances that are not harmful to the environment, natural
surfactants have been a possible replacement for commonly used synthetic
surfactants, as they are considered non-toxic, biodegradable, and they are
economically viable and presents equal or superior results to those coming from an
oil source. Thus, this chapter was elaborated through a bibliographical survey about
natural surfactants, their properties, employment and benefits in Enhanced Oil
Recovery, certifying the feasibility and effectiveness of its use.
Key-words: Natural Surfactants. Enhanced Oil Recovery. Interfacial Tension.
Wettability.

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INTRODUÇÃO

Os processos de recuperação de petróleo são divididos entre métodos


primários, secundários e os métodos de recuperação avançada. Os métodos primários
são aqueles que utilizam a própria energia do reservatório para a extração do
petróleo; e os métodos secundários são os que utilizam injeção de fluidos do próprio
reservatório, principalmente água, para a recuperação. No entanto, somado esses dois
métodos, há um percentual de extração de até 45%, ou seja, a maior parte do óleo do
reservatório permanece retido nos poros da rocha, devido a fortes forças interfaciais
(Bachari et al., 2019). A grande maioria dos reservatórios tem por característica
natural ser oil-wet, ou seja, sua superfície tende à interação com óleo. Por esta razão,
o petróleo é fortemente aderido aos poros dessas rochas reservatórios, cujo
mecanismo se dá através de altas forças capilares e forças viscosas (Hernández e
Andrés, 2018; Atta et al., 2020).
A alta demanda energética atual, estimula o emprego e estudo de métodos de
recuperação avançada do petróleo (Enhanced oil recovery – EOR), os quais reduzem
as forças capilares e causam mudanças nas condições de molhabilidade do
reservatório, para uma condição water-wet, ou seja, a criação de um filme fino de
água entre o óleo e a rocha, conforme é ilustrado na Figura 1A (Hernández e Andrés,
2018; Atta et al., 2020). Dentre os métodos de EOR existentes, os surfactantes vêm
sendo amplamente utilizados. Isto porque o fluido de recuperação com surfactante irá
interagir na interface com o óleo, tendendo a alterar as condições iniciais do
reservatório. Dessa maneira, tenderá tanto a diminuição da tensão interfacial
(interfacial tension – IFT) entre o óleo e a água injetada, quanto a alteração da
molhabilidade devido ao fenômeno de auto-organização dos surfactantes na interface
devido sua característica estrutural anfifílica. A Figura 1B apresenta a estrutura e
classificação dos surfactantes (Teklu et al., 2016).
Além disso, todas essas variáveis estarão sujeitas ao tipo de surfactante
escolhido, tipo de rocha e temperatura do interior do reservatório, de modo que esse
conjunto determinará parâmetros como estabilidade térmica e adsorção, também
importantes na otimização da extração de petróleo (Ogolo et al., 2012; Rodrigues,
2013).
Embora surfactantes sejam bastante utilizados, sua grande maioria é
proveniente de fonte petrolífera, e por essa razão, são nocivos ao ambiente, além de

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possuírem elevado custo. Nesse cenário, há estudos atuais em que se abre a


possibilidade de substituir surfactantes sintéticos por surfactantes naturais,
derivados de extratos, óleos e resíduos naturais, pois estes são biodegradáveis,
viáveis economicamente, são considerados eco-friendly e possuem excelentes
propriedades superficiais (Atta et al., 2020). Dessa forma, este capítulo tem como
objetivo levantar os principais surfactantes naturais que atualmente estão sendo
estudados para aplicação em EOR, bem como suas principais características e
propriedades.

Figura 1: (A) Condições de molhabilidade de um reservatório de petróleo; (B)


Estrutura e classificação dos surfactantes.

REVISÃO DA LITERATURA

Surfactantes são moléculas anfifílicas, por possuírem em sua estrutura, uma


parte polar e uma parte apolar (Figura 1B). Podem ser sintéticos, oriundos
principalmente por derivados de petróleo, assim como também podem ser naturais.
Surfactantes naturais são moléculas originadas tanto por fontes animais ou vegetais,
sendo esta segunda a forma mais comum de ser encontrada, principalmente sob
forma de óleos naturais extraídos de plantas e resíduos de óleos vegetais (Foley et al.,
2012). A maioria dos óleos vegetais contém resíduos de ácidos graxos triglicerídeos.
Ao reagir um ácido graxo com metanol ou etanol, obtém-se um éster metílico ou
etílico, respectivamente (Yusoff et al., 2014). Além disso, outra fonte de surfactantes
naturais são os aminoácidos que podem ser obtidos de plantas e animais (Foley et al.,
2012).
Assim como ocorre na classificação de surfactantes sintéticos, surfactantes
naturais também são classificados conforme característica de sua parte polar

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estrutural: iônica ou não-iônica. A Tabela 1 compila os principais tipos de


surfactantes naturais encontrados na literatura e suas propriedades.

Tabela 1: Surfactantes naturais e suas propriedades.


Surfactante natural Propriedades
Aniônicos
Éster metílico sulfonato de sódio (SMES)
Éster metílico sulfonado (MES) Estáveis em alta salinidade;
Éster etílico sulfonato de sódio (SEES) Melhor balanço hidrofílico-lipofílico, com
Éster etílico alfa sulfonato alta; Detergência, emulsificação e
MES epoxidado de sódio umectação;
Sulfato de alcoxilato Redução da tensão interfacial para
Alquil etoxicarboxilato ultrabaixa;
Baixa tolerância a temperatura;
Hidrofobinas
Surfactantes à base de aminoácidos
Catiônicos
Extrato de Seidlitzia rosmarinus
Reduz razoavelmente a IFT, mas não tão
Extrato de folhas de amoreira
baixo quanto o necessário para EOR;
Extrato de folha de hena
Alcalina por natureza;
Extrato de espistão
Pode alterar a molhabilidade da rocha;
Extrato de folha de prosopis
Boa atividade de superfície;
Extrato de azeitona
Não-iônico
CMC baixa; boa atividade de superfície;
Reduz moderadamente a IFT;
Saponinas Boa capacidade de umedecimento e
Alquilpoliglucosídeos formação de espuma; aumento da
Surfactantes à base de ácido tânico e à atividade de superfície na presença de
base de ácido gálico nanopartículas; capaz de formar
emulsões estáveis;
Tolerante à salinidade e T.
Zwitteriônico
N-fenil-graxo-amido-propil-N, N- Resistência à temperatura;
dimetil-carboxil betaína (CPDB) Boa capacidade de espumação e
N-fenil amido-propil-N, N-dimetil- molhabilidade;
carboxil-betaína (PFAPMB) Forte atividade interfacial;
N-amida alifática-N, N-dietoxi-propil Forte resistência a eletrólitos;
sulfonato (NDPSS) Boa atividade interfacial em alta
Cardanol-betaína salinidade e alta temperatura;
Tensoativo aniônico-não iônico à base CMC baixo; pode fornecer IFT ultrabaixo.
de açúcar (DAGA-ES)

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Surfactantes naturais aniônicos têm por característica apresentar cabeça polar


com a presença de íons negativos, sendo comum sua produção partindo de fontes
ricas em ésteres sulfonados, ésteres etílicos e metílicos, como os aminoácidos
oriundos de ácidos graxos de origem de óleos naturais (Hirasaki et al., 2011).
Surfactantes naturais catiônicos, de maneira similar, possui em sua estrutura a cabeça
polar com íons positivos. São obtidos principalmente através de extratos vegetais
como folhas de amoreira e folhas de oliveira, principalmente pelo método de extração
Soxhlet, onde é possível a extração de lipídios no estado sólido (Atta et al., 2020).
Já a classe de surfactantes naturais não-iônicos são aqueles em que na parte
polar estrutural há ausência de cargas e íons. Dessa forma, os surfactantes não iônicos
mais conhecidos são formados pelas chamadas saponinas, que são glicosídeos
esteróides ou triterpênicos, e por poliglicosídeos alquílicos onde sua parte estrutural
hidrofílica são formados por sacarídeos, e a parte hidrofóbica são formadas por
álcoois graxos (Atta et al., 2020). Surfactantes naturais anfóteros ou zwitteriônicos
são os surfactantes que possuem em sua parte polar cargas negativas e cargas
positivas. Estes são menos comuns, sendo o mais conhecido o N-dimetil-carboxil
betaína (CPDB), extraído através do óleo de rícino (Atta et al., 2020).

Concentração Micelar Crítica (CMC) dos surfactantes naturais

A formação de micelas em baixas concentrações é economicamente importante


pois a CMC é a concentração no qual o surfactante tem melhor desempenho em
termos de atividade de superfície e redução da tensão interfacial com o óleo. Esta
concentração é usada para decisões subsequentes no uso de surfactantes em EOR.
Como resultado, CMCs mais elevadas representam mais consumo de surfactante e
custos mais elevados (Nowrouzi et al., 2020). A Figura 2 apresenta um compilado das
CMC de surfactantes naturais não-iônicos, aniônicos e catiônico encontrados na
literatura. Comparando os resultados de CMC, observam-se diferenças entre os tipos
de surfactante e dentro da mesma classe. Estas diferenças podem ser relacionadas
aos seguintes aspectos: (1) Estrutura dos surfactantes. Os surfactantes são moléculas
anfifílicas, o que significa que eles têm uma estrutura molecular com dois
comportamentos de solubilidade diferentes, uma cauda hidrofóbica e uma cabeça
hidrofílica (Nowrouzi et al., 2020b); (2) Fonte de extração. Grande parte dos valores
de CMC dos extratos à base de plantas, que é o caso dos surfactantes não iônicos é

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mais alto em comparação com os surfactantes à base de óleo natural, que é o caso de
surfactantes aniônicos e catiônicos; (3) Técnica de extração e purificação. Para
extração e purificação dos surfactantes podem empregadas diferentes técnicas como
extração por Soxhlet, maceração, spray drying, extração ultrassônica, hidrólise,
esterificação-transesterificação, dentre outras. Os extratos sempre apresentam
impurezas que podem prejudicar o desempenho dos surfactantes. Por exemplo, a
maioria dos extratos vegetais contém alguns coagulantes naturais, como taninos
causam sua inativação e deposição por adsorção de moléculas de surfactante. Isso
evita a absorção de moléculas de surfactante na interface água-óleo e reduzem a
quantidade de material eficaz na redução da tensão interfacial (Nowrouzi et al.,
2020); (4) Técnica de determinação da CMC. Para mensurar a CMC podem ser
empregadas técnicas baseadas nas medidas de pH, condutividade elétrica, turbidez,
densidade, tensão superficial e tensão interfacial.

Figura 2: Concentração micelar crítica de surfactantes naturais relatados na


literatura.

Número de referência: Surfactantes naturais não iônicos derivados de [1] Folhas de Zyziphus Spina Christi - Ali
Ahmadi e Shadizadeh, 2018, [2] Raízes de Glycyrrhiza Glabra - Ali Ahmadi et al., 2015, [3] Glucosamina - Haghighi
et al., 2020, [4] Glucosamina - Haghighi & Firozjali, 2020, [5] Folhas de Anabasis Setifera - Nowrouzi et al., 2020,
[6] Folhas de Soapwort - Nowrouzi et al., 2020b, [7] Folhas de Alfafa - Eslahati et al., 2020, [8] Folhas de Zizyphus
Spina Christi - Emadi et al., 2019, [9] Folhas de Tribulus Terrestris - Moradi et al., 2019, [10] Extrato de folha de
amoreira - Moslemizadeh et al., 2016; aniônicos derivados de [11] Óleo de Madhuca longifolia - Saxena et al., 2019,
[12] Folhas de Zizyphus spina-christi - Emadi et al., 2017, [13] Óleo de coco - Pal et al., 2018, [14] Glicerina bruta -
Prates et al., 2021; catiônicos derivados de [15] Folha de hena - Mehdi et al., 2015, [16] Folha de oliveira, [17]
Folha de Spistan , [18] Folha de Prosopis - Ghahfarokhi et al., 2015; e sintéticos [19] SDS, [20] C16TAB, [21] Triton
X-100 - Ali Ahmadi et al., 2015.

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Tensão Interfacial dos surfactantes naturais

A tensão interfacial entre o petróleo bruto preso nos poros da rocha e o fluido
injetado desempenha um papel significativo na eficiência do deslocamento do óleo. A
injeção da solução de surfactante facilita a mobilização do óleo residual através da
redução da tensão interfacial na interface óleo-meio aquoso, aumentando o número
capilar. Baixo número capilar significa que o óleo está fortemente preso nos poros da
rocha, devido as altas forças capilares (Saxena et al., 2019b). Quando um surfactante
encontra dois fluidos imiscíveis, como o óleo bruto e a água, suas moléculas se
posicionam na interface, diminuindo a energia livre do sistema e reduzindo a IFT,
conforme observado na Figura 3A (Sheng, 2015). Os estudos têm mostrado que os
surfactantes a partir de fontes naturais ou renováveis tem excelente potencial em
reduzir a IFT, conforme os resultados na Figura 4. Por isso, poderiam ser um possível
substituto para os surfactantes sintéticos convencionais.

Figura 3: (A) Mecanismos de redução da IFT, com óleo preso nos poros da rocha
devido a alta IFT e escoamento do óleo pela redução da IFT; (B) Mecanismo de
adsorção de surfactantes aniônicos em (a) rochas de carbonato (cargas positivas) ou
arenito (cargas negativas) e (b) na presença de cátions; e (C) alteração da
molhabilidade.

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Figura 4: Tensão interfacial entre a água e fases apolares antes e após adição de
surfactantes naturais em suas respectivas CMCs relatados na literatura. Os círculos
representam os percentuais de redução da IFT.

Surfactantes naturais não iônicos derivados de [1] Folhas de Zyziphus Spina Christi - Ali Ahmadi & Shadizadeh,
2018, [2] Glucosamina - Haghighi et al., 2020, [3] Glucosamina - Haghighi & Firozjali, 2020, [4] Folhas de Anabasis
Setifera - Nowrouzi et al., 2020, [5] Folhas de Soapwort - Nowrouzi et al., 2020b, [6] Folhas de Alfafa - Eslahati et
al., 2020, [7] Folhas de Zizyphus Spina Christi - Emadi et al., 2019, [8] Folhas de Tribulus Terrestris - Moradi et al.,
2019; aniônicos derivados de [9] Óleo de Madhuca longifolia - Saxena et al., 2019, [10] Folhas de Zizyphus spina-
christi - Emadi et al., 2017, [11] Glicerina bruta - Prates et al., 2021; catiônicos derivados de [12] Folha de hena -
Mehdi et al., 2015, [13] Folha de oliveira, [14] Folha de Spistan , [15] Folha de Prosopis - Ghahfarokhi et al., 2015.

Adsorção de surfactantes naturais em rochas

Para que os processos de EOR sejam econômicos, os níveis de adsorção do


surfactante devem estar abaixo de 1mg/g de rocha, mas valores variando de 3 e 8
mg/g de rocha ainda são satisfatórios (Kamal et al., 2017). A adsorção de surfactantes
nas rochas é controlada pelo pH, temperatura, tipo de surfactante utilizado e sua
concentração, características morfológicas e mineralógicas da rocha, tipo de
eletrólitos presentes no meio e sua força iônica (Nandwani et al., 2019). Para prever
este fenômeno com tantas variáveis, a adsorção do surfactante é frequentemente
descrita por isotermas. As isotermas mostram a quantidade de adsorbato
(surfactante) adsorvido no absorvente (rocha). Diferentes tipos de isotermas de
adsorção são estudadas, dentre elas Freundlich, Langmuir e Temkin e modelos
lineares (Ahmadi & Shadizadeh, 2015). A Tabela 2 apresenta alguns estudos sobre a
adsorção de surfactantes naturais em amostras de rocha, como arenito e carbonato, e
principais variáveis.

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Tabela 2: Estudos de adsorção de surfactantes naturais em rochas.


qmax*
Surfactante Rocha Condições Referência
(mgSurf/grocha)
Não-iônico
T = 105ºC na CMC
33
(3,2%) Ahmadi &
Extrato de Carbonato T = 105ºC na CMC Shadizadeh,
folhas de 53 (3,2%) em 10000 2018
Zyziphus ppm de MgCl2.
Spina Christi T = 25ºC na CMC Ahmadi &
Arenito 25 (3,4%). Atingiu Shadizadeh,
equilíbrio em 4 h. 2015
Extrato de
folhas de T = 25ºC na CMC Moslemizadeh
extrato de Argila 26 (1,7%). Atingiu et al., 2016
folha de equilíbrio em 3 h.
amoreira
Aniônico
T = 28ºC na CMC
30,58
Extrato de (0,8g/L) Curbelo et al.,
Arenito
óleo de coco T = 60ºC na CMC 2020
5,89
(0,8g/L)
Ácidos graxos
T = 25ºC na CMC Prates et al.,
livres da Arenito 2,9 g/kg
(0,05%) 2021
glicerina bruta
Arenito 20 T = 25ºC na CMC (8
Óleo de noz- Carbonato 45 g/L) Saxena et al.,
sabão T = 25ºC na CMC (8 2019
Argila 50
g/L)
*qmax: quantidade máxima de surfactante adsorvida na rocha.

A maioria dos estudos envolvendo os surfactantes naturais, são empregados


com extrato vegetais. Estes extratos, além dos surfactantes naturais, como a saponina,
contém uma série de constituintes que torna difícil um consenso sobre o mecanismo
de adsorção (Moslemizadeh et al., 2016). A adsorção pode ocorrer na superfície das
rochas devido à interação eletrostática, interações de van der Waals e interações
hidrofóbicas que surgem entre o surfactante e a superfície sólida (Kamal et al., 2017).
Por exemplo, as saponinas contêm vários grupos hidroxila. Desta forma, em
superfícies carregadas positivamente como dolomita (Ahmadi & Shadizadeh, 2018) e
montmorilonita (Moslemizadeh et al., 2016), pode ocorrer a interação entre estes

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grupos com estes minerais através da ligação de hidrogênio com o siloxano, conforme
ilustrado na Figura 3B.

Alteração da molhabilidade por surfactantes naturais

Quando os componentes polares do óleo bruto, como asfaltenos e resinas, são


adsorvidos na superfície da rocha, o óleo fica fortemente aderido à rocha (conhecida
como oil-wet), impedindo que o óleo flua no reservatório. Dependendo dos
parâmetros do método de injeção e reservatório, os surfactantes podem adsorver por
diferentes mecanismos. Sabe-se que adsorção excessiva não é desejável para um
processo ser econômico (Barati-Harooni et al., 2016). No entanto, em algumas
situações, esta adsorção mostra-se eficaz na modificação das condições de
molhabilidade oil-wet para condições em que se crie um filme de água entre o óleo e a
rocha (water-wet) e o óleo flua com facilidade pelo reservatório, conforme Figura 3C.
O surfactante natural aniônico extraído do óleo de coco, o Éster etílico sulfonato
de sódio (SEES), mostrou capacidade de alteração das condições de molhabilidade de
rocha-reservatório, por meio de medidas de ângulo de contato. As condições de
molhabilidade alteraram devido às interações entre o surfactante e as partes polares
dos componentes do óleo cru, e posteriormente interações hidrofóbicas entre o
surfactante e a superfície de quartzo, deslocando o óleo da rocha (Pal et al., 2018).
Para surfactantes não-iônicos, dois mecanismos são apontados como principais para
alteração da molhabilidade: a parte hidrofóbica do surfactante atrai as moléculas de
resina/asfalteno que existem na fase oleosa. Essa atração promoveria as moléculas
em direção à interface óleo-salmoura. Uma substituição entre os compostos orgânicos
dessorvidos na fase oleosa e os surfactantes não iônicos na salmoura ocorreria e
eventualmente a superfície da rocha sofre uma alteração de molhabilidade como
resultado deste processo (Eslahati et al., 2020, Moradi et al., 2019).

Estabilidade Térmica de surfactantes naturais

Os surfactantes naturais além dos benefícios já conhecidos como ser mais


barato e menos nocivo ao ambiente por ser biodegradável, se comparado aos
surfactantes sintéticos, possuem uma excelente estabilidade térmica. Dessa forma,
são hábeis para suportar ambientes críticos como altas temperaturas, sem
degradação química e estrutural e sem perdas de propriedades físico-químicas, como

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é o caso nos ambientes em reservatórios de petróleo (Atta et al., 2020). A


temperatura influencia na atividade térmica das moléculas de surfactantes,
facilitando na solubilização das moléculas, consequentemente influenciando na
capacidade do surfactante em reduzir a IFT (Pal et al., 2018). Além disso,
desempenha um papel importante na adsorção do surfactante na rocha (Ali Ahmadi &
Shadizadeh, 2018).
Surfactantes aniônicos derivados de ácidos graxos extraídos de óleos naturais
possuem ésteres etílicos sulfonados e ésteres metílicos sulfonados, cuja produção se
dá em grande parte por reações de esterificação ou transesterificação, seguidas de
reações de sulfonação. Essa reação proporciona a presença de grupos contendo íons
sulfonato, trazendo à parte hidrofílica do surfactante a característica aniônica, o que
favorecerá a estabilidade térmica (Atta et al., 2020). Saxena e colaboradores (2019b)
mostraram em seu estudo que os valores ultrabaixos de IFT entre a solução de
surfactante, derivado a partir de noz-sabão (na CMC = 0,8 % em peso), e óleo bruto
foram mantidos mesmo após 15 dias à 90°C. A solução surfactante mantém sua
capacidade de redução de IFT após um longo período em condições de alta
temperatura (Saxena et al., 2019b).

CONCLUSÕES

Conforme verificado, os surfactantes naturais se apresentam atóxicos, eco-


friendly e de baixo custo. A confirmação da eficácia do uso de surfactantes naturais
pôde ser avaliada por diversos testes experimentais em medidas de tensão interfacial,
adsorção, alteração da molhabilidade, estabilidade térmica e na presença de sais, de
modo que seus resultados se mostraram iguais ou superiores quando comparados à
surfactantes sintéticos. Desta forma os surfactantes de origem natural se mostram
aplicáveis em métodos de EOR.

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CAPÍTULO 28

PERSISTÊNCIA FOTOQUÍMICA
AMBIENTAL DE PESTICIDAS
EM ÁGUAS SUPERFICIAIS:
UMA ABORDAGEM HÍBRIDA
EXPERIMENTAL-
COMPUTACIONAL

Carolina Mendes Rocha1


Arlen Mabel Lastre-Acosta2
Bruno Ramos3
Isadora Luiza Climaco Cunha4
Antonio Carlos Silva Costa Teixeira5

1
Mestranda em Engenharia Química, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo
(USP), São Paulo, SP, e-mail: carolinamr@usp.br, ID Lattes: 2334815207284041.
2
Pesquisadora do Departamento de Engenharia Química, Escola Politécnica, Universidade
de São Paulo (USP), São Paulo, SP, e-mail: arlenlastre@gmail.com, ID Lattes:
5647666321325132.

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3
Pesquisador do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, e-mail:
bruno.ramos@usp.br, ID Lattes: 12345678910111215.
4
Doutoranda em Engenharia Química, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo
(USP), São Paulo, SP, e-mail: isadoracunha@usp.br, ID Lattes: 0384845192757658.
5
Professor do Departamento de Engenharia, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo
(USP), São Paulo, SP, e-mail: acscteix@usp.br, ID Lattes: 0487846437293173.

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PERSISTÊNCIA FOTOQUÍMICA AMBIENTAL DE PESTICIDAS EM ÁGUAS SUPERFICIAIS:


UMA ABORDAGEM HÍBRIDA EXPERIMENTAL-COMPUTACIONAL

RESUMO
Os pesticidas são considerados poluentes de preocupação emergente. Quando
lançados em corpos d’água, podem causar efeitos adversos à saúde do ser humano e
ao meio ambiente, ainda que em concentrações residuais. A degradação fotoquímica
promovida pela radiação solar e a ação de espécies intermediárias reativas (radicais
hidroxila, HO●; oxigênio singlete, ; e estados excitados triplete da matéria
orgânica cromofórica dissolvida, ) têm papel fundamental na persistência de
poluentes em águas naturais. Dessa forma, esta revisão da literatura busca contribuir
para o entendimento da persistência fotoquímica ambiental desses poluentes. A
revisão foi estruturada em quatro seções: pesticidas; degradação fotoquímica de
poluentes orgânicos; determinação de constantes cinéticas das reações entre
pesticidas e espécies intermediárias reativas; e persistência fotoquímica dos
pesticidas.
Palavras-chave: Pesticidas. Fotodegradação. Espécies Intermediárias Reativas. Águas
Superficiais. Persistência Fotoquímica Ambiental.

ENVIRONMENTAL PHOTOCHEMICAL PERSISTENCE OF PESTICIDES IN SURFACE


WATER: AN EXPERIMENTAL-COMPUTATIONAL HYBRID APPROACH

ABSTRACT
Pesticides are considered pollutants of emerging concern. When released into water
bodies, they can cause adverse effects to human health and the environment, even in
residual concentrations. Photochemical degradation promoted by solar radiation and
the action of reactive intermediate species (hydroxyl radicals, HO●; singlet oxygen,
; and the triplet excited states of chromophoric dissolved organic matter,
) play a fundamental role in the persistence of pollutants in natural waters.
In this context, this literature review seeks to contribute to the understanding of the
persistence of environmental photochemistry of these pollutants. The review was
structured in four sections: pesticides; photochemical degradation of organic
pollutants; determination of the kinetic constants of the reactions between pesticides
and reactive intermediate species; and photochemical persistence of pesticides.
Key-words: Pesticides. Photodegradation. Reactive Photo-Induced Species. Surface
Water. Environmental Photochemical Persistente.

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1. INTRODUÇÃO
Com o crescimento populacional, tem aumentado a demanda da população por
alimentos de qualidade e, em consequência, têm sido cada vez mais utilizados
pesticidas para controle de pragas durante o cultivo de frutas e vegetais. Atualmente,
o Brasil é um dos maiores produtores agropecuários do mundo e, desde 2008, o
maior consumidor mundial de pesticidas (Albuquerque et al., 2016), tendo sido
consumidas cerca de 620.000 toneladas de ingredientes ativos (IA) somente no ano
de 2019 (IBAMA, 2019).
Em relação à saúde humana, muitos são os efeitos associados da exposição aos
pesticidas, o mais preocupante é a intoxicação crônica, caracterizada por
infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade e desregulação
hormonal (Oliveira et al., 2014). Muitos pesticidas são também classificados como
perturbadores endócrinos, podendo interferir no funcionamento normal do sistema
endócrino de seres humanos e animais (Parizi et al., 2018). Por essa razão, o
acompanhamento da presença de agrotóxicos em águas superficiais se faz necessário,
a fim de garantir a qualidade da água e a segurança da saúde pública.
A persistência ambiental de pesticidas em águas superficiais está condicionada
à sua interação com os compostos encontrados no ambiente aquático (Parizi et al.,
2018). Sabe-se que a cinética de transformação devida a processos abióticos e
biológicos é um dos principais fatores de atenção quando se estuda a persistência de
um composto em água. A hidrólise e as reações fotoquímicas podem representar uma
das principais vias de remoção de compostos em água (Schwarzenbach et al., 2003).
Nesse contexto, esta revisão tem como objetivo descrever a persistência dos
pesticidas em águas superficiais por meio do entendimento de sua degradação
fotoquímica.

2. PESTICIDAS
2.1. Vias de entrada e ocorrência de pesticidas no meio ambiente
Concentrações residuais de pesticidas vêm sendo detectadas globalmente em
águas naturais, como rios, lagos, reservatórios de abastecimento e águas
subterrâneas (Miranda et al., 2019). Montagner et al. (2019) identificaram a presença
de 58 compostos em águas superficiais no Estado de São Paulo no período de 2006 a
2015, dentre os quais 17 eram pesticidas. A presença desse tipo de poluentes pode

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acarretar dificuldade para assegurar água de qualidade para a população, uma vez
que a maioria das estações de tratamento de água no Brasil não possui tecnologias
necessárias para a remoção dos mesmos. Essa situação é agravada, muitas vezes, pelo
descumprimento às normas de segurança para manipulação e aplicação (Melo et al.,
2010).
A entrada dos pesticidas nos corpos d’água se dá por meio do carreamento de
partículas do solo, uso extensivo na agropecuária, lançamento de esgoto sem prévio
tratamento e controle de ervas aquáticas, que envolve aplicação direta no meio
aquático (Melo et al., 2010; Dores e Freire, 1999;). O carreamento de pesticidas em
solo ocorre por escoamento superficial, em razão do excesso de água de chuva não
absorvida, que escoa sobre sua superfície, carregando resíduos de pesticidas para
regiões mais baixas, tais como lençóis freáticos (Dores e Freire, 1999).
Com relação à frequência de pesticidas no ambiente, essa se relaciona ao revelo
e ao tipo de cobertura vegetal, quantidade de precipitação versus taxa de infiltração
da água no solo, propriedades físico-químicas do solo e do pesticida e a taxa de
aplicação (Melo et al., 2010). Esses fatores são agravados pela forma de agricultura
adotada no país, em que se tem a ocupação de extensas áreas de monocultura, com
altas taxas de produtividade por hectare com regimes intensos de adubação e
irrigação, resultando na redução de cobertura vegetal e, consequentemente,
desequilibrando os ciclos biogeoquímicos e condições climáticas (Carneiro et al.,
2015). Além disso, os resíduos de embalagens descartadas de forma irregular e/ou
deixadas de forma incorreta em aterros e lixões podem contaminar os solos pela ação
da chuva, podendo ser carreados para águas superficiais e subterrâneas (Carneiro et
al., 2015).
2.2. Ocorrência de pesticidas em águas superficiais no Brasil
A presença de pesticidas em águas naturais no Brasil vem sendo descrita em
diferentes estudos, alguns dos quais estão compilados na Tabela 1.

Tabela 1: Ocorrência de pesticidas em águas fluviais no Brasil.


Matriz Faixa de concentração Referência
Água de abastecimento
Atrazina: 4,95 µg L-1 Rubbo e Zini (2017)
(Corsan) Venâncio Aires-RS
Rio Pardo-SP Ametrina: 0,21-0,27 µg L-1 Machado et al. (2016)
Bacia do Tijunqueiro-GO Imidacloprido: 107-123 ng L-1 Rocha et al. (2015)
Rio Cocó-CE Cipermetrina: 6,7-38 ng L1 Duavi et al. (2015)

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Embora presentes em matrizes aquosas em concentrações muito baixas para


causar efeitos agudos, muitos pesticidas são introduzidos continuamente no
ambiente, de modo que não precisam apresentar caráter persistente para gerar
efeitos crônicos adversos a organismos aquáticos e à saúde humana.
Soma-se a isto o fato de que qualquer contaminação em um sistema hídrico
pode resultar em efeitos em áreas distantes daquelas em que os pesticidas foram
originalmente aplicados, devido às características físico-químicas dos compostos e da
velocidade de escoamento de rios (Dellamatrice e Monteiro, 2014). Além disso,
alguns dos pesticidas encontrados nas águas brasileiras, como a atrazina e o
imidacloprido, foram incluídos na lista de pesticidas altamente perigosos devido a
suas propriedades desreguladoras endócrinas (Biondo e Zanetti, 2021).

3. DEGRADAÇÃO FOTOQUÍMICA DE POLUENTES ORGÂNICOS


3.1. Degradação fotoquímica ambiental de pesticidas em águas superficiais
A persistência de compostos no meio ambiente depende, entre outros fatores,
da cinética de transformação oriunda de processo bióticos e abióticos (hidrólise,
fotólise, oxidação, diluição, sorção, biodegradação ou acumulação). Em águas
naturais, a degradação fotoquímica mediada pela radiação solar desempenha um
papel importante na destinação de poluentes emergentes, como os pesticidas (Parizi
et al., 2018).
Em muitos casos, os processos abióticos fotoinduzidos constituem a principal
via de remoção de poluentes emergentes em corpos d’água. Esses processos ocorrem
pela absorção de radiação UV-visível pelos poluentes, resultando em sua degradação,
conhecida como fotólise direta. Podem ocorrer também pela fotólise indireta,
segundo a qual espécies químicas presentes em águas naturais são percursoras de
outras que protagonizam a oxidação dos poluentes, a partir da absorção de radiação
UV-visível (Lester et al., 2013).
A fotólise direta é o processo em que ocorre a absorção da luz solar por um
composto, o que resulta na clivagem ou rearranjo de ligações químicas em suas
moléculas (Remucal, 2014). A interação da radiação com a matéria, por absorção,
ocorre entre orbitais atômicos ou moleculares, promovendo elétrons para estados
eletronicamente excitados. Tais estados possuem maior energia e podem desativar
para o estado fundamental da molécula por meio de processos físicos (fluorescência,

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fosforescência ou desativação não-radiativa) ou sofrer reações químicas (Parsons,


2004; Oppenländer, 2003). As Equações1-4 mostram o conjunto de reações químicas
envolvendo o estado excitado de um composto genérico AB:
(1)
( … ) (2)
( … ) (3)
( … ) (4)
Após absorção de radiação UV-visível e geração do estado excitado (Equação 1),
a quebra homolítica de ligações químicas (Equação 2) é a etapa predominante da
reação, na qual ocorre o aprisionamento por moléculas de solvente vizinhas ( solvente
cage). Reações de oxidação/redução podem ocorrer quando os radicais escapam do
invólucro de solvente e, com isso, há a recombinação dos radicais primários (Equação
3), recuperando o composto inicial. Cisões heterolíticas também podem ser
observadas (Equação 4) (Parsons, 2005).
A fotólise direta sob luz solar só é eficiente quando o espectro de absorção do
contaminante se sobrepõe ao espectro de emissão solar, ou seja, essa via só é
importante para compostos que absorvem luz no espectro solar (λ > 290 nm)
(Remucal, 2014; Lester et al., 2013; Schwarzenbach et al., 2003). Nesse processo, a
taxa de degradação do contaminante C dependerá da taxa de absorção de fótons ( , )
e do rendimento quântico (Φ(λ)), que deve ser razoavelmente elevado, conforme
apresentado na Equação 5 (Remucal, 2014; Parsons, 2005).
( ) , (5)
3.2. Reação entre os pesticidas e as espécies intermediárias reativas (HO , 1O2 e
3CDOM*)

A fotodegradação de contaminantes, como já mencionado anteriormente,


também pode ocorrer pela reação com espécies reativas (RPS), como radicais
hidroxila (HO●), oxigênio singlete (1O2) e estados excitados triplete da matéria
orgânica cromofórica dissolvida (3CDOM*). Essas espécies são geradas pela absorção
de luz por espécies químicas presentes em corpos d’água, como a matéria orgânica
dissolvida cromofórica (CDOM) e espécies iônicas, como nitrito (NO2 ) e nitrato
(NO3 ). A presença desses íons em águas superficiais advém da conversão bioquímica
do nitrogênio amoniacal (NH3), oriundo da degradação de compostos orgânicos e
inorgânicos, redução do N2 por bactérias e trocas gasosas com a atmosfera (Gandelha,

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2005).
O radical hidroxila (HO●) (E0 = 2,80 V EPH) (Oppenländer, 2003) é considerado
a espécie reativa com maior capacidade oxidante, é formado principalmente pela
fotólise de nitrito e nitrato, e a partir da irradiação de CDOM (Vione et al., 2010). As
concentrações de radicais HO● em águas superficiais são da ordem de 10-17 a 10-15
mol L-1 (Dell’Arciprete et al., 2009). Com relação ao rendimento quântico da formação
de radicais HO●, a partir da irradiação de íons nitrato o valor fica em torno de 9,2-17
× 10-3 mol Einstein-1 para comprimentos de onda acima de 290 nm. Já pela irradiação
de nitrito, esse valor fica em torno de 0,025-0,07 mol Einstein-1 entre 292 e 430 nm
(Helz et al., 2000).
A observação de radicais hidroxila em águas naturais possui dificuldades,
devido à sua alta reatividade, sendo também difícil a quantificação de radicais HO●
formados pela CDOM, porque a matéria orgânica não é uma espécie química definida
e sua composição é variável em diferentes corpos d´água (Vione et al., 2010;
Schwarzenbach et al., 2003). Dessa forma, o mecanismo exato da formação de
radicais HO● ainda não é completamente conhecido, contudo, sabe-se que pode
envolver oxidação da água por estados excitados triplete da CDOM.
Por sua vez, o oxigênio singlete (1O2) é formado majoritariamente pela
transferência de energia entre estados excitados triplete da matéria orgânica e o
oxigênio (3O2). Devido a isso, as concentrações no estado estacionário próximas à
superfície dos corpos d’água são proporcionais à concentração de CDOM, com valores
de ordem de 10-14 a 10-13 mol L-1 (Schwarzenbach et al., 2003).
Estados excitados triplete da matéria orgânica cromofórica (3CDOM*) são
formados a partir da absorção de luz pela matéria orgânica cromofórica dissolvida.
Tais espécies têm capacidade de oxidar contaminantes no meio aquático, reagindo
com O2 dissolvido, por meio de mecanismos de transferência de energia ou
transferência de elétrons, sendo essa a principal fonte de desativação da 3CDOM*
(Lester et al., 2013; Schwarzenbach et al., 2003).
Igualmente às outras espécies reativas, a concentração de 3CDOM* depende da
concentração de matéria orgânica presente na matriz aquosa, considerando o balanço
entre a sua taxa de formação e taxa de consumo por processos naturais. Dessa forma,
as concentrações no estado estacionário são da ordem de 10-14 a 10-12 mol L-1 (Mcneill
e Canonica, 2016).

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4. DETERMINAÇÃO DE CONSTANTES CINÉTICAS ENTRE PESTICIDAS E ESPÉCIES


INTERMEDIARIAS REATIVAS (HO●, 1O2 E 3CDOM*)
A degradação fotoquímica de pesticidas em solução sintética e/ou águas
superficiais em condições ambientalmente relevantes vem sendo alvo de alguns
estudos. O entendimento do comportamento fotoquímico desses compostos é
importante, pois, com base nos dados experimentais obtidos, pode-se prever a
degradação fotoquímica de agrotóxicos nas condições ambientais encontradas em
corpos d'água de diferentes regiões.
As constantes de taxa de reação de segunda ordem dos pesticidas com radicais
hidroxila (HO●), oxigênio singlete (1O2) e estados excitados triplete da matéria
orgânica cromofórica dissolvida (3CDOM*) podem ser determinadas por diferentes
métodos, descritos nos tópicos a seguir.
4.1. Competição cinética
As taxas de fotólise indireta no ambiente aquático podem ser estimadas a partir
da determinação das constantes cinéticas das reações entre os pesticidas e as
espécies reativas (RPS). A determinação pode ser feita pelo método de competição
cinética, que consiste em irradiar uma mistura contendo um composto gerador de
RPS, o contaminante e um composto de referência (cuja reatividade com as RPS, em
condições idênticas ao sistema experimental, é conhecida) (Shemer et al., 2006). Os
experimentos de fotodegradação podem ser realizados com o auxílio de fontes
radiantes que emitem radiação em comprimentos de onda superiores a 290 nm e,
principalmente, com o emprego de simuladores solares.
Nos experimentos de competição cinética, o pesticida compete com o composto
de referência pela espécie reativa e a constante de velocidade da reação entre a RPS
de interesse e o pesticida pode ser calculada por:
( ( ) ( . ))
, , (6)
( ( ) ( . ))

Em que kpest,RPS é a constante da taxa de reação entre o pesticida e a RPS em


particular (HO●, 1O2 ou 3CDOM*); kpest(obs) é a constante da taxa de degradação do
pesticida, medida experimentalmente; kref(obs) é a constante da taxa de remoção do
composto de referência, medida experimentalmente; kref,RPS é a constante da taxa de
reação entre as RPS e o composto de referência, cujo valor é conhecido. As principais
fontes geradoras das RPS são o peroxido de hidrogênio para os radicais hidroxila;

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azul de metileno ou alaranjado de metila para o oxigênio singlete; e antraquinona-2-


sulfonato (AQ2S) ou benzoilbenzóico (CBBP) para o estado triplete da matéria
orgânica. A Tabela 2 apresenta alguns valores de constantes de segunda ordem das
reações entre pesticidas e espécies reativas.

Tabela 2: Constantes cinéticas de segunda ordem das reações entre pesticidas com
RPS e rendimentos quânticos de fotólise direta.
kP, HO● kP,1O2 kp,3CDOM* Φ
Composto Referência
(L mol-1 s-1) (L mol-1 s-1) (L mol-1 s-1) (mol Einstein-1)
Herbicida
Propanil (7,0±0,5) ×109 (7,1±1,8)×104 (4,6±0,4) ×109 0,16±0,03 Carena et al. (2017)
Atrazina (2,7±0,3)×109 4 ×10 4 (1,43±0,07)×10 (1,58±0,19)10-2
9 Marchetti et al. 2013
Bentazon 5,7×109 3,1×10 7 9,7×108 4,4×10-4 Carena et al. (2020)
Inseticida
Imidacloprido - (5,5±0,5)×106 (4,8±1)×107
Dell’Arciprete et al. (2010)
Tiacloprido - (3,9±1)×107 (1,5±1)×108
Carbaril (14.8±0.64)×10 9 (2.98±0.10) Derbalah et al. (2020)

4.2. Modelagem computacional


Por razões das mais diversas, é possível que não seja possível ao pesquisador
fazer o levantamento experimental das constantes cinéticas de segunda ordem
necessárias para elucidar a persistência fotoquímica ambiental de poluentes de
interesse em águas superficiais. Nestes casos, é possível lançar mão de ferramentas
computacionais para predição das constantes desejadas.
Atualmente, estimativas computacionais de constantes cinéticas podem ser
obtidas por três rotas principais, apresentadas brevemente a seguir.
Dinâmica Molecular. As reações químicas são descritas, de maneira clássica,
como resultado de colisões entre espécies, realizadas de forma tal que o par colisional
tenha energia suficiente para que ocorram os rearranjos necessários para a formação
dos produtos. As simulações de dinâmica molecular são técnicas para calcular
propriedades de equilíbrio e de transporte de um sistema clássico de muitos corpos
(Frenkel, 2002). Para tanto, simula-se um sistema composto por conjunto de
partículas, sujeitas às condições termodinâmicas do sistema, e resolvem-se as
equações de movimento newtonianas até que as propriedades do sistema não variem
mais com o tempo. Atingido esse estado de equilíbrio, tomam-se as medidas de
interesse. As interações entre as partículas do sistema são descritas por campos de
força (Fi); isto é, funcionais e conjuntos de parâmetros associados usados para
calcular a energia potencial de um sistema. Ao longo das décadas, vários campos de

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força – associados a diversos potenciais de interação – foram desenvolvidos, com


base em sistemas ou aplicações específicas. Monticelli e Tieleman (2013) trazem um
excelente resumo sobre os fundamentos dos principais campos de força utilizados
para a simulação de compostos orgânicos (e biomoléculas). No que diz respeito à
simulação de reações químicas, fala-se em Dinâmica Molecular Reativa (Brown e
Clarke, 1990; Knight et al., 2012) – aquela que faz uso de campos de força adequados
para a descrição de uma transformação química. O principal campo de força usado
nesses estudos é o ReaxFF (Senftle et al., 2016), com estudos descritos na literatura
de cinéticas de adsorção e decomposição (Sengul et al., 2018), de velocidade e
composição de combustão (Gonçalves et al., 2018) e de síntese (Jian et al., 2021).
Experimentalmente, a constante cinética (k) de uma reação química segue uma
expressão do tipo Arrhenius:

( ) exp (7)

em que é expressa em dependência de um termo pré-exponencial (A) –


relacionado à frequência de colisões efetivas – e de um termo exponencial
relacionado à energia de ativação Ea e à temperatura T do sistema. Nesse
equacionamento, kB é a constante de Boltzmann. O cálculo do termo pré-exponencial
pode ser feito de diversas maneiras, mas usualmente envolve a determinação da
seção transversal de colisão, σR, determinada a partir da probabilidade de reação. Os
algoritmos de dinâmica molecular reativa envolvem o equilíbrio de um sistema,
expresso em termos de uma matriz de posições de cada elemento, { ri}, até que se
atinja um mínimo de energia potencial, V(r). De maneira resumida, são feitos então os
cálculos das contribuições energéticas no sistema equilibrado e contados o número
de eventos reativos que aconteceram naquele sistema. A partir da distribuição de
frequência dos eventos, estimam-se os valores cinéticos. A Figura 1 ilustra um
algoritmo típico de dinâmica molecular.
Uma importante limitação dessa técnica está em sua própria natureza
estatística: para que seus resultados sejam significativos, é necessário um número
bastante elevado de observações. Em sistemas com muitos corpos, e em particular
quando se trabalha com fases condensadas, o custo computacional acaba sendo muito
alto e, por isso, seu uso acaba se limitando a reações em fase gasosa; embora
metodologias venham sendo estabelecidas para minimizar a demanda computacional
e ainda assim obter estimativas confiáveis (Filipe et al., 2018; Jian et al., 2021).

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Operacionalmente, são utilizados softwares de simulação molecular para execução


dos cálculos.

Figura 1: Algoritmo típico de dinâmica molecular para simulação de reações químicas.

Teoria do Estado de Transição. A Teoria do Estado de Transição (TET) é o


arcabouço teórico mais utilizado para a estimativa de constantes cinéticas. Baseia-se
na Mecânica Estatística para calcular as constantes das reações químicas e,
justamente por isso, evita a complexa matemática da dinâmica de colisões –
problemática encontrada na dinâmica molecular. Em sua formulação mais básica, a
TET assume uma aproximação de quase-equilíbrio entre os reagentes e o estado de
transição (Arnaut et al., 2007). Para uma reação bimolecular A + B ⇌ TS P, a
velocidade de reação na formulação TET é expressa como:

(8)

em função do tamanho do estado de transição na coordenada de reação ∆s, da


massa m e da temperatura T do sistema, das concentrações dos reagentes [A] e [B] e
da constante de pseudo-equilíbrio KTS:

exp (9)

KTS é função das funções de partição molares Q da molécula no estado de


transição e dos reagentes, bem como do fator energético ∆E0. As funções de partição
são medidas dos estados termodinâmicos que estão acessíveis às espécies nas
condições do sistema; e o fator energético é a diferença entre a energias do ponto
zero (em T = 0 K) do estado de transição e dos reagentes, ∆E0 = E0,TS – (E0,A + E0,B).
Considerando as Equações 8 e 9, e fazendo uma fatoração da função de partição do
estado de transição (cf. Arnaut et al., 2007) para mais detalhes) pode-se determinar a

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constante cinética k como:

( ) exp (10)

sendo QTS a função de partição do estado de transição excluindo-se a função de


partição translacional relacionada à coordenada de reação. As funções de partição e o
fator energético são obtidos a partir de cálculos eletrônicos de frequências (Ramos et
al., 2012) após a otimização da estrutura molecular dos reagentes e do estado de
transição nas condições experimentais que se deseja avaliar (P, T, solvatação). Nota-
se a semelhança entre a expressão da TET e a observação experimental de Arrhenius
(Eq. 7).
A TET vem sendo extensivamente aplicada na determinação de constantes
cinéticas e avaliação de mecanismos de reação, tanto em fase gasosa quanto em fase
líquida; particularmente nos últimos anos. Duan et al. (2020), por exemplo,
estudaram a reatividade do radical 1-hidroxi-peroxipentila, formado na oxidação do
n-pentanol, enquanto Liao et al. (2020) estudaram a oxidação atmosférica de PCBs
iniciada por radicais hidroxila. Já Bo et al. (2020) e Khan et al. (2020) estudaram a
degradação em fase líquida do prosulfocarb e de PFOS. Poucos trabalhos se
dedicaram ao estudo de pesticidas, mas vale citar o trabalho de Manonmani et al.
(2020), em que se fez um sólido estudo teórico do mecanismo de degradação do
diuron. Outros autores também estudaram a degradação de pesticidas carbamados
(metomil, temik e oxamil) (Sun et al., 2015), além do inseticida forato (Dang et al.,
2014), diazinon (Zhou et al., 2011), triclorfon (Bao et al., 2012) e picloram (Sanches-
Neto et al., 2021).
Aprendizado de Máquina. O aprendizado de máquina (machine learning, ML)
dedica-se a responder duas perguntas-chave (Jordan e Mitchell, 2015): (i) como
podemos construir sistemas computacionais que se aperfeiçoem com suas
experiências? E (ii) quais são as leis teóricas estatísticas, computacionais e/ou
informacionais que governam o processo de aprendizagem? Na prática, isso é feito
pela seleção de algoritmos – conjunto de operações sistemáticas aplicadas a um
conjunto de dados – que determinam como os dados analisados deverão ser
interpretados (Cutler e Dickenson, 2020). Vários algoritmos vêm sendo explorados
em áreas relevantes para o desenvolvimento de processos industriais, desde
processos mais brutos como geração energética até processos mais refinados da
indústria farmacêutica (Chiang et al., 2017). O uso de ML para a previsão de

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propriedades químicas remonta à década de 1970, com o emprego de métodos


quimiométricos (QSAR) para o desenvolvimento de fármacos; apenas recentemente,
com a facilidade de acesso a bases de dados extensas, algoritmos de ML vêm sendo
aplicados a estudos de reatividade. Singh et al. (2019) desenvolveram um modelo
preditivo baseado em combinações de algoritmos para o cálculo de energia livre de
ativação de reações catalíticas, atingindo um erro médio de apenas 0,22 e V. Komp e
Valleau (2020) relataram o treinamento de redes neurais profundas (DNN) para a
predição de constantes de reação moleculares com desvio de pouco mais de 1% com
relação às taxas de reação logarítmicas. Os algoritmos de ML podem ser usados em
combinação com modelagem mecanística para previsão de energias de ativação
(Jorner et al., 2021), e – devido a sua natureza computacional e estatística – podem
ser aplicados para o estudo de reações mesmo em meios quimicamente complexos,
como líquidos iônicos (Greaves et al., 2021).
Na área de predição cinética de reações de interesse ambiental, os métodos de
ML têm sido usados no estudo de reações atmosféricas de poluentes gasosos com
radicais hidroxila e ozônio (Gupta et al., 2016), na predição de taxas de degradação
fotocatalíticas de poluentes em TiO2 (Jiang et al., 2020), e de coeficientes de adsorção
de pesticidas em solo (Kobayashi et al., 2020). Vários autores ainda adotam modelos
de ML para a predição da persistência ambiental de contaminantes em matrizes
diversas (Lunghini et al., 2020), além de estudos mais focados, como a persistência de
pesticidas em frutas e vegetais (Serino et al., 2019), a análise da capacidade de
plantas de assimilar contaminantes ambientais (Bagheri et al., 2019) e o estudo de
fontes de poluição em lençóis freáticos (Rodriguez-Galiano et al., 2014; Baudron et al.,
2013). Diversos estudos aplicam algoritmos de ML para predições de toxicidade de
pesticidas em diversas classes de seres vivos (He et al., 2019; Li et al., 2017; Martin et
al., 2017), minimizando assim a necessidade de ensaios experimentais. Pesquisadores
brasileiros da Universidade Estadual de Goiás e da Universidade de Brasília
publicaram recentemente um código aberto, de acesso em nuvem e resposta
imediata, para a predição baseada em ML de taxas de reação com radicais hidroxila
(http://www.pysirc.com.br/).

5. PERSISTÊNCIA FOTOQUÍMICA AMBIENTAL DOS PESTICIDAS


A persistência fotoquímica de pesticidas em águas superficiais, como rios, lagos

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e reservatórios de abastecimento, pode ser avaliada com base nos dados


experimentais obtidos do comportamento fotoquímico desses poluentes. A partir
desses dados, a degradação fotoquímica dos pesticidas em condições ambientais
conhecidas (pH, profundidade da lâmina d’água, irradiância solar, concentração de
matéria orgânica dissolvida, concentrações de espécies inorgânicas) pode ser
simulada por meio de modelos cinéticos.
Simulações matemáticas relacionadas ao destino ambiental fotoquímico de
poluentes de interesse emergente vêm sendo realizadas pela comunidade científica
geralmente empregando o modelo APEX (Aqueous Photochemistry of
Environmentally-Occurring Xenobiotics), desenvolvido por pesquisadores da
Universidade de Torino (Itália) e validado para diferentes poluentes (Vione, 2020).
Sucintamente, o modelo APEX é usado para calcular as constantes de pseudo
primeira-ordem de degradação e os tempos de meia-vida de poluentes em águas
superficiais, com base na composição da água (concentrações de carbono orgânico
dissolvido e de diferentes espécies químicas inorgânicas, tais como NO3-, NO2-, HCO3- e
CO32-; pH) e profundidade do corpo d’água. Os dados experimentais que se devem
informar são o rendimento quântico da fotólise sob luz solar e as constantes de
velocidade das reações entre os poluentes e as RPS (HO●, 1O2, 3CDOM*). O modelo
considera a energia solar chegando à superfície da Terra em um dia ensolarado no
verão, correspondendo a 10 horas contínuas de irradiação a 22 W m 2 de irradiância.
Mais detalhes do modelo são encontrados no trabalho mais recente de Vione (2020).
A persistência fotoquímica de pesticidas também tem sido simulada por meio
do modelo APEX. Carena et al. (2020) avaliaram a degradação do herbicida bentazon,
utilizando as caraterísticas de lagos da região de Peidmont, na Itália. Os autores
verificaram que a fotólise direta desempenha o papel principal na fotodegradação do
pesticida, cujo tempo de meia-vida foi estimado entre 5-15 dias, dependendo da
profundidade (1,5-3 m). Por sua vez, Silva et al. (2015) estimaram os tempos de
meia-vida para outro herbicida, a amicarbacona (AMZ), considerado o intervalo de
valores das concentrações de nitrito, nitrato e CDOM normalmente encontrados em
corpo d’água do Brasil. Os autores verificaram que a degradação da AMZ é favorecida
em corpos d’água rasos e em baixas concentrações de CDOM, com tempo de meia-
vida variando entre 1 dia até 2 meses.

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6. CONCLUSÕES
As reações fotoinduzidas representam uma das principais vias de degradação de
compostos em água, promovidas pela radiação solar e pela ação de espécies reativas
foto-induzidas (RPS), ou seja, pela fotólise direta e indireta. Posto isto, neste capítulo
buscou-se enfatizar a importância de investigar e compreender o comportamento
químico dos pesticidas quando presentes em corpos d’água, tendo em vista seu
potencial risco para o ambiente e seres humanos. Nesse contexto, discutiram-se os
fundamentos de métodos experimentais e teórico-computacionais para predição de
constantes cinéticas de reações responsáveis pela degradação de pesticidas que, em
conjunto, constituem abordagens importantes e complementares para compreensão
da persistência desses poluentes em águas superficiais.

AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de
Financiamento 001. Os autores expressam seus agradecimentos ao CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, processo 311230/2020-2) e à
FAPESP (processo 2019/24158-9).

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CAPÍTULO 29
DIVULGAÇÃO DE
CONHECIMENTOS EM
SUSTENTABILIDADE,
RECICLAGEM E SAÚDE
PLANETÁRIA

Carolina Tostes Marana1


Jos Lu s de Pai a2
Ana Maria da Costa Ferreira3
Maria da Conceição da Costa Golobovante4

1
Graduanda em Engenharia Química, Escola Polit cnica da ni ersidade de S o Paulo
(USP), São Paulo, SP, email: carolinamarana@usp.br, ID Lattes: 1502808127518213.
2
Professor e En enharia u ica, Escola Polit cnica da ni ersidade de S o Paulo
(USP), São Paulo, SP, email: jolpaiva@usp.br , ID Lattes: 2538351988762551.
3
Professora do Instituto de Química, Universidade de S o Paulo (USP), São Paulo, SP,
email: amdcferr@iq.usp.br, ID Lattes: 7860759306517929.
4
Professora em Jornalismo e Publicidade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC), São Paulo, SP, email: mccgol@gmail.com, ID Lattes: 0396233611244554.

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DIVULGAÇÃO DE CONHECIMENTOS EM SUSTENTABILIDADE, RECICLAGEM E SAÚDE


PLANETÁRIA
RESUMO
Problemas ambientais, muitas vezes irreversíveis, estão crescendo rapidamente,
como a poluição química e a produção excessiva de resíduos, e afetam todos os seres
vivos, inclusive os humanos. Assim, mudanças nos valores, nas ações e nas
perspectivas coletivas precisam ser realizadas. Logo, esse trabalho propõe a
divulgação de conhecimentos de química, logística reversa, sustentabilidade e Saúde
Planetária de forma a promover um posicionamento e ações mais incisivas dos
cidadãos e dos consumidores em se tratando de questões ambientais. A conta
@recicla_saude foi desenvolvida no Instagram utilizando-se de informações de boa
qualidade e divulgada pela adoção de estratégias de Marketing Digital. Com o
crescimento da página, o conhecimento coletivo no âmbito da Saúde Planetária
ampliou, as campanhas que promovem saúde coletiva foram mais difundidas e um
maior compartilhamento das localidades dos pontos de coleta de materiais recicláveis
foi realizado.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Reciclagem. Saúde Planetária. Compartilhar.
Educação.

SHARING OF SUSTAINABILITY, RECYCLING AND PLANETARY HEALTH KNOWLEDGE


ABSTRACT
Environmental problems, often irreversible, are growing rapidly, such as chemical
pollution and excessive waste production, and affect all living beings, including
humans. Thus, changes in values, actions and collective perspectives need to be done.
Therefore, this project proposes the dissemination of knowledge in chemistry,
reverse logistics, sustainability and Planetary Health in order to promote actions and
incisive positioning of citizens and consumers when face with environmental issues.
The @recicla_saude account was developed on Instagram using good quality
information and disseminated by adopting Digital Marketing strategies. As the page
grows, the collective knowledge in the scope of Planetary Health has increased,
campaigns that promote collective health were more broadcasted and greater sharing
of the collection locations for recyclable materials occurred.
Key-words: Sustainability. Recycling. Planetary health. Sharing. Educational.

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INTRODUÇÃO

O Antropoceno é a atual era geológica do planeta na qual a atuação humana


atingiu elevadas proporções de maneira a impactar profundamente a evolução e
paisagem do planeta. Essa conjuntura foi resultado de padrões de produção e
consumo exacerbados, devastação ambiental, desperdício e poluição. Da mesma
forma que a vida humana impacta o planeta, o planeta impacta a vida humana. Assim,
a saúde humana está degenerando junto com a saúde do planeta.
Para enfrentar os problemas complexos que essa situação provoca são
necessárias mudanças institucionais e de valores, de forma a construir um mundo
democrático e humano por meio de soluções inclusivas, do respeito da comunidade
de vida, da integridade ecológica, da justiça social e econômica e da democracia. Logo,
uma aliança global é necessária para promover um senso universal de
responsabilidade e para adotar a vida sustentável como critério comum. Nesse
contexto, surgiu a “Planetary Health Alliance”, que consiste em uma comunidade de
mais de 120 universidades, organizações não-governamentais, entidades públicas,
centro de pesquisa e outros parceiros em todo o mundo comprometidos com essa
causa.
O Grupo Saúde Planetária, ligado ao Instituto de Estudos Avançados da USP
(IEA-USP), promove um programa de Embaixadores de Saúde Planetária, inspirado
na versão estrangeira realizada pelo “Planetary Health Alliance”. Dentro desse
programa são realizados projetos, incluindo esse que possui como enfoque tratar de
saúde planetária e de resíduos sólidos, na medida em que grande parte da
comunidade somente conhece a diferença entre resíduos recicláveis e orgânicos e
pouco sabe sobre o processo de reciclagem nas grandes cidades e quais as melhores
formas de reciclar, reduzir e reaproveitar os mais diversos materiais.
Este projeto de extensão pretende incorporar na vida dos membros da
comunidade o sentido de responsabilidade universal e de vida sustentável por meio
da divulgação de conteúdos educacionais de alta qualidade em plataformas digitais,
de forma a promover um conhecimento coletivo sobre reciclagem e como os
consumidores podem agir de forma a melhor destinar seu próprio resíduo.

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MATERIAL E MÉTODOS
Para conseguir alcançar uma efetividade de comunicação em uma mídia social é
necessário obter informações adequadas para o público-alvo, ou seja, extrair dados
que engenheiros químicos e a Academia dominam para enriquecer o conhecimento
da comunidade geral. Além disso, a forma que o conhecimento é transmitido, a
interação e as estratégias de marketing são indispensáveis para o conteúdo atingir e
impactar o público alcançado.

Informação de qualidade
Saúde Planetária é uma área de estudos consideravelmente ampla. Dessa
maneira, há diversas vertentes que pode ser abordada e muitos pontos a serem
destacados. Entretanto, existe uma base de princípios que essa área de estudos se
fundamenta e que é essencial compartilhar. Ou seja, antes da realização ativa do
projeto, diversos conteúdos foram estudados para garantir a difusão de informações
verdadeiras e concretas.
Primeiramente, analisou-se a Carta da Terra, construída por mais de uma
década e por diversos setores da sociedade. Ela é uma base ética sólida para a
sociedade civil e uma referência para a construção de uma sociedade justa,
sustentável e pacífica.
Em seguida, para poder melhor compreender quais as medidas necessárias a
serem divulgadas, pesquisou-se sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, que consiste em um plano de ação global para mudar o mundo até 2030.
Nesse plano existem os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, como exposto
na Figura 1, e as 169 metas que 192 países se comprometeram a realizar aplicando
medidas ousadas e transformadoras. Dentre esses objetivos, o “Cidades e
comunidades sustentáveis” representou o enfoque do projeto e de análises.
Atualmente, somente no Brasil, contabilizou-se em 2015 que 84,72% da
população vive em áreas urbanas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (IBGE, 2015). A vida nas cidades é marcada por uma exacerbada produção
de resíduos e descarte de resíduos. Procura-se reverter esses efeitos com medidas de
economia circular, reciclagem e química verde. A Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) é uma lei (Lei nº 12.305/10) que propõem promover essa mudança.

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Além disso, diversos institutos de pesquisa estão propondo soluções para muitos
problemas nesse âmbito.
A produção em grande escala está intrinsicamente interligada com o estilo de
vida moderno. Para uma melhor análise sobre os problemas desses processos, uniu-
se toda a informação sobre como objetos, como escova de dente, acrílico, óculos,
eletrônicos, papel e outros materiais do dia a dia, são produzidos e sobre a matéria-
prima de que são formados.
Os cidadãos comuns, que consomem regularmente, em maioria, carecem do
conhecimento da constituição dos diversos produtos e não possuem a consciência da
sua própria responsabilidade ambiental como indivíduo e da forma que suas escolhas
e ações podem impactar, não somente, sua vida, mas a sociedade e o planeta. Ou seja,
a metodologia adotada foi de reunir informações confiáveis para divulgá-las ao
público, investigando os tópicos citados em fontes disponíveis como em sites
governamentais, em artigos e em revistas.

Figura 1: Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Marketing digital
Em plataformas digitais, a informação é melhor absorvida pelo público quando
é bem estruturada e formatada. No contexto da divulgação, deve-se utilizar
estratégias para um conteúdo ser difundido de forma eficaz. Assim, os conhecimentos
e metodologias de Marketing digital são imprescindíveis para a execução desse
projeto.
Determinou-se de início o público-alvo a ser atingido: adultos que possuem
acesso regular a bens de consumo em Bauru e São Paulo, além de condições de alocar
seu resíduo a locais apropriados, e interessados por estratégias de reciclagem e
sustentabilidade em todo Brasil. Em seguida, construiu-se personas para um maior
direcionamento do conteúdo e contextualização da página.

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O Instagram, atualmente, representa uma das maiores plataformas digitais do


mundo, por pessoas de diversas faixas etárias, mas principalmente jovens. Seu rápido
e exponencial crescimento pode ser observado na Figura 2 (Tankovska, H,2021).
Portanto, optou-se pelo uso dessa plataforma.

Figura 2: Dados da Statista do número de usuários ativos mensais do Instagram 2013-


2018.

Criou-se uma conta @recicla_saude , registrou-se uma legenda apresentando o


objetivo da página brevemente e o programa de Embaixadores no qual ela se insere.
Na Figura 3, está o primeiro registro realizado da conta após 5 semanas do início.

Figura 3: Primeiro registro da página do Instagram.

Com uma maior clareza sobre a finalidade da página e a quem ela se dirige,
desenvolveu-se uma identidade visual para as postagens para passar a ideia de

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profissionalismo de forma a transformar o conteúdo em um material mais cativante.


Adotou-se uma paleta de cores apresentada na Figura 4 para existir uma
padronização das postagens com tonalidades que transmitissem a ideia desejada. Por
exemplo, o vermelho remete criatividade e entusiasmo e o verde é atrelado a saúde e
avanço.

Figura 4: Paleta de cores.

Utilizou-se como método a formulação de templates para determinados tipos


de postagens, como apresentado na Figura 5, que consiste no modelo de template
referente aos locais de destino de determinados produtos. Isso permite uma maior
clareza a respeito do tema abordado para postagem e possibilita uma maior
atratividade ao público porque a plataforma incentiva conteúdos mais diretos.

Figura 5: Exemplo de Template/Modelo.

Outras técnicas foram estudadas e aplicadas sobre engajamento, que estão


ligadas ao algoritmo existente no Instagram. Utilizar textos menores, realizar
postagens frequentes e adotar hashtags, como #saudeplanetaria #reciclasaude
#terra #resposabilidade #planeta , foram práticas apresentadas no e-Book
Marketing no Instagram (Muniz) e implementadas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos foram satisfatórios, na medida em que produziram


impacto na sociedade por meio do compartilhamento dos conhecimentos com a
comunidade geral.

Impacto das informações e do Marketing digital


A página @recicla_saude do Instagram ultrapassou a marca de 100 seguidores
como apresentado na Figura 6. Considerando a quantidade excessiva de conteúdos
disponíveis na Internet e o período de 5 meses de existência da conta, é uma marca
considerável.

Figura 6: Página do Instagram.

Na figura 7 há algumas postagens realizadas, nas quais o profissionalismo e a


padronização propostos como metodologia estão evidentes. Compartilhou-se
campanhas, processo produtivo de bens de consumo, etapas relacionadas ao ciclo de
vida dos produtos, conceitos explorados pela química dos materiais, eventos de Saúde
Planetária e, principalmente, locais de destino dos materiais. Após explorar a
importância de reciclar determinado objeto, sua composição e seu impacto no
ecossistema, os pontos de coleta e seus endereços exatos foram comunicados para a

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promoção dos valores difundidos pela página e de uma efetiva atuação do


consumidor na saúde do planeta.

Ecopatinhas
Um exemplo dos benefícios que a página produziu, apresentado na Figura 8, foi
a divulgação do projeto denominada “Ecopatinhas”, que coleta tampas de plástico de
variados produtos, para vendê-las e todo o dinheiro arrecadado é revertido para
castração e cuidado de animais. O projeto já acumulou mais de 2,3 toneladas de
material plástico que foram enviadas para a reciclagem.

Figura 7: Exemplos de postagens realizadas.

Figura 8: Publicação sobre o Ecopatinhas.

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CONCLUSÕES

Conclui-se que o projeto aborda conceitos de química, a ideia de


responsabilidade coletiva para com o planeta e a necessidade de ações sustentáveis
serem implementadas. Abordagens essas difundidas por meio da divulgação de
conteúdos educacionais em uma plataforma digital.

AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer à Universidade de São Paulo pela oportunidade e
incentivo de realização desse tipo de atividade interdisciplinar. Agradeço também ao
professor José Paiva e às professoras Ana Maria Ferreira e Conceição Golobovante
pelo apoio e contribuição. Por im, sou muito grata à meus pais, Nilceu e Denise, pelo
incentivo constante a realização dessa atividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carta da Terra. Secretaria Internacional da Carta da Terra . http://www.cartadelatierra.org/.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e
Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2015.
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9171-pesquisa-nacional-por-amostra-de-
domicilios-continua-mensal.html?=&t=o-que-e
Muniz, L. Marketing no Instagram. Rock contente. Revisão Laís Bolina. Acesso em 2021.
https://materiais.rockcontent.com/marketing-no-instagram
Tankovska, H. Number of monthly active Instagram users 2013-2018, 2021.
https://www.statista.com/statistics/253577/number-of-monthly-active-instagram-users/

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CAPÍTULO 30
APLICAÇÃO DE
CROMATOGRAFIA PARA
ANÁLISE E SEPARAÇÃO DE
CAROTENOIDES POR CULTIVO
SUBMERSO: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Camila Luciana Silva de Mesquita1
Giulia Torres Silveira2
Jadson Gonçalves Batista3
Maisa Cavalcanti Coelho4
Josevan da Silva5
Andrea Ferreira de Oliveira Lopes6
1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: camilalsmesquita@gmail.com, ID Lattes: 1555414154385746.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: giulia.silveira1102@gmail.com, ID Lattes: 2791535194065454.
3
Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: Jadson.goncalves@academico.ufpb.br, ID Lattes: 1236580001191698.
4
Doutoranda em Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB,
email: maisaccoelho@gmail.com, ID Lattes: 3071991829293843.
5
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
João Pessoa, PB, email: josevanufpb@gmail.com, ID Lattes: 0510976526573873.
6
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), João Pessoa, PB, email: andrea.ferreira@academico.ufpb.br, ID Lattes:
5100549429375497.

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APLICAÇÃO DE CROMATOGRAFIA PARA ANÁLISE E SEPARAÇÃO DE CAROTENÓIDES


POR CULTIVO SUBMERSO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

RESUMO
Visando diminuir o desperdício industrial, este grupo produziu uma revisão
bibliográfica que dispõe de 44 trabalhos, com operador booleano AND e descritores:
cromatografia gasosa (GC) e líquida, carotenoides, manipueira, umbu, em inglês e
português. Foram estudados manipueira e umbu para a biotransformação destes em
carotenoides via o cultivo submerso e sua separação. Dos selecionados, 6 utilizaram
GC e demonstraram que as técnicas de cromatografia são eficazes para a separação de
carotenoides.
Palavras-chave: Cromatografia; Carotenoides; Manipueira; Umbu.

APPLICATION OF CHROMATOGRAPHY FOR ANALYSIS AND SEPARATION OF


CAROTENOIDS BY SUBMERGED CULTIVATION: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW

ABSTRACT
Aiming to reduce industrial waste, this group produced a literature review that has
44 works, with the Boolean operator “and” and descriptors: gas chromatography (GC)
and liquid, carotenoids, cassava wastewater, umbu, in English and Portuguese.
Cassava wastewater and umbu were studied for their biotransformation into
carotenoids through submerged cultivation and their separation. Of those selected, 6
used GC and demonstrated that chromatography techniques are effective for
separating carotenoids.
Keywords: Chromatography; Carotenoids; Cassava wastewater; Umbu.

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INTRODUÇÃO

O setor industrial alimentício e a agroindústria vêm mostrando uma quantidade


imponente de poluição ambiental nas mais variadas formas (Ritchie e Roser, 2020).
Em 2011, já havia estudos comprovando que a produção desses alimentos
industrializados corresponde a 26% das emissões globais de efeito estufa, 70% da
captação de água potável global usadas para agricultura (FAO, 2011), 78% da
eutrofização global dos oceanos e águas doces (poluição das vias navegáveis com
poluentes ricos em nutrientes) (Poore e Nemecek, 2018), entre outros. Visto esses
números alarmantes, estudos para tratar os resíduos e diminuir desperdícios
tornaram-se algo importante para a manutenção deste setor.

Outro dado inquietante foi a previsão publicada pela Food Initiative, um projeto
da Fundação Ellen McArthur (2018), onde estimou que até 2050, 80% dos alimentos
serão consumidos pelas cidades e, como consequência, poderá ocorrer uma falta de
demanda mundial, o que tornará os alimentos caros e escassos.

Em virtude desta análise, este grupo de pesquisa procurou explorar, através de


uma revisão bibliográfica, como a bioengenharia transforma os resíduos industriais
em produtos úteis para o consumo humano e quais métodos são mais eficazes para
sua análise de separação e quantificação.

Deste modo, foi estudada a obtenção dos carotenóides via cultivo submerso de
resíduos agroindustriais e métodos de separação para estes. Os resíduos priorizados
nesta investigação foram: a manipueira (resíduo da produção de farinha de
mandioca) e a polpa de umbu (fruta encontrada em região semi-árida), largamente
encontrados no nordeste brasileiro, local onde se situa o grupo de pesquisa. Além
disso, a escolha destes resíduos ocorreu por causa da alta produção e descarte
incorreto, que pode resultar em poluição ambiental. Foi levado também em
consideração que estes rejeitos possuem grande índice de carotenóides e quando
extraídos, podem ser amplamente utilizados em suplementos alimentícios,
cosméticos e ração animal, que dispõe de um alto valor comercial (Santos et al.,
2010).

Logo, os métodos escolhidos nesta revisão foram a cromatografia líquida e a


cromatografia gasosa, já que estas vêm se mostrando altamente eficientes para

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separação e quantificação de hidrocarbonetos como os terpenóides (estrutura dos


carotenóides em geral com 40 carbonos) (Uenojo et al., 2007). A finalidade da
cromatografia neste trabalho foi isolar os carotenóides produzidos, do quais alguns
são precursores da vitamina A e então, qualificá-los e quantificá-los para que,
posteriormente, sejam usados para fins comerciais.

A produção do betacaroteno (um carotenoide e precursor da vitamina A) pode


se tornar uma alternativa para as indústrias cosmética, farmacêutica, alimentícia e
alimentação animal. Neste escopo, este trabalho pretendeu estudar a aplicação de
cromatografia, gasosa e líquida, na análise de separação de carotenóides, visando a
utilização destes derivados de vitamina A em alimentos, rações e/ou cosméticos.

Revisão bibliográfica

É uma técnica de estudos observacionais, estudos experimentais e análise


crítica da literatura, utilizada para sintetizar os estudos considerados primários
(trabalhos publicados) (Galvão e Pereira, 2014), que são relevantes para um
determinado período. Como resultado, a evidência científica em questão poderá ser
utilizada como base para pesquisas futuras (Mattos, 2015).

Ademais, em um mundo globalizado onde tudo deve ser feito na maior rapidez
possível, os trabalhos de revisão bibliográfica servem para otimizar o tempo das
pesquisas iniciais, apresentando uma ampla visão sobre o assunto requerido.
Também ajuda o pesquisador a definir, mais precisamente, o objetivo do seu estudo,
selecionando a literatura relevante para a sua pesquisa. Na pesquisa científica
experimental, a revisão bibliográfica fornece parâmetros de experimentos e técnicas
mais utilizadas para que os processos sejam mais eficientes.

Manipueira

A manipueira é um líquido leitoso, amarelado oriundo da prensagem do


processo de fabricação da farinha de mandioca brava (Manihot esculenta Crantz)
(Hamdan, 2019). Embora seja uma matriz natural, sua composição possui altos níveis
de glicosídeos linamarina e lotaustralina, além do alto valor de ácido cianídrico: 1.140
mgkg-1 nos limbos foliares, 1.110 mgkg-1 nos pecíolos e 900 mgkg-1 nos caules (Silva
et al., 2004; Valle et al., 2004) e isso faz com que este tubérculo adquira um caráter
nocivo à saúde humana e ao meio ambiente, já que possui substâncias cianogênicas.

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Mesmo sendo um resíduo industrial, sua carga orgânica contribui para que seja
empregada no controle de pragas, alimentação animal, adubo agrícola entre outros
(Nasu et al., 2008; Morais, 2006). Portanto, o emprego da manipueira como substrato
para produção de biomoléculas se torna uma opção para esse resíduo. Uma
alternativa é serem biotransformados por processos fermentativos como cultivo
submerso.

Umbu

Umbu é uma fruta do semiárido brasileiro que possui um sabor agridoce. Sua
polpa é composta por 89,9% de umidade, 7,95% de açúcares totais, 0,52% de
proteínas, 0,32% de lipídios entre outros (Santana, 2017; Cavalcanti et al., 1996). O
umbu vem se destacando dentre as frutas consumidas no Brasil, por possuir uma
grande fonte de vitamina C com valores de 79 mg em cada 100 g de casca,
aproximadamente 84 mg em cada 100 g de polpa comercial, além de possuir
capacidade antioxidante (Ribeiro et al., 2019).

O umbu pode ser consumido tanto em sua forma in natura, quanto na forma
processada industrialmente para a produção de geleias, doces, sucos, picolés e
bebidas artesanais (Embrapa, 2020). Sendo assim, o umbu revela-se uma fruta com
ótimo potencial de consumo e suas propriedades estão sendo largamente estudadas.
Entretanto, devido a sua grande produção durante sua safra, muito dessa fruta é
perdida e é totalmente descartada, por isso o umbu mostra-se como um promissor
meio de cultivo para produção de carotenoides dentro da propriedade rural, onde o
pequeno produtor não tem capital para escoar e/ou estocar sua produção.

Cromatografia

É uma técnica analítica utilizada para separação e caracterização de substâncias.


A palavra cromatografia vem do grego: Kroma (cor) e Graphia (escrever) (Pacheo et
al., 2015). Os primeiros indícios foram obtidos através da observação da natureza,
onde cada substância poderia ser identificada de acordo com a cor que apresentava.
Segundo Pacheco et al., (2015), esta observação foi se fundamentando ao examinar
outros fenômenos. Hoje, a cromatografia é a utilização de método físico-químico que
separa substâncias, onde os constituintes da amostra são particionados em duas

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fases: uma estacionária e outra que escoa através da primeira (fase móvel) (Ciola,
1985). A Figura 1 representa como a substância se separa.

Figura 1: Separação na coluna cromatográfica.

Fonte: Adaptado COLLINS, et al., 2006.

O estudo sobre cromatografia é extenso e sempre atual. Revistas científicas


inteiras se dedicam ao tema. A cromatografia, aqui neste trabalho, foi caracterizada
de acordo com a interação entre a substância dissolvida com a fase estacionária
(Mesquita, 2019). Dentre os principais tipos de cromatografia, tem-se: adsorção,
partição, troca iônica e exclusão molecular.

Cromatografia Líquida

É o método analítico responsável pela separação de misturas que contém


muitos compostos similares (Ciola, 1985), também conhecida como cromatografia de
alta eficiência, CLAE, (em inglês high performance liquid chromatography, HPLC). A
cromatografia líquida é amplamente utilizada para quantificar, qualificar e separar
substâncias, graças a sua alta velocidade, precisão e eficiência (Maldaner et al., 2008).

Na fase estacionária podem ser utilizados compostos sólidos ou líquidos. Os


sólidos normalmente são substâncias absorventes, tais como, sílica, carvão ativo etc.,
que se encontram “empacotadas” em uma coluna, a qual é atravessada pela fase
móvel. Nesse caso a base para a separação de misturas é chamada de adsorção
(Mesquita, 2019). Quando a fase estacionária é composta por um líquido, este é
denominado de película delgada, sendo que nesse caso a base de separação de
misturas é denominado de partição. Este tipo de cromatografia líquida é baseado nas
diferenças de solubilidade dos componentes na fase estacionária (líquido) e na fase
móvel (líquido). Quando a separação acontece com íons e/ou moléculas polares com
base na afinidade da fase estacionária (coluna), chama-se este tipo de cromatografia

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de troca iônica. É a troca de íons de mesmo sinal entre uma solução e um corpo sólido
muito insolúvel.

Os dois tipos de cromatografia iônica são troca aniônica e troca catiônica. Já a


cromatografia por exclusão de tamanho separa as moléculas da amostra que está sob
análise de acordo com a sua diferença de tamanho. Ela também é chamada de
cromatografia de filtração de gel ou de permeação em gel. Este tipo de cromatografia
líquida separa as moléculas pelo tamanho, com as maiores moléculas da amostra
passando por ela com maior velocidade.

Cromatografia Gasosa

Consiste em um método de separação e determinação de substâncias, onde a


principal característica deste composto é ser volátil ou semi-volátil. A forma de
separação consiste em duas fases: uma fase móvel (gasosa) e uma fase estacionária
(sólida ou líquida) (Collins et al., 2006). Inicialmente, esta técnica era utilizada
apenas para compostos voláteis, termicamente estáveis com ponto de ebulição até
300ºC (Lanças et al., 1993). A Figura 2 demonstra como a cromatografia gasosa era
utilizada como método de separação, por volta de 1952, quando teve seu início.

Figura 2: Separação dos componentes via cromatografia gasosa.

Fonte: https://www.ufjf.br/baccan/

Neste tipo de cromatografia, o sistema de injeção da amostra a ser analisada


funciona vaporizando os componentes e, de acordo com suas propriedades físico-
químicas e estruturais, são retidos ou eluídos através da coluna em tempos diferentes
(Ciola, 1985). Na Figura 3 é apresentado um sistema simplificado do cromatógrafo
gasoso, onde pode ser observado todo o percurso, desde a injeção da amostra, até o
cromatograma final. Onde também é possível verificar a disposição dos
equipamentos.

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Gases de arraste
Os gases de arraste ou fase móvel da cromatografia gasosa, geralmente
utilizados são hélio, argônio, hidrogênio e nitrogênio, sua pureza deve ser ≥ 99,99%,
não podem interagir com a amostra, precisam necessariamente serem inertes e
compatíveis com os detectores (Ciola, 1985). Para manter a qualidade da análise, é
recomendado que se utilizem filtros de sílica gel entre o cilindro e o instrumento, uma
vez que esta auxiliará na eliminação dos traços de água e hidrocarbonetos, já que
estes podem alterar a resposta do detector em amostras de nível traços (Mesquita,
2019; Collins et al., 2006).

Figura 3: Esquema de funcionamento da cromatografia gás.

Fonte: https://www.technologynetworks.com/
Controladores de vazão

Como a vazão diminui com a temperatura, o controle de vazão se faz necessário.


Vazões altas, danificam o equipamento (Ciola, 1985). A Figura 4 mostra como e onde
o controlador de vazão deve ser conectado.

Figura 4: Controladores de vazão.

Fonte: http://www.editorarealize.com.br/

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Sistema de injeção da amostra

O injetor é onde a amostra entra no equipamento e é vaporizada. É importante


que a amostra vaporize, mas não se decomponha e essa temperatura deve estar acima
da temperatura de ebulição do componente menos volátil (Ciola, 1985). A injeção
pode ocorrer manualmente ou por um sistema automatizado.

On-Column Injetor (OCI)

Neste sistema de injeção, as amostras são injetadas diretamente na coluna, à


frio, recomendado para compostos termicamente instáveis.

Programmed Temperature Vaporizing (PTV) Injector

É utilizado para amostras com alto ponto de ebulição, que sejam termicamente
instáveis. A injeção é realizada à frio e é recomendada para grandes volumes.

Injetor Split/Splitless

Injeção com vaporização (a quente). Split- Chamada de divisão de fluxo. Deve


ser injetado entre 0,1 a 10% da amostra. Empregada comumente em análises e é
recomendada para grandes volumes. Splitless- Não divide o fluxo. Ideal para análises
de nível traço. Dilui-se a amostra em um solvente com baixo PE e injeta a amostra a
uma temperatura 40 °C abaixo deste ponto. Após a condensação do solvente, a
temperatura da coluna é aumentada e inicia-se a separação. O volume injetado vai
depender do tipo de coluna: Capilar: até 0,25mm (0,01 a 3) μL de amostra líquida.
Empacotada: até 3,2 mm (0,2 a 20) μL de amostra líquida.

Colunas

Empacotada - São tubulares, empacotada, os tubos são empacotados com fase


estacionária de material uniforme, finamente dividida ou, com suporte sólido
recoberto com uma fina camada de fase líquida estacionária. O suporte sólido de uma
coluna empacotada tem como papel manter a fase estacionária líquida no lugar para
que uma área suficientemente grande seja exposta à fase móvel. Possui comprimento
0.5-5m (Max 2m), diâmetro externo 2-4mm, enchimento de 0.5 a 25% de fase líquida
(Nascimento et al., 2018).

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Capilares - As colunas capilares contêm uma FE líquida ou sólida recobrindo suas


paredes internas. (NASCIMENTO et al., 2018). Geralmente são feitas de aço
inoxidável, vidro ou sílica fundida, SiO2, com recobrimento de um material protetor
(poliimida). Possui comprimento entre 12-60m, diâmetro externo 0.1, 0.22, 0.32,
0.53mm, material: sílica fundida, metal inerte.

Sinal

O sinal cromatográfico relaciona as áreas/altura do pico com a concentração do


injetado (amostra). Para se fazer uma análise quantitativa, é necessário se fazer um
padrão analítico para comparação (Lanças et al., 1993). Assim, após a calibração do
equipamento e com seus respectivos padrões de substâncias, é possível levantar a
curva analítica da amostra desejada. A Figura 5 mostra sinais de cromatogramas
típicos.

Figura 5: Picos cromatográficos.

Fonte: https://www.ufjf.br/baccan/

REVISÃO DA LITERATURA

Após a pesquisa na base de dados supracitada, foi possível identificar a seguinte


quantidade de trabalhos, segundo a Tabela 1:

Dos trabalhos encontrados

Admitindo-se os critérios de exclusão adotados anteriormente, foi possível


obter os seguintes resultados para esta investigação:

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Admitindo-se o tema do trabalho como carotenóides encontrados em


manipueira, umbu e carotenóides diversos que utilizassem o método de
cromatografia gasosa e/ou líquida como técnica de quantificação, encontraram-se 6
trabalhos. Para a quantificação e qualificação de umbu e manipueira o levantamento
deste período apresentou que a cromatografia gasosa tomou espaço nas publicações
como método principal de quantificação, conforme mostrado na Figura 6.

Tabela 1: Trabalhos encontrados na base de dados utilizando os descritores e os


operadores booleanos.

Base de Descritores Ano Quantidade de


dados trabalhos

Cromatografia gasosa AND 2019 03


carotenoides 2018 08

2020 01
Cromatografia AND 2019 03
Web of manipueira 2018 00
science

2020 02
Cromatografia AND 2019 06
umbu 2018 11

Cromatografia AND 2019 01


carotenoides

Cromatografia AND 2019 01


lipídeos 2018 01

Gas chromatography AND 2019 02


carotene

HPLC AND 2019 02


carotene 2018 03

Total 44

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Pode-se observar que dos 44 artigos obtidos no período de 2018 a 2020


contendo manipueira, umbu e cromatografia gasosa e/ou líquida, tanto para o umbu
quanto para a manipueira, a técnica de cromatografia gasosa mostra-se mais utilizada
pelos autores. Destes, 6 retrataram o uso da técnica de cromatografia gasosa em
análise de umbu e 3 retrataram a mesma técnica para análise de manipueira.

Figura 6: Técnicas de quantificação para umbu e manipueira.

Fonte: Próprio Autor (2020).

Para os carotenóides

Com base nestes artigos publicados, pode-se dizer que a cromatografia líquida
ainda é utilizada de maneira corriqueira para as análises de quantificação de
carotenóides (Aquino et al., 2018; Deus et al.,2018; Oliveira et al., 2019), no entanto, a
cromatografia gasosa vem se apresentando uma técnica alternativa bastante eficiente
em termos de quantificação (Souza et al., 2018; Aquino, 2018; Santos et al., 2019).
Para que a investigação em cromatografia gasosa seja mais eficiente, é necessário que
se transforme a molécula em algo mais volátil e estável (Santos et al., 2019), já que ela
pode ser degradada no instante da aplicação no cromatógrafo e por possuir um ponto
de ebulição relativamente baixo, onde parte da sua molécula com anéis aromáticos se
convertem rapidamente em outras substâncias.

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Separação por cromatografia gasosa

A separação efetuada por cromatografia gasosa e líquida são chamadas de


separação por partição, uma vez que são baseadas nas diferenças de solubilidade dos
componentes na fase estacionária (líquido/sólido) e na fase móvel (líquido/gás).
Para Santos et al., 2019, a análise foi efetuada em GC × GC / qMS em um sistema
Shimadzu GC × GC / qMS que consiste em um cromatógrafo de gás GC2010 e um
espectrômetro de massa quadrúpolo QP2010 Ultra (Shimadzu Corp., TYO, Japão). O
espectrômetro de massa foi operado a 70 eV no modo de varredura rápida (20000
Daltons por s) ao longo de uma faixa de 40-250 m / z, dando uma taxa de aquisição de
65 Hz.

O sistema foi fornecido com um modulador tipo loop (Zoex Corp., TX, USA)
resfriado com nitrogênio líquido e com tempo de pulso de jato quente ajustado em
375 ms (300 ° C) com tempo de modulação de 5 s. As separações foram obtidas em
uma coluna analítica DB-5 (5% fenil metil-polissiloxano, Agilent Technologies, CA,
EUA) (60 m × 0,25 mm × 0,25 µm) como primeira dimensão (1D). A coluna de
segunda dimensão (2D) era uma coluna analítica DB-17 (50% fenilmetil-
polissiloxano, Agilent Technologies, CA, EUA) (2,15 m × 0,18 mm × 0,18 µm). As
temperaturas foram definidas da seguinte forma: 40 ° C (manter 5 min), aumentada
para 115 ° C (3 ° C min 1) e, em seguida, para 175 ºC (2 ºC min 1) e finalmente
24 ° C (3 ºC min 1) -1) (mantenha 10 min). O injetor, a fonte de íons e a
temperatura da interface foram mantidos em 250 ° C.

As amostras foram injetadas no modo split (1:20) e a taxa de fluxo do gás de


arraste (hélio) foi de 0,91 mL min – 1. Para Visentin (2020), após um tratamento da
amostra com 1 mL de hexano e 3 mL de água MiliQ, foi pipetada para um Eppendorf e
adicionado 1 mL de água MiliQ para novamente coletar a fase orgânica, garantido a
coleta de todo material. A amostra final foi transferida para um vial de GC -FID
Shimadzu Modelo GC-2010 Plus®1 em que foi analisada.

O equipamento opera com um auto injetor e com uma coluna RTX-Wax de 30 m


com diâmetro interno de 0,25mm e espessura de filme de 25 μm. Uma alíquota de 1
μL da amostra foi injetada em modo splitless, com a porta de injeção a 250 ºC e o
detector a 300 ºC. A temperatura do forno utilizada seguiu-se em: 50 °C por 1 minuto,

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25 °C por minuto até 200°C, e por fim 3 °C por minuto até 230 °C. Utilizou-se o padrão
Supelco 37 component FAME mix (CRM-47885) para identificar os picos. A área
relativa de cada pico de interesse (metil-ésteres) foi empregada como medida
indireta para a quantificação de cada ácido graxo. Para Costa (2020) as amostras
foram analisadas num cromatógrafo (Varian 3800), equipado com detector de
ionização à chama (FID) e coluna capilar (Supelcowax 10, comprimento de 30 m,
diâmetro interno de 0,32 mm e espessura de filme de 0,25 μm) nas seguintes
condições: temperatura inicial da coluna de 60ºC (2 min); taxa de aquecimento de
10ºC/min até 200ºC, seguida de taxa de aquecimento de 5ºC/min até 240ºC (7 min);
temperatura do injetor de 250ºC; temperatura do detector de 250ºC; pressão do gás
de arraste (hélio - N50) de ,0 psi; volume de injeção de 1 μL. Para Hamdan (2019), a
análise foi realizada utilizando um cromatógrafo GCMS-QP2010 (Shimadzu, Kyoto,
Japan) equipado com uma coluna Durabound DB-23 30 m × 0,25 mm × 0,25 μm.

A temperatura do injetor e do detector foram fixados em 230 °C e temperatura


da coluna em 90 °C. O gradiente de eluição na coluna foi de 90 a 150 °C (10 °C/min),
150 a 200 °C (5 °C/min), 200 a 230 °C (3 °C/min) em um tempo total de corrida de 34
min, utilizando hélio como gás de arraste vazão de 187,2 mL/min.

Em todos os trabalhos aqui citados, as análises de lípídios (também na forma de


carotenoides), ácidos graxos e ésteres metílicos foram analisados e separados em
cromatógrafos de colunas cromatográficas do tipo capilar, com uma fase estacionária
apolar, isso faz com que o analito de maior interação permaneça retido na coluna
enquanto o menos interativo flua com o gás de arraste. Como a amostra líquida
precisa estar na fase de vapor para ser analisada, a temperatura do injetor é
fundamental nesta etapa, então, foram mantidas a uma temperatura de 250ºC no
injetor em 2 trabalhos e 230ºC em apenas 1 trabalho. É importante que a amostra
vaporize, mas não se decomponha e, essa temperatura deve estar acima da
temperatura de ebulição do componente menos volátil (Ciola, 1985). Nota-se também
que os autores descreveram o pré-tratamento de amostra com processos derivativos
como: transesterificação e sililação, uma vez que as moléculas lipídicas (como a dos
carotenoides) precisam ser volatilizadas para serem separadas por cromatografia
gasosa. Deste modo, tanto na extração dos carotenoides como no pré-tratamento da
amostra, os procedimentos são realizados em locais de pouca luminosidade e baixas

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temperaturas, já que sob a influência da luz, observaram que o betacaroteno sofre


rápida degradação. Após 30 min de exposição, a concentração de betacaroteno se
reduz à metade da concentração inicial (UENOJO, et al.,2007). Ao que se pode
perceber, o cromatógrafo acoplado à espectrometria de massas é amplamente
utilizado para uma separação e detecção de amostras de nível traço e apresenta picos
bem definidos, sendo possível a identificação e quantificação dos compostos,
trazendo confiabilidade para a análise. Todos os trabalhos citados fizeram análise de
lipídeos e/ou ácidos graxos oriundos de microalgas e/ou biomassa de produtos e
resíduos alimentícios.

Sobre a manipueira

A manipueira é um efluente hidropônico que tem sido estudada de maneira


diversificada, principalmente para a remoção dela do meio ambiente (Costa, 2018), já
que é um poluente orgânico largamente utilizado como adubo e pesticida natural
(Visentin, 2020; Araújo et al., 2018). Como a manipueira é rica em N, P, K, Ca, S, Mg, Fe
e lipídeos como o betacaroteno, pode ser transformada e utilizada para fins
cosméticos, ração animal e produção de biocombustíveis (Costa, 2018; Visentin,
2020). Os estudos atuais mostram que essa transformação vem sendo empregada
utilizando microalgas (Costa, 2018; Hamdan, 2019) e biotransformação através de
leveduras, principalmente da subfamília das Rhodotorulas. As publicações
apresentaram boas conversões da biomassa em produtos de interesse, como o
betacaroteno entre outros.

Sobre o umbu

A fruta típica do nordeste brasileiro vem sendo investigada por seu grande
número de vitamina C, potássio, sódio, betacaroteno entre outros. Assim, diversas
aplicações estão sendo feitas no ramo industrial (fonte). Segundo Correa (2018), o
umbu é um potencial antimicrobiano graças a sua composição química. Também é
considerado uma grande fonte de rotina (composto fenólico estudado para a
prevenção de doenças crônicas), com 162,4 mg/Kg. Possui também atividades
anticâncer (Guedes, 2018). Por possuir uma diversidade de compostos fenólicos em

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sua composição, as propriedades do umbu vêm sendo quantificadas através de


cromatografia líquida e gasosa (Guedes, 2018; Santos, 2018). Eventualmente, as
amostras que foram analisadas em cromatografia gasosa para determinação de
carotenoides passaram por tratamento prévio (Soares, 2019; Deus et al., 2018).

CONCLUSÕES

O trabalho mostrou que nestes últimos dois anos, tem-se estudado sobre a
separação, detecção e quantificação de carotenoides em diversas matrizes para
diferentes finalidades. Novas tecnologias vêm sendo aplicadas para o avanço da
qualidade dos cromatógrafos gasosos, mostrando a técnica bastante promissora em
análises de lipídios e ácidos graxos obtidos de biomassa alimentícia. Não foram
encontrados trabalhos sobre cultivo submerso nestes dois anos.

Apresentou também que rejeitos industriais estão sendo transformados de


maneira efetiva, o que ajuda o meio ambiente e otimiza o meio de produção, já que
estes resíduos podem ser rentáveis e, por fim, que as técnicas de cromatografia
líquida e gasosa possuem um papel importante na separação e quantificação de
carotenóides. Esses dois métodos conseguiram apresentar resultados satisfatórios de
análise e quantificação. Como sugestão de estudo destacam-se a quantificação e
qualificação dos carotenoides produzidos no cultivo utilizando manipueira e a
quantificação e qualificação dos carotenoides obtidos no cultivo utilizando polpa de
umbu.

Embora a manipueira e o umbu sejam produzidos largamente, os dois últimos


anos mostraram que houve um aumento nas pesquisas relativo ao tema, o que torna a
pesquisa deste grupo mais relevante.

AGRADECIMENTOS

A UFPB pela bolsa de Iniciação científica e ao LASOM/UFPB por disponibilizar


um dos seus doutorandos.

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CAPÍTULO 31
MODELAGEM DA PRODUÇÃO
DE ETANOL UTILIZANDO O
GLICEROL RESIDUAL DE
BIODIESEL: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA

Jadson Gonçalves Batista 1


Camila Luciana Silva de Mesquita 2
Giulia Torres Silveira 3
Andrea Lopes de Oliveira Ferreira 4
Giovanilton Ferreira Silva 5

1
Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: Jadson.goncalves@academico.ufpb.br, ID Lattes: 1236580001191698.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: camilalsmesquita@gmail.com, ID Lattes: 1555414154385746.
3
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email: giulia.silveira1102@gmail.com, ID Lattes: 2791535194065454.
4
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), João Pessoa, PB, email: andrea.ferreira@academico.ufpb.br, ID Lattes: 510054
9429375497.
5
Professor do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), João Pessoa, PB, email: giovanilton@ct.ufpb.br, ID Lattes: 07522504817836333.

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MODELAGEM DA PRODUÇÃO DE ETANOL UTILIZANDO O GLICEROL RESIDUAL DE


BIODIESEL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

RESUMO
O mercado brasileiro de biodiesel cresce pois ele é um combustível não fóssil,
biodegradável e renovável. Todavia, sua produção deve considerar o uso de resíduos
formados no processamento. Glicerol, resíduo gerado, possui potencial de
transformação, por exemplo, o etanol é um produto que pode ser obtido a partir da
fermentação do glicerol, cujos parâmetros podem ser estimados a partir de métodos
numéricos e o sistema simulado através de softwares, visando sua utilização em
escala industrial. Visto isso, o grupo realizou uma revisão bibliográfica dispondo de
24 artigos, destes, 7 foram escolhidos dentro dos critérios de inclusão e exclusão. Os
trabalhos mostraram que a temperatura para produção microbiológica foi de 37 °C
com tempo médio de fermentação de 72h. As modelagens encontradas foram de
encontro aos ensaios reais, mostrando-se positiva para anteceder os testes de
bancada e escalas piloto.
Palavras-chave: Biodiesel; Glicerol; Etanol; Levenberg-Marquardt.

MODELING ETHANOL PRODUCTION USING RESIDUAL GLYCEROL FROM BIODIESEL: A


BIBLIOGRAPHIC REVIEW

ABSTRACT
Brazilian biodiesel market grows due to be a non-fossil, biodegradable, and
renewable fuel. However, its production must consider the use of waste generated in
processing. Glycerol, waste generated, has transformation potential, for example,
ethanol is a product that can be obtained from the fermentation of glycerol, whose
parameters can be estimated from numerical methods and the system simulated
through software, aiming at its use on an industrial scale. In view of this, the group
carried out a literature review with 24 articles, of which 7 were chosen within the
inclusion and exclusion criteria. The work showed that the temperature for
microbiological production was 37 °C with a fermentation time of 72h on average.
The models found agreed with the real tests, being positive to precede the bench tests
and pilot scales.
Keywords: Biodiesel; Glycerol; Ethanol; Levenberg-Marquardt.

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INTRODUÇÃO

O biodiesel é um combustível renovável que pode ser obtido a partir do


processo químico denominado transesterificação. Nesta reação, os triglicerídeos
presentes nos óleos e gordura animal reagem com um álcool primário gerando dois
produtos: éster e glicerina (ANP, 2014). Conforme descrito na figura 1.

Figura 1: Reação de transesterificação.

Fonte: https://www.etipbioenergy.eu/images/transesterification_reaction-
equation.png

A glicerina é um triol com alto ponto de ebulição e insolúvel em


hidrocarbonetos. Portanto, ela não pode ser diretamente misturada com gasolina,
diesel e biodiesel (Mota et al., 2011). Existem quatro tipos de glicerina que podem ser
obtidas: a Bruta (contém muito catalisador da transesterificação, bastante etanol,
água, ácidos graxos e sabões); a Loira (após receber tratamento ácido, seguido de
remoção dos ácidos graxos. Possui de 75 a 85% de glicerol, o restante é composto de
sais, água e traços de etanol); Grau farmacêutico (glicerina loira após ser bidestilada a
vácuo e tratada com absorventes. Apresenta mais de 99% de pureza); e Grau
alimentício (completamente isenta de etanol, pode ser obtida pela hidrólise de
óleos/gorduras) (BiodieselBR, 2008).

O Conselho Nacional de Política Energética (2018), estimou que foram


consumidos 5,9 bilhões de litros de biodiesel no Brasil em 2019, o que equivale a um
excedente no mercado de 590 mil m3/ano de glicerina. No mundo, a produção foi de
23,1 milhões de m3/ano, gerando uma produção de mais de 2 milhões de m3 de
glicerol (IGTPAN, 2020). No primeiro trimestre de 2021, a Agência Nacional do

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Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) determinou que a mistura de


biocombustível ao óleo diesel fosse de, no mínimo, 13%. Onde houve também um
concomitante aumento na produção de glicerina originado do processo de produção
do biodiesel.

A glicerina de biodiesel apresenta restrições tecnológicas, em decorrência da


alta contaminação neste processo e não pode ser repassada para setores como a
indústria farmacêutica (Pinheiro et al., 2010). Portanto, as empresas vêm buscando
alternativas para utilização deste resíduo. Muitas empresas estão estocando o
produto, a fim de encontrar uma finalidade viável, uma vez que o produto não pode
ser descartado livremente no meio ambiente.

Uma das principais alternativas para o aproveitamento da glicerina excedente é


sua transformação química em produtos de maior valor agregado e grande mercado
consumidor, como o etanol, insumo utilizado em larga escala na indústria energética.
O interesse em produção de etanol tem crescido ao longo das décadas, tendo como
principal objetivo reduzir os problemas ocasionados pela excessiva produção de
gases de efeito estufa, oriundos principalmente de combustíveis fósseis (Pinheiro et
al., 2010).

Esse biocombustível tem se tornado altamente atrativo economicamente e o


Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo (ANP, 2019). Ele é um
composto orgânico, incolor, volátil, inflamável e totalmente solúvel em água, utilizado
mundialmente como combustível automotivo com uma rápida e limpa combustão
quando comparado à gasolina (Silva, 2009).

Vias de produção do etanol

O etanol pode ser obtido através de dois processos diferentes: (1) por via
sintética, a partir da hidratação do etileno e etino ou a partir de gases de petróleo e
hulha e (2) por via fermentativa através da fermentação de açúcares (glicose,
sacarose e frutose) presentes em produtos de origem agrícola por microrganismos,
sob condições anaeróbias (Pinheiro et al., 2010).

A via fermentativa é o processo mais amplamente utilizado e trata-se de um


catabolismo anaeróbio, no qual há doação e aceitação de elétrons por parte de um

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composto orgânico (Ray e Joshi, 2015). Inicialmente, deve-se reconhecer que em um


processo fermentativo, estão envolvidos dois sistemas que interagem continuamente:
a fase biológica composta pela população microbiana ou pela cultura de células
animais ou vegetais e a fase ambiental ou o meio de cultura, como é comumente
conhecido e que contém substratos e produtos do processo (Schmidell et al., 2001).

Modelagem dos processos fermentativos

Schmidell et al. (2001), definem a modelagem matemática de processos


fermentativos como a tentativa de representar, através de equações matemáticas, os
balanços de massa para cada componente no biorreator, associados às complexas
transformações bioquímicas que ocorrem no processo e às velocidades com que essas
transformações se processam.

A descrição matemática do crescimento microbiano é complexa e não envolve


completamente os aspectos biológicos, na literatura existem muitos modelos que
descrevem o crescimento microbiano, mas a maioria possui suas limitações.
Logicamente, a descrição completa de todas as vias e interpretações metabólicas que
ocorrem em um processo biológico seria uma tarefa impossível (Oliveira et al., 2017).

Os modelos matemáticos de processos fermentativos podem ser definidos em


três grupos: fenomenológico, entrada-saída (caixa-preta) e modelos híbridos (caixa-
cinza) (Lopes, 2007). Os modelos fenomenológicos são utilizados para explicar os
fenômenos e o comportamento das variáveis do processo. Para processos
fermentativos, são constituídos por equações de balanço ou de conservação de massa,
energia ou quantidade de movimento. Tais como, equações termodinâmicas e
cinéticas que descrevem a geração ou consumo de espécies dentro do sistema
(Schmidell et al., 2001).

Já na abordagem caixa-preta, o desenvolvimento do modelo está relacionado


com observações do comportamento dos dados medidos do sistema a ser modelado.
Sua principal vantagem é o fato de ser possível a obtenção, em um período curto, de
um modelo matemático preciso sem que seja necessário um conhecimento detalhado
do processo. No entanto, sua principal desvantagem é a impossibilidade de realizar
extrapolações, sendo necessário que os experimentos cubram todo domínio de

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aplicação do modelo para evitar tal problema. O principal exemplo deste tipo de
abordagem são as redes neurais artificiais (Van-Can et al., 1997).

Os modelos híbridos (caixa-cinza), fazem a combinação das equações de


princípios fundamentais com uma ou mais redes neurais (RNA). Onde as RNAs atuam
como estimadores de parâmetros ou variáveis desconhecidas (Lopes, 2007).

Estimativa de parâmetros

Para que o modelo cinético seja ajustado aos dados experimentais, ou seja, para
que a diferença entre os dados experimentais obtidos e os previstos pelo modelo seja
mínima, é preciso estimar os parâmetros do processo de fermentação, eles irão
constituir a representação matemática do processo e são determinados a partir de
dados experimentais (Degasperi et al., 2017).

Apesar da grande aplicabilidade dos modelos lineares, frequentemente,


problemas reais são não-lineares. Para estes, também é possível considerar o caso em
que o sistema não possui solução, sendo uma proposta alternativa encontrar uma
solução aproximada em determinado sentido. Essa aproximação gera o problema dos
quadrados mínimos, que podem ser resolvidos a partir de métodos numéricos
iterativos (Benatti e Ribeiro, 2017).

O primeiro método clássico, utilizado para a estimativa de parâmetros é


denominado método de Newton, cujo intuito é resolver o problema:

min f(x) ; x Rn (1)

Onde, f(x) (1/2) R(x) (2)

Por definição de temos que: f(x) JT (x)R(x) (3)

2
f(x) JT (x)J(x) S(x) (4)

Onde, J(x) i,j


ri (x)/ x (5)

m 2
S(x) k 1 rk (x) (x) (6)

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Sendo rk (x) a k-ésima coordenada de R(x), k = 1, . . ., m.


Contudo, o cálculo de S(x) se torna muito complicado em funções de grande
2
porte, devido ao cálculo da matriz rk (x) da equação (6). Ademais, as principais
desvantagens deste método são: requer a inversão de uma matriz, ou pelo menos a
solução de um sistema linear a cada iteração e a avaliação analítica das derivadas de
1ª e 2ª ordem (Dutta, 2016); pode convergir para um ponto de sela se H(x) não é
positiva definida e tem desempenho fraco ou não converge quando a estimativa
inicial é ruim (Himmelblau, 2001).

Uma alternativa para este método é aproximar a função objetivo a partir de uma
aproximação quadrática em série de Taylor, gerando o método de Gauss-Newton:

Considerando a aproximação de primeira ordem de R (x) em torno de xk :

R(x) R(xk ) J (xk )d (7)

Onde, d (x-xk ) (8)


Então, o problema (1) é substituído por:

1 2
min R(xk ) J (xk )d ;d Rn (9)
2

Cuja solução é a direção de Gauss-Newton ( ) que satisfaz:

(JT (xk )J (xk )) dk -JT (xk )R (xk ) (10)

Segundo Benatti e Ribeiro (2017), para garantir a boa definição das direções de
minimização no método Gauss-Newton, Levenberg-Marquardt (LM) propôs
inicialmente a introdução de um parâmetro ≥ 0 na diagonal de JT (xk ) J(xk ) ao
sistema de Gauss-Newton, estabelecendo o sistema abaixo, denominado de modelo de
Levenberg-Marquardt:
(JT (xk )J (xk ) λk I)dk -JT (xk )R(xk ) (11)

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Dessa maneira, para λ 0, LM torna-se o Método de Newton e quando λ , LM


torna-se o Método Gradiente Descendente. Contudo, λ > min (autovalor da Hessiana)
(Dutta, 2016). O método de gradiente descendente é um método numérico usado em
otimização que começa a partir de um ponto inicial de teste e se move iterativamente
ao longo das direções de descida mais íngreme até que o ponto ideal seja alcançado
(Dutta, 2016).

De acordo com Benatti e Ribeiro (2017), na literatura existem diversas


propostas de encontrar o parâmetro λ, ele influencia tanto na direção quanto no
tamanho do passo, não tornando necessária uma busca linear para descobrir o
tamanho do passo ótimo a ser dado a cada iteração. Conforme Himmelblau (2001), tal
parâmetro deve ser grande o suficiente para proporcionar um decréscimo na função
objetivo. Ademais, com lambda suficientemente grande, o produto entre ele e a matriz
identidade na equação (11), pode sobrecarregar a Hessiana e a minimização se
aproximar de uma busca de descida mais íngreme. A principal vantagem do método
de Levenberg-Marquardt é a combinação do método de gradiente descendente com o
de Newton, conseguindo aproveitar as melhores características dos dois métodos
(Dutta, 2016).

Nesse contexto, este trabalho fez um levantamento na literatura a respeito da


modelagem da produção de etanol a partir do glicerol residual de biodiesel, focado na
realidade brasileira. Visando apoiar futuras pesquisas que pretendam otimizar e
simular o processo de fermentação do glicerol para obtenção de etanol.

REVISÃO DA LITERATURA

Os materiais coletados foram organizados na Tabela 1 de acordo com a base de


dados, os descritores utilizados e o ano de publicação. Onde é possível observar que
admitindo-se os critérios de exclusão adotados na busca, foi possível obter 24
trabalhos, entretanto, considerando apenas os trabalhos que tratavam da obtenção de
etanol a partir da fermentação do glicerol e a modelagem matemática deste processo,
este número se reduziu a 7 artigos.

Tabela 1: Trabalhos encontrados nas bases de dados utilizando os descritores e os


operadores booleanos.

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Base de dados Descritores Ano Número de trabalhos

2018 7
Ethanol AND 2019 6
glycerol 2020 4

2018 0
Web of Science Ethanol AND 2019 2
biodiesel 2020 2

2018 0
Levenberg-Marquardt AND 2019 1
ethanol 2020 2

Dos 24 trabalhos encontrados, 14 utilizaram algum tipo de microrganismos,


conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2: Microrganismos utilizados para a conversão de glicerol em etanol.

Microrganismos Trabalhos

Escherichia coli Pranata et al., (2018) e Ndar-Umar et al., (2018).

Saccharomyces Strucko et al., (2018); Mutton et al., (2019); Morais (2020);


cerevisiae Costa et al., (2019); Cunha et al., (2019); Naghshbandi et al.,
(2019); Udom et al., (2019).

Enterobacter Zorel (2020) e Sunarno et al., (2020).


aerogenes

Outros Carneiro e Bovolini (2020); Morcelli et al., (2018); Kostyniuk et


al., (2020).

Na Tabela 2, pôde-se observar que a levedura Saccharomyces cerevisiae e a


bactéria Enterobacter aerogenes foram os microrganismos mais utilizadas no
processo de obtenção de etanol a partir de glicerol. Para os trabalhos escolhidos como
base, seis informaram pH 7 para o processo fermentativo: Pranata et al., (2018),
Mutton et al., (2019), Sunarno et al., (2019); Sunarno et al., (2020); Rezende et al.,
(2019), Morcelli (2018) e apenas um informou pH 8: Zorel (2019). Das temperaturas

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citadas, todas as pesquisas se mantiveram próximas a 37 °C, independentemente do


microrganismo utilizado. Em geral, o tempo para ocorrer a fermentação foi de 72 h.

Aplicações do glicerol residual


Apesar das melhorias alcançadas, a aplicabilidade da transformação biológica
de glicerol ainda esbarra em complicações inerentes a sistemas reais, principalmente
no que diz respeito às altas concentrações de substrato e à presença de impurezas
que ainda inviabilizam a aplicação prática do processo (Zorel, 2019).

Morcelli et al., (2018) produziu 1,3-propanodiol de forma eficiente utilizando


glicerol bruto da indústria de biodiesel como única fonte de carbono em condições
anaeróbias em sistema fed-batch inoculado com cepas de K. pneumoniae. Essa cepa
também produziu etanol, embora adaptações de processos sejam necessárias para
atingir produções mais próximas aos títulos produzidos por leveduras e bactérias
utilizadas para fermentação etanoica em substrato de açúcar.

Produção de etanol

Em relação ao etanol, Zorel (2019) destacou que a concentração de glicerol é


fator determinante para o direcionamento da fonte de carbono para a sua geração, de
modo que os experimentos com a concentração mais baixa de substrato
apresentaram os maiores rendimentos de etanol. Entretanto, quando comparou esses
experimentos com os que foram empregadas nas mesmas concentrações iniciais de
substrato e inóculo, observou que o pH exerceu influência de magnitude semelhante à
da concentração de glicerol sobre o rendimento de etanol.

Modelagem e simulação de Bioprocessos

Grande parte dos trabalhos estudados utilizaram o software MatLab para


modelagem e simulação, devido a simplicidade da interface e a facilidade de
manipulação. Essa ferramenta pode ser importante na modelagem de novos
Bioprocessos industriais em simulação de eficiências de conversão de reagentes em
produtos, dimensionamento de equipamentos e de tempos de reação, sendo assim
utilizável em etapas de Scale Up e avaliação técnica e econômica (Costa et al., 2019).

CONCLUSÕES

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O presente trabalho revelou uma ampla pesquisa com biodiesel, contudo, há


poucos com obtenção de etanol a partir de glicerol nestes últimos dois anos. Para o
tema proposto, a utilização de simulação e modelagem foi notória a escassez de
produção e as poucas detectadas utilizaram o software MatLab. Para trabalhos
futuros, o grupo utilizará o software livre Scilab para a modelagem do processo, a
partir de dados experimentais.

AGRADECIMENTOS

A UFPB pelo financiamento da bolsa concedida.

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CAPÍTULO 32

PRODUÇÃO DE AROMAS
NATURAIS A PARTIR DA
HIDRÓLISE DA GORDURA DO
LEITE FAVORECIDA POR
ULTRASSOM

Arthur Pompilio da Capela1


Alécia Daila Barros Guimarães2
Isabela Soares Magalhães3
Bruno Ricardo de Castro Leite Júnior4

1
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal Viçosa (UFV),
Viçosa, MG, email: arthurpompilio@hotmail.com, ID Lattes: 3625965144792836.
2
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal Viçosa (UFV),
Viçosa, MG, email: aleciabarros@live.com, ID Lattes: 3203684996416845.
3
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal Viçosa (UFV),
Viçosa, MG, email: isabela.magalhães@ufv.com.br, ID Lattes: 2459923769010942.
4
Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: brunorclj@gmail.com, ID Lattes: 5096562930650660.

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PRODUÇÃO DE AROMAS NATURAIS A PARTIR DA HIDRÓLISE DA GORDURA DO LEITE


FAVORECIDA POR ULTRASSOM

RESUMO
A gordura láctea apresenta um grande potencial na geração de compostos
aromáticos. Com base no perfil lipídico de cada tipo de leite destaca-se que os ácidos
graxos, principalmente, os de cadeia curta e média obtidos por hidrólise enzimática,
podem ser usados na solução de problemas de aromatização e saborização dos
alimentos atendendo as exigências por rótulos limpos (clean label). Porém as reações
enzimáticas podem apresentar limitações como alto custo, longo tempo e baixo
rendimento. A tecnologia de ultrassom possui a capacidade de modificar as estruturas
dos constituintes, sendo capaz de promover ativação enzimática e aceleração da
hidrólise sob condições específicas de pH, potência, tempo e temperatura. Portanto,
esse capítulo apresenta o potencial da gordura do leite de cabra e vaca na geração de
compostos aromáticos obtidos por meio da hidrólise enzimática, bem como uma
abordagem do uso do ultrassom para potencializar a performance enzimática.
Palavras-chave: Aroma. Gordura láctea. Hidrólise enzimática. Lipase. Ultrassom.

PRODUCTION OF NATURAL FLAVORS FROM THE HYDROLYSIS OF MILK FAT


FAVORED BY ULTRASOUND

ABSTRACT
Milk fat presents a huge potential in the generation of aromatic compounds.
According to the lipid profile of each type of milk, it is stand out that fatty acids,
mainly short and medium chain ones obtained by enzymatic hydrolysis, can be used
to solve food flavoring and flavoring problems, attending the clean label's demand.
However, enzymatic reactions may have limitations such as high cost, long time and
low yield. Ultrasound technology has the ability to modify the structures of
constituents, being able to promote enzymatic activation and acceleration of
hydrolysis under specific conditions of pH, potency, time and temperature. Therefore,
this chapter presents the potential of goat and cow milk fat in the generation of
aromatic compounds obtained through enzymatic hydrolysis, as well as an approach
of the use of ultrasound to enhance enzymatic performance.
Key-words: Flavor. Milk fat. Enzymatic hydrolysis. Lipase. Ultrasound.

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INTRODUÇÃO

O aroma é considerado um dos principais atributos sensoriais e apresenta


influência direta no sabor dos alimentos. Com a diversidade de produtos alimentícios
existentes no mercado, as características sensoriais de aroma e sabor são
determinantes para garantir a aceitação do consumidor (Food Ingredients Brasil,
2015). Em termos de saudabilidade, os aromas naturais têm a preferência do
consumidor, o que aumenta a demanda por processos biotecnológicos na obtenção
destes aromas. Entre as principais fontes naturais destaca-se a gordura do leite.
A gordura do leite de vaca é um dos principais componentes desta matéria-
prima em termos de valorização, sabor e nutrição. Esse constituinte é composto em
maior parte por triacilgliceróis (~98% dos lipídios do leite) com a predominância de
ácidos graxos (AG) de cadeia média e longa. Por outro lado, a gordura do leite de
cabra é rica em ácidos graxos de cadeia curta (capróico, caprílico e cáprico) e ácidos
graxos de cadeia média (ácido láurico e palmítico) (Park, 2006; Amigo e Fontecha,
2011). Essa composição é extremamente interessante do ponto de vista industrial,
visando a obtenção de ácidos graxos de cadeia curta para produção de aromas
naturais na indústria de alimentos.
As desvantagens dos métodos tradicionais de produção de compostos
aromatizantes utilizados na indústria de alimentos e o grande interesse por produtos
naturais incentivou as indústrias de aroma a desenvolver outras estratégias para
produção de aromatizantes naturais. Dessa forma, a produção desses aromas naturais
a partir da gordura de leite de cabra e vaca, em substituição a aromas sintéticos parte
da demanda por alimentos mais naturais, o que está associado a crescente
preocupação com a saúde e bem-estar dos consumidores.
Nesse contexto, os processos biocatalíticos para a produção destes compostos
em escala industrial vem sendo desenvolvidos por apresentar vantagens econômicas
e ambientais em relação aos processos químicos convencionais. Além disso, as
estruturas desses compostos obtidos por vias enzimáticas resultam em aromas
naturais de alta performance e com perfis equilibrados equivalente a matéria-prima
que lhe deu origem, tornando o perfil do aroma mais natural e suave do que o obtido
por via sintética. Estas características vêm ao encontro das exigências por rótulos
limpos (clean label) tornando este processo um empreendimento potencialmente
lucrativo.

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As lipases desempenham um papel importante na hidrólise dos triacilgliceróis


para obtenção de ácidos graxos livres de interesse industrial. No entanto, essas
enzimas apresentam estabilidade relativamente baixa sob condições extremas, alto
custo e longo tempo de reação com rendimento limitado, o que dificulta o seu uso em
escala industrial. Para superar essas limitações, tecnologias emergentes, como o
ultrassom, têm sido utilizadas para maximizar os processos de hidrólise.
O envolvimento do ultrassom em reações enzimáticas mostra grande potencial
para aplicações industriais, pois essa tecnologia é capaz de aumentar a velocidade da
reação por meio do aumento da transferência de massa, acelerando, desta forma, as
reações catalisadas por enzimas. Além disso, o US também pode promover ativação
enzimática e modificação da estrutura conformacional do substrato, facilitando o
acesso das enzimas e, consequentemente, acelerando as reações enzimáticas. Assim,
esse capítulo apresenta o potencial da gordura do leite de cabra e vaca na geração de
compostos aromáticos obtidos por meio da hidrólise enzimática, bem como uma
abordagem do uso do ultrassom para potencializar a performance enzimática e
superar as desvantagens técnicas anteriormente mencionadas.

REVISÃO DA LITERATURA

Aromas Naturais
Grande parte do sabor de um alimento é diretamente influenciado pelo aroma,
sendo esse um atributo decisivo na escolha do consumidor por determinado alimento
(Brasil, 2015). O aumento no consumo de alimentos produzidos pela indústria
contribuiu com a expansão da indústria de aromas e, atualmente, esses compostos
são responsáveis por 25% do mercado total de aditivos alimentares, movimentando
cerca de US$ 37,0 bilhões até 2021 (Akacha; Gargouri, 2015; Sá et al., 2017).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por meio da Resolução de Diretoria
Colegiada nº 2, de 15 de janeiro de 2007, define os aromatizantes como sendo
substâncias ou misturas de substâncias com propriedades odoríferas e ou sápidas,
capazes de conferir ou intensificar o aroma e ou sabor dos alimentos e, além disso, os
classifica em aromas sintéticos e os naturais. Segundo o Regulamento Técnico os
aromas sintéticos são compostos obtidos por processos químicos e compreendem os
aromatizantes idênticos aos naturais e os aromatizantes artificiais. Já os aromas

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naturais são obtidos exclusivamente por métodos físicos, microbiológicos ou


enzimáticos, a partir de matérias-primas aromatizantes naturais (Brasil, 2007).
Os compostos aromáticos são no geral obtidos por três métodos: (i) extração da
natureza; (ii) síntese química ou (iii) via biotecnológica (Molina et al. 2015). A
maioria dos compostos aromatizantes de alimentos são produzidos por síntese
química ou extraídos de recursos naturais (Poornima; Preetha, 2017). Os aromas
sintetizados por via química possuem como principal vantagem o rendimento
satisfatório, porém apresentam como desvantagens a formação de alguns produtos
secundários indesejados, devido à baixa seletividade das reações (Dhake et al., 2013).
Além disso, os produtos finais devem ser legalmente rotulados com termos como
“artificial” ou “sintético” diminuindo o apelo mercadológico dos produtos aos quais
eles são adicionados (Sá et al., 2017). Em paralelo, aromas produzidos por extração a
partir de fontes naturais também estão sujeitos a vários problemas. Essas matérias-
primas, geralmente, apresentam baixa concentração dos compostos desejados o que
dificulta seu isolamento e, portanto, aumenta os custos envolvidos na sua extração
podendo tornar o processo comercialmente inviável (Dhake et al., 2013; Akacha;
Gargouri, 2015). Essas desvantagens de ambos os métodos têm incentivado as
indústrias de aroma a desenvolver outras estratégias para produção de
aromatizantes naturais.
Essa tendência coincide com a busca dos consumidores por mais saudabilidade.
Neste contexto, os consumidores estão cada vez mais atentos aos fatores relacionados
à maneira como o alimento foi produzido, qual tecnologia foi utilizada e quais
ingredientes foram adicionados (isentos de compostos indesejáveis, como aromas
artificiais e conservantes). Assim, existe um desafio para a indústria de ingredientes
visando aproveitar esse insight e viabilizar a obtenção de aromas naturais (Bel-
Rhlida, 2018). Portanto, a demanda por processos biotecnológicos para obtenção de
bioaromas tem aumentado nos últimos anos (Poornima; Preetha, 2017), visto que
esses compostos obtidos por métodos microbianos ou enzimáticos são rotulados
como naturais, satisfazendo, assim, a tendência do consumidor em relação a produtos
naturais (Sá et al., 2017).

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Potencial da gordura do leite de cabra e vaca como fonte de aromas naturais


A produção mundial de leite é dominada por cinco espécies, com 83% da
produção total de leite proveniente de vacas, seguida por búfalos (13%), cabras (2%),
ovelhas (1%) e camelos (0,4%) (Foroutan, et al., 2019). Historicamente, o leite de
vaca é o mais produzido e consumido, entretanto, a produção de leite de cabra
aumentou mais de duas vezes nas últimas décadas, com as tendências do mercado
sugerindo que até 2030 aumentará mais 53% (Pulina et al., 2018). Além disso, a
criação de cabras possui importância econômica em países onde as condições
climáticas não são favoráveis à criação de bovinos e se constitui como uma estratégia
útil para lidar com a desnutrição infantil, especialmente nos países em
desenvolvimento (Veruck; Prudêncio, 2018).
Em termos de valorização, sabor e nutrição, a fração lipídica é um dos
componentes de maior importância do leite (Amigo; Fontecha, 2011). Os
triacilgliceróis são moléculas não polares constituídos de ácidos graxos de diferentes
tamanhos e saturação e, do ponto de vista quantitativo, é a classe mais importante da
gordura do leite (representam ~96% da fração lipídica). Outros lipídios do leite são
diacilglicerol (cerca de 2% da fração lipídica), colesterol (menos de 0,5%),
fosfolipídios (cerca de 1%) e ácidos graxos livres (AGL), responsáveis por menos de
0,5% do total de lipídios do leite (Haug et al., 2007). Existem também traços de β-
caroteno, vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e compostos aromatizantes (Taylor;
Macgibbon, 2011).
Os diferentes tipos de triacilgliceróis na gordura do leite variam em peso
molecular e grau de instauração (Taylor; Macgibbon, 2011). Em relação a composição
dos ácidos graxos, comparado ao leite de vaca, o leite de cabra é rico em ácidos graxos
de cadeia curta (por exemplo, capróico (C6:0), caprílico (C8:0) e cáprico (C10:0)) e
ácidos graxos de cadeia média (por exemplo, ácido láurico (C12:0) e palmítico
(C16:0)) (Amigo; Fontecha, 2011). Os ácidos graxos de cadeia curta representam
cerca de 15 a 18% de todos os ácidos graxos presentes no leite de cabra, enquanto os
mesmos ácidos graxos representam apenas 5 a 9% no leite de vaca (Clark; García,
2017). Isto se deve as diferenças na polimerização do acetato produzido pelas
bactérias do rúmen no estômago da cabra que são responsáveis pela composição
específica relacionada ao sabor característico do leite desta espécie (Amigo;
Fontecha, 2011). Além disso, outra característica importante sobre o perfil de ácidos

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graxos do leite de cabra é seu conteúdo de ácidos graxos livres (AGL) de cadeia
ramificada com menos de 11 átomos de carbono, que são praticamente inexistentes
no leite de vaca e que estão associados aos odores e sabores característicos de cabra
(Amigo; Fontecha, 2011). Desta forma, as proporções desses ácidos graxos de cadeia
curta têm efeitos importantes nos aspectos geradores de aroma e sabor (Fox, 2011) e
o perfil lipídico do leite de cabra possui grande impacto tecnológico, uma vez que
influenciam no sabor e no aroma dos produtos lácteos caprinos (Park et al., 2006).
Neste contexto, o sabor da gordura do leite é atribuído, principalmente, a
componentes como ácidos graxos livres de cadeia curta, aldeídos, cetonas e lactonas
(Mortensen, 2011), sendo que os ácidos graxos de cadeia curta e média (C4-C12) são
os principais responsáveis pelo sabor da gordura do leite. Cerca de 120 compostos
voláteis também contribuem para o aroma e sabor geral e apesar de muitos deles
estarem presentes em concentrações abaixo de seus valores limites individuais,
alguns podem interagir de maneira sinérgica criando um perfil de sabor
extremamente complexo (Taylor; Macgibbon, 2011).
Assim, a gordura de origem láctea, bem como os ácidos graxos livres são
adicionados como ingredientes na produção de biscoitos, salgadinhos snacks,
produtos de panificação, gelados comestíveis e chocolates, contribuindo para o aroma
e sabor destes produtos resultando em uma sensação mais intensa e completa na
boca (Mortensen, 2011).
A Butter Buds, empresa Norte Americana situada em Visconsin, é especializada
na produção de aromas enzimaticamente modificados. O processo de obtenção parte
de matérias-primas ricas em proteína e gorduras, que submetidas a um processo de
reação enzimática, resultam em aromas naturais equivalentes a matéria-prima que
lhe deu origem. Aromas de creme de leite, manteiga e de diferentes tipos de queijos
contribuem para a solução de problemas de aromatização e saborização de alimentos,
como o encobrimento das notas verdes, características da proteína de soja em
produtos à base de soja, bem como conferem sabor lácteo, encobrindo notas de
gordura vegetal, em sorvetes (Brasil, 2015).
Desta forma, ressalta-se o papel fundamental desses ácidos graxos nas
características sensoriais dos alimentos destacando sua grande utilidade como
ingrediente na formulação de produtos de origem animal e vegetal. Além disso, em
termos de saudabilidade, a adição dos compostos aromáticos obtidos por meio da

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hidrólise do creme de leite pode favorecer na redução do teor gorduroso dos


alimentos diminuindo o valor calórico do produto final, uma vez que esses compostos
podem promover uma maior cremosidade, sabor e corpo ao produto.

Vantagens da hidrólise enzimática do creme de leite por meio da ação de lipase para a
produção de aromas naturais
Enzimas são proteínas que apresentam a função biológica de catalisar reações
bioquímicas possuindo grande importância para a produção de alimentos (Sharma et
al., 2019). Na ação enzimática, a enzima se liga ao substrato formando um complexo
transitório. Para a formação deste complexo, o substrato é anexado a um local
definido na enzima, chamado sítio ativo. O sítio ativo de uma enzima é a porção da
molécula que interage com o substrato e o converte em produto. Modificações na
estrutura da enzima durante esse processo são efêmeras, o que significa que a enzima
permanece inalterada e pode reagir novamente (Blanco; Blanco, 2017).
Devido às suas propriedades catalíticas, as enzimas se tornaram objeto de
estudo no campo da pesquisa aplicada (Won et al., 2019). Processos baseados em
reações enzimáticas geralmente requerem menor número de etapas e resultam em
menor geração de resíduos. Além disso, esse processo é mais efetivo para produzir
compostos puros por meio de alta quimiosseletividade (Choi et al., 2015). Apesar
disso, há um esforço crescente para encontrar novas metodologias para alterar ou
aprimorar as propriedades das enzimas existentes, visando a redução custos e a
adequação aos requisitos de aplicações industriais (Jemli et al., 2016; Sharma et al.,
2019; Won et al., 2019).
As reações catalisadas por enzimas têm sido utilizadas em diversas área do
processamento de alimentos, como nas indústrias de laticínios, cervejaria, vinho,
suco, gordura e óleo, panificação, dentre outras (Jemli et al., 2016; Sharma et al.,
2019). Essas reações oferecem algumas vantagens como maior especificidade de
substrato, alta taxa de reação em condições ótimas de temperatura e pH, e um
processo de reação contínuo e facilmente controlado (Belitz et al., 2009).
Processos biocatalíticos para a produção em escala comercial de compostos
aromáticos vem sendo desenvolvidos por apresentar vantagens econômicas e
ambientais em relação a processos químicos convencionais. Além disso, as estruturas
desses compostos obtidos por vias enzimáticas possuem características singulares,

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tornando esse processo um empreendimento potencialmente lucrativo (Chapman et


al., 2018).
As lipases (triacilglicerol acil hidrolases E.C.3.1.1.3) são enzimas presentes em
todos os organismos vivos. Sua classificação é feita com base nas fontes de onde são
derivadas (micro-organismos, animais e plantas) e podem ser aplicadas para
realização de hidrólise total ou parcial de triacilgliceróis fornecendo diacilgliceróis,
monoacilgliceróis, glicerol e ácidos graxos livres. Por este motivo, são aplicáveis em
uma diversidade de setores industriais, incluindo para o desenvolvimento de aromas
(Colla et al., 2012; Raveendran et al., 2018; Thangaraj, et al., 2019).
Assim, as lipases comerciais podem ser usadas para o desenvolvimento do
sabor em produtos lácteos e no processamento de outros alimentos que contenham
gordura, bem como para produção de ácidos graxos livres obtidos após a hidrólise do
creme de leite com a finalidade de oferecer aromatizantes naturais para as indústrias
de alimentos (Sharma et al., 2019).
Neste contexto, Chen et al. (2021), propuseram um método de catálise
enzimática dividido em duas etapas para geração de novas notas aromáticas que
pudessem alterar a percepção negativa do sabor de produtos lácteos de cabra. A
gordura do leite de cabra foi hidrolisada para a preparação de ácidos graxos livres
(AGL) como substrato e, em seguida, foi realizada a esterificação para a síntese de
ésteres com notas agradáveis. Na primeira etapa, os AGL foram liberados e
responderam por cerca de 97,5% da fração volátil. No produto final, os ésteres com
notas doces, florais e frutais ocuparam mais de 65% dos compostos voláteis totais,
enquanto a abundância de ácidos graxos caracterizados por odor desagradável
diminuiu 75%. Especialmente, o ácido 4-metiloctanóico, um dos AGL responsáveis
pelo intenso sabor de “cabra”, não foi detectado. Além disso, o desempenho de quatro
lipases comerciais foi investigado e comparado durante a primeira etapa. A Lipozyme
TL IM foi a mais eficiente na catálise da hidrólise lipídica a 60 °C e pH 8,0. O produto
catalisado por lipase em duas etapas forneceu um aroma doce e frutado aos produtos
de leite de cabra e reduziu a intensidade do sabor desagradável de “cabra”.

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Desafios para reação enzimática: uso do ultrassom para otimização da hidrólise


enzimática
Apesar de interessante, a hidrólise enzimática para obtenção de compostos
aromáticos naturais a partir da hidrólise do creme de leite de cabra e vaca apresenta
desafios considerando custo, rendimento e qualidade. Assim, diversos métodos vêm
sendo estudados com o objetivo de minimizar essas limitações, dentre eles a
imobilização de enzimas, uso de engenharia genética (Patel et al., 2016) e uso de
tecnologias não convencionais. Neste contexto, tecnologias como alta pressão
hidrostática, micro-ondas e ultrassom, começaram a ser estudadas para melhorar o
desempenho das enzimas (Balia et al., 2017; Leite Junior et al., 2017; Soares et al.,
2020a).
O ultrassom (US) é uma tecnologia capaz de promover ativação enzimática, bem
como acelerar as reações assistidas por US (Soares et al., 2020a). Durante o processo
de sonicação, ciclos de compressão e rarefação das ondas sonoras podem gerar um
fenômeno conhecido como cavitação, que compreende a formação, o aumento e o
colapso das bolhas (Sá et al., 2017; Rico-Rodríguez, et al., 2020). Esses efeitos
mecânicos melhoram a transferência de calor e massa durante o processo acelerando
as reações enzimáticas assistidas por US (Mulinari et al., 2017; Wang et al., 2018).
Também podem ocorrer modificações na estrutura das enzimas com a exposição de
novos sítios ativos e/ou ativação de isoenzimas resultando em aumento da atividade
enzimática (Soares et al., 2020a).
Além disso, o ultrassom como tratamento auxiliar é eficiente na redução das
dimensões de partículas (Hielscher, 2005). O colapso das microbolhas formadas no
processo de cavitação, produz forças de cisalhamento intensas que fragmentam as
partículas, gerando emulsões com menor tamanho de partícula e melhor distribuição
(Abbas et al, 2013). Além disso, a diminuição no tamanho das partículas pode
melhorar a transferência de massa e acelerar a reação (Wang et al., 2018). Dessa
forma, segundo Trujillo et al. (2018), justifica-se o uso do ultrassom em dispersões e
emulsões com o objetivo de facilitar a ruptura das partículas e a mistura de fases.
Neste contexto, Soares et al. (2020a) avaliaram o efeito do ultrassom na
hidrólise da gordura do leite cabra pela ação da lipase. A aplicação do ultrassom no
substrato não foi suficiente para promover a hidrólise desta matéria-prima.
Entretanto, o processo por ultrassom (25 kHz, 22 W/L) à 25°C por 45 min aumentou

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a atividade da lipase em até 12%. Além disso, a hidrólise da gordura assistida por
ultrassom apresentou maior taxa de hidrólise quando comparada ao processamento
convencional com aumento de 12% a 55 °C, 23% a 40 °C e 28% a 25 °C. Baseado
nesses resultados, verificou-se que em temperaturas mais baixas o efeito do
ultrassom foi potencializado. Possivelmente, esses resultados estejam associados ao
maior efeito de cavitação em baixas temperaturas o que favoreceu à aceleração da
transferência de massa durante a reação ultrassônica, bem como às modificações
promovidas pelo ultrassom na enzima. Desta forma, destaca-se a combinação de
diferentes estratégias para potencializar a hidrólise da gordura do leite pela ação da
lipase na geração de compostos de interesse industrial.

CONCLUSÕES

A utilização da gordura dos cremes de leite de vaca e cabra na obtenção de


aromas naturais para aplicação na área de alimentos pode agregar valor aos produtos
primários e fortalecer a indústria de ingredientes naturais. Em paralelo, é crescente o
desenvolvimento de novas estratégias para produção de aromas naturais com alta
qualidade, baixo custo e adequado rendimento. Assim, o uso do ultrassom aponta
como promissor para aplicações industriais, em virtude do aumento da velocidade
das reações enzimáticas por meio do aumento da transferência de massa, acelerando,
desta forma, as reações catalisadas por enzimas. Isso favorece a produção de aromas
naturais de alta performance e com perfis equilibrados, mais natural e suave do que o
obtido por via sintética. Estas características vêm ao encontro das exigências por
rótulos limpos (clean label) tornando este processo um empreendimento
potencialmente lucrativo.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq pelo financiamento do projeto (n° 429033/2018-4); pela bolsa
de produtividade a B.R.C. Leite Júnior (n°306514/2020-6); pela bolsa de mestrado
concedida à A.P. Capela, A.D.B. Guimarães e I.S. Magalhães.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO 33
AVALIAÇÃO DOS MÉTODOS
DE EXTRAÇÃO NA ATIVIDADE
ANTITUMORAL DE PLANTAS
MEDICINAIS BRASILEIRAS

Brunno Almeida de Carvalho e Silva1


Isabela Cristina Porto Assumpção²
Marisa Fernandes Mendes3

1
Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, email: brunnoacesilva@gmail.com, ID Lattes:
7450734576563323.
2
Mestranda em Engenharia Química, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, email: isabelaassumpcao@outlook.com, ID Lattes:
6643917350619138.
3
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro (UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, email: marisamendes@globo.com, ID Lattes:
3233683706295801.

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AVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE EXTRAÇÃO NA ATIVIDADE ANTITUMORAL DE


PLANTAS MEDICINAIS BRASILEIRAS

RESUMO
O câncer é um grave problema de saúde pública, sendo responsável por 1 em cada 6
mortes mundialmente. Estudos apontam que entre 2018 e 2040 o número de novos
casos da doença deve aumentar em pelo menos 62%. Em adição, o acesso inadequado
aos tratamentos associado aos seus efeitos adversos, mostram a urgência de buscar
alternativas seguras para o combate ao câncer. Com isso, o uso de plantas medicinais
é desejável, sendo objeto de estudo do presente trabalho. Foram investigadas as
tendências de pesquisa com foco na obtenção de compostos com potencial
antitumoral a partir de plantas, avaliando as espécies e métodos de extração
utilizados, ensaios de atividade e a caracterização química dos extratos. Os resultados
mostram que a hidrodestilação é a técnica mais empregada, contudo, é possível
destacar os resultados promissores das amostras obtidas por extração supercrítica.
Pode-se concluir que as espécies brasileiras ricas em terpenos são eficazes em
diversas linhagens tumorais.
Palavras-chave: Câncer. Extração supercrítica. Medicina popular. Atividade
antitumoral.

EVALUATION OF EXTRACTION METHODS IN THE ANTITUMORAL ACTIVITY OF


BRAZILIAN MEDICINAL PLANTS

ABSTRACT
Cancer is a serious public health problem, accounting for 1 in 6 deaths worldwide.
Studies show that between 2018 and 2040 the number of new cases of the disease
should rise by at least 60%. In addition, deficient access to treatments associated with
their adverse effects show the urgency of seeking safe alternatives to fight cancer.
Therefore, the use of medicinal plants is desirable, being the object of study in the
present work. Research trends were investigated focusing on the attainment of
compounds with antitumor potential from plants, evaluating the species and
extraction methods used, activity assays and chemical characterization of the
extracts. The results show hydrodistillation is the most used technique, however, it is
possible to highlight the promising results of samples obtained by supercritical
extraction. It can be concluded that Brazilian species rich in terpenes are effective in
several tumor lines.
Key-words: Cancer. Supercritical extraction. Popular medicine. Antitumoral activity.

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INTRODUÇÃO

O câncer é uma das doenças com maior índice de mortalidade atualmente e,


segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 1 em cada 6 mortes são em
decorrência da doença (World Health Organization, 2020). Essa enfermidade se
caracteriza pelo crescimento celular anormal originado a partir de uma mutação
genética que pode atingir diversos órgãos e tecidos e, até mesmo, se estender para
outras partes do corpo humano, processo conhecido como metástase (Instituto
Nacional do Câncer, 2020). Em 2018, o câncer foi responsável por 9,6 milhões de
óbitos e projeções apontam que até 2040 a taxa de incidência aumentará cerca de
60% em termos globais (Wild et al., 2020).

Em linhas gerais, as taxas de mortalidade e incidência do câncer previstas para


as próximas duas décadas possuem uma tendência global de crescimento, conforme
indicado na Tabela 1. Todavia, observa-se que as regiões mais afetadas pela doença
serão as que possuem os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Isso se
deve ao fato de que, enquanto 90% dos países desenvolvidos possuem
disponibilidade para tratamento de pacientes oncológicos em seu sistema público de
saúde, esse número é de apenas 15% nos países de baixa renda. Assim, as taxas de
sobrevivência ínfimas nessas regiões se justificam pela baixa disponibilidade de
recursos, de modo que o diagnóstico tardio de carcinomas preveníveis, a falta de
medicamentos e o acesso inadequado ao tratamento situa os países mais pobres em
uma posição de vulnerabilidade no enfrentamento da doença (World Health
Organization, 2020; Kumar et al., 2015; Global Cancer Observatory, 2020).

Atualmente, utilizam-se, majoritariamente, terapias antineoplásicas para o


tratamento do câncer, com destaque para a quimioterapia, radioterapia,
hormonioterapia e cirurgia, a depender da indicação clínica do paciente. Contudo,
observa-se que o uso dessas técnicas é comumente associado a efeitos colaterais
decorrentes da toxicidade dos métodos, que afetam não apenas as células cancerosas,
mas também os tecidos saudáveis. Os efeitos adversos dos tratamentos aplicados,
além desencadearem diversas complicações no quadro clínico de pacientes, podem
até mesmo levar à descontinuação do tratamento, dada a elevada agressão sofrida
pelo organismo (Souza et al., 2013; Ferreira e Franco, 2017).

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Tabela 3: Taxa de mortalidade dos pacientes e incidência da doença na população


global para 2040. Adaptado de Global Cancer Observatory, 2020.

Região Mortalidade Incidência

África 92,9% 89,1%

Oceania 65,6% 47,8%

Europa 29,2% 21,0%

Ásia 69,7% 59,2%

América do sul e Caribe 77,3% 65,6%

América do norte 49,3% 37,9%

Nesse contexto, o uso de plantas medicinais com potencial anticancerígeno pode


mitigar os efeitos colaterais decorrentes dos tratamentos tradicionais, devido às
menores contraindicações e baixa citotoxicidade contra células saudáveis. Assim,
devido à elevada disponibilidade e baixo custo de plantas medicinais no Brasil, ricas
em constituintes que desempenham atividade anticancerígena, a obtenção de
extratos a partir de matéria-prima vegetal é uma abordagem viável para combater o
câncer (Souza et al., 2013; Ijaz et al., 2018).

O Brasil possui em torno de 15 a 20% da biodiversidade mundial, sendo rico em


espécies vegetais que podem ser utilizadas como insumos para fitoterápicos e
medicamentos. Em adição, o conhecimento popular acerca do manuseio de ervas
medicinais é transmitido através das gerações, de modo que o manejo de diversas
ervas medicinais é bem estabelecido para o tratamento de inúmeras enfermidades
(Ministério da Saúde, 2006). Apesar disso, apenas uma pequena fração das plantas
brasileiras catalogadas foram alvo de estudos etnofarmacológicos visando a
investigação de suas propriedades medicinais e potencial farmacológico (Elisabetsky
e Shanley, 1994).

O emprego de plantas medicinais tem se mostrado promissor devido a grande


diversidade de compostos e estruturas químicas relacionados à atividade biológica
das ervas. Em adição, observa-se que, no setor farmacêutico, os produtos naturais

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desempenham papel primordial no desenvolvimento de drogas, visto que no período


de 1940 a 2014, 83% das 136 substâncias aprovadas para ação anticancerígena
foram obtidas a partir de fontes naturais e seus derivados (Newman e Cragg, 2016).
Os metabólitos secundários das plantas, que podem ser encontrados em seus óleos
essenciais, são os responsáveis pela atividade biológica da matriz vegetal. Os
terpenos, polifenóis e alcaloides são constituintes amplamente associados à atividade
anticancerígena dos extratos vegetais (Beeby et al., 2020; Ramakrishna et al., 2021).

Diversos métodos podem ser utilizados visando a obtenção de metabólitos


secundários das matrizes vegetais. Dentre as técnicas convencionais, encontram-se a
extração por Soxhlet, hidrodestilação, maceração, infusão e outros. Apesar de serem
largamente empregadas, elas possuem claras desvantagens, como a dificuldade de
recuperação do solvente orgânico, a degradação térmica dos compostos de interesse
devido às altas temperaturas de processo e a necessidade de purificação do extrato,
afetando assim na qualidade do produto obtido (Haloui e Meniai, 2017).

Além dos métodos convencionais, existem ainda os denominados “verdes” ou


sofisticados, como a extração supercrítica, extração assistida por ultrassom ou micro-
ondas, enzimas e outras. As principais vantagens associadas ao uso dessas técnicas
alternativas estão nas menores temperaturas, menor tempo de extração, baixo
consumo de solventes orgânicos, pouca geração de resíduos, obtenção de produtos
com alta pureza e maior seletividade (Handa et al., 2008; Chemat, 2020).

Dentre as técnicas alternativas, a extração supercrítica apresenta características


muito vantajosas para obtenção de compostos naturais, pois a variação dos
parâmetros de pressão e temperatura permitem modificar a densidade do fluido
supercrítico e, por conseguinte, sua solubilidade. Diversos solventes podem ser
empregados na extração supercrítica, todavia, o principal é o dióxido de carbono
(CO2). Isso se justifica pois o material é inerte, atóxico, de fácil aquisição, alta
disponibilidade e condições supercríticas amenas (304 K e 7,38 MPa). Entretanto, o
método supercrítico apresenta como desvantagem o alto custo dos equipamentos, o
que tem dificultado sua implementação na área industrial, sendo viável na obtenção
de produtos com alto valor agregado (Haloui e Meniai, 2017).

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Diante do potencial das plantas medicinais aliado aos processos “verdes”, o


principal objetivo deste trabalho foi avaliar quais são as vertentes de pesquisa na área
da extração de compostos bioativos com ação antitumoral obtidos a partir de matéria
prima vegetal, identificando as espécies estudadas, a composição química, os métodos
de extração empregados e ensaios para investigação da ação biológica.

METODOLOGIAS
A metodologia empregada neste trabalho consistiu na realização de uma revisão
bibliográfica utilizando o Science Direct como base científica. Os termos extração com
fluido supercrítico (supercritical extraction), câncer (cancer), óleo essencial
(essential oil), plantas medicinais (medicinal plants) e atividade antitumoral
(antitumoral activity) foram empregados. Priorizou-se trabalhos nacionais recentes,
considerando o período de 2012 a 2020 e, espécies vegetais brasileiras ou disponíveis
no Brasil.

Os critérios de seleção adotados tiveram por objetivo discutir os pontos mais


relevantes sobre o potencial antitumoral das plantas medicinais, fornecendo dados
acerca do perfil fitoquímico, metodologia empregada no processo de extração e
realização de ensaios para investigar a atividade biológica dos extratos. Ademais, a
utilização de trabalhos brasileiros tem por objetivo ratificar a importância de estudos
etnofarmacológicos em âmbito nacional, dadas as condições favoráveis para o
desenvolvimento de pesquisas no ramo. Desse modo, 6 estudos foram incluídos nesta
revisão.

Conforme será visto adiante, os trabalhos selecionados empregaram cinco


métodos distintos de extração, sendo eles a extração supercrítica, maceração,
hidrodestilação e extração com Soxhlet. As Figuras 1 a 4 mostram representações
esquemáticas simplificadas das técnicas utilizadas pelos autores, a fim de promover
maior compreensão acerca do tema.

A técnica de maceração, ilustrada na Figura 1, consiste em utilizar folhas, que


podem ser frescas ou secas, cominuídas. O material vegetal é então macerado junto ao
solvente e, em seguida, a amostra é filtrada e concentrada em rotaevaporador para
obtenção do extrato.

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Figura 1: Representação esquemática da extração por maceração.

A hidrodestilação com aparelho tipo Clevenger está representada na Figura 2. O


método consiste em inserir uma mistura de material vegetal com água destilada em
um balão localizado sobre uma manta de aquecimento. O aquecimento do conjunto
provoca o arraste do vapor de água e do óleo essencial extraído da planta. O vapor é
então condensado e, ao final do processo, uma camada de óleo (hidrolato), cuja
densidade é inferior à da água, forma-se sobre a água, de modo que o óleo essencial
pode então ser separado da água.

Figura 2: Representação simplificada da extração por hidrodestilação.

A extração por Soxhlet representada na Figura 3 é uma extração que ocorre sob
refluxo. O material a ser extraído é inserido no cartucho e o solvente é inserido no
balão. O conjunto é aquecido pela ação da manta de aquecimento e segue um fluxo
ascendente no equipamento. Ao ser resfriado na região do condensador, o solvente
goteja sobre o material promovendo sua extração. O processo ocorre em ciclos devido

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à ação do sifão e o material obtido é então concentrado em um rotaevaporador para


remoção do solvente.

Figura 3: Esquema simplificado da extração por Soxhlet.

A extração supercrítica é representada de maneira simplificada na Figura 4. O


dióxido de carbono (solvente) é pressurizado pela ação de uma bomba de alta
pressão, equipamento que permite manter constante a pressão desejada para o
experimento. O extrator, que é alimentado com a matriz vegetal a ser extraída, é
conectado à linha pressurizada de CO2 e ao banho termostático, que mantém a
temperatura desejada. O extrato é coletado pela abertura de uma válvula
micrométrica para obtenção do produto puro.

REVISÃO DA LITERATURA

No decorrer do presente trabalho, embora tenham sido encontrados diversos


resultados atendendo aos critérios pré-estabelecidos, optou-se por focar nos critérios
mais importantes sob o ponto de vista da engenharia. Assim, priorizou-se os

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trabalhos com descrição detalhada sobre os parâmetros e/ou condições de processo


durante a extração e caracterização química do extrato.

Figura 4: Esquema simplificado da extração supercrítica.

A seguir será discutido o potencial anticancerígeno das espécies Piper nigrum,


Cordia verbenaceae, Annona leptopetala, Guatteria megalophylla, Croton polyandrus,
Schinus terebinthifolius. Os extratos dessas matrizes vegetais foram obtidos a partir
de diferentes técnicas de extração e avaliados em diferentes linhagens tumorais,
visando mostrar a versatilidade de aplicação de plantas medicinais no tratamento do
câncer.

Piper nigrum

Extratos de Piper nigrum obtidos por extração supercrítica e maceração


alcoólica foram testados in vitro e in vivo, em células de câncer de mama (MCF-7) e
ratos com tumor de ascite de Ehrlich. A extração supercrítica com CO2 foi estudada
com temperatura fixa (40 °C) e variação da pressão (150, 200 e 300 bar) e o extrato
convencional foi produzido por maceração. O rendimento da extração supercrítica a
200 bar foi 2,7 ± 0,04%, enquanto para a maceração o valor foi de 6,4 ± 0,06%
(Grinevicius et al., 2017).

Grinevicius et al. (2017) observaram que a piperina foi o componente


majoritário presente nos extratos. Além disso, observou-se ainda a presença de
monoterpenos e sesquiterpenos, em especial cariofileno, α-humuleno e germacreno
D, os quais são constituintes comumente associados à ação antitumoral (Parmar et al.,
1997; Parisotto et al., 2012; Bagheri et al., 2014).

Os resultados mostram que o extrato SFE200 apresentou o melhor desempenho


para os ensaios in vitro e in vitro. Além de causar apoptose celular, também levou à

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ocorrência de necrose nas células tumorais e observou-se inibição do crescimento


tumoral e aumento na sobrevivência dos ratos. Quanto ao mecanismo de ação,
observou-se uma redução significativa na quantidade de células da fase S devido ao
dano oxidativo do DNA que provoca parada no ciclo celular da fase G2/M. Os autores
associaram a atividade anticancerígena ao efeito sinérgico entre a piperina e os
sesquiterpenos presentes nos extratos (Grinevicius et al., 2017).

Cordia verbenacea

A planta Cordia verbenaceae, por meio de testes utilizando células cancerígenas


EAC (Ehrlich) e MCF-7 (mama). O extrato foi obtido através da extração supercrítica,
com temperaturas variando de 30 a 50 °C e pressão de 100 a 300 bar. Os autores
realizaram ainda maceração fria com etanol, para fins comparativos. Apesar de
Parisotto et al. (2012) não realizarem a caracterização química dos extratos, os
autores citam que, segundo a literatura, o extrato da planta contém α-humuleno e
trans-cariofileno, conforme indicado previamente nos estudos de Quispe-Condori et
al. (2007) e Fernandes et al. (2007). Esses sesquiterpenos têm sido amplamente
citados em outros estudos, como o de Tundis et al. (2009), na exibição de atividade
antitumoral de Lacaita Senecio, relacionando, portanto, a presença dos compostos
com a atividade anticancerígena de algumas espécies de plantas.

O ensaio in vitro mostrou que o extrato supercrítico (SFE) obtido a 300 bar e 50
°C apresentou performance superior ao extrato convencional, mesmo em doses
inferiores, causando redução na viabilidade e proliferação celular das células
tumorais, provavelmente, por apoptose. Já o teste in vivo mostrou que SFE reduziu o
volume do tumor, o peso corporal dos ratos e aumentou em 25% o tempo médio de
sobrevivência dos animais. Em adição, observou-se ainda que o mecanismo de ação
anticancerígena foi associado à inibição de COX-2, resultado observado apenas para o
extrato supercrítico. Com isso, é possível concluir que a extração exerce forte
influência na atividade biológica do extrato (Parisotto et al., 2012).

Annona leptopetala

Brito et al. (2018) investigaram o potencial antitumoral do óleo extraído das


folhas da Annona leptopetala por hidrodestilação. A composição química majoritária
dos extratos foi caracterizada, cujo resultado foi de 44,1% de monoterpenos e 55,9%

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de sesquiterpenos. Além do (E)-cariofileno, composto característico da família


Annonaceae, destaca-se ainda a presença de espatulenol (12,56%) e α-limoneno
(9,06%), que são compostos químicos com potencial antitumoral comprovado.

O ensaio in vitro mostrou que, dentre as células estudadas, o melhor resultado


foi observado para K-562, leucemia. Cabe destacar que o óleo da planta não inibiu a
proliferação celular das células não-cancerígenas, HaCat. Ensaios in vivo mostraram
ainda que houve redução na massa do tumor de Sarcoma 180 com taxas de inibição
de quase 60% (Brito et al., 2018).

Guatteria megalophylla

O estudo de Costa et al. (2020) avaliou a ação antitumoral in vivo e in vitro do


óleo essencial de Guatteria megalophylla. A extração do óleo essencial foi feita pela
técnica de hidrodestilação em aparelho tipo Clevenger e a composição química
majoritária do óleo essencial foi caracterizada pela presença de sesquiterpenos,
dentre eles: espatulenol, λ-muroleno, dicliclogermacreno, β- elemeno e δ-elemeno
(Costa et al., 2020).

Os resultados do ensaio in vitro permitem concluir que o extrato de G.


megalophylla possui efeito antileucêmico, sendo eficaz contra células HL-60.
Observou-se que nas células de leucemia houve aumento da externalização de
fosfatidilserina e fragmentação de DNA sem aumento de ROS. Já na avaliação in vivo,
realizada por xenoenxerto de leucemia humana, observou-se inibição de massa
tumoral, indicando o potencial do extrato contra a linhagem tumoral (Costa et al.,
2020).

Croton polyandrus

O trabalho conduzido por Meireles et al. (2016), investigou o potencial


antitumoral e a toxicidade do óleo essencial das folhas de Croton polyandrus. A
extração por hidrodestilação em aparelho tipo Clevenger resultou na obtenção de
extrato rico em monoterpenos e sesquiterpenos, destacando-se a presença de p-
cimeno, acetato de bornil e ascaridol.

O ensaio in vivo usando ratos da espécie Mus musculus com carcinoma de


Ehrlich mostrou significativa atividade anticancerígena. Os autores observaram

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indução de parada do ciclo celular na fase G0/G1 e aumento do pico sub-G1, o que
corresponde à morte celular por apoptose. Em adição, os animais tratados com o óleo
essencial da planta também tiverem maior taxa de sobrevivência, todavia, o extrato
apresentou toxicidade moderada (Meireles et al., 2020).

Schinus terebinthifolius

Da Silva et al. (2017) avaliaram a ação anticancerígena do óleo essencial das


frutas de Schinus terebinthifolius contra as células tumorais de ovário e próstata. Em
seu estudo, os autores utilizaram 3 métodos de extração: extração supercrítica,
Soxhlet e hidrodestilação. A extração supercrítica com CO2 foi realizada nas condições
de pressão variando entre 100 e 300 bar e temperaturas entre 40 e 60 °C. Os
rendimentos foram de 3,08 a 5,70% e 11,8 a 13,7% para as extrações supercríticas a
baixa e alta densidade, respectivamente, 16,6% para a hidrodestilação e 42,6% para o
Soxhlet. O perfil fitoquímico dos extratos mostra que o óleo de S. terebinthifolius é
rico em monoterpenos e sesquiterpenos, com destaque para o δ-3-careno, limoneno,
α-felandreno, germacreno D e cariofileno.

Os autores realizaram testes in vitro empregando diversas linhagens tumorais a


fim de levantar informações sobre os efeitos anticancerígenos do extrato. Observou-
se que os extratos supercríticos obtidos a 50 e 60°C, independente da pressão,
apresentaram o melhor desempenho. Em adição, o óleo obtido por extração
supercrítica na condição de 200 bar e 50°C mostrou forte inibição contra as células
cancerígenas de ovário (NCI-ADR/RES), glioma (U251) e próstata (PC-3), cujo efeito
antitumoral foi associado à presença de sesquiterpenos (da Silva et al., 2017).

CONCLUSÕES

Este trabalho confirmou o potencial antitumoral das plantas medicinais


brasileiras contra diferentes linhagens tumorais. Foi possível observar que as
técnicas convencionais, em especial a hidrodestilação, ainda são amplamente
utilizadas, apesar de estudos apontarem que os extratos obtidos por extração
supercrítica apresentam desempenho superior nos ensaios biológicos. Diante disso,
conclui-se que a escolha do método de extração influencia o efeito biológico do
extrato, devendo estar aliado ao efeito sinérgico de seus constituintes. Com isso, o

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estabelecimento e confirmação do efeito de mistura é desejável para investigar os


efeitos anticancerígenos dos extratos vegetais.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer à FAPERJ – Fundação de Apoio à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro – e ao CNPq/PIBIC pelo apoio financeiro. Este trabalho foi
realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

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CAPÍTULO 34
INFLUÊNCIA DAS TÉCNICAS
DE EXTRAÇÃO NA ATIVIDADE
ANSIOLÍTICA DE DIFERENTES
PLANTAS MEDICINAIS

Isabela Cristina Porto Assumpção1


Maria Helena Durães Alves Monteiro2
Marisa Fernandes Mendes3

1
Mestranda em Engenharia Química, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, email: isabelaassumpcao@outlook.com, ID Lattes:
6643917350619138.
2
Professora do Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde, Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Rio de Janeiro, RJ, email: mhduraes@yahoo.com.br, ID Lattes:
4202100526613754.
3
Professora do Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro (UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, email: marisamendes@globo.com, ID Lattes:
3233683706295801.

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INFLUÊNCIA DAS TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO NA ATIVIDADE ANSIOLÍTICA DE


DIFERENTES PLANTAS MEDICINAIS

RESUMO
Atualmente, a depressão e ansiedade afetam mais de 350 milhões de pessoas no
mundo, gerando o consumo de drogas de alto custo e que apresentam efeitos
colaterais. Por outro lado, o uso de plantas medicinais pode apresentar menor custo e
contraindicações, sendo uma abordagem viável dada a maior facilidade de aquisição.
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi de avaliar quais as perspectivas de
pesquisa na área da extração de compostos bioativos com ação ansiolítica, avaliando
as espécies, a composição química e os métodos de extração empregados. Pode-se
concluir que o uso de solventes orgânicos é massivo, o que prejudica o scale-up do
processo e reduz a concentração dos fitoquímicos devido às etapas de separação. Em
adição, a obtenção dos compostos bioativos e ação biológica estão associados à
escolha da técnica de extração, visto que o tipo de solvente e as condições de
operação podem priorizar a extração de determinados compostos, afetando o efeito
antidepressante.
Palavras-chave: Depressão. Extração supercrítica. Flavonoides. Óleos essenciais.

INFLUENCE OF EXTRACTION TECHNIQUES ON ANXIOLYTIC ACTIVITY OF DIFFERENT


MEDICINAL PLANTS

ABSTRACT
Nowadays, depression and anxiety affect more than 350 million people worldwide,
leading to high-cost drugs consumption which present side effects. On the other hand,
the use of medicinal plants may have lower cost and contraindications, being a viable
approach due to the easier attainment. In this framework, the aim of the present work
was to evaluate the research perspectives in the extraction of anxiolytic bioactive
compounds area, evaluating the species, chemical composition, and extraction
methods used. In conclusion, the use of organic solvents is massive, which impairs the
process scale-up and reduces the phytochemicals concentration in virtue of
separation steps. Further, the obtaining of bioactive compounds and biological action
are associated with the extraction choice since the solvent type and operating
conditions may prioritize the extraction of certain compounds, affecting the
antidepressant effect.
Key-words: Depression. Supercritical extraction. Flavonoids. Essential oils.

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INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde estima que as doenças mentais como a
depressão e a ansiedade afetam mais de 350 milhões de pessoas no mundo (Murtada
et al., 2019). Estudos apontam ainda que a população idosa global deve aumentar de
12 para 22% no período de 2015 a 2050. Esse crescimento tem mostrado que 20%
dos adultos acima de 60 anos apresentam doenças mentais ou neurológicas.
Atualmente, uma das razões que tem contribuído para o aumento desse quadro
pode ser associada à pandemia da Covid-19. Ornell et al. (2020) citam que o número
de pessoas afetadas por doenças mentais ultrapassa o número de pessoas infectadas
durante os períodos pandêmicos, estatística que enfatiza a necessidade de atenção
quanto às doenças psicossomáticas. Além da consequência direta ao paciente, o
sistema de saúde pública tem altos custos relacionados aos tratamentos (Murtada et
al., 2019; Ebrahimi et al., 2021). Geralmente, os medicamentos psicotrópicos têm sido
amplamente indicados para sintomas como depressão e ansiedade, porém
apresentam efeitos limitados, contraindicações e alto custo, dificultando o acesso
para a maioria da população.
Nesse sentido, uma das abordagens mais estudadas para reduzir o custo do
tratamento e ampliar seu acesso é o uso de plantas medicinais que, em sua
composição, apresentam compostos que desempenham atividades antidepressivas e
ansiolíticas. Segundo Alotaibi et al. (2021), o uso das preparações naturais tem
aumentado devido ao fato de serem mais baratas do que as drogas sintéticas.
Diversos trabalhos relacionam a influência dos componentes bioativos
presentes em plantas medicinais com mecanismos de ação bioquímicos, os quais
causam aumento na concentração de cortisol, um dos fatores que impactam nas
irregularidades neurológicas. Isso tem sido relatado porque os óleos extraídos de
diferentes plantas possuem capacidades antioxidativas, podendo ser empregados no
tratamento de radicais livres que induzem doenças no sistema nervoso. Dentre os
principais antidepressivos utilizados, pode-se destacar o citalopram, fluoxetina,
duloxetina, noradrenalina e dopamina. Desse modo, a extração de compostos ou de
mistura de compostos que apresente atividade biológica similar a essas drogas e com
determinada pureza, obtidos a partir de plantas, torna-se essencial.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), das 252 drogas mais
conhecidas e amplamente utilizadas, 11% são oriundas de fontes vegetais. Como

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exemplo, pode-se citar a digoxina obtida da Digitalis spp., a atropine da Atropa


belladonna, a aquinidina da Cinchona spp. e a codeína da Papaver somniferum. Em
geral, 73% de todos os produtos farmacêuticos incluem ingredientes derivados de
produtos naturais (Alotaibi et al., 2021).
Plantas como a Melissa officinalis (erva-cidreira), a Matricaria chamomilla
(camomila) e a Humulus lupulus (lúpulo) são conhecidas e utilizadas mundialmente
como ansiolíticas e seus mecanismos de ação têm sido investigados (Gutiérrez et al.,
2014). Os estudos indicam que a presença de -pineno e linalool nos extratos está
associada aos seus efeitos no sistema neurológico.
Patra et al. (2018) realizaram uma revisão envolvendo diversas plantas
comerciais e modificando a técnica de extração, identificando os compostos bioativos,
assim como o valor farmacológico no mercado. Os autores relataram que, apesar da
necessidade de obtenção dos fitoquímicos puros e em certa quantidade, o processo
envolve várias etapas que são essenciais, como os métodos de extração, o screening
farmacológico, a identificação, o isolamento e a caracterização dos compostos
bioativos com diferentes polaridades. Existem diversos métodos de extração que
podem ser empregados nas mais distintas aplicações, podendo-se dividi-los em dois
grupos: as técnicas convencionais e as sofisticadas. A extração assistida com
ultrassom, extração supercrítica, extração por micro-ondas, enzimas, diálise e troca
iônica são exemplos do segundo grupo, enquanto a destilação a vapor,
hidrodestilação e Soxhlet pertencem às técnicas tradicionais.
A escolha do processo de extração interfere na eficiência da extração, assim
como na seletividade em relação aos componentes extraídos. Dentre as diferentes
técnicas, as mais utilizadas são as que envolvem solventes orgânicos, como a
maceração, hidrodestilação e outras. Todavia, outras técnicas (mais seletivas) podem
ser usadas de acordo com cada classe de compostos e incluem a microextração
líquido-líquido, extração em fase sólida, extração em fase sólida magnética, extração
com fluido supercrítico, e extração por microondas (Murtada et al., 2019).
Apesar dos métodos convencionais ainda serem amplamente usados para
obtenção dos metabólitos secundários a partir de plantas, cabe ressaltar que eles
apresentam desvantagens como a dificuldade de recuperação do solvente orgânico, a
degradação térmica de compostos de interesse devido às altas temperaturas de

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processo e a necessidade de etapas adicionais para a purificação do produto, visto


que o produto obtido não apresenta alta pureza (Haloui e Meniai, 2017).
Além dos métodos convencionais, existem ainda os denominados “verdes”,
como o fluido supercrítico (Chemat, 2020). Essa extração apresenta características
muito vantajosas na obtenção de compostos naturais, como a alta seletividade, alta
pureza do extrato obtido e o uso de temperaturas mais amenas. Dentre os solventes
empregados na extração supercrítica, o principal é o CO2. Isso se justifica pois o
material é inerte, atóxico, de fácil aquisição, alta disponibilidade e condições
supercríticas amenas (304 K e 7,38 MPa). Entretanto, a desvantagem da técnica está
no alto custo dos equipamentos, o que tem dificultado sua implementação na área
industrial, sendo adequado para a obtenção de produtos com alto valor agregado
(Haloui e Meniai, 2017).
Rabiei e Rabiei (2017) e Saki et al. (2014) citam que as propriedades das
plantas são associadas aos métodos de extração e, consequentemente, aos diferentes
compostos químicos extraídos como a rutina, icarina, apigenina, quercetina e
luteolina, entre outros. Faharani et al. (2020) relatam que a planta Panax notoginseng
apresentou efeitos bioativos em relação à depressão devido à presença de saponinas
em seu óleo. Ribeiro et al. (2020) e Rahbardar e Hosseinzadeh (2021) também
realizaram estudos de revisão envolvendo diferentes plantas medicinais com
potencial antidepressivo e ansiolítico, e mostraram a influência das diferentes
técnicas de extração, assim como das partes das plantas utilizadas no estudo, na
identificação dos compostos bioativos. Os resultados obtidos apontam que há um
maior número de plantas que apresentam propriedades ansiolíticas em comparação
com aquelas com potencial antidepressivo. Ambos concluíram que o efeito sinérgico
dos compostos bioativos presentes nos óleos das plantas é o responsável pela
melhora nas atividades bioquímicas neurológicas. Porém, citam que a eficácia e a
segurança precisam ser aliadas aos mecanismos de atuação e aos compostos
extraídos, o que ainda é incipiente no estudo de plantas medicinais.
Diante do potencial das plantas medicinais aliado aos processos “verdes”, o
principal objetivo deste trabalho foi avaliar quais são as vertentes de pesquisa na área
da extração de compostos bioativos com ação ansiolítica e antidepressante obtidos a
partir de matéria prima vegetal, identificando as espécies estudadas, a composição
química, os métodos de extração empregados e ação biológica.

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MATERIAL E MÉTODOS (ou METODOLOGIAS)


A metodologia empregada neste trabalho consistiu na utilização de uma revisão
bibliográfica utilizando o Science Direct como base científica. Os termos extração com
fluido supercrítico (supercritical extraction), ansiedade (anxiety), óleo essencial
(essential oil), plantas medicinais (medicinal plants) e atividade biológica (biological
activity) foram empregados. Priorizou-se trabalhos recentes, considerando o período
de 2012 a 2021 e, espécies vegetais brasileiras ou disponíveis no Brasil.
Os critérios adotados tiveram por objetivo discutir os pontos mais relevantes
sobre o potencial ansiolítico das plantas medicinais, fornecendo dados acerca do
perfil fitoquímico, metodologia empregada no processo de extração e realização de
ensaios para verificar a atividade biológica dos extratos. Ademais, esse trabalho visa
ratificar a importância de estudos etnofarmacológicos em âmbito nacional, dadas as
condições favoráveis para o desenvolvimento de pesquisas no ramo. Então, foram
avaliadas várias plantas de maneira a direcionar o estudo e convergir em atividades
ansiolíticas, conforme apresentado na Figura 1.

Figura 5: Representação esquemática da utilização de uma mistura de plantas


medicinais com atividades ansiolíticas.

Conforme será visto adiante, os trabalhos selecionados empregaram 3 métodos


distintos de extração, a saber: extração supercrítica, maceração e hidrodestilação. As
Figuras 2 a 4 exibem representações esquemáticas simplificadas das técnicas
utilizadas pelos autores, a fim de promover maior compreensão acerca do tema.
A técnica de maceração, ilustrada na Figura 2, consiste em utilizar folhas, que
podem ser frescas ou secas, cominuídas. O material vegetal é então macerado junto ao

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solvente e, em seguida, a amostra é filtrada e concentrada em rotaevaporador para


obtenção do extrato.

Figura 6: Representação esquemática da extração por maceração.

A hidrodestilação com aparelho tipo Clevenger está representada na Figura 3. O


método consiste em inserir uma mistura de material vegetal com água destilada em
um balão localizado sobre uma manta de aquecimento. O aquecimento do conjunto
provoca o arraste do vapor de água e do óleo essencial extraído da planta. O vapor é
então condensado e, ao final do processo, uma camada de óleo (hidrolato), cuja
densidade é inferior à da água, forma-se sobre a água, de modo que o óleo essencial
pode então ser separado da água.

Figura 7: Representação simplificada da extração por hidrodestilação.

A extração supercrítica é representada de maneira simplificada na Figura 4. O


dióxido de carbono (solvente) é pressurizado pela ação de uma bomba de alta

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pressão, equipamento que permite manter constante a pressão desejada para o


experimento. O extrator, que é alimentado com a matriz vegetal a ser extraída, é
conectado à linha pressurizada de CO2 e ao banho termostático, que mantém a
temperatura desejada. O extrato é coletado pela abertura de uma válvula
micrométrica para obtenção do produto puro.

Figura 8: Esquema simplificado da extração supercrítica.

REVISÃO DA LITERATURA

No decorrer do presente trabalho, embora tenham sido encontrados diversos


resultados atendendo aos critérios pré-estabelecidos, optou-se por focar nos critérios
mais importantes sob o ponto de vista da engenharia. Assim, priorizou-se os
trabalhos com descrição detalhada sobre os parâmetros e/ou condições de processo
durante a extração e caracterização química do extrato. Mais ainda, os trabalhos
selecionados foram aqueles que indicaram compostos bioativos diretamente
relacionados às doenças.

Galfimina A, B e C
Em um trabalho de revisão de Gutiérrez et al. (2014), foi observada a existência
de 92 espécies de plantas medicinais mexicanas que podem ser empregadas no
tratamento da ansiedade e depressão. A planta mais estudada foi a Gaphimia glauca
que teve suas atividades comprovadas por meio de ensaios com pacientes. Os
componentes majoritários identificados foram a galfimina A, B e C, em todas as partes
da planta como caule, flores e frutos. Os autores mencionam que a maioria dos
compostos ativos encontrados nas plantas que podem ter atividade ansiolítica são
triterpenos, monoterpenos e flavonoides. Ainda, a qualidade dos extratos precisa ser

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garantida com métodos de extração que devem ser padronizados e aliados às


variações genéticas, condições de crescimento da planta e o tipo de preservação da
espécie.

-cariofileno
O óleo essencial de Spiranthera odoratissima obtido por hidrodestilação com
Clevenger (2,3% rendimento) foi investigado por Galdino et al. (2012). Os autores
identificaram a presença de -cariofileno, -muuroleno, biciclogermacreno, delta-
cadineno, -cadineno e cubenol. O extrato etanólico da planta apresentou atividade
antidepressante e o efeito farmacológico foi realizado usando como padrão o
Diazepam e o -cariofileno. O óleo, assim como o -cariofileno, apresentaram efeito
ansiolítico sem alterar a coordenação motora dos ratos empregados nos testes.

Linalool
Além do -cariofileno, o linalool também é citado em diversos estudos por
apresentar atividades biológicas comprovadas, como anti-inflamatória, analgésica,
ansiolítica e antidepressiva. Espécies como a Lavandula angustifolia e Cinnamomum
osmophloeum foram investigadas por Müller et al. (2021) e Chen et al. (2015). A
lavanda, extensamente usada em formulações cosméticas e para redução de estresse
e cujo óleo essencial foi estudada por Müller et al. (2021). Os autores relataram que o
silexano, mistura ativa patenteada do óleo de lavanda, apresenta constituintes como
linalool e o acetato de linalila. O silexano é usado na forma oral (80 mg) para o
tratamento da ansiedade e para as pessoas que sofrem de ansiedade generalizada, na
concentração de 100 a 120 mg. Já Chen et al. (2015) realizaram a extração de C.
osmophloeum utilizando hexano e acetato de etilana e associaram o potencial
ansiolítico da planta ao linalool.

Timol
Bhandari e Kabra (2014) confirmaram a atividade ansiolítica do timol, que
também está presente em inúmeras plantas medicinais e que já foi extraído por
diferentes técnicas de extração, desde maceração, Soxhlet e usando fluido
supercrítico.

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Esteroide
Um esteroide amplamente utilizado na suplementação alimentar, o 20-
hidroxiecdisona, foi estudado por Franco et al. (2021) como alívio para o estresse,
ansiedade e depressão. As raízes de Pfaffia glomerata foram colhidas no Estado do
Espírito Santo e secas. O material foi submetido à maceração por 7 dias com metanol.
O processo foi repetido 3 vezes e liofilizado para a retirada da água. Em seguida, o
extrato foi fracionado usando a extração líquido-líquido com diferentes solventes
como hexano, diclorometano, acetato de etila, butanol e água. A presença do esteroide
foi confirmada e diferentes concentrações (massa do esteroide em relação à massa
dos animais) foram investigadas. Os autores concluíram que a dosagem de10 mg.kg-1,
a menor concentração utilizada, já foi suficiente para a diminuição do estresse a partir
do 2o dia. A P. glomerata é uma planta nativa do Brasil, popularmente conhecida como
ginseng brasileiro. Ela já vem sendo usada na medicina tradicional e suas raízes são
empregadas como antioxidantes e para o tratamento de doenças mentais. Além de
Franco et al. (2021), outros autores relacionam os efeitos biológicos da espécie à
presença do esteroide, que não exibe nenhum efeito citotóxico ou mutagênico.

Apigenina
Chaves et al. (2020) estudaram o potencial do chá de camomila como fonte de
glucuronoxilano enquanto sedativo e ansiolítico. Os autores citaram que os extratos
secos da camomila mostraram atividade ansiolítica em pacientes com ansiedade
generalizada, ao apresentar 1,2% de apigenina. Esse flavonoide consegue blindar os
receptores de benzodiazepina no cérebro. Os autores resolveram investigar ainda a
presença de polissacarídeos e seus possíveis efeitos ansiolíticos. Com isso,
submeteram as folhas de camomila a água destilada (40 g/L) em ebulição, por 30
min. O extrato foi filtrado e, com o auxílio de etanol 95%, os polissacarídeos foram
precipitados. A purificação do composto de interesse (glucuronoxilano) foi realizada
com o auxílio de membrana e ácido acético. Os efeitos ansiolíticos foram observados
sob a concentração de 30 mg.kg-1. A presença de apigenina não foi avaliada e os
autores afirmam que a mesma não deveria estar presente no extrato, visto o
composto só exibe atividade acima de 25 mg.kg-1. Com isso, é possível concluir que
novos métodos de extração devem ser estudados para obtenção desse extrato, com o
intuito de obter eficiências de extração maiores.

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Citral, geraniol e efeito sinérgico


O potencial ansiolítico do extrato, do óleo essencial e dos constituintes de
Cymbopogon citratus (capim-limão) foi investigado por Hacke et al. (2020). As
plantas foram colhidas no Estado do Paraná e secas, sendo posteriormente
empregados vários métodos de extração para comparação. Foi realizada a maceração
com etanol 70%, obtendo-se o extrato cru. O óleo essencial foi obtido usando o
aparelho de Clevenger, operando por 2 h. O hidrolato ainda foi submetido à extração
com éter etílico. Foram obtidas eficiências de 0,63% de óleo essencial e 15,89% de
extrato etanólico. Como constituintes majoritários, destacam-se a presença de citral e
o geraniol.
O óleo essencial, o extrato e os compostos citral e geraniol foram utilizados nos
testes, sendo seus efeitos comparados ao de um padrão, colazepam (Rivotril©) a 0,75
mg.L-1. Foram observadas atividades com dosagem de 10 mg.L-1, sendo essa ação
biológica atribuída à presença de citral (18,57%), geraniol (22,02%) e linalool
(20,59%) no óleo essencial. Contudo, os autores ainda consideram que um efeito
sinérgico entre os terpenóides deve ocorrer (Hacke et al., 2020).
Os resultados utilizando o extrato corroboram os resultados positivos
encontrados a partir do uso do óleo essencial, mostrando o potencial ansiolítico da
espécie. No caso do extrato, observou-se atividade quando na composição de 38,50
mg.g-1 de apigenina e 15,7 mg.g-1 de quercetina. Hacke et al. (2020) afirmaram que a
apigenina e a quercetina podem agir como ansiolíticos pois são altamente lipofílicos,
o que facilita a penetração pelos vasos sanguíneos presentes no cérebro.
A fim de avaliar o efeito sinérgico entre os constituintes dos extratos, citral e
geraniol foram testados em separado, apresentando resultados positivos sob
concentração de 10 mg.L-1. Na concentração de 1 mg.L-1 não foi observado nenhum
efeito produzido pelo tratamento com os compostos, contudo, atividades ansiolíticas
foram observadas ao misturá-los na mesma concentração, confirmando os efeitos
sinérgicos que existem em uma mistura de compostos orgânicos e bioativos.

Guaiol
Mais recentemente, Souza et al. (2020) investigaram o potencial ansiolítico dos
extratos das folhas de Aloysia gratíssima, espécie conhecida como alfazema do Brasil

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cujas partes aéreas são utilizadas para tratamento de bronquite e enxaquecas, assim
como depressão e ansiedade. A planta, nativa da América do Sul, foi submetida à
extração supercrítica com CO2 a 60 °C e 200 bar, usando 11 g de planta, durante 2 h. A
composição química do óleo constatou a presença de pinocarvil, pinocanfona,
isopinocanfona, myrtenol, cariofileno, -elemeno, humeleno, -cubebeno, guaiol e
bunesol. Os compostos majoritários foram o pinocanfona (11,4%) e o guaiol (18,5%).
Os efeitos ansiolíticos foram atribuídos aos mesmos, não sendo desprezados os
efeitos de mistura.
De forma geral, entre todos os trabalhos estudados e as respectivas plantas,
foram identificados alguns compostos bioativos que confirmaram atividades
ansiolíticas, de forma isolada ou em mistura. A Figura 5 mostra os compostos mais
citados em todos os trabalhos analisados.

Figura 9: Compostos bioativos com atividade ansiolítica presentes em diferentes


plantas medicinais.

CONCLUSÕES

Esse trabalho de revisão confirmou que há diferentes plantas cuja existência de


compostos bioativos em sua composição está associada aos efeitos ansiolíticos.
Observou-se ainda que a maioria dos métodos de extração utilizados são baseados no
uso do aparelho de Clevenger ou uso de solventes orgânicos, o que é bastante
dispendioso e requer inúmeras etapas de separação, de modo que a necessidade de
purificação do extrato leva à tendência de aumento de custo do processo, podendo
inviabilizar o uso efetivo das plantas medicinais em plantas industriais. Em adição,

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poucos foram os trabalhos direcionados para a aplicação da química “verde” na


extração de óleos ou extratos crus, sendo que a implementação de tecnologias como a
extração supercrítica, ultrassom e microextração em fase sólida são importantes, pois
não fazem uso de solventes orgânicos, permitindo obter extratos com alta pureza. Por
fim, foi possível observar que a escolha do método de extração influencia na
solubilidade dos constituintes, visto que fatores como o tipo de solvente empregado
(característica polar ou apolar), condições de operação (temperatura, pressão) e
outros, podem priorizar a extração de determinados compostos químicos. Dessa
forma, a obtenção dos compostos bioativos a partir de diferentes técnicas está
associada ao desempenho do extrato quanto à atividade ansiolítica. Além disso, deve-
se considerar ainda o efeito sinérgico da mistura, visto que as plantas medicinais
estão sujeitas às variações climáticas, que impactam na composição química e,
consequentemente, nas atividades biológicas.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer à FAPERJ-Fundação de Apoio à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro e ao CNPq/PIBIC pelo apoio financeiro. Este trabalho foi
realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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CAPÍTULO 35
ELEMENTOS TERRAS RARAS:
UM DEPÓSITO IMPORTANTE
DA PARAÍBA

Jaquelynne Cássia de Amorim1


Andrea Lopes Oliveira Ferreira 2

1
Mestranda em Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB,
email: jaquelynne@gmail.com, ID Lattes: 1152562954698386
2
Professora do Departamento de Engenharia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
Pessoa, PB, email:andrea.ferreira@academico.ufpb.br, ID Lattes: 5100549429375497

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ELEMENTOS TERRAS RARAS: UM DEPÓSITO IMPORTANTE DA PARAÍBA

RESUMO
A monazita é um mineral fosfatado de terras-raras leves [(ETRL)PO4]. Os elementos de terras
raras leves têm baixos teores de concentração, o que é necessário tecnologia eficaz e específica
para concentra-los. Usualmente, a monazita é sintetizada na forma de óxido com teor que
varia entre 1,27% a 12% e ocorre em depósitos geológicos de pláceres ou carbonatitos. Os
elementos terras raras (ETR) são do grupo lantanídeos e são expressivos no crescimento
econômico mundial e no mercado de tecnologia moderna, contudo, são monopolizados pela
China. Usados na fabricação de smartphones, imãs permanentes, turbinas eólicas, carros
elétricos, telas sensíveis ao toque e etc. O Brasil possui um importante papel, pois detém de
grande escala de depósitos exploráveis, entretanto, se produz e consome pouco desses
insumos por falta de tecnologia apropriada. Diante desse cenário, vem sendo realizados
diversos estudos para aumentar a produção destes no país.
Palavras-chave: elementos terras raras; monazita; mina Guajú; recuperação da monazita
.
RARE EARTH ELEMENTS: THE IMPORTANT DEPOSIT OF PARAÍBA

ABSTRACT
Monazite is a light rare earth phosphate mineral [(ETRL)PO4]. The light rare earth elements
have low concentration contents, which requires efficient and specific technology to
concentrate them. Usually, monazite is synthesized as an oxide with a content ranging from
1.27% to 12% and occurs in geological deposits of placers or carbonatites. Rare earth
elements (REE) are a group of the lanthanides and are significant in the world’s economic
growth and modern technology market. They are used to manufacture smartphones,
permanent magnets, wind turbines, electric cars, touch screens, etc. This REE technological
resource is globally distributed and highly monopolised in China. Brazil is an important player,
because it has a large scale of exploitable deposits, however, it was produces and consumes
only a few of these inputs due to a lack of appropriate technology. Faced with this
background, several studies have been conducted to increase the production of these in the
country.
Key-words: rare earth elements; monazite; Guajú mine; monazite recovery.

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INTRODUÇÃO
Os elementos terras raras (ETR) constituem um grupo de 15 elementos nomeados de
lantanídeos, que possuem propriedades físicas e químicas abundantemente análogas,
somando-se ao grupo desses elementos, se juntam o escândio e o ítrio, por apresentarem
propriedades químicas e distribuição eletrônica muito semelhantes ao grupo. Antoniassi (2017)
mencionou que a denominação “terras raras” vem do final do século 18, quando estes
elementos começaram a ser descobertos, e esta relacionada ao aspecto terroso dos seus óxidos
insolúveis – “terras” e a suposição equivocada de que seriam escassos na natureza – “raras”.
Entretanto, o termo “raras” está mais associado ao fato da dificuldade de encontrá-los com
grau de pureza e concentração que justifique explorá-los. Além disso, a Agency, P. E. S. U.,
2012 acrescentou que devido a complexidade dos processos metalúrgicos necessários para
isolar as espécies metálicas individuais e a tecnologia precoce impede a evolução da produção
da commodity (United States Environmental Protection, 2012).
Os elementos terras raras são, em geral, são subdivididos em grupos denominados
“terras raras leves” (TRL) e “terras raras pesadas” (TRP), em razão do aumento continuo ou
progressivo do número atômico (Iupac, 2005; Sousa Filho e Serra, 2014). Os grupos dos
elementos TRL são em regra formados por: Lantânio (La), Cério (Ce), Praseodímio (Pr),
Neodímio (Nd), Promécio (Pm), Samário (Sm) e Európio (Eu); e os elementos TRP é
composto pelos elementos: Gadolínio (Gd), Térbio (Tb), Disprósio (Dy), Holmio (Ho), Érbio
(Er), Túlio (Tm), Itérbio (Yb) e Lutécio (Lu). E assim, com uma extensa escala de
concentrações no solo, esses minerais são vistos em mais de 270 minerais acessórios, ditos
como primários e secundários (Sadeghi et al., 2013, Ramos et al., 2016). Essa divisão e
importante pois o tratamento das soluções para recuperação desses elementos deve ser
direcionado para cada elemento individualmente assim como para grupos bem separados.
Outro fator que pode facilitar a separação e a característica de alguns elementos oxidarem e
outros reduzirem mais facilmente (Ritcey, 2006).
A recuperação e separação dos ETR em todo o tempo, desde o descobrimento, foi um
desafio para muitos cientistas e pesquisadores. A dificuldade na separação desses elementos
está no fato deles possuírem propriedades químicas muito similares. No início, a separação era
feita por recristalizações e precipitações sucessivas. No entanto, o método de extração por
solvente vem sendo estudo e utilizado para realizar o processo de separação. Conforme
Loureiro e Santos (2013) as TR são de modo igual cada vez mais utilizadas nas indústrias
ligadas à energia limpa e tecnologia de engenharia, desse modo, acarretando uma procura
crescente por esses elementos. Acerca da problemática sustentável comprovada nos últimos

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tempos, as ditas “indústrias verdes” pesquisam as TR para o desenvolvimento de carros


híbridos, motores elétricos das turbinas eólicas, tornando as TR um insumo indispensável e
estratégico, conduzindo, assim, o aumento do aproveitamento dessa matéria-prima.
Dados de 2015 pelo instituto de pesquisa, Serviço Geológico dos Estados Unidos,
demonstraram que os depósitos globais de ETR foram estimados em aproximadamente 130
milhões de toneladas em 2014. No ano de 2018, os depósitos em torno do mundo de metais
de terras raras foram aferidos contabilizando 120 milhões de toneladas, das quais a China
detém 37% das reservas, segundo pesquisa realizada pelo mesmo instituição de investigação.
Consequentemente, devido as tantas funcionalidades desses elementos, se tem um acentuado
crescimento do consumo para estes metais (Franzoi, 2019). Todavia, afetando o mercado
global de terras-raras, a produção/reservas desses elementos não é o bastante para suas
demandas (Kumari et al., 2015). Ainda conforme o registro realizado pelo o Serviço
Geológico dos Estados Unidos, os países Brasil e Vietnã completam juntos mais uma posição
expressiva no “ranking” dos países com maior potencial de exploração dos elementos terras
raras, se valendo da segunda posição com 22 milhões de toneladas cada, seguidos pela Rússia
em terceiro lugar com 18 milhões.
Em resposta a esse cenário, no Brasil, em 2013, ocorreu uma grande mobilização entre
instituições de ensino superior federais com o Ministério de Minas e Energia (MME), unindo
ações com o Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), bem como com as Industrias
Nucleares Brasileiras (INB), o que resultou na incorporação das TR no Plano Nacional de
mineração 2030, como prioridade no mercado brasileiro para os próximos 20 anos (Faria,
2013). Neste ano de 2021, foi realizado pelo CETEM o V (quinto) Encontro Brasileiro de
Terras Raras, online, juntamente com parcerias de empresas nacionais, instituições
governamentais e Universidades, como CBMM, ANM e USP, respectivamente, com o
objetivo de descrever o cenário atual de perspectivas tecnológicas e comerciais para a ascensão
da cadeia produtiva das TR.
Em 2021, as maiores movimentações de impacto no mercado brasileiro para a
exploração de ETR no Brasil são da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração e
MbAC, ambas em Araxá-MG e Mineração Serra Verde em Minaçu-GO, com inventivos
marcantes em pesquisa e tecnologia. Toda via, segundo o autor Lapido-Loureiro, 2013, outras
reservas de ETR no país são poderosas fontes para a exploração por conterem depósitos
volumosos com alto teor de concentração de TR. Por exemplo, os minérios de Catalão-GO e
São Gonçalo do SapucaíMG, o concentrado de xenotímio de Pitinga-AM e o depósito do
Morro do Ferro em Poços de Caldas-MG, porémm são depósitos diferentes dos encontrados

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na Paraíba. Os depósitos de TR encontrados nos estados de Goiás, Minas Gerais e Amapá são
de origem geológica de pegmatitos e carbonatitos. Já os encontrados no estado da Paraíba são
de origem aluvionares marinhos. Portanto, é nessa hipótese de expectativas que se levanta o
presente estudo, visando construir conhecimento acerca dos bens minerais de ETR no
território paraibano, buscando uma pesquisa bem incomum, pois o estímulo para técnicas de
concentração de terras raras é bem escasso no estado. Diante disso, contribuir com
alternativas de recuperação de TR, apontando as probabilidades de aproveitamento e não
desperdício dos recursos naturais com menor consequências ambientais, que são questões do
desenvolvimento sustentável. Estudar processos de concentração para elementos terras-raras
(ETR) provenientes do mineral monazita. Desse modo, explorar potenciais fontes de
recuperação dos elementos terras raras, focando principalmente no aproveitamento de rejeitos

REVISÃO DA LITERATURA
Elementos e minerais terras raras
Os elementos de terras raras (ETR) compreendem a associação com maior ocorrência
química da tabela periódica. Antoniassi (2017) acrescenta que as terras raras (TR) ou
elementos de terras raras (ETR), REE na sigla em inglês, correspondem a um total de 15
elementos químicos denominados lantanídeos, unem se ao grupo o escândio (Z = 21) e o ítrio
(Z = 39), somando 17 elementos ao total, que possuem número atômico (Z) compreendido
entre 57 (lantânio) e 71 (lutécio). Estes dois últimos elementos foram incluídos por
apresentarem propriedades físicoquímicas semelhantes aos ETR, inclusive são reconhecidos
pela IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) como elementos TR.
(Lapido-Loureiro, 1994 e Iupac, 2017). O ítrio é considerado dentro do grupo dos ETR por
possuir propriedades químicas e físicas muito semelhantes aos lantanídeos (Vieira, 1997). O
escândio, embora não apresente um comportamento químico e físico de um ETR típico
(lantanídeos), sua inserção nesse grupo é baseada nas suas propriedades químicas e ainda por
ocorrer na natureza associado em minerais aos demais elementos do grupo (Alcídio, 1994).
Como já mencionado por Antoniassi (2017) no final do século 18 os elementos
começaram a ser descobertos, os quais foram relacionados ao aspecto terroso dos seus óxidos
insolúveis – “terras” e a teoria errônea de escassez – “raras” (figura 1). Ademais, Haxel et al.
(2002), descreveram em seus estudos que a abundância dos ETR na crosta terrestre é
geralmente compatível com a de outros metais ditos como comuns, como o níquel, cobre,
zinco, estanho, chumbo, por exemplo. Deste modo, Vlasov (1966) e Lapido-Loureiro (1994),
explicaram que, como os ETR se apresentam muito dispersos e raramente se encontram na

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forma de ricos depósitos de minérios exploráveis, a abundância relativa dos ETR apenas foi
reconhecida após aperfeiçoamento dos métodos de análises químicas, progresso no
conhecimento de sua geoquímica e o avanço da prospecção e pesquisa de seus minerais, sendo
assim passível de recuperação. Além disso, Abraão (1994) acrescentou que os ETR de
números atômicos pares são mais abundantes que aqueles de números atômicos ímpares, por
serem mais estáveis quimicamente.

Figura 1 Abundância relativa dos elementos químicos na crosta continental superior.

Fonte: Adaptado por Franzoi (2019) e Hexel, Hedrick e Orris (2005).

Via de regra, os ETR podem ser divididos em elementos de terras-raras leves (ETRL) e
elementos terras-raras pesados (ETRP). Os lantanídeos são ainda divididos entre leves (ETRL;
ou “grupo do cério”), incluindo números atômicos abaixo aos do gadolínio; e pesados (ETRP;
ou “grupo do ítrio”), os números atômicos acima aos do európio (Z=63) são considerados
pesados. Os ETRL são mais abundantes e com grau de dificuldade menor de processar
quando comparados aos ETRP, tornando esses últimos mais valiosos. O ítrio faz parte do
TRL por apresentar propriedades químicas semelhantes, apesar do seu baixo peso atômico.
Com o progresso avanço da tecnologia, tem crescido abruptamente a procura pelos ETR,
graças ao seu uso diverso, como setores de engenharia, nas industrias de matérias,
metalúrgicas, automobilísticas e nucleares (DNPM, 2014). Mclellan, (2001) ainda acrescentou
que os ETR constituem placas fotovoltaicas que geram energia elétrica usando como fonte o
Sol, nos ímãs supercondutores operados nos complexos de geração de energia elétrica a partir
das turbinas eólicas, nas cargas usadas nos veículos híbridos e elétrico, nas células de
combustíveis e nas células usadas para o armazenamento de energia produzida a partir de
fontes recuperáveis. Além disso, as terras raras são matérias-primas para a fabricação dos
diodos emissores de luz (LEDs) que são dispositivos de baixo consumo energético,
individualmente, os ímãs permanentes incluem os compostos Nd, Pr, Dy, Tb e Gd, utilizados

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em geradores elétricos e de turbinas eólicas, discos rígidos de componentes eletrônicos e


elétricos e nos motores de carros híbridos (Yang et al., 2017). No mercado eólico, há grande
interesse, pela utilização de aerogeradores compondo ímãs permanentes provenientes de ETR
graças sua elevada performance em montagens de porte elevado (acima de 01 MWh) e
terrenos onde correntes de ventos são maiores e constantes (Velocidade maior e constante)
(Weng, 2017 e Codemig, 2016). Aparelhos com ímãs permanentes TR substituem máquinas e
mecanismos e melhoram a eficiência energética, reduzindo perdas, aumentando a resistência
específica e a potência eletromagnética (Rabeet et al., 2017 e Bessa, 2016). Segundo Rocio et
al. (2012), as jazidas mais relevantes economicamente de TR do Brasil localizam-se nos
municípios de Presidente Figueiredo (AM) e de Catalão (GO). De acordo com Filho Paulo
(2020) o Brasil possui depósitos geológicos de minérios de terras raras em número e teor
satisfatório que justificam pesquisa e desenvolvimento, possibilitando seu avanço econômico.
Contudo, na década de 80, vislumbrando as mais diversas aplicações que as TR poderiam ter,
a potência sinoasiática (China) iniciou centralizar investimentos na produção destes metais. De
modo que, nos últimos 10 anos, é crescente a movimentação dos países ao redor do mundo
com intenção suprir os mercados nacionais de TR, com produção nacional, num mercado
amplamente predominado pela China. Diante desse cenário, iniciou-se uma busca mundial,
incluindo o Brasil, para ampliar pesquisas e técnicas eficazes para a exploração e produção de
terras-raras; assim, formando uma cadeia produtiva de TR alternativa, desviando a então
submissão produtiva do mercado chinês. No Brasil, Japão e na União Europeia, e em países
como o EUA os elementos de terras-raras começaram a ser avaliados como elementos
estratégicos (Vera, 2015). No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (MME), ao idealizar o
Plano Nacional de Mineração 2030, introduziu as terras-raras dentre as preferências no
mercado nacional para os próximos 20 anos (Takehara, 2015). O Brasil juntamente com o
Vietnã detém a segunda posição mundial como produtor de TR, justificado pelo fato do Brasil
ter a 2ª maior reserva mundial de TR, sobressaindo-se, com a inclusão de significativas jazidas
em Minas Gerais (MG) e Goiás (GO), ao final de 2012, cerca de 16% do total mundial
(Heider, 2018). Em 2021, no Brasil é provável que a produção de TR seja cerca de 600 t ao
ano, entretanto, projetos inovadores irão promover considerável altas em condições
quantitativas e qualitativas. Em 2012, significantes entradas de terras raras no Brasil
totalizaram cerca de de US$ 36 milhões desse bem, e com os novos programas, o Brasil tem
promessas de se tornar um poderoso/eminente exportador, além de impulsionar
produtividade tecnologia e pesquisa ao longo da sequência produtiva (Vidal, 2015). Esses
elementos podem ocorrer em uma ampla variedade de classes de minerais e de tipos

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estruturais, mas se mostram preferencialmente na forma de carbonatos, fosfatos, silicatos,


fluoretos e óxidos (Vlasvov, 1966; Miyawaki e Neumann, 1999). A Tabela 1 apresenta alguns
dos principais minerais portadores de ETR, com as respectivas fórmulas químicas e conteúdo
médio de óxidos de terras raras (OTR) associados.
Os depósitos ETR existem em vários tipos de rochas, sejam ígneas, metamórficas e ou
sedimentares. Caracterizam diversos tipos litológicos. A concentração e distribuição de ETR
no tipo de depósito são afetadas por processos de formação hidrotermais e rochosos,
incluindo magma ou fluidos intersticiais nos veios das rochas; separação de líquidos em fases
minerais e formação de sólidos (sedimentos) durante o contato líquido e fase mineral; e
redistribuição e concentração sedimentos subsequentes; devido à meteorização e outros
processos à superfície (alteração física de materiais expostos – rocha inicial transformada
numa rocha alterada ou decomposta). Estes depósitos podem ser divididos em primários e
secundários; os depósitos primários estão relacionados com rochas ígneas e processos
hidrotermais, enquanto os secundários são concentrados devido a processos sedimentares-
sedimentares e meteorológicos (Walters et al., 2011).
Tabela 1 – Alguns dos principais minerais portadores de terras raras
Mineral Fórmula % peso
química teórica aproximada
de OTR
Fosfatos
Monazita (ETR,Th)PO4 65
Xenotima YPO4 61
Óxidos
Cerianita (Ce4+,Th)O2 63
Fergusonita (ETR)NbO4 47
Loparita (ETR,Na,Ca)(Ti,Nb)O3 30

Fonte: (MINDAT, 2017). *OTR = óxidos de terras raras

Depósitos de Terras Raras no Mundo e no Brasil

O instituo de pesquisa US Geological Survey divulgou um acervo de dados compostos


de informações sobre jazidas de TR, corpo mineralizo disponível, e conjuntos de números de
reservatórios. Para este fim, são recolhidos dados de várias fontes que inclui: USGS e outras
bases de dados governamentais, literatura publicada, dados e compilações não publicadas,
empresas, instituições, e websites governamentais. Além disso, vale ressaltar que os dados de
campo relacionados a números de ocorrências disponíveis, são recolhidos e correlacionados
com dados de depósitos de potencial económico já conhecidos, para revelar o potencial

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económico de aspecto geológico dos elementos TR pelo mundo (o espectro de geo-massa da


concentração de ETR). Muitos casos não foram bem estudados ao longo dos anos, e o
potencial econômico ainda é desconhecido. A partir dessa pesquisa realizada, nesta coleção de
dados recolhidos e correlacionados, cerca de 800 casos (ocorrências geológicas com potencial
de exploração) são distribuídos em mais de 70 países (Orris, 2002). Walters et al. (2011)
resumiram as principais características e exemplos dos principais tipos de depósitos de ETR.
Lapido-Loureiro, 2013, adicionou dois tipos suplementares de litotipos que estão
evidenciados no Brasil. Elementos P, TR, Ti, e Nb inclusos em minérios associados a
carbonatos e granitos alcalinos mineralizados em cassiterita (dióxido de estanho SnO2),
zirconita (silicato de zircônio ZnSiO4) e nióbio-tantalitos - tantalita (minério composto por
nióbio e tântalo [(Fe, Mn) (Ta, Nb)2 O6) da Amazónia.

Depósitos da China

China representa atualmente mais de 90% da oferta global de ETR. (Manchei et al.,
2019). Na China, por exemplo, a produção de óxidos de TR aumentou de 73 mil toneladas
para 120 mil toneladas entre os anos 2000 e 2018 (USGS, 2018). A China fornece produtos
provenientes de TR sob a forma de concentrados, óxidos, produtos químicos, ligas, sais e
metais desde 2001 (Tse, 2011; Liu et al., 2016; Ilankoon et al., 2018).
De acordo com a revista Investigação e Mercados, 2019, a China fabrica
manufaturados de TR primários, tais como ímã permanentes, catalisadores, materiais
luminescentes e de polimento, com foco nas indústrias de alta tecnologia, particularmente a
indústria global de energias renováveis, que tem um futuro promissor para aplicações TR.
Em outubro de 2019, a China solicitou 25.911 patentes de elementos de terras raras,
enquanto que os Estados Unidos, Japão e União Europeia tinham depositado apenas 9810,
13.920 e 7.280 patentes, respectivamente. Além disso, em comparação com outras regiões do
mundo, o número de patentes ETR registadas na China aumentou desde 2011 (Eric, 2019).
Por conseguinte, a China é líder em tecnologias emergentes relacionadas com ETR, o que
marca a expansão e as mudanças da indústria de TR chinesa. Em 2008, a União Europeia, os
Estados Unidos e o Japão importaram 78.000 toneladas de óxidos de terras raras, das quais
71.000 toneladas foram produzidas na China (Zhang e Shanz, 2001). Além disso, desde 2000,
o consumo de energia renovável na China teve aumento significativamente.
Em 2000, o consumo de TR chinês era de cerca de 19 mil toneladas, mas em 2009,
tinha disparado para 73 mil toneladas (o consumo global de TR em 2000 e 2009 foi de cerca

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de 91 e 130 mil toneladas, respectivamente), representando um aumento de 380% em relação


a 2000 (Tse, 2011; Fernandez, 2017). Portanto, a China é simultaneamente um consumidor e
um fornecedor global, dominando o mercado das energias renováveis. Além disso, a China
projeta acelerar a eletrificação dos automóveis até 2030, a fim de fazer face a escassez de
petróleo e os problemas ambientais. Esta estratégia dependerá fortemente de elementos de
terras raras (ETR) e das suas aplicações em veículos elétricos. Como resultado, a procura de
ETR tais como Nd, Dy, La, Pr, e Ce irá disparar, aumentar drasticamente, durante a próxima
década (Li et al., 2019).
Como medida preventiva, a China restringiu as exportações de TR em 2010 a fim de
controlar e reduzir o uso dos potenciais recursos renováveis, e assim, estabelecer uma reserva
estratégica de energia renovável que possa satisfazer a procura interna futura (Humphries,
2010; Hurst, 2010). Como resultado, os preços TR aumentaram em todo o mundo, gerando
preocupações entre os fornecedores globais, que observaram que a estabilidade da cadeia de
produção TR era vulnerável e que poderia haver uma escassez de matérias-primas para futuros
projetos tecnológicos de fontes alternativas de energia.
Para fazer face a carências de oferta de TR ao redor do mundo, foi considerada a
abertura ou a reabertura de novas minas e minas abandonadas fora da China, a fim de
aumentar a produção global de TR. No entanto, até 2013, a China tinha aumentado a sua
produção de TR e eliminado as quotas de exportação. Como resultado, foi observado um
excedente global em certos elementos como Nd, Eu, Tb, e Dy, enquanto o preço TR
começou a cair (Mancheri et al., 2019). Apesar dos preços ETR mais baixos, a China continua
a ser a força dominante na indústria desses elementos (Chen et al., 2018).

Exploração no Estado da Paraíba


A jazida de minério de titânio, denominada Mina Guaju, fica localizada na costa
nordeste do Brasil, no litoral paraibano, no município de Mataraca - PB, a aproximadamente
125 km da capital da Paraíba, o município de João Pessoa. A jazida de Mataraca, PB, tem o
volume de aproximadamente 0,9 km3 de extensão. Os direitos de exploração da jazida Guaju
são reservados a Millennium Inorganic Chemicals do Brasil S/A – que foi unificada pela
Global Cristal, a qual possui grande porcentagem do mercado internacional de dióxido de
titânio - rutilo. De acordo com dados do DNPM, era da mina Guaju 16% da produção de
ilmenita (MTiO3) – óxidos de ferro - mundial em 2012 (onde “M” na formula química da
ilmenita significa algum metal entre ferro, magnésio, zinco ou manganês). Em termos de
produção nacional, no Brasil, uma das maiores produtoras de ilmenita (FeTiO3) continua

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sendo a empresa Millennium Inorganic Chemicals do Brasil S/A, oferta de 75% da produção
nacional de concentrados de ilmenita e rutilo (Lima, 2014). Nas diversas partes do mundo o
rendimento de titânio é alcançado a partir de dois tipos de depósitos: classificados como
depósitos primários e secundários. Nos depósitos primários, o titânio dar-se na forma de
ilmenita associada a minerais de ferro, o rutilo é de difícil recuperação nesse primeiro tipo de
deposito, o surgimento é observado se estabelecendo em camadas e aglomerados lenticulares,
como mineral acessório em rochas metamórficas e plutônicas. Esse tipo depósito não
interessa no nosso estudo, porém estudos realizados em depósitos primários irão contribuir
com as análises dos resultados. Um dos processos geológicos importantes para a formação
desses depósitos é conhecido como segregação magmática, a ilmenita ocorre, em geral,
associada a albita, zirconita, magnetita e etc (Velho et al, 1998). Nos depósitos secundários, os
chamados pláceres, depósitos de areia de praia, nesse tipo de jazida o teor de TiO 2 apresenta-
se mais elevado (Maia, 2018). Os pláceres são constituídos, essencialmente, por areia de
quartzo. A jazida da “Mina Guaju”, objetivo de estudo desse trabalho, é do tipo depósito
secundário. O maior suporte à produção mundial de titânio decorre desses depósitos,
ocorrendo originalmente os minerais ilmenita-rutilo. Neles, a ilmenita apresenta diversos
estados de alteração, efeito oxidante, que favorece a lixiviação propensa do ferro. Por essa
razão, a manifestação de classes de minerais com teor superior de TiO2 (rutilo, leucoxênio e
anatásio) é observado. Em um e o outro tipo de depósitos, a ilmenita é de mais fácil
ocorrência do que o rutilo, tendo reservas muito maiores do que as de rutilo, em todo o
mundo.
Os ETR se exibem em quase 250 tipos de minérios, sendo os mais valorosos e de maior
busca industrial a monazita, bastnaesita e xenotima (Souza Filho, 2014; Abrão, 1994). No
Brasil, a monazita tem maior atenção industrial para a exploração de ETR (Souza Filho, 2014).
Ademais, vale ressaltar que a monazita juntamente com a bastnaesita representam 90% das
fontes de ETR (Lucas et al., 2015). Abraão (1994) ainda acrescentou que ao contrário da
bastnaesita, a monazita comercial pode conter tório em teores que variam de 6 a 12%, além de
urânio, todavia, a existência desses metais radioativos não tem muito significância para que se
justifique a extração destes como subproduto valioso (Voncken, 2016).
A ocorrência da monazita é associada a ilmenita, é uma particularidade importante desse
mineral. O mineral de interesse para esse estudo é a monazita, fonte de elementos terras raras
na forma de óxidos, e presente na Mina Guajú – PB. A monazita é conhecida como fonte de
elementos terras raras leves, bem como a bastnasita. Embora a monazita ocorra em baixos
teores nos depósitos fluviais marinhos, cerca de 2% a 6%, no processamento do concentrado

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de ilmenita, pode-se observar o estudo da recuperação da monazita a partir das porções de


rejeito da mina Guajú, que guarda material por um pouco mais que 20 anos, material
proveniente dos processos de beneficamente na usina. Os rejeitos finais de cada etapa do
processo de beneficiamento da ilmenita, foram alocados nas dunas de onde foram retiradas o
minério. O rejeito que possui resíduos de monazita descartados no processo de
beneficiamento da ilmenita, ficou aterrado todo esse período (se resguardando de todos os
cuidados necessários para o descarte e aterramento, já que o resíduo apresenta metais
radiativos). A monazita ocorre com tório e urânio associados, sendo necessário método de
tratamento para isolar esses metais. A caracterização do material poderá auxiliar na aplicação
desse método. O processo de exploração dos minerais na Mina Guajú é feito a céu-aberto
usando o método de lavra úmida, dragagem. O desmonte é caracterizado por “desmonte
mecânico”, a duna de areia é escavada com o auxílio da draga de sucção. Esse material retirado
é despachado a uma planta úmida flutuante, armada em lago artificial. Em seguida, o minério
removido é transportado por caminhões a uma usina de tratamento (planta fixa), com rota
secas e úmidas de tratamento, a fim de separar a areia dos minerais de interesse (ilmenita) por
separadores gravimétricos, magnéticos e eletrostáticos (Sousa et al, 2014).
Os concentrados de monazita normalmente apresentam teores entre 55 e 65% de OTR,
óxidos terras raras a depender do tipo de deposito geológico.

CONCLUSÃO
A ocorrência geológica da monazita decorre de múltiplos ambientes geológicos
distintos, sejam do tipo pláceres aluvionares marinhos, rocha pegmatita ou carbonatitos, e
assim, verificando extensa variabilidade morfológica e composição química. O interesse no
aproveitamento de monazita é que esse mineral é encontrado no resíduo do minério de titânio,
sendo caracterizado como mineral acessório a minerais pesados, excluindo a necessidade de
extração adicional. Fato esse que ocorre na mina Guajú – PB. Diante do importante cenário
global dos ETR atualmente, a empresa deveria investir na recuperação desse mineral tão
importante para o desenvolvimento tecnológico. Os ETR podem ser obtidos como
subprodutos da lavra de minérios como nióbio, titânio, tântalo ou estanho. Embora seja de
difícil separação, devido a suas configurações químicas serem bastante semelhantes, nos
últimos anos se tem investido pesado em estudos de tecnologia de separação de óxidos terras
raras no Brasil, contribuindo para uma economia mais sustentável e ecologicamente correta, o
que pode atender a redução do passivo ambiental que constitui as barragens de rejeitos.

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CAPÍTULO 36
HIDRÓXIDOS DUPLOS
LAMELARES: APLICAÇÕES E
PERSPECTIVAS PARA
REMOÇÃO DE CORANTES EM
ÁGUA
Lorranny Oliveira Lemes1
Bruno Ramos2
Renato Rosseto3

1
Doutoranda no Programa de Doutorado em Química, Universidade Estadual de Goiás
(UEG), Anápolis, GO, email: lorranny.lemes@gmail.com, ID Lattes: 9986541301413167.
2
MPesquisador doutor no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, email: bruno.ramos@usp.br,
ID Lattes: 8026565704942314.
3
Professor na Universidade Estadual de Goiás (UEG), Anápolis, GO,
renato.rosseto@ueg.br, ID Lattes: 2342305780810830.

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HIDRÓXIDOS DUPLOS LAMELARES: APLICAÇÕES E PERSPECTIVAS PARA REMOÇÃO


DE CORANTES EM ÁGUA

RESUMO
Os hidróxidos duplos lamelares são um tipo de material inorgânico bidimensional,
com propriedades interessantes como boa estabilidade, cristalinidade, e possibilidade
de modificações em sua estrutura. As características desses compostos permitem sua
a aplicação como adsorventes, fotocatalisadores e outros. Este trabalho visa
apresentar uma breve abordagem das características e potencialidades dos
hidróxidos duplos lamelares bem como aplicações em tratamentos de remoção
encontrados na literatura que exploram a adsorção e fotodegradação de poluentes em
meio aquoso e perspectivas futuras do material.
Palavras-chave: Materiais lamelares. Tratamentos de remoção. Degradação. Adsorção.
Azo corantes.

HIDRÓXIDOS DUPLOS LAMELARES: APLICAÇÕES E PERSPECTIVAS PARA REMOÇÃO


DE CORANTES EM ÁGUA

ABSTRACT
Layered double hydroxides are a type of two-dimensional inorganic material, with
interesting properties such as good stability, crystallinity, and possibility of
modification. The characteristics of these compounds allow their application as
adsorbents, photocatalyst, and others. This work aims to present a brief approach to
the characteristics and potential of layered double hydroxides as well as applications
in removal treatments found in the literature that explore the adsorption and
photodegradation of pollutants in aqueous media and prospects for the material.
Key-words: Layered material. Removal treatments. Degradation. Adsorption. Azo
dyes.

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INTRODUÇÃO

A água é um recurso valioso para manutenção da vida e necessário para o


desenvolvimento de uma sociedade moderna e sustentável. A disponibilidade de água
potável para seres humanos, fauna, flora e meios de produção requer o
desenvolvimento de tecnologias de purificação e materiais aplicados para tratamento
de águas (CHUBAR et al., 2017a).

Neste contexto, as tecnologias de tratamento de águas residuais oriundas de


indústrias, tais como têxteis têm recebido atenção devido ao grande volume de água
com concentrações altas de corantes que é liberado durante o processo de fabricação,
e que, quando não tratados corretamente, podem causar danos ao meio ambiente
(Pahalagedara et al., 2014).

A literatura descreve os corantes do tipo azo como substâncias caracterizados por


ligações –N=N– conjugadas a anéis aromáticos, amplamente usados devido a sua
versatilidade, chegando a representar cerca de 50% dos corantes produzidos
mundialmente. Estes compostos (Figura 1) são de difícil remoção por métodos
tradicionais de tratamentos de água, pois são estáveis à luz solar e resistentes a
alguns processos de degradação (Chung, 2016).

Figura 10. Exemplo de corante azo, alaranjado de metila.

Entre as principais técnicas pesquisadas para remoção de corantes estão os


processos de adsorção, degradação química (Zanella et al., 2010), filtração por
membrana (Aouni et al., 2009), biodegradação (Almeida; Corso, 2014), tratamento
eletroquímico (Chatzisymeon et al., 2006), e outras. Inúmeros materiais e compostos
são estudados para remoção de contaminantes em fase aquosa, buscando alta
eficiência de remoção, rotas simples e de baixo custo, destinação sustentável, e
versatilidade em termos de aplicações tecnológicas (An et al., 2015).

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A adsorção se destaca como uma das técnicas mais estudadas para remoção de
contaminantes, por sua facilidade de processamento, seletividade e baixos custos de
operação. O carvão ativado é um exemplo de adsorvente bastante utilizado para
remoção de contaminantes. Tem como características principais sua grande área
superficial e elevada porosidade, porém seu uso pode não ser viável economicamente,
com limitações à sua reutilização. Além do carvão ativado são estudados bauxita,
zeólitas, sílicas e hidróxidos duplos lamelares (Altenor;Carene-Melane; Gaspard,
2009; Faria; Órfão; Pereira, 2004).

HIDRÓXIDOS DUPLOS LAMELARES

Hidróxidos duplos lamelares (HDL) são materiais bidimensionais, lamelares,


também chamados de hidrotalcitas. Os HDL possuem estrutura bem definida e
características interessantes para inúmeras aplicações em diferentes áreas como
sensoriamento (Tcheumi et al., 2020), catálise (Ciocan et al., 2012), carreamento de
fármacos (Cunha et al., 2010), desenvolvimento de compostos antimicrobianos
(Moaty; Farghali; Khaled, 2016), processos de fotodegradação (Xu et al., 2018), e
adsorção (Elmoubarkia et al., 2017), com ampla aplicação em remediações
ambientais.

Os HDL são materiais de fácil síntese, baixo custo, possuem alta estabilidade
térmica, alta cristalinidade, possibilidade de incorporar espécies na região
interlamelar, notável performance em processos de fotocatálise, e com grande área
superficial caracterizado por estruturas meso e microporosas que possibilitam
modificações em diferentes sistemas (Laipan et al., 2020).

Os HDL sintéticos se assemelham à estrutura da hidrotalcita, um hidróxido de


magnésio, alumínio e carbonato encontrado na natureza (Mishra; Dash; Pandey,
2018). Há relatos sobre a descoberta do HDL inicialmente em 1842, sendo o primeiro
material lamelar sintético preparado em 1942 por Feitknecht. Estudos sobre a
conformação estrutural dos HDL foram realizados por volta de 1960 por Allmann,
Taylor e colaboradores (Mohapatra; Parida, 2016; Reichle, 1986).

A fórmula geral do HDL é representada por [M2+(1-x)M3+x(OH)2](An- )x/n.zH2O,


sendo M2+ e M3+ os cátions metálicos divalentes e trivalentes, respectivamente e An-

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um ânion (Figura 2) . Os cátions são coordenados as hidroxilas, formando lamelas; os


ânions e as moléculas de água ficam na região interlamelar e promovem a
estabilidade das cargas. Na literatura existem inúmeras combinações entre os cátions
e ânions para formar o HDL, a depender da sua aplicação, porém são usados com
maior frequência Mg2+, Zn2+, Ni2+, Mn2+, Co2+ ou Fe2+ e entre os cátions trivalentes
Al3+, Cr3+, Mn3+, Fe3+, Ga3+, Co3+ ou Ni3+ (Khan; O’Hare, 2002).

Figura 11. Representação esquemática do HDL.

SÍNTESE DOS HIDRÓXIDOS DUPLOS LAMELARES

A síntese do HDL comumente descrita na literatura é pelo método de


coprecipitação. Uma solução contendo os cátions de interesse é adicionada
lentamente a uma solução básica com o ânion a ser intercalado. A mistura obtida é
colocada em aquecimento por aproximadamente 18h, para formação do material.
Outros métodos de síntese relatados são o método sol-gel, microemulsão, hidrólise
em ureia entre outros. Os HDL também podem ser obtidos por troca iônica em
solução ou a partir do precursor calcinado (Yu; Wang; Hare, 2017).

O EFEITO MEMÓRIA

O HDL possui uma propriedade chamada de “efeito memória” ou reconstrução.


Este material, quando em calcinação em temperaturas entre 500-600°C, sofre a

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eliminação das moléculas de água e dos ânions da região interlamelar, convertendo-


se em uma mistura de óxidos metálicos. Estes óxidos formam uma dispersão
homogênea de cátions metálicos com área superficial elevada, que varia de 60 para
120 m2 g-1 aproximadamente após a calcinação. Quando colocado em solução aquosa
contendo o contaminante de interesse, a estrutura lamelar do material retorna a sua
forma original, adsorvendo o contaminante. Esta propriedade é considerada
importante para aplicação em remoção de contaminantes aquosos pois permite a
reutilização do adsorvente, sendo assim economicamente viável (Extremera et al.,
2012; Tichit; Coq, 2004).

A literatura sobre o uso dos compostos lamelares para remoção de poluentes é


extensa: a possibilidade de modificações da matriz inorgânica tem um interesse
significativo aos pesquisadores da área. Mais de 500 trabalhos sobre HDL e suas
modificações foram publicados na última década, entre artigos, revisões e capítulos
de livros, mostrando a potencialidade a versatilidade desses materiais (Mallakpour;
Hatami; Hussain, 2020).

O objetivo deste trabalho é abordar brevemente os compostos inorgânicos


lamelares e suas modificações usados para tratamentos de corantes estudadas nos
últimos anos, considerando dois tipos:

 Hidróxidos duplos lamelares que exploram a capacidade de reconstrução do


HDL;

 Hidróxidos duplos lamelares que exploram a aplicação em fotodegradação


com formação de materiais com alta performance fotocatalítica.

HIDRÓXIDOS DUPLOS LAMELARES CALCINADOS PARA REMOÇÃO DE CORANTES

Para os hidróxidos duplos lamelares calcinados usados para a remoção de corantes, alguns
autores afirmam que a etapa de calcinação do HDL é necessária para atingir altos
valores de capacidade de remoção, e em alguns casos podem ser considerada uma
(Daud et al., 2019).

Os ensaios de remoção dos corantes usando diferentes HDL calcinados, são em


geral, realizados em bateladas. Nesses ensaios, uma quantidade conhecida de HDL

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calcinado é colocada em solução de corante, simulando um efluente têxtil, sob


agitação por um determinado período. A capacidade de remoção (qe) calculada é uma
relação da massa de corantes removida por massa do HDL usado (mg de corante/g de
HDL). Alguns trabalhos mostram valores de remoção entre 600-1200 mg/g,
indicando que o HDL consegue remover quantidades consideráveis de corante, à
condição específica (Ai; Zhang; Meng, 2011). Alguns trabalhos usando HDL com
diferentes combinações de cátions para remoção de corantes encontram-se
compilados na Tabela 1.

Tabela 4. Diferentes HDL usados para remoção de corantes.

HDL Corante Referência


Ni/Mg
Vermelho congo Lei et al., 2017
/Al

Mg/Al Alaranjado II Zhaoxiong Yan, Bicheng Zhu, Yu


Jiaguo, 2015

Mg/Fe Alaranjado G Benselka-Hadj Abdelkader et al.,


2011
Ni/Al Violeta remazol Pahalagedara et al., 2014

Zn/Al Azul ácido Santos et al., 2017

Mg/Fe Alaranjado de metila e verde


Elmoubarkia et al., 2017
Ni/Fe malaquita

Outros estudos alteram a composição química do material visando explorar o


potencial de reconstrução na remoção de corantes, como por exemplo a pesquisa
realizada por Yuan; Zhou; Fu, (2017). Os autores sintetizaram um HDL contendo três
cátions Zn/Mg/Al usado para a remoção do corante alaranjado de metila. Os
resultados indicaram que a capacidade adsortiva do HDL Zn/Mg/Al calcinado foi de
140,5 mg.g-1. O estudo ainda avaliou o efeito de competitividade de íons (Cl-, SO42-,
CO32-, PO43-) na remoção do alaranjado de metila, sugerindo que ânions com maior
densidade de carga têm maior afinidade com a matriz inorgânica.

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Alguns autores afirmam ainda que os altos valores de capacidade de remoção


podem ser atribuídos ao método de síntese. Segundo Zubair et al., (2017) alguns
métodos facilitam a formação de grupos funcionais contendo oxigênio na superfície
do HDL, aumentando sua área superficial após a calcinação. Os compostos lamelares
formados por Zn, Mg e Al, quando calcinados apresentam maiores valores de
capacidade de remoção, e há estudos indicando que HDL contendo esses cátions
apresentam uma capacidade de retenção de ânions e facilidade de regeneração, assim
esses materiais são frequentemente usados para adsorção ou fotodegradação de
contaminantes (Bukhtiyarova, 2019).

A diversidade de modificações/combinações do HDL formando novos materiais


e/ou compósitos pode alterar as características do material, otimizando os processos
de adsorção (Daud et al., 2019). De acordo com Laipan et al., (2020), as modificações
em HDL como: intercalação, modificação da superfície, controle do tamanho e
morfologia da partícula, controle dos defeitos na estrutura, são estratégias que podem
melhorar a aplicação dos compostos lamelares em processos de catálise, adsorção,
produção de biomateriais, entre outros.

Os compostos lamelares são considerados excelentes fotocatalisadores,


principalmente pela sua estrutura química, cristalinidade, capacidade do HDL
combinar com outros compostos aplicados em degradação química. A estrutura do
HDL promove bandas de luz visível/energia solar variando entre 2,2 e 3,2 eV. A
sínteses facilitada e de baixo custo favorecem a aplicação do material em degradações
químicas (ZHANG et al., 2020).

Estudos realizados por Suh e colaboradores (2019), combinaram o dióxido de


titânio com HDL Mg/Al formando um compósito com uma funcionalidade dupla, um
adsorvente e também fotocatalisador. O compósito foi usado para remoção do
alaranjado de metila e os autores descrevem um aumento da remoção do corante
usando HDL-TiO2, de 6,6 vezes maior se comparado ao HDL sem TiO2. Foram
realizados testes de reutilização do material, e após ciclos de regeneração os
resultados indicam uma eficiência de remoção de 92% comparada a eficiência de
remoção inicial, indicando um material com potencial performance de regeneração.

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Outra possibilidade de modificações dos HDL são as incorporações de ânions e/ou


átomos que melhorem a performance fotocatalítica. Estudos realizados por CHEN e
colaboradores (2014) sintetizaram o HDL Zn/Ti intercalado com Pt, por troca iônica
para estudos de degradação do corante rodamina B. Segundo os autores, a
degradação do corante usando HDL Zn/Ti-Pt foi de 100% em 12 minutos de
irradiação solar simulada, tornou a degradação do corante 17 vezes mais rápida se
comparada a degradação com HDL Zn/Ti. Segundos os autores, a área superficial do
HDL Zn/Ti passou de 29,047m2/g para 111,46m2/g no HDL Zn/Ti-Pt, indicando que o
aumento da área superficial melhorou a atividade fotocatalítica do material. A Tabela
2 apresenta alguns trabalhos com HDLs modificados usados em fotodegradação.

Tabela 5. Exemplos da literatura de diferentes HDL modificado aplicado em


fotodegradação.

HDL Corante Referência


Alaranjado de Xue et al.,
Zn/Ti-CeO2
metila 2019
Mg/Al-NO3-Ag2CO3 Azul de metileno Ao et al., 2016
Alaranjado de Zhang et al.,
Zn/Al-Au
metila 2013
Zn/Ti-Fe3O4/CeO2 e
Vermelho ácido Xia et al., 2014
SnO2

As modificações no HDL buscam o desenvolvimento de tecnologias de síntese para


aplicações em larga escala, particularmente na resolução de dificuldades
apresentadas por esses materiais em forma de pó na etapa de separação da solução
aquosa. Alguns autores argumentam que essa dificuldade acaba gerando um resíduo
que não torna o HDL um material com um ciclo sustentável (Mallakpour; Hatami;
Hussain, 2020).

De acordo com Chubar et al.,(2017), o uso do HDL comercial ainda é pouco


explorado. Atualmente o HDL é usado comercialmente como aditivo em PVC
(policloreto de vinila) e também como antichamas. Para nosso conhecimento até

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momento não é encontrado o uso comercial do HDL para remoção de contaminantes


em soluções aquosas, entretanto a literatura sobre o tema explora a potencialidade
destes materiais em de remoção de contaminantes.

CONCLUSÕES

Os hidróxidos duplos lamelares apresentam potencial para uma nova geração de


adsorventes ecológicos, funcionais e versáteis. A possibilidade de aplicações
industriais do HDL em sistemas de tratamentos de contaminantes em fluxo
impulsiona os estudos, devido às características únicas do material, seu baixo custo, e
à sua capacidade de reutilização. Entretanto, apesar muitos estudos publicados sobre
o tema, ainda existem lacunas para explorar sua produção e utilização em larga
escala, como na aplicação em sistemas contínuos, industriais e/ou comerciais.

A literatura mostra inúmeras possibilidades de combinação/modificações do HDL


a fim de se obter um material ótimo para cada problema sob investigação. Essa
perspectiva abre caminhos promissores para o uso deste material em tratamentos de
remoção de contaminantes visando oferecer à sociedade excelentes materiais
funcionais para o tratamento de águas sustentáveis.

AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual de Goiás (UEG), ao PROBIP/UEG, a Universidade de São


Paulo, CAPES e FAPEG pela infraestrutura e bolsas concedidas.

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CAPÍTULO 37
PROCESSO DE PURIFICAÇÃO
DA LIGNINA: UMA BREVE
REVISÃO

Henrique Straioto 1
Paula Valéria Viotti 2
Wardleison Martins Moreira 3
Mara Heloisa Neves Olsen Scaliante 4
Marcelo Fernandes Vieira 5

1
Doutorando em Engenharia Química, Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Maringá, PR, email: henriquestraioto72@gmail.com, ID Lattes: 9607798227057647.
2
Doutoranda em Engenharia Química, Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Maringá, PR, email: paulavaleriaviotti@gmail.com, ID Lattes: 7992797102020500.
3
Professor do Departamento de Engenharia Química, Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Maringá, PR, email: wmmoreira@uem.br, ID Lattes: 6242841033608759.
4
Professor do Departamento de Engenharia Química, Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Maringá, PR, email: mhnoscaliante2@uem.br, ID Lattes: 1552509852504841.
5
Professor do Departamento de Engenharia Química, Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Maringá, PR, email: mfvieira2@uem.br, ID Lattes: 5654735215017528.

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PROCESSO DE PURIFICAÇÃO DA LIGNINA: UMA BREVE REVISÃO

RESUMO
As biorrefinarias e o termo química verde têm ganhado destaque na atualidade e os
resíduos agroindustriais vêm se tornando alvo de pesquisas, de forma a reinserí-los
na economia e gerar produtos de alto valor agregado. Esse processo de conversão,
muitas vezes, exige um pré-tratamento da biomassa de forma a isolar e purificar os
constituintes lignocelulósicos. Neste contexto, uma breve revisão da literatura
abordando os processos de separação por membranas e adsorção no fracionamento e
purificação da lignina é apresentada.
Palavras-chave: Lignina. Fracionamento. Purificação. Membranas. Adsorção.

LIGNIN PURIFICATION PROCESS: A BRIEF REVIEW

ABSTRACT
In order to reinsert the agro-industrial residues into the economy and generate
products with high added value, the biorefineries and green-chemistry have gained
attention and becoming a topic of research. However, the conversion process often
requires a pre-treatment of the biomass in order to isolate and purify the
lignocellulosic constituents. In this context, a brief literature review addressing
membrane separation and adsorption processes in lignin fractionation and
purification is presented.
Key-words: Lignin. Fractionation. Purification. Membranes. Adsorption.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, o agronegócio brasileiro desempenha um forte impacto na Balança


Comercial. Segundo os dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior
(SECEX), quase metade do valor total exportado pelo Brasil foi devido às vendas de
commodities.
Dentro desse contexto, as biorrefinarias têm ganhado destaque dentre os temas
em estudo. Dessa forma, toda a biomassa disponível seria integrada e convertida em
um produto, de maior valor agregado, ou usado para suprir a demanda de calor e
energia da indústria. Como resultado, as empresas de papel e celulose vêm se
tornando alvo de pesquisas, uma vez que a lignina ainda é vista como um resíduo de
baixo valor da polpação celulósica. A lignina é usada, majoritariamente, como
combustível na indústria de papel e celulose. No entanto, o licor negro gerado no
processo, pode ser reprocessado de forma a gerar um produto de alto valor agregado.
Além do seu uso como combustível, a lignina possui outras aplicações no
mercado, a saber:
Produção de resinas fenólicas;
Confecção de adesivo a base de polímeros;
Produção de fibras de carbono;
Produção de adsorventes;
Produção de químicos aromáticos: benzeno, xileno e vanilina.
Apesar das diversas aplicações, a plena comercialização da lignina está limitada
ao seu padrão de baixa pureza. Diante disso, novas pesquisas vêm sendo
desenvolvidas a fim de um maior conhecimento do potencial e aplicabilidade da
lignina em biorrefinarias.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As biomassas lignocelulósicas são compostas de três frações principais: a
hemicelulose, a celulose e a lignina. A celulose e a hemicelulose são ricas em
carboidratos e podem ser utilizadas em diversas aplicações, em especial na obtenção
do etanol de segunda geração.
Dentre os compostos presentes na biomassa, a celulose é o polímero natural
mais abundante e tem uma estrutura linear composta por monômeros de glucose. Já a
hemicelulose é um heteropolissacarídeo e possui uma estrutura amorfa. A lignina, no

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entanto, possui uma complexa estrutura aromática polimérica de fenol, no qual vários
grupos funcionais se acoplam.
A estrutura da lignina é bem complexa e varia de acordo com a espécie da
madeira (conífera ou folhosas) utilizada no cozimento, com o processo de extração e
com o seu processo de isolamento. Assim, a elevada diversidade estrutural da lignina
e o seu alto peso molecular faz com que ela tenha um difícil emprego comercial.
No processo Kraft, a deslignificação ocorre através da ação do NaOH e do Na2S
sobre as ligações éter da molécula de lignina. A quebra dessas ligações libera grupos
hidroxil fenólicos, que favorecem a dissolução da lignina no meio alcalino. A lignina
neste processamento é fortemente hidrolisada e possui uma massa molar baixa. De
acordo com Toledano et al., (2010), devido à sua diversidade de grupos funcionais e à
variabilidade de acordo com o processo, o peso molecular da lignina pode variar de 1
kDa a 100 kDa. Dessa forma, para viabilizar a sua aplicação, a lignina deve ser
fracionada. O principal objetivo do fracionamento é obter frações de peso molecular
específico, cujas propriedades são bem definidas. A molécula de lignina consiste na
união das unidades fenilpropano, ilustradas na Figura 1, por meio de ligações do tipo
éter (C-O-C) ou do tipo carbono (C-C) (Upton e Kasko, 2016). No entanto, vale
ressaltar que a lignina não tem uma estrutura definitiva e a presença, ou não, de cada
uma das unidades de fenilpropano depende da planta de origem.

Figura 1: Principais unidades de fenilpropano presentes na molécula de lignina.


Fonte: Santos (2001).

As propriedades físicas e químicas da lignina dependem dos métodos de


fracionamento e purificação utilizados. Com relação às suas propriedades térmicas, a
lignina, por ser um polímero amorfo, se comporta como um material termoplástico
passando por uma transição vítrea em temperaturas que variam muito, dependendo
do método de isolamento, água absorvida e tratamento de calor (Pure Lignin, 2011).

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Um processo bastante comum para o isolamento da lignina insolúvel é o


processo Lignoboost. Nesse processo, a lignina é obtida por precipitação ao reduzir o
pH, valendo-se de dióxido de carbono e ácidos minerais fortes. No entanto, Toledano
et al., (2010) afirma que o fracionamento por precipitação pode ser um processo
desigual e que pode haver o arraste de impurezas juntamente com os cristais
formados, como a lignina suspensa e os complexos lignina-carboidratos. Segundo
Helander et al., (2013), quando o processo é conduzido em baixas temperaturas,
evita-se a formação de particulados de lignina grandes e rígidos.
O fracionamento da lignina pode ser realizado por solubilidade ou por diferença
de peso molecular. Toledano et al., (2010) relata os três principais métodos de
fracionamento:
1. Precipitação diferencial: consiste na acidificação da lignina, ou seja, diminuição
do pH da solução. Esse método possui uma desvantagem, pois pode haver a formação
de coloides que torna o processo de filtração mais complexo.
2. Extração usando solventes seletivos: pode ser extração soxhlet, por solventes
orgânicos ou cromatografia de permeação em gel. Esse método permite a obtenção de
lignina de baixo peso molecular.
3. Processo por membranas: permite a obtenção de frações de lignina com uma
distribuição de peso molecular bem definido e livre de tratamentos com reagentes.
Após o fracionamento do licor negro, duas frações são obtidas, a saber:
1. Fração de alto peso molecular: constituída pela lignina de alto peso molecular,
da hemicelulose (carboidratos) e do complexo lignina-carboidrato.
2. Fração de baixo peso molecular: constituída, principalmente, pela lignina de
baixo peso molecular.
Helander et al., (2013) expõe que um material com alto potencial para novas
aplicações deve ter baixa polidispersidade, baixo peso molecular e alta pureza de
lignina. No entanto, Toledano et al., (2010) afirma que as frações de lignina de baixo
peso molecular apresenta uma baixa polidispersidade, com um alto teor de grupos
funcionais fenólicos com cadeia lateral saturada.
Segundo Helander et al., (2013), os sítios fenólicos, quando modificados, podem
ser usados como antioxidantes. Li e Mc Donald (2014) alegam que a lignina extraída
é frágil e possui uma elevada temperatura de transição vítrea. No entanto, a estrutura
química complexa e a baixa solubilidade em solventes comuns são fatores

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contribuintes que limitam o seu uso como polímero. Por fim, os autores sugerem o
estudo de substituições dos grupos funcionais da lignina, de forma a melhorar as suas
propriedades e diminuir a temperatura de transição vítrea.
Devido a essa diversidade estrutural, Toledano et al., (2009) sugere o
reprocessamento para permitir o uso da lignina como dispersante em cimentos,
misturas compostas de gesso, emulsificantes e agentes quelantes para a remoção de
metais pesados de efluentes industriais. A lignina também pode ser, segundo
Helander et al., (2013) e Wallberg et al., (2014), utilizada na produção de fibras de
carbono e resinas fenólicas. Carrott e Ribeiro Carrott (2007), ainda aponta a
utilização da lignina como adsorventes para a adsorção de metais tóxicos, pesticidas,
fenóis entre outros materiais.
Segundo Tejado et al., (2007), a lignina tem sido investigada como uma
alternativa natural a produtos petroquímicos na produção de resinas de fenol-
formaldeído, devido à sua semelhança estrutural. A presença de anéis ativados livre
em várias posições de sua estrutura, aliada à sua característica térmica, indica que a
lignina do processo Kraft é uma boa alternativa à substituição do fenol na síntese de
resinas de fenol-formaldeído-lignina. O autor ainda sugere a aplicabilidade da lignina
em uma variedade de adesivos poliméricos, como resinas fórmicas, epóxidos, poli-
isocianatos, poli-acrilamidas e poliuretanos.
Franco e Garzon (2010) mencionam o uso da lignina na produção de compostos
aromáticos (benzeno, tolueno e xileno). De acordo com o autor, a lignina é a única
fonte renovável para a obtenção, por meio da pirólise, de uma classe de produtos
químicos aromáticos de alto volume. Logo, pode-se concluir que a lignina pode se
tornar uma valiosa matéria-prima renovável para a indústria química brasileira.
A lignina tem utilização aprovada pela Food, Drugs and Administration (FDA)
para o uso seguro de fabricação e uso em uma ampla variedade de aplicações para
alimentos. Diante disso, Silva et al., (2009) propõe o uso da lignina na obtenção de
vanilina, um produto químico que pode ser obtido a partir da oxidação da lignina,
sendo o principal componente do sabor de baunilha.
Wallberg et al., (2013) afirma que para viabilizar a aplicação da lignina, ela deve
conter o mínimo de compostos inorgânicos, uma vez que estes compostos produzem
um alto teor de cinzas, sendo prejudicial à qualidade da lignina, e acabam, por
conseguinte, prejudicando o reprocessamento e as características do produto. No

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caso de produção de biocombustíveis, deseja-se um baixo teor de cinzas para que a


queima do mesmo possa ser realizada em qualquer equipamento/caldeira.
Em busca de um uso mais eficiente dos recursos oferecidos pela madeira, novas
formas de utilizar os seus recursos vêm crescendo e se desenvolvendo. Assim,
estudos visando o uso da tecnologia de membranas na purificação e fracionamento da
lignina vêm se destacando.

Utilização de membranas na purificação e fracionamento da lignina


Um dos benefícios do uso de membranas nesse processo é a não necessidade de
adição de reagentes secundários. Além disso, o processo permite o uso do licor negro
extraído em qualquer ponto do processo sem a necessidade de ajuste de pH e
temperatura. Dessa forma, pode-se efetuar a separação apenas controlando a pressão
do processo e o diâmetro de poro da membrana.
Dentre as pesquisas sobre a técnica de fracionamento por diferença de peso
molecular utilizando o processo de separação com membranas, Toledano et al.,
(2010), em um de seus trabalhos, estudou a técnica de fracionamento da lignina
exclusivamente por ultrafiltração. Para tanto, os autores submeteram o licor negro ao
tratamento com membranas de 5, 10 e 15 kDa. Após o processo de ultrafiltração, a
lignina foi isolada por precipitação para posteriores análises. Toledano et al., (2010)
concluiu que o processo de ultrafiltração é bastante eficaz para o fracionamento da
lignina. A diminuição do diâmetro de corte da membrana leva a uma obtenção de
fração de lignina mais concentrada e menos polidispersa, porém com um maior teor
de matéria inorgânica. No entanto, para os menores diâmetros de corte houve uma
maior retenção de moléculas maiores, como a hemicelulose e outros materiais
orgânicos. Dessa forma, para a membrana de 15 kDa houve uma maior contaminação
da lignina, devido à permeação de hemicelulose e outros complexos de elevada massa
molecular.
Uma vez comprovada a eficácia do processo de ultrafiltração, Arkell et al.,
(2014) inovou e estudou o fracionamento da lignina por nanofiltração, bem como o
uso da ultrafiltração como uma técnica de pré-tratamento para a nanofiltração.
Embora o uso exclusivo da nanofiltração ter se mostrado bastante eficaz, o seu uso
após a etapa de pré-tratamento obteve um fluxo de permeado consideravelmente
maior. Esse aumento ocorreu devido à retenção da hemicelulose e dos compostos de

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alta massa molecular. Ao aumentar a densidade da membrana, ou seja, diminuir a sua


porosidade, notou-se uma maior retenção de lignina. No entanto, houve uma queda
brusca e desfavorável do fluxo de permeado, inviabilizando o processo.
Visando comparar a eficácia das técnicas de precipitação diferencial e
fracionamento por peso molecular, Helander et al., (2013) e Toledano et al., (2010)
realizaram estudos comparativos envolvendo as duas técnicas.
Helander et al., (2013), utilizaram licor negro fraco (obtido antes da
evaporação) do processo Kraft para comparar diferentes técnicas de fracionamento
da lignina. Os autores utilizaram as técnicas do processo LignoBoost (precipitação,
acidificação ou diminuição do pH) para isolar a lignina antes e após o tratamento com
membranas.
Ao extrair a lignina de baixo peso molecular do licor negro fraco por
precipitação, altas temperaturas devem ser evitadas para impedir a formação de
aglomerados grandes e rígidos. No entanto, ao diminuir o pH da solução em
temperatura ambiente há a formação de particulados finos de lignina.
Outra técnica testada por Helander et al., (2013) foi adicionar uma solução
iônica de NaCl ao licor negro fraco e em seguida realizar a precipitação. Como
resultado, o processo de filtração dos precipitados foi mais eficaz. A técnica de
precipitação também foi testada por Healander et al., (2013) utilizando soluções de
diferentes pHs. A alteração do pH foi obtida por meio de uma evaporação do licor
negro. A evaporação também favoreceu a filtração, já que houve um aumento da força
iônica do meio ao concentrar os íons da solução. No entanto, ao diminuir o pH, a
quantidade de enxofre presente na fração de lignina aumentou.
Por fim, Healander et al., (2013) repetiu as técnicas anteriores para o permeado
obtido ao tratar o licor negro em uma membrana de nanofiltração. Ao realizar o
tratamento com membranas, uma alta temperatura favorece a difusão da lignina pela
membrana, diminuindo a sua retenção. Os resultados obtidos, com a variação do pH e
da força iônica na lignina permeada, foram similares aos obtidos sem o tratamento
com membranas, porém, a lignina do permeado apresentou baixa polidispersidade.
Toledano et al., (2010) realizou o fracionamento da lignina por ultrafiltração.
Como resultado, a lignina permeada apresentou menor contaminação por
hemicelulose e complexos lignina-carboidrato, devido à maior seletividade do peso
molecular. Embora a precipitação seja uma alternativa mais econômica e simples, não

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é possível realizar uma seleção do peso molecular médio, como se pode fazer ao
selecionar o diâmetro de corte da membrana.

Uso de adsorção na purificação e fracionamento da lignina


A lignina também pode ser purificada pelo processo de adsorção. Essa última
operação se mostra viável pelo baixo custo de aquisição e operação.
Wang et al., (2016), Oveissi et al., (2014), Sitter et al., (2014), Fatehi et al.,
(2013a), Fatehi et al., (2013b) e Zhou et al., (2010) apresentaram alguns estudos que
mostram a viabilidade do processo de adsorção dos materiais lignocelulósicos em
diversas combinações de materiais adsorventes e processos adjacentes. Os principais
resultados apresentados pelos autores estão expressos na Tabela 1.
Zhou et al., (2010) estudou a adsorção de materiais lignocelulósicos, a saber
lignina e hemicelulose, utilizando a lama residual da indústria de mineração como
adsorvente. No entanto, Fatehi et al., (2013b) realizou um estudo semelhante, porém
ele testou a adsorção em precipitado de carbonato de cálcio (PCC) poroso (68 nm) e
nanoporoso. Conforme mostrado na Tabela 1, a adsorção foi mais favorável no PCC
poroso. Uma das justificativas para tal fato é a maior área superficial livre para a
adsorção (63 m2 g-1) quando comparado com a área superficial do material
nanoporoso (8 m2 g-1).
A estrutura molecular da lignina é formada pela ligação de várias unidades
radicalares. Essas unidades possuem uma alta densidade de carga negativa, uma vez
que elas são compostas por anéis aromáticos e radicais hidroxilas. Dessa forma,
Fatehi et al., (2013b), Fatehi et al., (2013a), Sitter et al., (2014) e Oveissi et al., (2014)
avaliaram a influência de um polímero catiônico no estudo da adsorção. Os polímeros
catiônicos atuam como agentes floculantes do meio devido à diferença da densidade
de cargas. Dessa forma, há a aglomeração das moléculas da lignina no entorno do
polímero catiônico, levando à formação de moléculas maiores a serem adsorvidas. Os
polímeros estudados pelos autores são a poliacrilamida (CPAM) e o cloreto de poli-
alil-dimetil-amônio (PDADMAC).
Com a adição do polímero catiônico, foi realizado um estudo combinado de
adsorção e floculação. Oveissi et al., (2014) avaliou o processo combinado utilizando
o cloreto de poli-alil-dimetil-amônio (PDADMAC) como o agente floculante. De forma
a analisar a influência do tamanho do polímero no processo combinado, o autor fez

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uso do PDADMAC para dois valores de massas molares, 1000-2000 kDa e 4000-5000
kDa. De acordo com a Tabela 1, o processo combinado foi significativo na adsorção da
lignina, uma vez que a capacidade de adsorção da mesma aumentou em um fator de
10.
Tabela 1: Principais resultados dos estudos de adsorção de materiais lignocelulósicos.

Adsorvente AD/S AF MWF AF/S LA HA T Ref.


(kDa) (mg g-1) (mg g-1) (oC)
Carvão 0,002 - - - 480,0 10 25 Wang et al
ativado (2016)
PCC 0,025 - - - 31,0 67 40 Fatehi et al
(2013b)
PCC 0,025 - - - 54,0 137 40 Fatehi et al
(2013b)
Bentonita 0,025 - - - 275,0 250 40 Oveissi et
al (2014)
Bentonita 0,025 PDAD 1000- 0,025 2250,0 250 40 Oveissi et
MAC 2000 al (2014)
Bentonita 0,025 PDAD 4000- 0,025 2000,0 350 40 Oveissi et
MAC 5000 al (2014)
PCC 0,02 PCC/ 5000 0,000 31,4 113 40 Fatehi et al
8 (2013a)
CPAM
PCC 0,02 CPAM/ 5000 0,000 27,7 115 40 Fatehi et al
8 (2013a)
PCC
PCC 0,02 PCC/ 4000- 0,000 62,5 157 40 Fatehi et al
5000 8 (2013a)
PDAD
MAC
PCC 0,02 PDAD 4000- 0,000 51,4 123 40 Fatehi et al
MAC/P 5000 8 (2013a)
CC
Legenda:
AD/S = Razão da massa de Adsorvente pela massa de Solução;
AF = Agente Floculante (Polímero Catiônico);
MWF = Massa Molar do Agente Floculante;
AF/S = Razão da massa do agente Floculante pela massa de Solução;
LA = Massa de Lignina Adsorvida no equilíbrio;
HA = Massa de Hemicelulose Adsorvida no equilíbrio.

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Ao avaliar a influência da massa molar do PDADMAC, o polímero de menor


massa molar favoreceu a adsorção da lignina e quase não alterou a adsorção da
hemicelulose. Uma justificativa é a diferença na taxa de difusão da lignina e da
hemicelulose no interior dos poros do adsorvente. Diante dos valores das massas
moleculares da lignina, 1-10 kDa, e a da hemicelulose, 25-35 kDa, pode-se afirmar que
os particulados de hemicelulose são maiores e, portanto, apresentam uma difusão no
interior do adsorvente mais dificultada. Dessa forma, a adição do polímero de menor
massa molar levou à formação de aglomerados lignina/PDADMAC menores. Uma vez
que o particulado formado é menor, a sua difusão no interior dos poros é favorecida.
Essa menor taxa de difusão da hemicelulose no interior dos poros acaba por
favorecer a saturação dos sítios adsortivos nos particulados de lignina, dificultando
ainda mais na adsorção da hemicelulose. Em termos do processo de purificação da
lignina, a menor taxa de difusividade da hemicelulose favorece o grau de pureza da
lignina adsorvida.
De forma a ampliar as investigações do processo binário floculação/adsorção,
Fatehi et al., (2013b) estudou o comportamento do processo combinado de floculação
e adsorção, de forma a comparar diferentes agentes floculantes e a influência da
ordem de adição dos reagentes (agente floculante e adsorvente). Os agentes
floculantes investigados por Fatehi et al., (2013b) foram a poliacrilamida (CPAM) e o
cloreto de polialil-dimetil-amônio (PDADMAC). Quanto à ordem de adição dos
reagentes, o autor avaliou o processo adicionando o agente floculante antes de
adicionar o adsorvente (CPAM/PCC e PDADMAC/PCC) e adicionando o adsorvente
antes de adicionar o agente floculante (PCC/CPAM e PCC/PDADMAC). Ao analisar os
dados obtidos e expressos na Tabela 1, observa-se que o processo combinado
apresentou melhores resultados para a adição posterior do agente floculante
(PCC/CPAM e PCC/PDADMAC). Como dito anteriormente, a adição do polímero
catiônico favorece a aglomeração dos particulados presentes na solução e
particulados maiores possuem uma menor taxa de difusão no interior dos poros do
adsorvente. Assim, ao adicionar o adsorvente, as partículas menores se difundem e a
posterior adição do agente floculante intensifica a adsorção da lignina e limita a
adsorção de hemicelulose. Ao comparar os dois agentes floculantes em estudo, os
melhores resultados de adsorção foram obtidos para o PDADMAC. A dupla ligação de
oxigênio presente no CPAM, acaba por diminuir a densidade de carga positiva do

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polímero. Logo, a maior densidade de carga positiva do PDADMAC favorece o


processo combinado floculação/adsorção.
Sitter et al., (2014) avaliou o uso da Imina de polietileno (PEI) como adsorvente
no processo de adsorção dos materiais lignocelulósicos. O autor também testou o
sistema binário floculação/adsorção usando o polialil-dimetil-amônio (PDADMAC)
como agente floculante. Assim como os autores acima citados, a adição do agente
floculante aumentou a remoção dos lignocelulósicos.
Em estudos recentes, Wang et al., (2016) investigou a adsorção dos materiais
lignocelulósicos em carvão ativado. No entanto, Wang et al., (2016) focou os estudos
na eficiência da adsorção e na influência da quantidade de carvão no processo. O
autor chegou à conclusão de que pequenas quantidades de carvão favorece a
adsorção da lignina. Segundo o autor, ao aumentar a quantidade de carvão, a taxa de
adsorção da lignina decai e acaba por favorecer a adsorção da hemicelulose.
No decorrer da investigação, Wang et al., (2016) avaliou a hemicelulose
adsorvida e concluiu que a adsorção da hemicelulose é limitada aos oligômeros,
sendo os monômeros quase não adsorvidos. Isso ocorre devido ao fato de os
oligômeros formarem complexos com a lignina. A lignina, por sua vez, forma ligações
covalentes com o carvão ativado, viabilizando a adsorção dos oligômeros. Uma
alternativa para diminuir a adsorção da hemicelulose e aumentar a pureza da lignina
adsorvida é proceder um pré-tratamento (hidrólise ácida) do material lignocelulósico
para quebrar os oligômeros em monômeros, já que esse último quase não é
adsorvido.
Em termos da pureza e adsorção da lignina, o carvão ativado se mostrou mais
eficiente para o processo de adsorção. Sendo assim, visando uma otimização do
processo, pode-se empregar o processo binário floculação/adsorção utilizando o
PDADMAC e o carvão ativado como o adsorvente. De forma a diminuir a adsorção de
hemicelulose, um pré-tratamento, ou seja, a hidrólise ácida, do material
lignocelulósico pode ser empregada. Os principais adsorventes investigados pelos
autores estão apresentados na Tabela 2.
Os trabalhos citados no decorrer deste trabalho realizaram estudos inerentes ao
processo de adsorção dos materiais lignocelulósicos presentes em efluentes da
indústria de papel e celulose. Esses estudos focaram principalmente na adsorção e em
processos combinados visando a eficiência de remoção de lignocelulósicos. No

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entanto, a lignina possui um alto potencial no mercado, uma vez que o seu
processamento pode gerar um produto de alto valor agregado. Dessa forma, a lignina
adsorvida deve ser recuperada para o seu posterior processamento. Logo, estudos de
dessorção devem ser realizados para viabilizar a recuperação da lignina.

Tabela 2: Comparativo dos adsorventes investigados pelos autores.

Adsorvente Lignina Adsorvida Hemicelulose Adsorvida Ref.


(mg g-1) (mg g-1)
Carvão ativado 480 10 Wang et al.,
(2016)
Bentonita 275 250 Oveissi et al.,
(2014)
PCC 54 137 Fatehi et al.,
(2013b)

CONCLUSÕES

A lignina e a hemicelulose podem ser eficientemente separadas e purificadas


pelo processo de separação por membranas e adsorção. Com base na revisão
bibliográfica realizada, o fracionamento por ultrafiltração é utilizado, principalmente,
para a retenção de particulados de maior massa molecular, como a hemicelulose. A
nanofiltração permite uma maior concentração da lignina e pode ser usada
isoladamente, ou em série com a ultrafiltração. No entanto, ao ser utilizado em série,
obtém-se um maior fluxo de permeado e uma menor retenção de lignina. No processo
envolvendo membranas há um maior controle da seletividade do processo e a fração
de lignina obtida apresenta uma menor polidispersidade. A técnica de fracionamento
por precipitação se mostra inviável frente à tecnologia de membranas, uma vez que
pode haver o arraste de impurezas juntamente com a precipitação. Além disso, a
precipitação é menos seletiva e de difícil controle da massa molecular a ser separada.
Por outro lado, o uso do carvão ativado também mostrou ser eficiente devido à alta
adsorção de lignina e uma baixa adsorção de hemicelulose. Devido à alta densidade
de carga negativa da lignina, o uso de um polímero catiônico intensifica a adsorção da
mesma. Dentre os polímeros catiônicos estudados, o PDADMAC se mostrou o mais
eficiente no processo combinado floculação/adsorção já que possui uma maior

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densidade de carga positiva. A hemicelulose consiste em uma mistura de oligômeros e


monômeros, sendo o primeiro majoritariamente adsorvido no carvão ativado.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Universidade Estadual de Maringá pelo suporte dado à
realização dessa pesquisa e à CAPES e ao CNPq pelo suporte financeiro.

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CAPÍTULO 38
ABORDAGEM QUÍMICA SOBRE
RESÍDUOS
ELETROELETRÔNICOS:
UMA VISÃO DOS PROCESSOS
DE SEPARAÇÕES DE
MISTURAS

Mailson Moreira Costa Silva1


Alexandre Franco Aranha Junior2
Ana Clara Moreira de Santana Santos3
Raquel Goes Paim4
Ana Lúcia Barbosa de Souza5

1
Graduando em Engenharia Química, Centro Universitário SENAI-CIMATEC, Salvador,
BA, e-mail: mailson.silva@aln.senaicimatec.edu.br, ID Lattes: 6845523307255609.
2
Graduando em Engenharia Química, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
da Bahia (IFBA), Salvador, BA, e-mail: franco.aranha.junior34@gmail.com, ID Lattes:
4305978722684573.
3
Graduanda em Engenharia Química, Centro Universitário SENAI-CIMATEC, Salvador,
BA, e-mail: : a.santos@aln.senaicimatec.edu.br, ID Lattes: 9580627327581223.
4
Graduanda em Engenharia Química, Centro Universitário SENAI-CIMATEC, Salvador,
BA, e-mail: : raquel.paim@aln.senaicimatec.edu.br, ID Lattes: 3471310567564200.
5
Professora do Departamento de Engenharia Química, Centro Universitário SENAI-
CIMATEC, Salvador, BA, e-mail: ana.lbs@fieb.org.br, ID Lattes: 0225814664524089.

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ABORDAGEM QUÍMICA SOBRE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: UMA VISÃO DOS


PROCESSOS DE SEPARAÇÕES DE MISTURAS

RESUMO
Pesquisas indicam que a geração de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos com
elementos tóxicos e nobres, tem apresentado crescimento nos últimos anos. O
objetivo foi analisar a viabilidade técnica, econômica e ambiental na recuperação dos
metais nos resíduos realizados por processos de separação. Foi feita uma revisão da
literatura em portais como Scielo, Google acadêmico, a fim de identificar possíveis
soluções. Resultados revelam que o processo pirometalúrgico é muito poluente, haja
vista que utiliza combustíveis fósseis para efetivar tais separações. Todavia, o
processo mecânico é bastante econômico. Foram observados outros processos com
potencial provável frente aos comumentes utilizados nos REEE (resíduos de
equipamentos de eletroeletrônicos). Com base nisso, processos pirometalúrgico e
mecânico podem ser utilizados para a separação de metais. Pode-se concluir, que
pesquisas adicionais são necessárias para identificar suas eficiências na separação de
metais dos resíduos.
Palavras-chave: Resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. Economia Circular.
Reciclagem.

CHEMICAL APPROACH TO ELECTRONIC WASTE: A VIEW OF MIXTURES SEPARATION


PROCESS

ABSTRACT
Research indicates that the generation of waste from electronic equipment with toxic
and noble elements has shown growth in recent years. The objective was to analyze
the technical, economic and environmental feasibility of recovering metals in waste
carried out by a separation process. A review of the literature on portals such as
Scielo, Google Academic, was made in order to identify possible solutions. Results
reveal that the pyrometallurgical process is very polluting, given that it uses fossils to
effect such separations. However, the mechanical process is quite economical. Other
processes with probable potential were observed compared to the common ones
used in WEEE (waste of electronic equipment). Based on this, pyrometallurgical and
mechanical processes can be used for a metal separation. It can be concluded that
research is needed to identify their efficiencies in separating metals from waste.
Key-words: Waste Electrical and Electronic Equipment. Circular Economy. Recycling.

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INTRODUÇÃO

No final da década de 70, iniciou-se a Terceira Revolução Industrial, a qual


mudou a configuração do sistema de produção desta época drasticamente, já que os
avanços na robótica, telecomunicações e automação industrial mostravam sua
soberania no desenvolvimento técnico-científico. Porém, somente na década de 80 foi
posto em pauta o preço pela Revolução Técnico-Científica. Nessa época os estudos
sobre os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos alarmaram cientistas, devido
principalmente à existência de metais nobres e raros como o ouro, prata, lítio, platina
entre outros metais de transição, nos circuitos eletrônicos, que poderiam ser
economicamente recuperados. Nessa perspectiva, inúmeros estudos e pesquisas
(FRANCO e BARROS, 2016; GERBASE & OLIVEIRA, 2012) foram realizados desde
então no afã de encontrar métodos de extração dessas matérias para sua realização,
já que a reciclagem desses metais resulta numa significativa poupança de energia e de
recurso em longo prazo.
Contudo, em países emergentes como o Brasil, as aplicações desses estudos
tornam-se muito complexas, a começar pelos altos custos de métodos como os
hidrometalúrgicos e pirometalúrgicos, que não são 100% adequados, visto que, em
ambos há liberação de toxinas que agravam danos a situação ambiental, além de
correr o risco de não realizar a manutenção almejada. Outros métodos de mais alto
valor e agregados são aplicados em outros países. Nesse plano, torna-se necessário a
elaboração de processos mais rentáveis, com melhores resultados na separação
desses metais e ainda trazendo o menor impacto ambiental possível, visto que o
Brasil é o maior produtor de lixo eletrônico da América Latina — e 7º maior do
mundo. Anualmente, o país produz 1,5 mil toneladas de lixo eletrônico, e apenas 3%
de todo esse montante tem um descarte adequado, como evidencia a matéria do
Canaltech (SILVA, 2018) o estudo Global E-Waste Monitor, realizado pela
Organização das Nações Unidas (ONU). Seguindo essa linha de pensamento, cientistas
estudaram métodos alternativos de separação de misturas, encontrando os processos
mecânicos como principal alternativa para essa problemática brasileira.
Tendo em vista os fatos supracitados, o Brasil lidera a posição de maior
produtor de lixo eletrônico na América Latina (2018). Sendo que não apresenta bons
meios para o tratamento desse material obsoleto, o qual geralmente encontram seu
fim nos lixões. Tal descaso é extremamente perigoso, visto que muitos REEE

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(resíduos de equipamentos eletroeletrônicos) têm compostos tóxicos, assim


tratamento inadequado desses compostos pode acarretar a morte de pessoas,
animais e de ecossistemas inteiros, haja vista, muitos desses materiais são
bioacumulativos. Portanto, é de suma importância o uso adequado de métodos de
separação de misturas, não só para reutilizar os metais raros e preciosos, mas
também para evitar contaminações com os outros compostos.
É imprescindível trazer uma discussão dos processos atuantes no mercado, pois
não é possível desenvolver a indústria 4.0 e tornar o país tecnológico, sem pensar no
descarte apropriado de seu lixo. Assim, este artigo busca comparar os processos de
separação de mistura, a fim de definir seus pontos fortes e fracos. Para tal finalidade
foram usados estudos como: SOUZA (2013); MÜNCHEN (2016); HAMERSKI (2018)
em seus estudos de recuperação de materiais preciosos a partir dos processos
mecânicos.
Este artigo buscou levantar informações comparativas visando responder às
seguintes perguntas: É possível estabelecer no Brasil, em larga escala, baterias de
processos mecânicos? Quais impactos ambientais esses processos podem ter? Essa
proposta servirá adequadamente na separação de misturas dos resíduos? Nesse
contexto, esse artigo tem como objetivo geral, analisar a viabilidade técnico e
econômica, dos processos mecânicos versus pirometalúrgicos na separação dos REEE
e como objetivos específicos apresentar a diferença entre os processos de separação
de misturas e seu impacto ambiental.

METODOLOGIAS
A Inovação Acadêmica é um modelo criado pelo Centro Universitário SENAI-
CIMATEC, utiliza como base três grandes bases teóricas, sendo elas: CDIO (o
acrônimo, Conceive, Design, Implement, Operate); formação por competência e
aprendizagens por desafio. Todas essas bases teóricas têm como objetivo definir
novos percursos formativos que potencializam não só desenvolvimento de
competências técnicas, como também competências sócio-emocionais que integram o
perfil dos profissionais do futuro. Para tanto, o modelo prevê a integração ao
processo formativo de experiências de carreira estruturadas nas vertentes:
pesquisador, empreendedor e técnico-gestor. Cada uma delas, de forma singular e
integrada a um ecossistema de inovação, proporciona ao estudante visões e atuações

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diferenciadas em uma mesma profissão, respeitando o interesse, a motivação e a


identidade de cada um, com foco na pesquisa, no empreendedorismo, na gestão e ou
na tecnologia e inovação.
As trilhas profissionais são o grande diferencial dos cursos de graduação do
Centro Universitário SENAI-CIMATEC uma vez que contemplam trabalho intenso em
projetos, desenvolvimento de competências técnicas e sócio-emocionais com contato
direto com o mercado. Nesse sentido, a Trilha Pesquisador visou desenvolver os
alunos para se tornarem pesquisadores e cientistas com forte espírito investigativo,
em um programa estruturado de formação que preparará os estudantes para os
melhores centros de pesquisa e programas de pós-graduação Stricto Sensu (mestrado
e doutorado) do mundo.
Neste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica focando na coleta de
dados de diversos métodos de separação e manutenção dos resíduos
eletroeletrônicos. Os estudos foram centrados nas formas de utilização dos métodos
de separação no Brasil, observando problemáticas que iam contra os Dezessete
Objetivos Para o Desenvolvimento Sustentável (17 ODS) propostos pela Organização
das Nações Unidas (ONU). Dessa forma, foi elaborado com base nos dados de maior
retribuição teórica encontrados nas pesquisas, alguns estudos que teriam
rendimentos elevados para o maior aproveitamento da recuperação das matérias
primas com o foco na reutilização.
Para cumprir os objetivos almejados, foi realizado um elevator pitch com a
finalidade de convencer a proposta para uma banca de pesquisadores, além de uma
revisão sistemática e acompanhamento de cronograma utilizando o Trello, também
como uma ferramenta para organizar todas as partes de gestão do trabalho, incluindo
pautas de reuniões semanais com o orientador.
Ademais, ao pesquisar sobre diversos assuntos do gênero como: métodos de
tratamento resíduos eletroeletrônicos, métodos de separação de placas de circuito,
reciclagem de eletrônicos, formas de lidar com materiais tóxicos de eletrônicos, em
portais como Scielo, Plataforma Capes, Google Acadêmico, Science Direct foram
obtidos 16 artigos para o embasamento do estudo, observando as técnicas que não
agridem o meio ambiente, priorizando a viabilidade econômica, e em principal se
existiria a real gestão de resíduos incluídos no reaproveitamento do material. Na

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Figura 1, apresenta o fluxograma da metodologia aplicada para a realização da


pesquisa.

Figura 1: Fluxograma da metodologia adotada

REVISÃO DA LITERATURA
Separação de misturas: Características do Processo

Existem diferenças do manuseio dos EEE (eletroeletrônicos) quando se tenta


recuperar os materiais para reaproveitamento, onde cada método de separação tem
suas particularidades. Eles apresentam diferentes complexidades, sendo usado para
algumas partes de dois ou mais processos. Os estudos de GERBASE & OLIVEIRA
(2012); BERNARDES (2009); FRANCO & BARROS (2016) relatam em suas pesquisas
sobre os processos pirometalúrgico, hidrometalúrgico e biometalúrgico; e estudos de
MORAES (2011) e VEIT (2005), em suas constatações sobre a separação
gravimétrica, apontam as principais caraterísticas de cada um dos principais
processos, nesse sentido a Tabela 1 apresentam essas características técnicas e
econômicas
As pesquisas de VIVAS & COSTA (2013), VIVAS (2014), SOUZA (2013),
HAMERSKI (2018) e MÜNCHEN (2016) apontam principais formas de tratamentos
dos EEE e as características econômicas dos processos. No Brasil são observados
poucos investimentos na área de reciclagem eletroeletrônica. Tal comportamento se

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deve a preocupação tardia tanto pela comunidade científica, como instituições


privadas e organizações estatais, acarretando assim a falta de recursos ideais para
solucionar o problema.

Tabela 1: Processos X Características

PROCESSOS CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS

Esse processo consiste na


manipulação da energia térmica no afã
de gerar energia o suficiente para o
estímulo das reações químicas Geram resíduos sólidos que não são
cobiçadas, dentre essas reações têm-se reciclados; Para serem operados
as carbo térmicas, reações de redução, utilizam-se de grandes quantidades de
de fusão, de calcinação, de ustulação, energia, pois é necessário atingir
de pirólise entre outras. Esse processo elevadas temperaturas, sejam elas
recupera os metais nobres como o provenientes da energia elétrica,
Pirometalúrgico
ouro, a prata, platina e cobre; não combustíveis fósseis dentre outros;
requer pré-tratamento; os metais Utiliza-se de volumes menores de
podem ser perdidos através da água; Processo mais custoso, por ter a
volatilização de seus cloretos; a necessidade de mais etapas, sistema
recuperação de outros metais é baixa; complexo e consumo de energia
polímeros e outros materiais isolantes elevado.
são uma fonte de poluição do ar
através da formação de dioxinas e
furanos.

Geram grande volume de soluções


Esse processo usa séries de ataques de
contendo metais base que são
soluções ácidas ou cáusticas para
corrosivos e tóxicos, gerando efluentes
dissolução do material sólido; melhor
totalmente poluentes; Não há
proteção ambiental com relação a
necessidade da utilização de qualquer
riscos de poluição atmosférica;
recurso energético significativo; Têm
separação mais fácil dos principais
Hidrometalúrgico como principal desvantagem no
componentes da sucata; dificuldade
aspecto ambiental o consumo grande
em aceitar sucatas eletrônicas mais
de água; Custo mais baixo, por
complexas; efluentes contendo metais
apresentar poucas etapas, pela
base que são corrosivos tóxicos ou
facilidade de operação, baixo consumo
ambos; tempo longo necessário no
de energia e possibilidade de
processamento.
reaproveitamento de seus reagentes.

Refino de metais através da eletrólise; Utiliza recursos energéticos


são procedimentos de refinamento significativos, porém não chega
para recuperar no fim o metal puro; próximo do patamar dos processos
redução de custos no consumo de pirometalúrgicos; utiliza-se de
Eletrometalúrgico
produtos químicos; poucas etapas; a volumes menores de água; Processo
sucata tem de ser pré-classificada, o mais custoso, por ter a necessidade de
processo é restritivo a características sistema mais complexo e consumo de
específicas. energia elevada.

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Esse processo utiliza as interações Não há necessidade da utilização de


entre sistemas bióticos e sistemas recursos energéticos significativos
abióticos para recuperar metais mas alguns micro-organismos
valiosos. Nessa perspectiva, os dois necessitam de tratamento térmico;
métodos mais usados desses Têm como principal desvantagem no
Biometalúrgico ou
processos são: biolixiviação (que se aspecto ambiental o consumo grande
Biotecnológico
usa de fenômenos e interações de de água; Custo mais baixo, por
bioquímicos e microrganismos) e a apresentar poucas etapas, pela
biossorção (que ocorre com a facilidade de operação, baixo consumo
interação físico-química dos íons com de energia e possibilidade de
os microrganismos em solução). reaproveitamento de seus reagentes.

Esse processo tem o objetivo de


separar previamente metais, materiais
poliméricos e cerâmicos. Ademais, o
É relativamente de baixo custo em
Processos mecanismo em questão consiste na
termos de investimento e custo
Mecânicos combinação de um ou mais processos
operacional.
operacionais no intuito de melhor
separar componentes do material
exposto.

Processos mecânicos versus Processos pirometalúrgicos


Ao realizar as buscas na literatura é notória as divergências dos processos de
cada um dos métodos de separação de mistura. No mais, o foco deste trabalho foi
pautado em dois processos para uma discussão aprofundada sobre suas
prerrogativas técnicas e implicações no mercado brasileiro atual, são eles: os
processos mecânicos e o processo pirometalúrgico, de acordo com os subtópicos a
seguir.

Impacto Ambiental
Os REEE (resíduos de equipamentos eletroeletrônicos) apresentam elementos
que em sua composição têm uma alta periculosidade, haja vista que em parte podem
ser encontrados chumbo, cádmio, cromo, níquel, prata, ouro, berílio e entre outros
compostos químicos que quando se há uma má gestão geram uma montanha de
sucata. Nesse sentido, apesar de que os processos de separação de EEE tenham a
função de mitigar e recuperar os elementos que são danosos ao meio ambiente,
muitas vezes acabam por gerar novos problemas como a geração de dióxidos e
resíduos indesejáveis.
No caso do processo pirometalúrgico, tal processo é bastante eficaz no quesito
de recuperação de metais preciosos. Entretanto, quando há tratamento com materiais

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poliméricos e isolantes, há uma grande poluição do ar, visto que, há uma formação de
furanos e dioxinas que gera resíduos, os quais, não são reciclados como escórias de
cerâmicos, polímeros e os metais de difícil reciclagem. Ademais, há um grande uso
consumo de energia, pois os minérios e metais são aquecidos para produzir metais
puros e ligas utilizando energia elétrica e combustíveis fósseis, mas em contrapartida,
tal processo tem menor consumo de água. Segundo VIVAS (2014) na definição do
objetivo global dos critérios podemos fazer a seguinte ponderação, a prioridade é que
se tenham processos de reciclagem de resíduos que não gerem resíduos, ou que a
redução dos resíduos seja significativa. Já na segunda prioridade é o consumo de
energia, já que a energia dependendo de sua fonte é alta geradora de impactos
ambientais e terceira então seria o consumo de água.
O Brasil tem uma abundância relativa de fontes de água doce.
Proporcionalmente quatro vezes mais que outros países, com 12 % da água doce e 3
% da população do planeta. Como estes processos não necessitam de tratamentos
significativos da água para a efetividade do processo, então esta é a terceira
prioridade na escala de ponderação dos objetivos globais. Já no caso do processo
mecânico, baseado na literatura, observa-se que tal processo ocorre em uma das suas
etapas, a separação magnética, que acaba gerando impacto ambiental criado pela
produção de rejeitos.
Contudo, com a grande cobrança das autoridades civis e legais na indústria e
meio ambiente, há uma mudança de mentalidade na tecnologia de fim de tubo, ou
seja, não apenas reciclar os resíduos, mas sim possuir a mentalidade de que tais
resíduos danosos devem ser reduzidos ou eliminados, nesse sentido, uma tecnologia
que alcança esse resultado é o da produção mais limpa.

Viabilidade Técnico – Econômica (EVTE)

Com a necessidade de analisar a eficácia do processo de tratamento de e-lixo,


existe os estudos de viabilidade técnico-econômica que visam atestar a possibilidade
de sucesso de um produto, processo ou negócio. O EVTE considera em seus estudos
aspectos técnicos, comerciais, operacionais e econômicos, além de assegurar que o
projeto está em vigor em relação às legislações, além de verificar se existem insumos
suficientes para atendimento e demanda projetada.

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Pelo levantamento realizado não há dados na literatura que relatem a EVTE de


processos de separação de misturas de REEE, com isso buscou-se compreender e
apresentar a viabilidade técnica e econômica dos processos pirometalúrgicos e
mecânicos.
O processo pirometalúrgico tecnicamente é eficaz na recuperação de metais
nobres como ouro, prata, platina e cobre, entretanto, quando se trata de outros
materiais sua recuperação é baixa. O processo requer várias etapas desde a secagem
da matéria-prima até seu refino, sendo utilizadas etapas como calcinação, pirólise e
ustulação. Entretanto, alguns metais podem ser perdidos por conta da volatilização de
seus cloretos, além de que metais como estanho, chumbo, alumínio e zinco são de
baixa ou de impossível recuperação, sendo que os cerâmicos e vidros aumentam a
quantidade de escória no forno o que resulta na perda dos materiais nobres e de
metais base.
Em sua pesquisa Bernandes (2009) relata que pirometalurgia é o ramo da
metalurgia extrativa que envolve o tratamento dos materiais a altas temperaturas,
convertendo-os em metais de diversos graus de pureza. Além de requerem consumos
de energia elevados para atingir as temperaturas às quais os processos ocorrem e é
muito utilizado no processo de separação e reciclagem no tratamento de minérios na
indústria metalúrgica primária, sendo um processo dividido no geral em três etapas:
a cominuição, classificação e separação.
A análise econômica está voltada aos recursos financeiros para realizar o
processo, ela leva em conta se um processo pode ser acessível em termos econômicos
para os investidores, visando mostrar se a viabilidade financeira. Ao observar o setor
de reciclagem brasileiro, torna-se notória a grande necessidade de um alto
investimento financeiro e uma grande quantidade de geração de lixo eletrônico para
tornar esse processo economicamente viável com a revenda do lixo tratado. Nesse
sentido os estudos como o de Mazon (2014) sustenta que apesar de já existir um
mercado incipiente de reciclagem de REEE no Brasil, a regulação somente entrou em
vigor no país em 2010, com a promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) e, consequentemente, com a necessidade de promover estudos que
orientassem as discussões dos Grupos de Trabalho formuladores da regulação.
Tal forma qual, o retrocesso da preocupação brasileira para o acúmulo de
sucata, fez que ainda não tivesse uma reciclagem eficiente no país com o real

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aproveitamento econômico. Dada a falta de técnicas e planejamento ideal, é


inexistente o proveito total dessa área no Brasil, criando devido espaço para
desenvolvimento e oportunidade de empreendedores. É fundamental para que o
processo de tratamento dos REEE seja eficaz, uma das prioridades é pensar no
retorno financeiro que isso permite. Para tal, existem materiais na sucata que são
interessantes para reaproveitamento, dado fatores lucrativos com a revenda de
metais tratados. Se existe um saldo negativo na gestão de resíduos eletrônicos, isso há
de afetar toda a cadeia produtiva. O consumo de recursos, o gasto energético,
manutenções, limitações da logística de transporte são fatores cruciais na efetividade
do processo.
Devido às limitações no Brasil, grande parte dos escassos provedores de
serviços de tratamento de lixo eletrônico acabam fazendo pouco caso no processo.
Por falta de investimento, acabam realizando apenas uma pequena parte do
tratamento e exportam o lixo para continuar a recuperação do metal no exterior. Isso
fragiliza o ganho de lucro pelas empresas, que, mesmo revendendo o minério, podem
não atingir o ganho econômico almejado, pois estarão comercializando o material
semi-tratado. Por isso, é preciso muita sucata para que as plantas de reciclagem
consigam a recuperação de proveitosos gramas de metais que serão revendidos,
mantendo a balança comercial favorável.
Nessa análise, somente com aperfeiçoamento de estudos e logística correta
esses problemas podem ser contornados, tirando total proveito da oportunidade
econômica. Esse reaproveitamento de lixo, se for bem aplicado e investido com os
recursos necessários, além de ser uma alternativa à mineração, consegue prover
empregos e movimentar devidamente o capital. A revenda de materiais será bem
investida e terá o proveito desejado.
Como explica Miranda (2013) o valor comercial dos metais reciclados,
entretanto, obedece à cotação de mercado, que não distingue sua procedência, ou
seja, será único para matéria primária ou secundária. Logo, a receita marginal obtida
supera o custo marginal, concedendo às recicladoras o poder de modificar a estrutura
econômica da cadeia em que estão inseridas.
Com o processo pirometalúrgico por ser capaz de tratar qualquer resíduo
eletrônico e ser eficiente na recuperação de metais nobres, caracterizando-se por um
método mais viável, este economicamente preferível no Brasil. Entretanto, ele não

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tem a real taxa de reaproveitamento, visto que apresenta significativas perdas de


metais devido a volatilização dos cloretos, além de gerar resíduos durante o
tratamento do lixo eletrônico, e possuir um gasto energético expressivo.
Por outro lado, as baterias de processos mecânicos possuem um preço flexível, e
estarão lidando com a gestão dos resíduos sem agredir a natureza. Esse não é um
processo tão eficaz na recuperação de metais, entretanto consegue ser aperfeiçoado e
melhor trabalhado chegando a ter um bom lucro. Como diz (SAKURAI, 2013) o
processo mecânico consegue recuperar sozinho aproximadamente 80% dos metais
presentes nas Placas de Circuito Impresso (PCI).
Esse custo benefício das baterias de processo mecânico justifica quaisquer
preferências para elas, frente às técnicas pirometalúrgicas. O sistema pirometalúrgico
vai contra os 17 ODS, enquanto que o processo mecânico, mesmo sendo simplista
pode ter resultados esperados, logo pode ser mais satisfatório para as plantas de
tratamento de lixo usá-los e operar de forma sustentável.

CONCLUSÕES

Após a concretização deste trabalho pode-se notar que, ao se discutir sobre os


métodos de tratamento de REEE, se constata o quão recente são estudos da área. Isso
prova o espaço de investimentos e desenvolvimento do pesquisador, pois permite
compreender melhor os processos com o papel da engenharia e outras ciências, tendo
em vista todos os impasses de acordo com os objetivos sustentáveis. Por se tratar de
um novo campo de pesquisas que precisa se aperfeiçoar, vemos o quanto o Brasil fica
atrás comparado a outros países, mostrando que há falta no desenvolvimento de
medidas para lidar com seu crescente lixo. Por isso, é preferencialmente usado no
Brasil, para lidar com isso, as baterias de processos mecânicos, já que é o método
mais acessível, economicamente e ecológico, frente a pirometalurgia, método
poluente, que é a outra opção mais usada no país. Ainda assim, os processos
mecânicos são limitados, deixando os produtos finais com impurezas e não
atendendo completamente todas as necessidades. É interessante investir em estudos
para baratear, otimizar e inovar os métodos de separação de forma sustentável
dentro de todas as cadeias de produção. Em específico a criação de formas que
diminuam os poréns que vão contra os 17 ODS dos métodos de separação de

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misturas. Ou criação de alternativas que englobam métodos menos viáveis ao Brasil,


como biotecnológicos e eletrometalúrgicos. Todavia, é uma área que gera questões
que poderiam ser resolvidas com novas criações e aprimoramentos tecno-científicos,
nota-se que existe uma falta de material de estudo e os recursos limitados acabam
fragilizando as pesquisas.

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CAPÍTULO 39
TRICLOSAN: OCORRÊNCIA,
RISCOS E TÉCNICAS DE
REMOÇÃO

Liane Carmen Ruszcyk1


Gabriel André Tochetto2

1
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária, Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS), Erechim, RS, email: lianersk@hotmail.com , ID Lattes: 7650858673240937.
2
Mestrando em Engenharia Química, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
Florianópolis, SC, email: tochettogabriel@gmail.com, ID Lattes: 3179150076373024.

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TRICLOSAN: OCORRÊNCIA, RISCOS E TÉCNICAS DE REMOÇÃO

RESUMO
O triclosan é um antimicrobiano muito utilizado pela indústria na composição de
diversos produtos de higiene e cuidados pessoais por ser eficaz na desinfecção de
diferentes tipos de bactérias. É um contaminante lipossolúvel, o que gera bioacúmulo
em organismos e diferentes esferas do meio ambiente. O presente trabalho apresenta
uma revisão da literatura sobre a ocorrência do triclosan em diferentes matrizes
ambientais, uma discussão sobre seus efeitos ecotoxicológicos e técnicas de remoção.
Palavras-chave: Contaminantes emergentes. Determinação. Efeitos tóxicos.
Tratamento. Revisão.

TRICLOSAN: OCCURRENCE, RISKS AND REMOVAL TECHNIQUES

ABSTRACT
Triclosan is an antimicrobial widely used by industry in the composition of various
personal care and hygiene products as it is effective in disinfecting different types of
bacteria. It is a fat-soluble contaminant, which generates bioaccumulation in
organisms and different spheres of the environment. This paper presents a literature
review on the occurrence of triclosan in different environmental matrices, a
discussion of its ecotoxicological effects and removal techniques.
Key-words: Emerging contaminants. Determination. Toxic effects. Treatment.
Revision.

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INTRODUÇÃO

Uma das principais lacunas científicas na área da qualidade da água está ligada a
falta de informações sobre a presença, os possíveis efeitos e as formas de tratamento
da água contendo fármacos e produtos de cuidados pessoais (PPCPs). Os PPCPs,
também conhecidos como compostos emergentes, abordam uma ampla classe de
produtos que incluem antibióticos e cosméticos (Button et al., 2019). Com o avanço
dos métodos de determinação de substâncias em concentrações da ordem de µg L-1 e
ng L-1 foi possível detectar a presença crescente de PPCPs no ambiente,
principalmente aquático (Bila e Dezoti, 2007).
Dentre os diversos PPCPs encontrados em produtos de uso diário, destaca-se o
5-cloro-2-(2,4-diclorofenox)fenol, conhecido também como triclosan (TCS), um
composto fenólico de grande estrutura (Figura 1). Comercialmente é conhecido como
Irgasan® DP 300R (BASF, Alemanha).

Figura 1: Estrutura molecular do triclosan.

Tabela 1: Principais características físico-químicas do triclosan.


Fórmula C12H7Cl3O2
Massa molar 289,54 g/mol
Área superficial topológica 29,5 Å2
Kow* 4,8
pKa* 7,9
Solubilidade em água 10 mg/L a 20 °C
Solubilidade em meio alcalino altamente solúvel
Pressão de vapor 4,6.10-6 mm Hg a 20 °C
* Kow – coeficiente de partição octanol/água; pKa – constante de dissociação ácida.

É um agente antimicrobiano presente em sabonetes, hidratantes, cremes


dentais e cosméticos, que age na desinfecção de bactérias gram-positivas e gram-
negativas, bem como fungos e bolores, o que faz com que seu uso seja acentuado pela
indústria (Montagner et al., 2014). É um composto com característica não volátil,
pouco solúvel em água, sendo lipossolúvel, o que pode resultar em bioacúmulo nos

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organismos e no meio ambiente (Zhao et al. 2010). Outras características podem ser
visualizadas na Tabela 1.
De acordo com a Resolução de Diretoria Colegiada 29, de 01/06/2012, a
concentração máxima de triclosan permitida em produtos de higiene e cuidados
pessoais atinge 0,3 % em massa, mas pode chegar a 1 % em sabonetes para profilaxia
cirúrgica. Essas concentrações estão de acordo com a Diretiva da União Europeia
76/768/CEE, de 1976, e suas emendas subsequentes. Nos Estados Unidos, há
regulamentação pela Environmental Protection Agency (EPA) para o uso como
pesticida e pela Food and Drug Administration (FDA) em produtos para uso pessoal.
Porém, em setembro de 2016, o uso de triclosan e de outros antissépticos foi
restrito pela FDA, da composição de produtos de higiene pessoal “enxaguados com
água”, visto que os fabricantes não puderam demonstrar que estes compostos seriam
seguros para uso diário em longo prazo, nem que os procedimentos de limpeza
realizados com estes produtos são mais eficazes do que a lavagem com água e sabão,
na prevenção de doenças e na propagação de certas infecções (FDA, 2016).
De acordo com Anger et al. (2013), cerca de 96% do triclosan encontrado nos
produtos de higiene, bem como seus metabólitos, são lançados diretamente no
sistema de esgotamento sanitário após o seu uso. Agravando ainda mais essa
situação, segundo o IBGE, no ano de 2010, 44,8% dos municípios brasileiros não
possuíam rede de esgoto sanitário, o que indica que os efluentes domésticos eram
lançados em fossas sépticas ou nos corpos de água, atingindo assim o ambiente
aquático, possibilitando a contaminação dos lençóis freáticos e dos mananciais
destinados a captação da rede pública de abastecimento, situação essa que deve
persistir nos dias de hoje.
Outra grande preocupação a respeito do triclosan, é a sua tendência a sofrer
reações no ambiente formando produtos de maior toxicidade. Dentre os principais
produtos gerados pode-se citar o metil-triclosan, as dioxinas, os fenóis clorados e as
bifenilas policloradas, que são lipofílicos e persistentes no meio ambiente, o que
acaba resultando na sua acumulação em sedimentos e organismos aquáticos
(Lumbreras et al, 2014).
Como este composto acaba chegando ao meio ambiente através do esgoto
sanitário, sua presença tem sido relatada com frequência em águas de abastecimento,
devido a sua baixa biodegradabilidade, fato este que causa preocupação, visto que os

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métodos convencionais de tratamento de águas demonstram ineficiência na remoção


do mesmo (Button et al., 2019).
No Brasil não existe legislação que regulamente a presença deste composto em
águas potáveis ou efluentes destinados ao lançamento em corpos receptores, assim
pesquisas que abordem este tema são de extrema relevância. Alguns trabalhos como
o de Montagner et al. (2014) tem relatado a presença do triclosan em vários rios
brasileiros, este também mostra que o triclosan já foi identificado em águas
superficiais de diferentes países como: Austrália, Suíça, Alemanha, Espanha e China,
mostrando que o problema relativo à presença de compostos emergentes tem níveis
globais.
Assim o uso de metodologias não convencionais de tratamento de água surgem
como uma opção quando a finalidade é a remoção destes compostos emergentes.
Atualmente muitos métodos avançados de tratamento vêm sendo citados como
eficientes na remoção de triclosan em água e esgoto, tais como a ozonização (Chen et
al. 2012) e a extração líquido-líquido (Sun et al. 2012). Porém, a maioria dos métodos
de tratamento é cara e envolve procedimentos complexos.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho de revisão da literatura foi divido em duas etapas principais: (i)
pesquisa por trabalhos com caráter científico, incluindo artigos de pesquisa e revisão,
nas bases Science Direct, SciELO e Web of Science, (ii) leitura e seleção dos artigos
com base no escopo deste estudo.

REVISÃO DA LITERATURA

Ocorrência de triclosan em matrizes ambientais


A presença de compostos orgânicos, como os PPCPs, em águas de
abastecimento e residuárias tem sido observado desde meados de 1980. No Brasil, as
pesquisas relacionadas aos PPCPs foram iniciadas por Stumpf et al. (1997), que
estudaram a presença de pesticidas e sub-produtos na região dos Grandes Lagos no
Rio de Janeiro, e Lanchote et al., (2000), que estudaram a ocorrência de triazinas na
região de Ribeirão Preto (SP) no Córrego Espraiado. Desde então, muitos estudos

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sobre a presença destes contaminantes vêm sendo desenvolvidos nas diferentes


matrizes ambientais.
Conforme Halden (2014) o TCS começou a ser inserido em escala industrial na
década de 70, porque até então, pouco se sabia sobre a toxicidade do mesmo,
passadas algumas décadas o TCS se tornou uma substância rigorosamente
controlada, entretanto, é um dos contaminantes mais encontrados em rios
americanos.

Figura 2: Distribuição dos países citados nesta revisão no qual foram encontrados
estudos da ocorrência do TCS em águas superficiais e subterrâneas.

De acordo com Pasquini et al. (2014), o TCS tem sido encontrado em


diferentes amostras ambientais, como águas superficiais, efluentes, sedimentos e lodo
de estações de tratamento. Em um estudo realizado em águas superficiais nos Estados
Unidos, a concentração média de TCS encontrada foi de 0,14 μg/L, em 58% das
amostras analisadas (Buth et al.,2009).
Já Guitart e Readman (2010), determinaram a presença de diferentes PPCPs,
entre eles o TCS, em amostras de efluente de esgoto, águas ribeirinhas e costeiras. As
concentrações mais altas dos contaminantes analisados foram encontradas nas
amostras de efluente de uma estação de tratamento de esgoto da cidade Plymouth no
Reino Unido. O TCS foi detectado em concentrações superiores a 0,33 μg/L.

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No rio Jiulong, localizado na China, o TCS e o triclocarban (TCC) foram


encontrados em concentrações que variaram de 0,05 ng/L a 14,1 ng/L, enquanto no
estuário desse mesmo rio a concentração determinada foi maior, variando de 2,56 a
27,25 ng/L para o TCS e o TCC, respectivamente (Lv et al., 2014).
Segundo Plósz et al. (2010) a concentração dos PPCPs em águas residuárias
pode apresentar variações sazonais, semanais e até diurnas. O que pode ser
comprovado pelo estudo de Gautam, Carsella e Kinney (2014), que avaliaram a
presença de triclocarban e triclosan em amostras de água superficial, sedimentos
suspensos e sedimentos do leito, de dois rios dos EUA, durante as estações de
primavera e verão. Para as amostras de água superficial a concentração de TCS variou
de 3,9 a 28,3 ng/L respectivamente, para as estações de primavera e verão. As
concentrações de TCS em sedimentos suspensos variaram de 0,7 ng/L na primavera,
até 13,3 ng/L no verão. Já a quantidade de TCS encontrada em sedimentos do leito foi
relativamente baixa para as duas estações, cerca de 0,38 ng/L.
Em rios alemães, como o Elba e o Reno, o TCS também foi encontrado, mais
especificamente o estudo de Rudel et al. (2013) monitorou o TCS em peixes. Bilal,
Barceló e Iqbal (2020) apontam que o TCS foi detectado no rio Tamiraparani, na
Índia, em concentrações de 5160 ng/L, e também no Japão e China, junto com outros
70 PPCPs.

Efeitos ecotoxicológicos
Segundo Ebele et al. (2016), com a publicação de estudos sobre os possíveis
efeitos da exposição dos PPCPs nos organismos, o interesse nessa temática cresceu,
uma vez que, há uma grande quantidade de substância que se enquadram nessas
características que são descartadas diariamente nos esgotos domésticos. O TCS é uma
substância persistente no ambiente e que pode apresentar toxicidade em vários
organismos (Chalew e Halden, 2009). Conforme Bila e Dezoti (2007), há algumas
perguntas a serem respondidas, como: em baixas concentrações causam efeitos
tóxicos? Quais os limites aceitáveis? Quais substâncias representam uma ameaça aos
seres vivos? Para responder esses questionamentos, alguns pesquisadores
investigaram os efeitos ecotoxicológicos em diversos organismos padrão para este
tipo de estudo.

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O zebrafish (Danio rerio) é um peixe de água doce que possui cerca de 5 cm, é
mundialmente utilizado como ser vivo modelo para ensaios de toxicidade, dentre as
principais características estão a alta taxa reprodução, rapidez no seu
desenvolvimento e por possuir 70% de hemoglobina genética semelhante à dos seres
humanos (Lai et al., 2021). O efeito toxicológico do TCS sobre essa espécie modelo foi
recente estudadas por diversos autores. Conforme Zhang et al. (2018), sob as
condições estudas, o TCS ocasiona efeitos mais severos, principalmente nas taxas de
eclosão, malformações e morte, quando comparado a outros contaminantes fenólicos
(2,4-DCP, 2,4,6-TCP). Pullaguri et al. (2020) avaliaram os efeitos a partir da exposição
de TCS (0,28, 0,56 e 0,84 mg/L) no D. rerio, observando que o contaminante reduz a
locomoção e causa um comportamento semelhante ao da ansiedade em peixes
adultos. Os pesquisadores investigaram o dano causado nos vasos sanguíneos, como
observado na Figura 3, verifica-se que ocorreu uma redução significativa da
circulação de sangue no corpo (ISV) quando comparado o controle com as diferentes
concentrações de TCS, percebe-se também que houve redução da circulação do
cérebro (a). Estes resultados permitiram aos autores concluir que o TCS induz o
surgimento de anomalias comportamentais.

Figura 3: Efeito sob os vasos sanguíneos corporais (ISV) e cerebrais (a) após a
exposição do TCS no D. rerio.

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Outro organismo muito utilizado em avalições toxicológicas, principalmente,


de produtos farmacêuticos é o micro crustáceo Daphnia magna (Tkacyk et al., 2021),
devido a sensibilidade a vários tipos de PPCPs. Kovacevic et al. (2016) expôs a D.
magna a diferentes concentrações de TCS (6,25 a 100 µg/L) por 48 h e verificou que o
organismo sofreu algum tipo de estresse oxidativo. Peng et al. (2013) também
observou que o TCS causou mudanças da atividade enzimática e por tanto, sugerindo
que houve um estresse oxidativo na D. magna.
O efeito tóxico TCS também foi avaliado na alga verde de água doce
Chlamydomonas reinhardttii, neste estudo concentrações de 20 µg/L, 100 µg/L e 500
µg/L foram investigadas quando ao crescimento, clorofila, peroxidação lipídica e
transcrição genética. Os pesquisadores identificaram que o principal efeito
observado na C. reinhardtii foram alterações bioquímicas, nos lipídios, proteínas,
carboidratos e amida I, porém o TCS afetou também o crescimento da alga e a síntese
de clorofila (Pan et al., 2018). Resultados semelhantes foram obtidos no estudo de Xin
et al. (2017), no qual observou-se que o TCS tem efeitos tóxicos sobre os
componentes bioquímicos, como a inibição da síntese de ácidos graxos e causar a
agregação de proteínas.
Os estudos sobre os efeitos toxicológicos associados ao TCS em seres
humanos, ainda são escassos e por vezes conflitantes (Jurewicz et al., 2017). Contudo,
alguns trabalhos, publicados em importantes periódicos, conseguiram associar que o
TCS pode causar efeitos adversos e prejuízos cognitivos em crianças (Jackson-Browne
et al., 2018) e também na fertilidade masculina, afetando a qualidade do sêmen
(Jurewicz et al., 2017).

Técnicas de remoção
Conforme apresentado anteriormente, o TCS um PPCP encontrado em águas
residuárias e de abastecimento, os efeitos ecotoxicológicos foram também
apresentados, justificando a necessidade de remover este componente das matrizes
aquosas. Diante disso, algumas técnicas foram investigadas quando a eficácia da
remoção do TCS.
A adsorção é um processo amplamente empregado em remoção de compostos
na fase gasosa e líquida, este processo é um fenômeno de transferência de massa e,
portanto, não ocorre a degradação do contaminante, então não haverá a geração de

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subprodutos. Czech et al. (2021) avaliaram a remoção do TCS por meio de processos
adsortivos utilizando resíduos orgânicos, obtendo uma capacidade máxima de sorção
de 113 mg/g e remoções próximas a 96%. Em outra pesquisa, Yokoyama et al. (2019)
produziram um carvão ativado a partir de resíduos com alta área superficial e que
consegue adsorver até 117 mg/g na monocamada.
Biorreatores com sistema de membras acoplados (MBR) são tecnologias que
tem ganhado destaque pela eficácia e versatilidade na remoção de diversos
compostos. Conforme Chtourou et al. (2018) este sistema é eficiente, uma vez que o
autor conseguiu remover cerca 90% da concentração inicial de TCS. A pesar desse
sistema envolver sistema de membras, um processo de biodegradação é uma
operação que antecede a filtração e por isso, é possível que compostos intermediários
sejam formados, no estudo esse quesito não foi avaliado.
Processos oxidativos também têm sido estudados para a degradação do TCS.
Chen et al. (2012) avaliaram a eficiência do processo em três concentrações do
contaminante (4,5 mg/L, 2,9 mg/L e 1,4 mg/L), obtendo remoções de 94%, 97% e
99,9%. Dessa forma a técnica visando a remoção do TCS foi altamente eficiente,
contudo, os autores identificaram que subprodutos foram gerados, destacando-se o
2,4-diclorofenol que apresentou toxicidade menor quando comparado ao TCS, mas
ainda é considerado tóxico para organismos aquáticos.
Degradação utilizando processos eletroquímicos também está sendo estudada
atualmente, o processo se mostra eficaz, conseguindo remover cerca de 90% do TCS,
entretanto, novamente compostos derivados foram gerados e dois deles
apresentaram toxicidade maior do que o TCS (ZHOU et al., 2021). Resultados
semelhantes foram encontrados por Solá-Gutiérrez et al. (2019), no qual avaliou a
oxidação em uma ampla faixa de concentrações (10 mg L-1 a 150 mg L-1), obteve
remoções altas, mas com a formação de subprodutos tão tóxicos quanto o TCS.
Kosera et al. (2017) avaliaram a degradação do TCS por meio de fotocatálise
heterogênea utilizando ZnO como catalisador, os percentuais de remoção do
componente foram cerca de 90%, porém houve a formação de dioxinas, 2,4-
diclorofenol e outros intermediários, os dois citados são mais tóxicos que o TCS.
Conforme Yuval et al. (2017) também conseguiu degradar 92% até 99% do TCS,
porém com formação de subprodutos.

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CONCLUSÕES

A partir desta revisão percebe-se que os PPCPs estão sendo determinados em


águas residuárias e até de abastecimento com maior frequência em diversas
localidades, inclusive no Brasil. Dentre os PPCPs, o TCS têm sido alvo de diversos
estudos, uma vez que é um composto comumente encontrado em diversos produtos
de higiene e cosméticos. Atualmente, não se conhece muito a respeito dos efeitos
toxicológicos do TCS no ambiente e nos seres vivos, porém alguns estudos já
conseguiram correlacionar a presença do contaminante com alterações
comportamentais, estresse oxidativo e outras anomalias em diferentes organismos.
Com base nessas informações de ocorrência e dos possíveis efeitos tóxicos o TCS se
torna um contaminante que merece atenção e precisa ser removido do ambiente.
Processos já consolidados foram avaliados como técnica de tratamento do TCS em
soluções aquosas. Processos que envolvem a degradação do composto orgânico são
considerados promissores, conseguindo remoções superiores a 90%, entretanto
subprodutos são gerados e, em alguns casos possuem toxicidade maior que o TCS,
inviabilizando a técnica. Outros processos que se baseiam puramente na
transferência de massa, como a adsorção se torna mais atrativo, uma vez que não
ocorre a degradação e sim uma mudança de fase. Por fim, esta é uma temática que
carece de dados e por tanto, ainda há muito conhecimento a ser desenvolvido.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e todas as instituições que apoiam a
ciência brasileira.

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CAPÍTULO 40
EQUAÇÕES DE CUSTO PARA
SÍNTESE E OTIMIZAÇÃO DE
REDES DE TROCADORES DE
CALOR: UMA REVISÃO

Syntia Lemos Cotrim 1


Mauro Antônio da Silva Sá Ravagnani 2

1
Doutoranda em Engenharia Química, Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Maringá, PR, email: slcotrim2@uem.br, ID Lattes: 0622610864697634.
2
Professor Doutor em Engenharia Química, Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), Campinas, SP, email: massravagnani@uem.br, ID Lattes: 8494271331675279.

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EQUAÇÕES DE CUSTO PARA SÍNTESE E OTIMIZAÇÃO DE REDES DE TROCADORES DE


CALOR: UMA REVISÃO

RESUMO
Muitos são os estudos de otimização da Rede de Trocadores de Calor (RTC) onde
diferentes abordagens têm sido aplicadas para otimizar o projeto adotando diferentes
funções objetivo, em que a minimização do custo total anual é a mais comum, para se
chegar à solução ideal. O artigo apresenta uma revisão de literatura, analisando as
funções de cálculo de custos de uma RTC. O estudo aborda os trabalhos relacionados
aos trocadores de calor de casco e tubo por serem os mais utilizados em processos
químicos e os mais estudados no meio científico. Com a pesquisa observa-se que
apesar do surgimento de novos estudos sobre mudanças nas funções de custo da RTC,
o uso de modelos de cálculo de custo mais tradicionais ainda prevalece na literatura
nas últimas quatro décadas.
Palavras-chave: RTC. Trocador de Calor Casco e Tubo . Estimativa de custo. Custo de
capital.

COST EQUATIONS FOR SYNTHESIS AND OPTIMIZATION OF HEAT EXCHANGE


NETWORKS: A REVIEW

ABSTRACT
There are many studies on the optimization of the Heat Exchanger Networks (HENs)
where different approaches have been applied to optimize the project by adopting
different objective functions, in which the minimization of the total annual cost is the
most common, to reach the ideal solution. The work presents a literature review,
analyzing the costing functions of a HEN. The study addresses to shell and tube heat
exchangers as they are the most used in chemical processes and the most studied
scientifically. With the research it is observed that despite the emergence of new
studies on changes in HEN cost functions, the use of more traditional cost calculation
models still prevails in the current literature for the past four decades.
Keywords: RTC. Shell and Tube Heat Exchanger . Cost Estimate. Cost of capital.

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INTRODUÇÃO

Antigas instalações industriais apresentam grandes oportunidades para


otimização de energia (Beninca et al., 2011). Para tanto, projetistas e pesquisadores
desenvolveram diversos métodos visando projetos de RTC econômicos para obtenção
de custo ótimo, porém pouco mudou na forma como os custos dessas redes são
calculados.

Para prever o custo de capital de uma RTC, é necessário determinar o número


de trocadores e as áreas de superfície de troca térmica (Hall et al., 1990). Dentre os
modelos de trocadores de calor existentes em processos industriais o mais utilizado é
o trocador de calor casco e tubo, e seu projeto envolve várias etapas, incluindo a
seleção de parâmetros geométricos e operacionais (Segundo et al., 2017). Outras
características que tornam este modelo de trocador de calor popular são sua
fabricação e flexibilidade relativamente simples para diferentes condições de
operação (Fesanghary et al., 2009).
O trabalho de Gonçalves et al. (2019) apresentou uma reformulação do método
Bell - Delaware para otimizar o projeto de trocadores de calor casco e tubo para obter
uma formulação de programação linear inteira mista (PLIM), onde foi possível
identificar soluções viáveis para o projeto de trocadores de calor mais baratos. A
estimativa de custos é uma atividade importante durante o desenvolvimento de
novos produtos, uma vez que grande parte dos custos do ciclo de vida do produto são
definidos nesta fase (Barbalho e Rozenfeld, 2006). Assim, uma superestimação dos
custos implica em uma oferta não competitiva que causa perda de clientes, por outro
lado a subestimação do custo leva à conquista de um contrato de compra, mas
sofrendo um prejuízo financeiro (Caputo et al., 2016)

Para uma determinada área de troca térmica, um trocador de calor mais


econômico pode ser projetado com um diâmetro de casco pequeno e tubos longos,
compatível com o espaço e a disponibilidade de instalações e manuseio. O número de
tubos depende do coeficiente de transferência de calor do fluido e da diferença de
pressão disponível (Mizutani et al., 2003). O custo de construção e instalação do
equipamento de troca de calor também é um fator que influencia o custo geral do
processo (Caputo et al., 2008).

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Considerando que quase 80% do consumo total de energia está relacionado à


transferência de calor, melhorias no desempenho do sistema de transferência de
calor são extremamente importantes para a redução do consumo de energia (Onishi
et al., 2013).

O custo de capital pode aumentar ou diminuir à medida que o número de


unidades é reduzido, dependendo de quem domina o processo, dos custos fixos ou
operacionais. Os autores Ahmad (1985), Hall et al. (1990) e Colberg e Morari (1990)
introduziram o custo de capital na tarefa de síntese de RTC com uma formulação de
Programação Não Linear (PNL) para prever o trade-off entre a área e o número de
unidades de troca térmica.

Short et al. (2016), aprimoram a síntese da rede de trocadores de calor,


expandindo essas abordagens de otimização usando modelos de atalho para
trocadores de calor que consideram apenas uma área aproximada para o custo de
capital. Rathjens e Fieg (2019) propuseram uma função de custo flexível para o
projeto de RTC com custo otimizado com diferentes funções de custo para trocadores
de calor, aquecedores e resfriadores.

O trabalho de Taal et al. (2003) fornece um resumo dos métodos mais comuns,
usados para estimar o custo de equipamentos de troca térmica na indústria de
processo e as projeções de preços das fontes de energia. Os autores discutem a
relevância de escolher o método certo e a fonte mais confiável de previsão do preço
da energia utilizado.

Nesse contexto, o trabalho apresenta uma análise das equações de custo


utilizadas nos modelos de síntese e otimização de redes de trocadores de calor das
últimas quatro décadas, referentes a custos de capital e custos operacionais. O
objetivo desta análise é avaliar as alterações propostas nessas funções de custo e a
composição de cada parâmetro utilizado e destaca principalmente os trabalhos
relacionados a trocadores de calor casco e tubo.

METODOLOGIA
O método de investigação utilizado para a revisão da literatura foi dividido em
etapas conforme ilustradas na Figura 1.

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Figura 1: Esquema da pesquisa.

Etapa 1: revisão da literatura sobre os custos das RTCs, para conhecer o estado
da arte sobre o assunto, considerando a estimativa de custos na função objetivo para
a síntese de redes de trocadores de calor.
Etapa 2: análise dos trabalhos desenvolvidos com foco na estimativa dos custos
da RTC encontrados na literatura e sua evolução na ordem cronológica dos trabalhos
publicados entre 1980 e 2020.
Etapa 3: ocorreu simultaneamente com a segunda, onde foi realizado o
levantamento e análise dos parâmetros utilizados nas principais funções de custo dos
trocadores de calor encontrados na literatura e suas relações.
Etapa 4: foi realizada uma avaliação crítica para destacar as principais
mudanças e aspectos relevantes das funções de custo utilizadas e propostas em
estudos relacionados à rede de trocadores de calor. Os principais trabalhos e
contribuições são discutidos na sequência. As equações de trabalhos que foram mais
encontradas na literatura também foram descritas na etapa de análise da literatura.

REVISÃO DA LITERATURA

Os resultados advêm da análise das principais funções de custo dos trocadores


de calor utilizados em estudos de síntese e otimização de RTCs em uma primeira
etapa.

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Análise das funções básicas de custos da RTC


As equações de custos apresentadas são as mais difundidas na literatura. Elas
têm grande relevância na análise econômica da síntese da RTC e servem como
parâmetros para o aprofundamento dos estudos sobre essas equações. O custo total
da rede é composto pela soma dos custos de capital e operacionais mostrados na
Equação (1).
. (1)
Onde TC é o custo total da rede; OC e CC são os custos operacionais e de capital,
respectivamente, f fator de anualização, r é a taxa de retorno sobre o capital investido
e t é a vida útil da planta.

Outras questões podem ser levantadas sobre o custo anual, como depreciação,
manutenção e outros fatores econômicos. Os estudos abordados, por exemplo, não
descrevem como a taxa de retorno foi estipulada ou quais variáveis de mercado foram
consideradas, evidenciando algumas lacunas que precisam ser investigadas
considerando esses fatores econômicos.

Para o custo de capital, a equação mais difundida na literatura, foi originalmente


apresentada por Ahmad (1989) e utilizada por outros autores, (Colberg e Morari,
1990; Hall et al., 1990) e em muitos outros trabalhos relativos à síntese e otimização
de HENs (Azeez et al., 2013). Para um trocador de calor, o custo de capital é:

. (2)

O custo de capital (CC) é calculado usando os coeficientes de custo a, b e c e a


área do trocador de calor (A) na HEN. Nos trabalhos avaliados, a Equação (2) é
descrita de forma tão trivial que os coeficientes a, b, c, quase nunca são comentados,
apenas descritos como coeficientes de custo que dependem do modelo e tipo de
material utilizado na fabricação do trocador de calor e as pressões de operação.

Em seu estudo sobre estimativa de custos de trocadores de calor, Hall et al.


(1990), descreveu a variável a como sendo o coeficiente que representa os custos
fixos. No entanto, os autores não comentam quais seriam esses custos fixos incorridos
na equação. Alguns estudos descrevem os parâmetros b e c como coeficientes
dependendo do modelo e do tipo de material usado na fabricação do trocador de
calor e das pressões de operação.

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Avaliando as tabelas de tipos de materiais apresentadas no trabalho de Purohit


(1983), a variável b corresponde ao modelo e tipo de material de construção do
trocador de calor e a variável c corresponde às taxas de pressão de operação. Apenas
no trablho de Sadeghzadeh et al. (2015), os coeficientes a e b são discutidos em mais
detalhes. Esses autores ressaltam que tais fatores também estão relacionados ao
ângulo do layout dos tubos, também apresentado por Purohit (1983), e ao número de
Reynolds.

Análise dos trabalhos científicos


Alguns trabalhos de grande relevância na literatura foram analisados e os
destaques sobre as funções de custo são descritos a seguir em ordem cronológica de
publicação, iniciando com Purohit (1983) e finalizando esta primeira análise
proposta com Kazi et al. (2020).
Purohit (1983): apresentou um método de estimativa de custos para
Trocadores de calor casco e tubo, considerando diferentes modelos de trocadores de
calor, materiais de construção e diferenças de pressão de operação. Os tipos de
trocadores de calor considerados pelo autor foram do tipo casco e tubo com tubo fixo,
tubo em U, cabeçote flutuante de anel dividido e cabeçote flutuante pull-through. Para
cada um desses tipos de trocadores de calor, várias configurações podem ser
consideradas usando os padrões TEMA. A Tabela 1 apresenta a faixa de utilização
para alguns parâmetros para trocadores de calor casco e tubo de aço carbono
utilizados pelo autor.

Tabela 1. Parâmetros do trocador de calor casco e tubo


Parâmetros Variação
Diâmetro Ds 0,3 m a 3 m
Comprimento do tubo 2,44 m a 11 m
Diâmetro do tubo 0,0190 m a 0,0508
Passagens no lado do m 1 a 8 passagens
tubo Pressão de projeto no 6,8 MPa a 19 Mpa
casco Pressão de projeto no 6,8 MPa a 17 Mpa
tubo de Purohit (1983)
Fonte: Adaptado

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O custo assumido da referência foi baseado na correlação de dados do mercado


norte-americano em 1982. Este método, de acordo com Tall et al. (2003) e Caputo et
al. (2016), representa uma das técnicas mais detalhadas e sofisticadas de estimativa
de custo de trocadores de calor disponíveis e tem uma margem de erro inferior a ±
15%.
O estudo destaca o diâmetro interno do casco como um parâmetro conveniente
para embasar as estimativas de custo do STHE, e o utiliza no cálculo do coeficiente de
custo b, mostrado na equação (3):
.
( )
(3)

Onde Ds - Diâmetro interno da casca em polegadas ;p é o multiplicador de custo


para o diâmetro externo do tubo, considerando o ângulo, a disposição e o passo dos
tubos; f é o multiplicador de custo para o cabeçote frontal TEMA padrão; r é o
multiplicador de custo para o cabeçote traseiro TEMA ( Purohit, 1983).
O trabalho demonstra com precisão a equação do coeficiente de custo b
utilizada na equação (2), e, assim, é possível relatar que este coeficiente está
diretamente relacionado às características do tipo de trocador de calor, da área e do
diâmetro interno do casco. Alguns fatores de correção, como a correção do
comprimento do tubo (CL), o número de passagens do tubo, quando maior que 2
(CNTP), a queda de pressão no casco (CPS) e no tubo (CPT) quando a pressão interna
é maior que 10.105 Pa, medidas do tubo (CG) quando os tubos são maiores que 14
BWG, além dos fatores de correção para o material de construção. Com esses dados, o
cálculo do custo total de um trocador casco e tubo é dado pela Equação (4):
(1 ) (4)
Onde CT representa a soma de todas as correções de preço base, A é a área de
material necessária e N é o número de trocadores de calor.
A equação (4) envolve o coeficiente de custo b presente na Equação (2), mas
não lista os coeficientes a e c, que também são descritos como coeficientes de custo
que variam de acordo com o tipo de material de construção e as pressões de
operação.
Linnhoff e Ahmad (1990) : consideraram o coeficiente de custo c presente na
Equação (2) igual a um. Este trabalho apresenta o custo de capital da rede de
trocadores de calor considerando que a área total da rede (Amin) é alcançada com o
uso mínimo de utilidades e o uso máximo de energia (Umin,MER) Equação (5):

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. , . (5)
O trabalho fez contribuições importantes para minimizar os custos de capital e
energia. No entanto, forneceu poucos detalhes sobre os direcionadores de custo
envolvidos no modelo.
Calberg e Morari (1990): assumiram que o custo de capital de cada trocador é
dado por um custo exponencial, formulando assim uma função não linear para o custo
de capital representado pela Equação (2).
A novidade no trabalho desses autores foi apresentar uma função objetivo que
pressupunha a possibilidade de que o custo de capital variasse em função do número
de combinações na RTC, mesmo que as variáveis fossem independentes da área. Para
cada combinação, diferentes coeficientes de custo devem ser calculados considerando
modelos de trocadores e pressões operacionais. A Equação (6) apresenta a função
objetivo proposta por esses autores.
( , ) , , , ( , ) , , ,

( , ) , , , min (, ) , ,
,

( , ) , ,
,
( , ) , ,
, ) (6)
Os autores não discutem a origem dos coeficientes a, b e c ou seus métodos de
cálculo, mas sim a preocupação em refinar ainda mais as equações de custo de capital
na síntese e otimização da RTC.
Hall; Ahmad; Smith (1990): baseado nos estudos de Hall (1986), foi
desenvolvido um método que permite que o custo de capital considere as diferenças
nas especificações dos trocadores de calor. O aprimoramento aplica fatores de custo a
cada fluxo, determinados pelo modelo de trocador. O método desenvolvido se aplica,
para custos de capital e materiais de construção não uniformes, faixas de pressão e
tipos de equipamentos. O trabalho mostrou que a contabilização das variações na
especificação do trocador altera o trade-off entre energia e capital e isso, por sua vez,
pode levar a mudanças na estrutura da rede.
No entanto, os autores também não relatam a origem dos coeficientes a, b e c,
apenas os descrevem como coeficientes de lei de custos que variam de acordo com o
modelo, material de fabricação e pressão de uso. Os autores analisaram que a
contribuição da área de cada unidade de troca térmica também contribuiu de forma
diferenciada para o custo de capital. Se apenas uma lei de custo for usada para uma

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rede que inclui materiais de construção mistos, a contribuição da área para diferentes
fluidos que requerem materiais especiais deve de alguma forma aumentar.
Os autores atribuíram pesos ao coeficiente de transferência de calor para
refletir o custo do material que o fluido requer. Assim, tomando como referência o
custo de capital de um trocador de calor, temos, da Equação (2), os coeficientes de
custos como a1, b1 e c1. Se outro trocador de calor com especificações diferentes for
instalado, os coeficientes na Equação (2) seriam representados como a2, b2 e c2.
Considerando o coeficiente de transferência de calor, os autores propuseram um fator
de ponderação de custo específico para o fluido φ, a ser aplicado ao valor do
coeficiente de transferência de calor (h*) de um fluido especial j, conforme proposto
na Equação (7).

φ (7)

A relação entre o parâmetro de custos b e o coeficiente de transferência de calor


(h) foi apresentada pela primeira vez. Essa relação não é clara no trabalho de Purohit
(1983). Por muito tempo, este trabalho foi a única referência à função de custo de
capital apresentando mais detalhes relacionados a outras características de uma RTC
e as contribuições foram de grande relevância para estudos de síntese e otimização
de redes de trocadores de calor.
Suaysompol e Wood (1993): incluem uma estimativa dos custos extras de
tubulação determinados pela topologia da rede, como um procedimento para avaliar
os custos de capital de RTCs. Os resultados mostram que o estudo altera
significativamente a classificação das redes alternativas em relação às estimativas de
custo convencionais baseadas apenas na área, e é expresso pela equação (8).
,
, ,
1031 , , 0,04 ,
(8)

Em que A é a área do trocador de calor, M&S é Marshall e Índice Swift de custo


do equipamento, L e D, são o comprimento e o diâmetro do tubo, respectivamente, e
Fe e Fp são o fator de custo de instalação do tubo.
Nasr e Polley (2000): desenvolveram um algoritmo para determinação e
comparação do custo de um trocador de calor de casco e tubo aprimorado otimizado
com um tubo plano. A otimização do trocador é realizada e o custo total do sistema é
considerado e normalizado para que seja independente do rendimento de carga.
Como resultado é apresentado como uma consideração do custo da queda de pressão

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pode ser incorporada na otimização do custo total de trocadores de calor equipados


com diferentes inserções de tubo. É mostrado ainda que os resultados permitem a
comparação de diferentes inserções de tubos e a identificação do melhor número de
Reynolds operacional e, consequentemente, o melhor coeficiente de transferência de
calor aprimorado, proporcionando um custo total ideal.
Hojjati; Omidkhah; Panjeh Shahi (2004): apresentaram o custo de capital para
cada trocador isoladamente dentro da RTC, consistindo nos custos de cascos e tubos e
compreendendo materiais de construção mistos. Os resultados mostram uma redução
nos custos anuais totais, o que segundo os autores confirmam que uma avaliação mais
precisa do coeficiente de transferência de calor para cada fluxo individual pode levar
a um melhor desenho da rede. A função objetivo é dada por:

, , , , , ,

,
, , , , , , ( )

Em que a e b variam de acordo com o tipo de material escolhido para o casco e o


tubo, que podem ser diferentes. Novamente, a função de custo apresentada na
Equação (2) é usada como função de custo base, mas os coeficientes não são
discutidos profundamente.
Nemet et al. (2012): propuseram dois modelos multiperiódicos, um estocástico e
outro determinístico, que são baseados em projeção futuras de preços de serviços ao
longo de toda vida útil da HEN. Os resultados obtidos pela solução de dois estudos
indicaram efeito significativo de uma vida inteira na solução ótima, através dos
critérios do Valor Presente Líquido Incremental, Taxa Interna de Retorno
Incremental, Retorno Descontado e Retorno Sobre o Investimento Descontado ao
longo da vida.
Short et al. (2016) : incluíram o uso de fatores de correção para obter redes
baseadas em modelos de atalho, como a superestrutura (SWS) em estágios de
programação não linear inteira mista (MINLP) por Yee e Grossmann (1990). Os
autores então modificam a função objetivo para incluir os fatores de correção que
forçam sua função objetivo em relação ao custo de uma rede cujos trocadores de calor
individuais são projetados usando métodos como Bell-Delaware e heurísticas. Fatores
de correção são responsáveis por quedas de pressão, fatores de correção FT e número
de cascos.

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Mano et al. (2017): adicionaram na otimização além dos custos de capital e


operacional, custo de impacto ambiental, como Saúde Humana, Ecossistema,
esgotamento de recursos e aquecimento global. Os resultados mostraram que as
áreas dos equipamentos de trocadores de calor são maiores quando considerados os
impactos ambientais, e se comportando de maneira diferente de acordo com o
combustível utilizado. O cálculo de custo total da rede é dado pela Equação (10).

(10)

Em que é custo de Capital, é custo de utilidade fria, custo de


utilidade quente, é a saúde humana , é a qualidade do ecossistema, é
esgotamento de recursos e é o aquecimento global.
Kazi et.al. (2020): apresentaram um sistema de equações algébricas diferenciais
acopladas (EAD), adequado para otimização numérica, uma vez que substitui o termo
diferença média logarítmica não suave (DMetL). Em relação à abordagem de custo, a
topologia de trocador de calor resultante é usada para discrizar o modelo EAD
detalhado, que é resolvido como um NLP para obter o projeto de trocador de calor
detalhado, minimizando uma função de objetivo econômico variando o comprimento
do tubo e usa fatores de correção com base no método de Short et al. (2016), e
considerando o custo de bombeamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vale ressaltar que os trabalhos que mais trouxeram estudos relacionados à
estimativa de custos de RTC foram publicados na década de 1990. Porém, o que pode
ser destacado é que poucas mudanças se referem às equações de custo global de
capital, que ainda utilizam modelos de década de 90, exceto alguns trabalhos
publicados após 2005. Portanto, é possível concluir que apesar desses novos estudos
sobre mudanças nas funções de custo da rede de trocadores de calor, o uso de
modelos mais tradicionais ainda prevalece na literatura atual, ou seja, em trabalhos
publicados nos últimos 20 anos.
Este trabalho levanta questões sobre a estimativa de custos na rede de
trocadores de calor e abre caminho para estudos futuros que possam discutir este
problema e que possam resultar em estimativas de custos mais consistentes com os

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problemas reais encontrados em plantas industriais. Existe uma lacuna na literatura


sobre propostas de desenvolvimento de funções objetivo considerando diferentes
abordagens para a obtenção da função custo, considerando diferentes materiais de
construção, além de custos operacionais mais detalhados.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq (Brasil), processos 311807 / 2018-6, 428650 / 2018-0 e 140127
/ 2020-8.

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CAPÍTULO 41
PROPRIEDADES DE FIBRA DE
CARBONO ATIVADO E
CARVÕES ATIVADOS - UMA
REVISÃO DE LITERATURA
Danielly Cruz Campos Martins1

1
Mestre em Engenharia Química, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR,
email: daniellyccmartins@gmail1.com, ID Lattes: 9866322259971452

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PROPRIEDADES DE FIBRA DE CARBONO ATIVADO E CARVÕES ATIVADOS - UMA


REVISÃO DE LITERATURA

RESUMO
O processo de adsorção tem sido utilizado na remoção de micropoluentes no
tratamento de águas e efluentes. Nesse processo, tão importante quanto conhecer as
características do poluente que se quer remover, é compreender as características
físico-químicas do material adsorvente. Com isso, este trabalho realizou o
levantamento das características de dois carvões ativados e da fibra de carbono
ativada. Este estudo poderá auxiliar trabalhos futuros de adsorção de contaminantes
em águas e efluentes.
Palavras-chave: Adsorção. PAN têxtil. Microcontaminantes. Tratamento de efluente.
Tratamento de água.

PROPERTIES OF ACTIVATED CARBON FIBER AND ACTIVATED COALS - A LITERATURE


REVIEW

ABSTRACT
The adsorption process has been used to remove micropollutants in water and
effluent treatment. In this process, it is important to know the characteristics of the
pollutant to be removed and to understand the physicochemical characteristics of the
adsorbent material. Thus, this work carried out a survey of the characteristics of two
activated carbons and activated carbon fiber. This study may help future work on
adsorption of contaminants in water and effluents.
Key-words: Adsorption. Textile PAN fiber. Microcontaminants. Wastewater
treatment. Water treatment.

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INTRODUÇÃO

A contaminação de águas a partir de micropoluentes de natureza orgânica e


inorgânica, como fármacos, cafeína e metais tóxicos, incitou a necessidade de
desenvolvimento de tecnologias capazes de remove-los eficientemente, uma vez que
processos convencionais de tratamento, geralmente, não possuem essa capacidade
(Reyes et al., 2021; Patel et al., 2019).
Em vista disso, a adsorção se apresenta como um dos processos mais eficientes
na remoção de microcontaminantes de águas e águas residuais provenientes dos mais
diversificados setores e processos (Mpatani et al., 2021; El-Sayed, 2020; Piai et al.,
2020; Rashed, 2013). Tem como vantagens a simplicidade de operação, baixo custo
de investimento, além de não requerer grandes áreas de instalação (Viotti et al., 2019;
Rashed, 2013).
A adsorção consiste em um processo de separação, que ocorre por meio de
transferência de massa, no qual uma substância da fase fluida (líquida ou gasosa),
denominado adsorvato, é transferido para a superfície de um sólido denominado
adsorvente, através de interações físicas e químicas (Sing et al., 1985).
O sucesso operacional desse processo de remoção de poluentes de águas
residuais depende não somente da compreensão das características do adsorvato,
como, por exemplo, tamanho da espécie e sua polaridade, mas também da natureza
físico-química do adsorvente, como área superficial, porosidade, volume específico e
distribuição de poros, grupos funcionais superficiais, entre outros (Domingues,
2005). Isto é, depende da eleição de um adsorvente que atenda às especificidades do
adsorvato.
Nesse sentido, o presente trabalho objetiva abordar as características físico-
químicas de dois carvões-ativados, de diferentes precursores vegetais amplamente
utilizados no país, e da fibra de carbono ativado produzida a partir da fibra de
poliacrilonitrila (PAN) têxtil, com o intuito de levantar suas propriedades, para que
possam ser utilizadas como auxílio a estudos futuros.

REVISÃO DA LITERATURA

Carvões ativados

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O carvão ativado é produzido por meio do processo de desidratação e


carbonização de materiais carbonosos, seguido do processo de ativação (Bedia et al.,
2020). Suas características são influenciadas tanto pelo material precursor utilizado
quanto pelo método de preparação (Rimoli et al., 2019).
Os carvões ativados podem ser produzidos a partir de qualquer material com
alto teor de carbono e baixo teor de inorgânicos, como carvões minerais, a exemplo
da antracita, cascas de coco, ossos de animais, madeira, turfas, resíduos de petróleo,
caroços de frutas, entre outros (Ziezio et al., 2020; Rodríguez-Reinoso; Molina-Sabido,
1998).
Esses precursores são submetidos a dois tratamentos. O primeiro consiste no
processo térmico de carbonização, que é a pirólise do precursor em atmosfera inerte.
Nessa etapa, ocorre a preparação do material a partir da remoção de compostos
voláteis e gases leves, resultando em uma massa de carbono de estrutura porosa
primária. O segundo tratamento é o processo de ativação do material carbonizado, o
qual pode ocorrer por processos físicos, químicos, ou ambos, em elevadas
temperaturas. Esse objetiva não somente intensificar a formação de poros no
material adsorvente, aumentando sua área superficial, como também promover e
controlar características do material, como distribuição de poros, atividade química
da superfície, resistência mecânica, entre outros (Teixeira, 2020; Cardoso et al.,
2011).
Os carvões ativados são dotados, portanto, de grande número de poros e são
característicos por apresentarem elevada área superficial específica (600 a 2000
m²/g), já que apresentam elevada área dentro das redes de poros (Rodríguez-
Reinoso; Molina-Sabido, 1998). Embora apresentem em sua composição poros de
diversos tamanhos, geralmente predomina-se uma faixa específica. Nesse sentido, os
carvões ativados podem ser classificados como microporosos (< 2 nm), mesoporosos
(entre 2 e 50 nm) e macroporosos (> 50 nm) (Greeg; Sing, 1982).
Cada carvão e carvão ativado oriundo de um precursor e processo de produção
específico, apresentará características e propriedades únicas, como área superficial,
volume de poros, distribuição de tamanho de poros, ponto de carga zero (PCZ),
cargas superficiais, grupos funcionais superficiais, entre outros.

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A seguir são abordados dois diferentes carvões ativados de origem vegetal e a


fibra de carbono ativada, produzidos ou estudados por diversos autores na literatura,
trazendo um panorama de suas características.

Carvão ativado de coco de babaçu


Oliveira et al. (2017) produziram 8 carvões ativados a partir de coco de babaçu.
Para tanto, impregnaram a matéria-prima com hidróxido de potássio (KOH) (98%)
em proporções porcentuais de 70:30, 50:50, 30:70, 25:75 (m/m) da matéria-
prima/agente ativador, secando-a, posteriormente, por período de 24 h em
temperatura de 100 °C. O material foi, então, ativado em atmosfera de nitrogênio sob
condições de temperatura de 500 °C e 600 °C durante 3 h e, em seguida, lavado (com
água destilada) para remoção do agente ativador, até que atingisse pH neutro. Após
seco em estufa a 100 °C, os carvões ativados foram identificados de acordo com as
razões matéria-prima/KOH e a temperatura de ativação: AC1 (70:30, 500 °C), AC2
(50:50, 500 °C), AC3 (30:70, 500 °C), AC4 (25:75, 500 °C), AC5 (70:30, 600 °C), AC6
(50:50, 600 °C), AC7 (30:70, 600 °C), AC8 (25:75, 600 °C). As amostras foram
caracterizadas a partir das análises de MEV, FTIR, área específica (método Brunauer-
Emmett-Teller - BET), distribuição de tamanho de poros (método Density Functional
Theory - DFT), área superficial de microporos (método Dubinin-Astakhov-DA) e
volume total de poros (estimado a partir da adsorção em P/P0=0,98).
A análise de MEV, para todas as amostras (AC1 a AC8), apresentou superfície
externa áspera e formada por anéis irregulares que, segundo os autores, não são
considerados poros, mas canais conectores ao interior do material, o qual acredita-se
que seja composto por diferentes tamanhos de poros.
A análise de FTIR, por sua vez, revelou que, independentemente da amostra de
carvão ativado de babaçu produzida, os grupos funcionais superficiais detectados
foram: ácido carboxílico, grupo hidroxil, lactonas, fenol, estruturas cíclicas, quinonas,
éteres e ligações carbono hidrogênio (C-H e C-H2).
Com relação à análise de adsorção-dessorção, todas as amostras de carvão
produzidas (AC1-AC8) apresentaram isoterma de tipo I, característica de materiais
microporosos. Ainda, para os carvões ativados AC1, AC2, AC5 e AC6 houve presença
de histereses tipo H4, o que revela que o material, embora microporoso, possui
contribuição de mesoporos. As características texturais, área superficial (BET), área

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superficial de microporos e volume total de poros são apresentadas na Tabela 1. A


partir dos dados, os autores observaram que, quanto mais severa a temperatura e
proporção de agente ativador na preparação das amostras, maior porosidade
adquiriu o material.

Tabela 1: Análise textural das amostras AC1-AC8.


Área microporos
Amostra Área BET (m²/g) Volume total (cm³/g)
(m²/g)
AC1 728 1054 0,3983
AC2 853 1250 0,4631
AC3 1035 1301 0,5037
AC4 1043 1341 0,5139
AC5 1138 1478 0,5944
AC6 1158 1469 0,6333
AC7 1277 1515 0,6052
AC8 1712 1923 0,8357
Fonte: Oliveira et al. (2017).

Com relação à análise de distribuição de tamanho de poros, os autores


abordaram que a mesma se encontra abaixo de 2 nm, corroborando com o tipo de
isoterma encontrada para os carvões ativados.
Viotti (2017), por sua vez, em seu trabalho de adsorção do fármaco diclofenaco,
caracterizou o carvão ativado de coco de babaçu a partir de análises de MEV, FTIR e
PCZ.
A análise de MEV do coco de babaçu utilizado por Viotti (2017) revelou que este
adsorvente possui uma superfície áspera e rica em poros, o que, segundo a autora,
promove elevada área específica, fator favorável ao processo de adsorção.
A análise de FTIR, por sua vez, realizada com o fim de determinar os grupos
funcionais presentes na superfície do adsorvente, revelou a presença de grupos
hidroxila (OH), anéis aromáticos, grupos fenólicos, carboxilatos e ésteres.
Com relação ao PCZ, Viotti (2017) encontrou que o valor de pH no qual as
cargas elétricas superficiais do adsorvente se anulam, é de 7,3. Isso implica que em
soluções cujos valores de pH sejam maiores do que o PCZ, a adsorção de cátions é
favorecida, uma vez que o adsorvente adquire cargas negativas, enquanto que em
valores de abaixo do PCZ são favorecidas adsorções de ânions, haja vista a carga
positiva do sólido (Appel et al, 2003).

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Em contrapartida, Ferreira (2015) em seu estudo de adsorção de paracetamol


em carvões nacionais (brasileiros), realizou três funcionalizações do carvão de coco
de babaçu comercial (BB), sendo duas químicas (HNO3 e NaOH) e uma física
(atmosfera inerte de N2). Para a funcionalização química, em 100 mL de solução de
HNO3 (1 mol/L) foi mantido 10 g de carvão ativado em agitação de 228 rpm a 60 °C,
durante 24 h. Em seguida, a amostra funcionalizada foi lavada com água deionizada
para remoção do excesso de HNO3, e foi seca em estufa em 45 °C por 48 h. O mesmo
procedimento foi realizado para a funcionalização com NaOH. Já para a
funcionalização física, manteve-se em forno a 600 °C, durante 3 h, 10 g de carvão
ativado, sob vazão de 2 mL N2/min. O carvão ativado de coco de babaçu
funcionalizado com HNO3 e NaOH foi denominado BAC e BBA, respectivamente,
enquanto o funcionalizado fisicamente foi denominado BI. As amostras antes e após
funcionalização foram caracterizadas pelas técnicas de adsorção de N2, PCZ e FTIR.
As isotermas de adsorção de N2 com as amostras BB, BAC, BBA e BI
apresentaram configuração do tipo I, com histerese tipo H4, o que, segundo a autora,
indica que os adsorventes possuem característica microporosa, embora apresentem
contribuição de mesoporos, mesmo que pequena (indicado pelo loop pequeno). As
isotermas também evidenciam que as funcionalizações do carvão ativado de coco de
babaçu melhoraram a capacidade adsortiva do gás N2.
As propriedades texturais de área específica, volume total de poros, volume de
mesoporos, volume de microporos e diâmetro médio de poros dos carvões de coco de
babaçu são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2: Propriedades texturais dos carvões de coco de babaçu.


Amostra
Propriedades
BB BAC BBA BI
Área Langmuir (m²/g) 706 685 960 968
Volume total (cm³/g) 0,25 0,32 0,35 0,35
Volume mesoporos (cm²/g) 0,03 0,06 0,07 0,07
Volume microporos
0,22 0,26 0,28 0,28
(cm²/g)
Diâmetro médio do poro
1,15 1,28 1,27 1,30
(nm)
Fonte: Adaptado de Ferreira (2015).

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A autora verificou, através dos dados presentes na Tabela 2, que houve aumento
na área específica dos carvões tratados com NaOH e atmosfera inerte, enquanto para
o tratado com HNO3 houve uma sensível diminuição. Também foi verificado que os
volumes de mesoporos e microporos foram afetados pelas funcionalizações.
Pela análise de distribuição dos tamanhos de poros dos carvões ativados de
coco de babaçu, foi verificado que a distribuição de poros era predominantemente
microporosa.
Com relação à análise de PCZ, foram encontrados pHs de 3,9, 3,6, 3,8 e 4,2 para
os carvões ativados BB, BAC, BBA e BI, respectivamente, de forma que para qualquer
pH de solução acima dos mesmos predominantemente ocorrerá a captura de
moléculas de cargas positivas.
A análise de FTIR, por sua vez, revelou que para todos os carvões ativados de
coco de babaçu houve similaridade nos sinais, nos mesmos comprimentos de onda.
Foram identificados grupos carboxílicos, carbonila, fenóis, hidroxila, éteres, éster e
anéis aromáticos monosubstituídos na superfície de todas as amostras.
Complementarmente, para o carvão funcionalizado com HNO3 e NaOH houve
aparecimento de bandas de NO2, e de grupos pirona, respectivamente.
Em vista das caracterizações apresentadas nos três trabalhos verifica-se que, de
um modo geral, carvões ativados de coco de babaçu apresentam características
predominantemente microporosas, embora haja pequenas contribuições de
mesoporos, assim como elevada área superficial. Com relação aos grupos funcionais
presentes na superfície dos adsorventes aqui abordados, comumente apresentam os
grupos carboxílico, fenol, hidroxila, éster e éter.
A maior discrepância entre os carvões estudados por Viotti (2017) e Ferreira
(2015), no entanto, é com relação ao PCZ dos adsorventes, e isso pode ser em função
do tipo de tratamento de carbonização e ativação dos mesmos, processos os quais não
são descritos nos trabalhos.

Carvão ativado de dendê


Ferreira (2015) em seu estudo de adsorção de paracetamol em carvões
nacionais (brasileiros), também realizou a funcionalização química (HNO3 e NaOH) e
física (atmosfera inerte de N2) de carvão de coco de dendê (DD). Para a
funcionalização química, em 100 mL de solução de HNO3 (1 mol/L) foram

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adicionados a 10 g de carvão ativado sob agitação de 228 rpm a 60 °C, durante 24 h.


Em seguida, a amostra funcionalizada foi lavada com água deionizada para remoção
do excesso de HNO3, e seca em estufa em 45 °C por 48h. O mesmo procedimento foi
realizado para a funcionalização com NaOH. Já para a funcionalização física manteve-
se em forno a 600 °C, durante 3 h, 10 g de carvão ativado, sob vazão de 2 mL N2/min.
O carvão ativado de coco de dendê funcionalizado com HNO3 e NaOH foi denominado
DAC e DBA, respectivamente, enquanto o funcionalizado fisicamente foi denominado
DI. As amostras antes e após funcionalização foram caracterizadas pelas técnicas de
adsorção-dessorção de N2, PCZ e FTIR.
As isotermas de adsorção-dessorção de N2 com as amostras DD, DAC, DBA e DI
apresentaram configuração do tipo I, com histerese tipo H4, indicando que o
adsorvente apresenta característica microporosa com contribuição pequena de
mesoporos. Ainda, os carvões ativados de coco de dendê funcionalizados adsorveram
menor quantidade de gás N2 que o carvão ativado sem modificações.
As propriedades texturais de área específica, volume total de poros, mesoporos
e microporos e diâmetro médio de poros dos carvões ativados de coco de dendê estão
apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3: Propriedades texturais dos carvões de coco de dendê.


Amostra
Propriedades
DD DAC DBA DI
Área Langmuir (m²/g) 1026 970 944 989
Volume total (cm³/g) 0,37 0,35 0,36 0,37
Volume mesoporos (cm²/g) 0,08 0,09 0,09 0,09
Volume microporos 0,29 0,26 0,28 0,28
(cm²/g)
Diâmetro médio do poro 34,5 13,7 13,6 13,9
(nm)
Fonte: Adaptado de Ferreira (2015).

Foi verificado, pela autora, que houve diminuição na área específica em todas as
funcionalizações do carvão ativado de dendê. No entanto, o volume de mesoporos e
microporos não sofreram modificações significativas.
Pela análise de distribuição de tamanhos de poros dos carvões de coco de
dendê, em acordo com as caracterizações anteriores, foi verificado por Ferreira
(2015), que os adsorventes eram predominantemente microporosos.

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A análise do PCZ indicou que o carvão de coco de dendê possui caráter ácido,
visto que seus PCZs foram de pH 6,5, 3,6, 3,7 e 4,4, para os carvões DD, DAC, DBA e DI,
respectivamente, favorecendo para pHs de solução acima desses valores
apresentados a adsorção de cátions.
A análise de FTIR revelou, que todos os carvões ativados de coco de dendê
apresentavam comportamentos similares na mesma faixa de comprimento de onda.
Foram verificados, na superfície dos adsorventes, a presença dos grupos carboxílicos,
carbonila, éter, fenóis, hidroxilas, éster e anéis aromáticos monosubstituídos.
Adicionalmente, o carvão funcionalizado com HNO3 promoveu aparecimento de
grupos nitro e complexos de nitrato, enquanto que o funcionalizado com NaOH
favoreceu o aparecimento de grupos pironas (combinação de átomos de oxigênio de
éteres e grupo carbonila).
Couto Junior et al. (2015), por sua vez, no estudo do efeito do pH e da influência
da água dura na remoção da cafeína por adsorção, utilizaram como adsorvente carvão
ativado de coco de dendê (DD) e carvão ativado de coco de dendê funcionalizado em
atmosfera inerte (DI). Para a funcionalização, 10 g de DD foram inseridos em uma
coluna perfurada, a qual foi alocada dentro de um forno programado para aquecer até
700 °C, em rampa de 5 °C/min, sob vazão de nitrogênio de 160 mL/min, durante 3 h.
A caracterização dos adsorventes foi realizada pelas análises de adsorção em N2, pela
qual foram levantadas informações de área superficial, área de microporos, volume
total de poros, volume de microporos e distribuição do tamanho de poros.
Adicionalmente foi realizada análise de PCZ.
De acordo com os autores, a isoterma de adsorção-dessorção de N2 (não
apresentada no trabalho) para ambos os carvões se apresentou como do tipo I,
indicando que ambos adsorventes são microporosos.
A análise de PCZ apresentou que, para DD, o pH é de 7,6, enquanto que, para DI,
é de 9,2. Com a funcionalização em atmosfera inerte, segundo os autores, houve a
decomposição de grupos superficiais ácidos, prevalecendo, então, natureza básica da
superfície. As propriedades texturais de ambos os adsorventes são apresentados na
Tabela 4.
Com a funcionalização do carvão ativado de coco de dendê (DD) houve
contribuição com o aumento da área superficial, assim como volume total de poros e

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volume de microporos. No entanto, o diâmetro médio dos poros praticamente não foi
alterado.
Já Massias et al. (2015), em seus estudos de remoção de paracetamol,
realizaram funcionalização ácida de carvão ativado de dendê. O carvão ativado de
coco de dendê (CAD), após lavado com água deionizada e seco a 45 °C, foi
funcionalizado com 1 mol/L de H2SO4 por período de 6 h, sob temperatura de 40 °C,
sendo posteriormente lavado e seco. A amostra de carvão ativado de dendê
funcionalizado foi denominada pelos autores de CADSO4. Ambos os adsorventes
foram caracterizados pela adsorção-dessorção de N2 e, a partir desses dados, foram
calculados área específica, distribuição de volume de poros, diâmetro médio e volume
de microporos. Foram também realizadas análises de PCZ e titulação de Boehm.

Tabela 4: Características texturais dos carvões de coco de dendê DD e DI.


Propriedades DD DI
Área superficial BET (m²/g) 755 884
Volume total (cm³/g) 0,33 0,39
Volume mesoporos (cm³/g) 0,07 0,08
Volume microporos (cm³/g) 0,26 0,31
Área de microporos (m²/g) 651,56 770,20
Diâmetro médio dos poros (Å) 28,34 28,86
Fonte: Adaptado de Couto e Junior et al. (2015).

As isotermas de adsorção-dessorção de N2 para as amostras CAD e CADSO4 se


apresentaram como do tipo I, característico de adsorventes microporosos, como
histerese tipo H4, indicando contribuição de mesoporos. Já a distribuição do tamanho
de poros para ambos adsorventes, de acordo com os autores, revela que a
funcionalização promoveu diminuição do volume de poros.
As características texturais dos adsorventes são apresentadas na Tabela 5. De
acordo com os autores, com a funcionalização do carvão ativado de dendê, houve uma
redução do volume total de poros, assim como houve redução do diâmetro médio dos
poros. No entanto, não houve modificação na contribuição de microporos e
mesoporos.
A análise de PCZ revelou, para o CAD, um pH de 6,6, enquanto que, para o
CADSO4, foi de 3,61. Essa redução, segundo os autores, é consequência da maior
quantidade de grupos ácidos presentes na superfície do adsorvente.

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Tabela 5: Características texturais dos carvões de coco de dendê CAD e CADSO4.


Propriedades CAD CADSO4
Área superficial BET (m²/g) 671 629
Volume total (cm³/g) 0,369 0,355
Volume mesoporos (cm³/g) 0,082 0,089
Volume microporos (cm³/g) 0,287 0,266
Diâmetro médio dos poros (Å) 34,50 13,60
Fonte: Adaptado de Massias et al. (2015).

A titulação de Boehm revelou que o CAD contém, em sua superfície, grupos


carboxílicos, lactônicos e básicos. Já com a funcionalização, o carvão CADSO4
apresentou, além do aumento dos grupos carboxílicos e lactônicos, presença de fenóis
e diminuição dos grupos básicos.
Em vista das características dos carvões ativados de dendê apresentadas nos
três trabalhos, verifica-se que, de um modo geral, os carvões ativados de dendê
apresentam características predominantemente microporosas, com diâmetro médio
de poros na faixa de 28-35Å e, quando funcionalizado, na faixa de 13 Å (com exceção
de um funcionalizado que com inerte que apresentou diâmetro médio de poros de 28
Å). Além disso, esses carvões apresentam média-alta área superficial, contribuição
majoritária de volume de microporos e grupos funcionais carboxílicos na superfície
do adsorvente.

Fibra de carbono ativado


As fibras de carvão ativado (FCA) são fibras de materiais carbonáceos que
foram submetidas aos processos de carbonização, seguido do processo de ativação
das fibras orgânicas. Comumente, a ativação das fibras de carbono é realizada em
atmosfera oxidante de dióxido de carbono, sob temperatura de ativação que pode
variar entre 700 °C e 1000 °C (Brasquet, Le Cloirec, 1997; Zhang et al., 2017). Dentre
os precursores utilizados para produção de FCA, encontram-se as fibras orgânicas
como de poliacrilonitrila (PAN), celulose, resina fenólica, entre outros (Zhang et al.,
2017).
As fibras de carbono ativada são materiais adsorventes que têm recebido
aplicação no tratamento, tanto de águas, quanto de efluentes orgânicos. Comparado
aos carvões ativados granulares, a FCA, genericamente, apresenta elevadas taxas de
adsorção-dessorção, elevada distribuição volumétrica, além de não apresentar

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problemas de empacotamento. Seu excelente desempenho ocorre visto que


apresentam nanoestrutura, microporosidade abundante, elevada área específica e
distribuição estreita de tamanho de poros (Yusof; Ismail, 2012; Zheng; Zhao; Ye,
2014).
Marcuzzo et al. (2016) produziram feltro de FCA a partir de fibra PAN têxtil
brasileira, pelos processos subsequentes de oxidação, carbonização e ativação. A
oxidação visou promover resistência a chamas na fibra têxtil. A carbonização foi
realizada em atmosfera inerte de argônio, sob temperatura de 900 °C, durante 20
min. A ativação, por sua vez, foi realizada subsequentemente à carbonização,
modificando a atmosfera de gás argônio para CO2, elevando a temperatura a 1000 °C.
O tempo de ativação foi de 50 min. A FCA foi caracterizada a partir das análises de
adsorção-dessorção em N2, por meio da qual foram levantadas características
texturais da fibra, como área superficial total (modelo BET), distribuição de tamanho
de poros e volume de microporos (modelo NLDFT), MEV e titulação de Boehm.
A isoterma de adsorção-dessorção de N2 apresentou uma configuração tipo I,
sem presença de histerese, o que indicou que a FCA é predominantemente
microporosa. A distribuição de tamanho de poros, por sua vez, apresentou uma maior
concentração de poros ao redor do tamanho de 1,2 nm, embora, segundo os autores,
fique claro que exista poros de menor tamanho que 1 nm (limite da técnica analítica).
A FCA apresentou área superficial BET de 1260 m²/g, volume total de poros de
0,59 cm³/g e volume de microporos de 0,53 cm³/g, o que confirma que o material é
altamente microporoso, motivo pelo qual apresenta tão elevada área superficial.
A microscopia (MEV), apresentou detalhes do filamento da FCA, evidenciando
que não existem macroporos ou rachaduras no material. Isso foi reafirmado pela
micrografia realizada em ampliação de 150 k.
Com relação à química superficial da FCA, a titulação de Boehm revelou a
presença de grupo carbonila e grupos básicos, no entanto, predomina-se
características básicas à superfície, indicando que a FCA apresenta comportamento
básico em meio aquoso.
Essas características levantadas por Marcuzzo et al. (2016) evidenciam que a
FCA produzida a partir de PAN têxtil oxidada possui elevada capacidade de adsorção,
em especial para moléculas de pequenas dimensões.

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CONCLUSÕES

Foi realizado, no presente trabalho, o levantamento de características de dois


carvões ativados de dois precursores distintos (coco de babaçu e coco de dendê),
assim como as características da fibra de carbono ativada produzida a partir de PAN
têxtil oxidada.
A partir desse levantamento foi possível averiguar que os carvões ativados de
coco de babaçu apresentam elevada área superficial, características
predominantemente microporosas, embora haja contribuição de microporos, assim
como presença de grupos carboxílicos, fenol, hidroxila, éster e éter em sua superfície.
Os carvões ativados de dendê apresentam predominantemente microporosidade e,
consequentemente, contribuição majoritária de microporos, média-alta área
superficial e grupo carboxílico em sua superfície. Já a FCA produzida a partir da PAN
têxtil oxidada apresenta elevada área superficial, implicando elevada capacidade de
adsorção, em especial para moléculas pequenas, assim como apresenta
características superficiais básicas.
As informações aqui obtidas poderão auxiliar trabalhos futuros de adsorção de
contaminantes de águas superficiais e efluentes.

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CAPÍTULO 42
LEITE CAPRINO:
CARACTERÍSTICAS, DESAFIOS
E POTENCIALIDADES

Isabela Soares Magalhães1


Alécia Daila Barros Guimarães2
Arthur Pompilio de Capela3
Ana Flávia Coelho Pacheco4
Letícia Bruni de Souza5
Bruno Ricardo de Castro Leite Júnior6

1
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: isabela.magalhaes@ufv.br, ID Lattes: 2459923769010942
2
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: aleciabarros@live.com, ID Lattes: 3203684996416845
3
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: arthurpompilio@hotmail.com, ID Lattes: 3625965144792836
4
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: ana.f.pacheco@ufv.br, ID Lattes: 5585372720703259
5
Graduanda em Ciência e Tecnologia de Laticínios, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: leticia.bruni@ufv.br, ID Lattes: 3464641040535289
6
Professor do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal
de Viçosa (UFV), Viçosa, MG, email: bruno.leitejr@ufv.br, ID Lattes: 5096562930650660

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LEITE CAPRINO: CARACTERÍSTICAS, DESAFIOS E POTENCIALIDADES

RESUMO
A caprinocultura leiteira é uma atividade que tem se expandido significativamente
nos últimos 50 anos, com estimativa de crescimento de aproximadamente 53% até
2030. O leite de cabra se destaca nutricionalmente, principalmente por seu perfil
lipídico e proteico, o que lhe confere maior digestibilidade e hipoalergenicidade,
respectivamente, quando comparado ao leite de vaca. Além disso, o setor é
considerado sustentável e contribui para o desenvolvimento de comunidades rurais.
Apesar disso, a caprinocultura enfrenta desafios, especialmente no que diz respeito à
produção e comercialização dos produtos. A inserção de inovações tecnológicas nos
sistemas de produção pode viabilizar economicamente o desenvolvimento da
atividade. Outra estratégia é o beneficiamento da matéria-prima por meio da
produção de derivados como queijos, doces e iogurtes. O investimento em divulgação
de informações e incentivo ao consumo desses produtos pode impactar no aumento
da aceitação e comercialização.
Palavras-chave: Leite de cabra. Caprinocultura. Hipoalergenicidade. Produtos lácteos.

GOAT MILK: CHARACTERISTICS, CHALLENGES AND POTENTIALITIES

ABSTRACT
Dairy goat farming is an activity that has expanded significantly over the last 50
years, with an estimated growth of approximately 53% until 2030. Goat milk stands
out nutritionally, mainly due to its lipid and protein profile, with greater digestibility
and hypoallergenicity, respectively, when compared to cow's milk. In addition, the
sector is considered sustainable and contributes to the development of rural
communities. Despite this, goat farming faces challenges, especially about the
production and marketing of products. The insertion of technological innovations in
production systems can make the development of the activity economically viable.
Another strategy is the processing of raw material through the production of
derivatives such as cheese, sweets, and yogurt. The investment in disseminating
information and encouraging the consumption of these products can increase
acceptance and commercialization.
Key-words: Goat milk. Goat farming. Hypoallergenicity. Dairy products.

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INTRODUÇÃO

O setor de caprinocultura leiteira tem aumentado significativamente nos


últimos 50 anos, sendo que a produção mais que dobrou nesse período, e possui uma
estimativa de aumento de aproximadamente 53% até 2030 (Pulina et al., 2018).
Sabe-se que nos últimos anos, a busca por novos produtos alimentícios tem sido
observada, bem como o interesse por alimentos de maior saudabilidade (Joyce et al.,
2014). Isso contribui para o crescimento de setores da indústria alimentícia até então
pouco explorados, como exemplo, a produção de leite caprino.
Segundo a Instrução Normativa nº 37 do Ministério da Agricultura e do
Abastecimento (MAPA), o leite de cabra é definido como “produto oriundo da
ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de animais da espécie
caprina sadios, bem alimentados e descansados”. Sua composição nutricional é
semelhante à do leite de vaca, sendo constituído por aproximadamente 12,2% de
sólidos totais, divididos basicamente entre gorduras, proteínas, carboidratos e cinzas
(Park, 2017). Algumas características como a hipoalergenicidade e alta
digestibilidade estão diretamente relacionadas ao perfil proteico e lipídico,
respectivamente. Além disso, é um alimento rico em vitaminas e sais minerais (Lima
et al., 2016).
O setor de caprinocultura se caracteriza pela sustentabilidade e contribui com o
desenvolvimento de comunidades rurais por meio da geração de renda e emprego,
especialmente em áreas de recursos limitados (Miller e Lu, 2019). Apesar dos
diversos benefícios, existem desafios a serem enfrentados, como custo e processo de
produção, além da necessidade de aumentar a aceitação do leite caprino no mercado,
uma vez que seu aroma e sabor são caracteristicamente mais intensos em
comparação ao leite de vaca, que é tradicionalmente consumido pela população.
Nesse sentido, além do leite in natura, novas possibilidades de comercialização e
consumo ganham espaço, com destaque para a produção dos derivados caprinos
como queijos, doces, leite em pó, iogurtes, dentre outros. Esse beneficiamento
contribui para agregação de valor à matéria-prima, além de proporcionar novas
experiências gastronômicas aos consumidores, contribuindo também para a
popularização do consumo e ampliação do conhecimento a respeito do alimento.
Sendo assim, esse capítulo tem como objetivo ressaltar as características sensoriais e

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nutricionais do leite de cabra, bem como destacar os desafios e potencialidades da


sua produção.
REVISÃO DA LITERATURA

Caprinocultura leiteira
A produção mundial de leite de cabra foi estimada em 18,7 milhões de toneladas
em 2017 (FAO, 2019). No período de 2007 a 2017, a Ásia liderou o aumento na
produção de leite caprino (22%), seguida pela África (13%), Oceania (9%), Américas
(5%) e Europa (4 %) (Miller e Lu, 2019). Apesar das cabras produzirem apenas cerca
de 2% do suprimento anual de leite do mundo (Foroutan, et al., 2019), em alguns
países suas contribuições são altamente relevantes para o bem-estar nutricional e
econômico da população, visto que o leite caprino é uma fonte diária de proteína,
fosfato e cálcio em locais onde a disponibilidade de leite de vaca é limitada devido,
por exemplo, a condições climáticas não favoráveis à criação de bovinos (Veruck e
Prudêncio, 2018; Park, 2017).
As cabras leiteiras estão localizadas principalmente em áreas temperadas
subtropicais da Ásia, Europa e África, e estão presentes tanto em países com baixa
renda e déficit alimentar, quanto em países desenvolvidos. A maior parte do leite de
cabra que é produzido em países em desenvolvimento é utilizada para a subsistência
de famílias e para consumo próximo aos locais de produção (Pulina et al., 2018; Silva,
2014). No Brasil, as regiões Norte e Nordeste contribuem de forma significativa na
produção de leite caprino, que em sua maioria é direcionado para programas
governamentais de distribuição de alimentos.
O estado da Paraíba é o maior produtor do país, e nessa região observa-se que o
mercado é influenciado por um índice considerável de informalidade (Silva e Favarin,
2020; Silva, 2014). A região Sudeste é a segunda maior bacia leiteira do país, sendo o
estado de Minas Gerais o terceiro maior produtor de leite de cabra (IBGE, 2017).
Além disso, o Sudeste concentra a maior produção de derivados caprinos, sendo
possível observar maior nível de comercialização e aplicação das leis de mercado
(Silva, 2014; Duarte et al., 2019).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção
nacional de leite caprino atingiu um total próximo a 25 milhões de litros em 2017,
contabilizando mais de 8 milhões de cabeças, o que demonstra seu potencial no
contexto do agronegócio brasileiro (IBGE, 2017). Além disso, o Censo Agropecuário

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de 2017 revelou uma tendência de melhoria no nível tecnológico das propriedades


produtoras de leite de cabra, resultando em ganho de produtividade de cerca de 6,7
litros/cabeças/ano em relação a avaliação anterior feita em 2006. Também ocorreu
um aumento nominal de 76% no valor médio do litro de leite nesse período (Lucena,
2018).
Embora a produção de leite de cabra seja uma atividade antiga no país, ela ainda
se mostra ineficiente em criações especializadas. Para viabilizar economicamente o
investimento na atividade são necessários ajustes em diversas etapas do processo
produtivo. O custo de produção de leite de cabra pode ser alterado por diversos
fatores, como desempenho produtivo e reprodutivo, preço de venda dos produtos e
preços pagos pelos insumos (Silva e Favarim, 2020).
A inserção de inovações tecnológicas nos sistemas de produção de leite de cabra
pode auxiliar no aumento da viabilidade econômica da atividade. Isso porque o
aumento da eficiência contribui para a redução de custos e amplia as condições de
comercialização, que atualmente é o grande desafio da caprinocultura leiteira,
estando associada à aceitação, bem como ao preço dos produtos (Silva e Favarim,
2020; Wander e Martins, 2004).

Características do leite de cabra: composição, digestibilidade e alergenicidade


O leite de cabra é um alimento que possui alto valor nutricional (Neto et al.,
2021) e sua composição é semelhante à do leite de vaca, embora existam certas
diferenças específicas entre as espécies (Tabela 1). Em média, o leite de cabra contém
12,2% de sólidos totais, divididos basicamente entre gordura, proteína, lactose e
cinzas. É importante ressaltar que a composição do leite pode variar de acordo com a
dieta do animal, raça, estágio de lactação, condições ambientais, dentre outros fatores
(Park, 2017). Com a finalidade de padronizar a identidade e a qualidade do leite de
cabra destinado ao consumo humano, aprovou-se a Instrução Normativa nº 37, de 31
de outubro de 2000, na qual consta a descrição dos requisitos mínimos em relação a
porcentagem de nutrientes (Tabela 1).
As principais proteínas do leite de cabra estão divididas entre caseínas (β-
caseína, κ-caseína, αs1-caseína e αs2-caseína) e proteínas do soro (β-lactoglobulina,
α-lactalbumina, soro albumina, imunoglobulinas e lactoferrina). As caseínas
predominam com percentual de 60-80% em relação ao conteúdo de proteínas totais,
seguidas pelas proteínas do soro que representam 15- 25% do conteúdo proteico

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total. A fração β-caseína é a mais abundante no leite de cabra, diferente do leite de


vaca, no qual predomina a fração αs1-caseína. Isso confere ao leite caprino um
potencial alergênico inferior, uma vez que a hipoalergenicidade tem sido associada a
menor quantidade da fração αs1-caseina (Delgado-Junior et al., 2020; Park, 2017).

Tabela 1 – Composição dos leites de cabra e vaca e requisitos de acordo com a IN n°


37

Leite de cabra Valor de referência


Componente Leite de vaca (%)
(%) IN n° 37 (Leite de cabra)
Lactose 4,8 4,5 Mínimo 4,3% m/v
Gordura 3,9 3,7 Mínimo 2,9% m/m*
Proteína 3,1 3,4 Mínimo 2,8% m/m
Cinzas 0,8 0,7 Mínimo 0,7% m/v
Fonte: (Delgado-Júnior et al., 2020; Park et al., 2007; Brasil, 2000) *São admitidos
valores inferiores a 2,9% m/m para as variedades integral e semidesnatada, mediante
comprovação de que o teor médio de gordura de um determinado rebanho não atinge
esse nível.

Além disso, o leite de cabra apresenta maior digestibilidade quando comparado


ao leite de vaca, o que está associado principalmente a características intrínsecas de
cada leite, como composição das frações de caseína e tamanho dos glóbulos de
gordura (Figura 1) (Baltazhar et al., 2017; Neto et al., 2021).

Figura 1 - Principais fatores que influenciam na digestibilidade do leite de cabra

Cerca de 98% da gordura do leite de cabra corresponde a triacilgliceróis e o


restante (2%) inclui traços de colesterol, fosfolipídios e ácidos graxos livres. Os

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glóbulos de gordura do leite de cabra apresentam menores diâmetros, o que por sua
vez confere melhor dispersão e maior área de superfície para ação das lipases,
facilitando a digestão. A homogeneização natural do leite de cabra é um ponto
positivo em relação ao leite de vaca e seus derivados, que em geral são
mecanicamente homogeneizados (Park, 2017). Além disso, a gordura do leite caprino
impacta diretamente no sabor e odor característicos do alimento, em especial, devido
à presença dos ácidos capróico, caprílico e cáprico.
O leite de cabra também possui alta relevância do ponto de vista da saúde e
bem-estar dos indivíduos devido à presença de vitaminas e minerais, que compõem o
conteúdo de cinzas, sendo essenciais tanto em processos tecnológicos quanto em
aspectos nutricionais. O leite caprino possui níveis satisfatórios de vitamina A e
vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina e niacina), além de minerais como
cálcio, zinco, selênio, manganês e cobre (Lima et al., 2016). A lactose também
participa de forma relevante na constituição do leite de cabra, e além de contribuir
com o valor energético do alimento, também possui função de equilíbrio osmótico
durante sua produção, no qual a água presente no sangue do animal é transferida
gradativamente para o leite até que sua concentração esteja equilibrada (Santos et al.,
2019).

Beneficiamento do leite caprino


O beneficiamento do leite caprino na produção de derivados lácteos é uma
ótima estratégia para agregação de valor da matéria-prima, dada a baixa produção de
leite por animal. Além de garantir maior renda no empreendimento, a produção de
derivados do leite de cabra favorece o desenvolvimento de produtos com sabores e
aromas mais intensos. Na produção de derivados é possível produzir os mesmos
produtos que são obtidos a partir do leite de vaca utilizando-se, inclusive, os mesmos
processos tecnológicos (Delgado-Júnior et al., 2020).
Alguns dos derivados lácteos produzidos a partir do leite caprino são os
queijos, iogurtes, doces e leite em pó. Os queijos fabricados a partir do leite de cabra
estão disponíveis em diversas variedades e assim como queijos de origem bovina,
podem ser classificados como frescos ou maturados, de acordo com o teor de
umidade, gordura, consistência e tratamento da massa. Em países da Europa, o leite
de pequenos ruminantes geralmente não é consumido diretamente, sendo comum

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serem usados na produção de alimentos lácteos de nicho ou étnicos, que são


consumidos ou comercializados como produtos de alta qualidade, como por exemplo,
o queijo Feta e iogurtes, alimentos tradicionalmente incluídos na chamada dieta
mediterrânea (Pulina et al., 2018).
Devido à presença de ácidos graxos de cadeia curta em maior quantidade e,
consequentemente, sabor e aroma característicos mais acentuados, a aceitação desses
produtos normalmente é afetada, com a criação de grupos específicos de
consumidores que apreciam esses sabores. Na França e em outros países da Europa,
observa-se a preferência por queijos produzidos com fungos, maturados e, portanto,
com sabor e aroma marcantes. Já no Brasil, o consumidor costuma preferir produtos
com sabor mais suave, como por exemplo o Queijo Minas frescal (ITAL, 2017). Outra
questão está relacionada ao rendimento na produção de queijo, na qual o menor
rendimento na produção do queijo caprino em comparação com o queijo produzido
com o leite de vaca é um desafio. Isso se deve a baixa consistência do gel, que apesar
de ser benéfica para a digestão humana, favorece uma maior perda de sólidos lácteos
para o soro do leite (Park et al., 2007). Uma estratégia é investir na produção de
queijos mistos de ovelha-cabra, como o queijo Feta, e de vaca-ovelha-cabra, que são
bastante comuns em muitos países.
No mediterrâneo europeu, o leite de cabra processado é vendido para
consumo local ou desidratado para exportação (Pulina et al., 2018). O leite em pó é
um produto que possui benefícios no que diz respeito a condições de transporte e
distribuição por apresentar volume e peso reduzidos. O produto pode ser estocado na
safra e comercializado na entressafra, proporcionando menor variabilidade na
comercialização e no custo. No entanto, esse beneficiamento exige equipamento de
alto custo, sendo inviável para os pequenos produtores de leite caprino. O doce de
leite, por sua vez, não exige investimento tão elevado em sua fabricação, além de
possuir vida útil prolongada com a adoção das boas práticas de fabricação (Azevedo,
2003).
Outro derivado do leite de cabra que apresenta potencial promissor é o
iogurte, um produto de grande aceitação no mercado brasileiro e que possui
vantagens, como o baixo custo de produção. Além disso, o desenvolvimento de
bebidas adicionadas de frutas é uma alternativa para minimizar o sabor e aroma
característicos da espécie e aumentar a aceitação e intenção de compra do produto.

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Em estudo recente, Lima et al. (2015) avaliaram entre os paulistanos os


fatores que influenciam na decisão de consumo do leite de cabra e seus derivados. Os
resultados indicaram que apenas 1,8% tinham hábito de consumir o leite de cabra e
12,1% para os derivados. Os resultados indicaram que o consumo é restrito devido,
principalmente, à falta de costume da população. Entretanto, os entrevistados
ressaltaram que há potencial de elevação no consumo de ambos, desde que haja
maior disponibilidade, informação sobre o produto, além de um preço mais acessível
para o consumidor final.

CONCLUSÕES

O leite de cabra e seus derivados apresentam um significativo potencial de


mercado que pode ser explorado principalmente pelos pequenos produtores,
contribuindo com a geração de renda e emprego em comunidades rurais que
desempenham essa atividade. O beneficiamento da matéria-prima é uma estratégia
para aumentar o valor agregado e contribuir para a diversificação dos produtos. É
importante investir em inovações tecnológicas nos sistemas de produção a fim de
aumentar a produtividade e reduzir custos, otimizando a comercialização. Além disso,
é de extrema importância a divulgação de informações sobre o alimento, destacando
seus benefícios para saúde humana, uma vez que o desconhecimento gera resistência
e menor aceitação.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq pelo financiamento do projeto (n° 429033/2018-4); e pela bolsa
de produtividade a B.R.C. Leite Júnior (n°306514/2020-6) e ao apoio da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001encorajado que os autores façam seus agradecimentos a pessoas
e/ou instituições e/ou agências de fomento que contribuíram com o trabalho.

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CAPÍTULO 43

HIDRÓLISE DE PROTEÍNAS
VEGETAIS

Letícia Bruni de Souza1


Ana Flávia Coelho Pacheco2
Alécia Daila Barros Guimarães3
Isabela Soares Magalhães4
Bruno Ricardo de Castro Leite Junior5

1
Graduanda em Ciência e Tecnologia de Laticínios, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: leticia.bruni@ufv.br, ID Lattes: 3464641040535289.
2
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: ana.f.pacheco@ufv.br, ID Lattes: 5585372720703259.
3
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: aleciabarros@live.com, ID Lattes: 3203684996416845.
4
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: isabela.magalhaes@ufv.br, ID Lattes: 2459923769010942.
5
Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: bruno.leitejr@ufv.br, ID Lattes: 5096562930650660.

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HIDRÓLISE DE PROTEÍNAS VEGETAIS

RESUMO
As proteínas desempenham um importante papel para a saúde, exercendo diversas
propriedades de nutrição básica como fonte de aminoácidos para síntese proteica e
de energia. O aumento populacional e a maior conscientização da população sobre a
importância das proteínas na dieta têm favorecido a busca por fontes alternativas às
proteínas animais, em destaque, as proteínas de origem vegetal. As proteínas vegetais
são caracterizadas por serem seguras, de baixo custo e com atrativo valor nutricional.
No entanto, as proteínas vegetais geralmente apresentam uma baixa solubilidade o
que dificulta a sua aplicação industrial em uma maior gama de produtos. Assim, esse
capítulo aborda a aplicação da hidrólise enzimática de proteínas vegetais para
obtenção de hidrolisados com melhores técnico-funcionalidades, bem como na
geração de peptídeos com potenciais propriedades biológicas.
Palavras-chave: Hidrólise enzimática. Proteínas vegetais. Hidrolisados. Peptídeos.
Protease.

VEGETABLE PROTEIN HYDROLYSIS

ABSTRACT
Proteins have an important role on health, fulfilling diverse basic nutritional
properties as amino acid source for protein and energy synthesis. The populational
increase and higher awareness of the population about the importance of proteins in
their diet has favored the search for alternative sources other than animal proteins,
such as vegetable proteins. Vegetable proteins are characterized for being safe, low-
cost and with a compelling nutritional value. However, vegetable proteins usually
show lower solubility, which difficults their industrial application in a wider range of
products. Therefore, this chapter address the application of enzymatic hydrolysis of
vegetable proteins to acquire hydrolyzates with better technical-functionalities, as
well as the generation of peptides with potential biological properties.
Key-words: Enzymatic hydrolysis. Vegetable proteins. Hydrolyzed. Peptides. Protease.

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INTRODUÇÃO

Proteínas possuem diversas e importantes funções no organismo humano,


destacando-se o seu papel como fonte de aminoácidos para síntese proteica (Capriotti
et al., 2016). As proteínas de origem animal, por exemplo as do leite, apresentam
desejáveis propriedades técnico-funcionais e por essa razão, são utilizadas em
diversas formulações para o desenvolvimento de produtos alimentícios. Com o
crescimento da população e do consumo de alimentos, e a diminuição da
disponibilidade de recursos naturais, a busca por proteínas de fontes alternativas,
com as de origem vegetal tem aumento ao longo dos últimos anos (Rivero-Pino et al.,
2021).
As proteínas de origem vegetal, na sua forma nativa, são de baixo custo e
atrativo valor nutricional. Essas proteínas podem ser utilizadas pelas indústrias de
diferentes maneiras, tais como: ingredientes alimentares naturais devido às suas
propriedades como ação emulsificante, estabilizante e espessante; proteção e
carreamento de compostos bioativos e geração de peptídeos com propriedades
biológicas. Entretanto, existe um desafio na utilização dessas proteínas devido à baixa
solubilidade em água, o que dificulta a aplicação industrial em larga escala. Como
alternativa, a hidrólise dessas proteínas pode ser uma interessante estratégia para
obtenção de hidrolisados proteicos com melhores propriedades técnico-funcionais
(Omura et al., 2021).
Vários métodos podem ser utilizados para obtenção dos hidrolisados a partir da
proteína nativa. Dentre eles, a hidrólise enzimática por proteases geralmente é a mais
utilizada, uma vez que apresenta diversas vantagens como, por exemplo, a alta
especificidade e baixa toxicidade. Além disso, apresenta vantagens econômicas e
ambientais em relação aos processos químicos convencionais (Wang et al., 2018).
Os hidrolisados obtidos a partir de isolados proteicos de fonte vegetal
apresentam melhores propriedades técnico-funcionais em comparação com a
proteína nativa. Além disso, a hidrólise dessas proteínas pode levar a geração de
peptídeos com potencial biológico, tais como: atividade antidiabética, antioxidante,
anti-hipertensiva, anti-inflamatória e antimicrobiana, sendo classificados como
peptídeos bioativos (Karami e Akbari- Adergani, 2019; Martinez -Villaluenga et al.,
2017).

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Nesse contexto, esse capítulo discute sobre as principais proteínas de origem


vegetal e o potencial da hidrólise enzimática para obtenção de hidrolisados com
melhores propriedades técnico-funcionais e geração de peptídeos com potencial
biológico.

PROTEÍNAS DE ORIGEM VEGETAL


Devido a globalização, é crescente a busca por proteínas de fontes alternativas,
como, por exemplo, as proteínas de origem vegetal (Singh et al., 2014; Tovar-Pérez et
al., 2019). Essa procura por outras fontes, tem sido atribuído a diversos fatores tais
como: redução de custos, demandas dietéticas religiosas, mudanças relacionadas ao
estilo de vida (vegetarianos e veganos) e pessoas com restrição a proteína animal
(Aiking, 2011; Henchion et al., 2017). Proteínas vegetais podem ser extraídas de
diversas fontes, como vegetais folhosos, leguminosas, cereais e sementes, que
habitualmente são classificados como subprodutos ou resíduos agroindustriais
(Nasrabadi et al., 2021).
Dentre as proteínas vegetais, destaque-se as de soja, o amendoim e o girassol. As
proteínas da soja apresentam qualidade similar com as proteínas de origem animal,
em termos de aminoácidos essenciais. Além disso, essas proteínas se mostram
vantajosas por serem mais disponíveis para a população e mais baratas (Damodaran
et al., 2010; Rodrigues et al., 2012).
Proteínas vegetais vem sendo utilizadas na indústria de alimentos devido a boa
qualidade nutricional e atrativas propriedades técnico-funcionais, incluindo atividade
espessante e gelificante, estabilização de emulsões e espumas e retenção de óleo e
água (Alavi et al., 2021). Entretanto, algumas proteínas vegetais apresentam alguns
desafios devido à baixa flexibilidade estrutural, o que não é favorável para adsorção
dessas proteínas na superfície das gotículas de óleo, limitando suas propriedades
interfaciais e emulsificantes (Yan et al., 2021). Além disso, há baixa solubilidade em
meio aquoso, característica de proteínas vegetais, o que impacta diretamente em
diversas técnico-funcionalidades (Omura et al., 2021).
Dessa forma, modificações em suas estruturas podem ser requeridas para
adequação às necessidades tecnológicas da indústria. Com isso, uma estratégia para
potencializar as propriedades técnico-funcionais dessas proteínas é a aplicação da
hidrólise para a obtenção de hidrolisados proteicos que podem desempenhar

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propriedades técnico-funcionais superiores em relação à proteína nativa. Além disso,


essas proteínas são fontes promissoras de peptídeos que podem agir como agentes
nutracêuticos por apresentar propriedades biológicas, sendo denominados nesses
casos como peptídeos bioativos (Karami e Akbari-Adergani, 2019; Martinez-
Villaluenga et al., 2017). Uma estratégia para obtenção desses hidrolisados, é a
hidrólise enzimática ou a hidrólise química (Chourasia et al., 2020; Karami e AkbarI-
Adergani, 2019).
A hidrólise enzimática é um dos métodos mais utilizados para obtenção de
hidrolisados, e tem como vantagens a alta especificidade ao substrato e alta taxa de
catálise em condições ótimas de temperatura e pH. Além disso, a hidrólise enzimática
geralmente requer menor número de etapas e resultam em menor geração de
resíduos quando comparadas com os processos químicos.

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PROTEÍNAS VEGETAIS


As proteases são uma classe de enzimas que possuem a capacidade de catalisar
as reações de hidrólise de proteínas e desempenham um importante papel em
processos bioquímicos industriais (Wang et al., 2018). Comparada com a hidrólise
química, o uso de enzimas proteolíticas oferece algumas vantagens como maior
especificidade ao substrato e baixa toxicidade (Soares et al., 2019; Soares et al.,
2020). As proteases catalisam a reação de hidrólise das ligações peptídicas das
proteínas intactas liberando hidrolisados de vários tamanhos e diferentes
composições de aminoácidos, ou até mesmo, aminoácidos livres, o que confere
características importantes para o desenvolvimento de novos processos e produtos
(Figura 1).

Figura 1: Hidrólise de proteínas por proteases.

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Durante a hidrólise enzimática as propriedades técnico-funcionais das proteínas


são alteradas, pois além de gerar peptídeos de diversos tamanhos, à clivagem das
ligações peptídicas leva a um aumento dos grupos amino e carboxílico ionizáveis e
permite a exposição de grupos hidrofóbicos (Agyei et al., 2016). Diferentes proteases
podem ser aplicadas no processo de hidrólise, as quais podem ser classificadas de
acordo com sua origem (animal, vegetal ou microbiana), tipo de reação catalítica
(endo e exopeptidase) e natureza química do sítio catalítico.
As enzimas obtidas de microrganismos são preferidas em relação as obtidas de
vegetal e animal devido as vantagens como facilidade para manipulação genética,
grande disponibilidade devido à ausência de sazonalidade e capacidade de produção
em massa (Rana et al. 2013; Anbu et al., 2015). Na Tabela 1 são apresentados
exemplos de proteases microbianas utilizadas para a hidrólise de proteínas.

Tabela 1: Proteases microbianas.


Condições ótimas de atividade
Protease
pH Temperatura Microrganismo
comercial
(°C)
Alcalase 6,5 - 8,5 60 Bacillus licheniformis
Flavourzyme 5 50 Aspergillus oryzae
Bacillus
Neutrase 7 40 - 50
amyloliquefaciens
Protamex 8 60 Bacillus sp
Fonte: Adaptada de Aguilar e Sato, 2018.

As endopeptidases clivam as ligações peptídicas no interior da cadeia, enquanto


as que proteases que clivam nas extremidades da cadeia são classificadas como
exopeptidase. A natureza do sítio catalítico define a classificação das proteases em
serina, cisteína, aspárticas, glutâmico ou metaloproteínas, dependendo do tipo de
aminoácido ou íon metálico presente no seu sítio ativo (Aguilar e Sato, 2018; Muri,
2014; Sumantha; et al., 2006).
O tipo de protease utilizada na hidrólise enzimática de proteínas é muito
importante, pois dita os padrões de clivagem das ligações peptídicas e, dessa forma,
influencia no grau de hidrólise (Shahidi e Zhong, 2008). A especificidade das enzimas

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ao substrato também irá influenciar no grau de hidrólise e, está relacionada com os


aminoácidos envolvidos na ligação peptídica a ser hidrolisada e com aqueles
adjacentes a ela. Por exemplo, a Alcalase é uma endopeptidase com ampla
especificidade e preferência por resíduos não carregados, como Ser, Thr, Asp e Glu
(Markland e Smith, 1971). Já a Flavourzyme é uma mistura natural complexa de
diferentes endo e exopeptidases sem especificidade na quebra de ligações peptídicas
(Blinkovsky et al., 1999).
Uma combinação entre proteases com diferentes especificidades tem sido
empregada, pois pode resultar em aumento no grau de hidrólise (Habinshuti et al.,
2020). Além disso, as condições de hidrólise enzimática, que inclui a relação enzima-
substrato (E/S), temperatura, pH e tempo de hidrólise também irão afetar o grau de
hidrólise, bem como as características dos hidrolisados obtidos como o tamanho e a
sequência de aminoácidos (Tsou et al., 2010; Sarmadi e Ismail, 2010; Bah et al.,
2016).

PROPRIEDADES TÉCNICO-FUNCIONAIS
Os hidrolisados obtidos de proteínas vegetais podem ser utilizados como
ingredientes alimentares naturais em diversas formulações devido ao potencial
técnico-funcional. Essas propriedades variam de acordo com o tipo, a sequência e o
peso molecular dos aminoácidos (Agyei et al., 2016). A Tabela 2 demonstra algumas
propriedades técnico-funcionais desempenhadas por hidrolisados de proteínas
vegetais. A solubilidade é uma das principais técnico-funcionalidades das proteínas. É
um fator crucial para aplicações em alimentos, porque afeta outras propriedades
funcionais, como capacidade de emulsificação e formação de espuma (Görgüç et al.,
2020; Li et al., 2020).
Bučko et al. (201 ) estudaram a influência da hidrólise enzimática na
solubilidade, propriedades interfaciais e emulsificantes do isolado de proteína de
semente de abóbora (IPSA). Com a hidrólise enzimática, a solubilidade dos
hidrolisados de IPSA aumentou em relação a IPSA nativa em toda a faixa de pH
testada. A investigação tensiométrica mostrou que IPSA e seus hidrolisados
adsorveram nas interfaces da solução ar-proteína e da solução óleo-proteína em todo
o pH e força iônica testados. Isso foi evidenciado devido ao aumento na tensão
superficial/ interfacial após um aumento na concentração de proteína em a solução.

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IPSA nativa não apresentou capacidade emulsificante nas condições avaliadas, em


contraste, seus hidrolisados apresentaram capacidade emulsificante
independentemente do pH e da força iônica.

Tabela 2: Propriedades técnico-funcionais de hidrolisados obtidos de proteínas


vegetais.

Propriedades técnico-funcionais
Fonte de proteína Referência
potencializadas

Solubilidade, capacidade de retenção de Phongthai et al.


Farelo de arroz água e óleo, capacidade emulsificante, (2016); Hou et al.
capacidade de formação de espuma (2017)

Semente de Capacidade de retenção de água e óleo,


Sogi et al. (2002)
tomate capacidade emulsificante

Ghribi et
Solubilidade, atividade emulsificante,
Grão de bico al. (2015); Felix et
estabilidade da emulsão
al. (2019)

Solubilidade, capacidade de retenção de


Amendoim água e óleo, capacidade emulsificante, Yu et al. (2007)
capacidade de formação de espuma

Solubilidade, capacidade emulsificante, Zheng et al.


Caroço de dendê
capacidade de formação de espuma (2015)

Pintado et al.
Capacidade emulsificante, estabilidade da
Semente/farinha (2018);
emulsão, capacidade gelificantes,
de Chia Fernandez-Lopez
capacidade de retenção de água e óleo
et al. (2019)

Farinha de
Al-Juhami et al.
semente Capacidade de retenção de água e óleo
(2016)
de Moringa

Talukder e
Farelo de trigo e Capacidade de retenção de água e óleo,
Sharma (2010);
Farelo de capacidade emulsificante, estabilidade da
Pintado et al.
aveia emulsão
(2018)

Em outro estudo, Fathollahy et al. (2021), estudaram as propriedades técnico-


funcionais do isolado de proteína de semente de lima persa (IPSLP) e seus

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hidrolisados obtidos a partir da hidrólise enzimática utilizando as proteases


comerciais: Alcalase, Protamex, Neutrase e a mistura delas na proporção 1:1:1
(m/m). Os resultados mostraram que o grau de hidrólise foi maior para o tratamento
com enzimas mistas (39,19%), seguida dos tratamentos por Alcalase (33,80%),
Neutrase (20,05%) e Protamex (18,23%). Em relação às propriedades técnico-
funcionais, os hidrolisados desta proteína apresentaram melhores propriedades de
solubilidade, emulsão e formação de espuma, capacidade de retenção de água (CRA) e
óleo (CRO) do que IPSLP nativa.
A propriedade de emulsificação é definida como a capacidade do hidrolisado
de formar uma emulsão por adsorção na interface água-óleo diminuindo a tensão
interfacial. Já a estabilidade da emulsão é a capacidade de estabilizar a emulsão sem
formar coalescência e floculação durante um período de tempo. As estruturas
anfifílicas dos hidrolisados proteicos permitem reduzir a tensão interfacial e
estabilizar a interface óleo/água devido a parte hidrofílica se ligar a água e a parte
hidrofóbica se ligar ao óleo. Pham et al. 2019 observaram que os hidrolisados de
farinha de linhaça foram eficazes para estabilizar a interface óleo/água.
As propriedades emulsificantes de hidrolisados dependem de sua
hidrofobicidade de superfície, solubilidade, flexibilidade e método de extração, bem
como de fatores do meio como pH, força iônica e presença de outros componentes
(Can et al., 2015). Khalid et al. (2003) revelaram que a capacidade de emulsão de
hidrolisados de semente de gergelim são altamente dependentes do pH do meio,
nesse caso, as condições alcalinas na extração melhoraram a capacidade de emulsão
dos peptídeos.

PROPRIEDADES BIOLÓGICAS
As atividades biológicas desempenhadas por peptídeos obtidos a partir da
hidrólise das proteínas vegetais também variam de acordo com o tipo, a sequência e o
peso molecular dos aminoácidos (Agyei et al., 2016). A Tabela 3 apresentada algumas
propriedades biológicas desempenhadas por peptídeos derivados de proteínas
vegetais.
A capacidade antioxidante é uma das propriedades biológicas mais estudadas, e
isso é devido a sua correlação com a diminuição de diversos fatores de risco de
doenças (Sarmadi e Ismail, 2010). A tirosina e a histidina são exemplos de

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aminoácidos responsáveis pela atividade antioxidante. Peptídeos contendo esses


aminoácidos desempenham atividade antioxidante devido a doação de hidrogênio.
Em geral, a maioria dos peptídeos que desempenham atividades antioxidantes tem 4
a 16 unidades de aminoácidos com peso molecular de 0,4–2 kDa (Görgüç et al., 2020;
Li et al., 2020). Più et al. (2014) e Adebiyi et al. (2009) estudaram os peptídeos
obtidos pela hidrólise enzimática de proteína de farelo de arroz, e os resultados
relataram que os peptídeos obtidos desempenharam significativas atividades
antioxidantes.

Tabela 3: Propriedades biológicas de peptídeos obtidos de proteínas vegetais.

Fonte de proteína Propriedades biológicas Referência

Phongthai et al.
Farelo de arroz Atividade antioxidante
(2016)

Atividade antioxidante, atividade Felix et al.


Grão de bico
inibidora do ECA (2019)

Segura-Campos
Farinha de chia Atividade antimicrobiana
et al. (2013)

Semente de Wen et al.


Atividade antioxidante
melancia (2019)

Couve-flor Atividade anti-hipertensiva Xu et al. (2017)

Atividade antioxidante, atividade Marambe et al.


Linhaça
inibidora do ECA (2008)

Semente Atividade antioxidante, atividade Garza et


de Moringa inibidora do ECA, atividade antidiabética al. (2017)

Os peptídeos com capacidade anti-hipertensiva desempenham efeitos redutores


da pressão arterial. A hipertensão pode levar a doenças cardiovasculares e renais,
arteriosclerose e acidente vascular cerebral. Assim, a enzima conversora da
angiotensina I (ECA) desempenha uma função crítica por catalisar a conversão da
angiotensina I em angiotensina II, resultando em aumento da pressão arterial.
Peptídeos com presença de resíduos de aminoácidos aromáticos no terminal C e
resíduos de aminoácidos hidrofóbicos no terminal N tem demonstrado atividade
inibitória da atividade da ECA. Esses peptídeos têm cadeia curta, de 2-12 aminoácidos

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(Görgüç et al., 2020). Li et al. (2007) realizaram a hidrólise das proteínas de arroz
com alcalase obtendo um forte peptídeo inibidor do ECA, que foi capaz de diminuir a
pressão arterial em ratos.
A capacidade antimicrobiana se dá por peptídeos que podem causar a ruptura
das membranas celulares. Esses peptídeos são ricos em resíduos hidrofóbicos,
incluindo leucina, isoleucina, valina, fenilalanina e triptofano. Os peptídeos com
propriedades antimicrobianas podem ser compostos de 20 a 46 unidades de
aminoácidos (Görgüç et al., 2020). Segura-Campos et al. (2013) relataram que a
adição dos hidrolisados de farinha de chia (Salvia hispânica L.) inibiu o crescimento
de microrganismos gram-negativos (E. coli, S. typhi, S. flexneri) e bactérias gram-
positivas (K. pneumonia, S. aureus, B. subtilis, S. agalactae).

CONCLUSÕES

Diversos estudos têm demonstrado que a hidrólise enzimática de proteínas


vegetais leva a geração de hidrolisados com interessantes propriedades técnico-
funcionais e podem ser fontes potenciais de peptídeos com propriedades biológicas.
Do ponto de vista tecnológico, os hidrolisados proteicos podem conferir aumento da
capacidade de retenção de água, atividade emulsificante, espumante, gelificante e
outros em produtos alimentícios.
Além disso, é grande a possibilidade de utilizar peptídeos biologicamente ativos
como ingredientes multifuncionais, uma vez que diversos estudos mostraram
resultados eficazes. Assim, pode-se afirmar que o uso de hidrolisados proteicos de
origem vegetal e suas frações peptídicas como ingredientes técnico-funcionais e
nutracêuticos é possível. Os esforços de pesquisa futuros devem ser direcionados
para a avaliação dos efeitos in vivo e da biodisponibilidade em seres humanos. Além
disso, a segurança desses produtos à base de peptídeos também deve ser avaliada
antes da comercialização.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq pelo financiamento do projeto (n° 429033/2018-4); pela bolsa de
produtividade a B.R.C. Leite Júnior (n°306514/2020-6); pela bolsa de iniciação

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científica concedida a L. B. de Souza e pelas bolsas de mestrado concedidas a A. D. B.


Guimarães e a I. S. Magalhães; a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior – Código de Financiamento 001) pela bolsa de doutorado concedida
a A. F. C. Pacheco.

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CAPÍTULO 44
USO DO ULTRASSOM PARA
POTENCIALIZAR A HIDRÓLISE
ENZIMÁTICA

Ana Flávia Coelho Pacheco1


Letícia Bruni de Souza2
Alécia Daila Barros Guimarães 3
Isabela Soares Magalhães4
Bruno Ricardo de Castro Leite Junior5

1
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), VIÇOSA, MG, email: ana.f.pacheco@ufv.br, ID Lattes: 5585372720703259.
2
Graduanda em Ciência e Tecnologia de Laticínios, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), VIÇOSA, MG, email: leticia.bruni@ufv.br, ID Lattes: 3464641040535289.
3
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), VIÇOSA, MG, email: aleciabarros@live.com, ID Lattes: 3203684996416845.
4
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), VIÇOSA, MG, email: isabela.magalhaes@ufv.br, ID Lattes: 2459923769010942.
5
Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), VIÇOSA, MG, email: bruno.leitejr@ufv.br, ID Lattes: 5096562930650660.

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USO DO ULTRASSOM PARA POTENCIALIZAR A HIDRÓLISE ENZIMÁTICA

RESUMO
As enzimas são catalisadores altamente específicos com alta eficiência para acelerar
as reações bioquímicas. Desta forma, as enzimas reduzem a energia de ativação
necessária para transformar o substrato em produto, permanecendo inalteradas no
final. Além da alta especificidade, as reações enzimáticas apresentam baixa
toxicidade. No entanto, o alto custo das enzimas, o longo tempo das reações e as
condições ótimas da enzima diferente das condições viáveis de processo limita a
aplicação de alguns processos em escala industrial. A tecnologia de ultrassom (US)
possui a capacidade de modificar as estruturas dos constituintes, sendo capaz de
melhorar o desempenho enzimático agindo em diferentes alvos: enzimas, substratos
e reações assistidas. Esse capítulo discute o efeito positivo induzido pelo ultrassom
nas reações enzimáticas, incluindo modificação estrutural da enzima e do substrato e
o aumento da transferência de energia e massa nas reações enzimáticas assistidas por
ultrassom.
Palavras-chave: Ultrassom. Hidrólise enzimática. Enzima. Substrato. Reação assistida.

USE OF ULTRASOUND TO ENHANCE ENZYMATIC HYDROLYSIS

ABSTRACT
Enzymes are highly specific catalysts with high efficiency to accelerate biochemical
reactions. In this way, the enzymes reduce the activation energy needed to transform
the substrate into a product, remaining unchanged in the end. In addition to their
high specificity, enzymatic reactions have low toxicity. However, the high cost of
enzymes, the long time of reactions and the optimum conditions of the enzyme
different from the viable process conditions limit the application of some processes
on an industrial scale. Ultrasound technology (US) can modify the structures of the
constituents, being able to improve the enzymatic performance acting on different
targets: enzymes, substrates, and assisted reactions. This chapter discusses the
positive effect induced by ultrasound on enzymatic reactions, including structural
modification of the enzyme and substrate and increase of energy and mass transfer in
ultrasound-assisted enzymatic reactions.
Keywords: Ultrasound. Enzymatic Hydrolysis. Enzyme. Substrate. Assisted reaction.

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INTRODUÇÃO

Enzimas são catalisadores biológicos responsáveis por uma infinidade de


reações bioquímicas (Wang et al., 2018). São indispensáveis para nossa sobrevivência
e ao longo dos anos vem desempenhando papéis importantes na indústria
farmacêutica, no setor alimentício, na produção de biodiesel, na produção de rações,
couro, tecidos e papel, no tratamento de efluentes, entre outras aplicações.
Cada enzima apresenta uma determinada especificidade, agindo em um ou mais
substratos particulares convertendo-os em um determinado produto ou produtos.
Elas aumentam a velocidade das reações químicas reduzindo a energia de ativação
necessária para converter o substrato em produto, sem alterar o equilíbrio da reação
e sem serem consumidas durante o processo (Wang et al., 2018).
As principais vantagens do uso de enzimas em processos bioquímicos quando
comparadas com procedimentos convencionais e baseados em hidrólise química é a
maior especificidade pelo substrato, alta taxa de reação em condições ótimas de
temperatura e pH e menores problemas ambientais e toxicológicos (Soares et al.,
2019; Soares et al., 2020). Além disso, as enzimas podem ser modificadas por vários
processos. No entanto, a aplicação industrial de enzimas é limitada devido a algumas
desvantagens, dentre elas a baixa estabilidade nas condições de processo, baixa taxa
de conversão, longo tempo de reação e alto consumo de energia (Xu et al., 2020).
Diante do exposto, tecnologias não-convencionais como alta pressão isostática,
homogeneização à alta pressão e ultrassom surgem como uma alternativa para
aumentar a eficiência catalítica das enzimas e, consequentemente, reduzir os custos
operacionais e aumentar a produção. O ultrassom (US) tem sido reconhecido como
uma das tecnologias emergentes mais promissoras com crescente interesse comercial
devido as vantagens como o baixo custo, condições operacionais simples, facilidade
de controle e ecologicamente amigável. Essa tecnologia se baseia na propagação de
ondas sonoras com frequências maiores que o limite humano audível (> 20 kHz)
(Soares et al., 2019; Soares et al., 2020).
Baseado nisso, esse capítulo tem como objetivo discutir sobre os efeitos
positivos induzidos pelo US para potencializar as reações enzimáticas, incluindo a
modificação ultrassônica de enzimas, substratos, bem como as reações enzimáticas
assistidas por US.

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REVISÃO DA LITERATURA

Enzimas como catalisadores biológicos


As enzimas são macromoléculas que apresentam a função biológica de catalisar
reações bioquímicas (Wang et al., 2018). Esses biocatalisadores aceleram as reações
fornecendo uma via de reação alternativa de menor energia de ativação e podem ser
extraídos de tecidos animais, vegetais e de microrganismos. As enzimas extraídas de
microrganismos são preferidas em relação as obtidas de vegetais e animais devido as
vantagens como facilidade para manipulação genética, grande disponibilidade devido
à ausência de sazonalidade e capacidade de produção em massa (Rana et al. 2013;
Anbu et al., 2015).
As enzimas podem ser aplicadas em vários segmentos industriais, tais como na
área química, farmacêutica, médica, têxtil, detergentes, biocombustível, de alimentos
e bebidas, entre outras. Na reação de catálise, a enzima se liga ao substrato por meio
do sítio ativo, que é a porção da molécula que interage com o substrato formando um
complexo enzima/substrato, que posteriormente dissocia-se, com a liberação do
produto e da enzima que permanece inalterada e pode reagir novamente (Blanco e
Blanco, 2017; Doble et al., 2004).
De acordo com a Tabela 1, as enzimas podem ser divididas em seis principais
classes com base no tipo de reações que catalisam:
As enzimas podem ser encontradas naturalmente nos alimentos ou serem
adicionadas intencionalmente para desempenhar funções catalíticas especificas e de
interesse industrial. A indústria de alimentas é um dos setores onde se tem maior
variedade de aplicações de enzimas, sendo elas responsáveis por:
 Controlar a qualidade de diversos alimentos (sua presença ou ausência em
alimentos tem um grande impacto no controle da qualidade do produto final);
 Modificar as diversas propriedades dos alimentos (propriedades físico-químicas
e reológicas por exemplo);
 Serem utilizadas como aditivos alimentares, entre outras.

As enzimas são exploradas em vários processos bioquímicos devido as suas


propriedades únicas, como alta especificidade ao substrato, alta taxa de catálise em
condições ótimas de temperatura e pH, capacidade de desempenho com rendimento

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melhorado, além de geralmente requerem menor número de etapas e resultam em


menor geração de resíduos quando comparadas com os processos químicos (Belitz et
al., 2009). No entanto, apesar da elevada qualidade dos produtos obtidos por ação
enzimática, sua utilização em processos industriais em larga escala apresenta
algumas limitações. As principais são: o alto custo das enzimas comerciais, diferença
entre as condições ideais de processo (pH e temperatura) e as condições ótimas da
enzima, longo tempo de reação com limitada taxa de conversão e baixa estabilidade
nas condições de processo.

Tabela 1: Principais classes de enzimas com base no tipo de reações que catalisam.
Classe de enzimas Tipo de reação catalisada
Oxirredutases Catalisam as reações de oxirredução ou transferência de
elétrons.
Transferases Transferem grupos funcionais como amina, fosfato, acil,
carboxil, entre moléculas.
Hidrolases Catalisam as reações de hidrólise de ligação covalente.
Liases Adição de grupos a duplas ligações ou remoção de grupos
deixando dupla ligação.
Isomerases Reações de interconversão entre isômeros ópticos ou
geométricos.
Ligases Condensação de duas moléculas, sempre às custas de
energia, geralmente do ATP.

Diante disso, novas metodologias têm sido estudadas com o intuito de alterar ou
aprimorar as propriedades das enzimas existentes, visando a redução custos e a
adequação aos requisitos de aplicações industriais, sendo o ultrassom uma
alternativa (Wang et al., 2018; Munir et al., 2019). Os processos enzimáticos
realizados sob a ação do ultrassom são afetados em parte por fenômenos de cavitação
e aumento de transferência de energia e massa.

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Tecnologia de ultrassom para potencializar a hidrólise enzimática


O US se baseia na propagação de ondas sonoras com frequência acima do limiar
da audição humana (~ 20 kHz). A aplicação do US pode ser dividida em alta
intensidade - baixa frequência (intensidade de 10-1000 W/cm2 e frequência de 20 –
100 kHz) e baixa intensidade - alta frequência (intensidade <1 W/cm2 e frequência >
1 MHz) (Munir et al., 2019). Essa tecnologia apresenta diversas vantagens como o
baixo custo, condições operacionais simples, facilidade de controle e ecologicamente
amigável.
A aplicação do US na indústria de alimentos tem evoluído ao longo dos anos,
sendo utilizada para diferentes fins como por exemplo, na modificação do
desempenho enzimático, que pode causar ativação, dependendo das condições de
processo e da estrutura da enzima. As condições de processos que irão influenciar no
desempenho das enzimas são: temperatura, pH, tempo, densidade de energia
acústica, potência e frequência ultrassônica.
Nos processos de reações enzimáticas, o US pode ser aplicado usando dois tipos
de dispositivos: banho ultrassônico ou equipamento de ultrassom tipo sonda (Figura
1), sendo ambos os sistemas baseados em um transdutor como fonte de energia.

Figura 1: Sistemas ultrassônicos comumente utilizados (A) banho de ultrassom e (B)


ultrassom tipo sonda.

O banho ultrassônico é o mais conhecido, e é composto basicamente por um


tanque de aço inoxidável com um ou mais transdutores ultrassônicos, podendo ser
equipados com controle de temperatura. Esses transdutores são fixados na parte

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inferior do tanque e a energia ultrassonora é transmitida através de um líquido,


ocorrendo muita dispersão de energia. Já no equipamento de ultrassom tipo sonda,
existe um contato direto entre a sonda e a amostra, e são utilizadas para amplificar o
sinal ultrassônico gerado a partir de um transdutor (Mulet et al., 2003; Leadley e
Williams, 2006; Gogate e Kabadi, 2009). Em comparação com os sistemas de banho,
as sondas ultrassônicas permite atingir altas potências, no entanto, a intensidade
diminui exponencialmente ao se afastar da sonda, além de apresentar um custo mais
elevado e um alto grau de desgaste, limitando sua aplicação (Gogate e Kabadi, 2009).
O emprego do US em conjunto com a reação enzimática pode ser usado em três
abordagens: como um pré-tratamento para a enzima, como um pré-tratamento para o
substrato ou durante a reação assistida por US (Figura 2) (Soares et al., 2019; Soares
et al., 2020; Wang et al., 2018).

Figura 2: Diferentes abordagens para utilização do ultrassom durante uma catálise


enzimática.

Quando as ondas sonoras se propagam pelo meio, causam um deslocamento


longitudinal das partículas, criando uma série de ciclos alternados rarefação e

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compressão no meio. Esses ciclos podem gerar um fenômeno conhecido como


cavitação, que nada mais é que a formação, crescimento e colapso de bolhas. As
bolhas de cavitação crescem durante os ciclos de rarefação e diminuem durante as
fases de compressão (Perera e Alzahrani, 2021). O colapso das bolhas produz uma
grande quantidade de energia em uma pequena área que resulta em alta temperatura
e pressão em pontos específicos em curtos períodos de tempo (milissegundos), o que
pode gerar turbulência e alta força de cisalhamento na zona de cavitação (Figura 3)
(Vargas et al., 2021; Wang et al., 2020; Wang et al., 2021).

Figura 3: Mecanismo de cavitação do US.

Além dos efeitos físicos, a cavitação pode induzir também alterações


químicas. Durante a cavitação, a alta temperatura e alta pressão localizada gerada
podem levar a sonólise das moléculas de água, promovendo a formação de radicais
hidroxil, sendo que esses radicais podem reagir com outras substancias químicas
presentes no meio. Os efeitos físicos são proeminentes em baixas frequências (20
kHz), enquanto os efeitos químicos são mais proeminentes em altas frequências
(300-500 kHz) (Munir et al., 2019).
A combinação desses fatores tem uma variedade de efeitos que são os principais
responsáveis por destruir a camada protetora do substrato, ou seja, desfaz agregados

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de substrato e remove a cutícula indigestível, tornando o substrato mais acessível ao


ataque da enzima, melhorando assim a reatividade da enzima ao substrato. Também
podem ocorrer modificações na estrutura das enzimas como a exposição de novos
sítios ativos resultando em aumento da atividade enzimática. Além disso, o processo
pode reduzir a barreira de difusão entre a enzima e o substrato, aumentando a
transferência de energia e massa durante o processo devido ao aumento da
frequência de contato entre o substrato e a enzima, acelerando as reações
enzimáticas assistidas por US (Mulinari et al., 2017; Soares et al., 2020; Wang et al.,
2021).
De forma geral, os estudos têm focado mais no efeito do pré-tratamento com US
no substrato. No entanto, estudos avaliando o efeito do pré-tratamento com US na
enzima, bem como reação de hidrólise enzimática assistida por US também são
relatadas. A seguir será abordado com mais detalhes o efeito do US nos três alvos nas
reações enzimáticas: a enzima, o substrato e o sistema de reação assistida.

Efeito do ultrassom na enzima


A aplicação do ultrassom em reações enzimáticas mostra grande potencial para
aplicações industriais. O US pode ter efeitos positivos na atividade enzimática e pode
ser usado para acelerar reações devido à mecanismos físicos e/ou químicos. Tais
mecanismos podem causar modificações nas estruturas das enzimas permitindo a
exposição de novos sítios ativos promovendo uma maior interação com o substrato
(Wang et al., 2018).
A modificação da enzima é possível devido ao fato da maioria das enzimas
serem proteínas cuja conformação nativa é estabilizada por interações hidrofóbicas,
ligação de hidrogênio, interações de van der Waals e forças eletrostáticas, que podem
ser afetadas por diversos fatores físicos e/ou químicos. Geralmente, a atividade
catalítica da enzima depende da configuração nativa do sítio ativo. Assim, se o sítio
ativo for de natureza hidrofóbica, provavelmente irá se encontrar no interior da
estrutura da enzima, necessitando de modificações para sua exposição (Wang et al.,
2018; Munir et al., 2019).
Geralmente, um tratamento ultrassônico em condições específicas, ou seja,
baixa intensidade e curta duração pode proporcionar uma melhoria na atividade
enzimática, enquanto a exposição prolongada pode resultar em perda progressiva da

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estabilidade levando a desnaturação enzimática e assim, perda parcial ou total de sua


atividade. (Delegado-povedano e Castri, 2015).
Souza et al. (2013) estudaram a atividade de uma amilase comercial sob
irradiação assistida por US. Para isso, o processamento de US foi realizado em
diferentes condições de pH e temperatura. Os resultados demonstraram que a enzima
sob irradiação assistida por US apresentou atividades cerca de 3 vezes maiores para
temperaturas de até 40 °C.
Ma et al. (2011) estudaram o efeito do US na atividade da Alcalase em diferentes
condições de potência por 5 minutos, bem como o efeito da duração do tratamento
ultrassônico. Os resultados mostraram que a Alcalase apresentou atividade máxima
na potência ultrassônica de 80 W, sob o qual a atividade da enzima foi aumentada em
4,9%. Já em potências maiores que 80 W, a atividade de Alcalase diminuiu
gradualmente. Porém, em todas as intensidades testadas, o ultrassom produziu efeito
positivo na atividade, resultando em maior atividade da enzima pré-processada por
US. O efeito da duração do tratamento ultrassônico levou a uma maior atividade da
Alcalase quando ela foi tratada com ultrassom a 80 W por 4 min, na qual a atividade
da enzima foi aumentada em 5,8% em comparação com o controle.
Yu et al. (2014), estudaram o efeito do ultrassom (US) na atividade e
conformação das enzimas α-amilase, papaína e pepsina. Os resultados mostraram que
o US diminui a atividade das enzimas α-amilase e papaína nos tempos de 30 e 60 min.
Quando o tempo ultrassônico atingiu 0 min, a atividade da α-amilase diminuiu
82,86% e da papaína diminui de 29,44%. Já a atividade da pepsina diminui
ligeiramente após 30 min e, aumentou significativamente 14,55% quando atingiu 60
min. Além disso, as análises de dicroísmo circular (DC), espectroscopia no
infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) e espectroscopia de fluorescência
mostraram que o US induziu mudanças conformacionais nas estruturas enzimáticas.

Efeito do ultrassom no substrato


O US pode alterar as características dos substratos. Durante algumas reações de
hidrólise enzimática, o US pode romper a camada protetora do substrato que impede
que a reação catalítica ocorra. Além disso, o US pode diminuir o tamanho de
partículas, gerando estruturas com menor tamanho e melhor distribuição,
aumentando assim transferência de massa, além de desfazer agregados e desdobrar

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as estruturas dos substratos aumentando a área superficial, podendo dessa forma


acelerar a reação (Hielscher, 2005; Wang et al., 2018; Abbas et al, 2013).
A extensão das mudanças estruturais induzidas pelo US depende das
propriedades dos substratos, isto é, sua composição, comprimento da cadeia,
conformação da cadeia, peso molecular e ligações envolvidas (Wang et al., 2018).
Dalagnol et al. (2017), estudaram o efeito do ultrassom de banho (40 kHz, 23
W/L, 30 °C) como um pré-tratamento na celulose (10 min) e xilanase (5 min). Os
resultados mostraram que a atividade enzimática da celulase e xilanase aumentou de
17% e 25%, respectivamente.
Liang et al. (2017), investigaram o efeito do ultrassom de baixa frequência
(USBF) na hidrólise enzimática da proteína do milho. Para isso, a proteína de milho
foi pré-tratada com USBF antes do processo de hidrólise. Os resultados mostraram
que o pré-tratamento da proteína de milho com USBF (5 W/L, 50 °C por 25 min)
levou a um aumento de 5,42% no grau de hidrólise.

Reações enzimáticas assistidas por ultrassom


A reação enzimática é uma etapa crítica durante muitos processos bioquímicos,
pois métodos enzimáticos convencionais requerem um tempo significativamente
longo e o grau de hidrólise sempre tem limitações, por exemplo, ao longo do processo
enzimático, a transferência de massa é uma restrição vital. Neste contexto, o uso de
US para auxiliar as reações enzimáticas tem atraído muito interesse (Wang et al.,
2018).
Os estudos de reações enzimáticas assistidas por ultrassom visam sempre
acelerar a taxa de reação. Durante as reações assistidas por US, os efeitos físicos e
químicos reduzem a barreira de difusão entre a enzima e o substrato, aumentando a
transferência de massa durante o processo por aumentar a frequência de contato
entre o substrato e a enzima, acelerando as reações enzimáticas assistidas por US
(Soares et al., 2020; Wang et al., 2021).
Sun et al. (2015), avaliaram a reação de hidrólise do xilano pela ação da xilanase
assistida por um ultrassom de banho (40 kHz, 200 W, 50 °C, 30 minutos). Os autores
observaram um aumento no conteúdo de xilooligossacarídeos em comparação com a
reação realizada apenas com a enzima.

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Ma et al. (2016), investigaram o efeito da aplicação do ultrassom de sonda (22


kHz, 4,5 W/ml, 20 °C, 10 minutos) na hidrólise de pectina catalisada por pectinase. De
acordo com os resultados, o processo de hidrólise sob US foi acelerado em relação à
hidrólise convencional, com um aumento de 25% na velocidade da reação.
Soares et al. (2020), estudaram o efeito do ultrassom no desempenho da lipase
na hidrólise de creme de cabra. A hidrólise da gordura assistida por ultrassom
apresentou maior taxa de hidrólise quando comparada ao processamento
convencional com aumento de 12% a 55 °C, 23% a 40 °C e 28% a 25 °C.

CONCLUSÃO

O US tem mostrado resultados promissores no desempenho de enzimas, sendo


uma importante alternativa para minimizar suas limitações e proporcionar ampliação
do mercado.
Quando enzimas e substratos são pré-tratados com US, os efeitos físicos e
químicos promovem uma modificação estrutural. O aumento na área de superfície
dos substratos e a exposição de novos sítios ativos na enzima ajudam a acelerar o
processo enzimático.
Nas reações assistida, o US e a enzima exibem um efeito sinérgico para reduzir a
barreira de difusão entre enzimas e substratos, o que aumenta a transferência de
massa durante o processo, acelerando as reações enzimáticas assistidas por US.
Além disso, o ultrassom reduz a energia de ativação e diminui a barreira de
energia necessária para que a reação ocorra. Consequentemente, os efeitos físicos e
químicos do ultrassom têm um impacto positivo nas reações enzimáticas e
contribuem para o aumento das taxas das reações.
Apesar do US demonstrar resultados promissores em diversos trabalhos, mais
estudos precisam ser desenvolvidos para elucidar a associação de enzimas com essa
tecnologia para aplicações em larga escala, bem como um estudo de custo e
viabilidade para cada caso.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico - CNPq pelo financiamento do projeto (n° 429033/2018-4); pela bolsa de

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produtividade a B.R.C. Leite Júnior (n°306514/2020-6); pelo bolsa de iniciação


científica concedida a L. B. de Souza e pela bolsa de mestrado concedida a A. D. B.
Guimarães e I. S. Magalhães; a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior – Código de Financiamento 001) pela bolsa de doutorado concedida
a A. F. C. Pacheco.

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CAPÍTULO 45
APLICAÇÃO DE
NANOMATERIAIS NO
DESENVOLVIMENTO DE
EMBALAGENS PARA
ALIMENTOS
Elise dos Santos Lauria1
João Victor Nicolini2

1
Graduanda em Engenharia de Materiais, Departamento de Engenharia Química, Instituto
de Tecnologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ,
email: lauriaelise@hotmail.com, ID Lattes: 3882545744608565.
2
Professor do Departamento de Engenharia Química, Instituto de Tecnologia, Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, email: jvnicolini@gmail.com,
ID Lattes: 0525713504125196.

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APLICAÇÃO DE NANOMATERIAIS NO DESENVOLVIMENTO DE EMBALAGENS PARA


ALIMENTOS

RESUMO
A maior conscientização dos consumidores com o meio ambiente e com a segurança
alimentar nos últimos anos, abriu espaço para o desenvolvimento de embalagens
alimentícias com sistemas ativos e inteligentes, que conseguem melhoras nas
propriedades mecânicas de embalagens biodegradáveis e monitorar e até mesmo
prolongar a qualidade de alimentos. Este capítulo busca relatar de que forma a
nanotecnologia têm contribuído para o avanço deste setor através da incorporação de
diversos tipos de nanomateriais em matrizes poliméricas de embalagens.
Palavras-chave: Nanotecnologia. Embalagens. Inovação.

APPLICATION OF NANOMATERIALS IN FOOD PACKAGING DEVELOPMENT

ABSTRACT
The increased awareness of consumers with the environment and food safety in
recent years has opened space for the development of food packaging with active and
intelligent systems, which achieve improvements in the mechanical properties of
biodegradable packaging and monitor and even extend the quality of foods. This
chapter seeks to report how nanotechnology has contributed to the advancement of
this sector through the incorporation of different types of nanomaterials in polymeric
packaging matrices.
Key-words: Nanotechnology. Packaging. Innovation.

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INTRODUÇÃO

Por exercer diversas funções na indústria alimentícia, a embalagem é de


extrema importância para o setor. Proteção, conservação, informação e conveniência
são alguns dos principais papéis da embalagem, além de ser uma facilitadora no
transporte e armazenamento de mercadorias (Jorge, 2013). Outro fator que mostra a
importância da embalagem é o aumento de 3% na sua produção física no ano de
2019, este sendo guiado principalmente pelos setores alimentício e de bebidas, que
tiveram um crescimento de 1,6% e 4,0%, respectivamente, em 2019 (ABRE, 2020).
Hoje, a indústria de embalagens representa 2% do Produto Nacional Bruto dos países
desenvolvidos, mostrando sua relevância para a economia (Robertson, 2012).
A nanotecnologia tem ganhado grande destaque nos últimos anos por ter
aplicações nas mais diversas áreas e a indústria de embalagens é uma delas. O uso das
propriedades únicas dos nanomateriais para o desenvolvimento de embalagens
nanoestruturadas tem sido alvo de muitas pesquisas e muitas empresas já utilizam
essa tecnologia em seus produtos. As embalagens nanoestruturadas possuem
nanomateriais incorporados às suas matrizes que melhoram suas características
mecânicas, de barreira e/ou antimicrobianas e, assim, conseguem conservar as
propriedades organolépticas do alimento por mais tempo (Chaudhry et al., 2008).
Muitos nanomateriais, como as nanopartículas metálicas e de óxidos metálicos, que
apresentam propriedades ativas em diferentes condições, têm sido produzidos para
formar embalagens com sistemas inteligentes capazes de monitorar as condições do
alimento ou liberar e/ou absorver substâncias, que podem comprometer ou melhorar
sua integridade, de dentro ou fora do alimento embalado ou do meio em que ele se
encontra (Silvestre et al., 2011). Recentemente, a nanotecnologia tem sido utilizada,
também, como mais uma aliada no combate ao novo coronavírus, o SARS-CoV-2. O
contato com superfícies contaminadas, como embalagens alimentícias, é uma
potencial rota de infecção pelo vírus e tem gerado alerta na comunidade científica.
Desta forma, tem aumentado o interesse no desenvolvimento de polímeros ou
biopolímeros com propriedades antivirais através do uso de nanopartículas metálicas
(Ceniti, 2021; Olaimat, 2020). Assim, este capítulo tem como objetivo relatar os
principais tipos de nanomateriais aplicados no desenvolvimento de embalagens para
produtos alimentícios, destacando as principais propriedades e benefícios.

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REVISÃO DA LITERATURA

As embalagens para alimentos que fazem uso da nanotecnologia podem ser


subdivididas em três principais classes de acordo com a sua principal função, sendo
elas: embalagens com reforço, embalagens ativas e embalagens inteligentes. A Tabela
1 apresenta os principais nanomateriais incorporados em embalagens poliméricas
para o desempenho de funções antimicrobianas, melhora de propriedades mecânicas
e térmicas, difusão de gases e vapor de água e monitoramento de alimentos.

Tabela 1: Principais nanomateriais incorporados em embalagens de alimentos e


principais funções desempenhadas.
Nanomateriais Função Referência
Fu et al., 2006; Hong et
Ação antimicrobiana, al., 2006; Cioffi et al.,
Nanopartículas de Ag, Cu,
antibacteriana e 2005;
TiO2 e ZnO
antiviral. Chawengkijwanich,
2008; Yamamoto, 2001.
Nanofibras de
Melhora das Mangiacapra, 2006;
montmorillonita,
propriedades térmicas, Rodriguéz et al., 2012;
nanopartículas de SiC,
mecânicas e de barreira Dash and Swain et al.,
nanotubos de carbono,
ao O2, vapor de água, 2012; El Achaby et al.,
nanoamido e nanocelulose,
CO2 e etileno. 2017; Li et al., 2015.
nanopartículas de SiO2
Remoção de O2 de
dentro da embalagem Xiao-e et al., 2004; Mills
Nanopartículas de TiO2
através de ação et al., 2006.
fotocatalítica.
Remoção de O2, CO2 e
Nanopartículas de SiO2 Spricigo et al., 2017.
etileno.
Detecção óptica de Luechinger et al., 2007;
Nanopartículas de Cu, SnO2, mudanças de umidade, Che e Zang, 2009;
TiO2, Ag e Au condutância e de amina Abargues et al., 2014;
em gases ou na água. Pandey et al., 2012.

Nanomateriais como reforço em embalagens


Nas embalagens com reforço, as nanoestruturas que são inseridas nas matrizes
poliméricas têm como função melhorar as propriedades de barreira, mecânicas e/ou
térmicas. Devido à grande área superficial, as nanoestruturas, quando inseridas em
matrizes de embalagens, são capazes de facilitar a transferência e a concentração de
tensão para a fase de reforço, aumentando, assim, a resistência da matriz polimérica,
conforme apresentado na Figura 1. Estudos mostram que nanocompósitos com alta

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resistência à tração foram alcançados quando ambas as fases eram quimicamente


compatíveis e formavam ligações extremamente fortes (Paul e Robeson, 2008; Tjong,
2006). Os efeitos da incorporação de nanocristais de celulose, nanopartículas de sílica
e nanotubos de carbono em diferentes matrizes poliméricas podem ser observados
na Tabela 2. Para a incorporação, porcentagens mássicas (% m/m) muito baixas já
são suficientes para alterar as propriedades.

Figura 1: Propriedades mecânicas e de barreira das embalagens convencionais em


comparação com as embalagens nanoestruturadas.

A incorporação de nanoestruturas em embalagens poliméricas tem como


benefício a mudança das temperaturas de transição térmica dos polímeros.
Nanopartículas podem aumentar a taxa de cristalização enquanto diminui o seu
ponto de fusão, o que reduz o ciclo de tempo e temperatura nos equipamentos,
aumentando, portanto, a produtividade do processo de fabricação das embalagens.
Além disso, as nanopartículas são capazes de aumentar a temperatura de transição
vítrea das matrizes por restringirem a mobilidade dos segmentos das cadeias
poliméricas (Pavlidou e Papaspyrides, 2008; Silvestre et al., 2011; Tjong, 2006).
 A terceira grande vantagem do uso de nanoestruturas em matrizes de embalagens
está relacionada à melhoria das propriedades de barreira ao vapor d’água, a gases
(como o oxigênio, nitrogênio, CO2) e compostos aromáticos. A incorporação de
nanofibras, nanoplaquetas ou nanopartículas nas embalagens reduz a solubilidade e a
difusibilidade e, portanto, a permeabilidade de moléculas gasosas quando estas
migram pela matriz do nanocompósito, como mostrado na Figura 1. Isto acontece

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porque estas nanoestruturas conseguem aumentar a tortuosidade do caminho dessas


moléculas e, também, podem induzir o alinhamento das cadeias poliméricas,
aumentando o empacotamento entre elas. Consequentemente, a passagem destas
moléculas é dificultada, como é o caso da nanoargila, conforme resultados da Tabela 2
(Manias et al., 2007).

Tabela 2: Principais nanomateriais incorporados em matrizes poliméricas para o


desenvolvimento de embalagens com propriedades mecânicas e de barreira à difusão.
Incorporação
Polímero Nanomaterial Propriedades alteradas Referência
(%m/m)
Nanocristais de Aumento de 45% na Fortunati
PVA 1 a 5%
celulose resistência à tração et al., 2013
Redução da
Nanotubos de permeabilidade; Follain et
PCL 1 a 12%
carbono Aumento de 58% do al. 2013
módulo de elasticidade
Aumento da resistência
Nanopartículas Wu et al.,
0 a 2,2% à tração e do módulo de
PP de sílica 2005
tensão
Redução de 24% da
permeabilidade ao O2; Arunvisut
PE Nanoargila 1 a 7%
Aumento do módulo de et al., 2007
tensão em 100%
Redução de 50% na
Acetato difusão de oxigênio;
Nanoargila Rodriguez
de 5% Redução de 10% na
montmorilonita et al., 2012
celulose difusão de vapor de
água
Nanopartículas Redução da solubilidade Abdollahi
Alginato 1 a 5%
de celulose em água et al., 2013
PVA: Polivinil álcool; PCL: Policaprolactona; PP: Poliproprileno; PE: Polietileno

Nanomateriais para o desenvolvimento de embalagens ativas


As embalagens ativas são embalagens que interagem diretamente com o
produto como forma de estender sua vida de prateleira e/ou melhorar sua segurança
e qualidade, através da liberação ou remoção de substâncias para dentro ou fora da
embalagem (Hernández-Muñoz et al., 2018). As principais aplicações estão
relacionadas à preparação de embalagens poliméricas com propriedades
antimicrobianas, propriedades absorvedoras/removedores de O2, CO2, vapor de água
e etileno, além de propriedades bioativas. A Figura 2 ilustra os principais

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componentes de uma embalagem ativa e seu envolvimento com a nanotecnologia.


Aqui, os componentes ativos são inseridos na embalagem por meio da nanotecnologia
para que este dispositivo possa ser integrado à embalagem. O sistema portador do
componente ativo pode interagir com fatores interno e/ou externos ativando a ação
pretendida.

Figura 2: Diagrama esquemático mostrando o conceito de embalagem ativa e seu


envolvimento com a nanotecnologia. Adaptado de Mihindukulasuriya e Lim, 2014.

Os compostos mais utilizados no desenvolvimento das embalagens ativas são os


que possuem atividade antimicrobiana. Nanopartículas de prata, cobre e ouro têm
sido investigadas por apresentar uma elevada efetividade antimicrobiana podendo,
assim, ser incorporada diretamente nas matrizes, como PVA, celulose, quitosana
(Hernández-Muñoz et al., 2018). A Figura 3A ilustra os principais mecanismos de
atuação das nanopartículas destas em microrganismos. A sua ação contra bactérias e
outros tipos de microrganismos ocorre através de geração de íons durante a oxidação
da superfície das nanopartículas. Esses íons são capazes de inativar a ação de
bactérias interagindo com suas estruturas (Cioffi et al., 2005; Duncan, 2011; Silvestre
et al., 2011).
Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, o SARS-CoV-2, que se iniciou
em 2020, muitos esforços têm sido feitos para diminuir o contágio e o avanço da
doença. Desta maneira, muito tem-se estudado sobre o tempo de sobrevivência do

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novo coronavírus em diversos tipos de superfícies (Olaimat, 2020; Sportelli et al.,


2020). Já existem resultados sobre a efetiva inibição de diversos microrganismos
patogênicos que estiveram em contato com filmes poliméricos ou biopoliméricos que
continham nanopartículas metálicas, como de cobre, prata e zinco (Rai et al., 2012;
Sportelli et al., 2016). Pesquisa recente confirma a rápida inativação do SARS-CoV-2
em superfícies de cobre (Van Doremalen et al., 2020). A ação de nanopartículas de
prata e ouro contra os vírus influenza A, HIV-1 e HSV, subtipos do vírus influenza
(H1N1, H3N2, H5N1) na inibição da replicação destes microrganismos, também já foi
demonstrada (Orlowski et al., 2014; Kerry et al., 2019; Kerry et al., 2019).

Figura 3: Principais propriedades de embalagens nanoestruturadas contendo


nanopartículas de prata (A), nanopartículas de TiO2 (B), nanopartículas de SiO2 ou
Al2O3 (C) e nanocápsulas contento componentes bioativos (D).

A presença de gases, como oxigênio e vapor de água, afeta todas as


propriedades organolépticas de alimentos que são altamente sensíveis a estes
compostos, devido a várias reações de degradação. Carnes também podem liberar
compostos gasosos como CO2, e frutas e vegetais podem gerar vapores de etileno que
aceleram seu amadurecimento. Nanopartículas de TiO2, quando em contato com o
oxigênio do meio e ativadas por luz UV, conseguem consumir este gás, removendo-o
do contato com o alimento, o que possibilita o prolongamento do tempo de

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conservação (Xiao-E et al., 2004). O TiO2 pode ser fotoinduzido por radiação UV com
energia de fóton maior que 3,2 eV, levando à separação de carga devido a promoção
de elétrons da banda de valência para banda de condução, conforme pode ser
observado na Figura 3B. Desta forma, os elétrons ficam acumulados na superfície do
TiO2 e transferidos para o O2, consumindo o mesmo.
O uso de nanoestruturas capazes de remover etileno, molécula volátil que
acelera a maturação de frutas e vegetais, do ambiente da embalagem, também tem
crescido. Nanomateriais a base de sílica (SiO2) e nanopartículas de alumina (Al2O3)
impregnados com KMnO4 foram desenvolvidos para atuarem como dispositivos de
remoção de etileno do meio, ao mesmo tempo que indicam, através da mudança de
cor, quando a molécula está sendo capturada (Spricigo, 2017). Outras estruturas,
como nanotubos de argila e nanopartículas de zeólitas/paládio, também se
mostraram efetivas no retardamento dos processos de degradação, devido à alta
porosidade destes materiais que conseguem capturar grandes quantidades de
moléculas do meio (Figura 3C), contribuindo para a manutenção da qualidade de
diversas frutas, como bananas e morangos, por exemplo (Mansourbahmani, 2018;
Tas, 2017).
Componentes bioativos, compostos fenólicos, carotenóides, óleos essenciais,
peptídeos, agentes antimicrobianos, coenzima Q10 (CoQ10), vitaminas, ferro, cálcio,
curcumina, dentre outros (Vilela et al., 2018), têm sido encapsulados por dispositivos
de entrega nanométrica conhecidos como nanocápsulas/nanocarreadores para
proteção do alimento contra deterioração microbiana e por oxidação (Ezhilarasi et al.,
2013). A nanoencapsulação, conforme mostrada na Figura 3D, permite ao composto
bioativo benefícios como a redução da volatilidade, melhora da estabilidade oxidativa,
proteção contra a luz e umidade, além de aumentar a biodisponibilidade e eficácia na
liberação do mesmo (Assadpour e Jafari, 2019). Os materiais mais empregados para a
síntese das nanocápsulas são lipídeos, como lipossomas, e polímeros biodegradáveis
como albumina, gelatina, alginato, colágeno, amido, quitosana e proteína de soro do
leite (Pagno, et al., 2016).

Nanomateriais para o desenvolvimento de embalagens inteligentes


Um problema muito recorrente na indústria alimentícia e, consequentemente,
na vida do consumidor é a imprecisão dos prazos de validade de produtos. O

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desenvolvimento e incorporação de sistemas indicadores ou sensores em embalagens


inteligentes capazes de informar, em tempo real, a condição do alimento embalado,
possibilitaria a prevenção de doenças relacionadas à ingestão de produtos estragados
e, também, reduziria o descarte de alimentos (Hernández-Muñoz et al., 2018). Os
principais elementos da nanotecnologia para uma embalagem inteligente estão
resumidos na Figura 4. O sistema indicador/sensor pode interagir com fatores
internos e/ou fatores externos ambientais, gerando uma resposta que está
relacionado ao estado do alimento armazenado.

Figura 4: Diagrama esquemático mostrando o conceito de embalagem inteligente e


seu envolvimento com a nanotecnologia. Adaptado de Mihindukulasuriya e Lim,
2014.

Alguns materiais, quando estão na nanoescala, apresentam propriedades


químicas, elétricas e ópticas únicas, podendo, assim, ser utilizados para o
desenvolvimento de sensores e/ou indicadores. Desta maneira, quando estas
nanopartículas entram em contato com certas substâncias, reagem a essa interação
mudando sua estrutura química, sua condutividade ou sua cor, gerando sinais
capazes de serem detectados. Nanopartículas de Cu podem ser empregadas como
sensores de umidade. Quando em contato com vapor d'água e de etanol, as
nanopartículas de Cu mudam substancialmente sua coloração. O polímero incha
quando absorve umidade do ambiente; isto aumenta a separação entre as

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nanopartículas, consequentemente, a luz absorvida e refletida por essas será


diferente (Luechinger et al., 2007). Nanopartículas de SnO2 e TiO2 podem ser
empregadas como detectores de gases através da alteração da sua condutância.
Estudo com essa finalidade foi realizado para detecção de aminas gasosas em
embalagens de peixes e carnes (Che e Zang, 2009). Diferentes sensores desta
natureza também já foram desenvolvidos utilizando pontos quânticos de grafeno que,
quando incorporados em nanofibras de carbono, aumentaram a taxa de transferência
de elétrons e a condutividade elétrica de filmes, passando a apresentar uma maior
área eletroativa e, formando, assim, excelentes sensores eletroquímicos capazes de
detectar nitrito em amostras de alimentos (Li et al., 2017).
Nanofibras de polianilina foram utilizadas para detectar, por medidas de
capacitância, mudanças na concentração de ácido cítrico em sucos de laranja, se
tornando um possível sensor para embalagens que monitora a qualidade do suco em
função das condições de armazenamento (Medeiros et al., 2009). Algumas partículas
metálicas, além de possuírem atividade antimicrobiana elevada quando em
nanoescala, apresentam ressonância plasmônica de superfície que pode ser utilizada
para desenvolver sensores colorimétricos ópticos. Nanopartículas de Ag e de ouro já
mostraram sua capacidade de detecção de aminas tanto em solução como na fase
gasosa, através de mudança de coloração (Abargues et al., 2014, Pandey et al., 2012).
Estas nanopartículas metálicas já foram desenvolvidas, também, para formarem
dispositivos indicadores. Os chamados indicadores de tempo-temperatura gravam o
histórico das temperaturas de um alimento embalado durante determinado período
e, assim, a qualidade de diversos produtos pode ser avaliada no longo prazo. O efeito
cumulativo da mudança de temperatura do leite foi monitorado através de
indicadores feitos à base de PVA e nanocristais de Ag e Au, que mudavam de
coloração (de vermelho para verde) ao longo do tempo (Zhang et al., 2013).
Além disso, esses sistemas inteligentes podem ser sensíveis a alterações no pH
dos alimentos. Filmes inteligentes feitos para monitorar a degradação de peixes
foram desenvolvidos utilizando matrizes poliméricas de PVA, nanopartículas de
quitosana e extratos de amora. Os filmes resultantes apresentaram excelentes
propriedades mecânicas devido à incorporação das nanopartículas de quitosana, que
produziram materiais mais compactos e densos, e se mostraram altamente sensíveis
ao pH devido à presença da amora que possui pigmentos em sua composição. Estes

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pigmentos mudaram sua coloração, do vermelho para verde, conforme o pH variava


de 1 até 12, ou seja, conforme o peixe estragava (Ma et al., 2018). Outra combinação
de materiais que já foi utilizada para gerar filmes inteligentes foi a de quitosana, PVA,
nanopartículas de ZnO e antocianinas extraídas de batata roxa ou roselle que se
mostrou capaz de monitorar o grau de degradação do camarão, através da mudança
de coloração do roxo para verde, conforme o pH do meio se alterava (Liu et al., 2021).
Koshy et al. (2021) utilizaram nanopartículas de carbono para melhorar
determinadas propriedades mecânicas de filmes de amido e antocianinas extraídas da
flor Clitoria Ternatea, para desenvolver embalagens inteligentes que mudam de
coloração em diferentes pH, podendo monitorar, assim, o frescor de alimentos, dentre
eles, a carne suína.

CONCLUSÕES

Os materiais convencionais de embalagens estão sendo grandemente


substituídos por filmes nanocompósitos capazes de tornar as matrizes poliméricas
mais flexíveis, fortes e com uma melhor barreira a gases. Nas embalagens ativas,
nanopartículas metálicas ou agentes ativos naturais têm sido incorporados em
materiais de embalagem com o objetivo de prolongar a vida útil e manter a qualidade
dos produtos embalados por um período mais longo, através da interação com o
alimento ou da liberação ou captação de substâncias que surgem devido à degradação
do alimento, que acabam acelerando este processo se não forem eliminadas. As
embalagens com sistemas inteligentes baseados em nanoestruturas extremamente
sensíveis a diversas mudanças ambientais monitoram, em tempo real, as condições
do alimento e conseguem comunicá-las ao consumidor. Uma vez que a
nanotecnologia é uma das principais áreas em crescimento no setor de embalagens
alimentícias, é imperativo que mais estudos relacionados ao impacto na saúde
humana e à segurança do uso de nanomateriais em contato com alimentos sejam
realizados.

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CAPÍTULO 46
AVANÇOS NA PRODUÇÃO DE
QUITOSANA FÚNGICA E SUAS
POTENCIAIS APLICAÇÕES:
UMA REVISÃO DA
LITERATURA

Larissa Crestani1
Danielli Martins Sanderi2
Giovana Marchezi3
Bruna Strieder Machado4
Thaís Strieder Machado5
Jeferson Steffanello Piccin6

1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: larissacrestani@live.com, ID Lattes: 7665563197998906.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: danisanderi@gmail.com, ID Lattes: 2954165668709736.
3
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: 173887@upf.br, ID Lattes: 5154808287883850.
4
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,
RS, email: 173882@upf.br, ID Lattes: 6131395154506111.
5
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, email:
thaiis.strieder@hotmail.com, ID Lattes: 9644112526589073.
6
Professor no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, Universidade
de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, email: jefersonpiccin@upf.br, ID Lattes:
5392030005352784.

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AVANÇOS NA PRODUÇÃO DE QUITOSANA FÚNGICA E SUAS POTENCIAIS APLICAÇÕES:


UMA REVISÃO DA LITERATURA
RESUMO
A quitosana fúngica é estudada por suas excelentes características passíveis de
manipulação por meio de fermentação e processos de produção, permitindo a
obtenção de um produto padronizado e de alto valor agregado. Portanto, o objetivo
desta revisão da literatura foi abordar as propriedades, características e aplicações
da quitosana fúngica. Aliado a isso, as principais fontes de biomassa, produção a
partir dos principais processos de desacetilação, sua produção comercial e também
os desafios e as perspectivas do biopolímero foram relatados. A quitosana fúngica se
mostrou uma fonte alternativa potencial a de crustáceos, pois diversos fungos
possuem em sua parede celular quitina e quitosana, necessitando de processos
brandos para sua obtenção. Além disso, são evidenciados diversos estudos que
utilizam diferentes meios para a otimização do processo de produção, tanto em
relação ao cultivo como na extração, demostrando a potencialidade da quitosana de
origem fúngica.
Palavras-chave: Biopolímero. Fungo. Biomassa. Desafios. Perspectivas.

ADVANCES IN THE PRODUCTION OF FUNGAL CHITOSAN AND ITS POTENTIAL


APPLICATIONS: A LITERATURE REVIEW.
ABSTRACT
Fungal chitosan is studied for its excellent characteristics that can be manipulated
through fermentation and the production processes, allowing to obtain a
standardized product with high added value. Therefore, the aim of this literature
review was to address the properties, characteristics and applications of fungal
chitosan. Allied to this, the biomass main sources, the production from the main
deacetylation processes, its commercial production and also the challenges and
perspectives of the biopolymer were reported. Fungal chitosan proved to be a
potential alternative source for crustaceans, as many fungi have chitin and chitosan in
their cell wall, requiring mild processes to obtain them. Furthermore, several studies
that use different means to optimize the production process are evidenced, both in
relation to cultivation and extraction, demonstrating the potential of chitosan from
fungal origin.
Key-words: Biopolymer. Fungus. Biomass. Challanges. Perspectives.

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INTRODUÇÃO

A quitosana é um biopolímero catiônico natural, derivado da quitina, sendo de


baixo custo, renovável, biodegradável e de grande importância econômica e
ambiental. Possui inúmeras propriedades e características que contribuem para sua
ampla variedade de aplicações industriais, como alimentícias, cosmetologia,
biotecnologia, agricultura, farmacologia e medicinal (Joseph et al., 2021; Namboodiri
e Pakshirajan, 2020; Sebastian et al., 2020; Younes e Rinaudo, 2015).
Nos últimos anos, os fungos vêm se destacando como fonte alternativa para a
obtenção de quitosana, pois suas propriedades e características podem ser
manipuladas e padronizadas através do controle das condições do processo
fermentativo (Berger et al. 2020; Machado et al., 2020; Zhu et al., 2019; Darwesh et
al., 2018). Essa fermentação pode ser realizada utilizando meios de cultivos simples,
como é o caso dos resíduos agroindustriais (Joseph et al., 2021; Sebastian et al., 2020;
Ghormade et al., 2017). Além disso, a quitosana pode ser extraída de biomassa
residual de fungos geradas pelas indústrias de biotecnologia (Ghormade et al., 2017).
Para a obtenção de quitosana a partir de fungos são necessários processos
menos complexos, quando comparada à de crustáceos. A exemplo disso tem-se a não
necessidade de um processo de desmineralização e os processos de desacetilação
mais brandos, utilizando concentrações de hidróxido de sódio (NaOH) de 2 a 10% e
podendo ser realizado em temperaturas mais brandas (Machado et al., 2020; Zhu et
al., 2019; Darwesh et al., 2018; Ghormade et al., 2017). Isso acaba acarretando em
uma diminuição na geração de resíduos e efluentes, contribuindo para a obtenção de
um produto com alto valor agregado.
Assim, o objetivo desta revisão da literatura foi abordar as propriedades,
características e aplicações da quitosana fúngica, além das diferentes fontes de
biomassas, a sua produção e os diferentes processos de desacetilação para a sua
obtenção. A produção comercial da quitosana fúngica, os desafios e as perspectivas do
biopolímero também foram considerados.

REVISÃO DA LITERATURA

Quitina e quitosana: propriedades, características e aplicações

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A quitina ((C8H13O5)n) é um polissacarídeo natural, o segundo mais abundante


no mundo, ficando atrás somente para a celulose em sua quantidade produzida pela
biossíntese (Namboodiri e Pakshirajan, 2020; Sebastian et al., 2020; Younes e
Rinaudo, 2015). Pode ser sintetizada por uma variedade de organismos vivos, sendo
encontrada na constituição dos exoesqueletos de insetos, moluscos, crustáceos e
também pode ser encontrada em alguns fungos, compondo sua parede celular, como
um polímero fibrilar (Joseph et al., 2021; Namboodiri e Pakshirajan, 2020; Sebastian
et al., 2020).
A quitosana ((C6H11O4)n) é um biopolímero linear, derivada da quitina, sendo
obtida através de um processo de desacetilação onde ocorre a hidrólise dos grupos
acetamido (C2H5NO) da molécula de quitina, gerando os grupos amina (NH2) que
determinam a conversão de quitina em quitosana (Joseph et al., 2021; Younes e
Rinaudo, 2015). O produto da desacetilação é denominado quitosana quando seu
grau de desacetilação (GD) se apresenta igual ou superior a 60% (Younes e Rinaudo,
2015).
As propriedades e características da quitosana influenciam em suas
funcionalidades, tornando-a aplicável em diferentes áreas, representadas na Figura 1.
A cristalinidade, afeta na sua rigidez, oferecendo uma quitosana com maior
resistência mecânica e, assim, propiciando a aplicação em engenharia de tecidos
(Joseph et al., 2021).
Os grupos aminas e hidroxilas reativos disponíveis na estrutura da quitosana e
sua alta capacidade quelante através da presença de aminoácidos, a possibilitam
interagir e complexar fortemente com uma gama de substâncias (Namboodiri e
Pakshirajan, 2020; Sebastian et al., 2020; Younes e Rinaudo, 2015). Diante dessas
interações, a quitosana pode sofrer modificações químicas ou enzimáticas para
enaltecer suas propriedades, podendo se ligar com fármacos para fazer sua entrega
em organismos, como também agir na sorção de íons metálicos, corantes aniônicos e
entre outros (Namboodiri e Pakshirajan, 2020; Sebastian et al., 2020; Younes e
Rinaudo, 2015).
A quitosana é um biopolímero básico, com um pka de 6,3, sendo solúvel em
solução de ácidos orgânicos. A solubilidade é influenciada pela quantidade do grupo
amina presente em sua estrutura, que depende do GD. Em meios ácidos ocorre a
protonação do grupo amina da quitosana, se comportando como um polieletrólito

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catiônico, possuindo propriedades únicas (Joseph et al., 2021, Sebastian et al., 2020).
Deste modo, modificações na quitosana para superar essa limitação e melhorar sua
estabilidade em meios ácidos podem ser realizadas, como a sua implementação em
materiais formando compósitos, utilizando materiais como suporte, reticulantes e
outros (Ebisike et al., 2020; Mahmoudian et al., 2020).
Segundo Sebastian et al. (2020) a quitosana possui atividade biológica versátil,
excelente biocompatibilidade, biodegradabilidade e baixa toxicidade. Os efeitos das
atividades biológicas são mais substanciais e proeminentes com maiores graus de
desacetilação, entre essas atividades estão caracteres antimicrobianos, antivirais,
anti-tumoral, antioxidante, hipocolesterolêmico, antiasmático e anti-inflamatório
(Sebastian et al., 2020; Younes e Rinaudo, 2015). Segundo Younes e Rinaudo (2015),
essas propriedades contribuem para aplicação na incorporação em medicamentos,
mecanismo defensivo de plantas e entre outros. Além disso, essas atividades
biológicas em conjunto com a propriedade de formação de filme, favorecem a
aplicação para a produção de curativos, peles artificiais, embalagens para
preservação de alimentos (Younes e Rinaudo, 2015; Muzzarelli et al., 2012).

Figura 2: Principais áreas e aplicações da quitosana.

Fonte: Adaptado de Joseph et al. (2021), Sebastian et al. (2020) e Younes e Rinaudo
(2015).

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Fontes fúngicas para obtenção de quitosana


A produção usual de quitosana é obtida a partir das carapaças de crustáceos. As
características e propriedades físico-químicas do biopolímero obtidas a partir dessa
fonte são inconsistentes, tornando difícil sua padronização e apresentando problemas
com a oferta sazonal da matéria prima (Berger et al., 2020; Sebastian et al., 2020;).
Deste modo, fontes alternativas para obtenção de quitosana, que contornam essas
limitações, estão conquistando espaços, como é o caso da quitosana fúngica.
Algumas características físico-químicas da quitina e quitosana podem ser
manipuladas e padronizadas através do controle das condições da fermentação
submersa ou em estado sólido. Dentre essas características, incluem-se GD, peso
molecular (Mv) e viscosidade ( η ) (Joseph et al., 2021; Ghormade et al., 2017). Deste
modo, os avanços atuais na tecnologia de fermentações fornecem meios alternativos
para uma produção ecológica de quitina e quitosana, como a utilização de diferentes
substratos.
Os fungos ocupam o segundo lugar em função de sua riqueza em espécies entre
os organismos, possuindo mais de 100 mil espécies conhecidas, sendo que todas
necessitam de componentes orgânicos como fontes de energia e carbono (quimio-
heterotróficos) (Joseph et al., 2021; Esposito e Azevedo, 2010). A maioria dos grupos
do reino Fungi são filamentosos e apresentam diferenças morfofisiológicas, genéticas
e bioquímicas (Esposito e Azevedo 2010).
As paredes celulares dos fungos são compostas principalmente de
polissacarídeos estruturais de acordo com seu Filo, como por exemplo, glucanos,
quitinas e quitosanas, apresentadas resumidamente no Quadro 1 (Joseph et al., 2021;
Carlile et al., 2001).
Como pode ser observado no Quadro 1, os filos Basidiomycota, Ascomycota,
Chytridiomycota e Hyphochytriomycota apresentam quitina em sua parede celular
(Sebastian et al., 2020; Carlile et al., 2001). A quitina corresponde, em geral, entre
22% a 44% da parede celular fúngica (Joseph et al., 2021). Enquanto, somente o filo
Zygomycota é conhecido por conter quitosana como componente natural de sua
parede celular, tendo uma porcentagem maior de quitosana do que a quitina
(Namboodiri e Pakshirajan, 2020; Sebastian et al., 2020; Ghormade et al., 2017;
Carlile et al., 2001). Campos-Takaki et al. (2014) estudaram várias espécies do filo

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Zygomycota e encontraram entre 26% e 28,2% de quitosana e entre 10% e 15,5% de


quitina na composição das paredes celulares.

Quadro 1: Polímeros estruturais presentes nas paredes celulares dos fungos.

Filo Polímeros fibrosos

Basidiomycota e Ascomycota uitina e lucanas tipo β(1→3) e β(1→6)

Zygomycota Quitina e quitosana

Chytridiomycota Quitina e glucanas

Hyphochytriomycota Quitina e celulose

Oomycota Celulose e lucanas tipo β(1→3) e β(1→6)

Fonte: Carlile et al. (2001).

Os fungos pertencentes a família Mucorales possuem muitas cepas com


promissora produtividade de quitosana, contemplando as três espécies mais
estudadas, sendo elas: Mucor rouxii, Rhizopus oryzae e Gongronella butleri
(Sebastian et al., 2020; Muzzarelli et al., 2012). Outros fungos e leveduras estão sendo
investigados para a produção de quitina e/ou quitosana, tais como Penicillium spp.,
Aspergillus niger, Aspergillus fumigatus, Cunninghamella elegans, Rhizopus
microsporus, Candida albicans, Saccharomyces cerevisiae, Cunninghamella elegans,
Phycomyces blakesleeanus e Absidia spp. (Berger et al., 2020; Sebastian et al., 2020;
Ghormade et al., 2017; Latha e Suresh, 2013; Muzzarelli et al., 2012).
O M. rouxii foi utilizado na maioria dos estudos iniciais para a produção de
quitosana fúngica (Sebastian et al., 2020). A exemplo disso, White et al. (1979)
produziram e isolaram a quitosana a partir do fungo M. rouxii em escala laboratorial
via fermentação submersa, obtendo-se rendimentos de biomassas de 16% a 22% com
base na biomassa seca e de 4% a 8% de quitosana isolada da parede celular do fungo,
obtendo-se graus de desacetilação entre 94% e 100%. Segundo Muzzarelli et al.
(2012), a quitosana é acompanhada por pequenas quantidades de quitina e glucana.
Essa quitina é convertida em quitosana pela enzima quitina desacetilase presente nos
extratos do fungo Mucor rouxii, assim tem-se maior obtenção de quitosana (Araki e
Ito, 1975).

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Inúmeras espécies de fungos têm a capacidade de crescimento a partir de


resíduos agrícolas e/ou das indústrias de alimentos como substrato no meio de
cultivo (Sebastian et al., 2020; Ghormade et al., 2017). Como é o caso de Suntornsuk
et al. (2002), que investigaram a produção de quitosana a partir de quatro cepas
fúngicas (Aspergillus niger, Rhizopus oryzae, Zygosaccharomyces rouxii e Candida
albicans), cultivadas em resíduos de soja e feijão, via fermentação em estado sólido.
Todas essas cepas apresentaram um bom crescimento em ambos os substratos, mas
no resíduo de soja o crescimento foi melhor em função do maior teor de proteína. Os
rendimentos de quitosanas para os resíduos de soja e feijão variaram de 0,4 a 4,3
g/kg e 0,5 a 1,6 g/kg, respectivamente. O fungo R. oryzae foi o que produziu a maior
quantidade de quitosana, sendo de 4,3 g/kg através do resíduo de soja.
Berger et al. (2020) avaliaram a produção de quitosana fúngica a partir de nove
espécies de fungos Mucorales, cultivados em fermentação submersa de uma mistura
de suco de caju (40%) e soro de queijo (30%). A produção de quitosana entre as
espécies variou de 27,58 a 65,40 mg/g de biomassa, sendo o fungo Cunninghamella
elegans o maior produtor com 65,40 mg/g e GD de 75%.
A quitina e/ou quitosana pode ser extraída também de biomassa residual de
fungos geradas em indústrias de biotecnologia, onde mais de 60% dessas indústrias
utilizam fungos em seus processos, como por exemplo na produção de cerveja,
panificação, enzimas, antibióticos, ácidos orgânicos e entre outros, gerando milhares
de toneladas de biomassa fúngicas residuais (Joseph et al., 2021; Ghormade et al.,
2017). A exemplo disso, são os resíduos de biomassa do fungo Aspergillus niger
gerados a partir da produção de ácido cítrico, estimado em mais de 80.000 toneladas
por ano (Ghormade et al., 2017; Cai et al., 2006). Cai et al. (2006) utilizaram resíduos
de micélios de Aspergillus niger da produção de ácido cítrico como fonte de obtenção
da quitosana, sendo sua extração realizada com enzimas, obtendo-se quitosana com
GD de 73,6% e rendimento de 50%.
Para uma extração qualitativa e quantitativa de quitina e/ou quitosana a partir
dos fungos necessita-se conhecer quais parâmetros influenciam no processo, como a
natureza do micélio, quais suas exigências nutricionais, as condições adequadas da
fermentação, tempo de incubação e principalmente o processo de extração e
purificação (Ghormade et al., 2017).

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Processos de desacetilação da quitosana


Para cada fonte de quitina há exigências de um processo adequado de
desacetilação para obtenção de quitosana, sendo isso necessário em função da
variabilidade das matérias-primas e da severidade do processo. Estes processos
resultam em diferentes propriedades físicas e químicas da quitosana, que por fim
determinará qual será sua aplicação (Sebastian et al., 2020). A quitosana a partir de
fungos pode ser produzida em qualquer época do ano e comumente não necessita de
etapas de desmineralização (por possuírem um conteúdo inorgânico irrelevante),
portanto, é uma alternativa atraente para obter quitosana de alta qualidade (Joseph
et al., 2021; Sebastian et al., 2020).
O processo de obtenção da quitosana fúngica mais comumente utilizado é o
termoquímico, que utiliza o NaOH e aquecimento. Além desse, outros métodos
fornecem processos alternativos para produção do polímero, como por exemplo,
processos utilizando ultrassom, autoclave, desacetilação ácida e enzimática (Machado
et al., 2020; Zhu et al., 2019; Darwesh et al., 2018; Ghormade et al., 2017; Latha e
Suresh, 2013; Akari e Ito, 1975).
A quitosana pode ser sintetizada pela ação da enzima quitina desacetilase,
produzida pelo próprio fungo, que converte a quitina em quitosana durante sua
biossíntese (Namboodiri e Pakshirajan, 2020; Sebastian et al., 2020; Ghormade et al.,
2017; Carlile et al., 2001). Akari e Ito (1975) estudaram a via de formação de
quitosana no fungo Mucor rouxii. Inicialmente foi produzida a enzima quitina
desacetilase a partir do próprio fungo, sendo isolada e purificada. Posteriormente, os
ensaios com a enzima extraída demonstraram sua capacidade de favorecer a hidrólise
dos grupos acetamidos da quitina, obtendo-se quitosana.
Darwesh et al. (2018) utilizaram para a obtenção de quitosana o fungo Rhizopus
stolonifer, no qual utilizou NaOH 2% na proporção 1:4 (p/v). O material foi colocado
em solução de ácido acético a 20% com temperatura de 80 °C durante 6 horas, para a
purificação da quitosana. Foi executada uma etapa adicional de purificação para
aceitação da aplicação do produto na indústria alimentícia e farmacêutica, que
consistiu em colocar 1 mg/mL de quitosana em ácido acético 1% (v/v) com agitação,
então as partículas insolúveis foram removidas, posteriormente, a quitosana foi
precipitada com solução de NaOH 2 mol/L até pH 8, lavada com água destilada e

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etanol, por fim obtendo-se a quitosana purificada. A proporção de produção de


quitosana foi de 100 g/kg de biomassa e GD de 85,2%.
Tayel et al. (2010) utilizaram a cepa fúngica Mucor rouxii para a obtenção de
quitosana, o processo de desacetilação ocorreu com NaOH 1 mol/L na temperatura de
100 °C durante 1 hora, a purificação foi realizada com ácido acético 5%. As quitosanas
obtidas exibiram diferentes propriedades físico-químicas, como a η variando de
0,031 a 0,0058 (Pa.s) e os seus graus de desacetilação obtidos ficaram entre 83% e
95%.
Latha e Suresh (2013) produziram quitosana fúngica a partir de quatro cepas,
sendo elas Mucor rouxii, Aspergillus niger, Aspergillus fumigatus e Penicillium sp. Foi
utilizado o tratamento termoquímico com ácido para desacetilação da quitina.
Inicialmente, foi executada a extração da quitina utilizando uma solução aquosa de
KOH 60%, a solução foi incubada a 130 °C por 2 a 3 horas para remoção das
proteínas, lipídios, álcalis e polissacarídeos solúveis presentes nos micélios. Para
conversão de quitina em quitosana, foi utilizado HCl 0,01 mol/L durante 24 horas a
95 °C. O fungo que obteve maior produção de quitina e quitosana foi o Mucor rouxii
com 280 mg/g de micélio, seguido pelo Penicillium sp. com 170 mg/g de micélio e o
Aspergillus fumigatus que obteve uma produção de 50 mg/g.
Zhu et al. (2019) utilizaram o fungo Ganoderma lucidum como fonte de quitina
e o ultrassom como acelerador de cinética de reação de desacetilação. Para a
realização do processo a amostra foi suspensa em solução aquosa de NaOH 10%
(p/v) na proporção de 1:25 g/mL (m/v) e submetida a irradiação ultrassônica
durante 15 minutos. Para entender os efeitos de sobreposição das ondas
ultrassônicas de dupla frequência (15 e 20 kHz), realizaram experimentos com um e
dois transdutores. As propriedades como GD, η e Mv aumentaram utilizando dois
transdutores na configuração ortogonal, obtendo-se GD de 81,1%, η de 0,02084 Pa.s
e Mv de 8906,5 g/mol. Enquanto os transdutores únicos obtiveram GD de 80,6%, η
de 0,01881 Pa.s e Mv de 8094,3 g/mol para o de menor frequência e GD de 80,6%, η
de 0,01634 Pa.s e Mv de 7009,5 g/mol para o de maior frequência.
Machado et al. (2020) realizaram a avaliação de processo alcalino para
obtenção de quitosana fúngica utilizando a cepa do fungo Aspergillus niger, através
de dois processos de desacetilação distintos. O processo 1 foi executado adicionando
solução de NaOH 4% (1:40 m/v) na biomassa e colocada em autoclave durante 20

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minutos a 121 °C e 101,3 kPa (1,013 bar). Já o processo 2 foi executado utilizando
solução de NaOH 45% em reator agitado durante 4 horas com temperatura entre 110
a130 °C e 50 rpm. Para a purificação do biocomposto foi utilizado solução de ácido
acético 1% (1:100 m/v) à temperatura ambiente durante 24 horas. O rendimento do
processo via autoclave (processo 1) foi de 2 g de quitosana liofilizada a partir de 14 g
de biomassa, já com reator (processo 2) obtiveram 1 g de quitosana liofilizada a
partir de 66 g de biomassa fúngica seca. Os graus de desacetilação obtidos no
processo 1 e no processo 2 foram de 61,92% e 61,64%, respectivamente.

Produção comercial , desafios e perspectivas da quitosana fúngica


Os desafios que têm influenciado a produção industrial da quitosana fúngica se
baseiam em menores rendimentos do bioproduto em relação a quitosana de origem
crustácea e em custos elevados para a produção de quitosana com alto GD. Deste
modo, a quitosana fúngica ainda não se mostra competitiva para aplicações que visem
baixo custo e que requerem elevadas quantidades, como por exemplo em tratamentos
de águas e efluentes industriais e em suplementos na agricultura.
Em contrapartida, a quitina fúngica não necessita de processos de purificação,
diminuindo os custos de produção da quitosana. Além disso, a toxicidade dos
resíduos gerados é inferior quando comparado a de crustáceos, em virtude de utilizar
reagentes menos concentrados, assim como, não é dependente da sazonalidade de
matéria-prima. Além de ser um produto com alto valor agregado, a quitosana fúngica
pode ser aplicada em área que necessitam de uma quitosana padronizada e com altos
GD, como já descrito anteriormente.
Diversos estudos já oferecem processos de produção de quitosana fúngica
economicamente e ecologicamente viáveis, porém necessitam de aprimoramentos
para a difusão da escala laboratorial para a industrial. Aliado a isso, os meios de
cultura devem provir de uma fonte de baixo custo ou de resíduos, visando diminuir os
gastos de produção.
Embora ainda existam desafios na produção comercial da quitosana fúngica,
foram verificadas empresas que produzem, comercializam e exportam essa quitosana
para aplicação em diversos setores, que podem ser observadas no Quadro 2.

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Quadro 2: Empresas produtoras de quitosana fúngica.


Empresa País Área de atuação Referência
Cosméticos, vinhos
e bebidas,
conservantes
alimentares, saúde
esportiva, controle
Chibio China Chibiotech (2021)
de peso, saúde
articular e
tratamento de
feridas e
farmacêutica,
Dedicado à
quitosana vegetal Chitosanlab
ChitosanLab Vegan China e Tailândia
livre de animais e (2021)
não alergênica.
Dedicado a
aplicação em
Glentham Life
Reino Unido agricultura, Glentham (2021)
Sciences
biopesticidas e
biomedicina.
Utilizado como
InvivoGen Estados Unidos adjuvante de Invivogen (2021)
vacinas.
Produtos voltados
para a absorção de
Kitozyme Bélgica gordura no Kitozyme (2021)
organismo
humano.

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CONCLUSÕES

Em virtude da quitosana ser um composto versátil, com propriedades e


características únicas, há uma tendência de aumento na demanda e na produção
desse biopolímero. Isso se destaca pelas descobertas em pesquisas, aprimoramentos
de processos, fontes de obtenção da quitina e/ou quitosana e novos nichos de
aplicações. Deste modo, a quitosana fúngica tem grande potencial de se tornar um
biopolímero alternativo, eficiente e com capacidade de competir com a quitosana de
origem crustácea. Além disso, diversos fungos têm em sua composição quitina e
quitosana, podendo ser cultivados em meios simples, proporcionando o controle e o
aprimoramento das propriedades físicas e químicas. A obtenção de quitosana fúngica
não necessita de processos rigorosos, porém seu rendimento ainda é baixo. Deste
modo, como o uso da quitosana fúngica se mostra benéfico em diversas áreas,
estimula-se novas pesquisas para sanar suas limitações e satisfazer sua
competitividade comercial.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Código Financeiro 001), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico e à Universidade de Passo Fundo.

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CAPÍTULO 47
PRINCIPAIS FONTES DE
ENERGIA NO BRASIL E SEUS
IMPACTOS SOBRE O MEIO
AMBIENTE

Matiara Semêdo da Costa Amaral1


Marilia Gabriella Dinelli Silva2
Cristiane de Souza Siqueira Pereira3

1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Vassouras (UV), Vassouras, RJ,
email: matiarasemedo@gmail.com, ID Lattes: 0802006968151396.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade de Vassouras (UV), Vassouras, RJ,
email: gabidinelli@gmail.com, ID Lattes: 0027174616865272.
3
Professora do Departamento de Engenharia, Universidade de Vassouras (UV), Vassouras,
RJ, email: crispereirauss@gmail.com, ID Lattes: 8723281922978435.

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PRINCIPAIS FONTES DE ENERGIA NO BRASIL E SEUS IMPACTOS SOBRE O MEIO


AMBIENTE

RESUMO
Mundialmente a fonte de energia mais utilizada provém de fontes não renováveis,
que são prejudiciais ao meio ambiente devido a emissão de gases tóxicos e poluentes
e material particulado. O Brasil possui um gigantesco potencial hídrico, além de
possuir um grande potencial de exploração de urânio, das reservas de petróleo no
litoral brasileiro e de fontes renováveis como energia eólica e solar e conta com um
forte programa de combustíveis alternativos capitaneado pelo etanol. Tendo em vista
que há uma vasta diversidade quando se fala em fonte energética no Brasil, o estudo
teve como objetivo identificar os diferentes tipos de energia existentes no Brasil, bem
como a aplicabilidade e o impacto ambiental que tais fontes geram. Pode-se observar,
que apesar da vasta diversidade de fontes geradoras de energia no país e seu imenso
potencial em recursos naturais, o Brasil ainda se limita nas energias mais tradicionais,
usando a energia hidráulica como a principal fonte de energia.
Palavras-chave: Energia. Impactos ambientais. Matriz energética brasileira.

MAIN ENERGY SOURCES IN BRAZIL AND THEIR IMPACTS ON THE ENVIRONMENT

ABSTRACT
Worldwide the most used source of energy comes from non-renewable sources,
which are harmful to the environment due to the emission of toxic and pollutant
gases and particulate matter. Brazil has a gigantic hydric potential, besides having a
great uranium exploration potential, the oil reserves in the Brazilian coast and
renewable sources such as wind and solar energy, and counts on a strong alternative
fuels program led by ethanol. Considering that there is a vast diversity when it comes
to energy sources in Brazil, the study aimed to identify the different types of energy
existing in Brazil, as well as the applicability and the environmental impact that such
sources generate. It can be observed that despite the vast diversity of energy sources
in the country and its immense potential in natural resources, Brazil is still limited to
the more traditional energies, using hydroelectric power as the main source of
energy.
Key-words: Energy. Environmental impacts. Brazilian energy matrix.

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INTRODUÇÃO

Um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento da sociedade, da


economia e da tecnologia do mundo atual é a energia elétrica, dela provém
iluminação, transporte, proteção térmica e higiene, além de contribuir com a
disseminação da informação e aquisição do conhecimento (Naruto, 2017).
Mundialmente, a fonte de energia mais utilizada para a produção de energia
elétrica é não renovável, tendo sua origem de fontes fósseis. Onde tem gerado grande
preocupação, não apenas pelo seu esgotamento, mas pelos impactos ambientais que
tem gerado, com a emissão de gases tóxicos e poluentes e material particulado
(Nascimento e Alves, 2016).
O Brasil por sua vez, faz parte do grupo de países em que a produção de energia
elétrica provém em maior parte de usinas hidrelétricas, além de possuir grande
potencial de exploração de Urânio para a utilização em novas usinas nucleares e um
enorme potencial nas fontes renováveis, como a energia eólica e a solar (Bronzatti e
Iarozinski Neto, 2008)
“De acordo com Vichi e Mansor (2009), o Brasil tem, portanto, uma
oportunidade ímpar de se firmar como um dos líderes mundiais no setor de energia.
Impulsionado por seu gigantesco potencial hídrico e contando com um forte
programa de combustíveis alternativos capitaneado pelo etanol, o país sai na frente
dos demais. Por outro lado, não podemos desprezar as novas reservas de petróleo
recentemente descobertas no litoral brasileiro.”
Tendo em vista que há uma vasta diversidade quando se fala em fonte
energética no Brasil, o estudo teve como objetivo identificar os diferentes tipos de
energia existentes no Brasil, bem como a aplicabilidade e o impacto ambiental que
tais fontes geram.

METODOLOGIAS
O estudo foi realizado seguindo os preceitos de pesquisa exploratória, através
da pesquisa bibliográfica, na qual os dados foram coletados, seguindo as etapas:
- Definição do tema a ser abordado;
- Levantamento de artigos, livros, teses, monografias e dissertações
relacionadas ao tema definido;

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- Coleta de dados através de leitura e registro proveniente do estudo das fontes


bibliográficas obtidas;
- Análise e interpretação dos resultados;
- Discussão dos resultados;
- Redação do artigo científico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO (ou REVISÃO DA LITERATURA)

Fontes de energia no Brasil


“De acordo com Azevedo et al.(2017), hoje em dia podemos encontrar dois tipos
de energia que são conhecidos como fontes energéticas renováveis (permanentes) e
não renováveis (temporários). As fontes energéticas não renováveis são fontes
energéticas que possuem reservas limitadas, visto que o tempo para recuperação ou
renovação desta reserva é de longo prazo, cerca de milhares de anos, comparando
com o seu consumo (carvão mineral, petróleo, gás natural entre outros). Já as fontes
renováveis, são fontes energéticas que possuem capacidade de regeneração em curto
prazo, ou ainda que não se esgote como energia proveniente dos ventos, dos mares,
do sol, entre outras.”

Fontes não renováveis

Petróleo
A produção de petróleo brasileiro teve um grande avanço com a descoberta do
pré-sal, elevando o país a outro nível na exploração de petróleo. O petróleo é uma
fonte de energia das mais versáteis e de menor custo, o que o torna vantajoso quando
comparado a outras fontes de energia. Embora no Brasil ele seja tratado de forma
independente do setor de eletricidade, ele é um componente essencial na economia,
principalmente no setor de transportes (Cyrne e Stülp, 2016).

Gás natural
No Brasil, o gás natural é obtido em sua maioria das mesmas jazidas de petróleo,
e seu consumo vem apresentando crescimento em relação ao óleo combustível nas
indústrias e nos transportes em razão das diversas reservas existentes no país em
países vizinhos, da diminuição da oferta de outros energéticos e das exigências

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relativas às mudanças climáticas, já que sua combustão apresenta baixos índices de


emissão de poluentes quando comparada à outros combustíveis fósseis (Viana et al.,
2015).

Carvão mineral
O carvão mineral representa a maior fonte de energia não renovável no país,
porém o crescimento de uso tem sido lento, principalmente pela exclusão do carvão
dos leilões de energia para as térmicas. O carvão vapor e o carvão metalúrgico são os
utilizados para geração de energia elétrica no Brasil, sendo o primeiro produzido
nacionalmente e o metalúrgico é integralmente importado, pois o carvão nacional é
de baixa qualidade com grande grau de impureza, como elevados teores de cinzas e
baixo poder calorífico. Tais condições podem ser consideradas desvantagem para uso
desta fonte de energia, principalmente por liberar mais dióxido de carbono na
atmosfera quando comparado ao gás natural e ao petróleo (Cyrne e Stülp, 2016).

Nuclear
Energia nuclear é a tecnologia baseada em recursos naturais, mais sustentável
para geração elétrica, seus custos externos são todos internalizados e a disposição
final de rejeitos não gera gases de efeito estufa. A geração de energia nuclear no Brasil
tem apresentado fatores de disponibilidade entre os mais elevados no mundo. A
disponibilidade de reservas de urânio existentes no país em 2012 era de 309 mil
toneladas, mas estima-se que o potencial de recursos em urânio do Brasil é de 800 mil
toneladas, levando em conta suas condições geológicas e o fato de apenas 25% do
território ter sido prospectado (Biazini Filho, 2014).

Fontes renováveis

Biomassa
A biomassa pode ser caracterizada como qualquer matéria orgânica que possa
ser transformada em energia térmica, mecânica ou elétrica. Nos últimos anos passou
a ser considerada uma alternativa para a diversificação da matriz energética mundial,
ainda é pouco expressiva, mesmo sendo uma das fontes de energia com maior
potencial de crescimento nos próximos anos. O Brasil é um país que apresenta uma
produção de biomassa com enorme potencial de aproveitamento energético devido

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às condições naturais e geográficas favoráveis, aliadas à grande quantidade de terra


agricúltavel com características adequadas de solo e condições climáticas, o
colocando entre os países que reúne o maior quantitativo de vantagens para liderar a
agricultura de energia (Santos et al., 2017).

Energia hidráulica
Energia hidráulica é obtida a partir da energia potencial da água e a conversão
da energia potencial da água em energia elétrica ocorre através de turbinas e
geradores. A fração mundial que faz uso dessa fonte de energia ainda é pequena,
enquanto no Brasil é a principal fonte de geração de energia, o deixando entre os
principais países geradores de energia elétrica através da energia hidráulica. É uma
fonte de energia confiável para geração de energia devido ao fluxo constante dos rios,
podendo-se encontrar mais de 150 usinas hidrelétricas espalhadas pelo mundo, o que
é um grande ganho ambiental por se tratar de uma fonte de energia renovável e limpa
(Júnior et al., 2013).

Energia eólica
A energia dos ventos é uma abundante fonte de energia renovável, limpa e
disponível em todos os lugares. Como uma das tecnologias mais maduras, seu
crescimento tem sido acelerado nas últimas décadas, tornando-se a opção favorita
dos planejadores e governos nacionais que buscam reduzir as emissões de CO2. No
Brasil os horizontes quanto ao uso dessa energia são cada vez maiores e encontra-se
em expansão (Azevedo et al., 2017).

Energia solar
Energia do Sol que chega à Terra em forma de energia térmica e luminosa,
sendo a luminosa capturada e convertida em energia elétrica ou térmica, é pouco
expressiva na matriz energética mundial, apesar de apresentar um grande
crescimento nos últimos anos. O Brasil mostra-se privilegiado em termos de radiação
solar por localizar-se em uma zona intertropical, possuindo grande potencial de
aproveitamento durante todo o ano. Os valores máximos de irradiação ocorrem no
norte da Bahia e os mínimos no litoral norte Catarinense, sendo a média dos valores
de irradiação significativamente superiores aos da maioria dos países europeus que

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recebem amplos incentivos governamentais e a utilização da energia solar é


amplamente difundida (Santos et al., 2017).

Aspectos e impactos ambientais


“De acordo com a CONAMA 01/198 , Artigo 1º - Para efeito desta Resolução,
considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a
saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a
biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos
ambientais.”A partir da pesquisa bibliográfica, sobre as principais fontes geradoras de
energia no Brasil, foram elaboradas as tabelas 1 a 8 que indicam os principais
aspectos e seus respectivos impactos ambientais com as devidas ações mitigadoras.
Todas as fontes geradoras de energia impactam negativamente o meio
ambiente, as energias não renováveis mostram-se mais agressivas que as renováveis.
O carvão mineral possui alto impacto ambiental, devido alta utilização da terra, alta
liberação de CO2 na queima, liberação de partículas radioativas e mercúrio e
possibilidade de contaminar as águas. A energia hidráulica também é de alto risco
ambiental e social pelos alagamentos e seus impactos para construção das barragens
serem praticamente irreversíveis, em contrapartida, a emissão de CO2 é nula ou
muito baixa.

Tabela 1: Impactos ambientais referentes ao uso do petróleo como insumo para a


geração de energia elétrica.
ASPECTO IMPACTO AÇÃO MITIGADORA
Escassez de recursos naturais /
Desmatamento Reflorestamento / Correto manejo do solo
Degradação do solo
Contaminação do solo e da água /
Descarga de
Degradação ambiental /
hidrocarbonetos na -
Comprometimento da qualidade do ar,
perfuração
solo e água
Contaminação do meio ambiente /
Derramamento Destruição da biota / Contaminação do Plano de contingência
lençol freático
Tratamento de remoção de CO2 /
Contribuição para o efeito estufa /
Saída de gases Reinjeção de CO2 no reservatório /
Poluição do ar / Mudança climática
Manutenção preventiva das plataformas
Geração de ruídos e Perturbação dos quelônios e mamíferos
-
vibrações marinhos

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Tabela 2: Impactos ambientais referentes ao uso do gás natural como insumo para a
geração de energia elétrica.
ASPECTO IMPACTO AÇÃO MITIGADORA
Tratamento de remoção de CO2 / Reinjeção
Contribuição para o efeito estufa /
Saída de gases de CO2 no reservatório / Manutenção
Poluição do ar / Mudança climática
preventiva das plataformas
Escassez de recursos naturais /
Desmatamento Reflorestamento / Correto manejo do solo
Degradação do solo
Contaminação do meio ambiente /
Vazamento Destruição da biota / Contaminação Plano de contingência
do lençol freático
Geração de ruídos Perturbação dos quelônios e
-
e vibrações mamíferos marinhos

Tabela 3: Impactos ambientais referentes ao uso do carvão mineral como insumo para
a geração de energia elétrica.
ASPECTO IMPACTO AÇÃO MITIGADORA
Contribuição para o efeito estufa / Mudança Manutenção dos veículos e
Saída de gases,
climática / Poluição local do ar com elementos equipamentos / Exaustão / Depósito
óxidos e poeiras
que causam chuva ácida e afetam a respiração de rejeitos bem controlado
Escassez de recursos naturais / Degradação do Reflorestamento / Correto manejo do
Desmatamento
solo solo
Geração de Anteparo para abafamento com
Perturbação da população vizinha e dos animais
ruídos cortina arbórea
Vibração do Rachaduras no solo / Comprometimento de
Utilização de sismógrafos
solo estruturas
Contaminação Desaparecimento de peixes e demais população
Isolamento de rejeitos do carvão
das águas do meio / Danos a qualidade da água

Tabela 4: Impactos ambientais referentes ao uso de energia nuclear como insumo


para a geração de energia elétrica.
ASPECTO IMPACTO AÇÃO MITIGADORA
Armazenamento em recipientes revestidos
Produção de
Contaminação do meio ambiente de chumbo ou concreto e monitoramento
rejeitos radioativos
constante
Aquecimento da Resfriamento das águas antes de devolve-
Danos a flora e fauna marinha
água do mar las aos mares
Alteração da qualidade do ar /
Contaminação do Contaminação dos mananciais Controle e monitoramento de todas as
meio ambiente subterrâneos / Disposição de diversas etapas
partículas
Contaminação do meio ambiente / Mortes
Derramamento Plano de contingência
/ Explosão
Escassez de recursos naturais /
Desmatamento Reflorestamento / Correto manejo do solo
Degradação do solo

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Tabela 5: Impactos ambientais referentes ao uso de biomassa como insumo para a


geração de energia elétrica.
ASPECTO IMPACTO AÇÃO MITIGADORA

Escassez de recursos naturais / Implantação de florestas energéticas /


Desmatamento
Contaminação do solo Correto manejo do solo

Contribuição para o efeito estufa Desenvolvimento de tecnologias de produção


Emissão de gases / Poluição do ar / Mudança e técnicas adequadas de manejo da matéria-
climática prima

Uso de fertilizantes e Alteração da qualidade do solo e Implantação do Manejo Integrado de


defensivos agrícolas dos recursos hídricos Pragas e Doenças (MIPD)
Alteração no uso e
Alteração da biodiversidade Utilizar áreas já antropizadas ou degradadas
ocupação do solo

Tabela 6: Impactos ambientais referentes ao uso de energia hidráulica como insumo


para a geração de energia elétrica.
ASPECTO IMPACTO AÇÃO MITIGADORA

Represamento do rio Alteração do ecossistema aquático e terrestre -

Movimentação e Erosão / Incidência de tremores e


Reflorestamento
compactação do solo deslizamentos de terras
Alteração Alteração climática -
Rompimento da Mortes / Desalojamento da população
Controle e manutenção constante
barreira ribeirinha

Tabela 7: Impactos ambientais referentes ao uso de energia eólica como insumo para
a geração de energia elétrica.
ASPECTO IMPACTO AÇÃO MITIGADORA
Geração de ruídos e Perturbação dos pássaros e da população
-
poeiras vizinha / Mudança climática
Escassez de recursos naturais / Criação de reserva florestal com a
Desmatamento
Degradação do solo flora que foi desmatada
Exposição direta do
Erosão / Contaminação Reestruturar a cobertura do solo
solo

Tabela 8: Impactos ambientais referentes ao uso de energia solar como insumo para a
geração de energia elétrica.
ASPECTO IMPACTO AÇÃO MITIGADORA
Escassez de recursos naturais / Criação de reserva florestal com a flora
Desmatamento
Degradação do solo que foi desmatada
Exposição direta do
Erosão / Contaminação Reestruturar a cobertura do solo
solo
Degradação visual / Poluição da água Reflorestamento / Isolamento da área
Extração do Silício
na mineração minerada

Emissão de poeiras Poluição local do ar com elementos Manutenção dos equipamentos /


e gases que afetam a respiração Exaustão

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O petróleo, o gás natural, a biomassa e a usina nuclear são de grau moderado de


impacto, sendo os três primeiros grandes emissores de CO2, o gás natural menos
nocivo que o petróleo e a biomassa para o meio ambiente, e a usina nuclear enfrenta o
problema com a destinação dos resíduos radioativos. A energia eólica e solar são as
de menor impacto, porém seus custos são altos e necessitam de reserva e acesso as
fontes de energia (Cyrne e Stülp, 2016).

CONCLUSÕES

Através da pesquisa foi possível observar que independente da fonte de energia


geradora utilizada, não existe impacto ambiental nulo na geração de energia.
Destacando a energia hidráulica que sendo de fonte renovável possui alto impacto e a
energia nuclear com impacto menos significante quando comparadas as duas fontes
de energia. As fontes geradoras de energia que obtiveram melhor expectativa quanto
os impactos, foram a solar e a eólica, mas suas características demonstraram que são
ainda fontes de energia complementar a outras energias que são mais estáveis.
Pode-se observar também, que apesar da vasta diversidade de fontes geradoras
de energia no país e seu imenso potencial em recursos naturais, o Brasil ainda se
limita nas energias mais tradicionais, usando a energia hidráulica como a principal
fonte de energia.

AGRADECIMENTOS
É encorajado que os autores façam seus agradecimentos a pessoas e/ou
instituições e/ou agências de fomento que contribuíram com o trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO 48
CATALISADORES
HETEROGÊNEOS NA
FOTODEGRADAÇÃO DE
CAFEÍNA E FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS EM
SOLUÇÃO
Camila Pinheiro Bertoglio1
Ingrid Luíza Reinehr2
Alexandre Tadeu Paulino3
Luiz Jardel Visioli4
Heveline Enzweiler5

1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),
Pinhalzinho, SC, email: camilabertoglio1011@gmail.com , ID Lattes: 7328946804554214.
2
Graduanda em Engenharia Química, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),
Pinhalzinho, SC, email: ingridreinehr@gmail.com, ID Lattes: 3478162802289620.
3
Professor do Departamento de Engenharia de Alimentos e Engenharia Química,
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Pinhalzinho, SC, email:
alexandre.paulino@udesc.br, ID Lattes: 8957379372810063.
4
Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó, SC, email:
luizjvisioli@gmail.com, ID Lattes: 8959430268531511.
5
Professora do Departamento de Engenharia de Alimentos e Engenharia Química,
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Pinhalzinho, SC, email:
heveline.enzweiler@udesc.br, ID Lattes: 12345678910111214.

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CATALISADORES HETEROGÊNEOS NA FOTODEGRADAÇÃO DE CAFEÍNA E FÁRMACOS


ANTI-INFLAMATÓRIOS EM SOLUÇÃO

RESUMO
Diferentes tipos de catalisadores heterogêneos vêm atraindo interesse na pesquisa e
indústrias na remoção de fármacos. Essa atenção é necessária acarretam problemas
ambientais graves. Métodos convencionais de tratamento não são capazes de
remover completamente esses poluentes orgânicos, com isso a fotocatálise
heterogênea é uma tecnologia muito viável e eficiente como método de remoção. No
capítulo foi explorada a literatura acerca do desenvolvimento de catalisadores usando
óxidos metálicos como TiO2 e ZnO e abordagens sobre modificações, dopagem e co-
catalisadores que melhoram a eficiência desses materiais. Foram compilados,
comparados e discutidos dados sobre a degradação de cafeína e fármacos anti-
inflamatórios em solução.
Palavras-chave: Fotodegradação. Catalisador heterogêneo. Óxidos. Fármacos.

HETEROGENEOUS CATALYSTS ON DEGRADATION OF CAFFEINE AND ANTI-


INFLAMMATORY DRUGS IN SOLUTION

ABSTRACT
Different heterogeneous catalysts have been drawing attention in research and
industry considering pharmaceuticals removal. This attention is justified due to
serious environmental problems. Traditional methods of water treatment are not
able to complete removal of this kind of organic pollutant thereby the heterogeneous
photocatalysis becomes viable and interesting as a removal method. In the preset
chapter, the literature was explored about the catalyst’s development using metal
oxides as TiO2 and ZnO and related topics to doping catalyst and co-catalysts to
improvement of catalytic efficiency. Data about the caffeine and anti-inflammatory
drugs degradation were compiled, compared and discussed.
Key-words: Photodegradation. Heterogeneous catalysts, Oxides, Drugs

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INTRODUÇÃO

Com a crescente utilização e produção nas indústrias ao longo dos anos,


contaminantes provenientes de produtos farmacêuticos e de higiene pessoal vem
sendo identificados especialmente em ambientes aquáticos. Segundo Awfa (2018),
esses componentes podem ser encontrados em águas superficiais e subterrâneas em
concentrações que variam até 10.000 mg/L e 100 mg/L para produtos farmacêuticos
pessoais e produtos de cuidados pessoais, respectivamente.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambientes (UNEP) e a
Organização Mundial da Saúde classificam como essencial o conhecimento das fontes,
transformações e destino de contaminantes emergentes, levando um desafio para os
legisladores visto que existem milhares de substâncias (Montagner, 2017). A
legislação brasileira não prevê o monitoramento das fontes de água potável, em
termos de compostos fármacos, porém em outros países a atenção vem sendo voltada
para esses fármacos, hormônios e outros contaminantes presentes nos efluentes
(Carvalho, 2020).
Em outros países esse monitoramento começa a aparecer, assim como a
remoção dos mesmos. Essas metodologias devem selecionar e avaliar as substâncias,
para regulamentar e buscar por pesquisas para comprovação de seus efeitos à saúde.
Nos Estados Unidos a agência de Proteção Ambiental em 2005 disponibilizou a
Contaminant Candidate List-4, na qual consta uma lista de contaminantes candidatos
a uma regulamentação nos termos da lei para águas tratadas. Na União Europeia é
obrigatória a avaliação do risco ambiental para novos fármacos comercializados,
porém, para fármacos antes da lei essa norma já não se aplica (Weber, 2014).
Esses produtos farmacêuticos chegam ao meio ambiente por meio de diversas
rotas, como excreção humana ou de animais, efluentes de águas residuais, lodos de
esgotos tratado, resíduos industriais, resíduos médicos, entre outros. Entre esses
fármacos são muito identificados os compostos de ação anti-inflamatória,
especialmente aqueles pertencentes à classe dos anti-inflamatórios não esteroides
devido ao elevado consumo tanto humano quanto animal (Prigol, 2018). Dentre os
compostos mais identificados estão o ibuprofeno e diclofenaco sódico, que são
medicamentos não esteroides muito utilizados para dor, febre e inflamação
(Langenhoff, 2015). Além disso seu uso não necessita de receita médica pois constam
na lista de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP) de 2021. Suas concentrações

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apesar de não serem relativamente altas, são prejudiciais à saúde humana e as


espécies aquáticas, uma vez que são biologicamente ativos e possuem propriedades
físico-quimicas recalcitrantes (Durán, 2018).
O ibuprofeno e o paracetamol são de uso decorrente no Brasil, entre os 8
medicamentos mais consumidos, somados à cafeína, que compõe diversas
formulações (Carvalho, 2020). A cafeína esta presente em muitos fármacos, como por
exemplo, antigripais, antialérgicos e analgésicos. Além de ser encontrada
naturalmente em muitas espécies vegetais como café, cola e cacau (Korekar, 2020). A
presença de cafeína na água produz efeitos negativos aos sistemas aquáticos e no
meio ambiente devido à sua resistência a degradação natural e toxicidade (Elhalil,
2018). Estudos de fotodegradação de cafeína já são relatados na literatura usando
abordagens com TiO2 e foto-Fenton sob condições solares e iluminação UV (Marques,
2013).
Os métodos convencionais de tratamento de efluentes empregados nas
indústrias e em estações de tratamento de efluentes não são suficientes para remoção
completa destes compostos do meio. Segundo Kaur (2016), o tratamento primário é
capaz de remover apenas de 12 a 45% do ibuprofeno. Neste contexto, na última
década os estudos sobre os processos de oxidação avançada (POAs) para degradação
desses micropoluentes orgânicos se destacam, devido ao seu potencial como
alternativas ou complementos aos processos tradicionais de tratamento. Os POAs são
capazes de mineralizar inúmeros compostos orgânicos, convertendo-os em dióxido
de carbono, água e sais orgânicos (Teixeira, 2004). Outra vantagem dos POAs é que
geralmente não necessitam um pós-tratamento ou disposição final (Teixeira, 2004).
A fotocatálise heterogênea, um dos principais POAs, é basicamente uma reação
química que é acelerada por um semicondutor sólido (catalisador) na presença de
radiação eletromagnética. Quando irradiado com fótons de energia igual ou maior a
do seu band gap, ocorre uma transição eletrônica e a migração de elétrons da banda
de valência para a banda de condução, gerando uma lacuna, que são sítios oxidantes e
redutores no catalisador, que catalisam reações químicas. Com isso, ocorre a geração
de compostos altamente reativos que são capazes de quebrar moléculas orgânicas e
degradar esses componentes indesejados. Esse par de elétron gerado pode sofrer
recombinação interna ou migrar para superfície do catalisador. Os processos podem
ser modificados para aplicação utilizando radiação solar natural, buscando-se bandas

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de absorção no UV próximo (320-400 nm) ou na faixa do visível (maior que que 400
nm).
Um catalisador é aplicado no meio reacional para aumentar a velocidade da
reação, em vista disso, em busca de encontrar um catalisador que deve apresentar
características de um semicondutor e melhores características para aplicações
fotocatalíticas, o objetivo da pesquisa é explorar a literatura científica acerca de
catalisadores heterogêneos utilizados para fotodegradação de cafeína e anti-
inflamatórios não esteroides em solução.

REVISÃO DA LITERATURA

O material ideal para fotocatalisadores deve possuir muitas características,


sendo as principais, alta fotoatividade nas regiões de UV e visível do espectro
eletromagnético, resistividade à fotocorrosão, baixo custo e baixa toxicidade
ambiental. O foco da pesquisa é identificar potenciais catalisadores heterogêneos
para aplicação na fotocatálise heterogênea para remoção de poluentes emergentes,
em especial compostos fármacos anti-inflamatórios não esteroides.

Dióxido de Titânio
Dentre os catalisadores mais usados e com maior rendimento no processo de
fotocatálise heterogênea, está o dióxido de titânio (TiO2). Devido sua maior atividade
catalítica, capacidade de absorção, eliminação de elétron, não toxicidade, baixo custo,
estabilidade química em ampla faixa de pH, capacidade de sensibilização e melhor
resposta à radiação em comprimentos de onda do espectro visível (Kaur, 2016). Este
óxido se apresenta em duas fases principais, anatase e rutilo, ambas com
propriedades fotocatalíticas distintas e amplamente reconhecidas.
Dentre as diferentes aplicações comerciais, o TiO2 P25 (80% anatase), é o mais
utilizado devido sua alta fotoatividade quando comparado às outras formas. Isso se
deve à sua alta área específica (aproximadamente 50 m2/g) e sua complexa
microestrutura cristalina (Nogueira, 1997). Porém apesar de ser o mais utilizado, o
TiO2 pode apresentar elevada recombinação elétron/lacuna e limitar o rendimento
total do processo. Diante disso, para minimizar essas recombinações, comuns a
diferentes fotocatalisadores, a incorporação de metais à estrutura cristalina do
catalisador é frequentemente empregada.

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O titânio é empregado ainda em catalisadores nanoestruturados, que


apresentam um destaque interessante para fotocatálise heterogênea. Costa e Prado
(2009) relatam uma vantagem do uso dos nanotubos (NTTs) de titanatos em relação
ao TiO2 tradicional, além da facilidade de recuperação, pois os NTTs podem ser
reciclados e reutilizados e diversos ciclos fotocatalíticos, mantendo 90% de sua
atividade.
Achilleos (2010), utilizou em sua pesquisa diferentes tipos de TiO2 e
concentrações na degradação de Diclofenaco, esses experimentos foram conduzidos
sob radiação UV-A e em pH 6. Os autores obtiveram 85% de degradação do
diclofenaco em 4h de irradiação e isso pode ser explicado devido a presença de ambas
as fases cristalinas do dióxido de titânio: anatase e rutilo. Devido possuir essa fase
mista, a atividade fotocatalítica é maior, porém a anatase pura é mais ativa que a fase
rutilo pura.
Méndez-Arriaga (2008), analisou TiO2 (degussa P25) em um reator com
lâmpada de xenônio e modificou diferentes parâmetros operacionais, demonstrando
degradação total do Ibuprofeno com carga de 1,0 g/L de catalisador. Já para o
Diclofenaco e Naproxeno foram utilizados cargas de 0,1 g/L de TiO2. O autor ainda
ressalta que metabólitos intermediários foram detectados em todos os casos.
Koltisakidou (2018), analisou a degradração de Citarabina (10,0 mg/L), usada
em tratamento de leucemia, a partir de uma concentração de 400,0 mg/L de TiO2 sob
radiação solar, após 360 min em pH 6,7 e obteve aproximadamente 80% de
degradação. O autor cita que o processo foi capaz de eliminar o composto original e
sua toxicidade, oferecendo uma abordagem alternativa promissora para tratar meios
aquosos contendo poluentes emergentes.

Óxido de Zinco
O óxido de zinco (ZnO) é um semicondutor que demonstra também uma boa
capacidade de oxidação e fotocatalítica em comparação com a titânia, possuindo mais
sítios ativos, maiores taxas de reação e sendo mais eficaz na geração de peróxido de
hidrogênio (Kaur, 2016). Sua área específica, tamanho médio de partícula, energia de
band gap, porosidade, densidade superficial de sítios ativos são os principais
parâmetros influentes para degradação eficiente de contaminantes orgânicos (Santos,

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2010). Além disso ZnO é um candidato adequado frequente em tratamento de águas


residuárias, pois não apresenta toxicidade à saúde humana e ao meio ambiente.
Alguns autores relatam que a principal vantagem é que ele absorve uma fração
do espectro solar maior que o TiO2, porém exibe uma rápida recombinação de carga
fotogerada, que dificulta seu uso direto sob luz visível. Devido a isso a modificação do
ZnO é muito realizada. Essas modificações auxiliam para reduzir a recombinação e
melhorar seu uso com luz solar. A modificação mais abordada e de maior sucesso é
conhecida como dopagem.

Dopagem de óxidos

A dopagem de óxidos metálicos é uma alternativa muito atrativa para alcançar


algumas características desejáveis de um fotocatalisador. Esse processo substitui os
átomos de metal do óxido por um segundo elemento metálico na estrutura cristalina.
Íons metálicos que são usados como dopantes podem ser de menor tamanho e
valência. Quando os de menor valência são substituídos, existe um espaço criado na
estrutura, que possui função importante na estabilização do sistema catalítico
(DESTRO, 2012). A dopagem de fotocatalisadores cria novos níveis de energia entre
as bandas de condução e valência do catalisador, reduzindo assim a energia de band
gap.

O desempenho do fotocatalisador de titânia dopado com Zr na degradação de


ibuprofeno (IBF) aumentou a conversão quando foram alterados parâmetros da
razão catalisador:substrato de 1:1 para 4:1, confirmando que a titânia dopada com Zr
exibiu alta atividade catalítica em dosagem menor de catalisador comparada com
titânia pura (Choina, 2014).

Estudos de Fotodegradação heterogênea de fármacos


Uma grande variedade de catalisadores heterogêneos derivados de vários
métodos estão sendo empregados na degradação por fotocatálise heterogênea de
compostos farmacêuticos anti-inflamatórios e cafeína. A Tabela 1 mostra alguns
exemplos representativos de compostos farmacêuticos que foram degradados por
fotocatálise heterogênea, catalisador usado e os principais resultados obtidos.

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Elhalil (2018) preparou pelo processo cerâmico catalisador 1%Mg-ZnO-Al2O3


que apresentou atividade catalítica elevada, com eficiência de degradação de 98,9%
de cafeína, após 70 min de irradiação. No estudo esse catalisador apresentou
melhores degradações em relação ao ZnO puro não dopado e ao dióxido de titânio
Degussa P25, além de apresentar ótima estabilidade após três ciclos de regeneração.
Por outro lado, Miranda (2014) relata a eficiência energética do catalisador que se
correlacionou bem com a mistura entre as fases dos nanotubos de carbono (CNTs) e
TiO2, com completa degradação da cafeína, vantagens que são previstas usando CNTs
como suporte devido a sua textura e morfologia únicas.

Tabela 1: Estudos de fotodegradação heterogênea de compostos farmacêuticos.


COMPOSTO CATALISADOR PARÂMETROS OBSERVAÇÕES REFERÊNCIAS
Cafeína (20 1% Mg-ZnO- 70 min de Remoção de (Elhalil et al,
mg/L) Al2O3 irradiação UV e 98,9% com 2018)
pH 7,5 0,3 g/L de
catalisador
Cafeína Nanotubos 1220 min de Remoção de (Miranda et
carbono-TiO2 irradiação com 100% com al, 2014)
comprimento de 50 mg/L
onda >350 nm
Diclofenaco TiO2 P25 (70% Lâmpada Degradação (Aguinaco et
anatase e 30% mercúrio 313 completa e al, 2012)
rutilo) nm em pH 7 em remoção de TOC
6 min de 60-75%
Diclofenaco TiO2 (0,5 g/L) Reator de Degradação de (Sarasidis,
(2,5 mg/L) membrana 99,5% e 2014)
fotocatalítica mineralização de
com 4 lâmpadas 69%
de luz negra
(24 W)
Ibuprofeno Ag-AgBr/TiO2 2 horas de Remoção de 98% (Wang, 2012)
(0,5 g/L) irradiação em com luz branca e
Fotorreator com Mineralização
Vis-LED (branca, 80% em 6 h de
azul, verde e irradiação
amarela)
Ibuprofeno Partículas de Quatro lâmpadas Remoção 100% (Choina et al,
ZnO com UV-vis solarium 2015)
concentração de 60 W
de 10 mg/L

No estudo de Aguinaco (2012), a degradação de diclofenaco foi completa após


6 min com catalisador TiO2 Degussa P25 e ozônio, independente da matriz de água

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usada, a concentração ideal de catalisador foi entre 1,5 e 2,5 g/L. Além disso, não foi
apresentada perda de atividade do catalisador após 8 h de uso. Já Sarasidis (2014)
investigou a degradação de diclofenaco com a combinação de membrana com
fotocatálise, possibilitando a reutilização do TiO2. Os resultados demostraram
excelente desempenho do sistema para pH 6 e carga de TiO2 próximo a 0,5 g/L
promovendo degradação de 99,5% e mineralização de 69% do composto.
Wang (2012) sintetizou o composto Ag-AgBr/TiO2 e realizou os experimentos
de degradação de ibuprofeno sob luz visível com cores diferentes sendo que foi
obtida para iluminação branca 98% de degradação e 97% com o uso de luz amarela.
Comparadas às outras fontes de radiação, os resultados podem estar associados à
presença de Ag e AgBr, mais fotoativos nestes comprimentos de onda.

Co-Catalisadores e o campo de catalisadores híbridos, suportados ou modificados


Os co-catalisadores são agentes que promovem a catálise em conjunto com um
fotocatalisador principal. Estudos recentes demonstram que os co-catalisadores
desempenham um papel significativo na melhoria da atividade e estabilidade dos
fotocatalisadores, tornando a aplicação muito mais viável ao sistema (Wang, 2018).
Compostos a base de cobalto são candidatos a essa aplicação devido a sua
elevada estabilidade e poder de oxidação (De Paula, 2018). Entendendo as
propriedades catalíticas de materiais semicondutores baseados no cobalto que são
capazes de gerar radicais que degradam uma variedade de compostos orgânicos é
possível ter um catalisador muito eficiente. O Co3O4 é um importante semicondutor
com band gap direto que varia entre 1,48 e 2,19 eV e que pode ser utilizado como co-
catalisador (Garcia, 2003).
O óxido de cobalto vem sendo utilizado como catalisador, além de co-
catalisador, e suas nanoestruturas são sintetizadas por diversos métodos como
deposição térmica, método hidrotérmico e métodos sol-gel. Wang (2007) relataram
que o Co3O4 poderia ser preparado por meio de precipitação líquida. Wywalski
(2006), preparou um catalisador Co/ZrO2 altamente disperso usando uma solução
aquosa de nitrato de cobalto com adição de etilenodiamina.

Chiou (2008) relatam que o uso de nanopartículas metálicas é de grande interesse


devido a um potencial Fermi maior, uma vantagem para formar radicais, sendo uma
característica dos semicondutores, onde se enquadram os compostos de cobalto e

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zinco. Awfa et al (2018) ressalta que no campo de catalisadores híbridos, suportados


ou modificados para fotocatálise é essencial sempre testar novos sistemas com
substratos que não absorvem luz visível e de mais preocupação ambiental além de
sempre procurar usar condições próximas às aplicações reais; esclarecer os
mecanismos operacionais e comparar com o máximo de resultados encontrados na
literatura e buscar por meios diferentes de irradiação; avaliar a possibilidade de
aplicação em larga escala em termos de síntese do catalisador, custo e preocupação
ambiental.

Importante relatar que se deve avaliar a toxicidade dos produtos gerados na


degradação, sendo uma forma de se avaliar por meio de experimentos de citoxicidade
em culturas de células ou mineralização via análise de carbono orgânico total.
Segundo os trabalhos de Kumar (2019) e Zhang (2020), citotoxicidade para humanos
em níveis celulares deve ser avaliada. Outras verificações incluem estabilidade do
fotocalisador, lixiviação de certos componentes do fotocatalisador modificação e a
possibilidade de reutilização, ambientalmente muito viável para os processos
industriais.
A maioria das pesquisas encontradas são em escala laboratorial, o
desempenho e a eficiência do fotocatalisador deve ser muito bem estudado e
avaliado. Fármacos são encontrados em baixas concentrações em águas superficiais e
residuais, então deve-se atentar e adaptar as concentrações em sistemas reais de
água, para uma futura ampliação de escala da pesquisa. Além disso deve-se pensar
onde incorporar fotocatálise heterogênea em estações de tratamento de efluentes e
de águas residuais típicas, configurando a planta para que consiga absorver luz do sol,
custo e diversos fatores. Outro ponto é que se deve pensar em incluir estudos para
degradação de múltiplos contaminantes farmacêuticos de forma simultânea
(Valempini, 2020).

CONCLUSÕES

Na medida que os problemas ambientais globais aumentam relacionados a


tratamento de águas residuais se torna cada vez mais séria a busca por meios
alternativos aos métodos convencionais, pois o tratamento insuficiente de águas pode
levar a poluição ambiental e a várias doenças em humanos e animais. Compostos

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farmacêuticos não se biodegradam facilmente, então se acumulam e persistem nos


ambientes aquáticos.

O fato é de que os métodos convencionais não são eficazes na remoção dos


compostos farmacêuticos, que vem gerando aumento de artigos que tratam da
caracterização de catalisadores e o emprego deles na fotodegradação catalítica, a qual
não se refere apenas à remoção de resíduos, mas também à redução ou prevenção da
poluição. Neste estudo foi possível observar diferentes métodos de processo e
metodologias de sínteses para formulação de fotocatalisadores heterogêneos, sejam
eles suportados ou contendo co-catalisadores. As pesquisas observam parâmetros
operacionais como a carga do catalisador, pH, solução e concentração do fármaco e
buscam melhorar sempre a eficiência do processo, junto com a melhoria contínua na
área da fotocatálise heterogênea e na preparação de catalisadores. Com isso, se
possibilita a descoberta de novas composições e aplicação de catalisadores. Outro
enfoque é a busca por catalisadores que possibilitem o uso da energia solar
disponível como irradiação para esse processo.

Diferentes tipos de catalisadores estão disponíveis e estudos estão cada vez mais
diversificados, buscando novos métodos de impregnação, novos compostos e
modificações funcionais. Contudo, a melhor escolha sempre vai depender do
composto orgânico alvo ao qual o catalisador deverá ser empregado para então
promover sua total degradação. Sendo assim, este trabalho é importante alerta para a
presença de fármacos em águas superficiais e a busca por um processo eficiente e
alternativo que busca eliminar essa poluição.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Universidade Estadual de Santa Catarina pela bolsa de
iniciação científica fornecida através de edital interno do Programa de iniciação à
Pesquisa.

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CAPÍTULO 49
UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE
MALTE NA ELABORAÇÃO DE
BISCOITOS TIPO COOKIES:
UMA REVISÃO DA
LITERATURA
Paola Fontana de Vargas1
Adriane Pagani2
Caroline Tombini3
Maria Manuela Camino Feltes⁴
Josiane Maria Muneron de Mello⁵
Francieli Dalcanton⁶

1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Comunitária da Região de Chapecó
(Unochapecó), Chapecó, SC, email: paola.vargas@unochapeco.edu.br, ID Lattes:
9558599518136752.
2
Graduanda em Nutrição, Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó),
Chapecó, SC, email: adrianepagani@unochapeco.edu.br, ID Lattes: 4966620915578811.

³Mestranda em Tecnologia e Gestão da Inovação, Universidade Comunitária da Região de


Chapecó (Unochapecó), Chapecó, SC, email: caroline.tombini@unochapeco.edu.br, ID
Lattes: 6454742409883288.

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⁴Professora do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal


de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, email: manuela.feltes@ufsc.br, ID Lattes:
0382558773540069.

⁵Professora da Área de Ciências Exatas e Ambientais e do Programa de Pós Graduação


Stricto Sensu em Tecnologia e Gestão da Inovação e Ciências Ambientais, Universidade
Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), Chapecó, SC, email:
josimello@unochapeco.edu.br, ID Lattes: 4452075001099749.

⁶Professora da Área de Ciências Exatas e Ambientais do Programa de Pós Graduação


Stricto Sensu em Tecnologia e Gestão da Inovação, Universidade Comunitária da Região
de Chapecó (Unochapecó), Chapecó, SC, email: fdalcanton@unochapeco.edu.brbr, ID
Lattes: 7708949855601731.

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UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE MALTE NA ELABORAÇÃO DE BISCOITOS TIPO COOKIES:


UMA REVISÃO DA LITERATURA

RESUMO
O bagaço de malte é o principal subproduto da indústria cervejeira, correspondendo a
85% dos resíduos gerados por ela. A reutilização do mesmo com destino à
incorporação de produtos panificados, como os cookies, torna-se uma solução
promissora do ponto de vista econômico, nutricional e ambiental. À vista disso, o
objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura (2016 até 2021), a fim de
encontrar estudos que utilizassem o bagaço de malte na elaboração de cookies,
produtos de grande interesse comercial e amplamente consumidos. Para atingir este
objetivo, realizou-se uma busca nas bases de dados do Portal de Periódicos da Capes e
Google Acadêmico, com a utilização das palavras-chave brewer's spent grain, malt
bagasse, cookies e bagaço de malte. As obras selecionadas demonstraram que o
bagaço de malte, por possuir propriedades nutricionais importantes, pode ser
incorporado nas formulações de cookies, agregando caráter mais saudável a este
alimento.
Palavras-chave: Bagaço de malte. Tecnologia de alimentos. Reaproveitamento.

THE USE OF MALT BAGASSE IN THE DESIGN OF COOKIE BISCUITS: A LITERATURE


REVIEW

ABSTRACT
Malt bagasse is the main by-product of the brewing industry, corresponding to 85%
of the waste generated by it. The reuse of the same for the incorporation of baked
products, such as cookies, becomes a promising solution from an economic,
nutritional and environmental point of view. In view of this, the objective of this study
was to carry out a literature review (2016 to 2021), in order to find studies that used
malt bagasse in the preparation of cookies, products of great commercial interest and
widely consumed. To achieve this goal, a search was carried out in the Capes Journal
Portal and Google Academic databases, using the keywords brewer's spent grain, malt
bagasse, cookies and bagaço de malte. The selected works demonstrated that malt
bagasse, due to its important nutritional properties, can be incorporated into cookie
formulations, adding a healthier character to this food.
Key-words: Malt bagasse. Food technology. Reuse.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, há uma constante preocupação, por parte das indústrias


alimentícias, na busca pelo desenvolvimento de produtos diferenciados e inovadores
com qualidade nutricional e sensorial que atendam às exigências do mercado
consumidor e ao mesmo tempo, garantam a competitividade empresarial. Dessa
maneira, uma alternativa que vem ganhando notoriedade ao longo dos últimos anos é
o aproveitamento integral e/ou parcial de resíduos não utilizados pelas indústrias.
Grande parte do que é descartado pode ser aproveitado na produção de novos
alimentos contribuindo assim para aspectos econômicos, nutricionais e ambientais
(Belinazo et al., 2020).
Nesse sentido, a utilização de farinhas mistas com maiores teores de fibras e/ou
proteínas ou que possua componentes funcionais, tornou-se alvo de investigação pela
área da panificação para a elaboração de produtos com melhores qualidades
nutricionais (Rigo et al., 2017). Assim, o bagaço de malte pode ser uma opção para
incorporação nesses produtos.
O bagaço de malte é constituído basicamente pelas cascas dos grãos de cevada e
é o principal subproduto da indústria cervejeira, correspondendo a 85% dos resíduos
gerados por ela. A facilidade em encontrar tal resíduo, seu baixo custo e suas
características de composição, fazem desse resíduo um meio para o
reaproveitamento em alimentos para o consumo humano (Rigo et al., 2016). Devido
às suas características nutricionais, que incluem altos níveis de fibra dietética e
proteínas, além de ser fonte de minerais, polifenóis e lipídios, o bagaço de malte
torna-se um material com grande potencial para a produção, principalmente, de
alimentos panificados. Além de ser um subproduto muitas vezes descartado pelas
cervejarias, sua principal destinação é para a alimentação animal, sendo limitada
devido a alta umidade presente neste resíduo e o baixo valor agregado a essa
finalidade (Padia, 2019).
Na área da panificação, os alimentos que vêm ganhando destaque são os
cookies. A legislação Resolução RDC n° 263 de setembro de 2005, define biscoitos ou
bolachas, produtos obtidos pela mistura de farinha (s), amido (s) e ou fécula (s) com
outros ingredientes, submetidos a processos de amassamento e cocção, fermentados
ou não. Podendo apresentar cobertura, recheio, formato e textura diversos. Esses
produtos são de grande interesse comercial, que devido a sua facilidade de fabricação,

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comercialização, distribuição e shelf-life, são amplamente consumidos (Weege et al.,


2017).
De acordo com Rigo e colaboradores (2016), com o objetivo de incrementar a
formulação em termos nutricionais, especialmente com relação ao teor de fibras e
proteínas, a incorporação do bagaço de malte na produção de cookies torna-se uma
interessante estratégia e vem sendo alvo de diversos estudos que comprovam que o
seu uso como substituição parcial da farinha de trigo, pode ser muito vantajoso.
Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo avaliar publicações na
literatura que utilizaram o resíduo de bagaço de malte com foco na produção de
cookies, visto que este subproduto representa uma possibilidade de aumento do
desempenho desses produtos no mercado, beneficiando o consumidor final com um
alimento mais interessante, saudável e diversificado.

MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento da presente pesquisa realizou-se uma revisão da
literatura, em que o levantamento de dados deu-se em abril de 2021, nas bases de
dados do Portal de Periódicos da Capes e Google Acadêmico. Os idiomas selecionados
foram português e inglês, sendo utilizadas as palavras-chave “brewer's spent grain”,
“malt bagasse”, “cookies” e “bagaço de malte”. Através dessa busca, objetivou-se
encontrar estudos com foco na utilização do resíduo de bagaço de malte para
produção especificamente de biscoitos tipo cookies.
Em primeiro momento, o resultado da busca apresentou 126 trabalhos no
Google Acadêmico e 48 trabalhos no Portal de Periódicos da Capes, totalizando 174
trabalhos. Posteriormente, selecionou-se os estudos publicados nos últimos cinco
anos (2016 até 2021) e que estavam de acordo com a temática preferida para a
pesquisa, avaliando o título e resumo dos mesmos. Desta forma, selecionou-se 10
trabalhos para realização do presente estudo, como apresentado na Figura 1.

REVISÃO DA LITERATURA

Através da pesquisa realizada, analisou-se os 10 trabalhos selecionados que


apresentaram a utilização do bagaço de malte para a produção de biscoitos tipo
cookies, com estudos de elaboração, desenvolvimento, características nutricionais e

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avaliação sensorial. Buscando proporcionar um maior conhecimento a respeito do


tema, detalha-se cada estudo a seguir.

Figura 1 - Fluxograma de pesquisa de estudos publicados

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

Belinazo et al. (2020) visaram aproveitar o potencial nutritivo do bagaço de


malte na elaboração de cookies com raspas de casca de laranja, em que avaliaram a
substituição parcial da farinha de trigo pela farinha de bagaço de malte. Para a
avaliação da aceitação, inicialmente realizou-se uma pesquisa de mercado sobre o
interesse do consumidor, mostrando que o consumo da farinha de bagaço de malte
não está presente na alimentação dos entrevistados, porém, há um potencial
interesse de consumo deste produto. Posteriormente, foram elaboradas três
formulações com 15%, 30% e 50% de farinha de bagaço de malte, os quais foram
avaliados quanto aos atributos sensoriais e intenção de compra.
Os resultados mostraram que em relação ao atributo aparência não houve
diferença estatística, já os atributos cor, odor, sabor, textura e impressão global houve
diferenças entre as formulações, sendo que as formulações com 15% e 30% de

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substituição tiveram maior aceitabilidade e possibilidade de compra. Os autores


mostraram através do estudo realizado, a possibilidade de utilização da farinha de
bagaço de malte em até 30% na elaboração de biscoitos tipo cookies e a utilização de
algum tipo de aroma, como no caso em estudo, utilizou-se casca de laranja,
melhorando as características sensoriais e nutricionais.
Okpala e Ofoedu (2018) realizaram seu estudo em biscoitos produzidos a partir
de misturas de farinha de 70% de trigo e 30% de batata-doce fortificada com níveis
variados de farinha de bagaço de malte. Os biscoitos foram fortificados com 3, 6 e 9%
de farinha de bagaço de malte e apresentaram alta qualidade nutricional e
organoléptica, sendo melhores do que os biscoitos produzidos com 100% da farinha
de trigo no que se diz respeito aos teores de proteínas, cinzas e fibra, bem como seus
parâmetros sensoriais, com exceção dos biscoitos elaborados com 9% de bagaço de
malte, cuja aceitação foi menor em comparação aos biscoitos elaborados com 3 e 6%.
Os autores evidenciaram que tal fortificação ajudará a reduzir a desnutrição, bem
como minimizar os resíduos da indústria cervejeira.
Os estudos realizados por Rigo e colaboradores (2016) e Wust (2018),
primeiramente avaliaram a composição centesimal da farinha de malte obtida e,
posteriormente, a incorporação nos biscoitos tipo cookies. Wust (2018), avaliou a
farinha de malte proveniente de dois tipos de cerveja APA e Saison, preferindo a
primeira, de acordo com o resultado de seu estudo. Já Rigo e colaboradores (2016),
não especificaram o tipo de farinha de malte utilizada em sua pesquisa.
Como mencionado, o estudo de Rigo e colaboradores (2016) determinaram a
composição centesimal da farinha obtida do bagaço de malte e avaliaram as
características físico-químicas e sensoriais de formulações de biscoitos tipo cookies
elaboradas com substituição parcial da farinha de trigo por farinha obtida de bagaço
de malte, tendo como resultado que a adição desse resíduo, em 10, 20 e 30%,
diminuiu o teor de carboidratos e a umidade e aumentou o teor de fibras e proteínas
em relação à formulação padrão (0% de bagaço de malte). Em relação a análise
sensorial, os cookies elaborados com 30% de bagaço de malte apresentaram sabor
residual, segundo alguns avaliadores. Já os cookies contendo 10% e 20% de bagaço
de malte, apresentaram um alto índice de aprovação, sugerindo viabilidade da
incorporação parcial deste resíduo na produção de biscoitos.

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Ademais, os autores citam que novos estudos podem ser realizados para
desenvolver formulações de biscoitos com alto teor de farinha de bagaço de malte,
utilizando-se alguns tipos de aditivos (aromas), com o objetivo de melhorar as
características sensoriais do produto e aumentar a sua quantidade de fibras.
O foco do estudo realizado por Wust (2018) foi na avaliação proximal de
umidade, cinzas, lipídios, fibras, proteínas, carboidratos e valor energético, além de
análises físicas como parâmetros de cor, atividade de água (Aw), diâmetro, espessura,
fator de expansão, volume específico e textura de biscoitos tipo cookies elaborados
com farinha de malte proveniente de cerveja APA, nas porcentagens 25, 50, 75 e
100% em substituição a farinha de trigo. Primeiramente, o autor realizou análises de
cor, luminosidade e teores de umidade, cinzas, lipídios e fibras de dois tipos de
farinha malte provenientes dos tipos de cerveja APA e Saison, optando pela farinha de
malte APA, pois a mesma apresentou maiores valores de luminância (cor mais clara),
maiores teores de cinzas e consequentemente, maiores quantidades de minerais e
menores quantidades de lipídios. Através desses resultados, o autor utilizou a farinha
de malte APA para conduzir seu estudo, com a incorporação da mesma nos cookies.
Quando compara-se as formulações com diferentes porcentagens de bagaço de
malte, verificou-se, como esperado, que o aumento da proporção de farinha de malte
adicionada levou a um aumento dos teores de cinzas, fibras e proteínas e uma
diminuição da umidade e conteúdo de carboidratos. Além disso, registrou-se que a
adição de farinha de malte aumentou a espessura e a firmeza e reduziu o diâmetro
dos biscoitos e o volume específico. Dessa forma, o autor concluiu que a reutilização
desse resíduo é promissora na produção de produtos panificados.
Padia (2019) objetivou com sua pesquisa, elaborar cookies funcionais
utilizando 25% e 50% de bagaço de malte obtido a partir da produção de chopp
Pilsen, comparando nutricionalmente com cookies encontrados em supermercados. A
autora comprovou através de seu estudo, que o uso do bagaço de malte como
ingrediente principal elevou a quantidade de proteínas e o teor de fibra alimentar nos
cookies, a medida que a concentração de bagaço de malte aumentava, transformando-
os dessa forma, em um alimento funcional, tendo em vista que a quantidade de fibras
auxilia diretamente na taxa de digestão e absorção de nutrientes nos indivíduos.
Outrossim, foi observada que a maior porcentagem de bagaço de malte reduziu
o valor calórico e a quantidade de carboidratos nos cookies, tornando esse produto

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altamente desejado por muitos consumidores preocupados em consumir alimentos


menos energéticos, mas de boa qualidade nutricional. Quando compara-se os cookies
elaborados com resíduo de bagaço de malte e os cookies comercializados em
supermercado, notou-se que os primeiros, além de possuírem uma receita simples,
prática e nutritiva, são produtos de baixo custo.
Ikuomola, Otutu e Oluniran (2017), avaliaram a qualidade proximal, física e
sensorial de biscoitos produzidos com 5, 10, 20 e 50% de bagaço de malte, oriundo de
cevada (Hordeum vulgare). O resultado proximal encontrado pelos autores está em
concordância com os artigos anteriormente mencionados, registrando aumento de
proteínas, cinzas, lipídios, fibra bruta, bem como a diminuição no teor de umidade,
carboidratos e valor energético conforme o nível de substituição da farinha de bagaço
de malte aumenta. As propriedades físicas dos cookies: peso, diâmetro, espessura,
proporção de espalhamento aumentaram, enquanto a resistência à ruptura diminuiu
com o aumento da porcentagem de bagaço de malte. Nos resultados sensoriais, os
biscoitos elaborados com 5 e 10% de farinha de malte tiveram maior aceitação para
crocância e cor, sendo que de todas as formulações a amostra de biscoito com 5% de
bagaço de malte teve a maior aceitação quanto ao sabor.
Petrović e colaboradores (2017), Ferreira (2017) e Weege et al. (2017),
diferente dos demais estudos que utilizaram-se da farinha de bagaço de malte,
fizeram uso do bagaço de malte úmido, apresentando uma proposta diferenciada de
incorporação deste resíduo para o desenvolvimento dos biscoitos.
Petrović e colaboradores (2017), tiveram como objetivo em seu estudo, avaliar
o teor de fibra e proteína, parâmetros instrumentais de cor, estabilidade microbiana e
características sensoriais dos biscoitos com a substituição parcial de farinha de trigo
pelo bagaço de malte úmido e não moído, nas porcentagens 15, 25 e 50%. Conforme
os autores, os resultados confirmaram que bagaço de malte é um potencial
suplemento alimentar nutritivo. As amostras de biscoitos produzidas pelo bagaço de
malte tinham 1,75 vezes mais proteínas e 5 vezes mais fibras em comparação a
amostras preparadas com farinha de trigo. Embora o bagaço de malte in natura
apresentasse Enterobacteriaceae, estes microrganismos não foram detectados nas
amostras dos cookies. Em análise sensorial, observou-se no estudo que o percentual
de utilização não deve ultrapassar 25% de substituição de bagaço de malte devido à
sua dureza, arenosidade e sabor. Os autores também destacaram que porcentagens

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de substituição acima desta tiveram impacto negativo em relação a mastigabilidade,


uma vez que as partículas maiores do bagaço de malte não moído levaram a um
atraso na mastigação.
Ademais, embora a utilização do bagaço úmido nos cookies não tenha
prejudicado o estado microbiológico, a estabilidade e as características nutricionais
dos mesmos, os autores destacaram que o uso desse resíduo na forma in natura deve
ser imediatamente após o processamento da cerveja.
O estudo realizado por Ferreira (2017) mostrou a utilização do bagaço de malte
na formulação de biscoitos integrais feitos em substituição parcial da farinha de trigo
integral por bagaço de malte úmido. Foram elaborados quatro tipos de biscoitos,
sendo um padrão (0% de bagaço de malte) e os demais contendo 10%, 30% e 50% do
bagaço de malte. A avaliação iniciou-se com a análise físico-química dos biscoitos
elaborados. Do ponto de vista nutricional, observou-se que nas formulações com
10%, 30% e 50% de bagaço de malte, houve aumento nos valores de fibras e
proteínas em relação à formulação padrão que não possuía bagaço de malte. Na
análise sensorial, os produtos tiveram boa aceitação, porém entre todas as
formulações a que mais se destacou foi o do biscoito com 10% de bagaço de malte.
Portanto, evidenciou-se no estudo que o bagaço de malte é um ingrediente de
características sensoriais aceitáveis, de alto valor nutricional, sendo rico em fibras.
Apesar da autora ter utilizado bagaço de malte úmido, diferente da maioria dos
estudos que realizaram a secagem do mesmo, os resultados de atividade da água dos
biscoitos (entre 0,51 e 0,59) ficaram dentro da faixa exigida para que não houvesse
proliferação de microrganismos (0,6). No entanto, a mesma cita que a secagem do
bagaço de malte é essencial, já que padronizaria a formulação, facilitaria o transporte
e aumentaria o tempo de armazenamento deste resíduo.
Weege et al. (2017), buscaram analisar os aspectos nutricionais e as
características funcionais de cookies de canela com adição de 20% de bagaço de
malte úmido oriundo da cerveja Weizen (contém malte Pilsen Alemão Globalmalt,
malte Chateau Wheat Blanc e malte Chateau Munich) em relação a farinha de arroz. O
estudo teve como resultado um aumento do teor de proteínas por porção de cookies e
uma diminuição da quantidade de gorduras e calorias quando comparados aos
cookies comerciais.

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Em relação a análise de polifenóis, substâncias que desempenham ação


antioxidante no organismo, verificou-se que os cookies enriquecidos com malte
apresentaram essa propriedade, visto que a fonte de polifenóis é proveniente do
bagaço e da canela. Embora este estudo tenha feito uso do bagaço de malte úmido,
levando a um teor de umidade elevado, as características dos cookies não foram
alteradas.
Diferentemente dos demais estudos apresentados, que avaliaram a utilização do
bagaço de malte em biscoitos doces, Glüger e Gurak (2020) estudaram a
potencialidade tecnológica da incorporação de farinha de bagaço de malte
proveniente da produção de cerveja do tipo Pilsen, em biscoitos salgados tipo
aperitivo. Para isso, utilizaram-se de testes em formulações com 0%, 25% e 50% de
farinha de bagaço de malte em substituição a farinha de trigo. Como resultado,
apontou-se que a incorporação de farinha de bagaço de malte apresentou um
aumento de proteínas, teor de cinzas, lipídios e fibras em relação a farinha de trigo.
Também observou-se a diminuição no teor da umidade e carboidratos conforme o
aumento do percentual de adição de farinha de bagaço de malte. A análise sensorial
apontou que os biscoitos com 25% de farinha de bagaço de malte tiveram maior
aceitabilidade. Por fim, os autores destacam o bagaço de malte como um insumo de
possível desenvolvimento de novos produtos destinados à alimentação humana, além
de incentivar os cuidados com o meio ambiente.
Através da leitura e análise dos artigos, observou-se que a percentagem geral de
aceitação sensorial dos biscoitos elaborados com substituição parcial da farinha de
trigo, farinha de arroz ou farinha de batata doce pelo bagaço de malte foi entre 5 e
25%. Valores acima desses, resultaram na alteração de sabor, aroma e propriedades
físicas, como a cor, do produto final.
Em relação a alteração de sabor e aroma, a incorporação de
aromatizantes/aditivos torna-se uma opção interessante do ponto de vista
nutricional e sensorial dos cookies elaborados com o bagaço de malte, visto que além
de neutralizar o sabor acentuado e característico do bagaço, tornaria os biscoitos
mais saudáveis. Dessa forma, das obras selecionadas, 70% destas fizeram uso de
algum aditivo: essência de baunilha (30%); casca de laranja (10%); chocolate meio
amargo (10%); canela (10%); e orégano, alecrim, manjerona, sálvia e tomilho (10%).

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O restante das obras (30%), não utilizou nenhum aditivo na formulação, como pode
ser observado na Figura 2.

Figura 2 - Utilização de diferentes aditivos nos trabalhos avaliados

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

Dos estudos avaliados, a maioria optou pela substituição parcial da farinha de


trigo, farinha de arroz ou farinha de batata doce pelo bagaço de malte, cuja
porcentagem variou de 3 a 75%, com exceção da pesquisa realizada por Wust (2018),
que além da substituição parcial, realizou a substituição total (100%) da farinha de
trigo pela farinha de bagaço de malte.
Em relação à avaliação dos biscoitos tipo cookies, 6 entre os 10 estudos
selecionados realizaram análise sensorial e centesimal, enquanto que os outros 4
realizaram apenas a determinação centesimal.
O bagaço de malte utilizado para o desenvolvimento dos biscoitos tipo cookies
nos estudos selecionados foram, em sua maioria, provenientes do resíduo de malte
Pilsen. Porém, Weege et al. (2017) fez a utilização do malte tipo Weizen que contém
três tipos de malte: Malte Pilsen Alemão Globalmalt, Malte Chateau Wheat Blanc e
Malte Chateau Munich. O autor destaca que a utilização de diversos tipos de malte na
mesma formulação faz com que a cerveja produzida tenha aromas, texturas e sabores
diferenciados. E Wust (2018) também diferenciou-se utilizando Malte tipo APA e
Saison porém, não relata o motivo de tal escolha.
Outrossim, o bagaço de malte foi utilizado na forma de farinha pela maioria dos
estudos avaliados (70%), com exceção de Petrović et al. (2017), Ferreira (2017) e
Weege et al. (2017), que o utilizaram na forma in natura.

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Analisando a composição centesimal dos biscoitos apresentados nos artigos


estudados, ficou evidenciado o potencial nutricional da utilização do bagaço de malte.
Os estudos registraram um aumento nos níveis de proteínas, fibras, cinzas e lipídios e
diminuição de umidade e teor de carboidratos, conforme o aumento da porcentagem
de bagaço de malte.
O aumento do teor de fibras e o baixo teor de carboidratos registrados nos
cookies é um ponto positivo, segundo Padia (2019) e Ikuomola, Otutu e Oluniran
(2017), visto que o aumento de fibras, em quantidades adequadas, possui
propriedades importantes que atuam prevenindo problemas gastrointestinais e
inibindo LDL (Low Density Lipoproteins) - colesterol, reduzindo o risco de doenças
cardiovasculares.
Em relação ao conteúdo de cinzas, Ikuomola, Otutu e Oluniran (2017), citam que
o aumento registrado, sugere que os cookies fornecerão mais minerais aos
consumidores. Os mesmos autores também afirmam que a presença de maiores
teores de lipídios melhoram a qualidade do produto, em termos de sabor e textura.
No entanto, concordam com Rigo et al., (2016) que sugerem que lipídios podem
sofrer oxidação, alterando os atributos sensoriais e ocasionando perdas de valor
nutricional e comercial dos biscoitos, além de aumentar o valor calórico dos mesmos.
Todos os estudos avaliados afirmaram que o aumento do teor de proteínas é
atribuído à quantidade significativa de proteína presente no bagaço de malte, sendo
benéfico quando agregado aos cookies. Também, a baixa umidade presente nos
produtos desenvolvidos é visto como positivo, pois reduz as chances de deterioração
por microrganismos garantindo, consequentemente, boa estabilidade de
armazenamento e vida útil.
Nota-se, portanto, que essas características, tornam o produto final, no caso
estudado, os cookies, mais saudáveis e nutritivos. Desta forma, verifica-se que um
resíduo que atualmente é descartado pelas indústrias, na maior parte ou
encaminhado para nutrição animal e que tem sua utilização limitada devido a alta
umidade em que deixa o processo de produção de cerveja, pode ser utilizado para fins
mais nobres, como enriquecer alimentos, configurando um potencial uso de
características sustentáveis e agregar valor ao subproduto.

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Na Figura 3, pode ser observado um resumo com as principais informações


apresentadas pelos artigos selecionados para estudo, bem como os principais
resultados atingidos.

Figura 3 - Principais informações sobre os trabalhos selecionados para estudo

Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.


CONCLUSÕES

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Tendo em vista a demanda cada vez maior por parte dos consumidores por
alimentos que promovam saúde, bem-estar e redução de risco de doenças, observa-
se, através dos estudos acerca da utilização do resíduo de bagaço de malte, que esta é
uma importante opção para incorporação em produtos como os cookies, visto que as
propriedades nutricionais do mesmo, como proteínas e fibras conferem a esse
alimento características mais saudáveis. Outrossim, a destinação desse subproduto
para a alimentação humana torna-se promissora do ponto de vista ambiental e
econômico, visto que propicia uma redução no impacto ambiental, além de que, os
custos com o descarte desse resíduo pela indústria cervejeira, seriam minimizados e
ainda, evidencia-se a possibilidade de obter-se retorno financeiro sobre a destinação
do bagaço de malte para esta finalidade de maior valor agregado.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Programa de Bolsas Universitárias de Santa
Catarina (UNIEDU) e às Bolsas de pesquisa do programa PIBIC/CNPq.

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CAPÍTULO 50
PROTEÍNAS DO LEITE: FONTE
DE PEPTÍDEOS BIOATIVOS E
HIDROLISADOS PROTEICOS
COM ATRAENTES
PROPRIEDADES
Alécia Daila Barros Guimarães1
Isabela Soares Magalhães2
Ana Flávia Coelho Pacheco3
Letícia Bruni de Souza4
Bruno Ricardo de Castro Leite Júnior5

1
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: aleciabarros@live.com, ID Lattes: 3203684996416845
2
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: isabela.magalhaes@ufv.br, ID Lattes: 2459923769010942
3
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: ana.f.pacheco@ufv.br, ID Lattes: 5585372720703259
4
Graduanda em Ciência e Tecnologia de Laticínios, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: leticia.bruni@ufv.br, ID Lattes: 3464641040535289
5
Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa, MG, email: bruno.leitejr@ufv.br, ID Lattes: 5096562930650660

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PROTEÍNAS DO LEITE: FONTE DE PEPTÍDEOS BIOATIVOS E HIDROLISADOS


PROTEICOS COM ATRAENTES PROPRIEDADES

RESUMO
O leite é um alimento com excelente qualidade nutricional e uma das mais populares
fontes de proteína para a dieta humana. A partir da hidrólise das proteínas do leite
podem ser obtidos hidrolisados proteicos com melhores propriedades técnico-
funcionais (solubilidade, propriedades emulsificantes e espumantes, dentre outras)
em comparação as proteínas nativas. Do ponto de vista tecnológico, essa melhoria é
relevante e esses hidrolisados proteicos vêm sendo utilizados como ingredientes
alimentares para aprimorar as propriedades técnico-funcionais dos produtos
alimentícios. Além disso, a hidrólise das proteínas do leite pode resultar em peptídeos
bioativos que irão desempenhar diversas propriedades biológicas, como ação
antioxidante, anti-hipertensiva, antidiabética e outras. Assim, esse capítulo apresenta
a crescente a exploração das proteínas do leite para o desenvolvimento de
ingredientes alimentares como fonte de peptídeos multifuncionais para serem
empregados na dieta humana.
Palavras-chave: Caseínas. Proteínas do soro. Hidrólise enzimática. Propriedades
técnico-funcionais. Propriedades biológicas.

MILK PROTEINS: SOURCE OF BIOACTIVE PEPTIDES AND PROTEIN HYDROLYSATES


WITH ATTRACTIVE PROPERTIES

ABSTRACT
Milk is a food with excellent nutritional quality and one of the most popular sources
of protein for the human diet. From the hydrolysis of these proteins, protein
hydrolysates with better techno-functional properties can be generated (solubility,
emulsifying and foaming properties, among others) compared to native proteins.
From a technological point of view, this improvement is relevant and these
hydrolysates have been used as food ingredients to improve the techno-functional
properties of food products. In addition, the hydrolysis of milk proteins can result in
bioactive peptides that will play several biological properties, such as antioxidant,
antihypertensive, antidiabetic and other actions. Thus, this chapter introduces the
growing exploration of milk proteins for the development of food ingredients as a
source of multifunctional peptides to be used in the human diet is growing.
Keywords: Caseins. Whey proteins. Enzymatic hydrolysis. Techno-functional
properties. Biological properties.

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, houve um aumento no número de estudos sobre


hidrolisados proteicos e peptídeos bioativos, devido às suas inúmeras propriedades e
aplicações. Diversas fontes de proteínas podem ser utilizadas para geração desses
produtos, como por exemplo, grãos, sementes, peixes, leite, ovos, insetos, dentre
outros. Nesse contexto, o leite se destaca por ser uma boa fonte de proteínas.

Os hidrolisados proteicos obtidos a partir da hidrólise das proteínas do leite


podem apresentar melhores propriedades técnico-funcionais. Ou seja, esses
hidrolisados podem proporcionar maior solubilidade, atividade emulsificante,
capacidade de formação e estabilização de espuma e gel, dentre outras propriedades
em comparação com a proteína não hidrolisada. Além disso, peptídeos bioativos que
possuem uma série de efeitos biológicos, incluindo atividade antioxidante, anti-
hipertensiva, antidiabética, imunomoduladora, entre outros podem ser obtidos por
meio da hidrólise das proteínas do leite (Nielsen et al., 2017).

A hidrólise enzimática representa a abordagem mais usada para a geração de


hidrolisados proteicos e peptídeos bioativos a partir das proteínas do leite, uma vez
que, as enzimas possuem alta especificidade e ausência de toxicidade. Além disso,
esse é um processo que geralmente é conduzido em condições controladas (pH,
temperatura, concentração de substrato e atividade enzimática) (Ulug et al., 2021).
Assim, a utilização de hidrolisados e peptídeos bioativos derivados das proteínas do
leite obtidos da hidrólise enzimática, pode ser vantajosa para obtenção de produtos
com melhores características tecnológicas, sensoriais e nutricionais.
Com isso, esse capítulo dispõe uma abordagem sobre a hidrólise enzimática
das proteínas do leite como uma estratégia para geração de peptídeos bioativos e
obtenção de hidrolisados proteicos com melhores propriedades técnico-funcionais.

REVISÃO DA LITERATURA

Peptídeos bioativos e hidrolisados proteicos: definição, obtenção e funcionalidade


Hidrolisados proteicos e peptídeos bioativos são de interesse para a indústria
de alimentos e farmacêutica devido à melhoria da qualidade dos produtos
alimentícios e aos benefícios para saúde humana (Figura 1). Os hidrolisados proteicos
são constituídos por uma mistura de oligopeptídeos, peptídeos e aminoácidos livres

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que são obtidos a partir da hidrólise das proteínas (Nasri, 2017). Já os peptídeos
bioativos são os pequenos fragmentos, resultante da hidrólise proteica, que
geralmente possuem cerca de 2 a 20 aminoácidos com peso molecular abaixo de 6
kDa (Görgüç et al., 2020; Zou et al., 2020).

Figura 1: Exemplos de algumas propriedades técnico-funcionais de hidrolisados


proteicos e propriedades biológicas de peptídeos bioativos.

Os hidrolisados proteicos podem potencializar a funcionalidade das proteínas,


resultando na melhoria de diversas propriedades técnico-funcionais como, a
capacidade de retenção de água e óleo, emulsificação, retenção de aroma,
solubilidade, propriedades espumantes e gelificantes etc., quando adicionados aos
alimentos. As propriedades biológicas como, por exemplo, a ação antioxidante, anti-
hipertensiva e antidiabética são desempenhadas pelos peptídeos bioativos (Daliri et
al., 2017; Piovesana et al., 2018; Guo et al., 2019; Görgüç et al., 2020; Zou et al., 2020)
(Figura 1).
A hidrólise das proteínas pode ser realizada por diferentes métodos, dentre
eles têm-se a hidrólise enzimática e química. Geralmente, prefere-se utilizar a
hidrólise enzimática devido às vantagens, como a alta especificidade das enzimas e a

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ausência de toxicidade. Este método é livre de solventes orgânicos e produtos


químicos tóxicos, o que é de extrema relevância na indústria de alimentos e
farmacêutica, uma vez que não oferece risco aos consumidores.
A hidrólise das proteínas resulta em mudanças no peso molecular, carga elétrica
e expõe grupos hidrofóbicos e cadeias laterais reativas de aminoácidos. As enzimas
utilizadas na hidrólise vão determinar quais peptídeos serão obtidos, sendo que os
hidrolisados formados por várias enzimas podem ter diferentes funcionalidades.
É importante ressaltar que a fonte proteica e o método de obtenção podem
gerar hidrolisados contendo diferentes peptídeos com propriedades distintas, uma
vez que a funcionalidade do peptídeo está relacionada com o peso molecular,
sequência e composição de aminoácidos e também com as condições de
processamento (Castro et al., 2015).
Portanto, a escolha da fonte proteica e as condições da hidrólise enzimática
(como pH, temperatura, concentração de substrato e relação enzima/substrato)
devem ser otimizadas para maximizar as condições de obtenção do hidrolisado
proteico e/ou do peptídeo bioativo de interesse. Na área de laticínios pesquisas estão
sendo realizadas visando a obtenção de peptídeos bioativos e hidrolisados proteicos a
partir das proteínas do leite de diversas fontes (bovino, caprino, camelo etc) com
distintas propriedades biológicas e técnico-funcionais (Wu et al., 2018).

Proteínas do leite como fonte de peptídeos bioativos


As proteínas do leite são divididas majoritariamente em dois grandes grupos:
caseínas e proteínas do soro, representando 80 e 20%, respectivamente, no leite
bovino. As micelas de caseínas consistem em quatro frações principais, αs1-, αs2-, β- e
k-caseína e as principais proteínas do soro são β-lactoglobulina, α-lactoalbumina,
imunoglobulinas e soroalbumina. Essas proteínas têm recebido atenção especial
devido suas funções fisiológicas no organismo humano, sendo a principal fonte de
peptídeos bioativos.
O papel dos peptídeos derivados da proteína do leite como agentes
antidiabéticos tem atraído muito interesse. Já foi relatado que a hidrólise das caseínas
e das proteínas do soro de leite geram peptídeos inibidores da dipeptidil peptidase IV
(DPP-IV) (Lacroix e Li-Chan, 2016). O peptídeo inibidor de DPP-IV mais potente
identificado nas proteínas alimentares é o Ile-Pro-Ile (Diprotina A), que pode ser

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obtido pela hidrolise da κ-caseína e da β-lactoglobulina (Nongonierma et al., 2017;


Tulipano, et al. 2011).
Peptídeos bioativos derivados da β-lactoglobulina destacam-se por suas
atividades anti-hipertensiva, antioxidante, antimicrobiana e antidiabética (Mann et
al., 2015; Tulipano, et al. 2011). Em uma pesquisa recente, observou-se que a β-
lactoglobulina de soro de leite bovino hidrolisada com proteases vegetais resultou em
peptídeos com atividade inibitória da enzima conversora de angiotensina (ECA) (75–
90% de inibição) (Mazzora-Manzano et al., 2020).
A α-lactoalbumina, que também está presente no soro de leite, geram peptídeos
que estão mais relacionados com a redução de estresse e atividades antimicrobiana e
anti-hipertensiva, bem como com a ação reguladora do crescimento celular e
imunomoduladora. A exemplo disso, Théolier et al. (2013) isolaram peptídeos com
potencial antimicrobiano de hidrolisados obtidos da α-lactoalbumina de soro de leite
bovino.
Além das proteínas do leite bovino, proteínas do leite de outras espécies, como
por exemplo, camelo, cabra, ovelha e búfalo também vem sendo estudadas em relação
ao seu potencial para produzir peptídeos bioativos (Tabela 1). Caseínas de leite
bovino e de camelo foram hidrolisadas com as enzimas alcalase e pronase e
resultaram na produção de peptídeos antidiabéticos com potente efeito inibitório
contra marcadores enzimáticos envolvido em diabetes como α-amilase, α-glucosidase
e DPP-IV (Mudgil et al., 2021). Peptídeos resultantes da hidrolise enzimática das
proteínas do leite de cabra também foram avaliados quanto a bioatividade. Os
resultados indicaram a produção de peptídeos com atividades antioxidantes e
inibidoras da ECA (Koirala et al., 2021).
Atualmente, alguns ingredientes alimentares contendo peptídeos bioativos
derivados das proteínas do leite bovino são comercializados para serem utilizados no
controle da pressão arterial, na redução de inflamações, no tratamento de acne e no
auxílio do sono e relaxamento (Dullius et al., 2018).

Hidrolisados proteicos obtidos das proteínas do leite com propriedades técnico-


funcionais potencializadas
Do ponto de vista tecnológico, os hidrolisados proteicos, derivados das
proteínas do leite, podem apresentar melhores propriedades técnico-funcionais em

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comparação as proteínas nativas. A hidrólise das proteínas resulta em mudanças no


peso molecular, carga e expõe grupos hidrofóbicos e cadeias laterais reativas de
aminoácidos. Estas mudanças moleculares resultam em alterações na solubilidade,
viscosidade, propriedades sensoriais, comportamento emulsificante e espumante,
dentre outros. Dessa forma, os hidrolisados proteicos podem ser utilizados como
ingredientes alimentares nas formulações de produtos de panificação e confeitaria,
fórmulas infantis, bebidas, laticínios e muitos outros, devido a potencialização das
propriedades técnico-funcionais.

Tabela 1: Peptídeos obtidos das proteínas do leite com propriedades biológicas

Fonte de leite Proteína Propriedades biológicas Referência

Mazzora-Manzano et al.
Anti-hipertensiva,
Bovino β-lactoglobulina (2020); Tulipano et al.
antioxidante e antidiabética
(2011)

Bovino α-lactoalbumina Antimicrobiano Théolier et al. (2013)

Bovino Caseína Antidiabética Mudgil et al. (2021)

Antioxidante e anti-
Caprino Caseína Koirala et al. (2021)
hipertensiva

Camelo Caseína Antidiabética Mudgil et al. (2021)

Hidrolisados proteicos obtidos da α-lactoalbumina em condições otimizadas


podem conferir aumento da capacidade de retenção de água, atividade emulsificante,
espumante e gelificante em produtos alimentícios (Stãnciuc e Râpeanu, 2010). Gani et
al. (2015) avaliaram as características reológicas de farinha de trigo e a qualidade dos
pães, e constatou que a adição de hidrolisados de caseína e de proteínas do soro
melhoraram a capacidade de retenção de água do produto.
A Tabela 2 apresenta exemplos de alguns estudos que verificaram a
potencialização das propriedades técnico-funcionais a partir da hidrólise das
proteínas do leite.
As proteínas do leite são consideradas bons agentes emulsificantes devido à sua
natureza anfifílica, alta atividade de superfície e capacidade de adsorção rápida na
interface da água líquida, tornando as emulsões mais estáveis (Foegeding e Davis,

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2011). A hidrólise dessas proteínas pode expor grupos funcionais ativos que estavam
ocultos nas proteínas nativas e potencializar as propriedades emulsificantes,
tornando-as mais adequadas para estabilizar emulsões de alimentos (Castro et al.,
2015). Hidrolisados proteicos obtidos da hidrolise enzimática da caseína do leite
bovino, melhoraram as propriedades emulsificantes, quando comparada com a
utilização da caseína não hidrolisada (Banach et al., 2013; Luo et al., 2014).

Tabela 2: Potencialização das propriedades técnico-funcionais a partir da hidrólise


das proteínas do leite

Propriedades técnico-
Fonte de leite Proteína Referência
funcionais
Banach et al.,
Capacidade de retenção de
(2013); Luo et al.,
Bovino Caseínas água e capacidade
(2014); Gani et al.
emulsificante
(2015)
Emulsificante, solubilidade Al-Shamsi et al.
Camelo Caseína
e formação de espuma (2018)
Capacidade de retenção de
Bovino β-lactoglobulina Gani et al. (2015)
água
Capacidade de retenção de
Stãnciuc e
água, atividade
Bovino α-lactoalbumina Râpeanu (2010);
emulsificante, espumante
Gani et al. (2015)
e gelificante

Em um estudo realizado com a caseína do leite de camelo, foi observado que as


propriedades técnico-funcionais, como índice de atividade emulsificante, formação de
espuma e solubilidade, foram maiores quando se utilizou os hidrolisados da proteína
em comparação com a utilização da proteína não hidrolisada (Al-Shamsi et al., 2018).
Neste contexto, pode-se observar que a hidrólise das proteínas do leite em condições
otimizadas pode potencializar as propriedades técnico-funcionais dessas proteínas e
ser uma adequada opção para melhoria da qualidade dos produtos finais.

CONCLUSÃO

A hidrólise das proteínas do leite pode ser uma interessante estratégia para
potencializar as propriedades técnico-funcionais dessas proteínas, bem como

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permitir a geração de peptídeos bioativos. Observa-se, que além das proteínas do leite
bovino, que já tem sido amplamente estudas, proteínas do leite de outras espécies
também podem ser exploradas. Com isso, a utilização de hidrolisados proteicos e
peptídeos bioativos, gerados com a hidrólise enzimática das proteínas do leite, pode
ser vantajosa para obtenção de produtos com melhores características tecnológicas,
sensoriais e nutricionais.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq pelo financiamento do projeto (n° 429033/2018-4); e pela bolsa
de produtividade a B.R.C. Leite Júnior (n°306514/2020-6) e ao apoio da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001.

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CAPÍTULO 51
EXTRATO AQUOSO DE ILEX
PARAGUARIENSIS: INCLUSÃO
FITOTERÁPICA
ANTIOXIDANTE PARA O
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Kátia Gualberto Corrêa1


Wilson José Gonçalves2

1
Graduanda em Engenharia Química, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS), Campo Grande, MS, email: katiagcorrea546@gmail.com, ID Lattes:
7182580142641849.
2
Professor Titular. Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia
(FAENG). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS,
email: wilson.goncalves@ufms.br, ID Lattes: 9982087702995917.

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Extrato Aquoso de Ilex paraguariensis: inclusão fitoterápica antioxidante para o


Sistema Único de Saúde

RESUMO
O extrato aquoso de erva-mate (Ilex paraguariensis) apresenta expressiva
quantidade de compostos fenólicos, cuja porcentagem concentra-se e se eleva ao
aplicar a técnica de crioconcentração, demonstrando possuir potencial na atividade
antioxidante e auxílio no tratamento de doenças crônicas, como as cardíacas e a
obesidade. O objetivo é analisar a atividade antioxidante do extrato de erva-mate,
além de compreender a técnica de crioconcentração aplicada a este extrato, e sua
viabilidade como fitoterápico. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica. Os
resultados mostram que, em testes com animais e o consumo pela população, o
extrato de erva-mate possui potencial antioxidante, e no extrato crioconcentrado há
variação positiva nos teores de compostos fenólicos. As conclusões sinalizam o uso
condizente com a literatura bibliográfica e eficácia do composto no tratamento de
doenças, tendo que o extrato de erva-mate é viável como fitoterápico para o Sistema
Único de Saúde (SUS).
Palavras-chave: Ilex paraguariensis. Antioxidante. Fitoterápico. Sistema Único de
Saúde (SUS).

Extrato Aquoso de Ilex paraguariensis: inclusão fitoterápica antioxidante para o


Sistema Único de Saúde

ABSTRACT
Yerba mate’s (Ilex paraguariensis) aqueous extract shows an expressive quantity of
phenolic compounds, whose percentage concentrates and increases through the
application of freeze concentration technique, displaying potential on antioxidant
activity and on treatment of chronic illness, such as cardiac diseases and obesity. The
objective is to analyse yerba mate’s antioxidant activity and to comprehend freeze
concentration technique applied to the extract, and its viability as a herbal medicine.
The methodology used is bibliographic research. Results show that, in animal testing
and in consume by population, yerba mate’s extract has antioxidant potential, and in
the freeze concentraded extract there’s a positive variation on the contents of the
phenolic compounds. Conclusions signal that the use of the compound is consistent
with the bibliographic literature and efficient in treating diseases, making yerba
mate’s extract viable as a herbal medicine for the Unified Health System (SUS).
Key-words: Ilex paraguariensis. Antioxidant. Herbal Medicine. Unified Health System
(SUS).

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INTRODUÇÃO

O acesso a medicamentos essenciais é um importante indicador de garantia do


direito à saúde e bem-estar, dando-se mediante a disponibilidade e a capacidade
aquisitiva da sociedade. No entanto, no Brasil, isso ainda é um problema a ser
solucionado, visto que para a maioria da população, em especial a parcela mais
carente, o preço dos fármacos sintéticos disponibilizados são inconciliáveis com sua
renda. A fim de minimizar essa adversidade, exigiu-se do governo brasileiro a
elaboração da Política Nacional de Medicamentos e de Assistência Farmacêutica do
Ministério da Saúde, visando à implementação da fitoterapia no Sistema Único de
Saúde (SUS), aspecto que oferece menor custo financeiro, com foco no tratamento na
Atenção Básica. Nesse contexto, são considerados medicamentos fitoterápicos
aqueles obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais,
caracterizados pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso (ANVISA, 2010),
gerando pesquisas de plantas medicinais como fonte de tratamento terapêutico para
diversas patologias.
A erva-mate (Ilex paraguariensis) é encontrada na região subtropical da
América do Sul, tendo o Brasil como uma das áreas de ocorrências naturais. Essa
planta apresenta diversas ações biológicas, dentre elas a atividade antioxidante, a
qual pode absorver ou neutralizar radicais livres da atividade metabólica humana
que, se não neutralizados, possibilitam a causa de diversas patologias, apresentando
eficácia nesse processo por expressar uma complexa composição fitoquímica, em
destaque os compostos fenólicos (Serafim, 2013).
O processo de crioconcentração pode concentrar produtos alimentares naturais
líquidos, congelando-os e, em sequência, separando uma parcela da água congelada,
desde do produto líquido (Boaventura, 2015). Por ocorrer em baixas temperaturas,
não há alterações de suas características físico-químicas, sendo importante na
indústria dos alimentos e farmacêutica. Com essa técnica, indica-se obter um extrato
aquoso de erva-mate, a partir de suas folhas, com expressiva porcentagem de
compostos bioativos, em especial os compostos fenólicos, com a preservação das suas
propriedades iniciais (Boaventura, 2015).
A erva-mate vem se estabelecendo como uma fonte natural de compostos
benéficos à saúde humana, sendo estudada por indicar um potencial na indústria
farmacêutica. O extrato aquoso de erva-mate, sobretudo, demonstra ser eficaz no

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tratamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), com foco para doenças
cardiovasculares e obesidade, que representam um problema de saúde pública,
resultam em morbimortalidade significativa e na redução da qualidade de vida no
Brasil.
As doenças cardiovasculares referem-se a todas as possíveis alterações que
prejudicam os vasos sanguíneos e/ou o coração. Um dos fatores de risco, em geral,
envolve a acumulação de lipídios nos vasos sanguíneos, aumentando a força do
sangue nas paredes destes, ou a lentidão da passagem de sangue pela sua
vasoconstrição, o que pode ocasionar em uma tensão arterial elevada. Nesse sentido,
sugere-se que o extrato aquoso de erva-mate possui atividade vasodilatadora, o que
poderia contribuir para a reconstituição adequada da circulação do sangue e diminuir
o estresse oxidativo do coração, proporcionado pela disfunção endotelial (Fellipi,
2005).
A obesidade, em sua maioria dos casos, é ocasionada por uma propensão ao
acúmulo de gordura excessiva e prejudicial no organismo humano. Como a dieta
alimentar de uma expressiva parcela da sociedade brasileira é constituída por uma
ingestão hiperlipídica, para minimizar as consequências negativas dessa patologia,
sugere-se que o extrato aquoso de erva-mate pode ter um efeito protetor na
obesidade, como redução do peso corporal e oxidação de lipídios, já que demonstra
possuir atividade antioxidante (Ribeiro et al., 2012). Esse efeito também pode ser
observado em extratos crioconcentrados (Lazzaratto, 2021).
No entanto, no país, há doze fitoterápicos disponibilizados pelo sistema de
saúde pública, tornando esse número deficiente diante do esperado, visto a
expressiva biodiversidade da flora no país (Hasenclever et al., 2017). Isso expõe a
escassez de pesquisas relacionadas com fitoterápicos, e, em consequência, a exclusão
fitoterápica do extrato de erva-mate persiste pela insuficiência de seus estudos
toxicológicos pré-clínicos e clínicos em humanos, cuja importância é confirmar os
efeitos e/ou identificar as reações adversas do produto investigado.
Nesse sentido, o parâmetro que possibilita a inclusão fitoterápica do extrato
aquoso de erva-mate reside na análise de suas documentações tecnocientíficas em
bibliografia e estudos etnofarmacológicos, que são baseados no conhecimento
popular no que diz respeito à planta medicinal.

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Com uma das opções para se garantir a segurança e eficácia do fitoterápico, e


em consequência, a sua inclusão, a ANVISA permite que se utilize da apresentação de
monografias da droga vegetal presente na formulação do medicamento, que atestem
sobre estes estudos. De mesmo modo, a literatura científica da erva-mate e seu
extrato aquoso, junto com estudos de monografias e dissertações, apontam para a
atividade antioxidante deste composto e sua eficácia.
A etnofarmacologia analisa a utilização que determinada comunidade
tradicional tem com uma planta medicinal com finalidade terapêutica. Os estudos
etnofarmacológicos sobre o conhecimento popular destas plantas são essenciais para
uma inicial escolha de pesquisas e desenvolvimento de fitoterápicos, uma vez que já
se tem um relato sobre o seu efeito terapêutico, podendo ser benéfico ou maléfico
(Molz e Ludka, 2016). Ademais, também valoriza e efetiva o saber de comunidades
tradicionais. É importante ressaltar que esse modelo de estudo tem relevância na
comprovação da segurança e eficácia do composto de erva-mate.
O objetivo é analisar o potencial antioxidante do extrato aquoso de erva-mate
(Ilex paraguariensis) com a sua atividade em doenças crônicas não-transmissíveis,
com enfoque para as cardíacas e a obesidade. Além de compreender a técnica de
crioconcentração aplicada a este extrato dessa planta. E, ainda, analisar sua
viabilidade como fitoterápico, seguindo a definição da ANVISA, a partir de seu
consumo medicinal pela população e seu uso em testes com animais, para a sua
implementação no sistema de saúde pública brasileira.

METODOLOGIAS
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, com base em pesquisas em
bibliotecas digitais e periódicos de universidades. Considerando a metodologia, foi
escolhida a temática que se volta para a inclusão fitoterápica antioxidante do extrato
aquoso de erva-mate para o sistema de saúde pública no Brasil.
Determinada a temática, procurou-se no ambiente virtual conteúdos e estudos
gerais sobre a composição fitoquímica da erva-mate, sendo as suas propriedades
estudadas e aplicadas no cotidiano. Nesse sentido, ao se perceber que o sistema de
saúde público brasileiro atende números expressivos de pacientes com doenças
crônicas, notou-se que o extrato aquoso de erva-mate, que conserva as características
da planta e apresenta atividade antioxidante, podendo esta propriedade ser

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potencializada por meio da técnica de crioconcentração, tem propensão a se tornar


um fitoterápico e ser disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde para esse
tratamento terapêutico.
Localizou-se materiais a respeito da viabilidade de fitoterápicos nesse sistema,
em específico o extrato aquoso de erva-mate, porém, logo se deparou que há escassez
de estudos que investiguem a flora brasileira, e, como consequência, os estudos de
toxicidade clínicos que asseguram a segurança e eficácia do composto. Investigou-se
outros mecanismos possíveis frente a tal problemática, e encontrou que, segundo a
ANVISA, documentações tecnocientíficas e estudos etnofarmacológicas também
podem ser utilizados para se garantir a sua aplicação, logo, procurou-se analisar e
demonstrar que o extrato aquoso de erva-mate (Ilex paraguariensis) cumpria esses
requisitos.

REVISÃO DA LITERATURA

Os resultados compreendem que o extrato aquoso de erva-mate possui


propriedade antioxidante, que é proporcionada pelos compostos fenólicos. Estes
podem neutralizar radicais livres gerados pelo metabolismo ativo do corpo humano,
mostrando contribuir no auxílio em doenças cardiovasculares e na obesidade.
A relação do processo de crioconcentração com o extrato analisado por ser
explicitada segundo os resultados de Boaventura (2015, p. 64):
Observou-se variação linear positiva e significativa (p < 0,05) no teor de
todos os compostos fenólicos e metilxantinas analisados, depois da
aplicação de cada estágio da crioconcentração. Apesar de a variação de
aumento de alguns compostos não modificar ou declinar em alguns estágios,
não foi observada redução no teor dos constituintes analisados. Todos os
compostos analisados aumentaram, pelo menos, seis vezes após a aplicação
do último estágio da crioconcentração, quando comparado aos teores do
extrato inicial. [...] Em geral, a atividade antioxidante do extrato aquoso de
erva-mate está fortemente correlacionada com todos os compostos
fenólicos analisados. O substancial aumento do potencial antioxidante do
extrato aquoso de erva-mate, ao longo da aplicação da crioconcentração,
não foi associado à presença de um único constituinte. Parece que o
aumento sinergístico do teor de compostos fenólicos, após cada estágio da
crioconcentração, pode ter influenciado, positivamente, no aumento da
capacidade antioxidante do extrato aquoso da erva-mate.
Isso demonstra que, com a aplicação da técnica de crioconcentração no extrato,
há uma variação positiva no teor dos compostos fenólicos e, em seguida, com a
análise de sua atividade antioxidante, também se verifica um aumento desta
propriedade, tendo a potencialização do seu valor nutricional.

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Há a compreensão dos resultados nos experimentos do extrato aquoso


envolvendo a ação farmacológica descrita de acordo com Felippi (2005, p. 3):
Recentemente, resultados do nosso laboratório mostraram que o extrato de
mate possui a habilidade de inibir a progressão da aterosclerose
experimental em coelhos alimentados com dieta rica em colesterol. [...] Os
resultados do presente estudo demonstraram que, além da atividade
antioxidante in vitro, o extrato aquoso de erva-mate apresentou atividade
vasorelaxante dependente de NO em artéria aorta torácica isolada de ratos
e, de particular importância, reverteu a inibição da contração induzida pela
fenilefrina e do relaxamento induzido pela acetilcolina na aorta dos
camundongos com aterosclerose.
Isso evidencia que o extrato de erva-mate induz a vasodilatação e o
vasorelaxamento em vasos sanguíneos observados nos estudos in vivo nos animais,
em específico os coelhos e os ratos, promovendo a melhora da contração muscular,
em especial a artéria aorta, principal bombeador de sangue oxigenado para o corpo, e
proporciona a desobstrução da passagem de sangue. Diante disso, explicita-se o
auxílio desse composto quanto às doenças cardíacas.
Visto a composição fitoquímica da erva-mate e seu extrato, que induz
propriedades farmacológicas, dentre elas há um efeito de antiobesidade, demonstra-
se, por meio de testes em animais ou humanos, se essa característica é proporcionada
dentro do organismo humano. Com tal exposição, segundo Piccoli (2017, p. 5):
Em sua pesquisa Kim et al., (2015), suplementou indivíduos obesos com 3g
de extrato de erva-mate durante 12 semanas, que obtiveram diminuição
significativa de massa gorda corporal, percentual de gordura e tendências
na redução da gordura visceral e subcutânea, além de significativa
diminuição da relação cintura/quadril, atribuindo estes efeitos aos
compostos fenólicos presentes na planta. De Morais et al., (2009) avaliaram
102 indivíduos normolipidêmicos, dislipidêmicos e hipercolesterolêmicos
em uso de estatinas, que ingeriram 330ml de infusão de erva-mate três
vezes ao dia. Após 40 dias de tratamento, os participantes normolipidêmicos
apresentaram redução de 8,7% do LDL-c, os indivíduos dislipidêmicos
reduziram o LDL-c em até 8,6%, e o HDL-c foi aumentado em 4,4%, inclusive
nos participantes que faziam uso de estatinas, promovendo redução de
13,1% no LDL-c e aumento do HDL-c em 6,2%, sugerindo que a erva-mate
pode contribuir para redução do risco de doenças cardiovasculares em
humanos.
Nesse sentido, há a relação, observada em testes monitorados em humanos, que
o extrato aquoso da erva-mate, com seus compostos fenólicos, induz a redução da
massa corporal, em específico a gordura presente no indivíduo. Ademais, como os
indivíduos, tanto obesos quanto com problemas cardiovasculares, apresentam em
excesso a LDL-c, uma lipoproteína de baixa densidade, conhecida também como
“colesterol ruim”, que está diretamente ligada a ocorrência de infarto e AVC, ao
diminuí-la com o potencial antioxidante da erva-mate, há proporcionalidade direta

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também com o risco de agravamento das doenças crônicas e a mortalidade do


indivíduo.
Os estudos clínicos apresentam segurança, eficácia ou esquema de dosagem
ideal em humanos selecionados. Há a compreensão de que mesmo com a expressiva
biodiversidade do Brasil, ainda existe um descaso com o número de pesquisas
desenvolvidas envolvendo a fauna e, em consequência, também o há com estudos
clínicos contendo sua comprovação de eficácia (Bruning et al., 2012).
De acordo com Piccolli (2017), “Em altas doses, o consumo da erva-mate podem
causar insônia, nervosismo, dores abdominais, náuseas e vômitos, sendo
contraindicado em pessoas com epilepsia, insônia, nervosismo, e portadores de
gastrites e úlceras pépticas (ALONSO, 1998)”. Nesse sentido, tem-se os efeitos
colaterais da erva-mate para elucidar os seus malefícios ao ser utilizada em
expressivas doses, que não contempla a parcela da população que já apresenta estes
problemas ou que podem contraí-los, necessitando de estudos para determinar uma
faixa de concentrações do composto que podem ser consumidas sem causar essas
adversidades e se ter conhecimento de uma toxicidade designada.
A utilização de plantas medicinais para a fitoterapia condiz com as proposições
da Organização Mundial da Saúde (OMS), que incentiva a valorização das terapias
tradicionais, reconhecidas como recursos terapêuticos úteis, podendo atender e
contribuir para o sistema de saúde público local dos usuários, sendo no caso do
Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS).
A erva-mate está difundida na cultura brasileira, sendo utilizada para fins
medicinais e consumida em forma de infusão por uma parcela significativa da
população, e seu extrato aquoso apresenta indicação medicinal para o tratamento de
patologias que envolvem a atividade antioxidante.
Nesse sentido, há a confirmação de que a erva-mate na medicina popular se
apresenta condizente com a literatura de acordo com Colpo (2012, p. 32):
Matsumoto et al. (2009) observam que o consumo regular de chá mate pode
melhorar as defesas antioxidantes por múltiplos mecanismos, tanto pelo
aumento da circulação de compostos bioativos como pela regulação dos
mecanismos celulares enzimáticos que combatem o estresse oxidativo.
Essa concepção da ingestão da forma medicinal tradicional do extrato aquoso da
erva-mate é ratificada nos testes em animais utilizando uma dieta hiperlipídica,
tendo, em seu resultado, o auxílio do composto na redução de peso e, em
consequência, uma melhora no quadro de obesidade (Piccoli, 2017). Visto isso, o

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consumo medicinal regular do extrato, no caso o chá, pode contribuir na atividade


antioxidante do metabolismo ativo do organismo.
Na forma de infusão de consumo na sociedade brasileira há o chimarrão e o
tereré, os quais possuem como principal componente a erva-mate (Ilex
paraguariensis), tendo-se parte da transferência dos compostos fenólicos na ingestão
destas bebidas populares (Silveira, 2013). Isso elucida que estes compostos contidos
no extrato aquoso de erva-mate continuam em porcentagem significativa nessa forma
popular de infusão, demonstrando que, como estes compostos induzem a atividade
antioxidante, a medicina popular, com saberes baseados no conhecimento popular e,
em parte, ratificados pela ciência, apresentam propriedades condizentes com a
literatura bibliográfica.
Além disso, segundo Lazzarotto (2021, p. 26):
Em estudo posterior realizado por Boaventura et al. (2015), foram avaliados
o consumo de extratos crioconcentrados de erva-mate. Neste estudo 31
voluntários ingeriram em jejum 200 mL de chimarrão, extratos
crioconcentrados de erva-mate ou água. Amostras de sangue foram
coletadas antes e após 1 h da ingestão das bebidas, para verificar a atividade
das enzimas antioxidantes (catalase, superóxido dismutase, glutationa
peroxidase e gutationa reduzida), peroxidação lipídica e capacidade
antioxidante do soro. A ingestão de extratos crioconcentrados de erva-mate
promoveu aumento significativo das atividades das enzimas: catalase (28,7
%), superoxido dismutase (21,3 %), glutationa peroxidase (9,6 %) e
glutationa reduzida (8,8 %). Também aumentou a capacidade antioxidante
sérica (7,5 %). Enquanto os pacientes que ingeriram chimarrão
apresentaram apenas aumento nos valores de glutationa reduzida (8,3 %).
Os níveis séricos de peroxidação lipídica não apresentaram alterações
significativas para ambas as bebidas.
O extrato crioconcentrado de erva-mate apresenta, em determinada quantidade
utilizada no estudo para consumo humano, variação positiva nas atividades das
principais enzimas antioxidantes presentes no organismo, sendo estas auxiliares no
combate a radicais livres que podem causar doenças crônicas. Isso pode ajudar
indivíduos com obesidade, ainda que não se verifique alteração nos níveis séricos de
peroxidação lipídica.
Outra técnica efetiva para concentrar compostos bioativos é a nanofiltração, a
qual se utiliza baixas temperaturas, não tendo alterações nutricionais significativas
no produto. Apesar disso, esse processo necessita de regular manutenção por causa
do fouling (obstrução dos poros nas membranas) (Lazzaratto, 2021). O processo de
crioconcentração se mostra efetivo para preservar as características físico-químicas
do extrato aquoso, proporcionando a concentração e a elevação da porcentagem dos
compostos fenólicos e, em consequência, a sua atividade antioxidante. Além disso, por

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reduzir os custos de operação (Sabanci e Icier, 2020), essa técnica pode ser utilizada,
para fins de obtenção do extrato em concentrações desejadas, na redução de despesas
do sistema de saúde público, visto que se apresenta como uma alternativa rentável.
A autora Regina Maria Piccoli mostrou, por meio de estudos em seres humanos,
que a suplementação de extrato aquoso de erva-mate nestes indivíduos auxilia nas
doenças cardiovasculares e a obesidade, tendo a redução dos seus agravantes com a
oxidação da lipoproteína humana de baixa densidade LDL, sendo que esse efeito
antioxidante é induzido pelos compostos fenólicos. Deste modo, os resultados
encontrados comprovam que o extrato aquoso de erva-mate induz a vasodilatação
nos vasos sanguíneos e diminui a gordura corporal. Logo, com a compreensão e
comprovação da atividade antioxidante do extrato aquoso de erva-mate em acordo
com a pesquisa bibliográfica, há o potencial fitoterápico desse composto para o
sistema de saúde pública.
A discussão do problema se tangencia no fato de que, no Brasil, não há o número
devido de pesquisas aproveitando o possível tratamento terapêutico da flora
nacional, mesmo está representando expressiva biodiversidade e, como
consequência, para comprovar eficácia do composto, nota-se que tem escassez de
estudos pré-clínicos e clínicos de fitoterápicos, incluindo o extrato de erva-mate, em
que sua relevância se dá pela identificação do nível de toxicidade e efeitos colaterais
que podem ser ocasionados pelo composto.
Compreendeu-se que em expressivas doses de ingestão de erva-mate há, na
literatura bibliográfica, efeitos indesejados, sendo contraindicado para a parcela da
população que não se pode expor à tendência destes efeitos. Todavia, segundo Piccoli
(2017, p. 13):
Para o uso adequado e indicação de utilização de plantas na terapêutica e
prevenção de doenças, é de extrema importância identificar a toxicidade dos
compostos presentes em produtos naturais. Andrade et al., (2012), avaliou a
toxicidade da erva-mate através da administração crônica de 2g/kg durante
14 dias em coelhos e ratos. Os autores concluíram, após avaliação de
parâmetros hematológicos e séricos, histopatológico, índice de
sobrevivência e consumo de água e comida, que o uso do extrato de erva-
mate não apresentou riscos mediante sua administração crônica. Os estudos
em humanos sobre os efeitos da erva-mate, para elucidar melhor a eficácia
da mesma a curto e longo prazo e determinar a ingestão mínima e máxima
bem tolerada, ainda são pouco evidenciados. Os resultados de outros
estudos parecem fornecer suporte com efeitos benéficos para consumir
erva-mate.
Há importância nos estudos clínicos que comprovaram sua eficácia através de
avaliações em humanos, no entanto, em testes com animais, não se apresentou risco

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de toxicidade do composto de extrato aquoso de erva-mate na sua administração,


demonstrando uma segurança inicial. Nesse contexto, faz-se necessário o composto
ser investigado a longo prazo, para se ter uma tolerância mínima e máxima
determinadas e as reações adversas.
A inclusão fitoterápica do extrato aquoso de erva-mate compreende a análise de
documentações tecnocientíficas que evidenciam, na literatura bibliográfica, as
propriedades antioxidantes do extrato, expostas em investigações in vitro e em testes
in vivo, e aos estudos etnofarmacológicos. Estes são essenciais no desenvolvimento
inicial da pesquisa para já se ter uma noção dos efeitos do composto no organismo
humano ativo, com a Organização Mundial de Saúde (OMS) propondo e apoiando a
adoção das práticas tradicionais com comprovada eficácia, como a fitoterapia, como
ferramenta para manutenção e garantia das condições de saúde.
No âmbito do Brasil, quando associado a multiplicidade cultural, dispõe-se de
um oportuno conhecimento tradicional no que diz respeito ao uso de plantas
medicinais, tendo o consumo medicinal da erva-mate usado para tratamento de
patologias que envolvem suas ações antioxidantes. Logo, há o uso do extrato aquoso
de erva-mate na medicina popular, como a ingestão de chá, que a início pode auxiliar
no combate a radicais livres, como demonstra sua literatura bibliográfica, e, por meio
de testes em animais, comprovou-se que há efetiva atividade antioxidante no
organismo com esse consumo regular, indicando eficácia e os benefícios da utilização
da planta medicinal e seu extrato.
Ademais, as bebidas tradicionais brasileiras são as expressivas fontes de
consumo do extrato aquoso de erva-mate, sendo este aspecto ligado a hábitos
culturais, em forma de infusão como chimarrão e tereré. Estas ingestões apresentam
significativa porcentagem de erva-mate, havendo transferência de compostos
fenólicos. Isso evidencia que conhecer a composição quantitativa dos compostos
presentes nas bebidas à base dessa planta é importante para que se tenha a relação
da ação do extrato no metabolismo ativo humano com o seu consumo populacional,
trazendo benefícios à população.
Embora em um primeiro momento o estudo citado por Lazzaratto não houve a
evidência das alterações nos níveis séricos de peroxidação lipídica, o qual auxilia a
analisar se o composto ajuda a reduzir a gordura corporal, em um estudo posterior,
segundo Lazzaratto (2021), “Boaventura et al. (2015) observaram que ao administrar

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por via oral os extratos crioconcentrados de erva-mate aos pacientes, melhoravam os


níveis de colesterol, triglicerídeos, glicose, resposta do sistema imunológico e
diminuiam o stress oxidativo”. Isso indica que o extrato crioconcentrado pode auxiliar
com eficácia indivíduos com problema de obesidade, por haver um satisfatório
equilíbrio nos níveis de colesterol e gorduras no organismo e em doenças cardíacas,
já que diminui o estresse oxidativo, sendo isso aplicado ao coração.

CONCLUSÕES
Compreende-se a atividade antioxidante do extrato aquoso de erva-mate (Ilex
paraguariensis) e sua abrangência na sociedade brasileira, no que tange ao seu
consumo popular e medicinal, demonstrando a sua eficácia no tratamento de doenças
crônicas e o uso condizente com a literatura bibliográfica.
Com a técnica de crioconcentração, obtém-se porcentagem significativa dos
compostos fenólicos no extrato analisado em relação ao inicial de erva-mate. Ao
considerar sua qualidade nutricional no final deste método, a produção desse
composto pode ser aplicada, também, ao consumo humano.
Tendo a relação ao uso das plantas medicinais e fitoterápicos, a fitoterapia
resgata a cultura tradicional do uso do extrato aquoso de erva-mate (Ilex
paraguariensis) pela população, reforçando que, mesmo com a problemática, o
parâmetro utilizado para a viabilidade do composto é relevante, tendo com esses
fatores a corroboração para sua implementação no sistema público de saúde
brasileiro.
O indicador de solução sinaliza que o extrato aquoso de erva-mate (Ilex
paraguariensis) demonstra viabilidade como fitoterápico antioxidante para o Sistema
Único de Saúde (SUS), e a sua implementação se dá pelo desenvolvimento de estudos
em larga escala para comprovar sua eficácia, no que tange sua toxicidade em estudos
clínicos e malefícios, podendo ser usado no tratamento terapêutico. Ademais, a
implantação deste composto na atenção básica pode diminuir o número de pacientes
com doenças crônicas, no entanto, não deve ser utilizado de forma indiscriminada, já
que se acredita não existir reações adversas ou intoxicações, devendo, para evitar
contraindicações, assegurar o consumo racional e adequado deste composto.

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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador Professor Wilson José Gonçalves, a Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Instituto de Química e ao curso de Engenharia
Química por proporcionarem a realização desse trabalho. Aos Professores,
Coordenação e Técnicos Administrativo do INQUI/UFMS.

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CAPÍTULO 52
β-TCP DOPADO COM
ESTRÔNCIO: UMA BREVE
REVISÃO
Slanna Larissa Olimpio Costa1
Ycaro Breno Alves de Almeida2
José Rosa de Souza Farias3
Valdeci Bosco dos Santos4
Aluska Nascimento Simões Braga5

1
Mestranda em Engenharia dos Materiais, Instituto Federal do Piauí (IFPI), Teresina,
Piauí, e-mail: slanna12larissa@gmail.com ID Lattes: 5896223773412182.
2
Graduando em Engenharia dos Materiais, Universidade Federal do Piauí (UFPI),
Teresina, Piauí, e-mail: ycarobreno26@gmail.com ID Lattes: 4070307554924095.
3
Graduando em Engenharia dos Materiais, Universidade Federal do Piauí (UFPI),
Teresina, Piauí, e-mail: joseng2020@ufpi.edu.br ID Lattes: 9404467330103347.
4
Professora do Departamento de Engenharia dos Materiais, Universidade Federal do Piauí
(UFPI), Teresina, Piauí, e-mail: zvaldeci@bol.com.br, ID Lattes: 0011700686113389.
5
Professora do Departamento de Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Piauí
(UFPI), Teresina, Piauí, e-mail: aluskasimoes@hotmail.com ID Lattes:
2429557575387821.

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β-TCP DOPADO COM ESTRÔNCIO: UMA BREVE REVISÃO

RESUMO
A substituição parcial de Cálcio (Ca) por outros íons trata-se de uma ferramenta
promissora, pois as modificações químicas afetam as propriedades físico-químicas,
mecânicas e antibacteriana, causando mudanças na morfologia, solubilidade e
densidade. Além disso, as propriedades induzidas pelas substituições permitem
combinar biocompatibilidades dos fosfatos de cálcio, formando um material com
aplicações em tratamento de doenças ósseas. Diante disso, o estrôncio trata-se de um
excelente dopante por apresentar níveis metabólicos significativos influenciando na
regeneração óssea. Portanto, esse estudo visa apresentar uma breve revisão sobre o
beta fosfato tricálcico (β-TCP) dopado com estrôncio, nos últimos cinco anos. Foram
encontrados nas bases de dados 08 artigos, a China foi o país que mais publicou sobre
o tema, desse modo a substituição com íons abre novos caminhos para diversas
aplicações e o uso dessa alternativa traz um efeito benéfico em materiais à base de
fosfatos de cálcio.
Palavras-chave: Fosfatos de cálcio; β-TCP; Dopagem; Estrôncio.

STRONTIUM DOPED β-TCP: A BRIEF REVIEW

ABSTRACT
The partial replacement of Calcium (Ca) by other ions is a promising tool, as chemical
modifications affect the physicochemical, mechanical and antibacterial properties,
causing changes in morphology, solubility and density. Furthermore, the properties
induced by the substitutions allow to combine the biocompatibility of calcium
phosphates, forming a material with applications in the treatment of bone diseases.
Therefore, strontium is an excellent dopant for presenting significant metabolic levels
influencing bone regeneration. Therefore, this study aims to present a brief review of
strontium-doped beta tricalcium phosphate (β-TCP) in the last five years. Eight
articles were found in the databases, China was the country that published the most
on the subject, so the replacement with ions opens new paths for several applications
and the use of this alternative has a beneficial effect on materials based on calcium
phosphates.
Key-words: Calcium phosphates; β-TCP; Doping; Strontium.

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INTRODUÇÃO

Os fosfatos de cálcio (CaPO4) são minerais amplamente encontrados na


natureza e são os principais constituintes inorgânicos do tecido duro humano (ossos
e dentes), portanto desempenham um papel essencial na vida humana (Yu et al.,
2017; Sinusaite et al., 2020). São biomateriais sintéticos importantes devido a sua alta
bioatividade em ossos nos tecidos humanos, estes por sua vez, são amplamente
utilizados para tratarem defeitos ósseos devido à similaridade com a fase mineral dos
ossos e dentes e sua biocompatibilidade (Ratnayake et al., 2017). Dentre os fosfatos
de cálcio, a hidroxiapatita (Hap) e o Beta Fosfato Tricálcico (β-TCP) vêm sendo
aprimorados em busca de uma melhor biocompatibilidade, resistência à
biodegradação e propriedades antibacterianas (Kannan, 2016).
O β-TCP trata-se de uma biocerâmica sintética, sua reabsorção é através de
células, tornado - o um dos mais potentes biomateriais, sendo aplicado em defeitos
ósseos nos campos da ortopedia (Huang et al., 2016), em reparos de esmaltes
dentários (Krishnana et al., 2016) e regeneração óssea (Moghanian et al., 2018; Wang
et al., 2018). Apresenta excelentes propriedades como: biocompatibilidade,
osteocondutividade, bioatividade, atoxidade, biodegradabilidade, similaridade com a
fase apatita dos tecidos duros naturais e especialmente sua alta taxa de reabsorção no
corpo humano inviabilizando a necessidade de uma segunda operação cirúrgica para
remover o dispositivo implantado, após a cura se processar (Taz et al., 2019).
Atualmente, os estudos têm avançado na investigação de efeitos antibacterianos
de diferentes íons incorporados na matriz dos fosfatos de cálcio (Tite et al., 2018).
Dentre os elementos com elevado potencial para substituições (dopagens) tem-se o
estrôncio (Sr), pois este, além de fazer parte do metabolismo ósseo, inibe a atividade
dos osteoclastos, diferenciação, proliferação e função, estimulando a formação óssea
(Kazemi et al., 2019). Devido a estas características, esse elemento dopante tem
despertado interesse em incorporações em alguns materiais como: fosfatos de cálcio
e vidro bioativos a fim de melhorarem a bioatividade, indução óssea das matérias-
primas com o intuito de alcançar o efeito benéfico de reparar defeitos ósseos (Tao et
al., 2018).
Partindo desse pressuposto, o objetivo deste estudo consistiu em realizar uma
pesquisa exploratória dos artigos publicados nos últimos cinco anos, utilizando a base

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de dados Science Direct, Scopus e Web of Science, apresentando uma breve revisão
dos artigos científicos sobre o β-TCP dopado com estrôncio (Sr).

MATERIAL E MÉTODOS
A coleta de dados se deu através de busca eletrônica nas bases de dados: Science
Direct, Web of Science e Scopus. Os critérios de inclusão definidos foram: artigos
publicados sobre o β-TCP dopado com estrôncio, entre o período que compreende os
anos de 2016 até 2021. Foram utilizadas como palavras-chaves, no campo de busca, a
combinação das seguintes palavras: “beta tricalcium phosphate and strontium”.
Foram excluídas da pesquisa: artigos de revisão e capítulos de livros.

REVISÃO DA LITERATURA

Fosfatos tricálcicos
O fosfato tricálcico (Ca3(PO4)2-TCP) é um dos fosfatos de cálcio mais importante
e utilizados como biomateriais devido à sua biocompatibilidade, sua bioatividade in
vivo, sua biorreabsorbilidade e sua osteocondutividade (Eslaminejad et al., 2013).
Este material possui quatro formas alotrópicas, onde as temperaturas de transição e
sequência de ocorrência são: fase beta (β-TCP), fase alfa (α-TCP), fase super-alfa ou
alfa’ (α’-TCP) e fase gama (ϒ-TCP) (Leucht et al., 2013).
As formas α′- TCP e ϒ-TCP, ambas são formadas sob temperaturas acima de
1430 °C e sob altas pressões, portanto são de baixo interesse nas áreas de pesquisa
devido à metaestabilidade, o que dificulta a formação de uma única fase (Stefanic et
al., 2013). A fase α-TCP também tem suas aplicações restringidas pelo fato de ser uma
fase metaestável abaixo de 1100 °C e quando tratada com água ou em soluções de
fosfato, se dissolve e precipita como Hidroxiapatita com deficiência de cálcio
(Guastaldi e Aparecida, 2010).
A fase β-TCP é usado principalmente para preparar biocerâmicas
biodegradáveis em forma de grânulos e blocos densos e macroporosos, enquanto o α-
TCP é usado principalmente como um pó fino na preparação de cimentos de fosfatos
de cálcio, embora alguns grânulos biocerâmicos podem ser encontrados no mercado
(Safronova et al., 2020).
Dentre os polimorfos do fosfato tricálcico, a fase que tem despertado maior
interesse em pesquisas e aplicações é o β-TCP, pois o mesmo, dentre as quatro, é a

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que mais possui estabilidade química, resistência mecânica e taxa de bioabsorção


mais adequadas a aplicações biomédicas, além disso, possui compatibilidade com
tecido ósseo hospedeiro e aderência celular (Shavandi et al., 2015) e os estudos tanto
in vitro como em aplicações clínicas para regeneração óssea, demonstram eficácia
(Scalera et al., 2019).

Beta fosfato tricálcico (β-TCP)


A sua formulação química é Ca3(PO4)2 com razão molar de Ca/P= 1,5, cristaliza-
se no grupo espacial romboédrica R3c, é geralmente descrito com uma configuração
trigonal com dimensões de célula unitária equivalente a a=b= 1,0439 nm e c= 3,7375
nm, apresentando em cada célula unitária: 63 átomos de Ca e 42 do grupo de PO4
(Bohner et al., 2020). A Figura 1 mostra a estrutura do β- TCP (Matsunaga et al.,
2015).

Figura 1: Estrutura Cristalina do β- TCP.

Fonte: Matsunaga et al., 2015.

Quanto a síntese, podem ser obtidos através de vários métodos entre eles
podemos citar: precipitação química (Torres et al., 2016) co-precipitação em via

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úmida (Sinusaite et al., 2020), método sol-gel (Ates et al., 2019) precipitação úmida
(Motameni et al., 2020), pirólise por spray (Chou et al., 2020), deposição a laser
pulsado (PLD) (Kotoka et al., 2016) e entre outros. Nota-se que há uma variedade de
métodos que podem ser utilizados para o processamento deste biomaterial
promissor.
O β-TCP têm sido bastante utilizados para estimular a formação de um novo
osso quando inserido em locais de defeitos ósseos (Motameni et al., 2020). Em
comparação com outros membros da família da hidroxiapatita, o uso do β-TCP
provou ser melhor em substituições com tecido duro devido ao comportamento
bioativo e degradabilidade (Chou et al., 2020). Os estudos demonstram que, enquanto
a hidroxiapatita permanece por muito tempo após o período de implantação, o beta
fosfato tricálcico é substituído por um novo tecido ósseo de forma mais rápida (Taz et
al., 2019).
Diante disso, o β-TCP, vêm se destacando cada vez mais nas pesquisas devido à
biocompatibilidade, osteocondutividade e similaridade com a fase apatita dos tecidos
duros naturais, tornando assim um excelente candidato a substituir a hidroxiapatita
(Taz et al., 2019; Shim et al., 2018). Além disso, possui aplicações na engenharia
tecidual devido à sua similaridade de suas características químicas ao tecido ósseo do
corpo humano (Smith et al., 2017).
O β-TCP tem sido estudado frequentemente sob diversas visões, desde de
alterações químicas e físicas como modelos estruturais bem complexos para
regeneração óssea, além de também possuir facilidade de substituição de íons dentro
da sua estrutura e a capacidade de adaptar suas propriedades funcionais e biológicas
(Brum et al., 2020; Basu & Basu, 2019). Portanto, os estudos apontam para uma
otimização de reatividade e as propriedades mecânicas e biológicas, com o intuito de
utilizar essa biocerâmica em diversas aplicações (Ghosh et al., 2016).

β- TCP Dopado com o Estrôncio


As apatitas possuem facilidade em acomodar íons provenientes de outros
elementos químicos (Ates et al., 2019), diante disso, a substituição parcial de Cálcio
por outros íons que possuem características biológicas está sendo proposto como
uma ferramenta viável e promissora, com o intuito de aumentarem o desempenho
biológico desses materiais à base de fosfato de cálcio (Boanini et al., 2010).

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A incorporação de Sr na estrutura das cerâmicas de fosfatos de cálcio têm


apresentado uma resposta satisfatória nas células ósseas, os estudos mostram que
pequenas concentrações variando de (3-7%) podem estimular a atividade e
diferenciação dos osteoblastos in vitro (Capuccini et al., 2009), além disso, é capaz de
inibir o processo de reabsorção enquanto induz a formação óssea pela replicação de
osteoblastos (Larsson e Fazzalari, 2014). É importante ressaltar, que o estrôncio foi
clinicamente testado para aplicações biomédicas, apresentando características
relevantes sobre o tecido ósseo, em alguns países, é utilizado no tratamento de
doenças ósseas como: osteoporose e auxilia mulheres na pós -menopausa (Herrero e
Pico, 2016; Hedge et al., 2016).
Após a coleta dos dados foram encontrados um total de 08 (oito) artigos sobre
o β-TCP dopado com o estrôncio no decorrer dos anos. Observa-se que apesar dos
efeitos benéficos do estrôncio, a quantidade de publicações é limitada, o que estimula
a classe acadêmica a pesquisar mais sobre o íon e quantidade de concentração ideal
para obter um biomaterial eficiente, tendo em vista os efeitos benéficos que o Sr2+
possui. Em relação aos países que mais publicaram, a China aparece com 40% de
publicações, seguida da Itália com 20% e os demais países com 10%. O Gráfico 1
mostra a quantidade de publicações por país, percebe-se que há um interesse dos
países em pesquisar sobre esse material promissor para aplicações biológicas.

Gráfico 1. Quantidade de publicações por país

A seguir estão apresentados todos os trabalhos encontrados nas bases de


dados durante os últimos anos, desde 2016 até o presente ano, sobre o β-TCP dopado

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em diferentes concentrações de estrôncio, ressaltando seus principais efeitos


benéficos para a produção de uma biocerâmica viável e promissora.
Singh et al. (2016) estudaram a proliferação e a diferenciação de células-
tronco mesenquimais humanas a partir de scaffolds de β-TCP combinados com
(magnésio) Mg2+ ou Mg2+/Sr2+. Constatou-se que as células cultivadas diretamente
em estruturas preparadas com β-TCP substituído apenas com Mg2+ foram capazes de
suportar atividade de fosfatase alcalina, osteopontina e expressão de
osteoprotegerina em comparação com todas as composições contendo Mg2+/Sr2+, e
β-TCP puro. Desse modo, concluiu-se que a maior diferenciação observada foi devido
à liberação de íons bioativos na microestrutura de superfície, onde a liberação desses
íons oferece suporte à diferenciação aprimorada por meio da sinalização do fator de
crescimento e da proteína morfogenética óssea, dependente do grupo de proteínas
intracelulares.
Wang et al. (2018) sintetizaram nanopós de β-TCP co-dopados com íons
estrôncio (Sr2+) e zinco (Zn2+) variando a concentração dos dopantes de 0 a 4,8
mol%, onde a estrutura cristalina e as propriedades do beta fosfato tricálcico foram
analisadas após a dopagem. O resultado da pesquisa mostrou que a fase β-TCP foi
alcançada após o tratamento térmico acima de 800 °C, os parâmetros de rede do eixo
a e do eixo c diminuíram gradualmente com o aumento do nível de co-substituição
Sr2+/Zn2+ na rede cristalina, além disso o estudo confirmou também que a dopagem
melhorou significativamente a estabilidade térmica do β-TCP. Portanto, o material
formado mostrou ser promissor em bioaplicações, porém não apresentou
mineralização superior ao β-TCP puro.
Boanini et al. (2018) utilizaram a técnica de laser assistido por matriz
combinatória para depositar filmes finos de gradiente com composições variáveis de
Hidroxiapatita (Hap) substituída com Sr (SrHAP) e β-TCP substituído com Zinco
(ZnTCP) em substratos de titânio como ferramenta para modular a resposta de
osteoblastos/osteoclastos. O estudo concluiu que a resposta dos osteoblastos e
osteoclastos cultivados nos revestimentos é modulada pela composição graduada e
varia com o conteúdo de SrHAP e ZnTCP. Em particular, os dados indicam que a
presença de SrHAP inibe a viabilidade e diferenciação dos osteoclastos, enquanto o
ZnTCP apresenta uma ação benéfica no processo de mineralização promovendo a
proliferação de osteoblastos e a produção de osteocalcina. Além disso, composições

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intermediárias, contendo SrHAP e ZnTCP, possuem efeitos positivos sobre os


osteoblastos com ação inibitória sobre os osteoclastos fornecendo materiais com
capacidade sob medida, via processamento a laser, a fim de melhorar e acelerar a
reparação óssea.
Kozelskaya et al. (2020) investigaram o efeito das substituições de estrôncio e
magnésio na composição de pulverização catódica de β-TCP nas propriedades físico-
químicas e na taxa de deposição em revestimentos de fosfato de cálcio. Observou-se
que a presença de substituições de estrôncio no alvo β-TCP pulverizado leva a um
aumento significativo na taxa de deposição de revestimentos de fosfato de cálcio,
enquanto as substituições de magnésio reduzem ligeiramente. Tal diferença se deve à
influência das substituições de magnésio e estrôncio na estrutura cristalina do pó de
β-TCP. Cálculos teóricos indicam que as substituições de estrôncio levam a um
aumento no volume da célula unitária, o que causa um aumento nas taxas de
deposição de revestimentos de (Sr-β-TCP), enquanto que as substituições com
magnésio levam a diminuição no volume da célula unitária o que leva a uma ligeira
diminuição na taxa de deposição de revestimento de (Mg-β-TCP), também foi
demonstrado um aumento na solubilidade dos revestimentos formados por
pulverização catódica de alvos Sr-β-TCP e Mg/Sr-β-TCP.
Wang et al. (2021) sintetizaram Hidroxiapatita e β- TCP com as seguintes
concentrações de estrôncio: 1, 5 e 15 mol % através de precipitação química e
calcinação em alta temperatura. Os resultados mostraram que com o aumento da
concentração de Sr, primeiro houve uma redução de Hap, fenômeno esse ocasionado
pela distorção da estrutura, porém, quando a concentração de Sr atingiu 15% a
porcentagem de Hap começou a aumentar, esse último fator pode ser explicado
devido a ocorrência da transformação de fase β-TCP para uma apatita deficiente em
cálcio (Ca2+). Portanto, o aumento nos parâmetros de rede e volume indicam que
houve com sucesso a incorporação de Sr na estrutura cristalina de β-TCP e Hap,
devido ao raio iônico do Sr2+ ser maior que o Ca2+.
He et al. (2021) sintetizaram β-TCP contendo vidros de fosfatos dopados com
Gálio (Ga) e Estrôncio (Sr) através do método de extrusão e microperfuração. Os
scaffolds (TCP/PGs) contendo apenas Ga apresentaram proliferação celular e inibiu a
diferenciação osteogênica in vitro, bem como as atividades osteoclásticas, já as
amostras contendo Sr e Ga alcançaram melhores resultados quanto a proliferação

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celular. Além de testes in vitro também foram feitos os testes in vivo, os resultados
mostraram que os revestimentos contendo apenas o Ga inibiram a reabsorção óssea,
já as amostras implantadas em defeitos ósseos de coelhos contendo Ga e Sr não
inibiram a reabsorção óssea, nem promoveram a regeneração óssea.
Diante, dessa revisão bibliográfica, é possível constatar que a substituição
parcial de Cálcio (Ca2+) por íons de Sr trata-se de uma ferramenta promissora para o
desempenho biológico, porém constatou-se que a participação de um segundo
elemento na dopagem, pode melhorar positivamente ou negativamente, observou-se
também que a incorporação ocasiona: modificação química afetando as propriedades
físico-químicas, mecânicas e antibacteriana dos materiais, causando mudanças na
morfologia, solubilidade e densidade. Além disso, as propriedades induzidas pelas
substituições permitem combinar biocompatibilidades dos fosfatos de cálcio, dando
origem a um material com aplicações em diversas áreas como: tratamento de doenças
ósseas, regeneração óssea e enxerto ósseo. Apesar desse estudo, ser uma abordagem
nova, vale ressaltar que a substituição com íons de Estrôncio abre novos caminhos
para diversas aplicações e que o uso dessa alternativa traz um efeito benéfico e
multifuncional em materiais à base de fosfatos de cálcio.

CONCLUSÕES

Através do presente estudo observou-se que os biomateriais à base de fosfato


de cálcio são de suma importância e a incorporação com íons dopantes melhoram
uma série de características como: estabilidade térmicas dos materiais, influência a
proliferação de células osteoblastos, células estas, responsáveis pela regeneração
óssea, além de mudanças estruturais nas fases cristalinas, como volume da célula
unitária. Houve um total de apenas 8 artigos publicados nos últimos anos sobre o β-
TCP dopado com estrôncio, conclui-se que o número de publicações é limitado, apesar
dos efeitos positivos que o Sr2+ possui. Portanto, é de extrema relevância mais
estudos sobre o tema, uma vez que o estrôncio possui importante função biológica no
tecido hospedeiro, e já foi comprovado que pequenas doses ajudam a prevenir cáries
em ratos e humanos, aplicações com ranelato de estrôncio possui eficácia contra
lesões e fraturas ocasionadas pela osteoporose em idosos e em mulheres na pós-
menopausa, dessa forma, a incorporação com esse íon e quantidade ideal produz um
material promissor com fortes aplicações biológicas.

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CAPÍTULO 53

CORANTES NATURAIS EM
ALIMENTOS: ESTUDO DO
POTENCIAL DA PITAYA PARA
PRODUÇÃO DE CORANTES

Poliana Mendes de Souza1


Carlos Alberto Gois Suzart2
Adnane Beniaich3

1
Professora Adjunta III, do Intituto de Ciência e Tecnologia, da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina, MG, e-mail:
poliana.souza@ict.ufvjm.edu.br, ID Lattes: 6955210951885349.
2
Professor Adjunto III, do Intituto de Ciência e Tecnologia, da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina, MG, e-mail:
engsuzart@ict.ufvjm.edu.br, ID Lattes: 7106474925294226.
3
Pós-Doutorando, Agricultural Innovation and Technology Transfer Center (AITTC),
Polytechnic university mohammed VI, Benguerir, Marrocos, e-mail: beniaich@gmail.com,
ID Lattes: 2502903410896997.

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CORANTES NATURAIS EM ALIMENTOS: ESTUDO DO POTENCIAL DA PITAYA PARA


PRODUÇÃO DE CORANTES

RESUMO
As indústrias de alimentos e bebidas utilizam aditivos alimentares, entre eles os corantes, para
atribuir características desejavéis aos alimentos. Em termos técnicos, os aditivos alimentares
são quaisquer ingredientes adicionados intencionalmente sem o propósito de incrementar o
valor nutritivo a esses produtos. O objetivo de um aditivo é modificar as características físicas,
químicas, biológicas ou sensoriais durante a fabricação do alimentos. Com o desenvolvimento
da indústria alimentar, e com a alteração do perfil do consumidor surgiu a necessidade de
buscar novos aditivos, de forma a evitar o uso de aditivos químicos. Entre as opções para a
obtenção de corantes está a pitaya. Essa fruta, também conhecida como fruta do dragão,
possui coloração roxa, e perfil aquoso. Este trabalho busca estudar o potencial da pitaya para
obtenção de corante natual.
Palavras-chave: Corantes, Pitaya, Extratos alcóolicos, extratos aquosos, liofilização.

NATURAL DYES IN FOOD: STUDY OF PITAYA'S POTENTIAL FOR DYE PRODUCTION

ABSTRACT
The food and beverage industries use food additives, including dyes, to give desirable
characteristics to foods. In technical terms, food additives are any characteristics considered
intentionally without the purpose of increasing the nutritional value of these products. The
purpose of an additive is to modify such physical, chemical, biological or sensory
characteristics during food manufacturing. With the development of the food industry, and
with the change in the consumer profile, there was a need to look for new additives, in order
to avoid the use of chemical additives. Among the options for obtaining dyes is pitaya. This
fruit, also known as dragon fruit, has a purple color and a watery profile. This work seeks to
study the potential of pitaya to obtain natural dye
Key-words: Dyes, Pitaya, Alcohol extracts, aqueous extracts, lyophilization.

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1. INTRODUÇÃO
A pitaya é uma fruta rústica conhecida mundialmente como "Fruta-do-Dragão”, e tem
como característica marcante o formato dos frutos cuja casca escamosa deu origem ao seu
nome popular. Os frutos da pitaya podem apresentar características levemente diversificadas
em decorrência de sua espécie, como formato (arredondado ou alongado), presença de
espinhos, cor da casca (vermelha, verde ou amarelada) e da polpa (branca, amarela, roxa)
(JUNQUEIRA et al., 2007).
Devido ao seu sabor neutro e levemente adocicado, de polpa firme e ao mesmo tempo
rica em água, aliado às suas propriedades nutricionais e funcionais, a pitaya é um produto de
grande potencial para uso na elaboração de produtos alimentícios.
Atualmente, as espécies de pitaya mais cultivadas no mundo são a pitaya de casca
vermelha (Hylocereus undatus (Haw.) Britton e Rose) e a de casca amarela (Selenicereus megalanthus
(K. Schum ex Vaupel) (MIZRAHI et al., 1997; NERD et al., 2002). No Brasil podem ser
encontrados pés de pitaya nativos no Cerrado e Caatinga, sendo predominantes nesta região as
espécies do gênero Selenicereus e Hylocereus, dentre elas a Selenicereus setaceus, popularmente
conhecida como pitaya-do-cerrado (JUNQUEIRA et al., 2002).
Devido à escassez de estudos sobre a pitaya, torna-se pertinente a ampliação do
conhecimento acerca dessa fruta como matéria-prima alimentar. Neste capitulo serão
apresentados os potencias técnico e tecnologicos da pitaya na indústria de alimentos. Para
atingir tal objetivo também serão abordados os temas de pré-processamento dos frutos,
legislação pertinente, e caracterização nutricional e sensorial.

2. ADITIVOS ALIMENTARES NATURAIS


As indústrias de alimentos e bebidas utilizam MACROINGREDIENTES,
ADITIVOS ALIMENTARES e OUTROS INGREDIENTES para a produção do alimento
“final”. Todos estes elementos são insumos alimentares. Com o desenvolvimento da indústria
alimentar na segunda metade do século XX, foram progressivamente introduzidos novos
ingredientes e de novos aditivos permitindo a produção em larga escala, de uma variedade
maior de alimentos, e o transporte de alimentos a grandes distâncias, assegurando que o
produto chegue ao consumidor com um aspecto atrativo e apto (seguro) para o consumo.
Em termos técnicos, os aditivos alimentares são quaisquer ingredientes adicionados
intencionalmente sem o propósito de incrementar o valor nutritivo a esses produtos. O
objetivo de um aditivo é modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais
durante a fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento,

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armazenagem, transporte ou manipulação de alimentos ou bebidas. Ao agregar-se, poderá


resultar que o próprio aditivo ou seus derivados se convertam em um componente desse
alimento ou bebida. Essa definição não inclui os contaminantes ou substâncias nutritivas que
sejam incorporadas ao alimento para manter ou melhorar suas propriedades nutricionais.
O mercado mundial de aditivos vem sendo dominado majoritariamente pelas classes
de aditivos aromatizantes e flavorizantes, melhoradores de sabor, espessantes e hidrocoloides,
acidulantes e emulsificantes. Aditivos são usados no preparo de alimentos há séculos, e o
primeiro deles, usado até hoje, é o sal.
Na busca de aditivos naturais diferentes espécies vegetais estão sendo estudados como
alternativas aos sintéticos. A literatura apresenta a pitaya como uma fruta nutritiva cuja polpa
constitui cerca de 70 a 80% do fruto. A planta possui propriedades medicinais, as variedades
de polpa vermelha são ricas em antioxidantes, neutraliza substâncias tóxicas como metais
pesados, reduzem o colesterol e a pressão sanguínea, além de ricas em fósforo e cálcio
(GUNASENA; PUSHPAKUMARA; KARYAWASAM, 2007). Devido aos fatores citados
acima a pitaya é um produto de grande aceitação nos mercados consumidores, e com
potencial para uso elemento para produçéao de aditivos naturais.

3. CORANTES
As cores são adicionadas em determinados produtos, principalmente para restituir a
aparência original (afetada durante as etapas de processamento, estocagem, embalagem e
distribuição), para torná-lo visivelmente atraente (ajudando a identificar o aroma normalmente
associado a determinados produtos) para conferir cor aos desprovidos de cor e para reforçar
as cores presentes nesses produtos. A cor é um aspecto que determina a aceitação de produtos
industrializados e estimula os fabricantes a incorporarem corantes aos alimentos, inclusive
como indicativo de sua qualidade (MAZZA e BROUILLARD, 1987; STRINGHETA et al.,
2001; GIUSTI e WROLSTAD, 2003).
A cor é decorrente da interação entre os corantes presentes no alimento. Por sua vez,
os corantes são substâncias que conferem, intensificam ou restauram a cor de um produto e
também são classificados como aditivos alimentares. Pela legislação atual brasileira, através das
resoluções n. 382 e 388 da ANVISA, no Brasil é permitido o uso de 11 corantes artificiais;
A publicação de estudos do Codex Alimentarius, órgão ligado à Organização Mundial
da Saúde (OMS), já fundamentou a banição de alguns corantes por ministérios da saúde de
todo o mundo, inclusive o brasileiro. Foram proibidos, por exemplo, o amarelo sólido, até
então muito empregado em gelatinas; o laranja GGN, usado em pós para sorvetes; o vermelho

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sólido, para recheios e revestimentos de biscoitos; o azul de alizarina, corante em óleos


emulsionados e gelatinas; e o escarlate GN, com uso em recheios de confeitarias.

Figura 1. Corantes artificiais permitidos pelas resoluções n° 382 e n°388 da ANVISA.


Imagem: Food Safety Brazil.

O fato de alguns corantes sintéticos serem permitidos, porém, não anula seus efeitos
adversos, que embora não sejam divulgados na embalagem estão disponíveis em artigos
científicos. Assim, por sua vez, corantes naturais, com cores atrativas e possíveis ações
benéficas à saúde, despertam o interesse para estudos sobre sua obtenção, estabilidade e
conservação. Além disso, o manejo consciente com objetivos de preservar e incentivar a
descoberta de novas espécies nativas e exóticas que são fontes desses corantes também torna
esses estudos interessantes.
Por esse motivo, a utilização de corantes naturais de fontes biológicas e pigmentos
extraídos das plantas, fungos, bactérias, algas e insetos vêm aumentando nos últimos anos.
Algumas das principais categorias de pigmentos vegetais incluem as betalaínas, as antocianinas
e outros flavonóides, carotenóides e clorofilas.

4. PITAYA
A pitaya pertence à família Cactácea, originária das América do Norte, Central e Sul, e
se encontra distribuída nos países: Costa Rica, Venezuela, Panamá, Uruguai, Colômbia,
México e Brasil. O fruto da pitaya é globoso medindo 10 a 20 cm de diâmetro, podendo ser de

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coloração amarela ou vermelha, coberto com brácteas. As sementes medem aproximadamente


3 mm de diâmetro e são numerosas, de coloração escura e se encontram distribuídas em toda
polpa (CANTO et al., 1993). Há variabilidade entre as espécies quanto ao tamanho e
coloração dos frutos, a espécie Hylocereus costaricensis apresenta frutos com coloração
vermelha tanto na casca quanto na polpa; a Selenicereus megalanthus possui a polpa
esbranquiçada e a casca na coloração amarela; a Selenicereus setaceus a casca é vermelha e a
polpa esbranquiçada, como na Hylocereus undatus, porém o fruto é de tamanho menor e
apresenta espinhos. Assim, a variedade com potencial para extração de corantes é a Pitaya
Vermelha de Polpa Vermelha (Hylocereus lemairei), mostrada na Figura 2.
A pitaya é uma fruta exótica, pertencente à família Cactaceae, sendo conhecida
mundialmente como "Fruta-do-Dragão”. Possui grande variabilidade de espécies, seus frutos
podem apresentar características diversificadas, tais como: formato, presença de espinhos, cor
da casca e da polpa, refletindo em alta variabilidade genética (JUNQUEIRA et al., 2007).

5. PRODUÇÃO DE CORANTES A BASE DE PITAYA


Os principais pigmentos encontrados na pitaya são as betalaínas, pigmentos
nitrogenados e hidrossolúveis, semelhante ao grupo das antocianinas e flavonóides, com
estruturas químicas diferentes.

Figura 2. Pitaya Vermelha de Polpa Vermelha ( Hylocereus lemairei ), variedade com


potencial para produção de corante. Foto: Gustavo Giacon.

As betalaínas possuem algumas vantagens em relação às antocianinas, sendo mais


solúveis em água, a força tintorial é três vezes mais elevada do que das antocianinas e possui
uma gama mais ampla de estabilidade de pH (STINTZING e CARLE, 2007). São divididas

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em betacianinas (vermelho-roxo) e betaxantinas (amarelolaranja) que compreendem cerca de


55 estruturas diferentes e promovem grande variação de matriz de cores para a indústria de
alimentos, fármacos e cosméticos (STINTZING; SCHIEBER; CARLE, 2002). As betalaínas
são estáveis em pH 4 e 5; e razoavelmente estáveis em pH 5 a 7 e instáveis em presença de luz
e oxigênio, além destes fatores a atividade de água também afeta a estabilidade dos pigmentos.
Na polpa e na casca dos frutos da espécie Hylocereus podem ser encontradas as betalaínas
(STINTZING; SCHIEBER; CARLE; 2002), pigmentos vegetais avermelhados também
presentes na beterraba.
A concentração de betacianina pode ser estabilizada pela adição de ácido ascórbico,
isoascórbico e ácido cítrico, onde melhores resultados foram obtidos em pH 4 e adição de
1,0% ácido ascórbico (HERBACH et al., 2006).
SOUSA (2015) realizou a extração do corante a base de pitaia por meio da imersão da
polpa do fruto em água (solvente), na proporção de 1:1 (peso:volume) por 10 minutos, de
seguindo a metodologia descrita por REBECCA et al. (2008). No estudo, a autora verificou a
estabilidade dos corantes produzidos expondo os corantes à diferentes potências de luz (15 a
60W), e a diferentes luminosidades (940 a 7700 Lux). O estudo da estabilidade da
concentração de betacianina do corante de pitaya obtido da polpa do fruto foi realizado frente
a um dos fatores de influência degradativa, a luminosidade. As amostras com presença de
oxigênio, presença de oxigênio e adição de antioxidante e com oxigênio reduzido, foram
analisadas com o objetivo de estabelecer a cinética de degradação do corante. Durante o
experimento pode-se observar que houve degradação da concentração de betacianina com o
aumento da luminosidade. Ainda assim, os resultados apontam para que a concentração de
betacianina não sofre degradação apreciável entre as diferentes luminosidades sendo sensível
em comparação com os teores apresentados ao abrigo da luz. Os dados levantados são
apresentados na Tabela 1.
Na sequência do estudo, SOUSA (2015) avaliou a estabilidade da concentração de
betacianina e da cor do corante de pitaya (Hylocereus costaricencis) obtido por meio da polpa
do fruto foi avaliada frente à diferentes temperaturas. As amostras foram submetidas à
incidência direta de calor em estufas DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e sem circulação
de ar nas seguintes temperaturas 20, 40, 60 e 80 °C. Esses testes acelerados foram realizados
por 456 h. A concentração de betacianina e a cor do corante de pitaya foram medidas por
meio de leituras em espectrofotômetro e colorímetro triestímulo, sistema CIE L*a*b,
respectivamente. Foi verificado que em baixas temperaturas não há alterações significativas na
concentração de betacianina e na cor do corante. O corante só apresentou alterações quando

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exposto a temperatura de 80 ºC, na qual foi observada sua evaporação e mudança de


coloração.

Tabela 1. Coordenadas colorimétricas e diferenças de cor no sistema CIE L*a*b* para


amostras ao abrigo de luz (iluminante D65 a 10º) do corante de pitaya com presença de
oxigênio, adição de antioxidante e oxigênio reduzido (SOUSA, 2015).

Em estudo similar SOUZA e SUZART (2020) produziram corantes de pitaia por 3


métodos distintos:
1. Extrato aquoso: Foram usados aproximadamente 50g de polpa de pitaia in natura
previamente descascada e cortada. Posteriormente, adicionou-se 150 mL de água
destilada, aqueceu-se a solução à fervura, até que a água reduzisse a metade do
volume inicial. O tempo da extração foi de aproximadamente 45 minutos, na
sequência o extrato foi arrefecido e filtrado sendo posteriormente armazenado em
frasco escuro em congelador doméstico.
2. Extrato alcoólico Para a obtenção do extrato alcoólico foram utilizados 50g de
polpa de pitaia in natura, previamente descascada e cortada em pequenos pedaços
e utilizou-se como solvente 100 mL de etanol 99,5%; o tempo estabelecido para a
extração foi de 48 horas. O béquer foi envolto por papel alumínio e mantido em
temperatura ambiente, após este período filtrou-se a solução e levou o filtrado à
evaporação em rota evaporador (TECNAL Te - 210, acoplado a uma bomba de
vácuo TECNAL Te – 058) à temperatura de 49º C, até obtenção de volume
constante, o extrato foi armazenado em frasco escuro, em congelador doméstico.

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3. Obtenção do corante em pó Para o obtenção do corante de pitaia em pó parte do


extrato alcoolico concentrado obtido no item anteior foi liofilizado, e
posteriormente triturado em processador doméstico.

6. APLICAÇÃO DE CORANTES A BASE DE PITAYA EM ALIMENTOS


Os autores avaliaram a qualidade dos corantes obtidos mensurando o teor de
antocianinas, betacianinas, e aplicando os corantes em um simulante alimentar, o creme de
leite. Na Figura 3 são apresentadas as aparências da pitaia usada nos ensaios e dos extratos
obtidos.
Os teores de antocianinas obtidos foram de antocianinas de 905mg/100g para o
extrato alcóolico, contra 76 mg/100g obtidos no extrato aquoso e 2103mg/100g na amostra
liofilizada. Para este mesmo comprimento de onda (460nm), os extratos líquidos amostras
apresentaram teor de antocianinas superior ao teor contido no extrato da acerola descrito por
Freitas el al. (2006), e valores similares aos obtios para o pinhão-roxo por Oliveira el al. (2015).

Figura 3 - (a) Pitaya vermelha; (b) Extrato aquoso de pitaya; (c) Extrato alcóolico de pitaya;
(d) Corante de pitaya em pó. Fonte: SOUZA e SUZART (2020).

Para Teixeira et al. (2008), um vegetal que apresente absorção para o comprimento na
faixa de 460 nm, o tipo de antocianina que prevalece é a Pelargonidina, estando mais presente
nas espécies que apresentem coloração vermelho-laranja e a peonidina presente nas espécies
de coloração púrpura. O teor de betalaína obtido foi 16mg/100g no extrato alcóolico,
1,2mg/100g no extrato aquoso e 34,1mg/100g para o corante liofilizado. Os teores de
antocianina e betacianinas apontam para as tonalidades vermelho-roxo dos corantes obtidos.
A dispersão é matriz alimentar é uniforme. Bovi et al. (2019) relatou valores de 31,42mg/100g
para beterrada in natura, e não foram encontrados outros estudos comparativos para os
extratos. A figura 4 apresenta as aparências do creme de leite usado como simulante alimentar
para teste da cor dos extratos corantes produzidos no estudo. A tabela 1 apresenta os valores
de L*, a* e b* dos cremes de leite da figura 4.

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Figura 4 - Creme de leite (a) natural, (b) com extrato aquoso de pitaya; (c) com extrato
alcóolico de pitaya; (d) com corante de pitaya em pó. Fonte: SOUZA e SUZART (2020).

Tabela 2 - Parâmetros de cor CIELAB* para o creme de leite colorido com os extratos.
Fonte: SOUZA e SUZART (2020).

7. CONCLUSÃO
Conclui-se que a pitaya pode ser usada como matéria-prima na produção de corantes
naturais com tonalidade vermelho, rosa e roxo, e é possívem a obtenção de corantes líquidos e
sólido.

8. REFERÊNCIAS
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Determinação dos teores de betalaína e composição centesimal de beterraba in natura e tipo chips.
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BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 382 a 388, de 09 de agosto de 1999.
Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 09 ago, 1999.
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de Yucatan. 1993. 53p.
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CAPÍTULO 54

PRESENÇA DE METAIS
PESADOS E PROCESSOS
CONVENCIONAIS PARA O
TRATAMENTO DE EFLUENTES
DE INDÚSTRIAS TÊXTEIS
BRASILEIRAS
Juan Pablo Pereira Lima1
André Aguiar2*

1
Graduando em Engenharia de Bioprocessos, Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI),
Itajubá, MG, e-mail: juanpablotp3@unifei.edu.br, ID Lattes: 8644354294696178.
2
Professor Associado II do Instituto de Recursos Natural (IRN), Universidade Federal de
Itajubá (UNIFEI), Itajubá, MG, e-mail: andrepiranga@yahoo.com.br;
aguiar@unifei.edu.br, ID Lattes: 1409264122407992.

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PRESENÇA DE METAIS PESADOS E PROCESSOS CONVENCIONAIS PARA O


TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIAS TÊXTEIS BRASILEIRAS

RESUMO
O setor têxtil é de grande importância no âmbito socioeconômico do Brasil. As
indústrias desse setor possuem uma alta demanda de água, e com isso tem-se uma
expressiva geração de efluentes contendo diversas substâncias orgânicas e
inorgânicas, incluindo metais. O presente trabalho consiste de um levantamento
bibliográfico a respeito da concentração de metais e dos processos convencionais
para o tratamento de efluentes de indústrias têxteis brasileiras. Dentre os principais
resultados, foram verificadas altas concentrações de alumínio e manganês em
algumas amostras considerando os valores máximos legislados para lançamento.
Além disso, constatou-se que dois terços das indústrias fazem uso de
coagulação/floculação, enquanto 57% empregam processos biológicos como
tratamento complementar ou como principal etapa no tratamento. Esses dados
confirmam que tais efluentes devem ser tratados quanto à remoção de metais.
Palavras-chave: Metais pesados. Efluente têxtil. Qualidade da água. Tratamento de
efluentes.

PRESENCE OF HEAVY METALS AND CONVENTIONAL PROCESSES FOR THE


TREATMENT OF EFFLUENTS FROM BRAZILIAN TEXTILE INDUSTRIES

ABSTRACT
The textile sector has a great importance in the socioeconomic sphere of Brazil. The
industries of this sector have a high demand of water, and with this there is a
significant generation of effluents containing diverse organic and inorganic
substances, including metals. The present work consists of a bibliographical survey
about the concentration of metals and conventional processes for the treatment of
effluents from Brazilian textile industries. Among the main results, high
concentrations of aluminum and manganese were verified in some samples
considering the maximum values legislated for disposal. In addition, it was found that
two-thirds of industries use coagulation/flocculation, while 57% use biological
processes as a complementary treatment or as the main step in the treatment. These
data confirms that such effluents must be treated for metal removal.
Key-words: Heavy metals. Textile effluent. Water quality. Effluent treatment.

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INTRODUÇÃO
O setor têxtil possui grande importância no âmbito socioeconômico brasileiro,
sendo o segundo maior empregador da indústria de transformação. Em 2019 foram
produzidas aproximadamente 2 milhões de toneladas de tecidos, cujo faturamento da
cadeia têxtil e de confecção foi de R$ 185,7 bilhões para o país (ABIT, 2020). As
indústrias desse setor são conhecidas pela alta demanda de água. Estima-se que o
consumo varie de 200 a 400 m3 de água por tonelada de tecido produzido (Holkar et
al., 2016). De acordo com Rocha, Silva e Silva (2021), ao analisar o consumo de água
em indústrias têxteis do Agreste Pernambuco, foi verificado que tal demanda pode
variar, em média, de 261,3 m3.mês-1 a 5960 m3.mês-1 para indústrias de pequeno e
grande porte, respectivamente.
As indústrias têxteis utilizam diferentes insumos como corantes, peróxido de
hidrogênio, surfactantes, dispersantes, ácidos, bases e sais durante as etapas de
mercerização, alcalinização, purga, alvejamento e tingimento (Holkar et al., 2016).
Cada etapa do processo requer sucessivas lavagens que representam de 60% a 90%
do consumo de água total, tendo como consequência a geração de uma mistura
complexa de substâncias orgânicas e inorgânicas no efluente (Velusamy et al., 2021).
Dentre os poluentes inorgânicos, destacam-se os metais. De acordo com Benkhaya,
M’rabet e El Harfi (2020), os metais pesados podem ser provenientes do processo de
produção ao se utilizar certos corantes, como o cromo oriundo de corantes ácidos, ou
o cobre advindo de corantes diretos. Além disso, eles podem ser procedentes de
outros materiais utilizados no processo de tingimento, como o mercúrio presente em
vários reagentes químicos ou o cromo proveniente do dicromato de potássio.
A presença de altas concentrações de metais pesados em corpos hídricos tem
consequências significativas na saúde humana e na biota aquática. Define-se “metais
pesados” como elementos metálicos com densidade superior a 4000 kg.m-3 e com
capacidade de formarem sulfetos (Vardhan, Kumar e Panda, 2019). Os metais
pesados incluem alguns elementos presentes nos organismos vivos em pequenas
quantidades, mas que se tornam tóxicos com o aumento da concentração
(bioacumulação), além de alguns serem naturalmente tóxicos. A intoxicação por
metais pesados provoca um conjunto específico de sintomas e um quadro clínico
próprio. Um dos principais mecanismos de ação dos metais pesados em seres vivos
consiste da formação de complexos com as enzimas, inibindo-as e consequentemente

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prejudicando o perfeito funcionamento do organismo (Ali, Khan e Ilahi, 2019). A


Tabela 1 lista alguns danos à saúde devido à contaminação por metais pesados.

Tabela 1: Efeitos na saúde humana por metais mais frequentemente encontrados no


ambiente.
Metal Danos à saúde
Arsênio Distúrbios gastrointestinais, espasmos musculares e viscerais.
Alumínio Constipação intestinal, hiperatividade infantil, dificuldade de aprendizagem,
osteoporose, raquitismo e convulsões.
Bário Hipertensão arterial, doenças cardiovasculares.
Cádmio Carcinogênico.
Cromo Dermatite, úlceras cutâneas, inflamação das mucosas do nariz, câncer de
pulmão.
Chumbo Irritabilidade e agressividade, indisposição, enxaqueca, convulsões, fadiga,
sangramento gengival, dores abdominais, náusea, fraqueza muscular, perda
de memória, insônia, pesadelos, acidente vascular cerebral inespecífico.
Mercúrio Depressão, fadiga, tremores, síndrome do pânico, parestesias, falta de
controle motor, marcha lateral, dificuldades de fala, perda de memória,
perda de desempenho sexual.
Níquel Carcinogênico.
Zinco Sensação de sabor adocicado e secura na garganta, tosse, fraqueza.
Fonte: von Sperling (2007).

Ao tratar um efluente industrial para o seu lançamento não se deve apenas focar
na correção de pH, nas remoções de matéria orgânica, cor e de turbidez, mas também
na remoção de metais pesados. A Resolução no 430 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) estabelece que os efluentes de qualquer fonte poluidora
somente poderão ser lançados diretamente nos corpos hídricos receptores após o
devido tratamento atender às condições, padrões e exigências dispostos na mesma e
em outras normas aplicáveis (Brasil, 2011).
Devido à importância do setor têxtil e a consequente geração de efluentes em
função de suas atividades, o objetivo deste trabalho consistiu em fazer um
levantamento bibliográfico sobre a concentração de metais pesados em efluentes
brutos de indústrias têxteis brasileiras. Buscou-se avaliar a magnitude dos dados e
confrontá-los com os limites estabelecidos na legislação federal para lançamento,
como forma de verificar se tais águas residuárias necessitam de fato ser tratadas

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considerando a remoção desses poluentes. Além disso, fez-se um levantamento dos


tratamentos convencionalmente adotados pelas indústrias para remediar tais
efluentes. Foram consultados trabalhos completos apresentados em congressos,
artigos publicados em periódicos, monografias de conclusão de curso, teses e
dissertações sobre efluentes têxteis gerados por indústrias brasileiras entre os anos
de 2010 e 2020.

CONCENTRAÇÃO DE METAIS PESADOS EM EFLUENTES TÊXTEIS


Mediante as diferentes fontes consultadas, menos de 20% delas reportaram a
concentração de metais pesados em efluentes têxteis, conforme mostram as Tabelas 2
e 3. Além disso, encontram-se nas mesmas os valores máximos permitidos para cada
metal de acordo com a legislação federal para lançamento (Brasil, 2011).

Tabela 2: Resultados reportados para a concentração de metais pesados em efluentes


têxteis.
Cromo
Referência Alumínio Arsênio Bário Cádmio Chumbo Cobre
trivalente
Valor máximo
permitido 0,1 0,5 5,0 0,2 0,5 1,0 0,1
(mg.L-1)
Fernandes 0,01 -
- <0,02 - <0,001 < 0,01 0,05 - 0,3
(2010) 0,04
Couto et al.
- 2,19 3,36 - 0,64 - 0,02
(2012)
Tavares,
0,12 - 0,04 -
Ribeiro e - - - - 0,04 – 0,06
0,31 0,06
Volpe (2014)
Gili (2015) 3,12 - - - - - -
Silva et al.
- - - 0,0005 0,004 0,01 -
(2016)
Martins et al.
- - - - - - -
(2017)
Leles (2017) 1,55 - 0,07 < LQ* 0,01 0,02 0,08
Chicatto et al. <
- <0,01 <0,20 < 0,01 0,024 -
(2018) 0,001
Santos et al.
0,24 - - 0,001 0,01 0,139 -
(2018)
*LQ = Limite de quantificação

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Tabela 2: Resultados reportados para a concentração de metais pesados em efluentes


têxteis (continuação).
Cromo
Referência Mercúrio Manganês Níquel Prata Selênio Zinco
total
Valor máximo
permitido 5,0 0,01 1,0 2,0 0,1 0,3 5,0
(mg.L-1)
Fernandes < 0,01-
0,05-0,16 < 0,001 - < 0,01-0,19 - <0,01
(2010) 0,39
Couto et al.
- 0,04 1,53 0,29 0,14 - 0,65
(2012)
Tavares,
Ribeiro e - - - 0,02-0,04 - - 0,01-0,20
Volpe (2014)
Gili (2015) 0,02 - - - - - -
Silva et al.
0,02 - 11,78 0,04 0,04 - -
(2016)
Martins et al.
<LQ - - - - - -
(2017)
Leles (2017) - - 0,03 - - - -
Chicatto et al.
< 0,01 < 0,0002 < 0,05 < 0,01 - - -
(2018)
Pizato e
Andrade 10 - - - - - -
(2018)
Santos et al.
0,69 0,002 0,06 0,01 0,01 - -
(2018)
Lucena et al.
<LQ - - 1,69 - - -
(2019)
Trigueros et
- - - 0,2 - - 0,6
al. (2019)
*LQ = Limite de quantificação

Tabela 3: Resultados reportados para a concentração de ferro total em efluentes


têxteis.
Referência Ferro total (mg.L-1) Referência Ferro total (mg.L-1)
Valor máximo legislado 15,0 Silva et al. (2016) 0,17
Fernandes (2010) < 0,01 – 0,03 Martins et al. (2017) 0,13
Amaral (2011) 5,0 Leles (2017) 0,08
Couto et al. (2012) 1,54 Chicatto et al. (2018) 0,1
Almeida (2013) 4,23 Santos et al. (2018) 0,08
Campos e Brito (2014) 0,1 Silva (2019) 0,08
Tavares, Ribeiro e Volpe (2014) 0,04 – 0,32 Lucena et al. (2019) 0,13
Gili (2015) 24,73 Trigueros et al. (2019) 1,0

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Notou-se que os metais bário, cádmio, cobre, cromo (trivalente), níquel,


selênio e zinco encontraram-se dentro dos padrões estabelecidos pela legislação
federal, embora poucos trabalhos tenham reportado suas concentrações. Para outros
metais como o alumínio, arsênio, chumbo, cromo (total), ferro, manganês, mercúrio e
prata houve no mínimo uma ocorrência de concentração acima do limite permitido.
Dentre eles, o arsênio, cádmio, chumbo, cobre, níquel, mercúrio e zinco são
reconhecidos como metais pesados perigosos, devido às suas altas solubilidades em
ambientes aquáticos (Velusamy et al., 2021). O alumínio foi quantificado em três
trabalhos e as concentrações estão acima do limite permitido, inclusive foi
encontrada uma concentração cerca de 70 vezes maior comparada à legislada. Quinze
trabalhos abordaram a concentração de ferro total, sendo que em apenas 1 deles o
seu valor foi acima do máximo permitido. Para o manganês, Silva (2016) reportou
uma concentração 12 vezes maior que à permitida para lançamento (Brasil, 2011).
É importante destacar que durante a pesquisa procurou-se também por dados
de efluentes tratados e caracterizados quanto à presença de metais, mas sem sucesso.
A maioria dos trabalhos geralmente reporta concentração de matéria orgânica, cor e
turbidez para efluentes têxteis tratados.

TRATAMENTOS CONVENCIONAIS APLICADOS EM EFLUENTES TÊXTEIS NO BRASIL


Na Tabela 4 são reportados os processos de tratamento de efluentes utilizados
por algumas indústrias e lavanderias têxteis brasileiras. Embora a precipitação
química seja reconhecida como a melhor forma de remoção de metais (Barakat, 2011;
Mazur et al., 2018), sua utilização para efluentes têxteis não é comum devido à baixa
concentração dos mesmos.
Uma grande parte das estações de tratamento de efluentes (ETEs) de indústrias
e lavanderias têxteis faz uso de peneiramento, gradeamento e/ou caixa de areia como
tratamentos preliminares. O tratamento seguinte consiste geralmente de
coagulação/floculação e então é finalizado, ou destinado ao sistema de lodos ativados.
Este processo biológico é responsável pela remoção de matéria orgânica
biodegradável remanescente (von Sperling, 2007). Em algumas ETEs também foi
verificada a utilização de sistema de lodos ativados como a principal etapa do
tratamento, seguido ou não de coagulação/floculação como polimento.

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Tabela 4: Sequência de processos empregados por indústrias e lavanderias industriais


têxteis brasileiras no tratamento de seus efluentes.
Capacidade
Descrição Localidade Etapas do tratamento Referências
(m3.h-1)
Gradeamento – Caixa de areia – Tanque de
Capricórnio equalização – Tanque de neutralização – Fernandes
Natal - RN -
S/A Coagulação/floculação – Decantador – (2010)
Secagem* – Aterro industrial*
Toalhas São Tanque de equalização – Lodos ativados –
São Carlos - SP - Franco (2010)
Carlos S.A. Filtro prensa*
Decantador - Peneiramento - Decantador -
Riccieri
Morro da Tanque de equalização -
Confecções - Niero (2011)
Fumaça - SC Coagulação/floculação - Decantador - Leito de
Ltda
secagem* - Aterro industrial*
Caixa de areia - Peneiramento - Tanque de
Mar Indústria equalização – Coagulação/floculação -
Içara - SC 36 Silva (2011)
Têxtil Ltda Decantador - Incineração* - Lagoa de
estabilização aerada
Companhia Gradeamento – Tanque de equalização –
Cataguases -
Industrial - Lodos ativados – Adensador* - Centrifugação* Avelar (2012)
MG
Cataguases - Aterro industrial*
Gradeamento – Caixa de areia – Peneiramento
Paramount Sapucaia do Sul – Tanque de equalização –
100 Fortino (2012)
Têxteis - RS Coagulação/floculação - Flotação – Lodos
ativados – Filtro prensa* – Aterro industrial*
Caixa de areia - Tanque de equalização -
Lavanderia Campos dos Souza et al.
25 Coagulação/floculação - Decantador - Filtro
Industrial Goytacazes - RJ (2013)
prensa* - Filtração
Gradeamento - Tanque de equalização -
Lavanderia Passo Fundo - Buss et al.
- Coagulação/floculação - Decantador - Leito de
Expressa RS (2015)
secagem*
Peneiramento – Tanque de equalização – Zagonel, Buss
Lavanderia Meio Oeste
3,8 Coagulação/floculação – Decantador – Leito e Menezes
Industrial Catarinense
de secagem* - Filtração (2015)
Peneiramento - Caixa de areia - Tanque de
Lavanderia equalização – Coagulação/floculação - Castilhos
Cianorte - PR 70
Industrial Decantador - Lodos ativados - Adensador* - (2015)
Filtro prensa* - Aterro industrial*
Peneiramento – Tanque de equalização -
Indústria
Brusque - SC 70 Eletrocoagulação – Sedimentação - Filtro Gili (2015)
Têxtil
Rotativo* - Aterro Industrial*
Indústria Tanque de neutralização - Lodos ativados – Salim et al.
Região Sudeste -
Têxtil Coagulação/floculação (2015)
Lavanderia Coagulação/floculação – Decantador - Leito Rocha et al.
Teresina - PI 24
Industrial de secagem* (2016)
Gradeamento – Tanque de separação
Cia Têxtil São São João Del
- água/óleo – Lodos ativados – Decantador – Zanith (2016)
Joanense Rey - MG
Filtro prensa*
Gradeamento – Tanque de equalização –
Lavanderia
Caruaru - PE - Coagulação/floculação – Filtração – Leito de Souza (2017)
Industrial
secagem*
Tinturaria Peneiramento – Tanque de equalização –
Brusque - SC - Dalari (2018)
Industrial Lodos ativados

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Tabela 4: Sequência de processos empregados por indústrias e lavanderias industriais


têxteis brasileiras no tratamento de seus efluentes (continuação).
Capacidade
Descrição Localidade Etapas do tratamento Referências
(m3.h-1)
Peneiramento - Decantador - Lodos
Lavanderia Silva et al
Maringá - PR - ativados - Leito de secagem* - Aterro
Industrial (2018)
industrial*
Peneiramento – Tanque de equalização
Tinturaria Justino et al
Brusque - SC - – Lodos ativados –
Industrial (2019)
Coagulação/floculação
Gradeamento – Filtração –
Indústria Têxtil Itaporanga - PB - Coagulação/floculação – Decantador – Silva (2019)
Leito de secagem*
Tanque de equalização – Decantador –
Queiroz et al.
Indústria Têxtil MG - Lodos ativados – Filtro prensa* -
(2019)
Incineração*
Gradeamento – Tanque de equalização –
Tinturaria Dalari et al.
Brusque - SC - Lodo ativados – Processos físico-
Industrial (2020)
químicos (não informado)
*Operações destinadas aos lodos. O nome de algumas empresas não foi divulgado pelas fontes.

Dentre os processos convencionais, os biológicos e a coagulação-floculação


permitem a remoção de metais pesados, sendo esse último dependente do pH,
tipo/dosagem do agente coagulante, temperatura, alcalinidade e condições de
mistura (Mazur et al., 2018; Velusamy et al., 2021). Dois terços das ETEs de indústrias
aqui reportadas utilizam do processo de coagulação/floculação, enquanto 57% fazem
uso de processos biológicos, consistindo majoritariamente do sistema de lodos
ativados. Os metais pesados são removidos junto ao lodo químico
(coagulação/floculação) quanto no lodo separado no decantador secundário (do
sistema de lodos ativados), os quais são geralmente desaguados e depois dispostos
em aterro industrial devido ao seu conteúdo, conforme aqui mostrado (Tabela 4).
Quanto à presença de Fe e Al em efluentes, sais deles são convencionalmente
usados como coagulantes (von Sperling, 2007). Dessa forma a presença desses metais
no efluente, desde que o mesmo seja tratado por coagulação/floculação, não é um
agravante, pois eles serão adicionados de fato para o tratamento. Quanto aos outros
metais, eles podem precipitar na forma de hidróxidos, a depender do pH durante tal
tratamento, podendo ser posteriormente removidos no lodo químico (Barakat, 2011;
Verma, Dash e Bhunia, 2012).
Em relação aos processos biológicos de tratamento, a remoção de metais
pesados pode ser por meio de sua interação com a biomassa do lodo via biossorção

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e/ou bioacumulação, sendo removidos junto ao lodo no decantador secundário


(Mazur et al., 2018). Em relação à bioacumulação, é preciso mencionar que alguns
metais podem inibir os microrganismos, enquanto outros como o ferro, cobre e zinco
são requeridos para suas atividades metabólicas (Madigan et al., 2016).

CONCLUSÕES

Ao avaliar a concentração de metais pesados em efluentes têxteis brutos


reportados na literatura, constatou-se que existem amostras fora do padrão
estabelecido pela legislação federal para disposição em corpos hídricos,
corroborando que eles devam ser tratados também para remover tais poluentes. O
alumínio e o manganês foram os metais cuja concentração esteve bem acima do limite
legislado. Por outro lado, a concentração de outros metais como bário, cádmio, cobre,
cromo (trivalente), níquel, selênio e zinco encontraram-se dentro dos padrões.
Dentre os processos convencionalmente utilizados no tratamento de efluentes têxteis,
apenas coagulação/floculação e processos biológicos são conhecidos quanto à
remoção de metais pesados. Além disso, constatou-se que dois terços das ETEs de
indústrias aqui reportadas utilizam do processo de coagulação/floculação, enquanto
57% fazem uso de processos biológicos (majoritariamente lodos ativados), como
principal tratamento ou complementar à coagulação/floculação.

AGRADECIMENTOS
Os autores são gratos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (Fapemig, processo APQ-01898-17) e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Iniciação Científica
concedida (Processo 129498/2020-3).

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CAPÍTULO 55

BIOPOLÍMEROS OBTIDOS A
PARTIR DE AMIDO DE
BATATA DOCE E COLÁGENO
DE PEIXE
Wellington Wolf Oenning1
Marieli Rosseto 2
César Toniciolli Rigueto3
Sumaya Ferreira Guedes4
Claudinéia Aparecida Queli Geraldi5
Raquel Aparecida Loss6

1
Graduando em Engenharia de Produção Agroindustrial, Universidade do Estado de Mato
Grosso (UNEMAT), Barra do Bugres, MT, email: Wellington.oenning@unemat.br, ID Lattes:
3653574230313287.
2
Doutoranda em Ciência e tecnologia de alimentos , Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), Santa Maria, RS, email: mmarielirossetto@gmail.com, ID Lattes:
8172882358532158.
3
Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), Santa Maria, RS, email: cesartoniciolli@gmail.com, ID Lattes: 5053497434546209.
4
Professora do departamento do curso de Agronomia , Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), Nova Mutum, MT, email: sumayaguedes@unemat.br, ID Lattes:
8709866585453750.
5
Professora do departamento do curso de Agronomia , Universidade do Estado de Mato
Grosso (UNEMAT), Nova Mutum, MT, email: claudineia.geraldi@unemat.br, ID Lattes:
0165106391032005
6
Professora do departamento do curso de Engenharia de Produção Agroindustrial ,
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Barra do Bugres, MT, email:
raquelloss@unemat.br, ID Lattes: 3925129970802016.

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BIOPOLÍMEROS OBTIDOS A PARTIR DE AMIDO DE BATATA DOCE E COLÁGENO DE


PEIXE
RESUMO
O objetivo deste estudo foi realizar um levantamento bibliométrico e bibliográfico
acerca da aplicação de amido de batata doce e colágeno de peixe para a elaboração de
filmes biodegradáveis, destacando as principais técnicas de obtenção, propriedades,
além das vantagens na utilização de filmes compostos (amido e colágeno) para
aplicações para a indústria de alimentos. A análise bibliométrica mostrou que a
temática de filmes de amido e colágeno está ascensão. A República Theca e o Brasil
lideram as publicações de estudos relacionados. As propriedades dos filmes mais
relatadas nos estudos são solubilidade e propriedades mecânicas. Além disso a
utilização da combinação entre colágeno de peixe e amido de batata doce ainda não
foi reportada, o que justifica este estudo, considerando que de uma forma geral, a
utilização de filmes compostos proporcionou melhorias nas propriedades mecânicas,
de solubilidade em água e permeabilidade ao vapor de água, quando comparado com
filmes elaborados a partir de um biopolímero.
Palavras-chave: Filmes. Obtenção. Propriedades. Aplicação.

BIOPOLYMERS OBTAINED FROM SWEET POTATO STARCH AND FISH COLLAGEN


ABSTRACT
This study aimed to conduct a bibliometric and bibliographic survey on the
application of sweet potato starch and fish collagen for the preparation of
biodegradable films, highlighting the main techniques for obtaining, properties, in
addition to the advantages of using composite films (starch and collagen) for food
industry applications. A bibliometric analysis revealed that the theme of starch and
collagen films is on the rise. The Czech Republic and Brazil lead in publications of
related studies. The most-reported film properties in the studies are solubility and
mechanical properties. In addition, the use of the combination of fish collagen and
sweet potato starch has not yet been reported, which justifies this study, considering
that, in general, the use of composite films provided improvements in mechanical
properties, water solubility, and permeability to water vapor, when compared to
films made from a biopolymer.
Key-words: Films. Obtaining techniques. Properties. Application.

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INTRODUÇÃO

Os polímeros sintéticos são produzidos em massa há cerca de 70 anos,


superando a maioria dos materiais feitos pelo homem (Geyer, 2020), aproximando-se
de 300 milhões de toneladas anualmente (Plastic Oceans, 2020). Destes, cerca de
10% são reciclados, 14% incinerados, enquanto os 76% restantes são destinados a
aterros ou ambiente natural, se a tendência se manter em 2050 atingirá 1,1 bilhão de
toneladas de resíduos disponibilizados no meio ambiente (Geyer, 2020).
Essa tendência é preocupante, considerando impactos ambientais, tanto pela
utilização de fontes não renováveis (petróleo), como pelo tempo que esse material
leva para se degradar no ambiente (Lopes et al., 2020).
Devido a isso, há um interesse crescente na utilização de materiais de
embalagem de origem renovável e biodegradável (polissacarídeos, lipídeos ou
proteínas) para substituir embalagens sintéticas na indústria de alimentos
(Ballesteros-Mártinez; Pérez-Cervera; Andrade-Pizarro, 2020). Além disso, os hábitos
alimentares dos consumidores mudaram, eles buscam produtos alimentícios naturais,
frescos, saudáveis e prontos para o consumo, e os filmes comestíveis podem
contribuir com essa demanda (Dash et al., 2019).
Dentre as fontes de polissacarídeos e proteínas, o amido e o colágeno se
destacam devido à alta disponibilidade e baixo custo para sua produção (Rosseto et
al., 2021). Ambos possuem fontes de obtenção diversificada, sendo que o amido pode
ser oriundo do milho, batata-doce, mandioca, trigo, batata, entre outros (Dai et
al.,2019). Enquanto o colágeno é obtido de peles e ossos de bovino, suíno, frango e
peixes (Nuñez et al., 2020).
Uma fonte de amido que tem se destacado é a batata doce, devido à grande
quantidade de amido em sua composição (60% de seu peso seco) (Ballesteros-
Mártinez; Pérez-Cervera; Andrade-Pizarro, 2020). Além de possuir grande
concentração de fibras dietéticas, minerais, vitaminas e antioxidantes, como
compostos fenólicos, antocianinas, tocoferol, β- caroteno, e ácido ascórbico,
possibilitando a incorporação desses nutrientes ao alimento ao qual vai ser aplicado
(Issa et al., 2018). Outra oportunidade se refere a valoração de resíduos oriundos
dessa produção, pois cerca de 10% a 15% da produção mundial acaba se perdendo
por conta da sua dificuldade de armazenamento (Ballesteros-Mártinez; Pérez-
Cervera; Andrade-Pizarro, 2020).

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Já para o colágeno, a extração oriunda de peixes tem se destacado, uma vez


que o setor de aquicultura apresentou crescimento de aproximadamente 25% nos
últimos 5 anos (Valenti et al., 2021), sendo significativamente maior do que outras
fontes de proteína de origem animal (avicultura, suinocultura e bovinocultura)
(Fernandes et al., 2021). Além disso, o colágeno de peixe se destaca das demais
fontes, devido a restrições religiosas para produtos oriundos de bovino e suíno, como
por exemplo, judeus e muçulmanos têm restrições religiosas para produtos suínos,
enquanto os hindus rejeitam produtos bovinos (Goyal et al., 2013). No entanto, as
indústrias de processamento de pescado geram cerca de 50-80% de resíduos sólidos
(cabeça, pele, ossos e escamas) e líquidos durante várias etapas de processamento
(Bhuimbar et al., 2019).
Essa grande quantidade de resíduos, tanto da batata doce, como do colágeno
apresenta potencial para aplicação em filmes biodegradáveis. Além disso, combinação
de proteínas (colágeno) e polissacarídeos (amido) é um processo utilizado para
desenvolver novos materiais e aperfeiçoar as propriedades do polímero, resultando
em materiais com melhores propriedades quando comparados com aqueles feitos de
componentes puros (Agama-Acevedo; Bello-Perez, 2017; Sionkowska et al., 2020).
Com base nisso, o objetivo deste estudo é abordar uma revisão bibliométrica e
bibliográfica acerca da produção de filmes a partir de amido de batata doce e/ou
colágeno de peixe, destacando os resultados mais promissores reportados em
estudos recentes, além de apresentar correlações bibliométricas acerca do tema em
estudo.

METODOLOGIA
O levantamento dos artigos baseou-se na busca de documentos a partir da
inserção de determinados termos na base de dados Scopus. Inicialmente, foram
pesquisados artigos que abordassem no título os termos (“FILM” AND “STARCH” AND
“COLLAGEN”). O período de pesquisa foi de 2017 a 2021, apenas com artigos
experimentais, totalizando 22 artigos encontrado. Os resultados das buscas
preliminares no Scopus foram analisados para eliminar artigos com conteúdo
sobreposto, para recategorizar determinados artigos ao método considerado mais
adequado com base em seu conteúdo, e quase importante, para excluir artigos que
não se enquadravam no escopo deste trabalho. A partir dos levantamentos e análise

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de conteúdo, os artigos selecionados foram explorados pelos autores por meio da


ferramenta “Bibliometrix” do software RStudio® versão 7.6, como forma de
sistematizar o estado da arte e, principalmente, tecer discussões que gerem novos
conhecimentos sobre a temática desse estudo.

ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

Pela análise bibliométrica, observa-se que o interesse pelo tema filmes


compostos elaborados a partir de amido e colágeno é crescente. Além disso, nota-se
que um crescimento acentuado de publicações ocorreu no ano de 2019, com maior
pico atingido em 2020 (Figura 1a). O país que mais publica artigos voltados para
temática de estudo é a República Tcheca, seguida do Brasil, China e Índia (Figura 1b).

Na nuvem de palavras gerada com as 50 palavras mais citadas nas palavras-


chave dos artigos analisados (Figura 1c), fica evidente que as principais
características avaliadas nos filmes são propriedades mecânicas, antimicrobianas e
de solubilidade em água. As principais aplicações envolvem filmes ativos,
biodegradáveis e comestíveis. A utilização de biocompósitos é elencada e os
principais materiais estudados juntamente com amido e colágeno são celulose e
gelatina. Além disso a possibilidade de reticulação (ligações cruzadas), e
reaproveitamento de resíduos para obtenção dos biopolímeros.

REVISÃO DE LITERATURA

Os filmes biodegradáveis na indústria de alimentos podem ser utilizados para


uma variedade de propósitos, incluindo fornecer proteção e estender a vida útil dos
alimentos embalados, bem como fornecer uma superfície para o adicionar
informações sobre o conteúdo nutricional, armazenamento e manuseio do material
de embalagem após o uso (Daniloski et al., 2021).

Figura 1. a) Produção científica global anual de artigos relacionados a filmes de amido


e colágeno, b) Produção científica de artigos por país, c) Nuvem de palavras com as 50
palavras mais citadas nas palavras-chave dos artigos analisados.

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a)

b)

c)

São classificados de acordo com sua origem em três classes: polímeros


renováveis (produzidos naturalmente), polímeros sintéticos (derivados de recursos
renováveis e de recursos baseados em petróleo) (Ashter, 2016).

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Os biopolímeros oriundos de fontes renováveis são atrelados a


sustentabilidade ambiental, se destacando dos polímeros sintéticos que levam anos
para se degradar. As principais fontes utilizadas para elaboração de filmes são as que
apresentam maior disponibilidade, e estão apresentadas na Figura 2.

Figura 2. Biopolímeros oriundos de fontes renováveis

Como são amplamente utilizadas nas indústrias alimentícia, farmacêutica,


agrícola e outras, as pesquisas de materiais vêm sendo desenvolvidas na busca de
recuperar/extrair biopolímeros a partir de resíduos agroindustriais, (Rosseto et al.,
2019a), como amido de resíduos de batata doce e de colágeno de peixe, atrelado a
grande perda de amido por deterioração de tubérculos durante o armazenamento, e a
quantidade de resíduos de peixe gerada durante a industrialização. Esta valoração de
resíduos agroindustriais gera renda para indústrias e produtores rurais, além de
contribuir com a sustentabilidade tanto com a redução de resíduos disponibilizados
no ambiente, como por substituir polímeros sintéticos, degradando-se rapidamente
após sua utilização (Rosseto et al., 2021)
A elaboração de filmes envolve a utilização de macromoléculas
(biopolímeros), além de solvente (geralmente água), aditivos com atividades
especifica (antimicrobiano, reticulante, antioxidante) e plastificantes. Os
plastificantes reduzem as interações entre as moléculas adjuntas, aumentando assim
a flexibilidade do filme (Godwin, 2017). Os plastificantes sintéticos mais utilizados
em estudos são o glicerol e sorbitol (Rosseto et al., 2019b; Ballesteros-Mártinez;

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Pérez-Cervera; Andrade-Pizarro, 2020). Mas podem ser utilizados plastificantes


oriundos de recursos naturais como óleo vegetal, ácido graxo, isossorbida, ácido
cítrico e cardanol (Ma et al., 2020).
Quanto aos métodos de obtenção dos filmes, a Abiblast (2019) cita como
principais técnicas utilizadas em escala industrial a extrusão (65,9%), injeção
(32,9%), rotomoldagem (0,5%) e termoformação a vácuo (0,7%). No entanto para
estudos em pequena escala, em nível laboratorial, geralmente se utiliza o método de
casting, que é baseado no espalhamento da solução sobre uma superfície sólida inerte
e resistente (placa de petri) e submetida a secagem para evaporação do solvente
(Galdeano et al., 2014).
Além da aplicação como embalagem, os filmes podem ser aplicados como
revestimento comestível em carne, peixe, leite, ovos e muitas frutas e vegetais crus
(Díaz-Montes, 2021). Neste caso a aplicação é realizada diretamente sobre a
superfície do alimento, e segundo Suhag et al., (2020) pode ser por pulverização
(pulverizar a solução filmogênica sobre o alimento), imersão (imersão da amostra de
alimento na solução filmogênica), processamento em leito fluidizado (aplica camadas
finas de material de revestimento para secar partículas de densidade baixa) e
panorâmica (dispõe o alimento a ser revestido em um grande recipiente giratória,
conforme vai girando, distribui a solução de revestimento uniformemente na
superfície do produto).
As principais características consideradas nos filmes biodegradáveis aplicados
na indústria de alimento são propriedades de barreiras, mecânicas, térmicas,
estabilidade microbiológica, propriedades físico-química e bioquímica, ausência de
componentes tóxicos, tecnologia simples, baixo custo e não poluentes (Jiang et al.,
2019; Shahrampour et al.,2020).

Amido de Batata Doce

A China é o maior produtor de batata-doce, teve uma produção anual de


53.245.657 toneladas em 2018 (57,9% da produção mundial) (Faostat, 2020).
Enquanto no Brasil, no ano de 2017 produziu aproximadamente 776,3 mil toneladas
(Embrapa, 2021). Ou seja, a no Brasil ainda há muito para explorar, tanto abordando
cultivo como produtividade e consumo (Wang; Nie; Zhu, 2016).

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A utilização de amido de batata doce para elaborar filmes biodegradáveis é


uma alternativa interessante devido ao teor de amilose que este amido contém (24,1–
35,55%), semelhante aos amidos de milho (28–33%) e trigo (30–32%), e mais alto
do que o amido de mandioca (16–19%) (Ballesteros-Mártinez; Pérez-Cervera;
Andrade-Pizarro, 2020). A alta proporção de amilose tende a ocasionar a
retrogradação e produzir géis rígidos e filmes mais resistentes devido à proximidade
das cadeias (Tabasum et al., 2019).

Colágeno de Peixe
O colágeno de peixe é um biomaterial, como uma alternativa aos colágenos
convencionais de mamíferos, como colágenos bovinos e suínos (HSU et al., 2016).
Pode ser adquirido pele, ossos e nadadeiras de peixes, tem uma temperatura de
desnaturação baixa (25-30 ° C para a maioria das espécies de peixes) em comparação
com o colágeno de mamíferos (39-40 ° C) (Raman; Gopakumar, et al., 2018; Jafari et
al., 2020).
Os tipos e propriedades moleculares do colágeno variam de acordo com a
fonte, o habitat do peixe, o processo de extração e outros fatores (Benjakul et al.,
2012). Geralmente é caracterizado por ter uma estrutura interna em tripla hélice, o
que lhe confere resistência mecânica e propriedades de retenção de umidade (Nuñez
et al., 2020).
A procedência do colágeno de peixe pode ser variada, incluindo resíduos,
escamas e bexiga natatória (palavras circuladas em verde). A valoração desses
resíduos torna-se interessante na expectativa de obter maior custo benefício, visando
viabilizar a produção, uma vez que um dos fatores que limitam o aumento da escala
dos filmes biodegradáveis é o alto custo de implantação e/ou obtenção (Pérez-
Vergara et al., 2020).
Além disso, o colágeno possui biocompatibilidade com outros materiais,
evidenciados em estudos que apresentam a utilização de colágeno com várias outras
fontes para a elaboração de filmes, sendo amido de jacatupé (Zhuang et al., 2019),
amido de milho, (Wang et al., 2017), quitosana (Kaczmarek; Sionkowska; Skopinska-
Wisniewska, 2018) e goma guar (Jana et al., 2016). Neste caso torna-se interessante a
elaboração de filmes compostos de amido e colágeno.

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Filmes Compostos (Amido e Colágeno)

Os filmes elaborados a partir de amido são amplamente aplicados por serem


transparentes, inodoros e com boa barreira de CO 2 e O 2 (Jiang et al., 2011). No
entanto, devido à sua hidrofibicidade apresentam propriedades de solubilidade em
água e barreira ao vapor de água fracas (Hassan et al., 2018). Enquanto os filmes de
proteínas (colágeno), possuem facilidade de interações com outros materiais,
gerando filmes mais resistentes e menos permeáveis a vapores, líquidos e gases,
sendo considerados bloqueadores de oxigênio altamente eficazes (Han, 2014; Hassan
et al., 2018).
Na expectativa de contemplar as características abordadas nos biopolímeros
elencados (amido e colágeno), a abordagem de elaboração de filmes compostos é
interessante. A mistura de polímeros é um processo bem conhecido usado para
desenvolver novos materiais e otimizar as propriedades do polímero, resultando em
materiais com melhores propriedades quando comparados com aqueles feitos de
componentes puros, se destacam por aprimorar a estabilidade da blenda,
ocasionando melhorias nas propriedades físicas, térmicas e químicas dos filmes. (Liu
et al., 2016; Agama-Acevedo; Bello-Perez, 2017; Rosseto et al., 2021).
As misturas de polímeros, que são utilizadas em muitos processos
tecnológicos, sofrem diversas influências térmicas, químicas, mecânicas e assim por
diante, e fornecem produtos com características que dependem do estado de fase
inicial do sistema, além da caracterização dos filmes de acordo com sua aplicabilidade
(Ptitchkina et al., 2000).
Dentre as propriedades mais avaliadas em filmes biodegradáveis são
solubilidade em água, elongação e resistência. Sendo que a solubilidade está
relacionada a capacidade do filme em permanecer intacto (insolúvel) durante o uso
em ambientes úmidos, está associada a estrutura química dos materiais e interfere
diretamente na degradação (Jiang et al., 2019; Peng et al., 2021).

Tabela 1. Estudos sobre a temática de filmes de amido de batata doce, colágeno de


peixe e filmes compostos de amido e colágeno
Fonte de amido Materiais Caracterização Autores

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e/ou colágeno incorporados


Solubilidade Resistência
e/ou Elongação
em água a a tração
tratamentos (%)
25°C (%) (MPa)
realizados
Ácido linoleico
- 4,4 16 Liu et al. (2016)
e glicerol
Pectina de
resíduos de 28,64 22,35 12,96 Dash et al. (2019)
limão e glicerol
Amido de batata Ballesteros-Mártinez;
doce Glicerol 33 1,76 9,84 Pérez-Cervera; Andrade-
Pizarro (2020)
Polissacarído
Benth Mesona
chinensis, 26,3 13,37 10,02 Ren et al. (2021)
carbonato de
sódio e glicerol
Glicerol - 35,85 47,7 Tang et al. (2015)
Quitosana e
acetato de 36,80 7,48 15,7 Elango et al. (2015)
cálcio

Quitosana 17,64 55 5,67 Slimane; Sadok (2018)


Colágeno de peixe
Sorbato de
potássio e
23 6,8 5,28 Liang et al. (2019)
álcool
polivinílico
Colágeno extraído
de resíduos de
couro curtido ao Glicerol - 13,97 60,11 Scopel et al. (2016)
cromo III e amido
de milho
Colágeno de pele
bovina e amido de Glicerol 36,13 20,99 3,91 Wang et al. (2017)
milho
Colágeno de pele
de peixe (tilápia)
Glicerol 27 50,97 12,62 Zhuang et al. (2019)
e amido de
jacatupé
Colágeno de
tendões de cauda Quitosana e
de rato e amido ácido - 95 - Sionkowska et al. (2020)
dialdeído hialurônico
comercial

As propriedades de resistência é a capacidade do filme manter sua integridade


sob tensões que podem ocorrer durante o processamento e aplicação, e a elongação
está relacionada a flexibilidade e extensão do filme, interessante para algumas
aplicações, ambas relacionadas a interação entre os materiais que compõe o filme
(Shi et al. 2017; Malinconico et al., 2017)

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A Tabela 1 apresenta as propriedades de solubilidade em água, resistência a


tração e elongação de filmes elaborados com amido de batata doce, colágeno de peixe
e filmes compostos de amido e colágeno Oriundos de diferentes fontes, uma vez que
não foram encontrados na literatura estudos que utilizam a combinação de colágeno
de peixe e amido de batata doce.
As propriedades selecionadas para avaliação dos estudos possuem objetivos
relacionados a aplicação do filme e estão diretamente relacionadas a estrutura
química e interação dos materiais (Malinconico et al., 2017; Rosseto et al., 2021; Peng
et al., 2021). Dessa forma, as diferentes composições dos filmes abordadas na Tabela
1 interferem para as oscilações nos resultados.
A solubilidade se manteve na faixa de 17 a 36 % independente do material
utilizado. Já para as propriedades de resistência, a combinação de amido e colágeno
apresentaram melhores resultados quando comparados aos estudos que avaliaram
apenas um dos biopolimeros estudados. Além disso, pode ser evidenciado que tanto
os filmes elaborados com amido de bata doce, como os filmes elaborados com
colágeno de peixe geralmente utilizam outros materiais para reforçar a matriz
polimérica. Enquanto os filmes compostos de amido e colágeno, apresentam
características similares utilizando apenas plastificante, mostrando que essa
combinação possui características que permitem a aplicação do filme de amido e
colágeno na indústria de alimentos, especialmente para aplicações em alimentos que
possuem rápido ciclo de vida, como por exemplo embalagens ativas para cárneos
resfriados e revestimentos de frutas (Díaz-Montes, 2021).

CONCLUSÕES

De acordo com o exposto nesse review, pode-se concluir que a produção de


filmes compostos elaborados a partir de amido de batata doce e colágeno de peixe
pode ser considerada assertiva, devido aos resultados promissores encontrados em
filmes de amido e colágeno de outras fontes. Inclusive, pode-se obter resultados ainda
melhores, devido a presença de antocianinas presentes no amido de batata doce, que
pode proporcionar ao filme, capacidade antioxidante e antimicrobiana, ampliando a
sua aplicação na indústria de alimentos.

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Por fim, cabe ressaltar que o aproveitamento de matérias-primas alimentícias


para obtenção de produtos de valor agregado que podem ser aplicados na área de
alimentos, podem impactar positivamente em diversos dos Objetivos para o
Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU),
principalmente o ODS 2 (Fome Zero) e ODS 12 (Consumo e Produção responsáveis).

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT),
pela oportunidade e incentivo na busca constante de conhecimento, e a Fundação de
Apoio à Pesquisa do Estado do Mato Grosso (FAPEMAT 0236591/2021).

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eBook: Engenharia Química: Inovação e tradição em tempos de pandemia
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