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CARATERIZAÇÃO FÍSICA
Considere um leito de material particulado através do qual escoa um fluido no sentido
ascendente. Aumentando-se a velocidade do fluido observa-se que a perda de carga aumenta
devido à força de arraste nas partículas, e que pode ocorrer a movimentação das partículas e
até mesmo a suspensão destas no leito.
Considera-se fluidização ou leito fluidizado a condição na qual as partículas estão
completamente suspensas na forma de um fluido mais denso. Nesta condição a suspensão tem
comportamento equivalente a de um fluido, i.e., a suspensão pode ser drenada por tubos e
válvulas; esta “fluidificação” é uma das vantagens de um leito fluidizado (Figura 1) .
2. LEITO FIXO
O escoamento de um fluido com uma dada velocidade em um leito fixo de partículas implica
numa queda pressão – perda de carga no leito – expressa pela equação de Ergun:
2
ΔP 150V0 µ (1 − ε ) 1,75 ρV02 (1 − ε )
= 2 2 +
L φ s Dp ε3 φ s Dp ε3
(1)
Sendo V0 , ε , φs , ΔP / L, D p , respectivamente: velocidade superficial (vazão/área da secção do
€ leito), porosidade do leito, esfericidade da partícula, perda de carga por altura de leito e
tamanho médio da partícula DP = 1/Σ (xi/DPi).
O primeiro termo da equação corresponde à equação de Kozeny-Carman, estudada em
filtração, predominante para Re < 1; o segundo termo prevalece para Re > 1.000.
3. LEITO FLUIDIZADO
2
Figura 2 – Perda de carga em leito fluidizado em função da vazão. D. Kunii and O.
Levenspiel, Fluidization Engineering (Melbourne, Fla.: Robert E. Krieger Publishing Co.,
1977).
Para velocidades inferiores à de fluidização tem-se, no caso de partículas pequenas,
escoamento laminar em leito fixo. Com o incremento da velocidade observa-se um aumento
da perda de carga, em conformidade com a equação de Ergun, até que se atinge a condição de
fluidização incipiente. A partir deste ponto, incrementos de velocidade implicam em
movimentação das partículas e expansão do leito, sendo que a perda de carga no leito
mantém-se constante, apesar do aumento de velocidade. A queda de pressão no leito é
contrabalançada pelo seu peso aparente.
O arraste do material ocorre para velocidades altas, superiores à velocidade terminal da
partícula. Com a redução da velocidade do gás, durante a fluidização, o comportamento do
leito é o mesmo do que verificado quando do aumento da velocidade. No ponto
correspondente ao início da fluidização observa-se uma ligeira expansão do leito em relação à
condição inicial do leito.
Na condição de fluidização, sabe-se que a perda de carga no leito é igual ao peso aparente do
leito, conforme a seguinte expressão:
ΔP = (1 − ε )ρ p gL − (1 − ε )ρgL
(
ΔP = (1 − ε ) ρ p − ρ gL)
(2)
Para a condição de fluidização incipiente, que corresponde à velocidade superficial do gás Umf
€ e porosidade do leito ε , pode-se aplicar a equação de Ergun em (2), resultando a equação
m
(3).
150U mf µ (1 − ε m ) 1,75 ρU mf
2
1
( )
ρp − ρ g = 2 2
φ s Dp εm3 +
φ s Dp ε m3
(3)
Simplificando-se, para Re < 1, tem-se para a velocidade mínima para fluidização o seguinte
resultado:
€ 3
U mf ≈
(ρ p −ρ g ) ε m3
φ s2 Dp2
150 µ (1 − ε m ) (4)
Equações empíricas para Umf indicam um expoente para o diâmetro ligeiramente inferior a 2.
A condição de Re baixo é comum, principalmente para partículas “pequenas”, na faixa de até
€ 300 µm.
No caso de Re > 1.000, tem-se da simplificação da equação (3):
' φ D ρ − ρ gε 3 *1/ 2
U mf ≈)
s p p (m
, )
) 1,75 ρ ,
( + (5)
Para 1 < Re < 1.000, o valor de Umf é obtido da solução da equação (3).
Para a verificação do arraste de partículas é importante avaliar a relação entre a velocidade
€ terminal Vt e a mínima para fluidização Umf . No regime de Stokes esta relação é expressa por:
Vt
=
(
gDp2 ρ p − ρ 150 µ ) (1 − ε m )
3
U mf 18 µ 2 2
g ρ p − ρ φ s Dp ε m ( )
Vt 8,33(1 − ε m )
=
U mf φs2ε m3 (6)
€
No caso de um leito de esferas, que corresponde a εm= 0,45, a velocidade terminal é cerca de
50 vezes a velocidade mínima de fluidização. Assim, o arraste tende a ser muito baixo. No
caso de um leito composto de uma ampla faixa de tamanho de partículas, o arraste deve ser
verificado e equipamentos para a recuperação de partículas devem ser previstos.
Para partículas “grandes”, Re > 1.000, tem-se a seguinte expressão:
1/ 2
$ gD ρ − ρ '1/ 2
Vt
= 1,75 &
p p ( ) ')$
& 1,75 ρ )
U mf &
%
ρ ( )
) & gDp ρ p − ρ ε m3 )
( % (
Vt 2,32
= 3/ 2
U mf ε m (7)
€
Neste caso, para εm= 0,45, a velocidade terminal é cerca de 8 vezes a de mínima fluidização.
5. TIPOS DE FLUIDIZAÇÃO
A Figura 3, obtida do Perry, ilustra os diferentes regimes de escoamento de fluido no sentido
ascendente através de leito: leito fixo, fluidização particulada, regime de borbulhamento,
escoamento “slug”, regime turbulento, fluidização rápida e transporte pneumático.
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Figura 3 - Regimes de fluidização.
O conceito e cálculo da velocidade mínima para a fluidização aplica-se tanto para gases como
para líquidos. No entanto, para velocidades maiores, os comportamentos são distintos nos
dois casos.
Por exemplo, no caso da fluidização de um leito de areia com água, as partículas se deslocam
de forma praticamente independente e quanto maior a velocidade do fluido mais intenso o
movimento da partícula. Para uma dada velocidade observa-se que a densidade do leito é
uniforme. Observa-se, também, que a expansão do leito é significativa para altas velocidades.
Este comportamento é denominado fluidização particulada.
No caso de fluidização de leito de sólidos com gás, geralmente se observa a formação de
bolhas de gás ao longo do leito; pequena fração do gás escoa nos canais por entre as
partículas. Nas regiões sem bolhas a porosidade é praticamente igual à da condição de
fluidização incipiente. A este tipo de fluidização com bolhas são atribuídos diferentes
denominações: “aggregative fluidization”, “boiling fluidization” e, o mais usual, “bubbling
fluidization” – fluidização borbulhante.
O comportamento de leitos com bolhas depende do número de bolhas e do tamanho destas,
que por sua vez dependem: da natureza, do tipo e tamanho das partículas, do tipo de
distribuidor, da velocidade superficial e da altura do leito. As bolhas tendem a coalescer
conforme ascendem no leito, podendo ocupar praticamente todo o diâmetro do leito. No caso
de leitos de diâmetro menor pode ocorrer o “slugging” causada pela coalescência das bolhas e
no escoamento do gás de forma pulsada.
Para velocidade de gás muito superior à mínima para fluidização, ocorre a transição da
fluidização por borbulhamento para a turbulenta e rápida. Este fenômeno ocorre quando a
expansão do leito é muito alta. A fase gás é contínua e são observadas pequenas regiões de
alta e baixa densidade de leito. A velocidade correspondente à esta transição para a
fluidização turbulenta é da ordem de 0,3 a 0,6 m/s.
Para velocidades de gás ainda maiores, as partículas são arrastadas pelo gás e podem ser
recuperadas por ciclones e, assim, retornarem para o fundo do leito. Este sistema é chamado
de leito recirculante. Trata-se praticamente de um transporte pneumático.
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6. EXPANSÃO DO LEITO
Na fluidização o leito se expande com o aumento da velocidade do fluido, e como a queda de
pressão é constante, a perda de carga por altura decresce com o aumento da porosidade,
conforme equação (2).
Na fluidização particulada a expansão do leito é uniforme e a sua porosidade pode ser
expressa empregando-se a equação de Ergun (3) e a equação (2), no caso de regime laminar:
ε3 150V0 µ
=
(1 − ε ) g( ρP − ρ)φ s2 Dp2 (8)
Observa-se que ε3/(1-ε) é proporcional à velocidade superficial V0 , para superficial V0 > Umf .
€ Calculando-se o volume de particulado do leito na condição para mínima fluidização (εm e Lm)
e em outra condição de altura L e a porosidade ε, tem-se:
L A (1 − ε ) = Lm A (1 − ε m )
L = Lm
(1 − ε m )
(1 − ε ) (9)
€
Para fluidização em líquido e para partículas maiores a equação (8) não é válida, sendo
necessário a adoção de correlações empíricas específicas.
€
Na fluidização em leito borbulhante, a expansão do leito decorre principalmente do volume
das bolhas, pois a fase densa pouco se expande. A equação abaixo expressa a velocidade
superficial do gás em função da velocidade superficial na fase densa V0M e da velocidade
média das bolhas ub , sendo fb a fração do leito ocupada pelas bolhas.
V0 = f b ub + (1 − f b )V0M
(10)
Como todo o sólido está praticamente na fase densa, a altura do leito expandido multiplicada
€ pela fração da fase densa fornece a altura na condição de mínima fluidização, expressa por:
Lm = L (1 − f b )
(11)
Substituindo a equação (11) em (10), tem-se:
L u b − V0 M
=
Lm u b − V0 (12)
Nota-se, da equação (12), que para ub >> V0, a expansão do leito não é significativa. De fato a
expansão do leito é geralmente de 20 a 50%, no caso da fluidização por borbulhamento; muito
diferente da fluidização particulada, na qual a é muito maior.
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7. CLASSIFICAÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO
Geldart (1973) estabeleceu uma classificação de material particulado, no que se refere à
fluidização em ar em condições ambiente, amplamente utilizada por profissionais da área. Na
figura 4 apresenta-se o diagrama com a classificação de Geldart, relacionada ao tamanho da
partícula e à diferença de densidade sólido - gás (no caso, ρS – ρG ). Deve-se observar que este
diagrama corresponde à operação em condições ambientes e onde o fluido é o ar.
Na Tabela 1 apresentam-se características dos quatro grupos (A, B, C e D) de partículas.
Grupo A: material constituído de partículas pequenas que a baixas velocidades fluidiza, mas
sem borbulhamento. A fluidização com bolhas (bubbling fluidization) surge apenas em
velocidades altas.
Grupo B: material que apresenta fluidização com borbulhamento desde o início.
Grupo C: particulado muito fino (poeira), cuja coesão entre as partículas impede a fluidização.
Group D : material composto de partículas muito grandes ou muito densas que formam um
leito do tipo jorro (‘spouted bed’) ao invés da fluidização típica.
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Tabela 1 - Características dos quatro grupos ( A, B, C e D) de partículas.
8. APLICAÇÕES DA FLUIDIZAÇÃO
A principal vantagem da fluidização é a agitação vigorosa do sólido em contato com o fluido
que escoa pelo leito. A mistura do sólido proporciona uma uniformidade na temperatura,
mesmo em processos extremamente endotérmicos ou exotérmicos. As taxas de transferência
de calor e massa entre fluido e sólidos são altas neste tipo de operação.
Dentre as dificuldades associadas à operação destaca-se o problema de abrasão decorrente da
interação do material sólido com os internos do leito. Outra dificuldade é o arraste, e eventual
perda, do material mais fino no processo. Daí a necessidade de um sistema de ciclones, filtros
e outros equipamentos para retenção do particulado.
Dentre as aplicações da fluidização destacam-se: reações gás-sólido, reações catalisadas por
sólidos (craqueamento de frações de petróleo), secagem de sólidos, adsorção de gases, e
combustão de sólidos.
8
Figura 5 - Regimes de escoamentos em leitos.
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Sistema
com
pressão
positiva
FILTRO
ciclone
SILO
SILO
soprador
SILO
Entrada
de ar
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10. EXERCÍCIOS
1) Os seguintes dados foram obtidos por Leva et al. (1951) para a fluidização com ar de
catalisador Fischer-Tropsch, nas condições e parâmetros: 7.234 g de sólidos, 91ºF, pressão
atmosférica, diâmetro do tubo 4” e densidade do sólido 5 g/cm3 .
a. Determinar (DPφs) efetivo do sistema a partir dos dados de leito fixo. (1,53 . 10-4 m)
b. Determinar através dos dados experimentais a porosidade e a velocidade na mínima
fluidização. (0,528 e 0,13 m/s)
c. Estimar a relação entre as velocidades de arraste e de mínima fluidização, através de
correlações fornecidas pela literatura, para φs = 1. (26,7)
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