Você está na página 1de 5

_I Goiaba Produflão Frutas do Brasil, 17

PODAS
LuiZ Gonzaga Neto

PODA DE FORMAÇÃO

A planta de goiabeira destinada à pro-


dução de frutos para consumo in natura ou
à industrialização deve apresentar uma copa
adequada e funcional, que facilite os diver-
sos tratos culturais necessários à obtenção de
frutas com o padrão de qualidade que o
mercado consumidor exige. Dessa forma, é
indispensável que, desde cedo, na fase de
produção da muda, e principalmente após o
plantio no local definitivo, sejam realizadas
podas de formação para orientar a copa da
goiabeira no sentido da arquitetura desejada.
Após o plantio no local definitivo, as
mudas devem ser conduzidas em haste ou
fuste único, até uma altura de 50 ou 60 em,
quando se procederá à eliminação da gema Fig. 17. Planta de goiabeira após a poda
terminal ou meristemática, deixando-se, a de formação e com 4 ramos, primários.
partir dos últimos 20 ou 30 em, 3 ou 4
pemadas ou ramos primários bem distribuí- PODA DE FRUTIFICAÇÃO
dos nos quatro pontos cardeais e inseridos
desencontradamente no tronco, para a for-
Pomares de goiabeira destinados, prin-
mação da copa (Fig. 17). Esses ramos primá-
cipalmente, a produção de frutas para con-
rios ou pemadas principais, após o amadure-
sumo in natura devem ser podados de acor-
cimento, devem ser podados, de modo a
do com a conveniência do produtor visando
ficarem com 50 ou 60 em de comprimento.
a frutificação. Sabe-se que a goiabeira res-
A partir dessa operação, deixa-se que a copa
ponde bem à poda de frutificação (Fig. 18),
se forme à vontade, eliminando-se apenas
pois independentemente da época do ano, as
aqueles ramos secundários surgidos muito
flores surgem somente nas brotações oriun-
próximo do tronco, pois eles podem fechar
das dos ramos maduros. Embora a goiabei-
muito a copa no centro. Dependendo do
ra responda satisfatoriamente à poda de
espaçamento adotado, principalmente aque-
les mais largos, as pemadas principais ou
ramos primários podem ter comprimentos
maiores, de modo a formar uma copa de
maior diâmetro e, portanto, mais volumosa.
É comum encontrar ramos primários com
mais de metro. Neste caso, a copa fica mais
vulnerável à quebra dos ramos principais.
Deve-se eliminar, nos ramos primários inferi-
ores, as brotações que se dirigem para o solo
ou se cruzam no interior da copa, a fim de Fig.18. Planta da goiabeira brotada após a
formar uma copa aberta e arejada no centro. poda de frutificação.
Frutas do Brasil, 17 Goiaba Produção
111I
frutificação, dois aspectos de fundamental A poda de frutificação drástica, por
importância devem ser considerados: a épo- outro lado, possibilita, na realidade, a con-
ca e a intensidade da poda. . centração da época de colheita, o que
.'-
Quanto à época, pode-se dizer que, poderá facultar a oferta de um maior
havendo temperatura, luminosidade e irri- volume de frutas, num menor espaço de
gação, a goiabeira poderá ser podada em tempo. Alguns autores recomendam, antes
qualquer período do ano, e isso é o que tem da poda de frutificação, a utilização de
ocorrido na maioria dos projetos de irriga- substâncias desfolhantes , a fim de forçar a
ção do Nordeste brasileiro, que cultivam a planta a uma produção antecipada e con-
goiabeira. A época de realização da poda de centrar a safra num período comercialmen-
frutificação deve depender, basicamente, te favorável. No Havai, utiliza-se, para essa
do período em que se pretende colher e finalidade, a pulverização com uma solução
comercializar os frutos. É preciso, porém, de uréia a 25% (Shigeura et al., 1975).
não esquecer que os ramos a serem poda- Bovery (1968) constatou, em Porto Rico,
dos devem estar maduros e com as gemas que o diquat e o paraquat foram os produ-
propícias à brotação. Às vezes, no Nordes- tos mais eficientes. Gonzaga Neto et al,
te, nos períodos mais frios do ano, de maio (1997), em trabalho realizado na Região do
a julho, há uma inibição da brotação e da Submédio do Vale do São Francisco, infor-
frutificação, que se tornam mais lentas em mam que a aplicação de uréia a 10% ou
comparação às dos demais meses do ano. 15%, aplicada como desfolhante, seguida
Quanto à intensidade, a poda de frutifica- da aplicação do dormex a 1% ou a 1,5%
ção pode ser definida como continua ou após a poda de frutificação aumentam a
drástica. A seleção de um ou outro método produção e reduzem o período de colheita
depende basicamente do sistema de manejo para apenas 30 dias. Esse é um recurso
e da expectativa de venda do produtor, que tecnológico que o produtor poderá utilizar
devem estar sempre atrelados às conveni- para conseguir um maior volume de frutas,
ências do mercado comprador. num menor tempo.
A diferença básica entre os sistemas, Considerando que, na poda continua,
poda drástica ou continua, consiste em podar o ciclo de produção é também continuo,
toda a planta numa mesma oportunidade, ou deve-se estar atento para a ocorrência de
parte dela em épocas diferentes. Outra dife- pragas e doenças que, em geral, devem
rença importante é que, na poda continua, a ocorrer com mais intensidade, exigindo por
planta se mantém, a depender da irrigação, isso maiores cuidados fitossanitários. Acre-
da temperatura e da insolação, em produção dita-se também que a poda continua seja
durante todo o ano. Neste caso são encontra- mais esgotante, uma vez que a planta não
dos, numa mesma planta, todos os estádios tem um período de descanso, após a safra,
de desenvolvimento do fruto (botões florais, de modo a recompor as reservas despendi-
floração, frutos em desenvolvimentos e fru- das na brotação e na frutificação continuas.
tos em ponto de colheita). A poda de frutificação, quer drástica
Na prática, quando se adota a poda quer continua, deve ser praticada com o
continua, consegue-se dilatar o período de mínimo de conhecimento dos princípios de
frutificação da planta e assim comercializar fisiologia da planta. Tais princípios, de acor-
a fruta durante todo o ano. É importante do com Kawati (1997) e Piza Júnior (1994),
saber que, ao se adotar a poda continua, estão em geral associados ao acúmulo e à
serão podados apenas os ramos maduros e pressão das seivas bruta e elaborada, pois
aptos a florir. De acordo com Kawati (1997), elas contêm, além dos nutrientes essenciais
a poda continua consiste no encurtamento à planta, também substâncias hormonais
dos ramos que já produziram, sendo geral- indispensáveis à floração e à frutificação.
mente efetuada um mês após a colheita do Kawati (1997) e Piza Júnior (1994) enume-
último fruto daquele ramo. ram os seguintes princípios fisiológicos:
Goiaba Produção Frutas do Brasil, 17

• A rápida circulação da seiva favorece o ção, deve-se deixar, preferencialmente, os


desenvolvimento vegetativo, enquanto a cir- ramos situados em posição horizontal, pois
culação lenta estimula a produção de frutos. são eles que têm maior probabilidade de ser
Segundo Piza Júnior (1994), quanto mais frutíferos. Desde que a arquitetura da copa
rapidamente a seiva circula pelos vasos da variedade o permita, devem-se eliminar
da planta, maior será o número de gemas os ramos de crescimento vertical, preferin-
vegetativas que surgirão, dando origem a do deixar na planta aqueles em posição
brotações vigorosas, porém, sem frutos. horizontal. Nestes, a velocidade de circula-
A circulação mais lenta, por sua vez, pos- ção de seiva é menor e, portanto, esses
sibilita o acúmulo de reservas nas gemas ramos estão mais hábeis a frutificar.
localizadas ao longo dos ramos maduros, • A seiva dirige-se com maior intensida-
as quais, por esse motivo, se transformam de para as partes mais altas e iluminadas
em gemas frutíferas. da planta.
• A circulação da seiva será mais intensa De acordo com Kawati (1997), esse fato
quanto mais retilineo for o ramo. acontece porque nas partes mais altas e
Para Kawati (1997) e Piza Júnior (1994), iluminadas da planta, em virtude de a
quanto mais obstáculos houver à circula- transpiração e de a fotos síntese serem
ção da seiva, numa planta ou ramo, maior mais intensas, há maior pressão negativa
será a possibilidade de essa planta ou ramo de água, resultando num maior fluxo de
florar e frutificar. Neste caso, a resposta à seiva para aquela região da planta.
floração e à frutificação está associada ao Dessa forma, é muito importante, após a
acúmulo de reservas propiciadas pela cir- poda de frutificação, e numa situação de
culação mais lenta da seiva na planta ou brotação excessiva da planta, eliminar o
ramo em questão. É comum, em pomares excesso de ramos e folhas existentes no
de goiabeira, alguns produtores pratica- topo da planta, uma vez que essas partes
rem o amarrio dos ramos encurvados no estão competindo, carreando grande parte
sentido do solo. Na realidade, essa prática dos assimilados, que poderiam e deveriam
cria obstáculos à circulação da seiva no ser destinados ao processo de floração,
interior da planta e, com isso, favorece a frutificação e desenvolvimento dos frutos.
frutificação. Outros produtores causam a • Os ramos secundários receberão mais
mesma dificuldade de circulação pelo ane- seiva ascendente, quanto menor for o seu
lamento ou pelo estrangulamento de ra- número num dado ramo primário.
mos. Práticas de poda de frutificação mais Tal princípio é muito importante, por isso
modernas, já de conhecimento dos produ- é conveniente que se faça, sempre após a
tores, devem ser usadas em lugar desses poda de frutificação, uma avaliação criteri-
artifícios que podem causar mais proble- osa quanto ao número de ramos secundári-
mas para a planta. os que devem permanecer nos ramos em
• Os ramos em posição vertical favorecem frutificação e diz respeito basicamente ao
maior velocidade de circulação da seiva em número de ramos secundários que surgem
seu interior, enquanto, naqueles ramos em nos ramos em frutificação. É recomendável
posição horizontal, a velocidade de circula- que os ramos em frutificação tenham uma
ção é mais lenta. quantidade de ramos secundários de acordo
Este princípio diz respeito principalmente com o seu vigor, uma vez que esses ramos
à decisão a tomar quanto aos ramos ditos estão competindo, por assimilados, com os
ladrões, que, por se encontrarem, em geral, frutos em crescimento e desenvolvimento
em posição vertical, e, por isso, favorece- presentes naquela unidade produtiva.
rem maior velocidade de circulação da Não existe um número padrão recomendá-
seiva, quase sempre são improdutivos. vel, somente a experiência do produtor, o
Portanto, por ocasião da poda de frutifica- vigor da planta e do próprio ramo em
Frutas do Brasil, 17 Goiaba Produção

questão podem definir a quantidade de tentes no ramo que sofreu o encurtamento.


ramos a deixar. Sem dúvida, deve-se dar Na prática, a poda de frutificação da
preferência aos ramos frutíferos, pois serão goiabeira está estreitamente ligada a esse
eles a remunerar o produtor. princípio. A brotação advinda após a poda
a desbaste de um ramo secundário de frutificação resulta da brotação das
não só aumenta o vigor do ramo principal, gemas axilares do ramo podado. Essa bro-
como também inibe ainda mais a brotação tação é possível, pois, com o encurtamen-
das gemas axilares nele existente. Por esse to, reduz-se a produção de auxina, que em
motivo, é necessário identificar não só os geral ocorre na extremidade do ramo, e a
ramos secundários a eliminar, mas também, diminuição de auxina estimula a brotação
e principalmente, a época de retirada desses das gemas axilares. É importante porém
ramos. A eliminação desses ramos antes da que o encurtamento seja efetuado de acor-
emissão dos botões florais poderá acarretar do com o vigor do ramo. Ramos mais
perdas, decorrentes da eliminação errônea vigorosos normalmente são deixados mais
de ramos frutíferos que ainda não tenham longos, enquanto ramos mais finos ou menos
emitido o botão floral. Em geral, os botões vigorosos são deixados mais curtos. A obser-
florais aparecem após o terceiro ou o quarto vação dessa prática é muito importante, pois
par de folhas, ocasião teoricamente correta normalmente os ramos longos, quando po-
para se proceder ao desbaste dos ramos dados curtos (Fig. 19), tendem a não fruti-
secundários em excesso. ficar, enquanto os ramos mais finos, se
Esse princípio é muito importante e podados longos, tendem a produzir frutos
deve ser considerado principalmente por de inferior qualidade.
ocasião do desbaste de ramos após a bro-
tação oriunda da poda de frutificação. Deve-
se procurar um equilíbrio, pois a excessiva
retirada de ramos secundários poderá pro-
piciar o crescimento do ramo principal e
assim desviar assimilados dos frutos em
crescimento e desenvolvimento. E se esse
desbaste ocorrer antes da brotação das
gemas frutíferas, poderá reduzir a produ-
ção da planta, pois vai inibir a brotação das
gemas axilares remanescentes no ramo prin-
cipal. Isso ocorre porque há uma translo-
cação de assimilados para a extremidade do
ramo principal. Dessa forma, devem-se Fig. 19. Poda curta em ramos vigorosos.
eliminar apenas os ramos em excesso e
aqueles que estejam em posição que pos-
sam causar atritos e ferir os frutos próximos. Em tese, a produção da planta podada
• a encurtamento do ramo favorece o é função da relação C/N (carboidrato/
aparecimento de brotação lateral. nitrogênio), que existe no ramo após a poda.
De acordo com Kawati (1997), o encurta- É sabido que o teor de carboidratos é mais
mento e a eliminação da porção terminal elevado na extremidade do ramo, enquanto
do ramo devem ser realizados, em geral, o teor de nitrogênio o é na base do ramo.
imediatamente acima de uma gema volta- Para que ocorra uma frutificação satisfató-
da para fora da copa. Essa poda em geral ria após a poda, a relação C/N deve ser
diminui a dominância apical, pois em tese teoricamente alta. Por essa razão, quanto
reduz o teor de auxina. Isso aumenta a mais o encurtamento se aproximar da base
possibilidade de brotação das gemas exis- do ramo (Fig. 20), menor a probabilidade de
Goiaba Produção Frutas do Brasil, 17

pronunciada que naquelas plantas subme-


tidas a podas contínuas. Kawati (1997) cita
alguns tipos de encurtamento:
Poda à coroa - quando se faz o encur-
tamento total do ramo, que fica reduzido à
coroa, que é, segundo o autor, a porção mais
grossa existente na base do ramo.
Poda à esporão - é o encurtamento que
deixa o ramo com duas ou três gemas ou com
aproximadamente 4 a 6 cm de comprimento.
Poda em vara - quando, após o
encurtamento, o ramo fica com um núme-
ro maior de gemas e com 10 a 20 cm de
Fig. 20. Poda efetuada na base de ramos vigorosos.
comprimento.
esse ramo frutificar, uma vez que a relação Para facilitar a poda e evitar erros que
tende a ser baixa. A influência da relação CjN não podem ser corrigidos, após o corte dos
em geral é mais pronunciada nos ramos mais ramos, o produtor deve fazer a operação de
vigorosos. Por tal motivo, normalmente poda com bastante calma, realizando algu-
obtém-se baixa ou nenhuma produção em mas ações de modo seqüencial. Kawati (1997)
ramos grossos (vigorosos) podados curtos. sugere que, durante a poda de frutificação,
Na prática, pode-se dizer que a rela- seja estabelecida a seguinte seqüência:
ção CjN aumenta da base para a extremida- • Iniciar a poda removendo os ramos que-
de do ramo. O desconhecimento da influ- brados, mortos e doentes.
ência dessa relação, na poda de frutificação • Remover os ramos ladrões.
da goiabeira, pode levar a baixas produções • Remover os ramos que estão muito pró-
ou produções de frutos sem o devido valor ximos e que possam se atritar com facilida-
de mercado. Dessa forma, recomenda-se de e danificar outros ramos ou os próprios
praticar nos ramos mais grossos e vigorosos frutos após a frutificação.
sempre uma poda mais longa, enquanto, nos • Remover os ramos que se dirigem para o
ramos mais finos e menos vigorosos, uma centro da copa ou que se cruzem no interior
poda mais curta. Na prática, isso equivale a da planta.
um maior ou menor encurtamento do ramo, • Remover os ramos voltados para o solo,
conforme o seu vigor. A observação desse pois em geral são ramos improdutivos.
princípio é essencial em plantas de goiabeira • Executar a verdadeira poda de frutifica-
que são submetidas a períodos de repouso. ção, em obediência aos princípios fisiológi-
Nelas, a influência da relação CjN é mais cos descritos anteriormente.

Você também pode gostar