Você está na página 1de 523

COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Apresentação
Caros leitores e estudantes, esta obra digital do Projeto Exame de
Ordem (PEO), o Vade PEO, oferecido pelo Gran Cursos Online,
faz parte de uma coleção do curso que reúne teoria, resolução
de questões objetivas e subjetivas, peças, entre muitas dicas. Tudo
realizado pela lavra da seleta equipe de professores do Projeto,
com cuidadoso esmero e atualização de informações.
Prof. Marcelo Borsio Trata-se de um grupo esquematizado de dicas de todas as disci-
Coordenador Científico plinas do Exame de Ordem, com sugestões de temas para estudo,
Projeto Exame de entre outros tantos detalhes que não podem passar ao largo de
Ordem quem estuda para a OAB.
Eis, então, parte do compêndio da coleção VADE PEO. Material
ímpar e vitrine sem igual da competência e capacidade técnica de
nossos professores.

Boa leitura!
Forte abraço

2 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Sumário
1ª FASE – PROJETO EXAME DE ORDEM:

Direito Tributário: Professor Marcelo Borsío ...................................................................... 8


Direito Civil: Professora Raquel Bueno ........................................................................12
Direito Penal: Professor Flávio Daher ...........................................................................19
Ética/Estatuto da OAB: Professora Daniela Menezes .................................................21
Direito Civil: Professor Eduardo Galante ....................................................................24
Direito Administrativo: Professor Gustavo Scatolino ..............................................34
Direito Ambiental: Professor Felipe Leal .................................................................... 39
Direito Civil: Professora Roberta Queiroz ...................................................................42
Direito Internacional: Professor Luciano Favaro ....................................................... 50
Direito Penal: Professor José Carlos ............................................................................. 57
Direitos Humanos: Professor Luciano Favaro ............................................................63
Direito Penal – Professor José Carlos .......................................................................... 70
Direito Constitucional: Professor Luciano Dutra ......................................................... 75
Direito Tributário: Professor Mauro Moreira ............................................................................ 79
Direito Administrativo: Professor Gustavo Scatolino .................................................. 83
Direito Empresarial: Professor André Ramos .............................................................93
Direito Ambiental: Professor Felipe Leal ..............................................................................96
Direito Tributário: Professor Marcelo Borsio .............................................................98
Direito Administrativo: Professor Emerson Caetano ....................................................100
Direito Administrativo: Professor Gustavo Scatolino ................................................... 110
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..................................................................115
Direito do Consumidor: Professora Patrícia Dreyer ...................................................... 119
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ...............................................................................122
Direito do Consumidor: Professora Patrícia Dreyer ......................................................127
Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ............................................................................130
Direito Civil: Professora Roberta Queiroz ..............................................................................135
Direito Civil: Professor Rodrigo Costa ....................................................................... 140
Ética Profissional: Professora Daniela Menezes ...................................................... 152
Direito Ambiental: Professor Felipe Leal .................................................................. 156
Direitos Humanos: Professor Luciano Favaro .......................................................... 158
Direito Constitucional: Professor Luciano Dutra ....................................................... 163

grancursosonline.com.br 3
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ...............................................................................169


Direito Tributário: Professor Mauro Moreira ..............................................................................173
Direito Empresarial: Professor André Ramos ........................................................... 179
Direito Administrativo: Professor Gustavo Scatolino ................................................. 181
Direito Civil: Professor Rodrigo Costa ......................................................................... 186
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh ......................................................... 193
Direito Civil: Professora Anelise Muniz .......................................................................... 196
Direito Processual Civil : Professor Erick Vidigal ..................................................... 201
Direito Penal : Professor Marcelo Ferreira ............................................................................ 203
Direito Civil : Professor Rodrigo Costa ......................................................................206
Direito Constitucional : Professor André Alencar ................................................... 213
Direito Penal: Professor Anderson Costa ...............................................................................219

4 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

2ª FASE – DIREITO CIVIL:

Direito Civil: Professora Patrícia Dreyer ........................................................................... 222


Direito Civil: Professora Anelise Muniz ............................................................................ 228
Direito Civil: Professora Roberta Queiroz ....................................................................... 232
Direito Civil: Professora Anelise Muniz ............................................................................ 238
Direito Civil: Professor Eduardo Galante ......................................................................... 246
Direito Civil: Professora Raquel Bueno ............................................................................ 256
Direito Civil: Professor Rodrigo Costa .............................................................................. 262
Direito Civil: Professor Eduardo Galante ......................................................................... 267
Direito Civil: Professora Patrícia Dreyer ........................................................................... 277
Professora Roberta Queiroz ................................................................................................ 283
Professor Eduardo Galante .................................................................................................. 289
Professora Raquel Bueno ..................................................................................................... 297
Professor Rodrigo Costa ....................................................................................................... 305
Professora Roberta Queiroz .................................................................................................312
Professor Rodrigo Costa ........................................................................................................317
Professora Patrícia Dreyer .....................................................................................................321
Professora Roberta Queiroz ................................................................................................ 326
Professora Anelise Muniz ......................................................................................................331
Professora Raquel Bueno ..................................................................................................... 335
Professora Roberta Queiroz ................................................................................................344
Professora Patrícia Dreyer .................................................................................................... 348
Professora Anelise Muniz ......................................................................................................351

DIREITO PENAL:

Direito Penal: Professor Flávio Daher .............................................................................355


Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ..................................................................... 357
Direito Penal: Professor José Carlos ...............................................................................363
Direito Penal: Professor Marcelo Ferreira .....................................................................367
Direito Penal: Professor Felipe Leal ................................................................................370
Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ...................................................................373
Direito Penal: Professor Bruno de Mello ....................................................................... 377
Direito Penal: Professor Marcelo Ferreira .....................................................................379

grancursosonline.com.br 5
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Direito Penal: Professor Felipe Leal ................................................................................382


Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ........................................................................... 384
Direito Penal: Professor Felipe Leal ......................................................................................387
Direito Penal: Professor Flávio Daher ..................................................................................389
Direito Penal: Professor Marcelo Ferreira ...........................................................................393
Direito Penal: Professor José Carlos .....................................................................................396
Direito Penal: Professor Felipe Leal ...................................................................................... 401
Direito Penal: Professor Anderson Costa .......................................................................... 403
Direito Penal: Professor Flávio Daher ................................................................................. 405
Direito Penal: Professor José Carlos .................................................................................... 408
Direito Penal: Professor Flávio Daher .................................................................................. 412
Direito Penal: Professor Flávio Milhomem ........................................................................ 415
Direito Penal: Professor Bruno de Mello ............................................................................ 418
Direito Penal: Professor Marcelo Ferreira ........................................................................... 419

DIREITO DO TRABALHO:

Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh .................................................................. 423


Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ...........................................................................426
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio.........................................................................430
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ...........................................................................433
Direito Penal: Professor Felipe Leal ..................................................................................... 435
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar ................................................438
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ...........................................................................440
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh .................................................................. 444
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio .................................................................. 448
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar ......................................................... 451
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio .................................................................. 453
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ...........................................................................458
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ...........................................................................462
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh ........................................................ 466
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..............................................................................469
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar .........................................................474
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ...........................................................................477
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ............................................................................481

6 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..............................................................................483


Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh .........................................................488
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..............................................................................490
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar .................................................... 493
Direito do Trabalho: Professor José Gervásio ..............................................................................497
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ..............................................................................500
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh .........................................................504
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar .....................................................507
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ..............................................................................509
Direito do Trabalho: Professor Stevão Gandh ..........................................................511
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar ..................................................... 514
Direito do Trabalho: Professor Hugo Sousa ............................................................................516
Direito do Trabalho: Professor Leandro Alencar .....................................................520

grancursosonline.com.br 7
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

1ª FASE – PROJETO EXAME DE ORDEM

DIREITO TRIBUTÁRIO: PROFESSOR MARCELO BORSIO

Prezados alunos, vamos passar algumas dicas que vêm caindo na prova da 1ª
Fase da OAB em tributário. A cada parágrafo uma dica diferente.

1. A regra da lei tributária é a lei ordinária (ler todo o artigo 97 do CTN – hipó-
teses), mas há hipóteses constitucionais (ler todo o artigo 146 da CF) que são ma-
térias de lei complementar. Há tributos federais que são veiculados por lei com-
plementar: Imposto sobre Grandes Fortunas, Empréstimo Compulsório, Impostos
Residuais, Contribuições Sociais Residuais. Decore o mnemônico: AS FORTUNAS
COMPULSÓRIAS SÃO RESIDUAIS. As matérias cabentes à lei complementar não
poderão ser objeto de medida provisória. Decore mais isso: as leis de regras ge-
rais do ICMS e do ISS são complementares. A do ITCMD (até hoje não editada)
nas hipóteses em que haja algum elemento de conexão de que possa decorrer
tributação em país estrangeiro.
Isso poderá ocorrer, por exemplo, quando o doador possuir domicílio ou re-
sidência no exterior, os bens inventariados estiverem localizados no exterior ou o
próprio inventário for realizado fora do Brasil. É também da lei complementar a
lei que confere (até hoje não editada) remissão e anistia das contribuições sociais
para a seguridade social.
2. Decore esse quadro para memorizar alíquotas máximas e mínimas e quem define:

RESOLUÇÃO DO SENADO
ALÍQUOTAS ALÍQUOTAS
MÁXIMAS MÍNIMAS
ITCMD –
ICMS ICMS
– IPVA

8 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

LEI COMPLEMENTAR ADCT DA CF


116/03
ALÍQUOTA ALÍQUOTA
MÁXIMA MÍNIMA
ISS-QN ISS-QN

3. O princípio da anterioridade tributária guarda pertinência com o postulado


da não surpresa tributária. As normas da legalidade e da anterioridade tributárias
constituem cláusulas pétreas que não podem ser retiradas do ordenamento jurídi-
co nem mesmo por emenda constitucional. O princípio da anterioridade tributária,
consagrado na CF, não se confunde com a própria ideia de anualidade tributária.
Para verificar a não surpresa no princípio da anterioridade pode ser feita assim:
Anterioridade Tributária → 1º PASSO – leve para 01 de janeiro; 2º PASSO –
veja quantos dias tem;
1. se tiver 91 dias – PERMANECE 01 DE JANEIRO;
2. se tiver menos de 91 dias – SOMAM-SE OS 90 DIAS e o dia seguinte é o da
exigência (03 de outubro é o grande dia!!!)
Tanto o aumento de alíquota quanto a redução de benefício fiscal implicam o
aumento de tributo. Submetendo-se à observância do princípio da anterioridade.
Ag Reg RE 564.225, setembro de 2014. O afastamento de aplicação de norma
que diminuiu a base de cálculo do ICMS é aumento indireto de tributo, avocan-
do-se a anterioridade.
Eis as exceções ao princípio da anterioridade:
A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148,
I (E Compulsório CALA e GUE), 153, I (Imp. Importação), II (Imp. Exportação), IV
(IPI) e V (IOF); e 154, II (IEG); e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos
previstos nos arts. 148, I (E Compulsório CALA e GUE), 153, I (Imp. Importação), II
(Imp. Exportação), IV (IPI) e V (IOF); e 154, II (IEG), nem à fixação da base de cál-
culo dos impostos previstos nos arts. 155, III (IPVA), e 156, I (IPVA).

grancursosonline.com.br 9
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGISIMAL PARA AS CONTRI-


BUIÇÕES SOCIAIS DA SEG SOCIAL E PREVIDENCIÁRIAS → PIS, COFINS,
CSLL, PIS E COFINS IMPORTAÇÃO, além das contribuições previdenciárias sobre
a folha de salários e demais remunerações (INSS) → 90 DIAS (3 meses não), após
a publicação da lei que instituiu ou modificou.
E as demais contribuições? As CIDEs, as para as Categorias Profissionais
(CRM, CRC etc) → aplica-se a elas a Anterioridade Comum (Exercício, Anual) +
Noventena (surpresa) = Regra Geral.

4. Guarde isso que José Afonso da Silva ensina sobre o princípio da isonomia
tributária: Não basta, pois, a regra de isonomia estabelecida no caput do art.5º.
O constituinte teve consciência de sua insuficiência, tanto que estabeleceu que
é vedado instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em
situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão da ocupação profis-
sional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurí-
dica dos rendimentos, títulos ou direitos (art. 150, II). Mas também consagrou a
regra pela qual, sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte (art.145, §1º). (…)
Aparentemente, as duas regras se chocam. Uma veda tratamento desigual; outra
autoriza. Mas em verdade ambas se conjugam na tentativa de concretizar a jus-
tiça tributária”.

5. Como corolário da isonomia tributária, tem-se o non olet, devendo haver


abstração da licitude ou ilicitude da atividade exercida. O tributo deve incidir so-
bre atividades lícitas e sobre as ilícitas e imorais. Non Olet – traficante paga IR,
por que tem renda. Casa de prostituição paga IPTU.
Outros exemplos de non olet:
a) IPTU incide em imóvel considerado urbano em APA, com ocupação ilegal .
b) ITBI incide para o adquirente de imóvel, mesmo que o negócio tenha sido
celebrado por pessoa absolutamente incapaz.
c) ICMS incide no valor da NF, independente de ter havido o pagamento do
preço.

10 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

d) ISS incide sobre empresa em face de terraplanagem realizada, mesmo que


não qualificada para tal.
e) ISS sobre casa de bingos (atividade considerada ilícita atualmente).
Por enquanto é isso. Voltamos mais adiante na Regressiva 100 dias OAB 1ª
Fase!
Forte abraço!
Marcelo Borsio

Marcelo Borsio – Delegado da Polícia Federal. Possui


graduação em Direito pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, é mestre e doutor em Direito Previdenciá-
rio pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Pós-Doutor em Direito da Seguridade Social pela Uni-
versidade Complutense de Madrid. Especialista em Di-
reito Tributário pela PUC-SP. Autor de algumas obras
no tema, inclusive com o Prof° Luiz Flávio Gomes, pa-
lestrante pelo país, professor e coordenador de Pós-
Graduação de Direito Previdenciário e da Prática Previdenciária. Coordenador
Pedagógico do Projeto Exame de Ordem.

grancursosonline.com.br 11
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO CIVIL:
PROFESSORA RAQUEL BUENO

1ª DICA – o parentesco pode ser natural ou civil, conforme derive da con-


sangüinidade ou de outra origem (adoção, socioafetividade ou afinidade). Ao
tratar de ascendentes e descendentes, fala-se em parentesco em reta, que não
tem limitação de graus e se refere ao vínculo por meio do qual uns descendem
dos outros. Já na linha denominada colateral ou transversal, busca-se um tronco
comum e o parentesco inicia-se no segundo grau (irmãos). Os irmãos podem ser
bilaterais, também chamados de germanos, ou unilaterais. Quando unilaterais,
podem ser somente por parte de pai (consangüíneos), ou somente por parte de
mãe (uterinos).
Noutro giro, os parentes colaterais podem ainda ser de terceiro grau (tios/
sobrinhos), ou de quarto grau (primos). Já o parentesco por afinidade se refere à
relação havida entre o cônjuge/companheiro, com os parentes do outro cônjuge
ou companheiro, limitando-se aos ascendentes, descendentes e irmãos do outro.
Segundo o Código Civil vigente, na linha reta, a afinidade não se extingue com a
dissolução do casamento ou união estável (artigo 1595, §2º), justificando o ditado
popular que diz que sogro e sogra são para a vida toda!
2ª DICA – Estabelece a lei do bem de família legal (Lei n. 8.009/90), em seu
artigo 5º, parágrafo único, que havendo a existência de dois bens imóveis, utili-
zados como residência, a impenhorabilidade do bem de família legal recairá so-
bre aquele de menor valor, uma vez que a referida legislação visa a proteção do
direito de moradia, e não a proteção da família, em si mesma considerada. Neste
sentido, pode invocar tal benefício a pessoa solteira, separada/divorciada, viúva,
nos termos da Súmula 364 do STJ.
Ademais, em recente decisão, o Colendo STJ, no julgamento do Recurso Es-
pecial n.: 1608415/SP, deu a melhor interpretação à norma supramencionada (in-
terpretação sistemática e teleológica), conforme se depreende da ementa abaixo
reproduzida: “RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. PENHORA. BEM
DE FAMÍLIA. PROPRIETÁRIA DE OUTROS BENS. LEI N. 8.009/1990. IMÓVEL DE

12 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

RESIDÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE CONSTRIÇÃO. 1. Na origem, os embargos


à execução foram julgados improcedentes e o Tribunal estadual manteve a pe-
nhora sobre o bem de família da recorrente, reconhecendo a existência de outro
bem de sua propriedade de menor valor. 2. A jurisprudência deste Tribunal é firme
no sentido de que a Lei n. 8.009/1990 não retira o benefício do bem de família
daqueles que possuem mais de um imóvel. 3. O parágrafo único do artigo 5º da
Lei n. 8.009/1990 dispõe expressamente que a impenhorabilidade recairá sobre o
bem de menor valor na hipótese em que a parte possuir vários imóveis utilizados
como residência, o que não ficou demonstrado nos autos. 4. Recurso especial
provido. (REsp 1608415/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEI-
RA TURMA, julgado em 02/08/2016, DJe 09/08/2016)”
3ª DICA – No estudo do regime de bens, deve-se destacar o polêmico re-
gime da separação obrigatória de bens. As hipóteses que obrigam a incidência
deste regime constam do artigo 1.641 do CC/02. Quem se casa neste regime
também se submete à necessidade de outorga/vênia conjugal, nos termos do
artigo 1.647 do CC/02, sendo tal outorga somente dispensada no caso do regime
de separação absoluta (convencional) de bens, e no regime de participação final
nos aquestos, quando houver tal liberação expressa na escritura pública de pacto
antenupcial.
Pois bem, no regime da separação obrigatória de bens não haverá a neces-
sidade de pacto antenupcial. Além disso, tal regime pode ser afastado, mediante
autorização judicial, antes ou depois de celebrado o casamento, com exceção do
inciso II, que trata de pessoas maiores de setenta anos, havendo intensa polêmica
nesta temática. Neste contexto, parte da doutrina (Maria Berenice Dias e Paulo
Lôbo, por exemplo) entende que a obrigatoriedade do regime de separação de
bens para pessoas maiores de setenta anos é inconstitucional, sendo imposição
violadora da dignidade humana, além da autonomia da vontade (autonomia pri-
vada), sem falar do Princípio da Intervenção Mínima nas relações familiares.
Acerca desta temática, oportuna a contribuição do ex-Ministro do Excelso
STF Antônio Cezar Peluso, quando ainda Desembargador do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, no voto proferido acerca do tema, na Apelação Cível
n. 007. 512-4/2-00 – 2ª CDPriv – de 18 de agosto de 1998: “ (…) Lei que, com o

grancursosonline.com.br 13
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

propósito racional de guardar o patrimônio dalgumas pessoas contra as fraque-


zas da submissão amorosa, priva-as a todas de exercitarem a liberdade jurídica
de dispor sobre seus bens e de pautarem suas ações por razões íntimas, res-
sente-se de nexo de proporção entre o objetivo legítimo, que está na tutela dos
casos particulares de debilidade senil, e o resultado prático exorbitante, que é,
no fundo, a incapacitação da ampla classe das pessoas válidas na mesma faixa
etária. Ou seja, inabilita e deprecia quase todos, por salvar uns poucos, que, aliás,
têm outros meios jurídicos para se redimir dos enganos das paixões crepuscula-
res. […] O alcance irracional e injusto da mesma norma vulnera ainda princípios
constitucionais, até com gravidade maior, sob outro ponto de vista, que é o da
mutilação da “dignidade” da pessoa humana em situação jurídica de casamento,
porque, desconsiderando-lhe, de modo absoluto e sem nenhum apoio na obser-
vação da realidade humana, o poder de autodeterminação, sacrifica, em nome
de interesses sociais limitados e subalternos o direito fundamental do cônjuge de
decidir quanto à sorte de seu patrimônio disponível, que, não ofendendo direito
subjetivo alheio nem a função social da propriedade, é tema pertinente ao redu-
to inviolável de sua consciência. É muito curta a razão normativa para a invasão
tamanha. A lei, aqui, é modo exemplar de intrusão estatal lesiva do direito à inti-
midade (right of privacy, ou , como se usa dizer, direito à privacidade), enquanto
dimensão substancial da pessoa humana e objeto de tutela constitucional explí-
cita (art. 5º, X, da Constituição Federal) e implícita (art. 5º, LIV).”
Por fim, destaque-se que em eventual separação/divórcio, na definição da
partilha, aplica-se a Súmula 377 do STF, segundo a qual: “no regime de separa-
ção legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.”
Recomenda-se também a leitura dos Enunciados 125, 261 e 262 das Jornadas de
Direito Civil, acerca deste assunto.
4ª DICA – É possível a responsabilidade civil decorrente de condutas lícitas?
Por incrível que pareça sim, mas nas hipóteses expressamente previstas em lei.
Ouso falar do nosso artigo 188 e do artigo 930 do CC/02, que estabelece ser pos-
sível a responsabilidade civil decorrente de condutas lícitas, mais precisamente
nas hipóteses de legítima defesa real e estado de necessidade agressivo. Quando
o dano atinge o próprio causador da situação extrema de legítima defesa/estado

14 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

de necessidade, restará afastado o dever de indenizar. Mas quando o exercício


da legítima defesa/estado de necessidade atinge terceiros, há responsabilidade
civil e o dever de indenizar, mesmo a conduta sendo lícita, resguardado o direito
de regresso contra o verdadeiro causador da situação. Aqui não há espaço para
a legítima defesa e estado de necessidade putativos, uma vez que, nesses casos,
não resta afastado o dever de indenizar, posto que a conduta continua sendo
ilícita, tratando-se de uma falsa percepção da realidade por parte do ofensor.
5ª DICA – Dentro das formas de aquisição originária da propriedade imóvel,
destaca-se a acessão natural. Entre suas espécies, destaque para a aluvião (artigo
1.250 do CC/02) e avulsão (artigo 1.251 do CC/02). Tratando-se de propriedades
ribeirinhas, cortadas por rios não navegáveis, a aluvião é o acréscimo paulatino
de terras a uma determinada propriedade ribeirinha (aluvião própria), ou ainda
o ressecamento parcial do álveo (leito do rio), aumentando uma propriedade
ribeirinha (aluvião imprópria). Já a avulsão é o desprendimento notório de por-
ção considerável de terra, de uma propriedade ribeirinha, em direção a outra,
em virtude de eventos naturais. Neste caso, o dono da propriedade defasada
pode requerer a restituição de sua porção de terra, ou a indenização equivalente,
tratando-se de um caso de responsabilidade civil objetiva. De qualquer forma, o
prazo decadencial para o exercício de uma das condutas acima (remoção/inde-
nização) é de um ano.
6ª DICA – A guarda no Brasil divide-se essencialmente em duas possibilida-
des: guarda unilateral (guarda exclusiva do pai/mãe, resguardado ao não guar-
dião o direito de visitas) e guarda compartilhada, sendo esta preferencial, uma
vez que atende ao maior e melhor interesse da criança/adolescente, estabelecen-
do um período maior de convivência da prole com o núcleo familiar materno e
paterno. Neste contexto, a guarda compartilhada pode ser requerida por ambos
os pais, em ação própria, ou de forma incidental em ação de separação/divórcio
ou reconhecimento de união estável.
Pode também a guarda compartilhada ser concedida de ofício pelo juiz, mes-
mo quando conflituosa a relação dos genitores. Todavia, importante destacar o
último posicionamento do Colendo STJ, acerca desta matéria, conforme julga-
do ora reproduzido: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍ-

grancursosonline.com.br 15
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

LIA. GUARDA COMPARTILHADA. DISSENSO ENTRE OS PAIS. POSSIBILIDADE. 1.


A guarda compartilhada deve ser buscada no exercício do poder familiar entre
pais separados, mesmo que demande deles reestruturações, concessões e ade-
quações diversas para que os filhos possam usufruir, durante a formação, do ideal
psicológico de duplo referencial (precedente). 2. Em atenção ao melhor interesse
do menor, mesmo na ausência de consenso dos pais, a guarda compartilhada
deve ser aplicada, cabendo ao Judiciário a imposição das atribuições de cada um.
Contudo, essa regra cede quando os desentendimentos dos pais ultrapassarem o
mero dissenso, podendo resvalar, em razão da imaturidade de ambos e da aten-
ção aos próprios interesses antes dos do menor, em prejuízo de sua formação e
saudável desenvolvimento (art. 1.586 do CC/2002). 3. Tratando o direito de família
de aspectos que envolvem sentimentos profundos e muitas vezes desarmonio-
sos, deve-se cuidar da aplicação das teses ao caso concreto, pois não pode haver
solução estanque já que as questões demandam flexibilidade e adequação à hi-
pótese concreta apresentada para solução judicial. 4. Recurso especial conhecido
e desprovido. (REsp 1417868/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 10/06/2016)”
7ª DICA – o que fazer quando um imóvel está encravado, sem acesso à via
pública? Para responder esta questão, entra em cena o direito de vizinhança one-
roso denominado passagem forçada. Por meio dela o sujeito encravado (situação
de encravamento natural e absoluto), pode compelir qualquer de seus vizinhos a
lhe ceder passagem, mediante indenização, tratando-se de verdadeira desapro-
priação parcial de interesse particular. Tal instituto é contemplado no Código Civil,
no artigo 1.285. (ver também Enunciado 88 da I Jornada de Direito Civil).
Mas atenção! Não confundir o direito de passagem forçada com o direito real
de servidão de passagem, posto que este é direito real sobre coisa alheia, inci-
dente apenas sobre bens imóveis de titulares diferentes, denominados de imóvel
serviente e dominante, sendo que o titular do primeiro sofre restrições em bene-
fício do segundo, de forma voluntária, a título gratuito ou oneroso. Sobre a po-
lêmica da distinção, segue julgado do Colendo STJ: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
POSSESSÓRIA. INTERDITO PROIBITÓRIO. PASSAGEM FORÇADA. SERVIDÃO DE
PASSAGEM. DISTINÇÕES E SEMELHANÇAS. NÃO CARACTERIZAÇÃO NO CASO.

16 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

SERVIDÃO NÃO SE PRESUME E DEVE SER INTERPRETADA RESTRITIVAMENTE. 1.


Apesar de apresentarem naturezas jurídicas distintas, tanto a passagem forçada,
regulada pelos direitos de vizinhança, quanto a servidão de passagem, direito
real, originam-se em razão da necessidade/utilidade de trânsito, de acesso. 2.
Não identificada, no caso dos autos, hipótese de passagem forçada ou servidão
de passagem, inviável a proteção possessória pleiteada com base no alegado
direito. 3. A servidão, por constituir forma de limitação do direito de propriedade,
não se presume, devendo ser interpretada restritivamente. 4. Recurso especial
provido. (REsp 316.045/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEI-
RA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 29/10/2012)”.
8ª DICA – O usufruto é um direito real sobre coisa alheia de uso e fruição, que
cria a coexistência de, no mínimo, dois sujeitos: o nu proprietário (titular de uma
propriedade transitoriamente limitada, e possuidor indireto da coisa) e o usu-
frutuário (no qual se concentra as prerrogativas de domínio de uso e fruição da
coisa, além da posse direta). Regra geral, o usufruto recai sobre bens infungíveis,
mas pode também recair sobre bens fungíveis, quando é chamado de usufruto
impróprio ou quase usufruto. Tal direito pode decorrer da lei ou da vontade das
partes, podendo também ser instituído a título gratuito ou oneroso. Outro ponto
relevante é que o direito real de usufruto não pode ser cedido/transferido, nem
a título gratuito, nem oneroso, nem por ato inter vivos/causa mortis, devido ao
seu caráter personalíssimo. Mas seu exercício pode ser cedido (artigo 1.393 do
CC/02).
Além disso, o Brasil não admite o usufruto sucessivo, mas admite o usufruto
simultâneo (que contempla duas ou mais pessoas as mesmo tempo). No caso
de usufruto simultâneo, caso uma das pessoas venha a falecer, sua quota parte
retorna ao nu proprietário, só podendo se falar em direito de acrescer do usu-
frutuário remanescente caso haja previsão expressa neste sentido (artigo 1.411 do
CC/02).
9ª DICA – Dentre as excludentes da responsabilidade civil, destacam-se o
caso fortuito e a força maior, contempladas no Código Civil, em seu artigo 393
(ver também Enunciado 443 da V Jornada de Direito Civil). Conceitua-se o caso
fortuito e a força maior dentro de uma perspectiva de situação inevitável e/ou

grancursosonline.com.br 17
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

imprevisível. Todavia, no estudo do caso fortuito, a doutrina diferencia o fortuito


interno do fortuito externo, sendo que, somente este último tem o condão de
quebrar o nexo causal, excluindo a responsabilidade civil (ver Súmula 479 do Co-
lendo STJ).
Sobre o tema, oportuna a contribuição de Nelson Rosenvald, Cristiano Chaves
de Farias e Felipe Peixoto Braga Netto, ao afirmarem: “(…) Essa distinção entre for-
tuito interno e externo foi introduzida no direito brasileiro por Agostinho Alvim,
sendo o fortuito interno aquele que se relaciona com a pessoa do devedor ou da
empresa e com a organização que eles imprimam ao negócio. Em contraparti-
da, o fortuito externo, também conhecido como força maior, é um fato que não
guarda conexão com estas pessoas, tratando-se de um acontecimento externo a
elas.” (in Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil, volume 03, 2ª edição, São
Paulo: Atlas, 2015, p. 383).
10ª DICA – O Brasil admite testamento na modalidade oral? Excepcional-
mente sim! Fala-se em modalidade de testamento especial militar NUNCUPATIVO
(artigo 1.896 do CC/02), que se refere aos sujeitos do artigo 1.893 do CC/02, em-
penhados em combate ou feridos, que poderão, em virtude da excepcionalidade
desta situação, manifestar sua última vontade perante duas testemunhas. Não
confundir com o casamento nuncupativo, que exige a presença de seis testemu-
nhas (artigo 1.540 e 1.541 do CC/02).

Raquel Bueno – Formada em Direito pela Universida-


de Católica de Brasília, Especialista em Direito Civil e
Processo Civil pela Universidade Cândido Mendes-RJ,
Mestranda em Direito na Universidade Católica de Bra-
sília, professora de Direito Civil da graduação da Uni-
versidade Católica de Brasília e IESB, da pós graduação
em Direito Civil da UniEvangélica de Anápolis-GO e
professora de Direito Civil e Processo Civil do Gran
Cursos Online. Advogada.

18 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO DAHER

Prezados(as) examinandos(as), na dica de hoje vamos abordar as diferenças


entre omissão própria e omissão imprópria, além das caractéristicas de crimes
omissivo e comissivo. Vejamos:

Diferenças entre Omissão Própria e Omissão Imprópria

Os crimes podem ser praticados por ação ou omissão:


AÇÃO (CRIME COMISSIVO): Está descrito em tipos proibitivos, isto é, tipos
através dos quais o direito penal protege bens jurídicos proibindo algumas con-
dutas. O agente pratica o crime desobedecendo a proibição.
OMISSÃO (CRIME OMISSIVO): o crime omissivo está previsto em tipos man-
damentais, através dos quais o direito penal protege bens jurídicos determinando
a realização de condutas. O agente deixa de agir como determinado pela norma.

• A norma mandamental pode decorrer:


a- DO PRÓPRIO TIPO PENAL: são tipos penais que tem a expressão “deixar
de” – CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS. Ex: artigos 135 e 269 do CP.
b- DE UMA CLÁUSULA GERAL: (art.13, § 2º, CP). CRIMES OMISSIVOS IMPRÓ-
PRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO.
2º – A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
1. a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
2. b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
3. c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resul-
tado.

grancursosonline.com.br 19
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

CRIME OMISSIVO PRÓPRIO CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO


1- Dever específico de evitar o resultado
1-Dever genérico de agir;
(dever específico – recai sobre pessoa
(recai sobre todos).
especial: o garantidor)
2- Existe subsunção DIRETA – 2- Existe subsunção INDIRETA. O dever
FATO / NORMA. O dever de de agir deriva de cláusula geral. O art.13,
agir deriva da própria norma §2º, CP. A sua omissão não está escrita
fundamental. A omissão está no tipo. Como tinha dever de evitar, vai
descrita no tipo penal incrimi- responder como se tivesse praticado por
nador. tipo COMISSIVO.
3- Admite tentativa. No crime omissivo
3- Não admite tentativa. impróprio vai responder como se tivesse
provocado o resultado.
4- Natureza Jurídica: uma realidade onde
falta a causalidade. O agente responde
4- Natureza Jurídica: Ausência
penalmente porque não evita resultado
de ação esperada.
que estava obrigado evitar. (NEXO NOR-
MATIVO – NEXO DE EVITAÇÃO)

Flávio Daher – Delegado de Polícia Federal no DF.


Mestre em Direito Constitucional pela UNIFRAN-SP.
Doutorando em Direito Penal pela UNICEUB. Professor
de Cursos Preparatórios. Autor de Obras com o Profes-
sor Luiz Flávio Gomes.

20 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

ÉTICA/ESTATUTO DA OAB: PROFESSORA DANIELA MENEZES

5 em 1: Ética Profissional

Analisando os assuntos mais cobrados na disciplina de Ética Profissional, iden-


tificamos temas fundamentais para o seu estudo com a leitura do Estatuto da
Advocacia e da OAB, do Regulamento Geral e do Código de Ética.
Lembrando à vocês que o Novo Código de Ética será cobrado no XXI Exame
de Ordem, por isso, temos que começar a estudar as novas alterações, ok?
A título de curiosidade, o novo Código de Ética estabeleceu novas regras so-
bre publicidade na internet e telefonia, questões sobre os honorários, o exercício
da advocacia pública, o tratamento com os clientes, o sigilo profissional e os pro-
cedimentos para o julgamento das infrações disciplinares.
Os princípios basilares da publicidade são: o caráter informativo, a discrição e
sobriedade, não configurando a captação de clientela ou mercantilização da pro-
fissão, sendo vedado a publicidade em rádio, cinema, televisão, veículos e redes
sociais.
São admissíveis: a circulação de boletins, por meio físico ou eletrônico, sobre
matéria cultural, envio de mensagens, por meios eletrônicos, desde que a desti-
natários certos, sem o oferecimento de serviços ou captação de clientela.
O novo Código de Ética teve a preocupação com os advogados públicos na
execução das atividades profissionais, visando à busca pela solução ou redução
de litígios.
A advocacia pro bono é a prestação gratuita, eventual e voluntária da presta-
ção de serviços jurídicos à instituições sociais sem fins econômicos, sempre que
os beneficiários não dispuserem de recursos para a contratação de profissional.
Com relação a instauração do processo disciplinar, o Novo Código de Ética
manteve os padrões do antigo código, com a ressalva de que a denúncia anôni-
ma não é considerada fonte inidônea.
Assim, o processo disciplinar continua ocorrendo em função do conhecimen-
to do fato, quando obtido por meio de fonte idônea ou em virtude de comuni-

grancursosonline.com.br 21
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

cação da autoridade competente. A representação será formulada ao Presidente


do Conselho Seccional ou ao Presidente da Subseção, por escrito ou verbalmente
e, neste caso, será reduzida a termo.
• Os temais mais cobrados pela FGV são:
• Sociedade de advogados
• Inscrição
• Direito dos advogados
• Honorários Advocatícios
• Infrações e Sanções Disciplinares
• Conselho Seccional
• Conselho Federal
• Impedimentos e Incompatibilidades
• Processo disciplinar
• Estágio Profissional
• Instrumento de mandato
• Publicidade
• Sigilo Profissional
• Relações com o cliente

Dentre os assuntos mais cobrados, vamos revisar sobre os poderes dos advo-
gados – substabelecimento?
O substabelecimento é o compartilhamento de poderes entre advogados ou
a transferência de poderes de um advogado para outro. A diferença entre com-
partilhar ou transferir está no tipo de substabelecimento, podendo ser com reser-
vas ou sem reservas de poderes. O substabelecimento, sem reservas, precisa do
consentimento do cliente, devido a retirada do advogado do processo.
Melhor dizendo, o substabelecimento sem reservas, é a transferência total de
poderes do advogado para outro, retirando-se totalmente da atuação no processo.
Já o substabelecimento com reservas ocorre quando o advogado compartilha
os poderes com outro advogado, sendo dispensado o consentimento do cliente,
pois trata-se de ato privativo do advogado, podendo inclusive, substabelecer a

22 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

estagiários.
Lembre-se que o instrumento de procuração e o substabelecimento são do-
cumentos escritos e essenciais para o exercício do advogado na via judicial e
extrajudicial.

Procuração Substabelecimento
Cliente à Advogado Advogado à Advogado
Tipo: com reservas ou sem reservas
sem reservas: é obrigatório o consentimento do
cliente / outorgante.

Aguardo vocês no próximo encontro!


Bons estudos,
Professora Daniela Menezes.

Daniela Menezes – Advogada. Mestranda em Políti-


cas Públicas pelo Uniceub, Professora Substituta do
Uniceub, Advogada, Formação e Capacitação de Juíza
Arbitral do Brasil, Europa e Mercosul.

grancursosonline.com.br 23
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO CIVIL:
PROFESSOR EDUARDO GALANTE

Olá pessoal. Tudo bem? Fortalecidos para a caminhada da aprovação no Exa-


me de Ordem? Bem… Sou o Professor Eduardo Galante e estou aqui para trazer
algumas dicas para a 1ª fase do Exame de Ordem sobre a disciplina Direito Pro-
cessual Civil.
Mas antes mesmo de iniciarmos, gostaria de deixar uma mensagem cujo con-
teúdo representa o que deve ser a nossa caminhada para aprovação: “Espalhem,
transmitam o positivismo, sonhem, acreditem no otimismo, procurem, busquem
a conquista, examinem-se, achem o real valor da vida! Reflitam sobre suas ações.
Amem intensamente, respeitem opiniões, neutralizem o negativismo, sejam alma,
mente e coração, mas com os pés cravados ao chão, auto avaliem-se… e vivam!”.
É com essa concepção que temos que nos preparar para o Exame. A dedica-
ção de vocês, as muitas horas de estudo, a confiança nesse projeto de vida, tudo
isso em breve terá como resultado a aprovação de todos. Podem ter certeza:
os nomes de vocês estarão na lista de aprovados da primeira fase do Exame de
Ordem. Da parte do nosso projeto não faltará dedicação e nem instrumentos
didático-pedagógicos para que você estabeleça metas e estratégias máximas.
Uma boa maneira de iniciarmos essa preparação é utilizarmos a técnica de
estudo que preconiza a aprendizagem por meio de sínteses (resumos ou dicas).
Com o intuito de contribuir decisivamente com o seu sucesso o GRANCUR-
SOS oferece excelentes cursos que os ajudarão em todas as fases do Exame.
Como forma de demonstrar o meu comprometimento com vocês, em espe-
cial com os seus estudos, apresento hoje uma série de dicas de Direito Processual
Civil elaborada com base em pontos recorrentes e importantes da disciplina. Va-
mos lá.
1ª) Pode-se conceituar a jurisdição como: Função do Estado, pela qual ele, no
intuito de solucionar os conflitos de interesse em caráter coativo, aplica a lei geral
e abstrata aos casos concretos que lhe são submetidos.

24 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

2ª) A competência é, conforme definição clássica, a medida da jurisdição. Ela


quantificará a parcela de exercício de jurisdição atribuída a determinado órgão,
em relação às pessoas, à matéria ou ao território.
3ª) As sentenças estrangeiras são, portanto, emanações de um poder sobe-
rano externo. O mecanismo pelo qual a autoridade brasileira outorga eficácia à
sentença estrangeira, fazendo com que ela possa ser executada no Brasil, deno-
mina-se HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA, que hoje é da compe-
tência do Superior Tribunal de Justiça.
4ª) A Constituição Federal, ao formular a estrutura do Judiciário, estabelece a
distinção entre a justiça comum e as especiais: a trabalhista, tratada no art. 111; a
eleitoral, nos arts. 118 e ss.; e a militar, no art. 122. A Justiça do Trabalho é compos-
ta pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), pelos Tribunais Regionais do Trabalho
(TRTs) e pelos juízes do trabalho. A eleitoral, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
os Tribunais Regionais Eleitorais, os Juízes Eleitorais e as Juntas Eleitorais. A militar
é dividida em Justiça Militar da União e dos Estados: a da União é composta pelo
Superior Tribunal Militar e os Conselhos de Justiça, Especial e Permanente, nas
sedes das Auditorias Militares; a dos Estados, Distrito Federal e Territórios, pelo
Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar, nos Estados em que o efetivo for
igual ou superior a 20.000 integrantes, e pelos juízes auditores e pelos Conselhos
de Justiça, com sede nas Auditorias Militares. A competência das justiças especiais
é apurada de acordo com a matéria discutida (ratione materiae). A das justiças
comuns é supletiva: abrange todas as causas que não forem de competência das
especiais.
5ª) A justiça comum pode ser federal ou estadual. A competência da primeira
é dada ratione personae, pela participação, no processo, como parte ou inter-
veniente, das pessoas jurídicas de direito público federais e empresas públicas
federais (art. 109, I, da CF) ou ratione materiae, já que o art. 109 enumera temas
pertinentes às justiças federais. É composta por juízes e Tribunais Regionais Fede-
rais. O que não for de competência das justiças especiais, nem da Justiça Federal,
será atribuído, supletivamente, à Justiça Estadual. Cabe-lhe o julgamento de to-
das as causas que não pertencerem a uma e outras.

grancursosonline.com.br 25
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

6ª) Cabe aos Estados organizar sua respectiva justiça, respeitados os dispositi-
vos da CF: em cada qual haverá os juízos e tribunais estaduais, cuja competência
é dada em conformidade com as Constituições Estaduais e leis de organização
judiciária. Tanto a Justiça Federal quanto a estadual terão ainda os seus respecti-
vos juizados especiais e colégios recursais.
7ª) Em posição de destaque acima dos órgãos de primeiro e segundo graus
de jurisdição, tanto estaduais como federais, há o Superior Tribunal de Justiça,
criado pela CF de 1988 (arts. 104 e ss.), cuja função precípua é resguardar a lei
federal infraconstitucional. E, sobre todos, o Supremo Tribunal Federal, guardião
máximo da Constituição Federal, cuja competência é estabelecida no seu art. 102.
8ª) REGRAS GERAIS PARA A APURAÇÃO DE COMPETÊNCIA: Neste item, for-
mularemos algumas regras que devem ser observadas por aquele que deseja
apurar onde determinada demanda deve ser proposta. São seis os passos, su-
geridos por Nelson Nery Junior: I) Se a ação pode ou não ser proposta perante
a justiça brasileira, o que exige consulta aos arts. 21 a 23 do CPC; II) Sendo da
justiça brasileira, se não se trata de competência originária do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, o que exige consulta aos arts. 102, I, e
l05, I, da Constituição Federal; III) Se a competência não é de alguma das justiças
especiais, conforme arts. 114, 121 e 124 da Constituição Federal; IV) Não sendo de
competência das justiças especiais, verificar se a competência é da justiça comum
federal ou estadual, lembrando que será da primeira nas hipóteses do art. 109
da CF; V) Qual o foro competente, o que exige consulta ao CPC ou a lei federal
especial; VI) Qual o juízo competente, nos termos das normas estaduais de orga-
nização judiciária.
9ª) TIPO DE TUTELA COGNITIVA: CONDENATÓRIA, CONSTITUTIVA E DECLA-
RATÓRIA: Dentre as ações de conhecimento, é possível identificar três tipos fun-
damentais: a condenatória, a constitutiva e a declaratória, conforme o tipo de
tutela postulada. Nas três, pede-se sempre uma sentença: as declaratórias são
mais simples que as demais, porque nelas o juiz se limita a declarar a existência
ou inexistência de uma relação jurídica. O que se pretende obter é uma certeza
jurídica sobre algo que, até então, era fonte de dúvidas, incertezas ou insegu-

26 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

rança. A sentença declaratória não impõe obrigações’ aos litigantes, por isso não
constitui título executivo, mas torna certa uma situação jurídica que, embora já
existisse, não era reconhecida. Por exemplo: quando houver dúvida a respeito da
paternidade de alguém que queira saná-la, bastará que ajuíze ação declaratória,
na qual o juiz decidirá se, afinal, o autor é ou não filho do réu. Já a tutela consti-
tutiva é aquela cuja finalidade é modificar, constituindo ou desconstituindo, uma
relação jurídica. Um exemplo é o das ações de separação judicial ou divórcio,
que objetivam desconstituir a sociedade conjugal ou o casamento, respectiva-
mente. Tal como as ações declaratórias, as constitutivas não visam a formação
de um título executivo. Por seu intermédio, o que se busca é a modificação de
uma situação jurídica indesejada. As ações constitutivas podem ser positivas ou
negativas. As primeiras são as que criam relações jurídicas até então inexistentes;
as segundas as que as desconstituem. O que caracteriza a sentença constitutiva
é a criação de um estado jurídico distinto do anterior. Por fim, a ação condenató-
ria é aquela que visa a formação de um título executivo judicial, que atribuirá ao
autor a possibilidade de valer-se da via executiva, tornando realidade aquilo que
lhe foi reconhecido. Sua finalidade é compelir alguém ao cumprimento de uma
obrigação inadimplida. A ação condenatória tem por objetivo não a satisfação
imediata e plena do direito postulado, mas a formação de título que permita apli-
car a sanção executiva.
10ª) PROCESSO E PROCEDIMENTO: Enquanto o processo engloba todo o
conjunto de atos que se alonga no tempo, estabelecendo uma relação dura-
doura entre os personagens da relação processual, o procedimento consiste na
forma pela qual a lei determina que tais atos sejam encadeados.
11ª) NULIDADES: No processo civil, também são admitidas as nulidades abso-
lutas e relativas, mas o tratamento dado é diferente do que se dá no direito civil,
pois ambas se sanam, se tomadas as providências necessárias para isso. Todas as
nulidades processuais, em princípio, podem ser sanadas, porque o processo não
é um fim em si, mas meio para se alcançar a proteção aos direitos materiais. As
nulidades absolutas são as que decorrem de vícios relacionados com a estrutura
do processo e da relação processual. As que não dizem respeito a esses aspectos
são relativas.

grancursosonline.com.br 27
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

12ª) CAPACIDADE DE SER PARTE: É a aptidão de ser parte em um processo, de


figurar na condição de autor ou réu. Como o processo é um instrumento que visa
tornar efetivos os direitos, todos os titulares de direitos na ordem civil terão ca-
pacidade de ser parte (portanto, todas as pessoas, físicas e jurídicas). Mas o CPC
vai além, estendendo a capacidade de ser parte a alguns entes despersonaliza-
dos, que não são pessoas, porque há certas circunstâncias em que eles podem
ter necessidade de comparecer em juízo, como a massa falida, o condomínio, a
herança jacente ou vacante, o espólio e o nascituro. Mas só excepcionalmente,
quando houver previsão legal, os entes despersonalizados terão capacidade de
ser parte. O processo não poderá ter desenvolvimento válido e regular se nele
figurar alguém que não a tenha.
13ª) PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS NEGATIVOS: Para que o processo pos-
sa ser válido, é indispensável que determinadas circunstâncias estejam ausentes.
Entre elas, a coisa julgada, a litispendência, a perempção e o compromisso de
arbitragem. A presença de qualquer delas implicará a extinção do processo sem
resolução de mérito. Vale lembrar que a perempção é a perda do direito de ação
como consequência de, por três vezes anteriores, o autor ter dada causa à extin-
ção do processo, sem resolução de mérito, por abandono.
14ª) CAPACIDADE DE SER PARTE: Todas as pessoas, sem exceção, têm capa-
cidade de ser parte, porque são titulares de direitos e obrigações na ordem civil.
A regra abrange as pessoas naturais ou físicas e as jurídicas, de direito público
ou privado. O art. 75 do CPC trata da representação das pessoas jurídicas e dos
entes despersonalizados, que têm capacidade de ser parte. A lei processual es-
tende a capacidade de ser parte a alguns entes despersonalizados, por entender
conveniente para a postulação ou defesa de determinados interesses em juízo.
Conquanto eles não tenham personalidade civil, têm, ao menos, personalidade
processual. Entre outros exemplos, podem ser citados: a) Massa falida; b) Espólio;
1. c) Herança jacente e vacante; d) Condomínio; e) Sociedade sem persona-
lidade jurídica; f ) Nascituro: é aquele que, conquanto já concebido, ainda não
nasceu.

28 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

15ª) DA SUCESSÃO DAS PARTES E DOS PROCURADORES: A sucessão das


partes ou de seus procuradores, que pode ocorrer por ato Inter vivos ou mortis
causa, vem regulada nos arts. 108 a 112 do CPC. Os arts. 109 e 110 tratam da su-
cessão de partes, o primeiro por ato inter vivos e o segundo em caso de morte.
Os arts. 111 e 112 tratam da alteração de procurador, seja por vontade da parte,
seja por vontade do próprio advogado. A sucessão por ato inter vivos ocorrerá
nas hipóteses de alienação de coisa litigiosa, que, por sua importância, será estu-
dada em item próprio.
16ª) LITISCONSÓRCIO: O litisconsórcio é a pluralidade de partes no polo ati-
vo, no passivo, ou em ambos, do mesmo processo. Daí falar-se, respectivamente,
em litisconsórcio ativo, passivo e misto (ou bilateral). Haverá um único processo
com mais de um autor ou de um réu. Trata-se de fenômeno bastante comum no
processo civil, que ocorre talvez na maior parte dos processos. Litisconsórcio ne-
cessário É aquele cuja formação é obrigatória. O processo não pode prosseguir e
o juiz não pode julgar validamente, se não estiverem presentes todos os litiscon-
sortes necessários. São duas as razões para que exista. A primeira é a existência
de lei impondo a sua formação.
17ª) LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO, UNITÁRIO, SIMPLES: Litisconsórcio facul-
tativo é aquele cuja formação é opcional: no momento da propositura da deman-
da, o autor tinha a opção entre formá-lo ou não. Litisconsórcio unitário é aquele
em que a sentença forçosamente há de ser a mesma para todos os litisconsortes,
sendo juridicamente impossível que venha a ser diferente. Só existe quando, no
processo, discute-se uma relação jurídica una e incindível, como o contrato e o
casamento, que não pode desconstituir-se para um dos participantes, e não para
outro. Litisconsórcio simples é aquele em que existe a possibilidade de a sentença
ser diferente para os litisconsortes. Quando o litisconsórcio é facultativo, a sua
formação depende da vontade do autor ou autores. Quando o litisconsórcio é
necessário, não há opção do autor entre formá-lo ou não: o autor deverá incluir
todos no polo ativo ou passivo. É possível que os litisconsortes, ativos ou passi-
vos, constituam o mesmo procurador, ou procuradores diferentes. No segundo
caso, terão todos os prazos processuais para se-manifestar nos autos em dobro,
por força do art. 229 do CPC, desde que não integrantes do mesmo escritório e
que o processo não seja eletrônico, pois nesses casos o prazo será simples.

grancursosonline.com.br 29
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

18ª) INTERVENÇÃO DE TERCEIROS: O Código de Processo Civil trata de nume-


rosas hipóteses de terceiros que podem ingressar no processo em andamento. A
intervenção implicará que aquele que não figurava até então no processo passe
a figurar. Só há intervenção de terceiros se o terceiro ingressa em processo em
andamento. A denunciação da lide e o chamamento ao processo só cabem em
processo de conhecimento, porque a sua finalidade é constituir, no mesmo proces-
so, título executivo contra o terceiro, seja ele alguém em relação à qual uma das
partes tenha direito de regresso, como na denunciação, seja o afiançado ou os de-
vedores solidários, no chamamento. As demais espécies de intervenção cabem em
qualquer tipo de processo, inclusive no de execução. DAS DIVERSAS FORMAS DE
INTERVENÇÃO: Assistência: A assistência é forma típica de intervenção de terceiros,
porque pressupõe o ingresso no processo de alguém que até então não figurava.
Denunciação da lide: É forma de intervenção de terceiros, que pode ser provocada
tanto pelo autor quanto pelo réu, diversamente do chamamento ao processo, que
só pode ser requerido pelo réu. Tem natureza jurídica de ação, mas não implica a
formação de um processo autônomo. Chamamento ao processo: É forma de inter-
venção de terceiros por meio da qual o réu fiador ou devedor solidário, originaria-
mente demandado, trará para compor o polo passivo, em litisconsórcio com ele,
o afiançado ou os demais devedores solidários. Do incidente de desconsideração
da personalidade jurídica: autoriza o juiz a estender, em determinadas situações, a
responsabilidade patrimonial pelos débitos da empresa aos sócios, sem que haja a
dissolução ou desconstituição da personalidade jurídica. O amicus curiae é o tercei-
ro que, conquanto não tenha interesse jurídico próprio, que possa ser atingido pelo
desfecho da demanda em andamento, como tem o assistente simples, representa
um interesse institucional, que convém seja manifestado no processo para que,
eventualmente, possa ser considerado quando do julgamento.
19ª) MP E PROCESSO CIVIL: a intervenção do Ministério Público no processo civil,
regulamentada pelos arts. 177 a 181 do CPC. Os arts. 177 e 178 mostram que ele pode
atuar em um processo em duas qualidades: como parte ou fiscal da ordem jurídica.
Cada uma delas será examinada nos itens seguintes. COMO PARTE: O membro do
Ministério Público tem capacidade postulatória e pode propor ações no âmbito de

30 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

suas atribuições. O art. 129, III, da CF autoriza o Parquet a “promover o inquérito civil e
a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
e de outros interesses difusos e coletivos”. COMO FISCAL: A outra qualidade em que
o Ministério Público pode intervir no Processo Civil é a de fiscal da ordem jurídica. O
art. 178 do CPC enumera em três incisos um rol apenas exemplificativo, quais são as
hipóteses: Quando houver interesse público ou social; Quando houver interesse de in-
capazes; Nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e urbana.
20ª) O CPC dá excepcional importância à SOLUÇÃO CONSENSUAL DOS
CONFLITOS. Dentre outras, há duas providências determinadas pelo legislador,
que visam diretamente facilitar e favorecer a autocomposição. A primeira delas
é a instituição de uma audiência de tentativa de conciliação já no início do pro-
cedimento comum, antes que o réu tenha oportunidade de oferecer resposta. A
segunda é a inclusão de mediadores e conciliadores como auxiliares da justiça.
Determina o art. 165, caput, do CPC que os tribunais criarão centros judiciários
de solução consensual de conflitos, a quem competirão duas tarefas essenciais: a
de realizar as sessões e audiências de conciliação e mediação; e a de desenvolver
programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. O art.
165, §§ 2º e 3º, esclarece a atuação do conciliador e do mediador. O primeiro atua
preferencialmente em casos em que não houver vínculo anterior entre as partes;
e o segundo, quando houver esse vínculo. É ele que determinará a atuação de
mediador ou de conciliador.
21ª) PRINCÍPIOS DA CONCILIAÇÃO, CONCILIADOR E MEDIADOR: são princí-
pios fundamentais que regem a atuação de conciliadores e mediadores judiciais:
confidencialidade, decisão informada, competência, imparcialidade, independên-
cia e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes, empoderamento e
validação.
I – Confidencialidade- dever de manter sigilo sobre todas as informações ob-
tidas na sessão, salvo autorização expressa das partes, violação à ordem pública
ou às leis vigentes, não podendo ser testemunha do caso, nem atuar como ad-
vogado dos envolvidos, em qualquer hipótese;
II – Decisão informada – dever de manter o jurisdicionado plenamente infor-
mado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido;

grancursosonline.com.br 31
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

III  – Competência – dever de possuir qualificação que o habilite à atuação


judicial, com capacitação na forma desta Resolução, observada a reciclagem pe-
riódica obrigatória para formação continuada;
IV – Imparcialidade – dever de agir com ausência de favoritismo, preferência
ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no
resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e
jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente;
V – Independência e autonomia- dever de atuar com liberdade, sem sofrer
qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou in-
terromper a sessão se ausentes as condições necessárias para seu bom desenvol-
vimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou inexequível;
VI – Respeito à ordem pública e às leis vigentes – dever de velar para que
eventual acordo entre os envolvidos não viole a ordem pública, nem contrarie as
leis vigentes;
VII – Empoderamento – dever de estimular os interessados a aprenderem a
melhor resolverem seus conflitos futuros em função da experiência de justiça vi-
venciada na autocomposição;
VIII – Validação- dever de estimular os interessados perceberem-se recipro-
camente como serem humanos merecedores de atenção e respeito”. O art. 167
do CPC cuida de recrutamento de conciliadores e mediadores. Não se exige que
sejam advogados, nem que tenham bacharelado em direito. Caso o conciliador
ou mediador seja advogado, ele e a sociedade de advogados a que pertence
(Enunciado 60 da ENFAM) ficarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos
em que desempenhem as suas funções. O art. 168 faculta às partes, de comum
acordo, escolher o conciliador ou o mediador. O art. 169 estabelece que o conci-
liador e o mediador fazem jus à remuneração, conforme tabela fixada pelos tribu-
nais, observados os parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça.
O art. 174 prevê que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criem
câmaras de mediação e conciliação para a solução consensual de conflitos no
âmbito administrativo.
Bem pessoal… Acredito que com essas dicas vocês terão condições de fomen-
tar os seus estudos para enfrentar a 1ª fase do Exame de Ordem.
ESTUDAR E TRANSFORMAR!

32 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

OBRAS CONSULTADAS PARA ELABORAÇÃO DO PRESENTE RESUMO:

• Novo Código de Processo Civil Comentado, José Miguel Garcia Medina,


2015.
• Novo Código de Processo Civil Anotado, ESA/OAB-RS, 2015.
• Novo Código de Processo Civil Anotado, Cassio Scarpinella Bueno, 2015.
• Novo Código de Processo Civil Comparado, Elpídio Donizete, 2015.
• Novo Código de Processo Civil anotado e Comparado para Concursos, Si-
mone D. Figueiredo, 2015.

Eduardo Galante – Mestre em Direito pela Universi-


dade São Carlos, mestrando em Educação pela Univer-
sidade da Cidade de São Paulo – UNICID, especialista
em Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito Consti-
tucional, Direito Administrativo e em Direito Penal pela
Faculdade Processus. Graduado em Direito e em Se-
cretariado. Professor de cursos de pós-graduação e de
graduação em faculdades de Brasília, tendo ministrado
disciplinas, como: Direito Civil, Direito Processual Civil,
entre outras. Ministra cursos preparatórios para concursos públicos e para o Exa-
me da Ordem. É professor em cursos de extensão e de atualização na área jurí-
dica. Palestrante, instrutor e consultor para certames públicos. Servidor Público
há 25 anos.

grancursosonline.com.br 33
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO ADMINISTRATIVO:
PROFESSOR GUSTAVO SCATOLINO

Caros examinandos e examinandas,


Daremos continuidade a Regressiva “100 dias para a OAB” com dicas impor-
tantes para o estudo do Direito Administrativo:

SEGURANÇA JURÍCIA, CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E REGISTRO


DE APOSENTADORIA PERANTE O TRIBUNAL E CONTAS

O princípio visa a dar maior estabilidade às relações jurídicas, mesmo àquelas


que a princípio apresentam ilegalidade.
Como a sociedade prefere a segurança das relações jurídicas, ao invés da sua
instabilidade, houve a fixação do prazo decadencial de 5 anos, salvo comprovada
má-fé, para a Administração anular seus atos, conforme prevê o art. 54, da Lei n.
9.784/99. Dessa forma, após 5 anos da edição de um ato administrativo, mesmo
havendo ilegalidade nesse ato, não há mais, salvo comprovada má-fé, possibili-
dade de a Administração corrigir esse ato através da anulação.
Segundo Almiro Couto e Silva, à medida que o tempo vai passando, eventuais dú-
vidas sobre a legalidade do ato administrativo vão, gradativamente, perdendo relevo
diante da crescente e sempre mais robustecida confiança na sua legalidade.1
Questão que merece análise detalhada se refere ao prazo para registro de
aposentadoria perante o TCU. Conforme a súmula vinculante n. 3, do STF, “nos
processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e
a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade
do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão”.

1 SILVA, Almiro e Couto. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no Direito Público Brasileiro e do direito da
Administração Pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo
Administrativo da União (Lei n. 9.784/99). In: Revista Brasileiro de Direito Público – RBDP, Belo Horizonte, ano 2, n. 6, p.
48-49, jul./set., 2004.

34 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

De acordo com essa súmula, na análise pelo TCU de processos que ele deva
fazer o registro se for resultar em determinação de anulação ou revogação, pri-
meiro deve se conferir ao interessado a oportunidade para o exercício do con-
traditório e ampla defesa, antes da referida anulação ou revogação. Entretanto, a
súmula faz exceção ao registro inicial de aposentadoria, reforma e pensão. Nes-
ta hipótese não haverá direito ao contraditório e da ampla defesa perante o TCU
O STF entende que o registro de aposentadoria é ato complexo. Sendo
assim, só está realmente formado o ato com a conjugação da vontade dos dois
órgãos (órgão do servidor e TCU). Enquanto o servidor tem a concessão de
aposentadoria apenas perante seu órgão de origem, esse ato ainda não está
formado, pois apenas com o registro perante o TCU é que estará finalizado.2 Na
verdade, o TCU não aprova um ato já pratica, mas sim participa da própria for-
mação do ato, que só estará finalizado com a aquiescência da Corte de Contas.
Assim, o TCU não está submetido ao prazo de 5 anos para fazer o
registro da aposentadoria. Esse é o entendimento que prevalece no STF, mas
veremos que o Supremo Tribunal Federal possui alguns acórdãos (MS n. 24.448
e 25.116) no sentido de que o TCU tem que fazer o registro dentro de um prazo
razoável, posição que, em alguns casos, já vem sendo perfilhada pelo STJ.
Entretanto, deve-se ter atenção. O TCU não está submetido ao prazo de 5
anos para o registro de aposentadoria, que se trata de ato complexo, mas para
outros atos que não têm essa natureza está esse Tribunal sujeito ao prazo de-
cadencial, a exemplo de atos que concedem incorporação de gratificação ou
adicional.
No Mandado de Segurança n. 26.117/DF, Relator Min. Eros Grau, o STF enten-
deu que se operou a decadência para anulação do ato pelo TCU. Tratava-se de
ascensão funcional interna de servidor no órgão de lotação em que o órgão de
controle somente julgou as contas depois de mais de 10 anos. Entendeu-se que
não consubstancia ato complexo a ascensão funcional.

2 Apesar do STF entender que o registro de aposentadoria é ato complexo, entendemos que seria caso de ato composto, pois
o ato do TCU apenas aprova, confirma outro ato. Entretanto, para fins de concurso deve ser adotada a posição do STF
no sentido de que é ato complexo.

grancursosonline.com.br 35
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Em outro julgado proferido pelo STF, entendeu-se que o ato de revisão de


aposentadoria também está sujeito ao prazo decadencial de 5 anos. Após o aper-
feiçoamento da aposentadoria, que ocorre com o registro perante o TCU, esse
Tribunal tem o prazo de 5 anos para fazer a revisão do ato de concessão inicial.
E, ainda, deve conceder contraditória e ampla defesa previamente.
Dissemos, anteriormente, que o STF tem posição no sentido de que o TCU
não deve garantir o contraditório e a ampla defesa, se resolver negar registro
de aposentadoria, conforme entendimento da súmula vinculante número 3.
Entretanto, um novo paradigma vem sendo traçado no Supremo, exigindo a ob-
servância desses princípios quando o TCU não analisa o registro inicial em tempo
razoável3. Tem-se adotado como período razoável para análise do ato o prazo de
5 anos, entre a concessão do ato e o registro pela Corte de Contas, em razão do
art. 54, da Lei n. 9.784/99. É o que se depreende da seguinte decisão:
A inércia da Corte de Contas, por sete anos, consolidou, de forma positiva,
a expectativa da viúva, no tocante ao recebimento de verba de caráter alimentar.
Este aspecto temporal condiz, intimamente, com o princípio da segurança jurídica,
projeção objetiva do princípio da dignidade da pessoa humana e elemento concei-
tual do Estado de Direito. O prazo de cinco anos é de ser aplicado aos processos
de contas que tenham por objeto o exame de legalidade dos atos concessivos de
aposentadorias, reformas e pensões. Transcorrido in albis o interregno quinquenal,
é de se convocar os particulares para participar do processo de seu interesse, a fim
de desfrutar das garantias do contraditório e da ampla defesa (inciso LV, do art. 5º)
(MS 24.448/DF, DJ 14/11/2007, Informativo 488). (ver também MS 25116)4
Em outro julgado, proferido pelo PLENO do STF, decidido por maioria (infor-
mativo 599), foi concedido o mandado de segurança para anular acórdão do TCU,
para o fim de ser assegurada a oportunidade do uso das garantias constitucionais
do contraditório e da ampla defesa. Na situação dos autos, a Corte de Contas ne-
gara registro a ato de aposentadoria especial de professor, por considerar indevido

3 O termo a quo do prazo de 5 anos para que o Tribunal de Contas da União – TCU examine a legalidade dos atos concessivos
de aposentadorias, reformas e pensões, conta-se a partir da data de chegada do processo administrativo na própria Corte
de Contas. MS 24781/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 2.3. 2011. (MS-24781) – Infor-
mativo n. 618 STF.
4 REsp 1098490/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 05/03/2009, DJe 27/04/2009

36 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

o cômputo de serviço prestado sem contrato formal e sem o recolhimento das


contribuições previdenciárias. Não obstante admitindo o fato de que a relação jurí-
dica estabelecida no caso se dá entre o TCU e a Administração Pública, o que, em
princípio, não reclamaria a audição da parte diretamente interessada, entendeu-se,
tendo em conta o longo decurso de tempo da percepção da aposentadoria até a
negativa do registro (cinco anos e oito meses), haver direito líquido e certo do im-
petrante de exercitar as garantias do contraditório e da ampla defesa. Salientou-se
a necessidade de se fixar um tempo médio razoável a ser aplicado aos processos
de contas cujo objeto seja o exame da legalidade dos atos concessivos de aposen-
tadorias, reformas e pensões, e afirmou-se poder se extrair, dos prazos existentes
no ordenamento jurídico brasileiro, o referencial de cinco anos.
Essa é a nova orientação que vem se firmando no STF, no sentido de se con-
ceder direito ao contraditório e da ampla defesa, quando a anulação do ato de
aposentadoria ocorre depois de tempo razoável de sua concessão: em média, 5
anos.
Sob esse fundamento, o Supremo aplicou orientação firmada no MS 25.116/DF
(v. Informativo 599) para anular acórdão do TCU, a fim de ser assegurada a opor-
tunidade do uso das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Tratava-se, na espécie, de mandado de segurança impetrado contra atos do TCU
e do Coordenador-Geral de Recursos Humanos do Ministério dos Transportes,
que implicaram no cancelamento da pensão especial percebida pela impetrante.
Tendo em conta que ela vinha recebendo a pensão há quase 10 anos, de forma
ininterrupta, entendeu-se que o seu benefício não poderia ter sido cessado, sem
que lhe fosse oportunizada manifestação. Vencidos os Ministros Celso de Mello
e Cezar Peluso, Presidente, que concediam a ordem totalmente, pronunciando
a decadência, e os Ministros Ellen Gracie e Marco Aurélio que a denegavam. MS
25403/DF, rel. Min. Ayres Britto, 15.9.2010. (MS-25403-Informativo 600).
Assim, percebe-se que, paulatinamente, o STF vem desenhando um novo mo-
delo sobre a garantia do direito ao contraditório e da ampla defesa nos atos de
anulação de aposentadoria, reforma ou pensão. Em razão dessa nova orientação,
que vem se consolidando no STF, inevitavelmente a súmula vinculante n. 3 deverá
ter sua redação alterada, ou, até mesmo, será objeto de cancelamento.

grancursosonline.com.br 37
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Por fim, não podemos deixar de fazer a crítica referente à edição de súmulas
vinculantes, sem debate aprofundado sobre o tema; assim como aconteceu com
a súmula vinculante n. 13, que dispõe sobre o nepotismo, entre outras. Novamen-
te sem examinar diversos precedentes antes de consolidar o entendimento, o STF
edita súmula que já não é mais aplicada conforme está disposta.
Na sua prova, então, atenção

Regra 1 Direito ao contraditório e ampla defesa no TCU


TCU deve observar prazo de 5 anos na análise dos atos adminis-
Regra 2
trativos
Concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão TCU não
precisa conceder contraditório e ampla defesa previamente,
Obs 1!
SALVO se entre a data da concessão pelo órgão e registro pelo
TCU decorreu prazo maior do que 5 anos.
Na revisão da concessão inicial tem que observar prazo de 5 anos
Obs 2!
e contraditório e ampla defesa previamente.
Havendo má-fé não há que se falar em prazo de 5 anos (art. 54,
Obs 3!
Lei n. Lei n. 9.784/99)

Gustavo Scatolino – Atualmente é Procurador da Fa-


zenda Nacional. Bacharel em Direito e Pós-graduado
em Direito Administrativo e Processo Administrativo.
Ex-Assessor de Ministro do STJ. Aprovado em vários
concursos públicos, dentre eles, Analista Judiciário do
STJ, exercendo essa função durante 5 anos, e Procura-
dor do Estado do Espírito Santo.

38 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO AMBIENTAL: PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, Futuro advogado.


Quinta-feira é dia de dicas de Direito Ambiental!!!
Preparado (a)? Então vamos lá!!!

DICA 01 – MARCOS HISTÓRICOS E PRINCÍPIOS

Eis os dois marcos históricos que costumeiramente são objeto de questionamen-


tos por examinadores: a Conferência de Estocolmo (Suécia) – 1972 e a Decla-
ração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) – 1992.
Em Estocolmo, consagrou-se o princípio da prevenção, com a ideia de de-
senvolvimento sustentável. Já no Rio de Janeiro, vinte anos após, importante foi a
previsão do princípio da precaução.
Pelo Princípio da Prevenção, procura-se evitar o risco de uma atividade
sabidamente danosa e evitar efeitos nocivos ao meio ambiente.
Já com base no Princípio da Precaução, procura-se evitar o risco de perigo
de uma atividade. Assim, quando há perigo de dano grave e irreversível, a falta
de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para postergar
a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do meio ambiente.

DICA 02 – CONCEITOS – DEVERES DO ESTADO

Nas provas de Direito Ambiental, as questões, quase em sua totalidade, ver-


sam sobre conceitos, características, requisitos e prazos. Dentre os conceitos, se-
guem os relacionados aos deveres do Estado:
• Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas: lidar com as espécies e conservá-las,
e, se possível, recuperá-las.
• Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fis-
calizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.
• Definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

grancursosonline.com.br 39
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a


supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.
• Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade.
• Controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos
e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o
meio ambiente.
• Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a cons-
cientização pública para a preservação do meio ambiente; Intervenção na
atividade privada.
• Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que colo-
quem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade.
• Impor ao minerador a responsabilidade de recuperação da área
• Proteger microrregiões: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Serra do Mar,
Pantanal Mato-grossense e Zona Costeira.
• Controlar usinas nucleares.

DICA 03 – ZONEAMENTO

O Zoneamento é um instrumento para a efetivação da Política Nacional do


Meio Ambiente, consubstanciado em repartição do território em zonas, com vis-
tas ao uso sustentável dos recursos naturais, segundo critérios a serem respeita-
dos por particulares e pela Administração Pública.
Sobre o tema, de leitura obrigatória é a Lei n. 10. 257/2001, que, em seu art.
41, estabelece a obrigatoriedade do plano diretor para as cidades que se enqua-
drarem nas hipóteses que se seguem:
• com mais de vinte mil habitantes;
• integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
• onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos

40 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

no 4º do art. 182 da Constituição Federal;


• integrantes de áreas de especial interesse turístico;
• inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com sig-
nificativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional; ou
• incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocor-
rência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou pro-
cessos geológicos ou hidrológicos correlatos.

Bons estudos!

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em 2005,
como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo expe-
riência na área técnica, e, desde 2006, é Delegado de
Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Especiali-
zadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará), na Re-
pressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na Repres-
são a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Núcleo de
Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela formação
profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático para a
Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para autori-
dades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gradua-
ção. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências Foren-
ses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

grancursosonline.com.br 41
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO CIVIL:
PROFESSORA ROBERTA QUEIROZ

Oi amores…
Vamos hoje conversar um pouco sobre nossa prova da 1ª fase da OAB???
Precisamos conversar sobre alguns temas de pessoa natural que devem estar
sempre no coração …
Vamos enfrentar essa prova juntos, de mãos dadas…
Sabe o que pode ser interessante para sua prova?! Olha só…

SISTEMA DE INCAPACIDADES NO CC APÓS ESTATUTO DA PESSOA


COM DEFICIÊNCIA

A lei n. 13.146/15 instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência –


o Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Essa lei trouxe várias alterações no Código Civil, em especial no que tange ao
sistema de incapacidades.
Você sabia que a regra é a capacidade das pessoas naturais? É, a incapacida-
de é algo excepcional que depende previsão legal.
O Código Civil trabalha essa questão no artigo 3º e artigo 4º, respectivamen-
te, absolutamente e relativamente incapazes.
A redação do Código Civil antes do EPD estabelecia:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da


vida civil:
I – os menores de dezesseis anos;
II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos;
III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os
exercer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

42 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência men-


tal, tenham o discernimento reduzido;
III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV – os pródigos.

Tal redação sofreu alteração relevante e passamos a ter:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da


vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exer-
cer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II – os ébrios habi-
tuais e os viciados em tóxico;
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem expri-
mir sua vontade;
IV – os pródigos.

Assim, hoje, o único absolutamente incapaz que temos é o menor de 16 anos.


Podemos afirmar que o somente quem tem incapacidade natural é absolutamen-
te incapaz.
Ah, e a pergunta que não quer calar é: o relativamente incapaz pode praticar
algum ato sem assistência do seu representante e este ato ser válido?
A resposta é SIM! O relativamente pode ser, por exemplo, testemunha (artigo
228, CC), pode aceitar mandato (artigo 666, CC); pode fazer testamento (artigo
1860, CC), pode ser responsabilizado pelos danos causados no âmbito da res-
ponsabilidade civil (artigo 928, CC), etc…

EMANCIPAÇÃO

Sabemos que a emancipação pode ser VOLUNTÁRIA, JUDICIAL ou LEGAL


Quanto à emancipação voluntária, esta é concedida pelos pais, diretamente
no cartório, mediante escritura pública irretratável.

grancursosonline.com.br 43
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Em relação ao tema, tenha cuidado, pois a súmula 358 do STJ diz que o can-
celamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à
decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. Ou seja,
não adianta emancipar o menor, vai continuar pagando alimentos até uma pos-
sível exoneração por decisão judicial.
Outro ponto interessante é sobre a responsabilidade civil dos pais em relação
aos atos praticados por seus filhos emancipados. Nas lições sempre preciosas de
Carlos Roberto Gonçalves, seguindo a antiga jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, a emancipação voluntária não se reveste, como as demais espécies, do
efeito de isentar os pais da obrigação de reparar as vítimas dos atos ilícitos prati-
cados pelo menor emancipado, sendo forma de evitar emancipações maliciosas.

MORTE

Observe que a morte pode ser real, conforme resoluções do CFM – resolu-
ções 1480/97 e 1826/2007 do CFM, tem como critério científico a parada da fun-
ção encefálica, conhecida como morte cerebral.
Contudo, há a morte presumida, sem corpo presente. Essa morte pode acon-
tecer de duas formas: com ou sem declaração de ausência. Em verdade, haverá
morte com prévia declaração de ausência quando o sujeito ausente desaparecer
de seu domicílio sem deixar notícias. Assim, essa morte exige, antes de sua de-
claração, um período de “não presença” e “não notícias”. A lei não traz o tempo
exato de desaparecimento.
Entretanto, há a morte presumida sem declaração de ausência sempre que,
mesmo sem corpo presente, é possível e provável a morte do sujeito. Esta, inclu-
sive, foi o tema de questão da OAB. Veja que ocorre a incidência do artigo 7º do
CC, vejamos:
Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I – se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for en-
contrado até dois anos após o término da guerra.

44 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente


poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento.
No Brasil, de acordo com a Lei de Registro Público, nenhum sepultamento
será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída
após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, e, se não
houver, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a
morte.
Já tivemos várias questões envolvendo o tema em sede exame de ordem, olha só:
(FGV) Raul, cidadão brasileiro, no meio de uma semana comum, desaparece
sem deixar qualquer notícia para sua ex-esposa e filhos, sem deixar cartas ou
qualquer indicação sobre seu paradeiro. Raul, que sempre fora um trabalhador
exemplar, acumulara em seus anos de labor um patrimônio relevante. Como Raul
morava sozinho, já que seus filhos tinham suas próprias famílias e ele havia se
separado de sua esposa 4 (quatro) anos antes, somente após uma semana seus
parentes e amigos deram por sua falta e passaram a se preocupar com o seu
desaparecimento. Sobre a situação apresentada, assinale a opção correta.
a) Para ser decretada a ausência, é necessário que a pessoa tenha desapare-
cido há mais de 10 (dez) dias. Como faz apenas uma semana que Raul desapa-
receu, não pode ser declarada sua ausência, com a consequente nomeação de
curador.
b) Em sendo declarada a ausência, o curador a ser nomeado será a ex-esposa
de Raul.
c) A abertura da sucessão provisória somente se dará ultrapassados três anos
da arrecadação dos bens de Raul.
d) Se Raul contasse com 85 (oitenta e cinco) anos e os parentes e amigos já
não soubessem dele há 8 (oito) anos, poderia ser feita de forma direta a abertura
da sucessão definitiva.

grancursosonline.com.br 45
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITOS DE PERSONALIDADE

Pessoal, o tema de direitos de personalidade é sempre muito recente. São


direitos que protegem características inerentes à pessoa; recaem sobre atributos
naturais e suas projeções sociais.
Com a constitucionalização do Direito Civil, hoje, temos que os direitos de
personalidade integram um MOVIMENTO DE REPERSONALIZAÇÃO, uma CLÁU-
SULA GERAL DE PROTEÇÃO, identificada a partir de alguns pilares, como a Inte-
gridade física: vida, corpo, partes do corpo; Integridade intelectual: liberda-
de pensamento, autorias científicas e artísticas; Integridade moral: intimidade,
vida privada, honra, imagem e nome, como ensina nosso glorioso professor Cris-
tiano Chaves.
Nesse sentido, recorde-se que os direitos de personalidade possuem como
características:
1. Absolutos: são oponíveis erga omnes. Veja que não é no sentido de re-
lativos, pois nada impede que um direito de personalidade sofra relativização
quando em conflito com outro de mesma hierarquia.
2. Inatos: inerentes à condição humana. Foram feitos pelo homem e para o
homem.
3. Extrapatrimonias: o conteúdo, essência não tem valor econômico, pecu-
niário. Os direitos de personalidade não têm estimativa econômica, mas a viola-
ção a um direito de personalidade gera indenização, gera reparação pecuniária.
A indenização por danos morais é a reparação por essa violação.
A natureza do dano moral é de compensação e não de restituição, haja vista
que não há o que se restituir.
4. Impenhoráveis: isso significa que não se admite constrição judicial sobre
direitos da personalidade. Cuidado, pois é possível penhorar a indenização de-
corrente da violação, pois esta tem natureza patrimonial.
5. Imprescritíveis: não há prazo extintivo para o exercício de um direito de
personalidade. Ninguém sofre a perda de um direito de personalidade pelo não
uso. Veja que existe prazo prescricional para reclamar a indenização.

46 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

6. Vitalícios: o que é vitalícios extinguem-se com a morte do titular, o perpé-


tuo são os direitos que se transmitem com a morte, são os direitos reais. O pro-
blema é o artigo 943 que diz o direito de exigir reparação se transmite-se com a
herança, desde que não tenha ocorrido a prescrição.
É possível proteção dos direitos de personalidade para após a morte???
Sim, e a resposta está em dois artigos do Código Civil:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da persona-
lidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas
em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a
medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente
em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça
ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão
da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indeni-
zação que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilida-
de, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815)
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas
para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

As pessoas descritas nesses dispositivos estão inseridas em um rol exemplifi-


cativo, segundo orientação da melhor doutrina.

NOME DA PESSOA NATURAL

Já que falamos um pouco de direitos de personalidade, vamos tecer algumas


considerações sobre o nome?
O nome goza de proteção no artigo 16 do CC, que, por sua vez, define que
“Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobre-
nome.”

grancursosonline.com.br 47
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

O nome da pessoa natural é um dos elementos mais sensíveis ligados à iden-


tificação da pessoa. No nome é composto por alguns elementos, vejamos:
a) Prenome é o nome de batismo, nome próprio da pessoa, tem como fun-
ção a distinção de membros da própria família, podendo ser simples (João, José)
ou composto (Carlos Eduardo, Pedro Henrique). É escolhido pelos pais, mas a
Lei n. 6.015 /73, lei de registro público, estabelece que os oficiais do registro civil
não registrem nomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Assim,
quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, poderão recorrer ai
judiciário para solução do impasse.
b) Sobrenome, também conhecido como apelido familiar ou patronímico,
é o sinal que identifica a origem da pessoa, de forma a indicar sua filiação ou
estirpe, motivo pelo qual não pode ser escolhido livremente. É característico da
família sendo, assim, transmissível por sucessão.
Por fim, recorde-se que existe a possibilidade de aquisição de patronímico
familiar mediante um ato jurídico, como nos casos de adoção e casamento.
c) Agnome tem a função de diferenciar pessoas da mesma família que pos-
suem o mesmo prenome e sobrenome. São nomes do tipo Filho, Neto, Sobrinho,
ou ainda Segundo, Terceiro.
Cuidado: o pseudônimo, conhecido como codinome ou heterônimo, é esco-
lhido pelo próprio indivíduo, que escolhe tal designação para se identificar em
seu meio profissional.

Para sua prova, importante destacar três dispositivos do Código:

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em pu-
blicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda
quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que
se dá ao nome.

48 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Mas professora, é possível alterar o nome???


Sim, sim, é possível… O prenome pode ser alterado quando expõe o sujeito
ao ridículo (artigo 55 LRP); registrado com erro gráfico evidente (artigo 110 LRP);
quando houver fundada coação ou ameaça de testemunha (artigo 58 LRP); subs-
tituição por apelidos notórios (artigo 58 LRP); adoção (artigo 1627 CC); imotiva-
damente ao completar 18 anos pelo período de um ano decadencial (artigo 56
LRP).

Roberta Queiroz – Graduada em Direito pela Univer-


sidade Católica de Brasília em dezembro de 2005; Es-
pecialista em Direito Processual Civil pela Universidade
do Sul de Santa Catarina em novembro de 2009; Mes-
tranda em Direito pela Universidade Católica de Brasí-
lia, com enfoque em direito público; docente nas disci-
plinas de Direito Civil, Direito Processual Civil e Direito
Administrativo desde 2007; docente titular do curso de
Direito da Universidade Católica de Brasília; professora
de cursos preparatórios para concursos; advogada atuante na área de direito
privado e direito administrativo desde 2006.

grancursosonline.com.br 49
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO INTERNACIONAL: PROFESSOR LUCIANO FAVARO

Olá Examinandos(as),
O artigo de hoje contém a 1ª parte das dicas de Direito Internacional. Bons
estudos!

DICAS – DIREITO INTERNACIONAL – PARTE I

1) Principais regras de conexão para solução de conflitos de lei no


Espaço:

1.1) Começo e fim da personalidade; nome; capacidade e direitos de família:


lei do domicílio;
1.2) Qualificar e reger as obrigações: lei do país em que as obrigações se
constituírem. Em síntese, trata-se do local da assinatura;

Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de


forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei
estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

Fique atento(a): esta regra já foi cobrada várias vezes no Exame de Ordem.
Veja, por exemplo, a questão cobrada no VI Exame, aplicado em Duque de Caxias:
Uma sociedade brasileira, sediada no Rio de Janeiro, resolveu contratar uma
sociedade americana, sediada em Nova York, para realizar um estudo que lhe per-
mitisse expandir suas atividades no exterior, para poder vender seus produtos no
mercado americano. Depois de várias negociações, o representante da sociedade
americana veio ao Brasil, e o contrato de prestação de serviços foi assinado
no Rio de Janeiro. Não há no contrato uma cláusula de lei aplicável, mas alguns
princípios do UNIDROIT foram incorporados ao texto final. Por esse contrato, o

50 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

estudo deveria ser entregue em seis meses. No entanto, apesar da intensa troca
de informações, passados 10 meses, o contrato não foi cumprido. A sociedade
brasileira ajuizou uma ação no Brasil, invocando a cláusula penal do contrato, que
previa um desconto de 10% no preço total do serviço por cada mês de atraso. A
sociedade americana, na sua contestação, alegou que a cláusula era inválida se-
gundo o direito americano. Conforme a Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, qual é a lei material que o juiz deverá aplicar para solucionar a causa?
1. a) A lei brasileira, pois o contrato foi firmado no Brasil.
2. b) A lei americana, pois o réu é domiciliado nos Estados Unidos.
3. c) Os princípios do UNIDROIT, porque muitas cláusulas foram inspiradas
nessa legislação.
4. d) A Lex Mercatoria, porque o que rege o contrato internacional é a prática
internacional.
Explicando: no caso desta questão verifica-se que o contrato foi assinado no
Rio de Janeiro. Assim, a lei de direito material aplicável para reger o contrato, será
a lei brasileira. Isso não é pelo fato de a sociedade contratante ser brasileira, mas
sim pelo fato de o contrato ter sido celebrado no Brasil. Portanto, alternativa “a”
o gabarito.
No III Exame de Ordem aplicaram uma questão muito similar que cobrava a
mesma regra, a saber:
Em junho de 2009, uma construtora brasileira assina, na Cidade do Cabo,
África do Sul, contrato de empreitada com uma empresa local, tendo por ob-
jeto a duplicação de um trecho da rodovia que liga a Cidade do Cabo à capital
do país, Pretória. As contratantes elegem o foro da comarca de São Paulo
para dirimir eventuais dúvidas. Um ano depois, as partes se desentendem
quanto aos critérios técnicos de medição das obras e não conseguem chegar a
uma solução amigável. A construtora brasileira decide, então, ajuizar, na justiça
paulista, uma ação rescisória com o objetivo de colocar termo ao contrato. Com
relação ao caso hipotético acima, é correto afirmar que:
1. a) o Poder Judiciário brasileiro não é competente para conhecer e julgar a
lide, pois o foro para dirimir questões em matéria contratual é necessariamente o
do local onde o contrato é assinado.
2. b) o juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá basear sua

grancursosonline.com.br 51
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

decisão na legislação sul-africana, pois os contratos se regem pela lei do local de


sua assinatura.
3. c) o juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá basear sua
decisão na legislação brasileira, pois um juiz brasileiro não pode ser obrigado a
aplicar leis estrangeiras.
4. d) o juiz brasileiro poderá conhecer e julgar a lide, mas deverá se basear na
legislação brasileira, pois em litígios envolvendo brasileiros e estrangeiros aplica-se
a lex fori.
Explicando: verifique que, nesse caso, o contrato foi assinado na Cidade do
Cabo, AFS. Aqui há um elemento a mais, uma vez que se estipulou o foro com-
petente para analisar eventual litígio. O foro competente eleito foi o de São Paulo
(poderia ter sido eleito outro foro ou, até mesmo, uma arbitragem, por exemplo).
Uma vez levado o questionamento ao juiz de São Paulo, este deverá aplicar a
legislação sul-africana, pois o contrato foi celebrado na África do Sul. Interessante
que no XX Exame, a FGV cobrou uma questão similar a essa, alterando-se, uni-
camente, os dados.
Dessa questão poderia advir outro questionamento. Um juiz brasileiro pode
mesmo aplicar uma lei alienígena (estrangeira)? A resposta é sim. Vide o artigo
376 NCPC: “A parte que alegar direito municipal, estadual, ESTRANGEIRO ou
consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar”. Esse
artigo é de redação idêntica ao do artigo 336 CPC/1976.
Fique ligado(a): Admite-se foro de eleição pelas partes contratantes nos
contratos comerciais, uma vez que não há vedação na Lei de Introdução às Nor-
mas do Direito Brasileiro – LINDB.
Veja, inclusive, que nos termos do artigo 25 do novo CPC, “não compete à
autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando
houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacio-
nal, arguida pelo réu na contestação, exceto se se tratar de uma cláusula de foro
vedada pelo ordenamento em virtude de ser competência exclusiva do Poder
Judiciário brasileiro (vide artigo 23 NCPC)
1.3) Ato ilícito extracontratual: lei do local da realização do ato ilícito

52 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

1.4) Qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes: lei do país


em que localizado o bem;
1.5) Impedimento dirimentes e formalidades da celebração de casamento
realizado no Brasil: lei do Brasil;
1.6) Regime de bens (legal ou convencional) / Invalidade do matrimônio:
obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diver-
so, a do PRIMEIRO DOMICÍLIO CONJUGAL;
1.7) Sucessão por morte ou por ausência: obedece à lei do país em que do-
miciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação
dos bens.

Art. 5º, XXXI CF/88: a sucessão de bens de estrangeiros situados no país


será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos bra-
sileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”;

2) Competência Internacional:

A competência da justiça brasileira frente aos tribunais estrangeiros pode ser


concorrente ou exclusiva.
• Concorrente: artigo 21 e 22 NCPC. Na competência concorrente o juiz
brasileiro poderá conhecer e julgar a causa, mas nada impossibilita que
uma autoridade estrangeira julgue a demanda e posteriormente seja reco-
nhecida a sentença estrangeira em nosso ordenamento mediante a
homologação pelo STJ.

Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as


ações em que:
I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

grancursosonline.com.br 53
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.


Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada
no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar
as ações:
I – de alimentos, quando:
1. a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
2. b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de
bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicí-
lio ou residência no Brasil;
III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição
nacional.
• Exclusiva: artigo 23 NCPC. Na competência exclusiva, o juiz brasileiro de-
verá conhecer e julgar a demanda e, caso uma demanda, com o mesmo
assunto, seja julgada no exterior, nenhum efeito poderá produzir no Brasil.
Entenda: ela não será homologada pelo STJ.

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer


outra:
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamen-
to particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o
autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do
território nacional;
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder
à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

Fique atento(a): este artigo tinha redação similar ao antigo artigo 89 CPC/76.
Foi, no entanto, inserido o inciso III. Esse inciso, inclusive, já foi objeto de cobrança

54 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

no XX Exame. Veja a seguinte questão:


Lúcia, brasileira, casou-se com Mauro, argentino, há 10 anos, em elegante
cerimônia realizada no Nordeste brasileiro. O casal vive atualmente em Buenos
Aires com seus três filhos menores. Por diferenças inconciliáveis, Lúcia pretende
se divorciar de Mauro, ajuizando, para tanto, a competente ação de divórcio, a
fim de partilhar os bens do casal: um apartamento em Buenos Aires/Argentina e
uma casa de praia em Trancoso/Bahia. Mauro não se opõe à ação. Com relação
à ação de divórcio, assinale a afirmativa correta.
1. a) Ação de divórcio só poderá ser ajuizada no Brasil, eis que o casamento
foi realizado em território brasileiro.
2. b) Caso Lúcia ingresse com a ação perante a Justiça argentina, não poderá
partilhar a casa de praia.
3. c) Eventual sentença argentina de divórcio, para produzir efeitos no Brasil,
deverá ser primeiramente homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
4. d) Ação de divórcio, se consensual, poderá ser ajuizada tanto no Brasil
quanto na Argentina, sendo ambos os países competentes para decidir acerca da
guarda das criança e da partilha dos bens.
Explicando: Nos termos do artigo 23, III, do novo CPC, preconiza-se que
compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra em
divórcio (…) proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja
de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Assim, atinente aos bens localizados no Brasil, apenas (competência exclu-
siva) o juiz brasileiro será competente para proceder à partilha. Desse modo, a
alternativa “b” está correta.
O erro da alternativa “a” é que não há exclusividade no que tange ao ajui-
zamento da ação de divórcio em virtude de o casamento ter sido realizado em
território brasileiro.
No que tange à alternativa “c” tem-se que a sentença argentina de divórcio
não produzirá efeitos no Brasil caso se trate da partilha da casa de praia, uma vez
que, reitera-se, essa é competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira
(art. 23, III, CPC). O mesmo erro é verificado na alternativa “d”.
Litispendência: Não indução litispendência a ação proposta perante tribunal
estrangeiro devido a soberania estatal (Art. 24 NCPC).

grancursosonline.com.br 55
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência
e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e
das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados in-
ternacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não
impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para
produzir efeitos no Brasil.
Continuaremos com nossas dicas de Direito Internacional no próximo encon-
tro que será no dia 26 de setembro. Até lá!

Luciano Favaro – Mestre em Direito Internacional


Econômico. Pós-graduado em Direito Civil e em Direi-
to do Trabalho. Professor universitário na graduação
em Direito e em cursos preparatórios para o Exame de
Ordem e Concursos em geral. Advogado na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos.

56 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR JOSÉ CARLOS

TEMA DE ATUALIZAÇÃO NOS CRIMES AMBIENTAIS: PERSISTE A NE-


CESSIDADE DA DUPLA IMPUTAÇÃO PARA RESPONSABILIZAÇÃO CRI-
MINAL DA PESSOA JURÍDICA?

Prezado candidato ao exame da OAB, hoje trabalharemos com a atualiza-


ção da jurisprudência no âmbito dos crimes ambientais perpetrados por pessoas
jurídicas. A teoria da dupla imputação fora escolhida em razão da mudança de
entendimento nos tribunais superiores.
O assunto é atual, polêmico e instigante!
Primeiramente, cabe esclarecer que o coração da tutela ambiental no ordena-
mento jurídico pátrio é art. 225 da Constituição Federal de 1988. Prevê o referido
artigo que:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, im-
pondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e pre-
servá-lo para as presentes e futuras gerações.

• 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:


I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
(…)
III  – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supres-
são permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que compro-
meta a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
(…)
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que co-
loquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade”.

grancursosonline.com.br 57
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Percebe-se que a Constituição de 1988 estabelece que as condutas e ativida-


des consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físi-
cas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados (artigo 225, §3º, CF).
No que pertine a legislação ordinária, os crimes ambientais estão previstos na
Lei n. 9.605 de 1998. O artigo 2º da Lei do Ambiente estabelece que:
“Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nes-
ta lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem
como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o
auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo
da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quan-
do podia agir para evitá-la”.
CUIDADO: O diretor, administrador, conselheiro, auditores, gerentes, prepos-
tos e mandatários de Pessoa jurídica, respondem por omissão nos crimes
ambientais. Veja que o legislador criou o dever jurídico de agir e de evitar cri-
mes ambientais, o que torna a omissão dessas pessoas penalmente relevante,
nos termos do art. 13, §2º, a, CP.
DICA DO JC: os requisitos para responsabilização por omissão são: A
ciência da existência do crime e o poder de evitar a pratica do crime.
Destaca-se que a lei em análise apresenta coerência e aspecto positivo, pois
seguindo uma tendência moderna do Direito Penal, superou-se o caráter mera-
mente individual da responsabilidade penal até então vigente. Hodiernamente,
a pessoa jurídica poderá ser sujeito ativo da relação processual penal nos crime
contra o meio ambiente.
Ademais, via de regra, o verdadeiro delinquente ecológico não é a
pessoa física, mas a pessoa jurídica que na maioria das vezes objetiva
tão somente o lucro, sem preocupar-se com a degradação ambiental e a
saúde das pessoas.
Sobre o tema, traz-se à baila um dos maiores desastres ambientais do mundo,
o rompimento da barragem da empresa Samarco em Mariana, Minas Gerais. Nes-
te acontecimento, cerca de vinte e cinco mil piscinas olímpicas de lama composta

58 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

por rejeitos minerais cobriram vilarejos da cidade mineira, mataram dezenas de


pessoas e impactaram centenas de desalojados de suas casas. Os impactos sobre
o Rio Doce foram imensuráveis.
Ora, por tais razões, há a necessidade de uma efetiva responsabilização crimi-
nal da pessoa jurídica. A legislação ordinária tratou do tema no parágrafo único
do art. 3º da Lei dos Crimes Ambientais, vejamos:
Art. 3º- As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou con-
tratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua en-
tidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a
das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
Observa-se que o legislador (também na visão da jurisprudência) adotou o
“Societas Delinquere Potest”, pois a pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crime
ambiental.
O fundamento está respaldado na chamada teoria da realidade ou da per-
sonalidade real, uma vez que as pessoas jurídicas são entes reais, não são meras
ficções jurídicas ou meras abstrações legais. Assim, a pessoa jurídica possui
capacidade e vontade próprias, independentes das pessoas físicas que as
compõem.
Os requisitos para que ocorra a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos
crimes contra o meio ambiente são:
1. a) Deve a decisão pela prática do crime partir do representante legal ou do
contratual ou de um órgão colegiado da pessoa jurídica;
2. b) Que a infração seja praticada no interesse ou benefício da pessoa jurídica.
CUIDADO: A Jurisprudência dos tribunais superiores sempre exigia
que a ação penal contra a pessoa jurídica por crime ambiental também
tivesse a imputação simultânea da pessoa física responsável.

grancursosonline.com.br 59
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Na visão antiga dos tribunais, somente haveria a responsabilidade


penal da pessoa jurídica em crimes ambientais se houvesse também a
imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu
nome ou em seu benefício.
Trata-se da aplicação da teoria da dupla imputação que consiste no seguinte:
impossível imputar o delito ambiental exclusivamente à pessoa jurídica, pois por
trás do ato criminoso sempre existe uma pessoa física. Logo, impõe-se
descobri-la para que faça parte (necessariamente) do polo passivo da ação
penal.
Nesse viés, a denúncia jamais seria recebida se unicamente imputasse o crime
à pessoa jurídica.

Esse era o antigo posicionamento da jurisprudência dos tribunais


superiores, uma vez que houve mudança de entendimento, veja-
mos:

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 548.181/


PR, no ano de 2013, de relatoria da Ministra Rosa Weber, decidiu que o art. 225,
§ 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da
pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da
pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa.
O referido Recurso Extraordinário, interposto pelo Ministério Público Federal,
com fundamento na alínea “a” do inciso III do art. 102 da Constituição Federal, con-
tra acórdão da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que ao julgar o Recurso
em Mandado de Segurança n. 16.696/PR, determinou o trancamento de ação pe-
nal movida contra a Petrobrás por crime ambiental, uma vez que foi excluída a im-
putação de condutas criminosas aos dirigentes responsáveis. O fundamento seria a
necessidade da dupla imputação – a responsabilização penal da pessoa jurídica só
poderia existir se houvesse a imputação simultânea da pessoa física.

60 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

MUDANÇA DE ENTENDIMENTO: a Ministra relatora Rosa Weber, segundo


seu voto, destacou que o art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona
a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa.
A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação.
Para a ilustre Ministra, as organizações corporativas se caracterizam, atual-
mente, pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades,
sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma
pessoa concreta.
Sustentou ainda que condicionar a aplicação do art. 225, § 3º, da Car-
ta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implicaria
indevida restrição da norma constitucional, uma vez que a intenção do
constituinte originário foi expressa, não apenas no sentido de ampliar
o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pe-
los crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização
dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela
do bem jurídico ambiental.
Pelo exposto, restou abandonada a teoria da dupla imputação ne-
cessária, eventual ausência de descrição pormenorizada da conduta dos
gestores da empresa não resulta no esvaziamento do elemento volitivo
do tipo penal (culpa ou dolo) em relação à pessoa jurídica.
DICA DO JC: Atualmente, não se pode subordinar a responsabilização
da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pesso-
as físicas envolvidas.
Em suma, é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por
delitos ambientais independentemente da responsabilização concomi-
tante da pessoa física que agia em seu nome.
Por fim, segundo essa nova visão do STF, a Lei de Crimes Ambientais deve ser
interpretada à luz dos princípios do desenvolvimento sustentável e da prevenção,
indicando o acerto da análise que a doutrina e a jurisprudência têm conferido à
parte inicial do art. 54, da Lei n. 9.605/1998, de que a mera possibilidade de cau-
sar dano à saúde humana é suficiente para configurar o crime de poluição, dada
a sua natureza formal ou, ainda, de perigo abstrato.

grancursosonline.com.br 61
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

As decisões do STJ seguem a jurisprudência do pretório excelso sobre o tema.


A conduta dos dirigentes tem que ser comprovadamente ilícita, mas a falta desta
comprovação não extingue por completo a ação penal.
Bons estudos e mantenha-se atualizado!
Avante!

José Carlos – é professor universitário e advogado,


com especialização em Direito Penal, Direito Processu-
al Penal e Direito Ambiental e Recursos Hídricos. Dou-
torando em Direito Penal pela Universidade de Buenos
Aires (UBA). Professor Titular de Direito Penal e Direito
Processual Penal na Universidade Católica de Brasília
(UCB). Professor Titular das Faculdades Integradas da
União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC) nas
áreas de Direito Penal, Processo Penal e Laboratório de
Prática Jurídica. Participante de bancas examinadoras de Concursos Públicos.

62 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITOS HUMANOS: PROFESSOR LUCIANO FAVARO

Olá, prezada(o) aluna(o),


Hoje iniciamos nossas dicas de Direitos Humanos. Nossas dicas serão dividi-
das em 3 dias. Tal qual fizemos na dica de Direito Internacional, vamos passando
as dicas e resolvendo algumas questões dos últimos exames, ok!

1) Gerações de Direitos Humanos: como se sabe, os Direitos Humanos


são divididos em gerações ou dimensões.
• A primeira geração (conhecida como direitos de liberdade ou negativos)
trata dos direitos civis e políticos.
• A segunda geração (conhecida como direitos de igualdade ou positivos)
trata dos direitos econômicos, sociais e culturais.
• A terceira geração (conhecida como direitos de solidariedade/fraternidade)
trata dos direitos transindividuais (difusos e coletivos) como, por exemplo,
o direito ao meio ambiente, direitos do consumidor.

Além dessas, outras gerações têm sido estudadas, a exemplo da quarta gera-
ção (direito a bioética e limites da manipulação genética); quinta geração (direito
à paz em toda a humanidade), entre outros.
Em recente exame aplicado pela FGV, cobraram a seguinte questão:

O processo histórico de afirmação dos direitos humanos foi inscrito em im-


portantes documentos, tais como a Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789 ou mesmo a Constituição Mexicana de 1917.
Desse processo é possível inferir que os Direitos Humanos são constituídos
por, ao menos, duas dimensões interdependentes e indivisíveis. São elas:
a) Direitos Naturais e Direitos Positivos.
b) Direitos Civis e Direitos Políticos.
c) Direitos Civis e Políticos e Direitos Econômicos e Sociais.
d) Direito Público e Direito Privado.
Nessa questão cobrou-se as gerações de Direitos Humanos. A Declaração

grancursosonline.com.br 63
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, tratou dos direitos de


1ª geração (denominado na questão de “dimensão). Nela estavam previstos, por-
tanto, direitos civis e políticos. Já a Constituição Mexicana, de 1917, foi o marco
dos direitos humanos de 2ª geração. Nela se previu direitos econômicos, sociais
e culturais. Assim, o gabarito dessa questão é a alternativa “b”.
Cuidado para não confundir! A referida Declaração não se confunde com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH, de 1948, que compreendeu
direitos de 1ª e 2ª gerações. Trataremos sobre a DUDH na segunda parte das di-
cas de Direitos Humanos, que será dia 26 de setembro.
2) Tratados de Direitos Humanos: Nos termos do artigo 5º, § 3º, CF/88, os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprova-
dos, em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Esse
CUIDADO! Este quorum é mínimo. Assim, por exemplo, se uma questão falar
de um quorum de 2/3, o tratado também terá status de emenda constitucional,
pois 2/3 é superior a 3/5.
Você já parou para pensar o porquê de os tratados de direitos humanos apro-
vados por esse quorum terem status de emenda constitucional? É que esse quo-
rum é o mesmo para aprovação de emenda constitucional (Leia o artigo 60, § 2º
CF/88). Daí a equivalência hierárquica.
A diferença é que a emenda constitucional é promulgada pelas Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal (art. 60, § 3º CF/88), ao passo que
os tratados de direitos humanos são promulgados pelo Presidente da República,
mediante Decreto, conforme práxis da diplomacia brasileira e entendimento do
Supremo Tribunal Federal.
3) Incidente de deslocamento de competência: outro assunto muito co-
brado nos exames de ordem é acerca do Incidente de Deslocamento de Compe-
tência – IDC. A previsão do IDC foi inserida na CF/88 pela EC 45/2004. Por essa
EC inseriu-se o § 5º no artigo 109 CF/88.
Assim, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decor-
rentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja par-

64 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

te, é possível o deslocamento de competência para a Justiça Federal quando se


verificar grave violação de direitos humanos.
Mas atenção! o pedido deve ser feito exclusivamente pelo Procurador-Geral
da República que deverá suscitar o IDC perante o Superior Tribunal de Justiça.
O pedido deverá ser feito em qualquer fase do inquérito ou processo.
Veja uma questão recente aplicada no XVIII Exame de Ordem que cobrou
acerca do IDC:

O STJ decidiu, no dia 10/12/2014, que uma causa relativa à violação de


Direitos Humanos deve passar da Justiça Estadual para a Justiça Federal,
configurando o chamado Incidente de Deslocamento de Competência. A
causa trata do desaparecimento de três moradores de rua e da suspeita de
tortura contra um quarto indivíduo. Desde a promulgação da Emenda 45,
em 2004, essa é a terceira vez que o STJ admite o Incidente de Desloca-
mento de Competência. De acordo com o que está expressamente previsto
na Constituição Federal, a finalidade desse Incidente é o de:
a) garantir o direito de acesso à Justiça.
b) assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados inter-
nacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil seja parte.
c) combater a morosidade de órgãos da Administração Pública e do Poder
Judiciário.
d) combater a corrupção em entes públicos dos Estados e do Distrito Fe-
deral.

Aqui, praticamente, cobrou-se a literalidade do artigo 109, § 5º da CF/88. Des-


se modo, o gabarito é a alternativa “b”.
Uma outra questão que cobrou sobre o IDC foi a aplicada no XV Exame de
Ordem, a saber:

Em maio de 1996, o Brasil instituiu seu primeiro Programa Nacional de


Direitos Humanos (PNDH 1). Na Introdução do PNDH 2, adotado em
maio de 2002, vem escrito o seguinte: “Entre as principais medidas legis-
lativas que resultaram de proposições do PNDH figuram… a transferência

grancursosonline.com.br 65
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

da justiça militar para a justiça comum dos crimes dolosos contra a vida
praticados por policiais militares (Lei n. 9.299/96), que permitiu o indicia-
mento e o julgamento de policiais militares em casos de múltiplas e graves
violações como os do Carandiru, Corumbiara e Eldorado dos Carajás; a
tipificação do crime de tortura (Lei n. 9.455/97), que constituiu marco re-
ferencial para o combate a essa prática criminosa no Brasil; e a construção
da proposta de reforma do Poder Judiciário, na qual se inclui, entre outras
medidas destinadas a agilizar o processamento dos responsáveis por vio-
lações, a chamada ‘federalização’ dos crimes de direitos humanos.”

Em relação ao último ponto descrito, é correto dizer que a federalização


contra os crimes de direitos humanos pode ocorrer apenas no seguinte
caso:
a) havendo indício de violação de direitos humanos previstos na legislação
nacional ou nos tratados internacionais.
b) havendo grave violação de direitos humanos previstos nos tratados in-
ternacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte.
c) havendo violação das leis protetivas dos direitos humanos, tais quais as
leis citadas na Introdução do PNDH 2.
d) havendo grave violação dos direitos humanos previstos na Constituição
Federal.

Alguns examinandos ficaram com dúvidas nessa questão. Primeiro pela exten-
são do texto e por juntar a questão do IDC com os PNDHs – Programas Nacionais
de Direitos Humanos. A resposta, no entanto, foi simples e cobrou, novamente, a
literalidade do artigo 109, § 5º (alternativa, portanto, “b”).
Não se espante quando tratar dos PNDHs. São programas instituídos no Brasil
para a proteção dos Direitos Humanos. Desses programas podem advir altera-
ções legislativas, tal qual a do IDC que, inicialmente, foi prevista no PNDH-2 in-
formado no comando da questão aplicada no XV Exame de Ordem. Trataremos
dos PNDHs na próxima dica.

4) Política Nacional de Direitos Humanos e os Programas Nacio-

66 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

nais de Direitos Humanos

Na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos (Conferência de Viena, de


1993), orientou-se que os países membros da ONU constituíssem programas na-
cionais de Direitos Humanos mediante uma política nacional de Direitos Huma-
nos.
O Brasil foi um dos primeiros países a promover essa formulação. Atualmente,
a política nacional de Direitos Humanos compreende 3 Programas, a saber:
• PNDH-1, 1996, que enfatizou os direitos civis e políticos;
• PNDH-2, 2002, que incorporou os direitos econômicos, sociais, culturais e
ambientais;
• PNDH-3, 2010, que tem como diretriz a garantia da igualdade na diversi-
dade, com respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da
laicidade do Estado brasileiro, prevista na Constituição Federal.

Finalidade do PNDH-3: dar continuidade à integração e ao aprimoramen-


to dos mecanismos de participação existentes, bem como criar novos meios de
construção e monitoramento das políticas públicas sobre Direitos Humanos no
Brasil.
IMPORTANTE: as propostas previstas nos Programas não possuem força de
lei. Tratam-se, na verdade, de normas programáticas.
Fique atenta(o)! No PNDH-3 incorporou-se resoluções da 11ª Conferência
Nacional de Direitos Humanos e propostas aprovadas nas mais de 50 conferên-
cias temáticas promovidas desde 2003. Essas Conferências trataram dos seguin-
tes assuntos: segurança alimentar, educação, saúde, habitação, igualdade racial,
direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência,
idosos, meio ambiente.
A 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos foi realizada em 2008, coin-
cidindo com os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O tema
dessa 11ª Conferência foi: “Democracia, Desenvolvimento e Direitos Humanos:
superando as desigualdades”.
Objetivo principal da Conferência: constituir um espaço de participação de-

grancursosonline.com.br 67
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

mocrática para revisar e atualizar o PNDH, com o desafio de tratar de forma in-
tegrada as múltiplas dimensões dos Direitos Humanos.
O PNDH-3 foi aprovado por intermédio do Decreto 7.037, de 21 de dezembro
de 2009, estando estruturado em 6 eixos orientadores e 25 Diretrizes:
• Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil (Diretrizes 1 a 3);
• Desenvolvimento e Direitos Humanos (Diretrizes 4 a 6);
• Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades (Diretrizes 7 a 10);
• Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência (Diretrizes 11 a 17);
• Educação e Cultura em Direitos Humanos (Diretrizes 18 a 22);
• Direito à Memória e à Verdade (Diretrizes 23 a 25).

As ações propostas nesses Eixos são consideradas transversais, uma vez que
são executadas por vários ministérios em cooperação, inclusive, com a sociedade
civil.
Observação: as metas, prazos e recursos necessários para a implementação
do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de Ação de Direitos Huma-
nos bianuais.
Por intermédio do PNDH-3 institui-se o Comitê de Acompanhamento e
Monitoramento que tem por finalidade:

I – promover a articulação entre os órgãos e entidades envolvidos na imple-


mentação das suas ações programáticas; II – elaborar os Planos de Ação dos
Direitos Humanos; III – estabelecer indicadores para o acompanhamento,
monitoramento e avaliação dos Planos de Ação dos Direitos Humanos; IV –
acompanhar a implementação das ações e recomendações; e V – elaborar
e aprovar seu regimento interno.

Observações sobre o Comitê:


• o Comitê poderá constituir subcomitês temáticos para a execução de suas
atividades, que poderão contar com a participação de representantes de
outros órgãos do Governo Federal.
• 2) O Comitê convidará representantes dos demais Poderes, da sociedade

68 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

civil e dos entes federados para participarem de suas reuniões e atividades.


• 3) Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos do Poder Le-
gislativo, do Poder Judiciário e do Ministério Público, serão convidados a
aderir ao PNDH-3.

Por hoje são essas as dicas! Continuaremos com nossas dicas de Direitos Hu-
manos no próximo encontro que será no dia 26 de setembro. Até lá!

Luciano Favaro – Mestre em Direito Internacional


Econômico. Pós-graduado em Direito Civil e em Direi-
to do Trabalho. Professor universitário na graduação
em Direito e em cursos preparatórios para o Exame de
Ordem e Concursos em geral. Advogado na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos.

grancursosonline.com.br 69
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL – PROFESSOR JOSÉ CARLOS

Prezados candidatos ao exame da OAB, hoje passaremos algumas dicas sobre


o importantíssimo Princípio da Insignificância (criminalidade de bagatela) e sua
aplicabilidade pelos tribunais brasileiros.
O princípio da insignificância é originário do Direito Romano, e foi reintrodu-
zido no sistema penal por Claus Roxin, na Alemanha, no ano de 1964. Fundado
no brocardo minimis non curat praetor.
A aplicabilidade do postulado, cuja utilização tem sido admitida, em inúmeros
casos, pelos tribunais pátrios tem a seguinte ideia: não é razoável que o direito
penal e todo o aparelho estatal da persecução penal movimentem-se no
sentido de atribuir relevância a uma lesão insignificante.
Observe-se que o princípio da insignificância deve ser analisado em conexão
com os postulados da fragmentariedade, subsidiariedade e da intervenção míni-
ma do Estado em matéria penal – tem o sentido de excluir ou de afastar a pró-
pria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material.
No ano de 2009, em julgamento realizado pela Segunda Turma do Supremo
Tribunal Federal, os ministros aplicaram o princípio da insignificância a uma ten-
tativa de furto de cinco barras de chocolate em um supermercado. No presente
caso, o Superior Tribunal de Justiça havia analisado o caso limitando-se a extin-
guir a punibilidade do acusado, todavia o STF, seguindo voto do relator do
processo, ministro Celso de Mello, reformou a decisão para absolver o
réu e extinguir a ação penal porque, segundo ele, a conduta sequer po-
deria ser considerada crime.
O fundamento foi o seguinte: a extinção da punibilidade por si só não exclui
os efeitos processuais, ou seja, a tentativa de furto ficaria registrada e poderia
pesar contra o acusado no futuro, na qualidade de maus antecedentes. Ao ser
absolvido, o acusado é considerado primário caso se torne réu em outra ação.

CUIDADO: O VALOR NÃO É O ÚNICO PARÂMETRO – segundo o STF é

70 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença


dos seguintes requisitos:
(a) a mínima ofensividade da conduta do agente;
(b) a nenhuma periculosidade social da ação;
(c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento, e;
(d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Nessa linha, o princípio possui a base em valores de política criminal, funcio-


nando como causa de exclusão da tipicidade material do crime.
Nesse viés, o Supremo Tribunal Federal tem utilizado frequentemente o co-
nhecido Princípio da Bagatela ou Insignificância para extinguir ações penais e
liberar uma boa quantidade de presos no país. O STF vem concedendo Habeas
Corpus alegando a existência de tal princípio, por exemplo, no julgamento de
uma tentativa de furto de 10 brocas, 2 cadeados, 2 cuecas, 3 sungas e 6 bermu-
das de um hipermercado em Natal, no Rio Grande do Norte.
O ministro Gilmar Mendes, em julgamento sobre o tema, ressaltou que tal
princípio deve ser analisado “como importante instrumento de aprimoramento
do Direito Penal, sendo paulatinamente reconhecido pela jurisprudência dos tri-
bunais superiores, em especial pelo Supremo Tribunal Federal”.
Outro Habeas Corpus concedido foi para um rapaz que teria furtado uma
bicicleta no valor de R$ 120,00 (cento e vinte reais), a qual foi devolvida ao dono,
ressarcindo o prejuízo. Também foi considerada como infração insignificante o
não recolhimento de tributos de importação no valor de R$ 1.645,28 (Um mil
seiscentos e quarenta e cinco reais e vinte e oito centavos).
Cabe destacar que o reduzido valor patrimonial do objeto material
não autoriza, por si só, o reconhecimento dos crimes de bagatela. De-
ve-se analisar o crime e suas consequências em cada caso concreto – as
circunstâncias do fato e os reflexos da conduta aparentemente ilícita no
âmbito social.

Nesta linha, o STJ exige também requisitos de ordem subjetiva: a im-

grancursosonline.com.br 71
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

portância do objeto material do crime à vítima, as condições econômi-


cas do ofendido, as circunstâncias e o resultado do delito.
Em suma, deve-se analisar subjetivamente, no âmbito do caso concreto, se
houve uma relevante lesão.
Outra questão interessante diz respeito a não aplicabilidade do postulado
para os casos de réus reincidentes. Sobre o tema, a 2ª Câmara Criminal do Tri-
bunal de Justiça de Santa Catarina manteve uma condenação da comarca da
Capital e negou a aplicação do princípio da bagatela para dupla já reincidente em
crimes contra o patrimônio. Na oportunidade dois réus foram condenados por
tentativa de furto qualificado.
De acordo com a denúncia, a dupla subtraiu um carrinho de mão e uma saca
de 50 kg de cimento. Ambos, em recurso pediram a aplicação do princípio da
insignificância.
Segundo o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, para o reconheci-
mento do crime de bagatela na hipótese de furto, além do valor ínfimo
do bem, faz-se mister que o agente preencha outros requisitos, dentre
os quais não possuir antecedentes. No presente caso, a Câmara não deu
provimento ao recurso, uma vez que os apelantes praticavam habitual-
mente delitos contra o patrimônio, como revelaram suas folhas de ante-
cedentes, . (Apel. Crim. 2010.085289-5).
Inteligentemente, sobre a reincidência, o TRF da 1º Região, em algumas deci-
sões que envolvem o delito de descaminho impõe condições para aplicação
do princípio, vejamos:
“Se o comércio de mercadorias importadas ilegalmente constitui atividade
habitual do agente, não há que se falar em aplicação do princípio da insignificân-
cia penal que revela o crime de descaminho quando pequena a lesão imposta
ao fisco, sob pena de converter-se em medida de incentivo à prática do
delito” RT 763/679.

72 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

O STF possui o entendimento que mesmo nos crimes contra a Admi-


nistração Pública é admissível a aplicação da insignificância penal.

Sobre o tema, vejamos o STF/HC 96376 / PR – Julgamento em 31/08/2010:

EMENTA: Habeas Corpus. Descaminho. Imposto não pago na importação


de mercadorias. Irrelevância administrativa da conduta. Parâmetro: art. 20 da
Lei n. 10.522/02. Incidência do princípio da insignificância. Atipicidade da
conduta. Ordem concedida. A importação de mercadoria, iludindo o paga-
mento do imposto em valor inferior ao definido no art. 20 da Lei n. 10.522/02,
consubstancia conduta atípica, dada a incidência do princípio da insignificân-
cia. O montante de impostos supostamente devido pelo paciente (R$ 189,06)
é inferior ao mínimo legalmente estabelecido para a execução fiscal, não cons-
tando da denúncia a referência a outros débitos congêneres em seu desfavor.
Ausência, na hipótese, de justa causa para a ação penal, pois uma
conduta administrativamente irrelevante não pode ter relevância cri-
minal. Princípios da subsidiariedade, da fragmentariedade, da neces-
sidade e da intervenção mínima que regem o Direito Penal. Inexistên-
cia de lesão ao bem jurídico penalmente tutelado. Precedentes. Ordem
concedida para o trancamento da ação penal de origem. (Destacamos).

Na mesma linha, o julgamento do HC 77.003-PE:

Por falta de justa causa, a Turma deferiu habeas corpus para trancar ação
penal proposta contra ex-prefeita que fora denunciada pela prática de crime
de responsabilidade (DL 201/67, art. 1º, XIII) por ter contratado, de forma
isolada e por curto período, uma pessoa para a atividade de “gari”, sem a
devida observância da exigência do concurso para provimentos de cargo
público. Com base nos princípios da razoabilidade e da proporcio-
nalidade, entendeu-se configurada a insignificância jurídica do ato
tido como criminoso. HC 77.003-PE, rel. Min. Marco Aurélio, 16.6.98.
Por fim, destaca-se que o Superior Tribunal de Justiça possui várias decisões
em sentido contrário, defendendo a inadmissibilidade do princípio em estudo, no

grancursosonline.com.br 73
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

tocante aos crimes contra a Administração Pública.


Na maioria das suas decisões, o STJ sustenta que é inaplicável o princípio da
insignificância nos crimes contra a Administração Pública, ainda que o valor da
lesão seja ínfimo, uma vez que o legislador buscou resguardar não somente o
aspecto patrimonial, mas a moral e a probidade da Administração Pública.
Em suma, para o Tribunal da Cidadania, nos referidos crimes existiria ofensa à
moralidade administrativa, o que descaracterizaria o requisito do reduzidíssimo
grau de reprovabilidade do comportamento.

Bons estudos e sucesso na prova da OAB!

José Carlos – Professor Universitário e Advogado,


com especialização em Direito Penal, Direito Processu-
al Penal e Direito Ambiental e Recursos Hídricos. Dou-
torando em Direito Penal pela Universidade de Buenos
Aires (UBA). Professor Titular de Direito Penal e Direito
Processual Penal na Universidade Católica de Brasília
(UCB). Professor Titular das Faculdades Integradas da
União Educacional do Planalto Central (FACIPLAC) nas
áreas de Direito Penal, Processo Penal e Laboratório de
Prática Jurídica. Participante de bancas examinadoras de Concursos Públicos.

74 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO CONSTITUCIONAL: PROFESSOR LUCIANO DUTRA

Olá, meus amigos!


Quem vos fala é o Prof. Luciano Dutra. Estaremos doravante estudando juntos
o Direito Constitucional, trazendo temas importantes para o seu sucesso no XXI
Exame de Ordem.
Cabe-nos falar sobre Controle de Constitucionalidade; Nacionalidade; Direitos
Políticos e Partidários; Ações Constitucionais; Organização do Estado; Organi-
zação dos Poderes; Defesa do Estado e das Instituições Democráticas e Ordem
Econômica e Financeira. Nessa esteira, traremos agora 15 dicas de Controle de
Constitucionalidade, que é um tema certo no seu Exame. Portanto, vamos lá.

1. Inicialmente, o que é o controle de constitucionalidade? É um conjunto de


atos tendentes a garantir a supremacia formal da Constituição. Vale dizer, desti-
na-se a averiguar a compatibilidade vertical das demais normas jurídicas e atos
do Poder Público com o seu fundamento de validade – a Constituição Federal.
2. Por sua vez, a inconstitucionalidade é a ofensa ao texto constitucional, que
se perfaz por uma ação ou por uma omissão. A inconstitucionalidade por ação
diz respeito à aferição de compatibilidade entre normas jurídicas gerais e abstra-
tas elaboradas pelo Estado, notadamente pelo Poder Legislativo, e o seu parâme-
tro de controle – a Constituição Federal. Pressupõe um fazer inconstitucional do
Poder Público. Já a inconstitucionalidade por omissão decorre de uma inação do
Estado ofensiva à Constituição Federal, uma vez que compete ao Poder Público
cumprir os ditames constitucionais obrigatórios.
3. A inconstitucionalidade pode ser material ou formal. Ocorre a inconstitucio-
nalidade material quando há um conflito de conteúdo em relação à Constituição.
De outra banda, ocorre a inconstitucionalidade formal quando o devido proces-
so legislativo constitucional for desrespeitado. O conteúdo da norma pode até
ser compatível com a Constituição, mas alguma formalidade exigida pelo Texto
Maior, no tocante ao trâmite legislativo, foi desobedecida.
4. A inconstitucionalidade pode, ainda, ser total ou parcial. Quando, em de-
corrência de uma inconstitucionalidade, uma lei é expulsa integralmente do orde-

grancursosonline.com.br 75
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

namento jurídico ocorre a inconstitucionalidade total. Por outro lado, para efeitos
de controle de constitucionalidade, podem os atos normativos sofrer um parce-
lamento. Neste caso, apenas a parcela viciada da disposição infraconstitucional
será fulminada, ocorrendo, na espécie, a inconstitucionalidade parcial.
5. Quanto ao momento, o controle de constitucionalidade pode ser preventivo
ou repressivo. No controle preventivo, fiscaliza-se a validade do projeto de lei com
o fim de se evitar que seja inserida no ordenamento jurídico uma norma incompa-
tível com a Constituição. Já no controle repressivo, fiscaliza-se a validade de uma
norma já inserida no ordenamento jurídico. Procura-se expurgar do Direito Posto
norma que contraria formal e/ou materialmente o texto constitucional.
6. No Brasil, o Poder Judiciário atua em dois modelos de controle de constitucio-
nalidade: o modelo concentrado e o modelo difuso. O Poder Judiciário atuará no
modelo concentrado quando somente o órgão de cúpula do Poder Judiciário – no
caso, o Supremo Tribunal Federal – puder realizar o controle de constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. Por outro lado, no modelo difuso, todos os órgãos
do Poder Judiciário, inclusive o próprio STF, podem realizar o controle de constitu-
cionalidade das leis e dos atos normativos.
7. Vamos, a partir de agora, aprofundar no controle difuso de constitucionali-
dade. No que tange à legitimação ativa, esta é ampla, uma vez que qualquer das
partes (autor e réu) poderá levantar a questão constitucional, bem assim o membro
do Ministério Público que oficie no feito ou, ainda, o próprio magistrado de ofício.
8. Por seu turno, quanto à competência, qualquer juiz ou tribunal do País dis-
põe de competência para declarar a inconstitucionalidade das leis e dos atos nor-
mativos no controle difuso. No entanto, quando o processo chega às instâncias
superiores, um órgão fracionário do tribunal não possui esta competência, já que
se deve respeitar o princípio da reserva de plenário prescrito no art. 97, da CF.
9. Os efeitos da decisão em controle difuso de constitucionalidade realizado
por juízes monocráticos e tribunais, inclusive o próprio STF, são inter partes (al-
cançan-do apenas o autor e o réu) e ex tunc (retroativos).
Vamos começar agora a tratar do controle concentrado de constitucionalida-
de. Vamos falar inicialmente da ação direta de inconstitucionalidade (ADI), que
tem por fim retirar do ordenamento jurídico uma lei ou ato normativo federal ou
estadual que desrespeita a Constituição Federal.
11. Quem são os legitimados ativos para propor ADI? O art. 103, incs. I a IX,
nos dá a resposta, vamos lá:

76 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação de-


claratória de constitucionalidade:
I – o Presidente da República;
II – a Mesa do Senado Federal;
III – a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal;
V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI – o Procurador-Geral da República;
VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII – partido político com representação no Congresso Nacional;
IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

12. Ainda no que tange à legitimação ativa em ADI, temos legitimados universais
e especiais. Os legitimados universais podem impugnar qualquer matéria, indepen-
dentemente da comprovação de interesse, são eles: Presidente da República; Mesa
do Senado Federal; Mesa da Câmara dos Deputados; Procurador-Geral da República;
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; partido político com repre-
sentação no Congresso Nacional. Já os legitimados especiais só podem propor ADI
em face de leis ou atos normativos em relação aos quais comprovarem interesse, co-
nhecido doutrinariamente como “pertinência temática”, são eles: Mesa da Assembleia
Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; Governador de Estado ou do
Distrito Federal; confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
13. Como fica a atuação do Procurador-Geral da República (PGR) na ADI? O
PGR é um dos legitimados universais para propor as ações de controle concen-
trado de constitucionalidade, independentemente da comprovação de interesse
na matéria. Além disso, por força do art. 103, § 1º, da CF, deverá ser previamen-
te ouvido em todas as ações do controle concentrado e em todos os demais
processos de competência do STF, atuação esta chamada de custus legis. Nesta
atuação, o parecer do PGR é obrigatório, ficando totalmente livre para opinar a
favor ou contra a (in)constitucionalidade do tema constitucional debatido, ainda
que tenha impetrado a ADI.
14. E o Advogado-Geral da União (AGU), qual o seu papel no julgamento da
ADI? O AGU é citado para defender o ato normativo impugnado (art. 103, § 3º,

grancursosonline.com.br 77
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

da CF). A atuação do AGU é vinculada, pois age como curador do ato normativo
debatido.Cabe a ele defender a norma guerreada, não podendo, como regra,
opinar pela inconstitucionalidade, ainda quando a ADI tenha sido proposta pelo
Presidente da República.
15. Por fim, vamos falar da natureza dúplice ou ambivalente da ADI. À luz do
art. 24, da Lei n. 9.868, de 1999, e tendo por base que o pedido formulado pelo
autor é pelo reconhecimento da inconstitucionalidade da norma, teremos o se-
guinte: a) se a ação direta é julgada procedente, estará sendo declarada a incons-
titucionalidade da norma impugnada; b) se a ação direta é julgada improcedente,
estará sendo declarada a constitucionalidade do texto guerreado.
É isso meus amigos. Contem conosco para a sua aprovação.
Fé na missão.

Luciano Dutra – É Advogado da União. Graduado


em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora e
especialista em Direito Público. Graduado e Pós-Gra-
duado em Ciências Militares. Professor de Direito Cons-
titucional com ampla experiência em cursos prepara-
tórios para concursos públicos presenciais e on-line.
Comentarista jurídico para revistas, jornais, sites e rá-
dios especializados em concursos públicos. Aprovado
em diversos concursos públicos. Autor das obras Direi-
to Constitucional Essencial (Editora Gen – 2ª edição), Direito Constitucional para
a OAB em Exercícios Comentados (Editora Gen – ebook), Direito Constitucional
em 1600 Questões (Editora Gran Cursos), Direito Constitucional em Exercícios
(Editora Gran Cursos – ebook), Direito Constitucional para o INSS (Editora Gran
Cursos – ebook).

78 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO TRIBUTÁRIO: PROFESSOR MAURO MOREIRA

Caros alunos e alunas,


A dica de hoje é sobre Direito Tributário e, dentro dessa disciplina, vamos falar
das Espécies Tributárias.
Vamos com tudo!

1. IMPOSTOS – Segundo o art. 16 do CTN, “imposto é o tributo cuja obri-


gação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade
estatal específica, relativa ao contribuinte”. Os Impostos são Tributos não vincu-
lados, de arrecadação não vinculada. Sua receita presta-se ao financiamento das
atividades gerais do Estado, remunerando os serviços universais (uti universi) que,
por não gozarem de referibilidade (especificidade e divisibilidade), não podem
ser custeados por intermédio de taxas
2. COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA PARA INSTITUIR IMPOSTOS – A com-
petência para instituir impostos é atribuída pela Constituição Federal de maneira
enumerada e privativa a cada ente federado. A) União – art. 153 (II, IE, IR, IPI, IOF,
ITR e IGF); B) Estados (e o DF) – art. 155 (ITCMD, ICMS e IPVA); C) Municípios (e o
DF) – art. 156 (IPTU, ITBI e ISS).
3. PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA – Nesse particular, deve-
-se abrir espaço para tratar da aplicação do Princípio da Capacidade Contributiva
aos Impostos. Senão vejamos: De acordo com o art. 145, § 1.º, da CF, sempre que
possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capa-
cidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especial-
mente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direi-
tos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte. O Supremo Tribunal Federal estende a aplicação do
princípio da capacidade contributiva a outras espécies tributárias, como o caso
das taxas incidentes sobre os serviços judiciários.

4. IMPOSTOS REAIS X IMPOSTOS PESSOAIS – Em momento anterior, o

grancursosonline.com.br 79
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

STF entendeu não ser aplicável a técnica progressividade fiscal ao ITBI, classificado
como um imposto real, nos termos da Súmula 656 do STF. Em relação ao IPTU
(Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana), o STF entendeu que
a aplicação da técnica da progressividade fiscal ao IPTU (real) somente ocorre-
ria a partir da Emenda Constitucional n. 29\2000, conforme Súmula 668, STF. A
evolução da jurisprudência ocorreu a partir do julgamento da progressividade do
ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação), na medida em que o
STF (RE562045/RS) entendeu que todos os impostos, independentemente de sua
classificação como de caráter real ou pessoal, podem e devem guardar relação
com a capacidade contributiva do sujeito passivo.
5. TAXAS – Os entes políticos poderão instituir taxas, em razão do exercício
do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição, com
a ressalva de não poderem ter base de cálculo própria de impostos (CF, art. 145,
lI e § 2º; CTN, art. 77 caput; CTN, art. 80).
6. VEDAÇÃO DE BASE DE CÁLCULO IDÊNTICA À DE IMPOSTOS – Se-
gundo o art. 145, § 2º, da CF, “as taxas não poderão ter base de cálculo própria
de impostos”. Entretanto, a questão deve ser analisada em conjunto com o en-
tendimento do STF sobre esse ponto. Conforme se verifica da dicção expressa da
Súmula Vinculante 29, STF: É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa,
de um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto,
desde que não haja integral identidade entre uma base e outra.
7. TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA – A taxa de iluminação pública se
refere a atividade estatal que se traduz em prestação de utilidades inespecíficas,
indivisíveis e insuscetíveis de serem referidas a determinado contribuinte, não
podendo ser custeada senão por meio do produto da arrecadação dos impostos
gerais. (Al-AgR 542122. DJ 22.9.2006). Nesse sentido é a Súmula Vinculante n.
41: O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa. O
constituinte derivado, a fim de evitar a perda de receita dos municípios editou a
Emenda Constitucional 39 , que criou a COSIP (Contribuição para o Custeio dos
Serviços de Iluminação Pública), senão vejamos: Art. 149-A Os Municípios e o

80 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para
o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e
III. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 39, de 2002) Parágrafo único. É facul-
tada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo
de energia elétrica. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 39, de 2002).
8. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA – A contribuição de melhoria pode ser
cobrada por qualquer ente tributante no âmbito de suas respectivas atribuições
(CTN, art. 81). Nesse particular, sua instituição é competência comum da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios. Esclareça-se que apesar de o texto consti-
tucional dizer simplesmente que a contribuição de melhoria será devida em “de-
corrência de obra pública”, em verdade, é obrigação decorrente de “valorização
de bem imóvel em decorrência de obra pública”. Ademais, tem como fundamen-
to a vedação ao enriquecimento sem causa.
9. EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS – Os empréstimos compulsórios são
tributos temporários que a União (competência exclusiva da União e exige Lei
Complementar) compulsoriamente cobra dos administrados para custear despe-
sas urgentes, ficando obrigada a devolvê-los assim que solucionada a causa que
justificou sua instituição. Não há previsão constitucional que vincule a instituição
dos empréstimos compulsórios a qualquer fato ou situação jurídica específica
relacionada ao contribuinte, nem faça menção aos seus fatos geradores, limitan-
do-se a prever os motivos pelos quais a exação pode ser criada (CF, art. 148). Mo-
tivos estes que não devem ser confundidos com fatos geradores. Motivos para
criação dos empréstimos compulsórios A) atender a despesas extraordinárias,
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; B) no
caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional
(nesse caso, observado o princípio da anterioridade).
10. CONTRIBUIÇÕES – O artigo 149 da Constituição Federal estabelece que
compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no
domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas,
como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto
nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativa-

grancursosonline.com.br 81
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

mente às contribuições a que alude o dispositivo. Por sua vez, os Estados, o Dis-
trito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus servidores,
para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art.
40, cuja alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de
cargos efetivos da União. Ademais, elenca características principais, na medida
em que é expresso no sentido de que as contribuições sociais e de intervenção
no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: não incidirão sobre
as receitas decorrentes de exportação; incidirão também sobre a importação de
produtos estrangeiros ou serviços; poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo
por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de
importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo por base a unidade de medi-
da adotada. Em complemento, estabelece que a pessoa natural destinatária das
operações de importação poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da
lei; bem como é expresso no sentido de que a lei definirá as hipóteses em que as
contribuições incidirão uma única vez.
Bons estudos!

Mauro Moreira – Procurador Federal. Mestrando em


Direito Tributário pela Universidade Católica de Brasília
– UCB. Especialista em Direito Tributário pelo Instituto
Brasileiro de Estudos Tributários – IBET. Coordenador
Nacional de Contencioso, Cobrança e Recuperação de
Créditos do DNPM/Ministério das Minas e Energia. Pro-
fessor de Direito Tributário da Escola Superior da Advo-
cacia – ESA/OAB/DF. Professor Orientador e Tutor da
Especialização em Direito Público da UnB/Escola da
AGU nos exercícios de 2013/2014. Ex-Advogado da Área Tributária da PETROBRAS.

82 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO ADMINISTRATIVO: PROFESSOR GUSTAVO SCATOLINO

Examinandos e examinandas, rumo a nossa caminhada para o XXI Exame de


Ordem, hoje trataremos de alguns pontos sobre Licitações:
O fato de um produto ser patenteado induz, necessariamente, a sua
exclusividade para fins de contratação direta sem licitação?
Antes de chegar ao cerne do problema, vamos rememorar os casos de con-
tratação direta sem licitação.
Os casos de contratação direta são situações em que não será realizado o
procedimento licitatório. Trata-se de situação excepcional, uma vez que a regra
será a licitação para a escolha da proposta mais vantajosa, antes da celebração
do contrato administrativo, art. 37, XXI, CF.
Para a contratação direta, a lei exige que sejam necessariamente justificadas e
a observância do parágrafo único do art. 26:

Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e no inciso III e se-


guintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, ne-
cessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo
único do art. 8º desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) dias,
à autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no
prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.
Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de retarda-
mento, previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os seguintes
elementos:
I  – caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a
dispensa, quando for o caso;
II – razão da escolha do fornecedor ou executante;
III – justificativa do preço.
IV – documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens
serão alocados. (Incluído pela Lei n. 9.648, de 1998)

grancursosonline.com.br 83
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

A Lei do Processo Administrativo, Lei n. 9.784/99, art. 50, também determina


que deve haver a motivação, com indicação dos fatos e fundamentos jurídicos de
atos que dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório.
É bom lembrar que configura ato de improbidade administrativa que causa
prejuízo ao erário frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevi-
damente. Em razão de tal ato de improbidade, a Lei n. 8.429/90 determina que
serão aplicadas as sanções de suspensão dos direitos políticos de 5 a 8 anos,
multa de até 2 vezes o valor do prejuízo e proibição de contratar ou receber
benefícios do poder público pelo prazo de 5 anos. Sem prejuízo da ação penal
cabível, por ser a ação de improbidade de natureza civil.
A Lei de Licitações, art. 89, ainda, tipifica como crime dispensar ou inexigir li-
citação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade, com pena de detenção, de 3 (três) a
5 (cinco) anos, e multa.
Nos casos de inexigibilidade e em qualquer dos casos de dispensa, se com-
provado superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à
Fazenda Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público res-
ponsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis (art. 25, § 2º).
Como visto, pelo menos no direito positivo a licitação é tratada com serie-
dade, estabelecendo-se sanção civil, penal e administrativa para contratações
irregulares.
Pois bem! As hipóteses de contratação direta são: dispensa e inexigibilidade.
Os casos de dispensa constituem a licitação dispensada, art. 17, e licitação dispen-
sável, art. 24. Os casos de inexigibilidade encontram-se no art. 25.
As hipóteses de dispensa de licitação são casos TAXATIVOS/EXAUSTIVOS,
previstos em lei. Portanto, somente pode haver contratação direta por dispen-
sa de licitação (dispensada/dispensável) nas situações previstas no art. 17 ou 24
da lei. Não é possível ao agente público ampliar as hipóteses de dispensa fora
dos casos legais previstos, uma vez que são estabelecidos previamente e não há
possibilidade de se dilatar as situações positivadas, a não ser que LEI estabeleça

84 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

outras situações.
A inexigibilidade compõe-se de casos EXEMPLIFICATIVOS. O art. 25 esta-
beleceu três situações exemplificativas, mas tornou possível ao agente público,
quando se encontrar em outra situação de inviabilidade de competição, fazer a
contratação direta pela inexigibilidade.
Outro ponto distintivo entre dispensa e inexigibilidade se refere ao fato de que
a licitação dispensada é uma atuação vinculada, em que o agente público não
faz licitação porque a lei assim previamente estabeleceu, não havendo liberdade
do administrador de querer licitar. A licitação dispensável é atuação discricio-
nária, pois, diante das situações do art. 24, o agente público pode decidir em
fazer ou não a licitação, conforme seus critérios de conveniência e oportunidade.
Por outro lado, nos casos de inexigibilidade, não há o procedimento licitatório,
por ser inviável a competição. Mesmo que o agente público pretendesse fazer
licitação, não teria como executá-la.

Casos de Inexigibilidade – art. 25

Como dito, o art. 25 da Lei de Licitações apresenta três casos exemplificativos


de inexigibilidade em razão da inviabilidade de competição.

1. Fornecedor exclusivo

O primeiro caso de inexigibilidade se refere à situação de fornecedor exclu-


sivo. Nesse caso, a inviabilidade de competição é gritante, tendo em vista que
somente existe um fornecedor do produto.

I – para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam


ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo,
vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade
ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio
do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindi-
cato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equi-

grancursosonline.com.br 85
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

valentes;
A comprovação da exclusividade será feita através de atestado fornecido pelo
órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra
ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, por
entidades equivalentes (art. 25).

A lei veda a preferência pela marca. Contudo, a vedação exposta pela lei
deve ser compreendida no sentido de ser evitada a preferência pela marca
com o intuito de não se fazer a licitação. É possível, em algumas situações,
dentro de um processo licitatório, a preferência pela marca. Confira os
casos apontados por José dos Santos Carvalho Filho15:

1) continuidade da utilização de marca já adotada no órgão;


2) para a utilização de nova marca mais conveniente; e
3) para o fim de padronização de marca no serviço público, todas evidente-
mente justificadas pela necessidade da Administração.
É possível também a preferência por marca para definir o objeto a ser licitado
ou seus padrões de qualidade, admitindo outras marcas similares que mante-
nham os mesmos padrões exigidos pela marca indicada. A existência de outras
marcas similares que preencham as mesmas condições da marca “desejada” pela
Administração, em especial pelos padrões de qualidade apresentados, afasta a
possibilidade de contratação direta por essa hipótese, salvo se devidamente jus-
tificado pela Administração.
Dessa forma, o que a Lei de Licitações veda e os Tribunais de Contas repro-
vam, em especial o TCU, é a preferência por determinada marca e sua indicação
sem a devida justificativa técnica nos autos.
Confira alguns julgados do TCU a respeito do tema:

Acórdão 2844/2003 Primeira Câmara. Evite a indicação de marcas de produtos


para configuração do objeto, quando da realização de seus certames licitatórios
para a aquisição de bens de informática, a não ser quando legalmente possível
e estritamente necessária para atendimento das exigências de uniformização e
padronização, sempre mediante justificativa prévia, em processo administrati-
vo regular, no qual fiquem comprovados os mencionados requisitos.
1 CARVALHO FILHO, José dos Santos, Op. Cit., p. 258 CARVALHO FILHO, José dos Santos, Op. Cit., p. 258

86 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Decisão 1622/2002 Plenário. A licitação sob análise não restringiu o objeto da


licitação, com indicação de marca, fato este vedado pelo Estatuto Licitatório.
Insurgiu-se o Representante quanto à exigência de que os cartuchos de mar-
ca diversa das impressoras a que se destinariam fossem objeto de atestado
comprobatório de seu funcionamento.
Decisão 1476/2002 Plenário. Nos procedimentos licitatórios para aquisição de
toner para impressoras ou outros produtos análogos, deve ser evitado – em ho-
menagem aos princípios que regem as licitações no âmbito da Administração
Pública e às disposições Resolução n. 05, de 05.01.1998 – a indicação de prefe-
rência por marcas, ante a falta de amparo legal, salvo na hipótese em que fique
demonstrada tecnicamente que só determinada marca atende à necessidade
da Administração, situação que deve ficar devidamente demonstrada e justifi-
cada no processo.

2. Serviços técnicos profissionais especializados

A segunda hipótese exemplificativa de inexigibilidade se refere a serviços


técnicos profissionais especializados.

II – para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei,


de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especializa-
ção, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

Os contratos para a prestação de serviços técnicos profissionais especializados


deverão, preferencialmente, ser celebrados mediante a realização de concurso.
Somente é permitida a contratação direta se preenchidas as condições previstas
em lei. (art. 13, § 1º)
Para a contratação de serviços técnicos especializados sem licitação, devem
ser atendidos três requisitos: serviço incluído no art. 13 da Lei de Licitações; pro-
fissional detentor de notória especialização; objeto singular.
A súmula 252 do TCU prescreve que a inviabilidade de competição para a
contratação de serviços técnicos decorre da presença simultânea dos três requi-
sitos: serviço técnico especializado, entre os mencionados no art. 13 da referida

grancursosonline.com.br 87
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

lei, natureza singular do serviço e notória especialização do contratado.


O art. 13 apresenta uma lista de serviços considerados especializados para fins
de contratação direta:

Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos profissionais
especializados os trabalhos relativos a:
I – estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;
II – pareceres, perícias e avaliações em geral;
III – assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
IV – fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
V – patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
VI – treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
VII – restauração de obras de arte e bens de valor histórico.

Dessa forma, não é qualquer tipo de serviço que pode ser contratado sem
licitação, apenas os serviços selecionados pela lei. Para fins de memorização,
devem-se relacionar os serviços apenas com “atividades de natureza intelectual”.
O conceito de notória especialização do profissional contratado é fixado pelo
art. 25, § 1º:

“Considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo con-


ceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, es-
tudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica,
ou de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que
o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena
satisfação do objeto do contrato.”

O profissional deve possuir características individuais distintas dos demais que


atuam no mesmo ramo, tornando-o o mais apropriado, mais conveniente para a
o desenvolvimento do trabalho.
Deve, ainda, tratar-se de objeto singular. Ou seja, deve ser uma situação ex-
cepcional da Administração. A contratação de serviços técnicos profissionais es-
pecializados não deve ser usada para atividades corriqueiras.

88 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

A contratação direta de advogado é possível. Contudo, deve ser observada a


exigência do objeto singular, adicionada à exigência de notória especialização do
profissional. O TCU vem estabelecendo limites para esses contratos, no sentido de
que a regra para a contratação de serviços advocatícios é a licitação, e a inexigibi-
lidade é exceção que deve ser precedida da comprovação da inviabilidade fática
ou jurídica de competição, da singularidade do objeto e da notoriedade do con-
tratado. Quanto à natureza singular do objeto, “há de ser o serviço técnico tão
incomum, raro, incomparável com outros, que somente possa ser prestado por
profissional ou empresa cuja especialização naquele tipo de serviço seja notória.
O objeto do contrato deve revelar-se de tal singularidade que não dê condições
a que se proceda qualquer competição entre os profissionais existentes no ramo”.
Nas hipóteses de serviços técnicos profissionais especializados é vedada a
inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação. A vedação ex-
pressa na lei é um tanto redundante, uma vez que o serviço de publicidade e
divulgação não consta na lista de serviços do art. 13 para fins de contratação
sem licitação (foi vetado). A Lei n. 12.232/10 dispõe sobre as normas gerais para
licitação e contratação pela administração pública de serviços de publicidade
prestados por intermédio de agências de propaganda. Trata-se de lei destinada
a contratações de serviços de publicidade em razão da especialidade do setor.

3. Contratação de serviços artísticos

A terceira situação que configura caso de inexigibilidade de licitação é a con-


tratação de serviços artísticos.

III – para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente


ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica espe-
cializada ou pela opinião pública.

Trata-se de mais um caso de inviabilidade de competição, pois, na contratação


de serviços artísticos, seria inviável a elaboração de um edital com critérios de jul-

grancursosonline.com.br 89
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

gamento puramente objetivos a fim de fazer a escolha do melhor serviço artístico.


A inexigibilidade é possível para qualquer serviço (ator, cantor, artista plástico
e etc.), desde que o contratado seja consagrado pela crítica especializada ou pela
opinião pública.

2. Licitação dispensável – art. 24

A Lei de Licitações, art. 24, enumera os casos taxativos de licitação dispen-


sável, sendo situações em que há discricionariedade para o agente público
fazer um juízo de conveniência e oportunidade para decidir se realizará, ou não,
licitação. Segundo Maria Sylvia Di Pietro, as hipóteses de licitação dispensável
podem ser enquadradas em quatros situações, em razão de: valor, objeto, pessoa
e situação.
Assim, após essa digressão, voltemos à reflexão: O fato de um produto ser
patenteado induz, necessariamente, a sua exclusividade para fins de contratação
direta sem licitação? Trata-se de caso de fornecedor exclusivo?
Não é suficiente apresentar a patente de um determinado produto para con-
siderá-lo exclusivo. A patente pode ser adquirida quando é criado produto novo
(invenção) ou quando são aprimoradas as qualidades de um produto, melhoran-
do seu uso (modelo de utilidade). No primeiro caso, a exclusividade fica mais fácil
de ser caracterizada, já na segunda hipótese pode ser que os melhoramentos
realizados pelo inventor não conduzam à exclusividade do produto, fazendo com
que outros que não dispõem da mesma inovação sejam capazes de atender às
necessidades da Administração. Em uma ou outra hipótese é possível haver ex-
clusividade ou não, tudo dependerá da análise e da comprovação do gestor pú-
blico de que o produto patenteado é o único apto a suprir a demanda adminis-
trativa. Nesse sentido, não basta fundamentar que o fornecedor detém a patente
do produto para sua contratação sem licitação. Esse fundamento por si só não
gera exclusividade para justificar a não realização do procedimento licitatório.
Vamos exemplificar: imagine que um inventor desenvolva um tipo de apaga-
dor de quadro-negro mais sofisticado, com melhoramentos que só o apagador

90 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

patenteado tenha. Só o fato de esse produto ser patenteado não quer dizer que
ele deva ser adquirido sem a devida licitação, pois, talvez, os melhoramentos
criados não sejam indispensáveis à Administração e os outros produtos disponí-
veis no mercado atendam às necessidades da Administração. De outro modo se
o inventor produz um melhoramento no produto, adquirindo a patente, com um
diferencial que realmente faz o produto ser incomparável e indispensável, condu-
zirá à exclusividade e contratação direta sem licitação.
Inclusive, o STJ já proferiu decisão nesse sentido:
ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO POR PREGÃO PRESENCIAL. EXCLUSIVIDADE.
HIPÓTESE QUE NÃO SE ENQUADRA NAS HIPÓTESES DE LICITAÇÃO PREVISTAS
NO ART. 25, INCISO I, DA LEI N. 8.666/93.
1. Buscou-se com a impetração anular o Pregão n. 040/2008, realizado pela
Secretaria de Estado de Saúde de Minas gerais, defendendo o impetrante que o
fornecimento do produto licitado enquadra-se em uma das hipóteses de inexigi-
bilidade de licitação previstas no art. 25 da Lei n. 8.666/92 diante do privilégio de
exclusividade para o fornecimento de “capa para tampa de reservatório de água
potável (caixa d’água)”, que está tutelado por carta de patente.
2. As hipóteses de contratação direta por inexigibilidade de licitação, elenca-
das no art. 25 da Lei n. 8.666/93, somente se justificam quando se configura a
inviabilidade de competição, diante da existência de apenas um objeto ou pessoa
capaz de atender às necessidades da Administração Pública.
3. Deflui do inciso I do referido dispositivo a necessidade de implementação
das seguintes condições para que o fornecimento de equipamento ou produtos
prescinda de licitação: (i) o produto estar tutelado por exclusividade, atestada
por órgão ou entidades competentes para tanto, o que impede que o Estado
adquira produto similar; (ii) quando inviável a competição pela ausência de outro
licitante capaz de produzir objeto equivalente, que atenta às necessidades da
Administração; e (iii) o produto, ainda que seja tutelado por patente, não possa
ser fornecido por terceiros.
4. Assim, o que torna inexigível a licitação, segundo a dicção do inciso I do
artigo 25 em referência, não é o simples fato de o fornecedor deter a patente de
seu produto, mas o fato desse produto deter certas características peculiares, não
encontradas nos produtos que lhe são concorrentes, e, ainda, que tais caracterís-

grancursosonline.com.br 91
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

ticas sejam decisivas para contemplar o interesse público.


5. Na hipótese dos autos, o motivo explicitado pelo recorrente para contor-
nar a exigência legal da realização do certame público, na verdade, não restou
devidamente comprovado. A documentação juntada aos autos, notadamente o
registro feito no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, não evidencia prontamente a
exclusividade para todo e qualquer tipo de “capa para tampa de caixa d’água” –
objeto da licitação, mas apenas demonstra que o recorrente detém a patente de
um modelo de utilidade, e não de uma invenção. Ou seja, não há exclusividade
para o produto licitado, mas apenas sobre os melhoramentos promovidos em
produto já existente.
6. Tampouco restou demonstrado que o modelo do produto licitado é exa-
tamente aquele patenteado pelo recorrente e que esse produto, diante de suas
características, é o único no mercado capaz de atender as necessidades do órgão
licitante. E, a análise desses elementos tampouco pode ser satisfeita em sede de
mandado de segurança, incompatível com a dilação probatória.
7. Recurso ordinário em mandado de segurança não provido. (RMS 37.688/
MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
26/06/2012, DJe 06/08/2012)
Bons estudos!

Gustavo Scatolino – Atualmente é Procurador da Fa-


zenda Nacional. Bacharel em Direito e Pós-graduado
em Direito Administrativo e Processo Administrativo.
Ex-Assessor de Ministro do STJ. Aprovado em vários
concursos públicos, dentre eles, Analista Judiciário do
STJ, exercendo essa função durante 5 anos, e Procura-
dor do Estado do Espírito Santo.

92 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO EMPRESARIAL: PROFESSOR ANDRÉ RAMOS

Examinandos e examinandas,
dando prosseguimento a nossa caminhada rumo ao XXI Exame de Ordem,
vamos abordar hoje temas importantes sobre o Direito Empresarial:

Dica 1:

Segundo a legislação falimentar anterior (DL 7.661/1945), o prazo de respos-


ta do devedor empresário que tinha sua falência requerida era extremamente
curto – apenas 24 horas –, o que contribuiu, de certa forma, para o uso da ação
falimentar como instrumento eficiente de cobrança judicial de dívidas. Tentando
mudar essa realidade, a atual lei (Lei n. 11.101/2005) aumentou esse prazo sensi-
velmente, passando a ser de dez dias. Nesse prazo, além de oferecer contesta-
ção, o devedor empresário pode (i) requerer incidentalmente a sua recuperação
judicial (art. 95) ou fazer o depósito elisivo (art. 98, parágrafo único).

Dica 2:

Art. 861. Penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade simples


ou empresária, o juiz assinará prazo razoável, não superior a 3 (três) meses, para
que a sociedade:
I – apresente balanço especial, na forma da lei;
II – ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito de
preferência legal ou contratual;
III – não havendo interesse dos sócios na aquisição das ações, proceda à li-
quidação das quotas ou das ações, depositando em juízo o valor apurado, em
dinheiro.
§ 1º Para evitar a liquidação das quotas ou das ações, a sociedade poderá
adquiri-las sem redução do capital social e com utilização de reservas, para ma-
nutenção em tesouraria.

grancursosonline.com.br 93
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

§ 2º O disposto no caput e no § 1º não se aplica à sociedade anônima de ca-


pital aberto, cujas ações serão adjudicadas ao exequente ou alienadas em bolsa
de valores, conforme o caso.
§ 3º Para os fins da liquidação de que trata o inciso III do caput, o juiz poderá,
a requerimento do exequente ou da sociedade, nomear administrador, que de-
verá submeter à aprovação judicial a forma de liquidação.
§ 4º O prazo previsto no caput poderá ser ampliado pelo juiz, se o pagamen-
to das quotas ou das ações liquidadas:
I – superar o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem dimi-
nuição do capital social, ou por doação; ou
II – colocar em risco a estabilidade financeira da sociedade simples ou empre-
sária.
§ 5º Caso não haja interesse dos demais sócios no exercício de direito de
preferência, não ocorra a aquisição das quotas ou das ações pela sociedade e a
liquidação do inciso III do caput seja excessivamente onerosa para a sociedade, o
juiz poderá determinar o leilão judicial das quotas ou das ações.
O CPC de 1973 previa a possibilidade de penhora de quotas em seu art. 655,
VI, mas não detalhava o seu procedimento. O novo CPC, porém, fez isso em seu
art. 861.
Enfim, havendo penhora de quotas, podem ocorrer, basicamente, três situa-
ções, sucessivamente: (i) os próprios sócios fazerem a aquisição delas, nos termos
do art. 861, II; (ii) caso os sócios não as adquiram, a própria sociedade pode fazê-lo,
usando seu fundo de reserva e colocando-as em tesouraria, nos termos do art. 861,
§ 1º; e, finalmente, (iii) caso nem os sócios nem a sociedade adquiram as quotas,
elas serão postas à venda em leilão judicial. Em qualquer dos casos, os recursos
obtidos com a venda serão usados para pagamento do credor que as penhorou.
Quanto à segunda hipótese (aquisição das quotas pela própria sociedade,
para manutenção em tesouraria), a antiga Lei das Limitadas autorizava tal prática
expressamente em seu artigo 8º. O Código Civil de 2002, no entanto, não tem
regra no mesmo sentido, de modo que a partir da sua vigência passou-se a dis-
cutir se tal prática continuaria ou não sendo permitida.

94 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

O DREI, no anexo II da Instrução Normativa 10/2013, prevê no item 3.2.10.2


que “a aquisição de quotas pela própria sociedade não está autorizada pelo novo
Código Civil”.
No entanto, parece-nos que o DREI será obrigado a rever o seu entendi-
mento, já que o novo CPC prevê expressamente a possibilidade de a sociedade
limitada adquirir suas próprias quotas quando elas forem penhoradas e nenhum
sócio deseje adquiri-las.
Em se tratando de sociedade anônima, não haverá maiores polêmicas, pois a
LSA já tem regra nesse sentido (art. 30, § 1º, alínea “b”).
Bons estudos, pessoal !

André Ramos – Doutor em Direito Empresarial pela


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Mestre em Direito Processual Civil pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Pós-graduado em Di-
reito da Economia e da Empresa pela Fundação Getulio
Vargas (FGV-RJ). Pós graduado em Direito da Concor-
rência pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). Profes-
sor de Direito Empresarial do Centro Universitário IESB
e de diversos cursos preparatórios. Procurador Federal.
Autor da obra Direito Empresarial Esquematizado pelo Grupo Gen.

grancursosonline.com.br 95
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO AMBIENTAL: PROFESSOR FELIPE LEAL

Futura advogada, futuro advogado.


Dia de dicas de Direito Ambiental!!!
Preparado (a)? Então vamos lá!!!

DICA 01 – LEI N. 9.985/2000 – SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

A Lei n. 9.985/2000 instituiu e consolidou o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação da Natureza (SNUC). Com relação à gestão das Unidades, temos
o Ministério do Meio Ambiente como órgão central; o Conselho Nacional do
Meio Ambiente – Conama como Órgão consultivo e deliberativo; e, como
órgãos executores o IBAMA, o Instituto Chico Mendes e, em caráter supletivo,
os órgãos estaduais e municipais.
Guardem esse ano: 2007. Desde a Lei n. 11.516/2007, figura o Instituto
Chico Mendes como principal órgão executor das ações referentes à política na-
cional de unidades de conservação. O IBAMA, no quadro atual, possui atuação
apenas supletiva!!

DICA 02 – LEI N. 9.985/2000 – CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVA-


ÇÃO

As Unidades de Conservação podem ser criadas não apenas por lei, como
também, como exemplo, por Decretos.
No tocante à redução dos limites da Unidade de Conservação, como nos en-
sina Paulo Affonso Leme Machado, só deverá haver a necessidade de lei quando
essa alteração significar mudança para pior, ou seja, acarretar degradação am-
biental, ainda que potencial.

DICA 03 – LEI N. 9.985/2000 – DESNECESSIDADE DE CONSULTA PÚBLICA

96 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Para a criação de uma Unidade de Conservação, são necessários estudos téc-


nicos e uma consulta pública, sob pena de nulidade do ato instituidor.
Cuidado com as questões sobre o assunto. Em relação à estação ecológica e
reserva biológica, dispensa-se a consulta pública, porquanto o interesse público
é legalmente presumido!!!
Bons estudos !

Felipe Leal – Graduado em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba (2003) e mestrado em Direito Am-
biental e Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Amapá (2012). Ingressou na Polícia Federal em
2005, como Papiloscopista Policial Federal, adquirindo
experiência na área técnica, e, desde 2006, é Delega-
do de Policia Federal, tendo já chefiado Delegacias Es-
pecializadas na Repressão ao Tráfico de Drogas (Pará),
na Repressão aos Crimes Ambientais (Amapá) e na
Repressão a Crimes Financeiros (Paraíba), bem como atuou como Chefe do Nú-
cleo de Inteligência em Pernambuco. Na docência, é um dos responsáveis pela
formação profissional de novos policiais, com a elaboração de Caderno Didático
para a Academia Nacional de Polícia. Já elaborou Manuais de Investigações para
autoridades policiais. Professor em Faculdades de Direito e em cursos de pós gra-
duação. Coordenador de pós graduação em Investigação Criminal e Ciências
Forenses. Coordenador da Escola Nacional de Polícia Judiciária.

grancursosonline.com.br 97
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO TRIBUTÁRIO: PROFESSOR MARCELO BORSIO

As dicas de hoje são sobre a Objeção de Pré-Executividade ou Ex-


cesso de Execução Fiscal. Estou sentindo que uma questão do XXI
Exame pode vir daqui….

1. Trata-se de Defesa do Executado Anterior à Garantia Integral da execu-


ção.
2. Motivos: defeitos da CDA, invalidade do título por ausência de seus pres-
supostos formais, carência da ação, ausência de requisitos do processo, paga-
mento, prescrição, que maculam o nascimento da EF, independente de garantir
o juízo (matérias que possam ser conhecidas pelo juízo – cognoscíveis).
3. Simples Petição com prova pré-constituída
4. Argui-se a nulidade do processo de EF, por objeção à às questões de di-
reito material que atinjam a substância do título.
5. No STJ: “A regra, na EF, é a de que o executado deverá alegar toda a matéria
útil à defesa nos embargos do devedor. Excepcionalmente, admite-se a exce-
ção de pré-executividade, no âmbito da qual, sem o oferecimento da penhora, o exe-
cutado pode obter um provimento, positivo ou negativo, sobre os pressupostos do
processo ou sobre as condições da ação” ROMS n 9980/SP. Min. Ari Pargendler.
6. “Em princípio, a defesa do executado deve realizar-se através dos embar-
gos, nos termos do artigo 16 da LEF. Todavia, é assente na doutrina e na juris-
prudência o cabimento de exceção de pré-executividade quando a parte argui
matérias de ordem pública ou nulidades absolutas que dispensam, para
seu exame, dilação probatória. Esse entendimento objetiva atender ao inte-
resse público quanto à economia e celeridade processual.” Resp. 602.407.
Min. Castro Meira.
7. A exceção de pré-executividade é servil à suscitação de questões que de-
vam ser conhecidas de ofício pelo juiz, como as atinentes à liquidez do
título executivo, os pressupostos processuais e as condições da ação exe-
cutiva.” EDResp 576.713/SC Min, Luiz Fux.
8. Súmula 393 STJ: A exceção de pré-executividade é admissível na exe-

98 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

cução fiscal relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem


dilação probatória.
9. Abaixo algumas matérias que podem ser arguidas na ação de ex-
ceção de pré-executividade e que podem aparecer na sua 1ª Fase do XXI
Exame. Fique ligado!
1. Falta de condições da ação e de seus pressupostos processuais decorrentes
de nulidades absolutas.
2. Falta de jurisdição.
3. A ilegitimidade de parte.
4. A inépcia da petição inicial.
5. A falta ou irregularidade de citação.
6. A falta de capacidade postulatória.
7. A coisa julgada, a litispendência e a perempção.
8. Os vícios do PAF.
9. As nulidades relativas à Execução.
10. O Excesso de Execução.
11. A inexistência total ou parcial do débito fiscal.
12. Qualquer outra causa extintiva da obrigação, como pagamento, compen-
sação, novação.
Bons estudos!!

Marcelo Borsio – Delegado da Polícia Federal. Possui


graduação em Direito pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, é mestre e doutor em Direito Previdenciário
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Pós-
-Doutor em Direito da Seguridade Social pela Universi-
dade Complutense de Madrid. Especialista em Direito
Tributário pela PUC-SP. Autor de algumas obras no
tema, inclusive com o Prof° Luiz Flávio Gomes, pales-
trante pelo país, professor e coordenador de Pós-Gra-
duação de Direito Previdenciário e da Prática Previden-
ciária. Coordenador Pedagógico do Projeto Exame de Ordem.

grancursosonline.com.br 99
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO ADMINISTRATIVO: PROFESSOR EMERSON CAETANO

Caros alunos,
dando continuidade a Regressiva de 100 dias para o Exame de Ordem, hoje
veremos dicas de Direito Administrativo:

RESUMO TEÓRICO DA PARTE GERAL DO DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Estado, Governo e Administração Pública – Conceitos.

1.1 ESTADO
• Pessoa Jurídica Territorial Soberana;
• Nação politicamente organizada, dotada de personalidade jurídica;
• Pessoa Jurídica de Direito Público com Elementos Formadores e 3 Poderes;
• Atual tanto no âmbito do Direito Público quanto do Direito Privado;
• Teoria da Dupla Personalidade do Estado: Essa teoria admitia que o
Estado poderia ter tanto personalidade de DIREITO PÚBLICO, quando atu-
ando na área do direito público, quanto de DIREITO PRIVADO, quando atu-
ando nas questões regidas pelo direito privado;
• Elementos originários e indissociáveis:

POVO – componente humano;


TERRITÓRIO – base física, espaço geográfico delimitado;
GOVERNO SOBERANDO (SOBERANIA) – elemento condutor do Estado, de-
tém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização; poder
absoluto, indivisível e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se segundo a
vontade livre de seu povo e de fazer cumprir suas decisões.
FINALIDADE –

1.1.1 Poderes e Funções do Estado.

100 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

• Modelo de Montesquieu;
• Elementos estruturais do Estado – orgânicos ou organizacionais;
• Não se confundem com os poderes Administrativos – são formas estrutu-
rais de manifestação da Vontade Estatal;
• Funções típicas e Funções atípicas: LEGISLATIVA, JUDICIAL e ADMINIS-
TRATIVA
• Munus Publico: Um encargo para quem exerce. Um dever de defesa, con-
servação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade.
Não há liberdade para a perseguição de outros interesses.

 Obs.: Celso Antônio inclui uma quarta função POLÍTICA OU DE GOVER-


NO – Iniciativa de lei do Poder Executivo, Sanção ou veto, Declaração
do Estado de Sítio, Estado de Defesa, Decretação de calamidade pública,
Declaração de Guerra…

FUNDAMENTOS: a) não tem o caráter de gestão rotineira dos assuntos da


sociedade; b) não estão em pauta comportamentos infralegais ou infraconstitu-
cionais numa relação hierárquica.
1.2 GOVERNO: Atividade política e discricionária. Conduta independente do
Administrador. Comando com Responsabilidade Constitucional e Política.
• Em sentido formal: é conjunto de Poderes e Órgãos Constitucionais.
• Em sentido Material: é o complexo de funções estatais básicas.
• Em sentido Operacional: é a condução política dos Negócios Públicos
(comando, iniciativa, fixação de objetivos do Estado e manutenção da or-
dem jurídica vigente). Atua por meio de atos de soberania e atos de auto-
nomia. Exerce a Direção Suprema dos Interesses Públicos.

1.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: É o aparelhamento do Estado destinado à

grancursosonline.com.br 101
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

realização de serviços, para a satisfação das necessidades coletivas.


• Pratica atos de execução, com maior ou menor grau de autonomia funcional;
• É o instrumental do Estado para a implementação das opções políticas do
Governo;
• É uma atividade neutra, vinculada à lei ou à norma técnica;
• Atua com responsabilidade técnica e legal pela execução;
• Exerce conduta hierarquizada, sem responsabilidade constitucional e polí-
tica;
• Sem qualquer faculdade de opção política;
• Poder de decisão restrito à área de suas atribuições e competência executiva
(aspectos: jurídicos, técnicos, financeiros e de conveniência administrativa);

Em sentido Subjetivo, Orgânico ou Formal:

Em sentido Objetivo, Material ou Funcional:

Em sentido Operacional: É o desempenho perene e sistemático, legal e


técnico dos serviços próprios do Estado em benefício da coletividade.
2. Conceito de Direito Administrativo. Há grande divergência na concei-
tuação por causa da ausência de uma definição clara quanto ao OBJETO desse
ramo do Direito.

• CRITÉRIOS ADOTADOS PARA CONCEITUAR O DIREITO ADMINISTRATIVO:

2.1 Escola do Serviço Público: (Duguit, Jèze e Bonnard)


• Inspirada na Jurisprudência do Conselho de Estado Francês (caso Blanco,
1873);
• Direito Administrativo disciplina o “serviço público”, que abrangia toda a
atuação do Estado, inclusive atividades industriais e comerciais;
• Incluia normas de outros ramos do direito, mas deixava de fora o poder de polícia.
2.2 Critério do Poder Executivo:

102 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

• O Direito Administrativo centralizava todo o seu estudo na atuação do Po-


der Executivo.
• Os outros Poderes também exercem atividade administrativa. O Executivo
exerce atividades de natureza política e constitucional que não interessam
ao Direito Administrativo.

2.3 Critério das Relações Jurídicas:


• Direito Administrativo como o conjunto de normas jurídicas que regem as
relações entre a Administração e os administrados;
• Outros ramos do direito também fazem isso;
• Exclui as relações internas entre Órgãos, Agentes e Entidades Públicas.

2.4 Critério Teleológico: (Oswaldo Aranha Bandeira de Mello)


• Direito Administrativo como o sistema dos princípios jurídicos que regulam
a atividade do Estado para o cumprimento de seus fins.
• Esse ramo restringia-se à forma de ação do Estado-poder, excluindo a ati-
vidade de julgar.

2.5 Critério Negativo ou Residual:


• Direito Administrativo tem por objeto as atividades desenvolvidas para a
consecução dos fins estatais, excluídas a legislação e a jurisdição ou somen-
te esta;
• Sentido Positivo: compreende os institutos jurídicos pelos quais o Estado
busca realizar seus fins;
• Sentido Negativo: define-se o objeto do Direito Administrativo excluin-
do-se a Legislação e a Jurisdição.

2.6 Critério da Distinção entre Atividade Jurídica e Social do Estado:


• Com base no TIPO DE ATIVIDADE EXERCIDA e nos ÓRGÃOS que a exercem;
• É o conjunto dos princípios que regulam a atividade jurídica não conten-
ciosa do Estado e a constituição dos órgãos e meios de sua ação em geral.
2.7 Critério da Administração:

grancursosonline.com.br 103
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

• Direito Administrativo é o conjunto de princípios que regem a Administra-


ção Pública;
• Compreende os aspectos Subjetivo e Objetivo.

3. Fontes do Direito Administrativo:


• FONTE PRIMÁRIA > Lei.
• FONTES SECUNDÁRIAS: Jurisprudência, Doutrina, Costumes e Princípios
Gerais do Direito.

4. Regime Jurídico Administrativo: É o conjunto sistematizado de prin-


cípios e normas que conferem identidade ao Direito Administrativo, tornando
possível diferenciá-lo dos demais ramos do Direito.
• É o fundamento metodológico de cada um dos institutos do Direito Admi-
nistrativo;
• Permite a compreensão desse ramo do Direito;
• Orientação de Celso Antônio Bandeira de Mello;

• Distinção entre Princípios e Regras:

PRINCÍPIOS:
• Não são meras recomendações ou orientações;
• São normas que obrigam aqueles que a elas se submetem;
• A generalidade quanto aos destinatários e ao conteúdo não prejudica sua
força coercitiva;
• São mandamentos de OTIMIZAÇÃO. Ponderação dos valores.

REGRAS:
• Caracterizam-se pela concretude;
• Amplitude fixada antecipadamente;
• Conflito entre elas é dirimido no plano da validade;
• Não há hierarquia normativa entre princípios e regras, qualquer um pode
prevalecer.
4.2 Princípios do Direito Administrativo:

104 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

José Cretella Júnior afirma que princípio é toda proposição que age como
pressuposto do sistema, legitimando-o. Classifica-os em:
a) princípios onivalentes(ou universais) – os princípios lógicos encontra-
dos em toda construção científica elaborada pelo homem;
b) princípios plurivalentes – os princípios comuns a um grupo de ciências
semelhantes;
c) princípios monovalentes – os princípios que atuam em somente uma
ciência;
d) princípios setoriais – os princípios de um setor de determinada ciência.
Para Celso Antônio, o Regime Jurídico Administrativo fundamenta-se em
dois princípios basilares: Supremacia do Interesse Público sobre o Privado e Indis-
ponibilidade do Interesse Público pela Administração.

 Obs.: Todos os demais princípios e prerrogativas da Administração


Pública decorrem desses dois princípios basilares.

SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO:


• Posição privilegiada do órgão encarregado de zelar pelo interesse público;
• Posição de supremacia do órgão nas relações com os administrados;
• Acarreta a exigibilidade e a executoriedade dos Atos Administrativos;
• Possibilidade de Anulação e Revogação de seus próprios atos (autotutela);
• Interesse público PRIMÁRIO (pertinente à sociedade) e SECUNDÁRIO (rela-
tivo às conveniências do aparato Estatal);

INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO:


• Quem detém apenas poderes instrumentais à consecução de um determi-
nado fim não possui a prerrogativa de abrir mão deles;
• O administrador não pode gerir o Estado desvinculado do interesse público;
• Não dispor com liberdade dos deveres entregues à tutela do Administrador;
• Dever de prover a coisa pública com equidade, isonomia, publicidade, ra-
zoabilidade, proporcionalidade, moralidade e demais princípios;
• Torna-se possível ponderar interesses patrimoniais em face de outros inte-

grancursosonline.com.br 105
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

resses do Estado;
• Divergência quanto ao cabimento de ARBITRAGEM nos contratos com a
Administração; (Agravo de Instrumento 52.181, 1973);
• Possibilidade de transação entre Município e Servidores – RE 253.885-0,
2002- STF);
• Possibilidade de Juízo Arbitral, STJ, Agravo Regimental no MS 11.308-DF,
Fux, 2006).

4.2.1 Legalidade:
• Legalidade estrita e legalidade ampla;
• Presunção de Legitimidade;
• Restrições: MEDIDAS PROVISÓRIAS, ESTADO DE SÍTIO, ESTADO DE DEFESA.

4.2.2 Impessoalidade:

• Nepotismo: impessoalidade, moralidade, eficiência e isonomia;


• Para o STF, não há necessidade de lei formal para a vedação ao nepotismo
(RE 579.951/RN);

4.2.3 Publicidade:

• Condição de Eficácia;
• Termo inicial dos prazos;
• Controle e Fiscalização;
• Publicidade e Publicação;
• Mandado de Segurança e Habeas Data;
• Exceções: 5º, X, XXXII e LX (Lei n. 12.527/2011);

4.2.4 Segurança Jurídica:

106 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

• Não basta o Estado estar vinculado à Lei como no Estado Liberal;


• É preciso observar determinados valores jurídicos que tornem previsível e
razoável a vida em coletividade;
• Sociedade cada dia mais complexa e dinâmica;
• O direito tem a função primordial de resguardar um grau razoável de pre-
visibilidade e continuidade das expectativas no tocante às escolhas institu-
cionais;
• Assegurar o direito de conhecer, antecipadamente, os resultados de suas
ações e omissões;
• É indispensável a confiança das pessoas físicas e jurídicas destinatárias da
atuação Estatal;
• É necessário um mínimo de coerência e firmeza nos comportamentos Es-
tatais;
• Segurança Jurídica como pilar de sustentação da ordem jurídica e da esta-
bilidade das relações sociais;
• O Poder Público não pode omitir-se na sua missão de perseguir e promo-
ver um mínimo de quietude e estabilidade nas relações jurídicas;
• Não pode ser entrave às mudanças sociais e jurídicas;
• Não é imutabilidade das situações de fato e normas jurídicas, todavia a es-
tabilidade mínima das relações sociais;
• Não pode ser reduzida a noção de CERTEZA JURÍDICA;

grancursosonline.com.br 107
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

PROTEÇÃO DA CONFIANÇA: (Pedro José Jorge COVIELLO, “La protección


de la confianza del administrado)
• Cada um deve guardar a palavra dada, não fraudar a confiança ou abusar
dela;
• A confiança legítima é a segurança jurídica vista do lado do particular;
• Busca atenuar as consequências ocasionadas pela aplicação mecânica do
princípio da Legalidade;
• Não se confunde com a boa-fé. Esta é um pressuposto subjetivo da con-
fiança legítima;

Requisitos:
a)Comprovar uma situação subjetiva de confiança (boa-fé de quem invoca);
b)Que tenha atuado de forma prudente (boa-fé);
c) que o direito gerador tenha sido idôneo para produzi-la.
• Decorre dos postulados: Estado de direito, da segurança jurídica e da equi-
dade.
• Valida a crença de boa-fé nos comportamentos, promessas, declarações e
informes das autoridades públicas;

4.2.5 Boa-fé Objetiva


• Para alguns, implícito no conceito de interesse público;
• Impõe um padrão ético de honestidade, confiança, lealdade e fidelidade;
• Impossibilidade de o Estado violar a confiança que a própria presunção de
legitimidade dos atos administrativos traz, agindo contra factum propium;
• Inadmissível um comportamento público que crie justas expectativas e que,
posteriormente, frustre de modo desarrazoado;
• Válvula do sistema jurídico que permite o ingresso da moral;

108 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Decorrências da Boa-fé Objetiva:


a)Vedação de excesso no exercício de prerrogativas;
b)Proibição ao venire contra factum propium;
c) Proibição à inação inexplicável e desarrazoada;
d)Vedação à defesa de nulidades puramente formais;
e)Inaplicação do tu quoque (não se pode violar e exigir normas simultanea-
mente);
f )Negativa ao exercício inútil de direitos e deveres;
g)Dever do favor acti (dever de buscar a convalidação dos atos administrati-
vos);
h)Respeito aos motivos determinantes do ato administrativo;
Bons estudos !!!

Emerson Caetano – Professor de Direito Administrati-


vo. Especialista em preparação para concursos públi-
cos. Pós-graduado pela Fundação Escola Superior do
Ministério Público do Distrito Federal – FESMPDFT. Ad-
vogado. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário
de Brasília – UniCEUB. Aprovado em cargos públicos.
Ex-Analista Judiciário do STJ. Ex-Assessor de Ministro
do STJ. Foi servidor público por mais de 10 anos.

grancursosonline.com.br 109
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO ADMINISTRATIVO: PROFESSOR GUSTAVO SCATOLINO

Súmula vinculante n. 13 do STF e Agentes Políticos

Com o intuito de ressaltar a aplicação dos princípios administrativos, dentre


eles a impessoalidade, o STF editou a súmula vinculante de n. 13; mas ao julgar
o RE n. RE 579.951 deu um novo sentido à referida súmula, para excluir de sua
incidência os cargos políticos, como os de Ministro, ou Secretário Estadual ou
Municipal; isso em virtude de terem esses cargos natureza eminentemente polí-
tica; diversa, portanto, da que caracteriza os cargos e funções de confiança em
geral, que têm feição nitidamente administrativa.
A súmula vinculante n. 13 vedou “a nomeação de cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive
da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em
cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comis-
são ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública di-
reta e indireta em qualquer dos poderes da união, dos estados, do distrito federal
e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola
a constituição federal”.
A edição de tal súmula decorreu da publicação da Resolução n. 07/2005,
do Conselho Nacional de Justiça. Por meio desse ato, o CNJ proibiu a prática
de nepotismo no âmbito do Poder Judiciário, a pretexto de emprestar eficácia
a diversos princípios constitucionais. Porém, foi interposta Ação Declaratória de
Constitucionalidade, ADC n. 12, pela Associação dos Magistrados Brasileiros.
Foi deferida medida cautelar, suspendendo a discussão da questão pelas ins-
tâncias inferiores. Posteriormente, julgou-se procedente a ADC n. 12, declarando
a constitucionalidade da resolução do Conselho Nacional de Justiça, com eficácia
erga omnes e efeito vinculante (ADC n. 12, Tribunal Pleno, 2009). Com isso, o
nepotismo no âmbito do Poder Judiciário já tinha um marco inicial para sua ex-
tinção.
Na mesma data do julgamento de mérito da ADC n. 12, em 20 de agosto de

110 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

2008, o STF julgou o Recurso Extraordinário n. 579.951, em que se questionava a


prática de nepotismo no âmbito do Poder Executivo. E o recurso foi provido, para
anular a nomeação de um “aparentado com agente político” para cargo em co-
missão. Entendeu-se que a vedação ao nepotismo se estenderia aos demais Po-
deres da República. E, para a caracterização de atos como nepotismo, utilizou-se
dos mesmos critérios fixados pela Resolução n. 07 do CNJ. Era o fim do nepotismo
também para os demais Poderes da República.
Contudo, foram excluídas do alcance dessa vedação as nomeações para car-
gos de natureza política, ou seja, de agentes políticos. Em síntese, decidiu o Tribu-
nal que é proibido ao agente público de quaisquer dos Poderes nomear parentes
até o terceiro grau para cargos ou empregos públicos, ressalvando-se as nome-
ações para cargos de agentes políticos.
Na sessão do dia seguinte a esses históricos julgamentos, o Supremo Tribunal
Federal aprovou a Súmula Vinculante n. 13, expressando que a vedação à prática
do nepotismo se estende a todos os três Poderes e em todas as esferas federa-
tivas.
Ao se analisar o conteúdo da súmula vinculante n. 13, percebe-se que a re-
dação é confusa. Inclusive, na leitura da ata da sessão de aprovação verifica-se a
dificuldade em se encontrarem os termos corretos para a edição. Na parte final
do enunciado, consta a seguinte redação atual: “compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a constituição federal”. Na sessão, foi cogitado uti-
lizar a expressão “inclusive” ou “abrangendo”, ao invés de “compreendido”. Com
efeito, esperava-se que uma súmula vinculante só fosse editada após o tema ter
sido amplamente debatido; mas o STF analisou poucos casos e já foi editando a
referida súmula.
Além do mais, o texto fala em parentes na linha reta, colateral e por afinidade
até o terceiro grau, divergindo, assim, do Código Civil, que limita o parentesco
por afinidade até o segundo grau.
A súmula também não pode criar o impedimento para que parentes assu-
mam função de confiança no mesmo órgão, pessoa jurídica ou até mesmo em
qualquer esfera de governo. É possível que dois irmãos sejam servidores efetivos

grancursosonline.com.br 111
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

do mesmo órgão (concursados) e venham a assumir função de confiança ou car-


go em comissão, desde que não haja relação de subordinação entre eles. Enten-
dimento contrário resultaria em impedir que um parente recebesse uma função
de confiança no órgão, caso outro já fosse nomeado para função semelhante.
Apesar de todos esses questionamentos, o STF, com a edição da súmula vin-
culante n. 13, veda, expressamente, essa conduta em todos os Poderes e em
toda a Administração Pública de todos os níveis da Federação, com a res-
salva de sua aplicação aos agentes políticos.[1]
A nomeação de parentes ou cônjuge para cargos em comissão ou função de
confiança viola não apenas o princípio da impessoalidade, mas também o princí-
pio da moralidade, entre outros. Por isso, em concurso público todas as opções
abaixo podem ser consideradas corretas:

Aplicações da súmula vinculante n. 13 do STF

Decisões relevantes do STF sobre aplicação da Súmula Vinculante n. 13:


Limitação do Código Civil em relação ao parentesco por afinidade –
“Como relatado, a autora impetrou mandado de segurança contra ato do Presi-
dente do Tribunal de Contas do Estado do Piauí, questionando a ilegalidade de
sua exoneração de cargo em comissão naquela Corte de Contas em razão de ser
sobrinha da esposa do Conselheiro Luciano Nunes Santos. A medida liminar foi
deferida e, posteriormente, confirmada na sentença que concedeu a segurança,
sob o fundamento de que a impetrante não podia ser alcançada pela Súmula
Vinculante 13, pois o parentesco por afinidade é limitado aos ascendentes, des-
cendentes e irmãos do cônjuge ou companheiro, nos termos do art. 1.595, § 1º,
do Código Civil. Tal entendimento não merece prosperar. A Súmula Vinculante 13
é expressa em incluir a nomeação de parentes por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, no conceito de nepotismo. Tal formulação, é verdade, pode se entender
que conflitaria com o conceito de parentesco delimitado na lei civil, que confor-
me já ressaltado, limita-o aos ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge
ou companheiro. Essa suposta incompatibilidade, contudo, foi afastada por este

112 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

Tribunal por ocasião do julgamento da ADC 12-MC/DF, Rel. Min. Ayres Britto.” Rcl
9.013, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Decisão Monocrática, julgamento
em 21.9.2011, DJe de 26.9.2011.
Súmula Vinculante 13 e não exaustão das possibilidades de nepotis-
mo – “Ao editar a Súmula Vinculante n. 13, a Corte não pretendeu esgotar todas
as possibilidades de configuração de nepotismo na Administração Pública, dada
a impossibilidade de se preverem e de se inserirem, na redação do enunciado,
todas as molduras fático-jurídicas reveladas na pluralidade de entes da Federa-
ção (União, estados, Distrito Federal, territórios e municípios) e das esferas de
Poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), com as peculiaridades de organização
em cada caso. Dessa perspectiva, é certo que a edição de atos regulamentares
ou vinculantes por autoridade competente para orientar a atuação dos demais
órgãos ou entidades a ela vinculados quanto à configuração do nepotismo não
retira a possibilidade de, em cada caso concreto, proceder-se à avaliação das
circunstâncias à luz do art. 37, caput, da CF/88.” MS 31.697, Relator Ministro Dias
Toffoli, Primeira Turma, julgamento em 11.3.2014, DJe de 2.4.2014.
Servidor público efetivo indicado para cargo em comissão e relação
de parentesco com servidor não efetivo do mesmo órgão – “Considerada
a amplitude e a complexidade da estrutura administrativa dos diversos órgãos do
Poder Judiciário no tocante à gestão de seus servidores (efetivos ou não), enten-
do que não configura nepotismo a nomeação de pessoa sem vínculo efetivo com
o órgão para cargo de direção, chefia ou assessoramento sem que se questione
a existência de qualquer influência do servidor efetivo com quem o nomeado é
casado, mantém relação estável ou possui relação de parentesco sobre a autori-
dade nomeante, seja para fins de se alcançarem interesses pessoais do servidor
efetivo (devido a relações de amizade, subordinação ou mudança de localidade,
por exemplo) ou da autoridade nomeante (mediante troca de favores), sob pena
se afrontar um dos princípios que a própria Resolução CNJ n. 7/05 e a Súmula
Vinculante n. 13 pretenderam resguardar, qual seja, o princípio constitucional da
impessoalidade.” MS 28.485, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, julga-
mento em 11.11.2014, DJe de 4.12.2014.
Nepotismo e lei estadual que prevê hipóteses de exceção – “A previ-

grancursosonline.com.br 113
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

são impugnada, ao permitir (excepcionar), relativamente a cargos em comissão


ou funções gratificadas, a nomeação, a admissão ou a permanência de até dois
parentes das autoridades mencionadas no caput do art. 1º da Lei estadual n.
13.145/1997 e do cônjuge do chefe do Poder Executivo, além de subverter o
intuito moralizador inicial da norma, ofende irremediavelmente a Constituição
Federal.” ADI 3.745, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgamento em
15.5.2013, DJe de 1.8.2013.
[1]
. NÃO APLICAÇÃO DA S.V. n. 13 A CARGOS DE CONSELHEIROS DE TRIBU-
NAIS DE CONTAS por ser cargo técnico e não político: “Entendeu-se que estariam
presentes os requisitos autorizadores da concessão da liminar. Considerou-se
que a natureza do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas não se en-
quadraria no conceito de agente político, uma vez que exerce a função
de auxiliar do Legislativo no controle da Administração Pública e que o
processo de nomeação do irmão do Governador, ao menos numa análise
perfunctória dos autos, sugeriria a ocorrência de vícios que maculariam
a sua escolha por parte da Assembléia Legislativa do Estado. (..). Rcl 6702
AgR-MC/PR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4.3.2009 STF

Gustavo Scatolino – Atualmente é Procurador da Fa-


zenda Nacional. Bacharel em Direito e Pós-graduado
em Direito Administrativo e Processo Administrativo.
Ex-Assessor de Ministro do STJ. Aprovado em vários
concursos públicos, dentre eles, Analista Judiciário do
STJ, exercendo essa função durante 5 anos, e Procura-
dor do Estado do Espírito Santo.

114 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

CONCILIAÇÃO

A Justiça do Trabalho também possui uma forte atuação no âmbito concilia-


tório. Essa lógica deriva do próprio texto celetista, cujo art. 764 expressa no caput
e § 1º:
Art. 764 – Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da
Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.
1º – Para os efeitos deste artigo, os juízes e Tribunais do Trabalho empregarão
sempre os seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória
dos conflitos.
A importância da conciliação é tamanha que o acordo pode ser realizado tan-
to nos momentos em que a tentativa é obrigatória no processo trabalhista, como
em qualquer outro momento. A tentativa compulsória ocorre antes da apresen-
tação da defesa (“art. 846 – Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a
conciliação”) e após as razões finais (Art. 850 – Terminada a instrução, poderão
as partes aduzir razões finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para
cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovará a proposta de conciliação,
e não se realizando esta, será proferida a decisão).
Entretanto, como afirmado, nada impede a conciliação perpetrada fora desses
momentos, conforme art. 764, § 3º, da CLT: “É lícito às partes celebrar acordo que
ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório”.
Uma vez proposta a conciliação, o juiz não possui obrigação de homologá-la,
devendo justificar o indeferimento do pedido de homologação. E a parte não
pode alegar direito líquido e certo de ter o acordo chancelado. Nesse sentido
segue a Súmula 418 do TST:
MANDADO DE SEGURANÇA VISANDO À CONCESSÃO DE LIMINAR OU HO-
MOLOGAÇÃO DE ACORDO (conversão das Orientações Jurisprudenciais n.s 120
e 141 da SBDI-II) – Res. 137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005
A concessão de liminar ou a homologação de acordo constituem faculdade

grancursosonline.com.br 115
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

do juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de segu-
rança.
A estipulação do acordo pressupõe a discriminação da natureza das parcelas
ajustadas, ou seja, se são indenizatórias ou remuneratórias. É o que se infere do
art. 832, § 3º, da CLT: “As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre
indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo
homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhi-
mento da contribuição previdenciária, se for o caso”.
Se a parcela for discriminada como remuneratória, haverá incidência de con-
tribuições previdenciária. É o que ocorre com as horas extras, salários, adicionais,
gratificações etc. Por outro lado, se a parcela for indenizatória (tais como férias
vencidas, multa do art. 477, § 8º, da CLT etc), não há que se falar incidência de
contribuições previdenciárias.
Caso não haja essa discriminação, as contribuições previdenciárias incidirão
sobre o valor total do acordo. Essa mesma lógica se aplica mesmo quando não
há vínculo de emprego reconhecido no acordo. Nessa direção segue a inteligên-
cia da OJ 368 da SDI-I do TST:
DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS. ACORDO HOMOLOGADO EM JUÍZO. INE-
XISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. PARCELAS INDENIZATÓRIAS. AUSÊN-
CIA DE DISCRIMINAÇÃO. INCIDÊNCIA SOBRE O VALOR TOTAL (DEJT divulgado
em 03, 04 e 05.12.2008)
É devida a incidência das contribuições para a Previdência Social sobre o valor
total do acordo homologado em juízo, independentemente do reconhecimento
de vínculo de emprego, desde que não haja discriminação das parcelas sujeitas
à incidência da contribuição previdenciária, conforme parágrafo único do art. 43
da Lei n. 8.212, de 24.07.1991, e do art. 195, I, “a”, da CF/1988.
Se o acordo for efetuado após o trânsito em julgado, deve haver proporcio-
nalidade entre as parcelas remuneratórias e indenizatórias estipuladas na conde-
nação e no objeto do acordo. A Súmula 376 do TST aponta:

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ACORDO HOMOLOGADO EM JUÍZO

116 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA. INCIDÊNCIA


SOBRE O VALOR HOMOLOGADO (DEJT divulgado em 19, 20 e 22.04.2010)
É devida a contribuição previdenciária sobre o valor do acordo celebrado e
homologado após o trânsito em julgado de decisão judicial, respeitada a pro-
porcionalidade de valores entre as parcelas de natureza salarial e indenizatória
deferidas na decisão condenatória e as parcelas objeto do acordo.
Na fixação da multa no termo de acordo, a importância não pode ultrapassar
o valor da obrigação principal. Vejamos a OJ 54 da SDI-I do TST:
MULTA. CLÁUSULA PENAL. VALOR SUPERIOR AO PRINCIPAL (título alterado,
inserido dispositivo e atualizada a legislação) – DJ 20.04.2005
O valor da multa estipulada em cláusula penal, ainda que diária, não poderá
ser superior à obrigação principal corrigida, em virtude da aplicação do artigo
412 do Código Civil de 2002 (art. 920 do Código Civil de 1916).
Homologado o acordo, as partes não podem recorrer de seus termos. Essa
vedação decorre do art. 831, parágrafo único, da CLT: “No caso de conciliação, o
termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência
Social quanto às contribuições que lhe forem devidas”. Já a União, credora das
contribuições previdenciárias, pode recorrer, conforme art. 832, § 4º, da CLT.
Nesse contexto, caso uma das partes queira impugnar a conciliação, deve
manejar ação rescisória. O TST já consolidou entendimento na Súmula 259:
TERMO DE CONCILIAÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA (mantida) – Res. 121/2003, DJ
19, 20 e 21.11.2003
Só por ação rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no pará-
grafo único do art. 831 da CLT.
Quanto aos efeitos do acordo, se houver extinção do contrato de trabalho
com ampla e plena quitação, sem qualquer ressalva, a eficácia liberatória atinge
qualquer outra parcela oriunda do contrato, ainda que não pedida na ação prin-
cipal. E, caso seja ajuizada uma nova ação trabalhista pedindo outras verbas, a
ação será, como regra, julgada extinta sem resolução de mérito por violação à
coisa julgada.
Esse é o raciocínio da OJ 132 da SDI-II do TST:

grancursosonline.com.br 117
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

AÇÃO RESCISÓRIA. ACORDO HOMOLOGADO. ALCANCE. OFENSA À COISA


JULGADA (DJ 04.05.2004)
Acordo celebrado – homologado judicialmente – em que o empregado dá
plena e ampla quitação, sem qualquer ressalva, alcança não só o objeto da inicial,
como também todas as demais parcelas referentes ao extinto contrato de traba-
lho, violando a coisa julgada, a propositura de nova reclamação trabalhista.

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito
Processual do Trabalho e Direito Administrativo.

118 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO CONSUMIDOR: PROFESSORA PATRÍCIA DREYER


Meus caros alunos, a dica de hoje é sobre Direito do Consumidor e, dentro
dessa disciplina, vamos falar das sanções administrativas e penais sofridas
pelo fornecedor:

1 – Nas linhas do artigo 56, as infrações das normas de defesa do consumi-


dor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem
prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas: I –
multa; II – apreensão do produto; III – inutilização do produto; IV – cassação do
registro do produto junto ao órgão competente; V – proibição de fabricação do
produto; VI – suspensão de fornecimento de produtos ou serviço; VII – suspen-
são temporária de atividade; VIII – revogação de concessão ou permissão de uso;
IX – cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; X – interdição, total
ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; XI – intervenção admi-
nistrativa; XII – imposição de contrapropaganda.
O artigo 55 do CDC, ao elencar as sanções administrativas sofridas pelo for-
necedor, cuida na verdade do chamado poder de polícia que, nas linhas do
professor Celso Antônio Bandeira de Mello, trata-se da atividade expressa em
atos normativos ou concretos de condicionar, com fundamento em sua suprema-
cia geral e na forma da lei, a liberdade e a propriedade dos indivíduos, mediante
ação fiscalizadora, preventiva ou repressiva, impondo coercitivamente aos parti-
culares um dever de abstenção (“non facere”), a fim de conformar-lhes os com-
portamentos aos interesses sociais consagrados no sistema normativo.
2 – Falando do poder de polícia, é bom lembrar que ele se reveste de três
atributos: discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade. O primeiro
trata-se da livre escolha, à luz da oportunidade e da conveniência, que tem a
Administração Pública de aplicar sanções a fim de atingir o objetivo pretendido.
Portanto, se há mais de uma possibilidade de sanção, é a Administração que
deve verificar no caso concreto qual seria mais adequada.
3 – A autoexecutoriedade quer dizer que a Administração Pública também
tem a prerrogativa de decidir e aplicar a sanção e não precisa da intermediação
do Poder Judiciário para fazer valer ou cumprir a sanção imposta.
4 – A coercibilidade quer dizer que se houver eventual resistência por parte

grancursosonline.com.br 119
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

do fornecedor em cumprir a sanção imposta pela Administração Pública, o próprio


órgão público pode impor a decisão expedida e realiza-la, podendo utilizar-se, in-
clusive, de força policial para tanto.
5 – O artigo 57 do CDC reza que a multa deve ser destinada a um Fundo
de que trata a Lei da Ação Civil Pública, ou para os Fundos Estaduais ou Muni-
cipais que defendem o Direito do Consumidor. São fundos de interesses difusos
que devem, em tese, receber valores de condenações judicias por eventual lesão
a tais interesses e que devem ser revertidos para o financiamento de atividades
relacionadas ao interesses previstos no CDC, na Lei da Ação Civil Pública, na Lei
da Ação Popular, dentre outras.
6 – Os artigos 58 a 60 do CDC trabalham as sanções em forma de gradação
– tanto assim, que as penas de apreensão, de inutilização de produtos, de proibição
de fabricação de produtos, de suspensão do fornecimento de produto ou serviço,
de cassação do registro do produto e revogação da concessão ou permissão de
uso do artigo 58 só podem ser aplicadas quando se constate algum vício de quan-
tidade ou qualidade, inadequação ou insegurança. Para o artigo 59, a reincidência
deve ser considerada a prática de nova infração, de mesma natureza, que ocorrer
depois do término do processo administrativo sancionatório anterior.
7 – No que diz respeito às infrações penais previstas nos artigos 61 a
80, é importante mencionais que, nesse diapasão, o Código Penal e a lei consu-
merista se complementam e continuam em vigor, pois o CDC não teve caráter
revogatório. Em caso de aparente conflito, devem ser aplicados os critérios da
especialidade, da subsidiariedade, da consunção etc. Quanto à competência para
julgamento de tais crimes, a mais autorizada jurisprudência entende que a com-
petência é das varas criminais comuns.
8 – O artigo 63 do CDC tipifica como crime omitir dizeres ou sinais ostensivos
sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólu-
cros, recipientes ou publicidade, e fica claro que o objeto juridicamente tutelado
é a vida, a saúde, a segurança do consumidor. É crime próprio, que demanda o
sujeito ativo fornecedor, de perigo abstrato, pois não se exige prova da ocorrên-
cia de perito concreto, omissivo puro ou próprio, de forma vinculada, instantâ-
neo, unissubjetivo, unissubsistente. Admite a forma culposa, pois não se observa
o dever de cuidado, num menor potencial ofensivo, cabendo os benefícios da

120 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

lei dos Juizados Especiais Criminais, sendo aplicável a suspensão condicional do


processo. Todavia, não se admite transação penal.
9 – Já o artigo 64 tipifica que é crime deixar de comunicar à autoridade com-
petente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo
conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado. Aqui o bem da vida
também é a saúde, a segurança e a vida do consumidor. É crime omissivo puro
ou próprio, de perigo abstrato, instantâneo, de forma vinculada porque sua con-
sumação só pode ser perpetrada conforme descrição legal, unissubjetivo porque
só pode ser cometido pelo fornecedor, unissubsistente porque praticável por ato
único, podendo ser somente doloso. Por ser de menor potencial ofensivo, admi-
te-se a suspensão condicional do processo.
10 – Por fim, a última dica de hoje é o artigo 65 do CDC que tipifica ser crime
executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de
autoridade competente. Há contrariedade ao princípio da legalidade porque não
traz a taxatividade do que é um serviço de alto grau de periculosidade. De toda
forma, é crime próprio, de forma vinculada, comissivo, instantâneo, de perigo
abstrato, unissubjetivo, plurissubistente pois várias condutas podem ser aqui en-
quadradas, e necessariamente doloso.
Em breve, teremos mais dicas! Continue estudando!!!
Abraço afetuoso,

Patrícia Dreyer – é graduada em Direito há 14 anos,


pelo UNICEUB, advogada, especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Público
e estudante regular do Programa de Doutorado. Profes-
sora de Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do
Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e do
Estatuto do Idoso, com experiência em cursos de gradu-
ação, pós-graduação, Academia de Polícia Militar, e pre-
paratórios para concursos públicos e exames de Ordem.

grancursosonline.com.br 121
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO TRABALHO: PROFESSOR JOSÉ GERVÁSIO

MANDADO DE SEGURANÇA

A Justiça do Trabalho possui competência para apreciar e julgar mandados


de segurança relativos a matérias afetas a sua jurisdição, conforme art. 114, IV, da
Constituição Federal.
Nesse contexto, torna-se imperioso ao candidato entender como funciona a
dinâmica desse remédio processual no âmbito da Justiça Especializada, sobretu-
do diante da aplicação da Lei n. 12.016/09 e entendimento consolidado do Tribu-
nal Superior do Trabalho.
De plano, considerando ser pressuposto do writ constitucional a existência de
direito líquido e certo a ser tutelado judicialmente, torna-se relevante compreen-
der que o TST possui diversos posicionamentos consolidados explicitando casos
em que esse direito existe e outros em que esse direito não existe. Nessa última
hipótese (inexistência de direito líquido e certo), o manejo do mandado de segu-
rança se torna inviabilizado.
Inicialmente, a parte não possui direito líquido e certo à homologação de
acordo, já que se trata de faculdade do juiz. Logo, de nada adianta impetrar
mandado de segurança contra decisão do juiz que indefere a homologação de
acordo. Vejamos a Súmula 418 do TST:

MANDADO DE SEGURANÇA VISANDO À CONCESSÃO DE LIMINAR OU


HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO

A concessão de liminar ou a homologação de acordo constituem faculdade


do juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de segu-
rança.

Outro exemplo refere-se à penhora em dinheiro do executado determinada

122 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

pelo juiz em execução definitiva. Não há direito líquido e certo do executado de


ter outro bem diverso de dinheiro penhorado apenas porque lhe era mais con-
veniente. Nessa direção segue a Súmula 417, I do TST:

MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA EM DINHEIRO

I – Não fere direito líquido e certo do impetrante o ato judicial que de- termi-
na penhora em dinheiro do executado, em execução definitiva, para garantir cré-
dito exeqüendo, uma vez que obedece à gradação prevista no art. 655 do CPC.
Apenas para registro: atualmente a ordem de gradação de penhora encontra-se
no art. 835 do CPC de 2015.
Mais um exemplo apenas para ilustrar. O deferimento de liminar para impor
uma reintegração de empregado estável, seja porque sua estabilidade decorre
de lei, seja porque decorre de norma coletiva, não viola direito líquido e certo do
empregador. Nessa direção segue a OJ 64 da SDI-II do TST:

MANDADO DE SEGURANÇA. REINTEGRAÇÃO LIMI- NARMENTE CON-


CEDIDA (INSERIDA EM 20.09.2000)

Não fere direito líquido e certo a concessão de tutela antecipada para reinte-
gração de empregado protegido por estabilidade provisória decorrente de lei ou
norma coletiva.
Importante lembrar que o recurso cabível da decisão que julga o mérito do
mandado de segurança é o recurso ordinário. Assim, muito embora a Lei n.
12.016/09 preveja a apelação como recurso cabível da sentença (art. 14, caput),
no Processo do Trabalho é cabível o recurso ordinário.
Aliás, o Tribunal Superior do Trabalho editou a Instrução Normativa 27/05 que
preceituou:

Art. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão pelo rito ordinário

grancursosonline.com.br 123
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

ou sumaríssimo, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, ex-


cepcionando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam
sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurança, Habeas Cor-
pus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação em
Pagamento.
Art.2º A sistemática recursal a ser observada é a prevista na Consolida-
ção das Leis do Trabalho, inclusive no tocante à nomenclatura, à alçada,
aos prazos e às competências.
(…)
Assim, se a competência para apreciar o mandado de segurança origina-
riamente for da Vara ou do TRT, a decisão que julga definitivamente o remédio
processual (mérito) desafia recurso ordinário. Por isso, percebe-se a lógica da
Súmula 201 do TST, segundo a qual:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA

(mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003


Da decisão de Tribunal Regional do Trabalho em mandado de segurança cabe
recurso ordinário, no prazo de 8 (oito) dias, para o Tribunal Superior do Trabalho,
e igual dilação para o recorrido e interessados apresentarem razões de contra-
riedade.
Nesse contexto, se o mandado de segurança é impetrado originariamente
perante o TRT, o recurso contra a decisão final colegiada não pode ser o recurso
de revista. A interposição de recurso de revista seria erro grosseiro:

OJ 152 da SDI-II do TST

AÇÃO RESCISÓRIA E MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO DE


REVISTA DE ACÓRDÃO REGIONAL QUE JULGA AÇÃO RESCISÓRIA OU
MANDADO DE SEGURANÇA. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. INAPLI-
CABILIDADE. ERRO GROSSEIRO NA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO (DEJT
divulgado em 03, 04 e 05.12.2008). A interposição de recurso de revista de

124 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

decisão definitiva de Tribunal Regional do Trabalho em ação rescisória ou em


mandado de segurança, com fundamento em violação legal e divergência ju-
risprudencial e remissão expressa ao art. 896 da CLT, configura erro grosseiro,
insuscetível de autorizar o seu recebimento como recurso ordinário, em face do
disposto no art. 895, “b”, da CLT.
Entretanto, nesse ponto, é importante uma ponderação. Se a hipótese con-
creta não justificar o uso do mandado de segurança ou se, mesmo justificando,
faltar um requisito legal, pode ser indeferida a petição inicial do MS liminarmente.
Vejamos o art. 10 da Lei n. 12.016/09:
Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando
não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais
ou quando decorrido o prazo legal para a impetração.
• 1º Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação
e, quando a competência para o julgamento do mandado de segurança
couber originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo
para o órgão competente do tribunal que integre.

(…)
No caso de extinção do processo sem resolução de mérito pelo juiz (compe-
tência originária da Vara), caberá recurso ordinário (art. 895, I, da CLT).
Todavia, se a decisão de extinção liminar for de desembargador relator (nos
processos de competência originária do TRT), o recurso cabível contra a decisão
monocrática é agravo regimental para o colegiado e não recurso ordinário. O even-
tual erro, contudo, não se reputa tão grave, já que o TST aceita receber o recurso
ordinário como agravo regimental e mandar o processo para o TRT julgar o agravo.
Esse é o entendimento da OJ 69 da SDI-II do TST:
FUNGIBILIDADE RECURSAL. INDEFERIMENTO LIMINAR DE AÇÃO
RESCISÓRIA OU MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO PARA O TST. RE-
CEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL E DEVOLUÇÃO DOS AUTOS
AO TRT. Inserida em 20.09.00.
Recurso ordinário interposto contra despacho monocrático indeferitório da

grancursosonline.com.br 125
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

petição inicial de ação rescisória ou de mandado de segurança pode, pelo princí-


pio de fungibilidade recursal, ser recebido como agravo regimental. Hipótese de
não conhecimento do recurso pelo TST e devolução dos autos ao TRT, para que
aprecie o apelo como agravo regimental.
Bons estudos!

José Gervásio – Ex-Procurador do Estado do Goiás.


Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Juiz do Trabalho.
Ministra as matérias de Direito do Trabalho, Direito
Processual do Trabalho e Direito Administrativo.

126 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO DO CONSUMIDOR: PROFESSORA PATRÍCIA DREYER

Meus caros alunos, a dica de hoje é sobre Direito do Consumidor e, dentro


dessa disciplina, vamos falar sobre a origem, a finalidade e os princípios do CDC:

1 – Nos EUA, a defesa do consumidor nasceu de movimentos pró-consumi-


dores, mas aqui no Brasil, tal defesa começou por volta da década de 1970, com
as primeiras associações civis voltadas para esta fim: o Conselho de Defesa do
Consumidor – CODECON; a Associação de Defesa e Orientação do Consumidor –
ADOC; a Associação de Proteção ao Consumidor – APC; e o Conselho Estadual de
Proteção ao Consumidor, e o Grupo Executivo de Proteção ao Consumidor, que
veio ao ser denominado PROCON.
2 – Com o acentuado desequilíbrio de forças entre produtores e distribuidores
de um lado, e o consumidor, percebeu-se sua vulnerabilidade técnica, fática e ju-
rídica. Daí, dizer-se que a vulnerabilidade é requisito essencial para a formulação
do conceito de consumidor. Só assim se justifica a aplicação de uma lei protetiva
em face de uma relação de desiguais.
3 – A defesa do consumidor é direito fundamental e princípio geral de toda a
atividade econômica, à luz do artigo 170, inciso V, da Constituição, entre os princí-
pios da ordem econômica que se estender até a relação de serviço público, quan-
do prestado de forma empresarial, como fornecimento de água ou energia elétrica.
4 – O Código de Defesa do Consumidor é uma lei principiológica que ob-
jetiva efetivar os princípios constitucionais da defesa do consumidor, postos es-
pecialmente no artigo 5º, inciso XXXII; e artigo 170 da Constituição e, para isso,
criou uma estrutura multidisciplinar que poderá ser usada em todos os ramos
do Direito onde ocorrem relações de consumo – seja direito público ou privado,
contratual ou extracontratual, material ou processual. Assim, nas linhas de Cláu-
dia Lima Marques, o Código do Consumidor, embora não discipline nenhum con-
trato especificamente, aplica-se a todos os tipos de contratos que geram relação
de consumo.
5 – Se houver aparente antinomia, sendo o CDC lei especial em relação às

grancursosonline.com.br 127
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

leis que já disciplinavam a matéria, há de prevalecer o CDC, lei material posterior


que inovou, pois ela é lei especial, específica e exclusiva que estabelece disciplina
uniforme e única para todas as relações de consumo.
6 – Um bom exemplo da dica acima está na indenização limitada que prevê,
para o caso de transporte áereo internacional, a Convenção de Varsóvia, em seu
artigo 22, n.1. Com o ingresso do CDC, entretanto, em caso de acidente de consu-
mo, resta afastada a responsabilidade civil tarifada. Pela teoria dualista, atribui-se
prevalência ao Direito Interno, pois a Convenção não se sobrepõe às leis do país
em que seu Legislativo expressa sua vontade por meio de suas próprias normas.
7 – Fábio Konder Comparato ensina, no que tange à norma de ordem pública
e de interesse social, que a defesa do consumidor é, indubitavelmente, um tipo
de princípio programa, tendo por objetivo uma ampla política pública. A expres-
são política nacional designa um programa de ação de interesse público. Como
todo programa de ação, a política pública desenvolve uma atividade, isto é, uma
série organizada de ações, para a consecução de uma finalidade, imposta na lei
ou na Constituição. A imposição constitucional ou legal de políticas é feita, por-
tanto, por meio das chamadas normas-objetivo. Tudo isso para dizer que o obje-
tivo do CDC é desenvolver um projeto de ação destinado a alcançar a harmonia
das relações de consumo, conforme se verifica na parte final do artigo 4º do CDC.
8 – No artigo 6º, inciso VI, verifica-se que dentre os direitos básicos, está o
de prevenir a ocorrência de danos ao consumidor. Para isso, é necessário educar,
orientar e informar consumidores e fornecedores, restringindo a autonomia con-
tratual dos fornecedores, trazendo a possibilidade de responsabilização penal,
civil e administrativa. Isso não é garantia para a não ocorrência de danos, mas
estampa a necessidade de efetividade de reparação.
9 – Em caso de antinomia entre o Código Civil e o Código de Defesa do Con-
sumidor, observe-se que o Código Civil é lei central, base conceitual para outras
leis, mas que cuida da relação entre iguais. Já o CDC, é norma aplicável no campo
especial, que regula relação entre desiguais, buscando igualdade na desigualda-
de material, numa relação jurídica que busca proteger o diferente e o vulnerável:
o consumidor.
10 – O princípio da boa fé no CDC está na cláusula geral do artigo 4º, inci-

128 grancursosonline.com.br
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

so III, e importa dizer que a boa fé deve estar presente em todas as relações de
consumo, e isso quer dizer que os contratantes não são obrigados somente a
realizar a prestação principal, mas também usar de seus esforços para garantir o
perfeito adimplemento do contrato, pensando no direito do outro que precisa ser
preservado, afastando a ideia ou a hipótese de vantagem excessiva. O que conta
é a probidade e a colaboração entre as partes.
Em breve, teremos mais dicas! Continue estudando!!!
Abraço afetuoso,

Patrícia Dreyer – é graduada em Direito há 14 anos,


pelo UNICEUB, advogada, especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela PUC-SP, especialista em Direito Público
e estudante regular do Programa de Doutorado. Profes-
sora de Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do
Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e do
Estatuto do Idoso, com experiência em cursos de gradu-
ação, pós-graduação, Academia de Polícia Militar, e pre-
paratórios para concursos públicos e exames de Ordem.

grancursosonline.com.br 129
COLETÂNEA – VADE DICA – OAB

DIREITO PENAL:
PROFESSOR FLÁVIO MILHOMEM

Querida Aluna, Querido Aluno,


Aproxima-se a 1ª fase do XXI Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil; e, assim, gostaria de dividir com vocês alguns temas de inte-
resse no Processo Penal, com alta possibilidade de serem cobrados na sua prova.
Então, vamos ao trabalho!

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL

São princípios que regem o processo penal, previstos na Constituição Federal:


I – Princípio do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV);
II – Princípio da presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII);
III – Princípio da ampla defesa (CF, art. 5º, LV);
IV – Princípio do contraditório (CF, art. 5º, LV);
V – Princípio da publicidade (CF, art. 93, IX);
VI – Princípio da vedação das provas ilícitas (CF, art. 5º, LVI);
VII – Princípio da economia processual (CF, art. 5º, LXXVIII);
VIII – Princípio do juiz natural (CF, art. 5º, XXXVII);
IX – Princípio da plenitude de defesa, soberania dos veredictos e sigilo das
votações aplicável ao julgamento dos crimes dolosos contra a vida no Tribunal do
Júri (CF, art. 5º, XXXVIII)

PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

De acordo com a Constituição Federal (art. 5º, LIV), ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
Entende-se por devido processo legal o con