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Saudação ao Dia do Soldado

Na sessão solene comemorativa do DIA DO SOLDADO 25 de agosto, o Presidente do Clube Militar


saudou as autoridades presentes proferindo as seguintes palavras:

Senhor, umas casas existem no vosso reino onde homens vivem em comum, comendo
do mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã, a um toque de corneta, se
levantam para obedecer. De noite, a outro toque de corneta, se deitam, obedecendo. Da
vontade fizeram renúncia, como da vida. Seu nome é sacrifício. Por ofício desprezam a
morte e o sofrimento físico. Seus pecados mesmos são generosos, facilmente
esplêndidos. A beleza de suas ações é tão grande que os poetas não se cansam de a
celebrar. Quando eles passam juntos, fazendo barulho, os corações mais cansados
sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente os conhece por militares...

Corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que comem; como se os cobres do pré
pudessem pagar a liberdade e a vida. Publicistas de vista curta acham-nos caros demais,
como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão. Eles, porém, calados, continuam
guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma."

Este belo trecho da carta de Moniz Barreto ao Rei de Portugal é mais do que nunca atual no
Brasil que hoje vivenciamos, onde a incompreensão, o destempero, a indiferença, o
preconceito, a sordidão, a falta de respeito e o desconhecimento da história Pátria são
marcos de referência no trato com os militares em geral, com os soldados que um dia, na
sua simplicidade, honestidade, zelo profissional e respeito à gente brasileira juraram doar a
sua vida em defesa da Pátria.

SOLDADOS DO BRASIL, EU VOS SAÚDO!

Com estas justas e insuspeitas palavras do Gen Critemberger, evocando antigas tradições
romanas, dirigidas aos nossos "pracinhas" no mais terrível teste a que o militar se submete -
a guerra - me regozijo com todos aqueles que hoje, como soldados, têm a subida honra de
pertencerem ao Exército Brasileiro, assim, como no passado os pracinhas da FEB, o fizeram
e com imensos sacrifícios e estoicismos, defenderam a Pátria como não temos relato na
nossa história moderna.

E complementa o Gen Critemberger "Vimos os nossos soldados tombar dos reveses e, não
obstante dificuldades indizíveis, vencer todos os obstáculos... Nossos soldados cumpriram a
mais alta obrigação e o privilégio mais sagrado do cidadão. Como indivíduos, pegaram em
armas para defender seu país no campo de batalha contra um inimigo decidido. Maior prova
de patriotismo e lealdade dum cidadão que esta não existe".

Relatos como este, retirados da crueza de sangrentas batalhas, reforçam o conceito de há


muito referendado pela história, de que na defesa da Nação não há substituto para esta
figura singular - O SOLDADO.

Com esta honrosa referência ao soldado de ontem, exemplo para as futuras gerações, volto
as minhas vistas para o incompreendido soldado de hoje, que não hesita em arrostar e
enfrentar as mais amargas vicissitudes e permanecer sereno no cumprimento das suas
missões constitucionais, sabendo que as borrascas haverão de passar, para ressurgir ainda
mais sólido e vibrante o espírito que mantém altivo e inatacável o valor da Instituição
Exército Brasileiro.

De fato, não é fácil SER SOLDADO.

É abdicar da cidadania plena, da liberdade de ir e vir, da livre faculdade de expressão e de


opinião, do tempo livre para dedicar a si próprio ou a sua família.

É estar sujeito a um código de ética próprio, que cultua valores não prestigiados na
sociedade em que vivemos onde a lealdade, devotamento, honestidade, amor à Pátria, e
camaradagem, são algo piegas, ultrapassados, não mais contemplados nos tempos
modernos.

É pensar muito mais nos outros do que em si mesmo.

É ser um fiel cumpridor de missão, por mais áspera e difícil que seja, pois é o cumprimento
da missão a primeira virtude que caracteriza e distingue o soldado.

É abdicar de tudo - família, amigos, hábitos, costumes - menos da Pátria, e por ela
sacrificar-se é o seu maior tributo.

Por fim e infelizmente, ser soldado é ter a consciência de que será sempre um
incompreendido, um injustiçado.

A história do nosso país é reveladora da política pendular, misto de sístole e diástole, no


trato com as Forças Armadas e os seus soldados, desde o tempo do 2º Reinado e muito em
especial, durante o período republicano.

CAXIAS, figura símbolo do soldado brasileiro que hoje reverenciamos, não ficou imune a
injustiças e incompreensões, mesmo sendo o artífice maior da nossa vitória na Guerra do
Paraguai.

Mais recentemente, apenas para darmos um salto na história, nossos pracinhas, igualmente
vitoriosos na árdua Campanha da Itália, foram combatidos, colocados no ostracismo,
menosprezados na sua intrépida ação o que obrigou o Clube Militar na pessoa de seu
presidente de então, General José Pessoa Cavalcante de Albuquerque, a prestar uma justa
homenagem ao Marechal Mascarenhas de Moraes "para romper o silencia com que forças
ocultas procuravam envolver os magníficos triunfos da FEB na Itália", inaugurando no
saguão de entrada "uma grande placa de bronze representativa do roteiro da FEB, que
perpetuará os sucessos alcançados na guerra pelas forças brasileiras, e concedendo ao
ínclito comandante dos nossos pracinhas o título de Presidente de Honra do Clube Militar.

Não é pois com surpresa que hoje assistimos a situação, quase que calamitosa, que nossas
Forças Armadas vêm enfrentando e o indisfarçável menosprezo com que são tratadas, sem
dúvida, na última escala de prioridades, pela visão míope, destorcida e impatriótica que não
antevê ameaças à integridade e soberania nacionais e não compreende a real dimensão dos
assuntos ligados à defesa nacional.

Todos nós sabemos que vivemos uma das mais difíceis e críticas situações ao longo da
nossa história. E a tudo, como soldados conscientes e disciplinados, ficamos silentes,
calados. Mas nosso silêncio não é de conformismo, nem poderia sê-lo. É de contida revolta
na esperança de que tempos melhores virão a Fênix que das cinzas renasce, haveremos
também de ressurgir como um Exército moderno, tecnologicamente atualizado, com
soldados motivados e bem adestrados, à altura da projeção de poder que o País
forçosamente passará a exercer, mercê do seu peso específico no seio das nações.

Pelo seu porte de soldado, cidadão e estadista CAXIAS haverá de ser, para todo o sempre, o
nosso guia, a nossa luz,preservando o Exército das incompreensões e inconsistências, para
mantê-lo como um fiel cumpridor das suas missões constitucionais e fiador da nossa
soberania.

Os homens passam, mas a Pátria, com todo o seu secular legado de valores, de tradições e
de costumes permanece e, com ela, as suas Forças Armadas, expressão Militar do Poder
Nacional, garantidoras da sobrevivência de um Brasil forte, justo, altaneiro, soberano, com
presença harmônica, pacífica e humanista no cenário internacional.

Enfraquecer as Forças Armadas, enfraquecer o Exército, é enfraquecer o próprio País e face


ao quadro catastrófico que presenciamos, ímpar na nossa história contemporânea,é
imperioso que haja o despertar das consciências dos responsáveis, da classe dirigente deste
País, para definir até quando e quanto valerá deixar tão vulnerável e ameaçada Amazônia,
com uma imprevidência que ronda às raias do absurdo

Que o espírito imortal de CAXIAS, Marechal e Patrono do Exército Brasileiro pelas suas
gigantescas dimensões de Soldado e que "formaliza-se a luz impassível e irremovível da
História, como um dos maiores responsáveis pela integridade do nosso vasto território",
possa despertar novos e revigorados incentivos à atual geração de soldados, chefes e
comandados, que fazem do sacrifício e da abnegação a sua fé-de-ofício em bem servir à
Nação.

Nós, do Clube Militar, não poderíamos estar mais satisfeitos, mais recompensados,
rejuvenescidos, em vê-los na nossa Casa, a Casa da República, no seu tradicional uniforme
verde-oliva que, um dia, também tivemos a honra, o indescritível orgulho de envergar.

Muito grato, caro Comandante do Comando Militar do Leste, Gen Luiz Seldon da Silva
Muniz, pela sua ilustre presença nesta Sessão Solene. Na sua singular figura de militar mais
antigo, saúdo e agradeço a todas as autoridades, civis e militares, que prestigiam este ato.

Parabéns a vocês, soldados de todos os postos e graduações, que na sua devoção e zelo
profissional fazem grande a imagem grande do nosso Exército.

Soldados do Exército Brasileiro, eu vos saúdo, e com profundo respeito vos reverencio e
cumprimento.

Muito obrigado..."

GEN LUIZ GONZAGA SCHROEDER LESSA

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