RESPOSTA À ACUSAÇÃO
pelos fatos e fundamentos a seguir narrados.
1 – DOS FATOS
É importante retroagir a um período anterior ao fatídico dia do furto
e trazer ao juiz a difícil vida de Carmen. Esta foi expulsa da casa da avó onde residia
com seu filho menor, de 02 anos de idade, na cidade de Atibaia, Sã o Paulo. Sem ter
familiares, ficou perambulando pelas ruas da cidade, até encontrar um abrigo
pú blico, sobrevivendo de doaçõ es. Nesta época, fez amizade com Lucia, que vivia
na mesma situaçã o. Sendo assim, desamparada pela família e pelo Estado, Carmen,
há dias sem se alimentar, ou alimentar seu filho, decide impensadamente agir em
defesa de seu filho. Podemos aferir que a paciente, já nã o estava em suas
faculdades mentais normais e a esta altura, agia apenas por instinto de
preservaçã o da prole e impulso.
Dessa forma, no dia 14 de dezembro de 2018, passando por
dificuldades, sem emprego ou qualquer renda, e comovida com a fome do filho, já
doente pela ausência de alimentaçã o, estando assim ambos, mã e e filho em Estado
de Necessidade (Art 24, CP). Carmen, movida por ímpeto de preservaçã o da vida
de seu filho, decidiu ingressar em um supermercado pertencente da rede XXXXX,
onde escondeu embaixo da roupa, três pacotes de biscoito, cujo valor totalizava
insignificantes R$ 16,00 (dezesseis reais), aproximadamente 1,5% do salá rio
mínimo atual.
Ocorre que a conduta de Carmen foi percebida pelo fiscal de
segurança, que a abordou no momento em que ela deixava o estabelecimento
comercial sem pagar pelos bens, e apreendeu os produtos escondidos. Na ocasiã o,
sua amiga Lucia a aguardava na porta do estabelecimento.
Na Delegacia de Polícia, Carmen confirmou os fatos, alegando que se
desesperou ao ver o filho chorar de fome, bem como diante de sua saú de já
debilitada. Conformou também a ausência de recursos financeiros. Juntado à Folha
de Antecedentes Criminais (fls ...) sem outras anotaçõ es, o laudo de avaliaçã o dos
bens subtraídos confirmando o valor (fls ...), e ouvidos os envolvidos, inclusive o
fiscal de segurança e o gerente do supermercado(fls ...), o auto de prisã o em
flagrante foi encaminhado a juízo e concedida sua liberdade provisó ria em
audiência de custó dia(fls ...).
O inquérito policial (fls ...) foi encaminhado ao Ministério Pú blico,
que ofereceu proposta de acordo de nã o persecuçã o penal (art. 28-A do CPP), nã o
aceita por Carmen (fls ...). Assim, foi oferecida denú ncia (fls ...) em face de Carmen
pela prá tica do crime do Art. 155, caput, c/c Art. 14, inciso II, ambos do Có digo
Penal. Cabe destacar que nã o houve a proposta de suspensã o condicional do
processo pelo Ministério Pú blico.
2 – DO DIREITO
2.1 – ESTADO DE NECESSIDADE
A ré agiu em estado de necessidade, onde nã o se poderia esperar
comportamento diverso, causa esta excludente de ilicitude, conforme prescreve os
artigos 23, I, e 24, do Có digo Penal.
“Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
(...) I. Em estado de necessidade
“Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstancias, não era razoável exigir-se.”
“Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores,
cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais.”
3. DOS PEDIDOS
Ante o exposto, a defesa técnica requer o que se segue:
I. a) Nulidade da instruçã o, com oferecimento de proposta de
suspensã o condicional do processo;;
II. Requer que seja aplicado o art. 386, III e VI do Có digo de Processo
Penal que prevê que o juiz absolverá o réu desde que conheça a existência de
circunstancias que excluam o crime ou isentem o réu da pena (inciso VI) e
consequentemente a aplicaçã o do art. 397, I, CPP.;
Advogado
Inscriçã o OAB
Rol de Testemunhas:
1. Lucia, xxxxxx;
3. gerente do supermercado.