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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Departamento de Ciências da Religião


Disciplina semipresencial: Cultura Religiosa – Fenômeno Religioso
Texto 04 Prof. Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães

CAMINHOS DE SUPERAÇÃO DO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO:


COMPREENDER A EXPERIÊNCIA E A LINGUAGEM RELIGIOSA

Edward Neves M. B. Guimarães1

COMEÇO DE CONVERSA: aproximação ao conceito de fundamentalismo

1 - O fundamentalismo é uma postura que se caracteriza pela absolutização de um ponto de vista ou


compreensão. A pessoa que se torna fundamentalista geralmente se apresenta de forma inflexível (cega, surda,
muda e arrogante) para qualquer outro ponto de vista ou compreensão diferente da que assumiu.
2 - Buscar fundamentos é próprio do ser humano, já o fundamentalismo é a doença que anula a reflexão
autocrítica e a postura de abertura e de humildade aprendiz. Está fundado numa espécie de “identidade assassina”,
na expressão criada pelo escritor libanês Amin Maalouf, que considera o outro, o diferente de si sempre como
inimigo a ser combatido e eliminado. O arrogante se coloca no centro de tudo com a pretensão de ter abarcado toda
a verdade e, por causa disso, sente-se chamado a combater de forma insana o que tem outro ponto de vista ou
compreensão diferente da sua. O diferente ameaça a (falsa) segurança da pessoa com postura fundamentalista.
3. Quais os pressupostos teóricos para uma boa aproximação da experiência e linguagem religiosa? Saber
fazer distinções e articulações entre os conceitos que estão no mesmo horizonte semântico e refletir criticamente
sobre a relação crítica importante entre razão e fé, ciência e religião. Vejamos...

I - EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL, RELIGIOSA E DE DEUS


1 - Toda tradição religiosa nasce de uma experiência espiritual de pessoas carismáticas. Tais pessoas são
portadoras de agudeza de espírito e de aguçada sensibilidade. A experiência espiritual é vivenciada não como
realidade racional, mas como algo que, apesar de misterioso e inefável, traz lucidez e sentido para a vida delas.
Toca-lhes o mais profundo da existência. Transforma-lhes a interioridade e o sentido da vida. As pessoas
carismáticas se sentem chamadas a testemunhá-la e comunicá-la a outros. Apresentam-se às outras pessoas com a
pretensão de ter feito profunda experiência da realidade “transcendente”, do “sagrado” ou de ter estado diante da
“presença luminosa, fascinante, tremenda e intensa de Deus ou de um mensageiro divino”. Anunciam a sua
experiência espiritual como “algo” atrativo, capaz de seduzir e provocar o desejo de ser buscada. Apresentam esta
experiência como “algo” poderoso, capaz de restaurar as forças, animar, fortalecer e aumentar a esperança, e de
transformar, para melhor, a vida da pessoa. Proclamam-na como “algo” nutritivo, capaz de provocar, sustentar,
ampliar ou transformar o sentido da vida.
2 - A partir do testemunho e do anúncio, da acolhida e da vivência, a experiência espiritual pode se
transformar em experiência religiosa quando o sujeito que a faz percebe intensa ligação com a própria vida,

1
Doutor em Ciências da Religião pela PUC Minas (2020). Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (2006).
Professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, onde atua como secretário executivo do Observatório da Evangelização –
PUC Minas. Leciona teologia sistemática, no Curso de especialização em catequética, do Instituto Regional de Pastoral Catequética da
CNBB Leste 2 – IRPAC com parceria com a PUC Minas e no Curso de especialização em teologia do Centro Loyola de Espiritualidade, Fé e
Cultura, em Belo Horizonte.
encontra nela fonte de identidade e alimento para o horizonte da esperança. Acontece quando a experiência
espiritual oportuniza forte ligação ou vinculação entre o sujeito que experimenta e a realidade experimentada, entre
o eu e o “Totalmente Outro” (religare). Provoca, frequentemente, no sujeito da experiência uma autêntica releitura
do sentido da vida. Se até então, a vida, geralmente, era compreendida como limitada, efêmera, contingente e finita,
agora, diante do acesso a esse “algo maior”, os horizontes de autocompreensão da vida são ampliados ( relegere).
Este mistério, fascinante e tremendo, provoca ampliação dos horizontes de sentido, tornar-se fonte transbordante de
paz, lucidez, resposta, entusiasmo e realização. Com o crescimento de adeptos, a experiência religiosa, a princípio
carismática, tende a organizar-se institucionalmente em religião. Esta elabora regras e doutrina, legitima
linguagens, ritos, símbolos e critérios de acesso objetivando unidade, fidelidade, perpetuação histórica e
credibilidade.
3 - Em muitos casos, a experiência espiritual e/ ou religiosa torna-se ou tem a pretensão de ser uma
experiência de Deus/es/a/as. Acontece quando a pessoa nela envolvida, ou outra que já confessa a fé em Deus, a
reconhece enquanto tal. Reconhece que tal experiência vivida foi mediação para o encontro da pessoa com o
mistério de Deus. Assim, ela passa a ser reconhecida como um caminho de acesso a Deus/es/a/as. 2
4 - Além dessas distinções semânticas, que outro pressuposto é importante para nos aproximarmos da
experiência e da linguagem religiosa? Refletir sobre a complexa relação entre fé e razão. Continuemos...

II – FÉ E RAZÃO: FACES DISTINTAS DA MESMA MOEDA


1 - Em uma experiência espiritual, religiosa e de Deus, a fé age em primeiro lugar. A pessoa, movida pela
fé, acolhe, com abertura de coração, a experiência anunciada quando esta lhe parece consistente: produz frutos,
amplia os horizontes de compreensão (responde perguntas existenciais), traz sentido para a vida, provoca sensação
de lucidez, paz, bem estar, gesta identidade social, promove realização, alimenta a esperança de futuro melhor,
promove experiência da presença amorosa de Deus... Em fim, a pessoa confessa e testemunha ter feito experiência
de salvação.
2 - A razão não é ingênua, ao contrário, tende a tornar-se a nossa fonte de crescimento na consciência
crítica e autocrítica. Quando alguém testemunha ter vivido ou a própria pessoa está envolvida em uma experiência
espiritual, religiosa e de Deus, a razão analisa, busca compreensão a partir do confronto crítico com a experiência já
vivida que a pessoa traz, com seu senso crítico e autocrítico e também com as tradições culturais assimiladas nas
quais fundamenta e estrutura a sua existência no mundo. A razão analisa, pondera, discerne, questiona, avalia. Em
seguida, ela reconhece e valoriza ou critica e descarta como inconsistente.
3 - As duas, fé e razão, não são nem opostas, nem inimigas. Ambas estão presentes na vida humana.
Verifica-se que a fé, sem a razão, tende a perder lucidez. Pela sua especificidade, que é proporcionar confiança,
experiência de sentido para a vida, gerar e sustentar a esperança no futuro e ampliar horizontes, a fé, quando
desligada da razão, tem a tendência a se deturpar e, frequentemente, se transformar em “superstição” ou em
“crendice ingênua”. Sem a razão, o ser humano já demonstrou a possibilidade de chegar a crer em coisas absurdas e
irracionais. Só dessa maneira se entende que, historicamente, pessoas de fé tenham matado a semelhantes ou
destruído culturas em nome de sua religião ou de seu Deus. A fé, quando divorciada da razão, tende a se tornar
míope, pouco autocrítica e, muitas vezes, ficar cega para necessários valores humanos.
4 - Do mesmo modo, devemos reconhecer que a razão, sem a fé, também se inclina ao erro. Pela sua
função básica, que é proporcionar lucidez e discernimento crítico, consciência dos limites, clareza e segurança na
busca do conhecimento, a razão tem a tendência à arrogância, a desconsiderar a necessidade de autocrítica e,
inúmeras vezes, a se transformar em instrumento frio, calculista e cruel. Sem a fé, o ser humano já concebeu, como
racional, mentalidades excludentes e, tecnologicamente, destrutivas. Só desse modo se entende que, historicamente,
pessoas, movidas por articulados raciocínios lógicos, criaram campos de concentração, câmaras de gás, bombas
atômicas ou arquitetaram crimes hediondos com requintes de crueldade. A razão, quando alérgica à fé, tende a se
tornar míope, pouco autocrítica e, com frequência, ficar cega para critérios capitais do agir ético.
5 - Fé e razão são faces distintas da mesma moeda: ambas são dimensões fundamentais do jeito
humano de conceber e compreender a realidade. Por um lado, a fé não é algo irracional que, para ser assumida,
necessita abandonar os limites do razoável. A fé, sem que se submeta ao tribunal da racionalidade, ao império
absoluto da razão, pode e deve se tornar realidade ponderada, avaliada e equilibrada, ou seja, configurar-se
2
O que define a experiência espiritual é sua capacidade de tocar o mais profundo da interioridade humana e fazer com que a pessoa
transcenda a pura materialidade do espaço e do tempo vivido, das coisas, da vida ou da história. Quando considerada experiência religiosa
adquire a capacidade de ligar a vida da pessoa nela envolvida com uma realidade transcendente, sagrada, tornada acessível por meio da
experiência espiritual, promovendo, consequentemente, a ampliação dos horizontes de sentido. A experiência torna-se experiência de Deus
quando aquele que está nela envolvido, ou outra pessoa que já confessa a fé em Deus, a reconhece enquanto promotora ou facilitadora do
encontro pessoal com Deus. A rigor, a experiência espiritual pode ser religiosa ou não, pode ser de Deus ou não. Assim também, a
experiência religiosa pode ser espiritual ou não, pode ser de Deus ou não. E por fim, o mesmo pode ser dito da experiência de Deus. Esta
pode ser espiritual ou não, pode ser religiosa ou não. Tendo presente os limites deste texto, doravante denominaremos as três simplesmente
de experiência religiosa. Como também outras no mesmo horizonte semântico, tais como: experiência de fé, mística, do sagrado, de salvação,
do divino, do transcendente.
2
enquanto “fé crítica”, aquela que considera a razão como aliada. Por outro, a razão, por sua vez, não deve ser
concebida como oposta à fé. A razão não precisa, necessariamente, assumir a feição materialista e instrumental. A
razão, sem qualquer subserviência religiosa, pode e deve vir a ser uma “razão iluminada”, ou seja, aquela que age
tendo a fé como interlocutora. As duas têm o seu valor, a sua autonomia e a sua parcialidade. Juntas podem
impulsionar o ser humano a ir mais longe e ajudar na mútua superação dos próprios limites.
6 - Entre os objetivos da reflexão teológica, momento racional da fé, destaca-se o de promover um
círculo hermenêutico, ou seja, um diálogo crítico e interpelador entre fé e razão . Busca-se compreender o
sentido do conteúdo da fé acolhida, bem como suas implicações, exigências e consequências para o viver e o
conviver. Ela, muitas vezes, assume a incômoda e necessária tarefa de ser crítica e firme diante inúmeras
afirmações, configurações ou atitudes religiosas julgadas inconsistentes, deturpadas, insanas ou doentias diante da
vida ou de determinada tradição religiosa. Muitas pessoas religiosas, como adolescentes que temem ou reagem
negativamente perante a crítica dos pais, professores ou amigos, não gostam de passar suas vivências de fé pelo
necessário crivo da reflexão teológica. Temem tomar consciência de suas ingenuidades.
7 - O diálogo entre ciência e religião revela-se fundamental. As diversas ciências não deveriam
compreender-se enquanto realidades distantes ou absolutamente contrárias a toda e qualquer postura religiosa. Não
se deveria temer o debate crítico com as posições religiosas. As posturas religiosas, quando contrárias a
determinadas teses ou procedimentos de pesquisa científica, não deveriam ser simplesmente desconsideradas ou
descartadas como ingênuas ou contrárias ao progresso, mas levadas em consideração e avaliadas criticamente.
Religião e ciência são diferentes sim, mas não incongruentes e excludentes. Uma não deve pretender ocupar o lugar
da outra. Ambas têm a sua autonomia e os seus limites. Ambas fazem parte do universo cultural humano.
8 - O objetivo da reflexão a seguir é ajudar na compreensão das características próprias, ou seja, as
especificidades, da experiência e da linguagem religiosa. Estas, experiência e linguagem, constituem o
fundamento ou a base humana de toda manifestação religiosa. A experiência humana se torna inteligível
através da mediação da linguagem que a possibilita e limita. A linguagem humana visa expressar, comunicar e
transmitir o conteúdo das experiências. A religião tem a pretensão e a missão de criar uma linguagem singular
capaz de possibilitar o entendimento do conteúdo da experiência religiosa. 3 Como compreender a singularidade da
experiência religiosa? Iniciemos...

III – A RAZOABILIDADE DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA


1 - Toda experiência humana é relacional. Isso significa que acontece na interação entre o sujeito que
experimenta e o objeto que é experimentado ou que provoca a experiência. Mesmo que a experiência aconteça
entre dois sujeitos e que se tenha presente a irredutibilidade da pessoa a mero objeto, 4 há certa objetivação do outro.
De modo que se pode afirmar que a relação sujeito-objeto acontece, de modo inevitável, em toda experiência
humana.
2 - A partir do que foi dito, explicita-se uma das características mais marcantes da complexa
experiência religiosa. A realidade experimentada pela fé (o mistério, o transcendente, o sagrado, o divino, Deus, o
mensageiro, a entidade) não pode ser “objeto” palpável da experiência humana. Não pode ser captada, diretamente,
pelos cinco sentidos humanos, nem totalmente explicado pela nossa razão instrumental. Nesse sentido, seria
impróprio, sem as devidas considerações e cuidados, alguém dizer que viu, tocou, escutou, sentiu o cheiro ou o
sabor da realidade espiritual, sagrada, divina, sempre transcendente. 5
3 - Significa que a experiência religiosa tem sua especificidade. Talvez, o mais correto seja caracterizar
tais experiências de razoáveis em vez de racionais. Significa que ela não é irracional, absurda ou uma espécie de
violência a racionalidade humana. Nesse caso, seria experiência “infantilizante” ou insana para a pessoa adulta.
Denominá-las de razoável, significa basicamente, dois aspectos. Primeiro que a realidade não se reduz ao
captável pelo império dos sentidos ou ao que pode ser mensurado, demonstrado ou verificado pela razão
humana. Segundo que a razão humana está inserida em uma realidade maior que a possibilita e a amplia.
Diante de tais experiências, a razão é chamada a usar o bom senso, a ampliar seus horizontes, dialogar com a
fé e, percebendo os próprios limites, abrir-se ao que lhe ultrapassa. Para que isso seja possível, diante de tais
experiências, a razão não pode se sentir violentada ou anulada. Ao contrário, precisa percebê-la como possível e
como digna de credibilidade, mesmo que ultrapasse os limites do puramente racional (demonstrado, verificado,
comprovado).

3
Para aprofundar essa realidade na tradição judaico cristã sugerimos o livro: KONINGS, Johan. A palavra se fez livro, São Paulo: Loyola,
2ª edição, 2002.
4
Refere-se essa observação à necessidade de reserva crítica à pretensão tirânica da concepção individualista moderna cuja arrogância busca
desconsiderar o direito cidadão do outro ou submeter toda alteridade ao império do Eu em seu prazer de a tudo e a todos possuir.
5
A tradição cristã se revela paradigmática. Ao mesmo tempo que se apresenta com a pretensão de revelar a presença próxima e amorosa de
Deus, mantém a lucidez na linguagem religiosa. Depois de narrar portentosas manifestações divinas, afirma que ninguém jamais viu a Deus
(cf.: 1 Jo 4, 12), mas através dos patriarcas, profetas e por meio de Jesus Deus nos falou (cf.: Hb 1, 1-4). Além disso, afirma que Jesus é a
imagem do Deus invisível (cf.: Cl 1, 15).
3
4 - A razão estabelece limites e critérios de análise e verificação da lucidez, sanidade e credibilidade das
experiências religiosas. Entre eles, destacam-se quatro:
 O critério dos frutos. Verifica-se pelos “frutos” produzidos na vida das pessoas nela envolvida (cf. Mt 7, 15-
20; Lc 6, 43-45). É o critério da vida. Aplica-se o critério perguntando-se de que modo tal experiência tem
levado as pessoas nela envolvida a tornarem-se mais humanas, fraternas, solidárias, íntegras.
 O critério existencial. Verifica-se pela capacidade de responder aos profundos anseios da pessoa humana.
Aplica-se o critério perguntando-se em que medida tal experiência desenvolve em seus adeptos: a) senso,
habilidade e competência para empreender diálogo fraterno, com atitude de tolerância e respeito com o
diferente; b) consciência moral, valores e princípios, que provocam a orientação fundamental para o bem, a
justiça e a busca de autenticidade e integridade nas relações sociais; c) senso ecológico que desperta para a
necessidade de construir relação diferente com o planeta e com os demais seres que compartilham a “casa
comum”; d) sólido horizonte de esperança, fundamental para a construção de futuro mais justo e melhor para
todos e para o enfrentamento dos desafios cotidianos da vida. Ou seja, verifica-se se provocam experiências de
sentido profundo, experiências que promovem a realização da pessoa humana e encontro da verdadeira
felicidade.
 O critério histórico. Verifica-se pelo confronto com as fontes ou as tradições religiosas históricas nas quais
tal experiência encontra-se inserida. É o critério do cadinho da história ou do tempo necessário para a
maturação. As religiões nascem da experiência carismática de uma pessoa ou grupo de pessoas e essa
experiência, ao longo de sua trajetória histórica, vai se configurando e formando uma tradição que se faz regra
e norma para si mesma. Por exemplo, a Bíblia para os cristãos é critério de verificação de qualquer nova
manifestação religiosa que tenha a pretensão de receber o nome de cristã. Nesse sentido, o movimento de
“volta às fontes” é necessário para que toda tradição religiosa conserve sua lucidez e vigor.
 O critério ético. Verifica-se se tal experiência religiosa promove a formação de pessoas adultas, ou seja, livres
e responsáveis, capazes de posicionar-se de forma reflexiva diante dos desafios contemporâneos. Com esse
critério, a razão analisa o nível de amadurecimento moral crítico das pessoas envolvidas em determinada
experiência.
5 - Como se pode notar, com a utilização de tais critérios de razoabilidade fica mais difícil uma
pessoa ser enganada tanto pelo julgamento racionalista precipitado, generalizante e preconceituoso, quanto
pela postura de ingenuidade romântica diante de uma vivência religiosa própria ou alheia. Como na
experiência do amor, todo cuidado é pouco. Vence-se o medo pelo cultivo da cultura do diálogo e pela
postura vigilante de continua avaliação crítica e autocrítica. E sobre a linguagem religiosa, o que é necessário
para compreendê-la? Vejamos...

IV – A SINGULARIDADE DA LINGUAGEM RELIGIOSA


“Sabia que a religião é uma linguagem? Um jeito de falar sobre o mundo... Em tudo, a presença da
esperança e do sentido... Religião é tapeçaria que a esperança constrói com palavras. (...) Por isto, para
se entender a religião, é necessário entender o caminho da linguagem.”6

1 - A experiência religiosa para ser bem compreendida, precisa traduzir-se nos horizontes da cultura
na qual pretende ser anunciada. Ela precisa de linguagem especial e singular. Somos herdeiros de inúmeras
tradições culturais, cada uma delas com suas diversas linguagens. O ser humano tem, além da natureza biológica,
uma segunda, a “natureza cultural”. A busca de sentido é uma característica central da pessoa humana. O ser
humano está sempre situado no mundo e apresenta-se, continuamente, como um ser aberto e a procura de formas
de expressar a si mesmo, a seus sentimentos, experiências e necessitado de encontrar as razões de sua existência.
As artes, os mitos, as religiões, as ciências, as técnicas, dentre outras, fazem parte desse legado criativo da
humanidade e confirmam a tese de que a natureza biológica não define, pelo menos em plenitude, a condição
humana.
2 - Ao acumular sabedoria e adquirir a consciência de sua finitude, contingência e fragilidade, o ser
humano percebeu cedo a importância de transformar sua experiência em tradição e transmiti-la às novas
gerações. Criou enorme diversidade de linguagens na busca de conservar ou manter suas experiências e
conservar suas tradições de sabedoria. A invenção da linguagem oral e, depois, a escrita favoreceu e facilitou
imensamente a expressão, o entendimento, a comunicação, como também, o registro das experiências. O ser
humano criou a história, propriamente, falando. Tornou possível, com eficácia inédita, registrar, conservar e
transmitir aquilo que foi julgando importante. A linguagem do bites internéticos e as nanotecnologias, com seus
chips e nuvens virtuais, com cada vez maior capacidade de armazenamento de informações e dados, multiplicou
exponencialmente o poder humano de guardar suas experiências, reflexões, registros e conhecimentos.

6
Cf. ALVES, Rubem. O suspiro dos oprimidos, São Paulo: Paulinas, 1984, p. 05.
4
3 - Entre as diversas linguagens humanas, debruçaremos aqui sobre a linguagem religiosa: aquela que
tem a pretensão de dar inteligibilidade, ou seja, de expressar e transmitir a complexa experiência religiosa,
de provocar e possibilitar a percepção e a compreensão da realidade captada pela fé, transcendente,
sagrada, divina, em fim, a presença de Deus/es/a/as e de suas entidades, falanges, mensageiros, avatares...
4 - A experiência religiosa se apresenta como algo que humaniza ou transforma, radicalmente, a vida
daqueles que nela estão envolvidos. Precisa ser elaborada, descrita, caracterizada, consignada e transmitida para
não se perder. Necessita se traduzir em linguagem adequada pela qual se expresse, se conserve e consiga ser
comunicada e acessada pelos outros. As religiões se apresentam com a pretensão de ser caminho ou veículo
legítimo que favorece linguagem às experiências religiosas (espirituais, de fé, sagradas, místicas, divinas, de
salvação, de Deus/es/a/as...).

A) Duas formas de apresentação da linguagem religiosa


1 - Numa primeira aproximação, percebe-se distinção importante na linguagem religiosa. Ela se apresenta,
fundamentalmente, de duas maneiras. Primeiramente, apresenta-se no modo simbólico, através de gestos e objetos
de composição do espaço e do tempo sagrados 7, ou seja, na busca de expressão estética da experiência religiosa. No
caso do cristianismo, por exemplo, a experiência religiosa se enuncia e pode ser apreendida no sinal da cruz ou no
próprio crucifixo, nas vestes litúrgicas e nos inúmeros gestos sacramentais de imposição ou elevação das mãos, no
ajoelhar-se, no abraço da paz, no pão e no vinho compartilhados, na imersão-emersão na água batismal, na unção
com óleos, dentre muitas outras. Mas também nos vitrais, ícones, imagens, mosaicos e pinturas religiosas ou nas
próprias catedrais e santuários... Em segundo lugar, apresenta-se no modo formulado, através da forma oral ou
escrita. No caso da tradição cristã, para continuar com exemplo bastante conhecido em nossa cultura ocidental,
apresenta-se consignada na Bíblia, nos credos, nos documentos eclesiais, na liturgia, ritos, cantos, preces e orações.
2 - Para muitos, a dimensão simbólica aparece como algo que dispensa explicação, pois, o simbólico fala
por si mesmo. Mas a linguagem religiosa, no modo simbólico ou formulado, apenas adquire certa unidade e
horizonte de significação quando é assumida como parte integrante de determinada tradição religiosa, que por ela
se expressa e delimita seu horizonte de compreensão. O fundamental, portanto, para compreender o conteúdo da
mensagem ou experiência que a linguagem religiosa formulada transmite é preciso ouvir o que cada tradição
religiosa diz de si mesma. É claro que todo ouvinte e leitor é sempre um sujeito de interpretação das próprias
experiências.
3 - A linguagem é o meio necessário para se dizer, se expressar e comunicar o conteúdo da fé de uma
pessoa ou grupo para outra pessoa ou grupo. Isso acontece de modo situado culturalmente no tempo e no espaço da
pessoa que se dispõe ou que se debruça procurando entender a experiência religiosa. Nesse sentido, a correta
interpretação da linguagem religiosa adquire relevância fundamental. Sem este ensino-aprendizagem, a linguagem
religiosa não cumpriria a sua missão de explicitar, comunicar, possibilitar compreensão e transmitir, de modo
correto, o conteúdo da experiência religiosa. Portanto, aqui se compreende a estreita relação entre linguagem e
experiência e vice-versa.

B) Ao interpretar, leve em conta as características específicas de cada linguagem


1 - A melhor forma de se iniciar na arte de interpretar a linguagem religiosa é concebê-la como uma
linguagem com características específicas. O pressuposto básico é o de que se trata de linguagem especial:
não descritiva, situada culturalmente, necessitada de interpretação e vivência da fé. Como todo texto, ela é
polissêmica, ou seja, provoca círculo hermenêutico entre o espaço e o tempo do autor e do leitor ou ouvinte. Isso
significa que a linguagem é realidade em contínuo processo de crescimento e expansão de horizontes e permite
diversas interpretações legítimas. A leitura, por ser feita sempre em um determinado contexto e pretexto do leitor
ou ouvinte, deve levar em conta o contexto e o pretexto do autor. No necessário diálogo entre os contextos e
pretextos do autor e do leitor/ ouvinte, estabelecem-se os limites ou parâmetros de compreensão, como também as
novas possibilidades de leitura. Toda leitura estabelece certa clausura, uma espécie de fechamento momentâneo, no
horizonte aberto da livre interpretação. Por isso a criação de círculos de diálogo ou rodas de conversa são tão
importantes para a superação de ingenuidades, fundamentalismos e deturpações.

7
Compreende-se o termo “sagrado” como a qualidade atribuída, pelo homem de fé, àquilo que, simbolicamente, revela ou expressa a
transcendência divina. O oposto ao sagrado é o profano, que se refere à pura materialidade das coisas, àquilo que é realidade bruta e
indiferente ao sentido profundo da vida. O sagrado se manifesta na linguagem de quem, em sua interioridade, experimenta ou, pelos olhos da
fé, reconhece a presença de Deus em determinado tempo e/ ou espaço. Em sentido estrito, o sagrado está mais, propriamente, no interior
próprio ser humano que, pela fé, batiza, ritualiza e reconhece a presença transcendente divina, do que nas próprias realidades consideradas
sagradas. A apreensão do sagrado depende, portanto, da religiosidade ou da experiência de fé de quem o reconhece enquanto tal. A razão
percebe e analisa o fenômeno cultural produzido pelas manifestações do sagrado: composição estética de lugares, valorização de
determinados objetos, imagens, acontecimentos ou datas, fidelidade a costumes e ritos, livros, cantos e orações. Cf. GUIMARÃES, Edward.
A vida cristã e os sacramentos da fé. Estrutura sacramental da vida cristã, Belo Horizonte: Centro Loyola, 2007, p. 11-14; ALVES, Rubem.
O que é religião?, São Paulo: Loyola, 5ª edição, 2003, p. 30-32.
5
2 - A leitura religiosa, mais do que qualquer outra, deve ser vivenciada, como tudo que é
autenticamente humano, nas dimensões pessoal e comunitária, em clima de abertura, diálogo e contínuo
crescimento, através de leitura e releitura, de significação e ressignificação. Deve ser feita em clima de
vivência da fé, ou seja, de busca da vontade de Deus/es/a/as que nos impulsiona para o amor e a justiça. Portanto,
deve-se evitar, a todo custo, a leitura literalista, fundamentalista, apologista, “fossilizada” e desligada dos processos
vitais pessoais e, especialmente, da vida da comunidade de fé do autor e do próprio leitor/ ouvinte, sob pena de
deturpação do significado da mensagem religiosa e do conteúdo da fé.

C) Em busca das características básicas da linguagem religiosa


1 - O primeiro passo é procurar conhecer as características básicas da linguagem religiosa. Os
estudos teológicos da linguagem religiosa reconhecem grande variedade de gêneros literários nos escritos
religiosos.8 Cada um com seu modo próprio de se apresentar e, portanto, com exigências específicas para que seu
conteúdo seja bem interpretado. Escapa às modestas pretensões desse texto, tratar aqui, seja de cada uma das
diversas formas ou gêneros literários presentes na Torah, na Bíblia, no Corão e em outros textos religiosos, seja de
iniciar o leitor na arte da exegese ou hermenêutica de textos sagrados. Há vasta literatura especializada nesse
campo dos estudos.9 Aqui se pretende tão somente chamar a atenção para a especificidade da linguagem religiosa e
preparar o coração do leitor que se dispôs a trilhar os caminhos de acesso à transcendência, ao sagrado, ao mistério
de Deus/es/a/es que se deixa(m) encontrar (cf. Isaías 55, 1-6).
2 - Contribui na compreensão da linguagem religiosa ter presente pelo menos cinco características
fundamentais da linguagem religiosa:
 Em primeiro lugar, pode-se dizer que ela é mais narrativa do que descritiva dos fatos e experiências vividas.
A narrativa é uma forma literária que apresenta o conteúdo da mensagem a ser transmitida contando história,
inserindo personagens e situações contextuais reais ou imaginárias. Diante de uma narrativa, perde sentido a
pergunta direta “será que isso realmente aconteceu?” ou “como foi que isso aconteceu?”. O mais relevante, no
caso da narrativa religiosa é, num clima de fé e abertura a Deus, perguntar: o que o autor queria transmitir ao
leitor?, em qual contexto ela foi redigida?, qual o objetivo do autor?, qual a mensagem do texto para minha
vida ou para minha comunidade de fé?, para nosso contexto, o que se pode aprender dessa narrativa? A leitura
orante oferece sua contribuição e enriquecimento para a leitura religiosa. Ensina a se colocar em atitude de
oração pessoal ou em grupo, invocar a presença da luz do Espírito Santo e ter presente a realidade atual. No
confronto do texto religioso com a nossa vida, fazer a pergunta: o que Deus está nos dizendo através desse
texto.
 Em segundo lugar, ela é mais performativa do que histórica factual. Isso significa que a linguagem
religiosa não é linguagem neutra, desinteressada, de pura descrição de fatos ou acontecimentos históricos. Ao
contrário, ela tem como objetivo primeiro provocar a percepção da presença de Deus, a mudança de vida ou a
conversão do ouvinte ou leitor a Deus. A mensagem religiosa pretende transformar a vida da pessoa ou
comunidade em direção ao bem, alimentar sua esperança, indicar a direção a ser tomada, interpelar a
liberdade, impulsionar ao amor e à práxis da justiça, da misericórdia, da responsabilidade, ao cuidado com a
vida e com a fraternidade. Para realizar tal intento, lança mão de inúmeros recursos ou formas literárias, tais
como promessas, sermões, parábolas, profecias, visões, ameaças de castigos e pragas, catástrofes, orações,
relatos de milagres e expulsão de espíritos malignos, relato de epifanias, manifestações de anjos, intervenções
portentosas e libertadoras de Deus, relato de fatos sobrenaturais, relato de conversões, dentre tantas outras
maneiras.
 Uma terceira característica é que ela é mais simbólica do que literal. É composta de inúmeros recursos
conotativos: objetos, metáforas, símbolos, luz, cores e sons extraordinários da natureza. Todos esses elementos
de composição, combinados entre si, tecem a complexa trama do texto religioso. Cada detalhe compõe e
contribui, tal como a construção de requintado mosaico, para a beleza do todo. São textos inteligentes,
inspirados, formulados e repensados a partir de objetivos estabelecidos à luz da fé. Por isso não devem ser
lidos de qualquer forma. Exige a perspicácia e a tenacidade da busca pessoal e coletiva. Cada ângulo revela
um elemento novo que enriquece a compreensão da mensagem. Cada novo contexto proporciona inéditos
desdobramentos para a vida do ouvinte ou leitor. Aqui se capta a beleza e profundidade que faz dessa forma de
linguagem uma mediação para a revelação da Palavra de Deus. 10

8
A título de exemplo da diversidade de formas literárias presentes no texto bíblico, consulte o índice da obra de BERGER, K., As formas
literárias do Novo Testamento, São Paulo: Loyola, (Col. Bíblica Loyola nº 23), 1998.
9
Para o leitor não especializado, por exemplo, no caso da leitura bíblica, recorrer a um bom comentário bíblico não é algo dispensável. A
caminhada da igreja latino-americana tem produzido bons instrumentos, em linguagem acessível às comunidades de fé. Destaca-se, entre
nós, o trabalho do CEBI – Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, com inúmeras publicações.
10
Um precioso livro que ajuda na compreensão da linguagem religiosa é o livro do biblista Carlos Mesters. Veja: MESTERS, Carlos. Por
trás das palavras, Petrópolis: Vozes, 1974.
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 Uma quarta característica é que ela é mais existencial do que empírica. Seu alvo primeiro é atingir o coração,
enquanto símbolo do mais profundo da interioridade humana. Capta-se esta necessidade na intuição poética de
Cora Coralina, quando diz, na poesia “Não Sei”, que “nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o
coração das pessoas”. Assim também, a linguagem religiosa, cuja pretensão é revelar ao ser humano a
presença amorosa e libertadora da graça de Deus, visa, fundamentalmente, tocar e iluminar os recônditos mais
sombrios da interioridade humana, penetrar nas profundezas da alma para aí “fazer maravilhas”.
 Uma quinta característica, que ajuda a compreender complexa linguagem religiosa, é que ela se aproxima
mais da linguagem amorosa do que a da racionalidade científica. O objeto da linguagem religiosa, embora
se enuncie em tudo, não pode ser captado na pura materialidade das coisas ou na temporalidade histórica.
Deus transcende ao que nossos cinco sentidos captam habitualmente. Sua ação acontece em nível diferente,
como trataremos, mais abaixo, na experiência religiosa. Por isso a linguagem que expressa essa presença
transcendente só pode ser uma linguagem especial. Acontece algo semelhante na experiência amorosa,
concretamente no desafio da linguagem amorosa revelar e comunicar a intensidade e o vigor de nossos
sentimentos. O amor enuncia-se em tudo, mas não está no nível das coisas, dos gestos ou palavras do amante.
O mesmo pode ser dito da linguagem religiosa. A linguagem aponta para uma realidade presente em tudo, mas
que está, fundamentalmente, para além de todas as coisas, gestos e palavras.
3 - Das características descritas acima, se deduz que a leitura literal ou fundamentalista além de
empobrecer o processo de apreensão do conteúdo da mensagem religiosa, não capta a beleza dessa
linguagem, não compreende, autenticamente, o conteúdo da experiência religiosa.
4 - Além das características descritas, também é importante ter presente um método de leitura crítica da
linguagem religiosa. Entre nós, destaca-se o método histórico crítico formulado pelo biblista Carlos Mesters e
popularizado pelo Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos-CEBI, na caminhada da Igreja na América Latina, em
sua busca de recepção do Concílio Vaticano II. Trata-se do método de leitura crítica que concebe o texto sempre
inserido fundamentalmente em seu contexto histórico-cultural, mas aberto e em contínua tensão com o pretexto ou
motivos de sua elaboração. Em outras palavras. Todo texto é melhor entendido quando se conhece a realidade onde
o autor está inserido e seus objetivos ao redigir o texto (onde e quando escreve?; para quem escreve?; com qual
objetivo escreve?). Essa tríplice estrutura – texto-contexto-pretexto – forma um círculo hermenêutico em tensão
contínua com o contexto e pretexto vividos pelo leitor (onde e quando acontece a leitura?; com qual objetivo o
leitor faz a leitura?). Esse encontro entre a vida do escritor e do leitor através do texto sagrado provoca novas
leituras e enriquece o horizonte de sentido do texto original, é o que faz do texto religioso seja acolhido pelo leitor
de fé como revelação de Deus para ele, ou seja, como “Palavra de Deus na história dos homens”. 11 Dito de outra
maneira, quem escreve tem objetivos situados e escreve para leitores inseridos em uma comunidade concreta, que,
em sua realidade, vivencia determinadas experiências e problemas. Quem lê, encontra-se em determinado contexto
e faz a leitura com interesse ou objetivo específico. Quem escreve ou quem lê, por mais original que seja, sob pena
de não ser compreendido, na hora de redigir ou de ler um texto, utiliza ou se aproxima da linguagem que lhe chega
sempre a partir do horizonte literário disponível em seu contexto sociocultural. Nenhum texto é destituído de
contexto histórico-cultural e de pretexto. Tanto o autor do texto quanto o seu leitor estão situados histórica e
culturalmente. Quanto mais distantes um do outro, o autor e o leitor, maior a necessidade de haver diálogo cultural,
reflexão crítica-autocrítica, estudo paciente e abertura de mente, na busca de compreensão do conteúdo, da
mensagem veiculada por meio do texto. Não basta olhar o texto e conhecer o significado das palavras. A leitura de
um texto religioso não pode ser feita sem levar em consideração tais exigências: conhecer a língua do texto e o
mundo cultura do escritor e ser capaz de dialogar com o mundo cultural do leitor. Caso contrário, a linguagem se
torna fonte de grandes mal-entendidos.

A GUISA DE CONCLUSÃO
1 - Na busca de compreensão da complexidade do fenômeno religioso revela-se relevante pensar a relação
fé e razão, reconhecendo a diferença, a legitimidade e a autonomia de cada uma, bem como procurar articular
dialeticamente estas duas dimensões do jeito humano de compreender a realidade.
2 - Outro ponto significativo revela-se a necessidade de conhecer as especificidades e perceber a interação
e a inseparabilidade entre linguagem e experiência religiosa. Demonstrar essa importância foi a pretensão maior e o
que motivou a redação deste texto.

QUESTÕES DE APROFUNDAMENTO:
1. Sobre fundamentalismo. PESQUISE a etimologia do termo e DESCREVA as suas manifestaçõ es em
diversos âmbitos da vida humana com destaque para a dimensã o religiosa;
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Esse é o título de um dos primeiros livros do Frei Carlos Mesters, veja: MESTERS, Carlos. Palavra de Deus na história dos homens,
Petrópolis: Vozes, 1970. A riqueza de seu método de leitura bíblica pode ser captada em seus muitos livros que circulam entre nós. Cf.
MESTERS, Carlos. Por trás das palavras, Petrópolis: Vozes, 1974; id., Deus, onde estás?, Belo Horizonte: Ed. Veja, 1972, dentre outros.
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2. EXPLIQUE a tese do autor, explicitada no título, segundo a qual a compreensã o da linguagem e da
experiência religiosa ajudam na superaçã o do fundamentalismo religioso.
3. EXPLIQUE, com suas palavras, o conceito e DÊ exemplos de: a) experiência espiritual; b) experiência
religiosa; c) experiência de fé; d) experiência de Deus;
4. Segundo o texto fé e razã o “sã o dimensõ es fundamentais do jeito humano de conceber e
compreender a realidade”. a) EXPLICITE as ideias e argumentos utilizados pelo autor; b)
POSICIONE-SE e JUSTIFIQUE suas ideias em relaçã o à compreensã o do autor;
5. Com base no texto, APRESENTE as características singulares ou específicas da experiência religiosa,
cuja pretensã o é ser experiência de Deus;
6. LISTE os critérios de razoabilidade desenvolvidos pelo autor, para verificar a credibilidade e a
sanidade da experiência religiosa. Para cada critério, APRESENTE exemplo concreto;
7. EXPLIQUE, segundo o autor, o objetivo maior da linguagem religiosa e SINTETIZE a sua pretensã o;
8. RELACIONE a compreensã o do termo “transubstanciar” utilizado por Rubem Alves no texto
“Símbolos da Ausência” ao explicar o símbolo religioso e o termo “sagrado”;
9. EXPLIQUE e DÊ exemplo das duas formas de manifestaçã o da linguagem religiosa apresentados no
texto;
10. SINTETIZE, com linguagem pessoal, as cinco características da linguagem religiosa.

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