Oswaldo M. Rodrigues Jr.

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SEXUALIDADE
E BEM-ESTAR
O APRENDIZADO DE PRAZERES SEXUAIS
DEPENDE DE POSSIBILIDADES AO
LONGO DA VIDA, MAS TAMBÉM DE
RECONHECIMENTO PELA PESSOA DESTAS
POSSIBILIDADES E O ENGAJAMENTO COM
A VIVÊNCIA, PERMITINDO QUE ELA SE
TORNE POSITIVA
UITO S E F A L A D E S E X O ,

M MAS QUANDO FALAMOS D E

S E X U A L I D A D E , ESTAMOS
A B R A N G E N D O MUITO MAIS DO Q U E O
P U R A M E N T E G E N I T A L , E MUITO MAIS
L O N G E DOS A S P E C T O S B I O L Ó G I C O S
B Á S I C O S ASSOCIADOS A S E X O , L O N G E DA
R E P R O D U Ç Ã O . E N T R E OS PROFISSIONAIS
DE S A Ú D E , A DISCUSSÃO SOBRE
S E X U A L I D A D E TORNOU-SE S É R I A
D E S D E A D É C A D A D E 1970, QUANDO A
O R G A N I Z A Ç Ã O MUNDIAL D E S A Ú D E
CENTRALIZOU A DISCUSSÃO SOBRE O
CONCEITO, E M BUSCA D E UMA NOVA
C O N C E I T U A L I Z A Ç Ã O DA S A Ú D E : A
S A Ú D E S E X U A L . O I M P O R T A N T E NESTA
DISCUSSÃO É P E R C E B E R QUE A S A Ú D E
S E X U A L É O R E S U L T A D O DAS S A Ú D E S
B I O L Ó G I C A , P S I C O L Ó G I C A E SOCIAL.
Sexualidade implica em muitos aspectos além da re-
lação sexual genital, incluindo o erotismo, o prazer, a in-
timidade, a troca de emoções e afetos. Inclui as questões
de género (sentirmos que somos pertencentes ao grupo
de mulheres, de homens ou formas intermediárias ou não
definidas nestes parâmetros) e a quem preferimos para
satisfazer nossas necessidades (objeto sexual, preferência
sexual, sejam no contínuo heterohomosexualidade, seja
na assexualidade, seja nas amplitudes diferentes que
necessitamos considerar, até a pansexualidade). A
sexualidade é expressa através de comporta-
mentos, sejam explícitos (atos e ações), sejam
privativos (pensamentos, emoções, afetos e

fantasias). Sexualidade é um elemento humano for-
mado socialmente e dependente de um momento
histórico, em constante mudança de acordo com o
ambiente e quando ocorre e se expressa. Aqui, te-
mos o ponto de partida para debater o bemestar e a
sexualidade. Profissionalmente, tecnicamente e cien-
tificamente já se supõe que para atingirmos a saúde
sexual temos saúde geral, e é isso que devemos olhar
para compreender o bem-estar.
O conceito de bem-estar, desde o ponto de vista
da psicologia, diz respeito ao aspecto subjetivo que
uma pessoa vive. Claro que isso implica, primeira-
mente, num aspecto cognitivo, aquilo que pode ser
conhecido, compreendido e compartilhado sobre um
grau de satisfação e, neste caso, uma satisfação com
as questões sexuais torna-se um fator importante.
Bem estar associa-se de modo importante a um as-
pecto afetivo: a percepção de felicidade. Isto implica
que não basta estar bem e pensar que se está bem,
pois o sentir-se bem facilita a compreensão do pen-
sar e fazer, e culturalmente é o aspecto considerado
para confirmar o estar bem.
Outro fator de importância nessa discussão
sobre sexualidade é a pessoa em relacionamento. A
pessoa em relacionamento implica em capacidades
e habilidades sociais, capacidades e facilidades de
comunicação afetiva e assertiva, habilidades de ex-
pressões emocionais inseridas num contexto social, e
implica no desenvolvimento individual histórico das
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"Esse aprendizado pode ser dar através de
uma variedade de interaçôes com pesso-
as diferentes, o que mais provavelmente
permitirá maior amplitude de ações e
comportamentos que conduzem a vivência
sexual prazerosa."
experiências sexuais que culminaram em satisfação
e prazer sexuais. Porém, se o envolvimento de uma
pessoa com ocasiões sexuais não resultar em vivên-
cias positivas sedimentadas ao longo da vida, esta
pessoa não saberá como extrair bemestar da expe-
riência sexual na vida adulta. O aprendizado com re-
sultados positivos ao longo da vida, e repetidos, asso-
ciase ao resultado de bemestar. Esse aprendizado
pode ser dar através de uma variedade de interaçôes
com pessoas diferentes, o que mais provavelmente
permitirá maior amplitude de ações e comportamen-
tos que conduzem à vivência sexual prazerosa. Mas
não podemos descartar que a vivência repetida e se-
dimentada com apenas outra pessoa também pode
conduzir aos mesmos resultados positivos. O apren-
dizado de prazeres sexuais depende de possibilida-
des ao longo da vida, mas de reconhecimento pela
pessoa destas possibilidades e o engajamento com a
vivência, permitindo que ela se torne positiva. O cor-
po tem todas as condições para que isso aconteça!
As sensações físicas associadas a emoções e
afetos positivos dependem de um contexto especial e
muito específico. Atividades variadas facilitam estas
condições fisiológicas. Podemos aprender a nos sen-
tir bem executando um trabalho, indo ao cinema e
socializando com amigos, comendo ou bebendo. Mas
existe uma atividade humana especial para produ-
zir bem essas condições fisiológicas de modo intenso,
ou até mais intenso do que as outras atividades. A
excitação sexual é um dos fatores mais importantes
na produção de sensações físicas e emocionais.
A excitação sexual pode conduzir ao orgas-
mo. Nem sempre o fará, mas o efeito fisiológico que
precisamos de base para que o resultado seja a sa-
tisfação emocional já foi alcançado. A excitação se-
xual pode ser durante o relacionamento a dois, ou
em atividades solitárias, ou nos estímulos sensuais
ou eróticos no cotidiano, sem que cbeguemos a ex
pressões genitais de excitação total. Precisamos ter
em conta também o que nos passa entre as orelhas,
lembranças, imagens mentais, fantasias e até sonhos
durante o dormir!
Para que a excitação sexual exista, o corpo en-
tra em um estado físico de relaxamento muito es-
pecial, pois se espalha a todas as extremidades e de
modo muito abrangente. Isto ocorre inclusive e de
forma especial no cérebro, exatamente nas áreas as-
sociadas aos genitais, implicando nisso mesmo que a
pessoa apenas fantasie coisas que considere sexuais.
Essas sensações físicas são percebidas e quali-
ficadas enquanto prazer. Uma vez que aprendemos
a sentir prazer, queremos repetir muitas e várias
vezes para encontrar este prazer, já conhecido. Este
prazer é emocionalmente muito forte, mais forte do
que muitas das atividades prazerosas que podemos
vivenciar. Mas o efeito das sensações físicas prazero-
sas sexuais, mesmo que fortes, trazem um problema:
duram pouco. Apesar disso, perduram em seus efei-
tos no corpo humano: reforçam relaxamentos, dis-
persam dores do corpo. Um resultado compreendido
como muito especial que conduz a pessoa a desejar
"Isso sempre me lembra duma frase que era capciosa usada sobre o sexo: 'se não usar, atrofia'."
repetir a experiência. Assim, construímos o chamado
desejo sexual, ou libido, como alguns preferem.
A motivação para buscar atividades sexuais
depende da vivência, da repetição dessas vivências
e de serem consideradas boas, prazerosas e sem a
sensação de fazermos grandes esforços para con-
seguir este prazer. Atentem que esse é um processo
semelhante à prática de educação física, de exercitar
músculos! Sim, essa não é uma mera comparação. A
atividade sexual é uma atividade muscular e exige
músculos aptos para a atividade. E isso é além dos
músculos mais conhecidos do corpo, além de pernas
e braços ou abdómen. A região genital somente é
usada quando em atividades sexuais. Quanto mais
temos atividades sexuais, mais os músculos genitais
estarão aptos para produzir os efeitos fisiológicos da
excitação sexual Assim, devemos compreender que
somente poderemos exigir do corpo aquilo para o
que o corpo está preparado para apresentar. Achar
que será fácil ter um desempenho sexual sem treino
não conduzirá a obter prazer, provavelmente será o
encontro com a frustração.
Isso sempre me lembra duma frase que era
capciosa usada sobre o sexo: "se não usar, atrofia".
Bem, essa é realmente uma verdade! Então a base
fisiológica para a excitação sexual, para o prazer se-
xual é o exercício da anatomia genital. O que a pes-
soa sente após o sexo (qualquer que seja a atividade
sexual) é percebido como bem-estar. A vivência de
ações que conduzem ao bemestar são compreendi-
das enquanto autoaceitação, sensação de ter controle
sobre o ambiente, dar sentido para a vida, sentirse
 SEXO - BEM-ESTAR
"A maioria dos casais em nossa cultura mantém
atividades sexuais a noite, na cama, e já preparados
para dormirem após. Interessante como esse contex-
to é favorecedor!"
em crescimento, autónomo e positivo. Claro que será
necessário discutir se todas essas percepções são
verdadeiras, ou se são percepções resultantes do que
consideramos bemestar. Mas sentimos tudo isso e
assim consideramos que atingimos o bemestar!
Num casal essa situação sexual se mostra in-
teressante. Pensemos juntos: esse casal já sabe como
obter prazer sexual, repete as mesmas atividades co-
nhecidas com uma frequência que se estabeleceu ao
longo do cotidiano. A vivência conjunta das atividades
sexuais implica numa forma de comunicação emocio-
nal, troca de emoções, percepção de estar e ser parte
das emoções e afetos positivos que o outro vive. A
interação no momento sexual implica numa constru-
ção de ações que traz a segurança de como o futuro
imediato ocorrerá: ambos obtendo o prazer sexual e
confirmando o outro como fonte deste prazer sexual
Esta troca é importante para o reconhecimento do
outro como meio de se chegar ao prazer e ao bem-
-estar. A expectativa positiva passa a ser um plane-
jamento, algo seguro de que acontecerá novamente.
A maioria dos casais em nossa cultura mantém
atividades sexuais à noite, na cama, e já preparados
para dormirem após. Interessante como esse con-
texto é favorecedor! O casal após conseguir prazer
sexual relaxa sobremaneira e assim facilita o sono.
Nessas oportunidades, facilitando o sono, eles viven-
ciam uma certeza de que não precisarão desfocar
das sensações prazerosas sentidas... adormecendo.
Claro que este relaxamento sexual facilita o sono! Ei-
siologicamente, o corpo já se encontra a caminho do
dormir! Ao adormecerem após o sexo, várias situa-
ções ocorrem. A primeira será manter na memória
imediata a vivência do prazer, do relaxar, do bem-
estar em conjunto com aquela outra pessoa. Esse
material mais provavelmente participará dos sonhos
e novamente poderá ser guardado na memória, re-
petindo a vivência sexual, reforçando a memória de
terem ocorrido coisas boas, boas emoções. O mais
importante será o poder dormir sem dores, sem mal-
-estares corporais. Após um bem dormir, virá outro
fator, outra vivência positiva associada ao bem-es-
tar, nominada de bem-estar: acordar e perceber
maior disposição para o dia, para o trabalho. Essa
disposição é percebida como bom humor, passando
o dia em estado de satisfação.
Muitos podem reconhecer estas condições
pelo oposto, conhecidas causas de problemas se-
xuais nos casais: cansaço, falta de confiança sexual
e autoimagem corporal negativa, desempenho sexual
prejudicado, falta de privacidade, dormitórios com-
partilhados com filhos, camas de solteiro para casais,
desconfortos de saúde (incluindo tratamento para
doenças, problemas conjugais e familiares... uma lista
grande de situações que afetam o bem-estar e impe-
dem a vida sexual satisfatória do casal
E o aspecto técnico? A esse aspecto chamare-
mos de saúde sexual. Esse conceito tem sido discutido
em grupos de especialistas dentro da Organização
Mundial da Saúde - OMS, desde a década de 1970,
chegando à primeira publicação oficial na Organi-
zação Pan-Americana de Saúde no ano 2000, após
outra reunião com especialistas da WAS - Associação
Mundial de Sexologia. Aqui, concluíase o conceito de
Saúde Sexual como sendo além da ausência de pro-
blemas e doenças, mas que implicava em bemestar!
Fatores considerados pela OMS para que o
bem-estar exista conjuntamente ao exercício da
sexualidade: equidade e respeito mútuo; negociar
com parceria sexual para garantir que o sexo que
terão é o sexo que desejam; protegerse e proteger
os outros; proteger a si e aos outros de infecções
de transmissão sexual, gravidez não desejada; aten-
ção às reações emocionais e psicológicas; atentar às
dificuldades emocionais e mentais de pressões para
fazer sexo ou para entrar numa atividade sexual que
produza desconforto; considerar diversidade - reco-
nhecer sexualidades diferentes sem discriminação,
preconceito ou julgamento.
A percepção de satisfação num casal associa-
se à satisfação sexual. Apenas uma em cada seis
pessoas considerase sexualmente satisfeita. Então, o
que dizer daquele argumento baseado em pesquisas
que diz que para muitos adultos a sexualidade é par-
te importante da vida, seja expressa para uma parce-
ria, para muitas ou para si mesmo, mas se torna uma
"Interessante notar a importância da existência de
um relacionamento estável que se associa ao bem~
-estar e h vivência da sexualidade."
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fonte de significados e grande prazer na vida? Mui-
tas pessoas ainda vivem sem encontrar o bem-estar
produzido pela vivência da sexualidade. Vivendo o
oposto, cercado de dificuldades sexuais, sem o prazer
imediato recebido das experiências sexuais, muitos
não sabem o que é viver o bem-estar que as ativida-
des sexuais produzem, permitem viver.
Interessante notar a importância da existên-
cia de um relacionamento estável que se associa ao
bemestar e à vivência da sexualidade. Solteiros não
se beneficiam na mesma proporção que as pessoas
envolvidas num relacionamento! Apenas 69% dos sol-
teiros afirmam sentiremse bem e sexualmente sa-
tisfeitos! E, desde o começo do século 20, pesquisas
salpicam a conclusão de que casais com mais de 70
anos que fazem sexo são os que se consideram fe-
lizes (mesmo que naquela época fosse apenas \1 dos
casais existentes naquela faixa etária)!
Mas temos uma pequena revolução em para-
lelo no mundo profissional da saúde relacionado à
sexualidade. Grupos de sexólogos ao redor do mundo
têm preferido falar do sexo positivo. O sexo positi-
vo é a afirmação de que a sexualidade é fundamen-
talmente uma boa coisa na vida e não algo errado,
feio, envolvido em vergonha, ou apenas saudável em
determinados tipos de relacionamentos e expressões
da sexualidade. Implica em poder expressar o desejo,
a identidade de género e a orientação sexual como
parte básica do estilo de vida saudável de uma pessoa!
Nas últimas décadas, a saúde sexual, a saúde
física, a saúde mental e o bem-estar geral têm sido
positivamente associados com a satisfação sexual,
autoestima sexual e prazer sexual. Os efeitos bené-
ficos da satisfação sexual deveriam integrar a busca
da saúde. E retomando a postura da OMS, baseada
na Declaração dos Direitos Sexuais que a Associação
Mundial para a Saúde Sexual defende, todos temos o
direito de acessar o conhecimento científico sobre as
questões da sexualidade. Esse conhecimento baseado
em ciência é a base necessária para que saibamos
de nossas possibilidades, de nossas escolhas sexuais.
Assim nos educamos, em todas idades, sejamos jo-
vens ou idosos, faremos com que o sexo seja bom e
prazeroso, trazendo bem-estar para nosso cotidiano.
* Oswaido M. Rodrigues Jr. (CRP 06/20610-7) é psicólogo e
psicoterapeuta sexual desde 1984, aluando em tratamento de disfunções
e queixas sexuais e inadequações sexuais de casais. Desde 1996 atua
no Instituto ftulista de Sexualidade, o qual fundou e dirige. É mestre em
Psicologia Social pela PUC/SP (1996). Coordena as pesquisas e estudos
sobre disfunção erétil, disfunções sexuais e parafilias no GEPIPS - Grupo
de Estudos e ftsquisas do InF^Sex (desde 1996); é co-coordenador
do CEPES - Curso de Qualificação Profissional em Psicoterapia com
Enfoque na Sexualidade ~ Instituto ftulista de Sexualidade desde 1999;
é editor-chefe da revista Terapia Sexual (desde 1998), além de autor de
38 livros sobre psicologia e sexualidade, tendo capítulos publicados em
outros livros de psicologia, medicina e sexualidade. Sites http://www.
oswrod.psc.br / http;//vww.inpasex.com.br
 G R A N D E S T E M A S DO C O N H E C I M E N T O

PSICOLOGIA ESPECIAL INTELIGÊNCIA

S O CÉREBRO
Q As diversas técnicas usadas para
^ manter a mente mais forte e
rápida ao longo dos anos

^ "AEROBICA" PA
§ OS NEURÓNIOS
u Existem vários exercícios e
^ técnicas que a ciência já
confirmou que efetivamente
melhoram nossa inteligência

ORGANIZANDO
§ SEU TEMPO
^ Se você anda cansado e tudo
[2 fica para o dia seguinte, é hora
1 de quebrar esse círculo vicioso

ELIMINE O
- ESTRESSE
[2 O nervosismo, a fadiga nervosa e
^ as crises de ansiedade são sinais
[2 de que sua vida está no limite e é
hora de mudar isso imediatamente