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ENQUALAB-2008 – Congresso da Qualidade em Metrologia

Rede Metrológica do Estado de São Paulo – REMESP


09 a 12 de junho de 2008, São Paulo, Brasil

DETECTORES AUTOMÁTICOS DE FUMAÇA


ENSAIO DE SENSIBILIDADE

Alex Paulo1, Fernando Azevedo2, Luiz Boschetti3, Marcel M. Borges4, Sidney de Barros5, Douglas Barreto6,
André Luiz Gonçalves Scabbia7

RESUMO Os detectores, Figura 1, são de fundamental


importância para se avaliar um risco real de
Os sistemas prediais de combate a incêndio incêndio desde que selecionados adequadamente,
nem sempre são tratados como prioritários no tendo em vista os tipos de materiais combustíveis
contexto da construção civil e muitas vezes, só do ambiente em que estão instalados.
lembrados na época do “habite-se”, durante a
aprovação dos projetos na Prefeitura ou nos Corpos
de Bombeiros dos Estados. Um dos componentes
deste sistema é o detector automático de fumaça.

O presente trabalho aborda o ensaio de


sensibilidade dos detectores iônicos e as suas
características e padrões a serem seguidos de
Figura 1 – Detector de Fumaça
acordo com os critérios especificados na NBR
11836:1992, por meio de um estudo comparativo O detector iônico é um dispositivo que é
entre detectores usados e após limpeza, analisando- acionado pela presença de fumaça, visível ou não.
se a sensibilidade à fumaça e mais alguns Com base no princípio da câmara de ionização, o
parâmetros inerentes ao ensaio. dispositivo possui duas câmaras, uma de referência
e outra de análise. Em uma das câmaras tem um
Palavras chave: Detectores iônicos, Ensaio de elemento que ioniza as partículas de oxigênio e
sensibilidade, NBR 11836:1992 nitrogênio presentes no ar, permitindo um fluxo de
corrente elétrica entre as câmaras em condições
1. INTRODUÇÃO normais de utilização.
O sistema de detecção e alarme de incêndio é Quando a fumaça ou outros gases entram em
regido, no Estado de São Paulo, pela Instrução contato com o ar no interior da câmara, as partículas
Técnica N° 19/2004 – Sistemas de Detecção e ionizadas são neutralizadas, interrompendo ou
Alarmes de Incêndio do Corpo de Bombeiros da diminuindo o fluxo de corrente entre as câmaras.
Polícia Militar do Estado de São Paulo Esta variação é detectada pelo sensor, que aciona a
(CBPMESP). As edificações onde se exigem estes sirene.
sistemas estão descritas no Decreto Estadual N°
46.076/01. A Instrução Técnica N° IT19 estabelece Todo detector de fumaça deve conter dados
os requisitos mínimos para o dimensionamento dos relativos ao fabricante, modelo e aplicabilidade,
sistemas de detecção e alarme de incêndio, parâmetros e características do detector, valores
compatibilizando às prescritas da NBR 9441/98 – nominais máximos e mínimos, sensibilidade
Execução de Sistemas de Detecção e Alarme de nominal, posicionamento previsto, instruções de
Incêndio, visando à segurança e proteção de uma funcionamento e parâmetros ambientais
edificação. (temperatura de uso, velocidade do ar e umidade
relativa).
O sistema é composto por uma central de
alarme e pelos diversos dispositivos de Para que um detector seja produzido e
monitoração; sensores e detectores; aviso – colocado à venda no mercado, deve ser previamente
acionadores manuais; e sinalização – visual e aprovado através de ensaios em laboratório,
sonoro. devendo atender todos os itens descritos em norma.

(1) a (5) – Alunos do Mestrado do IPT, (6) e (7) – Docentes do Mestrado do IPT
2. OBJETIVO A sala de ensaio, Figura 2, deve possuir
dimensões normatizadas: comprimento entre 9 e
Este trabalho é uma análise comparativa de 11m, largura entre 6 e 8m e altura entre 3,8 e
detectores iônicos, por meio de ensaios de 4,2m, com sistema de exaustão e controle
sensibilidade de sensores após alguns anos de uso climático.
e o seu desvio em relação ao valor inicial,
simulando a atuação através do Ensaio de As disposições dos detectores, instrumentos
Sensibilidade, de acordo com a NBR de medição e termopares seguem locais pré-
11836:1992. A sensibilidade é o grau relativo de determinados na sala de ensaio, conforme
resposta de um detector. Um detector mais prescrito na norma (Figura 3).
sensível é aquele que reage a presença de
menores concentrações de fumaça e gases de
combustão, enquanto um detector menos sensível
precisa de maiores concentrações de fumaça para
atuar.

A Norma NBR 11836:1992 fixa as condições


técnicas mínimas, os métodos de ensaios e os
critérios de comportamento exigíveis aos
detectores automáticos de fumaça do tipo
pontual. A classificação dos detectores em
cada um dos diferentes tipos de fogo visa Figura 3 – Sala de ensaios
fornecer informações técnicas relevantes aos
usuários, para optar pelo tipo mais adequado às Para avaliação da sensibilidade dos detectores
condições ambientais do local aonde serão de fumaça foram ensaiados dispositivos usados
instalados os dispositivos. com aproximadamente 15 anos de instalação,
condição em que foram caracterizados como
3. ENSAIO “sujos” ou “impregnados”. Em seguida, os
O ensaio de sensibilidade dos detectores ensaios foram repetidos com os mesmos
iônicos preconizados na norma como tipo de dispositivos, porém após limpeza com água e
fogo TF-7 (N- heptano), que é ignizado através sabão.
de aplicação de chama ou centelha. O fogo TF-7
possui as seguintes características: Antes do início de cada ensaio, os detectores
foram energizados em condições normais de
Desenvolvimento de calor: Alto funcionamento por no mínimo 15 minutos e em
Movimentação ascendente do ar: Alto seguida, monitorado a sensibilidade de linha e
umaça: Não corrente.
Espectro do aerossol: Predominantemente
invisível 3.1 Ensaio de Bancada
Porção Visível de fumaça: Muito escura
O ensaio de bancada, figura 4, visa verificar o
Definição do Ensaio correto funcionamento do detector iônico, por
meio de um voltímetro. Após o teste, o detector é
desmontado para limpeza, separando os seus
Ensaio de Sensibilidade dos detectores ‘sujos’
componentes – carcaça e sensor.

Ensaio de Sensibilidade dos detectores após limpeza

Coleta e Análise dos dados

Apresentação e Análise dos resultados

Figura 2 – Etapas do trabalho Figura 4 - Ensaio


3.2 Limpeza O insumo é colocado em um recipiente com
dimensões de 33cm x 33cm e 5cm de altura, para
A limpeza foi realizada de duas formas, a queima com uma mistura de n-heptano puro com
carcaça com água e sabão neutro e os sensores 3% de tolueno em volume. A ignição é feita no
com ar comprimido. interior da sala.

O software responsável pelo controle dos


parâmetros a serem adotados, é programado de
acordo com o tipo de detector e fogo a ser
utilizado. No estudo, foi selecionado TF-7 (n-
heptano) e definiu-se o tipo de curva adequado
ao detector iônico. Para a combustão do n-
heptano, preparou-se um a solução contendo 50
ml deste combustível, ignizando-o para dar início
ao ensaio.
Figura 5 – Detector antes e depois da limpeza
O painel de controle numera os detectores
3.3 Sala de ensaio montados nos suportes específicos e sinaliza em
verde, os detectores em funcionamento. À
A sala de ensaio foi preparada e limpa, Figura medida que os detectores detectam a presença de
6, com a exaustão e coleta de amostra do ar para fumaça, o painel de controle indica os detectores
análise da qualidade. Os equipamentos de acionados, sinalizando em vermelho os
medição foram calibrados de acordo com os detectores iônicos ativos, cujo alarme de incêndio
parâmetros iniciais do ensaio, especificados em foi acionado. Neste caso, o acompanhamento é
norma, quais sejam: realizado através de gráficos indicadores e
parâmetros do momento de acionamento dos
- Temperatura ambiente da sala (T): 23° + 5°C detectores em função do tempo de exposição à
fumaça e ao início do ensaio.
- Densidade de fumaça < 0,05 dBm
Quando todos os detectores forem
acionados, os dados do ensaio são coletados para
análise. A partir dos dados coletados pelos
instrumentos de medição, são gerados gráficos,
contendo as temperaturas dos termopares,
densidade iônica e momento de acionamento dos
detectores.

.4 Análise dos resultados

Os detectores são classificados conforme o


resultado do ensaio de sensibilidade,
apresentando três classes assim definidas:
Figura 6 – Detectores padrão, localizados no teto
Classe A: y = 1,5 (m/y)I = 0,18+/-25%
Durante a realização do ensaio, deve-se
evitar a movimentação de ar no interior da sala, Classe B: y = 3 (m/y)I = 0,18 +/-25%
com portas, janelas e aberturas fechadas, de
modo a não afetar o desenvolvimento normal da Classe C: y = 6 (m/y)I = 0,18 +/-25%
i i t ã d f
Com base nestes resultados, Figuras 7 e 8, observa-se que todos os detectores limpos foram
classificados como ‘A’ (sensibilidade conforme norma), apresentando desvio de 43%, dentro dos
padrões aceitáveis conforme a NBR 11836:1992. Em relação aos dados obtidos no ensaio dos
detectores “sujos”, o desvio equivale a 587%, cuja classificação variou entre classe ‘A’ e ‘C’,
mostrando a variabilidade em seu acionamento.

Figura 7 – Resultado do ensaio: Detectores “Sujos”


Figura 8 – Resultado do ensaio: Detector “limpo”
4. CONCLUSÃO

Tendo em vista a análise dos resultados, pode-


se destacar a influência causada pelo tempo nos
detectores de fumaça e a importância da
manutenção preventiva dos sistemas de segurança
contra incêndio.

Assim, mesmo que algumas áreas contenham


detectores instalados, não obrigatoriamente os
mesmos permanecem com suas especificações
originais, possibilitando a ocorrência de algumas
surpresas desagradáveis em caso de real
necessidade de acionamento.

Sugere-se que haja um programa de avaliação


sistemática em laboratório para se identificar as
condições de limpeza e possível substituição dos
detectores com vistas à garantir a segurança contra
incêndio prevista com a instalação dos detectores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT NBR 11836:1992: Detectores automáticos


de fumaça para proteção contra incêndio. Rio de
Janeiro, ABNT, 26p. 1992.

ILHA, M. S. O. Sistemas Prediais de combate à


incêndio. Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 32p. 2001.

SÃO PAULO. Decreto n° 46.076, de 31 de de


agosto de 2001. Institui o Regulamento de
Segurança contra incêndio das edificações e áreas
de riscos para fins da Lei n° 684, de 30 de setembro
de 1975, e estabelece outras providências. D.O.E.
Poder Executivo, Seção I. São Paulo, 11 (166). 1
set.2001.

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