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Introdução

Durante muito tempo o acesso de materiais disponíveis para o estudo de história


da Amazônia eram poucos, como evidência Barbara Weinstein (2002), “naquela época,
poucos estudos sérios sobre a história da Amazônia.
justamente porque ela era tratada como uma região ‘sem
história’”(WEINSTEIN, p.263), assim podemos concluir que a falta de trabalhos dessa
temática não chegariam às salas de aula de maneira densa e crítica, a fim de contribuir
para o ensino de história da Amazônia, uma vez que não haviam historiografias
preparatórias que são indispensáveis para pensar no ensino em salas de aula. Essa falta
não se dá por ausência de fontes e sim por questões metodológicas de pesquisas,
algumas autores atuais de história social trazem novas leituras banhando-se em diversas
fontes (LEAL, 2018 e GOMES, 2006).
A questão é, será que na sala de aula o ensino segue a dinâmica dessa
historiografia? Utilizar as fontes, sejam elas literárias ou jornalísticas, de temas culturais
na sala de aula é um contributo, pois é evidenciado que os atores históricos são
próximos da realidade de quem vive na Amazônia e onde as culturas desses aproximam
a relação do indivíduo com as práticas culturais populares, africanas de sua
descendência. Girlane da Silva e Alexandre Santos (2020) já identificaram a
importância do uso da literatura (aqui pode ser tanto crônicas quanto jornais da época)
quando dizem que é “necessário o uso de metodologias diferenciadas com o intuito de
viabilizar o processo de ensino e aprendizagem“ (SILVA; SANTOS, p.44).

Ensino de História afro-brasileira na Amazônia

Há muitos problemas em pesquisar história da Amazônia sobre uma óptica de


metodologia que prese uma análise as fontes que de fato não resultaria em uma crítica
densa ao contexto-objeto histórico. Pois, seguindo uma corrente básica e tradicional de
historiografias poderia surgir dessas fontes apenas análises a partir da perspectiva
colonial, ou pós-colonial (WEINSTEIN, p.263). Geralmente essas análises presavam os
aspectos econômicos e viam nele o principal motor das mudanças históricas de curta e
longa duração, não eram as sociedades que eram analisadas, e sim o que elas
produziam, os aspectos materiais eram levados muito mais em conta do que a cultura de
um povo por exemplo.
As análises históricas materialistas como essa são importantes mas não são
totalizantes. Porém, houve uma saturação dessas análises. O que era comum, porém não
evidencia uma parte importante da história que é relevante para esse texto, que são os
atores sociais esquecidos por essas análises. Isso, por exemplo, não é o Caso dos
trabalhos de Augusto Leal (resistência negra: pós-abolição no Norte do Brasil: a
capoeira e o boi-bumbá, 2018) e Flávio Gomes (“No labirinto dos rios, furos e
igarapés”: camponeses negros, memória e pós-emancipação na Amazônia, c. XIX-XX,
2006). O primeiro trata da relação entre duas práticas culturais ligadas a africanidade e o
outro traz a as fugas de negros do poder dominante e explorador em torno das
localidades estratégicas, esses dois trabalhos tem algo em comum que são os atores
negros da Amazônia e todo seu aspecto de resistência que não aparecem na história
local amazônica com recorrência, além disso, a partir disso pode se expandir o conceito
de resistência que pode “incluir não apenas revoltas, sublevações e atividades proto-
revolucionárias, mas uma grande variedade de estratégias — culturais, sociais etc. —
para fazer face à exploração ou evitar a proletarização.” (WEINSTEIN, p.263)
O professor Luiz Augusto Leal usa em seu texto, e não apenas, jornais como o A
semana tirando imagens para fazer representações pictóricas de eventos (LEAL, 2018,
p.178 apud. A semana, 1888) e também relatos do jornal pedindo maior atenção policial
aos grupos acusados supostamente de vagabundagem (LEAL, 2018, p.177 apud. A
semana, 1890), esses com certeza eram os capoeiras, na maior parte negros que
praticavam o esporte em uma época em que o mesmo era segregado e motivo de
preconceito, e muito mais que isso, de violência institucionalizada. Não são apenas
esses os exemplos, é recorrente aparecer citações de Dalcídio Jurandir principalmente
sobre o “Chão dos lobos”, essa é uma obra literária importante que nela há as questões
dos praticantes de boi-bumbá na cidade de Belém e principalmente as divisões dos
bairros que marcavam essa festividade, isso fica fortemente explícito quando Jurandir
diz que “Chão que só um boi pisa, um só Amo canta, uma só tropa entoa, um só curral
festeja” (LEAL, 2018 apud. JURANDIR, 1976, p.207-208).
Flávio Gomes percorre o mesmo caminho, podemos perceber que ambos os
trabalhos tem seu objeto principal a relação de culturas e pessoas afros com locais de
resistência e territorialidade. No caso de Gomes, essa relação está na resistência das
culturas afro por meio dos quilombos, áreas de fuga de negros escravizados e
explorados pelo poder centralizador, dominante e colonial. Nesse sentido, Gomes
também é enfático com o uso de diversificada literatura em seu texto, além de valer de
análises etnográficas e métodos antropológicos pois se sabe que apenas com a
historiografia tradicional os objetivos não seriam completados.
Flávio Gomes já percebera essas dificuldades quando disse:

Historiadores e antropólogos interessados na história dos quilombos no Brasil e


nas comunidades remanescentes de quilombos se encontram diante de desafios teóricos
e metodológicos, menos para localizar evidências do passado e do presente; mas sim
para articular as noções de territorialidades e migrações na formação de micro-
sociedades camponesas em várias áreas coloniais e pós-coloniais. [...] juntamos
investigações arquivísticas com pesquisas etnográficas destacando as narrativas
construídas e reconstruídas das experiências históricas de mocambos e comunidades
negras rurais contemporâneas nesta região amazônica. (GOMES, 2006, p.282).

Contundo, será que esses envolvimentos analíticos devem ser restritos a ficarem
na Academia? Pode se dizer que, trazer a dinâmica de ensino com base na literatura (e
aqui não se restringe a obras como as crônicas, e sim tudo que pode ser entendido como
literatura) abre caminhos para a percepção dos alunos, envolvendo-os na história de sua
comunidade, de sua cultura, de sua história. O professor de história que ela fontes e
literatura para dentro da sala de aula da outro significado a noção de ensino, como diz
Santos e Santos usar da literatura “significa propiciar condições concretas aos
educandos em suas relações uns com os outros, de forma que possam assumir o ser
social e histórico que formam parte de sua identidade...” (SILVA; SANTOS apud.
SANTOS; SANTOS, 2020, p. 139). Geralmente os pesquisadores da área de história
também exercem a função docente, e mesmo aqueles que só se limitam a essa última a
constante atualização de dados, leituras e metodologias e isso cabe levar os materiais e
objetos da história para sala de aula, isso dará uma perspectiva e percepção aos alunos
bem diferentes das aulas convencionais. Silva e Santos (2020) dizem que os professores
são imprescindíveis como mediadores pois é essa medicação que “ busca mediar o
conhecimento entre os alunos, com o objetivo de evidenciar que as ideias pré-
concebidas são frutos de um longo processo histórico”(SILVA; SANTOS, p.49). Isso
pode ser levado por meio da literatura dentro da sala de aula.

Considerações finais

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