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ANAMNESE (ENTREVISTA)

Anamnese (Ana = trazer de volta; mnesis = memória) significa trazer de


volta à mente todos os fatos relacionados com o doente e a pessoa doente.

Se bem feita, acompanha-se de decisões diagnósticas e terapêuticas


corretas; se malfeita, em contrapartida, desencadeia uma série de
consequências negativas, as quais não podem ser compensadas com a
realização de exames complementares, por mais sofisticados que sejam.

A anamnese é um instrumento para a triagem de sintomas anormais,


problemas de saúde e preocupações, e registra as maneiras como a pessoa
responde a essas situações, abrindo espaço para a promoção da saúde.

No exercício da profissão médica, é definida por um processo social de


interação entre o médico e o paciente (ou seu acompanhante), diante de uma
situação que envolve um problema de saúde.

A situação apresenta elementos de orientação para a ação das pessoas


envolvidas na entrevista, quais sejam os objetos físicos (o local de trabalho, os
instrumentos), os objetos culturais (os conhecimentos prévios, os valores, as
crenças) e os objetos sociais (as pessoas envolvidas na entrevista).

A interação entre o paciente e o médico não é só um relacionamento


científico, mas também um ritual social centrado em uma situação de controle e
preenchimento de expectativas recíprocas.
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Os pacientes podem não conseguir expressar plenamente suas


necessidades e temer perder o controle sobre a capacidade de determinar seu
próprio futuro médico.
Por outro lado, os médicos também têm expectativas que às vezes devem
considerar e atender para si mesmos: a necessidade de sentir que não deixaram
de registrar algo importante ao se depararem com desafios diagnósticos, a
necessidade de limitar o tempo dedicado a cada interação e a necessidade de
manter a objetividade para que sua avaliação e suas recomendações não sofram
a interferência de sentimentos e emoções desencadeados pelo paciente.
Quando o paciente precisa saber se está com saúde ou precisa de
diagnóstico para um sintoma, a experiência e perícia do médico se expressam
pela realização e interpretação de um exame clínico racional.
Geralmente, a iniciativa da consulta cabe ao paciente, que, ao sentir-se
convicto de que alvo não está bem consigo, decide procurar o médico para
confirmar ou não sua situação como doente. Já, sua plena execução cabe ao
médico.
Ao conhecer os fatores capazes de interferir na anamnese, o médico,
poderá criar condições que favoreçam uma compreensão maior entre ele e seu
paciente, tornando possível uma ótima interação entre ambos. O médico obterá
êxito se conseguir do paciente uma predisposição positiva para fornecer
informações durante toda a entrevista.
Os objetos físicos que interferem na anamnese são:
 O ambiente:
o Consultório;
o Ambulatório;
o Enfermaria;
o Quarto de hospital;
o Residência do paciente.
 O instrumental utilizado pelo médico;

Condições indispensáveis para uma boa entrevista:


 O ambiente:
o Silencioso;
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o Agradável;
o Limpo.
 Um instrumental apropriado:
o Aparelhos que funcionam bem.

OBS1: não é conveniente o


emprego de gravadores, pois
poderá atuar como forte
inibidor para o paciente;

OBS2: As anotações de próprio


punho continuam sendo a
melhor maneira de registrar as
informações prestadas pelo
paciente;

O médico deve dar atenção especial à linguagem utilizada durante a


entrevista, pois o conjunto de símbolos (termos e expressões) utilizado pela
profissão médica nem sempre é compreendido pelo paciente, uma vez que seu
quadro de referência pode ser distinto.
A entrevista médico-paciente desenvolve-se em um ambiente específico,
seguindo padrões normativos preestabelecidos pela cultura.
Portanto, o médico deve conhecer, também, os padrões normativos que
a cultura criou para ele e para seu paciente. A nossa cultura estabelece, por
exemplo, que tanto o médico, quanto o paciente devem se apresentar bem
compostos em termos de higiene e aparência pessoal; o paciente espera que o
médico se interesse por seu caso e lhe dê atenção, enquanto o médico espera
que o paciente responda de modo adequado às suas perguntas.
O conhecimento adequado do médico, dos padrões normativos que
regem a sua conduta e a do paciente, bem como o conhecimento das
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expectativas de comportamento que o paciente tem do profissional médico, são


elementos úteis para se realizar uma boa anamnese.
O médico, ao conhecer que os objetos sociais (médico e paciente) se
interestimulam, deve ter o máximo cuidado em controlar e alterar o
comportamento do paciente; por outro lado, deve desenvolver sua intuição no
sentido de captar no paciente indícios subliminares, como uma leve hesitação
ao apresentar uma resposta ou um franzir de testa, que permitirão desenvolver
condições que levem a uma interação mais eficaz com o paciente.
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TÉCNICAS DA ANAMNESE

 TIPOS DE PERGUNTAS:
o Perguntas abertas – são mais úteis no início da entrevista, pois
permitem ao paciente contar sua história espontaneamente.
Que tipo de problema o(a) senhor(a) está tendo?
Quais eram suas condições de saúde antes de
sentir essa dor?
As perguntas abertas também são utilizadas para facilitar a narrativa do
paciente, o que permite ao médico uma compreensão biopsicossocial do
processo de adoecimento.

o Perguntas diretas – reduzem as informações, mas permitem obter


dados mais específicos. Usa-se esse tipo de pergunta para o
procedimento da ficha médica ou do prontuário. A compreensão da
narrativa e o direcionamento da anamnese por meio de perguntas
objetivas, possibilitam ao profissional médico levantar pontos
importantes para o direcionamento do raciocínio clínico.
Há quanto tempo surgiu o sintoma?
Em que região sente a dor?

 TÉCNICAS PARA ENTREVISTAR


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 ELEMENTOS COMPONENTES DA ANAMNESE


A anamnese se inicia com perguntas do tipo:
o O que o(a) senhor(a) está sentindo?
o Qual é o seu problema?
A anamnese é classicamente desdobrada nas seguintes partes:

Identificação – perfil sociodemográfico que possibilita a interpretação dos


dados individuais e coletivos do paciente;
Queixa principal – é o motivo da consulta. Sintomas ou problemas que
motivaram o paciente a procurar atendimento médico;
História de doença atual – registro cronológico e detalhado do problema
atual de saúde do paciente;
Interrogatório sintomatológico – avaliação detalhada dos sintomas de
cada sistema corporal. Complementar a HDA e avaliar práticas de
promoção à saúde;
Antecedentes pessoais e familiares – avaliação do estado de saúde
passado e presente do paciente, conhecendo os fatores pessoais e
familiares que influenciam seu processo saúde-doença;
Hábitos de vida – documentar hábitos e estilo de vida do paciente,
incluindo ingestão alimentar diária e usual, prática de exercícios, história
ocupacional, uso de tabaco, consumo de bebidas alcoólicas e utilização
de outras substâncias e drogas ilícitas;
Condições socioeconômicas e culturais – avaliar as condições de
habitação do paciente, além de vínculos afetivos familiares, condições
financeiras, atividades de lazer, filiação religiosa e crenças espirituais,
bem como a escolaridade.
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REFERÊNCIA

PORTO, C.C. Semiologia Médica. 7ª ed. Rio de janeiro. Guanabara, 2014;

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