Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
br
23
Procrastinação
Rafael Thomaz da Costa
Gabriel Talask
O que é procrastinação?
Atrasar uma tarefa, em muitos dos casos, pode ser uma estratégia pre-
viamente planejada, sendo uma decisão sensata a ser tomada. Diante de
uma grande dificuldade ou de um problema complexo, adiar uma ação nos
dá a oportunidade de buscar maiores informações, entrar em contato com
outras pessoas as quais, poderíam nos ajudar na resolução do problema em
questão, ou até mesmo ganhamos mais tempo para pensar e refletir sobre
tal dificuldade. Sendo assim, adiar uma tarefa ou tomada de decisão pode
ser uma sábia estratégia para que possamos angariar novos e maiores recur-
sos frente a um problema complexo. Todavia, não é sempre que o adiamen-
to de uma tarefa se mostra como uma estratégia sensata e funcional.
Muitas das vezes esse atraso é desnecessário, acompanhado de sen-
timentos desagradáveis como: culpa, ansiedade, vergonha, inadequação
e arrependimento. Nesses casos poderemos falar de procrastinação, po-
dendo ser inicialmente definida como um atraso voluntário e desneces-
sário de uma tarefa que se pretendia realizar, apesar de estar consciente
das consequências desagradáveis desse atraso, resultando em um signifi-
cativo sofrimento subjetivo. Ou seja, a procrastinação não é um simples
atraso de um afazer, mas um atraso contrário a uma intenção inicial do
* Material psicoedutivo para o cliente disponível em Sinopsys APP ou pelo link www.sinopsys
editora.com.br/psicoeducapp
278 Procrastinação
que evitemos ou fujamos essa tarefa a fim de nos sentir mais calmos ou-
tra vez. Veremos mais para frente como esse problema implica na ma-
nutenção do comportamento procrastinatório.
Diante de situações desagradáveis, as pessoas que procrastinam
tendem, inicialmente, a sofrer menos desconforto quando compara-
dos àqueles que não utilizam tantos comportamentos procrastinató-
rios. No entanto, ao se aproximar do prazo da entrega de um traba-
lho ou de um projeto qualquer, as pessoas que procrastinam não
apenas vivem consideravelmente maior elevação do nível de estresse,
como também apresentam um desempenho inferior se comparado
aos demais. Aqui fica mais claro o papel da procrastinação como um
alívio momentâneo, porém um causador de maiores prejuízos em
longo prazo.
Dica ao terapeuta
280 Procrastinação
-> EMOÇÃO
PENSAMENTO
SITUAÇÃO -> COMPORTAMENTO
AUTOMÁTICO
Dica ao terapeuta
282 Procrastinação
Roberta tem 26 anos e está terminando sua graduação em medicina. Neste momen-
to, Roberta está passando por muita dificuldade por conta da sua monografia. Assim
que começou o projeto, ela havia feito um planejamento, diante do qual se sentia
muito confiante em conduzi-lo com início, meio efim. Com o passar dos dias, Rober-
ta preferia se engajar em outras atividades mais prazerosas, pois sempre que sentava
para fazer o trabalho, não conseguia dar continuidade. Ora sentia tédio, ora se sentia
incapaz, ora via outras tarefas como prioridade. Para compensar, ela alterava o seu
cronograma, acumulando obviamente mais etapas em menos tempo, eprometia para
si mesma que escrevería algo no dia seguinte. No entanto, o dia seguinte virou uma
semana, um mês e, quando se deu conta, já estava se aproximando o prazo de entre-
ga. Roberta subestimou o tempo necessário para completar a tarefa e superestimou o
tempo disponível para sua realização. Experimentava muitas emoções negativas,
como ansiedade, culpa, tristeza, medo, inadequação e arrependimento. Sabia que de-
veria falar com seu orientador, mas tinha receio de que ele fosse achá-la incompeten-
te. Quando já não sabia mais o que fazer, pensou em mentir, talvez inventar uma
doença na família, entretanto seus valores morais a impediam de ter tal conduta. Por
fim, resolveu de fato conversar com o orientador. Contradizendo a avaliação inicial
que fazia Roberta procrastinar o contato, ele a ouviu atentamente, mostrou-se com-
preensivo e a orientou no que precisava.
284 Procrastinação
Dica ao terapeuta
Incentivar o cliente a listar em uma planilha as situações nas quais ele procrastinou ou não,
colocando a consequência - tendo um desfecho “ bom/agradável" ou “ ruim/desagradável ” .
Esta automonitoria poderá motivar o enfrentamento do desconforto, além de ser uma
evidência de evolução do tratamento, quando observada diminuição na frequência dos
comportamentos procrastinatórios.
286 Procrastinação
É muito importante que o terapeuta se informe sobre programas e aplicativos que podem ajudar
na organização e no planejamento de tarefas. Tal organização pode ser obtida por meio de lista
de tarefas, organização de tarefas de acordo com o tempo elaborando um cronograma; montar
um quadro com as tarefas a fazer, em andamento e concluídas (scrum board), estabelecer
ordem de prioridade e delegar algumas tarefas, quando possível. Estas são ferramentas muito
úteis para ajudar o cliente a atingir as metas de médio e longo prazo.
Dica ao terapeuta
- No livro Como lidar com as preocupações: sete passos para impedir que elas paralisem
você, o autor Robert Leahy (2007) ensina a identificar o que são preocupações produtivas,
improdutivas e esquiva emocional. É muito importante o cliente diferenciar cada forma de lidar
com as preocupações e identificar em que contextos está ativando cada um desses modos.
- Usar cartões de enfrentamento pode ser um recurso interessante para incentivar o cliente
na realização de uma tarefa ou ajudá-lo na persistência para a finalização da mesma.
Esses cartões podem conter frases motivacionais e pensamentos já reestruturados
colaborativamente com o cliente que incluam conteúdos como: “Por que seria ruim adiar
isso?” ; “ 0 que vou conseguir ganhar mais à frente se eu realizar de imediato esta tarefa?”
288 Procrastinação
Basco, M. R. (2010). The procrastinator' s Leahy, R. L. (2007). Como lidar com as preo-
guide to getting things done. New York: Guil- cupações: Sete passos para impedir que elas
ford. paralisem você. Porto Alegre: Artmed.
Referências
Flett, G.L., Stainton, M., Hewitt, P.L., cognitions inventory. Journal of Rational-
Sherry, S.B., & Lay, C. (2012). Procrastina- Emotive & Cognitive-Behavior Therapy, 1,
tion automatic thoughts as a personality 1-14.
construct: An analysis of the procrastinatory
290 Procrastinação
Leahy, R. L., Tirch, D., & Napolitano, L. A. trait-specific cognitions. Journal of Social Be-
(2013) Regulação emocional em psicoterapia: havior and Personality, 15, 297-312.
Um guia para o terapeuta cognitivo-compor-
Steel, P. (2007). The nature of procrastination:
tamental. Porto Alegre: Artmed.
A meta-analytic and theoretical review of
Pychyl, T. A. & Flett, G. L. (2012). Pro- quintessential self-regulatory failure. Psycholo-
crastination and self-regulatory failure: An in- gical Bulletin, 133, 65-94.
troduction to the special issue. Journal of
Steel, P. & Ferrari, J. (2013). Sex, education
Rational-Emotive & Cognitive-Behavior Thera-
and procrastination: An epidemiological
py, 30, 203-212.
study of procrastinators' characteristics from
Sirois, F. M. (2007). “1’11 look after my a global sample. European Journal of Persona-
health, later”: A replication and extension of lity, 27, 51-58.
the procrastination health model with com-
Talask, G. (2016). Intervenções em terapias
munity-dwelling adults. Personality and Indi-
cognitivo-comportamentais para o tratamento
vidual Differences, 43, 15-26
da procrastinação-, Uma revisão sistemática.
Solomon, L. J. & Rothblum, E. D. (1984). Monografia (Formação em Psicologia). Rio
Academic procrastination: Frequency and cog- de Janeiro: Universidade Federal do Rio de
nitive-behavioral correlates. Journal of Counse- Janeiro, Instituto de Psicologia.
ling Psychology, 31, 503-509.
Watson, D. C. (2001). Procrastination and the
Stainton, M., Lay, C. H., & Flett, G. L. five-factor model: A facet levei analysis. Personality
(2000). Trait procrastinators and behavior/ and Individual Differences, 30,149-158.