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Índice
Introdução
Bibliografia
CEM 96-98 — História Militar
2 © Nuno Rocha
A expansão Islâmica
INTRODUÇÃO
Antecedentes
A Arábia pré-islâmica
Situemo-nos no Séc. VI D.C. e focalizemos a nossa atenção nas
regiões mediterrâneas e nas regiões do Médio Oriente. Verificamos a
hegemonia de dois grandes impérios: o império bizantino (ver figura 1, em
anexo “cerca de 565: o império Bizantino herdeiro do império
romano”), ou império romano do oriente, e o império persa. Curiosamente,
qualquer destes impérios tinha associada uma religião monoteísta.
Constantinopla tinha adoptado uma estado de cariz cristão e, na Pérsia, a
dinastia Sassânida orientava a organização do império pela religião
monoteísta profetizada pelo profeta Zaratrusta, apesar de, por volta do ano
510, ter assumido a chefia do império um príncipe —Dhu Nuwas —
convertido ao judaísmo. Esta situação, causadora de várias perseguições às
comunidades cristãs, viria a ser ultrapassada no final do século quando
subiu ao poder de novo um imperador seguidor da religião anunciada por
Zaratrusta.
Estes dois impérios travaram grandes batalhas pela disputa da
hegemonia da Ásia Menor e Médio Oriente. Nomeadamente, no período
temporal que nos interessa, o império Persa iniciou, em 602, uma longa
guerra contra o império bizantino tendo, em 616, conquistado quase toda a
parte sudoeste da Ásia Menor e o Egipto. Contudo, estas conquistas foram
paradas pelo imperador bizantino Heraclius que, entre 622 e 627, forçou os
persas a retirarem para as suas fronteiras originais.
No sul da península arábica, o Iémen era controlado pelo império
persa.
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A cidade de Meca
A cidade de Meca terá sido fundada por volta do ano 400 por uma
tribo de beduínos, os coraixitas, que aí se sedentarizaram. Localizava-se
num grande oásis rico em água, no meio do deserto, e era ponto de
passagem obrigatório por todas as caravanas que faziam o comércio entre o
Norte e o Sul e entre a Índia e o Mediterrâneo.
Existia naquele local e era idolatrada a Caaba, um cubo de alvenaria
com uma pedra negra incrustada, cuja construção, mais tarde, se fez
remontar a Abraão — pedra essa que não passa de um meteorito, conforme
conclusões de modernos estudos científicos levados a cabo. Todos os anos
ali decorria uma peregrinação e a cidade rapidamente se transformou numa
importante plataforma comercial e religiosa. Este rápido aumento da
riqueza dos seus habitantes veio trazer o individualismo, o mercantilismo e
o aumento das injustiças, acabando com um dos principais valores dos
beduínos: a solidariedade.
O nascimento do Islão
Maomé
Cerca do ano 570 nasce Muhammad Ibu ‘Abdallah filho, Maomé. O
seu pai era mercador e terá morrido antes do seu nascimento. De origem
coraixita, pertencia ao clã de Hachim, o mais respeitado da tribo, mas não o
mais rico. Como era costume fazer naquele tempo com os órfãos, ele foi
entregue a uma ama de leite de uma tribo nómada do deserto.
Aos seis anos, depois de já ter perdido a mãe e o avô, foi recolhido
pelo tio Abu Talib, chefe da tribo e comerciante caravaneiro que ia
frequentemente à Síria em negócios, que Maomé passou a integrar desde
adolescente, onde terá tido contactos com judeus e cristãos.
Anos mais tarde, entra ao serviço de Kadija, uma comerciante de
Meca viúva e rica, afim de lhe tratar dos negócios. Impressionada pela sua
honestidade e pela sua perspicácia, propõe casamento a Maomé por altura
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O início da pregação
A pregação tem início cerca de 610 quando Maomé atesta ter sido
interpelado pelo Anjo Gabriel que lhe teria revelado que ele era o enviado
de Deus. Foi fortemente apoiado pela mulher Kadija e pelos amigos.
As primeiras revelações apoiam-se na unicidade de Deus, na
denúncia dos ídolos, na condenação das injustiças provocadas pelos luxos e
riquezas afirmando que os actos pecaminosos cometidos pelos dirigentes
mequenses seriam punidos no Juízo Final. As reacções da comunidade
mequense à sua pregação foram divergentes: enquanto os desfavorecidos
encontraram nas suas palavras uma grande atracção, pelo contrário, as
classes dirigentes movem-lhe feroz oposição, sentindo-se ameaçadas quer
no plano económico quer no plano religioso. Contudo, Maomé pôde resitir
apoiado pelo seu clã, enquanto Abu Talib, seu tio e seu seguidor, fosse o
chefe.
A Hégira
Precisamente em 619 morrem os dois maiores apoiantes da sua
causa: o seu tio e a sua mulher. Confrontado com uma oposição cada vez
mais intensa e com a falta de apoio do seu clã, cuja chefia tinha entretanto
sido assumida por um seu opositor, Abu Lahab, Maomé, na sequência de
diversas querelas, vê-se obrigado a fugir para Yatrib com 70 discípulos, em
622, acontecimento esse que ficou conhecido como a separação ou o êxodo
(hijra ou Hégira), e cuja data assinala o início da contagem da era islâmica.
Yatrib passará a chamar-se Madinat na Nabi (cidade do profeta) ou,
simplesmente, Medina.
Nesta cidade Maomé propõe-se organizar a comunidade dos seus
emigrados e encetar a luta contra Meca, na certeza de que as vitórias sobre
Meca lhe cimentariam a posição em Medina.
A conquista de Meca
A conquista de Meca terá começado com diversas razias destinadas a
proporcionar os meios e abastecimentos necessários quer aos próprios
emigrados quer ao empreendimento de acções mais vastas. Estas pilhagens
eram efectuadas sobre as caravanas dos comerciantes que se dirigiam de e
para Meca.
A guerra aberta tem início depois do assassínio de um mequense e
assinalam-se os três episódios de maior significado: em Badr (624) triunfo
para os medinenses; Uhud (625), desforra mequense e, por último, o cerco
infrutuoso de Medina pelos mequenses em 626. Em resultado destas
batalhas a posição de Maomé em Medina fortalece-se, criando-lhe condições
para a passagem à ofensiva.
No início de 630, Maomé decide forçar a entrada em Meca. Não se
lhe depara forte resistência; os chefes coraixitas submetem-se ao profeta,
assim como um vasto número de outros clãs e a vida árabe passa a estar
centrada na cidade de Medina.
Precisamente em Medina, tornada capital do emergente império,
Maomé empreende a sua reforma social. Recupera os antigos valores dos
beduínos e estabelece uma “justiça” temporal humana.
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O início da expansão
Os califas
O problema foi ultrapassado pela nomeação do seu braço-direiro
como califa. Califa significa, precisamente, em árabe, sucessor. Este
primeiro foi Abu Becre (632-634), também seu sogro por ser pai de Aixa,
uma das esposas preferidas do profeta — que casara depois da morte da
sua primeira mulher. Capaz de fazer face a várias revoltas através da força
e da diplomacia, conseguiu restabelecer a unidade da península antes de
morrer.
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O cisma
A destituição de Mo’awiya do cargo de governador de Damasco
desencadeia as hostilidades. O confronto tem lugar no ano 657, em Siffin, à
beira do Eufrates. Após vários dias de combates, e em face da derrota
iminente das suas tropas, Mo’awiya faz uma jogada decisiva: faz pendurar
folhas do Corão na ponta das lanças dos seus soldados e pede a suspensão
daquela guerra fraticida e a intervenção de árbitros. Ali comete o erro de
aceitar a arbitragem, o que suscitou a debandada de parte dos seus
partidários, os carijitas (“os que saem”), que consideraram inadmissível
confiar o juízo a homens. A arbitragem não é favorável a Ali em virtude da
sua implicação no homicídio de Osmão. Mo’awiya é aclamado califa pelas
suas tropas (658) mas só é realmente proclamado califa em 660 quando Ali
é assassinado por um dos carijitas, aos quais ele tinha movido uma
perseguição impiedosa.
Com a ascensão de Mo’awiya ao califado inicia-se a dinastia Omíada
e o retomar das conquistas.
Figuras 2 e 3, em anexo.
Sunitas
Os sunitas, por oposição aos xiitas e aos carijitas, definem-se como a
ortodoxia do Islão. São os partidários do Corão e da Suna — o testemunho
de vida do profeta e dos seus companheiros. Os sunitas adoptam uma
postura de maior abertura às influências externas e aceitam a situação
histórica tal como ela se impõe. Representam cerca de 80% dos
muçulmanos.
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Carijitas
Os carijitas, anteriormente referidos, não tardaram a assumir-se
como os purificadores do Islão, adeptos de uma moral rígida, condenadora
de todos os luxos. Para eles a fé não tem o mínimo valor se não for
justificada pelas obras. Defendem que o califado deverá ser entregue ao
melhor muçulmano, independentemente da sua origem, e exigem que tal
seja feito através da via eleitoral. Porém, o califa deixa de o ser quando o
seu comportamento deixa de ser exemplar.
Este grupo tem uma expressão reduzida.
Conclusões
O nascimento do islamismo surge como forma de unir os árabes sob
uma bandeira contra os impérios monoteístas que os circundavam. A
admiração de Maomé pela moral dos cristãos e dos judeus e a sua crença
nas escrituras do Antigo Testamento condiciona fortemente os fundamentos
do islamismo.
O dever de espalhar a religião preconizado no Corão (guerra santa —
jihad) e as recompensas que Alá dará aos seus combatentes (mujahidin),
aliado às motivações económicas, políticas e militares são o motor da
expansão.
A falta de definição da forma de sucessão, quando da morte do
profeta, vem criar as raízes do cisma e das dissidências internas dos
muçulmanos.
Os brilhantes resultados militares, se bem que fortemente
justificados pela conjuntura do período das primeiras conquistas, poderá
atribuir-se à nova forma como as forças combatentes são empregues no
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Bibliografia
AAVV — História Universal, O Mundo Islâmico Séc VII - XV, Vol III, Publicações
ALFA
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