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FATORES DE RISCO:
Idade avançada: o aumento da incidência de LRA em idosos decorre do fato de que o avançar da idade
pode gerar deterioração da função e das estruturas renais, ou seja, um declínio fisiológico com alterações
morfológicas, como nefrosclerose, calcificações parenquimatosas, cistos renais simples, estreitamento focal
das artérias = aumento da susceptibilidade às agressões endógenas ou exógenas. Ademais, a presença de
comorbidades que necessitam de tratamento médico ou farmacológico podem ter ação tóxica direta
adicional, reduzindo a sua capacidade de regeneração/reepitelização e a sua reserva funcional.
Ex 1: IECA, ARA, AINES, produtos de contraste (maior necessidade de exames complementares) →
nefrotoxicidade.
Ex 2: Hipofunção do sistema imunológico também os deixa mais propensos às infecções que podem cursas
com sepse e choque séptico.
Ex 3: Alterações anatômicas, como HPB, neoplasias pélvicas ou deposição de proteína amiloide → LRA
pós-renal pela uropatia obstrutiva.
Insuficiência cardíaca + Hipertensão Arterial Sistêmica + Doença renal crônica: a relação entre os
sistemas cardiocirculatórios e renais decorre da existência de diversos fatores: eixo cardiorrenal; sistema
neuro-hormonal (SRAA, Sistema Nervoso Simpático, ADH e peptídeo natriurético) que regulam o volume
circulante efetivo e a pressão arterial. Esta relação é bidirecional, ou seja, danos que afetam um sistema
podem originar ou agravar as funções do outro = Síndromes Cardiorrenais do tipo 1 ou do tipo 2.
Tipo 1: são anomalias agudas cardíacas que geram lesão renal aguda.
A síndrome cardiorrenal do tipo 1 está associada a uma LRA em função do declínio rápido da função
cardíaca. A insuficiência circulatória aguda pode manifestar-se através de quatro perfis hemodinâmicos
distintos com base na presença ou ausência de sinais congestivos (associados ao aumento da pressão
venosa central) e na maior ou menor preservação da perfusão sistémica. Neste contexto, a LRA ocorre
através de mecanismos múltiplos e complexos: os mecanismos hemodinâmicos parecem ser os que
exercem maior influência e incluem, a nível sistémico, redução do débito cardíaco (com ou sem hipotensão
sistémica), aumento da resistência vascular periférica por ativação neurohormonal (SRAA e SNS), e
congestão vascular sistêmica em consequência dos dois anteriores.
Consequências: Ao nível renal há inadequação dos mecanismos de autorregulação com diminuição do fluxo
sanguíneo renal e da pressão de perfusão renal independentemente do estado de perfusão sistémica e nas
formas congestivas aumento da pressão venosa renal com consequentes redução da pressão de perfusão
renal e aumento da pressão no interstício renal e peritubular, com colapso dos túbulos renais e redução da
filtração glomerular + respostas inflamatórias humoral e celular, estresse oxidativo e disfunção endotelial
microvascular, que podem contribuir para a sobrecarga de volume ao favorecer a retenção hidro-salina já
existente em resultado da hiperatividade do SRAA, da ADH e da própria diminuição da TFG.
Tipo 2: são anomalias crônicas cardíacas que geram lesão renal crônica.
O síndrome cardio-renal tipo 2 caracteriza-se por lesão renal progressiva em resultado de anomalias
crónicas da função cardíaca como disfunção ventricular esquerda, fibrilação auricular, HA e doença cardíaca
isquémica. Cerca de 25% dos casos, a ICC acompanha-se de disfunção renal. Estas anomalias crónicas da
função cardíaca ocorrem de forma compensada, mas geram uma redução da perfusão renal em longo
prazo, por vezes em associação aos mesmos fatores de risco associados a doença cardiovascular
(diabetes, HA, dislipidemia) + anomalias na autorregulação neurohormonal, com produção excessiva de
mediadores vasoconstritores e sensibilidade e/ou libertação alterada de substâncias vasodilatadoras.
Consequências: rim mais suscetível e com menor capacidade de resposta a um eventual agravamento
agudo da função cardíaca. Além das alterações fisiopatológicas geradas pela própria patologia, o risco de
disfunção renal no contexto de insuficiência cardíaca crónica, HA e DRC também é influenciado pela
terapêutica farmacológica, ou seja, modificadores do SRAA, como os IECA e os ARA e alguns diuréticos.
Diabetes Mellitus: A diabetes é um distúrbio crônico extremamente prevalente, e o rim é um dos principais
órgãos-alvo das suas complicações microvasculares. A nefropatia diabética, caracterizada pela deterioração
progressiva da função renal em consequência de alterações morfofuncionais em nível da barreira de
filtração glomerular. No entanto, a hiperglicemia crônica está na base de alterações metabólicas e
hemodinâmicas que influenciam negativamente os mecanismos de autorregulação da função renal, tornando
o rim num mais suscetível a outras agressões. Essas alterações metabólicas envolvem a produção
exacerbada de EROs, a redução da biodisponibilidade do óxido nítrico e o desenvolvimento de um estado
inflamatório com produção e atividade aumentada de diversas células e mediadores pró-inflamatórios,
pró-apoptóticos; além dos efeitos deletérios associados, estes efeitos potenciam-se mutuamente.
As alterações hemodinâmicas incluem o aumento da produção e atividade de moléculas com propriedades
vasopressoras e da atividade simpática, associando-se dessa forma com HA, outro importante fator
associado à lesão renal, para a qual também contribuem a vasoconstrição, hipertrofia do músculo liso
vascular e alterações da matriz extracelular, disfunção endotelial e reabsorção aumentada de sódio a nível
renal induzidas pela produção aumentada de EROs.
Neoplasias hematológicas: Um doente sofria de mieloma múltiplo em estádio avançado (ISS 3) sob
quimioterapia com ciclofosfamida e melfalano. Esta neoplasia hematológica associada à produção
monoclonal de cadeias leves de imunoglobulinas pode originar LRA em resultado de toxicidade tubular
direta e micro-obstrução tubular provocadas pela deposição destas cadeias. A hipercalcemia por vezes
associada pode também contribuir para o desenvolvimento de LRA ao provocar vasoconstrição renal. Por
vezes, a ocorrência de síndrome de lise tumoral subsequente ao início de terapêutica citotóxica provoca
libertação maciça de ácido úrico, que se deposita a nível tubular, contribuindo para LRA + imunodepressão –
infecções – choque séptico.
Cirurgia: A LRA pode ocorrer no período pós-operatório, em especial em grandes cirurgias com perda
hemática significativa e hipotensão intra-operatória como é o caso da cirurgia cardíaca, vascular e
intraperitoneal, existindo um risco acrescido na presença dos fatores de risco previamente referidos.
CLASSIFICAÇÃO
FISIOPATOLOGIA - Patogenia (modo de origem e de evolução de um processo mórbido):
A fisiopatologia da IRA isquêmica ou tóxica envolvem alguns mecanismos principais: alterações estruturais e
bioquímicas, comprometimento vascular ou celular, vasoconstrição, descamação epitelial, alteração de
função e morte celular, obstrução intraluminal, vazamento transtubular do filtrado glomerular e inflamação.
INJÚRIA DAS CÉLULAS TUBULARES: as células epiteliais tubulares são bastante sensíveis à isquemia e
às toxinas, fato altamente relacionada com a função de reabsorção renal. Nesse contexto, verifica-se a
existência de uma vasta carga de superfície que gera a reabsorção tubular, como os sistemas de transporte
ativo de íons e de ácidos orgânicos que demandam uma elevada taxa de oxigênio e de energia. Logo, a
falta de suprimento energético ou a ação direta das drogas nefrotóxicas sobre as células, ocasiona injurias
reversíveis ou irreversíveis (morte celular):
Injúrias irreversíveis: necrose ou apoptose geram o extravasamento tubular reverso, com diminuição
do fluxo tubular e, consequentemente, a diminuição da TFG → oligúria. Distúrbio persistente e grave do
fluxo sanguíneo: caracteriza-se por alterações hemodinâmicas graves que causam redução da TFG. O
principal exemplo é a vasoconstrição intrarrenal ocasionada pelo SRAA, em função da liberação exagerada
de sódio detectado pelo aparelho justaglomerular (retroalimentação túbulo-glomerular).
Diante disso, tem-se a liberação do vasoconstritor endotelina + angiotensina II (vasoconstrição das
arteríolas aferente e eferente), em relação às células injuriadas, bem como a redução da produção de
vasodilatadores, como o Óxido Nítrico e a Prostaciclina (PGI2). Injúrias glomerulares + Ca+2 → redução do
coeficiente de ultrafiltração → contração mesangial. Este processo de contração da vasculatura e das
células mesangiais envolve o aumento da concentração de cálcio intracelular. É por este motivo que o cálcio
é o mediador mais importe na vasoconstrição intrarrenal.
OBS: O uso de bloqueadores de canais de cálcio e de seus antagonistas é de extrema importância para
prevenir a contração da vasculatura e as alterações hemodinâmicas.
OBS: Caso os focos necróticos sejam pontuais, a membrana basal ainda esteja íntegra e o foco precipitante
seja removido, existem grandes chances de reepitelização. Tal situação decorre da ação de fatores de
crescimento e de citocinas produzidas localmente nas células tubulares (autócrina) ou pelas células
inflamatórias na vizinhança dos focos necróticos (parácrina). EX: Fator de crescimento epidermal + TGF-alfa
+ fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 + fator de crescimento de hepatócitos = agentes
terapêuticos capazes de aumentar a reepitelização na IRA.
Manifestações clínicas principais: oligúria, anúria e início de azotemia, podendo resultar em injúrias
glomerulares, intersticiais, vasculares ou tubulares agudas. Em relação à Insuficiência Renal Crônica, seus
sinais e sintomas são prolongados de uremia, sendo o resultado final de todas as doenças parenquimais
renais crônicas.
QUADRO CLÍNICO
Estágio de iniciação (36 horas): caracteriza-se pelo evento incitante (drogas nefrotóxicas ou insultos
isquêmicos), podendo este ser médico, cirúrgico, obstétrico que resultou em IRA isquêmica. A única
indicação de envolvimento renal refere-se à diminuição do fluxo urinário e ao aumento no NUS
(Nitrogênio Ureico do Sangue). Assim, ocorre a oligúria explicada pela redução transitória do fluxo
sanguíneo + declínio da TFG + redução da capacidade de excreção de compostos nitrogenados.
Estágio de manutenção de oligúria: caracterizado pelo quadro oligúrico (produção de cerca de
40-400/500ml urina/dia), sobrecarga de água e sais, concentrações crescentes de NUS,
hipercalemia, acidose metabólica e outras manifestações de uremia (azotemia + sinais e sintomas
específicos). Tendo em vista a importância da manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico, a diálise
pode ser um meio capaz de manter o paciente nesta fase de crise oligúrica da IRA isquêmica.
OBS: Pacientes podem apresentar um quadro não-oligúrico, sendo caracterizado pela baixíssima
reabsorção + filtração glomerular reduzida.
Estágio de poliúria ou diurética: rápido aumento do volume urinário, em função da incapacidade dos
túbulos regenerados em reabsorver sal e água. No entanto, a ureia e a creatinina não acompanham
o processo excretório, tendo níveis cada vez mais elevados no sangue diálise.
Estágio de recuperação funcional: corresponde a uma fase de aumento constante do volume urinário,
até se atingir a produção de 3L/dia. Tendo em vista que os túbulos ainda estão danificados, ocorre
uma perda acentuada de agua, sódio e potássio (devendo-se tomar bastante cuidado com a
hipocalemia, em comparação à hipercalemia) + aumento da vulnerabilidade às infecções.
Eventualmente, a função tubular é restaurada, os níveis de NUS e de creatinina voltam ao normal,
bem como ocorre a melhora na habilidade de concentração.
Prognóstico: depende da condição clínica do paciente. Caso seja uma IRA nefrótica, a toxina não pode ter
atingido outros órgãos, como o coração e o fígado para que se tenha uma boa recuperação. Caso seja um
quadro de sepse decorrente de queimaduras extensas ou falência múltipla de órgãos, a mortalidade
aumenta.
Balanço de sódio: em função da oligúria, a quantidade de sódio torna-se superior à normalidade, fato
que “puxa” água e pode gerar expansão de volume, hipertensão e insuficiência cardíaca. Contrariamente, a
baixa ingesta de sódio na fase poliúrica pode gerar hipotensão e depleção do volume – retarda a
recuperação renal. Assim, deve-se ofertar solução salina isotônica + controle rigoroso do peso (fase
oligúrica) ou monitorização hidroeletrolítica na fase diurética.
Balanço de potássio: a hipercalemia é a principal causa de óbito em pacientes com IRA, tendo em vista
a intrínseca relação que este íon possui com a excitabilidade neuromuscular. Pequenas alterações no seu
conteúdo extracelular – aumento do metabolismo de proteínas, dano tecidual, sangramento gastrintestinal,
mecanismo tampão de estados acidóticos – podem gerar graves danos, como a sua toxicidade cardíaca
com alterações ECG. Como tratamento, pode-se administrar gluconato de cálcio ou bicarbonato de sódio ou
resinas trocadoras de K+ ou solução polarizante que capta o potássio excedente + diálise ou hemodiálise.
DIAGNÓSTICO
Inicialmente, deve-se sempre realizar uma boa anamnese, indagando sobre os
antecedentes do paciente. Além disso, durante o exame físico deve-se avaliar o estado de hidratação do
indivíduo e possíveis sinais adversos.
LABORATORIAL: Deve-se colher uma amostra de urina emitida ou cateterizada de pacientes com IRA para
a avaliação dos indices urinários diagnósticos. Deve-se também medir sódio, uréia, creatinina e
osmolaridade urinária (deve-se fazer isso tanto com a urina, como com amostras de sangue
coletada). Como padrão de avaliação, na IRA pré-renal, a osmolaridade urinária é frequentemente
elevada (>500 mOsm), já na renal e pós-renal tende a ser isosmótica (<350mOsm).
As relações U (ureia) urinária/U plasmática e C (creatinina) urinária/C plasmática costumam estar
elevadas na IRA pré-renal (>60 e >40 respectivamente) decorrente da reabsorção tubular de Na+ e H2O e,
consequentemente, aumento da concentração urinária de uréia e creatinina.
Ademais, a análise do sedimento urinário pode auxiliar o diagnóstico também. Cilindros hialinos
ocorrem mais frequentemente na IRA pré-renal, enquanto cilindros granulosos e discreta leucocitúria e
grande quantidade de células tubulares podem ser observados na IRA renal.
POR IMAGEM: utiliza-se muito a ultrassonografia, a qual fornece o tamanho renal, nos dá informações a
respeito de obstruções nas vias urinárias, presença ou não de cálculos, bem como avaliação do
parênquima renal. Assim, é possível diferenciar IRA de IRC e, adicionalmente pela diferenciação do
parênquima sinusal e tamanho cortical, sugerir IRC com rins de tamanho normal.
Em casos de forte suspeita ou confirmação de obstrução urinária, estão indicados estudos urológicos,
como a cistoscopia e a pielografia ascendente. Além de fins diagnósticos (obstrução por cálculos ou
tumores ou coágulos) são úteis na colocação de cateteres ureterais para a desobstrução e como avaliação
pré-operatória para posteriores desvios do fluxo urinário.
BIÓPSIA: A biópsia renal precoce está indicada quando há suspeita de IRA decorrente de
doença sistêmica, de glomerulonefrite aguda, de nefrite intersticial aguda. Ela nos auxiliará bases
para justificar uma terapia mais agressiva (corticoides, agentes citotóxicos, plasmaférese), bem
como nos trará uma indicação prognóstica pela avaliação histológica de componentes inflamatórios
e fibróticos.
TRATAMENTO
Tratamento da IRA PRÉ-RENAL: Quando a IRA ocorrer em razão de deficiência de volume extravascular, a
reposição hídrica deve ser feita de modo a repor a quantidade de liquido perdida + correção eletrolítica. Já
nos casos em que ela é decorrente da diminuição do volume sanguíneo efetivo, a terapêutica orienta-se pela
fisiopatologia da doença desencadeante, conforme os exemplos:
Tratamento da IRA RENAL: Basicamente o que se faz é um rigoroso controle hidroeletrolítico. A reposição
de volume deve ser restringida a 400 ml/dia acrescido do débito urinário. O balanço de sódio deve ser
controlado por meio de uma dieta pobre em Na (1 g/dia) nos pacientes que não estão sendo submetidos a
diálise, porém, com maior liberdade (até 3 g/dia) quando já em programa dialítico.
Corrigir eventual acidose quando o pH plasmático estiver menor do que 7,25 ou o HCO3 inferior a 12
mEq/L. Lembrar de ajustar todas as drogas que tenham alteração de seu metabolismo pela presença de
alteração na função renal.
Ademais, uma dieta rigorosa deve ser institucionalizada, com o intuito de controlar a quantidade de
proteínas circulantes, já que elas são (seu metabolismo) as principais responsáveis pela liberação de
nitrogênio circulante; resultando em elevação da carga de ureia (NUS), de ácidos metabólicos (sulfatos,
fosfatos, ácidos orgânicos) e de potássio.
DIÁLISE precoce e frequente deve ser utilizada para manter ureia abaixo de 180 mg/dl e creatinina inferior a
8 mg/dl. Esses níveis previnem os sintomas clínicos da uremia, melhoram o estado nutricional do
paciente e podem, indiscutivelmente, diminuir o risco de sangramento e infecções.
A HEMODIÁLISE também está indicada em quadros de IRA por intoxicação exógena por metanol e
etilenoglicol, visto seu efeito em remover toxinas rapidamente. A hemodiálise deve ser mantida por 4
ou mais horas e diariamente se for necessário.
HEMOFILTRAÇÃO e HEMODIAFILTRAÇÃO são utilizados frequentemente para a reposição de função
renal e clareamento de substâncias tóxicas em pacientes criticamente enfermos. Diferentes opções
técnicas de tratamento são utilizadas dependendo das condições dos pacientes, porém quase
sempre as diferentes modalidades são utilizadas de maneira contínua. Assim, é bastante comum o
uso do termo terapia contínua de reposição renal (CRRT). A hemodiafiltração intermitente é também
utilizada para pacientes com insuficiência renal crônica em alguns centros especializados na Europa.
DIÁLISE
TRATAMENTO DIALÍTICO - INDICAÇÕES DE DIÁLISE NA IRA
Existem situações onde o tratamento dialítico (hemodiálise, diálise peritoneal e hemofiltração) é emergencial
por haver um risco iminente para a vida do paciente. Entretanto, a melhor conduta é prevenir a
necessidade de diálise de urgência pela prática da indicação precoce de diálise antes do surgimento do
quadro de uremia franca e/ou de complicações clínicas, metabólicas e eletrolíticas.
As principais indicações dialíticas são:
Hiperpotassemia – acima de 5,5 meq/L + alterações ao ECG ou maior que 6,5 meq/L;
Hipervolemia: edema periférico, derrames pleural e pericárdico, ascite, hipertensão arterial e ICC;
Uremia: sistema nervoso central (sonolência, tremores, coma e convulsões), sistema cardiovascular
(pericardite e tamponamento pericárdico), pulmões (congestão pulmonar e pleurite), aparelho digestivo
(náuseas, vômitos e hemorragias digestivas);
Acidose metabólica grave;
Hipo ou hipernatremia, hipo ou hipercalcemia, hiperuricemia, hipermagnesemia, hemorragias devido a
distúrbios plaquetários, ICC refratária, hipotermia e intoxicação exógena.
OBS: DIÁLISE precoce e frequente deve ser utilizada
para manter ureia abaixo de 180 mg/dl e creatinina
inferior a 8 mg/dl. Esses níveis previnem os sintomas
clínicos da uremia, melhoram o estado nutricional do
paciente e podem, indiscutivelmente, diminuir o risco
de sangramento e infecções.
DISTÚRBIO ÁCIDO-BÁSICO
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico: podem ser metabólicos e respiratórios, sendo a interpretação
da gasometria arterial muito importante para esse diagnóstico.
OBS.: Resposta compensatória: o organismo lança mão de mecanismos compensatórios para evitar uma
variação expressiva da relação HCO3/CO2.
Resposta compensatória aos distúrbios METABÓLICOS ou COMPONENTE PULMONAR DO
SISTEMA TAMPÃO: Tem início imediato, assim que a variação do PH é captada por sensores
(quimiorreceptores) presentes no arco aórtico, modulando impulsos aferentes via nervo vago que chegam
ao centro respiratório bulbar, estimulando uma possível hiperventilação (como acontece na respiração de
Kussmaul) ou hipoventilação. Essa hiperventilação ou hipoventilação altera a concentração de CO2,
alterando também a PCO2 e, dessa forma, o equilíbrio do sistema tampão.
Resposta compensatória aos distúrbios RESPIRATÓRIOS ou COMPONENTE RENAL DO
SISTEMA TAMPÃO: É uma resposta lenta, demorando de 3-5 dias para ser iniciada, já que ela
depende dos rins. O PH das células tubulares acompanha o PH plasmático.
OBS: Na acidose respiratória, o PH das células encontra-se baixo, estimulando a excreção renal
de H+ e retenção de H2CO3 (na alcalose é o contrário).
Um ponto importante de se destacar é que esse H+ secretado pelos rins, é secretado pelo túbulo
coletor, em um processo bastante influenciado pela reabsorção de sódio e excreção de potássio. Para
cada H+ excretado, é liberado um HCO3 ao plasma. Ademais, quase todo o H+ é excretado ligado a bases
urinárias, sendo a principal a amônia (NH3), a qual se liga ao H+ formando o amônio (NH4). A amônia é
produzida e secretada pelas células tubulares proximais, sua produção é regulada pelo PH plasmático,
podendo aumentar em até 10x nas acidoses e tornar-se suprimida nas alcaloses.
ACIDOSE METABÓLICA
É definida por um HCO3 < 22 mEql e um PH <7,35. Ela surge quando existe um excesso de H+ não
derivado do CO2, ou quando há perda de HCO3 para o meio externo (perda urinária ou gastrointestinal). As
acidoses podem ser divididas em dois grandes grupos: acidoses com ânion-gap alto e acidoses
hiperclorêmicas.
Acidoses com Ânion-gap alto:
Para que o equilíbrio eletroquímico do plasma seja mantido, o total de cátions tem que ser igual
+
ao total de ânions. O principal cátion sanguíneo é o sódio (Na ), enquanto os principais ânions são o
cloreto (CL-) e o bicarbonato (HCO3-). O que acontece é que a concentração plasmática de sódio é
maior que o somatório das concentrações de cloreto e bicarbonato. Assim, o equilíbrio eletrolítico é
mantido pela existência de outros ânions plasmáticos e, o somatório de todos estes ânions corresponde
ao ânion-gap (Valor normal= 8-12 mEq/l).
Entre os ânions que participam do somatório do ânion-gap, a albumina é o principal em
termos de concentração plasmática (daí a importância de controlar sua concentração plasmática),
mas também temos o fosfato, sulfato, lactato.
Todas as acidoses decorrentes do acumulo no plasma de substâncias ácidas (p.ex. ácido lático)
aumentam o ânion-gap, devido à retenção de bases aniônicas, derivadas da dissociação do ácido lático.
Assim, nessas acidoses o ânion-gap fica aumentado proporcionalmente à gravidade do distúrbio. As
principais acidoses metabólicas com ânion-gap alto são: acidose lática, cetoacidose, uremia e intoxicação
por salicilatos.
Acidoses com AG normal (hiperclorêmicas):
São decorrentes da perda de HCO3- para o meio externo ou da retenção direta de H+. Neste tipo de
acidose metabólica, para que o equilíbrio eletroquímico do plasma seja mantido, a redução do HCO3 deve
ser compensada pelo aumento do cloreto plasmático. Estas acidoses podem ser causadas por: diarreia,
fistulas biliares, ureterossigmoidostomia, acidoses tubulares renais, diuréticos poupadores de potássio.
OBS: ANÁLISE DO ÂNION-GAP URINÁRIO; A análise do Ag urinário é muito importante para o diagnóstico
das acidoses hiperclorêmicas. Isto por que o principal ânion urinário é o CL- e o valor normal do AG urinário
o contrário do plasma, isto é, -8 à -12 mEq/l. A eliminação de cloro (logo, sua presença na urina) depende
diretamente da capacidade de excreção renal de H+ e amônia (NH3), já que o cloro é eliminado após sua
ligação com o NH4 (H+ + NH3+ → NH4+ + Cl- → NH4 Cl → URINA).
Além dos dados da história clínica, uma medida que auxilia no diagnóstico causal da acidose
metabólica é o CÁLCULO DO ÂNION GAP (HIATO IÔNICO). A necessidade de manter a eletroneutralidade
faz com que o número de cátions no plasma seja igual ao número de ânions. Os cátions são representados
principalmente pelo sódio, e os ânions pelo cloro e bicarbonato. Porém, há outros ânions, que não são
dosados habitualmente, mas que contribuem para a fração aniônica do plasma: proteínas, lactato, fosfato e
sulfato. Esta fração de ânions é identificada ao se verificar que a soma dos ânions medidos não é igual à
dosagem do sódio. Desse modo, o valor habitual do ânion gap está em torno de10mEq/l.