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. ·- -- ·- - ·--
N~te "tempo", as facções apresentam-se de fom1a a estabelecer um
co~~o aberto ~tranho.a<? ~mpo, q~e não coincide com 0 periodo eleitoral
propn~ente dito. f\s di vt~~rem, nãoseapresenumu>Qm!!nte em for-
ma de _9.iscurso,
-. · -- -;~ -·---;------ mas ---- -;--·. ----na·--forma
------trunbém · de
·--.ocup'lça- >·· . ·= .,.,._,__
. . .___ " _____0__d__~ ~~~~ço~rattcas
ntudJ~Existe o bar, a fannacta ou an1a ''pertencente'' a uma facça-0 e-o-tr
1ug~ cL:_~a'?,lo - - , (. u os
qu~ ~ opoe ael~: E como se houvesse urna descontinuidade
entre ~l1tica e cotidian?..A poltua:n1arca um ~I?po singular distinto, como
se surg~sse um novo cotidiano. Porem, um cotidiano ~n~~_falar de divisão
discursar sobre as diferenças entre um e outro candidato, assim e"Om~
elaborar estratégias discursivas para desautorizar, desacreditar_ou
d~abonéu· o opositor na disputa política, toma-se li.nguagem autqrjzad~.
Nas eleições de 1996 e de 2000 em Sobral podemos visualizar bem as
peculiaridades do "ten1po da política". No primeiro pleito, três candidatos
estavam na disputa: Cid Gomes, candidato da coligação PSDBIPTIPSB!
PC do B, o candidato Marcos Prado do PFL e Cândida Figueiredo da
coligação PPB/PMDB. O PSB, logo depois da posse do prefeito eleito
Cid Gomes, rompe com a coligação e, no pleito de 2000, aparece como
oposição sem candidato majoritário. A candidata Cândida Figueiredo,
esposa de Tomaz Figueiredo, prefeito em fmal de mandato, na época, em
Santa Quitéria, município de médio porte da região, tinha como compa-
nheiro de chapa o padre José Linhares, deputado estadual, na época, e
bastante conhecido pelo seu trabalho junto à Santa Casa, hospital de refe-
rência na região. Já o candidato Marcos Prado, também conhecido por
"chocolate", tinha como vice, na chapa, o seu pai e ex-prefeito, José Pra-
do, político muito popular na Cidade, reconhecido como "Zé do Povo".
Marcos Prado teve uma pequena votação nas eleições de 1996,
mas volta a ser candidato em 2000, sendo o único concorrente de Cid
Gomes (PPSIPTIPC do B) que havia mudado de partido passando
para o PPS. Em 2000, apesar de Marcos Prado ter conseguido em
tomo de 35 % de votos, chegou a preocupar o candidato vitorioso
Cid Gomes que, segundo o que se comentava nos bastidores d~ cam-
panha, tinha a pretensão de ser quase unanimidade entre os ele.tt?r~s.
A cidade, tanto em 1996 quanto em 2CXX>, foi, de forma singulm·, divtdida
em territórios, o que não é particular só em Sobral. Palmeira ( 1996) observa
que nas regiões em que trabalhou percebeu, também, nest: " temP?"~ uma
nova geografia da circulação e do uso dos espaços. Apos as eletçoes, 0
espaço urbano parece voltar "ao que era antes". Nas eleições de 1996 e
na de 2000 em Sobral era comum que as pessoas falassem que o me~ca
0
do central, por exemplo, "fechav a" com o "Chocolate" (Marcos Pra ).
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-~------.---· ,
Jáno''B
_ . ecco do Cotovelo" 1, as apostas erazn constantes e o assunto
nao podena se~ outro: a ''política''. Este local tradicionalmente disputa-
do pelos candtdatos I · '·
,.. em qua quer ttpo de pletto, configura-se como o
tennometro da crunpanha. Quando os conflitos beiram a violência ou até
cheganl a ela de fato,_ esquentando o "termômetro", verifica-se que a
camp~nha se ~arac:te~za por uma disputa ainda indefinida. Já quando o
"tennometro_ esta f?-o, sendo o espaço tranqüilamente ocupado por
uma das facç~s, venfica-~e a força e a facilidade com que o candidato
vai ven,~er a disputa. Pore_m,,seg~ndo contam os freqüentadores do
"Becco , essa segunda opçao e mutto rara. São comuns histórias conta-
das por pessoas que freqüentam assiduamente o lugar relatando casos
de violentos atos cometidos por ca11didatos ou aliados políticos contra
adversários. Btigas eram comuns nos pleitos de 1996 e 2000 entre
apoiadores dos candidatos tendo e1n vista dominar o espaço.
Esta disputa não se restringia ao "Becco", apesar de ser mais visível
neste lugar. Cada esquina, cada rua e cada casa eram disputadas
acúradamente pelos candidatos. As pessoas que cotidianamente ocupam
estes lugares pareciam não só pretender escolher representantes, mas aderir
a uma determinada facção, fazendo do seu lugar, o lugar também do can-
didato. Isso era sugerido não só pelo que falam sobre a adesão, mas tam-
bém pelas marcas que deixam no espaço como cartazes, faixas, adesivos,
dentre outros objetos de propaganda. A cidade passa, neste período espe-
cífico, por uma mudança visual intensa e contraditótia. Ao mesmo tempo
em que a disputa eleitoral n1ovimenta a cidade, encontram-se ainda pesso-
as totalmente céticas diante do pleito. Portanto, os discursos variavam
entre "todo político é corrupto" e "candidato fulano é sério e competente".
Guebel ( 1996) observa que, no cotidiano da campanha eleitoral de
uma pequena cidade do interior, as pessoas do lugar geralmente assoei-
ama política a algo exterior a elas. Neste sentido, o candidato, apesar
de ser do lugar, é sempre visto como de fora. As escolhas sempre são
pautadas em um desejo de "não ter nada a ver com a política" apesar da
ades~o e até da ação en1 can1panha em prol do escolhido. Em Sobral,
nas disputas por espaço, percebe-se esta dualidade entre distanciamento
e adesão.
l.
0
nome dado ao luoar d OIS ~ tende a caracterizá-lo como trad JCJOna
· ces, . · 1 na CI'd ade ,
Pois em tempos pae . d• com ·
no presente o ··s ssa . os
, a palavra
. era escrita desta forma, preservando-se
. esta escnta
outro es · . ecco expenmenta em seu cotidiano uma autonomia que nenhum
define o·s~aço
rumos d0 1 . possui,
da Cidade , tendo até, em sua pequena extensão, um ..prefeito" que
a Püpulação d· . ugar. E uma ruela com pouco mais de 100 mecros que representa, para
a Cidade, o ·•coração" de Sobral. Cf. Freiras, 2000.
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Não só lugares ou pontos referenciais no espaço urbano eram dispu-
tados pelos candidatos e "cabos eleitorais", mas tan1bém longos percur-
sos de um lugar a outro. A disputa pelo percurso, nas eleições de 1996,
. foi rigorosamente transformada em rito e reeditada, com menor vigor
em 2000. Os candidatos denominavam este ritual de "arrastão". O iníci~
era marcado por um grande comício insistentemente divulgado. Ao falar,
os candidatos majotitários e proporcionais convocavam o público que
assistia para promover um grande "arrastão" com o objetivo de levar
aqueles que ali não estavam para participar de um outro comício
pretensamente apoteótico, geralmente com un1locutor profissional e uma
banda de música que tocaria após o comício, em outro ponto da cidade.
No "anastão", a conutiva ou "comissão de frente" era geralmente for-
mada pelo candidato majotitário, na maioria das vezes carregado nos
ombros ou en1 un1a posição acima do chão para tornar-se visíveF. Mais
atrás, vinha a multidão intercalada por candidatos proporcionais, cada um
em sua "ala", com carros de som tocando tanto a música do candidato
majoritário como a sua. A confusão de sons e de pessoas era tanta que
chamava a atenção do povo ali reunido. Percebia-se que várias pessoas
esperavam, na esquina, a passagem da passeata e se juntavam a ela após
sua passagem. Em outro ponto da cidade, um outro palco, geralmente
maior, estava a espera da multidão. Em 1996, somente Cândida
Figueiredo não praticava este ritual, talvez pelo fato de ser mulher, e não
ser bem visto, socialmente, o ato de ser carregada nos braços de robus-
tos homens como faziam os outros dois candidatos do sexo masculino.
Nos arrastões da facção de Cid Gomes, nas eleições de 1996, seu
irmão Ciro ocupava o mesmo espaço privilegiado sendo carregado nos
ombros, como se também estivesse postulando ao cargo de prefeito da
cidade. A participação de Ciro nas eleições de 2000 foi menos intensa,
talvez pelo excesso de confiança da facção de Cid na vitória fácil. Vale a
pena também len1brar que nos comícios da eleição de 1996, o orador
ql!~renciiª mª~s atenção da platéia era Ciro e não o. imlão_can~
Isto ficou muito ciaro-no-ultimo coinício da campanha quando o pesqui-
sadQr, no_m~_Qjl'!_gn!!~q}!g)__p~rcebeu UITI- grl!nde.silên~
fala.de. CirD-e-uma certa dispersão no pronu~çj'!tp~n~~ ~_e_Cid.
2. Em um dos "arrastões". promovidos pelo candidato Cid Gomes. ele foi visto na ''comis-
são de frente" montado em um jumento.
3. O pre~tígio do irmão deve-se ao fato de seu sucesso político. Passou por cargos como 0 ,de
Prefeito da capital (Fortaleza). Governador do Estado do Ceará e Ministro da Fazenda. Alem
disso. o do~_ínio da oratória favorece seu desempenho no palanque, sempre tomando como
tema, questoes que geralmente atingem diretamente a emoção do público que o escuta.
214
A pretensão,,. no
. exercício
. dcsrc tiJ>o uc
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· <.f< Y.') a ~
QTandes cornJCIOS porpa11c dos cundí<f·t• . · rrcJsh~s, as.~x:iados
ac d c tOS nu CUfllJ>' f .
..,., trar a força • os postulantes c confianc"t <Jt.J . an 1a clcuoraJ, era
, •• 05 , • y-< c o c 1c rt or d . ·
crrande quantidade de puhlrco presente tanto ll . ~ ~f~>S.Jiava neles.
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os cornrcros c .
.... ~asUJeS , unpressron,tv,l e rcfo1çava a argurncru· .;· 1, . , orno nos
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dtvers ~o~.. lugares d H Cl(
· Ia d e pc Ia l >usca da adesãop·tra
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' · a· C'anuJt
,·•. · · ' ern
1atura Um
llJX>nentcs dos m:gurnentos para adcsao era que reahncntc a• • ,,
dosCOr .f " ;- d O JX>VO
stá con1 o candJ< ato ~ que:: nc~o se po .e perder o voto" escolhendo
e Je n:uece que nao v<u gculh<u: Neste momento, este tipo de el ·t
'.1/lUC1cqt ,r- . d ;- d . CJ .or
"'1 . ~ Jtir-se en1 utnJogo on e nao po e perder. Ou seJa, sua escolha
n:u-ece se• nenl sempre e,. por convtcçao
t,_.
· - ou cetteza d e que um determina- · '
neste caso, tetn o melh or ,,proJe
" ndidato . to " ou " prog_rafl!a'' para ~Je, mas sim,
doca ele postulante ao cargo pode ser o v1tonoso. Alem da quanti-
~que aqu ,. . e rurastoes,-
po ssoas envolvidas nos cormctos os resultados das
dade d.e. pede opinião, semana1mente realizadas, estun · u1 ama op1n1ao
· .,.., da-
~squtsas se preocupam em votar , 'naque1e que vai· g anhar''.
r-~
fTI ~eles que d d
'1~-0utro tipo de adesão, 9~e pode ~~r expressa ~s e a maru estaçao pura
'fc -
. Jes do voto até àpratica de militante, Palmerra ( 1996) lembra aquela
esmlp
mais recorrente nas ' areas
,. analisadas por e1~: o da ''leald
,.., _, a.de ''. P~o autor, o
perlil de eleitor mais procurado pelos candtdatos naoe o mdeciso, mas ode
"voto múltiplo" o~:~ pessoas.envolvidas .em.f_onflito$, capazes de justificar
mudanças de lado e que podem influenciar outros que, economicamen-
te~ dependem deles ou ~stão afetivamente presos por determinado tipo
de lealdade. Neste caso, que também acontece em Sobral~ a adesão
passa a ser uma busca para estabelecer uma rede de compromissos
prutilhados P?r pessoas influenciadas, tanto por princíp.ios morais Oealda-
de, C?mprorrusso, reputação), quanto por pressupostos pragmáticos (for-
talectmento de sua posição social ou status com relação aos que convi·-
vemcomele no seu d'Ia-a- d'Ia, favorecnnento · econômico dentre out-ros)
Comoexemplod d - ' u~ .
pode-se destacar o e~ edsao construída, pautada em princípios morais
..
no COtidiano da cam
. apoioh dado pe1a frarrua·, ~
Ia, que esteve sempre presente'
2000 pan a e todo, d"d ..
e ). Pode-se in c lu. .s os can I atos nos dois pleitos ( 1996
sangue" ( . . Ir, neste tipo de apo · d d ,,.
" Pats, nmãos tios et ) -- c IO, es e os parentes de
Parentes ' c. ate os deno · d
com f P?rconsideração" ( mina os por Marcelin (1999)
a anu11a ami . agregados que mor h ,. ·
lá com rei - g?s mais próxinlos denw ai? a multo tempo
Pode~se cit açao a adesão pautad' e outros tipos de "parente")
/Poioaocan~i~omo exemplo, o deaeem pre~s_upostos pragmáticos.
ato como capaz de 1he~f:~sanos_ que consideram ~
orecet econo .
. micamente ,
ou o caso da pessoa que se acha em posição prestigiosa por conside-
r~ s~•.perior o can~id~to que apóia, t~sando dest~ sup~rioridade como
arttficJo para constttutr um status socta1 que constdera Influente. Todos
os ~·ês candida!~s n1aj?ritários em 1_996, assim como os dois de 2000,
aceitavam e ate Jncenttvavarn este ttpo de adesão.
Em alguns casos, cotno con1utnente alguns candidatos indicam, a adesão
pode tambén1 acontecer quando o apoiador acredita em detenninada~ pro-
posições "ideológicas'' (no sentido de concePÇ<1o de política genlltnente base-
ada em preceitos defendid~s por partidos de .e.squerda). No caso de
Sobral, a adesão por este mot~ vo ~e~ ~om qu~ rruhtantes da esquerda nas
eleições de 1996 fi~assem meio divididos, po1s al~uns concordavam com
a coligação com Cid Gomes, achando que o proJeto partidário não seria
prejudicado, e outros não, alegando o histórico do candidato e de seu
partido como apoiador da facção política à qual faziam oposição, no âm-
bito estadual, representada por Tasso Jereissati que, na época, era Gover-
nador. Nas eleições de 2000, o candidato Cid Gomes já havia passado para
wn partido que seus membros, principalmente ele e seu irmão Ciro Gomes,
consideravam como de "centro esquerda": o PPS. Apesar disso, alguns
membros do PT ainda estavam melindrados com a coligação reeditada.
A adesão do tipo de eleitor de "voto múltiplo", tanto a pautada em
princípios morais, quanto a pragmática ou a ideológica, favorece a
formação de uma rede de con1promissos partilhados em prol do can-
didato. Esta adesão, assim como na maioria dos outros tipos de com-
promisso partilhados com o candidato, não é comparável a uma entra-
da em um partido ou qualquer outro tipo de associação, apesar de
haver casos em que se configura neste sentido. A rede de adesões
formada aproxima-se mais da idéia do quase-grupo elaborada por
Mayer (1987). Segundo o autor, existe no grupo uma interação espe-
rada e acordada socialmente entre seus n1embros, na qual não existe,
necessariamente, um "chefe" como referência central e integradora. O
grupo manifesta uma maior segurança com relação à unifonni?ad~ e
continuidade. A própria chefia, quando há, nem sempre é vitalícia. Ja 0
quase-grupo depende de um indivíduo como foco organizador central.
Em geral, neste tipo de interação, as ações indi viduais dos que aderem
~
a, 1acçao,
,., so, sao
,., va Ionzadas
. . .
quando dtrectona das a, pessoa central na/
facção. O crédito das ações, com outros membros do quase-g~po, ~
minimizado. Como inspira Mayer ( 1987), a interação é forma at psoa
·
um conJunto-de-ação inserido em conexões sociais · · pertencen edo
campos de sociabilidade distintos formando redes, sempre toman
como referência central um ·
ma facção fica b a pessoa. Esta rede, que se configura como
u ' ~~ ~1ara no período eleitoral, não só em Sobral,
mas em oedutros muructptos brasileiros e até em outros países4
Esta li e, que se forma no "tempo d . . . ,, . . . . •. • •
·d d d nfl.1 a po1Itlca , e típica da facção. Ela
forma um . a es e ~o . . . to c~m outras facções, tendo um líder baseado
em determinados pnnctpios unificadores e ocasiona· p · . . ·
no caso das duas eleições municipais analisadas emts. Sonbnctlpto! e:bestes que,
· · difu ' ra, sao mge-
néricos, conJuntural~ e . sos, passando tanto pela necessidade de mudar
0 uso do poder publico, quanto pela defesa do que . . .. · d
.d d ,s O artid I" . e propno a
"so~ral I a e -· s P os P_0 I~cos, ~este aspecto, têm pouca impor-
tância, ou no caso_de Sobral, ~ao dtssolvtdos_nos princípios_que un._em os
mem?ros da fac~?º ~P?- funçao__~e um no~e. A prova disso é que apesar
do acm·ado coilflito ~~tre as ~acçoes no.venooo eleitoral, após as eleições
pouco apar~ ~a rmdia escnta ou tele~t~ada ações dos partidos que com-
põem a cohgaçao mon.tad~ para administrar a cidade. Na imprensa, por
exemplo, é comum at:nbu1r a secretários municipais ou, como acontece
na maioria dos casos, ao prefeito, o métito pela realização de projetos
provenientes do poder público. As. .facções que apareceram no período
eleitoral como concorrentes tambem desaparecem, fazendo com que,
aparentemente, a facção política vitoriosa seja a única existente.
Como já dito, no intervalo entre as eleições de 1996 e 2000, o desa-
parecimento de uma oposição ao governo Cid Gomes, fez com que mem-
bros de sua facção idealizassem uma vitória tranqüila no pleito de 2000.
Como também já foi dito, essa idéia parecia ser tão forte que, o fato do
candidato Marcos Prado ter alcançado em to1110 de 35% das intenções
de voto nas pesquisas realizadas antes do final do pleito de 2000, chegou
a assustar membros da facção de Cid Gomes, pois era inesperada esta
votação para o candidato concorrente. Porém, após as eleições de 2000,
novamente a idéia de posições diferentes desaparecem e aparece a ima-
gemdoadministrador''neutro'' e ''imparcial'' que pensa no ''bemcomum''.
Percebe-se, na época de campanha, que as pessoas pouco s~bem
~obr~ os partidos c?mponente~ da aliança que apóia_cada cand!~ato,
ffiUI~o menos as dtferenças existentes entre eles, a nao ser os nuhtan-
~s filiados às siglas parti dálias, alguns candidatos proporcionais em
disputa nos pleitos, e alguns membros da intelectualidade e elite local,
4 0
Próprio M · ·
·
5. O te ayer aphca esta estrutura conceitual para anahsar o caso da I'nd 1a.
"
rmo
rnídia locrefere -se a uma reflexão construída socialmente e d1fund1
· · · 1m e 11te na
"d a. pnnc1pa .
rnorai ai e e~tadual. sobre a idealização de princípios e características comportamema•s.
se emoc . , .
•onats, t1p1cas do ser sobralense. Cf. Freitas, 2000.
_,,_ /í, q~e constituem a minoria dos eleitores. A adesão a um candidato c
d1to antes, na maior parte dos casos acontece em f - d ' ~mo
~_,.._:J J - .
to e nao,do- parttdo ou
.
proJeto
' unçao o candtda-
político mais amplo. A disputa esempre
"'
Com reI açao , .
a posst vets nomes a concorrer.
Estes nomes, como chan1a atenção Chaves ( 1996) sempre os il
d or" e "boapessoa". A buscaésemprepelc amen-
fi ueo ''bom adtntntstra
f-..,
. d d ,
. .
. , . I -
bno ten e~ ?a VItot~,a aque e qu~ conseguir ser "boa pessoa" e també
H
o
.,
equtü-
i
' I
I bom adnuntstrador . Neste sentido o voto passa a ser buscado com rn
adesão pautada no cotnpromisso e na lealdade entre eleitor e cand?duma
-
R e 1açoes pessoats,· d en tre outros cntenos · , . como "formaç- 1 ato
,;
pertencimento a uma_"fanu1ia tradicional", poder econômico, dentrao eou-_'
tros quase sempre sao tomadas como pressuposto para a escolha d
candida~o a aderir, n1esm~ nas convenções partidárias. $comum 0 ele~
tor refenr-se sem~re a ~zade, ao_fav?r e~ I?Oss~~-~~ade~~ réêÕmpe~a
pessoal que o candidato vru lhe proporcionar ao ser eleito. Aliás, coriíiela-
ção a amizade, ela é até anterior e pressupõe que o pleiteante ao cargo
público ganhe o voto do eleitor. Algumas pessoas geralmente sentem orgu-
lho quando um candidato visita a sua casa, favorecendo-as, com relação
aos vizinhos e amigos, por meio de uma imagem de pod~r e referência.
Em Sobral isso era muito comum entre todos os candidatos nos
pleitos de 1996 e 2000. Era prestigioso, para algumas famílias, ter
como "amigo" o "grande político" pertencente a uma "grande família",
como era o caso dos três candidatos majoritários em 1996 e os dois
de 2000, assim como causava encantamento para as pessoas ter como
visita pessoas tão "influentes". O conteúdo das qualificações, dadas
aos candidatos, é, quase sempre, impreciso e pouco claro com rela-
ção ao significado, mas era extremamente significativo para o eleitor
que utilizava sua suposta amizade com os candidatos como artifício
para seduzir, encantar e fascinar seus ouvintes.
Nesse aspecto encontra-se uma ambigüidade própria da dinâmica e!ei-
toral. Ela, por um lado, favorece um sentimento de igualdade entre eleitor
e candidato, e, ao mesmo tempo cria uma hierarquia social, pois, conlo
muito bem analisa Chaves ( 1996), a posição que o político ocupa, qt~ando
amigo de uma determinada pessoa, lhe dá um status especial.~ hie:;
quia também se estabelece entre aquele que "doa" e aquele que r~e t ~
0
Porém, a relação que se estabelece, não se limita a ser uma soma. anl .to-
. tre outros e ei
eleitor fonna uma rede de relações de con1pronussos en . ,., dida-
res no sentido de beneficiar com votos e recursos para eleiç~o ~anficados
0
' , . . d d d tos di versl 1
to, como o propno candtdato forma uma re e e a ep
218
~----------------~-----------~~;-;~
,-,. ,~
, tca'-
1 ---
com distintas posi - . .
t çoes SOCJats utilizand " .
avor, dentre outros, como instrum' o a amtzade", o compromisso e o
·
Alguns e1e1tores entram nessa reei entos para sebenefitctar
. d. . ·
.
eleitoralmente.
d o candidato,,, b eneficiando-se de e In
alg
tretamente
~ ...
se d " .
· n o amtgo do amigo
- d "nfl "" . .
çao e 1 uenc1a na hierarquia social dec urna J.Orma e oc . d
upan o uma posi-
adesão estabelecidas no período eleitoral~rrente das redes de relações de
Os azrastões associados a comícios mais fre ··
1996 do que no pleito de 2000 em Sobral reforqç~emntestn~ds ~-leiçõ~s de I.
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219
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tação que qualifi Panha, era comum a candidatura proposta
I cava 0 p d , a construç- d ·
Mas, por outro lado f: a re Zé como a "mem , . a~ e uma represen-
político na adminisu:a~ã~toge ~r vice, cargo que~?~~v: de I?<_>m J~sé".
ria viva de Dom José" - P_ bhca, fez com que o peso I . Parttctpaçao do
,. . nao Influenciasse . , e ettor~ll da "memó-
Dom Jose foi o primeiro b. muno na sua votação
tentemente citado em notíciasisp~ de Sobral (1916/1953) e ho; , . .
. d na Imprensa 1 ai Je e tnsts-
ctda .b e como
. d
o grande ''herót.'' s b ai
o r ense pel ,, b oc· e estadual que falam da
contn utn o para a construção d . a no reza" de seus feitos
mentais para a cidade, dentre eles e ~quipamentos sociais hoje funda~
época das eleições de 1996 era ge~e a~~~Casa de Misericórdia, que à
O candidato Marcos Prado const.ndctada ~'ehlo Pa.dre José Linhares.
. · ' era o erdei " 1' ·
pru que, em 1996, era vice em sua chapa além d r?. po It.Ico de seu
fechadas contra o irmão do candidato Cid G as cndtlcas drretas ?es-
, · de sentar.-se com populares em m
pe1a. pratica ornes, destaca-se rundá
b---- ·------
i ,, . . . esas e ar, tentaiifo
Projetar
- -se
· como . prox1mo ao povo"
. · "'tomar cach.a·ça-" com
-· outras
-- ·
pessoas, configura-se como um ntual recorrente do Cffi!didato, fa.Zêndo
com que se tome extremamente popular-em:·deterinínadas reoiões da
cidaqe freqüentada pela população mais pobre, reforçandnaldéia da
"boa pessoa" do "chocolate". Nas eleições de 2000, em que foi o único
concorrente de Cid Gomes, reeditou esta prática e a reforçava, eviden-
ciando a diferença que seria seu governo com relação a seu rival que,
segundo ele, se trancava em seu gabinete e mal recebia o "povo".
Já o candidato Cid Gomes, apresentava-se, nos dois pleitos, como
expressão da legítima "sobralidade", recorrendo para tanto à memória I ;
I ~
de seu pai -José Euclides Ferreira Gomes- que morrera meses antes '
'
;
I
(
II
I
I emsuahtstona
. al
. - da. déta da retotna ,\
forte generahzaçao 1
tadual
rcgton· , es ,
.
e ate
.
. , . recente de nqueza e
nacton,t '
..., .
la
... b'
de poderio p<>\ít.i co e soc1al no am 1to
, , ,· . 1 oqueascandiuaturasconcorrentestor-
" c- • t-
.t .osas E.c;;ta aliança tatnbétn 101 · 1nna< nas e ct-
imposstvel se vt on . . , B) ,
l .
l .
nanam .. ceção do apoio do PS , porem, neste p Clt.O,
ções ~~ ?00 ~~~i~;to 111ajoritário jú havia mi~rado para o P~S.
2
con10}a,~ttod, ,, etotnada'' do utriunfo" que a culadc já ex.penmcntou
0
222
·- - - - - - - - - - - - - - - - - - ....r:
so d e I·dent1·fitcaçao - e classificaçã P
d 0a eleitoral 'e, adotada como recur- I
I
I
"alma coletiva" serve tanto ~orno ·d <?fira ' nosso/dos outros etc. Esta
I
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