Você está na página 1de 14

Raciocínio Lógico e Analítico

Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

Falácias Informais

1. O significado de falácias informais

Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente inconsistente,


sem fundamento, inválido ou falho na capacidade de provar eficazmente o que alega.
Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande
parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falhos por causa
disso. A validade de um argumento não depende de sua capacidade de convencer o
interlocutor.
Segundo Irving Copi, uma falácia é uma forma de raciocínio incorreto que se
reveste de um teor persuasivo tal que lhe é conferida aparente correção (COPI, 1968,
p. 73). Ou seja, são argumentos que, apesar de, à primeira vista, mostrarem-se
corretos, apresentarem um sentido aparente, com uma análise mais detalhada podem
ser “desmascarados”. Marcus Sacrini identificará as falácias como “maus argumentos”
ou “maus movimentos argumentativos em uma discussão” (SACRINI, 2016, p. 224).
O estudo das falácias contribui para que não sejamos persuadidos por
raciocínios falhos e inconsistentes, não sejamos enganados por ideias que
aparentemente fazem sentido enquanto, na realidade, não fazem.
No módulo anterior, observamos as falácias formais: argumentos nos quais as
formas dos movimentos inferenciais se assemelham a padrões bem formados, com
sentido, porém apresentam falhas em sua organização. As falácias informais,
estudadas neste módulo, indicam, por sua vez, argumentos que não são falaciosos
por causa da sua forma, mas sim de seu conteúdo.
Refletir sobre o conteúdo dos argumentos significa pensar criticamente sobre
as ideias presentes nos argumentos com os quais nos deparamos em nosso cotidiano.
O pensamento crítico é o recurso que nos permite avaliar os discursos através da
racionalidade. Nas falácias informais, observamos argumentos que não são
fundamentados na razão ou em um discurso racional.
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

2. As falácias informais

Observaremos, então, falácias informais que podem ser recorrentemente


encontradas em nosso cotidiano.

Lista das Falácias Informais estudadas:

a) Apelo à autoridade irrelevante (Argumentum ad Verecindiam)


b) Apelo ao povo (argumentum ad populum)
c) Apelo à ignorância (argumentum ad ignorantiam)
d) Apelo à misericórdia, à piedade (argumentum ad misericordiam)
e) Apelo à força (argumentum ad baculum)
f) Ataque à pessoa / argumento contra o homem (argumentum ad hominem)
g) Falsa causa
h) Apelo à tradição (argumentum ad antiquitatem)
i) Apelo à novidade (argumentum ad novitatem)
j) Generalização apressada
k) Falácia de Ambiguidade
l) Petição de princípio (petitio principii)
m) Pergunta complexa

a. Apelo à autoridade irrelevante (Argumentum ad verecundiam).

O apelo à autoridade consiste no apelo ao sentimento nutrido por pessoas


famosas e reconhecidas visando, através desta atividade, garantir a concordância do
interlocutor com uma determinada conclusão.
Este recurso argumentativo nem sempre é falacioso. Recorrer à autoridade de
alguém para justificar uma conclusão que desejamos defender é uma prática
frequentemente encontrada nos trabalhos acadêmicos e científicos, quando, por
exemplo, citamos um autor dotado de reconhecida autoridade na área de
conhecimento na qual o trabalho está inserido.
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

Um argumento é falacioso quando apela a uma autoridade que não é


especialista no assunto em questão, ou seja, quando a autoridade é irrelevante para
a tese que se deseja defender. É extremamente válido utilizar um pensamento de
Albert Einstein em uma discussão sobre a ciência física, porém apelar ao cientista
para se defender uma tese na esfera das ciências políticas ou econômicas é um
recurso falacioso.
Esta falácia pode ser facilmente encontrada em campanhas publicitárias, onde
pessoas famosas testemunham a qualidade ou superioridade de um produto ou
serviço e não são autoridades relevantes no assunto em questão. Quando alguém
afirma que utilizará o cosmético X, tendo em vista que ele é melhor, pois foi defendido
por uma determinada artista, trata-se de uma falácia do apelo à autoridade irrelevante.
Outro apelo à autoridade que pode ser observado como falacioso, por ser
irrelevante, é o apelo à autoridade vaga, quando uma tese é atribuída a um coletivo
vago e genérico. Esta situação pode ser observada quando alguém afirma que uma
tese pode ser considerada verdadeira, pois ela foi defendida por cientistas de Harvard,
ou ainda quando as propagandas de creme dental afirmam que nove em cada dez
dentistas recomendam.
Contra-argumentar um apelo à autoridade irrelevante reside em mostrar que a
pessoa citada não é autoridade qualificada para defender a tese em questão ou,
então, demonstrar que muitas vezes é perigoso aceitar um posicionamento
simplesmente porque é defendido por uma pessoa famosa, o que pode nos levar a
um erro.

Exemplos:
✓ O candidato X é melhor para estas eleições, pois assim afirmou o cantor
Y, por quem eu tenho grande admiração.

✓ Professores alemães defenderam este posicionamento, portanto ele é


verdadeiro.

✓ O líder religioso X afirmou que a evolução das espécies não existe,


portanto Darwin estava errado.
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

b. Apelo ao povo (argumentum ad populum).

O apelo ao povo é identificado quando se defende que algo é verdadeiro, válido


ou melhor pelo simples fato de ter a concordância de um número considerável de
pessoas ou, ainda, a maioria. Este recurso argumentativo visa mobilizar os
sentimentos, as emoções e as paixões das pessoas através do entusiasmo da
multidão. Sigmund Freud, em um livro intitulado Psicologia das Massas e Análise do
Eu, refletiu como os indivíduos se comportam diferentemente sozinhos e “em bando”.
No argumentum ad populum, o recurso argumentativo é um convite para que o
interlocutor se sinta fazendo parte de uma massa ou de um bando. Incluem-se, aqui,
os boatos, justificados pelo fato de que todo mundo está dizendo determinada coisa,
o "ouvi falar", o "dizem por aí".
Crianças e adolescentes frequentemente tentam convencer suas mães e seus
pais, apelando à emoção, através do discurso de que precisam muito ir em um
determinado lugar porque “todo mundo vai”. Os pais, lógicos por natureza, contra-
argumentam muito bem quando indagam “se todos querem se atirar de uma ponte,
você também quer?”, ou, ainda, respondendo “mas você não é todo mundo”. Neste
sentido, observamos que contra-argumentar uma falácia de apelo ao povo consiste
em demonstrar que o fato de a maioria das pessoas ou um grande número delas
acreditar em algo não o torna necessariamente verdadeiro.

Exemplos:
✓ Dizem que um disco voador caiu em Minas Gerais, está todo mundo
comentando. Certamente é verdade.

✓ Havaianas é uma boa sandália, tendo em vista que todo mundo usa.

c. Apelo à ignorância (argumentum ad ignorantiam).

A falácia do apelo à ignorância é cometida quando assumimos que uma


afirmação pode ser considerada verdadeira pelo simples fato de que não há provas
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

ou evidências que defendam que ela seja falsa ou, então, que um enunciado pode ser
considerado falso, porque não podemos demonstrar que ele é verdadeiro. Nestes
casos, utilizamos a nossa ignorância, a falta de provas e de conhecimentos sobre
algo, para fundamentar uma conclusão. Trata-se de um recurso argumentativo
falacioso, pois a falta de conhecimento ou de provas não basta para estabelecer a
verdade ou falsidade de uma proposição.
Este recurso argumentativo não é falacioso somente em um tribunal de justiça,
tendo em vista o princípio jurídico de presunção da inocência, que supõe a inocência
dos indivíduos até que a sua culpabilidade possa ser demonstrada. No Brasil, este
princípio é previsto pelo artigo 5º, LVII, da Constituição de 1988, que afirma que
“ninguém será considerado culpado até trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”, o que pode ser também traduzido pela expressão “todo mundo é
inocente até que se prove o contrário”. Em outras circunstâncias, este recurso
argumentativo é falacioso.

Exemplos:
✓ Extraterrestres existem, tendo em vista que ninguém foi capaz de provar,
até hoje, que não existem.

✓ Deus não existe, pois não temos provas concretas de sua existência.

d. Apelo à misericórdia, à piedade (argumentum ad misericordiam).

A falácia do apelo à misericórdia é cometida quando apelamos para a piedade


ou a compaixão do interlocutor, visando a aceitação de uma determinada conclusão.
Neste recurso argumentativo, observamos, muitas vezes, uma fuga do assunto, o que
pode ser observado, por exemplo, em um tribunal de justiça, quando o advogado de
defesa deixa de lado os fatos analisados pelo processo e tenta conseguir a absolvição
do réu despertando a compaixão dos membros do júri.
Contra-argumentar esta falácia consiste em demonstrar que são questões
diferentes, que o que é invocado nada tem a ver com a proposição discutida e tomada
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

como conclusão ou, ainda, demonstrar que quem argumenta assim, apelando aos
sentimentos de piedade e misericórdia, ignora a questão discutida e foge do assunto.

Exemplos:
✓ Ele não pode ser condenado: é bom pai de família, contribuiu com a
escola, com a igreja, etc.

✓ Professor, eu não posso ficar de exame nesta matéria. Passei o final de


semana inteiro estudando e deixei de estar com a minha família no dia
do meu aniversário para conseguir estudar.

e. Apelo à força (argumentum ad baculum).

A falácia do apelo à força é cometida quando são realizadas ameaças, que


estimulam os sentimentos de temor e medo do interlocutor, apresentando
consequências negativas, desagradáveis ou assustadoras caso uma determinada
proposição seja aceita. Nestes casos, o argumento visa provocar a aceitação de uma
conclusão apelando para a força ou para a ameaça de força. Esta falácia, relacionada
com uma atitude de intimidação, é recorrentemente encontrada em ocasiões nas
quais os argumentos racionais fracassam. O argumentim ad baculum, ao invés de
apresentar evidências que possam, inclusive, justificar o sentimento de medo e,
consequentemente, justificar uma conclusão, utilizam ameaças, recursos retóricos ou
mentiras.
Contra-argumentar esta falácia consiste em demonstrar ao interlocutor que
apelar à força não é racional, que a emoção não tem relação com a verdade ou a
falsidade da proposição defendida como conclusão, o que faz com que uma ameaça
deixe de ser um argumento racional.

Exemplos:
✓ Você deve se enquadrar nas novas normas do setor. Ou quer perder o
emprego?
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

✓ É melhor exterminar os bandidos: você poderá ser a próxima vítima.

✓ Você precisa votar em meu candidato nas próximas eleições. Se o outro


candidato vencer, o país irá falir, os impostos vão aumentar e nós
estaremos perdidos.

✓ Você precisa tomar banho agora, menino. Caso contrário, você irá
apanhar.

f. Ataque à pessoa / Argumento contra o homem (argumentum ad hominem).

O argumentum ad hominem, traduzido como argumento dirigido contra o


homem ou ataque à pessoa, consiste no recurso argumentativo que visa atacar ou
desmoralizar a pessoa que faz uma afirmação ao invés de discutir seus argumentos
e a veracidade ou não do que ela diz. Neste processo, equivocadamente, pensa-se
que, ao se atacar a pessoa, pode-se enfraquecer a sua argumentação.
O caráter de uma pessoa não está diretamente relacionado com a verdade ou
falsidade do que ela diz. Um indivíduo perverso pode muito bem fazer uma afirmação
verdadeira ou raciocinar corretamente no âmbito da lógica, enquanto uma pessoa
considerada boa pode, por sua vez, apresentar equívocos em seu raciocínio ou dizer
uma afirmação falsa.
Chamar alguém de corrupto, nazista, ateu, ladrão, pedófilo, desonesto, dentre
tantas outras ofensas possíveis, não prova que as ideias destas pessoas estejam
erradas ou que suas afirmações sejam falsas. Neste sentido, contra-argumentar uma
falácia do ataque à pessoa consiste em demonstrar para o interlocutor que o caráter
da pessoa (ou até mesmo a reputação de uma empresa) não tem relação com a
proposição defendida por ela.

Exemplos:
✓ Não acreditem no que ele diz: ele é um beberrão, bate na mulher e tem
amantes.
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

✓ Toda a filosofia de Martin Heidegger deve ser ignorada, este filósofo


aceitou um cargo público durante o governo nazista.

✓ Esta afirmação é certamente falsa, tendo em vista que foi feita por um
comunista.

g. Falsa causa

A falácia da falsa causa pode ser identificada quando tomamos como causa de
um efeito algo que não é a sua causa real ou quando inferimos que um acontecimento
é causa do outro pelo simples fato de que são sucessivos, ou seja, de que o primeiro
é anterior ao segundo. Esta falha no raciocínio é cometida por uma falha na
compreensão do princípio de causalidade.
As superstições são frequentemente justificadas por falácias deste tipo.
Quando afirmo que não usarei uma determinada camisa durante o jogo do meu time
de futebol, pois sempre que uso esta roupa, o meu time perde, estou inferindo que a
camisa que visto é causa real da vitória ou da derrota do meu time de futebol. Desta
forma, podemos observar que a coincidência não é suficiente para estabelecer uma
relação causal.
A mesma falácia pode ser observada na crença de que certas substâncias
sejam eficazes para determinadas doenças, independentemente de provas
científicas. Posso tomar uma substância, um “chá milagroso” ou até mesmo um
medicamento que não seja indicado para a minha realidade, e os meus sintomas
podem desaparecer, mas isso não quer dizer que esta substância por mim ingerida é
causa do desaparecimento dos sintomas, pode ocorrer que, neste caso, seja apenas
uma coincidência ou uma sucessão temporal dos acontecimentos.

Exemplos:
✓ Não vou mais lavar o carro, pois chove toda vez que eu faço isso.
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

✓ Nota-se uma maior frequência de erros de português em sala de aula


desde o início das redes sociais e o uso do “internetês”. O advento das
redes sociais vem degenerando o uso do português correto.

✓ Comi uma torta de morango e a minha gripe passou.


Consequentemente, torta de morango é indicada para todas as pessoas
que estejam gripadas.

h. Apelo à tradição (argumentum ad antiquitatem)

A falácia do apelo à tradição pode ser observada quando utilizamos a


antiguidade como justificativa para a aceitação de uma conclusão. Neste recurso
argumentativo, vemos a ideia de que se algo foi válido e fez sentido por muito tempo,
certamente continuará sendo. Do mesmo modo, ao abordarmos a qualidade de
alguma coisa, esta falácia parte do pressuposto de que algo tradicional foi utilizado
um número muito maior de vezes, por muitas pessoas, e isso atestaria a sua qualidade
no momento presente. Quando afirmamos que um restaurante é muito bom, pois
funciona desde o século passado, estamos supondo que a sua qualidade pode ser
atestada por sua antiguidade e não por outras características que fazem com que um
restaurante seja considerado bom ou não.
Contra-argumentar o apelo à tradição consiste em demonstrar ao interlocutor
que a antiguidade de algo ou de uma ideia não é suficiente para atestar que algo seja
bom ou que a ideia seja válida e coerente.

Exemplos:
✓ Os salários dos homens sempre foram maiores que os das mulheres.
Em vista disso, seguiremos com esta prática em nossa política de
remuneração.

✓ Este restaurante funciona no bairro desde o século passado, portanto


sua comida deve ser maravilhosa.
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

i. Apelo à novidade (argumentum ad novitatem)

A falácia do apelo à novidade está diretamente relacionada com a falácia do


apelo à tradição. Enquanto a segunda utiliza a antiguidade como justificativa para a
aceitação de uma tese, a primeira utiliza, por sua vez, o fato de algo ser novo ou mais
recente como fundamento para a aceitação de uma conclusão. A relação entre estas
duas falácias corroboram para que possamos perceber que estas duas formas de
raciocinar são falhas: não podemos afirmar que algo é válido pelo simples fato de ser
novo, tendo em vista que, por outro, lado poderíamos dizer que algo é válido pelo
simples fato de ser antigo.
Este recurso argumentativo é alimentado pela ilusão do progresso, a crença de
que estamos em constante evolução e que sempre progredimos. Os benefícios da
inovação tecnológica são frequentemente justificados através de apelos à novidade,
como podemos observar nas campanhas publicitárias de aparelhos eletrônicos que
trazem o novo sempre como o melhor pelo simples fato de que é o modelo mais
recente e, portanto, mais inovador.

Exemplos:
✓ Saiu a nova geladeira Pólo Sul. Com design moderno, arrojado, ela é
perfeita para sua família, sintonizada com o futuro.

✓ O meu time irá ganhar o campeonato. O novo técnico certamente fará


uma revolução.

j. Generalização apressada

A falácia da generalização apressada pode ser observada quando casos


particulares extraordinários são utilizados para justificar uma conclusão que abarque
uma questão em geral.
O recurso da generalização é frequentemente utilizado para se compreender e
caracterizar todos os casos de um certo tipo e a observação da totalidade é
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

impossível. Nestes casos, selecionamos uma amostra representativa que nos permita
obter uma conclusão sobre a questão observada. Porém, segundo Copi (1968, p. 83),
os casos examinados “devem ser típicos e não atípicos”.
Este recurso se torna falacioso quando os casos considerados são
excepcionais e a conclusão é afirmada precipitadamente. A generalização apressada
parte de uma amostra pouco ou nada representativa do todo, considerando poucos
indícios, para se obter uma conclusão universal sobre a totalidade de casos dos quais
as amostras não representativas foram selecionadas.

Exemplos:
✓ João abusou de bebida alcoólica e passou muito mal.
Consequentemente, bebidas com álcool fazem mal para todas as
pessoas que bebem.

✓ Conheci três alunos de Publicidade e Propaganda e eles são magros e


altos. Portanto, pessoas magras e altas tendem a escolher Publicidade
e Propaganda como curso de graduação.

k. Falácia de ambiguidade

A falácia de ambiguidade consiste em um erro inferencial originado por um


equívoco causado pelo uso ambíguo da linguagem. As palavras podem ter diferentes
significados. Um “ponto” pode ser o lugar onde se espera o ônibus, o benefício
recebido por uma ação vitoriosa em um jogo, o sinal utilizado ao final de uma frase
em um discurso escrito, a nota negociada por muitos alunos em uma avaliação, dentre
outras coisas; uma “manga” pode ser uma fruta ou a parte de uma camiseta; uma
“pena” pode ser o revestimento do corpo das aves ou uma punição prevista no âmbito
jurídico.
Em um argumento, esperamos que o sentido de uma palavra seja mantido ao
longo do raciocínio e que a mesma palavra seja utilizada com o mesmo significado
tanto nas premissas quanto na conclusão. Quando um termo é empregado em mais
de um sentido no mesmo argumento, podemos nos deparar com um equívoco lógico.
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

Desta forma, a falácia de ambiguidade apresenta a mesma palavra em sentidos


diferentes no decorrer da argumentação, fazendo com que a ambiguidade contribua
para que se afirme uma conclusão equivocada.

Exemplos:
✓ A disputa foi decidida entre a menina e o menino. Aquele que derrubar
o outro vence. Derrubou o menino a menina. Portanto, a menina é a
vencedora.

✓ As mangas são comestíveis. E nessa camisa há duas mangas. Assim,


vou alimentar-me dessa camisa.

✓ O fim de uma coisa é a sua perfeição; a morte é o fim da vida; logo, a


morte é a perfeição da vida.

l. Petição de princípio (petitio principii).

A falácia da petição de princípio é cometida quando tentamos estabelecer a


verdade de uma conclusão através de uma premissa que apresente o mesmo sentido
da afirmação que se deseja defender. Neste caso, observamos um raciocínio circular:
“X porque X”.
Se as duas proposições – premissa e conclusão – fossem elaboradas com as
mesmas palavras, do mesmo modo, a falha argumentativa seria extremamente visível
e ninguém seria por ela enganado. O que acontece é que, na maioria das vezes em
que esta falácia pode ser observada, as duas formulações são diferentes na maneira
como se estabelecem, porém abarcam o mesmo sentido ou significado.

Exemplos:
✓ Roubar não é uma atividade moralmente certa; logo roubar é
eticamente errado.
Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

✓ A luta livre é um esporte arriscado e abalável. Logo, a luta livre é um


esporte perigoso.

m. Pergunta complexa

As perguntas complexas são perguntas que não podem ser respondidas


simplesmente com sim ou não, tendo em vista que elas pressupõem que uma resposta
definida a uma pergunta anterior já foi dada. Neste sentido, podemos dizer que a
pergunta complexa é um recurso argumentativo falacioso utilizado frequentemente em
um diálogo para induzir o interlocutor a concordar com uma afirmação que por ela está
sendo pressuposta.
Quando, em um tribunal de justiça, pergunta-se para um indivíduo que está
sendo acusado por um crime “onde você escondeu as provas do crime?”, esta
pergunta parte dos pressupostos que este indivíduo cometeu o crime, que o crime
deixou provas e que as provas foram escondidas. Uma professora de educação
infantil, ao perguntar para uma criança se ela quer ser uma criança boa e realizar toda
a lição, apresenta uma indagação que carrega o pressuposto de que fazer a lição é
condição para ser uma criança boa.
Contra-argumentar a falácia da pergunta complexa consiste em demonstrar
que existem duas proposições envolvidas na pergunta em questão e que uma pode
ser aceita e outra não. Do mesmo modo, podemos também desfazer a pergunta
complexa através de um diálogo racional, demonstrando os pressupostos nela
escondidos.

Exemplos:
✓ Você já abandonou seus maus hábitos?

✓ Você já deixou de roubar no mercado onde trabalha?


Raciocínio Lógico e Analítico
Prof. Dr. Luiz de Camargo Pires Neto

BIBLIOGRAFIA:

ALMOSSAWI, Ali. O livro ilustrado dos maus argumentos. Trad. Leila Couceiro. São
Paulo: Sextante, 2017.

COPI, Irving. Introdução à Lógica. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1968.

NOLT, John e ROHATYN, Dennis. Lógica. Trad. Leila Zado Puga e Mineko
Yamashita.

SACRINI, Marcus. Introdução à análise argumentativa: teoria e prática. São Paulo:


Paulus, 2016.

Você também pode gostar