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SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA

Para Labov, a língua não se 'localiza' na mente de seu falante, mas no seu uso
por uma comunidade de falantes" (FIORIN, 2013). Isso quer dizer que as
variações linguísticas decorrem não somente de fatores linguísticos, mas de
uma ação sócio/histórico/cultural.
Além da questão da variação, a Sociolinguística, de forma geral, também se
preocupa com os temas relacionados ao preconceito linguístico, mobilidade e
estigma social. Um estudo sociolinguístico visa à descrição estatisticamente
fundamentada de um fenômeno variável, tendo como objetivo analisar,
apreender e sistematizar variantes linguísticas usadas por uma mesma
comunidade de fala. Para tanto, calcula-se a influência que cada fator, interno
ou externo ao sistema linguístico, possui na realização de uma ou de outra
variante. Ao formalizar esse cenário, a análise sociolinguística busca
estabelecer a relação entre o processo de variação que se observa na língua
em um determinado momento (isto é, sincronicamente) com os processos de
mudança que estão acontecendo na estrutura da língua ao longo do tempo
(isto é, diacronicamente).
A Sociolinguística Variacionista tem seu foco na descrição estatística de
fenômenos variáveis, tal descrição permite observar de forma criteriosa a
interferência de fatores linguísticos e não linguísticos na realização de
variantes.
O modelo laboviano considera que variação linguística é uma condição do
sistema linguístico e afirma que as variantes da língua não são aleatórias, mas
possuem certa regularidade e estão sempre relacionadas a fatores sociais. Tal
modelo teórico-metodológico permite a compreensão das estruturas variantes
existentes na língua e a observação dos mecanismos que regem as variações
e as mudanças na língua, considerando a língua em seu contexto social e
cultural, uma vez que as explicações para os fenômenos variáveis provêm de
fatores internos ao sistema linguísticos e de fatores externos a ele
Entendendo a variação linguística como um princípio geral e universal das
línguas, passível de ser descrita e analisada, a sociolinguística pressupõe que
toda variação é motivada tanto por fatores internos ao sistema linguístico, ou
seja, toda variação linguística está relacionada a fatores linguísticos e sociais,
quanto por fatores externos a ele.
São vários os fatores externos que atuam na seleção de uma variante: a classe
social, a idade, o sexo, a escolaridade, a profissão, o local de moradia, entre
outros. Todos esses fatores estão associados aos padrões de comportamento,
essa associação, que varia de acordo com o tempo e o lugar, é refletida na
linguagem.
Um estudo de base sociolinguística traz duas grandes contribuições: a
primeira delas é a possibilidade que se tem de se tomar a língua como um dos
marcos da compreensão da configuração social das comunidades. A segunda
contribuição vem influenciar diretamente o ensino: indicar soluções ou
melhoramentos quanto ao ensino da língua materna, ajudando a diminuir os
problemas enfrentados nessa área.
O sistema educacional brasileiro vem sofrendo mudanças gradativas quanto
ao ensino da língua materna, no entanto, ainda é possível afirmar que a
escola não reconhece por completo a realidade heterogênea da língua e
ainda se atenta apenas à propagação da língua cultivada pela tradição
gramatical, trabalhando a Língua-Padrão como única possibilidade de acerto,
excluindo as demais variantes, rotulando-as como erros ou desvios.
Através de trabalhos de descrição linguística, a Sociolinguística variacionista
tem trabalhado junto à educação, modificando conceitos tradicionais de
transmissão da Norma Culta do Português Brasileiro. Em outras palavras, a
Sociolinguística tem conscientizado a escola em favor de um trabalho que leve
o educando a conhecer e usar a norma culta da língua portuguesa de forma a
acrescentá-la ao português que já possuía. Nessa visão de ensino, é tarefa da
escola instruir os falantes de português não-Padrão, habilitando-o ao uso
da norma culta, sem segregação linguística, mostrando ao aluno quando
uma forma ou outra deve ser utilizada, fazendo adaptação ao grau de
formalidade, circunstância, ou estilo, por exemplo.
A escola não reconhece a heterogeneidade da língua quando continua a
perpetuar o mito de que somos um país privilegiado, pois do ponto de
vista linguístico tudo nos une e nada nos separa. Segundo Dias (1996),
a escola segue sendo replicadora da língua cultivada pela tradição
gramatical.
Sem dúvida, qualquer trabalho que possa surgir aproximando visão
sociolinguística e educação, é decorrência de estudos que gerem a
possibilidade de se verificar que a língua é, sem dúvida, um dos pilares da
compreensão da configuração social das comunidades.
No que diz respeito ao ensino de Língua Portuguesa, é com base em
pressupostos da Sociolinguística que os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) propõem a participação crítica do aluno diante das variedades
linguísticas inerentes a qualquer idioma. Muito embora haja alguns
movimentos em direção à realização das propostas sociolinguísticas
registradas, são raras as realizações escolares práticas e efetivas.
Quando a escola, de um modo geral, realiza algum trabalho, a impressão que
se tem é que variação linguística é um fenômeno que só atinge as
classes menos favorecidas, as variantes mais estigmatizadas da língua.
Ou ainda que variação linguística ocorre de forma geograficamente restrita:
o interior do país.
Para que haja uma educação de qualidade, é preciso que um dos
objetivos do ensino sistemático seja o desenvolvimento do caráter
discursivo no educando, e é baseado nesse pressuposto que os
Parâmetros Curriculares Nacionais se pautaram para afirmar que “...o
estudo da variação cumpre papel fundamental na formação da
consciência linguística e no desenvolvimento da competência discursiva do
aluno, devendo estar sistematicamente presente nas atividades de Língua
Portuguesa” (PCN, 2001, p. 81-82)
No Brasil, já é possível observar um movimento bastante favorável em
caminho da aceitação da existência da heterogeneidade linguística.
Amparados pelos encaminhamentos do PCNs (atual bncc), são vários os
profissionais de ensino tentam adaptar suas aulas a uma nova realidade:
aquela que admite o que aparece em negação aos padrões de língua
homogênea e invariável.
Vale, ainda, lembrar que os PCN (atual bncc) já incorporam a visão
sociolinguística da língua, ou seja, um ensino pautado na existência variação
linguística, descartando uma visão de homogeneidade. O Ensino eficaz e
moderno da língua exige uma mudança de postura por parte da escola e dos
profissionais de ensino: é preciso se livrar de alguns mitos que
perpassam as práticas educacionais.
É preciso ir além das regras gramaticais: o aluno deve ser capaz de
um processo reflexivo. Ao compreender a necessidade de aquisição do
padrão mais formal tanto na oralidade quanto na escrita, é preciso que o
educando seja capaz também de compreender que todas as variantes
linguísticas são legítimas, próprias da história e da cultura de um povo. Para
essa compreensão, o contato com as formas variantes e a identificação
de seus diversos contextos será um bom ponto de partida.
Além de um contato com as demais variantes e de uma prática
reflexiva, o aluno precisa ter claro que todo falante nativo faz variação de
estilo em sua fala, modificando-a de acordo com o contexto em que está
inserido, com seu interlocutor, objetivo, situação, etc. ao optar por uma fala ou
escrita formal, não pode ser diferente: é preciso que se tenha clareza dos
objetivos de uso, das situações, do interlocutor, etc.

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