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Razées da nova arquitetura 1934 Programa para um curso de pés-gradua- ito do Instituto de Artes dirigide por Cel- so Kelly na antiga Universidade do Dis- trito Federal, criada por Audsio Teixeina Gem parisien ainda de Miro de Andrade, Gilberto Freyre, Prudente de ‘Moraes Neto, Sergio Buargue de Holand, Partinari, Celio Antonio ¢ outros. Transcreva este longo texto como um documento de época que revela o clima de “guerra santa” profisional que marcou agus 0 inicio da revolugao arguitetonica Risser, asa mas ea formagoes sucessivas por que tem passado a sociedade, os perfodos de transigao se tém feito notat pela incapacidade dos contemporaneos no julgar do vulto e alcance da nova realidade cuja marcha pretendem sistematicamente deter. A cena 6,entio, invariavelmence a mesma: gastas as ene gias que mantinham 0 equiltbrio anterior, rom- pida a unidade, uma fase imprecisa e mais ou menos longa sucede, até que, sob a atuacio de forcas convergentes, a perdida coesio se restitui ¢ novo equilibria se estabelece. Nessa fase de adap- tagio, a luz tonteia e coga os contemporineos — tumulto, incompreensio: demoligzo suméria de tudo 0 que precedes negagio intransigente do pouco que vai surgindo — iconoclastas & iconolatras se degladiam. Mas, apesar do at enre confuso, o novo ritmo vai, as poucos, mar- eando ¢ acentuando a sua cadéncia, ¢ 0 velho es pitito ~ vansfigurado ~ descobre n tureza e nas verdades de sempre, encanto impi visto, desconhecido sabor, resultando dat formas novas de expressio. Mais um horizonte et surge, claro, na caminhada sem fim. tamos vivendo, precisamente, tm desses pe- riodos de transigio, cuja importincia, porém, ul- trapassa — pelas possibilidades «le ordem social que encerra— todos aqules que. precederam. As trans- formagdes se processam tao profundase radicals que a propria aventura humanistica do Renascimento, sem embargo do seu extraordinario aleance, alvez venhaa parecer posteridade, diance delas, um sim- ples jogo de intclecruais requintados. ‘A cegueira é ainda, porém, tio completa, os argumentos “pré” ¢ “contra’ formam emaranha- do tao caprichoso, que se afigura a mui possivel surgir, de tantas foras contrérias, resul- tante apreciivel; julgando outros simplesmente chegado — pois nao perde a linha o pessimismo © ano mil da arquitetura, As construgoes atuais refletem, fielmente, em sua grande maioria, essa compleca falta de rumo, de ratzes (1934). Deixe- mos, no entanto, de lado essa pseudo-arquitetu- ra, cujo tinico intetesse € documentar, objetiva- mente, o incrivel grau de incompreensio a que chegamos, porque ao lado dela existe, jd perfe mente constituida em seus elementos fundamen- tais, em forma, disciplinada, toda uma nova téc nica construtiva, paradoxalmente ainda & espera da sociedade & qual, logicamente, deverd perten- cer, Nao se trata, porém, evidentemente, de ne- nhuma antecipacio miraculosa. Desde fins do século XVIL e durante todo o século passado, as ‘experigncias ¢ conquistas nos dois terrenos, se vem somando paralelamente ~ apenas, a natural rea- gio dos formidaveis interesses adquiridos entra you, de certo modo, a marcha uniforme dessa cyolucao comum: daf esse mal estar, esse desa~ cordo, essa falta de sincronizagao que por mo- mentos se observa, ¢ faz lembrar as primei tativas do cinema sonoro, quando, com a boca jd falando, o som ainda corria atrds. | Conquanto seja perfeitamente possivel ~ comoo provam tantos exemplos — adaptara nova arquitetura as condig6es atuais da sociedade, nvio & todavia, sem consteangimento que cla se sujei~ ta a essa conttafragao mesquinha. Esta curiosa desarticulagio mostra avs espiritas menos preve- nidos quio proximos, na verdade, jé nos acha- mos, socialmente, de uma nova mite au paint, pois © nosso “pequeno drama” profissional esta indissoluvelmente ligado 20 grande drama social “esse imenso “puzzle” que se veio armando paci- entemente, pega por peca, duranie todo 0 século passado ¢, neste comego de século, se continua a armar com muito menos paciéncia, nao nos per- mitindo as pegas que ainda faltam a seguranga de afirmar se € mesmo de um anjo sem asas que se trata, como querem uns, ou, como asseveram ‘outros igualmente compenetrados ~ de um de- ménio imberbe. Paira, com efeico, nos arraiais da arte, como nos demais, grande preocupagio, Os grunhidos do lobo se tém feito ouvir com desoladora insi téncia, correndo a propésito boatos desen- contrados, alarmantes. A atmosfera é de apreen- ses, como se o finn do mundo se aproximasse, ‘cada qual se apressando em gozar os tilsimos ins- tantes de evasio; escrevendo, pintando, esculpin- do.astiltimas folhas, teas ou fragmentos de emo- ‘Gio desinteressada, antes da opressio do curral ue se anuncia com a humilhagio do mergulho “carrapaticid” Fm momentos como este, pouco adianta fa- lara rardo: ndo apenas porque nenhuima atengio sera prestada a quem nao gyite, como porque ~ alguém acaso escutando ~ muito se arrisca ser vaiado, Ninguém se entende: uns, impressionan- temente proletdrios, insistem cm restringir a arte aos contornos sintetizadores do cartaz de propa~ ganda, negando interesse a tudo que no cheire a Suof; outros eminentemente estctas, pretendem conservicla em atitude equivoca ¢ displicente entre nuvens aromiticas de incenso. ‘Como sempre, nto entanto, a verdade nao se vexa: além da béngae do sorriso branco, to- dos tém 0 seu bocado no colo opulento ¢ aco: Ihedor da boa baba. Ponhamos, pois, os pontos nos fi. F livre a arte; livres sio os artistas; a receptividade deles é, porém, tio grande quan~ co a ptdpria liberdade: apenas estoura, distante, tum petardo de festims, ¢ logo se artepiam, con- tos de emogio, Esta dupla verdade esclarece imnita coisa, Assim, todasas vezes que uma gran- de idéia acorda um povo ou, melhor ainda, par te da humanidade — sendo, propriamente, a hu- manidade coda — 0s artistas, independentemen- te de qualquer coagao, inconscientemente quua- se, € precisamente porque sio artistas, captam essa vibragio coletiva ea condensam naguilo que se convencionou chamar obra de arte, seja esta de que espécie for. Sao antenas, embora nem sempre sejam as melhores, os que de melhor téc- nica dispoem. Nao h4 como recear pela tranquilidade das geragbes futuras. As “revolu {Gées" — com os seus desatinos ~ so, apenas, © meio de yencer a encosta, levando-nos de um plano jé drido a outro, ainda fértil. Conquanto esse fato de vencé-la em lua possa consticuir, Aqueles espiritos irrequictos ¢ turbulentos que avocam a sia pitoresca condigio de “revolucio- nirios de nascenga’, 0 maior ~ quigé mesmo 0 Linico ~ prazer, 2 nds outros, espiritos normais, 20s gulais 0 rumoroso sabor da aventura nao sa tisfaz, interessa exclusivamente como meio pe noso de alcangar outro equilibrio, conforme com a nova realidade que, inelucavel, se impoe ‘Atingida a necessizia estabilidade, estara cumprida a sua tinica missio: vencer a encosta. Postos de lado os petzechos vermelhos da escala- da, a nova idéia, jé entao suficientemente difun- dida, & 0 proprio ar que se respira, ¢, no gaz consciente da nova alegria conquistada, unissona, ‘comeca, em coro, a verdadeira ascenséo: movi ‘mento legitimo, de dentro para fora, © no 0 in- ‘verso, coo s¢ receia. Nesses raros momentos fe- Tizes, densos de plenitude, a obra de arve adquire um rumo preciso ¢ undnime: arquitetura, escul- ura, pintura, formam um. corpo cocso, um “organismo vivo de impossivel desagregagio. Con- nuando, porém, asubida, a tensio comungadora sc afrouxa, 08 espititos e 0S Corpos potica a poUico relaxam, até que 0 af tarefeivo, nao mais satishaz, forcando ao recurso extremo dos bales de oxige- nio da vida interior, ~ onde tudo, exaspera- damente, se consome. Entdo, pintura c escultua se desintegram do conjunto arquitet6nico: das vigorosas alirmagies murais cheias de flego, a pintura aos poucos se isola nas indagagées sutis da tcla; da massa con tinua e anénima dos baixos-relevos a figura pra dualmente se afasta, até se soltar, livre de qual- quer amparo, pronta para os requebros e desva~ rios do drama. Desde os tempos primitives vem a socieda: de sofiendo modificagoes succssivas ¢ periédicas, numa permanente adaptacio das regras do seu jogo as novas circunstincias e condiges de vida. Essa série de reajustamentos, todas essas arruma- es sociais mais ou menos vistosas tiveram, po- rém a marcé-las um trago comum: esforgo mus- cular e trabalho manual. Fsta constante em que se bascou toda a economia até 0 século passado, também limitou as possibilidades da arquitetura, attibuindo-se, por forga do habito, aos processos de consteugio até entao necessariamente empre- gados, qualidades permanentes ¢ todo um for- mulirio ~ verdadeiro dogma ~ a que a tradigio outorgou foros de eternidade, E, entretanto, facil discernit, na anilise dos intimeros ¢ admiriveis exempios que nos ficaram, duas partes independentes: uma permanente eaci ma de quaisquer consideragées de ordem técni- ca; outra, motivada por impasigdcs desta dltima, juntamente com as do meio social efsico. Quanto primeira, prende-se a nova arquitetura &s que jl passaram, indissoluvelmente; e nenhum conta- to com clas tem quanto a segunda, porquanto variaram completamente as raz6es que The davam. sentido, ¢ 0 proprio fator isico-ambiente — dlti- mo trago de unido que ainda persistia com ares de irredutivel ~ ja hoje a técnica do condiciona- mento dear neutraliza, e, num fucuro muito prd- ximo, poderé anular por completo. Dos tempos mais remotos até o século XIX, aarte de construir ~ por mais diversos que pos- sam ter sido os seus processos, e embora passan- do das formas mais rudimentares as mais requin- tadas — servi invariavelmente dos mesmo ele- mentos, repetindo, com repularidade de pendu- Jo, os mesmo gestos: 6 cantciro que lavra a sua pedra, o oleiro qu jolo, © pedreiro ue, um a um, convenientemente os empilha. As corporagdes ¢ familias transmitiam, de paia filho ‘os segredos c minticias da técnica, sempre circtuns- sdo material empregado e& cerita as poss habilidade do artifice, por mais alado que possa ter sido 0 engenho. ‘A méquina ~ com a grande indiistria — veio, porém, percurbar a cadéncia desse ritmo imemorial, tornando a principio possivel, jd ag ra, sem rodeos, oalargamento do circulo ficticio em que, como bons perus cheios de dignidade, ainda hoje nos julgamos aprisionados. Assim, a crise da arquitetura contemporsinea, como a que se observa em outros terrenos, € 0 cfeito de uma causa comum: o advento da mdquina. E pois natural que, resultando de premissas tao diver- sas, cla seja diferente, quanto ao sentido e & for ma, de todas aquelas que precederam, o que no a impede de se guiar ~ naquilo gue clas tém de permanente ~ pelos mesmos principios e pelas ‘mesmas leis. As cassificacdes apressadas ¢ estan- ques que pretendem ver nessa metamorfose, na- turalmente dificil, iremediivel conflito entre pasado e futuro, sio descituidas de qualquer sig nificado real, Se ainda nao facil, porém, a espi- ritos menos avisados apreender, na arquitetura, 0 verdadeiro sencido dessa cransformacio a que nao poderemos fugit, a evolugio dos meios de trans- porte, impelida pela mesina causa, mostra toda a sua significagio, de maneita clara e sem sofismas, nos resultados surpreendentes a que chegou, muito embora ja nada disso nos espante, tao fa- iliarizados estamos com essa forma corriqueita de “milagre” Convém, todavia, insistir, ndo pelo fato em si —cuja imporeancia é evidentemente relativa ~ mas pelo extraordinrio alcance humano que en- cerra. Desde 0 dia memoravel em que 0 homem conseguiu domar a primeira besta, até dia igualmente memorivel ~ em que se consegt locomover com a simples ajuda do préprio enge- tho, a arquitetura dos carros e barcos embora vatiasse, passando da mais tosca ¢ ineémoda & ais elegante e confortivel, conservou-se subor- dinada 0 argumento de possibilidades limitadas, cembora convincente, do chicote, ¢ aos favores in- certos da bisa, No entanto, em menos de cem anos de trabalho, a maquina nos trouxe das pri imeiras tentativa, ainda presas & idéia secular do animal e da vela, aos espécimes atuais jé comple- tamente libertas de qualquer saudosismo, ¢ a0s quais a nossa vista prontamente se habitua eiden. Lica, ~ainda que seja de bom tom, nestes assun- tos, certa atitude de afetada displicéncia O nosso interesse ~ come arquiretos — pela ligio dos meios de transporte, a teimosa insistén- cia com que nos voltamos para esse exemplo, € porque trata dc criagdes onde a nova técnica, en- carando de frente 0 problema e sem qualquer es- pécie de compromissos, disse a sua palavea des- cconhecidla, desempenhando-se da tarefa com sim plicidade, clareza, elegincia ¢ economia A arquitetura ter$ que passar pela mesma prova. Ela nos leva, é verdade, além — é preciso nao confundir— da simples beleza que resulta de um problema tecnicamente resolvido; esta & po- rém, a base em que se tem de firmat, invatiavel- mente, como ponto de partide De todas as artes 6, todavia, a arquitetura em razao do sentido eminentememte utili social que ela tem — a dinica que, mesmo naqu les perfodos de afrouxamento, nao se pode per- itis, sendo de forma muito particular, impulsos individualtsicos. Personalidade, em tal macéria, se nGo propriamente um defeito, deixa, em todo caso, de ser uma recomendagio, Preenchidas as exigéncias de ordem social, écnica ¢ prética a que necessatiamente se tem de cingir, as oportunida des de evasio se apresentam bastante restritas: € sc, em determinadas épocas, certos arquitetos de génio revclam-se aos contemporincos desconcertantemente originais (Brunellesco no comego do século XV, atualmente Le Corbusier), isto apenas significa que neles se concentram em um dado instante preciso, cristalizando-se de maneira clara e definitiva em suas obras, as possi- bilidades, até entio sem rumo, de uma nova ar- quitctura. Daf nao se infere que, tendo apenas talento, se possa repetira faganhas a tarefa destes, como a nossa ~ que niio temos nem um nem outro limita-se em adapti-las as imposigées de uma realidade que sempre se transforma, respeitando, porém, a trilha que a mediunidade dos precus: tes revelou Ainda cxiste, ne cntanto, presentemente, completo desacordo entre a arte, no sentide aca- déimico, e a técnica: a tenacidade, a dedicacio, a intransigente boa fé com que tantos arquitetos = mogos e velhos ~ se empenham 3s cegas por adaptar num impossivel equiltbrie a arquiterura que Ihes foi ensinada as necessidades da vida de hoje ¢ possibilidades dos atuais pracessos cons- trutivos, causa pena; chega mesmo a comover 0 cuidado, 2 prudéncia pudica, os prodigios de engenho empregados para preservar, no triste contato da realidade, a suposta reputagto da donzela arquitetura. Um verdadeiro reduto de batalhadotes apaixonados ¢ destemerosos se for- ‘mou em tomo & cidadela sagrada, e, penacho 20 vento, pretende defender, contra a sanha birba- ra da nova técnica, a pureza sem macula da deu- sa inatingivel Todo esse augusto alarido resulta, porém, de uum equivoco inicial: aquilo que os senhores aca démicos ~ iludidos na propria f€ — pretendem conservar como a deusa em pessoa, nao passa de uma sombra, um sirmulacros nada tem a ver com © oFiginal do qual é apenas o arremedo em cera. Bla ainda possui aquilo que os senhores académi cos ja perderam, © continua a sua eterna € comovente aventura, Mais tarde, enternecidos, ‘os bons doutores passaro uma esponja no passa- do ¢ accitario, como leg{cima herdeira, esta que jaéuma garota bem esperta, de cara lavada e per- na fina. E pucril o receio de uma secnocracia; nao se trata do monstro causador de tantas insénias em cabegas ilustres, mas de animal perfcitamente domesticivel, destinado a se transformar no mais inofensivo dos bichos caseiros. Especialmente no que diz respeito ao nosso pais, onde tudo ainda esti praticamente por fazer, ~ ¢ tanta coisa por desmanchar ~, e cudo fzemos mais ou menos de ouvido, empiricamente, profligar eenxotara téc nica com receio de uma furura e problemética hipertrofia, parece-nos, na verdade, pecar por excesso de zelo. Que vena e se alastre despertan- do com a sua asperera e vibragio este nosso jeito desencantado e lerdo, porquanto a maior parte ~ apesar do ar pensativo que tem — no pensa, & mesmo, em coisa alguma, Seja como for, nao sendo cla um fim, mas, simplesmente, 0 meio dealcangéclo, nao the cabe 6 beneficins porventura obtidos nem n cortespondido aos prejuizos causa- dos, mas aqueles que a fe. nas maos. E, neste particular, o exemplo dos BUA, ~ onde, num res peitoso triburo A Arte, as escrucuras mais puras deste mundo sio religiosamente recobertas, de cima abaixo, por simullaceas de todos os detritos do pasado — € tipico. (1934) Enguanto os engenhciros americanos elevam uma altura nunca dantes atingida as impressio- nantes afirmagdes metélicas da nova técnica, os arquitetos americanos ~ vestindo as mesmas rou- pas, usando os mesmos cabelos, sorrisas ¢ ch: péus, porém desgostosos com o pasado pouco monumental que os antepassados legaram, ¢ sem nada compteender do instante excepcional que estamos vivendo~embarcam para Europa, onde tranguilamente sc abastecem das inais falsas e incriveis estilizages modernas, dos mais variados ¢ estranhos documentos arqueolégicos, para sgrudélos ~ com o melhor cimento ~ aos arca- bougos impassfveis, conferindo-thes assim a de- sejada dose de “dignidade”. No entanto, os “velhos” curopeus, farcos de uma heranga que os oprime, caminham para a frente, fizendo vida nova & propria custa, apro- veitando as possibilidades do material e da pro- digiosa técnica que os “jovens” americanes nio souberam utilizar. Assim, com vinte séculos de incervalo, a histéria se repete. Os romanos — admiriveis en. genheiros ~ servindo-se de alvenaria e concee To, ergueram, gracas aos arcos ¢ abébadas, es- truturas surpreendentes: no pereeberam que a dois passos estava a arquiretwra; apelaram para 2 Grécia decadente, revestindo a nudez sadia dos seus monumentos com uma crosta de co- Junas ¢ platibandas de mérmore ¢ travertine, — vestigios de am sistema construtivo oposto. E foram precisamente os gregos em Bizincio Santa Sofia — que aproveitaram, tirando-the todo o partido da extraordinaria beleza, a nova técnica. Allis, existem outras curiosas afinidades en- tre americanos e romanos, esses dois povos tio afastados no tempo: a coragem de empreende: arte de organizar, a ciéncia de administrar; a.va- riedade das racas; a opuléncia dos centros cfvi- cos; 0s estédios € certa ferocidade esportiva; 0 pragmatism; 0 mecenismo; o gosto da popula. ridade, a mania das recepgSestriunfais e mo, 0 prdprio jeito dos scnadores — tudo os apro- xima, Tudo 0 que o romano tocava, logo tomava ares romanos; quase todas quic attavessam o cone tinente saem carimbados: “USA.” A nova técnica reciama a revisio dos valores plisticos tradicionais. © que a caracteriza, de certo modo comanda a tansformagao 1adical de todos 05 antigos processos de construgio, — é a osstura independente. Tradicionalmente, as pate des, de cima abaixo do edificio cada vee mais es pessas até se exparramarem solidamente ancora das ao solo, desemmpenharam fungao capital: for- mavam a propria estrutura, o verdadeiro suporte de toda fibrica. Um milagre veio, porém, liberi Jas dessa carga secular, A revolugzo, imposta pela nova tecnologia, conferiu outra hierarquia aos clementos da construgio, destimuindo as paredes do pesado encargo que thes fora sempre atrib do, A nova fungio que lhes foi confiada — de sim. ples vedayzo ~ oferece, sem os mesmos riscos & preocupacies, outras comodidades. Toda a responsabilidade foi transferida, no novo sistema, a uma ossatura independeate, po: dendo tanto ser de concreto armado com metili- «a. Assim, aquilo que foi ~ invariavelmente ~ uma espessa parede di ras devenas de séculos, pode, em algumas dezenas de anos, transformar- se (quando convenientemente orientada, bem entendido: sul no nosso caso) em una simples Jimina de cristal Parede ¢ suporte representam hoje, portan- to, coisas diversas; duas fungées nitidas, incon- fandiveis. Diferentes quanto a0 material de que se constituem, quanto 3 espessura, quanto aos fins, tudo indica e recomenda vida independente, sem qualquer preocupagio saudosista cfalsa superpo- sigao. Fabricadas com materiais leves, 1 prova de som e das variagées de temperatura, livres do en: cargo rigide de suportar, deslizam ao lado das impassiveis colunas; param a qualquer distinc condulam acompanhando © movimento normal do tréfego interno, permitindo outro rendimen- to 20 volume construido. F esce 0 segredo de coda a nova arquietu- 1a, Bem compreendido o que significa essa in dependencia, temos a chave que permite alean ‘gar, em todas as suas particularidades, as inten qGes do arquiteto moderno: porquanto foi els © ampolim que, de raciocinio em raeiocinio, 6 trouxe as solugdes atuais ~ © no apenas no | | que se relaciona & liberdade de planta, mas, ainda, no que respeita 4 fachada, jd agora de hominada “livre”: pretendendo-se signi com essa expresso a nenhuma dependéncia ow relagao dela com a estrunura, Com cleito, os balancos impostos pelo aproveitamento racio: nal da armagio dos pisos teve como consequen- cia imediata transferir as colunatas — que sem pre se perfilaram muito solenes, do lado de fora ~ para o interior do edificio, deixando assim 3 fachadas (simples vedacie) absoluta liberdade de craramento: do fechamento total ao pano de vidro; € como, por outro lado, os cantos aparentes do prédio nao tm mais responsabi- lidade de amarragio — © que motivara, tradi- cionalmente a criagio dos cunhais reforgados ~ 0s vaos, livres de qualquer impedimento, po- dem vir a morrer de encontro a0 topo dessas paredes protetoras ~ fato este de grande signi- ficagio, porquanto a beleza em arquitetura, s3 tisfeitas as proporgdes do conjunto ¢ as rela ‘Ges entre as partes e 0 todo, se concentra nisto {que consticui propriamente a expressio do edi- ficio: 0 jogo dos cheios ¢ varios. Conquanto esse contraste e confronto de que depende, em grande parte, a vida da composigio, tenha cons- titufdo uma das preocupagdes capitais de toda a arquitetura, ele se teve sempre que pautar, na ppritica, aos limites impostos pela seguranga, que assim, inditetamente, condicionavam os pa drdes usuais de beleza as possibilidades do sis- tema construtivo. ‘A nova técnica, no entanto, conferiu a esse jogo imprevista liberdade, permitindo 3 arquite- tura uma intensidade de expresso até entio ig norada: a linha melédica das janclas corridas, a cadéncia uniforme dos pequenas vos isolades, a densidade dos espagos fechados, a levera dos pa nos de vidro, eudo deliberadamemte excluindo ‘qualquer idéia de esforgo, que todo se concentta em intervalos iguais, nos pontos de apoio; solto no espace o edificio readquirin, gragas & nitider. das suas linhas ¢ & limpidez dos seus volumes de pura geometria, aquela disciplina e “retenuc” pr6: prias da grande arquivetura; conseguindo mesmo ‘um valor plistico nunea danies aleangado e que ‘0 aproxima — apesar do seu ponto de partida rigorosamente utilitario — da arte pura E essa seriedade, esse gue de impassivel so- briedade ealtivez, a melhor caracterfstica dos ver- dadeiros cxemplos da nova arquitewura € 0 que a stingue, precisamente, do falo modernism, cujos ares brejeiros de ocadilho tém qualquer coisa de irresponsivel Eneretanto, tais solugdes caracteristicas © de rande beleza plistica chocam aqueles que, ar Iadlos de preconceitos, ¢ nao convenientemente esclarecidos das rav6es ¢ do sentido dla nova ar- quitetura, procuram analisi-la bayeados no so~ mente nos principios permanentes — que estes ea 1s respeita integralmente ~ mas naqueles que sultaram de uma tecnologia diferente, pretenden- do assim descobrir-the “qualidades” que cla nio pode nem deve possuit Todavia, muito poucos entre nés (1934) compreendem em seu verdadeiro sentido essas transformagoes. Conquanto a estrutura seja, de fato, independente, 0 material empregado no cenchimento das paredes externas ¢ divisérias & pesado c impréprio para tal fim, obrigando-as assim, naturalmente, a néo perder de vista as vigas © nervuras, para evitar um reforgo an tiecondmice das respectivas lajes; daf a preocu pagdo de interpenetrar ~ numa idemtificagio im possivel e estéril ~ a espessura contraditéria das colunas € paredes; ¢, como ainda procuramos recompor as fachadas reproduzindo as idéias ‘mentirosas de embasamento © parede-suporte, atribuindo-se assim aos nossos edificios eertas aparéncias proprias a construgdes de outro sis- tema, todas as possibilidades da nova técnica si praticamente anuladas ~ carecendo de signifi cacao a maior parte das centativas, apesat das grotescas feigées modernisticas e outras incon- as. (1934) E. preciso, antes do mais, que todos ~ ar- ros, construrores © 0 puiblico dam as vantagens, possibi lidades e beleza prépria que a nova técnica per- mite, para que cntao a indiistria se interesse, € nos fornega — economiicamente — os materiais leves e& prova de ruido que a realidade necessi ta, Nio podemos esperar que ela rome a si to- dos os riscos da iniciativa, empenbando-se em produsir aquilo que os tinicos interessados ain- da nao Ihe reclamaram. quitetos, engenb mm geral — comps ‘Além do ar condicionado, que jé € uma rea- lidade e © complemento ldgico da arquiterura moderna (¢ expressiva a anedora-reclame cho mé- dico que recomenda ao doente a frequéncia assf- dua ao Cassino da Urca), é imprescindivel que a indiistria se apodere da construgio, produzindo, convenientemente apurados, todos 0s elementos de que ela carece Entretanco, apesar das sedutoras possibi- lidades econdmicas que tal aventura sugere, cla ainda se abstem de uma intramissio desas- sombrada em to altos dominios, justamente receosa de incorrer em atitude sacrilega. E, cam- bhém, porque para se empreender alguma coisa & preciso inicialmente saber-se, com a possivel exatidao, aquilo que se pretende, para, entao, mobilizar os meios necessirios: é nesta obra gran- diosa de abrir 0 caminho conveniente & indis- tria que, em todo o mundo, intimeros arquite- {os se empenham com fé, alguns com talento, ¢ um com génio. Todos, porém, de acordo com ‘o seguinte principio essencial: a arguitetura esd além ~ a wenologia é 0 ponto de partida. nao podemos exigir de todas os arquicetos a qualidade de artistas, temos o direito de recla- mar daqueles que nao o forem, ao menos a arte de construir Embora desmascare os artificialisn sda falsa imponéncia académica, a nova arquitetu ra ndo se pretende furtar ~ como levianamente se insinua ~ as imposiges da “simetria”, senao encari-la no verdadeiro e amplo sentido que ‘65 antigos the atribuiam: com medida ~ com metro ~ tanto significando o rebasimento pri mario em torno de um cixo, como o jogo de contrastes sabiamente valorizados em funga0 de uma linha definida e harménica de compo- sigio, sempre conttolada pelos sracados regula- dares, esquecidos dos académicos ¢ tio do agra do dos velhos mestres. Bla caracteriza-se, aos olhos do leigo, pelo aspecto industrial eauséncia de omamentagav. E nessa uniformidade que se eseonde, com cfeito, a sua grande forga e beleza: casas de moradia, palé- ios, fabricas, apesar das diferengas e particulari dads de cada um, tém encte si certo ar de paren- nto possa abor resco, de familia, que — conqu cer Aquele gosto (quase mania) de variedade aque $< 2 nos acostumou o ecletismo dilerante do século passado ~ um sintoma inequivoco de vitalidade © vigor, a maior prova de j& néo estarmos mais diante de expe aprichosas ¢ inconsisten- {es como aquelas que precederam, porém, de um codo orginico, subordinado a uma disciplina, um ritmo, ~ diante de um verdadeiro estilo enfim, no melhor sentido da palavra Porque essa uniformidade sempre existia © caracterizou os grandes estilos. A chamada arquitetura gética, por exemplo, que o piblico se habiruou a considerar propria apenas para construgd cc religioso, era, na épo- ca, uma forma de construgao generalizada exacamente como concreto armado hoje em dia ~ ¢ aplicada indistintamente a toda sorte de edificios, tanto de cardter militar como civil ou eclesidstico. Da mesma forma com a arquitetura con temporinea, Essa feigio industrial que, erra- damente, thg atribuimos, tem origem — além daqueles motivos de ordem técnica, ja referidos, ce social, a que as regras atuais da “bienséance” nao permicem alusdo — num fato simples: as primeiras construges em que se aplicaram os novos processos foram, precisamente, aquelas em que, por serem exclusivamente utilicérias, 08 prurides artisticas dos respectivos propric- Litios arquiteros serenaram em favor da eco- nomia e do bom senso, permitindo assim que tais estruturas ostenrassem, com imaculada purcza, as suas formas proprias de expressio. Nao se trata, porém, como apressadamente se conelui ~ incidindo em lamentével equivoco = de um estilo reservado apenas a determina da categoria de edificios, mas de um sistema construtivo absolutamente geral. £ igualmente ridiculo acusar-se de mond tona a nova arquitetura simplesmente porque ‘vom repetindo, durante alguns anos, umas tan- tas formas que Ihe so peculiares ~ quando os gregos levaram algumas centenas trabalhando, invariavelmente, no mesmo padrao, até chega rem as obras-primas da acrépole de Atenas Os estilos se formam e apuram, precisamente, a custa dessa repeticio que perdura enquanto se mantém as razdes profundas que the deram i | | | Tais preconceitos cém cedido um pouco 3 convivéncia c, conquanto ainda aceitos pela maioria, renderio, todavia, a desaparecer Quanto 2 auséncia de ornamentagao, nao é uma atitude, mera afetagio como muitos ainda hoje supdem ~ parece mentira ~ mas a conse- quencia légica da vécnica construtiva, & sombra da evolugio social, ambas (nao sera demais in- sistit} condicionadas & maquina. O orato no sentido artistico e humano que sempre presidiu sua confecgio €, necessariamente, um produ- to manual. O século XIX, vulgarizando os mol des ¢ formas, industrializou o ornato, transfor- mando-o em artigo de série, comercial, tiran- do-Ihe assim a principal razio de ser —a inten ao antistica ~, ¢ despindo-o de maior interesse como documento humano. © “enfeite” é, de certo modo, um vestt- gio bérbaro ~ nada rendo a ver com a verda- deira arte, que tanto se pode servir dele como ignoré-lo. A produgio industrial com quali dades préprias: « pureza das formas, a nitide dos contornos, a perfeigio do acabamento. Pastindo destes dados precisos ¢ por um rigo- ros0 processo de selecio, poderemos atingit, como os antigos, a formas superiores de ex pressio, contando para tanto com a indispen. sivel colaboragio da pintura ¢ da escultura, ao no sentido regional ¢ limitado do ornao, porém num sentido mais amplo. Os grandes panos de parede tie comuns na arquitetura contemporinea sio verdadeiro convite a ex pressio pictérica, aos baixo-relevos, & esta~ tudria como expressio plistica pura, integra- da ou aurdnoma. Além daqucla aparente uniformidade, daque- Ie “tom de conversa” que predomina nas cons- teugées contemporineas tanto de carter privado como priblica, ~ em contraste com 0 tom de discurso exigido para estas dkimas pelos nossos avés ~, ainda se quer atribuir 2 nova arquitetura ‘outro pecado: o internacionalismo. Acreditamos que tal receio seja, no entanto, tardio, pois a internacionalizacio da arquitetura no comegou com o concreto armado € 0 pés- guerra; quando comesou — omitindo as arquite turas rominica c gética, eminentemente interna Gionais, no pressuposto que se possa alegar, como justificativa, a influéncia catalisadora da Igreja ainda havia indios nas nossas praias virgens do suor portugués: comegou com a viagem turistico- militar de Carlos VHT & Telia, na primavera de 1494, a que se seguiram as de Luis XU € Francisco 1. Foi cntao que se derramou pela Europa inteira — cansada de malabarismos goticos — 0 novo catusiasmo que, com a ex- pansibilidade de um gis, penetrou todos os re~ cantos do mundo ocidental, intoxicando todos os espiritos. E a nova arquitecura, mesclando-se de inicio as caturrices géticas, foi, aos pouces, simplificando, suprimindo as “barbarismos”, impondo ordenagio, ritmo, simetria, até culminar no classicismo do século XVII c no academismo que se the seguiu. Nada se pode, com efeito, imaginar téo absolusamente interna cional como essa estranha magonaria que — “supersticiosamente” ~ de Viena a Washington, de Paris a Londres ou Buenos Aires -, com insis- KGncia desconcertante, repetiu, acéontem, asm mas colunatas, os mesmos frontes, € 2 mesmissimas ciipulas, indefecriv Assim, o internacionalismo da nova arquice tura nada tem de excepcional, nem de particular mente judaico ~ como, num jogo ficil de pala- vyras, se pretende ~ apenas respeita um costume secularmente estabelecido, E mesmo neste pon- (6, figorosamente iradiciona Nada tem tampouco de getmanica ~ con quanto na Alemanha, mais do que em qual- quer outro pais, 0 pés-guerra (1914-18), jun- tando-se as verdadeiras causas anteriormente aladas, criasse atmosfera propicia & sua definitiva celosio, pois apesar da quantidade, 4 qualidade dos exemplos deixa bastance a de- sejar, acusando mesmo, a maioria, uma énfase “barroca” nada recomendavel. Com efeito, en~ quanto nos paises de tradi¢ao latina ~inclusi ve as colénias americanas de Portugal ¢ Espanha — a arquitecura barroca soube sem- pre manter, mesmo nos momentos de delicio a que por vezes chegou, certa compostura, até dignidade, conservando-se a linha geral da composicéo, conquanto elaborada, allieia 30 ascanhamento ornamental, ~ nos paises de raga germanica, encontrando campo apropriado, frutificou, atingindo mesmo, em alguns ca- 16 sos, a um grau de licenciosidade sem prece- dentes. Ainda agora ¢ ficil reconhecer no modernis- mo alem%o os wacos inconfundiveis desse barroquismo, apesar das excegoes merecedoras de mengio, entre as quais, além da de Walter Gropius, a da obra verdadeiramente notivel de Mics van der Rohe: milagre de simplicidade, cle- gincia ¢ clareza, cujos requintes, longe de prejudicé-la, dzo-nos uma idéia precisa do que ja hoje poderiam ser as nossas casas. Nada tem, ainda, de eslava, como se pode- ria confusamente supor, baseado no fato de ser a Riissia, de todos os paises, © mais empenha- do na procura do novo equilibrio ~ consentaneo com a nogio mais ampla de justica social que a grande industria, convenientemente orientada € discribuida, permite, e cujas necessidades ¢ problemas coincidem com as possibilidades e solugdes que a nova técnica impe. Para comprové-lo, basta que se note a maneira pou- 0 feliz. com quee os russos ~ apesar das expeti- ncias iniciais do “conserutivismo” — dela se tém servido, o que atesca uma estranha incompreensio. ‘Torna-se, mesmo, curioso ob- servar que a Riissia — como as demais nagoes — também reage, presentemente, contra os prin- cipios da nova arquitetura, procurando em Roma inspiragao As obras de carter monumen- tal com que pretende “épatet” turistas bedcios © camponeses recaleitrantes. Nao passard este favo, possivelmente, de uma crise de fundo psi- coldgico e de facil explicagao. Era, na verdade, industrialmente, esse pafs um dos menos pre- parados para embarcar na aventu io obstante, em menos de vinte anos de balho (1934), 0 resultado jé obtido ~ embora padrao de vida ainda seja baixo, com telagio 20 de certos paises capitalistas ~ surpreenda os espiritos mais céticos. E, pois, natural que pois de tantos séculos de exploragao siste zada € miséria, 0 otimismo cransborde ¢ se der= Fame em aparatosas manifestagies exteriores, numa escolha nem sempre feliz de formas de expressio. Essa falta de medida resultante de uma cti- sede crescimento e, portanto, temporitia, é, po rém, tGo humana, tem um gosto to forte de adoleseéncia, que faz sorrit, porquanto repete com acentuada malicia ~ a pequena tragédia do “novo rico” burgués, coma agravante de ser, desta vez, coletiva Filia-se a nova arquicetura, isto sim, nos seus exemplos mais caracterfsticos ~ cuja cl 7a nada tem do misticisme nérdico — as mais puras tradigbes mediterraneas, aquela mesma azo dos gregos ¢ latinos, que procurou renas- cer no Quatrocentos, para logo depois afundar sob os artificios da maquiagems académica ~ s6 agora ressurgindo, com imprevisto ¢ renovado vigor. E aqueles que, num futuro talvez nto Go remote quanto © nosso comodismo de privilegiados deseje, tiverem 2 ventura ~ ou tédio ~ de viver dentro da nova ordem con- quistada, estranharao, por certo, que se vertha pretendido opor criagées de origem idéntica ¢ negar valor plistico a to claras afirmagoes de uma verdade comum Porque, se as formas vatiaram ~ 0 espirito ainda €0 mesmo, ¢ permanecem, fandamentais, as mesmnas leis. PS-1991 Depois de uma coisa, vem outna ser moder- ‘no é~ conhecendo a fundo o passado — ser arual © prospective. Assim, cabe distinguir entre mo. derno e “modernista”, a fim de evitar designagies jinadequadas A arquiterura dita modem, tanto aqui como alhures, resulrou de um processo com raizes pro- fandas, legitimas e, portanto, nada tem a ver com certas obras de feigdo afetada © equivoca ~ estas sim, “modernistas’ Ao contririo do que ocorren na maioria dos paises, no Brasil foram justamente aqueles pou- cos que lutaram pela abercura para o mundo mo- demo, os que mergulharam no pais & procura das ws raizes, da sua tradigio, tanto em Séo Paulo nos anos 20, como no Rio, em Minas, sul e nor- deste nos 30, propugnando pela defesa ¢ preser vaso do nosso passado vilido (SPHAN) cease sess oc

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