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SOCIOLOGIA

Para quê Sociologia?!


Desde que nascemos, até nosso último instante, nos encontramos inseridos em relações,
símbolos, crenças, línguas, estilos musicais... que compõem quem somos, como estamos
ou o que almejamos ser. Isso se dá pelo fato de identificarmos na vida em grupo/coletiva
um valor muito significativo para que nos mantenhamos vivos e seguros. Podemos
compreender que esta experiência se iniciou quando os homens compreenderam que
unidos eram capazes de vencer os grandes animais e que conseguiam resistir melhor as
difíceis condições de frio, fome e das migrações. Segundo Nova (1985, p.13) a Sociologia
não se presta a explicar como se dá os fenômenos sociais ou como nossa sociedade se
constitui por meio de nossos valores e ideias mas, sim a aprimorar intelectualmente e
moralmente a mentalidade da humanidade, que se desenvolve e diversifica
individualmente e coletivamente. A palavra sociologia se deriva do latim (socio-) e do
grego (-logos), sendo assim, poderíamos propor que esta seria uma área do conhecimento
humano que pensa sobre as bases que fortalecem e/ou enfraquecem nossos laços sociais
(de grupo).

O surgimento da Sociologia
Há muito tempo o homem se questiona e apresenta ideias do que seria um “modelo ideal
de sociedade”. Os filósofos já as faziam quando debatiam sobre a importância do poder
no setor político, sobre os valores básicos para uma boa formação escolar e cidadã, sobre
as mudanças possíveis que podemos desenvolver e tantas outras questões. Contudo,
podemos considerar o período final da Idade Média (476d.C. – 1453) como o momento
em que a Sociologia começava a surgir como uma necessidade em se pensar o homem e
a sociedade por meio da ótica racional, buscando derrubar a ideia de que a resposta para
todas as coisas se encontravam nos textos e dizeres religiosos. Além disso, segundo Torre
(1973, p.30), o século XVIII tem importância ímpar, para o surgimento da sociologia, em
dois fatores:
• Fatores históricos que foram a Independência dos Estados Unidos (1776), a
Revolução Industrial (1760) e a Revolução Francesa (1789), que promoveram
uma reformulação social, pois geraram novas classes sociais e conflitos entre eles.
Isto tornou emergencial o estudo sobre as relações sociais e a estrutura da
sociedade;
• Fatores intelectuais relacionados ao aumento do prestígio do pensamento
científico e o surgimento de novos olhares sobre o mundo.
Foi por meio do Curso de Filosofia Positiva de Augusto Comte (1798-1857), importante
filósofo formulador da doutrina Positivista, onde intensificou-se as discussões acerca da
necessidade de uma “ciência da sociedade” que se torna possível o entendimento sobre
como alguns padrões sociais são criados, mantidos ou alterados. A Filosofia Positiva foi
uma das formas com as quais a Sociologia iniciou seu processo de formação cientifica e
teórica. Comte é, a partir daí, considerado o pai da sociologia. (TURNER; BEEGHLEY;
POWERS; 2011, p.40).
Para Turner et al. (2011, p.40-45), Comte foi um dos primeiros a pensar sobre os métodos
pelos quais o pesquisador poderia compreender como os fatos se relacionam com nossa
“realidade social”. Ele defendeu 4 métodos, sendo eles:
• A observação: para o filósofo, devemos utilizar de nossos sentidos para captar
e observar os fatos sociais;
• A experimentação: Comte entendia que não era possível manipular
sociedades inteiras para se construir uma teoria sobre o que poderia ser
considerado patológico ou saudável para um povo, contudo, concluiu que,
assim como a biologia, podemos partir da análise de fenômenos “socialmente
doentios” (como a violência, por exemplo) para assim podermos estabelecer
um parâmetro de “normalidade”;
• A comparação: Novamente, assim como pensa a biologia, Comte admite que
a comparação entre culturas ou povos, considerando elementos que lhe são
presentes ou não, similares ou não, torna possível registrar as propriedades
fundamentais de determinados fatos sociais;
• A Análise Histórica: Este último é o que confirma todas as informações
colhidas para uma análise social, já que os fatos históricos e suas relações
com a realidade que a vivenciou torna possível compreender os caminhos
tomados (ou não) para se chegar a determinado objetivo.

A formação da Sociologia como Ciência


Augusto Comte compreendia a Sociologia como uma “biologia social”, onde o objetivo
do sociólogo seria estudar as organizações sociais. Esta assimilação se deu pois ele
acreditava que a sociedade era um “algo orgânico” onde seus componentes orgânicos
viviam em constante interação com os demais. O que ele queria demonstrar era que, para
ele, a sociedade funcionava como um organismo vivo (assim como nós), que possui partes
que exercem funções diferentes das demais, mas que são importantíssimas para o
funcionamento do todo; tais partes seriam os seres humanos e as instituições sociais, que
interagem por meio das relações sociais construindo, desta maneira, um estado normal
ou doentio de nossa sociedade; sendo assim: “there can be no scientific study of society,
either in its conditions or its movements, if it is separated into portions, and its divisions
are studied apart” – “não há um estudo cientifico da sociedade, nem sobre suas condições
e movimentos, se este for dividido em partes, e tais divisões serem estudadas em
separado”. (TURNER; BEEGHLEY; POWERS; 2011, p.45).
O estudo da sociedade não é desenvolvido apenas pela Sociologia, mas também pela
Antropologia, Ciência Política e Psicologia Social, por exemplo, que são ramos das
chamadas Ciências Sociais e Humanas. Embora Comte tenha comparado o estudo da
sociedade com a ciência dos seres vivos (biologia), devemos compreender que a
sociedade humana se diferencia bastante das sociedades animais. É observável que não
apenas nós, homo sapiens, temos a capacidade de padronizar comportamentos. As
formigas, por exemplo, conseguem estabelecer modos de se locomover ou mesmo
carregar seus alimentos, para que possa ter maior agilidade e eficácia nestas atividades.
Contudo, os seres humanos se diferenciam por seus fatores orgânicos (como a capacidade
de elaborar pensamentos baseados em processos mentais complexos, como a reflexão) e
também por poderem atuar direta e/ou indiretamente em processos histórico temporais
que podem dar características únicas a sociedade na qual se encontra inserido. (NOVA,
1985, p.29-30)
Para Nova (1985, p.28), além da Sociologia ter esse papel científico, ela também
possibilita, a quem decide estudá-la, entender a si mesmo, o comportamento dos demais
e o funcionamento de sua sociedade. Por meio desta reflexão, o indivíduo pode chegar a
conceitos referenciais para uma sociedade melhor ou mais organizada, porém, devemos
considerar que nossas ideias e críticas sempre se amparam no que cremos ser o melhor e
o apropriado para si e para os demais. Isto nos faz pensar de maneira ideológica, que se
define como um modo de definir valores e ideias a partir dos interesses de um ou mais
grupos. Mesmo este sendo um problema possível na prática do pensar sociológico, deve-
se considerar que esta é a prática de uma das poucas ciências em que podemos observar
e ser objeto observado ao mesmo tempo.
Principais conceitos
O modo de se compreender a sociedade, por meio da sociologia, envolve se atentar aos
pequenos sinais emitidos pelo coletivo via ações individuais ou coletivas. Podemos
destacar alguns conceitos, como os de: socialização, grupos sociais, estratificação social,
cultura e instituições sociais.

1. SOCIALIZAÇÃO
Em Sociologia, podemos denominar como socialização o processo social pelo qual o
individuo se integra a determinado grupo, assimilando seus hábitos, costumes, crenças,
saberes e regras. Cotidianamente estamos realizando esta ação, principalmente quando
levamos em consideração o que chamamos como relação social que é o nome dado a este
processo de interação entre seres humanos pertencentes a uma sociedade. Como resultado
destas relações constituímos os contatos sociais que são categorizados como primários
ou secundários. Os contatos sociais primários são aqueles estabelecidos com pessoas que
nos são próximas e que temos algum tipo de vínculo constituído por valores e
experiencias compartilhadas (ex.: pais e filhos), já os contatos sociais secundários seriam
os que estabelecidos para se alcançar um fim e são baseados na formalidade (ex.: sua
relação com a atendente do telemarketing).

2. GRUPOS SOCIAIS
Os grupos sociais não se resumem a um agrupamento de pessoas, seu conceito vai para
além disso. Os grupos sociais são constituídos sim por pessoas, mas por aquelas que
visam um objetivo comum ou que se orientam por valores similares. Estar em grupo é
algo que desenvolvemos em prol da preservação de nossa existência, e é por meio dele
que também pensamos sobre nosso modo de agir, nossos costumes, nossos interesses e
nosso posicionamento social. Comumente podemos nos encontrar inseridos em alguns
grupos sociais, sendo os principais deles: a família, a igreja, a escola, a empresa, a
associação de moradores e tantos outros.
Dentro destes distintos grupos podemos ocupar papeis de destaque ou não, de mando ou
de subordinação, de prestígio ou de depreciação; isto dependerá de nosso status. É este
elemento que nos confere direitos e deveres que se diferenciam conforme o grupo que
ocupamos. Este status nos pode ser atribuído ou adquirido. Ele nos é atribuído quando
considerado algum fator externo ou interno que nos coloca em determinada posição
independente de nossa vontade, já o adquirido é quando somos reconhecidos por algum
atributo ou ação realizada que nos faz ser vistos como superiores, diferentes ou vitoriosos,
por exemplo.

3. ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Além de possuirmos o que nos aproxima e assemelha dos demais, também somos dotados
de elementos que nos atribui diferenças e desigualdades perante pessoas ou grupos
sociais. Isso define o termo estratificação social, que se faz em três tipos: A estratificação
econômica, a estratificação política e a estratificação profissional. No primeiro caso
somos qualificados perante os bens materiais que possuímos (o que nos torna pobres ou
ricos), já o segundo se baseia no deter poderes a mais ou a menos que os demais cidadãos,
o último é baseado no grau de valorização de damos a certos graus de escolaridade ou
mesmo profissões (o que torna determinadas pessoas mais “valorosas” do que outras).

4. CULTURA
Tudo que possuímos enquanto valor, costumes, interesses, crenças e tantos outros, é
constituído do que denominamos cultura. A cultura é o que caracteriza um povo, e aponta
como o passar do tempo e os encontros com outros povos contribuíram para a formação
dela própria. Como classificar a cultura como de dois tipos: a material e a imaterial. A
cultura material é aquela que mantém viva materialmente – de modo que podemos tocar
e senti-la - as características de um povo (esculturas ou roupas, por exemplo); já a cultura
imaterial é composta por elementos que se mantem vivo na consciência das pessoas, por
isso se torna necessário que a memória não os deixe cair no esquecimento (rezas e
cantigas, por exemplo).

5. INSTITUIÇÕES SOCIAIS
A sociedade é constituída de pessoas que, em determinados momentos, se agrupam e, em
outros, se isolam. Por meio das demais pessoas é que aprendemos sobre a importância de
nossos atos, compreendemos o que é o correto, como podemos alcançar certos objetivos
e a quem devemos respeito e obediência. Estes ensinamentos são realizados por meio de
algumas instituições sociais que se fazem presente em nossa vida do dia de nosso
nascimento até o último suspiro. Estas instituições são entendidas como um conjunto de
regras, modos de pensar, modos de agir, modelos a serem seguidos; e que são
representados por grupos de pessoas que assumem o papel de ensinar e manter tais valores
ou podem ser representados meramente por ideias, normas ou opiniões que nos são
impostas por meio de leis e normas. Como exemplos de instituições sociais, temos: a
família, a escola, a igreja, o Estado (político), a Justiça, dentre outros.

Os sociólogos clássicos
Além de Comte tivemos outros grandes colaboradores para as teorias sociológicas. Os
principais destes são conhecidos como “Os pensadores clássicos da Sociologia”, são eles:
Emile Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920) e Karl Marx (1818-1883).

1. EMILE DURKHEIM (1858-1917)


Durkheim nasceu em Épinal, a 15 de abril de 1858, e morreu em 1917. Ele compreende
que nosso meio se apresenta como um reino social que possui particularidades em relação
ao reino animal e mineral. “As regras do método sociológico” (1895) é constituída como
a primeira obra que propõem uma metodologia de pesquisa e ensino voltada ao
pensamento sociológico. (RODRIGUES, 2005, p.11-21).
O método que Durkheim constitui é denominado comparativo ou funcionalista, sua
principal defesa é a de que toda prática social possui uma função para o funcionamento
da sociedade, e como comparação podemos fazer uso dos órgãos humanos, pois, assim
como temos o coração para bombear nosso sangue e nos manter vivos, a sociedade possui
valores e costumes que são extremamente necessários para que não adoeçamos e levemos
a sociedade a falência.
Sendo assim, para Durkheim, é necessário que observemos os fatos sociais que ocorrem
a todo momento em nosso meio e que podem indicar se estamos com nossa sociedade
saudável ou adoecida. Tais fatos possuem características que possibilitam que eles sejam
observáveis, são elas: exterioridade, coerção e generalidade. Por exterior, devemos
compreender que os fatos sociais ocorrem ao nosso entorno e não podem ser manipulados
ou alterados, apenas, por nossa vontade própria; a coerção apresenta a ideia de que somos
“vigiados’ para cumprirmos com as normas e/ou regras impostas por meio dos fatos
sociais (e o seu não cumprimento nos gera punição); já por generalidade é necessário
compreender que servem para todos ou que é comum na vida de toda e qualquer pessoa.
A lei, por exemplo, é um fato social que se faz presente para administrar a vida social e
torná-la possível para todos. Isso ocorre por meio de normas que são impostas a favor, ou
mesmo contra, as nossas vontades e interesses; é coercitiva pois o descumprimento do
que lhe é solicitado pode gerar punições ao rebelde; é geral pois pode ser utilizado como
um “exemplo a ser seguido por todos” ou por colocar a todos nós como pessoas que
devem ser submetidos a tais normativas.
Para Emile Durkheim:
A sociedade não é simples soma de indivíduos, e sim sistema formado pela
associação, que representa uma realidade especifica com seus caracteres
próprios. Sem duvida, nada se pode produzir de coletivo se consciências
particulares não existirem; mas esta condição necessária não é suficiente. É
preciso ainda que as consciências estejam associadas, combinadas, e
combinadas de determinada maneira; é desta combinação que resulta a vida
social e, por conseguinte, é esta combinação que a explica. Agregando-se,
penetrando-se, fundindo-se, as almas individuais dão nascimento a um ser,
psíquico se quisermos, mas que constitui individualidade psíquica de novo
gênero. (NOVA, 1985, p.45)

Por meio desta afirmativa do autor, podemos deduzir outro de seus importantes
pensamentos, cujo qual define os seres humanos como individualidades que se constituem
e atuam em prol da consciência coletiva; sendo esta última, a mais importante delas. É
nesta coletividade em que acontecem os fatos sociais que são importantes aos estudos
sociológicos. Contudo, é importante lembrar que eles não se definem como tudo que
acontece a nossa volta, mas sim aqueles que possuem as três propriedades já citadas e que
torna possível tratar como “coisas”, passíveis de observação, o que convém ser estudado.
(NOVA, 1985, p.45-46).
2. MAX WEBER (1864-1920)
Enquanto Durkheim observa a sociedade se atentando ao todo como um corpo que possui
suas especificidades e determinações, que acabam por moldar as individualidades; Max
Weber já se atenta as ações sociais como sendo o principal motor para a organização das
relações sociais. Weber estudou direito nas universidades de Heidelberg e de Berlim, para
depois se tornar um pensador que se debruçou aos estudos em economia política e demais
ramos da sociologia. Segundo ele, a ação social se define como “uma ação cujo
significado subjetivamente atribuído pelo sujeito ou sujeitos tem como referência a
conduta dos outros, orientando-se por esta em seu desenvolvimento”. (NOVA, 1985,
p.46)
Logo, o que se diz é que podemos definir como ação social apenas aquelas práticas que
realizamos e que são orientadas pela vontade ou determinação de outros indivíduos.
Sendo assim, o ato de eleger tal político e não outro ou se casar aos 30 anos de idade,
poderiam ser exemplos de ações sociais que são praticadas levando em consideração o
que é tido como padrão ou normal por outras pessoas. Weber defende em suas teses que
o objeto de estudo da Sociologia não se finda nas questões relacionadas a ação social,
nem que sua perspectiva fosse capaz de compreender todas possíveis formas de
manifestação desta. Deste modo, temos em Max Weber um método sociológico
denominado compreensivo, pois o determinismo encontrados na Biologia de sua época,
por exemplo, não poderia ser capaz de compreender os variados valores subjetivos que
carregamos, e que são constituídos devido fatores relacionais, históricos e psicológicos.
Por meio da observação, Weber propôs que nos baseamos em quatro tipos de ação social,
sendo eles:
• A ação social tradicional, que é motivada por costumes e hábitos que visam
a continuidade de práticas e pensamentos pré estabelecidos por grupos ou
consciências individuais;
• A ação social afetiva, é a que se estabelece levando em consideração emoções
e sentimentos que permeiam o contato entre dois ou mais indivíduos;
• A ação social racional relacionada a valores, se estabelece pela consciência
que o individuo possui no fato de que determinado ato poderá resultar um
bem que lhe é almejado, devido sua crença de que assim será;
• A ação social racional relacionada a fins, é aquela que se estabelece entre
duas ou mais pessoas e que visa a obtenção de algo por meio dela.
Para além de estudos sociológicos, Weber também desenvolveu afirmativas no campo da
política. Um de seus importantes estudos se concentra na análise nos tipos de dominação,
cujas quais somos submetidos cotidianamente. Em sua obra “Economia e Sociedade”
(1921, p.139), Weber aborda a legitimidade destas dominações, visto que, para ele, quem
se submete ao controle de alguém possui, em menor grau que seja, um mínimo de vontade
ou interesse na prática da obediência. Deste modo, e considerando que a dominação pode
se efetivar por meios mais ou menos materiais, Weber propõe compreendermos que toda
dominação se afirma por meio da legitimidade, ou seja, ela ocorre porquê a aceitamos
como um modo de manter a sociedade “nos trilhos” ou porquê ela é a via mais efetiva de
se obter os meios que se fazem necessários para nossa sobrevivência. Sendo assim,
poderíamos afirmar que nosso país se legitima para o uso da dominação (que se expressa
por meio das leis, por exemplo) por meio da escolha que tivemos em nos manter em um
regime político democrático, onde nosso representante é escolhido de maneira direta (via
voto), recebendo o título de presidente e recebendo as contribuições de outras esferas (o
legislativo, judiciário e o executivo) que torna possível a defesa de que a polícia pode usar
da violência (e sendo ela a única que a pode utilizar) de modo legitimo, pois a ela é dada
a função de regular a vida em sociedade “a qualquer custo”.
Para Weber, a dominação pode ter um caráter racional (baseada no entendimento de que
a submissão que devemos a alguém é baseada em valores que se encontram constituídos
e aceito por todos, como no caso do advogado, por exemplo), tradicional (pois se baseia
no fato de que a submissão é estabelecida por acordos que sempre estiveram na sociedade
e que não buscamos “quebrar”, assim como é a que concedemos aos nossos pais, por
exemplo) e carismática (como a que ocorre devido veneração ou admiração que temos
por dada pessoa e as “ordens” por ela dadas, assim como a que um padre ou ídolo político
faz uso, por exemplo).
3. KARL MARX (1818-1883)
Mais do que compreender os fenômenos coletivos ou os padrões da ação individual, Karl
Marx se atentou as transformações do século em que viveu e como elas mudaram as
relações, sem perder suas motivações, apenas mudando o nome dos personagens e o modo
como manipulam o meio a favor de alguns. Com o processo de industrialização a todo
vapor e com a ascensão de uma classe – denominada burguesia - que buscava a igualdade
de direitos em relação ao Clero, Marx percebeu que se fazia necessário o trabalho de
compreender como a sociedade e seus indivíduos não são laçados por coincidências do
destino, mas por determinismos que se constroem ao longo da história por meio de
constantes lutas por poder e prestigio entre grupos distintos.
Karl Marx nasceu em Tréveris em 5 de maio de 1818 e faleceu em Londres em 14 de
março de 1883, foi filósofo, historiador, economista e importante sociólogo, sendo
utilizado em diversas discussões até os presentes dias. Marx propõem uma metodologia
baseada no materialismo histórico dialético, ou seja, toda ideia ou fato dado em uma
sociedade é dada por uma razão construída historicamente e que visa manter em destaque
os interesses de uma classe. Para um melhor entendimento, vamos compreender esta
vertente em “partes”. Por materialismo dialético devemos entender que, sob esta
perspectiva, seria compreendermos que a sociedade seria o resultado de processos onde
cada desejo de mudança ou movimento para a sua realização é estabelecido por meios
materiais. É como se afirmássemos que a elaboração de desenhos nas cavernas já fossem
um sinal de que nossos ancestrais estariam a estabelecer ou a buscar novas transformações
individuais e coletivas.
A dialética é uma estrutura contraditória do que temos como real, que se constitui por
meio de três fases: a tese, a antítese e a síntese. Por meio de um exemplo, seria o mesmo
que dizer que a madeira é um produto proveniente da natureza que se define como um
material básico na constituição de moveis na vida humana (isso seria a tese), contudo, seu
estado de ser madeira é anulado quando a queimamos para a produção de cinzas que são
utilizadas como fonte de cálcio para plantas (a antítese), plantas tais que servirão de
alimento para o homem e que podem produzir novas árvores que poderão ser preparadas
para o processo de produção de cinzar, quando estiverem adequadas para isso (chegamos
a síntese). (ARANHA e MARTINS, 2003, p.264).
Quando incluímos aos conceitos de materialismo dialético o fator histórico, chegamos a
uma perspectiva que Marx utilizou ao longo de todos os seus estudos. Materialismo
dialético é compreendermos o fato de que a história da sociedade, por exemplo, se deu
por meio da produção de bens materiais que tornam as relações sociais mais complexas e
diversas (como o que é dito após o surgimento da internet, que mudou profundamente o
modo como as relações são estabelecidas), ao mesmo tempo que a direção que por ela é
tomada se estabelece por ideias ou práticas de quem defende um determinado caminho
em contraposição ao que outros defendem (como se quem determina as mudanças
tecnológicas fossem pessoas ligadas a uma ideologia em que ela é fator primordial em
nossa sociedade, tendo seus argumentos defendidos e/ou fortalecidos por meio do debate
contra quem não concorda com os rumos que estamos a tomar frente as novas
tecnologias). Ao incluirmos o fator histórico ao termo, devemos compreender que todos
estes processos, explicitados anteriormente, se dão continuamente em um longo período
temporal e espacial que chamamos de história.
Sendo assim, para Marx, buscar saber sobre a sociedade do século XIX é se atentar para
um modelo de produção material capitalista, que possui características próprias e que
fazem com que, segundo ele, nossa história a partir deste período, seja movida pela
constate luta de classes. Esta luta se dá entre o burguês (detentor dos meios pelos quais
produzimos os bens) e o proletariado (aquele que não detém dos meios, mas sim da força
que se faz necessário para se produzir). Sendo assim, se o sistema capitalista se mantém
por meio da produção de mercadorias, o burguês deve se atentar ao fato de que as pessoas
os adquirem não por seu valor real de uso, mas sim pelo valor ao qual nos propomos a
trocá-lo com o consumidor final. Como resultado da obtenção do produto, o consumidor
adquire status ou valor social; o burguês gera o valor necessário para quitar seus débitos
com o proletariado e este recebe o salário (que é resultado de um acordo que não lhe
garante um valor referente ao quanto produziu, mas ao quanto ele precisa receber para se
manter no papel de quem precisa daquilo que lhe dá o sustento). Assim, o excedente que
é produzido pelo proletário, e que não lhe é pago por ser um mero “excedente” da
produção, volta para o burguês como lucro. O nome de mais valia foi dado a este
excedente que mantém os burgueses em seu espaço de destaque e os proletários em seu
patamar de submissão, segundo Marx.
Para que a sociedade possa se manter “sob controle”, sem rebeliões ou motins dos
proletariados contra burgueses, Marx afirmará que cria o conceito de alienação e
ideologia. Quando o homem produzia para si, aquilo que precisava para seu consumo e
sobrevivência, tínhamos a percepção de todo o processo e valor que era empregado ao
que produzíamos. Com industrialização ocorre, cada vez mais, a especialização do
trabalho e, com isso, adquirimos menos consciência do que produzimos (e do valor real
do trabalho que desempenhamos para as grandes indústrias). É por este novo modo de se
operacionalizar os meios de produção que emerge o conceito de alienação de Marx, que
se resume nessa capacidade de se tirar do indivíduo a consciência que lhe deveria ser dada
com relação ao todo que o determina ou que por ele é determinado. Para que tais processos
sejam mantidos, são criadas as ideologias que se resumem em propostas de um ideal de
mundo ou de vida que nos é mostrado (por meio das grandes propagandas, por exemplo)
e que visam amenizar tal condição por meio da “sensação” de que usufruímos o que
deveria ser nosso por direito (como quando temos acesso a um carro novo, mesmo
pagando inúmeras prestações e não tendo as condições de mantê-lo devido questões
financeiras das quais não fomos prestigiados a ter).

A Sociologia hoje
Segundo Nascimento (2016, p.216), a sociedade se encontra em uma conjuntura onde as
relações sociais, a cultura e as instituições se alteraram devido ao espaço de destaque que
novas tecnologias que estão assumindo em nossas vidas. Hoje assumimos identidades que
podem ser múltiplas, visto que é possível ter inúmeros perfis nas mais distintas redes
sociais; podemos tomar nota acerca do resultado de exame que realizamos por meio de
uma pesquisa rápida no sistema de consulta criado pela clínica onde realizamos o mesmo.
Tais novidades também fazem surgir novos olhares para a Sociologia neste momento, e
foi por meio de um artigo de 2009, que em sua tradução, recebeu o nome de “Sociologia
digital: tecnologias emergentes no campo e na sala de aula”, que um novo campo para
esta ciência foi citado: A Sociologia Digital.
Esta tendência ganha ainda mais poder, a partir de 2015, quando ocorre a publicação do
livro Sociologia Digital, da professora e pesquisadora Debora Lupton que, em sua obra,
aponta quatro campos aos quais os “novos” sociólogos devem se atentar, ao adentrarem
em pesquisas relacionadas a Era Digital. São eles: a) a prática profissional digitalizada;
b) análise de dados digitais; c) análises sociológicas de uso de mídias digitais e d)
sociologia digita crítica. Além disso, o aumento na disseminação de informações, que se
tornou possível por meio da internet, torna emergente a necessidade de atuarmos nos mais
diversos campos e de modo interdisciplinar; tornando importante a relação entre saberes
de diversas áreas e de diversas formações, para que cheguemos a alguns dados plausíveis.

REFERÊNCIA

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:


Introdução à filosofia. 3ed. revista. São Paulo: Moderna, 2003, 440p.

RODRIGUES, José Albertino. Durkheim. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São


Paulo:Ática, 2005, 208p.

NASCIMENTO, Leonardo Fernandes. A Sociologia Digital: um desfio para o século


XXI. Sociologias, Porto Alegre, ano 18, n° 41, p.216-241, jan/abr 2016.

NOVA, Sebastião Vila. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atlas, 1985, 127p.

TORRE, Maria B. L. D. O homem e a sociedade: uma introdução à sociologia. São


Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973, 243p.

TURNER, Jonathan H.; BEEGHLEY, Leonard; POWERS, Charles H. The Emergence


of Sociological Theory. USA: Pine Forge Press, 2011, 502p.

WEBER, Max. Economia e Sociedade. Capítulo III: Os tipos de dominação. Brasília,


Editora da UNB, 1999, pp.139-188.

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