ANTEPROJETO:
DISTANCIAMENTOS E APROXIMAÇÕES
VITORIA DA CONQUISTA
2020
JUSTIFICATIVA:
Para tanto, a ciência histórica, aquela produzida na academia deve relacionar-se com os
conhecimentos de mundo do discente, e quando possível até com o cotidiano,
promovendo interação. O currículo é uma possibilidade de se fazer essa realização,
aproximando academia, ciência e comunidade, estabelecendo um aprendizado e sentido
real para a vida com o auxílio da didática da história, assim
Em dez anos de docência, com turmas do ensino médio, por meio da disciplina História,
pude perceber o distanciamento que os jovens, com idade entre 15 e 17 anos têm com o
saber histórico formal, muitas vezes uma história que para eles aparece de modo distante,
sem ligações com a realidade e na qual se sentem inseridos. Contudo, ainda assim, existe
a formação de uma consciência histórica, tomando-se por base o pensando de Jörn Rüsen
que a entende como
[...] a soma das operações mentais com as quais os homens interpretam sua
experiência a sua experiência da evolução temporal de seu mundo e de si
mesmos de forma que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no
tempo. (CERRI, 2011, p. 30 apud RÜSEN, 2001 a:57)
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O Movimento Escola Sem Partido propôs, por meio do Projeto de Lei 7.180/2014, que determinados
conteúdos não fossem trabalhados em sala de aula, especialmente conteúdos que tivessem relação com
gênero e política. Não podendo, portanto, relacionar conteúdos às situações da vida cotidiana pois isso
implicaria em um processo de doutrinação ideológica.
Assim sendo, o movimento Escola Sem Partido ao contrário do preconiza, evidencia em
si um posicionamento capaz de provocar exatamente o que abomina, uma orientação
político partidária restritiva e proselitista, contrariando um dos preceitos fundamentais,
da Constituição Cidadã, que é o direito a pluralidade de ideias. Tentar impor um currículo
com base em uma visão de mundo singularizada, buscando a restrição do debate acabará
por promover uma antítese do que se espera que seja alcançado no processo dialético de
ensino-aprendizagem. Dessa forma, compreender as intencionalidades de um currículo é
também compreender um projeto de educação, tendo em vista que o currículo orienta a
formação em amplo sentido. Sobre essas, disputas não destituídas de intencionalidades
Godson (2005, p. 8) adverte
Percebe-se, então, que o aprendizado pode tornar-se mais significativo tanto quanto esteja
ligado à realidade do discente, da comunidade. Esse processo deverá ser provocado por
uma prática pedagógica que interaja com os saberes locais, para de fato proporcionar
sentido histórico de modo mais objetivo. Desse modo, a importância do sentido histórico
liga-se à sua capacidade de transformar a realidade, e isso claramente não se traduz em
uma simples memorização ou reprodução de conteúdo, pelo contrário, a reflexão atenta e
curiosa fomenta o significado que por sua vez é gerador de sentido.
Assim, a pesquisa aqui proposta tem o fito de identificar e analisar a cultura histórica
resultante das relações dialéticas entre o acesso aos conhecimentos históricos e a
consciência histórica que o currículo pode proporcionar. A compreensão das relações
dessas categorias poderá permitir a elaboração de didáticas de ensino aprendizagem mais
efetivas e a formação de um conhecimento histórico para a vida.
QUESTÃO DE PESQUISA:
OBJETIVOS GERAIS:
OBEJTIVOS ESPECÍFICOS:
REVISÃO DE LITERATURA:
O ensino de História passa por diversas nuances e aqui faz-se necessário enfatizar dois
conceitos que são importantes para o presente pré-projeto de pesquisa, são eles: (1)
consciência histórica e (2) cultura histórica. Delimitar essa zona fronteiriça não é tarefa
fácil, visto que, são imbricados e em certa medida mutuamente dependentes. Contudo,
serão tomados como referência os estudos de Jörn Rüsen.
A consciência histórica é uma condição naturalmente humana, posto que apenas o ser
humano, entre os animais, é capaz de refletir seu lugar no mundo e estabelecendo relações
do momento presente com o passado e realizar projeções para o futuro. De acordo com
RÜSEN (2001 a:78) apud CERRI (2011, p. 29) “a consciência histórica não é algo que
os homens podem ter ou não – ela é algo universalmente humano, dada necessariamente
junto com a intencionalidade da vida prática dos homens. A consciência histórica enraíza-
se, pois, na historicidade intrínseca à própria vida humana prática [...]”. Assim a
consciência história é uma ação cognitiva exercida a partir de conhecimentos e valores
internalizados e que possuí estreita relação com a cultura histórica.
Por cultura histórica pode-se compreender o modo pelo qual a história é utilizada, ou se
manifesta por meio de narrativas. Assim, pode estar relacionada às manifestações
artísticas e culturais, saberes, educação, etc. Por isso, a cultura histórica se funde à
memória porque dela depende para encadear seus desdobramentos, sendo também fruto
da consciência histórica.
Assim, a cultura histórica pode ser definida como a articulação prática e operante
da consciência histórica na vida de uma sociedade. Como praxis da consciência
tem a ver, fundamentalmente, com a subjetividade humana, como uma atividade
da consciência, pela qual a subjetividade humana se realizada na prática, cria-se,
por assim dizer. [...] A cultura histórica contempla as diferentes estratégias da
investigação científico-acadêmica, da criação artística, da luta política pelo
poder, da educação escolar e extraescolar, do ócio e de outros procedimentos da
memória histórica pública. (RÜSEN, 1994, p. 4 apud SHIMIDT, 2014, p.
33-34).
A partir, dessas necessidades, conectadas à cultura e consciência históricas, é mister
também a reflexão sobre o currículo. Recorrentemente se entreveem discussões sobre a
orientação que os currículos devem oferecer às disciplinas, os questionamentos partem
em várias direções, mas é comum o debate a respeito dos modelos curriculares. A esse
respeito, Goodson entende que o currículo está organizado em pré-ativo e ativo. Entende-
se por currículo pré-ativo o que é proposto de forma antecipada, como um roteiro a ser
seguido, um saber que será oferecido ao discente e que será por ele recebido, o que
possibilitaria alcançar determinados objetivos. Já por currículo ativo, entende-se aquilo
que acontece em sala, ou currículo em ação, essa perspectiva está ligada aos
conhecimentos trazidos pelos alunos e a relação estabelecida entre o currículo pré-ativo
e o ativo. No entanto, essas relações que o currículo oferece estão intimamente ligadas às
relações de poder, o currículo prescrito fornece uma relação vertical, o que deve ser
ensinado parte de cima, da burocracia estatal, e nem sempre está de acordo com que há
em sala de aula, e ao redor dela, nesse espaço escolar o currículo acaba sofrendo
reinterpretações por que não dizer transgressões e/ou adequações, já que a formação dos
indivíduos dá-se de forma processual e dinâmica. Devemos, portanto, compreender que,
apesar do currículo prescrito, há uma significativa influência das práticas e ações que
acontecem em sala de aula.
Para se alcançar determinado objetivo é necessário que seja estabelecido algum método.
Não é diferente na atividade docente. O professor responsável por mediar o conhecimento
científico produzido na academia precisa buscar maneiras de possibilitar ao aluno o
contato com o conteúdo prescrito pelo currículo, no entanto, não pode olvidar que há um
conhecimento que o discente traz consigo, esse aluno não é ou não deve ser um paciente
que apenas absorve e assimila as informações expostas em forma de conteúdo. Pelo
contrário é importante levar em conta o contexto no qual o educando está inserido, a
cultura que ele traz consigo, e as relações político-sociais em que está submetido. Mais
uma vez, Rüsen oferece contribuições nesse sentido, ao afirmar:
Por isso, a preocupação com o currículo de história para o ensino médio deve estar
inserida na produção de saberes que possibilitem uma educação capaz de dialogar entre
conhecimento cientifico/acadêmico e o conhecimento/visão de mundo que cada discente
tem e que foi criado a partir de vivências próprias relacionadas com os ambientes (família,
escola, comunidade, etc.) em que está inserido. Qualquer coisa fora disso, dificilmente
fomentará significados, transformações, o ensino de história poderá tornar-se estanque e
infrutífero. Mas, ao contrário, quando o currículo é encarado como uma construção social
enche-se de sentido e pode, a partir a disso, produzir narrativas com a capacidade de
geração de mudanças significativas, potencialmente emancipadoras, assim, fornecerá
elementos para a compreensão e interpretação da própria realidade.
Assim, fica explicito que a o currículo possuí um papel de grande importância para a
educação formal. Ao mesmo tempo que fica também evidente que esse processo
educacional e a sua relação com os currículos pré-ativos e ativos constituem-se campo de
intenso e constante embate político-ideológico e, portanto, merece especial atenção dos
estudos acadêmicos.
ABORDAGEM METODOLÓGICA:
Dessa forma, o projeto de pesquisa pretende deter-se nos dados que tratam da cultura
histórica, e suas relações com o currículo e a consciência histórica. Perguntas como: (1)
qual o interesse dos alunos por determinados períodos históricos e/ou temas da história,
(2) como eles veem a influência de terminados acontecimentos históricos na vida das
pessoas, (3) como eles enxergam o passado e o que esperam do futuro ou (4) quais as
fontes de estudo/conhecimentos históricos são mais utilizadas por eles dentro e fora da
sala de aula, irão permitir que seja feita uma análise das relações entre o que foi proposto
pelo currículo prescrito da Secretaria de Educação da Bahia, e a formação da cultura
histórica.
Para embasar a análise qualitativa serão utilizados autores que tenham como de campo de
pesquisa temas ligados a: currículo, currículo de história, didática da história, consciência
histórica, cultura histórica e teoria da história, tais como: Jörn Rüsen, Luís Fernando
Cerri, Paulo Freire, Ivor Goodson, Dermeval Saviani e Gimeno Sacristan, além de outros
autores que por ventura sejam indicados por aqueles(as) que irão orientar a pesquisa e a
construção da consequente tese.
CRONOGRAMA:
1º Semestre 2021
Fev. Março Abril Maio Junho
Matrícula X
Créditos X X X X
Grupo de pesquisa X X X X
Levantamento bibliográfico X X X
Levantamento de dados X X X
Análise de dados X X
Produção de texto para eventos X X X
Orientações X X X X
2º Semestre 2021
Agosto Set. Out. Nov. Dez.
Créditos X X X X X
Grupo de pesquisa X X X X X
Levantamento bibliográfico X X X X X
Levantamento de dados X X X
Análise de dados X X X X X
Produção de texto para eventos X X X
Escrita do texto para qualificação X X X X
Orientações X X X X X
1° Semestre 2022
Fev. Março Abril Maio Jun.
Créditos X X X X X
Grupo de pesquisa X X X X X
Levantamento bibliográfico X X X X
Análise de dados X X
Escrita do texto para qualificação X X
Correção do texto para qualificação X
Orientações X X X X X
Qualificação X
2º Semestre 2022
Agosto Set. Out. Nov. Dez.
Créditos X X X X X
Grupo de pesquisa X X X X X
Levantamento bibliográfico X X
Escrita do texto final para tese X X X X X
Apresentação para do texto final da tese para X X
correção
Correção do texto final para tese X X
Orientações X X X X
Entrega do texto final da tese X
Defesa da tese final X
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
CERRI, Luís Fernando. Ensino de história e consciência histórica: implicações
didáticas de uma discussão contemporânea. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
GOODSON, Ivar F. Currículo: teoria e história. Petrópolis: Editora Vozes, 1995.
SCHMIDT. Maria Auxiliadora, Cultura Histórica e Aprendizagem Histórica. NUPEM,
Campo Mourão, v. VI, n. 10, p. 31-50, jan/jun. 2014.
SCHMIDT. Maria Auxiliadora; BARCA. Isabel; MARTINS. Estevão de Resende. (Org.)
Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Editora UFPR, 2011
RÜSEN, Jörn. Teoria da História: uma teoria da história como ciência. Curitiba: Editora
UFPR, 2015..