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Funções de Variável Complexa

Aula 9

2021

Funções de Variável Complexa


Os Teoremas de Cauchy

Definição
Um subconjunto A ⊂ C é chamado de região se:
• A é aberto, e
• dados dois pontos z1 , z2 ∈ A, então existe um arco C inteira-
mente contido em A com extremos z1 e z2 .

z2

A é uma região.

z1

Funções de Variável Complexa


Definição
Um subconjunto A ⊂ C é chamado de simplesmente conexo se
o interior de qualquer curva fechada simples contida em A, está
contido em A.

A B

• A = {z ∈ C : |z| < 1} é simplesmente conexo.


• B = {z ∈ C : 0 < |z| < 1} não é simplesmente conexo.

Funções de Variável Complexa


Teorema de Green
Sejam P(x, y ) e Q(x, y ) funções reais definidas numa região sim-
plesmente conexa R, com derivadas primeiras contínuas. Então,
para qualquer contorno fechado simples C ⊂ R orientado no
sentido anti-horário, tem-se
Z Z   Z
∂Q ∂P
− dxdy = Pdx + Qdy ,
K ∂x ∂y C

onde K é a região interior a C .

R
K C

Funções de Variável Complexa


Teorema de Cauchy-Goursat
Seja f uma função analítica numa região simplesmente conexa
R. Então Z
f (z)dz = 0,
C

para todo contorno fechado simples C contido em R.

Demonstração: Vamos apresentar a prova no caso em que f 0 é


contínua em R. Esta parte é devida a Cauchy. A prova que não usa
a continuidade de f 0 é devida a Goursat e é bem mais elaborada.

Funções de Variável Complexa


Suponhamos que f 0 seja contínua em R. Sejam z = x + iy e
f = u + iv . Assim, são válidas as condições de Cauchy-Riemman
∂u ∂v ∂u ∂v
em R, isto é, = e =− em R. Então,
∂x ∂y ∂y ∂x
Z Z
f (z)dz = [u(x, y ) + iv (x, y )][dx + idy ]
C C
Z Z 
= u(x, y )dx − v (x, y )dy + i u(x, y )dy + v (x, y )dx
C C
Z Z   Z Z  
Teorema ∂(−v ) ∂u ∂u ∂v
= − dxdy + i − dxdy
Green K ∂x ∂y K ∂x ∂y
Z Z   Z Z  
Condições ∂u ∂u ∂v ∂v
= − dxdy + i − dxdy
Cauchy Riemann K ∂y ∂y K ∂y ∂y
= 0 + i0 = 0.

Funções de Variável Complexa


Exemplo
z3
Z
Calcule a integral dz?
|z|=1 z −4

Solução:
R é uma região (hachurada em amarelo)
R
simplesmente conexa
4
|z| = 1
z3
é analítica em R
f (z) = z−4

z3
Z
Pelo Teorema de Cauchy-Goursat, dz = 0.
|z|=1 z − 4

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Exemplo
cos 3 (z)
Z
Calcule a integral dz?
|z|= 12 (z − 1)5

Solução:
R é uma região (hachurada em amarelo)
R
simplesmente conexa
1
1
|z| = 2 cos 3 (z)
é analítica em R
f (z) = (z−1)5
cos 3 (z)
Z
Pelo Teorema de Cauchy-Goursat, 5
dz = 0.
|z|= 1 (z − 1) 2

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Exemplo
e 2z
Z
Calcule a integral dz?
|z|=1 z2 + 4

Solução:
2i
R é uma região (hachurada em amarelo)
R
simplesmente conexa

|z| = 1
e 2z e 2z
−2i
f (z) = z 2 +4
= (z+2i)(z−2i) é analítica em R
e 2z
Z
Pelo Teorema de Cauchy-Goursat, dz = 0.
|z|=1 z2 + 1

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Teorema
Seja f uma função analítica numa região simplesmente conexa
R. Então, a integral de f ao longo de um contorno ligando z1 a
z2 só depende desses pontos, e não do contorno de integração.

Demonstração Sejam z1 , z2 ∈ R. Sejam C1 e C2 contornos


arbitrários contidos em R que ligam os pontos z1 e z2 .

R z2
C1

z1 C2

Note que C = C1 ∪ (−C2 ) é um contorno fechado em R.


Funções de Variável Complexa
Pelo Teorema de Cauchy, temos
Z
0= f (z)dz
Z C

f (z)dz
C1 ∪(−C2 )
Z Z
f (z)dz + f (z)dz
C1 −C2
Z Z
f (z)dz − f (z)dz
C1 C2

e, portanto, Z Z
f (z)dz = f (z)dz.
C1 C2

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Definição
Dizemos que F : A ⊂ C → C é uma primitiva de f : A ⊂ C → C
se
F 0 (z) = f (z) para todo z ∈ A.

Exemplo
A função F (z) = sen(z) é primitiva de f (z) = cos(z) em C, pois

F 0 (z) = (sen(z))0 = cos(z) para todo z ∈ C.

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Teorema
Seja f uma função analítica numa região simplesmente conexa
R. Então, a forma geral da primitiva de f é dada por
Z z
F (z) = f (w )dw + k,
z0

onde z0 ∈ R é um ponto arbitrário, porém fixado, k é uma


constante e a integração é feita ao longo de qualquer contorno
contido em R, ligando z0 a z.

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Corolário
Seja f uma função analítica numa região simplesmente conexa
R. Se F é uma primitiva de f e C = {γ(t) : a ≤ t ≤ b} é um
contorno contido em R, então
Z
f (z)dz = F (γ(b)) − F (γ(a)).
C

Demonstração Pelo Teorema anterior, a primitiva F é dada por


Z z
F (z) = f (w )dw + k,
γ(a)

sendo k uma constante.

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Daí,
!
Z γ(b) Z γ(b)
F (γ(b)) − F (γ(a)) = f (w )dw + k −k = f (w )dw .
γ(a) γ(a)

Como a integral independe do caminho, temos


Z γ(b) Z Z
f (w )dw = f (w )dw = f (z)dz.
γ(a) C C

Portanto, Z
f (z)dz = F (γ(b)) − F (γ(a)).
C

Z z2
Obs.: f (z)dz = F (z2 ) − F (z1 ), em que F é uma primitiva
z1
qualquer de f .
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Exemplo
Z z1
Sejam z0 , z1 ∈ C e n ∈ N. Calcule a integral z n dz?
z0

Solução Note que f (z) = z n é analítica e C (que é uma região


simplesmente conexa). Além disso,

z n+1
F (z) =
n+1

é uma primitiva para f (z). Então,

z1
z1n+1 z n+1
Z
z n dz = F (z1 ) − F (z0 ) = − 0 .
z0 n+1 n+1

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Exemplo
Z 1+i
Calcule a integral cos(5z)dz?
i

Solução Note que f (z) = cos(5z) é analítica e C (que é uma


região simplesmente conexa). Além disso,

sen(5z)
F (z) =
5

é uma primitiva para f (z). Então,


Z 1+i
sen(5(1 + i)) sen(5i)
cos(5z)dz = F (1 + i) − F (i) = − .
i 5 5

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Teorema
Sejam C0 , C1 , . . . , Cn contornos fechados simples, tais que
C1 , . . . , Cn estão no interior de C0 e são dois a dois exteriores
um ao outro. Suponhamos que a região compreendida entre C0
e C1 , . . . , Cn , juntamente com esses contornos, esteja contida
numa região de analiticidade de uma função f . Então
Z Z Z
f (z)dz = f (z)dz + . . . + f (z)dz,
C0 C1 Cn

desde que os contornos tenham todos a mesma orientação.

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C0

C1 C2 Cn

...

Z Z Z
f (z)dz = f (z)dz + . . . + f (z)dz,
C0 C1 Cn

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Caso n = 1, f é analítica em na região R com exceção do ponto
z0 ∈ R e C é um contorno contido em R tal que z0 está no interior
de C .

Z
R
C f (z)dz =?
C

z0

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R
C Existe r > 0 tal que D(z0 , r )
está no interior de C .
z0
r

Então
Z Z
f (z)dz = f (z)dz
C |z−z0 |=r

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Exemplo
1
Z
Calcule a integral dz, onde C é um contorno fechado que
C z
contém a origem no seu interior.

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Seja r > 0 tal que |z| = r esteja contido no interior do contorno C .
Assim,
1 1
Z Z
dz = dz.
C z |z|=r z

Parametrização do círculo centrado na origem e raio r > 0

γ(t) = re it , 0 ≤ t ≤ 2π.

Então

2π 2π
1 1 γ 0 (t) rie it
Z Z Z Z
dz = dz = dt = dt
C z |z|=r z 0 γ(t) 0 re it
Z 2π
= idt = 2πi.
0

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