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Súmulas Criminais STF e STJ Organizadas e Comentadas (2018)
Súmulas Criminais STF e STJ Organizadas e Comentadas (2018)
Organizadas e Comentadas
(2018)
EBEJI
Súmulas Criminais STF e STJ
Organizadas e Comentadas (2018)
Coordenadores do livro
PEDRO COELHO E CARLA CAROLINA VASCONCELOS
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APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que a EBEJI vem apresentar e divulgar a 2ª edição do Livro Digital
Temático “Súmulas Criminais STF e STJ Comentadas e Organizadas por Assunto”,
inteiramente gratuito para ser desfrutado e compartilhado através das redes sociais.
Para uma nova edição, colocamos um desafio aos organizadores: superar a expectativa dos
nossos leitores e fazer A melhor obra de Súmulas Criminais comentadas! Desafio
proposto e, prontamente, acolhido!
Apesar da propalada crise, tudo indica que 2018 será repleto de editais em concurso de
Defensoria Pública, Procuradorias, Ministério Público, Magistratura, dentre outros, e – para
eles, indistintamente – o domínio das Súmulas dos Tribunais Superiores é imprescindível!
Nossa missão, na EBEJI, há mais de 10 (dez) anos, auxiliar TODOS os candidatos que
mantêm o sonho da aprovação, a EBEJI – que diariamente produz e compartilha nas redes sociais
muito conhecimento gratuitamente disponibilizado a quem se interessar – vem divulgar o mais novo
livro digital “Súmulas Criminais STF e STJ Comentadas e Organizadas por Assunto”,
sob a autoria de coordenação do Defensor Público Federal Pedro Coelho e da
Advogada Carla Carolina Vasconcelos.
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disciplinas de direito penal, processo penal e execução penal, (iv) além de ser um excepcional
material para consulta e auxílio no dia a dia prático de profissionais que atuam na área.
EBEJI.
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Sumário
DIREITO PENAL ............................................................................................................................. 7
Lei Nova Favorável .................................................................................................................... 7
Crime Impossível ....................................................................................................................... 7
Crime Continuado ...................................................................................................................... 8
Ação Penal ............................................................................................................................... 10
Dosimetria da Pena .................................................................................................................. 10
Fixação de Regime Prisional ..................................................................................................... 14
Medida de Segurança ................................................................................................................ 18
Pena de Multa........................................................................................................................... 21
Sursis ........................................................................................................................................ 22
Perdão Judicial.......................................................................................................................... 23
Prescrição ................................................................................................................................. 24
Contravenções Penais ............................................................................................................... 28
Furto ........................................................................................................................................ 29
Roubo ...................................................................................................................................... 33
Extorsão................................................................................................................................... 38
Estelionato ............................................................................................................................... 39
Violação de Direito Autoral ...................................................................................................... 42
Estupro .................................................................................................................................... 45
Crimes Contra a Administração Pública.................................................................................... 48
Uso de Documento Falso ......................................................................................................... 50
Falsa Identidade ....................................................................................................................... 50
Contrabando e Descaminho ..................................................................................................... 51
Crimes de Responsabilidade de Prefeitos .................................................................................. 52
Corrupção de Menores ............................................................................................................. 53
Crimes contra a Ordem Tributária ............................................................................................ 54
Crime de Trânsito..................................................................................................................... 56
Estatuto do Desarmamento ...................................................................................................... 57
Lei Maria da Penha ................................................................................................................... 58
Lei de Drogas ........................................................................................................................... 64
Crimes contra a Segurança Nacional ......................................................................................... 68
DIREITO PROCESSUAL PENAL ..................................................................................................... 68
Inquérito Policial ...................................................................................................................... 68
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Uso de Algemas........................................................................................................................ 76
Competência da Justiça Estadual .............................................................................................. 78
Competência da Justiça Comum Federal................................................................................... 83
Competência da Justiça Militar ................................................................................................. 89
Foro por Prerrogativa de Função .............................................................................................. 93
Conflito de Competência .......................................................................................................... 97
Ação Penal ............................................................................................................................... 98
Assistente de Acusação ........................................................................................................... 102
Mutatio Libelli ........................................................................................................................ 104
Processo e Julgamento dos Crimes de Responsabilidade dos Funcionários Públicos ............... 104
Citação por Edital e Suspensão do Processo ........................................................................... 105
Suspensão Condicional do Processo ....................................................................................... 110
Transação Penal ..................................................................................................................... 113
Carta Precatória ...................................................................................................................... 115
Meios de Prova....................................................................................................................... 117
Prisão ..................................................................................................................................... 118
Liberdade Provisória .............................................................................................................. 121
Tribunal do Júri ...................................................................................................................... 123
Prazos .................................................................................................................................... 126
Nulidades ............................................................................................................................... 127
Recursos................................................................................................................................. 131
Habeas Corpus ....................................................................................................................... 138
Mandado de Segurança ........................................................................................................... 142
Revisão Criminal .................................................................................................................... 143
Embargos Infringentes ........................................................................................................... 144
Execução Penal ...................................................................................................................... 144
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DIREITO PENAL
Lei Nova Favorável
Súmula 611 - STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo
das Execuções à aplicação de lei mais benigna.
Crime Impossível
Súmula 145 - STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação.
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Estamos diante do doutrinariamente conhecido flagrante preparado, provocado, crime
de ensaio ou ainda “delito putativo por obra do agente provocador”. Em apertada
síntese, há fundamentalmente dois requisitos para sua verificação, quais sejam (i) a
preparação e (ii) a não consumação da infração. Isso é importante, pois prevalece a ideia de
que se nos depararmos com um caso em que, não obstante reste presente a preparação, mas
o agente logre êxito na consumação, haverá crime (possível) e a prisão será considerada legal.
Nesse ponto, vale atentar para a Súmula 567 do STJ, que indica que o “sistema de vigilância
realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial,
por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto”.
Crime Continuado
Súmula 605 - STF: Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida.
Superada. A súmula é anterior a Lei nº 7.209/84, que reformou a Parte Geral do Código Penal.
A partir de então, de forma expressa através do parágrafo único do art. 71 do CP, passou-se
a admitir continuidade delitiva em crimes dolosos:
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único
do art. 70 e do art. 75 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Para essa continuidade delitiva do parágrafo único do artigo 71 do CPB (chamada por alguns
de crime continuado específico), relacionado a crimes contra bens jurídicos
personalíssimos, deve haver o preenchimento de 3 requisitos: (i) vítimas diversas, (ii) presença
de violência ou grave ameaça e (iii) ter natureza dolosa a conduta.
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COMO CAIU NA SUA PROVA:
CESPE (TJ-DFT 2016): De acordo com as súmulas em vigência do STF, assinale a opção
correta. Admite-se continuidade delitiva nos crimes contra a vida. (Errado *)
* Tratava-se de questão de múltipla escolha, e o gabarito dado fazia referência a outra assertiva.
Embora discutível, cobrou a literalidade dos entendimentos sumulados. Além disso, em que pese
superado, não foi cancelado formalmente. Por isso, atenção!
Súmula 711 - STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.
Atenção! Apesar de a redação da súmula deixar a entender que se aplica sempre a lei mais
grave aos crimes continuados ou permanentes, o entendimento correto é o de que sempre
se aplicará a lei nova, quer seja mais ou menos gravosa.
Imagine, pois, que o Tício está cometendo um crime permanente com pena em abstrato de
3 a 10 anos. Contudo, durante a permanência do crime em tela, há uma modificação da lei
penal e aquele crime passa a ter uma pena de 1 a 5 anos.
1
HC 298.927/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe
26/11/2015.
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aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a entrada em vigor da nova legislação, antes
da cessação da permanência do crime. (Certo)
FCC (DPE-ES 2016): a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é posterior à cessação da continuidade ou da permanência. (Errado)
Ação Penal
Súmula 601 - STF: Os arts. 3º, II, e 55 da Lei Complementar nº 40/1981 (Lei
Orgânica do Ministério Público) não revogaram a legislação anterior que atribui a
iniciativa para a ação penal pública, no processo sumário, ao juiz ou à autoridade
policial, mediante portaria ou auto de prisão em flagrante.
Súmula 607 - STF: Na ação penal regida pela Lei nº 4.611/1965, a denúncia, como
substitutivo da portaria, não interrompe a prescrição.
“A Lei 4.611/65 dispõe, em seu artigo 1º, que ‘[o] processo dos crimes previstos nos artigos 121, § 3º,
e 129, § 6º, do Código Penal, terá o rito sumário estabelecido nos arts. 531 a 538 do Código de
Processo Penal’. É dizer, a Lei estendeu aos crimes de homicídio e lesão corporal culposos o rito
reduzido das contravenções penais, prevendo tenha início o processo com o auto de prisão em
flagrante ou mediante portaria expedida pela autoridade policial ou pelo juiz, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público. Esses preceitos tornaram-se sabidamente incompatíveis
com o disposto no artigo 129, I, da Constituição de 1988, que conferiu ao Ministério Público
o monopólio da ação penal pública.” (STF. HC 91581, Relator Ministro Eros Grau, Segunda
Turma, julgamento em 14.8.2007, DJe de 22.2.2008).
Dosimetria da Pena
Súmula 171 - STJ: Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa de
liberdade e pecuniária, é defeso2 a substituição da prisão por multa.
2 Significa proibido. Diversos candidatos têm dificuldade de assimilar o significado de defeso, por isso, atenção!
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Compreendido isso, vamos para o objetivo do verbete. Segundo o STJ, se – em lei especial
– houver previsão de cominação em abstrato de uma pena privativa de liberdade e (+) pena
pecuniária (ex.: multa), a PPL não pode ser substituída por outra multa. Nesses casos, poderá
ser a PPL substituída, mas por outras penas restritivas de direitos, mas não pela multa
vicariante.
Súmula 241 - STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como
circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.
Vale depositar aqui uma atenção especial. A reincidência é uma agravante genérica de caráter
subjetivo, delineada no artigo 61, I do CPB4, devendo sua incidência ser apreciada na 2ª fase
do sistema trifásico da dosimetria da pena (art. 68 CPB). De acordo com o verbete, não será
3 No mesmo sentido encontra-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Sobre o tema, vale conferir
o RE 597270 QO-RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 26/03/2009, na sistemática de
repercussão geral.
4
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a reincidência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
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possível considera-la agravante e – concomitantemente – valorá-la negativamente como
circunstância judicial (art. 59), sob pena de bis in idem.
É preciso redobrar os cuidados com um detalhe! Não haverá essa vedação se estivermos
diante de acusado detentor de mais de uma sentença condenatória irrecorrível. Nesses casos,
de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, será possível ao julgador valer-se
de uma das condenações como reincidência e outra utilizada como circunstância judicial
(maus antecedentes), não havendo violação ao bis in idem.
5 HC 185.894/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 17/12/2015, DJe
05/02/2016.
6
EREsp 1431091/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/12/2016, DJe
01/02/2017.
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CESPE (TJ-AM 2016): Considerando que o réu já tinha sido preso em flagrante por roubo e,
mesmo sem o trânsito em julgado da respectiva sentença, ele ainda responde a dois inquéritos
policiais por furtos, justifica-se a exacerbação da pena-base. (Errado)
FAURGS (TJ-RS 2016): Segundo a orientação jurisprudencial dominante no Superior Tribunal
de Justiça, processos criminais em andamento não poderão ser valorados como prova de
antecedentes criminais, salvo na hipótese de já terem sido objeto de sentença condenatória sobre
a qual se aguarda o julgamento de recursos defensivos. (Errado)
CESPE (TJ-DFT 2016): Embora seja vedada a utilização de inquéritos policiais em andamento
para aumentar a pena-base, é possível a utilização de ações penais em curso para requerer o
aumento da referida pena. (Errado)
FUNCAB (PC-PA 2016): O STF entende, com repercussão geral, que inquéritos arquivados ou
ações penais em curso não podem ser considerados como maus antecedentes, mas podem ser
considerados para elevar a pena com fundamento na conduta reprovável. (Errado)7
Nesse raciocínio, devemos atentar para a situação da chamada confissão qualificada. Ela
nada mais é do que a situação em que o agente reconhece espontaneamente (sem ser
constrangido) a prática de um fato típico perante autoridade, porém, concomitantemente,
alega motivo etiquetado como (i) excludente da ilicitude – estado de necessidade, legítima defesa,
7 “A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não pode ser
considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.” (RE 591054, Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-037 DIVULG 25-02-2015 PUBLIC 26-02-2015)
8 Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
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estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito - ou de (ii) culpabilidade em sua defesa
– são as chamadas dirimentes: inimputabilidade, erro de proibição inevitável, coação moral irresistível e
obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal.
Ora, de acordo com a Súmula 545 do STJ, caso a confissão (mesmo qualificada) seja utilizada
no convencimento do julgador, ela será idônea a gerar a redução! Afirma-se, pois, que o
STJ admite a confissão qualificada.
Isso é bastante relevante, pois há julgados do Supremo Tribunal Federal (antes da Súmula do
STJ) asseverando posição em sentido contrário, ou seja, que “a confissão qualificada não é
suficiente para justificar a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal (Precedentes: HC
74.148/GO, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 17/12/1996 e HC 103.172/MT, Rel.
Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 24/09/2013)”9.
A importância desse entendimento é gigante, pois a partir de uma leitura rápida do artigo 33,
parágrafo 2º do CPB10, pode-se ter a impressão de que a vontade do legislador é determinar
que o regime inicial de cumprimento da pena de todo reincidente seja o fechado.
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Todavia, de acordo com a Súmula ora analisada, temos que: (i) se se tratar de reincidente
com pena de reclusão superior a 4 anos, o regime inicial será o fechado; de outra sorte, (ii)
caso se trate de pena de reclusão igual ou inferior a 4 anos, tratando-se de reincidente, o
regime inicial poderá ser o fechado ou semiaberto, a depender das circunstâncias do artigo
59 do CPB11.
Assim, teremos:
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-
la em regime aberto.
11
No sentido de que é inviável o regime inicial aberto para o réu reincidente condenado a pena inferior a 4
anos, conferir o STJ, HC 285.428/RS, 5ª Turma (2015).
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FCC (DPE-BA 2016): segundo a jurisprudência dominante do STJ, a reincidência impede o
cumprimento de pena em regime semiaberto, independentemente da quantidade de pena e das
circunstâncias judiciais. (Errado)
CESPE (DPE-RN 2015): O agente condenado a pena privativa de liberdade inferior a quatro
anos de reclusão, reincidente e com circunstância judicial desfavorável somente pode iniciar o
cumprimento da sanção corporal em regime semiaberto. (Errado)
FCC (TJ-PI 2015): O condenado à pena inferior a quatro anos de reclusão deverá começar a
cumpri-la em regime aberto, não podendo o Magistrado optar por outro regime, ainda que
elevadas as penas básicas por conta de circunstâncias judiciais desfavoráveis (Errado); poderá
cumpri-la, inicialmente, em regime semiaberto, ainda que reincidente, se favoráveis as
circunstâncias judiciais. (Certo)
CESPE (DPU 2015): Se as circunstâncias judiciais forem favoráveis, o reincidente condenado à
pena de quatro anos poderá ser submetido ao regime prisional semiaberto. (Certo)
A Segunda Turma, em conclusão e por maioria, deu provimento a recurso ordinário em “habeas
corpus” em que o recorrente pleiteava a fixação do regime semiaberto para o início do cumprimento
da pena. No caso, ele foi condenado pela prática de roubo duplamente circunstanciado, em razão do
concurso de agentes e do uso de arma de fogo. Na sentença, o juízo fixou a pena-base no mínimo
legal, mas estabeleceu o regime inicial fechado — v. Informativo 841. O Colegiado entendeu, de
acordo com precedentes da Turma, que o juízo, ao analisar os requisitos do art. 59 do Código
Penal, havia considerado todas as circunstâncias favoráveis. Concluiu que, fixada a pena no
mínimo legal, não cabe determinar regime inicial fechado. Lembrou, também, orientação do
Enunciado 440 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça nesse mesmo sentido (“Fixada a pena-
base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível
em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”). Vencido o ministro
Ricardo Lewandowski (relator), que desprovia o recurso. RHC 135298/SP, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, 18.10.2016. (RHC-135298)
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VUNESP (TJ-SP 2017): é admissível a adoção do regime prisional fechado aos reincidentes
condenados a pena igual ou inferior a 4 (quatro) anos de reclusão, se desfavoráveis as
circunstâncias judiciais, bem como vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso
do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito,
se fixada a pena-base no mínimo legal. (Certo)
TRF 2ª Região (Juiz Federal 2017): Fixada a pena em seu mínimo legal, é possível estipular
regime prisional mais gravoso do que o previsto em razão da sanção imposta, desde que presente
a gravidade abstrata do delito e a perturbação causada à ordem pública. (Errado)
CESPE (TJ-DFT 2016): Ainda que a pena-base tenha sido fixada no mínimo legal, é admissível
a fixação de regime prisional mais gravoso que o cabível, em razão da sanção imposta, com
fundamento na gravidade concreta ou abstrata do delito. (Errado)
MPE-RR (Promotor de Justiça 2016): Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o
estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta,
com base apenas na gravidade abstrata do delito. (Certo)
CESPE (DPU 2015): A gravidade abstrata do delito justifica o estabelecimento de regime
prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, independentemente de a
pena-base ter sido fixada no mínimo legal. (Errado)
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COMO CAIU NA SUA PROVA:
CESPE (TJ-PB 2015): Segundo a doutrina dominante e o CP, o juiz, ao aplicar a pena, deve
valer-se de sua discricionariedade no que diz respeito à fixação do regime prisional em que o
condenado começará a cumprir a sanção. (Errado)
Medida de Segurança
Súmula 422 - STF: A absolvição criminal não prejudica a medida de segurança,
quando couber, ainda que importe privação da liberdade.
Esse entendimento deve ser compreendido com temperamento, mormente para verificação
de sua validade. Em verdade, ela está correta e válida quando se entende/interpreta essa
“absolvição criminal” como absolvição imprópria. Para que haja essa absolvição imprópria,
prevista no art. 386, VI do Código de Processo Penal12, com fixação de medida de segurança,
é imprescindível que estejamos diante de situação em que o agente imputável, em hipótese
similar, seria condenado à pena. Deve-se tratar de fato típico, punível, mas em razão da
periculosidade e inexistência de imputabilidade integral (inimputável ou semi-imputável),
opta-se pela fixação de medida de segurança. Dito de outra maneira, para que haja a absolvição
imprópria e a incidência de medida de segurança, deve restar evidenciada a prática de fato típico, punível,
ilícito e ausentes as excludentes de culpabilidade diversas da inimputabilidade. Em casos tais,
comprovada a periculosidade do agente, haverá a chamada absolvição imprópria, com a
incidência da medida de segurança.
Súmula 520 - STF: Não exige a lei que, para requerer o exame a que se refere o art.
77713 do Código de Processo Penal, tenha o sentenciado cumprido mais de metade
do prazo da medida de segurança imposta.
Art. 176. Em qualquer tempo, ainda no decorrer do prazo mínimo de duração da medida de
segurança, poderá o Juiz da execução, diante de requerimento fundamentado do Ministério Público
ou do interessado, seu procurador ou defensor, ordenar o exame para que se verifique a cessação
da periculosidade, procedendo-se nos termos do artigo anterior.
12 Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do
art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; (Redação dada pela
Lei nº 11.690, de 2008)
13 Art. 777. Em qualquer tempo, ainda durante o prazo mínimo de duração da medida de segurança, poderá o
tribunal, câmara ou turma, a requerimento do Ministério Público ou do interessado, seu defensor ou curador,
ordenar o exame, para a verificação da cessação da periculosidade.
18
Súmula 525 - STF: A medida de segurança não será aplicada em segunda instância,
quando só o réu tenha recorrido.
Contudo, com a Reforma da Parte Geral do Código Penal Brasileiro efetivada em 1984,
mormente com a nova redação do artigo 98 do CPB14, podemos afirmar que o legislador
pátrio passou a adotar expressamente o Sistema Vicariante ou Unitário, superando o
sistema do duplo binário. Assim, ao semi-imputável será aplicada a pena reduzida de 1/3 a
2/3 OU a medida de segurança, conforme seja mais adequado ao caso. Não mais é
admitida a pena privativa de liberdade E medida de segurança, ainda que em
sequência, pelo mesmo fato típico15.
Por essa razão, a doutrina majoritária sustentava a superação da Súmula 525. Entretanto,
em 2012, houve aplicação da referida súmula pelo STF:
14 Art. 98 – Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial
tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento
ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos
§§ 1º a 4º.
15 Para mais informações, ver artigo do professor Pedro Coelho publicado em: https://blog.ebeji.com.br/o-
cp-brasileiro-adota-o-sistema-vicariante-ou-duplo-binario/.
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súmula foi editada quando vigia o sistema duplo binário, isto é, quando havia possibilidade de aplicação
simultânea de pena privativa de liberdade e de medida de segurança. A reforma penal de 1984, autoriza a
substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança ao condenado semi-imputável que
necessitar de especial tratamento curativo, aplicando-se o mesmo regramento da medida de segurança para
inimputáveis (art. 97 e 98)”16. Redobre os cuidados com a aparente divergência entre STF e STJ
quanto ao presente verbete.
Súmula 527 - STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar
o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.
Cuidado! Os Tribunais divergem nesse assunto. Enquanto o STJ entende que o prazo
máximo de duração da medida de segurança é o máximo da pena abstratamente cominada
ao delito, o STF possui entendimento diverso, no sentido de que a duração máxima da
medida de segurança é a previsto no art. 75 do CPB17, trinta anos:
16 HC 187.051/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2011, DJe
14/10/2011.
17 Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta)
20
§1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando
enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo
mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
O CPB previu prazo mínimo, mas não prazo máximo, uma vez que o §1º alude a tempo
indeterminado. Acontece que cumprimento ilimitado de pena é incompatível com a ordem
constitucional vigente. Por isso, ficou a cargo dos Tribunais Superiores a fixação de um prazo
máximo de cumprimento da medida de segurança. No entanto, há divergência.
Pena de Multa
Súmula 521 - STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de
pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da
Fazenda Pública.
Após a Lei nº 9.268/96, que alterou o art. 51 do Código Penal, ao contrário do que é
mencionado em diversas assertivas de provas (conforme será visto abaixo), não há
que se falar em legitimidade do Ministério Público para executar pena de multa:
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Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor,
aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública , inclusive
no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. (Redação dada pela Lei nº 9.268,
de 1º.4.1996)
A execução também não deverá ser manejada pela Procuradoria da Fazenda respectiva no
âmbito da Vara de Execuções Penais. Havendo vara especializada para a cobrança de dívidas,
será sua a competência para a referida cobrança.
Sursis
Súmula 499 - STF: Não obsta à concessão do sursis condenação anterior à pena de
multa.
22
Perdão Judicial
Súmula 18 - STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção
da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
Deve-se compreender que quando o agente é beneficiado pelo perdão judicial, não se está
realizando um juízo absolutório de mérito (autoria ou materialidade), tampouco havendo
condenação, vez que ausente fixação da pena. Daí ser imperiosa e pragmática a conclusão do
STJ no sentido de qualificar essa decisão como “sentença declaratória de extinção da
punibilidade”. Não há condenação ou absolvição, mas apenas a “declaração da
situação de punibilidade extinta”. À época de sua edição, a súmula foi bastante pertinente,
visto que havia intensa controvérsia jurisprudencial sobre o tema.
23
CESPE (TJ-PB 2015): A sentença concessiva do perdão judicial obsta o cumprimento de pena
privativa de liberdade, mas não extingue a punibilidade do réu. (Errado)
Prescrição
Súmula 146 - STF: A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na
sentença, quando não há recurso da acusação.
Trata-se de uma materialização dos efeitos práticos da vedação à reformatio in pejus. Explico.
Sabendo que o Código de Processo Penal (art. 617) e o sistema acusatório constitucional
impede o agravamento da condição do acusado quando houver recurso exclusivo da defesa,
o cálculo da prescrição deverá ser realizado a partir do quantum definido na sentença
impugnada, afinal, eventuais mudanças geradas pelo recurso somente abrandarão a situação
do réu, jamais recrudescerão o tratamento.
Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger-se-á pelas disposições do Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia da decretação da
falência, da concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano de recuperação
extrajudicial. Parágrafo único. A decretação da falência do devedor interrompe a prescrição cuja
contagem tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a homologação do plano
de recuperação extrajudicial.
24
Súmula 497 - STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se
pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da
continuação.
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de
cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Superada, pois além da prescrição da pretensão executória, também se calcula pela pena em
concreto tanto a prescrição retroativa, quanto a prescrição intercorrente.
Assim, o fato de ter havido desclassificação por parte do Tribunal do Júri para crime diverso
dos dolosos contra a vida, por exemplo, não tem o condão de afastar a incidência do artigo
117, II do Código Penal, o qual indica que “o curso da prescrição interrompe-se pela pronúncia”, sem
fazer qualquer ressalva.
25
Súmula 220 - STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão
punitiva.
Atenção! De acordo com o art. 110 do Código Penal, a reincidência influi no prazo da
prescrição da pretensão executória, entretanto, conforme se depreende da súmula, não influi
no prazo da prescrição da pretensão punitiva:
Prescrição depois de transitar em julgado sentença final condenatória
Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela
pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um
terço, se o condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
26
Apesar de bastante defendida e de utilidade prática (em um viés pragmático salutar do processo
penal), não possui previsão legal e, por essa razão, não é admitida pelos Tribunais Superiores.
27
MPE-PR (Promotor de Justiça 2016): É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição
da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou
sorte do processo penal. (Certo)
MPE-GO (Promotor de Justiça 2016): A prescrição da pretensão punitiva com fundamento
em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal é: Inadmissível
conforme entendimento sumulado do STJ. (Certo)
TRF 3ª Região (Juiz Federal 2016): Se, no curso da ação penal, o magistrado notar que a
prescrição está prestes a ocorrer, poderá: Declarar, desde logo, a extinção da punibilidade, pela
prescrição em perspectiva. (Errado)
VUNESP (TJ-SP 2015): É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão
punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do
processo penal. (Certo)
CESPE (TJ-PB 2015): É admissível a extinção da punibilidade em razão da prescrição da
pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética. (Errado)
CEFET-BA (MPE-BA 2015): É admissível a extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou
sorte do processo penal. (Errado)
Contravenções Penais
Súmula 51 - STJ: A punição do intermediador, no jogo do bicho, independe da
identificação do “apostador” ou do “banqueiro”.
Súmula 720 - STF: O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra
do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no
tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.
O STF assentou a derrogação do art. 3221 da Lei de Contravenções Penais, no âmbito das
vias terrestres, pelo art. 30922 do Código de Trânsito, precisamente porque o último, além de
converter em crime a infração, para a sua configuração passou a reclamar a ocorrência de
perigo concreto, ou seja, a efetiva comprovação da ocorrência da situação de perigo.
21 Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a motor em aguas públicas:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
22 Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou,
28
Furto
Súmula 442 - STJ: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de
agentes, a majorante do roubo.
Importante! Essa Súmula deve ser entendida, mas analisada com muito cuidado para os que
estiverem prestando provas de etapas mais avançadas em concurso de Defensoria Pública.
O raciocínio que não prevaleceu no STJ, mas se revela interessante no dia a dia criminal
prático, era no sentido de que o crime de furto qualificado pelo concurso de agentes (art. 155
§ 4º IV do CPB 23) tem a pena duplicada em relação ao furto simples. Todavia, alguns
passaram a advogar a tese de que esse incremento seria irrazoável e desproporcional. Para
comprovar a tese ventilada, apontavam como parâmetro comparativo situação semelhante
prevista pelo legislador para o roubo praticado em concurso de agentes. Diferentemente da
duplicação da pena, no roubo haveria “simples” aumento de pena entre 1/3 e ½. O STJ
admitiu a utilização do parâmetro do artigo 157, parágrafo 2º (roubo) para os casos de furto
qualificado? Não! A utilização da analogia no caso em tela foi refutada, pois não se trata de
uma omissão do legislador e a utilização por parte do juízo de parâmetro legal diverso daquele
pretendido pelo Poder Legislativo culminaria em ofensa ao postulado da separação de
poderes. Daí ter prevalecido o entendimento consubstanciado na Súmula 442 do STJ.
§2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
29
primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem
objetiva.
Trata-se do furto privilegiado-qualificado (ou furto híbrido), reconhecido não só pelo STJ
- vide súmula -, como também pelo STF:
Percebe-se então que a jurisprudência dos Tribunais Superiores admite sim o furto
privilegiado-qualificado (ou furto híbrido), desde que estejamos diante de qualificadoras
objetivas! Mas o que são qualificadoras objetivas e subjetivas?
Qualificadora objetiva é aquela que está relacionada intimamente com o fato delituoso
praticado, circunstâncias em que o crime fora praticado, modo, lugar, tempo, instrumentos
utilizados, ao passo que a qualificadora subjetiva se verifica com vinculação à pessoa do
agente criminoso. Podemos dividir as qualificadoras do parágrafo 4º do artigo 155 do CPB
na seguinte classificação:
(a) com destruição ou rompimento de obstáculo (a) com abuso de confiança, ou mediante
à subtração da coisa; fraude, escalada ou destreza;
30
Prevalece, apesar de alguma divergência, que a única qualificadora subjetiva e incompatível
com o privilégio do artigo 155, parágrafo 2º do CPB é quando a prática do delito envolver
abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza.
Conforme preconiza o art. 17 do Código Penal, para configurar crime impossível (tentativa
inidônea ou quase-crime) se faz necessário a ineficácia absoluta do meio ou a impropriedade
absoluta do objeto. Portanto, o CP adota, quanto ao crime impossível, a teoria objetiva
temperada - aquela que considera haver crime tentado se a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto
for relativa:
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
31
concreto, se perceber que o crime seria impossível, a partir dos requisitos e condições do
CPB25.
25Na espécie, embora remota a possibilidade de consumação do furto iniciado pelas recorridas no interior do
mercado, o meio empregado por elas não era absolutamente inidôneo para o fim colimado previamente, não
sendo absurdo supor que, a despeito do monitoramento da ação delitiva, as recorridas, ou uma delas, lograssem,
por exemplo, fugir, ou mesmo, na perseguição, inutilizar ou perder alguns dos bens furtados, hipóteses em que
se teria por aperfeiçoado o crime de furto. (...). (REsp 1385621/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2015, DJe 02/06/2015).
32
Roubo
Súmula 174 – STJ (cancelada): No crime de roubo, a intimidação feita com arma
de brinquedo autoriza o aumento da pena.
Sobre o emprego de arma e a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 157,
§2º, I do CPB26, teremos:
Arma Há divergência!
desmuniciada STJ: Em entendimentos mais recentes, a Corte da Cidadania se
posiciona pela não incidência da majorante.27
26 Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
27 “Conforme o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o emprego de arma de fogo desmuniciada
tem o condão de configurar a grave ameaça e tipificar o crime de roubo, no entanto não é suficiente para
33
STF: Em julgados pontuais o Supremo, por sua vez, afirma que
o emprego de arma de fogo eficaz, ainda que desmuniciada, faz
incidir a majorante.28
caracterizar a majorante do emprego de arma, pela ausência de potencialidade lesiva no momento da prática do
crime.” (AgRg no REsp 1536939/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado
em 15/10/2015, DJe 05/11/2015)
28 “É irrelevante saber se a arma de fogo estava ou não desmuniciada, visto que tal qualidade integra a própria
natureza do artefato. Não se mostra necessária, ademais, a apreensão e perícia da arma de fogo empregada no
roubo para comprovar o seu potencial lesivo. III - Lesividade do instrumento que se encontra in re ipsa. IV -
A majorante do art. 157, § 2º, I, do Código Penal, pode ser evidenciada por qualquer meio de prova, em especial
pela palavra da vítima - reduzida à impossibilidade de resistência pelo agente - ou pelo depoimento de
testemunha presencial.” (RHC 104583 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma,
julgado em 26/10/2010, DJe-222 DIVULG 18-11-2010 PUBLIC 19-11-2010 EMENT VOL-02434-02 PP-
00214 LEXSTF v. 32, n. 384, 2010, p. 445-451)
29 “Para a caracterização da majorante prevista no art. 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, prescinde-se da
apreensão e realização de perícia em arma utilizada na prática do crime de roubo, se por outros meios de prova
restar evidenciado o seu emprego. Precedentes do STF. II - Os depoimentos do condutor, da vítima, das
testemunhas, bem como qualquer meio de captação de imagem, por exemplo, são suficientes para comprovar
a utilização de arma na prática delituosa de roubo, sendo desnecessária a apreensão e a realização de perícia
para a prova do seu potencial de lesividade e incidência da majorante. III - A exigência de apreensão e perícia
da arma usada na prática do roubo para qualificá-lo constitui exigência que não deflui da lei resultando então
em exigência ilegal posto ser a arma por si só -- desde que demonstrado por qualquer modo a utilização dela -
instrumento capaz de qualificar o crime de roubo. IV - Cabe ao imputado demonstrar que a arma é desprovida
de potencial lesivo, como na hipótese de utilização de arma de brinquedo, arma defeituosa ou arma incapaz de
produzir lesão.” (STJ, EREsp 961.863/RS, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/SP), Rel. p/ Acórdão Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
13/12/2010, DJe 06/04/2011)
30 “Prescinde de apreensão e perícia da arma de fogo a qualificadora decorrente de violência ou ameaça
implementadas – artigo 157, § 2º, inciso I, do Código Penal.” (STF, HC 96985, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 29/09/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-240 DIVULG 26-
11-2015 PUBLIC 27-11-2015)
34
Súmula 443 - STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de
roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a
sua exasperação a mera indicação do número de majorantes.
O STJ afirma claramente que não! Esse aumento pressupõe uma análise e fundamentação a
partir do caso concreto, a fim de aferir a maior ou menor reprovabilidade da conduta e a
necessidade de recrudescimento concreto da pena. O Súmula 443 do STJ materializa, na
prática, os postulados da individualização da pena e da necessária fundamentação das
decisões judiciais, ambos de estatura constitucional.
Súmula 582 - STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
35
da posse, quanto ao momento de consumação do crime de roubo. Segundo esta teoria, a
consumação se dará quando a coisa subtraída passar para o poder do agente, ou seja, quando
houver a inversão da posse, ainda que por pouco tempo e na esfera de vigilância da vítima.
É o que nos diz a súmula em sua parte final, “sendo prescindível – dispensável,
desnecessário - a posse mansa e pacífica ou desvigiada”31.
O evento morte é essencial para poder-se falar em consumação do latrocínio. Ele somente
existirá, pois, quando houver morte causada no curso da prática de roubo, seja próprio ou
impróprio. Não estamos diante de um crime preterdoloso (dolo no antecedente e culpa no
consequente), já que, independentemente de se tratar de morte produzida dolosa ou
culposamente, estar-se-á diante de latrocínio. Trata-se de um crime qualificado pelo
resultado. Acerca do momento consumativo do latrocínio, convém esquematizar algumas
situações e o respectivo entendimento prevalente:
31
Para conferir um maior aprofundamento sobre o tema e sobre todas as teorias envolvendo o momento
consumativo dos crimes de roubo e furto, conferir o artigo “COELHO, Pedro. Teorias da contrectatio,
amotio, ablatio ou illatio, em: https://blog.ebeji.com.br/teorias-da-contrectatio-amotio-ablatio-ou-illatio/.
36
Situação Latrocínio
Na esteira da doutrina majoritária, o crime será único, visto que estamos diante de um crime
patrimonial e apenas um patrimônio fora atingido. Isso ocorre independentemente do
número de mortos. Essa é a posição assimilada pelo STF34. Contudo, há julgados do STJ
advogando tese diversa e concluindo pela existência de um concurso formal impróprio de
latrocínios35.
E já que estamos revisando, para melhor compreender a posição do STJ, vale relembrar o
significado do termo concurso formal impróprio, previsto na segunda parte do artigo 70
do CPB36. Ele se materializa nas situações em que, apesar da existência de uma pluralidade
de crimes perpetrados a partir de uma única ação ou omissão, a vontade do agente era a
prática de todos eles, com desígnios autônomos. E esse elemento é importante, pois
32
Vide Súmula 610 do STF.
33
Apesar de haver alguma resistência a essa posição e precedentes em sentido diverso, prevalece no STF a
posição de que havendo subtração efetivada, mas a morte não se materializado, estaríamos diante de um
latrocínio tentado. Nesse sentido, em recente julgado, afirmou-se que “esse entendimento converge com a jurisprudência
da Corte, segundo a qual “o crime latrocínio, na modalidade tentada, para a sua configuração, prescinde da aferição da gravidade
das lesões experimentadas pela vítima, sendo suficiente a comprovação de que o agente tenha atentado contra a sua vida com animus
necandi, não atingindo o resultado morte por circunstâncias alheias à sua vontade” (HC nº 113.049/SC, Primeira Turma,
Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 10/9/13)”. (RHC 133486, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma,
julgado em 02/08/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-177 DIVULG 19-08-2016 PUBLIC 22-08-2016).
34 HC 96736, Rel. Min. Teori Zavascki, 2ª Turma do STF, julgado em 17/09/2013.
35 HC 185.101/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 07/04/2015, DJe
16/04/2015
36 Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não,
aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer
caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão
é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo
anterior.
37
modificará o tratamento na fixação da pena, visto que – diferentemente do concurso formal
próprio em que se aplica o sistema da exasperação (1/6 até ½) – no concurso formal
impróprio, em razão dos desígnios autônomos, o legislador previu a observância excepcional
do sistema da cumulação (soma), tal qual ocorre nos concursos materiais.
Extorsão
Súmula 96 - STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção
da vantagem indevida.
A extorsão é um crime formal. Em outras palavras, não obstante haver previsão de resultado
natural, ele não é imprescindível para a consumação do delito, revelando-se como mero
exaurimento da conduta. Independentemente da vantagem econômica, caracterizado
constrangimento ilegal com tal finalidade (art. 158 CPB), restará consumado o crime.
Como já salientou o STJ, “o delito tipificado no artigo 158 do Código Penal se consuma
independentemente da obtenção da vantagem indevida, bastando que a vítima faça, deixe de fazer ou tolere
que o agente faça alguma coisa mediante violência ou grave ameaça.(...) É impossível o reconhecimento da
tentativa na segunda conduta, já que a ação policial não impediu que as vítimas agissem de modo a entregar
a quantia exigida pelos réus, tendo obstado apenas que estes efetivamente recebessem o dinheiro, fase que
caracteriza mero exaurimento do delito (HC 232.062/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 11/03/2014, DJe 25/03/2014).
38
COMO CAIU NA SUA PROVA:
FCC (DPE-PR 2017): A extorsão é crime formal e se consuma quando o sujeito ativo recebe a
vantagem exigida. (Errado)
CESPE (TJ-PR 2017): O crime de extorsão se consuma no momento em que o sujeito ativo, à
custa de grave ameaça contra o sujeito passivo, obtém o proveito econômico almejado. (Errado)
TRF 2ª Região (Juiz Federal 2017): A extorsão é crime formal e se consuma quando o agente
efetivamente obtém a vantagem indevida. (Errado)
CESPE (PC-PE 2016): A extorsão é considerada pelo STJ como crime material, pois se
consuma no momento da obtenção da vantagem indevida. (Errado)
Estelionato
Súmula 17 - STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
lesiva, é por este absorvido.
Perceba que parcela da doutrina advoga a tese de que somente haveria de se falar em
consunção quando o crime meio se revelar de menor ou igual gravidade em relação ao crime
fim. Do contrário, haveria um concurso material. Atenção! Esse entendimento não
prevalece no STJ, pois em recentes e sucessivas decisões a Corte admite a aplicação da
consunção entre o estelionato (crime fim com pena abstrata menor) e o uso de documento
falso (crime meio com pena abstrata maior). Nesse ponto, destaca-se o precedente em que
se asseverou literalmente que “conforme o enunciado da Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça,
Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. Se o Tribunal
de origem, soberano na análise das provas dos autos, concluiu que, no caso, o crime de uso de documento falso
foi praticado com a finalidade de possibilitar um único crime de estelionato, bem como que não há indícios de
que o agente tenha utilizado ou pretendia utilizar o documento falso em outras oportunidades, o exame da
pretensão em sentido contrário encontra óbice na Súmula 7/STJ (AgInt no AREsp 738.842/DF, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 13/12/2016, DJe
19/12/2016)”.
39
Súmula 24 - STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima
entidade autárquica da previdência social, a qualificadora do §3º, do art. 17137 do
Código Penal.
O raciocínio reinante aqui foi o de que a competência em razão do lugar (territorial) é definida,
na forma do artigo 70 do CPP, a partir do local da consumação do delito, como regra. Nesse
ponto, aplicando-se a teoria da consumação ou do resultado, tem-se que o estelionato
cometido através de falsificação de cheque é consumado no lugar em que a vantagem foi
efetivamente obtida38.
Aqui, diferem-se dois tipos penais. O crime de moeda falsa, previsto no art. 289 do CP,
pressupõe, para a sua configuração, que a falsificação, de fato, seja apta a iludir e enganar
terceiros – homem médio. Se assim o for, a competência para julgar é da Justiça Federal, já que
por mandamento constitucional é da competência da União a emissão de moeda (art. 21,
VII). Por outro lado, caso a falsificação seja grosseira, não possuindo a mesma capacidade
para ludibriar terceiros, tratar-se-á de fraude, configurando estelionato, previsto no art. 171
do CP, de competência da Justiça Estadual.
37 Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: § 3º - A pena aumenta-se de um terço,
se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular,
assistência social ou beneficência.
38 Vide Súmula 521 do STF.
40
TRF 2ª Região (Juiz Federal 2017) João falsificou cédulas de R$100,00, para o fim de utilizá-
las na aquisição de computador pertencente a Fritz, alemão que passava férias no Brasil. Após
vender o bem, Fritz foi preso em flagrante quando, sem perceber o engodo de que fora vitima,
tentou pagar conta de restaurante com uma das cédulas recebidas. A falsificação era grosseira
(fato depois atestado por laudo pericial) e foi facilmente detectada. Assinale a opção correia: João
deve responder pelo crime de falsificação de moeda (artigo 289 do Código Penal), já que logrou
êxito em ludibriar a vítima, ofendendo o bem jurídico tutelado na norma penal. (Errado); João
responde por dois crimes (artigo 289, caput e artigo 289, parágrafo Io do Código Penal), por ter
fabricado a moeda falsa e por tê-la introduzido em circulação (Errado); João somente responde
pelo crime de introduzir moeda falsa em circulação, uma vez que sua conduta era e foi eficiente
a tanto. (Errado); João deve responder pelo delito de estelionato. (Certo)
CESPE (TJ-PB 2015): Gustavo, funcionário público estadual, com o objetivo de obter
vantagem patrimonial ilícita para si, utilizou papel-moeda grosseiramente falsificado para efetuar
pagamento de compras de alto valor em um supermercado. Em face dessa situação hipotética,
assinale a opção correspondente à figura típica do delito praticado por Gustavo: estelionato
(Certo); moeda falsa. (Errado)
Súmula 244 - STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de
estelionato mediante cheque sem provisão de fundos39.
Súmula 246 - STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime
de emissão de cheque sem fundos.
Súmula 521 - STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
É válido atentar para a diferença da modalidade de estelionato pela emissão de cheque “sem
fundo” e o praticado a partir de cheque falso, mormente em relação à competência. Imagine
39
Mais uma aplicação da teoria da consumação ou do resultado para firmar a competência territorial.
41
que Pedro emite cheque sem fundos em João Pessoa/PB para comprar um relógio, mas a
agência bancária em que sua conta corrente está fixada é em Recife/PE. De acordo com o
verbete 521 do STF, a competência territorial será firmada em Recife, local da recusa de
pagamento do sacado. Situação inversa é se Pedro, objetivando a aquisição do mesmo
relógio, emitir um cheque falso! A competência será do local em que consumou o delito de
estelionato (art. 171 do CPB), ou seja, onde se obteve a vantagem ilícita. No exemplo narrado,
a competência territorial – no segundo exemplo – será em João Pessoa/PB.
Súmula 554 - STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após
o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.
De acordo com o princípio da adequação social, “não pode ser considerado criminoso o
comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o sentimento social de
Justiça” 40. Assim, se aplicado, tal princípio afastaria a tipicidade de determinadas condutas
que, em que pese serem típicas, são socialmente aceitas e toleradas. A Defensoria Pública do
Estado de São Paulo requereu, com base na adequação social, a declaração de atipicidade da
conduta a assistido incurso nas penas do art. 184, §2º do CP. O STF não acolheu a tese
(Informativo 583):
Masson, Cleber. Direito penal esquematizado – Parte geral – vol. 1. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
40
MÉTODO, 2016.
42
A Turma indeferiu habeas corpus em que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo
requeria, com base no princípio da adequação social, a declaração de atipicidade da conduta
imputada a condenado como incurso nas penas do art. 184, § 2º, do CP (“Art. 184. Violar direitos
de autor e os que lhe são conexos: ... § 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de
lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem
em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito
de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou,
ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos
titulares dos direitos ou de quem os represente.”). Sustentava-se que a referida conduta seria
socialmente adequada, haja vista que a coletividade não recriminaria o vendedor de CD’s e DVD’s
reproduzidos sem a autorização do titular do direito autoral, mas, ao contrário, estimularia a sua prática
em virtude dos altos preços desses produtos, insuscetíveis de serem adquiridos por grande parte da
população. Asseverou-se que o fato de a sociedade tolerar a prática do delito em questão não implicaria
dizer que o comportamento do paciente poderia ser considerado lícito. Salientou-se, ademais, que a
violação de direito autoral e a comercialização de produtos “piratas” sempre fora objeto de fiscalização
e repressão. Afirmou-se que a conduta descrita nos autos causaria enormes prejuízos ao Fisco pela
burla do pagamento de impostos, à indústria fonográfica e aos comerciantes regularmente
estabelecidos. Rejeitou-se, por fim, o pedido formulado na tribuna de que fosse, então, aplicado na
espécie o princípio da insignificância — já que o paciente fora surpreendido na posse de 180 CD’s
“piratas” — ao fundamento de que o juízo sentenciante também denegara o pleito tendo em conta a
reincidência do paciente em relação ao mesmo delito. HC 98898/SP, rel. Min. Ricardo
Lewandowski, 20.4.2010. (HC-98898)
43
CESPE (PC-PE 2016): A conduta de vender ou expor à venda CDs ou DVDs contendo
gravações de músicas, filmes ou shows não configura crime de violação de direito autoral, por ser
prática amplamente tolerada e estimulada pela procura dos consumidores desses produtos.
(Errado)
CESPE (TJ-DFT 2016): Por adequação social, nos termos da súmula 502, ainda que presentes
a materialidade e a autoria, nos termos da, súmula 502, a conduta de expor à venda CDs e DVDs
piratas, não tipifica o crime em relação ao direito autoral previsto no art. 184, § 2.º, do CP. (Errado)
CESPE (DPE-RN 2015): A conduta de vender e expor à venda DVDs falsificados é atípica
em razão da incidência do princípio da adequação social. (Errado)
CESPE (TJ-PB 2015): Conforme entendimento do STJ, o princípio da adequação social
justificaria o arquivamento de inquérito policial instaurado em razão da venda de CDs e DVDs.
(Errado)
Advertiu o Ministro Relator, no caso trazido acima, também que o CPP, nos casos de delitos
contra a propriedade imaterial (que desafiam ação penal pública), deve ser observado o
procedimento previsto nos arts. 530-B a 530-H, para a comprovação da materialidade dos
referidos crimes. Conforme prevê o art. 530-D do Código de Processo Pena, “subsequente à
apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia
sobre todos os bens apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o processo".
De acordo com a doutrina, a finalidade do exame é a demonstração dos elementos sensíveis
44
da prática delitiva. A perícia se torna imprescindível por ser ela o mecanismo legal
demonstrador da materialidade da infração típica que deixa rastros41.
Não obstante a literalidade do dispositivo indicar que a perícia deve ser efetivada em todos
os bens apreendidos, o STJ definiu posicionamento sobre o tema no sentido de que não se
deve acolher tal exigência para fins de comprovação da materialidade do crime previsto no
art. 184, § 2º, do Código Penal, mesmo porque a apreensão de um único objeto basta para
que, realizada a perícia e identificada a falsidade dos bem periciado, se tenha como
configurado o delito em questão.
Estupro
Súmula 608 - STF: No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação
penal é pública incondicionada.
CUIDADO! Tendência de Superação! A súmula foi editada quando o estupro era crime
de ação penal privada. A situação muda após a Lei nº 12.015/2009, que alterou a redação do
art. 225 do CP:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II – Dos crimes contra a liberdade sexual e Dos crimes
sexuais contra vulnerável - deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à
representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
A partir de então, em regra, o crime de estupro, em qualquer de suas formas, desafia ação
penal pública condicionada à representação. Apenas em duas hipóteses desafiaria ação penal
pública incondicionada: (i) no caos de vítima menor de 18 anos ou (ii) pessoa vulnerável.
Consoante salientado, apesar de ser essa a tendência, fato é que em 2014, a 6ª Turma do STJ
asseverou que a Súmula 608 do STF seria ainda aplicável. Nos termos do voto do Relator:
“A despeito da literalidade do disposto no art. 225 do Código Penal , nos crimes praticados mediante
violência real, ainda incide a Súmula n. 608 do STF, como no caso dos autos, em que a
45
violência empregada é incontroversa. Nesse sentido, menciono o HC n. 102.683⁄RS (DJe 7⁄2⁄2011), de
relatoria da Ministra Ellen Gracie, em que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ao analisar crime de
tentativa de estupro, cometido em 27⁄2⁄2006, contra vítima de 14 anos de idade, decidiu, à unanimidade, que
"Caracterizada a ocorrência de violência real no crime de estupro, incide, no caso, a Súmula 608⁄STF". Na ocasião,
salientou que "a ocorrência de violência real no crime de estupro, por si só, já é suficiente para classificar a respectiva
ação penal como pública incondicionada". Ainda, menciono o HC n. 106.224⁄SP (DJe 14⁄2⁄2011), de relatoria do
Ministro Jorge Mussi, em que a 5ª Turma deste Superior Tribunal decidiu que "tratando-se de crime de estupro e
atentado violento ao pudor praticados com emprego de violência real, a ação penal é de iniciativa pública incondicionada,
sendo o Parquet o ente legitimado para a sua promoção, a teor do texto constitucional, incidindo, na espécie, o enunciado
da Súmula n. 608⁄STF, que, inclusive, não perdeu a validade com o advento da Lei n. 9.099⁄95"42.
Em período anterior à vigência da Lei 12.015/2009, que conferiu novo tratamento aos
atualmente chamados crimes contra a dignidade sexual, havia um debate doutrinário intenso
sobre a presunção de violência na relação sexual estabelecida com menores de 14 anos,
42 REsp 1485352/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
25/11/2014, DJe 16/12/2014.
43 Para entender melhor a discussão, bem como o posicionamento atual do STJ a respeito do tema, sugere-se a
46
especialmente se poderia haver flexibilizações e afastar o caráter criminoso da conduta,
dependendo das circunstâncias.
A bem da verdade, é justo que se diga que, apesar de julgados isolados e pontuais apontando
o caráter relativo da presunção de violência antes da reforme de 2009 nos crimes sexuais, é
fato que o STJ e o STF solidificaram sua jurisprudência em sentido oposto, mesmo antes da
novidade legislativa.
Contudo, após a novidade legislativa (de 2009), com a criação do tipo específico nomeado
como Estupro de Vulnerável, o Código Penal Brasileiro passou a reprimir em seu artigo
217-A a conduta de “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos ou com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”.
Assim, apesar de eventuais críticas doutrinárias à opção do legislador, parece-me que a dicção
do mencionado dispositivo, se interpretado literalmente, afasta qualquer margem de
possibilidade de flexibilização quanto à licitude de relações sexuais com menores de 14 anos!
47
Nesse caminhar, antes mesmo do novo verbete sumular ser formalizado, o Superior Tribunal
de Justiça já apontava que “de um Estado ausente e de um Direito Penal indiferente à
proteção da dignidade sexual de crianças e adolescentes, evoluímos,
paulatinamente, para uma Política Social e Criminal de redobrada preocupação com o
saudável crescimento, físico, mental e emocional do componente infanto-juvenil de nossa
população, preocupação que passou a ser, por comando do constituinte (art. 226 da
C.R.), compartilhada entre o Estado, a sociedade e a família, com inúmeros reflexos na
dogmática penal. (…) No caso de crianças e adolescentes com idade inferior a 14 anos, o
reconhecimento de que são pessoas ainda imaturas – em menor ou maior
grau legitima a proteção penal contra todo e qualquer tipo de iniciação sexual precoce a
que sejam submetidas por um adulto, dados os riscos imprevisíveis sobre o desenvolvimento
futuro de sua personalidade e a impossibilidade de dimensionar as cicatrizes físicas e
psíquicas decorrentes de uma decisão que um adolescente ou uma criança de tenra idade
ainda não é capaz de livremente tomar”, tendo aprovado a seguinte tese na sistemática
de REPETITIVOS:
Com a Súmula 593, o STJ não apenas afastou a possibilidade de flexibilização a partir do
eventual consentimento da vítima, como também desqualificou para fins de consumação do
delito a experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso! Não há,
pois, que falar na “Exceção de Romeu e Julieta”44.
48
terá lugar quando restarem preenchidos 4 (quatro) vetores interpretativos, quais sejam: (i) a
mínima ofensividade da conduta do agente, (ii) nenhuma periculosidade social da ação, (iii) reduzidíssimo
grau de reprovabilidade do comportamento e a (iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
49
Uso de Documento Falso
Súmula 546 - STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de
documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o
documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.
Falsa Identidade
Súmula 522 - STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade
policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.
É certo que a ampla defesa é direito fundamental constitucionalmente garantido, e, por sua
vez, abrange a defesa técnica e a autodefesa. O direito ao silêncio, como autodefesa e
decorrente do direto a não autoincriminação - nemo tenetur se detegere -, é igualmente
assegurado, inclusive previsto pelo Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana
de Direitos Humanos), de status supralegal. Acontece que não se trata de um direito absoluto,
ilimitado. Tanto é que, apesar de a mentira defensiva ser admitida, entendendo esta como
decorrente da negação da prática do delito, não há que se dizer o mesmo das chamadas
mentiras agressivas – conduta típica -, quando o agente imputa, falsamente, a terceiro inocente
a prática do crime. Responderá, portanto, por denunciação caluniosa (art. 339 CP). Nesse
contexto, é entendimento do STJ, bem como do STF, que o nemo tenetur se detegere também
não abrange a conduta de falsear a identidade. Podendo responder, o agente, a depender do
contexto fático, tanto pelo crime de falsa identidade (art. 307 CP), quanto pelo de uso de
documento falso (art. 304 CP).
Nem sempre o STJ se posicionou dessa maneira. Ao contrário, durante um bom tempo
houve manifestação de suas duas Câmaras Criminais no sentido de que seria consolidado
50
“nesta Corte o entendimento de que a atribuição de falsa identidade, visando ocultar antecedentes criminais,
constitui exercício do direito de autodefesa (HC 151470/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 06/12/2010).
Contrabando e Descaminho
Súmula 151 - STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de
contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da
apreensão dos bens.
51
Se um carregamento de eletrônicos (descaminho) ou de cigarros falsificados (contrabando)
adentrarem no Brasil pela fronteira do Acre com a Bolívia, com o intuito de iludir imposto
devido ou se tratando de mercadoria proibida, mas a apreensão desses objetos se der em
Manaus, a competência para o processamento e julgamento não será o do local de entrada,
mas sim o de apreensão. Ou seja, o foro competente, no exemplo dado, será a Justiça Federal
de Manaus/AM.
“A legislação penal mencionada, no entanto - tal como decidiu o E. Superior Tribunal de Justiça
(Apenso, fls. 231/237) -, não se estende ao crime de descaminho (CP, art. 334, 'caput'), de tal modo
que o pagamento do tributo, ainda que efetivado antes do recebimento da denúncia, não tem o condão
de extinguir a punibilidade do agente. Cabe assinalar, neste ponto, que o entendimento do Supremo
Tribunal Federal consubstanciado na Súmula 560 não mais prevalece desde que sobreveio a Lei nº
6.910/81 (art. 1º), cujo texto deixou de atribuir eficácia extintiva da punibilidade ao pagamento do
tributo devido, se e quando se tratasse dos crimes de contrabando ou descaminho, em suas
modalidades próprias ou equiparadas (CP, art. 334 e §§ 1º e 2º).” (HC 88875 MC, Relator Ministro
Celso de Mello, Decisão monocrática, julgamento em 29.5.2006, DJ de 2.6.2006)
Apesar do referido Decreto falar em crimes de responsabilidade, temos ali modalidades comuns
de delito, razão pela qual a mera extinção do mandato não tem o condão de impedir a
52
instauração do investigação e processo a eles relacionados. Seguindo a mesma linha, temos a
Súmula 164 do STJ, abaixo colacionada.
Corrupção de Menores
Súmula 500 - STJ: A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da
prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal.
Logo, não importa o fato de o menor ter praticado atos infracionais anteriormente, esse
argumento não tem condão de afastar o tipo do art. 244-B do ECA, justamente por ser crime
formal.
53
comprovar a causa de aumento do art. 157, § 2º, inc. I, do Código Penal, pois o seu potencial lesivo
pode ser demonstrado por outros meios de prova. Precedentes. 4. Recurso ao qual se nega
provimento. (RHC 111434, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em
03/04/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-074 DIVULG 16-04-2012 PUBLIC 17-04-2012).
Sobre o tema, elucidativas as lições do STJ, registrando que, de acordo com a dicção da SV
24 do STF, os crimes tributários materiais ou de resultado somente podem ser tidos por
consumados após o exaurimento da esfera administrativa, ou seja, após o desfecho de
eventual procedimento fiscal instaurado para a discussão do crédito tributário. Tal
54
posicionamento evita que sejam tomadas decisões conflitantes nas esferas administrativa e
penal, pois impede que um agente venha a ser condenado pela prática de crime contra a
ordem tributária, por ter, por exemplo, ilidido o pagamento de imposto, cuja exigência restou
posteriormente afastada pela própria autoridade fiscal. Embora em tal hipótese pudesse ser
reconhecida a perda superveniente de justa causa para o exercício da ação penal, seria
contraditório admitir, via de regra, a oferta de denúncia antes que houvesse certeza sobre a
materialidade da conduta criminosa que motivou a acusação.
45RHC 61.790/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2016, DJe
19/12/2016.
55
CESPE (PC-PE 2016): Para o STF, haverá crime contra a ordem tributária, ainda que esteja
pendente de recurso administrativo que discuta o débito tributário em procedimento fazendário
específico, haja vista independência dos poderes. (Errado)
CESPE (TJ-DFT 2016): A conduta de reduzir tributo mediante prestação de declaração falsa às
autoridades fazendárias, antes do lançamento definitivo do tributo, configura crime contra a
ordem tributária. (Errado)
Súmula 609 - STF: É pública incondicionada a ação penal por crime de sonegação
fiscal.
Crime de Trânsito
Súmula 575 - STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a
direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre
em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da
ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo.
De acordo com o entendimento do STJ, o crime previsto no art. 310 do CTB46 é crime de
perigo abstrato. A posição que prevaleceu na Corte mencionada foi a de que o legislador
firmou um dever de garantidor ao possuidor do veículo, ou seja, um dever de não permitir, confiar
ou entregar a direção para pessoas não habilitadas e sem condições legais de assumir essa atividade. Vejamos
um precedente elucidativo, publicado no Informativo 559:
46
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com
habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou
mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança: Penas - detenção, de seis
meses a um ano, ou multa.
56
COMO CAIU NA SUA PROVA:
CESPE (DPE-AC 2017): Confiar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada ou em
estado de embriaguez constitui delito que tem natureza de infração penal de perigo
abstrato. (Certo)
MPE-RS (Promotor de Justiça 2017): Independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo
de dano concreto na condução do veículo, constitui crime a conduta de entregar a direção de um
automóvel à pessoa com o direito de dirigir suspenso. (Certo)
Estatuto do Desarmamento
Súmula 513 - STJ: A ‘abolitio criminis’ temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 –
Estatuto do Desarmamento - aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso
permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005.
A Lei nº 10.826/2003 previu, em seu art. 30, o que se entende por abolitio criminis temporária,
também denominada descriminalização temporária ou vacatio legis indireta. É dizer que, a lei
previu hipótese em que a conduta por ela tipificada não seria assim considerada, se
preenchidos os requisitos dentro de um lapso temporal. A aplicação de determinado tipo
penal fica temporariamente com sua incidência suspensa, não permitindo o processamento e
punição por aquele fato específico.
57
Vejamos um precedente originário da súmula:
"[...] Segundo a jurisprudência firmada por esta Corte de Justiça, a arma de uso permitido com
numeração raspada equipara-se à de uso restrito, logo, vislumbra-se que é típica a conduta denunciada,
motivo pelo qual não se encontra abarcada pela excepcional vacatio legis indireta. 2. Nesse sentido:
'Independentemente da discussão acerca da atipicidade temporária quanto à posse de arma de uso
permitido, a Quinta Turma desta Corte Superior vem entendendo que, a partir da nova redação dada
pela Medida Provisória nº 417/2008, convertida na Lei nº 11.706, de 19 de junho de 2008, que conferiu
nova redação aos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento, não se aplica o benefício, no caso
de arma com numeração suprimida ou de uso restrito, aos casos de apreensão fora do período
de abrangência da Lei nº 10.826/2003, qual seja, de 23 de dezembro de 2003 a 23 de outubro
de 2005' [...]" (AgRg nos EDcl no AREsp 270383 SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 27/11/2013).
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Percebe-se que a Lei Maria da Penha proíbe, expressamente, qualquer aplicação da Lei
9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. Não só
a suspensão condicional do processo e a transação penal, mas nenhum dos institutos
despenalizadores da Lei 9.099/95 poderão ser aplicados a esses casos.
Importante: Sobre o tema, já decidiu o STJ que sequer às contravenções penais praticadas
com violência doméstica e familiar contra a mulher se aplicariam os institutos da Lei
9.099/95. Informativo 539 STJ:
58
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. INAPLICABILIDADE DA TRANSAÇÃO
PENAL ÀS CONTRAVENÇÕES PENAIS PRATICADAS CONTRA MULHER NO
CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. A transação penal não é aplicável na hipótese de
contravenção penal praticada com violência doméstica e familiar contra a mulher . HC 280.788-
RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 3/4/2014.
Súmula 542 - STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
59
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de
representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
Logo, a ação penal é, em regra, pública e incondicionada, salvo quando a lei dispuser o
contrário. Isso incluía o crime de lesões corporais (art. 129 CP), pois o CPB não previu
condições alguma para a promoção da ação penal. Acontece que, posteriormente, a Lei
9.099/95 passou a prever o seguinte:
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação
a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas .
Portanto, o crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher, por
não se aplicar a Lei 9.099/95, desafiará ação pública incondicionada. Importante destacar
que essa inaplicabilidade envolverá apenas o crime de lesão corporal. Nos casos de
crime, por exemplo, em que o CPP indique se tratar de ação penal condicionada à
representação (ameaça, art. 147 CPB), ainda que seja praticado no contexto da Lei
11.340/2006, permanecerá sendo exigível a condição de procedibilidade da
representação da vítima, visto que a referida lei especial não afastou a incidência
dessa regra.
60
entendimento do STF. (Errado); A ameaça sofrida pela mulher no contexto doméstico é crime de
natureza pública incondicionada. (Errado)
FAURGS (TJ-RS 2016): De acordo com o Supremo Tribunal Federal e com o Superior Tribunal
de Justiça, ação penal relativa ao crime de lesão corporal, mesmo que de natureza leve ou culposa,
praticado contra a mulher em âmbito doméstico, é pública incondicionada. (Certo)
Súmula 588 - STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com
violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Além da Súmula recente do STJ, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal se alinha
ao referido entendimento, asseverando que “na dicção do inciso I do art. 44 do Código Penal,
as penas restritivas de direitos substituem a privativa de liberdade, quando ‘aplicada pena
privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência
ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for
culposo’. Inobstante a pena privativa de liberdade aplicada tenha sido inferior a 04
(quatro) anos, a violência engendrada pelo paciente contra a vítima, no contexto das
relações domésticas, obstaculiza a concessão do benefício do art. 44 do Código
Penal”. (HC 131219, Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 10/05/2016).
É que parcela da doutrina passou a refutar esse entendimento, com base no disposto no
artigo 17 da Lei 11.340/06. Esse dispositivo aponta a vedação de aplicação, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher de penas DE CESTA BÁSICA OU OUTRAS
DE PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA, BEM COMO A SUBSTITUIÇÃO DE PENA QUE
IMPLIQUE O PAGAMENTO ISOLADO DE MULTA.
61
Assim, considerando a literalidade do disposto, seria possível a aplicação de OUTRAS
espécies de PRD’s, diversas das desenhadas na lei especial! Tese interessante do ponto
defensivo, que parece ter sido acolhida em alguns julgados da Segunda Turma do STF47.
47“É viável a conversão da pena privativa de liberdade por restritiva de direito nos moldes previstos no art. 17
da Lei Maria da Penal aos condenados pela prática da contravenção penal de vias de fato, por se tratar de
modalidade de infração penal não alcançada pelo óbice do inciso I do art. 44 do Código Penal. Precedente.”
(HC 131160, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 18/10/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-237 DIVULG 07-11-2016 PUBLIC 08-11-2016)
“Tratando-se de condenação pela prática de contravenção de vias de fato, e não pela prática de crime, não
incide o óbice previsto no art. 44, I, do Código Penal. 3. Nada obstaria que a substituição fosse negada em
razão da culpabilidade, dos antecedentes, da conduta social ou da personalidade do condenado, ou se os
motivos e as circunstâncias indicassem que essa substituição não seria suficiente (art. 44, III, CP). 4. Ocorre
que a negativa de substituição da pena corporal por restritiva de direitos lastreou-se tão somente no fato de que
“o crime foi praticado com violência à pessoa”, quando, em verdade, se trata de mera contravenção. 5. Cabível,
portanto, a substituição da pena corporal por restritiva de direitos, desde que não consista no pagamento de
cesta básica, prestação pecuniária ou multa (art. 17 da Lei nº 11.340/06).” (HC 132342, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 30/08/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-207 DIVULG 27-
09-2016 PUBLIC 28-09-2016)
62
11.340/06). (HC 131160 /
MS; HC 132342 / MS)
Em provas de concurso, opte pelo entendimento sumulado do STJ, corroborado pela Primeira Turma do
STF.
É importante destacar que não houve inovação, mas apenas uma sistematização a partir da
Súmula. Diversos precedentes anteriores à edição já afirmavam essa ideia. Por exemplo, no
HC 333.195/MS (2016), de Relatoria do Ministro Ribeiro Dantas, afirmou-se que “a
jurisprudência desta Corte Superior está consolidada no sentido de não admitir a aplicação dos princípios
da insignificância e da bagatela imprópria aos crimes e contravenções praticados com
violência ou grave ameaça contra mulher, no âmbito das relações domésticas, dada a relevância penal
da conduta, não implicando a reconciliação do casal atipicidade material da conduta ou desnecessidade
de pena”.
Como bem anotou a Ministra Carmen Lúcia (RHC 133.043 – 2016), o princípio da
insignificância não foi estruturado para resguardar e legitimar condutas desvirtuadas, mas
para impedir que desvios de conduta ínfimos, isolados, sejam sancionados pelo direito penal,
fazendo-se justiça no caso concreto. Comportamentos contrários à lei penal, notadamente
quando exercidos com violência contra a mulher, devido à expressiva ofensividade,
periculosidade social, reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica causada,
perdem a característica da bagatela e devem submeter-se ao direito penal.
63
Súmula 600 - STJ: Para configuração da violência doméstica e familiar prevista no
artigo 5º da Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, não se exige a coabitação entre
autor e vítima.
Extraímos da Lei 11.340/06 que se configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial quando se der (i) no âmbito da unidade
doméstica; (ii) no âmbito da unidade familiar e; (iii) em qualquer relação íntima de afeto,
independente da coabitação.
Lei de Drogas
Súmula 501 - STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que
o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu
do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de
leis.
64
Trata-se da proibição da combinação de leis (lex tertia). Vejamos o que diz precedentes
originários:
“[...] A Lei nº 11.343/06, ao revogar a Lei nº 6.368/76, disciplinou por inteiro o sistema de repressão
ao tráfico ilícito de drogas e, ao tempo em que conferiu tratamento mais rigoroso aos traficantes,
aumentando a pena mínima cominada abstratamente ao delito de 3 (três) para 5 (cinco) anos, instituiu
causa especial de diminuição de pena de 1/6 a 2/3, e ainda reduziu o menor patamar de exasperação
pelas causas especiais de aumento de pena de 1/3 (um terço) para 1/6 (um sexto). 2. A concessão da
minorante do parágrafo 4º do artigo 33 e a aplicação da majorante no patamar do artigo 40, ambos da
Lei 11.343/06 sobre a pena fixada com base no preceito secundário do artigo 12 da Lei nº 6.368/76
não decorreria de mera retroatividade de lei nova mais benéfica, mas de verdadeira aplicação conjugada
das normas revogada e revogadora, sendo de todo inviável, já que o sistema revogador instituiu causa
de diminuição de pena e reduziu o menor patamar da exasperação pelas causas de aumento de pena
justamente porque aumentara a pena mínima cominada abstratamente ao delito de 3 (três) para 5
(cinco) anos. 3. Conquanto se reconheça na lei revogadora as hipóteses de nova causa de diminuição
da pena, bem como de aumento de pena em patamar menor, não se pode pinçar uma regra de uma
lei e uma regra da outra lei para o fim de beneficiar o réu porque assim haveria a criação de
uma terceira lei que, além de evidenciar atividade legiferante, vedada ao Poder Judiciário,
deixa de considerar a norma como um sistema uno, coerente e harmônico.[...]” (AgRg no REsp
1212535 PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
02/04/2013, DJe 11/04/2013)
“[...] é descabida a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei
n. 11.343/2006 à reprimenda cominada nos termos da Lei n. 6.368/1976. Na verdade, o
condenado faz jus à aplicação integral da lei nova se esta lhe for benéfica . Em se tratando de
tráfico de drogas, tal análise é feita caso a caso e consiste em verificar, essencialmente, se estariam
preenchidos os requisitos previstos no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, de forma que, a partir da
aplicação dessa causa de diminuição, a reprimenda final fosse menor do que aquela fixada nos termos
da Lei n. 6.368/1976. [...]” (AgRg no HC 199324 MS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 04/12/2012, DJe 14/12/2012).
65
Súmula 512 - STJ (cancelada): A aplicação da causa de diminuição de pena prevista
no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de
drogas.
TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS NA SUA FORMA PRIVILEGIADA. ART. 33, § 4º, DA LEI
N. 11.343/2006. CRIME NÃO EQUIPARADO A HEDIONDO. ENTENDIMENTO
RECENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, NO JULGAMENTO DO HC 118.533-
MS. REVISÃO DO TEMA ANALISADO PELA TERCEIRA SEÇÃO SOB O RITO DOS
RECURSOS REPETITIVOS. TEMA 600. O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada
(art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte,
deve ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. O Plenário
do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento oposto à jurisprudência do STJ ao assentar que o
denominado tráfico privilegiado de drogas (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006) não tem natureza
hedionda. Apenas as modalidades de tráfico de entorpecentes definidas no art. 33, caput e § 1°, da Lei
n. 11.343/2006 seriam equiparadas aos crimes hediondos, enquanto referido delito na modalidade
privilegiada apresentaria “contornos mais benignos, menos gravosos, notadamente porque são
relevados o envolvimento ocasional do agente com o delito, a não reincidência, a ausência de maus
antecedentes e a inexistência de vínculo com organização criminosa”. (...) Pet 11.796-DF, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 23/11/2016,
DJe 29/11/2016.
66
FCC (DPE-ES 2016): Quanto aos crimes previstos na Lei de Drogas, é correto afirmar que: o
condenado por tráfico privilegiado poderá ser promovido de regime prisional após o
cumprimento de um sexto da pena, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal. (Certo)
Súmula 587 - STJ: Para a incidência da majorante prevista no art. 40, V, da Lei n.
11.343/2006, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da
Federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o
tráfico interestadual.
O artigo 40, V48 da Lei de Drogas prevê como uma de suas causas de aumento da pena o
chamado tráfico INTERESTADUAL, ou seja, quando essa conduta se dá entre estados da
federação ou entre estes e o DF. Isso porque o legislador entendeu estar presente em tais
situações um maior risco à coletividade, ensejando uma maior reprovabilidade ou desvalor da
conduta.
Há julgados antigos do STJ no sentido de que para a efetivação dessa causa de aumento, seria
imprescindível a efetiva transposição dos limites geográficos e de “fronteira” entre os
estados. Esse é um entendimento bastante interessante para a defesa, porém CUIDADO!
Sabemos que o mesmo artigo 40, em seu inciso I 49 , traz a causa de aumento da
TRANSNACIONALIDADE. É possível a aplicação CONJUNTA das causas de
aumento da transnacionalidade e também da interestadualidade?
Muito cuidado aqui, pois para que possamos responder a essa indagação, será necessária a
análise do caso concreto. De maneira objetiva, será possível SIM a aplicação conjunta, mas
teremos que constatar a presença de um requisito: a demonstração que a intenção do
agente traficante da droga era pulverizá-la em mais de um Estado da Federação; se
não ficar isso devidamente comprovado, somente teremos a transnacionalidade.
48 Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;
49 I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem
a transnacionalidade do delito;
67
Assim, se eu trago cocaína da Bolívia, adentrando no Brasil pelo Acre e desejando vendê-la
exclusivamente em São Paulo, mas sou flagrado em Rio Branco, será cabível a aplicação das
duas causas de aumento?
68
Ao inciso XIV do art. 7º do Estatuto da OAB - que juntamente com o inciso XIII do referido artigo
e com o art. 5º, XXXIII, LIV e LV da CF/88 fundamentam a SV 14 – foi dada nova redação
pela Lei 13.245/2016. Vejamos:
Art. 7º São direitos do advogado:
XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de
flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos;
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de
qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação
dada pela Lei nº 13.245, de 2016)
Logo, a modificação legislativa enseja uma interpretação ampliada da SV, incluindo como
direito do defensor examinar investigação de qualquer natureza em qualquer instituição
responsável por conduzi-la. Sobre o assunto, vale relembrar importante decisão do STF a
respeito dos poderes investigatórios do Ministério Público (Informativo 785):
69
permitida a obtenção de informações concernentes à realização das diligências investigatórias
pendentes, até mesmo as que se refiram a terceiros envolvidos. (Errado); é obrigatória a
disponibilização ao DP de cópia de tudo que tiver sido registrado, no curso do processo, em
audiências realizadas, o que inclui a degravação feita por meio audiovisual. (Errado); o direito ao
amplo acesso aos elementos de prova pelo DP alcança procedimentos de natureza cível ou
administrativa. (Errado); o DP pode ter acesso às diligências que estejam em andamento e ainda
não tenham sido documentadas. (Errado)
CESPE (PJC-MT 2017): Conforme súmula do STF, é direito do advogado do investigado o
acesso aos autos do inquérito policial. Nesse sentido, o advogado do investigado terá acesso
amplo aos elementos constantes em procedimento investigatório que digam respeito ao indiciado
e que já se encontrem documentados nos autos. (Certo)
VUNESP (TJ-SP 2017): Durante o inquérito, o advogado pode ter delimitado, pela autoridade
competente, o acesso aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda
não documentadas nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia
ou da finalidade das diligências. (Certo)
FUNCAB (PC-PA 2016): Por ser o inquérito sigiloso, quando por imperiosa razão de ordem
pública for, fundamentadamente, decretado o segredo, o advogado não terá acesso às diligências
documentadas nos autos do inquérito. (Errado)
CESPE (PC-PE 2016): O acesso aos autos do inquérito policial por advogado do indiciado se
estende, sem restrição, a todos os documentos da investigação. (Errado)
FAURGS (TJ-RS 2016): Na fase preliminar do processo penal, o contraditório, na forma de
poder participar, requerer, ser ouvido e informado, é inafastável, embora o cerceamento do
contraditório no inquérito não produza os mesmos efeitos dos verificados na fase judicial.
Inafastável, também, é o direito ao acesso, pelo defensor do investigado, aos elementos de
investigação documentados, salvo o sigilo constitucional e legal. Sua obstacularização poderá ser
remediada por meio de reclamação ao Supremo Tribunal Federal ou por mandado de segurança.
(Certo)
CESPE (DPE-RN 2015): Conforme súmula vinculante do STF, o defensor tem direito, no
interesse do representado, de ter acesso amplo aos elementos de prova, os quais, já documentados
em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
refiram-se ao exercício do direito de defesa, inclusive com obtenção de cópia dos autos do
inquérito policial, ainda que este tramite sob sigilo. (Errado)
FCC (DPE-SP 2015): “Paridade de armas no processo penal é a igual distribuição, durante o
processo penal (...) aos envolvidos que defendem interesses contrapostos, de oportunidades para
apresentação de argumentos orais ou escritos e de provas com vistas a fazer prevalecer suas
respectivas teses perante a autoridade judicial" (Renato Stanziola Vieira, Paridade de armas no
processo penal, Gazeta Jurídica, Brasília, 2014, p. 236). Com base no texto acima, é situação de
70
NÃO violação ao princípio da paridade de armas: Sigilo das medidas cautelares em curso na
investigação preliminar, cuja ciência ao investigado ou defensor possa prejudicar a eficácia do ato.
(Certo)
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.
Tradicionalmente, a maior parte da doutrina processual penal (não é unanimidade) afirma que há casos
em que devemos reconhecer que a decisão homologatória do arquivamento do inquérito policial tona-
se imutável e impede, definitivamente, tanto o desarquivamento do inquérito, quanto à propositura
de ação penal.
Existe, em casos tais, a coisa julgada material, ou seja, um grau de imutabilidade da decisão de
arquivamento que impede nova persecução penal pelo mesmo fato. Isso se verifica, conforme ensina
o professor da USP Gustavo Henrique Badaró[2], nas hipóteses em que o arquivamento se opera não
em razão de uma mera constatação de insuficiência de elementos de informação sobre a existência
material do fato ou de sua autoria, já que nesses casos há apenas a coisa julgada formal (rebus sic
stantibus). A coisa julgada material seria formada quando, a partir de reconstrução fática segura, houver
o reconhecimento de (i) atipicidade dos fatos investigados, (ii) extinção da punibilidade ou
ainda (iii) EXCLUDENTE DA ILICITUDE.
Nesses casos apontados como exceção, há indubitavelmente uma manifestação do juízo acerca de
matéria meritória, razão pela qual se estaria diante de juízo de convencimento quanto à inexistência de
conduta criminosa, ao contrário de um mero juízo de insuficiência probatória. Apesar de ser essa a
minha opinião, compartilhada (repita-se) por grande parte da doutrina especializada, em relação
especificamente à formação da coisa julgada material quando o arquivamento do inquérito
policial se pautar em CAUSA EXCLUDENTE DA ILICITUDE, há intensa e severa divergência
jurisprudencial.
50https://blog.ebeji.com.br/arquivamento-de-inquerito-policial-com-fundamento-na-excludente-de-ilicitude-
ha-formacao-de-coisa-julgada-material-ou-nao-2/
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No Superior Tribunal de Justiça, essa matéria é mais tranquila e, acompanhando a doutrina, a Corte
recentemente ratificou o entendimento de que “promovido o arquivamento do inquérito policial pelo
reconhecimento de legítima defesa (leia-se qualquer causa excludente da ilicitude), a coisa julgada material
impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a existência de novas provas”
(vide REsp 791.471/RJ) .
Já na Suprema Corte (STF), o tema sempre foi objeto de intensa controvérsia. Em nossas aulas de
processo penal na EBEJI mencionávamos um julgado (até então) ISOLADO da 1ª Turma, no HC
95.211/ES, em que se concluiu que “decisão que determina o arquivamento de inquérito policial, a pedido do
Ministério Público e determinada por juiz competente, que reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de
ilicitude, não afasta a ocorrência de crime quando surgirem novas provas, suficientes para
justificar o desarquivamento do inquérito, como autoriza a Súmula 524 deste Supremo Tribunal Federal”.
Como salientado, inicialmente tal posicionamento parecia aplicado apenas em relação a um caso
concreto, isolado! Todavia, no ano de 2015, houve um “novo capítulo” dessa polêmica, publicada no
Informativo 796. Pela importância, vale conferir a ementa:
EMENTA Habeas corpus. Processual Penal Militar. Tentativa de homicídio qualificado (CP, art. 121,
§ 2º, inciso IV, c/c o art. 14, inciso II). Arquivamento de Inquérito Policial Militar, a requerimento do
Parquet Militar. Conduta acobertada pelo estrito cumprimento do dever legal. Excludente de
ilicitude (CPM, art. 42, inciso III). Não configuração de coisa julgada material. Entendimento
jurisprudencial da Corte. Surgimento de novos elementos de prova. Reabertura do inquérito na
Justiça comum, a qual culmina na condenação do paciente e de corréu pelo Tribunal do Júri.
Possibilidade. Enunciado da Súmula nº 524/STF. Ordem denegada. 1. O arquivamento de
inquérito, a pedido do Ministério Público, em virtude da prática de conduta acobertada pela
excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal (CPM, art. 42, inciso III), não
obsta seu desarquivamento no surgimento de novas provas (Súmula nº 5241/STF). Precedente.
2. (…) 3. Ordem denegada. (HC 125101, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/
Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 25/08/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG 10-09-2015 PUBLIC 11-09-2015).
Não! Isso porque a formação da Corte sofreu uma série de modificações e não tínhamos uma posição
do Plenário! Restava pendente no Pleno o julgamento da tese no HC 87.395/PR, cujo
andamento ficou suspenso até o final do mês de março de 2017! Havia 3 votos favoráveis à tese
de que a partir do momento em que uma excludente de ilicitude é invocada para justificar o
arquivamento, há produção da coisa julgada formal e também material!!!
72
Bacana, mas e o que prevaleceu?
O entendimento do STF, agora pacificado, após os votos favoráveis dos Ministros Lewandowiski,
Rosa Weber, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Carmen Lúcia e Barroso foi no sentido
de apontar que a jurisprudência do STF é no sentido de que o arquivamento produz coisa julgada
material no caso de prescrição ou atipicidade da conduta, mas NÃO em casos de excludente
da ilicitude!
Conforme noticiado no Informativo 858 STF, a conclusão do Plenário foi no sentido de que
“o arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base em
provas fraudadas não faz coisa julgada material. (…) Asseverou que o arquivamento do
inquérito não faz coisa julgada, desde que não tenha sido por atipicidade do fato ou por
prescrição”.
Conclusão 1: O STJ entende, de maneira tranquila, que há nessas situações a formação da coisa
julgada formal e também material, razão pela qual a rediscussão dos mesmos fatos é impossível. Da
mesma forma, assim se posiciona a doutrina especializada majoritariamente.
Conclusão 3: Teremos que aguardar como se comportará a jurisprudência do STJ, pois é possível
que venha a aderir ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, que por sua vez ( por ora) não é
vinculante!
Esquematizando, teremos:
Atipicidade Sim
51“A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada,
dado que não gera coisa julgada em sentido estrito.” (HC 104998, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI,
Primeira Turma, julgado em 14/12/2010, DJe-085 DIVULG 06-05-2011 PUBLIC 09-05-2011 EMENT VOL-
02517-01 PP-00083 RTJ VOL-00223-01 PP-00401)
73
Apenas coisa julgada
formal
74
CESPE (PC-PE 2016): O arquivamento de inquérito policial mediante promoção do MP por
ausência de provas impede a reabertura das investigações: a decisão que homologa o
arquivamento faz coisa julgada material. (Errado)
TRF-4 (Juiz Federal 2016): Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a
requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas. (Certo)
Superada. A súmula não foi recepcionada pela Ordem Constitucional vigente, isso porque,
em seu art. 5º, inciso LVIII, a Constituição garante:
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei;
A Lei 12.037/2009 regulamenta o art. 5º, LVIII, e em seu art. 3º dispõe acerca das hipóteses
nas quais poderá ocorrer identificação criminal do civilmente identificado:
Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal
quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da
autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da
autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento
apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito,
ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado.
De modo a facilitar a compreensão e assimilação, vale trazer a classificação das exceções por
Gustavo Badaró, resumindo-as basicamente a:
75
Uso de Algemas
Súmula Vinculante 11 - STF: Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e
de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por
parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena
de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade
da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil
do Estado.
Em seu art. 19952 a Lei de Execuções Penais incumbe a disciplina do uso de algemas a decreto
federal. Trata-se do recente Decreto nº 8.858/2016, que assim dispõe:
Art. 1º O emprego de algemas observará o disposto neste Decreto e terá como diretrizes:
I - o inciso III do caput do art. 1º e o inciso III do caput do art. 5º da Constituição, que dispõem sobre
a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana e sobre a proibição de submissão ao
tratamento desumano e degradante;
II - a Resolução no 2010/16, de 22 de julho de 2010, das Nações Unidas sobre o tratamento de
mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de
Bangkok); e
III - o Pacto de San José da Costa Rica, que determina o tratamento humanitário dos presos e, em
especial, das mulheres em condição de vulnerabilidade.
Art. 2º É permitido o emprego de algemas apenas em casos de resistência e de fundado receio de
fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, causado pelo preso ou por terceiros,
justificada a sua excepcionalidade por escrito. (três exceções, apenas nestas situações será permitido o
uso de algemas)
Art. 3º É vedado emprego de algemas em mulheres presas em qualquer unidade do sistema
penitenciário nacional durante o trabalho de parto, no trajeto da parturiente entre a unidade
prisional e a unidade hospitalar e após o parto, durante o período em que se encontrar
hospitalizada.
Art. 4º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Atentar para a importância da SV 11, mesmo após a publicação do Decreto. Isso porque, a
SV 11 prevê quais serão as consequências para as situações de violação, ou seja, nos casos
em que o preso tenha sido algemado sem que se vislumbre qualquer hipótese excepcional ou
sem a devida atenção à formalidade exigida (justificativa por escrito). Nesses casos, a parte
final do enunciado da SV 11 estabelece: ... sob pena de (i) responsabilidade disciplinar civil e penal do
agente ou da autoridade e (ii) de nulidade da prisão ou (iii) do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
(iv) responsabilidade civil do Estado.
76
Atenção! A Lei 13.434/2017 acrescentou o parágrafo único no art. 292 do Código de
Processo Penal, para vedar o uso de algemas em mulheres grávidas durante o parto e em
mulheres durante a fase de puerpério imediato. Vejamos como fica:
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à
determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos
meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito
também por duas testemunhas.
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-
hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em
mulheres durante o período de puerpério imediato.
Não se trata de uma novidade, apenas confirma o previsto pelo Decreto nº 8.858/2016.
Podemos esquematizar da seguinte maneira:
USO DE ALGEMAS
✓ Resistência;
Permitido
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Competência da Justiça Estadual
Súmula 38 - STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição
de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades.
78
Sobre o tema e a aplicação da súmula, chamamos a atenção53 para decisão da 1ª Turma do
STF no RE 614115 AGR,54 na qual se discutia a competência da Justiça Federal ou Estadual
para a apreciação de crime perpetrado contra o interesse da Sociedade de Economia Mista
Companhia Docas do Pará:
Súmula 42 do STJ – Compete à JUSTIÇA COMUM ESTADUAL processar e julgar as causas cíveis
em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Súmula nº 556 do STF – É competente a JUSTIÇA COMUM para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista.
Apesar do entendimento pacificado exposto acima, em nossas aulas, desde 2012, chamávamos a
atenção ao julgamento da 1ª Turma do STF do AgR. RE 614.115, que se encontrava suspenso em
razão de um pedido de vista da Ministra Carmen Lúcia. Nesse julgado, o que se discutia era a
competência da Justiça Federal ou Estadual para a apreciação de crime perpetrado contra o interesse
da Sociedade de Economia Mista Companhia Docas do Pará.
53 https://www.facebook.com/Profpedrocoelho/posts/443526145986029
54 EMENTA Agravos regimentais no recurso extraordinário. Matéria criminal. Apuração de crimes praticados
contra a Companhia Docas do Pará, que, utilizando-se também de recursos da União, administra e explora as
instalações portuárias do referido Estado. Atividades atribuídas pelo constituinte originário exclusivamente ao
ente federal. Artigo 21, inciso XII, alínea f, da Constituição da República. Interesse jurídico direto e específico
da União amplamente demonstrado. Competência da Justiça Federal. Artigo 109, inciso IV, da Constituição
Federal. Regimentais não providos. 1. O magistério jurisprudencial da Corte é no sentido de que “a
presença de interesse direto e específico da União, de suas entidades autárquicas e empresas públicas
(...), constitui pressuposto para que ocorra a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IV,
da Constituição” (HC nº 81.916/PA, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 11/10/02). 2. Conforme
destacado na decisão agravada, o interesse jurídico direto e específico da União revela-se incontroverso
na espécie, pois a Companhia Docas do Pará tem por ofício, utilizando-se também de recursos da
União, administrar e explorar as instalações portuárias do referido Estado. Atividades atribuídas pelo
constituinte originário exclusivamente ao ente federal, conforme preleciona o art. 21, inciso XII, alínea f, da
Constituição da República. 3. Agravos regimentais não providos. (RE 614115 AgR, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 16/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-207 DIVULG 20-
10-2014 PUBLIC 21-10-2014)
79
Naquela ocasião, em decisão monocrática, o Ministro Dias Toffoli havia assinalado a competência da
Justiça Federal e, o julgamento do agravo regimental interposto contra tal decisão, encontrava-se como
2 votos a favor (Toffoli e Rosa Weber) e 2 votos contrários (Luiz Fux e Marco Aurélio), até o
mencionado pedido de vista!
Finalmente, no segundo semestre de 2014, a Ministra Carmem Lúcia liberou seu voto e
acompanhou o Relator para ASSEVERAR A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL,
não obstante se tratar de crime praticado CONTRA INTERESSE DE SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA!
Pedro, então quer dizer que o entendimento sumulado pelo STF e STJ foi superado?
Não se está a afirmar que o entendimento atual passou a ser de que a Justiça Federal terá
competência para julgar crimes perpetrados por Sociedade de Economia Mista federal! NÃO!
Isso porque a decisão foi bastante casuística e peculiar, haja vista se tratar a Companhia Docas do
Pará de uma SEM cuja maior parte do capital é composta de verba pública federal e ter por atribuição
administrar e explorar instalações portuárias (exclusividade da União de acordo com o artigo 21, XII,
f, da CF), fato esse que, de acordo com o STF, envolveria “diferenciado e peculiar interesse da União”,
apto a justificar a competência da Justiça Federal.
As Súmulas 42 do STJ e 556 do STF permanecem plenamente em vigor, mas já não mais
podemos dizer que é ABSOLUTA a afirmação de que os crimes praticados em face de
sociedade de economia mista desafiarão a competência do juízo estadual!
80
julgar o crime caracterizado pela omissão de anotação de vínculo empregatício na CTPS (art.
297, § 4º, do CP). A Terceira Seção do STJ modificou o entendimento a respeito da matéria,
posicionando-se no sentido de que, no delito tipificado no art. 297, § 4º, do CP - figura típica
equiparada à falsificação de documento público -, o sujeito passivo é o Estado e, eventualmente, de
forma secundária, o particular - terceiro prejudicado com a omissão das informações -, circunstância
que atrai a competência da Justiça Federal, conforme o disposto no art. 109, IV, da CF (CC 127.706-
RS, Terceira Seção, DJe 3/9/2014). Precedente citado: AgRg no CC 131.442-RS, Terceira Seção, DJe
19/12/2014. CC 135.200-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/10/2014, DJe 2/2/2015.
Súmula 104 - STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes
de falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de
ensino.
Súmula 107 - STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de
estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das
contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquia federal.
81
Súmula 140 - STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em
que o indígena figure como autor ou vítima.
Súmula 172 - STJ: Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de
abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.
Súmula 209 - STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
Esse entendimento deve ser compreendido conjuntamente com a Súmula 208, também do
STJ, pois envolve um raciocínio que devemos ter para análise da competência de processos
envolvendo verbas oriundas da União e repassadas para os municípios, normalmente através
de convênios entre os entes. Se os valores já estiverem incorporados ao patrimônio
municipal, não há como sustentar a competência da Justiça Federal, visto inexistir qualquer
interesse violado do ente federal. De modo diverso, estando a verba ainda pendente de
prestação de contas a órgão federal, o interesse se evidencia e justifica a competência da
Justiça Federal, nos termos da Súmula 208 do STJ.
55
Sobre o tema vide os seguintes julgados: STJ, HC 77.280/RS e CC 123.016/TO, além do STF, RHC
117.097/RJ.
82
Súmula 498 - STF: Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o
processo e o julgamento dos crimes contra a economia popular.
Uma das grandes valias práticas dessa súmula se refere à conduta criminosa popularmente
conhecida como agiotagem praticada por pessoas físicas. O agiota é a pessoa física que utiliza
capital próprio para efetuar “empréstimos” a terceiros, cobrando juros exorbitantes! Difere,
pois, das instituições financeiras (ao menos para fins penais), já que essas operam
(emprestam) recursos de terceiros (montantes diversos), ao passo que o agiota se vale de seu
dinheiro próprio.
Acontece que, para que seja praticado um delito contra o SFN por pessoa física, é necessária
a prática de atividade típica de instituições financeiras. Todavia, a agiotagem, em
verdade, caracteriza-se como Crime de Usura, previsto no artigo 4º da Lei 1.521/51, ou
seja, trata-se de crime contra a economia popular, de competência da Justiça Estadual,
afinal é o verbete sumular nº 498 do STF que aponta ser a justiça estadual competente para
os crimes contra a economia popular. Cuidado redobrado!
Súmula 522 - STF: Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a
competência será da Justiça Federal56, compete à justiça dos estados o processo e
julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
A Seção decidiu cancelar a Súmula n.º 91 deste Superior Tribunal de Justiça, ao entendimento de que,
com o advento da Lei n.º 9.605/98, que em seu Capítulo V, Dos Crimes Contra o Meio Ambiente, se
83
ocupa dos Crimes Contra a Fauna (arts. 29 a 37), a Lei n.º 5.197/67 já não mais dá suporte à
mencionada Súmula. Precedente citado: CC 29.508-SP. Cancelamento da Súmula n.º 91, Rel. Min.
Fontes de Alencar, julgado em 8/11/2000. Terceira Seção.
Pedro, e no caso do crime ambiental que atenta contra espécie da fauna brasileira
em extinção? Há interesse da União apto a justificar a competência da Justiça Federal, na
forma do artigo 109, IV da Constituição Federal?
O próprio STJ já havia sinalizado positivamente, ao deliberar que “há interesse da União na lide,
porquanto as espécies ilegalmente transportadas e comercializadas estão ameaçadas de extinção, evidencia-se
a competência da Justiça Federal”.
84
têm entendido que há evidências do interesse da
União, justificando o processamento e julgamento da
Justiça Federal.
Súmula 122 - STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos
crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art.
78, II, “a”, do Código de Processo Penal.
Esse verbete sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça reproduz a ideia outrora plasmada
na Súmula 52 do antigo Tribunal Federal de Recursos, a qual aponta justamente que “compete
à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não
se aplicando a regra do art. 78, II, a, do CPP”.
Duas situações podem ser destacadas e exploradas em provas. O primeiro caso envolve um
crime doloso contra a vida conexo a um crime de competência federal. Deverá haver
separação de processos, já que há dois casos de competência previstos na Constituição
Federal? Não, nesse caso haverá reunião dos processos no Tribunal do Júri instaurado
perante a Justiça Federal! E se a conexão for entre dois crimes dolosos contra a vida, sendo
um da Justiça Federal e outro da Estadual? Aplicando-se a súmula 122 do STJ, a reunião dar-
se-á no júri federal!
A segunda situação é mais interessante e possível de ser explorada em prova. Imagine que
um crime de descaminho (art. 334 do CPB) – competência federal – esteja sendo julgado de
maneira conexa a um roubo (justiça estadual). Se, no momento da sentença, o juiz entender
prescrito o crime de descaminho (extinção da punibilidade), ainda será competente para o
julgamento do crime de roubo? Segundo o STJ, sobrevindo a extinção da punibilidade do
crime da Justiça Federal, desaparece o interesse da União no processo, devendo haver
deslocamento da competência para a Justiça Estadual, ainda que se trate de momento da
sentença.57
57
PENAL E PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIMES DE DESCAMINHO E
DE RECEPTAÇÃO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO AGENTE QUE PRATICOU O DELITO
DE DESCAMINHO. PERPETUATIO JURISDICTIONIS. NÃO OCORRÊNCIA. DESLOCAMENTO
PARA A JUSTIÇA ESTADUAL. NECESSIDADE. 1. Na hipótese de conexão entre crime de descaminho e
de receptação, em que existiu atração do processamento/julgamento para a Justiça Federal, sobrevindo a
extinção da punibilidade do agente pela prática do delito de descaminho, desaparece o interesse da
União, devendo haver o deslocamento da competência para a Justiça Estadual. 2. Conflito conhecido
para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Dourados/MS, ora suscitante. (CC
85
COMO CAIU NA SUA PROVA:
MPE-PR (Promotor de Justiça 2016): A conexão entre crimes de competência da Justiça
Federal e da Justiça Estadual importará na prevalência da competência da Justiça Federal, perante
a qual se procederá ao julgamento do denunciado pela prática de crime de competência estadual
(Certo), mesmo na hipótese de extinção da punibilidade pela morte do único corréu denunciado
pela prática do crime de competência da Justiça Federal. (Errado)
Súmula 147 - STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados
contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Isso foi objeto de questão em prova da AGU (2015)! Atenção! Esse empregado não é
considerado funcionário público por extensão! É que a equiparação do CPB não abrange
os funcionários atuantes em empresa contratada para prestar serviço atípico para a
Administração Pública, como o é o caso da empresa de vigilância. Somente há tal equiparação
quando se trate de funcionário de empresa contratada para exercer atividade tipicamente
estatal, ou seja, aquelas que visam às necessidades essenciais ou coletivas da sociedade.
110.998/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
26/05/2010, DJe 04/06/2010).
86
ao fato de ele não ter sido encontrado no endereço que constava dos autos. Com referência a
essa situação hipotética, julgue o item a seguir. A competência para processar e julgar José será
do tribunal do júri federal do DF. (Certo)
Súmula 165 - STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso
testemunho cometido no processo trabalhista.
A súmula 165 do STJ termina por dizer menos do que deveria ou gostaria. Em verdade,
apesar de o verbete fazer um corte limitador do seu alcance, não devemos nos limitar a
entender que a competência da Justiça Federal se dará apenas no caso de falso testemunho
(art. 342 do CPB) praticado perante a Justiça laboral.
Súmula 200 - STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de
crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
Há uma situação prática aqui passível de gerar (muita) confusão em análise mais apressada.
Imaginemos que Carolina, utilizando de passaporte brasileiro falso, embarque para os
Estados Unidos, saindo de Recife/PE. Chegando ao seu destino, os agentes da imigração
estrangeira identificam a conduta ilícita e deportam Carolina, cujo voo de volta aporta no
Brasil em São Paulo/SP. De quem será a competência? Como se trata de um crime de uso
de documento (passaporte) falso, a fixação da competência será no local em que se deu o
embarque e não o desembarque no Brasil, afinal é no primeiro em que se revela
imprescindível a apresentação do documento, restando consumado o crime do uso do
documento falso.
Súmula 208 - STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal
por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
87
prefeito será do tribunal de justiça do respectivo estado por expressa previsão constitucional.
(Errado)
CESPE (PC-GO 2017): A competência para julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita
a prestação de contas perante o órgão federal será dos juízes federais da seção judiciária da
localidade em que o prefeito exercer ou tiver exercido o mandato. (Errado)
Súmula 528 - STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida
do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.
Sendo o crime de tráfico - previsto no caput do art. 33 da Lei 11.343/06 - delito formal, basta
que se pratique quaisquer das condutas previstas para a sua consumação - importar é uma
delas. É desnecessário que se chegue ao destino final, caso isso aconteça haverá
apenas mero exaurimento. Portanto, o crime se consuma com a entrada do produto no
país (importação) e a competência para processar e julgar a ação penal será do juízo do local
da apreensão.
Interessante ainda registrar, no contexto da Súmula, que nas hipóteses de prática de tráfico
através de envio de correspondência (ex.: via correios) para o exterior, se a droga for apreendida
na alfândega, haverá competência da Justiça Federal, em face da internacionalidade da
conduta. A competência territorial, no caso, será do local da apreensão da droga, ainda que
o emissário ou receptor potencial residam em outro município/seção federal.
88
possibilidade, quando estejamos diante de crimes militares impróprios. Para que haja
competência da Justiça “especializada”, a jurisprudência anota a imprescindibilidade de
verificação no caso concreto da ofensa a bens jurídico ligados à função castrense (defesa da
pátria, garantia dos poderes constitucionais, garantia da lei e da ordem, entre outros).
Nesse ponto, o entendimento que prevalece – e agora com força vinculante – é de que a
falsificação da CIR e da CHA não atendem a esse segundo requisito. É que, não obstante
expedidos pela Marinha do Brasil, tais documentos exteriorizam licença de natureza civil,
atuando as Forças Armadas em atividades tipicamente de Poder de Polícia, daí porque a
competência será da Justiça Federal “comum” para o processamento e julgamento desses
crimes de falso.
Então, lembre-se:
58 Crime militar próprio: aqueles cujo bem jurídico é exclusivo da vida militar e estranho à vida civil; Crime
militar impróprio: bem jurídico comum, tutelável pelas esferas penal comum e penal militar.
59 CC 34.749/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/10/2002, DJ
18/11/2002, p. 156
89
Súmula 47 - STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por
militar contra civil, com emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não
estando em serviço.
Superada com a revogação da alínea “f” do art. 9º, II do Código Penal Militar pela Lei nº
9.299/96. Nesse sentido60:
Em sua redação originária, o Código Penal Militar indicava que um crime poderia ser considerado
militar pelo simples fato de utilização de armamento de propriedade militar (!), ainda que não estivesse
em serviço! Imagine, pois, que um militar do exército viesse a praticar um estupro, valendo-se de arma
de propriedade das Forças Armadas! Tal delito seria considerado militar, em razão da previsão então
existente no artigo 9º, II, f do CPMB:
Art.9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II – os crimes previstos neste Código,
embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: f) por militar
em situação de atividade ou assemelhado que, embora não estando em serviço, use
armamento de propriedade militar ou qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou
administração militar, para a prática de ato ilegal;
Foi nesse contexto que a Súmula 47 do STJ foi editada! Aliás, ela reproduzia a mesma essência da
Súmula 199 do “finado” Tribunal Federal de Recursos (antes da Constituição de 1988). Em 1996,
adveio a pertinente Lei 9.299 que, dentre outras modificações, REVOGOU a alínea f
supratranscrita!
Com essa modificação, claro, não há mais sentido em se afirmar que o mero uso de arma de
propriedade militar ensejaria crime militar, certo? O entendimento da Súmula está superado.
Portanto, a Justiça Militar Estadual não tem competência para julgar CIVIS.
60 https://blog.ebeji.com.br/por-que-a-sumula-47-do-stj-encontra-se-superada-e-nao-mais-e-aplicavel/
90
Súmula 75 - STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial
militar por crime de promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.
Consoante restará explicado de maneira mais detida, entendemos que se deve aplicar as
mesmas observações anotadas em relação à Súmula 172 do STJ também ao verbete acima
transcrito. Nesse caminhar, entende-se que a Súmula 75 do STJ encontra-se superada ou
(ao menos) merecerá releitura a partir da vigência da Lei 13.491/2017, vez que inexistirá
óbice legal para o julgamento do delito plasmado no artigo 351 do CPB, desde que
preenchidos os demais requisitos da lei castrense.
Impera anotar – para não confundir – que o verbete envolve apenas crimes militares. Dito de
modo mais claro, se o militar do estado de São Paulo praticar um crime militar em Alagoas,
é a Justiça Militar paulista que terá competência para julgá-lo. Contudo, se o crime praticado
em outra unidade da federação tiver natureza de crime comum, não haverá qualquer
peculiaridade. Ou seja, se o militar de São Paulo praticar crime comum em Alagoas, é lá que
deverá ser processado e julgado.
É a materialização também da previsão do artigo 70, I, do CPP que indica não importar
unidade de processo e julgamento os casos de conexão ou continência envolvendo concurso
de crimes de jurisdição comum e militar, devendo haver cisão dos feitos.
Súmula 172 - STJ: Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de
abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.
91
Sem dúvidas, a modificação promovida pela Lei 13.491/201761 que mais recebeu destaques
e comentários (não sem razão) foi o retorno da possibilidade de julgamento pela Justiça
Militar nos casos de homicídio doloso praticado contra cível por militar em serviço, desde
que preenchidos alguns requisitos. Isso, destaque-se, apenas para os militares das Forças
Armadas, porque a regra do Júri em situações similares permanece para os militares dos
Estados!
Pedro, eu lembro que eu li essa novidade, mas tem como recapitular rapidamente quais os
requisitos exigidos pela lei para que haja julgamento do militar das Forças Armadas
(diferentemente dos Policiais Militares e Bombeiros), em crimes dolosos contra a vida,
perante a Justiça Militar da União?
Vamos relembrar! A nova lei passa a prever que, quando a prática de crime doloso contra a
vida de civis por militares da União se der no contexto (i) do cumprimento de atribuições
que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da
Defesa; (ii) de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar,
mesmo que não beligerante; ou (iii) de atividade de natureza militar, de operação de paz, de
garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o
disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma do Código Brasileiro de Aeronáutica,
CPPM e Código Eleitoral, o processamento e julgamento caberá à Justiça Militar da União e
não mais ao Júri.
Feita essa lembrança, vamos retomar o raciocínio principal do texto. Como é que a
modificação da Lei 13.491/2017 pode afetar o teor da Súmula 172 do STJ?
Vamos por partes! É preciso compreender a modificação por mim mencionada. É que a Lei
13.491/2017 trouxe uma mudança “silenciosa”, mas que causa um grandíssimo barulho na
prática criminal, influindo drasticamente na concepção de crimes militares!
Deixe-me explicar. Até a edição da referida lei, tínhamos que a Justiça Militar somente seria
competente para julgamento de crimes militares! Oxe, Pedro, isso mudou?
NÃO, calma. O que mudou, na verdade, foi o conceito (alcance) de crime militar. Antes,
crimes militares seriam aqueles que necessariamente estivessem previstos no Código Penal
Militar! Ou seja, tudo aquilo que NÃO se encontrasse previsto expressamente no CPM não
92
poderia ser considerado crime militar e, portanto, não poderia ser julgado pela JM (só julga
crimes militares).
É que ao contrário da redação anterior, que definia crime militar exclusivamente como
aqueles previstos na legislação militar (CPM), a Lei 13.491/2017 passa a prever que os crimes
militares são “os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados (…)”.
Assim, antes da modificação, crimes que não estavam previstos no referido diploma não
seriam julgados pela JM, mas sim pela Justiça Comum, como era o caso de tortura,
associação para o tráfico e abuso de autoridade, ainda que no exercício das funções militares!
Sobre esse último dispositivo, aliás, o STJ chegou a editar um verbete sumular indicando
expressamente que “compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de
abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço”.
Com a nova lei, o fundamento embasador do entendimento supra cai por terra, devendo ser
tida como superada (revogada) pela Lei 13.491/2017.
93
“Ação Penal. Questão de ordem sobre a competência desta Corte para prosseguir o processamento
dela. Cancelamento da súmula 394. Depois de cessado o exercício da função, não deve manter-se o
foro por prerrogativa de função, porque cessada a investidura a que essa prerrogativa é inerente, deve
esta cessar por não tê-la estendido mais além a própria Constituição.” (AP 315 QO, Relator Ministro
Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgamento em 25.8.1999, DJ de 31.10.2001)
Súmula 398 - STF: O Supremo Tribunal Federal não é competente para processar
e julgar, originalmente, Deputado ou Senador acusado de crime.
Superada.
“Vale rememorar, neste ponto, que os membros do Congresso Nacional jamais tiveram prerrogativa
de foto, em matéria penal, sob a égide das anteriores Constituições republicanas de 1891, de 1934, de
1937, de 1946 e de 1967, o que motivou a formulação, por esta Corte, da Súmula 398/STF, cujo
enunciado assim dispunha: ‘(...)’. Na realidade, foi somente a partir da outorga, por um triunvirato
militar, da Carta Federal de 1969 (travestida sob a designação forma de EC 1/1969) que se atribuiu,
aos membros do Congresso Nacional, nos ilícitos penais comuns, prerrogativa de foro ‘ratione
muneris’, perante o Supremo Tribunal Federal, deixando de subsistir, então, a Súmula 398/STF.”
(STF. Inq 2601 QO, relator ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgamento em
20.10.2011, DJe de 17.5.2013)
Se atualmente você exerce o cargo, você terá direito a foro por prerrogativa de função,
mesmo que a infração penal tenha sido praticada antes! A partir da diplomação, todos os
processos deverão ser remetidos ao Tribunal da prerrogativa. É dizer, pois, que o agente
somente faz jus ao foro por prerrogativa de função a partir da diplomação e enquanto
estiver exercendo a função! Naturalmente, os atos praticados anteriormente pelas
instâncias até então competentes não serão considerados inválidos, uma vez que pela regra
do tempus regit actum, eles foram todos efetuados de maneira totalmente legítima e válida!
Porém, se houver cessação definitiva da função que justifique a prerrogativa de foro,
94
pela mesma regra da atualidade, não há que se falar em “competência especial”, seja
para fatos praticados, antes, durante ou depois da cessação.
É dizer que, prefeitos serão julgados pelo TJ se o crime for de competência da Justiça
Estadual. Caso o crime seja competência da Justiça Federal ou da Justiça Eleitoral, será
julgado, respectivamente pelo TRF ou pelo TRE.
Súmula 704 - STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu
ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
95
MPE-RS (Promotor de Justiça 2017): Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e
do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro
por prerrogativa de função de um dos denunciados. (Certo)
MPE-PR (Promotor de Justiça 2016): A atração por continência ou conexão do processo do
corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados não viola as garantias do juiz
natural, da ampla defesa e do devido processo legal (Certo)
MPE-SC (Promotor de Justiça 2016): A Súmula 704 do Supremo Tribunal Federal, dispõe que
viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados. Já Súmula 705, da mesma corte, estabelece que a renúncia do réu ao direito de
apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação
por este interposta. (Errado)
FAPEC (MPE-MS 2015): Viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados. (Errado)
FUNDEP (DPE-MG 2014): De acordo com a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal
Federal, a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal. (Certo)
A competência do Tribunal do Júri está prevista na Constituição Federal de 1988, art. 5º,
XXXVIII, “d”:
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida ;
96
Quanto à previsão do foro por prerrogativa de função, a Constituição previu que algumas
autoridades seriam processadas criminalmente em foros privativos colegiados – tribunais
estaduais, regionais e superiores. Nesse caso, as Constituições Estaduais, no exercício do
poder constituinte decorrente, poderão estabelecer foro por prerrogativa de função não
prevista pela CF/88, conquanto respeitado o princípio da simetria. Sendo assim, a título de
exemplo, a Constituição Estadual poderá prever foro de prerrogativa de função no TJ ao
vice-governador (correspondente ao vice-presidente).
Nessa situação, a teor da súmula, a competência do Tribunal do Júri (para o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida) não poderá ser afastada pela competência prevista
exclusivamente na Constituição Estadual, uma vez que, hierarquicamente, a CF/88 é
superior. Logo, se o vice-governador, com foro por prerrogativa de função no TJ,
estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual, cometer um crime doloso contra a
vida, será julgado pelo Tribunal do Júri.
Conflito de Competência
Súmula 555 - STF: É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de
jurisdição entre juiz de direito do estado e a justiça militar local.
“Dessa maneira, no que concerne à Justiça Militar estadual, cumpre distinguir: se houver ou não
Tribunal Militar, órgão de segundo grau. Se existente, o auditor militar estadual está subordinado à
Corte especializada, o que sucede nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Se
não houver Tribunal Militar, então, sim, o órgão de apelação das decisões da Justiça Militar de primeiro
grau será o Tribunal de Justiça do Estado. Neste último caso, conflito de competência entre juiz de
direito e auditor militar estadual ficará sujeito à decisão do Tribunal de Justiça do Estado. No primeiro
97
caso, o conflito de competência enquadra-se no art. 105, I, letra d, sendo competente para processá-
lo e julgá-lo o colendo Superior Tribunal de Justiça.” (RE 200695, Relator Ministro Néri da Silveira,
Segunda Turma, julgamento em 17.9.1996, DJ de 21.3.1997)
Ação Penal
Súmula 388 - STF (cancelada): O casamento da ofendida com quem não seja o
ofensor faz cessar a qualidade de seu representante legal, e ação penal só pode
prosseguir por iniciativa da própria ofendida, observados os prazos legais de
decadência e perempção.
Súmula 396 - STF: Para a ação penal por ofensa da honra, sendo admissível a
exceção da verdade quanto ao desempenho de função pública, prevalece a
competência especial por prerrogativa de função, ainda que tenha cessado o exercício
funcional do ofendido.
Superada. Essa superação se dá com base na lógica e regra já analisada na obra do sistema da
atualidade e não da contemporaneidade. Afinal, com a revogação da Súmula 394 do
Supremo e com a declaração de inconstitucionalidade da Lei 10.628/2002, mesma sorte deve
seguir a Súmula 396. Aliás, ela se apresenta totalmente incompatível com verbete posterior,
qual seja, a Súmula 451 STF62.
“1. Na ocorrência do delito descrito no art. 214 do Código Penal - antes da revogação pela Lei nº
12.015/2009 -, o prazo decadencial para a apresentação de queixa ou de representação era de 6 meses
após a vítima completar a maioridade, em decorrência da dupla titularidade. 2. Esta Suprema Corte
tem reconhecido a dualidade de titulares do direito de representar ou oferecer queixa, cada
um com o respectivo prazo: um para o ofendido e outro para seu representante legal . Súmula
nº 594 do STF. Precedentes. 3. Ordem denegada.” (STF. HC 115341, Relator Ministro Dias Toffoli,
Primeira Turma, julgamento em 14.10.2014, DJe de 3.2.2015)
62A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a cessação
definitiva do exercício funcional.
98
REPRESENTANTE LEGAL. CRIME COMETIDO COM ABUSO DO "PÁTRIO PODER" EM
RELAÇÃO A UMA DAS VÍTIMAS. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA.
RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO. I - Os prazos para o exercício do direito de queixa
ou representação correm separadamente para o ofendido e seu representante legal (Súmula
nº 594/STF). II - Escoado o prazo para o representante de uma das vítimas, conserva-se o
direito de representação da ofendida, a ser contado a partir da sua maioridade (Precedentes).
III - O crime cometido com abuso do "pátrio poder", nos termos do revogado art. 225, §1º, inciso II,
do Código Penal, antes da alteração legislativa promovida pela Lei n. 12.015/2009, era de ação penal
pública incondicionada. Com a alteração, indica o parágrafo único do art. 225 do Código Penal que a
ação penal, quando o ofendido é menor de dezoito anos, é pública incondicionada. Desta forma, com
relação à uma das vítimas (B. G. F., filha), não há que se falar em decadência do direito de
representação. Recurso ordinário desprovido. (STJ. RHC 39.141/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 10/12/2014).
Sobre o tema, muito importante a leitura do STF, INQ. 1.939/BA63. Em provas objetivas,
porém, o candidato deve seguir a literalidade sumular e apontar a legitimidade como
concorrente.
63 EMENTA: I. Ação penal: crime contra a honra do servidor público, propter officium: legitimação concorrente
do MP, mediante representação do ofendido, ou deste, mediante queixa: se, no entanto, opta o ofendido pela
representação ao MP, fica-lhe preclusa a ação penal privada: electa una via... II. Ação penal privada
subsidiária: descabimento se, oferecida a representação pelo ofendido, o MP não se mantém inerte, mas requer
diligências que reputa necessárias. III. Processo penal de competência originária do STF: irrecusabilidade do
pedido de arquivamento formulado pelo Procurador-Geral da República, se fundado na falta de
elementos informativos para a denúncia. (Inq 1939, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal
Pleno, julgado em 03/03/2004, DJ 02-04-2004 PP-00011 EMENT VOL-02146-02 PP-00258 RTJ VOL 00192-
02 PP-00542).
99
CESPE (DPE-AL 2017): Tratando-se de crime contra a honra do servidor público em razão da
função, a ação penal pode ser iniciada mediante queixa-crime do ofendido ou ação pública
condicionada à representação. (Certo)
CESPE (PJC-MT 2017): Há legitimidade concorrente do ofendido e do MP para a persecução
de crimes contra a honra de funcionário público em razão de suas funções. (Certo)
VUNESP (TJ-SP 2017): A legitimidade para a propositura de ação penal por crime contra a
honra de servidor público em razão do exercício de suas funções é exclusiva do Ministério
Público, condicionada à representação do ofendido. (Errado); concorrente do ofendido, mediante
queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido. (Certo); concorrente
do ofendido, mediante representação, e do Ministério Público, mediante ação pública
incondicionada. (Errado); exclusiva do ofendido, mediante queixa. (Errado).
FUNDEP (MPE-MG 2017): A legitimação para promover ação penal no crime praticado
contra a honra do servidor público, em razão do exercício de suas funções, é concorrente, pelo
que, mesmo após ofertada representação ao Ministério Público e por ele requeridas diligências,
não perde o ofendido a legitimidade para oferecer queixa. (Errado)
CESPE (PC-PE 2016): É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do MP,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor
público em razão do exercício de suas funções. (Certo)
FAURGS (TJ-RS 2016): Nos crimes contra a honra cometidos contra funcionário público, em
razão de suas funções, bem como em casos de injúria consistente na utilização de elementos
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou deficiente, a
jurisprudência majoritária do Supremo Tribunal Federal confere exclusivamente ao Ministério
Público, mediante representação do ofendido, a legitimidade para a propositura da ação penal.
(Errado)
VUNESP (TJM-SP 2016): Considerando que os delitos contra a honra são processáveis apenas
mediante ação penal de iniciativa privada, totalmente indevida a dedução de ação penal pública
condicionada, isto é, por meio de representação. (Errado)
MPDFT (Promotor de Justiça 2015): No crime contra a honra de funcionário público, em
razão das suas funções, a ação poderá ser pública condicionada ou privada, a critério do ofendido.
(Certo)
100
HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. PODER DE
INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. IMPEDIMENTO OU
SUSPEIÇÃO DE MEMBRO DO ÓRGÃO MINISTERIAL QUE PARTICIPOU DA FASE
INVESTIGATÓRIA. INOCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA PARA JULGAR ARGUIÇÃO DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO DE PROMOTOR DE JUSTIÇA. MAGISTRADO DE
PRIMEIRO GRAU. ART. 104 DO CPP. PRISÃO CAUTELAR. FUNDAMENTAÇÃO
INIDÔNEA. EXCESSO DE PRAZO CONFIGURADO. 1. Ao concluir o julgamento do RE
593.727/MG, com repercussão geral reconhecida, o Plenário desta Corte assentou a seguinte tese: “o
Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus
agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais
de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os
incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado
democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”. 2. A
jurisprudência do STF é no sentido de que a participação de membro do Ministério Público
na fase investigatória não acarreta, por si só, seu impedimento ou sua suspeição para o
oferecimento da denúncia, e nem poderia ser diferente à luz da tese firmada pelo Plenário,
mormente por ser ele o dominus litis e sua atuação estar voltada exatamente à formação de
sua convicção. 3. À luz do art. 104 do CPP, é do juiz de primeira instância a competência para
processar e julgar exceção de impedimento ou suspeição de promotor de justiça, a quem cabe,
inclusive, decidir sobre a realização ou não de diligências solicitadas nesse incidente processual,
podendo indeferir as que entender irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (CPP, art. 400, § 1º),
sem que tanto configure cerceamento de defesa. 4. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a mera
impressão do juiz sobre a possibilidade de o paciente interferir na instrução criminal, bem como sua
situação econômica, sem a indicação de elementos concretos demonstradores do risco de fuga, não
constituem fundamentos idôneos para o decreto de prisão preventiva. Os autos revelam, ainda,
situação configuradora de excesso de prazo da prisão cautelar. 5. Habeas corpus denegado. Ordem
concedida de ofício para revogar a prisão cautelar. (STF. HC 85011, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. TEORI ZAVASCKI, Primeira Turma, julgado em 26/05/2015, DJe-
119 DIVULG 19-06-2015 PUBLIC 22-06-2015 EMENT VOL-02772-01 PP-00001).
101
Súmula 542 - STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
Assistente de Acusação
Súmula 208 - STF: O assistente do Ministério Público não pode recorrer,
extraordinariamente, de decisão concessiva de habeas corpus.
Devemos atentar para o fato de que o referido verbete sumulado ter sido editado com fulcro
na antiga redação do artigo 311, que indicava a possibilidade da prisão preventiva ser
decretada apenas mediante representação do delegado de polícia (autoridade policial),
requerimento do membro do parquet ou do querelante (nos crimes de ação penal privada),
nada falando acerca do assistente de acusação.
64 Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante
ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
102
(Errado) *A assertiva estaria correta, entretanto o gabarito considerou a literalidade do
entendimento sumulado – que não foi formalmente cancelado. Portanto, atenção!
Não há dispositivo legal que preveja, expressamente, essa legitimidade, sendo essa a razão da
súmula ora comentada. Devemos entender que, além das hipóteses legais previstas
expressamente na legislação vigente, indubitável que, de maneira implícita, o assistente
poderá apresentar qualquer impugnação recursal que venham como desdobramento daquelas
situações, sob pena de evidente e irrazoável cerceamento de sua atuação. Dessa maneira,
havendo legitimidade para apelar de uma decisão, implícita estará a legitimidade para RE
e/ou RESP em face do acórdão que mantém o teor da decisão impugnada.
Caso o assistente de acusação já esteja devidamente habilitado nos autos do processo, o prazo
para a interposição de seu recurso de apelação será de 05 (cinco dias). Lado outro, caso a
habilitação não preceda à decisão, esse prazo será de 15 (quinze) dias, conforme registra o
65Art. 584. Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão de livramento
condicional e dos ns. XV, XVII e XXIV do art. 581. § 1o Ao recurso interposto de sentença de impronúncia
ou no caso do no VIII do art. 581, aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598.
66 Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for
interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no
art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito
suspensivo. Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do dia em
que terminar o do Ministério Público.
103
artigo 598, parágrafo único do CPP67. O que importa registrar é que, em qualquer desses
dois casos, o termo a quo (inicial) da contagem do prazo será a data de escoamento
do prazo para o MP! É que a atuação recursal do assistente de acusação tem marcas
notadamente subsidiárias, justificando essa sistemática.
Mutatio Libelli
Súmula 453 - STF: Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único
do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato
delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou
implicitamente, na denúncia ou queixa.
Não se admite mutatio libelli em 2º grau de jurisdição, uma vez que, se permitido fosse, tanto
haveria supressão de instância, quanto violaria o duplo grau de jurisdição. Segundo esse
princípio, todo processo (com as ressalvas e exceções polêmicas dos feitos de competência originária) pode
ser submetido a um reexame integral por outro órgão, incluindo apreciação de direito e de
fato.
Ora, se fosse possível que um Tribunal se valesse da prerrogativa legal estabelecida no artigo
38468 do CPP (mutatio libelli), haveria claramente uma supressão de posicionamento do órgão
jurisdicional inicial (1º grau), revelando-se o acusado impedido de apresentar sua defesa à
primeira instância. Em outras palavras, esse é o fundamento do raciocínio consubstanciado
na Súmula do STF ora comentada, evidenciando uma “limitação” quanto à possibilidade de
alteração da imputação fática após a prolatação de sentença. Ao excluir o artigo 384 do CPP
do seu texto, o artigo 61769 do mesmo diploma traz a mesma ideia ora verificada.
67 Art. 598.Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do dia em
que terminar o do Ministério Público.
68 Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em
consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na
acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude
desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando
feito oralmente.
69 Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no
que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.
104
Há julgados do STF em sentido contrário:
Dentre os requisitos delineados pelo legislador para ensejar as hipóteses de citação por edital,
não se encontra a transcrição integral da inicial acusatória ou sequer o resumo dos fatos,
apesar de nos parecer prática ideal.
105
Não obstante, considerando que o artigo 365 do CPP aponta como essencial que o edital
apresente (i) o nome do juiz que a determinar; (ii) o nome do réu, ou, se não for conhecido,
os seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão, se constarem do processo;
(iii) o fim para que é feita a citação; (iv) o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá
comparecer e (v) o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se
houver, ou da sua afixação, não há como asseverar nulidade “apenas” pela ausência da
transcrição da imputação, limitando à indicação do dispositivo de lei no qual o acusado resta
incurso.
Súmula 351 - STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da
federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.
Trata-se de Súmula bastante polêmica, razão pela qual tentaremos tratar e abordar os
aspectos críticos de sua redação e, sobretudo, de sua aplicação prática. Ela foi editada pelo
Supremo Tribunal Federal quando a legislação processual penal nada falava acerca da
citação específica do preso. Contudo, desde a vigência da Lei 10.792/2003, esse cenário
mudou drasticamente, já que o art. 36070 do CPP prevê expressamente que o preso SERÁ
citado pessoalmente.
70 Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
106
Não há razão lógica para diferenciar presos reclusos em estados diferentes ou iguais do juízo
processante para fins da modalidade citatória (real X ficta). Naturalmente, é plenamente
possível que, diante da constatação de diversidade de estados, o juízo competente deverá se
valer de carta precatória, viabilizando a citação pessoal do acusado.
Súmula 455 - STJ: A decisão que determinar a produção antecipada de provas com
base no artigo 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando
unicamente o mero decurso do tempo.
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das
71STJ, HC 126.583/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 18/08/2011, DJe
01/09/2011.
107
provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no
art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996) (Vide Lei nº 11.719, de 2008)
O art. 366 do CPP estabelece que, se o acusado for citado por edital e não comparecer ao
processo nem constituir advogado, o processo e o curso da prescrição ficarão suspensos.
Nesse caso, de acordo com o referido artigo, o juiz poderá determinar ainda (i) a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e (ii) decretar prisão preventiva do acusado se
estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP.
Sendo assim, a súmula 455 do STJ se presta a regular a aplicação do art. 366 quanto à
produção antecipada de provas, exigindo que a determinação seja concretamente
fundamentada. Não basta que se alegue o mero decurso do tempo. Desse modo, a oitiva de
testemunhas pode ser considerada prova urgente para os fins do art. 366 do CPP, desde que
as circunstâncias do caso concreto revelem a possibilidade concreta de perecimento.
Acontece que o Informativo 549 do STJ trouxe uma exceção. É que o STJ entendeu que, se
o processo estiver suspenso com base no art. 366 do CPP, e uma das testemunhas for
policial, o juiz poderá autorizar que ela seja ouvida de forma antecipada justificando no
decurso do tempo, sendo isso considerado prova urgente. A sua atuação expõe o agente da
segurança pública a inúmeras situações sendo certo que as peculiaridades de cada uma
acabam se perdendo em sua memória, seja pela frequência com que ocorrem, ou pela própria
similitude dos fatos72.
72 STJ, 5ª Turma, RHC 51.232, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 02/10/2014.
73 STF, 2ª Turma, HC 130038/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 3.11.2015. (HC-130038).
108
antecipada de provas, sob o fundamento de decurso do tempo, e autoriza o decreto de prisão
preventiva, se for o caso. (Errado)
CEFET-BA (MPE-BA 2015): Segundo o entendimento consolidado do Superior Tribunal de
Justiça, a decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do
Código de Processo Penal, isto é, quando o réu citado por edital for revel, pode ter como única
justificativa o decurso do tempo, o que prestigia o princípio constitucional da razoável duração
do processo. (Errado)
FUNDEP (DPE-MG 2014): Segundo entendimento sumulado do Superior Tribunal de
Justiça, o mero decurso de tempo é fundamento idôneo para justificar a decisão que determina
a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do CPP. (Errado)
Se o agente for denunciado, citado por edital e não comparecer nem constituir advogado,
aplica-se o art. 366 do CPP, suspendendo o processo e o curso do prazo prescricional. Nesse
caso, conforme a súmula 415 do STJ, o período de suspensão do prazo prescricional será
calculado de acordo com a prescrição pela pena máxima cominada. Vejamos um exemplo.
Imagine-se que João é acusado pela prática de um crime de furto simples, cuja pena máxima
em abstrato é de 4 anos (art. 155 do CPB). Caso João se (i) citado por edital e (ii) não constitua
advogado, deverá ser efetivada a suspensão do processo e também da prescrição, na forma
do artigo 366 do CPP. Até quando o processo ficará suspenso? De acordo com o STJ e
da Súmula 415, essa suspensão deverá ser de, no máximo, 08 anos, prazo fixado a partir da
pena máxima em abstrato (4 anos – art. 109, IV)74.
74 Art. 109, IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
109
Ementa: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. RÉU CITADO POR EDITAL.
REVELIA. SUSPENSÃO DO PROCESSO E DO PRAZO PRESCRICIONAL NOS TERMOS
DO ART. 366 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONTROVÉRSIA SOBRE A
EXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO TEMPORAL. ARTIGO 5º, XLII E XLIV, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. (RE 600851 RG,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em 16/06/2011, DJe-124 DIVULG 29-06-
2011 PUBLIC 30-06-2011 EMENT VOL-02554-02 PP-00216 RT v. 100, n. 912, 2011, p. 568-574 ).
110
pena mínima cominada, pela incidência da majorante, não ultrapassar o limite de um (1) ano.
(Errado)
FCC (DPE-CE 2014): O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às
infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva,
quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante,
ultrapassar o limite de um 01 (um) ano. (Certo)
111
prolação da sentença, uma vez que o objetivo desse instituto é evitar a instrução do feito e o
desperdício da atividade judicante. (Errado)
Prevalece a ideia que não se trata de direito subjetivo! Vamos entender a razão!
Súmula 723 - STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime
continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento
mínimo de um sexto for superior a um ano.
112
A ideia consubstanciada nessa súmula (e também na 241 do STJ) é de que deveremos atentar
para a pena mínima a ser fixada em concreto reste ou não superior a 1 (um) ano, devendo
considerar aumentos firmados na legislação, inclusive em relação ao crime continuado. E
isso é muito explorado pelos examinadores, uma vez que a confusão é relativamente
frequente com o artigo 119 do CPB. Segundo esse dispositivo, tratando expressa e
exclusivamente sobre prazos prescricionais, no concurso de crimes (e também nos
crimes continuados), a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente. Ou seja, diferentemente da prescrição, em que a majoração não será
considerada, para fins de suspensão condicional do processo, esses aumentos devem sim ser
apreciados, em seu patamar mínimo.
Transação Penal
Súmula Vinculante 35 - STF: A homologação da transação penal prevista no artigo
76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas,
retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade
da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito
policial.
Cuidado! Sobre o tema, importante atentar que, no procedimento dos Juizados Especiais
Criminais, faz coisa julgada material, possuindo efeitos penais, a celebração do acordo de
composição civil se o crime desafiar ação penal privada (renúncia ao direito de queixa) ou
ação pública condicionada (renúncia ao direito de representação). Em ambos, extingue-se a
punibilidade. O mesmo não se pode dizer da celebração do acordo de composição civil se o
113
crime desafiar ação pública incondicionada. Nesses casos, a composição civil não produz
efeitos penais, apenas cíveis.75
Já em relação à transação penal, a súmula veio com o fito de colocar uma definição nas 3
correntes que variavam na doutrina, consolidando a posição já prevalente nos Tribunais
Superiores (agora, com efeito vinculante e obrigatório). Portanto, se estivermos diante de um acordo
de transação penal descumprido, será restaurado o “ambiente processual” até então existente
quando da propositura do acordo, não havendo qualquer impedimento quanto à
formalização da imputação. Deverá, pois, haver a remessa dos autos ao Ministério Público
(ou informação ao querelante) para que requeira a instauração de investigação ou oferta da
denúncia (ou queixa) em face do suposto autor. Afinal, a decisão homologatória do acordo
deixou de produzir efeitos a partir do momento em que foi descumprida, não havendo falar
em violação de coisa julgada.
Para finalizar, vamos tratar sobre um tema “acessório”, correlato ao teor da Súmula e
recentemente apreciado pelo Pleno do STF. Parcela da doutrina advogava a tese de que, a
partir de sentença homologatória da transação penal, seria possível observar a produção dos
efeitos jurídicos da condenação previstos no importante artigo 91 do CPB.
Contudo, de maneira que nos parece acertada, o Ministro Teori Zavascki conduziu voto que
prevaleceu na Corte, indicando peremptoriamente que a produção de tais efeitos não se
verifica, portanto, quando há transação penal (art. 76 da Lei 9.099/95), cuja sentença tem
natureza homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante.
As consequências da homologação da transação são aquelas estipuladas de modo consensual
no termo de acordo. Tendo havido transação penal e sendo extinta a punibilidade, ante o
cumprimento das cláusulas nela estabelecidas, é ilegítimo o ato judicial que decreta o confisco
do bem (motocicleta) que teria sido utilizado na prática delituosa. O confisco constituiria
75Quanto à suspensão condicional do processo, ementa de julgado veiculado no Info 599 do STJ:
PROCESSUAL CIVIL. JUIZADO ESPECIAL. DECISÃO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO. ACORDO DE REPARAÇÃO CIVIL ENTRE AS PARTES. POSSIBILIDADE. TÍTULO
EXECUTIVO JUDICIAL. LEI N° 9.099/95. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Embora a decisão de
suspensão condicional do processo penal não faça coisa julgada material, em virtude da possibilidade de sua
revogação, caso o beneficiário incida nas hipóteses previstas nos §§ 3° e 4° do artigo 89 da Lei n° 9099/99,
durante o prazo de suspensão determinado, não há óbice legal que impeça o denunciado e a vítima de
entabularem acordo, visando à reparação civil pelo crime, na mesma audiência em que fixadas as condições
para suspensão do processo. 2. O entendimento de que o acordo celebrado entre o denunciado e a vitima
constitui título executivo atende ao espírito da Lei dos Juizados Especiais, que prima pela celeridade e
concentração dos atos processuais, assim como pela simplificação dos procedimentos, a fim de incentivar as
partes à autocomposição. 3. Recurso especial provido. (REsp 1123463/DF, Rel. Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 21/02/2017, DJe 14/03/2017)
114
efeito penal muito mais gravoso ao aceitante do que os encargos que assumiu na transação
penal celebrada (fornecimento de cinco cestas de alimentos)76.
Carta Precatória
Súmula 155 - STF: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação
da expedição de precatória para inquirição de testemunha.
RE 795567, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 28/05/2015, ACÓRDÃO
76
115
“1. A nulidade no direito penal não prescinde da demonstração do efetivo prejuízo para a
defesa, consoante dispõe o artigo 563 do Código de Processo Penal, o que importa dizer que a
desobediência às formalidades estabelecidas na legislação processual somente poderá
implicar o reconhecimento da invalidade do ato quando a sua finalidade estiver
comprometida em virtude do vício verificado. Precedentes: HC 104.767, Primeira Turma, Relator o
Ministro Luiz Fux, DJ de 17.08.11; HC 84.098, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe
de 07.05.04; RE 263.012-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 23.02.01;
HC 79.446, Segunda Turma, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 26.11.99. 2. Ademais, "é
relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de carta precatória para
inquirição de testemunha" (Súmula 155/STF). 3. In casu, inobstante a defesa não tenha sido
intimada da expedição de carta precatória para a oitiva de testemunha, não houve
comprovação da existência de qualquer prejuízo efetivo. Além disso, o depoimento da
testemunha foi acompanhado por defensor dativo e a condenação da paciente lastreou-se em todo o
conjunto fático-probatório colhido no durante o processo-crime, não estando embasada apenas no
depoimento da testemunha no juízo deprecado.” (HC 119293, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira
Turma, julgamento em 8.10.2013, DJe de 13.11.2013).
116
Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 30/10/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-027 DIVULG 07-02-2013 PUBLIC 08-02-2013).
Meios de Prova
Súmula 74 - STJ: Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu
requer prova por documento hábil77.
77Para conhecer um caso específico em que tal entendimento foi flexibilizado pelo STJ, conferir o artigo do
professor Pedro Coelho publicado em https://blog.ebeji.com.br/comprovacao-da-menoridade-de-vitimas-de-
crimes-sexuais/.
117
Prisão
Súmula 9 - STJ: A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia
constitucional da presunção de inocência.
78Art. 7º. 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra
autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável
ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.
118
É que como adverte abalizada doutrina, “quando a duração de um processo supera o limite da duração
razoável, (…) o Estado se apossa ilegalmente do tempo do particular, de forma dolorosa e irresistível. E esse
apossamento ilegal ocorre, ainda que não exista uma prisão cautelar, pois o processo em si mesmo é uma
pena”79.
79 LOPES JR. Aury; BADARÓ, Gustavo Henrique. Direito ao processo penal no prazo razoável. 2ª ed.,
Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009, p. 06
80 Importante atentar que as súmulas 21 e 52 são anteriores a EC 45 de 2004 que acrescentou ao artigo 5º o
inciso LXXVIII, bem como anteriores a incorporação da CADH à ordem jurídica interna.
119
Constituição que passou a materializar, expressamente, a partir da EC 45/2004 o princípio da
duração razoável do processo (que em nossa visão nada mais é do que a efetivação da dignidade
da pessoa humana na seara processual), é dever do aplicador do direito posto a ponderação
e interpretação do teor das Súmulas 21 e 52 do STJ, de modo a não legitimar a perpetuação
ou prolongamento excessivo da persecução penal. Daí porque se conclui que o alcance dos
referidos entendimentos não comporta mais a aplicação absoluta de seus conteúdos.
Por tal motivo, Renato Brasileiro81, diferenciando o exercício regular do direito de defesa e
o uso abusivo deste direito, sugere uma interpretação adequada da súmula, nos seguintes
termos: não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado por manobras
manifestamente procrastinatórias da defesa que visem à criação de uma dilação indevida. Contudo, não há
claros indicativos acerca dessa diferenciação passar a ser realizada pelos Tribunais.
Súmula 81 - STJ: Não se concede fiança quando, em concurso material, a soma das
penas mínimas cominadas for superior a dois anos de reclusão.
Superada pela redação dada aos art. 323 e 324 do Código de Processo Penal pela Lei
12.403/11.
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 4. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador:
81
120
A súmula foi aprovada em razão do art. 595 do CPP, revogado pela Lei 12.403/2011, que
previa a deserção da apelação de réu foragido. Nesse caminhar, apesar de não mais ser
“necessária” para o CPP, ela não foi cancelada, permanece refletindo a jurisprudência
majoritária dos Tribunais Superiores e também em sintonia com os Tratados e Convenções
Internacionais de Direitos Humanos com reflexos no processo penal. Afinal, o princípio do
duplo grau de jurisdição não pode ser condicionado ou limitado pelo aprisionamento do
interessado/titular desse direito.
“As normas processuais que estabelecem a prisão do réu como condição de admissibilidade
do recurso de apelação são incompatíveis com o direito à ampla defesa, porque, às expressas, o
é com todos os recursos a ela inerentes, não havendo falar, em caso tal, em prisão pena ou prisão
cautelar. É caso, pois, assim como o é também o da regra de deserção determinada pela fuga do réu,
de conflito manifesto e intolerável entre a Lei e a Constituição, que se há de resolver pela não recepção
ou inconstitucionalidade da norma legal, se anterior ou posterior à Lei Fundamental. A prisão do réu,
na espécie, somente pode ter lugar, para que se possa afirmá-la conforme à Constituição, se for de
natureza cautelar e, como tal, decretada fundamentadamente nos seus pressupostos e motivos legais,
elencados no artigo 312 do Código de Processo Penal.” (STJ. HC 38158 PR, Rel. Ministro
HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 28/03/2006, DJ 02/05/2006, p. 392).
Liberdade Provisória
Súmula 697 - STF: A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes
hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo.
Superada, pois, com a alteração dada pela Lei nº. 11.464/07 a Lei dos Crimes Hediondos, não
mais se proíbe a liberdade provisória aos crimes hediondos e equiparados. O art. 5º, XLIII
da Constituição Federal, ao tratar dos crimes hediondos, impede apenas a fiança, a graça e a anistia.
A lei infraconstitucional não poderia ir além. Além do mais, tal proibição ofenderia a garantia
constitucional da individualização da pena e, portanto, eivada de inconstitucionalidade.
O entendimento do STF é no sentido de que não poderia o legislador, apenas por força de
lei (vedação da prisão ex lege), impedir a correta individualização da pena e a livre escolha das
cautelares pelo juiz da causa. Sendo assim, a liberdade provisória é concedida se ausentes os
requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, caso contrário, necessária se faz
a comprovação da presença das condições previstas no art. 312 do CPP.
Nesse sentido, vale rememorar a decisão do Plenário do STF, veiculada no Informativo 665,
quanto à liberdade provisória e o crime de tráfico:
121
Tráfico de drogas e liberdade provisória
O Plenário, por maioria, deferiu parcialmente habeas corpus — afetado pela 2ª Turma — impetrado
em favor de condenado pela prática do crime descrito no art. 33, caput, c/c o art. 40, III, ambos da
Lei 11.343/2006, e determinou que sejam apreciados os requisitos previstos no art. 312 do CPP para
que, se for o caso, seja mantida a segregação cautelar do paciente. Incidentalmente, também por
votação majoritária, declarou a inconstitucionalidade da expressão “e liberdade provisória”,
constante do art. 44, caput, da Lei 11.343/2006 (“Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e
34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos”). A defesa sustentava, além da
inconstitucionalidade da vedação abstrata da concessão de liberdade provisória, o excesso de prazo
para o encerramento da instrução criminal no juízo de origem. Discorreu-se que ambas as Turmas do
STF teriam consolidado, inicialmente, entendimento no sentido de que não seria cabível liberdade
provisória aos crimes de tráfico de entorpecentes, em face da expressa previsão legal. Entretanto,
ressaltou-se que a 2ª Turma viria afastando a incidência da proibição em abstrato .
Reconheceu-se a inafiançabilidade destes crimes, derivada da Constituição (art. 5º, XLIII). Asseverou-
se, porém, que essa vedação conflitaria com outros princípios também revestidos de dignidade
constitucional, como a presunção de inocência e o devido processo legal. Demonstrou-se que esse
empecilho apriorístico de concessão de liberdade provisória seria incompatível com estes
postulados. Ocorre que a disposição do art. 44 da Lei 11.343/2006 retiraria do juiz competente a
oportunidade de, no caso concreto, analisar os pressupostos de necessidade da custódia cautelar, a
incorrer em antecipação de pena. Frisou-se que a inafiançabilidade do delito de tráfico de
entorpecentes, estabelecida constitucionalmente, não significaria óbice à liberdade
provisória, considerado o conflito do inciso XLIII com o LXVI (“ninguém será levado à prisão ou
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”), ambos do art. 5º da
CF. Concluiu-se que a segregação cautelar — mesmo no tráfico ilícito de entorpecentes —
deveria ser analisada assim como ocorreria nas demais constrições cautelares, relativas a
outros delitos dispostos no ordenamento. (...) HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,
10.5.2012. (HC-104339).
Assim, pode-se concluir que, de acordo com o STF, não há mais margem para se admitir a
vedação absoluta de liberdade provisória82, ainda que estejamos diante de um crime hediondo
ou equiparado.
Essa restrição absoluta violaria também o princípio da proibição ao retrocesso, vez que
restauraria a odiosa prisão preventiva mandatória ou obrigatória, revogada do nosso
ordenamento desde o final da década de 1960. Por isso que a Súmula 697 do STF não faz
mais sentido, já que existe mais vedação de liberdade provisória ex lege. Contudo, evidente
122
deve restar a necessidade de relaxamento da prisão sempre que ficar caracterizado o excesso
de prazo da restrição.
Tribunal do Júri
Súmula Vinculante 45 - STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri
prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela
Constituição Estadual.
Súmula 156 - STF: É absoluta a nulidade do julgamento, pelo Júri, por falta de
quesito obrigatório.
83 Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)
I – a materialidade do fato; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – a autoria ou participação; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – se o acusado deve ser absolvido; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
123
11.689/08, não mais se indaga ao conselho de sentença sobre agravantes e atenuantes. Assim,
em relação às qualificadoras e causas de aumento, a Súmula permanece hígida, refletindo
inclusive posicionamento agasalhado pelo legislador em 2008, ao inserir na nova redação do
artigo 483, IV e V do CPP, que as causas de diminuição de pena devem ser respondidas pelos
jurados antes que as causas de aumento e qualificadoras.
Sobre a ordem dos quesitos, vale trazer decisão da Sexta Turma veiculada no Informativo
573 STJ:
Súmula 206 - STF: É nulo o julgamento ulterior pelo Júri com a participação de
jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo.
Como bem apontado por parcela da doutrina, a ratio desse raciocínio aplicado aos jurados
também pode ser extraído do próprio CPP que, em seu artigo 252, III, afirma ser inviável o
exercício de jurisdição pelo juiz que já tiver funcionado no processo como juiz de outra
instância, pronunciando-se de fato ou direito sobre a questão específica.
124
VUNESPE (TJ-SP 2017): No tocante aos sujeitos do processo, é correto afirmar que o juiz não
poderá exercer a jurisdição no processo em que tiver funcionado como juiz de outra instância,
pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão, mas não há nulidade no julgamento
ulterior pelo Júri com a participação de jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo
processo. (Errado)
De acordo com o STF, não incide a súmula 712 quando evidenciada a participação de todas
as partes na representação de desaforamento:
“1. No que tange à alegada nulidade em razão da ausência de prévia manifestação da defesa sobre a
representação de desaforamento, o acórdão recorrido mostra-se irreparável. Isso porque consta a
informação de que ‘(...) os requeridos, o Ministério Público e o assistente de acusação foram
ouvidos, todos aquiescendo com a representação formulada ’ (e-STJ, fl. 127, Vol. 4). Assim, não
há espaço para incidência da Súmula 712 desta Corte (‘é nula a decisão que determina o desaforamento
de processo da competência do júri sem audiência da defesa’).” (STF. RHC 126401, Relator Ministro
Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento em 24.3.2015, DJe de 27.4.2015).
Súmula 713 - STF: O efeito devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito
aos fundamentos da sua interposição.
Vamos aprofundar um pouco mais nesse tema, considerando que ele é bastante complexo e
polêmico dentro do processo penal. O artigo 593, III do CPP vigente traz situações em que
a apelação se revela cabível em caso de sentença no procedimento do Júri. De acordo com
os entendimentos do Supremo Tribunal Federal, aquele rol lá definido deve ser
compreendido de maneira mais profunda não apenas como “cabimento recursal”, mas sim
como uma verdadeira restrição ao efeito devolutivo típico do Júri!
84
“É importante ressaltar que a previsão contida no artigo 593, III, do Código de Processo Penal não se
constitui mera hipótese de cabimento de recurso. Em verdade, o cabimento e o provimento do recurso de
apelação nos casos ali delineados estão imbricados com a ocorrência de uma das hipóteses fáticas delineadas
125
ocorrência de uma das hipóteses fáticas delineadas na mencionada norma processual penal.
Portanto, a apelação contra sentença proferida pelo Tribunal do Júri tem natureza restrita,
não sendo devolvido à superior instância o conhecimento integral da causa criminal, o que
significa dizer que o conhecimento do Tribunal estadual fica circunscrito aos motivos
invocados na interposição.
Prazos
Súmula 710 - STF: No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e
não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.
na mencionada norma processual penal. Portanto, a apelação contra sentença proferida pelo Tribunal do
Júri tem natureza restrita, não sendo devolvido à superior instância o conhecimento integral da causa
criminal, o que significa dizer que o conhecimento do Tribunal estadual fica circunscrito aos motivos
invocados na interposição. É o enunciado da Súmula 713 do Supremo Tribunal Federal, in verbis: ‘O efeito
devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição’.” (STF. RE
638757 AgR, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgamento em 9.4.2013, DJe de 26.4.2013)
126
Aqui, há uma grande diferença entre o processo penal e o processo civil amiúde
desconsiderada por estudantes mais afetos à área civilista. É que conforme prevê o artigo
231 do Novo Código de Processo Civil (2015), “salvo disposição em sentido diverso,
considera-se dia do começo do prazo a data de juntada aos autos do mandado
cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça”.
Nulidades
Súmula 352 - STF: Não é nulo o processo penal por falta de nomeação de curador
ao réu menor que teve a assistência de defensor dativo.
Superada. A súmula é anterior à alteração do Código de Processo Penal pela Lei 10.792/2003,
que revogou a necessidade de curador para os réus com idade entre 18 e 21 anos, e passou a
exigir a presença de advogado no interrogatório de todo e qualquer réu 85. Além do mais, os
menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, sujeitos às medidas previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Súmula 361 - STF: No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito,
considerando-se impedido o que tiver funcionado, anteriormente, na diligência de
apreensão.
85Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será
qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. (Redação dada pela Lei nº
10.792, de 1º.12.2003)
127
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras
de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação
técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Do dispositivo legal, depreende-se que o exame será realizado por dois peritos não
oficiais apenas no caso de ausência do perito oficial.
“Outrossim, inexiste razão que justifique a concessão da ordem de habeas corpus para declarar a
ausência de materialidade do crime, fundada na premissa exclusiva de que o laudo pericial que atestou
a natureza da substância entorpecente foi subscrito por um único perito. Isso porque, em primeiro
lugar, há precedentes do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a Súmula 361 (No
processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que
tiver funcionando anteriormente na diligência de apreensão) não se aplica a peritos oficiais ,
como ocorre com o Laudo Pericial acostado aos autos (...)”. (STF. HC 115530, Relator Ministro Luiz
Fux, Primeira Turma, julgamento em 25.6.2013, DJe de 14.8.2013).
Súmula 523 - STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
128
MPE-RS (Promotor de Justiça 2017): No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. (Certo)
CESPE (PC-GO 2017): Ofenderá o princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório
a defesa que, firmada por advogado dativo, se apresentar deficiente e resultar em prejuízo
comprovado para o acusado. (Certo)
CESPE (TJ-PB 2015): No processo penal, a falta e a deficiência de defesa constituem nulidade
processual absoluta; portanto, o prejuízo é presumido e independe de prova. (Errado)
“As partes têm direito à estrita observância do procedimento tipificado na lei, como concretização do
princípio do devido processo legal, a cujo âmbito pertencem as garantias específicas do contraditório
e da ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da Constituição da República). O exercício do contraditório
129
deve, assim, permear todo o processo, garantindo sempre, com ônus, a possibilidade de
manifestações oportunas e eficazes da defesa, desde a de arrazoar e contra-arrazoar recursos, até
a de se fazer ouvir no próprio julgamento destes. Em recurso em sentido estrito, interposto contra
decisão de rejeição da denúncia, o denunciado que, como é óbvio, ainda não foi citado, deve ter
assegurado o exercício do ônus de se manifestar nos autos, pois seu interesse primordial reside em
não ser réu, ou seja, em não lhe ser instaurada ação penal. Foi tal entendimento que levou esta Casa a
editar a súmula 707 (...)”. (STF. HC 87926, Relator Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julgamento
em 20.2.2008, DJe de 25.4.2008).
Súmula 708 - STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos
autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para
constituir outro.
130
Sobre o tema, vale conferir o entendimento do STJ no mesmo caminho:
Recursos
Súmula 267 - STJ: A interposição de recurso, sem efeito suspensivo, contra decisão
condenatória não obsta a expedição de mandado de prisão.
86 “... A prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar. 4. A
ampla defesa, não se a pode visualizar de modo restrito. Engloba todas as fases processuais, inclusive as
recursais de natureza extraordinária. Por isso a execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação
significa, também, restrição do direito de defesa, caracterizando desequilíbrio entre a pretensão estatal de aplicar
a pena e o direito, do acusado, de elidir essa pretensão.(...) A prestigiar-se o princípio constitucional, dizem, os
tribunais [leia-se STJ e STF] serão inundados por recursos especiais e extraordinários e subseqüentes agravos e
embargos, além do que ‘ninguém mais será preso’. Eis o que poderia ser apontado como incitação à
131
trânsito em julgado, ainda que pendente recurso sem efeito suspensivo (no caso, recursos
extraordinários). Acontece que, no julgamento do HC 126.292/SP 87, em maio de 2016, o
Plenário voltou atrás, mudando completamente o entendimento, para permitir, sob o
status de cumprimento provisório da pena, a expedição de mandado de prisão depois
de exaurido o duplo grau de jurisdição.
Essa súmula já foi comentada, razão pela qual sugerimos a leitura dos comentários tecidos no tópico sobre
Prisão, para um maior aprofundamento.
‘jurisprudência defensiva’, que, no extremo, reduz a amplitude ou mesmo amputa garantias constitucionais. A
comodidade, a melhor operacionalidade de funcionamento do STF não pode ser lograda a esse preço.” (STF.
HC 84078, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 05/02/2009, DJe-035 DIVULG 25-
02-2010 PUBLIC 26-02-2010 EMENT VOL-02391-05 PP-01048).
87 Ementa: CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
132
Súmula 160 - STF: É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade
não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
Sobre o tema, atentar para a decisão da Segunda Turma do STF, veiculada no Informativo
839:
133
nulidade de sessão de julgamento de recurso ordinário em “habeas corpus” ante a ausência de prévia
intimação da Defensoria. Alegava-se cerceamento de defesa. A Turma reiterou, assim, orientação
firmada no julgamento do RHC 116.173/RS (DJe de 10-9-2013) e do RHC 116.691/RS (DJe de 1º-
8-2014). HC 134.904/SP, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 13-9-2016.
134
Inadmissibilidade de RE em matéria penal e prazo recursal
A Primeira Turma, por maioria e em razão da intempestividade, não conheceu de agravo regimental
interposto contra decisão que inadmitiu, na origem, recurso extraordinário sobre matéria penal. De
início, o ministro Edson Fachin (relator) destacou que a decisão de inadmissibilidade foi publicada em
26.4.2016 (terça-feira), com início do prazo recursal em 27.4.2016 (quarta-feira) e fim em 11.5.2016
(quarta-feira), mas o agravo somente foi interposto em 17.5.2016 (terça-feira), quando já expirado o
prazo de quinze dias corridos. Observou que o prazo previsto para a interposição de agravo de
instrumento contra decisão que inadmite recurso extraordinário era de cinco dias, conforme o art.
28 da Lei 8.038/1990. Com as alterações do Código de Processo Civil pela Lei 8.950/1994, a Corte
pacificou o entendimento de que o art. 28 da Lei 8.038/1990 não havia sido revogado em matéria
penal, permanecendo o prazo de cinco dias para interposição do agravo. Relembrou que o novo
Código de Processo Civil (CPC) alterou a sistemática recursal e, especificamente quanto ao
recurso extraordinário, revogou expressamente os arts. 26 a 29 e 38 da Lei 8.038/1990 ,
conforme disposto no art. 1.072 do novo diploma instrumental. Entretanto, foi mantido o art. 39 da
Lei 8.038/1990 (“Da decisão do Presidente do Tribunal, de Seção, de Turma ou de Relator que causar
gravame à parte, caberá agravo para o órgão especial, Seção ou Turma, conforme o caso, no prazo de
cinco dias”), que cuida de agravo interno*, distinto do agravo cabível para destrancamento de
recurso extraordinário. Por sua vez, o agravo destinado a destrancar recurso extraordinário criminal
era regulamentado pelo art. 28 da Lei 8.038/1990, revogado. Feitas essas considerações, o ministro
verificou que, em razão da alteração da base normativa, inexistindo previsão específica no
Código de Processo Penal (CPP) e no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
(RISTF), à luz do preconizado no art. 3º do CPP, o prazo a ser observado na interposição do
agravo destinado a impugnar a decisão de inadmissibilidade do recurso extraordinário é o da
regra geral do art. 1.003, § 5º, do novo CPC, ou seja, de 15 dias. A despeito do que dispõe o art.
219, “caput”, do novo CPC, que determina a contagem do prazo recursal em dias úteis, o caso
concreto trata de agravo em recurso extraordinário em matéria criminal. Nessa hipótese, as regras do
processo civil somente se aplicam subsidiariamente. Dessa forma, sempre que em conflito regras
formalmente expressas em lei, há de ser aplicado o critério da especialidade. No caso, a contagem dos
prazos no processo penal está prevista no art. 798 do CPP (“Todos os prazos correrão em cartório e
serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado”). Portanto,
o novo CPC não regula o processo penal nesse particular. Logo, diante da nova sistemática processual,
o prazo para interposição do agravo que almeja destrancar recurso extraordinário criminal inadmitido
na origem passou a ser de 15 dias, com a contagem regida pelo CPP. A ministra Rosa Weber e os
ministros Luiz Fux e Roberto Barroso acompanharam o relator quanto à intempestividade do recurso
para não o conhecer, uma vez que a interposição se deu 21 dias após o início do prazo, mas não quanto
aos fundamentos. Vencido o ministro Marco Aurélio, que afastava a intempestividade, por considerar
ter havido a uniformização dos prazos em 15 dias úteis, exceto para embargos declaratórios. ARE
993407/DF, rel. Min. Edson Fachin, 25.10.2016. (ARE-993407).
135
* Cuidado! Como bem mencionado no texto do informativo, não se trata do agravo interno
interposto contra decisões monocráticas dos ministros. Nesse caso, o prazo será de 5 dias,
pois o art. 39 da Lei 8.038/90 foi mantido. Vejamos:
15 dias (art. 1.003, § 5º, do novo CPC) 5 dias (art. 39 da Lei 8.038/90)
“Com efeito, a jurisprudência desta Suprema Corte está cristalizada no sentido de que ‘a renúncia do
réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da
apelação por este interposta’ (Súmula nº 705/STF). Na esteira desse entendimento, destaco
precedentes: ‘Recurso: legitimidade do defensor para interpô-lo, não prejudicada pela renúncia do réu.
1. No processo penal, o papel do defensor, constituído ou dativo, não se reduz ao de simples
representante ad judicia do acusado, investido mediante mandato, ou não, incumbindo-lhe
velar pelos interesses da defesa: por isso, a renúncia do réu à apelação não inibe o defensor
de interpô-la. 2. A pretendida eficácia preclusiva da declaração de renúncia ao recurso pelo acusado
reduziria a exigência legal de subsequente intimação do defensor técnico - com a qual jamais se
transigiu - a despropositada superfetação processual. 3. Dado que a jurisprudência do STF já não
reclama o trânsito em julgado da condenação nem para a concessão do indulto, nem para a progressão
de regime de execução, nem para o livramento condicional, o eventual interesse do réu na obtenção
de tais benefícios não se pode opor ao conhecimento do recurso interposto por seu defensor’ (HC nº
76.524/RJ, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 29/8/03); ‘(...). O conflito
de vontades entre o acusado e o defensor, quanto a interposição de recurso, resolve-se, de
modo geral, em favor da defesa técnica, seja porque tem melhores condições de decidir da
conveniência ou não de sua apresentação, seja como forma mais apropriada de garantir o
exercício da ampla defesa. Precedentes. Prescrição da pretensão punitiva a operar em beneficio do
réu’ (RE nº 188.703/SC, Segunda Turma, Relator o Ministro Francisco Rezek, DJ de 13/10/95). O
acórdão recorrido divergiu desse entendimento e merece ser reformado. Ante o exposto, firme na
jurisprudência da Corte, conheço do recurso extraordinário e lhe dou provimento (art. 21, § 2º do
RISTF).” (STF. RE 637628, Relator Ministro Dias Toffoli, Decisão Monocrática, julgamento em
8.6.2011, DJe de 13.6.2011).
136
COMO CAIU NA SUA PROVA:
VUNESP (TJ-SP 2017): Quanto aos recursos em matéria criminal, é correto afirmar que a
renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada com ou sem a assistência do defensor, obsta
o conhecimento da apelação por este interposta. (Errado)
CESPE (TJ-DFT 2016): Assinale a opção correta, em que o magistrado agiu em consonância
com a jurisprudência sumulada do STF ou do STJ: Um réu em processo penal renunciou ao
direito de apelação interposta pela defesa técnica, tendo manifestado sua vontade sem a
assistência de seu defensor, caso em que o magistrado não conheceu da apelação,
fundamentando sua decisão na supremacia da vontade do réu sobre a vontade de seu defensor.
(Errado)
MPE-SC (Promotor de Justiça 2016): A Súmula 704 do Supremo Tribunal Federal, dispõe que
viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados. Já Súmula 705, da mesma corte, estabelece que a renúncia do réu ao direito de
apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação
por este interposta. (Errado)
FAURGS (TJ-RS 2016): A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada ainda que sem a
assistência de seu defensor, é causa de inadmissibilidade do recurso de apelação interposto,
porque o direito constitucional de liberdade e de acesso ao duplo grau de jurisdição é pessoal e
indelegável. (Errado)
CEFET-BA (MPE-BA 2015): Por ser ato personalíssimo, a renúncia do réu ao direito de
apelação, manifestada sem assistência do defensor, impede o conhecimento da apelação por este
interposta. (Errado)
Súmula 709 - STF: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que
provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento
dela.
“Também não merece guarida a alegação de supressão de instância. A decisão de primeira instância
rejeitou a denúncia por inépcia e pela ausência de justa causa para a ação penal. Assim, o provimento
do recurso interposto contra essa decisão implica, desde logo, o recebimento da inicial
acusatória, sem que, com isso, ocorra supressão de instância. Nessa ótica, a Súmula 709 do STF:
(...).” (STF. HC 124711, Relator Ministro Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento em 16.12.2014,
DJe de 11.2.2015).
137
VUNESP (TJ-SP 2017): Quanto aos recursos em matéria criminal, é correto afirmar que o
acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento
dela, a não ser que nula a decisão de primeiro grau. (Certo)
PGR (Procurador da República 2015): Rejeitada denúncia apresentada em primeiro grau, e não
sendo ela hipótese de nulidade, o acordão do Tribunal Regional Federal que da provimento ao
recurso contra a rejeição vale, desde logo, pelo recebimento dela. (Certo)
Habeas Corpus
Súmula 344 - STF: Sentença de primeira instância concessiva de habeas corpus, em
caso de crime praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, está
sujeita a recurso ex officio.
Súmula 395 - STF: Não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto seja
resolver sobre o ônus das custas, por não estar mais em causa a liberdade de
locomoção.
“Da análise dos autos, verifica-se que os recorrentes tiveram a sua pena privativa de liberdade
substituída por pena restritiva de direitos. Desse modo, o eventual não pagamento das custas
processuais não acarretará a perda de liberdade dos recorrentes, o que inviabiliza o cabimento
de habeas corpus para questionar sua aplicação. Incide, mutatis mutandis, o enunciado da súmula
STF 395: ‘não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus das custas,
por não estar mais em causa a liberdade de locomoção’.” (STF. ARE 734221 Agr-ED, Relator Ministro
Luiz Fux, Primeira Turma, julgamento em 24.9.2013, DJe de 16.10.2013).
Súmula 606 - STF: Não cabe habeas corpus originário para o tribunal pleno de decisão
de turma, ou do plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso.
O STF reiterou entendimento sobre o descabimento de habeas corpus para o Tribunal Pleno
contra ato de ministro da Corte (Informativo 814):
Ao proferir decisão pelo não conhecimento do “writ”, o Tribunal, por maioria, reafirmou sua jurisprudência no sentido
de não ser cabível “habeas corpus” impetrado contra decisão monocrática de ministro da
Corte. Na espécie, os pacientes impugnaram decisão do Ministro Cezar Peluso, que prorrogara o
138
prazo para a realização de escutas telefônicas anteriormente autorizadas. O Tribunal esclareceu que
o ato apontado como coator — decisão monocrática — não poderia ser questionado pela via
estreita do presente “writ”. Ademais, o tema estaria materializado no Enunciado 606 da
Súmula do STF (“Não cabe ‘habeas corpus’ originário para o Tribunal Pleno de decisão da Turma
ou do Plenário, proferida em ‘habeas corpus’ ou no respectivo recurso”). Destacou que não se trataria
de impedir a revisão do ato do relator, mas que haveria outro caminho, conforme previsto no art. 38
da Lei 8.038/1990 e no art. 21, § 1º, do RISTF. Vencidos os Ministros Marco Aurélio (relator), Dias
Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski (Presidente), que admitiam a
impetração. Enfatizavam a importância da proteção judicial efetiva que se materializaria no “habeas
corpus”. Aduziam que o próprio texto constitucional reconheceria cabível o “habeas corpus” contra
autoridade submetida à Constituição, nos termos especificados, no caso, juízes do STF. STF. HC
105959/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, 17.2.2016.
(HC-105959).
“Quanto ao pedido de análise do aduzido cerceamento de defesa em sede de habeas corpus, ressalto que
a Súmula 690/STF não mais prevalece a partir do julgamento pelo Pleno do HC 86834/SP, relatado
pelo Rel. Ministro Marco Aurélio (DJ em 9.3.2007), no qual foi consolidado o entendimento de
que compete ao Tribunal de Justiça ou ao Tribunal Regional Federal, conforme o caso,
julgar habeas corpus impetrado contra ato praticado por integrantes de Turmas Recursais de
88HC 117091, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO,
Tribunal Pleno, julgado em 22/05/2014
139
Juizado Especial.” (STF. ARE 676275 AgR, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma,
julgamento em 12.6.2012, DJe de 1.8.2012).
Súmula 691 - STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas
corpus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal
Superior, indefere a liminar.
“É bem verdade que o rigor na aplicação da Súmula n. 691 tem sido abrandado por julgados
desta Corte em hipóteses excepcionais, em que: a) seja premente a necessidade de concessão do
provimento cautelar para evitar flagrante constrangimento ilegal; ou b) a negativa de decisão
concessiva de medida liminar pelo tribunal superior importe na caracterização, ou na manutenção, de
situação que seja manifestamente contrária à jurisprudência do STF (cf. as decisões colegiadas:
(...).” (HC 106160, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgamento em 15.2.2011, DJe
de 2.3.2011)89.
Súmula 692 - STF: Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de
extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos
autos, nem foi ele provocado a respeito.
“Como consignado na decisão agravada, esta Corte já proferiu entendimento de que se exige, para
caracterizar o interesse de agir na via do habeas corpus, que a pretensão posta no writ seja
previamente levada à apreciação do relator do feito (extradição) cuja regularidade é
questionada. Nesse sentido, confira-se o enunciado da Súmula 692: ‘Não se conhece de habeas
corpus contra omissão de relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos
autos, nem foi ele provocado a respeito’.” (STF. HC 124476 AgR, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda
Turma, julgamento em 2.12.2014, DJe de 17.12.2014).
89 No mesmo sentido: HC 107547, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgamento em
17.5.2011, DJe de 31.5.2011; HC 99834, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgamento em
15.2.2011, DJe de 16.3.2011; HC 86864 MC, Relator Ministro Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgamento em
20.10.2005, DJ de 16.12.2005.
140
COMO CAIU NA SUA PROVA:
FCC (TJ-GO 2015): Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de extradição,
se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem foi ele
provocado a respeito. (Certo)
Súmula 693 - STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada.
Súmula 694 - STF: Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão
de militar ou de perda de patente ou de função pública.
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
141
a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Súmula 695 - STF: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade.
Como já explicitado habeas corpus visa proteger a liberdade de locomoção. Nesse sentido:
“A garantia do habeas corpus está ligada a outra garantia, que é a liberdade de locomoção. Somente a
violação dessa liberdade delineia a causa de pedir da ação de habeas corpus. Consolidando o
entendimento de se restringir a tutela do habeas corpus às situações de risco ou de dano à liberdade de
locomoção, editou as Súmulas ns. 693 (‘não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única
cominada’), 694 (‘não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda
de patente ou de função pública’) e 695 (‘não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade’)”. (STF. HC 121089, Segunda Turma, Relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento em
16.12.2014, DJe de 17.2.2015).
Mandado de Segurança
Súmula 701 - STF: No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público
contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu como
litisconsorte passivo.
“Inicialmente anoto que não se verifica nos autos que o ora paciente, citado por edital para os termos
da ação penal contra ele instaurada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, tenha sido
regularmente integrado ao mandamus impetrado pelo Parquet perante o TJSP, de cuja decisão
decorreu a antecipação da prova oral impugnada, a implicar inegável violação à ampla defesa e ao
contraditório. (...) Nesse sentido, ainda, a Súmula nº 701/STF: ‘No mandado de segurança impetrado
pelo Ministério Público contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu
142
como litisconsorte passivo’.” (STF. HC 109726, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma,
julgamento em 11.10.2011, DJe de 29.11.2011)
Revisão Criminal
Súmula 393 - STF: Para requerer revisão criminal, o condenado não é obrigado a
recolher-se à prisão.
O legítimo ajuizamento de uma revisão criminal exige a presença de, fundamentalmente, dois
requisitos, quais sejam (i) a existência de uma sentença condenatório ou absolutória
imprópria transitada em julgado (definitiva) e (ii) uma das hipóteses legais que se amoldem
à ideia de erro judiciário. Somente pela indicação dos requisitos, já se pode verificar que o
recolhimento à prisão não está enquadrado como imprescindível, razão pela qual não há
obrigação do recolhimento para fins de ajuizamento do referido remédio constitucional.
143
Embargos Infringentes
Súmula 355 - STF: Em caso de embargos infringentes parciais, é tardio o recurso
extraordinário interposto após o julgamento dos embargos, quanto a parte da decisão
embargada que não fora por eles abrangida.
Durante muito tempo existiu forte controvérsia doutrinária e, por vezes, jurisprudencial
sobre o pano de fundo do entendimento acima transcrito. Uma primeira corrente, defendida
por Rômulo Moreira (com a qual concordávamos) apontava que se estivéssemos diante de
um acórdão que somente parcela desafiasse Embargos Infringentes e de Nulidade e a outra
Recurso Especial ou Extraordinário, o recorrente deveria apresentar o primeiro recurso,
ficando a parcela da decisão não abrangida pela impugnação com o prazo suspenso. De outra
sorte, o entendimento sufragado no Supremo Tribunal Federal – especificamente no verbete
355 – apontava justamente solução diversa, ou seja, que deveriam ser apresentados 2 (dois)
recursos: (i) Embargos Infringentes e de Nulidade para a parte idônea e (ii) RESP ou RE para
a outra, sob pena de intempestividade posterior.
Conforme salientado, tinha simpatia pela primeira corrente, que aventava a aplicação por
analogia do artigo 498 do CPC/7390. Ocorre que essa discussão parece estar fragilizada, visto
que o novo CPC de 2015 não mais traz os Embargos Infringentes como modalidade
recursal, passando a ser uma técnica de julgamento (art. 942), de modo que não há mais
embasamento legal para sustentar a possibilidade de sustação do prazo. Dessa maneira, com
o Novo CPC de 2015, cada vez mais se consolida a aplicação do entendimento da Súmula
355 do STF, não obstante permanecer alvo de severas (e pertinentes) críticas.
Execução Penal
Súmula Vinculante 9 - STF: O disposto no art. 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de
Execução Penal) foi recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica
o limite temporal previsto no caput do artigo 58.
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido,
observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração
disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
90 Agravo Regimental em Recurso Especial nº. 767.545/MG, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, j. 09/03/06.
144
Súmula Vinculante 26 - STF: Para efeito de progressão de regime no cumprimento
de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo
de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de
exame criminológico.
Precedente representativo:
“A Constituição Federal, ao criar a figura do crime hediondo, assim dispôs no art. 5º, XLIII: (...) Não
fez menção nenhuma a vedação de progressão de regime, como, aliás - é bom lembrar -, tampouco
receitou tratamento penal stricto sensu (sanção penal) mais severo, quer no que tange ao incremento
das penas, quer no tocante à sua execução. (...) Evidente, assim, que, perante a Constituição, o
princípio da individualização da pena compreende: a) proporcionalidade entre o crime praticado
e a sanção abstratamente cominada no preceito secundário da norma penal ; b)
individualização da pena aplicada em conformidade com o ato singular praticado por agente
em concreto (dosimetria da pena); c) individualização da sua execução, segundo a dignidade
humana (art. 1º, III), o comportamento do condenado no cumprimento da pena (no cárcere ou
fora dele, no caso das demais penas que não a privativa de liberdade) e à vista do delito cometido
(art. 5º, XLVIII). Logo, tendo predicamento constitucional o princípio da individualização da pena
(em abstrato, em concreto e em sua execução), exceção somente poderia aberta por norma de
igual hierarquia nomológica.” (STF. HC 82959, Voto do Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno,
julgamento em 23.2.2006, DJ de 1.9.2006).
Relembrando, o STF decidiu que o Tráfico de drogas “privilegiado” é crime não equiparado
ao hediondo, portanto:
“O crime de tráfico privilegiado de drogas não tem natureza hedionda . Por conseguinte, não
são exigíveis requisitos mais severos para o livramento condicional (Lei 11.343/2006, art. 44, parágrafo
único) e tampouco incide a vedação à progressão de regime (Lei 8.072/1990, art. 2º, § 2º) para os
casos em que aplicada a causa de diminuição prevista no art. 33, §4°, Lei 11.343/2006. Com base nessa
orientação, o Plenário, por maioria, concedeu a ordem de ‘habeas corpus’ para afastar a natureza
hedionda de tal delito.” (STF. HC 118533, Relatora Ministra Cármem Lúcia, Tribunal Pleno,
julgamento em 23.6.2016, DJe de 19.9.2016)
145
MPE-PR (Promotor de Justiça 2016): O juiz da execução pode, fundamentadamente,
determinar a realização de exame criminológico para a avaliação do preenchimento dos requisitos
exigidos do condenado para a progressão de seu regime (Certo); Os crimes hediondos e
assemelhados admitem a progressão de regime. (Certo)
MPE-SC (Promotor de Justiça 2016): A Súmula Vinculante 26 do Supremo Tribunal Federal,
dispõe que para efeito de livramento condicional no cumprimento de pena por crime hediondo,
ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072/90
(Crimes Hediondos), sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos
objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a
realização de exame criminológico. (Errado)
CESPE (DPU 2015): Conforme entendimento dos tribunais superiores, tendo sido condenado
pela prática de crime hediondo, Gerson deverá ser submetido ao exame criminológico para ter
direito à progressão de regime. (Errado)
O RE 641.320/RS foi veiculado no Informativo 82591. Importante a sua leitura, mas, para
facilitar a compreensão, as teses e parâmetros adotados foram os seguintes:
91 http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo825.htm
146
2) A liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado
que saísse antecipadamente ou fosse posto em prisão
domiciliar por falta de vagas;
Além disso, o STF entendeu que a inobservância do direito à progressão de regime, mediante
manutenção do condenado em regime mais gravoso, ofenderia o direito à individualização
da pena, e ainda de maneira mais evidente, violaria o princípio da legalidade. Isso porque, a
manutenção do condenado em regime mais gravoso seria um excesso de execução, com
violação a direitos do apenado.
Tendo em vista que a proteção à integridade da pessoa e ao seu patrimônio contra agressões
injustas estaria na raiz da própria ideia de Estado Constitucional, permitir que o Estado
executasse a pena de forma deliberadamente excessiva seria negar não só o princípio da
legalidade, mas a própria dignidade humana dos condenados (CF, art. 1º, III). Por mais grave
que fosse o crime, a condenação não retiraria a humanidade da pessoa condenada.
Por outro lado, quanto à prisão domiciliar como solução para esses casos, seria uma
alternativa de difícil fiscalização, bem como isolada, ou seja, de pouca eficácia. Todavia, não
147
deveria ser descartada sua utilização, até que fossem estruturadas as medidas estabelecidas
no julgamento.
Súmula 698 - STF: Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade
de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura.
148
Súmula 700 - STF: É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra
decisão do juiz da execução penal.
Nesse cenário, a partir da dicção dos artigos 586 e 588, temos que o Agravo em Execução
deverá ser interposto em 05 (cinco) dias – tal qual versa a súmula – bem como poderão as
razões ser apresentadas conjuntamente nesse prazo ou, se assim desejar o recorrente, pleitear
a sua apresentação posteriormente, no prazo de 02 (dois) dias, exatamente como previsto
para o recurso em sentido estrito.
Súmula 715 - STF: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de
cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a
concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais
favorável de execução.
149
Trata-se dos casos nos quais o réu preso provisoriamente - ainda sem condenação transitada em
julgado -, permanece tempo suficiente para pleitear a progressão de regime.
Súmula 717 - STF: Não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada
em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão
especial.
O prazo a que se refere o art. 123, II, da LEP 92, para a saída temporária, é o da pena
cumprida anteriormente ao pedido, sem qualquer consideração quanto ao regime de
cumprimento. Logo, inclui-se o tempo em que o apenado cumpriu em regime fechado.
Súmula 192 - STJ: Compete ao juízo das execuções penais do Estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
92 Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público
e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos:
I - comportamento adequado;
II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se
reincidente;
150
Temos aqui uma questão prática bastante relevante e que demanda atenção, apesar de o
raciocínio a ser aplicado se revelar razoavelmente simples. Hodiernamente, é bastante
comum que alguém condenado pela prática de um crime da competência da Justiça Federal
se encontre recluso cumprindo pena em estabelecimento estadual. Da mesma forma, os
condenados por crimes militares, haja vista que a maior parte dos estabelecimentos penais
brasileiros estão sob a alçada de gestão dos estados. Assim, para fins de fixação de
competência da execução penal, o entendimento dos Tribunais se inclina de acordo
com a natureza do ente responsável pela manutenção do presídio! Se se tratar de
estabelecimento estadual, competência do juízo das execuções estaduais. Se federal, juízo da
execução federal, independentemente do órgão originário responsável pela prolatação da
decisão condenatória.
Em complemento ao tema, vale destacar que o STJ decidiu que, em caso envolvendo
apenados transferidos para presídio federal por razões de segurança pública, haveria
competência do juízo federal para apreciar as questões referentes à execução da pena no
período de permanência dos presos custodiados no estabelecimento federal93.
151
Súmula 341 - STJ: A frequência a curso de ensino formal é causa de remição de
parte do tempo de execução de pena sob regime fechado ou semiaberto.
Deve-se atentar, complementando o raciocínio da súmula, para o art. 126, §6º da LEP.
Logo, aos apenados em regime aberto ou em liberdade condicional a frequência a curso de
ensino formal também é causa de remição:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por
trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de
2011).
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: (Redação dada pela Lei nº 12.433,
de 2011)
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental,
médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no
mínimo, em 3 (três) dias; (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1o deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma
presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades
educacionais competentes dos cursos frequentados. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão
definidas de forma a se compatibilizarem. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 4o O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a
beneficiar-se com a remição. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de
conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que
certificada pelo órgão competente do sistema de educação.(Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 6o O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade
condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação
profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, observado o
disposto no inciso I do § 1o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar. (Incluído pela Lei nº 12.433, de
2011)
§ 8o A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa. (Incluído
pela Lei nº 12.433, de 2011)
REMIÇÃO
152
Regime Aberto Estudo
* O trabalho é uma das condições legais para o
ingresso no regime aberto (art. 114, I LEP)
153
Súmula 441 - STJ: A falta grave não interrompe o prazo para obtenção do
livramento condicional.
Em regra, a falta grave também não interfere na concessão de indulto e anistia, exceto
quando previsto no decreto presidencial (Súmula 535 STJ94).
O mesmo raciocínio não se aplica à progressão de regime, pois, nesse caso, a falta grave
interromperá a contagem (Súmula 534 STJ95).
Assim, teremos:
FALTA GRAVE
94
A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto .
95
A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.
154
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 82.959/SP, declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade do §1º do art. 2º da Lei n. 8.072/1990, que vedava a progressão do
regime aos condenados por crimes hediondos e equiparados.
Com o advento da Lei 11.464/2007, foi assegurado direito à progressão desde que cumpridos
2/5 da pena, se o apenado for primário, e 3/5, se reincidente. Logo, o entendimento
sumulado é de que aquele que cometeu o delito antes da entrada em vigor da Lei n.
11.464/2007, sujeita-se, para a progressão de regime, ao disposto no art. 11296 da LEP.
96Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime
menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no
regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento,
respeitadas as normas que vedam a progressão. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003)
155
Entende-se progressão per saltum (progressão por salto) aquela na qual o apenado não passa
pela fase intermediária da progressão. Em outras palavras, seria o caso da progressão do
regime fechado para o aberto, sem passar pelo semiaberto. Tanto o STJ quanto o STF não
admitem.
A LEP, em seu art. 11597 dispõe que o juiz poderá estabelecer condições especiais para a
concessão de regime aberto. Acontece que, essas condições não podem se confundir com
penas restritivas de direito 98.
97 Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das
seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.
98 Art. 43. As penas restritivas de direitos são: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
156
Isso porque, as penas restritivas de direito são autônomas e substitutivas. Caso fosse imposta
ao sentenciado como condição para a progressão de regime uma pena restritiva de direito,
estar-se-ia incorrendo em bis in idem.
157
Sobre o tema, Informativo 590 STJ:
158
FCC (TJ-SE 2015): Na execução penal, de acordo com entendimento sumulado de Tribunal
Superior, o benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional
insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional. (Certo)
MPDFT (Promotor de Justiça 2015): A concessão do benefício da saída temporária pode ser
delegada ao diretor do estabelecimento prisional, no caso de datas especiais, como dia das mães
e natal. (Errado)
Em seu art. 52, caput, a LEP prevê que a prática de fato previsto como crime doloso constitui
falta grave:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da
sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: (Redação dada pela
Lei nº 10.792, de 2003)
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta
grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; (Incluído pela Lei nº 10.792, de
2003)
II - recolhimento em cela individual; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; (Incluído
pela Lei nº 10.792, de 2003)
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. (Incluído pela Lei nº
10.792, de 2003)
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados,
nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento
penal ou da sociedade. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado
sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em
organizações criminosas, quadrilha ou bando. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)
Assim, o STJ entende que não há necessidade de sentença judicial condenatória para
que se possa punir administrativamente o apenado.
159
CESPE (MP-RR 2017): Segundo o princípio da não culpabilidade, reconhecida falta grave
decorrente do cometimento de crime doloso, o cumprimento da pena só se dará com o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória. (Errado)
MPDFT (Promotor de Justiça 2015): Para o reconhecimento de falta grave decorrente do
cometimento de fato definido como crime doloso é indispensável o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória respectiva. (Errado)
Vejamos julgado veiculado no Informativo 532 STJ que explica o raciocínio da súmula:
“A LEP não deixa dúvida ao estabelecer que todo o ‘processo’ de apuração da falta
disciplinar (investigação e subsunção), assim como a aplicação da respectiva punição, é realizado
dentro da unidade penitenciária, cuja responsabilidade é do seu diretor. Somente se for reconhecida a
prática de falta disciplinar de natureza grave pelo diretor do estabelecimento prisional, é que será
comunicado ao juiz da execução penal para que aplique determinadas sanções, que o legislador,
excepcionando a regra, entendeu por bem conferir caráter jurisdicional. (...) Ademais, vale ressaltar
que o direito de defesa garantido ao sentenciado tem assento constitucional, mormente porque
o reconhecimento da prática de falta disciplinar de natureza grave acarreta consequências danosas que
repercutem, em última análise, em sua liberdade. (...) No particular, registre-se que a Súmula
Vinculante 5, a qual dispõe que ‘a falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição’, não se aplica à execução penal.
Conquanto a execução penal seja uma atividade complexa, pois desenvolve-se nos planos jurisdicional
e administrativo, da leitura dos dispositivos da LEP, notadamente do seu art. 66, que dispõe sobre a
competência do juiz da execução, conclui-se que não há nenhum dispositivo autorizando o
magistrado instaurar diretamente procedimento judicial para apuração de falta grave. Assim,
embora o juiz da Vara de Execuções Penais possa exercer, quando provocado, o controle de legalidade
dos atos administrativos realizados pelo diretor do estabelecimento prisional, bem como possua
competência para determinadas questões no âmbito da execução penal, não lhe é permitido adentrar
em matéria de atribuição exclusiva da autoridade administrativa, no que concerne à instauração do
procedimento para fins de apuração do cometimento de falta disciplinar pelo preso, sob pena de
afronta ao princípio da legalidade.” STJ. Terceira Seção. REsp 1.378.557-RS, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 23/10/2013.
160
VUNESP (TJP- SP 2017): As faltas disciplinares: exigem, para seu reconhecimento no âmbito
da execução penal, a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento
prisional, assegurado o direito de autodefesa, não ofendendo a Constituição a ausência de defesa
técnica. (Errado)
FCC (DPE-PR 2017): É lícito o julgamento procedente do incidente disciplinar de falta grave
sem prévia oitiva do sentenciado se a falta grave consistir na suspeita da prática de novo crime,
já com denúncia recebida pelo juízo criminal. (Errado)
CESPE (TJ-DFT 2016): Assinale a opção correta, em que o magistrado agiu em consonância
com a jurisprudência sumulada do STF ou do STJ: Parte superior do formulário O juiz de
direito substituto, ao tomar conhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução
penal, por comunicação do diretor do estabelecimento prisional, reconheceu a falta disciplinar,
mesmo sem a instauração de procedimento administrativo pelo diretor, fundamentando sua
decisão no fato de se tratar de falta flagrante cometida nas dependências do
estabelecimento prisional. (Errado)
FCC (TJ-PI 2015): A prática de falta grave sujeita à regressão de regime, dispensada a prévia
oitiva do condenado. (Errado)
MPDFT (Promotor de Justiça 2015): Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no
âmbito da execução penal, deve ser assegurado o direito de defesa técnica por meio de advogado
constituído ou defensor público nomeado. (Certo)
Súmula 534 - STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a
progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do
cometimento dessa infração.
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MPE-GO (Promotor de Justiça 2016): O cometimento de falta grave enseja a regressão para
regime de cumprimento de pena mais gravoso, bem como a suspensão da contagem do prazo
para a obtenção do benefício da progressão de regime. (Errado)
FCC (TJ-PI 2015): A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão
de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir da decisão judicial definitiva que
reconhecer a infração disciplinar. (Errado)
Súmula 535 - STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de
comutação de pena e indulto.
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por
trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).
Fazendo um gancho para o tempo de trabalho considerado para a remição, o STF decidiu
pela possibilidade de ser computado o trabalho em jornada inferior a prevista em lei (6h-
8h), se for realizado por determinação da direção do presídio (Info 860). Vejamos a ementa
do julgado:
EMENTA Recurso ordinário constitucional. Habeas corpus. Execução Penal. Remição (arts.
33 e 126 da Lei de Execução Penal). Trabalho do preso. Jornada diária de 4 (quatro) horas.
Cômputo para fins de remição de pena. Admissibilidade. Jornada atribuída pela
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própria administração penitenciária. Inexistência de ato de insubmissão ou de
indisciplina do preso. Impossibilidade de se desprezarem as horas trabalhadas pelo
só fato de serem inferiores ao mínimo legal de 6 (seis) horas. Princípio da proteção
da confiança. Recurso provido. Ordem de habeas corpus concedida para que seja
considerado, para fins de remição de pena, o total de horas trabalhadas pelo recorrente em
jornada diária inferior a 6 (seis) horas. 1. O direito à remição pressupõe o efetivo exercício
de atividades laborais ou estudantis por parte do preso, o qual deve comprovar, de modo
inequívoco, seu real envolvimento no processo ressocializador. 2. É obrigatório o cômputo
de tempo de trabalho nas hipóteses em que o sentenciado, por determinação da
administração penitenciária, cumpra jornada inferior ao mínimo legal de 6 (seis)
horas, vale dizer, em que essa jornada não derive de ato insubmissão ou de
indisciplina do preso. 3. Os princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança
tornam indeclinável o dever estatal de honrar o compromisso de remir a pena do
sentenciado, legítima contraprestação ao trabalho prestado por ele na forma estipulada pela
administração penitenciária, sob pena de desestímulo ao trabalho e à ressocialização. 4.
Recurso provido. Ordem de habeas corpus concedida para que seja considerado, para fins
de remição de pena, o total de horas trabalhadas pelo recorrente em jornada diária inferior a
6 (seis) horas. (RHC 136509, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado
em 04/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-087 DIVULG 26-04-2017 PUBLIC 27-
04-2017)
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