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RESENHA CRÍTICA

GUERRA, Sidney Cesar Silva. Competência ambiental à luz da Lei


Complementar n.° 140/2011. Revista Nomos (Fortaleza), v. 32, p. 125-140,
2012. Disponível em: <http://mdf.secrel.com.br/dmdocuments/sidney.pdf>.
Acesso em: 16 dez. 2012.

Por Frederico Soares

O artigo aborda as principais mudanças relativas ao tema da


competência administrativa ambiental, ocorridas com o advento da Lei
Complementar n.° 140/2011. O autor, a princípio, constrói um panorama acerca
da importância do meio ambiente e, por consequência, do direito ambiental em
um contexto mundial no qual ainda duelam o desenvolvimentismo e o
preservacionismo. Nesse sentido, o Estado tem um grande poder de
intervenção na gestão ambiental e, para entender os instrumentos que podem
ser usados para tal, a exemplo do licenciamento e da compensação, mostra-se
necessária a análise da competência dos entes federativos nesta matéria.

A despeito de o meio ambiente ser, segundo a Constituição Federal de


1988, um bem de uso comum do povo e direito de todos, havia, em sede
constitucional, um empecilho para a administração deste, uma vez que a
competência executiva em matéria ambiental é comum. Isto, em vez de criar
um federalismo cooperativo, segundo o autor, promovia uma competição
prejudicial entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, pois
não se sabia, em muitos casos, por exemplo, que ente federativo seria
competente para licenciar atividades potencialmente nocivas ao meio
ambiente.

Diante deste problema, o autor enxerga a sanção da Lei Complementar


n.

° 140/2011 de forma sensivelmente otimista, considerando-a como


aquilo que faltava para regulamentar a esperada cooperação entre os entes
federativos determinada pelo art. 23 da CF/1988. A lei supramencionada
estabelece, para tal, convênios, consórcios públicos, acordos de cooperação
técnica, a Comissão Tripartite Nacional, as Comissões Tripartites Estaduais e
Bipartite do Distrito Federal, fundos públicos e privados, bem como a
delegação de atribuições e da execução de ações administrativas entre entes
como formas de cooperação.

Atribuem-se, em seguida, as ações administrativas próprias de cada


ente. Cabe à União, portanto, um rol de atividades mais genérico, afeito ao
interesse da Federação e à cooperação entre todos os entes, destacando-se,
entre estas, o licenciamento de empreendimentos localizados em áreas de
grande interesse público, como aquelas limítrofes com outros Estados e em
terras indígenas, dentre outras enumeradas na lei. Já aos Estados compete
seguir as diretrizes da União e coordenar a cooperação com os municípios,
formulando a Polícia Estadual de Meio Ambiente, bem como a integração de
programas em âmbito estadual, dentre inúmeras outras, destacando-se a
competência para licenciamento não cominada à União ou aos Municípios. Por
fim, aos municípios são designadas as competências de interesse local, nos
mesmos moldes das descritas para os outros entes, porém restringindo-se ao
âmbito municipal, destacando-se, ainda, o licenciamento de atividades de
impacto local, segundo uma tipologia instituída pelos Conselhos Estaduais de
Meio Ambiente. Ressalta-se também que a cada ente cabe licenciar atividades
potencialmente nocivas desenvolvidas em áreas de conservação instituídas por
cada um deles.

O autor pondera, lucidamente, que a definição das competências deixa


mais claro o caminho a seguir para o licenciamento, evitando disputas judiciais
entre os entes, o que deixava para o Judiciário resolver uma questão
nitidamente de natureza legislativa. Entretanto, ao atribuir para cada um
funções, o autor não atenta para o fato de que não necessariamente haverá
cooperação entre os entes, dentro da esfera dos atos políticos, nos quais há
um alto grau de discricionariedade. Dessa forma, não se atenta para o fato de
que o federalismo cooperativo, em matéria ambiental, pode não sair do papel,
prorrogando pequenos conflitos de competência não cobertos pela lei, se a
postura dos entes não for de colaboração.

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