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Psicologia da

Educação
Professora Mestre Sonia Maria de Campos
AUTORA

Sou a professora Sonia Maria de Campos

● Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações


pelo Unicesumar;
● Especialista em Gestão Escolar: Supervisão e Orientação
pela Univale;
● Especialista em Psicopedagogia abrangência Institucional
e Clínica pela Univale;
● Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Unicesumar
● Especialista em Tecnologias Educacionais e Inovação pelo Unicesumar;
● Especialista em EAD e as Novas Tecnologias Educacionais pelo Unicesumar.
● Graduada em Pedagogia pela Ulbra.
● Cursando Psicologia pela Unifamma.

Desenvolvo pesquisas e tenho experiência na área de Educação. Atuei na Educa-


ção básica, tendo neste período trabalhado com a Educação Infantil e Primeiros anos do
Ensino Fundamental, também coordenei a Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino
Fundamental. Atuei na Coordenação Pedagógica no Ensino Fundamental Séries Finais e
Ensino Médio. Atualmente trabalho como Professora em curso de Graduação e Pós-Gra-
duação, ministro palestras, produção de material pedagógico escrito e audiovisual.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7371131120808017
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!


Prezado(a) aluno(a), convido você a compreender a educação pela psicologia da
educação. Partindo do pressuposto que o homem é um ser social e, por isso, constituído
dos aspectos culturais, políticos, econômicos e educacionais, portanto, o homem é um ser
construído pelo meio.
E para entender essas relações determinantes que o livro Psicologia da Educação
se dispõe a demonstrar os caminhos percorridos na formação do ser humano e os aspectos
da educação.
Por isso, mais do que entender a Psicologia da Educação e seus feitos, esse estudo
nos fará entender a educação e o quanto somos influenciados pelo meio que nos cercam,
na medida em que somos herdeiros de tudo que foi criado até então.
Na Unidade I vamos conhecer o que reflete o Comportamentalismo e as Rela-
ções com a Educação. Em que, no primeiro momento você vai compreender sobre o
comportamentalismo de Watson, que traz a compreensão dos comportamentos reflexos
ou respondentes, os quais são explicados pela relação entre um estímulo antecedente,
estímulos eliciadores a uma resposta involuntária do organismo como salivar, sudorese,
taquicardia.
Em seguida você irá saber mais sobre a construção do conhecimento para Gu-
thrie, influenciado por Watson. Em sua teoria, entende que se houver uma combinação
de estímulos que levou a um movimento ocorrer outra vez, tenderá a ser seguida por este
movimento. Na sequência, falaremos a respeito da aprendizagem para Thorndike, além das
Leis criadas por ele, outro aspecto estava nos comportamentos observáveis e mensuráveis
do ser humano.
E finalizando esse primeiro momento de estudo com os conhecimentos de Skinner
e desenvolvimento humano, que entende que a aprendizagem ocorre por meio de estímu-
los externos que levam a pessoa agir por conta de seus comportamentos. Ou ainda uma
necessidade em que leve a uma ação/resposta/comportamento que satisfaça o indivíduo,
e o que satisfaz ou diminui a necessidade serve como um reforço da resposta, deixando-a
mais forte.
Já na Unidade II você irá saber mais sobre O Construtivismo e os Processos Edu-
cacionais. A unidade foi organizada no primeiro momento abordando sobre a educação
nos aspectos do construtivismo de Piaget, que trata dos progressos cognitivos como uma
capacidade maior de pensar de maneira abstrata, denominado pensamento operacional
formal, em que se pode alcançar a capacidade de compreender e lidar com conceitos abs-
tratos, especular a respeito de possibilidades e alternativas e ainda raciocinar em termos
hipotéticos.
Seguindo, buscou-se compreender o construtivismo de Vygotsky, que entende que
a prática educativa possibilita e permite à criança aprendiz envolver-se nas atividades de
forma independente, apesar de estar contando com a ajuda de outros. Bem como a teoria
construtivista do ensino de Bruner, que entende ser possível ensinar qualquer assunto de
maneira coerente a qualquer criança, em qualquer estágio de seu desenvolvimento
E o construtivismo de Ausubel, que traz que caso conseguíssemos separar um úni-
co fator como o mais relevante na aprendizagem cognitiva, ele destaca ser o que o aprendiz
já sabe, ou o conhecimento que está na estrutura cognitiva com clareza, estabilidade e
diferenciação. Com isso, o ensino deveria reconhecer tal conhecimento e, para isso, seria
necessário averiguá-lo previamente. Vergnaud traz como referência a relevância do próprio
conteúdo do conhecimento e faz ainda uma análise conceitual do domínio do conhecimento
do indivíduo. Para Johnson-Laird, o modelo mental é uma representação que pode ser
totalmente ou parcialmente analógica, e ainda parcialmente proposicional, que pode tanto
ser distinta de uma imagem, mas relacionada a ela.
Na sequência, na Unidade III, falaremos a respeito do Humanismo e a Educação.
Iniciamos pela teoria de Rogers, que ficou conhecida como humanista por se embasar na
visão otimista do homem, acreditando que o organismo humano entende o que é melhor
para ele e, para isso, usa dos sentidos aprimorados ao longo da evolução da espécie.
Em seguida, a teoria humanista de Novak, que entendia que educação pertence
a um conjunto de experiências, como: as questões cognitivas, efetivas e psicomotoras,
que auxiliam no engrandecimento do ser humano e, com isso, apresenta uma proposta
em que a aprendizagem significativa subjaz à integração construtiva entre pensamentos,
sentimentos e ações que conduzem ao crescimento do ser humano.
Outro teórico relevante para esse estudo é Gowin. Para o teórico, o ensino se
consolida quando o significado do material captado pelo aluno é o significado que o docente
almeja que esse material reflita para o aluno, que é o significado compartilhado no meio
da matéria de ensino. Gowin é conhecido por um instrumento heurístico denominado Vê.
Ainda se tem a teoria de Freire, que se destacou por trazer uma pedagogia libertadora, por
uma educação política, que entende ser saberes necessários à prática educativa.
Em nossa Unidade IV vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina com a Teoria
Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento, em que destaca a Periodização do
desenvolvimento psíquico estabelecido por Freud, que define as zonas do funcionamento
mental do ser humano.
As Práticas educativas à luz da concepção humanizadora de homem, que destaca
que, para o humanismo, a educação não deveria se limitar aos saberes necessários para
um exercício profissional específico. O humanismo aparece inserido em quase todas as
concepções pedagógicas do século XX e que se faz presente em muitas ações educacio-
nais.
A Psicologia histórico-cultural em diálogo com a pedagogia trata dos processos
mentais e entende o indivíduo a partir de seus processos sociais. Entende que o desen-
volvimento desses processos é mediado por instrumentos e signos construídos social,
histórica e culturalmente no meio social em que ele está situado.
Finalizamos com a aprendizagem na concepção da teoria histórico-cultural, que não
se trata, no entanto, somente de considerar o meio social como uma variável importante no
desenvolvimento cognitivo, como muitos pensam ser. É abordagem embasada nos estudos
de muitos autores, entre eles Vygotsky, que defende que o desenvolvimento cognitivo do
ser humano é a conversão de relações sociais em funções mentais.
Desejo que no decorrer de seus estudos tenha um momento de reflexão sobre
todos os aspectos aqui tratados.

Muito obrigada e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 7
Comportamentalismo e as Relações com a Educação

UNIDADE II.................................................................................................... 24
Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais

UNIDADE III................................................................................................... 48
Humanismo e a Educação

UNIDADE IV................................................................................................... 74
Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento
UNIDADE I
Comportamentalismo e as Relações
com a Educação
Professora Mestre Sonia Maria de Campos

Plano de Estudo:
• O comportamentalismo para Watson;
• A construção do conhecimento para Guthrie;
• A aprendizagem para Thorndike;
• Skinner e desenvolvimento humano.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar as teorias comportamentais;
• Compreender os tipos e os padrões evolutivos normais e patológicos do processo de
aprendizagem;
• Estabelecer a importância de compreender as teorias e a aprendizagem humana;
• Contextualizar as teorias comportamentais e a relação com a educação.

7
INTRODUÇÃO

Para estudarmos o Comportamentalismo e as Relações com a Educação, preci-


samos entender, primeiramente, as teorias comportamentalista, que são embasadas no
condicionamento de estímulo-resposta e tem como estudiosos Pavlov, Watson, Guthrie,
Thorndike e Skinner.
Vamos iniciar pelos estudos da teoria comportamental de Pavlov e Watson. Watson
é considerado o pai do comportamentalismo ou behaviorismo. Pavlov (1976) é seguidor de
Watson (1878-1958) e, em seus estudos, explica os comportamentos reflexos aprendidos
ou respondentes aprendidos.
Tratamos sobre a construção do conhecimento para Guthrie (1973b), um combo
da aquisição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório individual de
cada ser, capacita e habilita o indivíduo para adquirir novos comportamentos, e é por meio
da aprendizagem, que poderá modificar comportamentos anteriormente já adquiridos.
No terceiro tópico vamos analisar a aprendizagem para Thorndike, que traz um
conceito conhecido como a Lei do Efeito, ou seja, as consequências do comportamento
como determinantes das conexões estímulo-resposta (E-R) do que que é aprendido.
E finalizaremos com Skinner e o desenvolvimento humano, que visa compreender
o que ocorre após a resposta, ou seja, da consequência que pode ser reforçadora ou não.
Que neste início dos seus estudos traga a vontade de continuar a buscar mais
sobre os assuntos aqui abordados.
Bons estudos!

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 8


1 O COMPORTAMENTALISMO WATSON

Para entender o comportamentalismo é preciso fazer um resgate histórico e filosó-


fico, que traz os aspectos relacionados aos comportamentos observáveis e mensuráveis
do ser humano, ou ainda, é uma consequência observada por meio de respostas que dá
a estímulos externos. Nessa teoria o comportamento ocorre pelas respostas observadas
e relacionadas com os fatos que as precedem, sendo elas os “estímulos”, e com o que
se sucedem que é as “consequências”. Com isso, podemos compreender que o com-
portamentalismo visa estabelecer as relações funcionais ou leis por meio dos estímulos e
consequências, sejam boas ou más.

REFLITA

O que é uma teoria?

Fonte: a autora.

Vamos imaginar as teorias como uma grande árvore que em cada lado os galhos
manifestam o vento em suas folhas de maneiras diversas, com o mesmo objetivo: o conhe-
cimento. Veja!

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 9


Figura 1 - Árvore das teorias do desenvolvimento do conhecimento

Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/%C3%A1rvore-floresta-tronco-natureza-576847/

Neste momento vamos buscar compreender o comportamentalismo que, segundo


Peréz Goméz (2000), as principais teorias da aprendizagem estão embasadas nas teorias
comportamentalista, que tem base no condicionamento de estímulo-resposta; os principais
estudiosos são Pavlov, Watson, Guthrie, Thorndike e Skinner. E por meio de seus estudos
pode notar em suas hipóteses sobre o comportamento do ser humano, que este depende
do que são aprendidos pelos mesmos; a aprendizagem tem relevante importância; desta-
cam maior poder ao ambiente; o ser humano é produto do meio. Podemos concluir que a
aprendizagem ocorre por meio da aquisição de novos comportamentos, que são incorpora-
dos ao repertório individual de cada ser, capacita e habilita o indivíduo para adquirir novos
comportamentos, e é por meio da aprendizagem que poderá modificar comportamentos
anteriormente adquiridos.
Caro(a) aluno(a), você vai encontrar que John B. Watson (1878-1958) é considera-
do o pai do comportamentalismo ou behaviorismo. Foi por volta do século XX que Watson
destaca em seus estudos uma análise feita no comportamento animal, e por meio dessa,
contribuído, nas aplicações para o estudo do comportamento humano, com o objetivo de
fazer análise e comparações, sem “aproximar” o ser humano de outros animais.
Na visão de Watson (1971), a observação tem por objetivo um método adequado
para compreender o comportamento animal, que poderia contribuir na análise do com-
portamento humano. Ele analisava a associação de um estímulo que iniciava neutro a
uma resposta, por meio do treinamento ou repetição. Era o início para a compreender o
comportamento.

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 10


Watson (1971) buscou compreender os comportamentos reflexos ou respondentes,
são explicados pela relação entre um estímulo antecedente, estímulos eliciadores a uma
resposta involuntária do organismo, como salivar, sudorese, taquicardia.

Figura 2 - Princípios defendidos por Watson (1971)

Fonte: a autora.

Influenciou o condicionamento clássico de Ivan Pavlov (1849-1936), que enaltece


mais os estímulos do que as consequências. Defendia a aprendizagem ligada ao estímulo-
-resposta em termos de condicionamento clássico, mas aliava ao reforço ou pela punição,
que seria a consequência, como construção da aprendizagem.
Pavlov (1849-1936) explica, em seus estudos, sobre comportamentos reflexos
aprendidos ou respondentes aprendidos. O estudo de tais comportamentos é fundamental
na compreensão sobre as emoções dos seres humanos, incluindo situações em contexto
educacional.

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 11


2 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO PARA GUTHRIE

O norte-americano Edwin Guthrie (1886-1959), notado já nas origens do comporta-


mentalismo, foi influenciado por Watson e pelo condicionamento clássico, mas a sua forma
de trazer a teoria construtivista não entende que a resposta é eliciada no decorrer de um
procedimento. Para Guthrie, se uma combinação de estímulos, que ocorreu uma vez e foi
acompanhada de uma resposta, viesse a ocorrer novamente, tenderia a ser seguida por
essa mesma resposta.
Podemos entender que se algo fosse feito em um determinado momento, é bem
provável que poderia ocorrer outra vez frente à mesma situação. Como também a inten-
sidade observada em meio à associação estímulo-resposta, entendida por Guthrie como
“hábito”, que teria sido alvo no primeiro pareamento e não seria reforçada pela prática.
Com isso defendia que o importante era a contiguidade. Diante disso, podemos notar que
Guthrie, se dedicou em quebrar paradigmas e traz três métodos:

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Figura 3 - Métodos de Guthrie

Fonte: a autora.

REFLITA

O que você acha dessa teoria? Até que ponto você concorda que a aprendizagem for-
mada por condicionamento é duradoura no indivíduo?

Fonte: a autora.

Podemos entender que a teoria de Guthrie se assemelha à de Watson, porém mais


geral, pois entende que se houver uma combinação de estímulos que levou a um movimen-
to ocorrer outra vez, tenderá a ser seguida por esse movimento. Para tanto, nesta teoria de
Guthrie não se considerava o conceito de reforço para explicar a quebra de hábitos.

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3 A APRENDIZAGEM PARA THORNDIKE

Também norte-americano, Edward L. Thorndike (1874-1949) foi influenciado pelo


behaviorismo. Traz um conceito conhecido como a Lei do Efeito, ou seja, as consequências
do comportamento como determinantes das conexões estímulo-resposta (E-R) do que que
é aprendido.
Thorndike defende que as conexões estímulo resposta estão ligadas à natureza
fisiológica, enaltecida pelo uso e pela natureza satisfatória das consequências e enfraque-
cidas quando tais consequências são desconfortáveis. Com isso, a concepção de aprendi-
zagem por meio das conexões E-R dependia de três leis principais.

Figura 4 - Leis Principais da concepção de aprendizagem

Fonte: a autora.

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 14


A primeira Lei é a do Efeito, pode ser observado que uma conexão é seguida de
uma consequência, sendo satisfatória se fortalece, como também pode ser enfraquecida
quando a consequência é insatisfatória; conforme for a situação, terá um aumento ou uma
diminuição na frequência da resposta.
Já na Lei do Exercício as conexões são fortalecidas por meio da prática (lei do uso)
e o enfraquecimento ou esquecimento com a inexistência da prática (lei do desuso).
A terceira Lei é a da Prontidão: que pode ser observada quando há uma organiza-
ção para a ação, a sua concretização é satisfatória e a não concretização é irritante. Além
destas, Thorndike propôs várias outras leis subsidiárias ou subordinadas.
E aqui é preciso que entenda que são essas as primeiras teorias comportamenta-
listas, que se ocupam de conexões estímulo-resposta, sem levar em questão o que ocorre
na mente do ser humano quando ocorre tal associação. Outro ponto a se destacar é de que
a preocupação estava nos comportamentos observáveis e mensuráveis.

SAIBA MAIS

Quando a educação é concebida em termos de experiência, uma consideração se des-


taca em relação às demais. Tudo o que possa ser considerado como matéria de estudo,
seja aritmética, história, geografia ou qualquer uma das ciências naturais, deve derivar
de materiais que, originalmente, pertençam ao escopo da experiência da vida cotidiana.
Nesse aspecto, as propostas educacionais mais atuais se diferenciam radicalmente dos
processos pedagógicos que se iniciam a partir de fatos e verdades que se encontram
fora do âmbito das experiências vivenciadas pelos alunos e que, por isso, enfrentam o
problema de ter que descobrir meios de relacioná-los com tais experiências

Fonte: Mendonça e Adaid (2018).

Essas teorias tiveram sucessivas outras teorias de grande influência no ensino e


nos recursos utilizados em sala de aula, ainda são muito presente na escola da atualidade.

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 15


4 KINNER E DESENVOLVIMENTO HUMANO

B. F. Skinner (1904-1990) é norte-americano. Em seus estudos vamos notar que


visou compreender o que ocorre após a resposta, ou seja, da consequência, que pode ser
reforçadora ou não.
Para Skinner (1968/1972), há três variáveis de “entrada”:

Figura 5 - As três variáveis de entrada estabelecida por Skinner

Fonte: a autora.

Falaremos sobre estímulo, reforço positivo e contingências de reforço. O estímulo o


evento que afeta os sentidos do ser humano, o reforço positivo é o que leva ao aumento da
frequência da resposta, as contingências de reforço tratam-se do instante e da quantidade
de reforço ao arranjo de situações reforçadoras (SKINNER,1968/1972). Para compreender
as variáveis de “saída”, podemos notar que são as respostas do indivíduo, que podem ser
respondentes ou operantes.
Vamos compreender as variáveis no Comportamento Reflexo ou Respondente: é
inato, ou seja, já nascemos sabendo manifestá-lo e que, para isso, não precisamos ter

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 16


passado por um processo de aprendizagem. No comportamento reflexo o estímulo é com-
preendido como todo e qualquer causa que possa dar uma resposta na pessoa. Sendo
o estímulo (S) que vai sempre implicar uma resposta (R), que é representado: S -> R
(SKINNER,1968/1972).
Diante disso, o comportamento reflexo é algo natural no ser humano, biológico, em
que, para conseguir se proteger e sobreviver, o nosso corpo emite alguns sinais de compor-
tamento que leva a compreensão de outras pessoas de que estamos precisando de ajuda.
Como exemplo disso podemos observar o comportamento de uma criança recém-nascida
quando chega próximo ao seio materno (estímulo), sua ação imediata é sugar (resposta). O
comportamento “sugar” não foi ensinado, a criança já sabia (SKINNER,1968/1972).
Outro exemplo de comportamento reflexo é quando alguém bate palmas próximo
aos nossos olhos os fechamos rapidamente, ou quando levamos um choque na mão temos
a reação imediata de puxar o nosso braço. Essas reações não foram aprendidas, são rea-
ções naturais do corpo para se defender de algo que está o atacando.
A variável do Comportamento Operante é o “comportamento que produz alterações
no ambiente e é afetado por essas alterações” (MOREIRA, 2007, p. 86). O indivíduo age e
concebe uma mudança no seu meio, que vai lhe influenciar. Um comportamento emitido ou
resposta (R) leva a uma consequência (C), representado por: R -> C (SKINNER,1968/1972).
Sendo assim, dependendo do comportamento, o sujeito terá uma consequência e,
com isso, pode controlar suas ações para obter benefícios. Por exemplo: se você trabalhar
com dedicação (resposta), poderá ser promovido em seu setor (consequências). Diante
disso, tanto reflexo ou operante, ambos os comportamentos têm aspectos de condicio-
namento, podendo ser produzidos conforme o interesse de quem os controla. Skinner
(1968/1972, p. 5) define que “o ensino consiste no arranjo das contingências de reforço”,
em que a aprendizagem acontece por associação de algumas respostas a um reforço.
Nessa visão teórica, para que o indivíduo seja motivado a emitir certo comportamento,
é necessário que esse comportamento vá sendo reforçado por várias vezes, até que a
pessoa seja condicionada a ele.
Portanto a aprendizagem vai ocorrer por meio de estímulos externos, que levam a
pessoa a agir por conta de seus comportamentos. Ou ainda uma necessidade em que leve
a uma ação/resposta/comportamento que satisfaça o indivíduo, e o que satisfaz ou diminui
a necessidade serve como um reforço da resposta, deixando-a mais forte.
E se comparar esse reforço com o aluno em sala de aula, podemos notar que está
relacionado com a motivação, pois para a formação da aprendizagem, dependendo da

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 17


maneira com que os componentes curriculares forem ofertados e estiverem associados
ao reforço que realizam a certas necessidades do aluno. As recompensas e os reforços
são essenciais no processo de ensino e aprendizagem e isso pode ser de ações mínimas
do professor, colegas e outros que estejam envolvidos com a formação do aluno, pode
ser um elogio, um gesto de carinho, boa nota obtida nas avaliações e assim por diante,
levando a se motivar a continuar se dedicando aos estudos, ou seja, o aluno está emitindo
determinado comportamento devido ao interesse em alcançar um reforço. Mas,
Centrar-se em aprender apenas para conseguir um prêmio pode resultar
numa aprendizagem que não irá permanecer, sendo ineficaz, pois não res-
ponde à necessidade de realização pessoal. Quando se estuda apenas para
cumprir uma obrigação, para obter uma nota, esquece-se muito mais rápido
do que quando se estuda a matéria porque se gosta (PILETTI; ROSSATO,
2011, p. 154).

A aprendizagem se torna mecânica e essencialmente dependentes de uma ação


de estímulos e respostas, tornando-a mecânica e dependente dos estímulos para ter uma
resposta que deverá seguir algumas etapas: identificação do problema, questionamentos
acerca dos problemas, hipóteses, escolha das hipóteses, verificação, generalização. O
cérebro a utilizará ao identificar problemas futuros semelhantes.

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 18


CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer dos estudos vamos observar outras teorias que embasam os proces-
sos de desenvolvimento do conhecimento, todas essas teorias apresentam importantes
compreensões e análises de como podem ser as ações nos processos de desenvolvimento
da aprendizagem a favor do ser humano.
Esperamos que no decorrer dos estudos você tenha compreendido, caro(a) alu-
no(a), que as teorias que foram apresentadas nessa unidade definem que a aprendizagem
ocorre por meio da aquisição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório
individual de cada ser, capacita e habilita o indivíduo para adquirir novos comportamentos,
e é por meio da aprendizagem que poderá modificar comportamentos anteriormente adqui-
ridos.
Contudo, é preciso que dê sequência em seus estudados e vá estabelecendo
relações necessárias dos assuntos aqui abordados, o que irá contribuir para que você
consiga atingir os objetivos propostos em sua formação educacional.

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 19


LEITURA COMPLEMENTAR

“De que modo uma pessoa aprende? Como facilitar aprendizagens de importância?
Quais os pressupostos teóricos envolvidos?” Rogers (1969) traz algumas sugestões em
relação a estas questões, Rogers (1969, p. 157-163) e Rogers (1977, p. 159-164):

1. Os seres humanos têm uma potencialidade natural para aprender. As pessoas


são curiosas e têm uma tendência natural e um desejo para descobrir, ampliar o
conhecimento e a experiência. Essas características são facilmente observadas
em disciplinas de ciências que utilizam a aprendizagem através da experimen-
tação científica. Segundo Moreira (2011, op. cit.), esse primeiro princípio “[...]
reflete a característica básica do enfoque rogeriano à educação: o aluno tem
um desejo natural de aprender, e esta é uma tendência na qual se pode confiar”.
2. A aprendizagem significante ocorre quando a matéria de ensino é percebida
pelo aluno como relevante para seus próprios objetivos. O aluno aprende de
forma mais rápida quando percebe que um determinado conteúdo é relevante
para atingir seus próprios objetivos pessoais (autorrealização). Rogers cita,
nesse caso, o exemplo de dois estudantes de um curso de estatística: um deles
desenvolvendo um projeto no qual necessita utilizar o conteúdo de determinada
disciplina para essa finalidade, e outro aluno apenas assistindo às aulas, para
obtenção de créditos. Não há dúvida quanto à diferença na aprendizagem nesse
exemplo dos dois alunos.
3. A aprendizagem que envolve uma modificação da organização pessoal – na
percepção de si mesmo – é ameaçadora e tende a suscitar resistência. Para a
maioria das pessoas, parece que na medida que outros estão certos, elas estão
erradas. Nesse caso, a aceitação de valores externos pode ser profundamente
ameaçadora aos valores que a pessoa já tem, nascendo uma resistência a essa
aprendizagem.
4. As aprendizagens que ameaçam o eu (self) são mais facilmente percebidas e
assimiladas quando essas ameaças externas são minimizadas. Rogers ilustra
esse princípio através do exemplo de um aluno com dificuldade em leitura, que,
por isso, sente-se ameaçado e desajustado perante seus colegas. Quando
é forçado a ler em voz alta na frente de toda turma, quando é ridicularizado,

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 20


quando recebe notas baixas, não progride nessa dificuldade. Ao contrário, se
esse aluno estiver em um ambiente de apoio e compreensão, sem exposição ri-
dicularizadora, sem avaliação por notas e, ao contrário, fizer sua autoavaliação,
essas ameaças externas se reduzirão a um mínimo, fazendo-o progredir.
5. Quando é pequena a ameaça ao eu, pode-se perceber a experiência de maneira
diferenciada. Quando o aluno se sente seguro e não ameaçado, a diferenciação
crescente dos componentes da experiência e a assimilação dos seus significa-
dos pode ser percebida e a aprendizagem pode prosseguir.
6. Grande parte da aprendizagem ocorre através da ação. Um dos meios mais efi-
cazes de promover a aprendizagem consiste em colocar o aluno em confronto
experiencial direto com problemas práticos – de natureza social, ética, pessoal
ou filosófica – ou com problemas de pesquisa. Esse princípio descrito por Ro-
gers é o fundamento da metodologia denominada atualmente de aprendizagem
baseada na resolução de problemas ou simplesmente ABP.
7. A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa responsavelmente do
processo de aprendizagem. Quando o aluno escolhe suas próprias direções,
descobre seus próprios recursos de aprendizagem, decide seu próprio curso de
ação, ele se torna sujeito ativo desse processo, permitindo, inclusive, dominar e
controlar de forma autônoma o progresso de seu conhecimento. Esse princípio
descrito por Rogers é o fundamento das novas metodologias ativas de apren-
dizagem.
8. A aprendizagem espontânea que envolve a pessoa do aprendiz como um todo
– sentimentos e intelecto – é mais duradoura e abrangente. Esse princípio de
Rogers menciona como uma descoberta de sua experiência em psicoterapia,
quando a aprendizagem é mais eficaz se a pessoa se deixa envolver, totalmen-
te, por si mesma. É uma aprendizagem completa, muito mais que cognitiva,
mas também afetiva.
9. A independência, a criatividade e a autoconfiança são todas facilitadas quan-
do a autocrítica e a autoavaliação são privilegiadas, em relação à avaliação
realizada pelos outros. Se o objetivo é tornar o aluno criativo, independente e
autoconfiante, não se deve permitir que as críticas e avaliações negativas de
outros “sufoquem” essas metas.
10. A aprendizagem mais útil no mundo moderno é aquela do “aprender a aprender”,
uma contínua abertura à experiência e à incorporação, dentro de si mesmo,

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 21


dos processos de mudança. Essa aprendizagem é uma das mais importantes
dentro do contexto científico atual, de crescimento exponencial do conhecimen-
to, em que o aluno deve estar em um processo de educação permanente e
continuado, que de forma ideal deve estar presente também ao longo de toda a
vida profissional desse indivíduo.

Esses princípios descritos por Rogers se difundiram amplamente no campo educa-


cional, e foram assimilados através de diversas metodologias de ensino e aprendizagem,
muitas em plena utilização nos dias atuais, incluindo a aprendizagem centrada no aluno, a
aprendizagem baseada em problemas (ABP), a aprendizagem experiencial, a autoapren-
dizagem, a educação humanística, a aprendizagem reflexiva e as modalidades de apren-
dizagem ativa (HEIM, 2012). Diversos modelos atuais de ensino por tutoria também foram
desenvolvidos a partir do contexto da aprendizagem centrada no aluno e na aprendizagem
baseada em problemas, apesar de muitos autores não mencionarem ou admitirem os pres-
supostos de Rogers como o referencial teórico destas metodologias (HEIM, 2012).

Fonte: Konopka (2015).

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 22


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Teorias da Aprendizagem: um encontro entre os pensa-
mentos filosóficos, pedagógicos e psicológicos
Autor: Makeliny Oliveira Gomes Nogueira e Daniela Leal.
Editora: InterSaberes
Ano: 2015
Sinopse: A reunião de perspectivas da pedagogia, da psicologia
e da filosofia contribui enormemente para o aprofundamento de
discussões científicas que investigam o desenvolvimento humano
e os diferentes mecanismos de aprendizagem. Assim, essa obra
analisa como conhecimentos dessas três áreas podem nos aju-
dar a solucionar os desafios que encontramos hoje nos sistemas
educacionais, revelando aspectos fundamentais dos processos
de ensino-aprendizagem. Junte-se a nós nesse estudo e dê início
a sua própria investigação sobre caminhos que possam levar a
processos educacionais mais eficazes e significativos.

FILME/VÍDEO
Título: Gênio Indomável
Ano: 1997
Sinopse: O jovem Will Hunting, servente de uma universidade,
revela-se um gênio em matemática. Com algumas passagens pela
polícia, ele é obrigado a fazer terapia. O tratamento só começa a
dar certo quando ele se identifica com o terapeuta Sean Maguire.
Comentário: Nesse filme, o protagonista, interpretado por Matt
Damon, é um rapaz com uma inteligência extraordinária, porém
precisa da ajuda de um mentor comprometido para orientá-lo a
explorar o seu potencial infinito.

WEB
Caro(a) aluno(a), vou sugerir a leitura do artigo Facilitar a apren-
dizagem: ajudar aos alunos a aprender e a pensar. Vai auxiliar
na compreensão da importância do desenvolvimento da aprendi-
zagem, é um texto interessante que expõe as responsabilidades
da escola, da família e do próprio educando na sua maneira de
adquirir conhecimentos.
Web: <http://www.scielo.br/pdf/pee/v6n2/v6n2a06.pdf>

UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 23


UNIDADE II
Entendendo o Construtivismo e os
Processos Educacionais
Professora Mestre Sonia Maria de Campos

Plano de Estudo:
• O construtivismo de Piaget;
• O construtivismo de Vygotsky;
• A teoria de ensino de Bruner;
• O construtivismo de Ausubel, Vergnaud e Johnson-Laird.

Objetivos de Aprendizagem:
• Compreender as especificidades da psicologia cognitiva de Piaget;
• Analisar os aspectos cognitivos por Vygotsky;
• Compreender o comportamento humano na visão de Bruner;
• Compreender como ocorrem os processos mentais.

24
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), a aprendizagem é um processo fundamental para a vida humana,


portanto se tornou alvo de preocupação da humanidade. Muitos cientistas pesquisaram,
o estudo da subjetividade que vem organizando meios para tornar o processo de apren-
dizagem mais eficiente. Aí reside a justificativa para a importância que se dá ao estudo
da aprendizagem para a psicologia e para a educação. A natureza do ensino e da apren-
dizagem está relacionada à maneira como planejamos nossa intervenção educacional e
pedagógica, tanto do ponto vista da educação formal, quanto da educação não formal.
Para tanto, esta unidade foi organizada tratando a educação nos aspectos do cons-
trutivismo de Piaget, que aborda dos progressos cognitivos como uma capacidade maior
de pensar de maneira abstrata, denominado pensamento operacional formal em que pode
se alcançar a capacidade de compreender e lidar com conceitos abstratos, especular a
respeito de possibilidades e alternativas e ainda raciocinar em termos hipotéticos.
Do construtivismo de Vygotsky (1988), que entende que a prática educativa pos-
sibilita e permite à criança aprendiz envolver-se nas atividades de forma independente,
apesar de estar contando com a ajuda de outros.
A teoria construtivista do ensino de Bruner (1990) entende ser possível ensinar
qualquer assunto, de maneira coerente, a qualquer criança, em qualquer estágio de seu
desenvolvimento.
E no construtivismo de Ausubel (1963), que traz que, caso conseguíssemos separar
um único fator como o mais relevante na aprendizagem cognitiva, ele destaca ser o que o
aprendiz já sabe ou o conhecimento que está na estrutura cognitiva com clareza, estabili-
dade e diferenciação; com isso, o ensino deveria reconhecer tal conhecimento, então, seria
necessário averiguá-lo previamente. Vergnaud (1990) traz como referência a relevância
do próprio conteúdo do conhecimento e faz uma análise conceitual do domínio do conhe-
cimento do indivíduo. E para Johnson-Laird (1983) o modelo mental é uma representação
que pode ser totalmente ou parcialmente analógica, e ainda parcialmente proposicional,
que pode tanto ser distinta de uma imagem, mas relacionada a ela.
Então, temos um desafio pela frente, convido você a segui-lo comigo.

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 25


1 O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET

Para entender a teoria de Piaget (1896 -1980), vamos iniciar observando o que traz
em relação a sala de aula. Como bem sabemos, é um espaço que faz parte da escola, ou
ainda, o local onde os sujeitos se reúnem para aprender. Porém, sabemos que a sala de
aula é compreendida como espaço destinado à aprendizagem, mas não o único.
O espaço da escola é constituído pelas mudanças sociais com fins próprios e es-
pecíficos e, com isso, podemos notar que a escola, bem como os modos de ensinar, vem
passando por mudanças no decorrer dos tempos e tomando “modelagens”. É por meio das
diferentes “modelagens” da sala de aula e a relação com a percepção epistemológica que,
para cada momento, se embasa na verdade do momento histórico.
Com isso, a forma de entender a construção do conhecimento também precisa
mudar. Pois se o conhecimento é compreendido a partir de uma perspectiva epistemológica
empirista, o que podemos entender sendo uma réplica da realidade, ou “[...] que ele vem
de fora, está na sociedade, os outros os possuem e nos transmitem, enquanto que nós nos
limitamos a nos apoderar dele e incorporá-lo [...]” (DELVAL, 2007, p. 116), evidenciando,
com isso, que a sala de aula, por ser um espaço de construção de conhecimentos e de
trocas, precisa acompanhar as mudanças e estar aberta para compartilhar outros assuntos
para que se alcance o desenvolvimento cognitivo do sujeito.
Mas, se analisar que o “[...] conhecimento provém do sujeito e não pode vir da
experiência. A própria capacidade de aprender não pode ser resultado de nossa experiên-
cia. [...]” (DELVAL, 2007, p. 117), pode-se notar que se trata da epistemologia de cunho
elitista, quando traz que a sala de aula é um espaço para aprender, não será a mesma

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 26


daquela defendida na epistemologia empírica. Isso ocorre pelo fato de o conhecimento
partir de lugares pré-estabelecidos, já no empirismo o conhecimento está na experiência e
no inatismo no próprio sujeito.
Que Piaget (1998) defende, que é possível encontrar três direções epistemológicas.
Uma delas, fiel as velhas tradições anglo-saxônicas, continua orientada para
um associacionismo empirista, o que reduziria todo o conhecimento a uma
aquisição exógena, a partir da experiência ou das exposições verbais ou
audiovisuais dirigidas pelo adulto. A segunda se caracteriza por um retorno
inesperado aos fatores de inatismo e maturação interna [...]; sendo assim, a
educação se resumiria em grande parte no exercício de uma “razão” já pré
formada de saída (PIAGET, 1998, p. 10).

Até aqui, você já deve ter percebido, portanto, que a partir do que Piaget (1998)
traz em relação às direções que as ações pedagógicas podem tomar vai depender da
corrente epistemológica eleita, e ainda de como ocorre o entendimento psicológico do de-
senvolvimento cognitivo que se manifesta como verdadeiro, mas que, tanto a epistemologia
empírica e a inatista, por si só, não conseguem explicar todo o processo de conhecer
realizado pelo sujeito cognoscente.
A Epistemologia piagetiana entende que é preciso depositar importância na expe-
riência para que ocorra o conhecimento, assim como dar oportunidade ao sujeito como parte
fundamental para esse processo cognitivo acontecer. Podemos perceber a diferença entre
o empirismo e o inatismo ao analisar a radicalidade e a força que designam à experiência,
assim como para o sujeito do conhecimento, respectivamente.
Vamos para a terceira direção epistemológica de Piaget (1998), sendo a sua própria
epistemologia, que tem uma natureza construtivista.
A terceira direção, que é decididamente a nossa (e que nos leva a atribuir os
começos da linguagem às estruturas construídas pela inteligência sensorial
preexistente), é de natureza construtivista, isto é, sem preformação exóge-
na (empirismo) ou endógena (inatismo) por contínuas ultrapassagens das
elaborações sucessivas, o que do ponto de vista pedagógico, leva incontes-
tavelmente a dar toda ênfase às atividades que favoreçam a espontaneidade
da criança (PIAGET, 1998, p. 11).

SAIBA MAIS
O conhecimento não inicia no sujeito, nem tão pouco no objeto, mas no resultado entre
a interação do sujeito e objeto pela ação do sujeito, ou seja, é um ponto invisível aos
olhos, mas seria como se estivesse em um intervalo entre a ação e objeto. É nesse
ponto que ocorre a aprendizagem humana.
Fonte: Piaget (1998).

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 27


Diante disso, pode-se notar que no entendimento epistemológico piagetiano o co-
nhecimento é formado por meio de uma construção contínua, ou seja, ele não está pronto e
acabado, nem no externo e nem no indivíduo do conhecimento. Mas depende sim de uma
elaboração, que se faz uso de elementos endógenos (internos) e exógenos (externos) da
pessoa.
Para Piaget (1998), a aquisição do aprendizado acontece quando há um desequi-
líbrio entre dois processos: o de assimilação e o de acomodação, definindo a acomodação
como qualquer modificação ocorrida dentro de uma estrutura. A pessoa passa por estágios
“[...] começa por uma reconstrução, em um novo plano, das estruturas elaboradas no curso
do precedente, e esta reconstrução é necessária às construções ulteriores que ultrapassam
o nível precedente [...]” (PIAGET, 2003, p. 172).
Neste sentido, se algum sistema não corresponde às características de um objeto,
ou seja, se há um desequilíbrio, é preciso modificar todo o esquema, a fim de que o equi-
líbrio seja restaurado. Piaget (1998) organiza o desenvolvimento como um processo de
estágios que são sucessivos, os quais são:

Quadro 1 - Fases do Desenvolvimento da criança segundo Piaget

Período Faixa etária aproximada


Sensório Motor Nascimento até 1 ½ a 2 anos
Pré-operatório De 2 anos a 7 anos
Operatório concreto De 7 anos a 11 anos
Operatório formal 11 anos a 15 anos
Fonte: a autora.

O período Sensório Motor é o estágio dos reflexos, refere-se aos primeiros dias de
vida e vai aos dois anos de idade. É caracterizado pelo conhecimento da realidade por meio
da exploração motora. Nessa fase, a criança utiliza dos órgãos sensoriais para explorar o
mundo a sua volta, por isso é comum nesta fase morder, jogar e pegar objetos.
[...] todas as suas ações são construídas a partir de reflexos inatos que vão
se modificando e se diferenciando tornando-se mais complexos e maleáveis.
Dentre as principais aquisições do período sensório-motor, destaca-se a
noção do “eu” através do qual a criança diferencia o mundo externo do seu
próprio corpo (PIAGET, 1998, p. 40).

Para Piaget e Inhelder (2003), o bebê ainda não apresenta pensamento e a sua
afetividade ainda não está ligada a representações, neste sentido, não sente necessidade
de chamar as pessoas ou pedir certos objetos na ausência destes. Em resumo:

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 28


● Essa fase é caracterizada pelo comportamento motor.
● A criança não pensa conceitualmente.
● Há grandes mudanças no decorrer desse período, iniciando com comportamen-
tos que são reflexos e terminando com o desenvolvimento da fala.
● Inicia o desenvolvimento da afetividade.

Um fato destacável nesse período é que a criança já consegue compreender que


alguns objetos existem, mesmo que não estejam vendo. Miranda (1988, p. 27) destaca
que [...] “a construção da realidade está subordinada à evolução da inteligência, que nessa
etapa é caracterizada pela prática e corresponde desde os esquemas sensórios - motores
mais elementares até o surgimento de esquemas simbólicos ou funções semióticas”. Sendo
um dos fatos que fica bem perceptível no início da representação mental e passando para o
período pré-operacional, e a atividade sensório-motora depende da atividade mental.
O período pré-operatório corresponde às atividades que a criança desenvolve dos
dois anos até sete anos de idade, é caracterizado pelas representações. Também chamado
de inteligência verbal ou intuitiva, a criança nessa fase se vê em meio a um mundo de repre-
sentações, ou seja, ela utiliza das representações, sejam elas símbolos, imagens, conceitos
ou signos, como um substituto da realidade que não está presente. Nessa fase também
há o enriquecimento da linguagem e o início da construção do raciocínio lógico, uma vez
que ela consegue ver o mundo somente a partir da sua perspectiva (PIAGET; INHELDER,
2003). Segundo Oliveira (1997, p. 93), “o início do período ocorre com o aparecimento da
função simbólica, que permite o uso das palavras de maneira simbólica, e termina quando
a criança é capaz de organizar seu pensamento mediante operações concretas”.
Coll et al. (2007, p. 144) apresentam algumas limitações do pensamento que são
comuns nesta fase:

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 29


Quadro 2 - Limitações do pensamento no estágio pré-operatório

Limitações do pensamento no estágio pré-operatório

Aparência perceptiva / traços não ob- A criança não realiza inferências a partir de
serváveis: propriedades não observáveis diretamente
Centração / descentração O foco está em um só ponto de vista (o pró-
prio) evitando outras possíveis dimensões
Estados / transformações Não faz relação dos estados iniciais e finais
de um processo
Irreversibilidade / reversibilidade Não refaz mentalmente o processo seguido
até voltar ao estágio inicial
Raciocínio transdutivo / pensamento Faz associações imediatas entre as coisas
lógico raciocinando do particular ao particular
Fonte: Coll, Marchesi, Palacios e Cols (2004, p. 144).

Atividades que a criança desenvolve dos sete aos onze anos de idade são vistas no
período operatório concreto. É caracterizado pelo aparecimento do pensamento lógico,
somente com conteúdo mais simples. No entanto, no decorrer do processo, a criança vai
desenvolvendo processos que podem ser aplicados a problemas reais, ou seja, concretos
(PIAGET; INHELDER, 2003). Nesse período a criança:
● Consegue resolver problemas com conservação e apresenta argumentos que
justifiquem a resposta correta.
● Tomam decisões lógicas.
● Começa a sair do egocentrismo e apresenta a fala com a finalidade de comuni-
cação.
● O raciocínio lógico é aplicado em situações concretas.

Por fim, o período lógico formal corresponde às atividades que a criança-adoles-


cente desenvolve dos onze aos quinze anos de idade, é caracterizado pelo período em
que o pensamento lógico atinge a sua máxima expressão, ou seja, é aplicado de forma
sistemática e coerente. O jovem ou adulto é capaz de raciocinar sobre todas as situações
possíveis em situações hipotéticas ou reais (PIAGET; INHELDER, 2003). Do ponto de vista
cognitivo o jovem ou adulto possui:
● Capacidade de realizar raciocínio lógico com situações hipotéticas e não so-
mente reais.
● Busca hipóteses para explicar fatos observados.
● Pensa sobre os seus pensamentos e sentimentos como se fossem objetos.
● Raciocina além das observações.

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 30


Essas etapas não são pré-estabelecidas, sendo somente uma média de idade em
que predominam determinadas construções de pensamento, mas pode ocorrer antes ou um
pouco depois das idades descritas, os pais podem observar cada uma com características
próprias, constituindo um determinado tipo de equilíbrio. Assim, a epistemologia piagetiana
é de cunho construtivista por designar que o “[...] conhecimento se dá por um processo
de interação radical entre o sujeito e o objeto, entre o indivíduo e a sociedade, entre o
organismo e o meio” (BECKER, 2001, p. 36).
Com isso, cada etapa do desenvolvimento da criança é importante para compreen-
der os processos da aprendizagem. Dessa forma, cabe a todos os envolvidos em sua
formação e entre eles os seus familiares a respeitar o processo de maturação de cada
fase da criança, estimulando e oferecendo atividades que possibilita o desenvolvimento
cognitivo.

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2 CONSTRUTIVISMO DE VYGOTSKY

Vygotsky (1998) defende que o processo de aprendizagem ocorre a partir de níveis


de desenvolvimentos reais e potenciais, esse intervalo de níveis foi denominado como
zona de desenvolvimento proximal. Podemos notar que entra em acordo com as etapas do
desenvolvimento observadas por Piaget (1982).
[...] a aprendizagem não é em si mesma desenvolvimento, mas uma correta
organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento men-
tal, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação
não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um
momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam
na criança essas características humanas não naturais, mas formadas histó-
ricamente (VYGOTSKY, 1998, p. 47).

Entretanto, para Vygotsky (1998), para gerar aprendizagem efetiva, podemos con-
tar com o próprio movimento de aprender e acessar conhecimento. Sendo uma ação que
deve ocorrer de fora para dentro, ou seja, do meio social para o indivíduo.

REFLITA
A pergunta que fazemos a você é: como podem ser convertidas no indivíduo as relações
sociais em funções psicológicas?
Fonte: a autora.

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 32


Para Vygotsky (1998), isso se dá por meio da mediação ou atividade mediada indi-
reta. Ou seja, é pela mediação que o sujeito internaliza, e isso ocorre através da “reconstru-
ção interna de uma operação externa, de atividades e comportamentos sócio-históricos e
culturais” (GARTON, 1992, p. 89). Isso quer dizer que a conversão de relações sociais em
funções mentais superiores não é direta, é mediada, mas para que isso ocorra, precisa do
uso de instrumentos e signos.
Outro aspecto a ser observado é que para que ocorra esse processo de interiori-
zação, depende da mediação essencialmente humana e semiótica na qual a linguagem e,
em particular, a palavra, é essencial. A palavra é o meio privilegiado, é o elemento, matéria
comum entre locutor e interlocutor, “carregada de conteúdo ou de sentido ideológico, é uma
espécie de molécula do pensamento verbal, i.e., da intersecção entre pensamento e fala”
(TUNES, 2000, p. 38).
A palavra está presente em todos os atos de compreensão e em todos os
atos de interpretação. Todos os signos não verbais, embora não possam ser
substituídos por palavras, “banham-se no discurso”, apoiam-se nas palavras
e são acompanhados por elas... a palavra não é uma coisa que o indivíduo
possui, mas é mediação, elemento móvel e mutável na dinâmica das intera-
ções verbais (SMOLKA, 2000, p. 65).

Para Vygotsky (1998), o desenvolvimento precisa da linguagem para ocorrer. O


autor não refuta a ideia de Piaget, mas defende outra concepção evolutiva do ser humano.
Pois, para Piaget (1982), a estruturação do organismo vem antes do desenvolvimento e,
para Vygotsky (1998), é o próprio processo de aprendizagem que desenvolve as estruturas
mentais superiores do indivíduo.
Além da mediação, Vygotsky (1998) traz o signo, sendo algo que significa alguma
coisa. Como os ícones nos computadores, são signos; as palavras são signos linguísticos.
A linguagem é um sistema articulado de signos; a matemática também. Podemos notar,
com isso, que vivemos em uma sociedade que constrói instrumentos e sistemas de signos;
bem como são construídos ao longo dos tempos e modificam, mudam, são influenciados e
influenciadores no desenvolvimento social e cultural.
É por meio da apropriação dessas construções sócio-históricas e culturais, ao
interagir no meio social, que o ser humano se desenvolve cognitivamente. E ainda, quanto
mais interagir e utilizar variados signos e sistemas de signos, mais modifica as operações
psicológicas que ele é capaz. Como também, quanto mais instrumentos o sujeito vai apren-
dendo a manusear tanto mais se ampliam suas práticas e atividades nas quais pode aplicar
as novas funções psicológicas.

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 33


E, assim, pode-se observar que o desenvolvimento das funções mentais superiores
vai necessariamente por uma fase externa. Pois no desenvolvimento cognitivo de uma
criança toda função aparece duas vezes.

Figura 1 - Funções mentais superiores

Fonte: a autora.

Em que a criança primeiro vai se relacionar entre pessoas (interpessoal, interpsi-


cológica) para só depois internalizar, dando-se no interior da própria criança (intrapessoal,
intrapsicológica).

SAIBA MAIS
As funções mentais superiores são de origem das relações entre seres humanos.
Fonte: Vygotsky (1988).

Outro aspecto é a zona de desenvolvimento proximal que é especificada por Vygo-


tsky (1988, p. 97)
Como a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo,
tal como medido por sua capacidade de resolver problemas independente-
mente, e o seu nível de desenvolvimento potencial, tal como me dido através
da solução de problemas sob orientação de alguém (um adulto, no caso de
uma criança) ou em colaboração com companheiros mais capazes.

A zona de desenvolvimento proximal (ZDP) destaca as funções que ainda não


amadureceram, mas que estão no processo de maturação. É meio ou medida do potencial
de aprendizagem; representa a parte na qual o desenvolvimento cognitivo se estabelece
e ocorre; é dinâmica e está sempre mudando. Sendo um dos pontos centrais da teoria
vygostskyana, defendendo a ideia de formação do conhecimento no intervalo entre o co-

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 34


nhecimento real e o conhecimento potencial. Ou seja, a ZDP é o espaço existente entre o
que o indivíduo já conhece e aquilo que ele tem potencialidade de aprender.
A teoria Sócio-interacionista estuda o pensamento como produto da história social
ou o resultado das atividades do indivíduo e das condições materiais, conhecidas como
cultural e histórica. Vygotsky (1988) defende a aprendizagem como aspecto necessário e
universal ligado ao processo de desenvolvimento das funções psicológicas humanas.

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 35


3 A TEORIA DE ENSINO DE BRUNER

Para a teoria Bruner, o que importa são os fatores intrínsecos, racionais do indiví-
duo. Como ser humano racional, é que vai decidir o que deseja ou não aprender. Como
também, “sem os signos externos, principalmente a linguagem, não seriam possíveis a
internalização e a construção das funções superiores” (RUSSO, 2015, p. 72).
Elaborada inicialmente por Dewey (1959) e seguido por Bruner, a teoria entende a
aprendizagem como solução de problemas. Com isso, concebe que é por meio da solução
dos problemas no dia a dia que os seres humanos se ajustam a seu ambiente. Do mesmo
modo deve proceder no ambiente escolar, levando o pleno desenvolvimento do aluno para
que consiga melhorar sua capacidade para resolver problemas do cotidiano, sendo
[...] que a aprendizagem seja instigada através de problemas ou situações
que procuram de uma forma intencional gerar dúvidas, desequilíbrios ou
perturbações intelectuais. O método “dos problemas” valoriza experiências
concretas e problematizadoras, com forte motivação prática e estímulo cog-
nitivo para possibilitar escolhas e soluções criativas (PEREIRA et al., 2009,
p. 158).

Na teoria “a aprendizagem deve estar baseada na resolução de problemas” (HENZ;


SANTOS; SIGNOR, 2018, p. 146), em que o aluno, quando tem a convicção que precisa
entender o componente de Matemática, por verificar as necessidades que tem em suas
vivências sociais, com isso, irá sentir prazer em aprender, considerando a sua utilidade.
Defendendo que o indivíduo precisa aprender por ter isso intrínseco, e vai entender que a
recompensa que terá está no seu exercício ou aprendizagem.

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 36


[...] O reforçamento externo pode, sem dúvida, conservar o desempenho de
uma determinada ação e pode mesmo levar à sua repetição. Mas ele não nu-
tre o longo curso da aprendizagem pelo qual o homem constrói lentamente,
a seu próprio modo, um modelo útil do que o mundo é e do que ele pode ser
(KLAUSMEIER, 1977, p. 259-260).

Levando em consideração mais o desenvolvimento cognitivo do que a personalida-


de, ou seja, as ações do indivíduo no seu ambiente e o processo cognitivo de experiências
(TABILE; JACOMETO, 2017). Entende que o indivíduo vai aprender algo novo na medida
que já tenha algum conhecimento prévio do que está por aprender. Diante disso, no am-
biente escolar, o professor precisa valorizar os saberes do aluno acerca do assunto que
será ensinado. Porém não pode deixar de auxiliar o aluno até que este consiga sistematizar
e organizar os novos conhecimentos, fazendo associações com o seu conhecimento prévio.
Mais do que preparação para a vida, a educação deve ser vida: permitir a cada
sujeito, pela comunicação ética com os outros, adquirir e mobilizar um conjunto de hábitos
e atitudes que lhe permitam viver condignamente (DEWEY, 1988, p. 57). Para o autor,
o conhecimento não se acaba, é uma habilidade que o ser humano adquire, que leva a
integração social, o crescimento intelectual e moral de cada um e do meio em que vive, de
maneira racional e emocional entre o indivíduo, a sociedade e a educação.
“A Educação é conseguida com as próprias experiências vividas inteligentemente.
Simultáneamente vivemos, experimentamos e aprendemos.” (DEWEY,1964, p. 16). Diante
disso, é por meio do conhecimento que o indivíduo terá consequências, experiências e
crescimentos decorrentes de sua relação e trocas com outras pessoas que leva a construir
o seu raciocínio, experiência e pensamento crítico.

SAIBA MAIS
Quando a educação é concebida em termos de experiência, uma consideração se des-
taca em relação às demais. Tudo o que possa ser considerado como matéria de estudo,
seja aritmética, história, geografia ou qualquer uma das ciências naturais, deve derivar
de materiais que, originalmente, pertençam ao escopo da experiência da vida cotidiana.
Nesse aspecto, as propostas educacionais mais atuais se diferenciam radicalmente dos
processos pedagógicos que se iniciam a partir de fatos e verdades “que se encontram
fora do âmbito das experiências vivenciadas pelos alunos e que, por isso, enfrentam o
problema de ter que descobrir meios de relacioná-los com tais experiências”
Fonte: Mendonça e Adaid (2018, p. 149).

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 37


A aprendizagem coincide com as maneiras que a pessoa resolve problemas, para
isso, Dewey (1959) entende que é preciso que o sujeito capaz de provocar um tipo de
inquirição que é o pensamento reflexivo, o qual se caracteriza “por um ativo, prolongado e
cuidadoso exame de toda crença ou espécie hipotética de conhecimento” (DEWEY, 1959,
p. 18), em que no processo de formação do pensamento a pessoa precisa passar por
etapas de tratamento, que são: ter uma dúvida; noção de problema; esclarecimento do
problema; seleção da hipótese mais provável; verificar a hipótese ou refletir; generalização,
dar significado à resposta e crer.
Para tanto, a teoria entende que o papel da escola para esse desenvolvimento no
aluno de resoluções de problemas precisa ser compreendido e trabalhado respeitando as
fases de aprendizagens de cada aluno, pois “a tendência a aprender-se com a própria vida
e a tornar tais condições da vida que todos aprendam com o processo de viver, é o mais
belo produto da eficiência escolar” (DEWEY, 1959, p. 55).
Bruner (1976, p. 48) define quatro características principais de uma teoria de ensino
Em primeiro lugar, deve apontar as experiências mais efetivas para implantar
em um indivíduo a predisposição para a aprendizagem – aprendizagem em
geral, ou qualquer caso particular dela... deve, em segundo lugar, especificar
como deve ser estruturado um conjunto de conhecimentos, para melhor ser
apreendido pelo estudante. A “estrutura ótima” será constituída de uma série
de proposições da qual poderá decorrer um conjunto de conhecimentos de
maiores dimensões, sendo característica a dependência da sua formulação
para com o grau de adiantamento do campo particular do conhecimento...
em terceiro lugar, uma teoria de ensino deverá citar qual a sequência mais
eficiente para apresentar as matérias a serem estudadas. Se alguém quer
ensinar a estrutura da teoria da Física Moderna, como deve fazê-lo?... deve,
finalmente, uma teoria da instrução deter-se na natureza e na aplicação dos
prêmios e punições, no processo de aprendizagem e ensino. Intuitivamente
parece claro que, com o progresso da aprendizagem, chega-se a um ponto
em que é melhor abster-se de premiações extrínsecas – como elogios do
professor, em favor da recompensa intrínseca, inerente à solução de um
problema complexo.

Esse processo é uma espécie de rede que ocorre sempre, em que cada elemento
é relevante ao próximo passo, que leva ao crescimento após passar por isso e vai desen-
volvendo o seu modo de “Aprender a Aprender” (DEWEY, 1959, p. 48).

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 38


SAIBA MAIS
“Uma amiga, ao visitar uma escola, recebeu um convite para examinar os alunos de
geografia. Depois de olhar um pouco o livro, perguntou:
- Suponha que você abra um buraco no chão e chegue a uma grande profundidade.
Como seria o fundo do buraco? Seria mais quente ou mais frio que a superfície?
Como ninguém na classe respondeu, a professora disse:
- Eu estou certa de que eles sabem, mas você não perguntou corretamente. Vou ex-
perimentar.
Pegou então o livro e perguntou:
- Em que condição está o interior do globo?
Recebeu a imediata resposta de metade da classe:
- O interior do globo está numa condição de fusão ígnea”
Fonte: Mouly (1973, p. 310).

O exemplo traz que a dificuldade dos alunos em responder a primeira indagação,


devido ter somente memorizado a resposta, sem ter feito o real entendimento da unidade
temática do componente de geografia.
A mediação entre aprendizagem e o desenvolvimento acontecem do plano social
para o individual. Os sujeitos mais experientes de uma cultura auxiliam os menos expe-
rientes, o que se torna possível a apropriação das significações culturais e a construção de
conhecimentos compartilhada, o que, de fato, se torna muito importante para a educação
(TABILE; JACOMETO, 2017).

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 39


4 O CONSTRUTIVISMO DE AUSUBEL, VERGNAUD E JOHNSON-LAIRD

4.1 A Teoria da Aprendizagem Significativa


Aprendizagem significativa está ligada à teoria cognitiva, que visa descrever como
ocorre o processo da compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação
na cognição. Aprendizagem é entendida como significativa quando um novo conhecimento
leva o aprendente a obter significados por meio de ancoragem em aspectos importantes
encontrados na estrutura cognitiva preexistente do indivíduo, podendo ser um conceito,
ideia ou proposições. Ausubel (1918-2008) é quem compreendeu a teoria, defendendo a
ideia de que o fator relevante que influencia o aprendizado é o conceito que o aluno já
conhece.
Não-arbitrariedade e substantividade são as características da aprendizagem
significativa. Para Ausubel (1963, p. 58), “a aprendizagem significativa é o mecanismo
humano, por excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e informa-
ções representadas em qualquer campo de conhecimento”.
[...] Não-arbitrariedade: significa que o conhecimento significativo se relacio-
na de maneira não-arbitrária com o conhecimento já existente na estrutura
cognitiva do aluno. E a Substantividade: significa que o que é incorporado à
estrutura cognitiva é a substância do novo conhecimento, das novas ideias,
não as palavras precisas usadas para expressá-las. Assim, uma aprendi-
zagem significativa não pode depender do uso exclusivo de determinados
signos em particular (AUSUBEL, 1963, p. 41).

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 40


Com isso, podemos compreender que a essência da aprendizagem significativa
está no que ocorre com o relacionamento não-arbitrário e substantivo de conhecimentos
relevantes da estrutura do sujeito, ou seja, a pessoa já possui algum conceito significativo
em relação a nova informação para interagir.
Diante disso, fica claro que, na perspectiva ausubeliana, o conhecimento já exis-
tente, que é a estrutura cognitiva do aprendiz, é o ponto crucial para a aprendizagem sig-
nificativa. E se caracteriza pela interação que ocorre entre conhecimentos prévios e novos
de maneira acessível e livre. Levando os novos conhecimentos adquirem significado para
o indivíduo e os conhecimentos prévios se transformam em novos significados ou maior
estabilidade cognitiva.

4.2 O Construtivismo Gérard Vergnaud


Discípulo de Piaget (1998), Vergnaud (1982) traz de uma forma mais redireciona do
que a teoria piagetiana, em que destaca o funcionamento cognitivo do “sujeito-em-situação”.
“Além disso, diferentemente de Piaget, toma como referência o próprio conteúdo do conhe-
cimento e a análise conceitual do domínio desse conhecimento” (FRANCHI, 1999, p. 160).
Vergnaud (1982) entende que Piaget (1998) contribui grandemente com sua teoria,
principalmente quando destaca os conceitos de adaptação, desequilibração e reequilibração
como princípio da investigação em didática das Ciências e da Matemática. Porém entende
que o grande legado de Piaget (1998) é o conceito de esquema. Em que, esse conceito é
fundamental para a construção da teoria de Vergnaud (1982), como também se embasou
na teoria de Vygotsky (1998) em sua teoria dos campos conceituais. Vergnaud (1982, p. 40)
toma como premissa que o “conhecimento está organizado em campos conceituais cujo
domínio, por parte do sujeito, ocorre ao longo de um largo período de tempo, através de
experiência, maturidade e aprendizagem”.
Com isso, o campo conceitual é, para Vergnaud (1982), um conjunto informal e
apresenta diferente estrutura de problemas, situações, conceitos, relações, estruturas,
conteúdos e operações de pensamento, conectados uns aos outros e, provavelmente,
entrelaçados durante o processo de aquisição.
O domínio de um campo conceitual não ocorre em alguns meses, nem
mesmo em alguns anos. Ao contrário, novos problemas e novas proprie-
dades devem ser estudados ao longo de vários anos se quisermos que
os alunos progressivamente os dominem. De nada serve tentar contornar
as dificuldades conceituais; elas são superadas na medida em que são
encontradas e enfrentadas, mas isso não ocorre de um só golpe (VERG-
NAUD, 1983, p. 401).

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 41


Para tanto, não é uma teoria de ensino de conceitos explícitos e formalizados.
Mas sim, uma teoria psicológica do processo de conceitualização da realidade que leva a
localizar e estudar sequências e rupturas entre conhecimentos do ponto de vista de seu
conteúdo conceitual. Vergnaud (1983, p. 393) define conceito como um tripleto de conjuntos
C = (S, I, R), que são:
S é um conjunto de situações que dão sentido ao conceito; I é um conjunto
de invariantes (objetos, propriedades e relações) sobre os quais repousa
a operacionalidade do conceito, ou o conjunto de invariantes operatórios
associados ao conceito, ou, ainda, o conjunto de invariantes que podem ser
reconhecidos e usados pelos sujeitos para analisar e dominar as situações
do primeiro conjunto; R é um conjunto de representações simbólicas (lingua-
gem natural, gráficos e diagramas, sentenças formais, etc.) que podem ser
usadas para indicar e representar esses invariantes e, consequentemente,
representar as situações e os procedimentos para lidar com elas.

Figura 2 - Teoria psicológica do processo de conceitualização da realidade

Fonte: a autora.

Isso mostra que para compreender o desenvolvimento e uso de um conceito, no


decorrer da aprendizagem ou de sua utilização, é preciso considerar esse tripé de modo
simultâneo. Por outro lado, um conceito sozinho não se refere a uma situação ou uma
única situação não pode ser analisada com um só conceito. Por tudo isso se faz necessário
compreender os campos conceituais.

4.3 Modelos Mentais Johnson-Laird


A teoria construtivista de Johnson-Laird (1983) propõe uma forma representacional
que são os modelos mentais. Sendo o modelo mental uma maneira que pode ser totalmente
sem o uso das tecnologias, ou parcialmente, e “parcialmente proposicional, que é distinta
de uma imagem porém relacionada a ela” (EISENCK; KEANE, 1990, p. 235).

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 42


Figura 3 - Três tipos de construtos representacionais

Fonte: Sternberg (2006, p. 255).

Em que os modelos mentais e as imagens são representações das mais relevantes


para compreender a cognição humana. Mesmo que, o processamento mental seja feito
por meio de algum código proposicional, até para imagens e modelos mentais, pois, para
compreender a cognição humana é importante analisar como o ser humano usa estas re-
presentações de alto nível. Para isso Johnson-Laird (1983) compara as imagens e modelos
mentais com as linguagens de programação de alto nível, como BASIC, PASCAL e outras.
Quando a ferramenta computacional trabalha com zeros e uns e compreende linguagens
de máquina, porém os programadores podem trabalhar sem dificuldades utilizando as
linguagens de alto nível que podem ser traduzidas em linguagem de máquina quando
compiladas. Pois, analogamente, as imagens e os modelos mentais permitem a cognição
humana operar diretamente com algum código proposicional básico que traz à linguagem
de máquina dos computadores.
Para tanto, os modelos mentais são, ento, análogos estruturais do mundo. Em que
os indivíduos entendem o mundo construindo modelos mentais (i.e., modelos de trabalho,
modelos que predizem e explicam eventos) dele em suas mentes.
Uma característica importante das proposições, na óptica de Johnson-Laird
é que elas geralmente são indeterminadas, tal como as representações
linguísticas. A escolha da estrutura sintática das representações mentais
proposicionais não está governada por nenhuma consideração lógica ou
analógica (JOHNSON-LAIRD, 1987, p. 209).

Com isso, compreender um evento é entender como ele é causado, o que resulta
dele como provocá-lo, influenciá-lo, evitá-lo. Na linguagem de Johnson-Laird (1983), é ter
um modelo de trabalho, um análogo estrutural mental, desse evento.

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 43


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao chegar até aqui, caro(a) aluno(a), espero que tenha compreendido que atual-
mente as palavras de ordem são aprendizagem significativa, mudança de modelos de
ensino centrado no aluno. O que foi explicitado, que para se ter um bom ensino é preciso
ter um modelo construtivista, estar centrado no estudante, promover a mudança conceitual
e facilitar a aprendizagem significativa.
Para Piaget, não se deve enfatizar o conceito de aprendizagem. Mas sim o desen-
volvimento cognitivo, não de aprendizagem. Ele defende um aumento de conhecimento,
para que isso ocorra quando o esquema de assimilação sofre acomodação.
Já para Vygotskyana, a aprendizagem humana depende da interação social, em
que o indivíduo não tem que descobrir o que significam os signos ou como são usados
os instrumentos. Ele precisa se apropriar dessas construções via interação social. Para
Bruner, o papel da estrutura da matéria de ensino, suas relações e ideias são fundamentais.
E ficou evidente que na perspectiva ausubeliana a estrutura cognitiva do aprendiz
é a variável relevante para a aprendizagem significativa. Vergnaud (1998) define conceito
como uma tríade de conjuntos C = (S, I, R), em que o primeiro conjunto (S = situações) é o
conceito, o segundo (I = invariantes operatórios) é o que significa o conceito, o terceiro (R
= representações simbólicas) é o significante. Para tanto, ao estudar o desenvolvimento e
uso de um conceito, ao longo da aprendizagem ou de sua utilização, é preciso compreender
esses três conjuntos ao mesmo tempo. E ainda, entender que um único conceito não se
refere a um só tipo de situação e uma única situação não pode ser compreendida com um
só conceito.
E finalizamos com os conceitos de Johnson-Laird, que defende as representações
proposicionais como cadeias de símbolos que correspondem à linguagem natural, modelos
mentais são análogos estruturais do mundo e imagens são modelos vistos de um determi-
nado ponto de vista.
Que este estudo possa despertar a sua curiosidade em continuar pesquisando e
enriquecendo suas aprendizagens em relação a teoria construtivista.

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 44


LEITURA COMPLEMENTAR

Uma Concepção de Educação

Quando falamos em método piagetiano, estamos nos referindo a uma abordagem


de pesquisa e não a uma estratégia de trabalho pedagógico, como acabamos de ver. Se
quisermos buscar alguma analogia nesse terreno, entretanto, não será difícil perceber
que os procedimentos da pesquisa piagetiana inspiram atitudes em sala de aula bastante
diferentes daquelas que seriam aprovadas por uma pedagogia tecnicista, voltada para a
mensuração de resultados.
Ao passo que o uso de testes psicológicos padronizados está mais de acordo com
uma visão tecnicista da aprendizagem, a perspectiva piagetiana vai ao encontro de pro-
cessos pedagógicos em que os alunos são tratados de acordo com suas particularidades
cognitivas. O que está em causa não é o binômio acerto-erro nas atividades escolares, mas
sim, o potencial dessas mesmas atividades para promover o progresso intelectual de cada
um dos educandos.
Mas é realmente no âmbito das teorias do conhecimento que se encontra a maior
afinidade das ideias de Piaget com a educação escolar, mais precisamente com uma certa
pedagogia. Seus conceitos epistemológicos fundamentam-se em concepções da esfera
filosófica, originadas antes mesmo de sua época, que consistem em considerar o conhe-
cimento como possível somente quando o Sujeito, aquele que irá conhecer, e o Objeto,
aquilo que será conhecido, relacionam-se de uma determinada maneira: o Sujeito age
sobre o Objeto.
Nessa perspectiva, temos, primeiramente, a existência de algo que impulsiona o
Sujeito Epistêmico em direção ao Objeto. Estando em níveis diferentes, como se houvesse
um desequilíbrio entre eles, o Sujeito é naturalmente atraído pelo Objeto, como que para
superar o desnível em que se encontram. O Objeto exerce pressão perturbadora sobre o
Sujeito, contribuindo para fornecer-lhe motivação interna e criar seu envolvimento pessoal
com o Objeto, do que resulta o impulso para a ação. Em segundo lugar, temos a atividade
do Sujeito, que se traduz propriamente em atitudes de busca, desvendamento, pesquisa,
enfim, ação sobre o Objeto a ser conhecido.
Ao visualizar essa concepção epistemológica na sala de aula, compreendemos que
o aluno deve ser despertado para a relevância daquilo que vai ser ensinado. Relevância

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 45


pessoal, imediata e não simplesmente formal. De nada adianta dizer a ele, como fazem
muitos professores, que aquele assunto do currículo é importante porque será útil mais
tarde. Se não houver vínculos desafiadores entre o indivíduo e a matéria de ensino, víncu-
los que ativem a percepção do desnível existente entre o aprendiz e o conteúdo escolar, o
educando não será impulsionado a estudar aquilo.
Não havendo motivação, o aluno deixa de se posicionar de modo ativo diante da
matéria. O mesmo acontece quando o professor privilegia a passividade da criança e a leva
a manter-se quieta, apenas ouvindo, como se o mundo pudesse escoar para dentro de seu
cérebro por meio da audição. Sem vontade e sem iniciativa para desvendar e descobrir, não
há conhecimento.
Observe-se que a esse último processo corresponde uma concepção epistemológi-
ca em que o Objeto é inserido no Sujeito, como que depositado ou impresso em sua mente.
O professor dita a matéria, o aluno faz exercícios de fixação do conteúdo e reproduz os
tópicos solicitados na avaliação. O resultado disso não pode ser chamado de conhecimen-
to, embora seja possível verificar objetivamente que o Sujeito tem o Objeto retido em sua
memória – quando o estudante obtém uma boa nota na prova, por exemplo.
Dizemos que esse outro processo não resulta em conhecimento porque ele não
produz qualquer modificação no aprendiz. Para haver conhecimento, devemos conceber
que o Sujeito atue para superar o desequilíbrio existente entre ele e o Objeto, isto é,
para colocar-se no nível em que ainda não está. Por meio da ação que empreende para
desvendar o Objeto, o Sujeito sofre mudanças internas, sai do estado atual – de menor
conhecimento – e passa ao estado superior em que domina o Objeto. Essa mudança inter-
na é conhecimento, algo que não pode ser assegurado pelo processo em que o Objeto é
simplesmente depositado na mente do aluno.
Essa concepção epistemológica aproxima as ideias de Piaget de todas as cor-
rentes pedagógicas que enfatizam a atividade do educando e a estruturação de um am-
biente escolar que corresponda às características pessoais do aluno – seus interesses,
sua personalidade, seu conhecimento cotidiano. Historicamente, as pesquisas de Piaget
vieram endossar os movimentos educacionais renovadores, contrários ao chamado ensino
tradicional verbalista, impositor de restrições à participação do aluno, centrado no saber
supremo do professor.

Fonte: CUNHA (2008).

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 46


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Cultura da Educação
Autor: Jerome Bruner
Editora: Edições 70
Sinopse: nesta época de mudança, em que a sociedade se inter-
roga sobre qual o papel da escola, Jerome Bruner apresenta-nos
uma notável obra sobre as possibilidades e os limites da educação;
aborda também o papel que a sociedade deverá destinar à escola.
O de mero veículo de reprodução de conteúdos e de informação,
ou o de preparação para lidar com a sociedade cultural que espera
o aluno? Da cultura popular à psicologia educacional, passando
pela teoria literária e por uma análise do sistema educacional,
Jerome Bruner guia-nos num fascinante percurso sobre as con-
cepções de educação, agora entendida numa acepção mais lata,
que pretende, com esta obra, demonstrar que só através de uma
plena participação na cultura é que a mente se realiza.

FILME/VÍDEO
Título: Escola da Vida
Ano: 2005
Sinopse: O Sr. D. (Ryan Reynolds) é o novo professor da cidade,
ele é bonito, simpático e adorado por todos os alunos da Escola
Fallbrook Middle. Ele também faz sucesso com os colegas mes-
tres, com exceção de Matt Warner (David Paymer), o professor de
biologia do colégio. Werner está determinado a ganhar o Prêmio
de Professor do Ano, mas teme perder sua chance para o novo, e
admirado, educador.

WEB
Inspirado nas ideias do cientista suíço Jean Piaget, o método
construtivista estabelece que o processo de aprendizado é desen-
volvido e construída nas ações do sujeito por meio do contato ativo
com o conhecimento. Assim, o professor deve criar contextos,
conceber ações e desafiar os alunos para que a aprendizagem
ocorra. Nesse método, o aluno participa ativamente do próprio
aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o
estimulo a dúvida e o desenvolvimento do raciocínio, entre outros
procedimentos. A partir de sua ação, vai estabelecendo as proprie-
dades dos objetos e construindo as características do mundo. O
método enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas
como um trampolim na rota da aprendizagem.
• Link: https://www.youtube.com/watch?v=zXLEF_WV0hA

UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 47


UNIDADE III
Humanismo e a Educação
Professora Mestre Sonia Maria de Campos

Plano de Estudo:
● Teoria de Rogers;
● O Conhecimento para Novak;
● A aprendizagem para Gowin;
● O ensino e aprendizagem para Freire.

Objetivos de Aprendizagem:
● Compreender a série de princípios de aprendizagem;
● Analisar a teoria de educação;
● Conhecer o que Gowin trata sendo uma relação triádica entre professor, materiais
educativos e aluno, cujo produto é o compartilhar significados;
● Compreender o ensinar como uma especificidade humana.

48
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade serão apresentados os principais aspectos das


teorias da aprendizagem humanista, que são importantes na compreensão do processo de
aprendizagem do ser humano.
No decorrer deste estudo será possível verificar que cada teórico traz uma forma
de entender como ocorre a aprendizagem. Esse estudo vai te levar a se questionar: “será
que é possível que todas as pessoas consigam aprender do mesmo modo, em quantidade
e qualidade?”, ainda: “será que a aprendizagem acontece de acordo com a idade cronoló-
gica?” e “será que a aprendizagem ocorre de dentro para fora do ser humano?”
Vamos em busca das respostas desses questionamentos e notamos que não po-
demos nos igualar a ninguém, pois cada ser humano possui seus modos de processar a
aprendizagem diferente.
Iniciamos pela teoria de Rogers, que ficou conhecida como humanista por se em-
basar na visão otimista do homem, acreditando que o organismo humano entende o que
é melhor para ele e, para isso, usa dos sentidos aprimorados ao longo da evolução da
espécie.
Em seguida vamos compreender a teoria humanista de Novak, que entendia que
educação pertence a um conjunto de experiências, como: as questões cognitivas, afetivas
e psicomotoras que auxiliam no engrandecimento do ser humano, com isso, apresenta
uma proposta em que a aprendizagem significativa subjaz à integração construtiva entre
pensamentos, sentimentos e ações que conduzem ao crescimento do ser humano.
Outro teórico relevante para este estudo é Gowin. Para o teórico, o ensino se con-
solida quando o significado do material captado pelo aluno é o significado que o docente
almeja que esse material reflita para o aluno, que é o significado compartilhado no meio da
matéria de ensino. Gowin é conhecido por um instrumento heurístico denominado como Vê.
E finalizamos compreendendo a teoria de Freire, este se destacou por trazer uma
pedagogia libertadora, por uma educação política, que entende ser saberes necessários à
prática educativa.
Desejo que no decorrer de seus estudos tenha um momento de reflexão sobre esta
teoria!

UNIDADE III Humanismo e a Educação 49


1 TEORIA DE ROGERS

A corrente teórica de Rogers (1986) ficou conhecida como humanista, que se nor-
teia por meio de uma visão otimista do homem. Acredita que o organismo humano entende
o que é melhor para ele e, para isso, usa dos sentidos aprimorados ao longo da evolução
da espécie. Neste sentido, os princípios de aprendizagem humanista, segundo os pres-
supostos descritos por Rogers, são: “Enquanto para essas o foco está no aprender, quer
enquanto processo, quer enquanto produto, para Rogers, o foco está na pessoa que apren-
de. [...] A sugestão rogeriana não tem a ver com metodologias, mas sim com as atitudes do
professor” (GOULART, 1999, p. 94).
Em sua essência, Rogers (1986) tinha que uma pessoa teria dentro de si mesma
as respostas que precisa e que fossem mais importantes, e que a função do professor seria
de proporcionar maneiras para levar o aluno a encontrar essas respostas. “[...] não pode
ocorrer verdadeira aprendizagem a não ser à medida que o aluno trabalhe sobre problemas
que são reais para ele; tal aprendizagem não pode ser facilitadas e quem ensina não for
autêntico e sincero” (ROGERS, 1959, p. 232).
Diante disso, a teoria rogeriana defende a ideia de que os alunos vão apresentar
sucesso na aprendizagem e serem mais assíduos, interessados, motivados e participati-
vos, como também apresentar criatividade e capacidade em resolver problemas, quando
os professores respeitarem e proporcionarem um clima humano, seja de modo relacional,
afetivo, em um espaço que transmita confiança, facilitando a aprendizagem.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 50


O professor que for capaz de acolher e de aceitar os alunos com calor, de
testemunhar-lhes uma estima sem reserva, e de partilhar com compreensão
e sinceridade os sentimentos de temor, de expectativa e de desânimo que
eles experimentam quando de seu primeiro contato com os novos materiais,
este professor contribuirá amplamente para criar as condições de uma apren-
dizagem autêntica e verdadeira (ROGERS, 1959, p. 233).

Com isso, o professor é o fortalecedor nas interações entre os alunos em um


ambiente acolhedor. Para Rogers (1959), é atribuído ao professor o papel de facilitador
da aprendizagem, ou seja, o professor não é o detentor do conhecimento, e tão pouco o
único a transmiti-lo, mas é quem vai dar o suporte aos alunos no acesso ao conhecimento.
Podemos observar que a proposta dessa teoria é de que os educandos, ao serem devida-
mente estimulados a buscar aprender de forma ativa o seu próprio conhecimento, tenham
consciências de suas constantes transformações.
Outra proposta de Rogers (1959) é de o ensino tem que ter o objetivo desde o
início da educação escolar até o fim da formação educacional do indivíduo, precisa ocorrer
por meio do professor como facilitador da aprendizagem, que prepare o aluno com dinami-
cidade, levando-o a inquietudes para construir novos conhecimentos que são exigências
advindas da sociedade atual. Isso, deve ocorrer pelo desejo da mudança e transformação,
não pela tradição e pela imposição e rigidez.
A facilitação da aprendizagem, para Rogers (1959, p. 105-106),
[...] não repousa em habilidades de ensino do líder, nem de seu saber em
um domínio particular, nem em seu planejamento curricular, nem no uso
que ele faz de recursos audiovisuais. Também não repousa nos materiais
programados que ele utiliza, nem em suas aulas, nem na abundância de
livros, apesar de que cada um desses recursos possa em um certo momento
ser importante. Não, uma verdadeira aprendizagem é condicionada pela pre-
sença de certas atitudes positivas na relação pessoal que se instaura entre
aquele que ‘facilita’ a aprendizagem e aquele que aprende.

A visão de aprendizagem de Rogers (1959) parece atemporal. Para ele, o homem


moderno está inserido em um ambiente que se modifica constantemente, em que um as-
sunto ensinado se torna rapidamente obsoleto. Com isso, preparar a pessoa para ser capaz
de se adaptar às mudanças que ocorrem durante a sua vida, pois, como destaca em seus
estudos, a aprendizagem é contínua. E a vida é um processo de mudança, tudo que vemos
e o que somos é questionável e tudo se mistura. O que nos leva a entender que não existe
uma pessoa que detém o conhecimento para ensinar e aquele que aprende, todos sabem
alguma coisa e todos aprendem alguma coisa com alguém.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 51


SAIBA MAIS
Veja o que Rogers define sobre a autenticidade:
Entre as atitudes positivas essenciais, a mais importante é sem dúvida o caráter ver-
dadeiro, ou a autenticidade. O trabalho será tanto mais eficaz quando se tratar de uma
pessoa sincera e autêntica, que se assume tal como ela é e que estabeleça com o aluno
uma relação verdadeira sem buscar dissimular a si mesma por trás de uma fachada. Eu
entendo, além disso, que os sentimentos presentes na situação em que esta pessoa
realiza a experiência lhe são acessíveis e que são acessíveis à sua consciência; que ela
é capaz de vivê-los, de identificar-se com eles e, eventualmente, de comunicá-los. Isto
significa que ela instaura um diálogo direto com o aluno sobre a base de uma relação
de pessoa a pessoa, que é ela mesma, sem subterfúgio nem censura. O que sugiro,
nesta perspectiva, é que o formador seja verdadeiro em sua relação com os alunos. Ele
pode demonstrar entusiasmo, cansaço, interessar-se por eles, ficar nervoso (ou enco-
lerizado), mostrar-se compreensivo e acolhedor. Assumindo estes sentimentos como
próprios, como seus, não terá necessidade de impô-los aos alunos. Poderá apreciar ou
detestar o trabalho de algum deles sem que isto implique que este aluno, ou seu traba-
lho, seja objetivamente bom ou ruim. O professor apenas exprimirá, no tocante a este
trabalho, um sentimento que ele experimenta pessoalmente. Ele se mostrará assim,
para seus alunos, como uma pessoa autêntica e não a expressão desencarnada de um
programa que ele os faz estudar ou como um vetor estéril de transmissão de conheci-
mentos de uma geração para outra.
Fonte: Rogers (1969, p. 104).

Neste momento dos estudos você deve chegar a compreensão de que as teorias
da aprendizagem apresentaram que, até certo tempo, alguns estudiosos defendiam que a
aprendizagem estava ligada a uma inteligência interior do indivíduo e se medeia por meio
de estruturas que tinha sua ênfase. Para isso, isolava o indivíduo para conseguir mensurar
suas respostas dentro de um contexto específico.
Atualmente, esse pensamento é contestado. Estudiosos defendem que pertence-
mos ao mesmo grupo de seres vivos, mas o que nos difere são nossas diversas culturas.
Ou seja, tudo depende de como interagimos com o meio que vivemos, pois, ao nascer,
recebemos uma carga de cultura, informações advindas de nossos familiares, que nos

UNIDADE III Humanismo e a Educação 52


impulsionam em direção a um objetivo traçado previamente; deixando claro, com isso, que
os tipos de aprendizagens e a forma como aprendemos, ou seja, a nossa inteligência cons-
truída nesses meios, irão conduzir a formação e o desenvolvimento futuro. Para Gardner
(1995, p. 189) “na melhor das hipóteses, as inteligências, são potenciais ou inclinações,
que são realizadas ou não, dependendo do contexto cultural em que são encontradas”.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 53


2 O CONHECIMENTO PARA NOVAK

Joseph D. Novak (1981) é conhecido por ser um colaborador de David Ausubel


e, lançado como, coautor da teoria da aprendizagem significativa. Novak (1981) traz uma
proposta que determina o que é teoria de educação, em que a teoria de aprendizagem
significativa faz parte integrante. Para tanto, tem na educação um conjunto de experiências
cognitivas, afetivas e psicomotoras que eleva o engrandecimento do ser humano, sua pro-
posta é a de que:

Figura 1 – Proposta de Novak

Fonte: o autor.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 54


Figura 2 - Aprendizagem significativa Novak

Fonte: Machado (2015).

Ou seja, a humanidade pensa, sente, age, faz e atua de maneira integral, mas essa
integração pode ser negativa, positiva ou estar de modo intermediário nesse contínuo. Para
Novak (1981), a aprendizagem significativa subjacente à integração positiva, construtiva,
que eleva a maneira, do pensar, do sentir e do agir. Qual for o evento “educativo é, um meio
para mudar significados (pensar) e sentimentos entre o aprendiz e o professor” (NOVAK,
1981, p. 20). Quer dizer, tem-se em uma ação educativa que venha sempre acompanhada
de experiências afetivas.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 55


Figura 3 - A Importância da Educação para Novak

Fonte: Machado (2015).

Trago essa teoria, caro(a) aluno(a), para atender a demanda do novo contexto edu-
cacional, que está sendo envolvido pela nova era de expansão tecnológica e de informação,
em que as palavras de ordem são aprendizagem significativa, mudança conceitual e a
construção do conhecimento.
Tem como princípios que os eventos educativos dependem de cinco elementos,
que são: o aprendiz, o professor, o conhecimento, o contexto e a avaliação.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 56


Figura 4 - Teoria de Novak

Fonte: Machado (2015).

Para que a aprendizagem significativa ocorra, depende do pensamento, sentimento


e ação, que estão ligados de modo positivo ou negativamente no ser humano. Outro ponto
relevante para compreender é que a aprendizagem significativa precisa que o indivíduo
tenha: disposição para aprender, materiais que auxiliem a elevar o seu potencial e conhe-
cimento relevante.
Veja que as atitudes e sentimentos positivos em prol da experiência educativa pos-
suem solidez na aprendizagem significativa e, por sua vez, a facilitam. E o conhecimento
humano se constrói, então, por meio da aprendizagem significativa, subjaz essa construção,
e ainda o conhecimento prévio do aprendiz tem grande relevância e influencia o aprendiz
em uma aprendizagem significativa, como também os significados são contextuais.
Novak (1981) defende que o ensino deve ser um facilitador da aprendizagem
humana. Bem como a avaliação deve ser um recurso de encontrar a aprendizagem signifi-
cativa do sujeito. Porém é preciso que o currículo e o contexto educacional, também sejam
avaliados.
Os Mapas conceituais são recursos que podem auxiliar no desenvolvimento de
uma aprendizagem significativa, pois se utilizam de representações gráficas parecidas com

UNIDADE III Humanismo e a Educação 57


diagramas, que mostram semelhanças entre um conceito e outro dos mais abrangentes até
os menos inclusivos para o ensino e aprendizagem, sendo um recurso didático atraente que
oferece estímulos ao aluno. Em alguns casos, o aluno utiliza como instrumento facilitador
do seu aprendizado, transformando o conteúdo sistematizado em conteúdo significativo.
Ausubel sustenta o ponto de vista de que cada disciplina acadêmica tem uma
estrutura articulada e hierarquicamente organizada de conceitos que constitui
o sistema de informações dessa disciplina. [...] Esses conceitos estruturais
podem ser identificados e ensinados ao estudante, constituindo para ele um
sistema de processamento de informações, um verdadeiro mapa intelectual
que pode ser usado para analisar o domínio particular da disciplina e nela
resolver problemas (MOREIRA; MASINI, 2006, p. 42).

É preciso destacar que o mapa conceitual possui três elementos importantes para
ser respeitado em seu desenvolvimento: os conceitos, nada mais é que manter a regulari-
dade no assunto; as relações são as proposições que possuem dois ou mais conceitos que
se ligam por um verbo; a questão focal, que é o questionamento que deve ser respondido
no decorrer do mapa conceitual (NOVAK; GOWIN, 1996).

Figura 5 - Mapa Conceitual

Fonte: Silva, Claro e Mendes (2017).

Os mapas conceituais não são autoexplicativos. É uma metodologia diferente, que


sai dos longos textos e dá lugar em uma nova forma educativa, que requer explicação de
quem estiver conduzindo e quais objetivos quer alcançar com esse recurso. Com isso, é
possível trabalhar de modo a desenvolver uma aprendizagem significativa.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 58


Figura 6 - Proposições

Fonte: Silva, Claro e Mendes (2017).

As condições para que desenvolva a aprendizagem é trabalhar com trocas de sig-


nificados, sentimentos, pois, para essa teoria, a pessoa só vai estar motivada a aprender
se estiver intimamente relacionada com a experiência no evento educativo. Novak (1997)
destaca que é preciso considerar que as pessoas pensam, sentem e agem, e as teorias de
aprendizagem precisam auxiliar a aplicabilidade no processo de aprendizagem respeitando
as especificidades de cada pessoa, melhorando as maneiras pelas quais as pessoas fazem
isso.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 59


3 A APRENDIZAGEM PARA GOWIN

Gowin (1981) apresenta uma teoria de educação, na qual há um modelo de cono-


tações humanísticas. Para que ocorra o ensino e aprendizagem precisa ter como base o
compartilhar de modo significativo, isso envolve o aluno e o professor, para que se veicule
os conhecimentos com recursos didáticos educativos do currículo. Para que o conhecimen-
to ocorra de maneira eficiente, depende de uma relação triádica entre professor, materiais
educativos e aluno, cujo produto é o compartilhar significados.

Figura 7 - Modelo triádico de Gowin

Fonte: Machado (2015).

Para Gowin (1981), o ensino se consolida quando o aluno interagir com o material
e conseguir compreender o conteúdo que o professor realmente deseja passar, que é o
significado compartilhado no contexto da matéria de ensino.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 60


Vamos compreender o modelo triádico!

Quadro 1 - Modelo triádico de Gowin


− Em uma situação de ensino, o professor atua de maneira intencional para mudar signifi-
cados da experiência do aluno, utilizando materiais educativos do currículo.
− Se o aluno manifesta uma disposição para a aprendizagem significativa, ele atua inten-
cionalmente para captar o significado dos materiais educativos.
− O objetivo é compartilhar significados.
− O professor apresenta ao aluno os significados já compartilhados pela comunidade a
respeito dos materiais educativos do currículo.
− O aluno, por sua vez, deve devolver ao professor os significados que captou.
− Se o compartilhar significados não é alcançado, o professor deve, outra vez, apresentar,
de outro modo, os significados aceitos no contexto da matéria de ensino.
− O aluno, de alguma maneira, deve externalizar, novamente, os significados que captou.
− O processo pode ser mais ou menos longo, mas o objetivo é sempre o de compartilhar
significados.
− Professor e aluno têm responsabilidades distintas nesse processo.
− O professor é responsável por verificar se os significados que o aluno capta são aqueles
compartilhados pela comunidade de usuários.
− O aluno é responsável por verificar se os significados que captou são aqueles que o pro-
fessor pretendia que ele captasse, ou seja, os significados compartilhados no contexto da
matéria de ensino.
− Se é alcançado o compartilhar significados, o aluno está pronto para decidir se quer
aprender significativamente ou não.
− O ensino requer reciprocidade de responsabilidades, porém, aprender sig-
nificativamente é uma responsabilidade do aluno que não pode ser compartilhada pelo
professor. − Para aprender significativamente, o aluno tem que manifestar uma disposição
para relacionar, de maneira não-arbitrária e não-literal, à sua estrutura cognitiva, os signifi-
cados que capta dos materiais educativos, potencialmente significativos, do currículo.
Fonte: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4198621/mod_resource/content/4/Moreira-MC-2013.pdf

Podemos notar que Gowin (1981) apresenta um passo anterior à aprendizagem


significativa, que é o captar significados. E se refletir sobre o que o autor defende, vamos
perceber que em um momento de ensino e aprendizagem o professor deseja que o aluno
compreenda os significados trabalhados no componente curricular abordado nos materiais
de ensino. Com isso, parece que aprender significativamente é responsabilidade exclusiva
do aprendiz.
Foi em meados da década 70 que Gowin (1981) deu início a essa nova maneira de
construir e disseminar o conhecimento científico, e apresenta o diagrama V, em que apare-

UNIDADE III Humanismo e a Educação 61


cem os elementos que estruturam o processo de produção do conhecimento. O diagrama
traz duas formas de olhar o conhecimento científico: a conceptual e a metodológica.
Antes do Vê, Gowin (1981) destaca a necessidade de atender a um conjunto de
cinco questões para analisar conhecimentos documentados de Gowin e Alvarez.

Figura 8 - Cinco questões de Gowin.

Fonte: Gowin e Alvarez (2005, p. 88).

Essas questões, conhecidas como cinco questões de Gowin, são um modo mais
simples, porém não tão completo, de compreender a produção de conhecimentos. Elas
nasceram em virtude do Vê.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 62


Figura 9 - O diagrama V, Vê epistemológico, Vê do conhecimento, Vê heurístico, ou Vê de Gowin e seus
componentes

Fonte: Moreira (2007).

O diagrama V traz um formato de um V e seus componentes. Que podemos acom-


panhar que o lado esquerdo é designado ao domínio teórico e conceitual do processo de
produção do conhecimento: que estabelece os conceitos, que podem ser criados princípios
e leis que se organizam em teorias que têm sistemas de crenças ou filosofias subjacentes.
É o lado esquerdo do Vê que corresponde ao pensar.
Na base encontram-se os objetos a serem estudados ou eventos que ocorrem de
modo natural ou que se faz acontecer a fim de fazer registros pelos quais os fenômenos de
interesse são analisados.
Do lado direito do Vê está o domínio metodológico na produção de conhecimento.
Que é possível compreender que a partir dos registros dos eventos pode-se alcançar dados,
por meio de transformações como atribuição de parâmetros, índices, coeficientes; e esses

UNIDADE III Humanismo e a Educação 63


dados estão propensos a sofrerem novas mudanças metodológicas, como gráficos, corre-
lações, categorizações, que são base para a organização de asserções de conhecimento.
No entanto, é observado que o lado direito do Vê se localiza então o fazer. Onde
há uma constante interação entre os dois lados em que, tudo o que ocorre no lado metodo-
lógico é orientado por conceitos, princípios, teorias e filosofias do lado teórico-conceitual.

REFLITA
Mas qual a relação entre o diagrama V e a aprendizagem significativa?
Fonte: a autora.

Primeiramente, vamos relembrar o que é a aprendizagem significativa. É aquela


em que os novos conhecimentos ganham significado por interação com conhecimentos
prévios especificamente relevantes. Em que a efetivação da aprendizagem não ocorre ao
pé-da-letra, o aprendiz também tem a sua visão e atribui significados idiossincráticos aos
novos conhecimentos. Já o professor, tem a função de mediar, negociar significados, para
que em um momento de ensino o discente consiga compartilhar os significados já aceitos.

REFLITA
Mas se as condições para que ocorra a aprendizagem significativa está nos materiais
com níveis potencialmente significativos e o aluno tem uma predisposição para apren-
der, se essas condições estiverem perfeitamente alinhadas, e se o professor trabalhar
os conteúdos de modo a mediar os conhecimentos e, ainda, se a aprendizagem signifi-
cativa, de fato, acontecer. Então, como podemos notar a importância dos diagramas V
nesse processo?
Fonte: a autora.

Precisamos entender que não é suficiente o aluno aprender significativamente


os conceitos, as definições, as metáforas de um determinado componente curricular. É
preciso ainda compreender que tudo isso faz parte das habilidades humanas, é invenção
do homem. E é nesse momento que se faz valer o diagrama V e também conhecido como

UNIDADE III Humanismo e a Educação 64


Vê epistemológico, que quer dizer: um instrumento heurístico para auxiliar a compreender o
processo de produção de conhecimento. Ou seja, ao utilizar o diagrama V, o aluno terá que
identificar os conceitos, as teorias, os registros e as metodologias utilizados na produção de
um determinado conhecimento, pois o conhecimento humano geralmente está internaliza-
do e são os artigos, livros, ensaios, teses, dissertações e outras formas de documentá-lo.
Contudo é um processo que conta com a interação social e o papel mediador do professor
para que se estabeleça.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 65


4 O ENSINO E APRENDIZAGEM PARA FREIRE

Você já ouviu falar da Pedagogia da autonomia? Ela é defendida por Freire (1996)
e se destacou por defender uma pedagogia libertadora, por entender que as pessoas só
podem mudar por meio de uma educação que tenha, entre outras, fontes a política. Freire
(1996) define os princípios da docência como sendo:

Figura 10 - Os princípios da docência segundo Freire

Fonte: Freire (1996, p. 23).

UNIDADE III Humanismo e a Educação 66


Ou seja, primeiramente quem ensina está propenso em aprender e, ao mesmo
tempo, quem aprende ensina ao aprender; pois ensinar não existe sem aprender e vice-
-versa. Com isso, percebemos que quando vivemos a autenticidade e nos envolvemos com
a prática do ensino e aprendizagem, da experiência de modo integral, diretiva, política,
ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, entendemos que estamos ensinando
e aprendendo ao mesmo tempo, e assim nós construímos, como seres humanos e profis-
sionais. Esse princípio traz outros, veja:
Ensinar exige rigorosidade metódica: reforçar no educando a capacidade crí-
tica, a curiosidade, a insubmissão; trabalhar com ele a rigorosidade metódica
com que deve se aproximar dos objetivos cognoscíveis; evidenciar-lhe que
é tão fundamental adquirir, dominar, reconstruir, o conhecimento existente
quanto estar aberto e apto à produção de conhecimento ainda não existente.
Ensinar exige criticidade: na verdade, a curiosidade ingênua que, ‘desarma-
da’, está associada ao saber do senso comum, é a mesma curiosidade que,
criticizando-se, aproximando-se, de forma cada vez mais metodicamente ri-
gorosa, do objeto cognoscível, se torna “curiosidade epistemológica”. Ensinar
exige reflexão sobre a prática: na formação permanente dos professores, o
momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática; é pensando
criticamente sobre a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
próxima prática (FREIRE, 1996, p. 28-39).

Freire (1996) entendia que a formação docente não deve ser dissociada ou alheia
do ser humano, ou do que é ser humano, pois, de um lado, está o que designa o exercício
da criticidade que implica a promoção da curiosidade sem o conhecimento científico para
um interesse epistemológico e, de outro, “sem o reconhecimento do valor das emoções, da
sensibilidade, da efetividade, da intuição ou adivinhação” (FREIRE, 1996, p. 45).
O segundo princípio da pedagogia da autonomia é de entender que ensinar não é
transferir conhecimento, mas levar o aluno por meio de várias possibilidades, compreender
a sua própria produção ou construção de conhecimentos. Ou seja, “[...] o educador que,
ensinando qualquer matéria, ‘castra’ a curiosidade do educando em nome da eficácia da
memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua
capacidade de aventurar-se. Não forma, domestica” (FREIRE, 1996, p. 56).
Podemos notar que o terceiro princípio geral da pedagogia freireana destaca que
ensinar é uma especificidade humana, e que está subordinado a outros, tais como Freire
(1996):
● Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade.
● Ensinar exige comprometimento.
● Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no
mundo.
● Ensinar exige liberdade e autoridade.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 67


● Ensinar exige tomada consciente de decisões.
● Ensinar exige saber escutar.
● Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica.
● Ensinar exige disponibilidade para o diálogo.
● Ensinar exige querer bem aos educandos.

Diante disso, podemos notar que, para Freire (1996), na formação do professor
necessita ocorrer por meio dos valores, das emoções, da sensibilidade, da afetividade,
da intuição ou adivinhação. E nunca parar, como se já soubesse o suficiente, mas sim, se
submeter a novos desafios.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 68


CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste estudo foi possível notar a construção do conhecimento por meio
das teorias humanistas dos principais teóricos que a defendem. O enfoque humanista está
mais embasado no aluno e no professor como figuras relevantes no processo da aprendiza-
gem, e não estão preocupados com as técnicas de ensino. A teoria humanista está voltada
para o crescimento pessoal do aluno, no professor como facilitador da aprendizagem signi-
ficante e na interação pessoal.
Diante disso, uma vez que se adota a filosofia humanista, vamos ter um modelo
embasado no aprender a aprender como objetivo por meio de uma metodologia aberta,
flexível, interativa e negociada. Outra característica é que se difere de outras teorias, justa-
mente por valorizar muito mais a concepção de ensino e aprendizagem do que no uso de
uma ou outra técnica, recursos entre outros para o ensino.
Mas foi possível perceber que o recurso, como mapas conceituais, é utilizando
como algo facilitador do ensino tanto para o professor, como para o aluno que pode traba-
lhar em pequenos grupos, e o professor em aulas expositivas. Mesmo sendo tratado dentro
da teoria humanista, é um recurso que pode ser utilizado em outra qualquer teoria.

UNIDADE III Humanismo e a Educação 69


LEITURA COMPLEMENTAR

A EDUCAÇÃO EM PAULO FREIRE COMO PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO

Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), pedagogo, filósofo, escritor, “cidadão do


mundo”. Homem que, como afirmar a em dedicatória na obra Pedagogia do Oprimido,
tributou sua vida aos “Esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim
descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam” (FREIRE, 1983a, p. 17).
Acima de tudo foi um educador e deixa um legado de mestre: o que um educador
pode deixar como legado? Em primeiro lugar, pode deixar uma vida, uma biografia. E Paulo
nos encantou, em vida, com sua ternura, doçura, carisma e coerência, compromisso e
seriedade. Suas palavras e ações foram de luta por um mundo “menos feio, malvado e de-
sumano”. Ao lado do amor e da esperança, ele também nos deixa um legado de indignação
diante da injustiça (GADOTTI, 2001, p. 52).
A amplitude da obra freireana, bem como sua contribuição em diferentes contex-
tos culturais e em diferentes campos do conhecimento, tem sido destaque em inúmeras
publicações efetivadas por estudiosos e intérpretes de Paulo Freire, cognominado como
um dos maiores educadores do século XX. Portanto, urge revisitá-lo pela sua “[...] valiosa
contribuição pedagógica [...] iluminando a necessidade de desenvolver uma ‘pedagogia
ética’ e ‘utópica’, na perspectiva da superação de situações limitadoras” (ECCO, 2010, p.
79).
Indubitavelmente, é da incumbência docente, além de cuidar para que o aluno
aprenda, o cuidado antropológico, para que o humano, no homem e na mulher, possa ma-
nifestar-se. Uma mensagem deixada por um prisioneiro de campo de concentração nazista,
também, registrada por Gadotti, 2003, p. 13), suplica aos professores que “[...] ajudem seus
alunos a tornarem-se humanos. [E conclui:] ler, escrever e aritmética só são importantes
para fazer nossas crianças mais humanas”.
Considerando os apontamentos registrados anteriormente, reafirmamos que “[...]
cabe, também, à educação a responsabilidade de abrir as portas da mente e do coração
e de apontar horizontes de construção partilhada de sociedades humanas mais humani-
zadas” (BRANDÃO, 2002, p. 22). E, neste particular, inegavelmente, o legado freireano,
o pensamento pedagógico de Paulo Freire aponta para a educação humanizadora, pois
como afirma Gadotti (1997, p. 07): “Paulo nos encantou com sua ternura [...]. Suas palavras

UNIDADE III Humanismo e a Educação 70


e ações foram palavras e ações de luta por um mundo menos feio, menos malvado, menos
desumano”.
Com Freire reafirma-se categoricamente a educação como processo de humani-
zação. Há que se considerar, inicialmente, que educação é um vocábulo complexo, que
induz a múltiplos conceitos, significados e sentidos. Para muitos, por exemplo, refere-se ao
trabalho desenvolvido no âmbito institucional, mais precisamente em escolas, faculdades,
universidades e instituições similares, reduzindo o conceito ao processo ensino-aprendiza-
gem.
Para outros, educação relaciona-se ao nível de civilidade, cortesia, urbanidade,
bem como à capacidade de socialização manifesta por determinado indivíduo. Nessa
perspectiva, o significado do termo em foco, restringe-se aos elementos da subjetividade
individual.
A multiplicidade conceitual da palavra educação revela, também, sua ambigui-
dade, verificada na sua origem etimológica, pois tanto pode ter derivado do verbo latino
“educare”, como de outro verbo, do mesmo idioma, “educere”, ambos com significados
distintos. “Educare”, considerando o sentido original da palavra, significa criar, nutrir, orien-
tar, ensinar, treinar, conduzir o indivíduo de um ponto onde ele se encontra para outro que
se deseja alcançar. Refere-se à ação do docente sobre o discente, cujo objetivo centra-
se no desenvolvimento mental e moral do educando, preparando-o, mediante instrução
sistemática, para inserir-se na sociedade. Observa-se que, nesse particular, a iniciativa
educacional, cabe ao educador que fornece os elementos necessários para o educando, a
fim de que possa desenvolver-se, caracterizando um processo de conotação exógena, isto
é, de fora para dentro.
E o educando assemelha-se a um receptáculo de informações, orientações... for-
necidas pelo educador. Deste modo, a relação pedagógica centra-se no ensinar (ROMÃO,
2008b). “Educere”, por sua vez, etimologicamente, significa extrair, fazer nascer, tirar de
provocar a atualização de algo latente, promover o surgimento, de dentro para fora, das po-
tencialidades que o indivíduo possui. É interessante observar que esta significação reporta
se à maiêutica socrática que fazia a “parturição” de ideias. E considerando essa derivação,
o verbo educar contém uma forte conotação puericêntrica. Tendo em vista o processo
educacional, a iniciativa, nessa situação, cabe mais ao educando do que ao educador, uma
vez que nesse vocábulo, predomina o “auto”, o “endo”, o interno. Assim, a centralidade da
relação pedagógica consolida-se e se configura no aprender (e não no ensinar), a partir

UNIDADE III Humanismo e a Educação 71


de metodologias ativas, pois o educando é concebido como um ser de potencialidades
(ROMÃO, 2008b).
Educação e humanização são termos indicotomizáveis, pois educar, em síntese,
objetiva formar e “transformar” seres humanos, valorizando processos de mudança dos
sujeitos, atualizando suas potencialidades, tornando-os humanos. Ademais, concebemos
o ato pedagógico como um ato de educar; e o trabalho do educador efetiva-se com e entre
seres humanos.
E, nesse sentido, compreendemos que uma educação autêntica promove a digni-
dade das pessoas, esperançosa de que vivam humanamente, isto é, que sejam capazes
de fazerem se, construírem-se, inventarem-se, desenvolverem-se, pois não nascemos
prontos, acabados, satisfeitos. E essa condição, do homem e da mulher de nascerem não
feitos, exige que, ambos, aprendam a ser gente, a constituírem-se humanos.
Evidentemente, “apostamos” na educação como a real possibilidade (mas não
a única) para suscitar processos de humanização, pois sem educação autenticamente
verdadeira, isto é, que prime pela formação e não pelo treinamento, é muito custoso romper
e superar processos desumanizantes. Asseguramos, outrossim, que educar é promover o
outro. E promover o outro é uma tarefa humanizadora.
O ser humano tende à educação. Educar-se é um imperativo ontológico, pois
pertence à sua própria natureza e se empenha em concretizar a potencialidade e a pos-
sibilidade, que lhe é peculiar, do “vir-a-ser” humano, uma vez que nasce inacabado, não
pronto. O educar e seus processos são condições para a hominização, pois ao nascer, o
ser humano, não passa de um projeto.

Fonte: Ecco e Nogaro (2015).

UNIDADE III Humanismo e a Educação 72


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Tornar-se pessoa
• Autor: Carl Ransom Rogers
• Editora. WMF Martins Fontes
• Edição: 8ª tiragem, 2019
• Sinopse: Obra fundamental para quem deseja conhecer a teoria
humanista, apresentada pelo seu principal representante e cria-
dor. O autor faz uma retrospectiva enquanto explica sua técnica
psicoterápica, MAS TAMBÉM SUA VISÃO DE MUNDO E DE UMA
ÉPOCA, COM IMPACTOS ATÉ OS DIAS DE HOJE. Além de ser
interessante para psicólogos também deve agradar leigos que
apreciam psicologia já que o autor tem escrita acessível. Penso
que Rogers tinha habilidade literária, o que não é muito comum
em alguns autores de Psicologia, que QUASE SEMPRE tornam
as obras enfadonhas cheias de jargões e pensamentos de difícil
entendimento. LEITURA INDICADA PARA TODOS QUE TEM
CURIOSIDADE SOBRE A ALMA HUMANA.

FILME/VÍDEO
• Título: O clube do imperador
• Ano: 2002
• Sinopse: William Hundert é professor de uma escola preparatória
para rapazes que recebe como alunos a classe alta da sociedade
americana. Lá, Hundert dá lições de moral para serem aprendidas
por meio do estudo de filósofos gregos e romanos. Sedgewick Bell,
o filho de um influente senador, entra em choque com as posições
de Hundert, questionando a importância do que é ensinado. Po-
rém, apesar desta rebeldia, Hundert considera o aluno inteligente
e acha que pode colocá-lo no caminho certo.

WEB
Diagramas V de Gowin
• O vídeo é bem didático e explica as funcionalidades do uso do
diagrama V de Gowin. É importante que assista, pois é mais uma
forma de analisar a construção do conhecimento do aluno.
• Link do site. https://www.youtube.com/watch?v=W-mUScbWvf8

UNIDADE III Humanismo e a Educação 73


UNIDADE IV
Teoria Histórico-Cultural e a
Construção do Conhecimento
Professora Mestre Sonia Maria de Campos

Plano de Estudo:
● • Periodização do desenvolvimento psíquico
● • Práticas educativas à luz da concepção humanizadora de homem
● • Psicologia histórico-cultural em diálogo com a pedagogia
● • A aprendizagem na concepção da teoria histórico-cultural

Objetivos de Aprendizagem:
● Compreender os processos mentais e o psiquismo humano.
● Compreender os fundamentos científicos da educação e da prática pedagógica.
● Analisar as contribuições da psicologia histórico-cultural com a educação.
● Entender os processos cognitivos e as ações por meio de uma teoria histórico-cultural.

74
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), no decorrer dos estudos vamos notando que o desenvolvimento


cognitivo não pode ser compreendido sem referência ao contexto social, histórico e cultural
que ocorre. Esse é o primeiro destacar da pedagogia e psicologia histórico-social que va-
mos abordar nesta unidade.
No primeiro momento vamos analisar a Periodização do desenvolvimento psíquico
estabelecido por Freud, que define as zonas do funcionamento mental do ser humano.
Na sequência trataremos das Práticas educativas à luz da concepção humaniza-
dora de homem, que destaca que, para o humanismo, a educação não deveria se limitar
aos saberes necessários para um exercício profissional específico. O humanismo aparece
inserido em quase todas as concepções pedagógicas do século XX e que se faz presente
em muitas ações educacionais.
Seguindo nossos estudos vamos buscar compreender a Psicologia histórico-cultu-
ral em diálogo com a pedagogia. Em que trata dos processos mentais e entende o indivíduo
a partir de seus processos sociais. E que o desenvolvimento desses processos é mediado
por instrumentos e signos construídos social, histórica e culturalmente no meio social em
que ele está situado.
E finalizaremos com a aprendizagem na concepção da teoria histórico-cultural, que
não se trata, no entanto, de tão somente considerar o meio social como uma variável im-
portante no desenvolvimento cognitivo, como muitos pensam ser. É abordagem embasada
nos estudos de muitos autores, entre eles Vygotsky, que defende que o desenvolvimento
cognitivo do ser humano é a conversão de relações sociais em funções mentais.
Diante disso, temos um desafio para enfrentar juntos!
E vamos lá compreender as ideias de que o ser humano não se desenvolve cogni-
tivamente e se torna capaz de socializar sozinho, mas sim por meio da socialização que se
dá o desenvolvimento dos processos mentais superiores.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 75


1 PERIODIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO

A prática de Freud (1976) traz para a Psicologia uma grande contribuição com a
recuperação da importância da afetividade. Freud acreditava que a personalidade surgia
após a resolução de conflitos inconscientes e das crises do desenvolvimento. Freud distin-
guiu três zonas do funcionamento mental:

Figura 1 - Zonas do funcionamento mental

Fonte: a autora.

O consciente assume um ponto de vista ideológico em relação a alguma coisa:


estava consciente do problema ambiental. O subconsciente se refere a qualquer tipo de

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 76


conteúdo da mente existente ou operante fora do estado da consciência. Enquanto no
inconsciente aparecem conteúdos disfarçados nos sonhos, nos atos falhos, nos sintomas,
mas nunca em sua forma pura.
Freud (1976) formula a Segunda Teoria do Aparelho Psíquico, introduzindo os
seguintes conceitos.

Figura 2 - Conceito da Segunda Teoria do Aparelho Psíquico

Fonte: a autora.

Referindo-se aos elementos ou instâncias que compõem o “sistema da persona-


lidade”, o id se constitui como o reservatório da energia psíquica em que se localizam as
pulsões da vida e a morte, é regido pelo princípio do prazer.
O ego administra a relação do indivíduo com o meio, em que os conteúdos mentais
conscientes e subconscientes são acessíveis voluntariamente pelo sujeito, tornando pos-
sível saber o que está sendo pensado ou sentido a respeito dos conteúdos que estão em
sua consciência, ou seja, sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as
exigências da realidade e as ordens do superego.
O superego vai funcionar como censura aos conteúdos do id. Ele origina-se com
o complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade.
Essa instância é constituída a partir do moralismo e das repressões no meio social em que
vive.
Freud (1976) buscou relacionar a sexualidade com a educação, focalizando a
psicanálise como uma ferramenta estimuladora de práticas intelectuais. A teoria freudiana
está totalmente sustentada na estrutura da mente que concebemos por inconsciente, atos

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 77


que estão dentro do inconsciente humano, pois é nesse local que está o conflito entre o
superego e o id.
A partir dessas formulações propostas por Freud (1976), muitos trabalhos foram
se desenvolvendo no sentido da compreensão do ser humano. No campo da educação,
os conceitos propostos são largamente utilizados para a compreensão e intervenção sobre
as dificuldades de aprendizagem. Para Freud (1925, p. 308), “o trabalho da Educação é
algo sui generis: não deve ser confundido com a influência psicanalítica e não pode ser
substituído por ela”.
Além das questões relativas à “dificuldades de aprendizagem”, a psicanálise tam-
bém trata sobre outros conceitos importantes na educação, como o processo de aprendiza-
gem, processo de transferência e contratransferência, mecanismos de defesa, sexualidade,
entre outros aspectos.

Figura 3 - Estágios Do Desenvolvimento Psicossexual

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/psicologia-virtual-realidade-psique-4440671/

Cada evento psíquico é normalmente determinado por outros que o precederam,


essa hipótese é base para o entendimento do aparelho psíquico. O impulso é considerado
como um constituinte psíquico, que produz um estado de tensão quando em ação, os ins-
tintos são a força propulsora ou motivadora da personalidade.
Para Freud (1914), são as representações mentais dos estímulos internos (como
a fome) que motivam a personalidade do comportamento. A forma de energia, por meio da
qual se manifestam os instintos de vida, pode ser chamada de libido que, segundo Freud
(1914), é a energia dos instintos sexuais e só deles, que direciona o indivíduo na busca de
pensamentos e comportamentos prazerosos.
Segundo Lacan (1998, p. 851), a pulsão, tal como é construída por Freud (1914) “a
partir da experiência do inconsciente, proíbe ao pensamento psicologizante esse recurso

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 78


ao instinto com ele mascara sua ignorância, através de uma suposição de uma moral na
natureza”.
O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional.
A pressão é o fator motor da pulsão, a quantidade de força ou exigência
do trabalho que ela representa. A rigor, não existe pulsão passiva, apenas
pulsões cuja finalidade é passiva. Toda pulsão é ativa e a pressão é a própria
atividade da pulsão. Uma zona erógena é uma parte do corpo que recebe
estímulos e tem como consequência uma sensação de prazer (FREUD,
1976, p. 214).

Figura 4 - O desenvolvimento Psicossexual de Freud

Fonte: a autora.

Todas as crianças passam por cinco estágios de desenvolvimento psicossexual,


nos quais o instinto sexual foca em diferentes zonas erógenas do corpo. Veja a seguir:

Figura 5 - Fase do desenvolvimento Psicossexual estabelecido por Freud

Fonte: a autora.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 79


Quadro 1 - Fase do desenvolvimento Psicossexual estabelecido por Freud (1915) de modo especificado

Fonte: USP (2018).

É preciso observar que para algumas pessoas é doloroso ou até não é possível
superar um estágio para partir a outro. E isso pode estar relacionado às necessidades do
sujeito em desenvolvimento não terem sido supridas de modo adequado e, nesse caso,
ocorre a frustração. Ainda pode ocorrer de as necessidades serem tão bem satisfeitas
que o indivíduo reluta em deixar para trás os benefícios psicológicos de um dado estágio,
ocorrendo, assim, o excesso.
E tanto a frustração quanto o excesso (ou alguma combinação dos dois) podem
ocasionar a fixação em um estágio psicossexual particular (ZIMERMAN, 2001).

SAIBA MAIS
A fixação está relacionada à noção teórica que uma parcela da libido do sujeito é investi-
da permanentemente em um (ou mais) estágio particular de seu desenvolvimento. Com
isso, é possível notar que a pessoa vai manifestar comportamentos característicos da
infância.
Fonte: a autora.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 80


2 PRÁTICAS EDUCATIVAS À LUZ DA CONCEPÇÃO HUMANIZADORA DE HOMEM

Ao final do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX, a psicologia


passou a ter o status de ciência, desenvolvendo propostas metodológicas junto às diversas
teorias sobre o funcionamento da mente e o comportamento humano.

Figura 6 - Mapa conceitual para o humanismo

Fonte: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4198621/mod_resource/content/4/Moreira-MC-2013.pdf

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 81


Para o humanismo, a educação não deveria se limitar aos saberes necessários
para um exercício profissional específico. O humanismo aparece inserido em quase todas
as concepções pedagógicas do século XX (FREIRE, 1996).
Mizukami (1986) identifica dois enfoques tipicamente humanistas, predominantes
principalmente no Brasil. O ensino nessa abordagem é totalmente centrado no aluno, que
aparece como uma pessoa situada no mundo e em processo constante de descoberta. O
professor não ensina: apenas cria condições para que os alunos aprendam. O papel do
professor se assemelha ao do terapeuta e o do aluno ao do cliente.
Freire (1996) destaca em seus estudos alguns princípios importantes em relação a
atuação do professor. Um deles é o de que ensinar é uma especificidade humana, em que
diz:
Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade. - Ensinar
exige comprometimento. - Ensinar exige compreender que a educação é uma
forma de intervenção no mundo. - Ensinar exige liberdade e autoridade. -
Ensinar exige tomada consciente de decisões. - Ensinar exige saber escutar.
- Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica. - Ensinar exige
disponibilidade para o diálogo. - Ensinar exige querer bem aos educandos
(FREIRE, 1996, p. 91-146).

Isso quer dizer que a tarefa do professor é facilitar o aprendizado que o aluno
conduz ao seu modo. Rogers (1971) propunha ainda uma aprendizagem significativa,
que ocorre quando o conteúdo é percebido como relevante pelo aluno. Desse modo, as
experiências pessoais e subjetivas são fundamentais para o conhecimento no processo de
ensino e aprendizagem.

Figura 7 - Processo de ensino e aprendizagem humanista

Fonte: a autora.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 82


Rogers (1971 p. 157) destaca que “Seres humanos têm uma potencialidade natural
para aprender”, as pessoas já nascem predestinadas a aprender, pois o educado é aquele
indivíduo que aprendeu a aprender, que aprendeu a se adaptar e mudar, que aprendeu que
não existe o fim da busca pelo conhecimento, e que só o processo de busca do conheci-
mento provê base para segurança.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 83


3 PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL EM DIÁLOGO COM A PEDAGOGIA

A educação representa, desde os primórdios e principalmente na atualidade, o


recurso mais precioso numa sociedade, fator reforçado no mundo globalizado em que
vivemos. As gerações precedentes a nós fizeram muitos esforços para educar as novas
gerações. Desse modo, a Psicologia da Educação constitui um campo do conhecimento
que historicamente vem atuando no sentido de subsidiar a prática educacional em todos os
contextos nos quais o homem torna-se humano.

SAIBA MAIS
O interesse pela educação, suas condições e seus problemas foi sempre uma constante
entre filósofos, políticos, educadores e psicólogos.
Fonte: a autora.

A Psicologia Sócio-histórica de Vygotsky (1988) abre um campo de debate vasto ao


propor que se discuta a aprendizagem do ponto de vista de três teorias:

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 84


Figura 8 - As teorias de aprendizagem para Vygotsky

Fonte: a autora

Portanto a teoria Sócio-histórica gira em torno da compreensão quanto à relação


entre desenvolvimento e aprendizagem. A relação desenvolvimento e aprendizagem não é
abordada e discutida somente pela Teoria Sócio-histórica, mas também pela Psicogênese
da Pessoa Completa (WALLON, 1995) e a Epistemologia Genética (PIAGET, 1967) também
tratam sobre tais processos e suas possíveis vinculações.
Bock, Furtado e Teixeira (2003) relacionam alguns pontos da concepção das teorias
de Vygotsky (1988) que deixaram sem ser concluidos:
● Os fenômenos devem ser estudados em movimento e compreendidos como em
permanente transformação.
● Na Educação, isso significa estudar o fenômeno em sua origem e no curso do
seu desenvolvimento.
● A história dos fenômenos é caracterizada por mudanças qualitativas e quanti-
tativas.
● As mudanças na “natureza do homem” são produzidas por mudanças na vida
material e na sociedade.
● As mudanças que ocorrem em cada um de nós têm suas raízes na sociedade
e na cultura – o sistema de signos (a linguagem, a escrita, o sistema de núme-
ros) é pensado como um sistema de instrumentos, os quais foram criados pela
sociedade, ao longo de sua história.
● Esse sistema muda a forma social e o nível de desenvolvimento cultural da hu-
manidade. A internalização desses signos provoca mudanças no homem. Não
há como aprender e apreender o mundo se não tivermos o outro (a mediação)
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2003).

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 85


A aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. Assim, a relação do
indivíduo com o mundo está sempre mediada pelo outro, aquele que nos fornece os signi-
ficados que nos permitem pensar o mundo a nossa volta.
Vygotsky (2000, p. 282-283) afirma que
O centro da atenção na idade escolar é ocupado pela transição das funções
inferiores de atenção e de memória para as funções superiores de atenção
arbitrária e memória lógica. Isto se deve ao fato de que a intelectualização
das funções e a assimilação destas são dois momentos de um mesmo pro-
cesso de transição para as funções psicológicas superiores. Dominamos uma
função na medida em que ela se intelectualiza. A arbitrariedade na atividade
de alguma função sempre é o reverso da sua tomada de consciência. Dizer
que a memória se intelectualiza na idade escolar é exatamente o mesmo que
dizer que surge a atenção arbitrária; dizer que atenção na idade escolar se
torna arbitrária é o mesmo que dizer, segundo justa observação de Blonski,
que ela depende cada vez mais dos pensamentos, isto é, do intelecto. [...]
Observe-se, pois, que o campo da atenção e da memória o aluno escolar não
só descobre a capacidade para a tomada de consciência e a arbitrariedade
mas também que o desenvolvimento dessa capacidade é o que constitui o
conteúdo principal de toda a idade escolar.

Com isso, podemos entender que não há um desenvolvimento pronto e previs-


to dentro de nós que vai se atualizando conforme o tempo passa ou na medida em que
recebemos influências externas. O desenvolvimento não é pensado como algo natural,
nem mesmo como produto exclusivo da maturação do organismo, mas como um processo
no qual estão presentes a maturação do organismo, o contato com a cultura produzida
pela humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem (BOCK; FURTADO;
TEIXEIRA, 2003).
“Neste momento, aparece o “outro” como alguém fundamental, pois é quem nos
orienta no processo de apropriação da cultura. Ÿ Seus argumentos levam a educação
especial ao contexto social, evitando isolamento” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2003, p.
162).
Para Vygotsky (1989, p. 61),
A humanidade sempre há sonhado como um milagre religioso: que os cegos
vejam e os mudos falem. É provável, que a humanidade triunfe sobre a ce-
gueira, a surdez e a deficiência mental. Porém, a vencerá no plano social e
pedagógico muito antes que no plano biológico e medicinal. É possível que
não esteja longe o tempo em que a pedagogia se envergonhe do próprio
conceito de “criança com defeito”. O surdo falante e o trabalhador cego par-
ticipantes da vida geral em toda sua plenitude não sentirão sua deficiência e
não darão motivo para que outros a sintam. Está em nossas mãos o desapa-
recimento das condições sociais de existência destes defeitos, ainda que o
cego continue sendo cego e o surdo continue sendo surdo.

Neste sentido, de tentar minimizar as dificuldades encontradas no desenvolvimento


de aprendizagem do ser humano, é que podemos concordar com Vygotsky (1989), pois o
indivíduo não é um ser isolado dos fatos sociais e nem de suas limitações, mas um sujeito

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 86


sociocultural que se constitui, por meio da mediação da linguagem que é, por sua vez,
construto sociocultural.
Assim, vamos notando que a concepção vigotskiana defende que o indivíduo preci-
sa do ambiente social que é o que vai possibilitá-lo e levá-lo a se apropriar e assimilar por
meio dos recursos sígnicos que são os responsáveis pela mediação das ações humanas,
disponíveis na cultura (VYGOTSKY, 1989)
Se o desenvolvimento é visto como um acontecimento de natureza individual,
mesmo admitindo que ocorre em interação com o meio, a inserção social do
indivíduo constitui realmente um problema, pois implica na adaptação das
condutas individuais às práticas sociais, consideradas, em tese, fenômenos
de natureza diferente. Dessa maneira, a socialização assemelha-se ao fe-
nômeno migratório humano que exige uma adequação das características
sociais e culturais do imigrante às condições do novo meio. Vigotski inverte a
direção do vetor na relação indivíduo-sociedade. No lugar de nos perguntar
como a criança se comporta no meio social, diz ele, devemos perguntar como
o meio social age na criança para criar nela as funções psicológicas superio-
res de origem e natureza sociais (PINO, 2000, p. 52).

Sendo assim, é pelo movimento ambiente social e os sígnicos, que cada indivíduo
se torna um ser humano. Ou seja, o uso de signos como ferramenta mediadoras, auxiliares
na composição do funcionamento psicológico humano, muda a atividade natural que são
as funções psicológicas elementares, em prática social e, consequentemente, surgem
as formas complexas de pensamento e de comportamento. Em que constrói se nesse
movimento, não somente a cognição tipicamente humana, mas a própria personalidade
(VYGOTSKY, 1989).

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 87


4 A APRENDIZAGEM NA CONCEPÇÃO DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL

A aprendizagem é um processo fundamental para a vida humana, portanto, se tor-


nou alvo de preocupação da humanidade. Muitos cientistas nos laboratórios de Psicologia
das universidades pesquisaram, segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), o estudo da
subjetividade que vem organizando meios para tornar o processo de aprendizagem mais
eficiente. Aí reside a justificativa para a importância que se dá ao estudo da aprendizagem
para a psicologia e para a educação.
A natureza do ensino e da aprendizagem está relacionada à maneira como pla-
nejamos nossa intervenção educacional e pedagógica, tanto do ponto vista da educação
formal quanto da educação não formal. Quando consideramos o que os alunos já sabem
e o que ainda precisam aprender, estamos organizando nosso ensino do ponto de vista
pedagógico, a partir de nossas concepções de ensino e aprendizagem.
Explicar o processo de aprendizagem envolve a preocupação em esclarecer o modo
pelo qual o ser humano se desenvolve, conhece o mundo, organiza seu comportamento e
se ajusta ao meio em que vive. A maior parte dos comportamentos e conhecimentos dos
indivíduos é aprendida ao longo do seu processo de desenvolvimento. Todo conhecimento
produzido em qualquer época, em qualquer área, traz consigo uma clara concepção do
homem.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 88


SAIBA MAIS
No caso do Humanismo, o homem passa ser o mais importante, o centro das atenções.
Fonte: a autora.

Cada ser humano adquire, gradualmente, uma infinidade de competências, regras,


informações e maneiras de lidar com as pessoas, coisas e situações. A aprendizagem e o
ensino são processos intimamente ligados, pois correspondem às atividades fundamentais
que ocorrem dentro de um ambiente educacional de modo sistemático, planejado, delibe-
rado.
O ambiente educacional é um lugar onde as pessoas se reúnem para ensinar e
aprender. Durante a aula, o aluno exibe grande número de comportamentos ligados dire-
tamente à aprendizagem, como a escuta, os gestos, seu olhar, sua fala, por exemplo. A
aprendizagem não corresponde a um tipo específico de atividade. É uma mudança que
ocorre no organismo, durante muitos tipos de atividades, interiormente.
O conceito é, pois, um construto social, histórico. E vem com o indivíduo, por isso,
as marcas e as contradições do contexto histórico que desenvolve e se consolida. E a
palavra da vez é práxis, que, para Oliveira (2002, p. 28),
[...] são construções culturais, internalizadas pelos indivíduos ao longo de
seu processo de desenvolvimento. Os atributos necessários e suficientes
para definir um conceito são estabelecidos por características dos elementos
encontrados no mundo real, selecionados como relevantes pelos diversos
grupos culturais. É o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que vai
lhe fornecer o universo de significados que ordena o real em categorias (con-
ceitos), nomeadas por palavras da língua desse grupo.

Nem tudo o que se aprende é necessariamente socialmente adequado ou desejado,


a aprendizagem gera tanto a aquisição de competências socialmente aprovadas e benéfi-
cas para o aprendiz e para a sociedade, quanto a aquisição de hábitos, ideias e habilidades
questionáveis. E em se tratando de habilidades encontramos muitas definições, mas aqui,
vamos considerar habilidades, como sendo a competência e/ou capacidade técnica do ser
humano em realizar determinadas tarefas.
As Teorias da Aprendizagem, Associacionista, Comportamentalista, de Condicio-
namento, de Estímulo–Resposta trazem as hipóteses de que os comportamentos do ser
humano são aprendidos; a aprendizagem passa a ter grande importância; atribuem imenso
poder ao ambiente; o homem é produto do meio.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 89


Concluímos, a partir dessas teorias, que a aprendizagem se caracteriza pela aqui-
sição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório individual de cada ser,
que deverá apresentar capacidades e habilidades para adquirir comportamentos novos,
através da aprendizagem ou modificar comportamentos anteriormente já adquiridos.
Para a educação, a aprendizagem é parte de um processo social de comunicação
e apresenta os seguintes elementos segundo José e Coelho (1999):

Figura 9 - Elementos da formação de aprendizagem

Fonte: a autora.

Diante disso, o ser humano depende destes fatores no processo de aprendiza-


gem. E com a qualidade do trabalho pedagógico, que está associada à capacidade de
promoção de avanços no desenvolvimento do aluno. O resgate de importantes contribui-
ções teóricas para a Psicologia e para a Educação tem sido um fenômeno significativo
nas últimas décadas, por possibilitar a ampliação das dimensões consideradas na análise
dos processos de desenvolvimento e aprendizagem, e permitir uma compreensão mais
abrangente, totalizante e integrada do aluno.
De acordo com Penteado (1980), os principais fatores de aprendizagem ligados
ao indivíduo são: saúde física e mental – para que seja capaz de aprender, a pessoa deve
apresentar um bom estado físico geral. As perturbações na área física, como na sensorial
e na área nervosa poderão constituir-se em distúrbios da aprendizagem, como também:

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 90


Figura 10 - Fatores que interferem na aprendizagem humana:

Fonte: a autora.

Existem outras variáveis ligadas diretamente ao processo de aprendizagem, como,


por exemplo, as metodologias e recursos didático-pedagógicos, contexto socioeconômico-
-político-cultural, entre outros.
Na Psicologia da Educação há uma forte discussão e mobilização para a ampliação
do conceito/concepção de aprendizagem, em especial, há uma ferrenha oposição às visões
que podem levar à “culpabilização” e “psicologização” da aprendizagem e suas possíveis
dificuldades. Pois a aprendizagem depende de uma interação complexa e contínua entre
hereditariedade e o meio ambiente. Suas causas podem ser inúmeras, como: químicas,
físicas, imunológicas, infecciosas, familiar, psicossociais, afetivas e socioeconômicas.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 91


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim de nossos estudos e, neste momento, esperamos que tenha


compreendido a importância dos aspectos que envolvem o desenvolvimento da aprendiza-
gem humana.
Duas questões são importantes destacar, sendo a função primordial do processo
de ensino, a atuação no fomento da construção de maneiras complexas de pensamento e
a relação desse processo com a vivência concreta do sujeito.
Outro ponto que não podemos nos esquecer, é de que o ensino, defendido por
Vigotski no decorrer dos nossos estudos, evidencia que o desenvolvimento cognitivo não é
palpável, ou seja, não vemos, não aparece imediatamente aos olhos. Entretanto, o professor
ou quem estiver promovendo o desenvolvimento precisa ir além da experiência imediata,
para efetivar no aluno e que possa levá-lo além, para que possa construir caminho, conec-
tar-se às experiências socioculturais, para que ocorra a assimilação de conceitos baseadas
nos conceitos elaborados no processo da própria experiência do indivíduo.
Para isso, é preciso que ocorra uma dimensão metodológica que reúne psicologia
histórico-cultural e pedagogia histórico-cultural no processo de construção do conhecimen-
to, é um movimento de ir e vir à realidade e valorizando o ser humano em todos os seus
aspectos.

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 92


LEITURA COMPLEMENTAR

Sobre o processo funcional atenção


A atenção é uma função de importância psicológica ímpar, da qual depende em alto
grau a qualidade da percepção e a organização do comportamento. Atenção e percepção
operam em íntima unidade, em uma relação de qualidade recíproca, isto é, a atenção cor-
robora para a acuidade perceptiva tanto quanto o campo perceptual mobiliza a atenção.
Considerando a miríade de estímulos captados pelo aparato sensório-perceptual,
o direcionamento do comportamento à vista de seu objetivo seria impossível na ausência
de seletividade sobre eles, e esta é a função primária da atenção. Graças a ela, forma-se
a imagem focal da realidade captada. Visando a explicitação dessa assertiva, o tratamento
dispensado à atenção organiza-se em torno de duas premissas: a natureza social da aten-
ção e seu desenvolvimento em relação à estrutura da atividade.

A natureza social da atenção


Segundo Luria (1981), os estudos sobre a atenção, por sua importância nas ex-
plicações acerca do comportamento, ocuparam amplo espaço na história da psicologia,
tangenciando concepções ora biologizantes, ora psicologizantes, que visavam desvelar os
mecanismos que subsidiam a voluntariedade desse processo.
Esse autor destacou que coube a Vigotski o grande mérito de solucionar esse
problema –um dos maiores desafios presentes nos estudos sobre atenção levados a cabo
pela psicologia tradicional –ao fornecer a “chave científica” para a compreensão das formas
complexas de atenção, isto é, ao identificar suas raízes sociais.
Vygotski (1996) demonstrou que a atenção responde a um complexo processo
de desenvolvimento, constituindo-se como traço imanente do desenvolvimento cultural da
humanidade, ultrapassando estágios primitivos em direção a estágios altamente organi-
zados e complexos. A luta pela vida, as formas de relação entre o homem e a natureza
consubstanciadas sob a forma de trabalho, impuseram-se como fatores determinantes do
desenvolvimento psíquico e, imperiosamente, exigiram transformações nas expressões
naturais da atenção.
Se os processos puramente orgânicos asseguram reações atencionais primitivas,
elementares e, nesse sentido, elas representam estratégias de adaptação do organismo ao
meio, 113a vida em sociedade exigiu reações atencionais dirigidas, voluntárias, tornando-as

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 93


“instrumentos” imprescindíveis à construção da cultura e, consequentemente, do próprio
ser humano. Do ponto de vista filogenético, o desenvolvimento da atenção é causa e efeito
do trabalho.
Todavia, ciente da inexistência de um paralelismo entre os planos filogenético e
ontogenético e, referindo-se às pesquisas sobre atenção, Vygotski (1996, p. 139) alertou
que: “[...] devemos encarar seu estudo como o de um produto do desenvolvimento cultural
da criança, devemos considerá-la como um modo de adaptação à vida social superior [...]”.
Optamos por essa brevíssima explanação acerca da natureza social da atenção
antes mesmo de apresentar seus aspectos constitutivos e características gerais, tendo em
vista dirimir, de imediato, interpretações sobre o desenvolvimento da atenção na direção que
tem se revelado hegemônica na atualidade, qual seja, que subjuga o referido processo a
mecanismos estritamente cerebrais e se limita a interpretá-lo na centralidade intrapsíquica.
Consequentemente, tal entendimento corrobora a medicalização dos indivíduos, sobretudo
das crianças, quando suas reações atencionais fogem aos padrões esperados.

Fonte: Martins (2011).

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 94


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Psicopedagogia, Desenvolvimento Humano e Cotidiano
Escolar
Autor: Daniel Bartholomeu, José Maria Montiel, Marjorie Cristina
Rocha da Silva
Editora: Vetor
Sinopse: Dada a multiplicidade de fatores e personagens inter-re-
lacionados no processo de aprendizagem, nesse livro a intenção
é explorar perspectivas teóricas e práticas diferentes para auxiliar
na atuação dos vários atores sociais envolvidos. Ao longo dos
capítulos, se verifica o esforço para oferecer ao leitor ferramentas
de discussão e reflexão acerca da diversidade de ação e pesquisa
no complexo cenário escolar.

FILME/VÍDEO
Título: Escritores da Liberdade
Ano: 2007
Sinopse: Uma jovem e idealista professora chega a uma esco-
la de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade
e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de
aprender, e há entre eles uma constante tensão racial. Assim, para
fazer com que os alunos aprendam e também falem mais de suas
complicadas vidas, a professora Gruwell (Hilary Swank) lança
mão de métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão
retomando a confiança em si mesmos, aceitando mais o conheci-
mento, e reconhecendo valores como a tolerância e o respeito ao
próximo.

WEB
A Teoria Histórico Cultural de Vigotsky
• A professora Zoia Prestes define teoria histórico cultural de Vigo-
tski, os conceitos fundamentais desta teoria, bem como as suas
contribuições para a área da educação. Além disso, ela faz apon-
tamentos sobre certos equívocos na tradução de alguns conceitos
nas obras de Vigotski. Comenta também sobre a importância desta
teoria para a formação do professor.
• Link do site. https://www.youtube.com/watch?v=i6NQ1S_SDUw

UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 95


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UNIDADE IV Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 99


CONCLUSÃO

Prezado(a) aluno(a), chegamos ao fim de nossos estudos e, nesse momento,


espero que tenha verificado a importância de compreender as teorias que embasam o
desenvolvimento da aprendizagem humana.
No primeiro momento de nossos estudos tratamos, na Unidade I, O Comportamen-
talismo e as Relações com a Educação, de Watson, Guthrie, Thorndike e Skinner. O
comportamentalismo é uma teoria de postura filosófica que se ocupa de comportamentos
analisáveis e mensuráveis do indivíduo, ou seja, de respostas que ocorrem por meio de
estímulos externos. Em que o comportamento possui respostas observáveis e relaciona-
das com eventos que as precedem, sendo compreendida pelos estímulos e as sucedem
as consequências. E com isso, é aliciado relações funcionais, ou leis, entre estímulos e
consequências (boas ou más).
Na Unidade II, intitulada Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacio-
nais de Piaget, Vygotsky, Ausubel, Vergnaud e Johnson-Laird, foi possível entender
que para os construtivistas o conhecimento humano é resultado da sua construção pessoal
e o professor é o mediador do processo ensino e aprendizagem. E outro ponto relevante
é que a aprendizagem não é o resultado do desenvolvimento do aluno, mas sim o próprio
desenvolvimento do aluno.
Na Unidade III tratamos do Humanismo e a Educação de Rogers, Novak, Gowin
e Freire e foi possível notar que a teoria humanista estabelece as relações interpessoais,
na formação da personalidade do ser humano, o ensino é focado no aprendiz, em suas
perspectivas de composição e coordenação pessoal da realidade e, ainda, é possível que,
por meio das oportunidades, o indivíduo consiga aprender a colocar suas habilidades para
operar como ser integrado no próprio desenvolvimento do conhecimento.
Finalizamos na Unidade IV, Teoria Histórico-cultural e Construção do Conhecimen-
to. A Teoria Histórico-Cultural apresenta o aprendizado humano por meio de sua natureza
social, e a Pedagogia Histórico-Crítica se esforça em colocar em prática no meio educacio-
nal a transformação das relações sociais, visando traduzir para as ações na sala de aula o
processo dialético – prática-teoria-prática – de elaboração do conhecimento científico. Com
isso, podemos compreender que a Teoria Histórico-Cultural e a Pedagogia Histórico-Crítica

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constituem um método inovador para a compreensão do mundo e de análise da educação
que se materializa numa Didática como instrumento significativo de elaboração do conhe-
cimento científico, com objetivo da transformação social.
Diante disso, o objetivo principal com este estudo, caro(a) aluno(a), é de que possa
ter compreendido um pouco da relevância da PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO e dos teóricos
que destacamos em relação aos processos de aprendizagem humana. Espero, com isso,
que com este estudo possibilite a você a compreensão do seu papel no processo de ensino
e aprendizagem à luz destas teorias, que se aproprie dos conhecimentos científicos e da
formação humana do futuro da educação.
Esse estudo é claramente uma primeira aproximação, um apoio teóricos inicial.
Poder-se-ia dizer que não se deve parar por aqui.

Obrigada pela sua atenção.

Abraços.

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