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‫ – בית מדרש חופשי‬Beit Midrash Livre – PARASHAT TERUMAH – ‫ שם‬e ‫כבוד‬

Na Presença Divina
A diferença entre os conceitos do "nome da Divindade" ‫שם‬, e da
"presença Divina” ‫כבוד‬
As duas declarações
Começaremos refletindo sobre o trecho, chamado por pesquisadores de "o pequeno
credo" mencionado em Devarim (26: 5-10).
De algum modo, esse título – o pequeno credo - se desenvolveu a partir da designação "credo
histórico curto", dado pelo estudioso alemão Gerhard von Rad (1901-1971) em seu livro, The
Problem of the Hexateuch (Edimburgo; Londres: Oliver & Boyd, 1966), 3-5. que começa com as
famosas palavras, "Meu pai era um Arameu errante”.
Para mais informações sobre a afirmação de Mizrahi de que o entendimento tradicional seria "que o
Arameu referido ali é Lavan na verdade, e que o termo ‫< עובד‬Oved> seria transitivo" e teria sido
"transmitido de pessoa para pessoa, desde Moshe", veja o livro de Simcha Kogut, Correlations
between Biblical Accentuation and Traditional Jewish Exegesis (Jerusalém: Magnes Press, 1994),
65-66 (hebraico); e também o livro de Geoffrey Khan, A Short Introduction to the Tiberian
Masoretic Bible and Its Reading Tradition (Gorgias Handbooks 25; Piscataway, NJ: Gorgias Press,
2012), 39.

Essa passagem é conhecida em todo o mundo judaico, como o começo da parte “Maguid”
do Seder de Pessach, na qual recontamos a história do êxodo do Egito.

“Perante o HaShem” - onde fica isso?


A declaração do Bikurim
A necessidade de entendimento do texto, vem do fato de o texto exigir que, ambas as
declarações sejam feitas "diante de HaShem seu Elohim (‫הֹ וָה אֱ ֹלהֶ יָך‬-ְ‫")ל ְפנֵי י‬
ִ (versos 5, 13).
Ao apresentar os “Bikurim” ou seja, as primícias, a Torá especifica ainda que o doador
deveria trazê-las para “o lugar onde HaShem, seu Elohim, escolherá [para fazer] habitar
Seu nome (‫ֹלהיָך ְלַׁש ֵּכ ֥ן ְׁש ֖מֹו ָֽׁש ם‬
ֶ ֔ ֱ‫הֹ וָ ֣ה א‬-ְ‫( ”)הַ ָּמ ֔קֹום אֲ ֶׁש ֤ ר י ְִבחַ ר֙ י‬v. 2), que seria uma maneira indireta
do Sefer Devarim se referir ao Templo em Jerusalém.
‫ֹלהיָך‬
ֽ ֶ ֱ‫הֹ וָ ֥ה א‬-ְ‫יחֹו ִל ְפ ֵ֕ני ִמזְ ַ ּ֖בח י‬
֔ ִ‫ֹהן הַ ֶ ּ֖טנֶא ִמּי ֶ ָ֑דָך ו ֨ ְִהּנ‬
֛ ֵ ‫וְלָ ַ ֧קח הַ ּכ‬
Nesse local, o adorador estaria então, "diante de HaShem" porque estaria parado em
frente ao prédio, em que o nome de HaShem "habitaria".

Declaração dos “dízimos pobres”


O Sefer Devarim não especifica como a segunda declaração seria feita "perante o
HaShem" e, ao contrário da primeira declaração, não afirma que deve ser feita "no local
que HaShem escolheria", como mostra a comparação a seguir:
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Declaração dos Bikurim


‫את אֶ ל הַ ּכ ֔ ֵֹהן אֲ ֶ ׁ֥שר י ְִהיֶ ֖ה ּבַ ּי ִ ָ֣מים‬ ֙ ָ ָ‫ג ּוב‬:‫ כו‬:‫ֹלהיָך ְל ַׁשּכֵ ֥ן ְׁש ֖מֹו ָ ֽׁשם‬
ֶ ֔ ֱ‫הֹ וָ ֣ה א‬-ְ‫ב …ו ָ ְֽהלַ כְ ָ ּ֙ת אֶ ל הַ ָּמ ֔קֹום אֲ ֶ ׁ֤שר י ְִבחַ ר֙ י‬:‫כו‬
‫הֹ וָ ֣ה אֱ ֹלהֶ֗ יָך‬-ְ‫ית וְאָ ַמ ְר ֜ ָּת ִל ְפנֵ ֣י׀ י‬
ָ ‫ה וְעָ ֨ ִנ‬:‫כו‬:‫ֹלהיָך‬
ֽ ֶ ֱ‫הֹ וָ ֥ה א‬-ְ‫יחֹו ִל ְפ ֵ֕ני ִמזְ ַ ּ֖בח י‬
֔ ִ‫ֹהן הַ ֶ ּ֖טנֶא ִמּי ֶ ָ֑דָך ו ֨ ְִהּנ‬
֛ ֵ ‫ד וְלָ ַ ֧קח הַ ּכ‬:‫הָ ֵ ֑הם… כו‬
‫…אֲ ַר ִּמי֙ אֹ ֵ ֣בד אָ ִ֔בי‬
...levem as primícias de todas as colheitas produzidas pelo solo; Que vocês tirarão da
terra que HaShem, seu Elohim, dá a vocês; Ponham em uma cesta e vão ao lugar
escolhido por HaShem, seu Elohim, como habitação para seu nome. Nesse momento,
aproximem-se do kohen oficiante e digam: Hoje declara a HaShem, seu Elohim – cheguei
à terra que HaShem jurou a nossos antepassados que nos daria. O kohen tomará a cesta
da sua mão e a colocará diante do altar de HaShem, seu Elohim. Então digam na
presença de HaShem, seu Elohim. Meu antepassado era um nômade de Aram. Ele
desceu ao Egito em número pequeno e ali permaneceu. Tornou-se uma grande nação,
forte e populosa...
Devarim 26: 2, 3, 4, 5

Declaração de dízimos pobres


‫ֲׂשר ְונ ַָת ָ ּ֣תה לַ ּלֵ ֗ ִוי לַ ּגֵר֙ לַ ּי ָ֣תֹום ו ָ ְֽלאַ ְל ָמ ָ֔נה‬
֑ ֵ ‫יׁשת ְׁשנַ ֣ת ַ ֽה ַּמע‬֖ ִ ‫יב ִ ּ֣כי ְתכ ֞ ֶַּלה ֠לַ ְע ֵׂשר אֶ ת ּכָל ַמ ְע ַ ׂ֧שר ְּתבּואָ ְתָך֛ ּבַ ָּׁשנָ ֥ה הַ ְּׁש ִל‬:‫כו‬
‫ֹלהיָך ְו ַ֨גם נְ ַת ִ ּ֤תיו לַ ּלֵ וִי֙ וְלַ ּגֵר֙ לַ ּי ָ֣תֹום וְלָ אַ ְל ָמ ָ֔נה ּכְ כָל ִמצְ ו ְָתָך֖ אֲ ֶ ׁ֣שר‬ֶ ֜ ֱ‫הֹ ָ֨וה א‬-ְ‫יג וְאָ ַמ ְר ֡ ָּת ִל ְפ ֵנ ֩י י‬:‫ כו‬:‫ְׂש ֵ ֽבעּו‬
ָ ‫וְאָ כְ ל֥ ּו ִב ְׁשעָ ֶ ֖ריָך ו‬
‫יתנִ י‬
֑ ָ ִ‫…צִ ּו‬
Depois de separar o dízimo das colheitas produzidas no terceiro ano, o ano da separação
da décima parte, e de entregá-la ao levi, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que
possam ter alimento suficiente e se satisfazerem enquanto permanecem com vocês,
digam, na presença de HaShem, seu Elohim: Tirei de minha casa as coisas sagradas
para HaShem e as dei ao levi, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, de acordo com todas as
mitzvot que me deste…
Devarim 26: 12, 13

Onde você deve estar “diante do SENHOR”?


Leitura de Tigay - em casa
Um dos maiores especialistas no estudo acadêmico moderno, Dr Jeffrey Tigay sugere
que, como deixou de fora a frase "o lugar onde HaShem seu Elohim escolher fazer seu
nome habitar", entendemos que o Sefer Devarim implica que essa declaração não precisa
ser recitada, especificamente, no Templo de Jerusalém.
“Note muito bem que, nas leis de Devarim, essa frase geralmente implicaria
que algo é feito no local do templo. É concebível que, apesar do fato de o
fazendeiro dispor dos dízimos dos pobres em sua cidade natal (14: 28), o Sefer
Devarim exigisse que ele fizesse essa declaração no Templo, quando ele
desse os primeiros frutos e fizesse a declaração sobre eles (versos 1-11). No
entanto, quando o Sefer Devarim se refere ao Templo, normalmente adiciona a
frase 'o lugar onde o HaShem escolher estabelecer Seu nome' no contexto
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imediato, para deixar isso explícito, como nos versículos 1 a 11. Vemos que o
Sefer Devarim é tão cuidadoso ao acrescentar essa frase em passagens
referentes ao ritual cerimonial, que sua ausência aqui pode bem ter sido
deliberada, implicando que a declaração não precisaria ser feita no templo, pois
o dízimo dos pobres não é depositado lá.”

Jeffrey Tigay, Deuteronomy (JPS Torah Commentary; Filadélfia: Jewish Publication


Society, 1996), 243.

Mas então como isso pode ser feito "diante do HaShem"?


Leitura do ‫< ספר החינוך‬Sefer ha-Hinu’h> - no templo
O ‫< ספר החינוך‬Sefer ha-Hinu’h>, obra do século XIII, faz uma listagem de todos os 613
mandamentos, na ordem em que aparecem na Torá, procurando resolver esse problema
e afirmando (no preceito nº 607) que
‫שנצטוינו להתודות לפני ה’ ברוך הוא ולהגיד בפינו בבית מקדשו שהוצאנו חוקי המעשרות והתרומות‬
…‫ וזהו נקרא מצות וידוי מעשר‬,‫ ושלא נשאר כלום מהם ברשותנו שלא נתננו אותו‬,‫מתבואותינו ומפירותינו‬
‫ אבל אם התודה בכל מקום יצא… ונוהגת מצוה זו בזמן הבית‬,‫ומצותו בבית המקדש שנאמר לפני ה’ אלהיך‬
‫בזכרים‬.
Estamos agradecidos perante o Hashem e o abençoados em nosso templo por termos
trazido de acordo com as leis, os dízimos e doações de nossas colheitas e frutos, e nada
restou deles em nossa posse, que não o entregássemos, e isso é chamado confissão de
dízimos ... Esta mitzvá é obrigatória aos homens, e esta declaração deve ser feita “diante
do HaShem, no sentido de... no seu santuário (‫)בבית מקדשו‬.”

Mas seria isso que o autor do Sefer Devarim pretendia?

Destrua todos locais (idólatras) de culto e estabeleça um para o


Elohim
O Sefer Devarim adverte o povo severamente contra a prática do ‫< עבודה זרה‬O Culto
Estranho>, a idolatria, como haviam feito os habitantes Cananeus da terra. Devarim 12: 2-
5, por exemplo, diz:
‫אבד תאבדון את־כל־המקמות אשר עבדו־שם הגוים אשר אתם ירשים אתם את־אלהיהם‬
‫על־ההרים הרמים ועל־הגבעות ותחת כל־עץ רענן‬

Destruam todos os lugares aonde as nações desalojadas por vocês serviram


deus elohim, quer no alto das montanhas, quer nas colinas, quer sob alguma
árvore frondosa.

‫ונתצתם את־מזבחתם ושברתם את־מצבתם ואשריהם תשרפון באש ופסילי אלהיהם תגדעון‬
‫ואבדתם את־שמם מן־המקום ההוא‬
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Quebrem os altares, façam as colunas em pedaços, queimem os postes


sagrados por completo e eliminem as imagens esculpidas de seus elohim.
Exterminem o nome deles desse lugar.

‫לא־תעשון כן ליהוה אלהיכם‬

Vocês, porém, não devem tratar HaShem, seu Elohim, desse modo.

‫כי אם־אל־המקום אשר־יבחר יהוה אלהיכם מכל־שבטיכם לשום את־שמו שם לשכנו תדרשו‬
‫ובאת שמה‬

Em vez disso, vão ao lugar em que HaShem, seu Elohim, puser seu nome. Ele
o escolherá dentre todas as suas tribos; e vocês procurarão por esse lugar,
onde ele habitará, e se dirigirão para lá.

Este aviso é acompanhado pelo mandamento de que HaShem será cultuado apenas em
um único local. Isso parece apoiar a interpretação do ‫< ספר החינוך‬Sefer ha-Hinu’h> no
trecho. Segundo esta interpretação, a declaração de que o dízimo foi dado, deveria ser
feita no templo, porque esse era o único lugar em que Elohim podia ser encontrado.
Será?

O que “habitava” no templo?


O Sefer Devarim tem o cuidado de nunca dizer que HaShem escolheria esse lugar como
o lar de Elohim. “O lugar que HaShem escolher” aparece dezoito vezes em Devarim.
Oito dessas vezes, o texto diz que apenas que o HaShem escolheria um local, e diria aos
israelitas o que fazer lá. Mas três ocorrências do texto (12: 5, 12: 21, 14: 24) dizem que
Ele “colocaria Seu nome ali” e seis outras, usam um termo ainda mais carregado: Ele faria
seu nome habitar [‫שכן‬, <Shahen>] ali (12 : 5, 12:11, 16: 2, 16: 6, 16: 11, 26: 2).
‫הֹ וָה‬-ְ‫הַ ָּמקֹום אֲ ֶׁשר י ְִבחַ ר י‬

O lugar que HaShem escolherá

‫הֹ וָה אֱ ֹלהֵ יכֶם לָ ׂשּום אֶ ת ְׁשמֹו ָׁשם‬-ְ‫הַ ָּמקֹום אֲ ֶׁשר י ְִבחַ ר י‬

O lugar que o HaShem seu Elohim escolher colocar o nome

‫הֹ וָה אֱ ֹלהֶ יָך ְל ַׁשּכֵן ְׁשמֹו ָׁשם‬-ְ‫הַ ָּמקֹום אֲ ֶׁשר י ְִבחַ ר י‬

O lugar que o HaShem seu Elohim escolher para fazer seu nome habitar

Teologia Sacerdotal: Elohim habita no Tabernáculo

O Sefer Devarim usa o termo ‫< שכן‬Shahen>, a mesma raiz que nos dá a palavra hebraica
‫< משכן‬Mishkan>, “Tabernáculo, habitação”. Mas, de acordo com a fonte sacerdotal na
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Torá, o Tabernáculo tem esse nome, porque é aí que o HaShem - Ele mesmo (não o
nome dele!) - Mora.
Isso fica claro, no início da nossa Parashá, Terumah, quando o texto declara que o
HaShem diz a Moshe, exatamente por que, Ele quer essas ofertas dos israelitas (Shemot
25: 8):
‫תֹוכם‬
ֽ ָ ‫ְׁשכַנְ ִ ּ֖תי ְּב‬
ָ ‫ו ָ ְ֥עׂשּו ִ ֖לי ִמ ְק ָ ּ֑דׁש ו‬

Façam-me um santuário, e habitarei no meio deles.

Além disso, quando HaShem instrui que a terra não deve ser contaminada, Ele explica o
porquê (Bamidbar 35: 34)
‫ׁש ֵ֕כן ְּב ֖תֹוְך ְּבנֵ ֥י י ְִׂש ָר ֵ ֽאל‬
ֹ ‫הֹ ָ֔וה‬-ְ‫אֲ ֶ ׁ֥שר אֲ ִנ֖י ׁשֹכֵ ֣ן ְּבתֹוכָ ּ֑ה… ֚ ִּכי אֲ ִנ֣י י‬

Eu habito nela... porque eu, o HaShem habito em meio aos israelitas.

E, de fato, uma vez que o Tabernáculo é construído, os leitores do livro de Shemot são
informados da presença da presença de Elohim (isto é, seu “corpo” como se fosse) se
movendo (Shemot 40: 34):
‫הֹ ָ֔וה ָמ ֵל֖א אֶ ת הַ ִּמ ְׁש ָ ּֽכן‬-ְ‫מֹועד ּוכְ ֣בֹוד י‬
֑ ֵ ‫ַויְכַ ֥ס הֶ עָ נָ ֖ן אֶ ת אֹ֣ הֶ ל‬

A nuvem cobriu a tenda da reunião e a presença de HaShem encheu o local da


habitação.

O Conceito do Nome de Elohim [‫שם‬, <shem>] versus Presença


de Elohim [‫כבוד‬, <kavod>]
Em teoria, dizer que o "nome" de Elohim residiria no local escolhido, poderia ser
simplesmente uma maneira mais delicada de dizer, que a "presença" de Elohim residiria
ali, e que nenhum dos dois realmente significaria, que “o eu” do Elohim estaria, como se
fosse, fisicamente no local.
Mas o texto de Shemot 40: 34 deixa claro que essa suposição estaria equivocada. O
termo ‫< כבוד‬kavod> descrito ali, indicaria algo bem físico. Nesta leitura das coisas, a
nuvem é o que protegia os seres humanos da exposição potencialmente fatal, à intensa
presença do HaShem. Lembre-se de como os israelitas fugiram do Egito (Shemot 13: 21):
‫יֹומם‬
֥ ָ ‫יֹומם ְּבעַ ּ֤מּוד עָ נָן֙ לַ נְ חֹ ָ ֣תם הַ ֶּ֔ד ֶרְך ו ַ ְ֛ליְלָ ה ְּבעַ ּ֥מּוד ֵ ֖אׁש ְלהָ ִ ֣איר לָ ֶ ֑הם לָ ֶ ֖לכֶת‬
ָ ֜ ‫ֵיהם‬
ֶ ֨ ‫הֹ ָ֡וה הֹ לֵ ְ֩ך ִל ְפנ‬-‫ַוֽי‬
‫ו ָ ָֽליְלָ ה‬

HaShem seguia perante eles durante o dia, em uma coluna de nuvens para
mostrar o caminho e à noite, numa coluna de fogo para lhes dar luz, para que
pudessem viajar dia e noite.

Não se imagina que o HaShem parava de seguir o povo, no pôr do sol. Havia uma única
nuvem permanente, e (além de seu propósito utilitário durante a fuga), seu objetivo era
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proteger Israel da visão da ‫< כבוד‬kavod> do HaShem. À noite, quando escurecia, o brilho
intenso oculto pela nuvem durante o dia, se tornava visível o suficiente para aparecer
como uma coluna de fogo.
William H. C. Propp, Exodus 1-18 (Anchor Bible Commentary; New York: Doubleday, 1999), 489.

Os estudiosos discordam sobre qual seria a fonte tradicional deste texto de Shemot.
Propp, na sua obra Exodus 1-18, página 476 observa que o termo ‫< כבוד‬kavod> aparece
"na nuvem" em um texto de tradição P em Shemot 16:10.
Mas, mesmo se não for originalmente um texto de tradição P, podemos ter certeza de
como o redator da tradição P o entendeu: O fogo dentro da nuvem era a ‫< כבוד‬kavod>, a
Presença do Elohim, que posteriormente habitava permanentemente entre os israelitas -
uma vez que um local de habitação adequado (e portátil) fosse construído para isso.

A concepção teológica de Shlomo: um texto composto?


Quando Shlomo completa o Primeiro Templo, como diz o texto de Melahim Alef,
estabelecendo a construção como um lugar permanente para a ‫< כבוד‬kavod> do Elohim, o
texto narra que o Elohim se manifestou, da mesma maneira que teria feito, no final de
Shemot (Melahim Alef 8: 10-13):
‫הֹ וָ ֖ה‬-ְ‫מד ְל ָׁש ֵ ֖רת ִמ ְּפנֵ ֥י ֶ ֽהעָ נָ ֑ן ּכִ י ָמ ֵל֥א כְ בֹוד י‬
ֹ ֥ ‫ יא ו ְֽל ֹא יָכְ ל֧ ּו הַ ּכֹהֲ ִנ֛ים לַ ֲע‬:‫הֹ ָוֽה‬-ְ‫י …וְהֶ עָ נָ ֥ן ָמ ֵל֖א אֶ ת ֵ ּ֥בית י‬
‫ פ‬:‫הֹ ָוֽה‬-ְ‫אֶ ת ֵ ּ֥בית י‬

A nuvem encheu a Casa de HaShem. Os kohanim não podiam ficar lá para


ministrar por causa da nuvem, pois a ‫< כבוד‬kavod> do HaShem havia
preenchido a Casa do HaShem.

‫֛יתי ֵ ּ֥בית זְ ֻב֖ל ָלְ֑ך ָמכ֥ ֹון ְל ִׁש ְב ְּתָך֖ עֹולָ ִ ֽמים‬
ִ ‫ יג ּבָ ֥ ֹנה בָ ִנ‬:‫רל ְׁש ֖ ֹּכן ּבָ ע ֲָר ֶ ֽפל‬
ִ ‫הֹ וָ ֣ה אָ ֔ ַמ‬-ְ‫מה י‬
ֹ ֑ ‫יב ָ ֖אז אָ ַ ֣מר ְׁשֹל‬

Então Shlomo disse: “HaShem decidiu habitar numa nuvem espessa. De fato,
construí uma casa principesca para ti, um estabelecimento para que habites
para sempre.

Os versículos 10 a 11 refletem as concepções teológicas da tradição sacerdotal (P) de


que, o Elohim habitava, de certo modo fisicamente (posto que era dentro de uma nuvem)
no local do Templo.
No verso 12-13, tal como em Shemot 13: 21, Shlomo entendeu que o próprio HaShem
estava (dentro de “uma nuvem espessa”).
Observe como a “nuvem” que cobre a “tenda da reunião” adiciona esse elemento em
questão, de um modo comparável a Shemot 40: 34, dentro do templo; esses versículos
têm um certo sabor poético e sua origem tradicional, é ainda desconhecida.
E agora note como o compilador do Sefer Devarim (tradição D) dessa história - depois de
(talvez) prestar atenção, a uma versão antiga e amplamente conhecida da história - fez
Shlomo fazer 180° (tanto fisicamente quanto (mais importante para nossos propósitos)
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religiosamente). Já que ele “enfrenta” tal ideia teológica sacerdotal (verso 14) e se dirige
aos israelitas reunidos para expressar sua visão publicamente. Ele pergunta (Melahim
Alef 8: 27):
‫ּוׁש ֵ ֤מי הַ ָּׁש ַ ֙מיִם֙ ֣ל ֹא ְיכ ְַלּכְ ֔לּוָך אַ֕ ף ִ ּֽכי הַ ַ ּ֥ביִת הַ ֶּז֖ה אֲ ֶ ׁ֥שר‬
ְ ‫ֹלהים עַ ל הָ ָ ֑א ֶרץ ֠ ִהּנֵה הַ ָּׁש ֜ ַמיִם‬
֖ ִ ֱ‫֚ ִּכי ַ ֽהאֻ ְמ ָ֔נם י ֵ ֵׁ֥שב א‬
‫יתי‬
ִ ‫ּבָ ִ ֽנ‬

Elohim pode realmente (ou seja, literalmente) habitar na terra? Os céus e até
os céus acima dos céus, não poderiam conter a ti! Muito menos esta casa que
eu construí!

Shlomo declara isso, nada menos que oito vezes, em seu longo discurso, [versos 16, 17,
18, 19, 20, 29, 44 e 48. E os versos 33, 42 e 43 implicam isso sem declará-lo diretamente.
Não resta dúvida de que, ele estaria enfatizando que a casa que construiu – o Templo -,
não deveria ser considerada, uma morada literal para a ‫< כבוד‬kavod> de Elohim, mas
para uma representação do ‫< שם‬Shem> de Elohim - seu nome, sua fama ou renome.
O renome de HaShem naquele Templo seria o suficiente para garantir sua Providência
(Melahim Alef 8: 29)
‫ת עֵ י ֶ֨נָך ְפתֻ ֜חֹות אֶ ל הַ ַ ּ֤ביִת הַ ּזֶ ה֙ ַ ֣ליְלָ ה וָי֔ ֹום אֶ ל ֨ ַה ָּמ ֔קֹום אֲ ֶ ׁ֣שר אָ ֔ ַמ ְר ָּת י ְִהיֶ ֥ה ְׁש ִ ֖מי ָ ׁ֑שם‬
֩ ‫ִל ְהיֹו‬

[que] Seus olhos estejam abertos para esta casa noite e dia, em direção ao
lugar em que você disse: “Meu nome estará lá”.

Esta passagem reflete a concepção teológica da tradição de Devarim (D), que o Nome do
Elohim (seu renome), é o que habita o Templo, mas que Sua verdadeira “morada” não
seria física. Nada físico poderia contê-lo.

As duas declarações, nos dois lugares: diante do Nome de


Elohim e diante de Elohim
Essa perspectiva deuteronômica, ajuda a esclarecer o problema de onde a pessoa que
realizava o ritual, deveria se encontrar, ao fazer sua Oferta, primícias e dízimo do pobre. A
primeira declaração deveria ser recitada no local em que o “Nome habita”, e esse é o
equivalente funcional da declaração, "diante de HaShem seu Elohim".
Mas a segunda declaração diz (em Devarim 26: 15):
‫ה ִמ ְּמ ֨עֹון ָק ְד ְׁש ָ֜ך ִמן הַ ָּׁש ֗ ַמיִם ּובָ ֵ ֤רְך ֶ ֽאת עַ ְּמָך֙ אֶ ת י ְִׂש ָראֵ֔ ל‬
֩ ָ‫הַ ְׁש ִקיפ‬

Olhe desde sua sagrada morada, os céus, e abençoe o seu povo Israel

Esse trecho, lembra a oração de Shlomo em Melahim Alef 8: 27 - Elohim está nos céus,
não na terra. Note que, especialmente naquele período, “os céus” eram a principal
representação do “não material”, do “inalcançável” e a dimensão flamejante.
O que há na terra é o “nome de Elohim”, algo que representa a fama do Elohim, sem
realmente ser Elohim – um indicativo de suas manifestações na natureza. E assim, esta
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segunda declaração, como observou Dr Tigay, é ouvida por Elohim, não importa onde
seja recitada.

Imanência e Transcendência
Mas, o redator da Tradição de Devarim (D), realmente achava que o Elohim estava em
algum lugar "lá em cima"?
Talvez nunca saibamos a resposta a esta pergunta, com certeza absoluta. Mas, da nossa
perspectiva do século XXI, é muito fácil entender a diferença entre a perspectiva de o
conceito de ‫< שם‬Shem> (o "renome") de Devarim, e a perspectiva de ‫< כבוד‬kavod>
(honra, indicativo de "presença") dos escritos sacerdotais.
Do ponto de vista sacerdotal, Elohim é imanente - presente imediatamente em meio ao
nosso mundo material comum e, pode ser alojado num Tabernáculo/Templo.
Da perspectiva deuteronômica, o Elohim é transcendente - se conecta ao nosso mundo
e a nós, de uma dimensão além do tempo e do espaço.
A tradição de Devarim alude a essa dimensão, pelo termo ‫< שמים‬shamaim>, “céus”,
porque essa dimensão seria “inacessível” para nós, seres físicos.
Por outro lado, na ‫< ארץ‬eretz>, “terra”, aonde estabelecemos nosso reino de poeira e
lama, o Elohim não poderia habitar literalmente. O que podemos fazer é criar
representações de momentos, nos quais percebemos Seus feitos, suas manifestações. O
nosso entendimento da realidade Divina, nos conecta ao Divino. Para o redator
deuteronomista, o Elohim não faz parte do nosso mundo material, mas está ciente - e
como autor, afeta - desde seu domínio além do observável.

O que as duas concepções teológicas têm em comum: Elohim


é fogo
As descrições sacerdotais e deuteronômicas de Elohim têm algumas semelhanças. Na
concepção sacerdotal (P), a nuvem que indica a presença do HaShem não é uma parte
intrínseca da natureza Divina, mas funciona para ocultar a presença real do Elohim (a
‫< כבוד‬kavod>), que é descrita como ‫< אש‬Esh> “fogo".
O Sefer Devarim usa a mesma imagem, para descrever um encontro com HaShem
(Devarim 4:12):
‫ּותמּונָ ֛ה אֵ ינְ כֶ ֥ם ר ִ ֹ֖אים זּולָ ִ ֥תי ֽקֹול‬
ְ ‫הֹ וָ ֛ה אֲ לֵ יכֶ ֖ם ִמּת֣ ֹוְך הָ ֵ ֑אׁש ֤קֹול ְּדבָ ִרים֙ אַ ֶ ּ֣תם ׁש ְֹמ ֔ ִעים‬-ְ‫ַוי ְַד ֵ ּ֧בר י‬

HaShem falou com vocês do meio do fogo. Vocês podiam ouvir o som das
palavras, mas não conseguiam ver nenhuma forma - apenas uma voz.

Embora o fogo seja uma parte muito real de nossas vidas aqui na terra, é o único dos 4
elementos que não comporta vida biológica. Existe vida no ar, no mar e na terra mas, não
no fogo. Por isso, o fogo é usado como representação do Divino: A Divindade não é um
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ser biológico, um ser vivo como qualquer um de nosso mundo. Não é ser humano ou,
qualquer outro animal terrestre, não é animal aquático nem ave. Nada biológico.
As tradições P e D, assim como outras vozes tradicionais bíblicas, acharam que a
descrição que mais se aproximava do que imaginavam ser a natureza essencial de
Elohim, era o fogo.
Ieshaiahu 60, na Haftara da Parashat Ki Tavo, descreve o mesmo conceito de Elohim, em
sua própria versão da tradição (Sacerdotal) sobre a ‫< כבוד‬kavod>, não mais em termos de
um fogo destrutivo, mas fogo como luz vivificante:
‫אֹורְך‬
֑ ֵ ‫ּומי ֖א ִֹורי ִ ּ֣כי ָ ֣בא‬
ִ ‫א ֥ק‬:‫ס‬

‫הֹ וָ ֖ה עָ ַ ֥ליְִך ז ָ ָֽרח‬-ְ‫ּוכְ ֥בֹוד י‬:

‫ב ִ ּֽכי ִה ֵּנ֤ה הַ חֹ֙ ֶׁשְך֙ ְיכַּסֶ ה אֶ֔ ֶרץ‬:‫ס‬

‫ַוע ֲָר ֶ ֖פל ְלאֻ ִ ּ֑מים‬

‫הֹ ָ֔וה‬-ְ‫וְעָ ֙ ַליְִך֙ יִזְ ַ ֣רח י‬

‫בֹודֹו עָ ַ ֥ליְִך י ֵָר ֶ ֽאה‬


֖ ְ‫ּוכ‬

Levanta-te, resplandece, porque a tua luz amanheceu!

A ‫< כבוד‬kavod> do HaShem brilhou sobre ti!

Eis! Escuridão cobrirá a terra

E nuvens densas os povos;

Mas sobre você, o HaShem brilhará,

e Sua ‫< כבוד‬kavod> será vista, sobre você.

Estar diante de Elohim em Devarim


A genialidade de Devarim, onde difere da teologia sacerdotal, era ver que alguém poderia
estar “diante do HaShem”, não apenas quando estivesse no templo em Jerusalém, mas
também em casa, com sua atenção acima de si e humildemente evocando o HaShem,
para que “olhasse para baixo” desde além do tempo e do espaço, trazendo sua bênção
aos pobres e àqueles que abandonam algumas de suas próprias bênçãos, para ajudá-los.
Por essa razão, foi possível que o Sefer Devarim ordenasse aos israelitas que levassem
seus Bikurim ao templo, e declarassem “perante de HaShem” o texto que é chamado na
linguagem acadêmica de, “o pequeno credo” e também que, ordenasse aos israelitas que
distribuíssem o dízimo aos pobres locais, e fizessem a declaração de que eles cumpriram
fielmente suas obrigações sociais, tanto em sua cidade natal, e mais ainda "perante o
HaShem".

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