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Na Presença Divina
A diferença entre os conceitos do "nome da Divindade" שם, e da
"presença Divina” כבוד
As duas declarações
Começaremos refletindo sobre o trecho, chamado por pesquisadores de "o pequeno
credo" mencionado em Devarim (26: 5-10).
De algum modo, esse título – o pequeno credo - se desenvolveu a partir da designação "credo
histórico curto", dado pelo estudioso alemão Gerhard von Rad (1901-1971) em seu livro, The
Problem of the Hexateuch (Edimburgo; Londres: Oliver & Boyd, 1966), 3-5. que começa com as
famosas palavras, "Meu pai era um Arameu errante”.
Para mais informações sobre a afirmação de Mizrahi de que o entendimento tradicional seria "que o
Arameu referido ali é Lavan na verdade, e que o termo < עובדOved> seria transitivo" e teria sido
"transmitido de pessoa para pessoa, desde Moshe", veja o livro de Simcha Kogut, Correlations
between Biblical Accentuation and Traditional Jewish Exegesis (Jerusalém: Magnes Press, 1994),
65-66 (hebraico); e também o livro de Geoffrey Khan, A Short Introduction to the Tiberian
Masoretic Bible and Its Reading Tradition (Gorgias Handbooks 25; Piscataway, NJ: Gorgias Press,
2012), 39.
Essa passagem é conhecida em todo o mundo judaico, como o começo da parte “Maguid”
do Seder de Pessach, na qual recontamos a história do êxodo do Egito.
imediato, para deixar isso explícito, como nos versículos 1 a 11. Vemos que o
Sefer Devarim é tão cuidadoso ao acrescentar essa frase em passagens
referentes ao ritual cerimonial, que sua ausência aqui pode bem ter sido
deliberada, implicando que a declaração não precisaria ser feita no templo, pois
o dízimo dos pobres não é depositado lá.”
ונתצתם את־מזבחתם ושברתם את־מצבתם ואשריהם תשרפון באש ופסילי אלהיהם תגדעון
ואבדתם את־שמם מן־המקום ההוא
– בית מדרש חופשיBeit Midrash Livre – PARASHAT TERUMAH – שםe כבוד
Vocês, porém, não devem tratar HaShem, seu Elohim, desse modo.
כי אם־אל־המקום אשר־יבחר יהוה אלהיכם מכל־שבטיכם לשום את־שמו שם לשכנו תדרשו
ובאת שמה
Em vez disso, vão ao lugar em que HaShem, seu Elohim, puser seu nome. Ele
o escolherá dentre todas as suas tribos; e vocês procurarão por esse lugar,
onde ele habitará, e se dirigirão para lá.
Este aviso é acompanhado pelo mandamento de que HaShem será cultuado apenas em
um único local. Isso parece apoiar a interpretação do < ספר החינוךSefer ha-Hinu’h> no
trecho. Segundo esta interpretação, a declaração de que o dízimo foi dado, deveria ser
feita no templo, porque esse era o único lugar em que Elohim podia ser encontrado.
Será?
הֹ וָה אֱ ֹלהֵ יכֶם לָ ׂשּום אֶ ת ְׁשמֹו ָׁשם-ְהַ ָּמקֹום אֲ ֶׁשר י ְִבחַ ר י
הֹ וָה אֱ ֹלהֶ יָך ְל ַׁשּכֵן ְׁשמֹו ָׁשם-ְהַ ָּמקֹום אֲ ֶׁשר י ְִבחַ ר י
O lugar que o HaShem seu Elohim escolher para fazer seu nome habitar
O Sefer Devarim usa o termo < שכןShahen>, a mesma raiz que nos dá a palavra hebraica
< משכןMishkan>, “Tabernáculo, habitação”. Mas, de acordo com a fonte sacerdotal na
– בית מדרש חופשיBeit Midrash Livre – PARASHAT TERUMAH – שםe כבוד
Torá, o Tabernáculo tem esse nome, porque é aí que o HaShem - Ele mesmo (não o
nome dele!) - Mora.
Isso fica claro, no início da nossa Parashá, Terumah, quando o texto declara que o
HaShem diz a Moshe, exatamente por que, Ele quer essas ofertas dos israelitas (Shemot
25: 8):
תֹוכם
ֽ ָ ְׁשכַנְ ִ ּ֖תי ְּב
ָ ו ָ ְ֥עׂשּו ִ ֖לי ִמ ְק ָ ּ֑דׁש ו
Além disso, quando HaShem instrui que a terra não deve ser contaminada, Ele explica o
porquê (Bamidbar 35: 34)
ׁש ֵ֕כן ְּב ֖תֹוְך ְּבנֵ ֥י י ְִׂש ָר ֵ ֽאל
ֹ הֹ ָ֔וה-ְאֲ ֶ ׁ֥שר אֲ ִנ֖י ׁשֹכֵ ֣ן ְּבתֹוכָ ּ֑ה… ֚ ִּכי אֲ ִנ֣י י
E, de fato, uma vez que o Tabernáculo é construído, os leitores do livro de Shemot são
informados da presença da presença de Elohim (isto é, seu “corpo” como se fosse) se
movendo (Shemot 40: 34):
הֹ ָ֔וה ָמ ֵל֖א אֶ ת הַ ִּמ ְׁש ָ ּֽכן-ְמֹועד ּוכְ ֣בֹוד י
֑ ֵ ַויְכַ ֥ס הֶ עָ נָ ֖ן אֶ ת אֹ֣ הֶ ל
HaShem seguia perante eles durante o dia, em uma coluna de nuvens para
mostrar o caminho e à noite, numa coluna de fogo para lhes dar luz, para que
pudessem viajar dia e noite.
Não se imagina que o HaShem parava de seguir o povo, no pôr do sol. Havia uma única
nuvem permanente, e (além de seu propósito utilitário durante a fuga), seu objetivo era
– בית מדרש חופשיBeit Midrash Livre – PARASHAT TERUMAH – שםe כבוד
proteger Israel da visão da < כבודkavod> do HaShem. À noite, quando escurecia, o brilho
intenso oculto pela nuvem durante o dia, se tornava visível o suficiente para aparecer
como uma coluna de fogo.
William H. C. Propp, Exodus 1-18 (Anchor Bible Commentary; New York: Doubleday, 1999), 489.
Os estudiosos discordam sobre qual seria a fonte tradicional deste texto de Shemot.
Propp, na sua obra Exodus 1-18, página 476 observa que o termo < כבודkavod> aparece
"na nuvem" em um texto de tradição P em Shemot 16:10.
Mas, mesmo se não for originalmente um texto de tradição P, podemos ter certeza de
como o redator da tradição P o entendeu: O fogo dentro da nuvem era a < כבודkavod>, a
Presença do Elohim, que posteriormente habitava permanentemente entre os israelitas -
uma vez que um local de habitação adequado (e portátil) fosse construído para isso.
֛יתי ֵ ּ֥בית זְ ֻב֖ל ָלְ֑ך ָמכ֥ ֹון ְל ִׁש ְב ְּתָך֖ עֹולָ ִ ֽמים
ִ יג ּבָ ֥ ֹנה בָ ִנ:רל ְׁש ֖ ֹּכן ּבָ ע ֲָר ֶ ֽפל
ִ הֹ וָ ֣ה אָ ֔ ַמ-ְמה י
ֹ ֑ יב ָ ֖אז אָ ַ ֣מר ְׁשֹל
Então Shlomo disse: “HaShem decidiu habitar numa nuvem espessa. De fato,
construí uma casa principesca para ti, um estabelecimento para que habites
para sempre.
religiosamente). Já que ele “enfrenta” tal ideia teológica sacerdotal (verso 14) e se dirige
aos israelitas reunidos para expressar sua visão publicamente. Ele pergunta (Melahim
Alef 8: 27):
ּוׁש ֵ ֤מי הַ ָּׁש ַ ֙מיִם֙ ֣ל ֹא ְיכ ְַלּכְ ֔לּוָך אַ֕ ף ִ ּֽכי הַ ַ ּ֥ביִת הַ ֶּז֖ה אֲ ֶ ׁ֥שר
ְ ֹלהים עַ ל הָ ָ ֑א ֶרץ ֠ ִהּנֵה הַ ָּׁש ֜ ַמיִם
֖ ִ ֱ֚ ִּכי ַ ֽהאֻ ְמ ָ֔נם י ֵ ֵׁ֥שב א
יתי
ִ ּבָ ִ ֽנ
Elohim pode realmente (ou seja, literalmente) habitar na terra? Os céus e até
os céus acima dos céus, não poderiam conter a ti! Muito menos esta casa que
eu construí!
Shlomo declara isso, nada menos que oito vezes, em seu longo discurso, [versos 16, 17,
18, 19, 20, 29, 44 e 48. E os versos 33, 42 e 43 implicam isso sem declará-lo diretamente.
Não resta dúvida de que, ele estaria enfatizando que a casa que construiu – o Templo -,
não deveria ser considerada, uma morada literal para a < כבודkavod> de Elohim, mas
para uma representação do < שםShem> de Elohim - seu nome, sua fama ou renome.
O renome de HaShem naquele Templo seria o suficiente para garantir sua Providência
(Melahim Alef 8: 29)
ת עֵ י ֶ֨נָך ְפתֻ ֜חֹות אֶ ל הַ ַ ּ֤ביִת הַ ּזֶ ה֙ ַ ֣ליְלָ ה וָי֔ ֹום אֶ ל ֨ ַה ָּמ ֔קֹום אֲ ֶ ׁ֣שר אָ ֔ ַמ ְר ָּת י ְִהיֶ ֥ה ְׁש ִ ֖מי ָ ׁ֑שם
֩ ִל ְהיֹו
[que] Seus olhos estejam abertos para esta casa noite e dia, em direção ao
lugar em que você disse: “Meu nome estará lá”.
Esta passagem reflete a concepção teológica da tradição de Devarim (D), que o Nome do
Elohim (seu renome), é o que habita o Templo, mas que Sua verdadeira “morada” não
seria física. Nada físico poderia contê-lo.
Olhe desde sua sagrada morada, os céus, e abençoe o seu povo Israel
Esse trecho, lembra a oração de Shlomo em Melahim Alef 8: 27 - Elohim está nos céus,
não na terra. Note que, especialmente naquele período, “os céus” eram a principal
representação do “não material”, do “inalcançável” e a dimensão flamejante.
O que há na terra é o “nome de Elohim”, algo que representa a fama do Elohim, sem
realmente ser Elohim – um indicativo de suas manifestações na natureza. E assim, esta
– בית מדרש חופשיBeit Midrash Livre – PARASHAT TERUMAH – שםe כבוד
segunda declaração, como observou Dr Tigay, é ouvida por Elohim, não importa onde
seja recitada.
Imanência e Transcendência
Mas, o redator da Tradição de Devarim (D), realmente achava que o Elohim estava em
algum lugar "lá em cima"?
Talvez nunca saibamos a resposta a esta pergunta, com certeza absoluta. Mas, da nossa
perspectiva do século XXI, é muito fácil entender a diferença entre a perspectiva de o
conceito de < שםShem> (o "renome") de Devarim, e a perspectiva de < כבודkavod>
(honra, indicativo de "presença") dos escritos sacerdotais.
Do ponto de vista sacerdotal, Elohim é imanente - presente imediatamente em meio ao
nosso mundo material comum e, pode ser alojado num Tabernáculo/Templo.
Da perspectiva deuteronômica, o Elohim é transcendente - se conecta ao nosso mundo
e a nós, de uma dimensão além do tempo e do espaço.
A tradição de Devarim alude a essa dimensão, pelo termo < שמיםshamaim>, “céus”,
porque essa dimensão seria “inacessível” para nós, seres físicos.
Por outro lado, na < ארץeretz>, “terra”, aonde estabelecemos nosso reino de poeira e
lama, o Elohim não poderia habitar literalmente. O que podemos fazer é criar
representações de momentos, nos quais percebemos Seus feitos, suas manifestações. O
nosso entendimento da realidade Divina, nos conecta ao Divino. Para o redator
deuteronomista, o Elohim não faz parte do nosso mundo material, mas está ciente - e
como autor, afeta - desde seu domínio além do observável.
HaShem falou com vocês do meio do fogo. Vocês podiam ouvir o som das
palavras, mas não conseguiam ver nenhuma forma - apenas uma voz.
Embora o fogo seja uma parte muito real de nossas vidas aqui na terra, é o único dos 4
elementos que não comporta vida biológica. Existe vida no ar, no mar e na terra mas, não
no fogo. Por isso, o fogo é usado como representação do Divino: A Divindade não é um
– בית מדרש חופשיBeit Midrash Livre – PARASHAT TERUMAH – שםe כבוד
ser biológico, um ser vivo como qualquer um de nosso mundo. Não é ser humano ou,
qualquer outro animal terrestre, não é animal aquático nem ave. Nada biológico.
As tradições P e D, assim como outras vozes tradicionais bíblicas, acharam que a
descrição que mais se aproximava do que imaginavam ser a natureza essencial de
Elohim, era o fogo.
Ieshaiahu 60, na Haftara da Parashat Ki Tavo, descreve o mesmo conceito de Elohim, em
sua própria versão da tradição (Sacerdotal) sobre a < כבודkavod>, não mais em termos de
um fogo destrutivo, mas fogo como luz vivificante:
אֹורְך
֑ ֵ ּומי ֖א ִֹורי ִ ּ֣כי ָ ֣בא
ִ א ֥ק:ס