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Parashat Vaietze – De onde vieram as doze tribos de Israel?

O rabino, Dr Tzemah Yoreh – shlita - da Hebrew University, e autor do


livro The First Book of God, instruiu que, a mais antiga versão da Tradição
sobre Iáacov (a versão do Norte), foi amplamente editada por autores do
Sul. Esta edição de informação no período da elaboração dos textos,
culminou da adição de mais e mais filhos a Iáacov, novas explicações de
seus nomes e, uma visão da Matriarca Leah, como exemplo de fertilidade.

O nascimento dos onze filhos de Iáacov e uma filha, em Bereshit 29 e 30,


tem um pouco de uma narrativa, e um pouco de listagem. Os aspectos mais
característicos dos capítulos são os nascimentos, a outorga dos nomes e a
enumeração dos filhos de Iáacov. Não obstante a isso, elementos de arte
literária estão evidentes, tal com a história da “competição” entre as irmãs,
a declaração melodramática de Rahel “me dê filhos, senão vou morrer” e,
é claro, as “mandrágoras mágicas” encontradas por Reuben e,
“compradas” por Rahel.

Apesar de um redator ser capaz de compor um texto que funcione em mais


de um gênero, este relato em particular, não sem tal suavização. Ele traz a
narrativa deixando claro que, houve vários editores trabalhando na
composição do material.

A narrativa também força nossa credulidade - indicando com isso, que


estamos lidando mesmo, com mais de um redator – ao declarar que Leah
deu à luz a sete filhos (Reuven, Shimon, Levi, Iehudá, Issas’har, Zevulun e
Diná) em – justamente – sete anos.

Além disso, Leah é descrita, na realidade, como tendo parado de ter filhos
por um tempo (Bereshit 29: 35, 30: 9) e, é literalmente impossível de se
imaginar, como é que foi a “pausa” de uma mulher que teve sete filhos em
sete anos cravados!

Este problema, associado a concepção da tensão a narrativa ser, as vezes


como se fosse uma “lista”, e outras, como se fosse uma “história” da
competição entre as irmãs, evidencia a existência de diversos redatores,
nestes capítulos. E estas não são as únicas complexidades do relato.

Outras complexidades da narrativa

1) – Chegar atrasada, não é ganhar!

A declaração atribuía a Rahel, depois do nascimento do filho de Bil’há,


Naftali (em Bereshit 30: 7) não faz sentido para um leitor atento e crítico.
Ela diz: “Eu lutei com minha irmã e prevaleci”. Só que, a esta altura, Leah
já tinha tido quatro filhos, enquanto Rahel tinha apenas dois. Quer dizer, a
alegação de Rahel de que, “prevaleceu” sobre a irmã, não tem nexo.

[Outro problema com a alegação de Rahel é que Rahel tinha esses filhos
apenas, através de sua substituta Bil’há, em vez de dar à luz por si mesma,
como Leah! No entanto, esse problema nem é relevante para a questão da
edição de vários autores e é original na história. Aparentemente, na cultura
do Oriente Médio Antigo, os filhos “substitutos”, quer dizer, aqueles tidos
por meio das criadas, serviam como "propriedade" dos donos; certamente
Rahel e Leah consideravam os filhos seus, não de suas criadas, tanto que
davam os nomes a essas crianças.]

2) – Dois motivos para um nome

Existe quatro casos, nos quais dois motivos foram dados para um nome
específico. Dois deles, consideram a forma que a mãe (Leah) se expressou
na ocasião, e outros dois, oferecem uma “motivação etimológica” para a
escolha do nome. Os casos são os seguintes:

Reuven
‫ותהר לאה ותלד בן ותקרא שמו ראובן כי אמרה כי־ראה יהוה בעניי כי עתה‬
‫יאהבני אישי‬
Leah concebeu e deu à luz um filho, e lhe deu o nome de Reuven, pois
disse: [significa] O HaShem viu minha aflição. [e também significa]
Agora, meu marido me amará.

Bereshit 29: 32

O menino recebeu o nome de Reuven, porque o HaShem viu ‫< ראה‬ra’ah>


a aflição de Leah e teve misericórdia dela. Ou, por que o nascimento do
filho ‫< ראו בן‬Reu-ben: Olha! Um filho!> faria o marido amá-la.

[Ou ainda, como o acadêmico Gordon Wenham sugeriu, essa última opção
poderia indicar uma, etimologia alternativa para o nome Reuven, já que a
palavra ‫“( יאהבני‬ele me amará”) tem três, das quatro consoantes do nome.
Ver Gordon J. Wenham, Genesis 16-50 (Word Bible Commentary; Thomas
Nelson, 1994), página 243.]

Zevulun

‫ותהר עוד לאה ותלד בן־ששי ליעקב‬

Quando Leah concebeu novamente e, deu à luz ao sexto filho para Iáacov

‫ותאמר לאה זבדני אלהים אתי זבד טוב הפעם יזבלני אישי כי־ילדתי לו ששה‬
‫בנים ותקרא את־שמו זבלון‬

Leah disse: O Elohim me deu um Presente. Desta vez meu marido me


elogiará, pois eu lhe dei seis filhos! Por isso, ela lhe deu o nome de
Zevulun.

Bereshit 30: 19, 20


De novo, fica a questão: O menino se chamava Zevulun, porque o Elohim
deu a ela um presente ‫< זבד‬zevad>, ou porque agora, o marido dela iria
“honrá-la” ‫< זבול‬zebul>?

Iossef

O terceiro exemplo, vem do nome que Rahel deu, Iossef. Neste caso, as
duas etimologias não são consecutivas mas, são interrompidas por
declarações de que, Rahel escolheu este nome. E mesmo assim, as duas
etimologias não são claras:

‫ויזכר אלהים את־רחל וישמע אליה אלהים ויפתח את־רחמה‬

Agora, o Elohim se lembrou de Rahel. Deu ouvidos à ela e, abriu o ventre


dela.

‫ותהר ותלד בן ותאמר אסף אלהים את־חרפתי‬

Ela concebeu e deu à luz um filho e disse: O Elohim tirou minha desgraça!

‫ותקרא את־שמו יוסף לאמר יסף יהוה לי בן אחר‬

Então, ela lhe deu o nome de Iossef, dizendo: Possa o HaShem, adicionar
outro filho para mim.

Bereshit 30: 22, 23 e 24

Então, o nome de Iossef refletia que o Elohim havia tirado <assaf> a


humilhação de Rahel de não ter um filho, ou era um pedido ao HaShem
para que ela tivesse um filho adicional <Iossef>?

Issas’har
O quarto nome, contém duas etimologias implícitas. Uma delas, antes
mesmo da criança ser concebida:

‫ויבא יעקב מן־השדה בערב ותצא לאה לקראתו ותאמר אלי תבוא כי שכר‬
‫שכרתיך בדודאי בני וישכב עמה בלילה הוא‬

Quando Iáacov voltou do campo pela tarde, Leah saiu a seu encontro e
disse: Você deve dormir comigo, pois eu aluguei você com as mandrágoras
do meu filho! E ele esteve com ela, naquela noite.

‫וישמע אלהים אל־לאה ותהר ותלד ליעקב בן חמישי‬

E o Elohim ouviu a Leah, e ela concebeu para ele, um quinto filho.

‫ותאמר לאה נתן אלהים שכרי אשר־נתתי שפחתי לאישי ותקרא שמו יששכר‬

E Leah disse: O Elohim me deu a recompensa, por eu ter dado minha serva
para meu marido. De modo que, ela lhe deu o nome de Issas’har.

Bereshit 30: 16, 17, 18

Como se vê também neste caso, estas etimologias são diferentes. Afinal, o


nome dele é Issas’har porque a mãe dele “alugou” <Sehor>/<Seharti’ha>
seu acesso a Iáacov. Ou, era porque ele seria uma <sehar> recompensa, por
ela ter dado a serva para estar com Iáacov (no verso 18)?

3) – Terminologias para se referir a Divindade

A) – Elohim ou HaShem

Nos capítulos 29 e 30, o uso dos termos para se referir a Divindade varia,
sem uma explicação óbvia. Qual seria o motivo de HaShem ser o termo
usado, quando se fala em agradecer a divindade por um filho, e Elohim ser
usado, quando se fala na divindade reconhecendo o nascimento de outro?
Reuven – HaShem (19: 32, na primeira etimologia)

Shimon – HaShem (19: 33)

Iehudá – HaShem (29: 35)

Dan – Elohim (30: 6)

Naftali – Elohim (30: 8, ainda que, como um adjetivo)

Issas’har – Elohim (30: 17, segunda etimologia)

Zevulun – Elohim (30: 17, primeira etimologia)

Iossef – Elohim (30: 22, primeira etimologia) e HaShem (30: 24, segunda
etimologia)

O restante da narrativa também é inconsistente, no modo que está


apresentado, conforme usa as terminologias. HaShem “vê” que Leah não
era amada, e “abre seu ventre” (29: 31), mas é o Elohim (30: 22) que
lembra de Rahel, ouve sua dor e lhe dá fertilidade. E é também o Elohim,
que é invocado por Iáacov quando Rahel reclama de não ter filhos (30: 2).

B) – Amah ou Shif’há

A narrativa também aplica dois termos distintos para “servas”.


Quando Lavan deu servas a suas filhas, elas foram chamadas de ‫שפחתו‬
<Shif’há> (29: 24, 29). Mas, quando Rahel ofereceu sua serva a Iáacov,
para ter filhos por meio dela (30: 3), ela usou o termo <Amah> ‫אמתי‬.
E então, quando Rahel deu Bil’há para Iáacov, e quando Bil’há concebeu o
segundo filho dela, o termo <Shif’há> foi usado. E sobre Zilpá, o termo
<Shif’há> é o único utilizado (30: 9, 10, 12, 18).
Solucionando as complexidades com o olhar acadêmico

Acadêmicos e estudiosos críticos da Torá, chegaram a conclusão,


baseando-se em tais evidências de que, o relato do nascimento dos filhos
de Iáacov, foi registrado por mais de um autor e que, precisaríamos
solucionar a complexidade do texto, identificando e separando as fontes.

As evidências do estudo acadêmico até o momento, indicam que a Torá


consiste de um documento editado por um redator que, mesclou quatro
tipos distintos de tradições, para dar a impressão de que, se tratava de um
único livro.

Neste caso, o redator usou com frequência, materiais de tradição J (aquela


que usa HaShem, para se referir a divindade) e de tradição E (aquela que
usa, Elohim para se referir a divindade). Ele fez isso, porque tais tradições
contavam uma história parecida, fechada em sua própria narrativa.

Porém, se nós separarmos os trechos que usam HaShem para se referir a


divindade, daqueles que usam Elohim; descobriremos que, existem ali
duas histórias incompletas. Isto, por sua vez, exige que pensemos que,
houve trechos cortados, das duas tradições pelo redator. Embora, esta
perspectiva seja mesmo uma possibilidade, ela mais cria problemas do que
resolve.

Em vez disso então, a solução acadêmica chamada de Hipótese


Suplementar, parece a mais plausível. Esta abordagem sugere que, a Torá
começou com um texto original que, foi expandido por adições
posteriores. E que isto foi um processo natural na cultura em que, tal
material foi criado – especialmente, textos em que se menciona a
Divindade.

De acordo com esta abordagem, apenas a camada original traz uma


narrativa coesa. Os materiais que foram adicionados – por natureza – não
podem ser lidos separadamente, porque foram adicionados, considerando o
original. Ler tais materiais isolados, gera inevitáveis incoerências e, deixa
a narrativa incompleta.
Seguindo este modelo, o Dr Yoreh trouxe uma abordagem de que, o texto
original, sobre o qual outros foram construídos, é o de Tradição E. O
primeiro redator que adicionou a este material, foi o da tradição J.

A expansão da narrativa do nascimentos

A) – Rahel Prevalece

Uma das chaves interpretativas, para descobrirmos a composição deste


material, é compreender a declaração de Rahel, após o nascimento de
Naftali: “Eu lutei com minha irmã e prevaleci”. O termo ‫ יכלתי‬usado ali,
significa “prevalecer” tal como, quando o nome de Israel é outorgado a
Iáacov, em Bereshit 32: 29:

‫ויאמר לא יעקב יאמר עוד שמך כי אם־ישראל כי־שרית עם־אלהים ועם־אנשים‬


‫ותוכל‬

Ele disse: Seu nome não erá mais Iáacov, mas Israel. Pois, você perseverou
com homens e com o Elohim, e prevaleceu.

Como já foi indicado, Rahel não havia “prevalecido” na competição de


procriação. Ela ainda estava perdendo, por quatro contra dois.

Isto sugere então, que o verso 7 indica uma versão do texto, no qual Leah
tinha menos filhos. Quer dizer, outros fatores apontam para a
probabilidade de que, os relatos do nascimento de Shimon (29: 33) e
Iehudá (29: 35) e, talvez até Levi (19: 34) vieram, de uma camada textual
secundária, atribuía a Tradição J.

[Nenhum critério literário absoluto vincula o nascimento de Levi a


tradição J. No entanto, como o Dr Yoreh indica, há um problema no fato de
que os levitas, como tribo, fossem mencionados em histórias escritas na
região Norte. Isso porque os levitas, não eram considerados um grupo
tribal como os demais, mas apenas um grupo de “obreiros do templo”,
portanto, numa história de nascimento de fundadores tribais, faria pouco
sentido os incluir.]

Em primeiro lugar, o termo usado para se referir a divindade ali – HaShem


– atende a narrativa de Shimon e Iehudá, tornando os dois materiais,
adições da tradição J.
Em segundo lugar, Shimon e Iehudá são – os dois – tribos do Sul.

E estas tribos, dificilmente precisariam ser consideradas pelo autor da


Tradição E, que atuava na região Norte de Israel, no período monárquico e,
não consideraria necessário “trazer” a tribo de Iehudá Sulista para suas
famílias. Especialmente porque, na época, o reino de Iehudá ao Sul, estava
diminuído em sua população e riqueza, por culpa do Reino de Israel ao
Norte.

[É certo que, na narrativa E, Rahel está tendo dificuldade em conceber,


mas o termo ‫ עקרה‬não é usado pelo redator da tradição E. Mais importante
ainda, este é o único exemplo desse tipo de história na tradição E,
enquanto que, na tradição J este é um motivo recorrente.]

Assim, o redator da tradição E não teria sido o único, a simplesmente


ignorar as tribos do Sul.

Considere a evidência da canção de Deborah (Shoftim 5), que faz uma


lista das tribos que lutaram com Barak – e quais não lutaram. Ela não
menciona, nem Shimon nem Iehudá! E nem menciona a “tribo” de Levi.
E Isso favorece a proposta de que, neste caso também – da lista de
nascimento – Levi, foi uma adição posterior.

O verso inicial desta listagem, narra a infertilidade de Rahel, invocando o


nome do HaShem.
O tema da infertilidade das Matriarcas, é um tema recorrente na tradição J,
como se vê na menção da infertilidade de Sárah, de Bereshit 16; a
infertilidade e Rivka, em Bereshit 25, ambos de tradição J.

De fato, a própria palavra <estéril> ‫עקרה‬, nunca foi usada para descrever
as Matriarcas, nos materiais de Tradição E.

[O relato do estupro de Diná de Bereshit 34, é atribuído – na pesquisa do


Dr Yoreh – a tradição J e tradição P. E não há mesmo razão pela qual, a
tradição E devesse mencionar tal relato, pois ela não aparece na história
deles.]

Deste modo, parece que segundo a Tradição J, que chama a atenção para
Iehudá, adicionou as tribos de Shimon, Levi; além de adicionar Iehudá no
material da tradição E.

E foi de acordo com a tradição E, que quando Leah fica grávida, ela
acredita que ele a amaria por ter lhe dado um filho. Além disso, se a
tradição J fosse responsável por adicionar o nascimento de Shimon, Levi e
Iehudá no relato; então, a alegação feita por Rahel em 30: 8, sobre ter
prevalecido contra a irmã, faz todo sentido, já que ele estaria mesmo na
frente da competição, por um filho (Reuven, versus Dan e Naftali).

B) As etimologias duplicadas

O termo HaShem, parece na explicação dada ao nome de Reuven. Isso não


quer dizer que Reuven foi uma adição do redator da tradição J. Mas, serve
de evidência de que, a específica justificativa de que o nome Reuven,
significava que o HaShem viu o sofrimento de Leah, era uma adição do
redator da tradição J. Talvez, o redator da tradição J não estivesse satisfeito
com a ausência de um sentido etimológico claro, e ofereceu uma nova
explicação, usando a raiz ‫< ראה‬ver> nela.
E esta seria também a possível explicação, para as outras duas duplicações
etimológicas percebidas antes. A Tradição E explica o nome de Zevulun,
com o <Zevadani>, e a tradição J complementa, sugerindo <Iz’beleni>,
termos cuja raiz é bem parecida ‫זבל‬. E também, a tradição E explica Iossef
com a palavra <assaf>, e a tradição J complementa com <iossef>.

C) – O papel das servas no nascimento de Issas’har

Os complementos da Tradição J, para a etimologia de Issas’har, escolhe as


mesmas raízes da tradição E - ‫ שכר‬- . Mas, proporciona uma explicação
diferente, procurando encaixar com a ampla revisão da tradição J, da
história como um todo. A tradição J expande significativamente o tema de
Iáacov se casar com as servas das esposas, algo mencionado apenas em um
verso na tradição E (em 30: 3); Quando Rahel sugere a Iáacov que tome
sua serva <Amah>, para que ela tenha filhos deste modo.

O autor da Tradição J acrescenta detalhes ao relato de Bil’há. E mais


importante ainda, ele adiciona toda a seção sobre a serva de Leah, Zilpá.
Ao adicionar estes versos (versos 9 a 13), o redator da tradição J procurava
criar uma espécie de paralelo, entre as servas de Rahel e as de Leah. Nesta
versão, Leah também tinha uma serva e, também deu a serva para o
marido, para aumentar sua quantidade de filhos. Assim, na tradição J,
Rahel não teria vantagem também.

Os versos literalmente, não possuem os marcadores típicos da tradição J


(além do uso do termo <Shif’há> para serva), mas se percebe que, se trata
mesmo desta tradição, na hora de explicar o nome de Issas’har, no verso
18. Como falado antes, o verso 17 indicava que Issas’har recebeu este
nome por causa do acordo entre Leah e Rahel, pelas mandrágoras de
Reuven. Ela engravida e diz:

‫ותאמר לאה נתן אלהים שכרי אשר־נתתי שפחתי לאישי ותקרא שמו יששכר‬
E Leah disse: O Elohim me deu recompensa, por ter dado minha serva a
meu marido. Então, ela lhe deu o nome de Issas’har.

Em outras palavras, como recompensa por ter dado Zilpá para Iáacov, e
causar o nascimento de Gad e Asher, ele mereceu ter outro filho, dela
mesma.

A etimologia considerada pela Tradição E, sobre o nome de Issas’har –


dizendo que Elohim deu ‫ – שכרי‬minha recompensa – mostra que, o cerne
desta tradição é mesmo E – mas, o Dr Yoreh sugere ainda, que há uma
segunda camada etimológica na frase “por ter dado minha serva a meu
marido”, indicando a tradição J. O motivo do nome de Issas’har sugerido
no verso anterior e, reiterado aqui, não tem relação alguma com o fato de
Leah ter dado sua serva para Iáacov, posto que, não havia nada neste ato
específico, que tivesse que ser “recompensado” de algum modo.

Em vez disso, Leah estaria se referindo ao acordo entre ela e Rahel, pelas
mandrágoras (verso 16). Ali, se usa a mesma raiz ‫( שכר‬Leah saiu para se
encontrar com ele e falou “você deve estar comigo, porque eu “te aluguei”
‫ שכר שכרתיך‬pelas mandrágoras do meu filho).
Note que a Tradição J complemente este verso, com uma explicação
contraditória, (pois, eu dei minha serva a meu marido), tentando reforçar
este narrativa adicional, sobre Zilpá e seus dois filhos; que está ausente, na
tradição E.

D) – Outras adições da Tradição J

Existe ainda, outras pequenas adições da tradição J dignas de atenção:

- Todas as listagens numéricas dos filhos, no capítulo 29 e 30, foram


adicionadas por J, dado que, esta fonte é que traz o número total dos filhos
de Iáacov, de sete para doze.
- O nascimento de Diná no verso 21, pertence a J.

[por exemplo, a lista em Bamidbar 1 a 3, Bamidbar 26 e o relato das


rochas no Jordão em Iehoshua; dentre outros exemplos]

- As duas ocasiões na quais, o relato de Bil’há é mencionado como


<Shif’há> de Iáacov (versos 4 e 7), deve também ser atribuído a J.

Os Sete filhos de Iáacov?

De acordo com a atual formatação do Sefer Bereshit

[Dado que, doze poderia ser apenas um número tipológico, mas também
poderia ser que doze fosse um número reconhecido das tribos israelitas
quando o redator da tradição J estava composto seu material e, teria sido
isso que o motivou a chegar ao número doze, nesta conta]

e muitas outras fontes das Escrituras Hebraicas, Iáacov teve doze filhos,
cada um sendo o pai de uma das tribos de Israel.

Só que na Tradição E, Iáacov teve apenas sete filhos. Quando o redator da


Tradição J, herdou a narrativa da tradição E do Norte, ele adicionou três
tribos que eram consideradas importantes para ele e seu público em
Iehudá. E duas outras que, serviram para fechar o total de doze,
aumentando assim, a importância da Matriarca Leah.

O número sete jamais é mencionado de modo explícito no material da


Tradição E, sobre os filhos de Iáacov. E várias passagens posteriores de
Bereshit, sugerem este procedimento. Iossef, que em Bereshit 41 foi
colocado como vizir no Egito, outorga a seus irmãos, presentes quando
eles vieram comprar comida.

Em duas ocasiões distintas (em Bereshit 43: 34 e 45: 22)


[E note a propósito que, nos modelos documentais padrão 43:34 são
atribuídos a tradição J, mas a análise do Dr Yoreh mostra, sobre o trecho
de Iossef, que 43:34 e 45:22 devem ser atribuídos a tradição E. Para
melhor entendimento disso, ver o trabalho do Dr Tzemah Yoreh, Joseph's
Ascent (Modern English Version), Modern Scriptures, 2013, Nova York,
páginas 35, 46, 79.]

Iossef deu a seu irmão por parte de mãe, Biniamin, cinco vezes mais
presentes que, ao resto de seus irmãos. Se eles eram doze irmãos, este
número não tem muito sentido. Se eram sete, entretanto, o fato de Iossef
ter dado a Biniamin o mesmo número de presentes que deu ao restante dos
irmãos juntos (sete irmãos, menos Iossef e Biniamin), enfatizaria o tema
da narrativa de que, Biniamin era muito mais apreciado, que todos os
outros irmãos de Iossef.

O complemento dos Sulistas e dos Nortistas

Esta visão e leitura de Bereshit 29 e 30, sugerindo que a tradição J


adicionou a menção de cinco filhos, na descendência de Iáacov, provê um
exemplo particularmente bom, de como a proposta acadêmica, chamada de
Hipótese Suplementar; é capaz de simplificar narrativas que, de outro
modo, são confusas e desconexas.

Este método de análise científico literária, provê esclarecimento direto de


textos, revelando as motivações de cada parte. Quando os redatores do
Reino do Norte, escaparam da destruição trazida pelos Assírios, os textos
que eles trouxeram tiveram que ser adaptados, para seu novo público em
Iehudá, ao Sul. Foi neste ponto que, a tradição J deixou sua contribuição.
Rauel, que era mãe de Iossef e, portanto, Matriarca do Reino do Norte, não
podia mais ganhar a competição de procriação, contra sua irmã Leah, que
era vista pelos habitantes de Iehudá, como sua matriarca.

É por isso que, a tradição J fez Leah dar à luz mais quatro filhos, elevando
seu número total até sete (Reuven, Shimon, Levi, Iehudá, Issashar,
Zevulun e Diná) em justamente sete anos – ainda que, forçando a
credulidade e o gênero - mas, transformando a narrativa de uma
competição, em algo mediano entre uma listagem, e uma história.

Leah não apenas ultrapassa Rahel no número de filhos, mas, sozinha, dá à


luz ao total de crianças mencionadas no documento da tradição E, que é
anterior - 7.

Sua criada, Zilpá, também é tão fecunda quanto a serva de Rahel, Bil’há e,
portanto, Rahel também não teve vantagem neste ponto

E foi assim que o redator da tradição J chegou aos “doze filhos”, partindo
dos sete filhos, originais no texto da tradição E.

Mesmo considerando que, o número doze talvez fosse por acaso, mas
talvez não. Já que se trata de uma figura tipológica, que aparece em toda a
Bíblia Hebraica em vários contextos.

[veja que, Nahor e Ishmael tiveram doze filhos cada (Bereshit 20: 20 - 24;
25: 12 - 18). Os cinco reis que serviram Kedorlaomer, o serviram por doze
anos (Bereshit 14:4) Existiram doze profetas menores. E havia doze fontes
de água, quando os israelitas saíram do deserto (Shemot 15: 27)]

Mais importante ainda, o redator da tradição J fez Leah dar à luz Iehudá, o
Patriarca da tribo central do Reino do Sul.

No ciclo subsequente de Iossef, os autores da região de Iehudá colocarão


sua tribo, na vanguarda da narrativa. E ele disputará com Iossef, a posição
de “filho mais importante de Iáacov”.
Com o texto restaurado pela análise acadêmica, como fica a leitura?

A versão original da Tradição E

‫ותהר לאה ותלד בן ותקרא שמו ראובן כי אמרה כי־ראה יהוה בעניי כי עתה‬
‫יאהבני אישי‬
Leah concebeu e deu à luz um filho. Ela lhe deu o nome de Reuven, pois
disse: HaShem viu minha aflição. Agora meu marido me amará.

‫ותרא רחל כי לא ילדה ליעקב ותקנא רחל באחתה ותאמר אל־יעקב הבה־לי בנים‬
‫ואם־אין מתה אנכי‬

Quando Rahel viu que não havia dado a Iáacov nenhum filho, ela ficou
com ciúmes de sua irmã. Rahel disse então a Iáacov: Me dê filhos, senão
vou morrer!

‫ויחר־אף יעקב ברחל ויאמר התחת אלהים אנכי אשר־מנע ממך פרי־בטן‬

Iáacov ficou bravo com Rahel e disse: E por acaso eu estou no lugar de
Elohim?! [Ele é quem] negou fruto do ventre [a você]!

‫ותאמר הנה אמתי בלהה בא אליה ותלד על־ברכי ואבנה גם־אנכי ממנה‬

Ela disse [então]: Aqui está minha serva Bil’há. Esteja com ela, de modo
que ela possa dar à luz entre meus joelhos e; deste modo, eu também
poderei ter filhos.

‫ותתן־לו את־בלהה שפחתה לאשה ויבא אליה יעקב‬

Então, ela deu a ela sua serva, Bil’há como concubina. E Iáacov esteve
com ela.

‫ותהר בלהה ותלד ליעקב בן‬


Bil’há concebeu e deu à luz a um filho, para Iáacov.
‫ותאמר רחל דנני אלהים וגם שמע בקלי ויתן־לי בן על־כן קראה שמו דן‬
E Rahel disse: O Elohim me julgou! De fato, ele me atendeu e me deu um
filho! Por isso, ela lhe deu o nome de Dan.

‫ותהר עוד ותלד בלהה שפחת רחל בן שני ליעקב‬


A serva de Rahel, Bil’há, concebeu novamente. E deu à luz a um segundo
filho para Iáacov.

‫ותאמר רחל נפתולי אלהים נפתלתי עם־אחתי גם־יכלתי ותקרא שמו נפתלי‬

E Rahel disse: Eu lutei com a minha irmã e prevaleci! Então ela lhe deu o
nome de, Naftali.

‫וילך ראובן בימי קציר־חטים וימצא דודאים בשדה ויבא אתם אל־לאה אמו ותאמר‬
‫רחל אל־לאה תני־נא לי מדודאי בנך‬

E certa vez, na época da colheita de trigo, Reuven voltou do campo com


algumas Mandrágoras e as trouxe para sua mãe Leah. Rahel disse para
Leah, “Por favor, me dê algumas das mandrágoras de seu filho”

‫ותאמר לה המעט קחתך את־אישי ולקחת גם את־דודאי בני ותאמר רחל לכן‬
‫ישכב עמך הלילה תחת דודאי בנך‬

Mas, ela lhe respondeu: Não te bastou tomar meu marido de mim, que
agora você também quer tomar as mandrágoras do meu filho? E Rahel
respondeu: Eu te prometo que, ele estará com você, esta noite, em troca
das mandrágoras do teu filho.

‫ויבא יעקב מן־השדה בערב ותצא לאה לקראתו ותאמר אלי תבוא כי שכר‬
‫שכרתיך בדודאי בני וישכב עמה בלילה הוא‬

Quando Iáacov chegou do campo ao anoitecer, Leah saiu para encontrá-lo


e disse: Você deve estar comigo hoje a noite, pois eu te aluguei com as
mandrágoras do meu filho. E ele esteve com ela, aquela noite.

‫וישמע אלהים אל־לאה ותהר ותלד ליעקב בן‬

E o Elohim ouviu a Leah, e ele concebeu e deu a luz um filho.

‫ותאמר לאה נתן אלהים שכרי ותקרא שמו יששכר‬


E Leah disse: O Elohim me deu a recompensa. E por isso, ela lhe deu o
nome de Issas’har.

‫ותהר עוד לאה ותלד בן ליעקב‬

Quando Leah concebeu novamente, deu a luz a um filho para Iáacov

‫ותאמר לאה זבדני אלהים ותקרא את־שמו זבלון‬


Leah disse, O Elohim me deu um presente. Então, ela lhe deu o nome de
Zevulun.

‫ויזכר אלהים את־רחל וישמע אליה אלהים ויפתח את־רחמה‬

Então, o Elohim se lembrou de Rahel. E o Elohim a ouviu e abriu seu


ventre.

‫ותהר ותלד בן ותאמר אסף אלהים את־חרפתי‬

Ela concebeu e deu à luz um filho, dizendo: O Elohim removeu minha


desgraça!

‫ותקרא את־שמו יוסף‬


E ela chamou seu nome, Iossef.

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