“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
MODELAGEM DE CONTRATOS DE
MANUTENÇÃO PARA EQUIPAMENTOS
HOSPITALARES USANDO SIMULAÇÃO
DISCRETA DE EVENTOS
avançadas de produção”
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“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
1. Introdução
O sucesso de qualquer organização depende do funcionamento adequado das atividades
realizadas, sendo essenciais, nesse sentido, a eficiência e a produtividade de suas operações.
Tais atividades dependem do funcionamento adequado dos equipamentos e ferramentas
utilizados; Murthy et al. (2015) destacam que o atendimento às especificações dos
equipamentos e componentes é imprescindível para que se garanta a produtividade.
Consequentemente, a manutenção assume um papel fundamental na garantia de sucesso.
Além da produtividade, a qualidade da manutenção é destacada por Quinlan et al. (2013)
como importante fator na garantia da segurança dos usuários, pois a realização adequada das
atividades de manutenção pode evitar a ocorrência de acidentes.
Diante disso, práticas adequadas de manutenção têm sido buscadas por empresas de diversos
setores, dentre eles o setor de saúde. Dyro (2004) destaca que a Engenharia Clínica (EC) –
que é a disciplina responsável por projetar, gerenciar e otimizar processos, técnicas e
equipamentos médicos – precisa assegurar o funcionamento dos sistemas de serviços
médicos, o que envolve, dentre outras atividades, a execução adequada das atividades de
manutenção.
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“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
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Este trabalho estende o modelo analítico apresentado por Ashgarizadeh & Murthy (2000) ao
utilizar valores mais exatos através do uso de simulação; este trabalho também é uma
extensão do modelo apresentado por Santana et al. (2016) através da consideração das
características específicas dos equipamentos hospitalares. Além disso, é realizado um
exemplo de aplicação levando em consideração dados reais de falha de um equipamento de
ressonância magnética nuclear em um hospital brasileiro.
2. Formulação do modelo
Equipamentos hospitalares de alta complexidade podem chegar a custar alguns milhões de
reais, como é o caso do exemplo apresentado na seção 4, em que o equipamento em questão
custa mais de R$ 3 milhões. Juntamente com a compra do equipamento, o hospital recebe
uma garantia básica, podendo estendê-la. Caso a garantia não seja estendida, o hospital deve
pagar por cada reparo realizado, sempre que o equipamento falha. A modelagem dessas
características é apresentada nesta seção.
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Durante o período de garantia básica T0, os custos de reparos são cobertos pelo OEM; a
receita que o hospital deixa de gerar enquanto os equipamentos estão falhos é reembolsada
pelo OEM. Do ponto de vista do OEM, esses custos são cobertos pelo preço de venda do
equipamento.
Juntamente com a decisão pela compra do equipamento, o hospital também deve decidir pela
aquisição da garantia estendida. Formalmente, existem três alternativas de decisão para o
cliente:
A1: comprar o equipamento e contratar a garantia estendida com duração T1, que passa
a contar após o término do período de garantia básica T0 e tem preço Pw; durante o
período da garantia estendida, o custo com falhas é coberto pelo OEM; quando o
tempo y entre a ocorrência de uma falha e o término de seu respectivo reparo é maior
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A2: comprar o equipamento, porém não contratar a garantia estendida; o hospital deve
arcar com os custos de manutenção, não recebendo qualquer reembolso ou multa do
OEM após o término do período de garantia básica T0; o OEM ainda realiza os reparos
sob demanda após o término da garantia, mas cobra um valor Cs por cada serviço
realizado.
O OEM é neutro ao risco e deseja maximizar seu lucro esperado; os hospitais são avessos ao
risco e desejam maximizar sua utilidade esperada. Considera-se que os hospitais são
homogêneos quanto ao comportamento em relação ao risco, portanto todos os clientes tomam
a mesma decisão. A utilidade de cada hospital é descrita pela eq. (1) (VARIAN, 1992), onde
w é uma riqueza (em milhares de unidades monetárias) e é o parâmetro de aversão ao risco.
(1)
Assim como ocorre nos modelos apresentados por Santana et al. (2016), Guedes et al. (2015),
Ashgarizadeh & Murthy (2000), Murthy & Asgharizadeh (1999) e Murthy & Asgharizadeh
(1998), esse problema pode ser modelado através de um jogo de Stackelberg, em que o OEM
atua como líder e os hospitais atuam como seguidores. Dessa forma, é considerada a hipótese
de informação perfeita, ou seja, os jogadores (OEM e hospitais) têm pleno conhecimento
sobre as decisões tomadas e sobre as características de confiabilidade do equipamento,
podendo estimar previamente seus retornos e custos esperados.
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respectivamente, são dadas pelas eqs. (2) e (3), onde wi é a riqueza do hospital devido à opção
pela estratégia Ai.
(2)
(3)
A partir de w1 e w2, o hospital pode obter sua utilidade esperada através de substituição na eq.
(1) e aplicação do valor esperado.
(4)
(5)
Dessa forma, dados os valores do preço da garantia estendida (Pw) e do preço cobrado ao
hospital por reparo (Cs), o OEM pode decidir pela opção que retorna maior lucro através da
comparação entre as eqs. (4) e (5).
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3. Solução do modelo
3.1. Estratégia ótima do cliente
A partir da substituição das eqs. (2) e (3) na eq. (1) e aplicação do valor esperado, as utilidades
esperadas de cada cliente podem ser obtidas. A utilidade esperada para a estratégia A0 é
E[U(w0)] = 0. Para as estratégias A1 e A2, as respectivas esperanças de utilidade são dadas
pelas eqs. (6) e (7).
(6)
(7)
Note que, como é considerada a hipótese de informação perfeita, os hospitais podem estimar
suas esperanças de utilidade, pois eles possuem conhecimento, no momento da compra, sobre
o comportamento de falhas do equipamento, assim como o número de clientes que serão
atendidos (K), os preços cobrados pelo equipamento e pelos serviços de manutenção.
(8)
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e Cs* são obtidos, sendo as expressões resultantes dadas nas eqs. (9) e (10). Note que a eq. (10)
não permite expressão em forma fechada para obtenção de Cs*, sendo resolvida através de
métodos numéricos.
(9)
(10)
Obtidas as estimativas de Pw* e Cs* para um dado número de clientes K, o OEM pode definir
os preços da seguinte forma:
Pw > Pw* e Cs > Cs*, quando o lucro esperado com a estratégia A0 é maior do quem nas
estratégias restantes, de forma que os hospitais não compram o equipamento nem
contratam os serviços, pois os preços são superiores aos que estão dispostos a pagar;
Pw = Pw* e Cs > Cs*, quando o lucro esperado com a estratégia A1 é maior do quem nas
estratégias restantes, de forma que os hospitais compram o equipamento e contratam a
garantia estendida, pois o preço de reparos sob demanda é superior ao que estão
dispostos a pagar;
Pw > Pw* e Cs = Cs*, quando o lucro esperado com a estratégia A2 é maior do quem nas
estratégias restantes, de forma que os hospitais compram o equipamento e não
contratam a garantia estendida, pois o preço da garantia estendia é superior ao que
estão dispostos a pagar;
Por fim, para encontrar o número de hospitais atendidos (K) que retorna o maior lucro
esperado, o OEM estima seu lucro esperado para diferentes valores de K, começando por K =
1, realizando incrementos até que o valor ótimo do lucro esperado seja encontrado.
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modelo descrito na seção 2 foi replicado através de DES (ROSS, 2013) e, a partir das saídas
da simulação, as equações do modelo foram estimadas.
4. Exemplo de aplicação
A modelagem descrita nesse trabalho foi aplicada utilizando dados reais de falha para um
equipamento de RNM em um hospital brasileiro. A partir dos dados, coletados entre 2008 e
2015 e totalizando 66 falhas, os seguintes parâmetros foram estimados: = 1.002255 x 10-3 h-
1
; = 5.556 x 10-3 h-1; C = 3,555.4 (R$ x 103); R = 0.12901 (R$ x 103); Cr = 18.3 (R$ x 103);
T0 = 8,760 h (1 ano); T1 = 8,760 h (1 ano). Cb = 1,185.13. Foram considerados os seguintes
parâmetros adicionais: = 0.05 (R$ x 103); = 360 h; = 0.02.
4.1. Resultados
Os resultados do exemplo descrito acima são vistos na Tabela 1. O OEM vende o
equipamento para K* = 9 hospitais, que contratam a garantia estendida. O OEM define os
seguintes preços: Pw = Pw* = R$ 578,595; Cs = Cs* = R$ 46,348. O lucro esperado do OEM é
E[] = R$ 3,440,619. Mais informações sobre as métricas do sistema para o período [T0, T1]
são apresentadas na Tabela 2.
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Podem ser encontradas as variações no tempo limite antes da incidência de multas ao OEM
na Tabela 7. Um efeito similar ao das variações em é observado; com prazos menores,
apesar da maior incidência de multas, o lucro esperado do OEM é maior, assim como a
disponibilidade de pagamento dos hospitais. Nesse caso, entretanto, não houve variações no
número de clientes atendidos (K).
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Pode-se observar que, ao longo da análise de sensibilidade realizada, a estratégia A2 não foi
observada. Isso se deve à aversão ao risco dos hospitais, que aceitam pagar valores mais altos
pela extensão da garantia, pois essa escolha oferece muito menos incertezas do que a não
contratação da extensão e, portanto, pagamento dos custos de reparo a cada intervenção.
Apesar disso, quando a garantia estendida ocasiona muitas multas, devido a parâmetros de
multa ( e ) mais rigorosos, a estratégia A2 passa a ser escolhida. Por exemplo, quando =
1.0 (R$ x 103 h-1) e = 90 h, os hospitais compram o equipamento sem a garantia estendida, e
os resultados são os seguintes: K* = 7; Pw > Pw* = R$ 1,394,223; Cs = Cs* = R$ 53,748; E[] =
1,457,630.
5. Conclusões
Este trabalho apresentou uma metodologia para modelagem de problemas de manutenção de
equipamentos hospitalares de alta complexidade tecnológica, sendo uma extensão dos
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modelos propostos por Santana et al. (2016) e Ashgarizadeh & Murthy (2000). Para isso,
foram levadas em consideração características desse tipo de equipamento para direcionamento
do modelo. O OEM detém controle monopolístico sobre as técnicas e tecnologias necessárias
para realização da manutenção, sendo contratado pelos hospitais que compram o equipamento
em uma das modalidades: contratos de garantia estendida; ou reparos sob demanda.
6. Agradecimentos
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo suporte financeiro.
REFERÊNCIAS
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GUEDES, B. N.; MOURA, M.; LINS, I. D.; ZAIDAN, H. P. S.; Morais, D. & Pascual, R.
Negotiation of extended warranties for medical equipment. Safety and Reliability of
Complex Engineered Systems. 2015 (pp. 975–982).
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OSBORNE, M. J. & RUBINSTEIN, A. A Course in Game Theory. 1994 (1st ed.). New
York: The MIT Press.
VARIAN, H. R. Microeconomic Analysis. 1992 (3rd ed.). New York: W. W. Norton &
Company, Inc.
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