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Colegio Estudos de Proceso Penal Prof. Joaquin Canuto Mendes de Almeida Coordenagao Roséaio Lauria Tucet ‘Séaio Marcos bs Morass Prromno (in memoriam) 9. O dlreito de defesa no Inquérto policial, Marta Saad, Sto Paulo: RT, 2004 Obras publicadas nesta Colegio 1. Revisao criminal. 2. ed, rev, atual. ¢ ampl. Sérgio de Oliveira Médic. $0 Paulo: RE, 2000. 2.Da busca ¢ da apréensio no processo penal. Cleunice A. Velentim Bastos Pitombo. Sio Paulo: RT, 1999. 3. Correlapdo entre acusagio sentenga. Gustavo Henrique Right Ivahy Badar6 Sto Paulo: RT, 2000. 4, Interesce e legiimaso para recorrer no processo penal brasileiro. Mauricio Zanoide de Moraes. Séo Paulo: RT, 2000. ‘5. Justa causa para a apie penal: dovtrina e juisprodacia, Maria Thereza Rocha de Assis Moura. So Paulo: RT, 2001. 6. Ieualdade no direlto processual penal brasileiro. Paula Bajer Fernandes Martins 4a Costa, Sto Paulo: RT, 2001. 1. Inatividade no processo penal brasileiro. Roberto Delmanto Junior. Sio Paulo: RT, 2004, 8. A garantia constiucional do direto ao silencio. Joao Claudio Couceiro. Sto Paulo: RT, 2004, ‘Dados Inernacionals de Catalogaco a Pubilaro (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Beal) ‘Sead, Mata 1 direto de defers no ingudto pois / Mana Saad; preficio Mara Theeza ca de Asis Moura. S8o Paulo: Eitora Revista dos Teun, 2004. (Coep30 esta de process peal Joaguim Canuto Mendes de Aimed: . 9) Biblogratia ISBN 85-20-2617. 1. Defise Process pes! — Brasil 2. Disito do defesa 3 Inquso 1L Mow, Mara Therza Roc de Asse. Tl UI Se oes cpu-s ncces para catshgosstemtcn: 1 Brasil: Dito de defesa no lguto poll: Dic peal sts ‘mento inicial para o exerci policial — 3.2 Concretizacao do exe de defesa no inquérito poli 98-34 Consideragées finais. ramente estabelecidas. segurar 0 direito de defesa desde a pi penal; cuidaremos da defesa como di Ciéncia da imputagio;3.2.2 Autodefesa; 3.2.3 Defesa téenica ~ 3.3 Exereicio exogeno do direito de defesa: 3.3.1 Peticfo enderecadadautoridadejudiciétia ‘competente; 3.3.2 Habeas corpus; 3.3.3 Mandado de seguran- _ Para completa andlise do exercfcio da defesa no inqué policial,faz-se necessério que determinadas nogdes sejam pri endégeno do direito 3.1 Direito de defesa no inquérito policial: nodes NG Ressaltaremos, nos itens que seguem, a importéncia de se a5" imeira fase da persecuci0 | © como garantia; RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 199 tinguiremos 0 direito de defesa do contraditério, a autodefesa da defesa técnica; trataremos dos exercicios endégeno e exégeno do direito de defesa no inquérito pol extensio do direito de dofesa na Constituigao da Repal , por fim, cuidaremos de fixar 0 momento icio do direito de defesa no inquérito poli 3.1.1 Importincia do direito de defesa no inicio da persecugéo penal O inguérito abriga no somente atos de investigagio, mas também atos de instrucao criminal, alguns de cardter transit6rio, outros de cariter definitive. Com efeito, apartir da instauragao do inquérito policial, iné- ‘te assegurados podem ocorrer em desfavor do acusado, tais como 0s decretos de prisdo preventiva (arts. 311 a 316 do CPP) e de priséo temporaria (art. 1.° da Lei 7.960/1989), se 0 inquérito jé i jopormeiode flagrante (arts. 301 310doCPP), to de liberdade (art. 5°, LXI, da Cons- a apreensao, que pode restrin- de liberdade, tutela e curatela, a posse e a proprie~ dade (art. 5.°, XXILe LXI, da Constituigao da Repiiblica); a de- cretagdo do arresto ou seqiiestrode bens (arts, 1254 144doCPP), © esse sentido, of. Cleunice A. Valentim Bastos Pitombo, Da busca... cit., p. 60-61. 200 que limitam a fruigdo do patrimé a ee nio (art. 5.°, XXII, da Const 8°, § 1°, da privada (art. tagdo das comunicagGes telef6nicas (art. 10 d: que restringe o sigilo das comunica tituigdo da Rep ines do significado. (© DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL , da Constituigao da Reptiblica); ur ¢ econdmico; e, pior, ao fir possivel formalizacao da acusagii i Cm usagHo, com o inicio da segunda fi da persecugfio penal, por meio da deci ode eccbimento dade niincia, ou queixa ( : 394 do CPP). Entendendo que o art. 5. LV, da Constituigso da Repiiblica, por sea fundamento garantista, no pode jc erpretagé - ‘ser objeto de leitura ¢ i on mas sim que o Cédigo de Processo Penal deve, fccan ae Jas infu consticional adaptar-se& Contain, cf. Aury Lo ior, Sistemas... cit., 285. ee ‘Nao se pode deixar de lembrar. is 0 ei ‘recentes decisdes da Segunda Turma do Superior Tonal de Justiga ue, julgando o RMS 12.516, oRMS 12.7540 RMS 1546S em dos pormaoriad vote, entendeu que i inquérito polici i ve par odefenson no fev indie e date eee inl assim como as demaii persecu: 40 penal preliminar ou prévia,é fase provedmenn carcondc ds Signifcadocimportnca, nd obstanteodescaso da doutinaemes- " is com essa etapa da persecucdo penal. Nesse espect fico campo, a Constituigo da Repiblica vem sendo reiteradamente interpreta efor arestringi as garantias constitucionais Id es- = 3? reduzindo-se a nada o direito de defesa (art. 5°, LV)¢ odireito Aassisténcia de advogado (art. 5°, LXXIY, acts. 133 134), Jéina persecugdo penal preparatiria ou prévia? : Justamente por ser 0 inquérito uma etapa important ben de mei de roa incsie com on qe dear se repetem, o acusado deve contar com assisténcia de defen- [RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 201 sor nessa fase preliminar, preparando adequadiae tempestivamente gua defesa, substancial, de contetido.* ‘Todavia, o que se constata é que ndo se concede assistencia por meiode advogado dativo 20 indiciado,® quando muitoisso se faz ha hipétese de este ter sido preso em flagrante pleitear relaxamento da pristo ou a liberdade provis6ria, com ‘ousem fianga. Resta nto ao acusado, de modo informal ousob fngulo substancial, aguardar, sem que nenhuma prova seja re- ‘e/ou produzida em seu favor, a conclusao do inquérito rocedimento este que pode se estender por anos, ¢ de- a remessa dos autos a juizo para, apenas se denun- poderenfim contar comaassisténcia profissional deadvo- gado, jé na segunda fase do procedimento da persecugao penal.* © Voto do Min. Orozimbo Nonato, nos autos do HC 29.636, julgado ‘em 26.01.1944 no Supremo Tribunal Federal, apud Eduardo Espi- © “Se a preceituagao constitucional contempla o preso, 20 no transcorrer da investigacdo criminal, no pode, sem 0 indiciado” (Rogério iduais no processo penal , $40 Paulo, Saraiva, 1993, p. 185, nota 42). Convém lem- brasil rar aqui o Projeto de Lei 6.556/2002, em tramitacao no Congreso ‘Nacional, que dispGe sobre a assisténcia de advogado no inquérito policial. O parecer da Comissio de Constituigdo ¢ Justiga ¢ de Re- aco ressalva, ainda, que a assisténcia de advogado deve ser esten- ddida.a todas as formas de persecucdo penal prévia: ‘Por estas razbes ‘ereio que a iniciativa do Deputado Orlando Fantazzini de admitir a assisténcia de advogado ao indiciado ou testemunha néo deve sex «da a0 inquétito policial, mas estendida ds apuragies adminis- trativas de quaisquer 6rgaos que apurem delitos, de forma a permi- tir defesa atuar contemporaneamente aos fatos, em caso de viola- icar-se de circunsténcia ou pormenor neces- © Nesse sentido, afirma Aury Lopes Jinior, Sistemas. 284: “Também pode surgiro grave inconveniente do sujeito passivo que 202 (© DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL Sua defesa efetiva, contudo, porque tardi j — porque tardia, poders ja estar eo E preciso, pois, garantir a defesa efetiva do acusado quan. esta realmente importa, estendendo-se o exercicio do direit defesa ao inquérito policial. Mas néo s6 a autodefesa, insuficiente em face do proprio comprometimento emocional e do desconhe: ccimento técnico do acusado. Este deve poder contar, pois, com as: sisténcia de advogado, legalmente habilitado, zeloso e competen te, na real defesa dos interesses de sua liberdade juridica.$ casos, 0 sujeito pas co recebimento da ; se grave in- ‘conveniente, seria interessante que o novo CPP estabelecesse, além da fase intermedia contraditéria, o dever de comunicar imedia- tamente a existéncia de uma imputagdo, bem como o de alertar em ‘que qualidade so prestadas as declaragbes” nosso entendimento no hé necessid: wermedisria sugerida, bastando cor da Repiblica ja garante: o exerc defesa no inquérito [Nese mesmo sentido, constatando problemas similares a esses no pro- cedimento pata fixagio da fianga, no direito norte-americano, cf, Douglas L. Colbert, Thirty-five years after Gideon: the ilusory right to ‘counsel at bail proceedings, 1998 University of llinois Law Review 1. “ sumindo, imprescind 1, a0 pérti € da assisténcia técnica efetiva de advogado to afetivo da fami RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 203 No inquérito policial, esteja o acusado preso em flagrante de- Jito ou nfo, a atuaco do advogado é relevante para solicitar a pro- dugo de provas, em favor do suspeito on indiciado, de modo a ga- - Jantir, posteriormente, um juizo de acusagao justo e equilibrado. ‘tempo muitas vezes trabalha em desfavor do acusado e, em sen- doassim, apronta assisténcia de advogado garante ajuntada de do- ‘cumentos importantes e esclarecedores, a localizagio de testemu- has ou a formulago de quesitos, para a prova pericial? ‘Seo acusado € preso em flagrante, a imediata intervengio do advogado guarda especial importancia no sentido de informé-lo sobre a natureza da infracdo que the é imputada, o direito a0 si cio, assegurar o direito & assisténcia de intérprete, e a presenga fi- sica do advogado, durante o interrogatério, ajuda a atenuar a pres- ‘io que muitas vezes ¢ exercida sobre o acusado, assegurando-Ihe orespeito aos direitos, ‘Além disso, aindana hipotese de sero individuo presoem fla- _grante, a intervengio do advogado é de suma importéncia a fim de pleitear o relaxamento da prisio ilegal ou a liberdade provis6ria, com ou sem fianga, garantindo, por meio de instrumentos legais, tais como peticao enderegada A autoridade judiciéria competente egalmente habilitado, a fim de que, devida e prontamente assegura- ieitos constitucionais, possa desde logo defender-se con- ® Ennesse momento que a defe juizo decorrente da impossibilidade de defesa em inguérito civil, afic- ‘ma Sérgio Marcos de Moraes Pitombo: “Nem importa a assertiva de ‘que a impugnago resta diferida, ou retardada, para o instante em que deduzido o pretenso diteito, em 2g0. Inexiste meio de voltar no tem- po, sem dano. A refutagao tarda; a produgio de meios de prova, sem ‘acompanhamento;eaimpossibilidade de contraprovar, tempestivamen- {e; trazem evidente prejuizo, nascente da unilateralidade, que benefi- cia o demandante (art, 125, 1, do CPP)” (TISP — AC 130.183.5/6-00— rel. Des, Sérgio Marcos de Moraes Pitombo ~ j. 06.11.2000). 204 0 DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL ou habeas corpus, 0 necessério insurgimento contra a infundada supressio de liberdade. Tudo isso, por certo, diz-se em favor da protegio efetiva da liberdade. Mas nao € s6. Do ponto de vista da sociedade, “‘cujo fim tiltimo € a paz social”, e como tal interessada apenas na conde1 $40 do sujeito efetivamente culpado, deve-se notar que o exerek do direito de defesa por parte do indiciado e a propria atuagio do defensor, no inquérito policial, podem contribuir para que nio se Jam aforadas acusagées infundadas, apressadas, temeririas ¢ até ‘caluniosas,"! Pelas mesmas razées, mas em plano secundétio, em decor- rénciada provavel reduedo do mimero de processos criminais em andamento, advinda do afastamento de acusagdes desnecessarias, pode-se dizer que 0 Poder Judiciétio também poderd funcionar de forma mais eficaz, Nestes argumentos reside, pois, a importancia do direito de efesa jé na primeira fase da persecugao penal, © Rogério Lauria Tucci et al., Principio e reg ° Cf. Sérgio Marcos de Moraes Pitombo, ing déncias....cit, p. 34, Ainda, Eduardo Espir ‘causa da justiga pablica, se tas diligencias, nio admitidas, no inqué- ‘ito, vierem demonstrar ser, efetivamente, a autoria de pessoa dife- rente da denunciada, com o que o verdadeiro agente terd obtido, uma justiga pablica, susceptivel talvez de produzir efeitos imemediéveis. Mister se faz no desatender nunca a que o inquétito no € um instrumento de acusaedo e, sim, uma investigagio, destina- as gerantias, constitucionalmente estabelecidas, visam a harmonizé-los: “O pri. ‘meiro interesse individual é a seguranga da ordem social, porque 0 individuo nao pode conservar-se e aperfeigoar-se fora da sociedade: © primeiro interesse da sociedade € a seguranca individual, porque 4 sociedade nada mais 6 do que a coexisténcia dos individuos. Esses dois interesses igualmente sagrados, igualmente poderosos, exigem garantias formais: o interesse da sociedade, que quer ajustae pronta repressiio dos delitos; 0 interesse do acusado, que também é um in- teresse social e que exige a plenitude de defesa’’ A defesa, pois, ‘mostra-se como garantia do interesse individual, no processo penal, Ressalte-se, porém, que ha certa dificuldade em distinguir cla- Tamente, noplano fatico,o que sto direitoseoquesiogarantias, mesmo Porque o direito, as vezes, passa a ser garantia de realizago de outro direito, constitucionalmente enunciado. Nesse sentido, assevera Ada Pellegrini Grinover que, “por vezes, umn direito é ao mesmo tempo Barantia de protegao de outros direitos. Assim é para o direito de defesa, em si mesmo declarat6rio, mas concomitantemente garan- tia para a efetivagao de outros direitos. Realmente, o direito de defesa ode viabilizaro direito ao proceso, pode garantirodireito ao contra- \it6rio, pode nutelaraté0 diteitode ire vir, ou seja, a liberdade pessoal. Por sua vez, o direito de defesa tem suas garantias” 26 % Oprocesso penal 0 “instrumento, téenico,e—certamente —piblico tam- ‘bém, apto & efetuacao da atividade necesséria ao sopesamento dos dois onflitants interesses, com a restaurago do equiltrio social, median- teumcomplexo de atos¢ termos destinados & conjuracaio do delito, suas Circunstancias ¢ autora, para a aplicacdo, ou néo, da pen vista” (Rogério Lauria Tucci etal, Principio e regras... cit, p. 36). Jouo Mendes de Almeida Kinior, O processo criminal brasileiro, 3 ed, aum., Rio de Janeiro, fia Batista de Souza, 1920, p. 7-8 Ada Pellegrini Grinover, O principio da ampla defesa, Revista da Pro- Guradoria Geral do Estado de Séo Paulo, Sao Paulo, ano 11, v.19, p. 9-20, de2.1981-dez.1982, p 9 RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 211 ‘Nem mesmo a propria Constituigao da Reptblica cuidou de nitidamente apartar os direitos das garantias ¢, sob a rubrica “Dos. direitos individuais ¢ deveres individuais coletivos”, constante do ‘Titulo I - “Dos direitos e garantias fundamentais”, chega a enun- ciar também garantias, nos incisos XXXV aoLXXVII do art, 5.2. Em um primeiro momento, a defesa pode ser considerada “direito do acusado, ou sancionado, & tutela juridica de sua liber- dade, ou, também, como o direito de querer a observancia das nor- ‘mas, que Ihe evitam a lesdo do direito & liberdade”™ e “se instru- mentaliza, ou corporifica, em uma série de direitos, que a legisla- ‘so recomhece a0 acusado, ¢ proclamados na Constituigo, nos direitos fundamentais das pessoas”. ‘Como garanta individual, a defesa “vem consagradanoart.5.°, LY, da CR, que assegura, também, a sua plenitude, com os meios © recursos que Ihe sejam inerentes”,® incluindo-se af indispensabili- dade de defesa técnica arts, 5°, LX e XXIV, 133¢ 134 da Cons- tituigdo da Republica), a comunicagao da prisio 20 juiz.competente dos para enun ahece alguns Moura e Cleunice A. Valentim Bas- tos, Defesa penal. © Idem, p. 114. “® Tdem, p. 116, UL, da Constiquigao da Repl exercicio, dentro do ambito tra , tado pela lei ordinéria, de maneira a assegurar, nfo $6 a asi Por defensor, mas a wtlizacdo, pela defesa, de todos os mei CUrS0S, para opor-se ao 6rgio da acusaga0” se, preservar-se, resguardar: E, pois, defesa o “ato on efeito de defender. Resi e ataque, aquilo que serve paradefender. Impugnacdo feitaauma act. Sado. Exposicio de fatos e produgio de provas em favor de um réu, ‘© Maria Thereza Rocha de Assis Moara e Cleunice A. Valenti Ba iciondriode lingua portuguesa, fac-simile ), fotogratada pela Revista de Lingua Portu- ‘Laudelino Freire, Rio de Janeiro, Fluminense, RECONHECIMENTO DO FXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 213. mostrando a falta de culpabilidade;* aco de defender ou de defen- der-se; tudo o que serve para defender, sustentacao do que éimpug. nado ou contestado, contestaedo ou impugnagao do que é acusado, exposigao dos fatos e produgao de provas em favor de um acusado.!s ‘Compreende 0 conjunto de atos tencentes a proteger um diteito.“ Essencialmente, e em sentido comum, portanto, defesa signi- fica resisténcia, contra-ataque, oposigio de forcas, consistindo o exercicio do direito de defesa na acdo de repelir, de repulsar, resis. ti Gramaticalmente, defesa € a aco de proteger, resistir a um ataque, uma agressio. ‘S “Conjunto de acos lettimos tendientes a proteger un derecho, ya sea ‘mediante la exposicién de las pretensiones inherentes al misino,o me- iante la actitud de repeter las pretensiones del adversatio, Fanci de los abogados en el patrocinio de sus clientes, Excepcién dilatoria, Perentoria 0 mixta, hecha valer contra la demanda principal” (Eduardo J Couture, Vocabulariojuridcocon especial referenciaalderecho procesal ositivo vigente uruguayo, Buenos Aires, Depalma, 1976, p.203), © “No hay d i siqui de sus derechos que de la comisin de und calla atribucién de int én autoriza: es que si el ensa de la persona y de Ios Ser, en vez, ocasi6n para su de evitarse 0 enmendarse cualg exigida por la necesidad a “Gramaticalmente derechn ee 1 (© DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL Sob o enfoque técnico-juridico, a defesa visa & presetvaciioe restauragao dos direitos do acusado, para tutela de sua liberdade Juridica, sendo “‘o exercicio da pretensio & tutela juridica por par- te do acusado’. Diga-se contrapretensio, ressalvando-se eventual ambigtiidade que a palavra ‘pretensdo’ venha a ter, no processo penal. Sempre, sem esquecer a execugo penal, que comporta de- fesa limitada. A defesa, no processo penal, tem como escopo pre- servat 0s direitos do acusado — ou do condenado -, de tratamento injusto ¢ inadequado. Consiste em momento infalivel no proces- Tepresentando instrumento indispensfwvel &realizacdo da jus. ‘¢ “pode ser considerado-como direito do acusado, ou San- direito de querer a observancia das normas, que Ihe evitam a lesdo do direito a liberdade”. Em outras palavras, a defesa do acusado consiste na poss lidade de este se contrapor & imputaco que Ihe é feit In acci6n de defenderse, es decir, sostener a uno contra un atagt roteger, resistira una agresién, del término defensa es la idea de conflicto, de ataque, de agresi defensa, entonces, es la acci6n de repeler, de repulsar un atentado” (Alvaro Orlando Pérez Pinzén, El derecho de defensa, Derecho Pe- nal y Criminologta ~ Revista del Instituto de Ciencias Penales y Criminologicas de la Universidad Externado de Colombia, Bogota, ano 12, n. 41-42, p. 93-109, mayo. ura e Cleunice A. Valentim Bastos, Defesa penal. “A etimologia da palavra defesa ver do. ue, resisténcia, impugnagao’. Em sentido comum, portanto, defesa érepulsa a um ataque; amparo e protego”. Maria Thereza Rocha de Assis Moura e Cleunice A. Valentim Bas- tos, Defesa penal... cit, p. 113. © Idem, ibidem, ‘° “Especificamente la defensa del imputado consiste en laposibilidada tutela juridica de sua liberdade, ou, também, como ~ lefensa, que significa ‘ato ou forma de repelir um ata- @ RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 215 A garantia da ampla defesa envolve, modemamente, triplice ‘enfoque: “o direito a informagao, a bilateralidade da audiénciaeo direito & prova, legitimamente obtida ou produzida” O contradit6rio, por sua vez, na ligto j4 cldssica da Joaquim Canuto Mendes de Almeida, 6 a “ciéncia bilateral dos atos e ter- ‘mos processuais ¢ possibilidade de contrarié-los”.> Exige, pois, agi reagdo da parte contrétia, representando o contradit6rio “0 complemento e o corretivo da agao da parte, Cada um dos conten- dores age no processo tendo em vista o proprio interesse” 5 No contradit6rio, preexiste um conflito, que se deseja solucionar por via do contraditério, ou seja, o contraditério é 0 instrumento de solugao do conflito que jé esté pré-resolvido na lei ou no sistema. Cuiida-se de tese e antitese e de relagiio de oposigo entre dois su- jeitos parciais. A bilateralidade é, pois, exigncia que leva 20 mé- todo dialético de superagzo do conflito, por meio da funco e da atividade de um sujeito imparcial.®* desea su versiGn sobre cl hechodelictivoque sel atribuye, laquettiene ‘que ser objeto de consideracién y de aceptacién o rechazo expreso por parte de los jueves” (José I. Cafferata Nores, Etimputado....cit, p. 22) © Rogério Lauria Tucci e José Rogério Cruz e Tucci, Constituicdo de 1988... cit, p. 61. Rogério Lauria Tucci, Direitos e garantias.cit, p. 205-206. i ivas opostas, dirigidas a se lidirem reciprocamente, no esquema processual essa contraposica0 86 adquire sentide quando destinada a persuasio de um terceiro im- 216 (© DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL, A defesa se insere no devido processo legal. A Constituigag daRepiblica assegura, noart. 5°, LV, que “aos litigantes, em pro., cesso judicial ou administrativo, e aos acusados em geral slo as. segurados 0 contradit6rio e ampla defesa, com os meios ¢ recur. 808 a ela inerentes”. Com essa redacio, a Constituigdo da Repiblica aparta nao sé litigantes de acusados,¥ mas também contraditério de ampla de; fesa, de forma que cada qual exercido de acordo com o instante e. a natureza do procedimento que Ihe seja compativel, o que nao impede que, desde que possivel, sejam atuados conjuntament Assim, se é certo que no processo penal nfo hé litigantes, mas acusador e acusado, no inquérito policial, procedimento a trativo com fins judiciais, nao ha possibilidade de se estabelecer contraditério, mas sim exercicio do direito de defesa.” ‘sual implica uma relagio triédica, que constitui afinal a esséncia da idéia de processo” (A motivagdo das decisées penais, Sio Paulo, RT, 2001, p. 39). © “Onosso legisladorpontuou, no primeirodos: diferenca entre 0 contetido do processo civil, cuja verificada final dade é a compositiva de litigios, ea do processo penal, em que, 0a fsica, integrante da comunidade,é indiciada, acusada, e, até, con- denada pela prética de infragdo penal” (Rogério Lauria Tucci, Direi- tos e garantias... cit, p. 373-374 e 204-205). Igualmente, cf, Jacinto Nelson Miranda Coutinho, A lide e o contetido do processo penal, Curitiba, Jurud, 1998, "Nese sentido, reconhecendo a necessidade do exercfcio da defesa xno inguérito policial, ef. Sérgio Marcos de Moraes Pitombo, Inqué- tito pol iciododireitodedefesa...cit,p. 14. Domesmoautor, ‘ainda, Imbrégliojuridico, disponivel em: , ‘acesso emt 16.04.2002. E, ainda, Antonio Scarance Femandes, ao tra- ‘ardaparticipagao dadefesano inquérito pol rma que: “Quan- to’ participagio da defesa, é ponto incontroverso. A dificuldade esté em delimitar 0 ambito desta participaco, no nos parecendo que se RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 217 Embora a doutrina afirme que ampla defesa e contraditério nfo se confundem, sustenta a maior parte, todavia, que ambos so indissociveis, variando apenas o entendimento acerca da relagao «que se estabelece entre eles. Contudo, tal posigdio nao 6 pacifica. Alguns entendem que o direito de defesa deriva do contradi- ‘6rio: “ampla defesa e contradit6rio esto umbilicalmente ligados, repita-se, esse sendo género daquela”.* Outros, no oposto, enfendem que a ampla defesa engloba o contradit6rio: “aregra da ‘ampla defesa’ abrange aregra do ‘con- tradit6rio’, completando-se os prinefpios que asinformame que seresumem no postulado da liberdade integral do homem dian- teda prepoténcia do Estado”; “o contraditério, por sua vez, se insere dentro da ampla defesa. Quase que com ela se confunde integralmente na medida em que uma defesa hoje em dia nio pode ser seniio contraditéria, O contraditério é pois i zagdo da propria defesa. A todo ato produzido caberd igual di- reito da outra parte de opor-se-Ihe ou de dar-Ihe a verso que advogado 0 direito & ampla ciéncia das atividades de investigagao, podendo efetuar requerimentos e usar de todos os mecanismos que o sistema Ihe outorgue em favor do investigado, pedido de relaxa- mento de prisio em flagrante, pedido de liberdade proviséria, impetragao de habeas corpus” (Processo penal constitucional, Sio Paulo, RT, 2001, p. 59 255). © Paulo Roberto da Silva Passos, Aspectos principiol6gicos no inqué- Fito |, in: Paulo Roberto da Silva Passos Thales Cezar de Oli- veira, Principios constitucionais no inguérito e no processo penal, ‘So Paulo, Themis, 2001, p. 42. No mesmo sentido, entendendo que a defesa insere-se no contradit6rio, cf. Luciano Marques Leite, O principio avdiatar et altera pars e o processo penal, dissertagio de mestrado apresentada na Faculdade de Direito da Universidade de ‘Sao Paulo, {s.4J, p. 101 José Cretella Hinior. Comentdrins & Constituicdo brasileira de 1988. 218 (© DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL, Ihe convenha, ou ainda de fornecer uma interpretagdo juridica diversa daquela feita pelo autor". Hi, ainda, aqueles que sustentam que entre contradit ampla defesa nao existe “relago de primazia ou de derivag sendo que “defesa e contraditério estio indissoluvelmente liga- dos, porquanto é do contradit6rio (visto em seu primeiro momen, to, da informagao) que brota o exercicio da defesa; mas é essa. como poder correlato ao de aco ~ que garante o contradit6rio. | defesa, assim, garante 0 contradit6rio, mas também por este se manifesta ¢ € garantida. Bis a fntima relacdo e interaco da defe? sae do contradit a Contudo, temos que contradit6rio e defesa devem ser vist los fatos e imputagio, tal como ocorre para a efet vagao do contradit6rio,® nem por isso ambos se confundem. O contradit6rio exige partes, em sentidos opostos. Mas, se essas no "© Celso Ribeiro Bastos ¢ Ives Gandra Martins, Comentdrios & Cons ‘uigtio do Brasil, S30 Paulo, Saraiva, 1989, “Ada Pellegrini Grinover, Antonio Searance Fernandes e Antonio ‘Magalhiies Gomes Filho, As nulidades no processo penal, 7. ed. rev. eatual., S30 Paulo, RT, 2001, p.77.No mesmo sentido, Maria Thereza Assis Mourae Cleunice A. Valentim Bastos, Defesa petal. 7. RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 219 existem e niio se instala 0 contraditério, nem por isso se pode dei- xarde dar oportunidade ao acusado informalmente ou acusado sob ‘0 fngulo substancial de exercicio do direito de defesa.* Por isso, com raziio Pontes de Miranda quando, ao comentar a Constituiga0 Brasileira de 1967, afirmava que o principio dacon- traditoriedade processual nada tem com 0 direito de defesa: “Uma coisa € o prineipio da contraditoriedade processual e outra o prin- freito & defesa. Esse comega antes mesmo de se iniciar Ultimada, ainda tem o acusado sucessivas oportunidades de invo- caro direito de defesa”.* Assim, “o direito de defesa exibe-se visi- © Afirmando que, muito emibora o inguérito policia! nfo seja contradi- e repelida a assisténcia da defesa, cf. Bento de Faria, © Comentérios & Constituigéo de 1967, Sao Paulo, RT, 1967, , V,p.208- 209. Continua Pontes de Miranda: “Melhor téenica, portant fra a da Constituigaio de 1934, que pusera o direito de defesa fora da pro- pria garantia da comunicaglo, expediente desconhecido do legisla- tufa principio auténomo, inconfundivel, ¢ 0 direito & nota de culpa, tucionalmente, nada mais era que garantia constitucional. Olegisladorordindriode 1937-1946ndoesteve adstrito ‘nota de culpa, tal como a concebia o pensamento juridico de 1891, nem A comunicagdo que o legislador constituinte de 1934 imaginarae agora volta, Isso no quer dizer que, prescindindo de uma e de outra, Ihe fosse facultado deixar sem defesa 0 acusado, A lei cabia organi- zar tal defesa com expedientes hébeis para se evitarem pris6es ilegais, ‘oua conservacio ilegal da prisdo qualquer que fosse a causa da ilega- lidade, A Constituigéo de 1946, art. 141, § 25, exigia, explicitamente, 220 (© DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL ‘Onomo, na primeira fase da persecuglo penal; sem cogitar-se Portanto, de contradit6rio” De fato, no inquérito policial nao se pode estabelecer contra: dlitrio, em sentido técnico, porque ainda nao hé parte acusadora, Pouco ha sujeito imparcial destinatério do resultado, Mas o dele. bipartidos entre 0 acusador— piiblico ou privado—e 0 juiz*E se nota de culpa, posto que mantivesse a criagio de 1934, que estava no seu § 22, A Constituigdo de 1967 nao se refere a nota de culpa, Se ensarmos no que diz, hoje, o 12, abstraindodoqueseestanui os §§ 15 ¢ 16, ressaltao pri ‘ognigio judicial imediara: 03 {oi juiz competente que ordenou a priséo,eafa cognigéo judicial é prévia, ou foi outrem, que prendew ou deteve, eo § 12 exige que se dé 20 juiz competente, segundo 2 Constituicéo, cognicao imediata”. Sérgio Marcos de Moraes Pitombo, Breves notas em tomo do Ante- Projeto de Lei... cit, p. 346, nota 27. Cf. também Marcelo Fortes Barbosa, que afirma que a ampla defesa é “principio absoluto ¢ ‘supetposto a0 contraditério, muito embora a maioria da doutrina en. contre equivaléncia entre ambos os prinefpios” (Garantias... cit, p 81). Ainda, no sentido de qu. se aplica 0 contraditério no in- cto impedir a plenitude da defe- efesa Promotor piblico, que, no Brasil, nfo per- icia judiciéria, nada de essencial tem A autoridade poticial, em seu cardter inguisitivo, reine em si propria todos os poderes-deveres de indaga- $#o da verdade, real, por forga de lei, poderes-deveres que, mais tar- de, em duas posigbes processuais diversificadas, hio de pertencer, nO imbito judicidrio, ao promotor piblico, como acionador da iniiativa Jadicria,e 20 juiz, como realizador definitive da norma penal” (Joa. 4quim Canuto Mendes de Almeida, Princip vel, na contraditoriedade. Pode, também, exercer-se, de modo au- emsentido formal, ou seja, “ndohépparteecontraparte”,*"nemtam, 4 ado deppolicia concentra emsi poderes efungdesque, depois, serio y RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 221 certo que a autoridade policial atua na busca da verdade criminal, tal fato nZo lhe retira a evidéncia de integrar a AdministragSo Pu. blica, de modo que também representa, de alguma forma, 0 inte- resse repressivo estatal em relago & atividade delituosa.® Assim, se nio se mostra apropriado falar em contraditério no curso do inquérito policial, seja porque no hé acusacdo formal, seja porque, na opinido de alguns, sequer hi procedimento,” no se pode afirmar que nao se admite 0 exercicio do diteito de defe- sa,” porque esta tem lugar “em todos os crimes eem qualquer tem- José L Cafferata Nores rente al proceso) no se desvanece frente al argumento de que el Ministerio Pablico Fiscal representa solo un interés i rio al acusado. Es que préctica. Y¥ aun cuando esto puede 10 ocurrir en algtin caso concreto, siempre existird de ‘modo potencial” (El proceso penal... cit.,p. 33). Antonio Searance Fernandes, Processo... cit, p. 59, opiniéo com a al nio concordamos. 1Hé, sem duivida, necessidade de se admitir a atuagio da defesa na investigagao, ainda que ndo se exija 0 contradit6rio, ou seja, ainda que 1do se imponha a necessidade de prévia intimagao dos atos a serem 222 © DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL po, e estado da causa”,”¢ se trata de oposi¢ao ou resisténcia a putagdo informal, pela ocorréncia de lestio ou ameaca de lesdo. No mais, é de se reconhecer que jé ha acusagao,” em senso largo, entendida como “afirmagdo, ou atribuigo de ato ou fato a pessoa autora, coatora ou participe”, em diversos atos do inqué- tito policial, como na prisio em flagrante delito; na nota de culj no boletim de ocorréncia de autoria conhecida; no requeriment requisigdo e na portaria de instauragao do inquérito pol ainda, no indiciamento realizado pela autoridade pol m como nos diversos provimentos ¢ medidas cautelares, determina- dos ¢ realizados nessa primeira fase da persecucdo penal. Salien- fe-se que o proprio Cédigo de Processo Penal, a0 cuidar da prisio dos interesses mais relevantes do suspeito, como o requerimento de Ailigncias, o pedido de liberdade proviséria, de relaxamento de fla- ‘grante, aimpetrago de habeas corpus” (Antonio Scarance Fernandes, Process... cit, p. 59). cesso criminal, Lisboa, Impressio Régi Afirmando que no ha acusagio no inqueé tido estrto do termo, cf. Hélio Tomaghi, Curso... cit, v.1,p. 31-32. © TISP ~ AC 130.183.5/6-00 ~ rel. Des. Sérgio Marcos de Moraes Pitombo — j. 06.11.2000. © Benedito Roberto Garcia Pozzer, Correlagdo..., cit, p. 82-99, No ‘mesmo sentido, Aury Lopes Jiinior afirma que “qualquer notici ‘me que impute um fato aparentemente delitivo a uma pessoa det nada constitui uma imputagao, no sentido juridico de agress&o, capaz de gerarno plano processual uma resisténcia, Da mesma forma, quan- do da investigagao ex officio realizada pela policia surgem s tes indfcios contra uma pessoa, a tal ponto de tomar-se 0 alvo princi- pal da investigacio — imputado de fato — deve ser feita a comunicaga0 © © chamamento para ser interrogado pela autoridade policial, Em ambos casos, inegavelmente, existe uma atago de cardter coercit- vo contra uma pessoa determinada, configurando uma ‘agressio" a0 Seu estado de inocéncia e de liberdade, capaz de autorizar uma resis- ‘€ncia em sentido juridico-processual” (Sistemas... cit, p. 34-35). RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 223 em flagrante delito, estatui, no art, 304, que a autori “jnterrogar4 o acusado sobre a de tudo isso, bem como da pos: diciado, deve poder se defender. Hi de se garantir a0 acusado, portanto, 0 dit o direito de se contrapor a de advogado, com a pos: las as acusagdes, com a assisténcia idade de manter-se silente, e a ad- provas por ele requeridas, indis- demonstragdo de sua inocéncia” ou de sua culpabili- dade diminufda, Exerce-se, enti, adefesa independentemente daefetivains- talagdo do contradit6rio. Note-se que Joaquim Canuto Mendes de Almeida, mesmo usando a expresso “contrariedade no inqué- tito policial”, reconhecia que aquilo que € exercido no inguérito policial 6, de fato, o direito de defesa,’* mesmo porque repudiava a presenca do Ministério Puiblico, como parte, no inquérito poli- cial: “Tudo isso (direito de participar da obra inquisitiva do juiz “Nio podemos confundir contraditério com ampla defesa. O princi- pio-garantia do contraditério protege os direitos de ambas as partes. em litigio, numa relagdo processual, judicial ou administrativa, Por issomesmo, o textoconstitucional serefere aos litigantes,emprocesso Judicial ou administrativo. 36a ampla defesa agasalhe 03 direitos dos ‘acusados em geral, ¢ a locugdo em geral significa que no apenas aqueles que sofrem uma acusagio penal possuem tal dieito: também ‘aqueles contra quem se drige uma acusaga0o civil, ou administrativa, ou tribute °° Joaquim Canuto Mendes de Almeida, Princfpi 185-225. 224 0 DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL, Sumariamente, presente as inquirigdes, para contestaras testemu- nhas, e oferecer conclusées antes do despacho da proniinciae im, rontincia] significa ‘contrariar’, posto que seja contraziat o in. uisidor, defender-se, em suma, ser ouvido. O mesmo legislador Patrio conservou, para os indiciados em inquérito policial, essas rerrogativas, exatamente, em face do poder-dever inquisitivo da autoridade Representam elas, pois, direito dedefesa, que 86a violéncia pode suprimir.(..) O direito de defesa nao importa necessariamente, pois, relaglo de contrariedade entre um agen- te da pretensio punitiva, a do de titular do direito de ago, verso da autoridade inquisitiva, e 0 sujeito passivo dessa pre- no Br Dessa forma, 0 exercicio do direito de defesa, eficaz ¢ te Pestivo, deve se iniciar no inquérito policial, permitindo-se ento ‘uma defesa integral, continua e unitéria.® Tratando do ing pega administrativa tal qual oin- Marcos de Moraes Pitombo ensinava: , a inafastabilidade do contraditério, nos Processos e procedimentos administrativos; mas a exigéncia de tuma de suas pecas, a saber: o exercicio do direito de defesa, sem- Pre que ocorra umna imputago qualquer. Dizendo de outro modo: ~ dito principio da audiéncia contradit6ria —con ‘ém, por necessétio, a ampla defesa. Ela, contudo, de modo pre- valecente, nos procedimentos administrativos, que precedem & 2 Joaquim Canuto Mendes de Almeida, Principos... it, p.215-217. "© Edgar Saavedra Rojas, Derec! | sabendo-Lhes deatos ¢ termos; sejaimpugnando; seja, ainda, RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 225 aso, ou a prepararam, deve exercitar-se; seja 2 tempo e a hora, teando, ou seguindo a colheita ea produgio de meios de prova’ Deve-se, pois, assegurar 0 exercicio do direito de defesa no inquérito policial 3.15 Autodefesa e defesa técnica A defesa comporta algumas classificagdes, podendo ser apar- tada em defesa em sentido amplo e em sentido restrito, defesa em sentido subjetivo e defesa em sentido objetivo e, por fim, defesa | privada ou autodefesa e defesa piblica ou técnica | A defesa em sentido amplo confunde-se com a defesa subje- tiva,” configurando-se direito individual, “expressdo da liberdade Juridica”, sencoo “ato pelo qual o acusado, pessoalmente, ou por defensor, contraria, ou repele a acusago, que Ihe é feita” 5 Defesa, em sentido restrito, pode ser tomada como defesa ob- Jetiva, exprimindo o direito de alguém “opor-se ao intento, a fim de garantir um direito, que afirma existir e de que entende ser o ti- tular”,* sendo entdo “cdnone geral da ordenag&o jurfdica”™ con- substanciado no “conjunto de matérias, provas e argumentos, que oinculpado aduz a seu favor”. 7 % TIP ~ AC 130.183.5/6-00 — rel. Des. Sérgio Marcos de Moraes Pitombo —j. 06.11.2000, Moura e Cleunice A. Valentim Bas- © DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL a defesa técnica ou defesa ptiblica ® sab ttodefesa, também chamada de defesa material ou gené. rica,” exerce-se por meio de atuagao pessoal do acusado,* espe. Gialmente no ato do interrogatGrio,” quando este oferece sus ver- “° Femando de Aimeida Pedroso entende que nfo se. confundem defesa Pessoal ¢autodefesa, Enquanto aqueta engloba “manifestagoee de lacdo processual penal”, esta é“o patro. m Vislumbre quando 0 acusado, possuin. ‘dica, postala e debate em causa prépria” ito atua pes- ‘mesmo como individuo singular, fa- lual ¢ seu intetesse privado, A chama- soalmente, defender zondo valer seu eritério RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA. 227 80 sobre os fatos ou invoca odireto ao siléncio,” ou ainda, quan- do, por si proprio, solicita a ico de provas, traz meios de convicedo, requer a sua participagdo em diligéncias* e acompa. nha os atos de instrugdo.%* Enfim, a autodefesa se resume no direi. tode audiéncia ou presenga e participago.® A autodefesa érenun- cidvel,” podendo ser exercida ou nao. A defesa técnica € indispontvel, dé-se por meio de profissio- nal, Iegalmente habilitado, dotado de capacidade postulat6ria ®® Basicamente cinco ordens de fundamentos justificam a necessida- de de assisténcia por profissional habili © fandamento poli- tico, segundo o qual o direito de defesa é garantia contra agressces edespotismo; o fundamento l6gico, pelo qual a toda acusagao deve -se de varias formas, mas ial seu momento de maior da defesa pessoal ou autodef encontra no interogatério pol relevancia” (Sistemas... ci ® Rogério Lauria Tucei e José Rogério Cruz.e Tucci, Consttuido de 1988.1 cit p. 62-63. “Com relacdo & autodefesa, cumpre salientar que se compte ela de dois aspectos, a serem escrupulosamente observados: o direito de ® Cf. Antonio Scarance Fernandes, Proces » P.263, ® 0 Cédigo de Processo Penal, no art. 261, deterniina que “nenhom acusado, ainda que ausente ou foragido, seré processado ou julgado sem defensor”, ° Nueva Enciclopedia Juridica, Barcelona, Francisco Seix, 1954. VI, p. 322-323, | i i (© DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL A defesa técnica, “efetiv: ‘ae completa”, como inafastavel e forgada," coloca-se assim 0 lado da autodefesa. Ambas traba- 'mecanismos procedimentais, sse ou determine o estabelecimento ou Ihe propicie atutela de seu interes do equilfbrio do contraditério”, tuagdo de hipossuficiéncia: “a 4 na presuncio de hipossuficiéncia d cared Hsial ou mesmo juiz (nos sistemas deinstrugao prelim. ificuldade de compreender o resulta- investigacdo preliminar, gerandouma le. Ademais, havendo uma pri- impossibilidade fisica de atuar de forma >. 252). Nesse sentido, ainda, RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 229 tham em conjunto, “em relacio de diversidade e complementari- 1° adotando uma de duas vias: a defesa negativa ou indireta, limitando-se & negativa dos fatos, ou a defesa positiva ou direta, quando calcada em alguma prova da inocéncia."% A defesa do acusado, para atender ao reclamo constitucional, deve exercitar-se, portanto, “sabendo-se dos tos termos; impug” nando ou pleiteando ou seguindo a produgio e cotheita de meios de prova"," conjugando-se autodefesa e defesa técnica, 3.1.6 Extensdo do direito de defesa na Constituigtio da Repiibli- €a: acusados em geral e processo administrative lireito de defesa sempre veio consagrado nas Constitnigdes brasileiras, desde a Constituigdo de 1824 (art. 179, §8.°). NaCons. tituiga . tal direito estava previsto no art. 72, § 16.57 A Constituigtio de 1934 previa o direit A Constituigao de 1946 previa, no art. 141, § 25, que “é asse- gurada aos acusados plena defesa, com todos os meios e recursos Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes ¢ Antonio Magalhaes Gomes Filho, As nulidades.. cit. p. 79, ‘Antonio Scarance Femandes, Processo "© Nueva Enciclopedia... cit,t.VI,p.322. le Almeida Pedroso Utiliza os adjetivos diretae indireta de forma diversa. Refere-se a de- fesa indireta como a defesa contra 0 processo, que se realiza por meio «da oposigdo de excegdes processuais e da arguigdo de nulidade, po- dendo se consubstanciar em defesa perempt6ria, quando visa a0 trancamento do processo, ou dilatéria, quando visa a0 protraimento do feito, Jé a defesa direta volta-se contra 0 métito, ou seja, contraria P.3637), “* TISP ~ AC 130.183.5/6-00 — rel. Des. Sérgio Marcos de Moraes Pitombo — j. 06.11.2000. =) Alberto Deodato Maia Barreto Fithn Crntraditheia nie a 199 230 ‘© DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL essenciais ala, desde a nota de culpa, que, assinada pela autotida- de competente, com os nomes do acusador e das testermanhas, seri entregue ao preso dentro em Vinte e quatro horas. A instrugdo erie minal serd contraditéria”. A mesma redacdo foi repetida na Constituigaode 1967, noart, 150, §§ 15 16. Depois, a Emenda Constitucional 1, de 1969, refe. tia-se, separadamente, 2 ampla defesa c & instruc contraditéria, no art. 153, §§ 15 16, A Constituicio da Repiblica, de 1988, ampliando as reda- es anteriores, assegurou, no art. 5°, LV, que, “aos litigantes, em proceso judicial ou administrativo, e aos acusados em ge. ral so assegurados 0 contraditério e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. O direito de defesa integrao | devido processo e procedimento penal, nos termos do assegu- rado no art. 5.°, LIV. A redacao atual da Constituigio permite concluir que nao se admite mais persecugo penal preparatéria ou prévia teral:10¢ i Sob coagdo. Nao se pode excluir a presenga do defensor, i Pens4vel, 1 Ainterpretagdode tal dispositivo passa, entio, necessatiamen- ‘pela fixacdo do conceito da expressao “acusados em geral”, bem como pelo que se entende por processo administrativo, ©” Em igual sentido, tratando da legislagio expuesto evidencia que el sister Procedimiento de averiguaci6n u ¥ casi monopdli ‘cargo de un tribunal que pueda y hasta deba usurpar los roles de la acusacin y Ia defensa, so pretexto de un interés comiin en esta blecer la verdad” (José I, Caferatta Nores, El proceso penal... cit, P.37), Alberto Deodato Maia Barreto Filho, Contiaditotio... cit, p.127- 128, RECONHECIMENTO DO EXERC{CIO DO DIREITO DE DEFESA 231 3.1.6.1 Acusados em geral Acusagdo, acusado, acusador, acusamento, acusante, acu- sar, acusativo, acusatério, acusével rivados do latino accusare, qu determinada conduta reprovavel”, ciat alguém como autor de algum delito, culpar, censurar, e- preender, notar, taxar.!"? A palavra acusagio pode indicar uma fungZo, um érgdo, um ato." Criminagdo é sinénimo de acusagio. Significa repreensio,)™ imputagio de um crime a alguém, declaracéo como incurso em crime. © vocdbulo pode ainda se apresentar sob a variante in- criminagdo, com o mesmo significado de imputarinfrago penal a alguém, declarar incurso em crime, considerar erime:"*“cul- par € atribuir culpa, considerar culpado sem fazer propriamente acusago formal, Incriminare inculpar, quando transitvos ind retos, valem 0 mesmo que criminar e culpar, com um pouco mais de intensidade talvez”."” " Vocabuldrio ortogréfico e ortoépico da Ungua portuguesa, organi- ia By vind Clie de List sabulério oficial da Academia Brasi leira e da Academia de Ciéncias de Lisboa, Rio de Janeiro, Grafica ‘Saver, 1933, p. 58. > Verbete acusar, Enciclopédia Saraiva. © Verbete acusar, Encyclopedia e Diccionario Internacional, Rio de Janeiro, W. M. Jackson, Enciclopedia del Diritto, ‘Antonio de Moraes Silva, Diciondirio... cit. t. 1, 495. Antenor Nascentes, Diciondirio da lingua portuguesa, cit, t. I, p.565. Idem, t. I, p. 546. Antenor Nascentes, Diciondrio de sinénimos, 2, ed, rev. aum., Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1969, 0. 33, 232 © DIREITO DE DEFESA NO INQUERITO POLICIAL Imputagio, outro sinénimo para acusacdo, significa atril declarar uma agao pertencente a alguém, feita por esse alguém,!i8 Nesse sentido lato, Mio € a atribuicdo a.um individuo de um fato juridicamente incriminado, increpado, quem se levanta uma acu “8 Antonio de Moraes Silva, Diciondrio... cit, .p. 140. A imputagag brasileiro, tal como ocomre ‘do é uma terminol ual n argentino, afirma Hernén Munilla Lacasa, em con: .05.2000, nas TL Jomadas de Derecho Procesl aloel Juez, y no cuando lo quiera el imputado? Entiendo que el derechoa racia o concesion que hacen los poderes, sino que esté garantizado constitucionalmente y ser ofdo, el derecho a defenderse, no tiene operatividad desde el primer momento en que una persona es indicada de cualquier forma como patticipe de un hecho delictivo, tal ‘como lo expresa con claridad el art. 72 del Cédigo de Rito”, disponivel E acusado, imputado, criminado, § los sindnimos para a pessoa sobre A atribuigdo da prética de um J RECONHECIMENTO DO EXERCICIO DO DIREITO DE DEFESA 233 ilicito.a determinada pessoa, ainda que de maneira informal, leva a que se tenha acusagao e acusado.!! ‘Mas, em acepedo técnica, muitas vezes se restringe 0 uso do termo acusat, dando-Ihe com isso o significado de “promover, em |jufzo, a persecugao penal de alguém, imputando-Ihe, de modo for- ‘mal, a prética de fato penalmente relevante”." Dai, adentincia ea queixa mostrarem-se como modalidades de acusagio formal. Levando-se tal acepgaio em conta, tem-se que o acusado é ape- nas aquele individuo contra quem foi proposta ago penal e, por- tanto, 0 indiciado ndo pode ser considerado acusado." Formal- (Derecho procesal penal, Mendoza, Ediciones Suridicas Cuyo, 1993, 1. I, p. 88-89). Afirma depois que “ninguna de estas acepciones con- «ese momento, pudiere ejerver las defensas necesarias acordadas por la CConstitucién. Elconcepto doctrinario ylegal deimputado permite aéste, ‘conforme al art. 72 del Cédigo Nacional, eercer los derechos que el (Cédigo le acuerda al que sea detenido o indicado de cualquier forma como participe de un hecho delictuoso” (Raul Washington Abalos, Derecho... cit tH, p.89). Sa...,cit.,p. 53. Romeu Pires de Campos Barros, cit,, p. 214-215. Ismar Estulano Garcia, Prc 7 ‘Marco Antonio Desgualdo, A policia judiciéria, suas incumbéncias

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