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Análise “O Nascimento de uma Nação” e “Arquitetura da Destruição”

A obra cinematográfica “O nascimento de uma nação” retrata a Guerra Civil


Americana, período histórico que consistiu em um conflito iniciado em 1861 e
terminado em 1865, entre Norte pró-união e Sul pró-confederação dos Estados Unidos,
os nortistas eram abolicionistas e os sulistas eram escravistas, o resultado foi a vitória da
parte Norte e a abolição definitiva da escravidão no país. Além de narrar a vida de duas
famílias distintas em lados opostos da guerra, o filme demonstra o assassinato do
presidente Abraham Lincoln e a aprovação de leis permitindo o casamento inter-racial.
A partir desse contexto, a obra transparece racismo de todas as maneiras, antes mesmo
de começar a produção já é evidente o sentimento que predomina, visto que para
interpretar os personagens negros mais importantes, não foram contratados atores
negros e sim, atores brancos pintados de preto, fato que causa uma sensação
desconfortante e frustrante para o espectador. Os afro-americanos são apresentados
como predadores e criaturas sem modos, como na cena em que todos os negros estão na
Assembleia descalços e comendo com as mãos, há também a cena em que um negro
começa a perseguir a “mocinha” branca, criando um episódio onde a moça pula de um
penhasco e acaba morrendo, para evitar ser tocada por um indivíduo de pele negra,
diversas situações parecidas com essa são transmitidas no longa-metragem.
Quando achamos que o filme já manifestou o índice máximo de disseminação da
supremacia branca, somos surpreendidos pela aparição da Ku Klux Klan (KKK),
organização terrorista que perseguia, espancava e assassinava negros no sul do Estado
norte-americano criada durante a guerra civil. No final, os membros da KKK saem
vitoriosos do conflito e celebram nas ruas, um ano se passa e na eleição seguinte, os
negros são impedidos de sair de casa para votar por homens brancos armados e termina
com a seguinte frase “Ousaremos sonhar com um dia dourado quando a bestial guerra
decide não mais governar? Mas, ao invés, o príncipe gentil no Salão do Amor Fraterno,
na Cidade da Paz?”. Nessa perspectiva, apesar de apresentar os grandes avanços na
indústria de cinema da época, “Nascimento de uma nação” é uma obra extremamente
problemática, pois planta os negros como unicamente culpados pelos problemas do país
e enaltece um grupo terrorista como heróis e salvadores da pátria. Os efeitos do longa-
metragem foram desastrosos, é importante ressaltar que a Ku Klux Klan estava inativa
em 1915, no entanto, quando o filme foi lançado, a organização renasceu e milhares de
vidas negras, foram perdidas. Ao assistir a obra, ficamos chocados como em 1915,
exibições racistas eram tão presentes e aceitadas pela população, porém, essa continua
sendo a realidade da sociedade contemporânea, mesmo que a tendência dominante seja
fingir que ultrapassamos uma cultura racista e que todos são tratados igualmente. Ainda
é necessário lutar.
Ademais, o documentário sueco “Arquitetura da Destruição” dirigido por Peter
Cohen em 1989, aborda a trajetória de Hitler e o desenvolvimento do nazismo na
Alemanha, além de apresentar a importância da arte juntamente com a propaganda
nazista. Nesse viés, a principal intenção da ideologia é a purificação racial, os judeus e
outros grupos sociais, como homossexuais e ciganos, eram considerados parte de uma
“peste”, que infeccionava a sociedade alemã, e Hitler era o salvador da pátria que iria
realizar uma limpeza completa e se livrar das bactérias, dos insetos e dos vermes, ou
seja, somente a raça “pura” existiria. Esse era o sonho do Führer, purificar o país e
retomar a um passado glorioso, ao longo do documentário fica claro o desejo do líder de
se construir uma nação inspirada na tríade da Antiguidade, isto é, Atenas, Esparta e
Roma. Porém, sabemos que essa ambição nunca foi conquistada. Com isso, pode-se
fazer uma relação entre a corrente nazista e a organização terrorista KKK, ambos
retratados no documentário e no filme respectivamente, já que representam a
supremacia de uma classe sobre a outra, o nacionalismo extremo, o uso da violência e o
resgate de uma sociedade arcaica. Essas doutrinas estão focadas no passado, posto que
possuíam uma visão errônea de que seus “inimigos” não existiam nesse período e assim,
é incontestável afirmar que os comandantes desses grupos se viam como um indivíduo
destinado a libertar o povo daquele “mal” que importunava a paz.

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