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Janela imunológica é o nome dado ao período de tempo que o corpo humano leva para 6 - Caracterizar os diferentes tipos de imunoglobulinas, como são produzidas e como
responder à presença de agentes infecciosos com anticorpos, em níveis detectáveis agem
em exames de sangue. O termo janela imunológica é muito usado para doenças sexualmente
Síntese, Montagem e Expressão das Moléculas de Imunoglobulina
As cadeias pesadas e leves da
imunoglobulina, assim como a
maioria das proteínas secretadas e
de membrana, são sintetizadas em
ribossomos ligados à membrana no
retículo endoplasmático rugoso. A
proteína é translocada para o retículo
endoplasmático, e as cadeias
pesadas da Ig são N-glicosiladas
durante o processo de translocação.
O dobramento apropriado das
cadeias pesadas da Ig e sua
montagem com as cadeias leves são reguladas por proteínas residentes no retículo
endoplasmático chamadas de chaperonas. Essas proteínas, as quais incluem a calnexina e
uma molécula chamada proteína de ligação (BiP, do inglês binding protein), se ligam a Quando linfócitos B maduros são ativados pelos antígenos e outros estímulos, as células se
polipeptídeos de Ig recém-sintetizados e garantem que eles sejam retidos ou marcados para diferenciam em plasmócitos secretores de anticorpos. Esse processo é também
degradação, a menos que sejam dobrados apropriadamente e montados como moléculas de acompanhado por alterações no padrão de produção da Ig. Uma dessas mudanças é a
Ig completas. A associação covalente das cadeias pesadas e leves é estabilizada pela produção aumentada da forma secretada de Ig em comparação à forma de membrana. Essa
formação de pontes dissulfeto e também ocorre no retículo endoplasmático durante o alteração ocorre no nível de processamento pós-transcricional. A segunda mudança é a
processo de montagem. Após essa montagem, as moléculas de Ig são liberadas das expressão de isotipos de cadeia pesada diferentes de IgM e IgD, por um processo chamado
chaperonas, transportadas para a cisterna do complexo de Golgi, onde seus carboidratos são troca de isotipo (ou classe) de cadeia pesada. Uma terceira mudança envolve a introdução de
modificados e, então, direcionadas para a membrana plasmática em vesículas. Anticorpos novas substituições de aminoácidos nos domínios variáveis de cadeias pesadas e leves para
em sua forma de membrana são ancorados na membrana plasmática, enquanto a forma criar anticorpos de maior afinidade, resultando em uma alteração nos anticorpos chamada
secretada é transportada para fora da célula. maturação da afinidade.
A maturação das células B a partir dos progenitores da medula óssea é acompanhada por
alterações específicas na expressão do gene de Ig, resultando na produção de moléculas de Meia-vida dos Anticorpos
Ig em diferentes formas. A célula mais inicial na linhagem do linfócito B que produz A meia-vida dos anticorpos circulantes é uma medida de quanto tempo esses anticorpos
polipeptídeos de Ig, chamada célula pré-B, sintetiza a forma de membrana da cadeia pesada permanecem no sangue após a secreção pelas células B (ou após a injeção, como no caso
μ. Essas cadeias μ se associam a proteínas chamadas cadeias leves substitutas, para formar de um anticorpo administrado). A meia-vida é o tempo médio antes que o número de
o receptor da célula pré-B, e uma pequena proporção do receptor da célula pré-B sintetizado moléculas de anticorpo seja reduzido à metade. Diferentes isotipos de anticorpo têm meias-
é expressa na superfície celular. Células B imaturas e maduras produzem cadeias leves κ ou vidas muito diferentes na circulação. A IgE tem uma meia-vida bastante curta, de
λ, as quais se associam às proteínas μ para formar moléculas de IgM. As células B maduras aproximadamente 2 dias na circulação (embora a IgE ligada à célula associada ao seu
expressam formas membranares de IgM e IgD (cadeias pesadas μ e δ associadas a cadeias receptor de alta afinidade no mastócito tenha meia-vida bastante longa; Capítulo 20). A IgA
leves κ ou λ). Esses receptores Ig de membrana funcionam como receptores de superfície circulante tem meia-vida de cerca de 3 dias (embora a maior parte da IgA seja produzida em
celular que reconhecem antígenos e iniciam o processo de ativação da célula B. O receptor sítios de mucosa e seja secretada diretamente no lumen do intestino ou da via aérea), e a
da célula pré-B e o receptor antigênico da célula B estão associados não covalentemente a IgM circulante tem meia-vida de aproximadamente 4 dias. Em contrapartida, as moléculas de
outras duas proteínas de membrana, Igα e Igβ, as quais possuem funções de sinalização e IgG circulantes têm meia-vida de cerca de 21 a 28 dias.
são essenciais para a expressão de IgM e IgD na superfície. A longa meia-vida da IgG é atribuída à sua capacidade em se ligar a um receptor Fc
específico chamado receptor Fc neonatal (FcRn), o qual também está envolvido no
transporte da IgG da circulação materna através da barreira placentária. O FcRn se
assemelha estruturalmente às moléculas de MHC de classe I (descritas no Capítulo 6), e, na
placenta transporta moléculas de IgG do sangue materno, através das células, até a
circulação fetal. Em vertebrados adultos, o FcRn é encontrado na superfície das células
endoteliais, macrófagos e outros tipos celulares e se liga à IgG micropinocitada nos
endossomos acídicos. O FcRn não tem como alvo a IgG ligada nos lisossomos (o destino
comum de muitas moléculas ingeridas), mas a recicla para a superfície celular e a libera em
pH neutro, retornando a IgG para a circulação (Fig. 5.11). Esse sequestro intracelular da IgG
para longe dos lisossomos previne sua degradação rápida, como ocorre com a maioria das
outras proteínas plasmáticas, incluindo outros isotipos de anticorpo, e como resultado, esse muitos epítopos idênticos podem estar espaçados de maneira regular e essas moléculas são
isotipo tem uma meia-vida relativamente longa. Há algumas diferenças nas meias-vidas dos ditas polivalentes. Matrizes polivalentes de antígenos carboidratos podem ser expostas nas
quatro isotipos de IgG humanas. A IgG3 tem meia-vida relativamente curta, porque se liga superfícies celulares. Os antígenos polivalentes podem induzir o agrupamento de receptores
fracamente ao FcRn. A IgG1 e a IgG2 são as de meia-vida mais longa e mais eficientes em da célula B e assim iniciar o processo de ativação da célula B.
termos de funções efetoras. A organização espacial de diferentes epítopos em uma única molécula proteica pode
A longa meia-vida da IgG tem sido usada para fornecer uma vantagem terapêutica para influenciar a ligação dos anticorpos de várias maneiras. Quando os determinantes estão bem
certas proteínas injetadas, pela produção de proteínas de fusão contendo a parte separados, duas ou mais moléculas de anticorpo podem se ligar ao mesmo antígeno proteico
biologicamente ativa da proteína e a porção Fc da IgG. A porção Fc permite que as proteínas sem que uma influencie a outra; tais determinantes são ditos não sobrepostos. Quando dois
se liguem ao FcRn e assim prolongue as meias-vidas das proteínas injetadas. Uma proteína determinantes estão próximos um ao outro, a ligação do anticorpo ao primeiro determinante
de fusão terapeuticamente útil é a TNFR-Ig, a qual consiste em um domínio extracelular do pode causar uma interferência estérica na ligação do anticorpo ao segundo; tais
receptor de TNF tipo II (TNFR) fusionado com um domínio Fc da IgG. Essa proteína de fusão determinantes são ditos sobrepostos. Em raros casos, a ligação de um anticorpo pode causar
bloqueia as ações inflamatórias do TNF, semelhante a um anticorpo anti-TNF, sendo usada uma alteração conformacional na estrutura do antígeno, influenciando positiva ou
no tratamento de certos distúrbios autoimunes tais como artrite reumatoide, enteropatia negativamente a ligação de um segundo anticorpo a outro sítio na proteína, por outros meios
inflamatória e psoríase. Outra proteína de fusão utilizada terapeuticamente é a CTLA4-Ig, que além do impedimento estérico. Tais
contém o domínio extracelular do receptor CTLA-4, o qual se liga e bloqueia os interações são chamadas de efeitos
coestimuladores B7, fusionado à porção Fc da IgG humana; ela também tem sido útil no aloestéricos.
tratamento da artrite reumatoide e na rejeição ao transplante de rim. Qualquer forma ou superfície
disponível em uma molécula que
Características dos Antígenos Biológicos possa ser reconhecida por um
Um antígeno é qualquer substância que pode ser especificamente ligada por uma molécula anticorpo constitui um determinante
de anticorpo ou receptor de célula T. Os anticorpos podem reconhecer como antígenos antigênico ou epítopo. Os
praticamente todos os tipos de moléculas biológicas, incluindo metabólitos intermediários determinantes antigênicos podem
simples, açúcares, lipídeos, autacoides e hormônios, bem como macromoléculas tais como ser delineados em qualquer tipo de
carboidratos complexos, fosfolipídeos, ácidos nucleicos e proteínas. Isso contrasta com as composto, incluindo, mas não
células T, as quais reconhecem principalmente peptídeos. restrito a, carboidratos, proteínas,
Nem todos os antígenos reconhecidos por linfócitos específicos ou por anticorpos secretados lipídeos e ácidos nucleicos. No caso
são capazes de ativar os linfócitos. Moléculas que estimulam as respostas imunes são das proteínas, a formação de alguns
chamadas de imunógenos. Macromoléculas são efetivas para estimular os linfócitos B a epítopos depende somente da
iniciarem respostas imunes humorais porque a ativação da célula B necessita que múltiplos estrutura primária e a formação de
receptores antigênicos sejam unidos (ligação cruzada). Agentes químicos pequenos, tais outros determinantes reflete a
como dinitrofenol, podem se ligar aos anticorpos e são, portanto, antígenos, mas não podem estrutura terciária ou conformação
ativar as células B por si só (i.e., não são imunogênicos). Para gerar anticorpos específicos (forma). Os epítopos formados por
para esses pequenos agentes químicos, os imunologistas comumente ligam múltiplas cópias vários resíduos de aminoácidos
dessas pequenas moléculas a uma proteína ou polissacarídeo antes da imunização. Nesses adjacentes são chamados de
casos, o pequeno agente químico é chamado hapteno e a molécula maior à qual ele está epítopos lineares. O sítio de ligação
conjugado é denominada carreador. O complexo hapteno-carreador, ao contrário do hapteno ao antígeno de um anticorpo pode
livre, pode agir como um imunógeno. normalmente acomodar um epítopo
Macromoléculas, tais como proteínas, polissacarídeos e ácidos nucleicos, são normalmente linear composto por cerca de seis aminoácidos. Se os epítopos lineares aparecem na
muito maiores do que a região de ligação ao antígeno de uma molécula de anticorpo. Dessa superfície externa ou em uma região de conformação estendida na proteína dobrada nativa,
maneira, qualquer anticorpo se liga somente a uma porção da macromolécula, a qual é eles podem ser acessíveis aos anticorpos. Em outros casos, os epítopos lineares podem
chamada determinante ou epítopo. Essas duas palavras são sinônimos usados estar inacessíveis na conformação nativa e aparecem somente quando a proteína é
indistintamente ao longo deste livro. Macromoléculas tipicamente contêm múltiplos desnaturada. Em contraste, os epítopos conformacionais são formados por resíduos de
determinantes, alguns dos quais podem ser repetidos e cada um deles, por definição, pode aminoácidos que não estão em sequência, mas se tornam espacialmente justapostos na
ser ligado por um anticorpo. A presença de múltiplos determinantes idênticos em um antígeno proteína dobrada. Anticorpos específicos para certos epítopos lineares e anticorpos
é referida como polivalência ou multivalência. A maioria das proteínas globulares não específicos para epítopos conformacionais podem ser usados para determinar se uma
contém múltiplos determinantes idênticos e não é individualmente polivalente, porém muitas proteína está desnaturada ou em sua conformação nativa, respectivamente. As proteínas
proteínas idênticas podem ser expostas em uma matriz polivalente nas superfícies celulares, podem estar sujeitas a modificações como glicosilação, fosforilação, ubiquitinação, acetilação
incluindo a superfície dos microrganismos. No caso dos polissacarídeos e ácidos nucleicos, e proteólise. Essas modificações, ao alterar a estrutura da proteína, podem produzir novos
epítopos. Tais epítopos são chamados de epítopos neoantigênicos e também podem ser A IgM é o tipo predominante de anticorpo envolvido na resposta aos antígenos do grupo
reconhecidos por anticorpos específicos. sanguíneo ABO, localizados na superfície das hemácias (ver Tabela 19.2, p. 522). A IgM é
muito mais eficaz do que a IgG em induzir o agrupamento de células e vírus (ver discussão
sobre aglutinação, pp. 504-505) e em reações envolvendo a ativação do sistema
complemento.
O fato de a IgM ser a primeira imunoglobulina a aparecer na resposta a uma infecção
primária e possuir uma vida relativamente curta confere um valor singular à molécula no
diagnóstico de doenças. Se altas concentrações de IgM contra um patógeno são detectadas
em um paciente, provavelmente a doença observada é causada por aquele patógeno. A
detecção de IgG, que é de vida relativamente longa, deve indicar apenas que a imunidade
contra um patógeno em particular foi adquirida há mais tempo.
Classes de imunoglobulinas
As imunoglobulinas mais simples e mais abundantes são monômeros, mas também podem
assumir algumas diferenças em tamanho e no modo como são organizadas. As cinco classes
de imunoglobinas são designadas IgG, IgM, IgA, IgD e IgE. Cada classe tem um papel
diferente na resposta imune. As estruturas das moléculas de IgG, IgD e IgE são em forma de
Y. As moléculas de IgA e IgM são agregados de dois ou cinco monômeros, respectivamente,
que estão unidos entre si.
IgM Os anticorpos da classe IgM (o M refere-se a macro, que reflete o seu tamanho
grande) compõem aproximadamente 6% dos anticorpos no soro. A IgM tem uma estrutura
pentamérica formada por cinco monômeros que são mantidos unidos por um polipeptídeo,
chamado de cadeia de junção (J). O grande tamanho da molécula impede que a IgM se
desloque livremente, como faz a IgG, de modo que anticorpos IgM geralmente permanecem
nos vasos sanguíneos sem penetrar os tecidos ao seu redor.
IgA A IgA é responsável por apenas 13% dos anticorpos no soro, mas é certamente a
forma mais comum encontrada nas membranas mucosas e nas secreções do corpo, como o
muco, a saliva, as lágrimas e o leite materno. Se levarmos isso em consideração, a IgA é a
imunoglobulina mais abundante no corpo. A forma circulante da IgA no soro, a IgA sérica, é
geralmente encontrada na forma de um monômero. A forma mais efetiva da IgA, no entanto,
consiste em dois monômeros conectados que formam um dímero, chamado de IgA secretora.
Ela é produzida nessa forma pelos plasmócitos localizados nas membranas mucosas – cerca
de 15 gramas por dia, principalmente pelas células epiteliais intestinais. Cada dímero, então,
penetra e atravessa a mucosa, onde adquire um polipeptídeo, chamado de componente
secretor, que a protege da degradação enzimática. A principal função da IgA secretora é
provavelmente impedir a fixação de patógenos microbianos às superfícies da mucosa. Isso é
importante sobretudo para os patógenos intestinais e respiratórios. Devido ao fato de a
imunidade por IgA ter uma vida relativamente curta, a duração da imunidade para as várias
infecções respiratórias também é curta. A presença de IgA no leite materno, sobretudo no
colostro, provavelmente auxilia na proteção dos recém-nascidos contra infecções
gastrintestinais.
IgD Os anticorpos IgD constituem apenas cerca de 0,02% dos anticorpos séricos totais. tipicamente infectam vários tipos celulares, por endocitose mediada por receptor, após a
Suas estruturas se assemelham às das moléculas de IgG. Os anticorpos IgD são ligação a moléculas de superfície celular normais. Os vírus podem causar lesão tecidual e
encontrados no sangue, linfa, e particularmente sobre a superfície de células B. A IgD sérica doença por diversos mecanismos. A replicação viral interfere na síntese proteica e na função
não tem função bem definida; quando localizada sobre as células B ela auxilia na resposta celular normal, leva à lesão e, por fim, à morte da célula infectada. Esse resultado é um tipo
imune. de efeito citopático dos vírus, e a infecção é dita lítica porque a célula infectada é lisada. Os
vírus podem estimular respostas inflamatórias que causam dano aos tecidos. Os vírus
IgE Os anticorpos da classe IgE são ligeiramente maiores do que as moléculas de IgG; também podem causar infecções latentes (discutidas adiante).
eles constituem apenas 0,002% dos anticorpos séricos totais. As moléculas de IgE ligam-se As respostas imunes inata e adaptativa aos vírus são destinadas a bloquear a infecção e a
firmemente por suas porções Fc (hastes) aos receptores localizados nos mastócitos e eliminar células infectadas:
basófilos, células especializadas que participam de reações alérgicas. Quando um antígeno,
como o pólen, liga-se aos anticorpos IgE associados a um mastócito ou basófilo, essas Imunidade Inata aos Vírus
células liberam histamina e outros mediadores químicos. Esses mediadores químicos Os principais mecanismos da imunidade inata contra vírus são a inibição da infecção por
desencadeiam uma resposta – por exemplo, uma reação alérgica, como a rinite alérgica. interferons do tipo I e o killing das células infectadas mediado por células NK. A infecção por
Entretanto, a resposta pode ser ao mesmo tempo protetora, pois atrai o complemento e as muitos vírus está associada à produção de interferons (IFNs) do tipo I pelas células
células fagocíticas. Isso é especialmente útil quando os anticorpos se ligam a vermes infectadas, bem como por células dendríticas, especialmente do tipo plasmacitoide, em
parasitos. A concentração de IgE é bastante alta em algumas reações alérgicas e infecções resposta aos produtos virais. Diversas vias bioquímicas disparam a produção de IFN. Entre
parasitárias, o que geralmente é útil do ponto de vista diagnóstico. essas vias, estão o reconhecimento de RNA e DNA viral por TLRs endossômicos e a ativação
Tortora, G. J.; Funke, B. R.; Case, C. L. Microbiologia. [Digite o Local da Editora]: Grupo A, 2017. de receptores tipo RIG citoplasmáticos, bem como da via STING, pelo RNA e DNA viral,
9788582713549. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582713549/. respectivamente. Essas vias convergem na ativação de proteínas quinases que, por sua vez,
Acesso em: 2021 set. 17. ativam fatores de transcrição IRF, que estimulam a transcrição do gene de IFN. Os IFNs do
tipo I atuam inibindo a replicação viral tanto em células infectadas como em células não
infectadas.
As células NK matam células infectadas por vírus e constituem um importante mecanismo de
imunidade contra vírus no início do curso da infecção, antes de as respostas imunes
adaptativas terem se desenvolvido. A expressão de MHC de classe I frequentemente é
“desligada” nas células infectadas por vírus, como um mecanismo para escapar dos CTLs.
Isso permite que as células NK matem as células infectadas, uma vez que a ausência de
classe I libera as células NK de um estado normal de inibição (Fig. 4.10). A infecção viral
também pode estimular a expressão de ligantes de célula NK nas células infectadas.
A Resposta Antiviral
A principal forma pela qual o sistema imune inato bloqueia as infecções virais é a indução da
expressão de interferons do tipo I, cuja ação mais importante é inibir a replicação viral. No
início do capítulo, discutimos como vários receptores de reconhecimento de padrão, incluindo
alguns TLRs, NLRs, RLRs e CDSs, geram sinais que estimulam a expressão dos genes de
IFN-α e IFN-β em muitos tipos celulares diferentes. Esses interferons do tipo I secretados
pelas células atuam em outras células prevenindo a disseminação da infecção viral. Nesta
seção, descreveremos as principais propriedades dos interferons do tipo I e as ações
antivirais destas citocinas.
Os interferons do tipo I constituem uma ampla família de citocinas estruturalmente
relacionadas que medeiam a resposta imune inata inicial às infecções virais. O termo
“interferon” deriva da habilidade destas citocinas de interferir na infecção viral. Existem
7 - Descrever os mecanismos de defesa contra infecções virais (papel da imunidade numerosos tipos de interferons do tipo I, os quais são estruturalmente homólogos e
inata e adaptativa) codificados por genes em um único grupamento localizado no cromossomo 9. Dentre os
interferons do tipo I, os mais importantes na defesa antiviral são o IFN-α (que, na verdade,
Imunidade aos Vírus engloba 13 proteínas diferentes estreitamente relacionadas) e o IFN-β, que é uma proteína
Os vírus são microrganismos intracelulares obrigatórios que usam componentes do ácido única. As DCs plasmacitoides são as principais fontes de IFN-α que, todavia, também pode
nucleico e a maquinaria de síntese proteica do hospedeiro para se replicar. Os vírus ser produzido por fagócitos mononucleares. O IFN-β é produzido por muitos tipos celulares
em resposta à infecção viral. Os estímulos mais potentes para a síntese de interferon do tipo I
são os ácidos nucleicos virais. Lembre que os receptores do tipo RIG e os sensores de DNA
presentes no citosol, bem como os TLRs 3, 7, 8 e 9 presentes nas vesículas endossômicas,
reconhecem ácidos nucleicos virais e iniciam as vias de sinalização que ativam a família IRF
de fatores de transcrição, os quais induzem expressão do gene de interferon do tipo I.
O receptor para interferons do tipo I, que se liga ao IFN-α e ao IFN-β, é um heterodímero
composto por dois polipeptídeos estruturalmente relacionados, IFNAR1 e IFNAR2, expressos
em todas as células nucleadas. Esse receptor sinaliza para ativar os fatores de transcrição
STAT1, STAT2 e IRF9, que induzem expressão de vários genes diferentes cujos produtos
proteicos contribuem para a defesa antiviral de vários modos:
Imunoevasão por Vírus • Algumas infecções virais crônicas estão associadas à falha das respostas de CTLs,
Os vírus desenvolveram numerosos mecanismos para evadir a imunidade do hospedeiro. chamada exaustão, a qual permite a persistência viral. Estudos sobre infecção crônica com
o LCMV em camundongos demonstraram que este tipo de déficit imune pode resultar da
• Os vírus podem alterar seus antígenos e, portanto, deixarem de ser alvos das estimulação antigênica persistente levando à regulação positiva de receptores inibidores da
respostas imunes. Os antígenos afetados são mais comumente glicoproteínas de superfície célula T, como o PD-1. Há evidência de exaustão da célula T CD8+ em infecções virais
reconhecidas por anticorpos, porém os epítopos da célula T também podem sofrer variação. humanas crônicas, incluindo as infecções por HIV e pelo vírus da hepatite.
Os principais mecanismos de variação antigênica são as mutações pontuais e o rearranjo dos
genomas de RNA (em vírus de RNA), que levam à deriva antigênica e à variação antigênica. • Os vírus podem infectar e destruir ou inativar células imunocompetentes. O exemplo
Esses processos são de grande importância na disseminação do vírus influenza. Os dois evidente é o HIV, que sobrevive infectando e eliminando as células T CD4+, principais
antígenos principais desse vírus são a hemaglutinina viral trimérica (proteína do espigão viral) indutoras das respostas imunes a antígenos proteicos.
e a neuraminidase. Os genomas virais sofrem mutações nos genes codificadores dessas
proteínas de superfície, e a variação resultante é chamada deriva antigênica. Os genomas
de RNA segmentado de várias cepas de vírus influenza que normalmente habitam diferentes
espécies de hospedeiro podem se recombinar nas células hospedeiras, e esses vírus
recombinados podem diferir de forma bastante drástica das cepas prevalentes. A
recombinação de genes virais resulta em alterações significativas na estrutura antigênica,
chamadas variação antigênica, que cria vírus distintos como o da gripe aviária ou o da gripe
suína. Devido à variação antigênica, um vírus pode se tornar resistente à imunidade gerada
na população por infecções prévias. As pandemias de influenza ocorridas em 1918, 1957 e
1968 foram devidas às diferentes cepas do vírus, e a pandemia de H1N1 de 2009 foi causada
por uma cepa em que as fitas do genoma de RNA foram recombinadas entre cepas
endêmicas em porcos, frangos e seres humanos. Variantes virais mais sutis surgem com
maior frequência. Existem tantos sorotipos de rinovírus que a vacinação contra o resfriado
comum pode não ser uma estratégia preventiva factível. O HIV-1, causador da Aids, também
é capaz de uma tremenda variação antigênica devido a uma elevada taxa de erros na
transcrição reversa de seu genoma de RNA durante a reprodução viral Nessas situações, a
vacinação profilática pode ter de ser dirigida contra proteínas virais invariantes.
• Alguns vírus inibem a apresentação de antígenos proteicos citosólicos associada ao
MHC de classe I. Os vírus produzem várias proteínas que bloqueiam diferentes etapas no
processamento, transporte e apresentação do antígeno. A inibição da apresentação
antigênica bloqueia a montagem e expressão de moléculas de MHC de classe I e a exibição
de peptídeos virais. Como resultado, as células infectadas por esses vírus não podem ser
reconhecidas nem mortas por CTLs CD8+. Como já discutido, as células NK são ativadas por
células infectadas, especialmente na ausência de moléculas de MCH de classe I. Alguns
vírus podem produzir proteínas que atuam como ligantes de receptores de inibição das
células NK e, assim, inibem a ativação dessas células.
• Alguns vírus produzem moléculas que inibem a resposta imune. Os poxvírus codificam
moléculas que são secretadas por células infectadas e se ligam a várias citocinas, incluindo
IFN-γ, TNF, IL-1, IL-18 e quimiocinas. As proteínas ligantes de citocinas podem atuar como
A seguir, serão abordadas as células efetoras da imunidade inata e as estratégias de
reconhecimento viral por essas células, assim como os mediadores produzidos após o
reconhecimento e seu efeito biológico e antiviral.
Ativação de inflamassomas
O reconhecimento de padrões moleculares virais em associação a alterações no
metabolismo das células infectadas pode levar, ainda, à ativação de complexos
proteicos, chamados inflamassomas. A ativação de inflamassomas já foi reportada em
vírus de DNA e de RNA, incluindo adenovírus, vírus vaccínia, vírus da influenza, vírus da
encefalomiocardite e vírus do sarampo. Esses complexos têm um importante papel na
resposta inflamatória e controle da infecção causada por diferentes vírus, por atuarem K+, com ativação de inflamassoma NLRP3, produz IL-1-β. Essa pode ter caráter protetor,
como plataformas proteicas para a ativação da enzima caspase 1, a qual é responsável pela mas também provocar os sintomas inflamatórios, em casos de pneumonia.
maturação e secreção das citocinas inflamatórias IL-1-β e IL-18. Além disso, apresentam
atuação local e sistêmica, e estão associadas a febre, ativação de linfócitos T e células NK, e
infiltração de leucócitos. ▶Papel da resposta imunológica humoral nas infecções virais
Os inflamassomas podem ser formados por diferentes receptores e os mais bem estudados A presença de componentes da resposta imunológica humoral, como anticorpos e peptídeos
são aqueles constituídos de receptores do tipo NOD (nucleotide oligomerization domain) ou do sistema complemento, é essencial para neutralizar e eliminar partículas virais circulantes,
NLR (nod-like receptors), particularmente o do tipo NLRP3. Diferentes NLR e complexos impedindo sua entrada em células hospedeiras e inibindo sua disseminação pelo organismo,
inflamassomas podem ser ativados, dependendo do patógeno em questão. Quando ativados, além de ter um papel importante na prevenção de reinfecções. O papel de cada um desses
esses receptores recrutam a proteína adaptadora ASC (apoptosis-associated speck-like componentes será discutido a seguir.
A importância dos anticorpos na proteção contra infecções virais é claramente evidenciada
■Linfócitos B e produção de anticorpos em infecções agudas que induzem imunidade protetora e duradoura. Esse é o caso da
Um dos mecanismos mais importantes de controle de uma infecção viral é bloquear a infecção por vírus do sarampo, da poliomielite e outros, em que se observa que indivíduos
interação do vírus com a célula hospedeira, em um processo chamado neutralização. Os soropositivos para essas infecções (ou seja, que já tiveram contato e apresentam anticorpos
mecanismos de resposta imunológica humoral têm um papel-chave nesse processo, específicos contra esses vírus) não voltam a apresentar a doença caso ocorra a reinfecção.
particularmente pela ativação de linfócitos B específicos e produção de anticorpos. Os Além disso, é possível notar que, mesmo no caso de vírus que não induzem imunidade
linfócitos B são estimulados após o reconhecimento de antígenos virais por suas protetora, a infecção primária, em geral, é mais grave do que em indivíduos soropositivos. A
imunoglobulinas (Ig) de superfície. Essas Ig, em associação a outras proteínas responsáveis ativação rápida de linfócitos B com indução de anticorpos IgM neutralizantes é essencial,
pela sinalização intracelular, formam o BCR (B cell receptor), o receptor de antígenos da muitas vezes, para a própria sobrevivência do hospedeiro, especialmente na infecção com
célula B. A ativação inicial dessas células induz a expansão de um clone de células vírus altamente citopáticos, como o vírus Ebola. Outro exemplo, já relatado anteriormente, é o
específicas contra um dado antígeno viral e secreção de anticorpos do isotipo IgM. de modelos experimentais de infecção com vírus da influenza ou o WNV, nos quais
Subsequentemente e em especial após a interação das células B com linfócitos TCD4+ camundongos deficientes em linfócitos B sucumbem rapidamente à infecção.
também específicos para o antígeno, essas células são capazes de fazer mudança de classe O processo de neutralização, na verdade, indica a capacidade de um anticorpo se ligar e
de Ig, secretando IgG, IgA e IgE. A IgG é o principal isotipo presente na circulação sanguínea inativar o vírus e pode ocorrer por diferentes mecanismos. A ligação dos anticorpos a um
e em fluidos extracelulares, e funciona como eficiente opsonina para o reconhecimento por vírus pode induzir: agregação das partículas virais; desestabilização da estrutura da partícula;
fagócitos e ativação do sistema complemento, como será discutido mais adiante. Já a IgA é o inibição da adsorção a células hospedeiras; inibição da fusão do vírion com a membrana da
principal isotipo presente em secreções, especialmente na mucosa do trato intestinal e do célula hospedeira ou da entrada do genoma de vírus não envelopados no citoplasma; inibição
sistema respiratório, tendo, então, grande importância no controle das infecções desses da função do core viral pelo sinal desencadeado pelo anticorpo e bloqueio do brotamento ou
tecidos. A IgE está presente em níveis mais baixos na circulação e, aparentemente, suas liberação viral da superfície celular.
funções não estão associadas a mecanismos de neutralização ou opsonização viral. O mecanismo de agregação de partículas virais mediado pela ligação de anticorpos depende
do isotipo de Ig e sua valência, e da distância entre os epítopos virais. Esses agregados
podem ser fagocitados e degradados com mais eficiência que a partícula isolada, facilitando,
então, a eliminação do vírus da circulação. Anticorpos neutralizantes podem, ainda, induzir
alterações conformacionais em proteínas de superfície virais, impedindo sua funcionalidade.
Na infecção por poliovírus, demonstrou-se que a ligação dos anticorpos pode induzir um
processo diferente de desestabilização da estrutura viral. Embora esse mecanismo não
esteja totalmente esclarecido, é possível que esses anticorpos mimetizem a função de
receptores da célula hospedeira que contribuem para o desnudamento da partícula.
É provável que o mecanismo de neutralização mais bem conhecido esteja relacionado com a
inibição da adsorção do vírus à célula hospedeira. Essa inibição pode ser mediada não
apenas pela ligação dos anticorpos diretamente ao sítio de ligação do vírus ao receptor, mas
também pela oclusão e bloqueio estérico desse sítio, ou interferência em sua função. Esses
anticorpos podem bloquear, ainda, a fusão do envoltório viral com a membrana da célula
hospedeira. Em geral, os peptídeos hidrofóbicos presentes nas proteínas virais responsáveis
pela fusão não estão expostos ao reconhecimento por anticorpos. Ainda assim, a inibição do
processo de fusão pode ocorrer devido à ligação dos anticorpos às espículas virais,
impedindo a interação subsequente do vírus com o receptor celular de fusão, de maneira
semelhante ao processo de inibição de adsorção. Além disso, é possível que a presença do
anticorpo bloqueie a interação entre as membranas viral e celular, impedindo o processo de
fusão de membranas. Alternativamente, a ligação dos anticorpos pode estabilizar a
conformação pré-fusão das proteínas virais, impedindo a ativação do processo de fusão.
Outras estratégias podem estar associadas à neutralização dos vírus em etapas posteriores à
entrada na célula hospedeira. Anticorpos que reconhecem a neuraminidase do vírus da
influenza, por exemplo, impedem a liberação da partícula da célula infectada.
No entanto, a maioria dos anticorpos não apresenta atividade neutralizante. Muitas vezes, os
antígenos reconhecidos pela célula B são fragmentos ou proteínas virais liberados de células
que foram lisadas após a infecção, e podem ser proteínas internas dos vírus que não estão
expostas na partícula circulante, ou proteínas que foram desnaturadas, degradadas, resultando na associação de outros componentes do complemento e na formação do
processadas ou que não foram sintetizadas completamente. Alternativamente, esses complexo de ataque à membrana (MAC). Esse complexo cria um poro na bicamada lipídica
anticorpos podem ser específicos contra proteínas nativas, mas sem papel na adsorção ou que pode causar a lise de vírus envelopados e de células infectadas por vírus. Além disso,
penetração viral, e também não apresentar atividade neutralizante. Contudo, mesmo C3a, C4a e, principalmente, C5a, liberados após as clivagens das convertases, têm função
anticorpos sem atividade neutralizante direta podem contribuir para o controle da infecção por de anafilatoxinas e induzem a liberação de histamina por mastócitos e basófilos, causando
outros mecanismos. Nesse sentido, os anticorpos agem também como opsoninas, vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. Além disso, esses fragmentos também
possibilitando o reconhecimento desses imunocomplexos por receptores para a porção Fc são importantes mediadores inflamatórios envolvidos no recrutamento de leucócitos para o
das Ig (FcR), presentes em macrófagos e neutrófilos. Esse processo leva à internalização sítio infectado.
dos complexos e à destruição da partícula viral pelos fagócitos. Por outro lado, o Além dos mecanismos descritos, componentes do complemento, como a MBL, podem agir na
reconhecimento desses imunocomplexos por receptores Fc pode estar associado à neutralização viral por meio da competição pela ligação em receptores de superfície das
potencialização da infecção de macrófagos, como tem sido descrito na infecção por DENV e células hospedeiras, como foi descrito para o HIV e os filovírus Ebola e Marburg. O papel
outros. dessa via no controle de algumas infecções virais começou a ser mais bem compreendido
A ligação de anticorpos com antígenos virais expressos na superfície da célula infectada após a descrição de polimorfismos genéticos, que afetam a concentração plasmática e o
pode, ainda, induzir o fenômeno de ADCC (antibody–dependent cell-mediated cytotoxicity) – estado oligomérico de MBL. Na infecção por HBV, por exemplo, polimorfismos associados a
mediado pelo reconhecimento de receptores Fc, seguido de ativação de células NK e baixos níveis de expressão de MBL se correlacionam a pior prognóstico, associado à
liberação de seus grânulos citolíticos, como será discutido posteriormente. Além disso, a persistência viral, à progressão da doença e à sobrevivência ou não à doença hepática
formação de complexos vírus-anticorpos pode estimular a ativação da via clássica do sistema fulminante.
complemento, como será detalhado mais adiante. Além de macrófagos e neutrófilos que apresentam receptores para C3, outros tipos celulares
Vale lembrar que os linfócitos B são também células apresentadoras de antígeno. A também têm receptores para complemento, cujo engajamento pode estar associado à
penetração de vírus nessas células pode levar ao processamento e à apresentação de seus ativação dessas células, como ocorre com CD21 (CR2) presentes nos linfócitos B. O sistema
peptídeos e ativação subsequente de linfócitos T. Na verdade, esse processo é importante complemento apresenta, ainda, um importante papel no controle da resposta imunológica
para a própria ativação dos linfócitos B, uma vez que a regulação da atividade dessas células adaptativa. Já foi demonstrado, por exemplo, que animais deficientes em C3, infectados com
pelas células T é essencial para a maior eficiência da resposta B (com anticorpos com maior vírus da influenza, apresentam redução da capacidade migratória de linfócitos TCD8+,
afinidade) e para o desenvolvimento de memória celular. O desenvolvimento de células de levando à inibição da atividade citolítica e do controle da infecção.
memória com produção de anticorpos específicos é o principal mecanismo de controle de A ativação exacerbada ou crônica do sistema complemento, por outro lado, pode ser
reinfecções em indivíduos convalescentes ou imunizados. Assim, um dos principais objetivos prejudicial para o hospedeiro, podendo levar a um dano tecidual devido à lise celular pela
para o desenvolvimento de vacinas é a elicitação de anticorpos potentes/neutralizantes que formação do MAC; à opsonização de células infectadas seguida de fagocitose; e ao aumento
impeçam a morbidade e a mortalidade causada por um patógeno viral. da resposta inflamatória mediada por fragmentos de complemento e anafilatoxinas. Em
Em resumo, a principal função efetora dos linfócitos B envolvida no controle de uma infecção modelos de infecção experimental por HRSV, demonstrou-se que a ocorrência de formação e
viral é a neutralização, mediada pela secreção de anticorpos específicos, possibilitando o deposição de imunocomplexos, seguida de fixação de complemento, está diretamente
bloqueio da interação do vírus com receptores na célula hospedeira e tornando possível a relacionada com a hiper-reatividade brônquica e pneumonia. A deposição de
opsonização da partícula, levando à ativação do sistema complemento e à fagocitose. imunocomplexos, levando à inflamação e a alterações vasculares, está associada, ainda, a
manifestações clínicas comuns a diferentes infecções, tais como os exantemas e a produção
Sistema complemento de edemas (Figura 7.5).
Componentes do sistema complemento têm papel importante no controle da replicação viral,
participando diretamente da destruição do agente viral, da opsonização desses vírus para o ▶Papel da resposta imunológica celular nas infecções virais
reconhecimento e englobamento por células fagocíticas e da indução de resposta Enquanto a resposta humoral e a presença de anticorpos e componentes do sistema
inflamatória. A cascata do complemento pode ser iniciada por três diferentes vias: clássica, complemento são fundamentais para a neutralização de vírus circulantes e a inibição da
que se inicia com a ligação de C1 a complexos antígeno-anticorpo; alternativa, que se inicia disseminação viral, a resposta imunológica celular é essencial para outra etapa – a
pela ligação de C3 a estruturas do vírus ou de células infectadas; e das lectinas, que envolve eliminação das células infectadas. Nesse sentido, os linfócitos TCD8+, com atividade
a proteína MBL (mannan-binding lectin) – uma proteína sérica que se liga a alguns citotóxica, surgem ao lado das células natural killer (NK), como as principais células efetoras.
carboidratos expressos em glicoproteínas de envelopes virais. Todas essas vias envolvem Além desses, as células TCD4+ também apresentam papel importante de regulação da
uma cascata de reações que produzem uma C3 convertase ligada à superfície viral. Essa resposta imunológica como um todo. Essas células produzem diferentes citocinas envolvidas
enzima cliva C3, liberando C3b e C3a; C3b se mantém associado à superfície do patógeno e na regulação da ativação de componentes da imunidade inata, de células TCD8+ e de
pode funcionar como uma opsonina, tornando o vírus alvo de fagócitos que apresentam linfócitos B, além de serem essenciais para o desenvolvimento de memória imunológica.
receptores para C3 (CR1), facilitando a eliminação dos vírus da circulação. Alternativamente,
C3b pode se associar a C5, produzindo uma C5 convertase que cliva C5, gerando C5a e ■Células natural killer
C5b. A presença de C5b associada ao vírus pode iniciar uma nova sequência de reações,
Embora sejam de origem linfocitária, as células natural killer (NK) são consideradas
componentes efetores da imunidade inata, uma vez que seu padrão de reconhecimento da ■Linfócitos T
célula-alvo é distinto de linfócitos T e B (não apresentam receptores clonais como TCR ou Diferentemente das células NK, os linfócitos T apresentam um padrão clonal de
BCR) e sua ativação não está relacionada com o desenvolvimento de memória imunológica. reconhecimento e necessitam de ativação prévia para a realização da sua função efetora,
Essas células apresentam atividade citotóxica e, quando ativadas, liberam grânulos fazendo parte da chamada imunidade adaptativa. O reconhecimento do patógeno é feito por
citolíticos, contendo enzimas como granzimas e perforinas, que induzem a apoptose da meio de seus receptores específicos de antígenos (TCR, T cell receptor), os quais
célula-alvo. O reconhecimento da célula-alvo pelas células NK pode ocorrer por dois reconhecem pequenos peptídeos associados a moléculas de MHC expressas na superfície
mecanismos; o primeiro está relacionado com a expressão de FcR e com o reconhecimento e de células apresentadoras de antígenos. O TCR age em conjunto com duas moléculas
a indução de apoptose das células infectadas recobertas por anticorpos. Tal processo é assessórias, CD4 e CD8, as quais são mutuamente exclusivas e determinam com qual tipo
chamado de citotoxicidade mediada por anticorpos (ADCC). de MHC os linfócitos T irão interagir. Células TCD8+ reconhecem antígenos via MHC I,
Células NK expressam, ainda, um conjunto de receptores que reconhecem padrões de enquanto as TCD4+ têm seu reconhecimento antigênico restrito à apresentação via MHC II.
carboidratos expressos em diferentes ligantes celulares, levando à ativação dessas células, Todas as células nucleadas expressam MHC I, enquanto a expressão de MHC II está restrita
com liberação de grânulos citotóxicos. A ativação induzida por esses receptores é regulada às APC, que são as células dendríticas, os macrófagos e os linfócitos B. A ligação do TCR
por outro grupo destes, que reconhecem moléculas de MHC I e têm atividade inibitória sobre específico ao antígeno apresentado pela molécula de MHC promove a ativação do linfócito T
células NK. Desse modo, o segundo mecanismo de ativação das células NK está relacionado e a rápida divisão celular expandindo o pool de células específicas ao antígeno e
com o reconhecimento de um padrão anormal de expressão de moléculas de MHC I nas promovendo a amplificação da resposta.
células-alvo. Diferentes vírus são capazes de modular a expressão de moléculas de MHC
nas células hospedeiras, de modo que, em geral, células infectadas por vírus apresentam Classicamente, a apresentação de antígenos virais ocorre via moléculas de MHC I. Esse tipo
uma diminuição da expressão de MHC I. Dessa maneira, a baixa expressão de MHC I em de apresentação é característico de patógenos citoplasmáticos, que são degradados nos
células infectadas torna possível o reconhecimento dessas células pelas células NK, sem que proteossomas celulares. A degradação ou processamento desses antígenos nos
ocorra o engajamento dos receptores inibitórios, levando à ativação das células NK e à proteossomas produz pequenos peptídeos os quais são endereçados ao retículo
liberação de seus grânulos citotóxicos. endoplasmático (RE), em que se associam às moléculas de MHC I recém-sintetizadas.
Assim, o complexo peptídeo-MHC formado migra para a membrana celular, na qual é
apresentado para os linfócitos TCD8+. Já a apresentação via moléculas de MHC II é
característica de patógenos intravesiculares. A degradação ocorre dentro das vesículas,
principalmente lisossomas, por meio de proteases ácidas presentes. Posteriormente, ocorre a
fusão dessas vesículas com outras vesículas contendo a molécula de MHC II, o que permite
sua associação aos peptídeos virais gerados. Esses complexos migram para a membrana
celular, onde são apresentados a linfócitos TCD4+. É sabido, no entanto, que essas vias não
são tão restritas e que existem mecanismos de processamento e apresentação cruzada de
antígenos. Nesse sentido, antígenos provenientes de patógenos intravesiculares podem ser
apresentados via MHC I. Acredita-se que isso possa ocorrer devido à associação de
componentes do proteossoma a vesículas endossomais ou, ainda, pela reciclagem de
moléculas de MHC I da membrana plasmática por meio de endocitose. Dessa maneira,
antígenos processados nos lisossomas podem se associar ao MHC I presente nas vesículas.
Vale ressaltar que os antígenos presentes nas vesículas podem ser oriundos tanto de vírus
endocitados quanto de fragmentos originados de células que entraram em apoptose após a
infecção viral, os quais podem ser capturados pelas APC. Desse modo, essa via de
apresentação cruzada é importante para a apresentação de antígenos derivados de vírus que
não infectam APC, para que haja ativação dos linfócitos TCD8+ citotóxicos.
A apresentação cruzada é importante também para ativação de células TCD4+. A geração de
peptídeos para a apresentação via MHC II para células TCD4+ pode ocorrer após lise de
células infectadas e liberação desses antígenos, os quais podem ser capturados e
endocitados por APC, em um processo semelhante ao descrito anteriormente. É possível,
ainda, que moléculas de MHC II recém-sintetizadas e expressas no RE se encontrem e se
associem a peptídeos produzidos no proteossoma, possibilitando a apresentação dos
mesmos via MHC II. Independentemente de mecanismos de apresentação cruzada, a
apresentação de antígenos virais via MHC II pode ocorrer após a captura dos vírus por
receptores do tipo lectina (receptores de manose, DC-SIGN), que direcionam as partículas A ativação de linfócitos TCD4+, também chamados linfócitos T auxiliares ou T helper (Th), é
para os endossomas. de extrema importância para o controle de uma infecção viral, uma vez que sua principal
Durante a apresentação do antígeno à célula T, é necessária, além da ligação MHC/TCR, a função efetora esta associada à produção de citocinas envolvidas na regulação de diferentes
participação de outras moléculas chamadas coestimulatórias. Esses sinais são componentes da resposta imunológica. O papel central das células TCD4+ na resposta
imprescindíveis tanto para a maturação do linfócito T quanto para a maturação das APC que, antiviral pode ser evidenciado pelo fato de que uma deficiência de número ou função dessas
quando maduras, liberam citocinas importantes para a determinação do padrão de resposta, células é associada à reativação de infecções latentes, à suscetibilidade aumentada a
como é o caso dos linfócitos TCD4+, que podem se diferenciar em Th1, Th2 e Th17 ou, infecções oportunistas e à baixa eficiência de vacinas.
ainda, em células T regulatórias. Além disso, há maior expressão de moléculas de adesão e As células TCD4+ são estimuladas após interação e apresentação de antígenos por APC e,
receptores de quimiocinas nos linfócitos T, como um mecanismo de direcionar essas células de acordo com o estímulo e padrão de citocinas produzidas pelas APC, as células T helper
para o sítio de infecção. podem ser diferenciadas em Th1, Th2, Th17, ou Treg (regulatory T cells).
As células Th1 produzem, sobretudo, IFN-γ, IL-2 e IL-18. Essas citocinas são importantes
Linfócitos TCD8+ para a sobrevivência, a manutenção e a expansão de linfócitos e para a ativação de
A principal função efetora dos linfócitos TCD8+ está associada à sua atividade citotóxica e à macrófagos, células NK e linfócitos TCD8+. Desse modo, a ativação de células Th1 é central
indução de apoptose da célula-alvo. O processo tem início pelo reconhecimento do antígeno para a indução e a manutenção da resposta antiviral. Já as células Th2 produzem IL-4, IL-5 e
viral, associado a moléculas de MHC I na superfície das células infectadas. Isso leva à IL-13 e, classicamente, são associadas à modulação da produção de determinados isotipos
ativação das células TCD8+ com liberação de grânulos citolíticos. O conteúdo desses de imunoglobulina.
grânulos contém uma série de proteínas e enzimas que podem causar dano e morte da As células Th17 produzem IL-17, IL-21 e IL-22 e participam ativamente de respostas
célula-alvo infectada. Uma dessas moléculas é a perforina, uma proteína capaz de formar inflamatórias. O aumento da produção de IL-17 já foi associado à exacerbação da resposta
poros nas membranas celulares. Outras moléculas são as granzimas, que são serino- inflamatória e ao surgimento de determinados sintomas em diferentes infecções virais, tais
proteases, e, ao entrarem na célula infectada, ativam a cascata de apoptose, iniciada pela como na ceratite causada após a infecção da córnea pelo HSV, na miocardite causada pelo
ativação de caspase-3. A granulisina também é uma enzima capaz de levar a célula a entrar Coxsackievírus B3 e na infecção crônica pelo HBV. Por outro lado, as células Th17 parecem
em apoptose. Dessa maneira, por apoptose, essas moléculas atuam em conjunto, ser importantes para a imunidade de mucosas; além disso, o equilíbrio na proporção desse
possibilitando que a célula infectada seja eliminada sem que haja ativação de processo subtipo celular parece ser importante para o controle de infecções nesses tecidos. Na
inflamatório. A apoptose da célula infectada, consequentemente, causa destruição das infecção pelo HIV, por exemplo, há relato de que a produção de citocinas com perfil Th1 e
partículas virais, impedindo a infecção de outras células e sua disseminação no hospedeiro. Th17 está inversamente correlacionada à carga viral. Além disso, células Th17 são
A lise das células infectadas, em consequência da apoptose pode ocorrer, ainda, por outros preferencialmente depletadas no trato gastrointestinal de pacientes HIV-positivos, enquanto
mecanismos de indução de citotoxicidade, como o mediado pelo engajamento do receptor em modelos de infecção por SIV em seus hospedeiros naturais que não adoecem, a
Fas, que induz a ativação de cascata de caspases. Quando ativados, os linfócitos TCD8+ população de células Th17 se mantém intacta, sugerindo que a preservação da mesma
expressam em sua membrana o ligante de Fas (FasL), que pode interagir com o receptor Fas influencie a progressão para doença.
na superfície da célula infectada e induzir a apoptose dessas células. As células Treg caracterizadas pela expressão do receptor CD25 e, muitas vezes, do fator de
Além de sua atividade citotóxica, as células TCD8+ também secretam inúmeros mediadores transcrição Foxp3, estão associadas à supressão da resposta imunológica mediada por
imunológicos, incluindo citocinas e quimiocinas, tais como o IFN-γ, TNF-α, MIP-1β, dentre linfócitos TCD4+. Essa inibição ocorre, principalmente, pela produção de citocinas, tais como
outros, que podem contribuir para ativação de mecanismos antivirais nas células infectadas. IL-10 e TGF-β, que modulam negativamente a resposta T. A participação de células Treg em
A liberação de IFN-γ, por exemplo, inibe a replicação viral e promove aumento na expressão infecções virais já foi demonstrada em infecções por HIV e HCV. Em pacientes com infecção
de moléculas de MHC, além de ativar macrófagos. A ativação dessas células leva à inibição crônica por HCV, foi observada a indução de citocinas características da ativação de Treg,
da replicação viral pela produção de espécies reativas de oxigênio e pela maior eficiência na como IL-10 e TGF-β. Além disso, foi descrita maior frequência de Treg nos pacientes com
degradação de proteínas. infecção crônica em relação àqueles que eliminaram a infecção. De maneira semelhante, em
Esses achados demonstram o papel crucial da ativação dos linfócitos TCD8+ para o controle pacientes HIV-positivos não tratados, observou-se que a proporção de células Treg em
da replicação viral. No entanto, a persistência do antígeno e a ativação crônica dessas mucosas se correlaciona diretamente à carga viral.
células podem resultar em deficiência de sua função efetora, devido à exaustão celular – a Diante da enorme plasticidade das células TCD4+, seu papel na ativação de outros tipos
qual está associada a alta carga viral, manutenção do patógeno no hospedeiro e indução celulares é também bastante diverso. Nesse sentido, sabe-se que a expansão de linfócitos
progressiva da inibição da atividade citotóxica e produção de citocinas mediadas pelos TCD8+ e indução de resposta citotóxica pode ser positivamente modulada por essas células.
linfócitos TCD8+. Nesse sentido, a expressão de marcadores associados à exaustão, como o Algumas das citocinas produzidas por células TCD4+ são essenciais para a sobrevivência,
receptor PD-1, foi demonstrada em infecções crônicas, como aquelas causadas por HCV e expansão ou manutenção das células T, de maneira que a ativação das células Th é
HIV. Além desse mecanismo, a deficiência de linfócitos TCD4+ também pode contribuir para importante para a expansão de CTL específicos para o vírus nas respostas primárias e sua
a inibição da função das células TCD8+, como será discutido a seguir. subsequente diferenciação em células de memória. Tem sido observado em vários modelos
de infecção viral que a ativação de células TCD8+ na ausência do help de TCD4+ está
Linfócitos TCD4+ associada à produção de células com menor potencial de produção de citocinas, de resposta
a quimiocinas, menor desenvolvimento de células de memória e, consequentemente,
deficiência de uma resposta secundária. Esses achados são claramente evidenciados em
infecções virais crônicas, como na infecção pelo HIV. Nesse caso, devido à depleção
marcante dos linfócitos TCD4+, as células TCD8+ estão expostas à estimulação antigênica
constante, na ausência ou ineficiência do estímulo de células T helper, o que tem sido
associado à alteração funcional das células TCD8+, levando-as a um processo de inativação
funcional e exaustão. A importância do papel das células Th na funcionalidade dos CTL pode
ser evidenciada, ainda, em modelos de vacinação, nos quais tem sido possível observar que
a indução de uma resposta citotóxica ótima ao antígeno vacinal e, consequentemente, ao
desafio com o vírus selvagem, depende de células TCD4+.
A resposta mediada por células TCD4+ é essencial também para a modulação da produção
de anticorpos. Embora os linfócitos B possam ser estimulados de maneira T-independente,
isso apenas produz a secreção de IgM de baixa afinidade. A resposta T-dependente (ou seja,
quando o linfócito B, além do reconhecimento do antígeno específico pelo BCR, interage com
células TCD4+ ativadas) provoca mudança de classe de Ig em um processo chamado de
maturação da afinidade. Tal processo está relacionado com a indução de sinais na célula B e
com a seleção de clones de linfócitos B
capazes de secretar anticorpos com
maior afinidade/avidez pelo antígeno
específico.
O desenvolvimento de memória
imunológica, tanto de linfócitos TCD8+ 8 - Entender o mecanismo de memória imunológica, relação com vacinas e a
quanto de células B, também parece prevenção de doenças infecciosas
depender da ativação de células Memória imunológica
TCD4+, como demonstrado em uma As respostas imunes mediadas por anticorpo de um hospedeiro se intensificam após uma
variedade de modelos de infecções exposição secundária a um antígeno. Essa resposta secundária é também chamada de
virais. resposta de memória (anamnética). Como mostrado na Figura 17.17, essa resposta é
As células TCD4+ apresentam, ainda, comparativamente mais rápida, alcançando um pico em apenas 2 a 7 dias, dura vários dias e
atividade citotóxica, uma vez que, assim é consideravelmente maior em magnitude. Para fins explicativos, como mostrado na Figura
como os linfócitos TCD8+, expressam 17.5, algumas células B ativadas não se tornam plasmócitos produtores de anticorpo, mas
FasL em sua superfície, podendo persistem como células de memória de vida longa, não proliferativas. Anos, ou até mesmo
induzir o sinal de morte celular em décadas mais tarde, se essas células forem estimuladas pelo mesmo antígeno, diferenciam-
células infectadas expressando Fas se muito rapidamente em plasmócitos produtores de anticorpo.
(Figura 7.6). A intensidade da resposta humoral mediada por anticorpos pode ser refletida pelo título de
anticorpo, a quantidade relativa de anticorpo presente no soro. Após contato inicial com um
antígeno, o soro da pessoa exposta não apresenta qualquer anticorpo detectável por 4 a 7
dias. Então, ocorre um aumento lento no título de anticorpo: primeiro, anticorpos da classe
IgM são produzidos, seguidos por um pico de IgG em aproximadamente 10 a 17 dias, após o
qual o título de anticorpo declina gradualmente. Esse padrão é característico de uma
resposta primária a um antígeno.
Tipos de imunidade adaptativa
A imunidade pode ser adquirida ativa ou passivamente. A imunidade é adquirida ativamente
quando uma pessoa é exposta a microrganismos ou substâncias estranhas e seu sistema
imune responde a isso. A imunidade é adquirida passivamente quando anticorpos são
transferidos de uma pessoa para outra. A imunidade passiva no recipiente (na pessoa que
recebe) dura apenas enquanto os anticorpos estiverem presentes – em muitos casos,
algumas poucas semanas. Tanto a imunidade adquirida ativamente quanto a adquirida
passivamente podem ser obtidas por meios naturais ou artificiais.
Os quatro tipos de imunidade adaptativa podem ser resumidos como a seguir: proteínas dissolvidas no soro movem-se a taxas distintas. As proteínas globulinas separam-
se em frações que são chamadas de alfa (), beta () e gama (γ), de acordo com sua
• A imunidade ativa adquirida naturalmente desenvolve-se quando uma pessoa é mobilidade relativa. Uma vez que a fração gama, denominada gama-globulina, contém a
exposta a antígenos ao longo da vida cotidiana, torna-se doente e, então, se recupera. Uma maior parte dos anticorpos, ela é frequentemente utilizada para a transferência de imunidade
vez adquirida, a imunidade permanece por toda a vida para algumas doenças, como o passiva.
sarampo. Para outras, principalmente as doenças intestinais, a imunidade pode durar apenas Quando a gama-globulina, também chamada de globulina do soro imune, de um indivíduo
alguns anos. Infecções subclínicas ou infecções inaparentes (aquelas que não produzem imune a uma doença é inoculada em outro indivíduo, ela confere uma proteção passiva
sintomas notáveis ou sinais de enfermidade) também podem conferir imunidade. imediata contra a doença em questão. Entretanto, embora a imunidade passiva adquirida
artificialmente seja imediata, ela é de vida curta, pois os anticorpos são degradados pelo
• A imunidade passiva adquirida naturalmente envolve a transferência natural de recipiente. A meia -vida de um anticorpo inoculado (o tempo necessário para que metade dos
anticorpos de uma mãe para o seu recém-nascido. Anticorpos de uma mulher grávida cruzam anticorpos desapareça) geralmente é de cerca de três semanas.
a placenta em direção ao feto – transferência transpla- centária. Se a mãe é imune a difteria,
rubéola ou pólio, por exemplo, o recém-nascido estará temporariamente imune a essas Tipos de vacinas e suas características
doenças. Vacinas vivas atenuadas
Certos anticorpos também são transferidos pelo leite da O enfraquecimento deliberado, chamado de atenuação, pode conduzir à produção de vacinas
mãe para o bebê durante a amamentação, principalmente vivas atenuadas. Quando começou a se utilizar a prática do uso das culturas de células para
nas primeiras secreções, chamadas de colostro. a produção de vírus, percebeu-se que o cultivo de células por um longo período era, em si,
No bebê, essa imunidade passiva dura uma maneira de atenuar os vírus patogênicos. Essa descoberta expandiu o número de
apenas enquanto os anticorpos transmitidos doenças passíveis de prevenção, sobretudo para seres humanos.
persistem – geralmente algumas semanas As vacinas vivas mimetizam fielmente uma infecção real. À medida que o patógeno se
ou meses. multiplica no interior das células do hospedeiro, a imunidade celular, bem como a humoral,
Esses anticorpos maternos são geralmente são induzidas. A imunidade vitalícia, em especial no caso dos vírus, costuma ser
essenciais para fornecer imunidade ao alcançada sem imunizações de reforço, e uma taxa de 95% de eficácia não é incomum. Essa
bebê até que o seu próprio sistema eficácia de longa duração ocorre provavelmente porque os vírus atenuados se replicam no
imune se desenvolva. O colostro é ainda organismo, aumentando a dose original e agindo como uma série de imunizações
mais importante para outros mamíferos; secundárias (reforços).
bezerros, por exemplo, não têm
anticorpos que cruzam a placenta, Vacinas mortas inativadas
dependendo, então, do colostro ingerido As vacinas mortas inativadas utilizam micróbios mortos geralmente pela formalina ou pelo
durante o primeiro dia de vida. Os fenol. As vacinas de vírus inativadas utilizadas em seres humanos incluem a da raiva, gripe
pesquisadores geralmente recomendam (influenza) e pólio (a vacina Salk). De modo geral, essas vacinas são consideradas mais
soro fetal de bezerro para certas seguras do que as vacinas vivas. As vacinas de bactérias inativadas incluem aquelas contra
aplicações experimentais, pois não a pneumonia pneumocócica e cólera. Comparadas às vacinas vivas atenuadas, as vacinas
contém anticorpos maternos. inativadas geralmente requerem doses repetidas de reforço. Elas também induzem
principalmente uma imunidade humoral de anticorpos, o que as torna menos efetivas do que
• A imunidade ativa adquirida artificialmente é o resultado da vacinação. A vacinação, as vacinas atenuadas na indução de uma imunidade celular. Diversas vacinas inativadas que
também chamada de imunização, introduz vacinas no organismo. Esses antígenos incluem vêm sendo utilizadas há alguns anos estão sendo substituídas por tipos novos e mais
microrganismos mortos ou vivos ou toxinas bacterianas inativas. eficazes; exemplos incluem as vacinas contra coqueluche (tosse comprida) e febre tifoide.
Vacinas conjugadas
As vacinas conjugadas foram desenvolvidas nos últimos anos para resolver o problema da
resposta imune reduzida de crianças a vacinas com base em cápsulas polissacarídicas. Os
polissacarídeos são antígenos T-independentes, e o sistema imune infantil não responde
muito bem a esses antígenos até os 15 a 24 meses de idade. Os polissacarídeos são com-
binados a proteínas, como o toxoide diftérico ou tetânico; essa abordagem permitiu a
produção da vacina bem-sucedida contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib), que fornece
proteção signi- ficativa até mesmo aos 2 meses.
afetados estão indicados entre parênteses para algumas das doenças. ADA, Adenosina
desaminase; CD40L, ligante de CD40 (também conhecido como CD154); IDVC,
imunodeficiência variável comum; IDCG, imunodeficiência combinada grave
Conceitos-
chave
Doenças da Imunodeficiência Primária (Congênita)
- Imunodeficiência variável comum: defeitos na produção de anticorpos; causa - A progressão da infecção: infecção aguda de células T da mucosa e CDs; viremia com a
desconhecida na maioria dos casos. disseminação do vírus; infecção latente das células no tecido linfoide; replicação viral
- Deficiência de IgA seletiva: falha na produção de IgA; causa desconhecida. continuada e perda progressiva de células T CD4+
- Síndrome de hiper-IgM ligada ao X: falha na produção de anticorpos de alta afinidade que - Mecanismos da imunodeficiência:
trocaram de isotipo (IgG, IgA, IgE); mutação no gene codificador de CD40L. - Perda das células T CD4+: morte das células T durante a replicação e o brotamento viral
- Doença linfoproliferativa ligada ao X (SLX): defeito em uma molécula sinalizadora, (semelhante a outras infecções citopáticas); apoptose como um resultado da estimulação
causando respostas defeituosas contra o vírus Epstein-Barr e linfoproliferação. crônica; diminuição da produção do timo; defeitos funcionais
- Essas doenças apresentam-se clinicamente com aumento da suscetibilidade a infecções no - Macrófagos defeituosos e funções das CD
início da vida. - Destruição da arquitetura dos tecidos linfoides (tardia)
- As manifestações clínicas da AIDS incluem infecções oportunistas, tumores como os
Imunodeficiências Secundárias linfomas de células B, e anomalias do SNC.
Imunodeficiências secundárias V Kumar. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças.
(adquiridas) podem ser
encontradas em indivíduos com
câncer, diabetes e outras
doenças metabólicas,
desnutrição, infecção crônica e
em pessoas que estão
recebendo quimioterapia ou
radioterapia para o câncer,
medicamentos
imunossupressores para evitar
a rejeição do enxerto ou para o
tratamento de doenças
autoimunes. Como grupo, as
imunodeficiências secundárias são
mais comuns do que os
transtornos de origem genética
primária. Alguns desses estados de imunodeficiência secundária podem ser causados por
maturação defeituosa dos linfócitos (quando a medula óssea é lesada por radiação ou
quimioterapia ou envolvida por tumores como as leucemias e os cânceres metastáticos),
síntese inadequada de Igs (como na desnutrição) ou depleção linfocitária (por fármacos ou
infecções graves). A imunodeficiência secundária mais comum é a AIDS.
Conceitos-chave
Patogenia e Curso da Infecção pelo HIV e AIDS
- A entrada do vírus nas células: requer CD4 e correceptores, que são receptores de
quimiocinas; envolve a ligação da gp120 viral e a fusão com a célula mediada pela proteína
viral gp41; os principais alvos celulares são as células T auxiliares CD4+, macrófagos e
células dendríticas.
- Replicação viral: o genoma do provírus integra-se ao DNA da célula hospedeira; a
expressão gênica viral é desencadeada por estímulos que ativam as células infectadas (p.
ex., microrganismos infecciosos, citocinas produzidas durante as respostas imunológicas 10 - Discutir os impactos sociais e econômicos de uma pandemia viral
normais) Impactos sociais, econômicos, culturais e políticos da pandemia
A pandemia de Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2 ou Novo Coronavírus, vem
produzindo repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala
global, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e
históricos sem precedentes na história recente das epidemias.
A estimativa de infectados e mortos concorre diretamente com o impacto sobre os sistemas
de saúde, com a exposição de populações e grupos vulneráveis, a sustentação econômica
do sistema financeiro e da população, a saúde mental das pessoas em tempos de
confinamento e temor pelo risco de adoecimento e morte, acesso a bens essenciais como
alimentação, medicamentos, transporte, entre outros.
Além disso, a necessidade de ações para contenção da mobilidade social como isolamento e
quarentena, bem como a velocidade e urgência de testagem de medicamentos e vacinas
evidenciam implicações éticas e de direitos humanos que merecem análise crítica e
prudência.
Partindo-se da perspectiva teórica de que as enfermidades são fenômenos a um só tempo
biológicos e sociais, construídos historicamente mediante complexos processos de
negociação, disputas e produção de consensos, objetivo das atividades deste eixo envolve
compreender e responder parcialmente aos desafios colocados pela pandemia, organizando
uma rede de pesquisadores do campo das ciências sociais e humanidades visando a
investigação, resposta e capacitação como estratégias para o enfrentamento do Covid-19 no
Brasil.
Este eixo do Observatório Covid-19 possui três subeixos, que abordam temas centrais para o
entendimento dos impactos sociais, econômicos, culturais e políticos da pandemia: "Covid
nas favelas", "Saúde indígena" e "Ética e bioética".