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MED XXV
NEUROCIRURGIA:
HIDROCEFALIA
Aula 3
PRODUÇÃO DO LÍQUOR:
O líquor é um ultrafiltrado do PLEXO COROIDE produzido ao longo
de TODO o sistema ventricular. Ou seja, onde tem plexo coroide há
produção de líquor.
Ao ser produzido, sai dos VENTRÍCULOS LATERAIS, circula através
dos forames interventriculares (de Monro) e chega ao TERCEIRO
VENTRÍCULO. Posteriormente, via aqueduto cerebral (de Sylvius),
entra no QUARTO VENTRÍCULO. Nessa região, o fluido segue pelas
aberturas laterais (de Luschka) e pelo forame medial (de Magendie)
até os ESPAÇOS SUBARACNÓIDES, onde se difunde sobre o cérebro
e a medula espinhal.
Posteriormente, ele será reabsorvido para a circulação sistêmica
através da cisterna subaracnoide.
Adultos:
o Volume normal de líquor = 150 mL. (meia latinha de cerveja)
50% desse volume é INTRACRANIANO.
Sendo 90% intraventricular.
Sendo 10% aracnoide.
50% desse volume é ESPINHAL.
o Velocidade de formação = 0,3 – 0,35 mL/min. Ou seja, é produzido diariamente 450 – 750 mL de líquor,
sendo renovado de 3-5x por dia.
Recém-nascidos:
o Volume normal de líquor = 5 mL.
o Velocidade de formação = 25 mL/dia.
o Pressão = 9-12 cm de H2O.
OBS: para crianças entre 1-10 anos, a pressão normal é de 15 cm de H2O (média = 10).
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Amanda do Nascimento
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DEFINIÇÃO DE HIDROCEFALIA:
É um processo dinâmico que resulta em um aumento progressivo do VOLUME VENTRICULAR devido a uma
obstrução relativa ou completa entre os locais de produção e absorção do LCR ou, muito menos comumente,
produção excessiva.
Epidemiologia:
o Prevalência estimada = 1 – 1,5%.
o Incidência de hidrocefalia congênita = aproximadamente 0,9 – 1,8/ 1.000 nascimentos (faixa relatada de
0,2 – 3,5/1.000 nascimentos).
Causa mais comum de hidrocefalia congênita: associada a MIELOMENINGOCELE.
TIPOS:
Existem 2 principais subdivisões funcionais da hidrocefalia (HCF).
NÃO COMUNICANTE = OBSTRUTIVA:
o É decorrente de um bloqueio proximal às granulações aracnoides. Isto é, há uma obstrução na passagem
do líquor até a cisterna aracnoide, onde ocorre a sua reabsorção.
o Dessa forma, como a produção de líquor pelo plexo coroide continua, haverá como consequência o
alargamento dos ventrículos proximais ao bloqueio.
o Na TC ou RM, pode-se verificar esse aumento dos ventrículos proximal ao bloqueio. Por exemplo: a
obstrução do aqueduto de Sylvius provoca alargamento do ventrículo lateral e do 3º ventrículo
desproporcionalmente ao 4º ventrículo (as vezes chamado de hidrocefalia triventricular).
o Possíveis causas: tumor, coágulo, fibrose do aqueduto cerebral ou do forame de Monroe.
OU
CRANIOLACUNIA “crânio em cobre batido” ou “em prata batida”. É um sinal de cronicidade, uma vez que
demonstra a desmineralização de alguns pontos da calvaria devido ao contato direto dos giros cerebrais. Esses
pontos são falhas ósseas e são hipodensos, podendo ser visualizados no Raio X.
MACROCRANIA aumento do perímetro cefálico. É muito comum nas crianças, pois, as suturas não estão
completamente fechadas, permitindo um aumento no tamanho do crânio devido ao excesso de líquor.
Adultos: geralmente cursam com sintomas relacionados ao aumento da pressão intracraniana, uma vez que o
crânio não consegue mais se expandir.
Na cabeça das crianças, também é possível observar a presença de circulação colateral (varizes)
secundariamente ao aumento da pressão intracraniana. Há desvio do fluxo intracraniano para extracraniano,
causando o ingurgitamento de algumas anastomoses que drenariam para o seio sagital, veias da calvária e
jugular externa. A presença desse fato demonstra uma descompensação da hidrocefalia.
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Inversão da drenagem pro sistema jugular externo – apresentar as varizes na calvária. Sinal de hidrocefalia crônica:
varizes na calvária, craniolacunia, macrocrania.
ETIOLOGIA:
Congênitas:
o Causas mais comuns:
MALFORMAÇÃO DE CHIARI TIPO 2 - Causa mais comum de hidrocefalia congênita. (95%)
MIELOMENINGOCELE (MM)
Geralmente essas duas disfunções ocorrem juntas.
o MALFORMAÇÃO DE CHIARI TIPO 1: a hidrocefalia pode ocorrer por obstrução da via de saída do quarto
ventrículo (não é o mais comum).
o ESTENOSE PRIMÁRIA DE AQUEDUTO: geralmente está presente na infância e raramente na idade adulta.
Adquiridas:
o INFECCIOSA é a causa mais comum de HCF comunicante.
Pós-meningite: especialmente purulenta e basal, incluindo a tuberculosa. Ocorre fibrose das
granulações aracnoideas, prejudicando a reabsorção do líquor.
Cisticercose: pode levar ao desenvolvimento de hidrocefalia comunicante devido ao processo
inflamatório, que gera fibrose ao nível das granulações aracnoideas, ou obstrutiva por debri ou pus
que obstruem o fluxo do líquor.
o SECUNDÁRIA À MASSA:
Não neoplásica. Exemplo: malformação vascular.
Neoplásica:
A maioria produz hidrocefalia obstrutiva por bloqueio das vias do LCR, especialmente
tumores em torno do aqueduto. Exemplos:
o Meduloblastoma
o Cisto colóide: pode bloquear o fluxo de LCR no forame de Monro.
o Tumor pituitário: extensão suprasselar do tumor ou expansão de apoplexia pituitária.
Entretanto, existem tumores que podem aumentar a produção de líquor. Exemplo: papiloma
do plexo coroide.
o NEUROSARCOIDOSE
o VENTRICULOMEGALIA CONSTITUCIONAL:
Corresponde a uma atrofia cerebral. Consequentemente, há aumento do tamanho ventricular.
Entretanto, NÃO há aumento na produção de líquor.
Dessa forma, não é considerada uma hidrocefalia verdadeira.
É assintomática.
Não precisa de tratamento. Não há um consenso.
A compensação se dá às custas de perda cognitiva, déficit de QI.
o ASSOCIAÇÃO COM TUMORES ESPINAIS podem aumentar a pressão oncótica do líquor. Além disso, há
também excesso de produção em relação a capacidade de absorção. Pode causar sangramentos para o
líquor. Síndrome de Finsher – tumor que produz proteína e aumenta a produção oncótica de líquido.
Aumento da viscosidade do liquor pode comprometer a circulação.
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o Aumento e ingurgitamento das veias do escalpo: é provocado pela reversão do fluxo a partir dos seios
intracerebrais devido à pressão intracraniana aumentada.
o SINAL DE MACEWEN som de panela rachada à percussão sobre os ventrículos dilatados.
o Paralisia do 6º nervo (abducente): o seu longo curso intracraniano o torna muito sensível à pressão.
o SINAL DO SOL POENTE corresponde a paralisia do olhar para cima. Está relacionado com a SÍNDROME
DE PARINAUD, devido a existência de uma pressão sobre a região do recesso supra pineal.
o Reflexos hiperativos.
o Respirações irregulares com surtos apneicos: ocorre nos quadros mais graves.
o Deslocamento das suturas cranianas: visto na radiogradia simples de crânio.
Importante ressaltar que os ventrículos que aumentam lentamente podem ser assintomáticos no início. Ex.:
Hidrocefalia Comunicante.
HIDROCEFALIA CRÔNICA:
Observa-se nos bebês de fontanela aberta.
Características indicativas de hidrocefalia crônica (em oposição à hidrocefalia aguda):
o Crânio de cobre batido = de prata batida = CRANIOLACUNIA:
É visível na radiografia simples de crânio.
Por si só não se correlaciona com o aumento da PIC. Entretanto, quando associada com a erosão da
sela túrcica e menor proeminência dos cornos temporais, sugere aumento da PIC.
Pode ser vista na craniossinostose: fusão prematura das suturas craniais.
o Herniação do III ventrículo para dentro da sela: vista na TC ou RM.
o Erosão da sela túrcica: pode ser causada pela herniação do 3º ventrículo para dentro da sela, que, às
vezes, produz uma sela vazia e erosão do dorso da sela.
o Os cornos temporais podem ser MENOS proeminentes na TC do que na HCF aguda: ele vai se
acomodando com o passar do tempo.
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Amanda do Nascimento
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o Macrocrania: por convenção, a circunferência occipito-frontal maior do que o percentil 98 é sugestivo de
HCF crônica.
o Atrofia do corpo caloso: é melhor apreciada na IRM sagital.
o Em bebês:
Diástase da sutura: afastamento das suturas.
Retardo no fechamento da fontanela.
Retardo no desenvolvimento.
ACOMPANHAMENTO:
Acompanhar as curvas de perímetro cefálico na puericultura, bem como o peso, a estatura e a proporção
craniofacial da criança.
Sinais de alerta:
o Desvio para cima na curva ou curvas que se cruzam.
o Crescimento cefálico continuado maior do que 1,25cm por semana.
o COF (circunferência occipito-frontal) próximo a 2 desvios padrão (DP) acima do normal (próximo ao
limite, percentil 98).
o Circunferência cefálica desproporcional ao comprimento e peso corporal, mesmo se dentro dos limites
normais para a idade.
TRATAMENTO:
A hidrocefalia é uma patologia CIRÚRGICA. Dessa forma, o seu tratamento definitivo é apenas cirúrgico.
Medicamentos: são usados de FORMA PALIATIVA até a realização do tratamento cirúrgico. São utilizados para
diminuir a produção de líquor.
o ACETOZOLAMIDA 25-100 mg/kg/dia TID.
o FUROSEMIDA 1 mg/kg/dia TID.
TERCEIROVENTRICULOSTOMIA ENDOSCÓPICA:
o Neuroendoscópio entra na cavidade ventricular, passa pelo forame de
Monroe e entra no terceiro ventrículo, fazendo um furo no seu assoalho,
comunicando-o com a cisterna intraventricular.
o É realizado APENAS na HIDROCEFALIA OBSTRUTIVA.
o É importante ressaltar que em 20% dos casos ocorre reobstrução, causando
hidrocefalia novamente.
É importante destacar que o implante de uma derivação trouxe muitos benefícios para o
tratamento da hidrocefalia. Entretanto, ele apresenta diversas condições associadas, como
deslocamento de cateter, infecções, compressão hemorrágica, síndrome do overshunt
(válvula drena demais em posição ortostática, podendo ocasionar cefaleia). Além disso, o
indivíduo deve realizar acompanhamento para o resto da vida.