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IRMÃ JOAN CAL VER, C.SS.R.

EM
MEMÓRIA
D
E
MIM
Jesus Redentor na
Espiritualidade
de Maria Celeste Crostarosa

[Z1
EDITORA SANTUÁRIO
Aparecida• SP.

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DEDICA TORIA

A tradutora deste opúsculo


- Maria Raquel de Carvalho -
dedica <3 seu trabalho
às Irmãs Redentoristas
do Mosteiro Imaculado Coração de Maria,
de Belo Horizonte.

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ÍNDICE

1.PlanodeDeus ................................... 10
2. Resposta ........................................15
3. Presença ......................................... 20
4. O Caminho, a Verdade e a Vida ................... 26
5. Escada para o Céu ...............................33
6. Celeste .......................................... 43
7. Celeste, a Fundadora .............................50
8. O triunfo ........................................56
Conclusão ......................................... 62

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PREFÁCIO
Estou feliz por apresentar este pequeno livro da irmã Joan
Calver, redentoristina do Mosteiro de Santo Afonso Liguori em
Missouri.
O tema do trabalho é a Venerável Madre Maria Celeste Crosta-
rosa, a fundadora das religiosas Redentoristinas. Para aqueles
que conhecem a história dos Padres e Irmãos Redentoristas, tão
bem quanto a das Redentoristinas, Madre Maria Celeste significa
muitlssimo.
Ela foi um instrumento divino na vida de Santo Afonso. Foi-lhe
revelada a idéia da Congregação Redentorista, tendo Afonso em
sua direção.
Sua regra para o apostolado da pregação foi adaptada por
Afonso que trabalhou com ela. Podemos aprender de Afonso e
Maria Celeste esta lição básica: sempre dar graças - o que
significa também aceitar o convite do Senhor para carregar a
cruz.
Quando Irmã Maria Celeste Crostarosa sofria incertezas e in-
compreensóes dos outros, seguia dando graças.
Ela aprendeu a dar graças à luz da Eucaristia que é memorial da
Paixão, morte e Ressurreição de Cristo. Ações de graças eucarís-
ticas foram sua constante atitude. Em meio das provações e
escuridões, sua gratidão confiante foi o Memorial que a conduziu
através de tudo. "
Nossas vidas são uma memória viva em todo tempo, se sempre
reconhecemosagradecidoso que o Senhor é e o que ele tem feito
por nós. O critério para todos os nossos pensamentos, palavras e
desejos é este: se nós podemos trazê-los para a Eucaristia para ai
fazermos sua morada e se eles emanam da Eucaristia se tornarão
concretização de uma memória cheia de gratidão.
Rezo para que Irmã Joan e todos os que lerem seu livro, sejam
abençoados sempre mais profundamente com uma memória
cheia de gratidão.
Bernard Haring, Redentorista
Roma, 16 de outubro de 1979
Festa de São Geraldo
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"De11.1 umuu Wlllo o mundo que
enll"l'J<Oll seu Filho Único ... " (lo 3. /6)

Revela-se o Plano de Deus


O autor do Livro do Eclesiastes, depois de examinar
todos os bens terrestres, pronunciou estas palavras: "Não
há nada de novo debaixo do sol". Podemos ouvi-lo suspirar
como se acrescentasse: "Ai de mim".
Mas, a verdade do mundo material para este autor inspi-
rado, que viveu há cerca de três séculos antes de Cristo,
certamente não vale para o novo mundo vislumbrado por
outro autor inspirado, que escreveu, por volta do ano 100
d.C. São João, claramente proclama para nós, de seu Livro
do Apocalipse: "Então eu vi um novo céu e uma nova terra ... E
vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, uma
nova Jerusalém, preparada como esposa que se adorna
para o esposo" (Ap 21, l'-2). E Deus mesmo acrescenta:
"Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21, 5).
Esta "novidade" é parte do plano de Deus. Ela começou
a se desenrolar no cenário do Mar Vermelho e do Deserto
do Sinai.
Não nos encoraja saber que Deus tem um plano que
inclui a você e a mim? O plano de Deus tem-se revelado em
cada pessoa que já viveu, que vive agora, ou que viverá no
futuro. A imprensa se encarrega de manter viva a memória
de homens e mulheres que respondem ao plano de Deus
com vida de oração e comunidade ou com vida de ação e
· ministério público.
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''Memória
Viva"
As palavras "memória viva" despertam em nós entu-
siasmo. Compreendidas corretamente elas unem a "novi-
dade" de que São João escreve, com o "plano de Deus".
Elas falam de morte que da vida, uma Ressurreição plena
do espirita. São mais que palavras. Não são elas uma reali-
dade, produzindo uma resposta que é um "sim" a Cristo, o
Redentor? Eram, certamente, para Júlia Crostarosa. E
quem é Júlia?
Vamos fechar os olhos por um momento. Estamos na
Itália, o dia é 31 de outubro de 1696, a cidade, Nápoles. Foi
dito que há magia na palavra '"Nápoles•·, uma cidade enso-
larada, rodeada por extraordinário cenário de areia e mar.
Uma cidade de crime e discórdia, de mártires e santos. Aí
Júlia Crostarosa nasceu e foi batizada no dia 31 de outubro.
O Plano de Deus para essa criança teve dimensão pública e
universal. Ela respondeu de um modo excepcional, até
heróico; de tal modo que, ainda hoje se escreve sobre ela,
como se fez no passado.
Abriremos nossos olhos agora para compreender a "no-
vidade" no plano de Deus para Júlia. Nele ha também uma
mensagem e uma missão para nós. A memória de Júlia é
importante porque sua vida e suas inspirações têm influen-
ciado outros a tornar-se memoriais da vida de Cristo.
Cristo vive, e continua o seu trabalho de redenção em
seus filhos, em todos os tempos- isto é o que se entende
por "memória viva".
Esta é a essência do plano de Deus para Júlia e, através
dela, para muitos outros aos quais ele iria chamar e esco-
lher para ser sua memória viva.
Quando Júlia tornou-se monja, tomou o nome religioso
de Celeste - Irmã Maria Celeste. Sua missão no plano de
Deus era desenvolver uma espiritualidade para gerações
futuras. Celeste compartilhou a mensagem de Deus com
suas irmãs. E, para aquelas que viriam depois, ela escreveu
tudo o que lhe fora revelado pelo PAI.
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Desígnio de Deus
"Tenho desejado ardentemente dar Meu Espírito ao
mundo e comunicá-lo a todos os homens para
permanecer entre eles até o fim do mundo; para
conceder a eles o espírito de consolação, para
transformá-los em minha Vida, minha Justiça e minha
Verdade, e envolvê-los no seio do meu amor."

"Para envolvê-los no seio do meu amor", este sempre foi


o desejo do Pai. Foi o seu amor que o levou a escolher um
povo para "ser o povo de sua propriedade" (Dt 4, 20). Por
ele escolheu Moisés para guiar o seu povo para fora do
Egito, através d_o deserto, e para trazê-los "a pé enxuto, no
meio do mar" (Ex 14, 29). No monte Sinai. ele deu-lhes uma
série de mandamentos, para ajudá-los a manter viva a me­
mória de Deus-um Deus que se preocupava e que amava.
A luta, a fé, as infidelidades desse povo. enchem as páginas
do Antigo Testamento.
Apesar de tudo, Deus não se desviou de seu plano, ele
nunca falhou; em seu amor pessoal por esse povo.
Assim veio Belém, o Calvário, e um sepulcro vazio. O
próprio Filho de Deus como homem entre os homens, ven­
ceu os insucessos de um povo lutador trazendo o amor do
Pai em sua própria pessoa.
Jesus é Deus e Deus é amor. Celeste continua a revelação
que recebeu do Pai:
,
"Por isso, eu entreguei ao mundo Meu Filho Unigênito, e
nele e por ele, toda a luz da justiça.
Nele eu dei a vida eterna aos homens.
O mundo foi feito pela Sabedoria da minha Divina
Palavra; nele todos os homens vivem, e através Dele,
todas as coisas existem.
Por isso, para que meu povo possa recordar-se do amor
eterno e perfeito com que o tenho amado, agradou-me
erguer esta Ordem religiosa, para ser um memorial vivo,
e sinal da obra de salvação e amor, realizada por meu
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Filho Unigênito, durante o período de trinta e três anos
em que ele permaneceu no mundo como homem".

Aqui Celeste recebe do Pai a tarefa pessoal de sua vida -


iniciar uma Ordem Religiosa que deve ser "memorial vivo e
sinal da obra de salvação e amor" que o Filho de Deus
trouxe a esta terra. A comunidade de Celeste. suas Irmãs
religiosas, que viviam então sob a Regra de São Francisco
de Sales, seriam suas primeiras seguidoras. Hoje, há pes-
soas de variados métodos de vida, empenhando-se em ser
como Jesus. Estes homens e mulheres, corno seguidores
de Celeste, recebem sua inspiração em São João: "Por ai
sabemos nós que estamos Nele (Jesus Cristo): quem diz
que está Nele deve igualmente caminhar como ele cami-
nhou·· (1Jo 2, 5-6).
Celeste conclui esta revelação do Pai:

Por concessão de Meu amor


permito a você tomar-Me como modelo.
Meu Divino Filho é a porta por onde você (Celeste) e
muitas outras almas entrarão na vida e gozarão com ele
os frutos escolhidos da felicidade eterna, frutos que
estão escondidos dos outros olhos mortais.
Deste modo, executando a Minha vontade e de Meu
Amado Filho, você se tornará seguidora dele na obra de
redenção.
Você glorificará o Meu nome e Me oferecerá uma
retribuição de amor por Minha infinita caridade e
liberalidade para com o gênero humano.

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Põe-me como um selo sobre teu coração,
qual selo sobre o teu braço;
porque o amor é forte como a morte,
tenaz. como o ilifemo é a paixão;
os seus lampejos são lampejos de fogo,
e as suas chamas. chamas divinas.
A.gu<ts caudalosas n,io podem extinguir o amor, nem
arrastá-lo ás grt111de.r inundações·.
Se alguém oferecesse toda afortuna lJUe possuísse em troca do
amor, seria de.l'prezadu por todos.
(Cântico dM Cânticos 8, 6-7)

Redenção é Amor
Celeste somente poderia dar uma resposta ao desígnio
pessoal de Deus para ela, e essa resposta era o amor - um
amor muito especial, modelado no amor de Jesus por seu
Pai e pelo povo. Ela preparou para sua comunidade uma
Regra baseada no puro amor evangélico e autêntico amor
de Jesus.
Salmodiamos com a jovem esposa no Cântico dos Cânti-
cos: "Porque o amor é forte como a morte ... suas chamas
são um fogo ardente". Celeste escreveu: "Jesus morreu
para viver ressuscitado nos seus filhos. Comunicando-lhes
a verdadeira vida, Jesus os torna um com Ele".
O dom da morte e Ressurreição de Jesus é a oferta do
amor e da perm1;1nência na glória do Senhor, ressuscitado,
em cada batizado, "filho de Deus". Aqueles que respon-
dem a tal amor são como chamas de um fogo flamejante.
Seu amor é tão ardente que mesmo" águas caudalosas não
podem extingui-lo".
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Deus Pai desejou que Celeste e seus seguidores fossem
canais do amor Redentor. Esta, claro, é a missão de todos
os Cristãos. Como membros do Povo de Deus, eles rece-
bem os dons sobrenaturais da fé, esperança e amor. Eles
crêem que Jesus morreu, e enviou o Espírito de Amor ao.
mundo todo. Sua fé, sua esperança apóia-se no amor re-
dentor.
"Impõe-se a cada discípulo de Cristo o compromisso de
propagar a fé, de acordo com sua habilidade" (Constituição
sobre a Igreja, 17). "De acordo com sua habilidade" -esta é
a chave da missão de Celeste. Deus a escolheu para ser
uma discípula especial. Ele a inspirou para fundar uma
Ordem religiosa de monjas contemplativas (conhecidas
como Redentoristinas) que, em seu estilo de vida monás-
tica, deveriam empenhar-se para serem memórias vivas do
Redentor.
Ele também anteviu para ela uma congregação mascu-
lina de missionários (Redentoristas) que deveriam seguir o
Redentor pelas estradas e atalhos à procura de quem esti-
ver perdido e abandonado.
Incontáveis cristãos são procurados, para seguir um ca-
minho que os leve a ser um com Deus que os ama. Talvez
eles não estejam conscientes de sua fome de Deus, de sua
sede do Espírito Confortador. Mas, quando reconhecem
seu vazio, clamam com Santo Agostinho "Nosso coração
está inquieto".
E, realmente, concluem com ele, "até que repouse em
Ti". Celeste desejava que Jesus "vivesse ressuscitado" em
todo o povo de Deus.
Seu propósito era acender um fogo de amor que então
espalharia em chamas inextingülveis.

Mística na Vida Cotidiana


Celeste era mística, uma contemplativa. Inteligente, ca-
lorosa, possuía senso de humor, era encantadora e
atraente fisicamente; ela tornou-se uma fundadora, refor-
madora, superiora e conselheira. Podemos nos identificar
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em vários graus, com seu entusiasmo, seu humor, seu
encanto, mas acaso nos esquivamos da mística, da con-
templativa? Talvez sim, mas não deveríamos. De fato, po-
tencialmente somos todos místicos. Isto é, somos capazes
de nos tornarmos conscientes da presença de Deus entre
nós: - "O amor de Deus foi colocado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5, 5).
Mas para nos tornarmos realmente místicos (aqueles que
conseguem comunhão com Deus pela contemplação e
pelo amor e não através da razão humana), necessitamos
de direção adicional. ·
Os discernimentos espirituais de Celeste ajudam seus
seguidores nesta área; e eles nos ajudarão também, na
medida em que nos esforçamos por obter o nosso próprio
desenvolvimento espiritual.

Este Divino Amante


A mensagem de Celeste focaliza o conceito blblico de
Deus. Seu tema é o puro amor evangélico. Ela refere-se a
Deus como questo Divino Amante, "este Divino Amante".
Ela diz que "redenção é amor", o que significa que foi
unicamente o amor de Deus que enviou seu Filho - para
redimir o mundo, para fazer surgir homens e mulheres
cheios do espírito, que se tornariam como ele, por meio da
graça, como Cristo é Deus em sua natureza e essência. Por
isso, Celeste afirma que esta era a mensagem de Deus para
ela: "Seja uma recordação viva do mistério do Pai e sua
obra de amor". Ela (e todos aqueles que a seguiram) cum-
pririam esta palavra imitando a Jesus em sua vida, obra de
salvação e amor.
A ambiciosa tarefa de viver o puro amor evangélico,
agindo como Jesus, certamente parece ser um "sonho
imposslvel". E seria, se Jesus tivesse nascido no palácio
de uma famosa rainha, com servos sempre prontos para
endireitar sua auréola e anjos elevando-se sobre sua ca-
beça para carregá-lo quando ele entrasse em êxtase.
Conhecemos bem os fatos para divertirmo-nos com tais
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idéias. Mas reconhecidamente, é muito difícil acreditar que
Jesus viveu e trabalhou como carpinteiro até os trinta anos,
e que mais tarde, tenha se tornado um pregador viajante,
com os pés cobertos de poeira, e odor de suor e de peixe em
suas vestes. E é até mais difícil acreditar que ele tenha
encontrado a morte cruel numa cruz, mesmo depois de ter
falado ao seu povo, de um Deus que os amava verdadeira­
mente.
Se Jesus retornasse à terra hoje, ele poderia aparecer
como um monge, um trabalhador migrante, um sacerdote
missionário, um mestre de obras ou talvez um vendedor de
bilhetes de loteria.
É claro, ele já está em nosso meio, - na vida de todos
aqueles que crêem no Evangelho do Senhor. Mas pode­
ria haver mais memórias vivas de Jesus aqui na terra. Isto
é ci que Celeste desejava e ainda deseja - mais filhos
seguindo exatamente o desígnio do Divino Amante.

O Pai lhe disse certa vez:


Quem é você no mais profundo de seu ser?
Você é uma imagem de minha própria substância!
Há somente um e único Espírito: o meu·, e é este Espírito
que produz tudo de bom em toda alma criada, que é
morada de Deus.

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Nüo podem me cau.rnr medo os espaços va;:;ios entre as
esrrelas-/â, onde não esrâ a espécie humana. Eu os renho 1üo
mais próximos, J/111 mim, afligindo-me, os meus de.H'rlo~·
interiores.
Ruberr Frosl

Deserto - Vazio
Sendo um povo peregrino, é impossível para nós passar
pela vida sem viver experiências de deserto. A palavra "de-
serto" sugere secura, sede, esforço e insucesso em tentar
atingir uma meta. Certamente ela significa tudo isso para
os Israelitas, no tempo de Moisés. Eles debateram durante
muitos anos no deserto do Sinai. Eles ansiavam pelas "pa-
nelas de carne do Egito", mesmo sabendo que isto signifi-
caria um retorno ao cativeiro e um retrocesso, sem alcan-
çar a Terra Prometida. Todos nós temos estes terríveis
desertos em nossas vidas. Nós os carregamos em nosso
próprio ser, em ·nossa existência individual!
Celeste, apesar de muitcr agraciada e especialmente es-
colhida por Deus, experimentou ·a total realidade de seus
próprios desertos, na jornada à sua terra prometida. Ela
acrescentou a expressão dei Deserto (do Deserto) ao seu
nome religioso, porque esse termo descrevia apropriada-
mente o seu estado interior. Celeste seguiu seu caminho,
através da aridez do deserto, experimentando toda a sua
dor.
Ela obteve força e coragem para triunfar, no pensamento
que Jesus havia estado ali antes dela.
A profunda união com Deus e a abertura às suas luzes
mostraram-lhe o modo de transformar o seu árido deserto
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em um fértil oásis. Na realidade, contudo, o deserto e o
oásis coexistiam: sua sede no deserto era, de certo modo,
dissipada pelas águas vivas de seu oásis.

Deserto - Presença
Solidão e vazio clamam por algum tipo de presença. O
mundo estava vazio, quando Jesus nasceu: sua Presença
preencheu um vácuo que existiu durante séculos. Não
sendo reconhecido na hospedaria repleta, de Belém, ele,
qO teimar-se adulto, fez sua presença conhecida através da
Palestina. Individualmente, admitimos o vazio pessoal pro-
duzido por nossas experiências de deserto; e as necessi-
dades e limitações de nossa natureza humana solicitam a
presença do Divino para preencher-nos.
Celeste escreveu várias vezes: "Cristo morreu para viver
ressuscitado em seus filhos". E apresenta sua solução para
o problema: precisamos "esvaziar a nós mesmos".
Mas não podemos realizar isto sem a ajuda de Deus.
Precisamos dos dons sobrenaturais da fé, esperança e
caridade assegurando-nos da presença de Deus, pelos mé-
ritos redentores de Cristo, dons reconciliadores, sua pre-
sença é dor e prazer: medo e coragem; vazio e plenitude,
morte e ressurreição. Sua presença é o Mistério Pascal que
faz de nós um "i:nístico" povo pascal.
Aqui Jesus tornou-se mestre e modelo de Celeste. Ele
próprio tomou o caminho do auto-esvaziamento. "Ora, ele,
subsistindo na natureza de Deus, não julgou o ser igual a
Deus, um bem a que nunca devesse renunciar; mas despo-
jou-se a si mesmo, tomando a natureza de servo, nascendo
semelhante aos homens" (FI 2, 6-7).
Assumir nossa condição humana significou esvazia-
mento para Jesus, durante sua vida terrestre. Na Cruz ele
bradou: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"
(Me 15, 34 ). Mas por sua filiação amorosa e sua resposta
obediente, no amor ao Pai, o Pai esteve presente nele,
mesmo naquele momento angustiante sobre o Calvário.
Assim ele pôde esvaziar-se cada vez mais, até que seu
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vaso humano fosse completamente derramado. Então o
Espírito de Deus tomou posse, inteiramente, da humani-
dade de Jesus - plenificando-a e glorificando-a.
Agora o Cristo ressuscitado, por sua vez, derrama em sua
Igreja, o Espírito vivificador, a permanente presença de
Deus.
Segundo Celeste é o desígnio do Pai, que haja muitos
vasos auto-esvaziados nos quais o Senhor ressuscitado
possa habitar. Padre Durwell, C.SS.R. diz: "O Redentor
permanece em nós, cada vez mais, pelo mistério único da
morte e ressurreição.
Como cabeça de seu corpo mlstico, Jesus vive sua vida
gloriosa e está ocupando lugar em seus membros mortais e
inúteis, mas ainda não totalmente. Em todo o corpo (hu-
mano), morte e ressurreição é uma realidade.à medida que
cada membro experimenta seu esvaziamento pessoal e sua
plenitude pes_soal em Cristo.
Embora estejamos seguros da promessa de Deus de que
ele estaria conosco sempre - "até os fins dos tempos" -
nós ainda clamamos, de nosso deserto, em humano temor:
"Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?" Mas com
Fé inspirada pelo Espirita, com puro amor Evangélico, nós
cremos com Celeste:
As humilhações da humanidade de Jesus são as chaves
dos divinos tesouros do Deus vivo.
Para ser capaz de entrar na vida de Deus para viver
confbrme Deus, a almá deve experimentar o
auto-esvaziamento de Jesus, o humilde Homem-Deus.
Desse modo, ela é recebida por Deus, porque Deus vive
nela, uma vida de amor no Espirita Santo.

Por conseguinte, temendo o vazio, nós o desejamos (um


típico paradoxo do Cristianismo), pois isto, também, é
morte e ressurreição, o mistério único, o evento único.
Quando ambos estão acontecendo, temos um memorial
vivo de Jesus. Este é, realmente, o sentido total da vida para
o novo povo de Deus: "Para mim, a vida é Cristo" (FI 1, 21 ).
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Presença e Memória
Há um parentesco inseparável, complementar, entre a
presença divina de Deus, e a "memória viva" de Celeste.
Memória, que, por ser "viva", traz ao momento presente um
evento passado.
Assim se traduzia a mentalidade hebraica ao celebrarem
a Páscoa. As famílias judaicas que se reuniam ao redor da
mesa tendo os" rins cingidos, cajado na mão", para comer
o cordeiro pascal, apressadamente estavam conscientes
do fato de que a comemoração da redenção de seus ante-
passados da escravidão do Egito, era mais que, simples-
mente, a recordação de um feliz evento do passado. Aquele
acontecimento eslava presente outra vez, com todo seu
valor libertador. Deus colocava-se, uma vez mais, em sua
vida cotidiana para participar de sua mesa comum, suas
esperanças e sonhos. Assim faziam o passado falar ao
presente.
' Nós, Cristãos, também trazemos acontecimentos passa-
dos para o momento presente. A celebração da Missa é a
realização atual de nossa redenção no passado, uma vez
para sempre o cordeiro foi imolado em Cristo e triunfou em
Cristo. O sumo· sacerdote da Nova Lei disse: "Façam isto
em memória de mim"; e, através dos tempos, o pão tor-
nou-se corpo de Cristo, e o vinho seu sangue. O Redentor
em seu evento salvador, torna-se presente, como ele pro-
meteu: "Eis que estarei convosco todos os dias".
Deus está presente em cada membro do Novo Povo de
Deus. Esta verdade de fé é um privilégio que ninguém pode
tirar, e que traz ao mesmo tempo, uma pesada responsabi-
lidade. Celeste e suas irmãs assumiram a responsabilidade
com seu modo de vida. Seu propósito era "ser Cristo", na
medida em que viviam a vida de Cristo, eram memória e
sinal - em realidade. Sua presença, então, iria irradiar-se
no mundo e penetrar em cada canto da terra, com graças
salvíficas. É isto o que São Paulo quer dizer quando es-
creve: "Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em
mim".
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Padre Joseph Oppitz, C.SS.R., autoridade contemporânea
no que se refere a Celeste, descreve esta "'Memória viva"
como um processo vital, em tornar presente uma progres­
siva energização pelo Espírito do Pai e do Filho".
Isto é, também, cristandade.
É, por isso, um caminho, um caminho único, para todo
cristão. É o amor do Pai. E está acontecendo hoje entre as
pessoas, porque aconteceu em Cristo, a Cabeça, que está
presente vitalmente nos seus membros.
Não se surpreende que Celeste, a respeito dos tipos de
oração, tenha escrito:

Ó Pai, Tu tens me ensinado que cada alma que, com


humildade e ardente desejo, unir sua vontade, sua mente
e todas as suas forças ao Teu divino Filho, participará do
perfeito sacrifício da Divina Palavra, sacrificando com
ele, que é a vida de todo homem.
Faze-me viver, então, no teu coração e em todos os
corações.

2!
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4.º
O CAMINHO,
A VERDADE,
A VIDA

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''Eu sou o Caminho, o Verdade e" Vida.
Ni11g11im vai 1w Pai senúo por mim'' (lo /4, 6).

Celeste encontra-se com Afonso


Celeste tinha o próprio Jesus como modelo e mestre.
Suas doutrinas básicas sobre a humanidade de Jesus e o
desígnio do Pai Eterno eram notavelmente sólidas. Não é
de se admirar que o maior teólogo daqueles tempos, Santo
Afonso Maria de Ligório (nomeado Doutor da Igreja por Pio
IX em 1871 ), as reconhecesse como teologicamente segu-
ras. Nascidos na famosa cidade de Nápoles com apenas um
mês de diferença, era inevitável que Afonso e Celeste se
encontrassem. Afonso, devido ao seu berço nobre, seu
gênio intelectual (ele obteve doutorado em direito civil e
direito canônico aos 16 anos), sem mencionar sua extraor-
dinária santidade, encontrava-se em posição ilustre na vida
napolitana. Celeste havia deixado o refúgio da vida particu-
lar de uma "senhora" na sociedade, para entrar em um
mosteiro de freiras conteR1plativas. Parecia que o próprio
Senhor os reunia para completarem-se e melhor executa-
rem seus desígnios.
Afonso incentivava Celeste porque era um homem evan-
gélico, e a Boa Nova que pregava era Jesus; ele ensinava
que Jesus é o puro amor Evangélico. Para ele, Jesus, em
seu mistério redentor, é o "Caminho" para o céu, a "Ver-
dade" na qual precisamos crer, e a fonte de toda "Vida"
sobrenatural. Enquanto Afonso fazia todo o possível, con-
forme sua vocação sacerdotal e missionária, para tornar
Jesus conhecido como o Caminho seguro para a felicidade
eterna, Celeste, errl"Sua vocação religiosa, fazia o mesmo,
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do interior da clausura do moste.iro. Ela estava vivendo a
vida do Homem-Deus. De maneira dolorosa, mas segura,
Celeste foi aos poucos se tornando inteiramente, um "me-
morial vivo" de Jesus, nos mistérios de sua passagem
sobre a terra. E, enquanto ensinava às suas Irmãs este
caminho seguro, ela escrevia para futuros seguidores suas
reflexões e iluminações.

O Caminho de Celeste
Em sua autobiografia, Celeste descreve como alcançar a
maturidade em Cristo: "O caminho são as obras e virtudes
de Jesus Cristo aplicados à alma pela graça". Para melhor
compreendermos esta afirmação vamos considerar a vida
(sobrenatural) do cristão batizado e então ponderar as re-
flexões de Celeste. As "obras e virtudes" de Jesus serão
no:5so modelo para conduzirmos esta vida sobrenatural à
maturidade. Desse modo poderemos saber melhor como
ser memoriais vivos de Cristo assumindo-o durante nossa
peregrinação pessoal à terra prometida. Mesmo seguindo
a Jesus, ainda encontraremos sofrimentos no caminho: é
necessário nos esvaziarmos de nós mesmos, mas a estrada
é segura.
As três virtudes teologais da fé, esperança e amor, são os
alicerces sobre os quais se edifica solidamente a vida
cristã. Elas são infusas no batismo. Ao deixar a pia batis-
mal, a criança possui uma "nova" vida - a vida do Espírito
de Deus, uma vida espiritual. Tal criança "renasceu da
água e do Espírito", nasceu para o mistério único da morte
e ressurreição de Jesus. Poderia acontecer que essa vida
nova - com todos os dons sobrenaturais do Espírito, as
virtudes teologais e.as virtudes morais infusas - permane-
cesse para sempre como um embrião. Mas, assim como a
vida natural da criança se desenvolve de todas as formas
possíveis, também a sua vida sobrenatural deve desenvol-
ver-se. Aquela chama viva do Espírito do Amor de Deus está
prestes a se incendiar. "Eu vim lançar fogo sobre a terra, e
como eu gostaria que já estivesse aceso!" (Lc 12, 49).
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Vivendo as Virtudes de Jesus
Os interessados em encontrar um caminho, em conhecer
a verdade e em viver uma vida espiritual, certamente devem
procurar os Evangelhos. Imediatamente observariam que
Jesus ~mou a todos. O Amor é o ponto de partida de Ce-
leste. E sua primeira regra, intitulada: Da União Mútua e
Caridade. Ela introduz seus escritos com citações do
Evangelho: "'Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos
outros como eu vos tenho amado" (Jo 15, 12). "Ninguém
tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus
amigos" (Jo 15, 13). Depois transcreve o que Jesus lhe
ensinou e, por meio dela, ensinou a nós, quanto a viver a
virtude como ele o fez, durante seus trinta e três anos entre
nós. Jesus fala a Celeste:

Eu desci dos céus


para me entregar inteiramente a vós
e para dar a minha vida,
não somente por meus amigos, mas também por meus
inimigos, para glorificar meu Pai e para a vossa salvação.
Entreguei minha vontade, por amar-vos com o mesmo
amor com que amei meu Pai celestial, dando minha
própria vida pela salvação de todos.
Este é o meu novo mandamento:
que vos ameis uns aos outros, como eu vos tenho amado.
Não julgueis o vosso próximo
por nenhuma espécie de mal;
com todo o vosso coração perdoai-o e esquecei qualquer
ofensa que tiverdes recebido dele.
Amai-o, por amor de Mim,
compadecei-vos dele em suas aflições
e enfermidades corporais e espirituais;
sejam os vossos olhos não para ver as suas imperfeições,
mas as suas necessidades, para que possais socorrê-lo;
vossos ouvidos, para ouvi-lo em suas aflições;
vossos lábios, para defendê-lo, consolá-lo e instruí-lo
nas verdades eternas;
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deveis estar prontos a sacrificar vosso corpo e vossa vida
pela sua salvação eterna, para que vós também possais
fazer como eu tenho feito.
Glorificado seja Deus. Amém.

Amor em Ação
O amor sintetiza todas as virtudes. Celeste continuava a
meditar sobre Jesus nos Evangelhos e o via como o amor
em ação: "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração" (Mt 11, 29). E Jesus fala a Celeste: "Eu vim como
um Cordeiro, não somente manso, mas humilde, por
considerar-me como um homem, como nada em compara-
ção com a Divindade. Vim para tomar sobre mim todos os
pecados do gênero humano. Ao meu coração devem estar
unidos os vossos corações, para tornarem-se verdadeira-
mente mansos e humildes".
Quando Celeste meditava sobre as palavras: "Vós sois
meus amigos se fizerdes o que vos mando" (Jo 15,14),
Jesus falou a ela novamente - desta vez sobre o esvazia-
mento de si mesmo: "Eu renunciei a mim mesmo e me
submeti às minhas próprias criaturas. Por minha obediên-
cia eu dei a todos os homens o modelo de como devem honrar
as leis de seu Criador e como obedecer à sua vontade".
Seguem-se em sua Regra, as virtudes da mortificação,
"Todo aquele que perder a sua vida por causa de mim e do
Evangelho, este salvá-la-á" (Me 8, 35) e da recordação: "Eu
a conduzirei ao deserto e falarei ao seu coração" (Os 2, 16).
Naturalmente, a recordação era preciosa ao coração de
Celeste. Lembrava-lhe aqueles espaços desertos onde, no
silêncio e no vazio, Jesus podia falar a ela e saciá-la com
sua divina presença.
Finalmente, é impossível procurar por Jesus nos Evange-
lhos sem descobrir a Cruz: "Se alguém quiser vir após mim,
renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me" (Me 8, 34).
Por esta razão Jesus disse a Celeste: ''Eu amei a Cruz. E
porque eu a abracei, ela se tornou o meio de atrair todo
homem à união com meu Pai".
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Impossível de Seguir?
Seria impossível, para os cristãos em geral, trilhar este
"caminho" e seguir a "verdade" até a "Vida" eterna? Seria
demais pedir aos cristãos para que cresçam, por uma vida
virtuosa, até a plena estatura do Cristo? Evidentemente,
Jesus não pensa assim. Ele nos dá um exemplo a ser se­
guido. Depois de terrível agonia, e luta para vencer seu
abatimento por causa da Cruz, no Getsêmani, Jesus cai três
vezes, em seu caminho ao Calvário. Ele conhece a fraqueza
por experiência pessoal, e deseja ser a força. Jesus nos
pede para ser perfeitos como seu Pai celestial é perfeito -
uma exigência à natureza humana - mas promete nos
ajudar. "Comigo podereis fazer todas as coisas."
São Paulo encorajava os Romanos convertidos: "Assim,
justificados pela fé, temos paz com Deus, mediante Jesus
Cristo, nosso Senhor. Por ele obtivemos acesso, mediante
a fé, a esta graça em que nos encontramos, e de nos po­
dermos gloriar, apoiados na esperança da glória de Deus.
Não somente isso, mas gloriamo-nos também nas tribula­
ções. Sabemos que da tribulação deriva a paciência, da
paciência a virtude comprovada, da virtude comprovada a
esperança, e a esperança não ilude, porque o amor de Deus
está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo
que nos foi dado" (Rm 5, 1-5).
Esta longa citação de São Paulo sintetiza a doutrina de
Celeste sobre as virtudes, sobre a virtude de Cristo a ser
imitada· e assumida comó nosso caminho seguro para o
céu.
' Certamente, é possível para os cristãos em geral, praticar
a virtude de tal modo. Todas as pessoas, em seus variados
estilos de vida, são convocadas a ser virtuosas (muitas
vezes por dia) diariamente: manter a calma, carregar a cruz
de um filho doente, mortificar o gosto pela recreação no
cumprimento de seus deveres. E, revestindo todos esses
atos meritórios com o amor de Cristo, eles se tornam de­
graus conduzindo a uma vida melhor, e uma feliz eterni­
dade.
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Jesus convidou Celeste à prática imediata da virtude com
as seguintes palavras:

Eu te dei essas virtudes


que devem ser como selos de minha Misericórdia
impressos em sua vida ...
para que possas atingir os frutos de Minha vida
e em tal esplendor
que todos possam ver que Eu vivo em ti
com toda a profusão de Minhas bênçãos eternas.

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Se, portanto. 111 é.~ a ohra de Deus,
espera a mão do artista
411e faz todas as coisas no devido tempo;
oferece teu cornçüo. suave e dócil,
e conserva a ima1tem que o artista modelou em ti.
(San/o lrineu)

Conservar a Imagem
O homem evangélico assume a imagem de Jesus Cristo.
O divino Escultor, o eterno Pai, tinha esse desígnio para
nós, quando deu seu Filho ao mundo. São Paulo fala em
formar seus convertidos no Cristo (ver GI 4, 19). E Celeste
diz que Jesus comunica vida ao povo de Deus "formando a
si próprio nele".
A oração é a virtude que nos move a dizer "sim" ao
designio de Deus. Sem ela a vida nova do Cristo em nós
nunca alcançará plenitude, nem conservará sua imagem. A
oração nos mantém unidos ao divino Artista; mostra-nos o
caminho para sermos amáveis, "suaves e dóceis" - mode-
láveis - em suas mãos. É a oração que nos ajuda a com-
preender que "os sofrimentos do presente não têm pro-
porção alguma com a glória que será revelada em nós" (Rm
8, 18). A oração preenche nossos espaços vazios com a
presença de Deus.
"Devemos rezar sempre e não desanimar" diz a Escri-
tura. Jesus disse a Celeste: "É necessário ao homem rezar
em todo tempo, sem cessar, para atingir sua verdadeira
felicidade, que consiste na união de sua alma com minha
Divindade. Este tesouro somente é possuldo na Terra por
aqueles que perseveram nesta via da oração".
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Há momentos no Evangelho em que os escritores sagra-
dos falam-nos de Jesus rezando. "Adiantou-se um pouco,
prostrou-se por terra e pediu que, se possível, esta hora se
afastasse dele" (Me 14, 35). Antes de ressuscitar Lázaro dos
mortos, "Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: 'Pai,
graças te dou por me teres ouvido' " (Jo 11, 41 ). Contam os
Evangelistas que Jesus subia à montanha para rezar à
noite, longe da multidão, que constantemente se compri-
mia à sua volta. Antes de iniciar seu ministério público,
podemos estar certos de que Jesus reunia-se com Maria e
José para a oração em família. Sabemos que ele lia a Escri-
tura na sinagoga (ver Lc 4, 16-22) e que deve ter participado
de celebrações e adorações, cantando os salmos. Como
ele era capaz de rezar tão constantemente, em sua vida
cotidiana?
Ele o fazia seguindo o mesmo conselho que nos deu:
"orar sem cessar". Atualmente, o homem de oração, co-
lhido na corrente de uma sociedade tumultuada, tem mui-
tas opções para chegar à oração incessante. Por exemplo,
um peregrino russo popularizou o que é chamado de Ora-
ção de Jesus. Ele constantemente repetia as palavras, "Se-
nhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, pecador", até que
finalmente penetrassem em seu coração. Outras opções,
meditação transcendental e misticismo oriental, com mé-
todos do Zen e da Yoga, conduzem ao nirvana, ou ao nada.
Mas uma monja contemplativa do século XVIII oferece aos
homens e mulheres de h11je, uma opção capaz de modelar
neles a pessoa de Cristo.

Jesus é Oração
Para Celeste, a oração era um meio de tornar-se "uma
memória viva" de Cristo. Em sua Regra, ela se referia à
oração como às outras atitudes ou qualidades de Jesus:
como uma virtude. Em seu ensinamento, ela voltava, repe-
tidamente, ao âmago do cristianismo: Precisamos ser ca-
pazes de olhar para um cristão e ver a suavidade e a humil-
dade de Cristo, o seu irresistível amor, a sua paciência no
35
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sofrimento, e assim por diante, até que, um belo dia,
quando aquele filho predileto de Deus tenha renunciado
completamente a si mesmo, possamos ver nele "somente
Jesus". Cada momento da sua vida consistiria somente em
tornar-se Jesus. Para ela Jesus não apenas recita orações,
mas Jesus é oração.
Jesus estava em constante união com seu Pai, não so-
mente na união hipostática de sua divindade e sua huma-
nidade, mas também, num relacionamento recíproco,
terno, amoroso, de Pessoa a Pessoa, de Pai e Filho. Este
permanente relacionamento de amor de Jesus, o Filho,
com Deus, o Pai, é o que significa dizer que Jesus é oração.
O Pai desejou que seus filhos adotivos tivessem com ele
esse mesmo relacionamento amoroso de oração. Seus filhos
devem orar sempre, para permanecer conscientes da pre-
sença de Deus, para estar sempre em contato com o grande
mistério da morada da Trindade em seu ser, comprado pelo
Filho pelo elevado preço da total renúncia de si mesmo.
Então, assim como Jesus de Belém, Nazaré e Jerusalém,
habitualmente irradiariam amor, gratidão, paz e louvor.
Celeste sintetizou estas inspirações sobre a oração em
uma de suas Regras. Jesus fala:

Sobre aqueles que unem-se a Mim


por meio da oração em espírito e verdade,
tenho dito que estarei unido a eles
com o Pai e o Espirita Santo,
e que, em um coração puro e confiante,
nós viremos fazer nossa morada durante a vida presente,
porque Eu sou o Centro onde deveis permanecer.

Oração Contemplativa
Um sinal quase infalível de santidade é a integração.
Desde que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se
fez homem e fez sua morada entre os homens, trazendo a
divindade à terra por meio de seus mistérios redentores, a
maior divisão, o céu e a terra, tornou-se a maior unidade.
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Deus e homem tornam-se um completamente, no ho-
mem-Deus Jesus. Certamente, a razão substancial dai nsis-
tência de Celeste em que Jesus seja contemplado como
modelo da vida cristã, em todos os seus aspectos - em
todas as suas virtudes e atitudes - é a plenitude de uni-
dade e integração tão evidentes em cada acontecimento de
sua vida. Os Evangelhos revelam Jesus como oração, mise-
ricórdia, perdão; ele é compassivo, obediente, sábio, amo-
roso, terno, capaz de justa cólera e de palavras severas,
porém, verdadeiras. Divindade e humanidade se encon-
tram em Jesus; abraçam-se e fundem-se em uma realidade
- o transcendental e o encarnacional tornam-se um nele.
Celeste discerniu essa verdade que a acompanhou por
toda a vida, e que fluiu de sua vida de oração, de sua
experiência vivida, e através de sua pena. E assim propôs a
oração e a contemplação aos seus seguidores:

Pela contemplação de toda a Sua vida


permitimos a Cristo reviver Seu mistério em nós.
Unidos a Ele pela força do Espírito Santo
devemos orar "continuamente e nunca desanimar".
Esta oração silenciosa, sustentada na fé -e no amor
no mais profundo íntimo da alma,
abre-nos à experiência de Deus
fazendo-nos entrar no plano da Redenção.

Escada de Oração
Em nossa condição humana, precisamos explicar reali-
dades divinas em linguagem puramente humana. Os san-
tos, depois do exemplo de Jesus, falam-nos mais freqüen-
temente por imagens. Assim Jesus esclareceu o mistério de
sua próxima morte e Ressurreição aos apóstolos surpre-
sos: "Em verdaqe vos digo; se o grão de trigo não cair na
terra e morrer, ficará só; mas, se morrer, produzirá muito
fruto" (Jo 12, 24).
Os santos revestiram suas experiências pessoais de ora-
ção, de imagens vivas. São João da Cruz, baseando-se no
37
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salmo 30, versículo 6, imaginou a alma tateando, pela vida
afora, em sua jornada para Deus, através da escuridão da
noite: "Ao cair da noite, vem o pranto, mas com o amanhe-
cer, a alegria". Santa Teresa d'Ávila anteviu um castelo
com muitos quartos, e descreveu a alma, entrando pelo
pátio fora do castelo, e progredindo para o centro onde
habita Deus. "Na casa de meu Pai há muitas moradas" (Jo
14, 2). O autor de "Nuvem da Ignorância", um grande tra-
tado sobre a oração contemplativa, usou a imagem de uma
alma impelindo-se através da nuvem da ignorância, a es-
cura nuvem da fé, para a luz do conhecimento.
Celeste imaginava a oração como uma escada, inspirada
pela escada de Jacó, que '"tocava o céu e a terra'". Sua
peregrinação à união com Deus, que vem na oração con-
templativa, consistia em subir, um a um, os degraus de sua
'"escada mística".
O primeiro degrau é a fé em Deus e nas verdades divinas.
"O caminho da oração é conhecer a verdade dos mistérios
divinos. O conhecimento da fé forma o caminho da ora-
ção." Celeste partiu da fé porque: '"Começando com esta
fé, no primeiro e menor degrau da escada ~istica, ela se
tornará o caminho que conduz ao mais alto. A medida que
se eleva, a fé oferece à alma um caminho magnífico, uma
rota confiável que conduz à união com Deus".
Uma fé assim produz esperança. Ao passar para o degrau
seguinte na fé e na esperança, Celeste estava pronta a
entregar-se ao seu Deus. "A oração de abandono e com-
pleta confiança em Deus provém da esperança." Em con-
seqüência, ela podia clamar: "Meu único Senhor, possuin-
do-vos sou perfeitamente feliz. Nesta vida nada mais de-
sejo, somente a vós".
Depois dessa entrega, ou renúncia a si mesma na fé e na
esperança, Celeste desejava com ardor ser consolada: "E
todo aquele que abandonar casas ou irmãos ou irmãs ou
pai ou mãe ou filhos ou campos por amor ao meu nome,
receberá o cêntuplo e terá por herança a vida eterna" (Mt
19, 29). Este "cêntuplo" era o amor de Deus que ela expe-
rimentou ao atingir o terceiro degrau de sua escada mis-
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tica. Ali, recebeu a confortadora unidade com seu amado,
que transformava as pequenas coisas da vida diária, verda-
deiramente, em grandes combates de amor. Ela vislum-
brou a felicidade do céu pelo reconhecimento de que Deus
é tudo e Celeste, nada.
Assim, firme na fé, na esperança e no amor, Celeste
continuou a subir sua escada. Passo a passo, seguia Jesus
na oração contemplativa de modo que, gradualmente, todo
o seu ser tornou-se integrado com o dele. No quarto de-
grau, experimentou o ardor (ou divino entusiasmo) por
Jesus, seu Esposo (Veja o Cântico dos Cânticos). No seu
jardim fechado, foi alimentada pelo Pai e pelo Filho com
"favos de mel" e "leite", e fortalecida pelo Espírito Santo
com "vinho". Assim, unida a Deus, Celeste é uma notável
conhecedora de Jesus, o Redentor dos homens. "Em sua
própria humanidade, ele revestiu de amor toda a natureza
humana e todos aqueles que vivem nele. Celeste "está
unida a uma fonte de águas celestiais", onde espera que
toda a humanidade beba com ela. Esta é a água restaura-
dora do Espírito de Deus, derramada do lado de Cristo.
Em sua ascensão pessoal à escada mística, Ceies!~
nunca perdeu de vista a humanidade de Jesus, a pessoa
que nele morreu para salvar. Isto mostra a autenticidade de
sua espiritualidade. Santa Teresa d'Ávila, a grande mística,
adverte aos contemplativos que se aproximam dos mais
altos graus de oração: "Nunca deixai de meditar sobre a
humanidade de Jesus. Glfardai-vos sob a direção dele". No
quinto degrau da oração contemplativa, Celeste descreveu
a humanidade dei Jesus "escondida na Divindade, como se
o próprio sol estivesse em um bellssimo globo de cristal". E
a visão dessa luz produziu um êxtase de amor. Sua visão da
humanidade de Jesus, levou-a a dizer que o Senhor deseja
que nossa fé seja sempre iluminada pelos raios deste di-
vino Sol, Jesus, a quem os Evangelhos tão bem retratam em
todo o esplendor de suas virtudes.

Obs.: A tradução llleral do último perlodo é: "'Esta é a água restauradora, do


Espirita de Deus, derramada do lado do templo do Corpo de Cristo".

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Outros Passos no Caminho
Depois dos cinco primeiros passos descritos acima, Ce-
leste começou o processo de amadurecimento de sua
união de oração com Jesus. Desfalecendo de amor, cai em
tranqüilo sono espiritual. Este é o sexto degrau. Ela des-
creve um dos efeitos deste repouso: "Assim a alma é sus-
tentada em sua vida de amor, com Deus: nutrindo-se com
as boas coisas dele. Este é o segredo do desenvolvimento
de suas virtudes". E uma dessas "boas coisas" é o corpo e
o sangue de Jesus na Eucaristia, eficaz no sustento diário.
Restaurada por esse repouso espiritual, Celeste des-
creve o Pai e o Filho enviando o Espírito Santo como nosso
"Confortador", o próprio "Sopro" divino da vida de Deus
em nós. Sabendo que Deus favorece a qualquer um de seus
filhos que deseje os dons do Espirita, ela esboça o sétimo
passo nesse caminho: "Deus comunica à alma um sopro de
amor. Ela o sente como um sopro de vida. Recebe-o de
Deus e sopra-o de volta para ele. Ela pode sentir a influên-
cia do Espirita Santo operando como o divino Amor entre o
Pai e o Filho".
O processo de amadurecimento com Cristo continua nos
quatro passos seguintes. Usando as imagens do Cântico
dos Cânticos.Celeste se diz transpassada pela flecha do
amor de Cristo e sua alma, invadida pela Trindade. Infla-
mada de amor, compreende os outros em todas as suas
necessidades materiais e espirituais. E, porque o sofri-
mento de Cristo é uma prova do seu amor, ela se une a ele
na Cruz: está dominada pela alegria do amor, ainda que
afligida por grande sofrimento. Em conseqüência de tudo
isto, ela parece estar transformada no próprio Cristo.
Inicia-se agora o periodo de plenitude ou consumação. A
alma subiu a escada da oração para a maturidade em
Cristo. Os cinco últimos passos são a conseqüência dos
anteriores. Celeste descreve como a sabedoria de Deus se
manifesta a esta alma. Envolta nessa atmosfera divina, re-
cebe do alto luze fervor que aumentam o seu entendimento
da fé, solidificam a sua esperança e intensificam seu amor.
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Repousando no coração de Jesus, ela é acolhida na paz
absoluta do Deus vivo; reveste-se com as virtudes do Ho-
mem-Deus e morre com ele para ressuscitar. Agora, com-
pletamente imersa em Deus, a alma é iluminada por visões
da eternidade tão intensas que são indescritíveis em ter-
mos humanos. No passo final, a alma está co-participando
perfeitamente da vida de Jesus; sua vontade está em abso-
luta conformidade com a dele. E, tendo chegado a este
estágio, a alma atinge a todo o Povo de Deus, intercedendo
com os anjos e santos, pelas necessidades materiais e
espirituais de todos os membros da Igreja de Deus.
"Esta escada de oração", diz Celeste, "produz uma pro-
funda e maravilhosa paz; a paz da verdadeira simplicidade.
A alma não se preocupa consigo: ela não se desliga da
salvação, o que aconteceria por causa dos seus pecados;
está pronta a levar adiante o plano de Deus, seja ele a
provação do sofrimento ou a consolação e a misericórdia.
Vive conforme a sua vontade e, cheia de zelo, ela encontra
o céu na terra.

Quando Celeste escolheu a escada de Jacó como símbolo


da oração, conhecia as palavras do profeta: "anjos subiam
e desciam a escada". Ninguém, nem mesmo místicos per-
severantes, atinge o degrau mais alto da união em oração
contemplativa somente para dizer: "Está feito. Agora fica-
rei aqui". Não seria o caminho de Jesus. A vida continua
com su,as dores e combates, altos e baixos, picos e vales,
ascensões e quedas. Portanto Celeste diz: "Caminha na
escada da fé e segue Cristo, o Único que atingiu a união
perfeita com o Pai, por uma via tão comum quanto a tua,
porém mais dolorosa". Talvez o mais alto degrau de nossa
escada de fé e oração seja uma paz interior penetrando
nosso deserto, onde haja espaço vazio suficiente a ser
preenchido por um pequeno Sopro de Amor.
Celeste descreve a condição de uma alma verdadeira-
mente contemplativa:

Não podemos ver a Deus, porém é tão fácil conhecê-lo.


41
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Ele é aquele ar tão p uro e luminoso
que alegra a alma aqui na terra.
Como brisa calma ele penetra todo o seu ser
trazendo uma vida nova e divina.

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Tua esposa .l'erá como 111na videira fecunda
110 imerior de tua casa;
os leus filhos es/arão, como broros de oliveira,
ao redor de tua mesa (Salmo 128,-3).

Santos e Nobres
A chegada do décimo filho dos Crostarosa, Júlia, trouxe
uma "vida nova e divina" a esta nobre família napolitana.
A criança era frágil, por isso foi batizada imediatatnente
(era o dia 31 de outubro de 1696). A vida de Júlia, nossa
futura Celeste, iria de certo modo, chamar a atenção. Sa-
bemos que o divino Escultor começou a modelar a criança
recém-nascida desde cedo, mesmo quando seus dedica-
dos pais deixaram um pouco a desejar na formação que lhe
deram de acordo com a tradição da família e os padrões
sociais da época.
No dia seguinte ao Batismo precipitado, foram celebra-
das as cerimônias solenes na Igreja paroquial de São José,
o Grande.· Aos nomes Júlia e Marcela, os pais acrescenta-
ram Santa em honra à Festa de Todos os Santos. Um bom
começo para Júlia, que teve como protetores toda a corte
celestial. Quando se tornou religiosa, anos mais tarde, es-
colheu o nome de Maria Celeste para manifestar o seu
desejo da ajuda de todos os habitantes celestiais sob a
direção de Maria, a Mãe de Deus.
Já se observou que os filhos de Nápoles respiram uma
atmosfera de piedade, tanto quanto o ar ameno e agradável
de sua cidade natal. Há, certamente, verdade nesta obser-
vação. Anos antes de Celeste, lá viveram São Januário e os
mártires primitivos. Parentes de Celeste, Beata Gabriela
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Hosa 101 citaaa por san11aaae no IIvro aos santos TrancIsca-
nos. À distância de uma caminhada da casa dos Crosta rosa
ficava a residência da família Ligório. Em 27 de setembro
de 1696, um mês antes do nascimento de Celeste, um
menino nasceu na familia Ligório. Recebeu uma longa
série de nomes batismais, mas é mais conhecido em nos-
sos dias como Afonso Maria, Santo Afonso.
(Maria Celeste e Afonso Maria iriam se encontrar mais
tarde e juntos executar o projeto de Deus para algo
"novo".)
A enorme coragem de Celeste face às dificuldades hu-
manas que experimentava ao realizar o plano de Deus era
sinal da graça divina operando nela. Sua total cooperação
com esta graça talvez evidenciasse seu berço nobre. No-
biesse oblige, quem é nobre deve proceder com nobreza,
ou seja, realizar grandes feitos por seu rei ou pelo nome da
familia, para ser coerente com seu titulo. Os nobres da
familia Rosa brilharam nas crônicas da vida civil e militar
desde 1150. Evidentemente, Celeste herdou sua coragem.
Na idade madura, lutou bravamente por seu divino Rei e
Sua glória.

Risos e Lágrimas
Paula Batista e Joseph Crostarosa tiveram mais duas
crianças depois de Celeste. Apesar de serem doze filhos, o
amor dos pais parece ter sido suficiente para todos. Um dos
biógrafos de Celeste, irmã Janet Scott, O.SS.R. relata: "A
senhora Crostarosa amava todos os seus filhos, para quem
era uma educadora dedicada mas severa".
As mães italianas têm grande influência sobre seus fi-
lhos; educam-nos na fé e no amor de Deus tanto quanto
provêm tudo para suas necessidades materiais. Isto é ver-
dade particularmente no caso de Celeste e Afonso. A suave
influência e o exemplo de suas mães alimentava neles tal
espirita de piedade que tornou-se tão natural para eles
amar a Deus como amar os de seu próprio sangue.
Quanto aos pais, sua influência sobre seus filhos diferia
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conforme seus temperamentos. O pai de Afonso, determi-
nado a trazer maior reputação para o nome da família, ficou
amargamente decepcionado quando seu filho abandonou
a promissora profissão jurldica para tornar-se padre. O pai
de Celeste era bem diferente; preocupava-se e apoiava
fielmente a todos os filhos, contribuindo grandemente para
sua felicidade.
A família Crostarosa determinou como obrigação con-
servar sempre a alegria. Esta família foi descrita como "um
grupo alegre, e Júlia sobressaía por sua jovialidade". Este
seu natural bom humor, de mãos dadas com sua confiança
no amor de Deus, conduziram-na através de muitas dificul-
dades. Mas houve momentos de tristeza. Sua irmã Úrsula,
que conhecia Celeste melhor do que ninguém, percebia-os
rapidamente, observando: "Celeste perdeu sua habitual
alegria".
Examinando rapidamente a vida de Celeste desde a in-
fância, observamos um excepcional equilíbrio entre o na-
tural e o sobrenatural, entre seu alegre companheirismo
com os outros e sua amizade afetuosa para com Deus.
Cedo tornou-se uma líder na familia, nas brincadeiras e na
alegria, na piedade e na devoção. Sua personalidade alegre
e amável levou-a a procurar diversões mundanas entre os
criados da família. E, mais tarde, sua atitude calorosa para
com os outros trouxe-lhe inquietações ao espírito, por
causa de sua afeição a um jovem confessor. Sua piedade,
inata e profunda, fazia com que passasse horas em oração
e totalmente absorvida em Deus. Em sua autobiografia, ela
escreve: "Quando eu tinha cinco ou seis anos, o Senhor
falou ao meu coração, dizendo-me toda a espécie de coi-
sas". Celeste, mesmo nessa tenra idade, foi sempre cuida-
dosa em ouvir atentamente a voz interior do Espírito de
Deus.
Assim seguia a vida da família Crostarosa. A grande casa
foi ocupada pelos risos e lágrimas das crianças, até que,
jovens, começassem a sair do círculo íntimo. Tais separa-
ções não foram fáceis. Certamente os adultos derramaram
algumas lágrimas. Mas, com o encorajamento de seus pais,
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os filhos procuraram seu futuro onde sentiam que Deus os
estava chamando.
Jorge tornou-se padre jesuíta. Úrsula, Júlia e Joana
tornaram-se freiras.

A Resposta de Celeste ao Chamado de Deus


Perto de Nápoles havia uma cidadezinha chamada Mari-
gliano. Úrsula desejava entrar para um mosteiro carmelita
lá situado; assim, fizeram-se os preparativos para que visi-
tasse a superiora, acompanhada de sua mãe e de Júlia.
Anos mais tarde, Celeste escreveria: '"Fomos recebidas
com grande alegria e amabilidade pela Superiora que me
perguntou se eu gostaria de ficar com minha irmã. Apres-
sei-me a responder que, com muito prazer, ficaria lá". Mas
a mãe de Celeste não tinha tanta disposição. Sentiu que
seu marido poderia se perturbar quando chegasse em casa
sozinha, deixando não uma, mas duas filhas com as carme-
litas, e desejou conversar sobre o assunto com ele. Celeste
escreveu candidamente sobre este incidente: "Mas Tu, 6
Senhor, de tal modo dispuseste o coração de meu pai que
ele consentiu e aprovou minha decisão". Celeste conhecia
bem a bondade de seu pai, e tinha certeza de que ele a
apoiaria em seus esforços para cumprir o desígnio de Deus
para sua vida.
Júlia tinha vinte anos quando, ao lado de Úrsula, come-
çou sua vida religiosa cor,,ro carmelita. As irmãs Crosta rosa
receberam o hábito carmelita na festa da Apresentação de
Nossa Senhora, em 21 de novembro. Um ano mais tarde,
professaram os votos de pobreza, castidade e obediência.
As qualidades de liderança de Celeste foram logo reconhe-
cidas e deram-lhe o mais delicado e responsável dever de
qualquer mosteiro: foi chamada a servir como mestra de
noviças. Sua obrigação, seu privilégio, era formar os novos
membros na vida religiosa.
Foi entre as carmelitas de Marigliano, que Celeste encon-
trou um padre de nome Padre Falcóia, missionário da con-
gregação dos Pios Operários. Este padre foi destinado a
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guiar Celeste em sua futura obra como fundadora. Parecia
que o plano que Deus reservava para Celeste incluía muito
sofrimento redentor, até a cruz, e, para isto, Padre Falcóia
seria instrumento de Deus.
Mais tarde, Celeste escreveria com sua habitual simplici-
dade: "Se o Senhor colocou-me nas mãos desse padre, foi
para fazer-me tirar proveito de preciosos frutos da cruz
antes desconhecidos por mim. Ele foi, apesar disso, um
grande servo de Deus.
Para um seguidor de Jesus, não há nenhum modo de
evitar a cruz. Nenhum leal seguidor de Cristo deseja evitá-
la, mas, quando ela vem, oculta nos acontecimentos co-
muns da vida diária, ou por intermédio de uma pessoa
santa, há sempre surpresa e, talvez, a necessidade de reco-
nhecer o seu verdadeiro valor. Com o aparecimento do pio
padre Falcóia, a sombra da cruz começou a surgir no cami-
nho de Celeste.
O mosteiro carmelita, que era agora o lar feliz das três
irmãs Crostarosa (Joana reuniu-se a Celeste e Úrsula em
1720), havia sido fundado por uma nobre rica e poderosa.
Esta mulher confiscou e reclamou muitas das proprieda-
des que um dia havia dado com alegria às freiras; e ainda
ameaçava causar mais problemas. Sob estas circunstân-
cias, o bispo, temendo pelas freiras, fechou o mosteiro.
Então Celeste escreveu ao padre Falcóia pedindo o seu
conselho, o qual, imediatamente, convidou as três irmãs
a irem para um mosteiro fundado por ele em Scala.
Celeste recebeu isto como a vontade de Deus e, conse-
qüentemente, começou a fazer planos.
1
O pai de Celeste, que preferia ele próprio encaminhar
suas filhas, relutava em permitir que fossem. Úrsula tam-
bém se opôs porque soube que todas as religiosas daquele
convento estariam somente sob a direção espiritual do
padre Falcóia. Por esta razão, fazia "sérias restrições".
Mas Celeste convenceu a todos, declarando que essa era
a vontade de Deus. O Senhor havia dito a ela: "Minha
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vontade é que você vá para o convento de Scala". As três
irmãs prepararam-se para uma readm·issão, e, assim, teve
início a fase mais dura de sua experiência pessoal como
povo peregrino no deserto.

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Que111 .rnhirá " 111011/llnhll do Senhor~
Quem hú de pennl/necer 110 seu lugar Sllntu'' (S"lmu 24, 3)
O Senhor am" aquilo que fundou nos 111011/es ,rnntos
/Sa/1110 87. 1-2)

Celeste Sobe
"Quem subirá a montanha do Senhor?" A esta pergunta,
Celeste responde: "Todo aquele que desejar subir o pri-
meiro degrau da escada mística, a fé, agarrando-se aos
suportes da 'esperança' e da 'entrega de si' ". Assim, é
possível a qualquer pessoa do povo místico de Deus, esca-
lar esta montanha. Celeste e suas duas irmãs iniciaram uma
longa subida ao convento da Visitação da cidade de Scala
(Scala significa "escada"). Elas acreditavam ser esta a von-
tade de Deus, e começaram a sua jornada na fé, na espe-
rança e na entrega de si.
O viajante que desembarca na pequena cidade de Amalfi,
no Golfo de Salerno, é saudado por encantadora beleza. A
pitoresc;a cidadezinha abr;iga-se entre colinas cobertas de
cedro e bosques de laranjeiras. Abaixo, o mar reflete o céu
azul, e ao fundo estão os íngremes montes elevando-se até
os penhascos, onde se situam as cidades gêmeas de Scala
e Ravello.
Hoje em dia, os turistas que visitam a famosa Ravel lo, mal
podem imaginar que proeza seria escalar aqueles despe-
nhadeiros no século XVIII; não havia estradas, as rochas
agudas e as alturas vertiginosas assustavam os cavalos.
Mas as irmãs Crostarosa fizeram a viagem e chegaram em
Scala em janeiro de 1724.
A cidade de Scala tinha uma população de 1.500 habitan-
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tes. O Convento da. Visitação lá situado foi fundado por
Falcóia e um padre seu companheiro em 1720. Celeste,
Úrsula e Joana foram acolhidas pelas vinte jovens que lá
viviam. Estas Irmãs eram fervorosas seguidoras da Regra
Visitandina, mas não estavam filiadas a nenhum grupo
determinado. Seu convento não era uma casa "canônica"
porque as Irmãs não haviam sido formadas ou fundadas
por uma religiosa da Visitação. Mas era comum naquele
tempo que piedosas mulheres vivessem reunidas sem tal
filiação.

Um Caminho Magnífico
Em seus "Passos da Oração" Celeste escreveu sobre a
fé: "Começando pela fé, como o primeiro e menor degrau
da escada mística, ele se tornará o caminho que conduz ao
alto. À medida que se eleva, ele oferece à alma um caminho
confiável para a união com Deus".
Celeste e suas irmãs iniciaram novamente o seu novi-
ciado, para se prepararem melhor para a profissão de votos
neste novo convento. Enquanto era noviça, em 1725, o
Senhor começou a mostrar-lhe algo novo, um "caminho
magnifico" que se tornaria, eventualmente, para Celeste e
inúmeros outros, uma via segura conduzindo à união com
Deus. No dia 25 de abril, festa de São Marcos, enquanto
dava graças a Deus após a Santa Comunhão, Celeste tor-
nou-se consciente do pleno valor da vida de Jesus:

Ele me disse que desejava fundar uma Ordem


que deveria lembrar o mundo
de tudo o que ele tem feito pelo homem.
Ao mesmo tempo recebi, clara e distintamente,
pleno conhecimento de tudo
o que deveria estar contido na Regra,
ordenou que, em Seu nome, eu escrevesse tudo
como Ele me havia revelado.
Ele me fez entender que esta nova Ordem
seria fundada no mundo por meio de mim.
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Então o Senhor me disse
que iria imprimir o seu selo divino, não somente em mim,
mas também nas numerosas almas que por mim
deveriam ser salvas e ter a vida eterna Nele.

Era uma ordem elevada para uma noviça. Sob o peso


qesta e de outras revelações Celeste tornou-se deprimida.
Ursula a observou e estimulou até que revelasse o "Desíg­
nio do Pai Eterno": Deus iria usá-la como seu instrumento
para fundar uma Ordem de freiras contemplativas. Nas
palavras do Pai, elas devem ser" recordações vivas de Meu
divino Filho" lembrando aos homens o perfeito e eterno
amor com que os tenho amado; "devem glorificar meu
nome e fazer uma retribuição de amor por minha infinita
caridade e liberalidade para com todos os homens, reali­
zando minha vontade na obra da redenção".
A conselho de Úrsula, Celeste falou abertamente a sua
mestra de noviças, que ficou encantada com a perspectiva
de que o convento se tornasse uma casa religiosa oficial,
canônica e aceita com sua própria Regra. Ela pediu a Ce­
leste que escrevesse ao diretor espiritual do convento,
padre Falcóia.
Falcóia, como se pode imaginar, ficou contrariado com
esta "noviça" que perturbava a paz do "seu" convento,
introduzindo uma Regra inteiramente nova, baseada numa
revelação particular. Mas nada foi feito, até que...

Surge Afonso Maria de Ligório


Afonso, homem de Deus, consumia-se pregando a Boa
Nova e realizando muitas obras de misericórdia pela cidade
de Nápoles. Para um indispensável descanso, escolheu o
pequeno eremitério de Nossa Senhora dos Montes, perto
de Scala. Padre Falcóia, que nesse tempo havia se tornado
bispo, era um grande admirador do jovem e ardoroso
Afonso. Sabendo de sua proximidade do convento de
Scala, Falcóia lhe pediu que visitasse as irmãs e escreveu a
elas: "Recebam Padre Afonso como se recebessem a mim
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mesmo, e não tenham nenhum segredo para com ele".
Afonso não era indiferente a estas freiras, especialmente
Celeste, cuja fama de "suposta visionária" havia chegado a
Nápoles. Com sentimentos confusos ele ouviu Celeste e
cada membro da comunidade, por sua vez.
Irmã Janet Scott, O.SS.R., biógrafa de Celeste. resume as
impressões de Afonso: "Sua entrevista com a irmã Maria
Celeste o convenceu de que estava tratando com uma alma
escolhida, e todos os seus preconceitos pouco a pouco
desapareceram. Ao fim das entrevistas com as outras Ir-
mãs, ele estava absolutamente convencido da origem ver-
dadeiramente sobrenatural desta obra, e resolvido a fazer
tudo para levá-la a termo. Reunindo a comunidade, infor-
mou-lhes sua conclusão e exortou-as a dar graças a Deus
pelos favores que Ele lhes havia manifestado, e a adotar a
nova Regra corno a receberam Dele. Ao mesmo tempo,
advertiu aos que resistiam à Regra da responsabilidade em
que incorriam, opondo-se ao que era, claramente, a von-
tade de Deus".

Grandes Dias
Domingo de Pentecostes, dia 13 de maio de 1731. Pode-
ria haver dia mais apropriado para adotar a Regra da nova
Ordem do Santíssimo Redentor que o dia em que o Espírito
Santo foi derramado novamente sobre a Igreja? "O que
estava sentado no trono disse: 'Eis que faço novas todas as
coisas!' " (Ap 21, 5). Pentecostes celebra a descida do
Espírito Santo como supremo dom do Pai e do Filho, dando
origem à Igreja. E o nascimento das Redentoristinas é re-
sultado direto da revelação do Pai a Celeste: "Tenho dese-
jado ardentemente dar ao mundo o Meu Espírito e comuni-
cá-lo a todos ... para envolvê-los no seio do meu amor".
As religiosas da Ordem do Santíssimo Redentor cele-
bram seu aniversário em Pentecostes. Que dia mais ade-
quado para Celeste e as primeiras Redentoristinas inicia-
rem sua vida cheia do Espírito, de amor e de Cristo.
Celeste recebeu a primeira revelação a respeito da nova
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Ordem em abril de 1725, e a plena aceitação da Regra que
lhe foi revelada se deu em maio de 1731. A alegria daquele
Pentecostes recompensou amplamente todo o sofrimento
suportado por ela e suas leais irmãs nesse período.
A obra mais frutuosa de Deus, a redenção do mundo,
apresenta o Príncipe da Paz caminhando na longa e difícil
estrada que conduz à elevação do Monte Calvário. Celeste
e suas seguidoras agora são chamadas a seguir a mesma
estrada, levando o Cristo como a vida de suas almas e
tornando-se sua "recordação viva" na terra. Portanto, a
comunidade inteira vestiu o novo hábito da Ordem, com a
intensa cor vermelha da Redenção, e como um sinal ex-
terno de uma realidade interior: sua vida em Cristo, o Re-
dentor. Esse grande dia foi 6 de agosto de 1731, Festa da
Transfiguração do Senhor. E hoje as Redentoristinas usam
a cor escolhida para elas pelo próprio Redentor: "A túnica
será de cor encarnada".
Celeste cantou alegremente nesta ocasião. Sua canção
ecoou através dos anos, fazendo-se presente pelo amor
que o Espírito derramou sobre ela e por meio dela. As
palavras e a melodia foram inspiradas pelo próprio Pai
Eterno: "Prometo fazer florescer na nova Ordem, um
grande número de meus caríssimos eleitos que, unidos a
Meu Filho, serão nele meus filhos da luz e da bênção, para
produzirem muito fruto até o fim do mundo".
Esta é a canção de Celeste:
Esta manhã Tu fizeste/ res~oar a voz da bondade em minha
alma./ Meu espírito se alegra numa canção sem fim./ ó
Palavra eterna, origem da eternidade!/ Tu és a paz, a uni-
dade, a alegria, a solidão/ agindo em tudo, a bondade e a
alegria do Pai./ Ó generosa Alegria, quem poderá expres-
sar/ a plenitude do bem e do contentamento/ que deste ao
meu coração?/ Uma pessoa é infinitamente amada por Ti,
Pai Eterno:/ é o Teu Filho, Tu, meu Jesus./ Em Ti o Pai ama
a todos,/ ó minha generosa Alegria da manhã.

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A Subedoriu construiu suo casa,
levantou nela sete colunas ...
enfim, preparou suo mesa.
Enviou suas criadas para fazer o convite
dos pontos muis altos da cidade:
"Quem for criança, venha câ .....
(Provérbios 9. 1-4)

A Descida
Quando Celeste imaginou anjos subindo e descendo a
escada de Jacó para descrever seu conceito da oração
contemplativa, usou uma comparação que também se
aplica à própria vida. Tendo escalado as alturas da escada
de pedra até Scala, não é de se surpreender que fosse
chamada a descê-las.
Celeste, inspirada por Nosso Senhor, fez saber a Afonso
que ele deveria fundar uma Congregação de missionários
para pregar o Evangelho, especialmente entre os pobres e
desprezados que ninguéni procura, e falar-lhes do amor
redentor de Cristo por eles.
Isto foi em 1731. Humanamente falando, Afonso foi sub-
metido a esta prova, mas não faltou a graça de Deus. A nova
Congregação Missionária do Santíssimo Redentor surgiu
em 9 de novembro de 1732. Afonso e Celeste pagaram o
preço de sofrimento redentor, dando assim origem a uma
Ordem de religiosas contemplativas e uma Congregação
de missionários.
Como aconteceu na fundação da Ordem feminina, o
Bispo Falcóia estava envolvido na fundação da Congrega-
ção masculina. Freqüentemente hesitava em dar o seu
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apoio. Afonso, que havia feito votos de seguir as ordens de
Falcóia, estava ·preso a estas difíceis circunstâncias, e,
como seus primeiros seguidores não concordavam quanto
ao modo como a Regra deveria ser aplicada à sua vida
missionária, todos o deixaram, exceto um leal Irmão.
Entretanto, Celeste nunca vacilou na convicção de que
verdadeiramente suas inspirações vinham do Senhor,
mesmo apesar de ser considerada como uma "piedosa
intrusa·· e freqüentemente ser punida como tal. Final-
mente, o Bispo Falcóia, procurando manter a paz, solici-
tou-lhe que fizesse um voto de se deixar dirigrr somente por
ele. Celeste, que falou abertamente ao confessor do con-
vento, recebeu isto como uma violação à sua liberdade de
consciência. Seu irmão jesuíta, Padre Jorge Crostarosa,
advertiu-lhe energicamente que não fizesse tal voto. Em
conseqüência ela foi convidada a deixar Scala. Suas irmãs
preferiram ir também, enquanto seu pai foi encontrar-se
com elas novamente, providenciando transportes para sua
viagem a vários conventos diferentes para estadas tempo-
rárias.
Afonso, ocupado com sua pregação missionária, não
estava presente quando Celeste partiu. Anos mais tarde,
ele iria experimentar um aviltamento similar, sendo quase
enganado e levado a assinar um documento que, literal-
mente, colocava-o fora da Congregação de que era o fun-
dador e o lider. Assim Deus provou aqueles que lhe eram
mais caros.
Todas as intrigas envolvidas nestes tristes acontecimen-
tos poderiam ser analisadas, julgadas e condenadas, mas,
para os mlsticos de Deus, condenações nunca são oportu-
nas. O Pai Eterno, amado de Celeste, a estava conduzindo
por um caminho magnífico. Agora a estrada descia, mas
levava Celeste e Úrsula à casa que a "Sabedoria edificou"
em Foggia, Itália. Joana deixou suas irmãs e entrou para
um convento estável, onde permaneceu durante toda a sua
vida.
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Propaga-se
a Ordem de Celeste

Por onde Celeste passava, deixava uma impressão de


bondade e santidade. Isto era ainda mais marcante devido
à reputação de "mlstica iludida" que a precedia. Freqüen-
temente religiosas pediam-lhe que ficasse permanente-
mente nalgum convento onde havia procurado somente
uma estada temporária. Celeste estava certa de que seria
fundado outro mosteiro da nova Ordem, mas não sabia
onde. Nesse tempo, ela e Ürsula estiveram num convento
em Nocera, cidade onde Afonso iria fundar uma casa de
sua Congregação, e onde morreria. O bispo e as irmãs
deste convento pediram a Celeste para ser sua superiora, e
deixasse ali a marca de sua santidade, esforçando-se por
realizar nele uma indispensável renovação do fervor. Ela
permaneceu no convento de Nocera por um, período de
cinco anos. Enquanto estiveram lá, Celeste e Ursula conti-
nuaram a viver a Regra do Santíssimo Redentor, procu-
rando assim novas vestes vermelhas como as que tiveram
de deixar em Scala.
Foggia foi a cidade escolhida para a segunda casa das
Redentoristinas. Este novo começo, em março de 1738, era
a divina razão pela qual Celeste teve de descer. Em Foggia
ela experimentou uma nava paz; muitas jovens uniram-se à
Ordem resse tempo. Lá C~leste conheceu o piedoso Irmão
Redentorista que hoje é São Geraldo Majella. Ele tornou-se
seu amigo par toda a vida, trouxe a própria sobrinha para a
convento e instruiu sua comunidade na vida espiritual.
Afonso continuava a dar sua assistência espiritual par
carta, e também ajudava-a economicamente, incentivando
seus missionários a pedir por almas para a continuidade do
mosteiro de Celeste. Nas vizinhanças, ela tornou-se co-
nhecida e venerada como "a santa prioresa",
Mais tarde, o terceiro mosteiro das Redentoristinas foi
fundado em Santa Ágata dos Gados, a convite de Afonso,
que era então bispo daquela região.
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Seus Últimos Dias
A Regra revelada a Celeste como vontade e desígnio do
Pai Eterno, recebeu aprovação papal ainda durante sua
vida. Mas, completamente isolada de Scala, ela não soube
da aprovação da Regra; podemos imaginar sua entrada
triunfal no céu, quando teve este conhecimento na luz do
esplendor beatifico. Ela deixou esta terra na festa do
Triunfo da Cruz, em 14 de setembro de 1755. Este último
grande dia foi·o celestial triunfo da cruz em sua vida, como
foi a celebração na terra do triunfo da cruz na vida de Jesus.
Em toda a sua vida Celeste havia carregado a sua cruz e
lutado para ser como Jesus. Sua recordação viva, nada
mais natural que o seu triunfo e o Dele coincidissem.
Naquele mesmo dia. seu especial amigo São Geraldo,
que estava doente no mosteiro de Caposele, disse ao Irmão
Estêvão, seu enfermeiro: "Acabo de ver a alma de Madre
Celeste voando para o céu como uma pomba, para receber
a merecida recompensa por seu grande amor de Jesus e
Maria".
Em Foggia, Celeste havia predito: "Um dia este edifício
será destruldo e construirão outro mais belo". E, sobre as
Redentoristinas, Santo Afonso observou: "A Ordem é
como a relva nos campos que é cortada mas não morre''.

História Posterior
Depois da morte .de Celeste em 1755, Úrsula tornou-se
superiora do mosteiro de Foggia. Em 1766 o rei de Nápoles
fez saber ao seu governador que considerava o mosteiro de
Foggia "inaceitável", contudo a comunidade não foi for-
çada a dispersar-se. Quase um século mais tarde, em 1860,
o governo italiano (sob Garibaldi) proibiu a admissão de
noviças e ordenou o fechamento de todos os conventos.
Naquele tempo havia trinta e cinco Redentoristinas em
Foggia, mas elas não fecharam seu mosteiro. Na verdade,
elas receberam irmãs de outros conventos que estavam
sendo igualmente perseguidos.
O mosteiro foi tomado pelos comunistas em 1914, e as
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religiosas relegadas a um úmido porão, enquanto os novos
ocupantes mantinham encontros da União Vermelha Ope-
rária nas partes habitáveis. Mais tarde, os facistas expulsa-
ram os comunistas ocupando por sua vez o mosteiro. Em
1923 morreu a última irmã da comunidade original de Fog-
gia, e somente Celeste permaneceu em sua cripta subter-
rânea, seu corpo intacto. Mas vieram Redentoristinas de
Scala e de outras fundações em todo o mundo, reorganiza-
rem-se em torno de Celeste. E, durante a Segunda Guerra
Mundial, o mosteiro foi bombardeado e totalmente des-
truído. Quatorze religiosas que então residiam lá fugiram
para Tróia, onde o bispo lhes ofereceu refúgio; ali viveram
de 1943 até 1959. Felizmente o corpo de Celeste foi resga-
tado das ruínas por um padre da catedral de Foggia, e suas
rellquias foram temporariamente lá depositadas, em paz.
Mais tarde, o bispo de Foggia comprou uma propriedade
e construiu um novo mosteiro para as Redentoristinas exi-
ladas. Como Celeste havia predito, o edifício original foi
destruldo, mas um mais belo tomou o seu lugar; este mos-
teiro foi inaugurado em 1965. Presentes à inauguração
estavam vinte e duas religiosas que formariam a estável
comunidade das Redentoristinas de Foggia. Várias postu-
lantes de Scala (ainda não enclausuradas) trouxeram os
cumprimentos do primeiro mosteiro da Ordem. E, de Roma
veio o padre William Gaudreau, Superior dos padres e
irmãos Redentoristas em todo o mundo naquela época.
Mas, ,a mais importante-. Celeste retornou! Veio da cate-
dral de Foggia para ser envolvida no amor da comunidade
que ela criou, e para a qual viveu e morreu.

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CONCLUSÃO
PALAVRAS DE CELESTE A CADA REDENTORISTINA

Todos os anos, em algum país do mundo, uma jovem


torna-se membro da Ordem do Santissimo Redentor pro-
fessando os votos religiosos com estas palavras:

Senhor e Pai amoroso,


chamaste-me para reviver em mim
o mistério de Jesus, Teu Filho bem-amado,
e sob a inspiração do Espirito Santo,
derramar no mundo a luz do teu amor
resplandecente na face do Cristo,
o Salvador do mundo.

Para aperfeiçoar em mim a união


com o mistério da morte e Ressurreição de Cristo,
iniciada no Batismo, para glorificar teu nome
e para a redenção da humanidade,
quero confirmar minha primeira consagração
por um novo compromisso.

Por isso, na tua presença, diante da Igreja


e da família religiosa
da Ordem do Santíssimo Redentor
à qual Tu me chamaste,
faço, diante de minha Superiora,
os votos de castidade, pobreza e obediência.
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Eu confio em Tua misericórdia, ó meu Deus,
e no auxílio maternal de Maria,
Mãe de Cristo e nossa Mãe,
para permanecer fiel ao meu compromisso.

Celeste é chamada afetuosamente de "Nossa Mãe Vene­


rável" desde que a Sagrada Congregação dos Ritos, em
1901, conferiu-lhe o título de "Venerável". Ela deve olhar,
do mais alto degrau de sua escada mlstica, para suas mais
novas Redentoristinas, quando ouve: "Senhor e Pai amo­
roso, Tu me chamaste a reviver em mim o mistério de
Jesus ... "
Enquanto sorri em aprovação, podemos ouvi-la dizer a
cada uma: Sim, teu Deus é amoroso e é teu Pai. Revive em ti
o mistério de Jesus, e as obras que ele realizou durante
seus trinta e três anos na terra. Deixa-o fazer viver em ti
estas obras, estes mistérios de Sua vida: sua encarnação e
sua vida comum entre nós, como o Filho de Maria e José·
sua morte e ressurreição; seu dom do Espírito Santo; su�
ascensão como Redentor triunfal para o Pai.
Deixa que Jesus faça viver estas obras em til Tu és Sua
RECORDAÇÃO VIVA.

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Monjas Redentoristas
no Brasil

Mosteiro da Santa Face


e do Puríssimo e Doloroso Coração de Maria

Rua Armando Marques, S/Nº - Igreja São José


Bairro São José
São Fidélis/RJ - Brasil
CEP 28400-000

Tel : (22) 2751-5770

e-mail: mosteirodasantaface@gmail.com

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