Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Caros colegas,
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais A Escola de Veterinária da UFMG e o Conselho
Regional de Medicina Veterinária e Zootecnia de Minas
PROJETO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA Gerais têm a satisfação de encaminhar à comunidade
veterinária e zootécnica mineira mais um volume dos
Cadernos Técnicos destinado ao diagnóstico por ima-
gem, notadamente a ultrassonografia em cães e gatos.
É o CRMV-MG participando do processo de atualização Neste, volume, o formato mais convencional, permitiu
técnica dos profissionais e levando informações da a informação teórica textual necessária à atualização
melhor qualidade a todos os colegas. do leitor. A ultrassonografia é exame imprescindível ao
diagnóstico não invasivo. O texto, amparado por ima-
gens, será útil no apoio à atividade de rotina em clínica
veterinária e uma ferramenta importante no propósito
da educação continuada, bem como uma fonte de in-
formação na formação acadêmica.
O uso de ondas sonoras de alta freqüência em me-
dicina começou ao final da Segunda Guerra Mundial,
após sua aplicação comum na indústria (regularidades
de peças) e nas forças armadas (sonar), e teve início com
as pesquisas de Dr. Karl Theodore Dussik na Áustria
em 1942, investigando o cérebro humano. Professor
Ian Donald e colaboradores da Universidade de
Glasgow, e outros pesquisadores nos Estados Unidos,
Japão e Europa, prosseguiram no desenvolvimento do
uso prático da tecnologia. Os primeiros usos práticos
de ultrassonografia em medicina veterinária ocorreram
Universidade Federal
de Minas Gerais no diagnóstico gestacional em ovelhas (1966), embora
Escola de Veterinária anteriormente usada em inspeção em abatedouros nos
Fundação de Estudo e Pesquisa em Estados Unidos e Europa. Desde então, a ferramenta
Medicina Veterinária e Zootecnia tornou-se essencial, assim como outras técnicas, por
- FEPMVZ Editora
Conselho Regional de exemplo, o raio X e ressonância magnética, ao diagnós-
Medicina Veterinária do tico não invasivo em medicina veterinária1.
Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG Profa. Zélia Inês Portela Lobato
www.vet.ufmg.br/editora Diretora da Escola de Veterinária da UFMG - CRMV-MG 3259
Correspondência: Prof. Antonio de Pinho Marques Junior
FEPMVZ Editora Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
Caixa Postal 567 - CRMV-MG 0918 - Méd. Vet. Bruno Divino Rocha - Presidente do CRMV-MG
30161-970 - Belo Horizonte - MG - CRMV-MG 7002
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL Telefone: (31) 3409-2042
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
E-mail:
compromisso com você editora.vet.ufmg@gmail.com
Editor dos Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia - CRMV-MG 4809
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 1. Princípios físicos da formação da imagem ultrassonográfica 15
(Szatmári, Sótonyi e
Doppler colorido (CF
assim, precisar a locali- Artefatos de imagem em cação da ecogenicidade distal à estrutu-
Vörös, 2001; Nylandet
–colour flow) zação do volume de te- ultrassonografia ra de baixa atenuação, como líquidos.
al., 2005). Portanto, cido denominado volu- Imagem em espelho Ocorre a formação de área hiperecogê-
É uma técnica que
para que o valor de ve- me de amostra ou gate. nica posterior (Nepomuceno e Avante,
fornece o mapeamento Ocorre quando há uma estrutura re-
locidade do fluxo san- Os sinais Doppler obti- 2019) (Figura 4).
vascular em cores e fletora curva, como a interface pulmão-
guíneo seja fidedigno, dos são apresentados de
determina a presença -diafragma. Nesse caso, uma imagem- Espessura de corte
o ângulo formado entre forma gráfica, na qual é
ou a ausência do fluxo -espelho do fígado e da vesícula biliar Quando a imagem é obtida da vesí-
o feixe sonoro e o vaso
sanguíneo. possível mensurar a ve- é produzida posterior cula urinária, uma parte
sanguíneo avaliado,
locidade do fluxo san- ao diafragma (Figura 3)
isto é, o ângulo de inci- Imagem em espelho do feixe sonoro atinge o
guíneo (Carvalho et al.,2008). (Prestes et al., 2019). conteúdo anecogênico
dência, deve ser menor que 60° (Finn- Ocorre quando há
Bodner e Hudson, 1998; Nylandet al., Doppler de amplitude Reforço acústico e outros feixes atingem
posterior uma estrutura refletora
2005; Solano et al., 2010). curva, como a interface a parede e as estrutu-
Também denominado de power Caracterizado quan- ras adjacentes à bexiga,
Doppler colorido (CF –colour Doppler, essa modalidade é exibida de do ocorre uma intensifi-
pulmão-diafragma.
formando imagem se-
flow) modo semelhante à imagem Doppler
É uma técnica que fornece o mape- colorido (Szatmári, Sótonyi e Vörös,
amento vascular em cores e determina 2001). Seu efeito ocorre devido ao nú-
a presença ou a ausên- mero de células sanguí-
cia do fluxo sanguíneo. Doppler pulsado ou neas em movimento
Foi padronizado que espectral (PW- pulsed (Szatmári, Sótonyi e
o fluxo em direção ao wave) Vörös, 2001; Nyland et
transdutor é verme- A onda pulsada permite al., 2005). Possui menor
lho e o fluxo em dire- ao Doppler medir uma dependência do ângulo
ção contrária é azul. região específica dentro de incidência e maior
Os fluxos turbulentos de um campo de imagem, sensibilidade na detec-
apresentam-se com co- possibilitando, assim, ção de fluxos de baixa
lorações diversas, pro- precisar a localização amplitude e velocidade
duzindo um mosaico de do volume de tecido (Tapson et al., 1999;
cores (Nepomuceno et denominado volume de Nyland et al., 2005).
al.,2013; Nepomuceno amostra ou gate. Entretanto, os novos
e Avante, 2019).
aparelhos ultrassono-
Doppler pulsado ou espectral gráficos possuem tecnologia Doppler
(PW- pulsed wave) colorido mais sensível que as máqui-
A onda pulsada permite ao Doppler nas antigas, diminuindo a necessidade
medir uma região específica dentro de do power Doppler (Szatmári, Sótonyi e Figura 3. Imagem ultrassonográfica abdominal de um cão. Nota-se dupla imagem de fígado e vesícula
um campo de imagem, possibilitando, Vörös, 2001). biliar produzida pelo artefato de imagem em espelho.
16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 1. Princípios físicos da formação da imagem ultrassonográfica 17
Figura 5. Imagem ultras-
sonográfica abdominal de
um cão. Nota-se área eco-
gênica semelhante a sedi-
mento vesical produzida
pelo artefato de espessura
de corte (seta).
Figura 4.
Imagem ultras-
sonográfica
abdominal de
um cão. Nota-
se formação de Figura 6. Imagem ultras-
área hipereco- sonográfica abdominal
gênica poste- de um cão. Notam-se li-
rior à bexiga, nhas ecogênicas verticais
produzida pelo no lúmen gástrico pro-
artefato de re- duzidas pelo artefato de
forço acústico reverberação.
posterior.
20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 1. Princípios físicos da formação da imagem ultrassonográfica 21
2009; Gladwinet al., 2014) (Figura 1).
tre as costelas. Planos transversais e lon-
gitudinais dos órgãos do TGI devem ser O estômago é um órgão facil-
obtidos (Nylandet al.,2015; Penninck e mente reconhecido pela presença de
D’ Anjou, 2015;Riedesel, 2015). pregas murais e pelo peristaltismo.
O número médio de movimentos ob-
Anatomia ultrassonográfica
servados é de quatro a cinco contra-
Normalmente podem ser identi- ções por minuto. As pregas rugosas
ficadas cinco camadas presentes na parede
ultrassonográficas por A aparência podem ser identifica-
todo o TGI. A partir do ultrassonográfica das como ondulações
lúmen para a superfície do estômago felino é hipoecoicas quando o
serosa, pode-se identi- similar à do canino, estômago apresenta-se
ficar a interface mu- no entanto o corpo e vazio, mas elas não são
cosa em contato com o fundo do estômago detectáveis quando o
o lúmen, a mucosa hi- vazio e recolhido
2. Ultrassonografia do poecoica, a submucosa
hiperecoica, a camada
podem aparecer como
uma grande “roseta”
estômago torna-se dis-
tendido. O estômago
pode variar significa-
22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 2. Ultrassonografia do sistema gastrointestinal e do pâncreas 23
interior, seja gasoso, líquido ou ali- O intestino delgado normal apresenta em cães (Delaneyet al., 2003; Gladwinet nhos normalmente são móveis dentro do
mentar (Nylandet al., 2015). O gás em média 1 a 3 contrações por minuto al., 2014). estômago, com a mudança de posição do
presente no lúmen gástrico produz uma (Nylandet al., 2015). paciente. Independentemente do tipo de
grande impedância acústica, gerando O colón encontra-se frequentemen- Corpos estranhos corpo estranho, a presença de uma inter-
artefatos de reverberação e sombrea- te repleto por gases ou fezes, possui a face brilhante associada à forte sombre-
Corpos estranhos variam acentua-
mento que prejudicam a qualidade da parede mais fina que a do intestino del- amento acústico posterior é fortemente
damente quanto ao tamanho e à forma.
imagem 3. A aparência ultrassonográfi- gado nos cães e nos gatos (Penninck e sugestiva de material. As fezes do cólon
ca do estômago felino é similar à do D’Anjou, 2015). A maioria dos objetos
estão igualmente relacio-
canino, no entanto o corpo e o fundo A espessura, a disposição das cama- estranhos possuem mar- Independentemente do nadas ao sombreamento
do estômago vazio e recolhido podem das murais e a motilidade relativa de gens definidas e formam tipo de corpo estranho, acústico posterior e po-
aparecer como uma grande “roseta” no segmentos de diferentes partes do trato sombra acústica pos- a presença de uma dem simular presen-
abdômen cranial esquerdo(Riedesel, gastrointestinal podem ser avaliadas. A terior. Suas superfícies interface brilhante ça de corpo estranho
2015). O íleo nesta es- espessura do TGI pode agem como corpos refle- associada à forte intestinal (Penninck e
pécie pode ser facilmen- A espessura do TGI ser medida pela coloca- tores que criam uma ima- sombreamento acústico D’Anjou,2015; Caixeta
te identificado no lado pode ser medida pela ção de cursores na face gem de brilho ecogênico posterior é fortemente et al., 2018; Prestes et
direito do abdômen,por colocação de cursores na externa da serosa e na intenso. Os corpos estra- sugestiva de material. al., 2018) (Figura 2).
apresentar sua camada face externa da serosa borda interna da mu-
submucosa proeminen- e na borda interna da cosa (Riedesel, 2015).
te e brilhante (Prestes et mucosa. A variação normal da
al., 2018). espessura das camadas
O duodeno normal pode ser dife- do TGI, para cães e gatos, apresenta-se
renciado do jejuno por sua localização disposta na Tabela 1.
superficial direita e sua relação com o es- Sabe-se, entretanto, que existe uma
tômago cranialmente. Em equipamento correlação positiva com o aumento do
com alta resolução, é possível identifi- peso corpóreo e a espessura da parede
car a papila duodenal (Riedesel, 2015) dos segmentos do trato gastrointestinal
24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 2. Ultrassonografia do sistema gastrointestinal e do pâncreas 25
Quando o corpo rência de multicama- terior da intussuscepção ça neoplásica,sendo
Quando o corpo Na presença de úlceras
estranho é do tipo li- das da parede, também (Patsikaset al.,2003). necessário considerar o
estranho é do tipo linear, gástricas, os achados
near, como linhas, teci- denominada de anéis histórico, os sinais clí-
como linhas, tecidos, Gastrite incluem espessamento
dos, cordas ou barban- concêntricos ou sinal de nicos ,os exames labo-
cordas ou barbantes, Na gastrite pode-se
focal da parede com
tes, apresenta-se como alvo, representada pela ratoriais ou até mesmo
apresenta-se como uma identificar o espessa-
perda de definição das
uma interface brilhan- invaginação de um seg- biopsais para a formu-
interface brilhante camadas, presença de
te retilínea, associa- mento de alças intussus- mento difuso ou focal lação de um diagnósti-
retilínea, associada ao defeitos na parede ou nas
da ao sombreamento ceptas com o segmento da parede gástrica. Nas co(Nylandet al., 2015)
sombreamento acústico crateras, representados
acústico posterior, e de alças intussuscepien- doenças inflamatórias,o (Figura 4).
posterior, e o segmento por área com foco central
o segmento intestinal te. O intussuscepiente achado mais comum é o Na presença de úl-
intestinal acometido ecogênico contendo
acometido geralmente (segmento intestinal ex- espessamento com pre- ceras gástricas, os acha-
geralmente apresenta um microbolhas associadas à
apresenta um intenso terno) frequentemente servação das camadas, dos incluem espessa-
intenso e característico reverberação local.
e característico pregue- se encontra espessado, e as gastrites graves ou mento focal da parede
pregueamento intestinal
amento intestinal ou edematoso e hipoecoi- crônicas podem levar à com perda de definição
ou plicatura
plicatura (Hoffmann, co, ao passo que a es- perda da estratificação. No entanto, os das camadas, presença de defeitos na
2003) (Figura 3). pessura e a formação de achados podem ser semelhantes à doen- parede ou nas crateras, representados
camadas do intussuscepto podem pare-
Intussuscepção cer normais. Algumas vezes, alterações
A principal característica ultrasso- que acometem o TGI, como corpos
nográfica da intussuscepção é a apa- estranhos, podem ser observadas no in-
Figura 3. Imagem ultrassonográfica de abdômen de um cão. Observa-se segmento de intestino delgado com Figura 4. Imgem ultrassonográfica abdominal de uma cadela. Nota-se espessamento focal da parede gástrica
pregueamento intenso associado à interface hiperecogênica e retilínea em lúmen (seta) produzindo discreto associado à redução da ecogenicidade e à perda da estratificação mural, relacionado a processo inflamatório após
sombreamento acústico posterior,compatível com corpo estranho linear. ingestão acidental de carbamato.
26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 2. Ultrassonografia do sistema gastrointestinal e do pâncreas 27
por área com foco cen- enterite granulomatosa dade. Tumores ou massas massas largas, comple-
Nas colites,na maioria Não é possível diferenciar
tral ecogênico contendo (rara), linfangiectasia, produzem espessamento xas e ulceradas(Riedesel,
dos casos,a parede do o tipo de neoplasia
microbolhas associadas à alergia alimentar e in- focal, enquanto neoplasias 2015).
segmento intestinal ou até mesmo doença
reverberação local, além fecção crônica (Giardia, infiltrativas produzem es- Os adenocarcino-
apresenta-se espessada inflamatória de doença
de acúmulo de fluido no Histoplasma, Pythium, pessamento generalizado mas e os linfossarcomas
e a disposição das neoplásica na avaliação
estômago e diminuição Mycobacterium e (Nylandet al., 2015). são os tumores ma-
camadas da parede ultrassonográficaA
da motilidade (Nylandet Toxoplasma). Essas do- A incidência de tu- lignos de parede gas-
frequentemente fica biopsia de diferentes
al., 2015; Penninck e enças nem sempre in- mores gastrointestinais trointestinal mais pre-
menos distinta em segmentos intestinais é
D’Anjou,2015) A ultras- duzem a alterações que é baixa em caninos e fe- valentes nos cães e nos
virtude da parede fina. recomendada.
sonografia não é o melhor podem serdetectadas linos. Os principais tu- gatos,respectivamente.
método de avaliação de mediante o exame ul- mores benignos são os Nos cães, são observa-
doenças ulcerativas, porque grande parte trassonográfico (Gaschen, 2011). O es- pólipos e os leiomiomas, e os malignos dos carcinomas, linfoma, leiomioma e
do estômago não pode ser acessado. O exa- pessamento da parede constitui o achado são os adenocarcinomas, os linfossar- leiomiossarcoma e, nos felinos, o linfo-
me endoscópico é superior à ultrassono- mais comum nas doenças inflamatórias, comas e os leiomiossarcomas (Homco, mae os adenocarcinomas (Froes, 2001;
grafia em enfermidades como gastrites crô- porém não é específico. A gravidade do 1996;Penninck e D’Anjou, 2015). Gaschen, 2011). O linfoma alimentar
nicas e ulcerações, e é o método de eleição espessamento não é uma característica Os pólipos possuem variável eco- pode ser difuso nos cães e nos gatos, ou
para a avaliação da mucosa gástrica (Silva et confiável para distinguir doenças infla- genicidade e projetam-se para o lúmen. ocorrer como massa intestinal solitária,
al., 2015). matórias de neoplásicas. A corrugação Os leiomiomas aparecem como massas hipoecoica, com perda transmural da
Nos animais com comprometimento ou leve enrugamento do intestino del- hipoecoicas contínuas com a camada parede e da estratificação das camadas.
renal e que apresentam uremia, pode haver gado aparece como ondas regulares de muscular. Os carcinomas podem apare- Pode causar estenose parcial do lúmen
hipertrofia da parede gástrica e das pregas segmentos intestinais. Esse achado pode cer hipoecoicos ou moderadamente eco- intestinal, e os linfonodos regionais po-
rugosas com espessamento e perda de defi- ser relacionado com enterite regional, gênicos, com margens irregulares e com dem estar aumentados de tamanho e hi-
nição das camadas. A mineralização da vas- pancreatite, peritonite ou neoplasias presença de infiltração (Homco, 1996). poecogênicos (Riedesel, 2015).
culatura da mucosa pode ser identificada abdominais. Nas colites,na maioria dos Os leiomiossarcomas aparecem como Não é possível diferenciar o tipo
pela presença de linha hiperecoica no inte- casos,a parede do segmento intestinal
rior da camada. Esses achados são relacio- apresenta-se espessada e a disposição das
nados à gastrite urêmica(Homco, 1996). camadas da parede frequentemente fica
menos distinta em virtude da parede fina
Enterites (Penninck e D’Anjou, 2015).
Doenças inflama-
tórias do intestino del- Neoplasias
A principal evidência de
gado são comuns em A principal evidência
afecção neoplásica é o
cães e gatos. As causas de afecção neoplásica é o
espessamento da parede
de enterite incluem espessamento da parede
gástrica com perda da
enterite linfoplasmo- gástrica com perda da ar-
arquitetura de suas Figura 5. A. Imagem ultrassonográfica de abdômen de um cão, demonstrando uma estrutura nodular hipoeco-
citária (mais comum), quitetura de suas camadas
camadas e redução da gênica de contorno definido, medindo em torno de 1,17cm x 1,64cm, em região do estômago. B. Imagem en-
enterite eosinofílica, e redução da ecogenici- doscópica gástrica confirmando a neoformação de superfície lisa localizada em antro, compatível com processo
ecogenicidade. neoplásico.
28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 2. Ultrassonografia do sistema gastrointestinal e do pâncreas 29
de neoplasia ou até mesmo doença de diferentes segmentos intestinais é Pâncreas O pâncreas normal é de
lobo esquerdo caudal ao
inflamatória de doença neoplásica na recomendada (Penninck e D’Anjou, estômago.
difícil identificação por
avaliação ultrassonográficaA biopsia 2015) (Figura 5). Técnica de haver semelhança de sua O ducto pancreá-
varredura ecogenicidade com os tico geralmente pode-
ser identificado como
Referências 747-759, 2009. O exame pode ser tecidos moles adjacentes,
uma estrutura tubular
9. MEIRELLES, A; AGUILLERA, P. realizado em decúbi- como a gordura e o
1. CAIXETA , A. C. F. ; ALVES , E. G. L. ; COELHO anecoica localizada
,N. G. D. ; SOUZA ,A. C. F. ; TORRES R. C. S.
Ultrassonografia abdominal em cães e gatos: to dorsal ou lateral. O mesentério, por ele
um guia ilustrado de valores de referência- centralmente no lobo
; NEPOMUCENO, A. C. Foreignbody in the
E-book. Amazon, 1. ed. p.1-63, 2019 pâncreas normal é de possuir limites pouco
gastrointestinal tractofdogs: a retrospectivestudy. esquerdo. A veia pan-
ARS Veterinária, v. 34, n.1, p. 20-24, 2018 10. NYLAND, T.G.; NEELS, D.A.; MATTOON, difícil identificação por definidos e tamanho
creaticoduodenal pode
2. DELANEY, F; O’BRIEN, R.T.; WALLER, K. J.S. Gastrointestinal tract.. In: MATTOON, J.S; haver semelhança de reduzido, além de estar
ser visibilizada como
Ultrasound evaluation of small bowelthick- NYLAND, T.G. Small Animal Diagnostic
sua ecogenicidade com localizado próximo ao
ness compared toweight in normal dogs. Ultrasound. 3ed. Saint Louis: Elsevier um túbulo anecogênico
VeterinaryRadiology&Ultrasound, v. 44, n. 5, p. Saunders, 6.ed., chap.12, p. 468- 500, 2015 os tecidos moles adja- sistema gastrointestinal
localizadono interior-
577-580, 2003. 11. PATSIKAS, M.N.; JAKOVLJEVIC, centes, como a gordura sujeitoà interferência do
do lobo direito (Figura
3. FRÓES, T.R.; IWASAKI, M. Avaliação ultrasso- S.; MOUSTARDAS, M. et al. e o mesentério, por ele gás.
nográfica do trato gastrintestinal de felinos por- Ultrassonographicsignsof intestinal intussuscep- 6).O Doppler pode ser
tadores de enfermidades gastrintestinais. Clínica tionassociatedwithacuteenteritisorgastroenteri- possuir limites pouco útil para identificar a
Veterinária, v.6, n.35, p.25-34, 2001. tis in 19 youngs. Journalof American Animal definidos e tamanho reduzido, além veia pancreaticoduodenal e diferen-
Hospital Association. V. 39, n. 57, p.1-12, 2003.
4. GLADWIN, N.E.; PENNINCK, D.G.; de estar localizado próximo ao sistema ciá-la doducto pancreático(Nyland e
WEBSTER, C.R.L. Ultrasonographic evaluation- 12. PENNINCK, D. E D’ANJOU, M.A. gastrointestinal sujeito à interferência
ofthethicknessofthewalllayers in the intestinal trac- Gastrointestinal Tract. In: Penninck, D. e D’Anjou, Mattooon, 2015).Os valores de refe-
tofdogs. American Journalof VeterinaryResearch, M.A. Atlas ofsmall animal ultrasonography. do gás. A disponibilidade e o avanço rência para a espessura média do pân-
v. 75, n. 4, p. 349-353, 2014. John Wiley& Sons, 2ª ed., cap. 8, p. 259-308. 2015. tecnológico dos equipamentos de ul- creas em centímetros são: 0,81cm (0,39
5. GASCHEN, L. Ultrasonographyofsmall intesti- 13. PRESTES, R. S., N.G.D., COELHO, PINTO, trassonografia facilitaram a visualização a 1,6cm) para o lobo direito de cães e
nal inflammatoryandneoplasticdiseases in dog- P.C.O., SANTOS, A.B., GOMES, P.P.R.; SOUZA,
sandcats. VeterinaryClinics: Small Animal I.P.; PAULA, T.; SOUZA, A.C.F.; TORRES,
desse órgão, no entanto transdutores de 0,54cm (0,34 a 0,9cm) para o lobo es-
Practice, v. 41, n. 2, p. 329-344, 2011. R.C.S.; NEPOMUCENO A.C. Exames radiográ- alta resolução são necessários (Nyland e querdo de gatos (Meirelles e Aguillera,
6. HOFFMANN, K.L. Sonograpahicsignsof gas- ficos e ultrassonográficos em pequenos animais: Mattooon, 2015).
troduodenal linear foreignbody in 3 dogs. riscos de interpretação. ARS Veterinária, v. 35, 2019).
VeterinaryRadiologyandUltrasound, v. 44, n.3, p.127-137, 2019.
Anatomia Na pancreatite aguda, Pancreatite
n.466, p. 1-12, 2003. 14. RIEDESEL, E. A. Intestino delgado. In:
THRALL, D. E. Diagnóstico de radiologia ve-
ultrassonográfica o órgão aparece
7. HOMCO, L.D. Gastrointestinal tract. In: Essa afecção pode
GREEN, R.W. Small Animal Ultrasound, 1.ed. terinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 6. ed. , cap. 44, Em cães e gatos, difusamente hipoecoico
ter várias aparências
Philadelphia: Lippincott – Raven, 1996, p. 149 p. 789-811. 2015.
o pâncreas é dividido e espessado, com
-175. ultrassonográficas, de-
15. SILVA, L. C.; MACHADO, V. M.V. O uso da
em três partes: lobo contornos definidos e
8. LARSON, M.M.; BILLER, D.S. Ultrasoundofthe endoscopia digestiva alta em pequenos ani- pendendo da severida-
gastrointestinal tract. VeterinaryClinicsof North mais. Veterinária e Zootecnia, v. 22, n. 01, p. 15- direito, lobo esquerdo irregulares, a gordura
de, duração e extensão
America: Small Animal Practice, v. 39, n. 4, p. 25, 2015. e corpo. O pâncreas adjacente apresenta-
da inflamação do tecido
normal é homogêneo e se hiperecogênica
pancreático. Na pan-
isoecoico ou levemente (saponificação da
creatite aguda, o órgão
hipoecoico;o lobo direi- gordura), além de líquido
livre adjacente e duodeno aparece difusamente
to está localizado dorso- hipoecoico e espessado,
medial ao duodeno, e o corrugado.
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 2. Ultrassonografia do sistema gastrointestinal e do pâncreas 31
Edema Americana Animl Hospital Association, v.37,
p. 466–73, 2001
O edema pancreático pode estar 2. HECHT, S.; HENRY, G. Sonographic evalu-
associado a efusões abdominais, hipo- ation of the normal and abnormal pâncreas.
ClinicalTechnique in Small Animal Practice,
proteinemiaou pancreatite,e os acha- v.22, p.115-121, 2007.
dos ultrassonográficos caracterizam-se 3. MEIRELLES, A; AGUILLERA, P.
por fissuras anecogênicas no interior Ultrassonografia abdominal em cães e gatos:
um guia ilustrado de valores de referência-
do parênquima espessado associadas a E-book. Amazon, 1. ed. p.1-63, 2019
líquido livre adjacente (Hecht e Henry, 4. NYLAND, T.G.; MATTOON,
2005;Nyland e Mattoon, 2015). J.S. Pancreas.. In: MATTOON, J.S;
NYLAND, T.G. Small Animal Diagnostic
Ultrasound. 3ed. Saint Louis: Elsevier
Referências Saunders, 6.ed., chap.12, p. 438- 467, 2015
1. BENNETT PF, HAHN KA,
TOAL RL, et al. Ultrasonographic
and cytopathological diagnosis of exocrinepan-
creatic carcinoma in thedogand cat. Journal
3. Ultrassonografia do
mais redonda e estão localizados entre a 1ª externo e, no caso dos machos, também
e 4ª vértebras lombares, podendo o direito conduz o sêmen e fluidos do sistema re-
estar um pouco mais cranial que o esquer- produtivo (Seiler, 2013). A uretra do ma-
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 3. Ultrassonografia do sistema urinário 41
enquanto o processo crônico apresenta confundidos com nefrólitos; geral- Cistos renais Cistos renais podem ser
órgãos, como fígado e
rins menores e de contorno irregular – mente não têm significado clínico e pâncreas (Seiler, 2013;
Cistos renais podem congênitos ou adquiridos
sendo, portanto, difícil de diferenciar de sua ocorrência é rara em gatos (Seiler, D’Anjou e Penninck,
ser congênitos ou adqui- (resultantes de
outros processos crônicos. Geralmente 2013). 2015).
ridos (resultantes de in- inflamação ou obstrução
ocorrepielectasia, apesar de o diâmetro Abscessos renais po-
flamação ou obstrução de túbulos) e podem ser
da pelve poder permanecer normal na Mineralização múltiplos ou individuais. dem ser diferenciados
de túbulos) e podem
pielonefrite inicial ou moderada. Além de cistos pela presença
Pode ocorrer calcificação do pa- ser múltiplos ou indivi- ... São estruturas
do aumento de ecogenicidade cortical, rênquima renal associada a trauma, in- arredondadas repletas de de sedimentos ecogêni-
duais. Sua consequência
nos casos crônicos também ocorre dis- fecção crônica, neoplasia, hiperparati- fluido, por issoanecoicas cos e de bordas pouco
clínica depende da ex-
torção da pelve e de divertículos, va- reoidismo ou síndrome de Cushing. ecom reforço acústico definidas, com contor-
tensão de tecido renal
riação no contorno renal e presença de É um achado comum, especialmente posterior, com parede no irregular. Entretanto,
perdido. São estruturas
fluido perirrenal (D’Anjou e Penninck, em pacientes idosos. Focos difusos fina e bem definida cistos infectados ou as-
arredondadas repletas
2015). A pelve aparece assimétrica ou de calcificação na medula ou no cór- sociados à hemorragia
de fluido, por issoane-
distorcida devido à infecção (tanto tex muitas vezes são identificados também apresentam debris celulares,
coicas e com reforço acústico posterior,
na urografia excretora apenas ao ultrassom, exigindo aspiração por agulha fina para
com parede fina e bem definida (Seiler,
quanto na ultrassono- Os nefrólitos apresentam como pontos hipere- o diagnóstico adequado (D’Anjou e
2013; D’Anjou e Penninck, 2015).Os
grafia). Nela se podem superfície bastante coicos (Kealy et al., Penninck, 2015).
cistos normalmente se localizam na jun-
observar debris ecogê- ecogênica e geralmente 2003; Seiler, 2013). ção corticomedular, mas podem alterar
nicos, que também es- formam sombra Junção corticomedu-
Infecção por Dioctophyma
o contorno renal caso estejam na peri-
tão presentes no ureter acústica posterior na lar hiperecoica tem feria. Também são formados na doen-
renale
proximal, onde normal- ultrassonografia. sido descrita em cães ça renal crônica em cães e gatos, e sua A dioctofimose é diagnosticada por
mente há urina anecoica com nefropatia hiper- ocorrência pode aumentar com a senili- meio de exame clínico, urinálise (visibi-
(Kealy et al., 2003; D’AnjouPenninck, calcêmica, mas também pode ser um dade (Seiler, 2013; D’Anjoue Penninck, lizam-se ovos operculados ao microscó-
2015). achado acidental (especialmente em 2015). pio), ultrassonografia e achados aciden-
gatos). Nefrocalcinose tende a ocor- Gatos de pelo longo (especialmente tais em cirurgias ou necropsias (Cottar
Nefrólitos rer pelo divertículo pélvico, apare- da raça Persa) e cães jovens podem ser et al., 2012). O nematoide Dioctophyma
Os nefrólitos apresentam super- cendo como linhas estriadas hipere- acometidos pela doença renale chega ao córtex
fície bastante ecogênica e geralmente coicas formadoras de sombra acústica renal policística, consi- Gatos de pelo longo renal após penetrar pela
formam sombra acústica posterior na posterior(D’Anjou e Penninck, 2015). derada congênita, em (especialmente da raça sua cápsulae se alimen-
ultrassonografia. Formações muito pe- Mineralização distrófica do pa- que partes do parênqui- Persa) e cães jovens ta de tecidos, sangue,
quenas podem ser difíceis de individu- rênquima parece não ter significado ma são substituídas por podem ser acometidos secreções e muco. Tem
alizar e mensurar, mas, se a pelve está clínico quando ocorre isoladamente. múltiplos cistos, com pela doença renal coloração vermelha e
dilatada com fluido, será mais fácil a sua Algumas vezes não é possível dife- distorção dos contornos policística, considerada tamanho variado con-
identificação (Kealy et al., 2003; Seiler, renciar pontos de mineralização com renais. A doença pode congênita, em que forme o seu hospedeiro
2013; D’Anjou e Penninck, 2015). a presença de pequenosnefrólitos(- estar associada à nefrite partes do parênquima (em torno de 40 - 100
Calcificações no parênquima ou Seiler, 2013; D’Anjou e Penninck, intersticial e à presen- são substituídas por cm de comprimento
nos divertículos renais não devem ser 2015). ça de cistos em outros múltiplos cistos. por 5 - 12 mm) (Pereira
42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 3. Ultrassonografia do sistema urinário 43
O fluido extracapsular é Infarto renal
et al., 2008; Cottar et al., hipoecoico, de apro- migração pela cavidade
O parasito causa
2012). O parasito cau- ximadamente 8 mm abdominal, mas a dioc-
destruição de todo o visto no ultrassom como O infarto renal é
sa destruição de todo o de diâmetro. Antes da tofimose pode ocorrer
parênquima do órgão área triangular adjacente identificado na ultras-
parênquima do órgão destruição comple- em ambos. O rim não
que,por fim, torna-se ao rim, principalmente sonografia como região
que,por fim, torna-se ta do parênquima, o acometido geralmente
uma grande estrutura na borda dorsal. triangular no córtex,
uma grande estrutura rim apresenta redu- não apresenta altera-
cística, repleta de fluido e perpendicular à cápsu-
cística, repleta de fluido zida definição corti- ções ultrassonográficas. Os parasitos
parasitas. Estes aparecem
e parasitas. Estes apa- ao exame ultrassonográfico comedular e volume também podem ser encontrados livres la e com o ápice do triângulo voltado
recem ao exame ultras- como estruturas tubulares diminuído (Pereira na cavidade abdominal (Cottar et al., para a junção corticomedular. Infartos
sonográfico (Figura 1) et al., 2008; Cottar et 2012). crônicos são tipicamente hiperecoicos,
ao corte longitudinal e causam atrofia e consequente depres-
como estruturas tubula- como aro hiperecoico ao al., 2012). O rim mais
res ao corte longitudinal corte transversal, com acometido é o direito, Fluido perirrenal são focal no contorno do órgão. Sob o
e como aro hiperecoico devido à proximidade uso de Doppler, visibiliza-se redução do
fina camada externa O acúmulo de fluido perirrenal ou
fluxo sanguíneo nessa área(Seiler, 2013;
ao corte transversal, hiperecoica e centro com a parede duode- subcapsular pode ocorrer em razão de
com fina camada exter- nal de onde os para- D’Anjou e Penninck, 2015).
hipoecoico. obstrução de ureter, hemorragia, abs-
na hiperecoica e centro sitas se originam para cesso, pseudocisto perirrenal, extrava- Massas renais
samento de urina após ruptura, injúria
renal aguda ou neoplasia. O fluido ex- Podem ser hematomas, abscessos,
tracapsular é visto no ultrassom como neoplasias ou granulomas. Hematomas
área triangular adjacente ao rim, princi- causam interrupção da arquitetura re-
palmente na borda dorsal (Seiler, 2013). nal, com áreas hipo ou hiperecoicas no
Grande quantidade de líquido parênquima e acúmulo de fluido sub-
subcapsular em um ou em ambos os capsular (Seiler, 2013). Abcessos apre-
rins é típico de pseudocisto perinéfri- sentam cápsula espessa, pouco definida,
co (principalmente em envolvendo conteúdo
gatos), formado por Neoplasias renais fluido ecogênico, oca-
transudato associado a não são comuns. sionalmente com artefa-
rins normais ou por al- As lesões podem ser to de “cauda de cometa”
teração de parênquima focais ou múltiplas, devido à presença de gás
(como nefrite intersti- sólidas ou cavitárias; (Seiler, 2013; D’Anjou e
cial). São áreas grandes podem aparecer como Penninck, 2015).
e anecoicas, enquanto
áreas homogêneas ou Neoplasias renais
o rim parece relati-
heterogêneas, variando não são comuns. As le-
vamente hiperecoico
de hipoecoicas a sões podem ser focais
Figura 1. Imagem ultrassonográfica do abdômen de um cão. Em topografia de rim direito, observam-se
(Kealy et al., 2003;
hiperecoicas, com ou múltiplas, sólidas ou
múltiplos anéis em plano transversal com camada externa hiperecogênicae centro hipoecoico, com- margens indefinidas a cavitárias; podem apa-
patível com infecção por Dioctophyma renale. Imagem gentilmente cedida pelo professor Guilherme Seiler, 2013).
Cavalcanti/UFPel.
bem delimitadas recer como áreas homo-
44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 3. Ultrassonografia do sistema urinário 45
gêneas ou heterogêneas,
Ureter ectópico é uma
a incontinência uriná- parede ureteral(D’Anjou
Ureterólitos aparecem Cistite
variando de hipoecoi- ria(Seiler, 2013).Pode e Penninck, 2015). O
alteração congênita como estruturas A infecção da bexi-
cas a hiperecoicas, com ter tamanho usual, mas hidroureter pode ser
da união do ureter hiperecogênicas, ga é a doença que mais
margens indefinidas a comumente aparece di- visto na ultrassonografia
com a bexiga. Pode arredondadas a comumente acomete
bem delimitadas (Kealy latado (hidroureter) e como estrutura tubu-
ser unilateral ou discretamente irregulares, esse órgão. A cistite agu-
et al., 2003; D’Anjou e bilateral, sendo uma associado à hidronefro- lar anecoica, partindo que geram acentuada da normalmente não
Penninck, 2015). O as- causa de incontinência se, ou ainda à infecção caudalmente da pelve sombra acústica provoca anormalidades
pecto depende do tipo urinária em cães jovens, do trato urinário. A ins- renal,porém a dilatação posterior. ultrassonográficas, por-
celular, da vasculariza- principalmente fêmeas. peção de todo o ureter pode não ocorrer em
tanto imagem normal
ção, da necrose tecidu- dilatado até a sua inser- toda extensão, devendo ser ele diferen-
não exclui essa afecção(Seiler, 2013;
al, da fibrose, da mineralização ou da ção na bexiga é importante para o diag- ciado de vasos hilares com o auxílio do
D’Anjou e Penninck, 2015). A cistite
hemorragia. Devido à alta variação do nóstico da lesão (Seiler, 2013; D’Anjou Doppler colorido (D’Anjou e Penninck,
grave ou de longa duração frequente-
aspecto ultrassonográfico, muitas vezes e Penninck, 2015). 2015).Artefatos de reverberação ou som-
mente leva a espessamento focal ou di-
não é possível diferenciar neoplasias de breamento acústico gerado por conteúdo
fuso da parede vesical, que se apresenta
outras lesões focais, como granulomas, Hidroureter intestinal podem dificultar a visibilização
hipoecoica com mucosa de superfície
piogranulomas ou abscessos, sendo A dilatação do ureter pode ser con- da porção média dos ureteres(Kealy
irregular – o que geralmente é mais pro-
necessário punção aspirativa por agu- gênita ou adquirida, resultante de obs- et al., 2003; Seiler, 2013; D’Anjou e
nunciado na região cranioventral – mes-
lha fina ou biopsia para o diagnóstico trução, bem como por presença de uró- Penninck, 2015).
mo quando a bexiga está distendida.
(D’Anjou e Penninck, 2015). lito, compressão externa ou constrição Caso o reduzido volume de conteúdo
gerada por lesão em parede ureteral. Ureterólitos dificulte a avaliação do órgão, pode-se
Ureter ectópico Frequentemente está associada a ureter Pequenos urólitos originados dos fazer injeção de salina via sonda uretral
Ureter ectópico é uma alteração con- ectópico e infecção do trato urinário deli- rins podem migrar e obstruir os urete- para distendê-lo (Kealy et al., 2003;
gênita da união do ureter com a bexiga. mitados (Kealy et al., 2003; Seiler, 2013; res. Ureterólitos aparecem como estru- Seiler, 2013; D’Anjou e
Pode ser unilateral ou bilateral, sendo D’Anjou e Penninck, 2015). Pode ocor- turas hiperecogênicas, Penninck, 2015).
uma causa de incontinência urinária rer também associada à interrupção do arredondadas a discre- A cistite grave ou Na cistite enfise-
em cães jovens, principalmente fêmeas fluxo de urina para a bexiga pela presença tamente irregulares, de longa duração matosa, há presença de
(Kealy et al., 2003; Seiler, 2013). É mais de massa no trígono ou por outra malfor- que geram acentuada frequentemente leva bolhas de gás no lúmen
comum em cadelas, po- mação, como ureteroce- sombra acústica poste- a espessamento focal ena parede, com gera-
dendo sua abertura ser A dilatação do ureter le. Obstruções causadas rior. Diversas unidades ou difuso da parede ção de reverberação
na vagina, na uretra, no pode ser congênita ou por estruturas moles, podem estar presentes vesical, que se apresenta (Figura 2). Esse tipo de
colo da bexiga, no corpo adquirida, resultante de como hematomas ou pelo trajeto ureteral, o hipoecoica com mucosa infecção ocorre por or-
uterino ou no corno ute- obstrução, bem como pontos de constrição, que justifica inspeção de superfície irregular – o ganismos fermentado-
rino. Em cães machos, por presença de urólito, podem não ser identifi- do ureter desde o rim que geralmente é mais res de glicose, estando
abre-se principalmente compressão externa cadas na ultrassonogra- até a bexiga (Kealy et pronunciado na região geralmente associado a
na uretra, mas a urina ouconstriçãogerada fia devido à ecogenici- al., 2003; Seiler, 2013; cranioventral – mesmo diabetesmellitus, mas já
pode retornar para a be- porlesão em parede dade semelhante à da D’Anjou e Penninck, quando a bexiga está foram reportados casos
xiga, não sendo comum ureteral. gordura perirrenal e da 2015). distendida. em que o paciente não
46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 3. Ultrassonografia do sistema urinário 47
tamento da parede ab-
Sedimentos podem se Neoplasia
dominal ou movimento
agrupar em porção Neoplasias malig-
do animal para posição
dependente da bexiga nas são mais frequentes
em estação, o que é feito
e, se há processo que benignas. A ocor-
para melhor visualiza- de mineralização rência de neoplasia em
ção do conteúdo vesical. ou presença de bexiga é rara em gatos e
Entretanto, raramente microcálculos, formam é mais comum em cade-
ele pode estar aderido à linha hiperecoica com las que em cães machos.
parede – quando ocor- tênue sombra acústica Hematúria e estrangú-
re simultaneamente a posterior. ria são sinais clínicos
um processo inflamató-
frequentemente asso-
rio, por exemplo, pode ser confundido
ciados à neoplasia vesical(Kealy et al.,
com calcificação da parede da bexiga. A 2003; D’Anjou e Penninck, 2015). A
ocorrência de cistólitos é baixa em gatos neoplasia geralmente se apresenta como
(Kealy et al., 2003; Seiler, 2013; D’Anjou área de espessamento focal, ecotextura
e Penninck, 2015). heterogênea e superfície irregular, mas
Figura 2. Imagem ultrassonográfica de abdômen de um cão. Nota-se artefato de reverberação a partir Sedimentos podem se agrupar em o espessamento parietal difuso tam-
da parede ventral da bexiga (setas), indicando presença de gás no lúmen vesical, compatível com cistite
enfisematosa. porção dependente da bexiga e, se há bém pode estar associado à infiltração
processo de mineralização ou presen- neoplásica, apesar de menos comum
apresentava diabetes (Kealy et al., 2003; acústica, por isso tanto os radiopacos ça de microcálculos, formam linha hi- (Figura 3). As massas são mais relatadas
D’Anjou e Penninck, 2015). As bolhas quanto os radiolucentes podem ser iden- perecoica com tênue sombra acústica em topografia de colo (trígono) e pare-
de ar podem ainda ser inseridas na bexi- tificados (Kealy et al., 2003; Seiler, 2013; posterior. Quando feito o balotamento de dorsal da bexiga, porém podem aco-
ga durante cateterização ou cistocente- D’Anjou e Penninck, 2015). A superfície ou com a mudança de meter qualquer região.
se, moverem-se pelo lúmen e coalesce- é bastante hiperecoica e geralmente con- decúbito do paciente, A neoplasia geralmente Podem ocorrer lesões
rem na porção superior da bexiga,o que vexa. Apresentam-se como estruturashi- as pequenas estrutu- se apresenta como área secundárias, como hi-
não deve ser confundido com produção perecoicas no lúmen vesical, formadoras ras se movem ou ficam de espessamento focal, droureter e hidronefro-
de gás por microrganismos (D’Anjou e de sombra acústica posterior, sendo a em suspensão. Podem ecotextura heterogênea se unilateral ou bilateral,
Penninck, 2015). sombra dependente do tamanho e da representar achado e superfície irregular, resultantes do bloqueio
composição do urólito, acidental, bem como mas o espessamento da abertura ureteral,
Cistólitos A composição dos da frequência do trans- indicar infecção. A pre- parietal difuso também além da extensão da
Cistólitos são urólitos não influencia dutor e do direciona- sença de pus na urina pode estar associado à massa para uretra proxi-
geralmente fáceis de a sua ecogenicidade e mento ou não do feixe pode apresentar ima- infiltração neoplásica, mal (Kealy et al., 2003;
identificar pelo ultras- a formação de sombra sonoro perpendicular- gem semelhante, apesar apesar de menos comum. Seiler, 2013; D’Anjou e
som. A composição dos acústica, por isso tanto mente à superfície(- de menos ecogênica As massas são mais Penninck, 2015).
urólitos não influencia os radiopacos quanto os Seiler, 2013).O urólito e sem sombreamento relatadas em topografia Deve-se considerar
a sua ecogenicidade e radiolucentes podem ser normalmente se move (D’Anjou e Penninck, de colo (trígono) e parede que a imagem formada
a formação de sombra identificados. pelo lúmen após balo- 2015). dorsal da bexiga por pólipos, coágulos
48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 3. Ultrassonografia do sistema urinário 49
aderidos à parede ou
Em casos de suspeita de recer aumentado devido
Sangramento in-
Coágulos formados Ruptura de
hematomas intramurais à presença de coágulos traluminal pode ocorrer bexiga
neoplasia, a coleta de podem ser visualizados
pode ser confundida adjacentes, mas geral- em casos de cistite, trau-
urina por cistocentese é como estruturas A ruptura vesical
com a de massas, mas mente se visibiliza dife- ma ou neoplasia e está
contraindicada devido hiperecoicas, de formato ocorre principalmente
a dilatação de ureter rença marcante entre a associado à hematúria.
àpossibilidade de se variável e superfície por trauma ou resultan-
próximo à área afetada
espalhar células tumorais massa e a parede normal Coágulos formados po- irregular, que não te de processo obstruti-
e a linfadenopatia local (Seiler, 2013). Em casos dem ser visualizados
pelo acesso da agulha. formam sombreamento vo. Trauma iatrogênico
tendem a acompanhar de suspeita de neopla- como estruturas hipe- acústico posterior. decorrente de cistocen-
a neoplasia (Kealy et al., sia, a coleta de urina por cistocentese é recoicas, de formato
2003). contraindicada devido à possibilidade variável e superfície irregular, que não tese é uma causa pouco
Massas pequenas e intraluminais po- de se espalhar células tumorais pelo formam sombreamento acústico pos- frequente, havendo maior possibilidade
dem gerar imagem semelhante à de cis- acesso da agulha. Tal risco deve ser con- terior (Kealy et al., 2003; Seiler, 2013; quando há alterações parietais(D’An-
tite crônica. Não é possível a diferencia- siderado antes da realização da biopsia D’Anjou e Penninck, 2015). Podem jou e Penninck, 2015). O ponto exato
ção do tipo de tumor ou a identificação para citologia e diagnóstico definitivo estar em qualquer lugar do lúmen vesi- de ruptura é praticamente impossível
de lesão maligna apenas pela imagem sobre a massa, podendo ser feita coleta cal, estando móveis ou ligados à parede de ser identificado na ultrassonografia,
ultrassonográfica (D’Anjou e Penninck, de material via sonda uretral (D’Anjou e da bexiga. Os coágulos a menos que seja mui-
2015).O padrão de ecogenicidade pode Penninck, 2015). mais compactos podem O ponto exato de ruptura to extenso. A parede
variar em caso de fibrose, necrose ou mimetizar pólipos ou é praticamente impossível vesical geralmente está
mineralização. Seu tamanho pode apa- Hemorragia/coágulos neoplasias, sendo im- de ser identificado na espessada. O líquido
portante o controle ul- ultrassonografia, a menos livre na cavidade peri-
trassonográfico(Seiler, que seja muito extenso. toneal, cuja quantidade
2013). depende da extensão
da peritonite gerada, tem ecogenicida-
Pólipos de variável associada à celularidade da
urina. Pode-se fazer injeção de salina na
São formações fixadas à parede,
bexiga por meio de sonda uretral, o que
de extremidade livre móvel, superfí-
permitirá visualização
cie lisa e formato arre-
dondado. Apresentam Em cães machos, ocorrem
de jato de fluido mo-
ecogenicidade variável principalmente em vimentando-se para
ou heterogêneae de- regiões de estreitamento a cavidade abdomi-
vem ser diferenciados uretral, que são perto do nal(Kealy et al., 2003;
de neoplasia(Seiler, arco isquiático e na base D’Anjou e Penninck,
2013), sendo indicado do pênis. Os uretrólitos 2015).
controle ultrassonográ-
aparecem como pequenos
fico e biópsia(D’Anjou e
focos hiperecoicos no Uretrólitos
Penninck, 2015).
lúmen, formadores de Em cães machos,
Figura 3. Ultrassonografia abdominal de cão. Nota-se grande massa heterogênea localizada em região
caudal da bexiga, vascularizada ao Doppler colorido, relacionada a processo neoplásico.
sombra acústica intensa. ocorrem principal-
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 3. Ultrassonografia do sistema urinário 51
mente em regiões de estreitamento ure- 3. D’ANJOU, M.A., PENNINCK,D. Kidneys and
ureters. In: PENNINCK. D, D’ANJOU, M.A.,
tral, que são perto do arco isquiático e 2 ed. Atlas of Small Animal Ultrasonography.
na base do pênis. Os uretrólitos apare- Hoboken, NJ: Wiley; 2015:331-361.
cem como pequenos focos hiperecoicos
4. FULGÊNCIO, J.Q.; MIRANDA, F.G.; SANTOS,
no lúmen, formadores de sombra acús- C.J. et al.Crossed renal ectopia with fusion in
tica intensa (Kealy et al., 2003;D’Anjou a femalefeline: case report. Arq. Bras. Med. Vet.
e Penninck, 2015) O lúmen pode estar Zootec., v.71, n.3, p.833-836, 2019.
2. COTTAR, B. H. DITTRICH, G., FERREIRA, A. 9. SEILER, S. G. Chapter 38: The Kidneys and
A., et al. Achados ultrassonográficos de cães para- Ureters. In:THRALL, D. E. Textbook of veterina-
sitados por Dioctophymarenale – estudoretrospec- ry diagnostic radiology. 6. ed. Philadelphia: W. B.
tivo.Vet. E Zootec., n.19, v.1, 2012. Saunders, 2013. p. 705 – 725.
IG = idade gestacional; DSG = diâmetro do saco gestacional; DB = diâmetro biparietal; DC = diâmetro Figura 3. Imagem ultrassonográfica abdominal de uma cadela gestante. Observa-se o diâmetro do cor-
do corpo. po fetal medindo em torno de 2,47cm (cursores).
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 4. Ultrassonografia do sistema reprodutivo 61
podendo resultar em adelgaçamento Nos cães castrados, o tamanho da prós- Testículos ectópicos observando-se heterogeneidade do
da camada cortical renal. Deve-se pro- tata está diminuído e os lobos prostáti- parênquima, nódulos ecogênicos ou
curar por dilatação ureteral associada, Os testículos podem ficar retidos no hipoecogênicos, solitários ou múlti-
cos não são distinguíveis. Uma próstata
uma vez que ureter ectópico é a princi- tecido subcutâneo pré-escrotal, na área plos (Nyland e Mattoon, 2004).
normal pode ser intra-abdominal, se tra-
pal causa de hidronefrose e hidroureter inguinal ou no abdômen. Testículos
cionada cranialmente pela bexiga uriná-
congênitos (Silva et al., 2020). atrofiados se caracterizam pela dimi- Hiperplasia prostática
ria. Correlações do peso corporal com nuição de tamanho; a ecogenicidade benigna (HPB)
as dimensões prostáticas obtidas por
Anatomia apresenta-se dentro da normalidade ul-
ultrassonografia foram consideradas ra- Dentre as prostatopatias, a hi-
ultrassonográfica dos zoavelmente confiáveis (De Pellegriniet
trassonográfica ou, então, ligeiramente
perplasia prostática
testículos, dos epidídimos diminuída, associada à
al., 2007; Kealy 2012). As afecções da preservação das carac- benigna (HPB) é a al-
e da próstata ...as neoplasias
próstata atingem cães machos de meia- terísticas da arquitetura teração mais comum.
testiculares provenientes
Os testículos. possuem textura ho- -idade a idosos, aparentemente sem pre- interna. Entretanto, as Aprox imadamente
de localização
mogênea hipo ou isoecogênica em re- dileção racial (Cury et al., 2006). neoplasias testiculares 100% dos cães não
ectópica dos testículos
lação à próstata. Apresentam linha do castrados, durante o
provenientes de locali- se apresentam com
mediastino formada pela invaginação Orquite e epididimite avançar da idade, de-
zação ectópica dos tes- aumento testicular e
da túnica albugínea, que é caracteri- senvolvem evidências
É a inflamação do testículo e do tículos se apresentam formação de massa
zada pela visibilização de uma linha histológicas de hiper-
epidídimo. Devido à proximidade ana- com aumento testicular abdominal complexa.
hiperecogênica. plasia. A HPB é o au-
e formação de massa ab-
A cauda do epidídi- tômica e à continuidade mento do tamanho da próstata com
dominal complexa (De Pellegrini et al.,
mo é facilmente iden- O testículo inflamado do sistema de ductos, características benignas em cães com
2007).
tificada e geralmente apresenta-se os testículos e os epi- idade acima de seis anos (Bauzaite e
menos ecogênica que hipoecogênico, em geral dídimos geralmente Neoplasias testiculares Aniuliene, 2003). A próstata pode
o parênquima testi- em focos e com contorno estão envolvidos con- apresentar-se, no exame físico, sime-
cular hiperecogênico irregular. O epidídimo se comitantemente As neoplasias testiculares repre- tricamente aumentada, com consis-
nos
(Nyland e Mattoon, apresenta hipoecogênico processos inflamatórios sentam o segundo tipo de neoplasia tência firme, mas não endurecida, com
2004). ou hiperecogênico, com mais comum em cães. Podem ser clas- contorno regular, superfície lisa, mó-
(Domingos e Salomão,
A glândula prostá- ou sem mineralizações, sificados em: tumores vel e indolor. O exame
2011). O testículo in-
tica está presente em podendo a alteração ser flamado apresenta-se de células germinati- Dentre as prostatopatias, ultrassonográfico pode
todos os mamíferos, focal ou difusa, sendo vas, que incluem se- a hiperplasia prostática confirmar o aumento
hipoecogênico, em geral benigna (HPB) é a
sendo mais importan- essa última a mais minoma, carcinoma de tamanho simétri-
te no homem e no cão, comum. em focos e com contor- embrionário e terato- alteração mais comum. co e difuso e mostrar
devido à frequência de no irregular. O epidídi- ma; tumores sexuais Aproximadamente 100% as áreas hipoecoicas
moléstias que acometem essas espécies mo se apresenta hipoecogênico ou hipe- do cordão estromal, dos cães não castrados, a anecoicas, caso a hi-
(Leav e Gerald, 2006). A próstata em recogênico, com ou sem mineralizações, que incluem tumor das durante o avançar da perplasia cística estiver
cães é bilobada e seu tamanho é variado, podendo a alteração ser focal ou difusa, células de Sertoli e de idade, desenvolvem presente (Peter et al.,
medindo de 1,3 a 3cm nos três planos sendo essa última a mais comum (De Leydig. A aparência evidências histológicas de 1995).
(largura/comprimento e espessura). Pellegrini et al., 2007). sonográfica é variável, hiperplasia.
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 4. Ultrassonografia do sistema reprodutivo 63
Prostatite A prostatite é definida Neoplasia neoplasia, caracterizados por conteúdo Referências
prostática anecogênico e fino contorno hiperecoi-
A prostatite é defini- como uma infecção da 1. BAUZAITE N.; ANIULIENE A. Enlarged
co, de tamanhos variados, formadores prostate lesionsofpure-bredandmongreldogs.
da como uma infecção próstata, com ou sem a De maneira geral, a MedWet, v.59, p.686-690, 2003.
de artefato de reforço acústico posterior.
da próstata, com ou sem formação de abscessos. incidência de neoplasias 2. CARNÉ S. E-book: Útero pós-parto (2a edição
Os cistos paraprostáticos origi- com novos conteúdos). Ultrassom de útero e
a formação de abscessos. prostáticas no cão é bai- nam-se de remanescentes embriológi- ovários normais e fases do ciclo estral de cadelas.
A prostatite bacteriana acomete principal- xa, entretanto neoplasias como o adeno- cos de ductos müllerianos ou como ex- Link: https://www.solangecarne.vet.br/cate-
mente cães adultos e não castrados. Entre carcinoma, o carcinoma das células de gory/ebook/. Acessado em 12/10/2020.
tensões de um lóbulo da próstata. Eles
as bactérias mais frequentemente rela- transição, o carcinoma podem estar associados à próstata por
3. CURY C.A.; AZOUBEL, R.; BATIGALLA, F.
Bladderdrainageand glandular epithelialmor-
cionadas, encontra-se a das células escamosas uma haste fina ou adesões fibrosas, no phometryoftheprostate in benignprostatichyper-
Escherichia coli, entretan- No exame e o leiomiossarcoma plasiawithserevesymptoms. Int Braz J Urol, v.32,
entanto pode haver comunicação com
to pode ocorrer a infecção ultrassonográfico, podem ser observadas.
p.211-215, 2006.
a próstata. A aparência ultrassonográfi-
por Staphylococcus aureus, podem ser observadas Os fibrossarcomas, de
4. DE NARDI, A.B.; RODASKI, S.; SOUSA, R.S.
ca de estrutura anecogênica, devido ao Prevalência de neoplasias e modalidades de trata-
Klebsiellas pp., Proteus alterações, como forma rara, e o linfoma mento em cães, atendidos no hospital veterinário
conteúdo fluido, revela o sinal de “bexi-
mirabilis, Mycoplasma heterogenicidade, espaços também são descri- ga dupla”, no qual simula duas bexigas
da Universidade Federal do Paraná. Arch. Vet. Sci.
v.7, p.15-26, 2002.
canis, Pseudomonas intraparenquimatosos tos (Gadelha, 2003). urinárias presentes. O cisto parapros- 5. DE PELLEGRINI, L.C.; DE GODOY,C.L.D.;
aeruginosa, Enterobacter hiperecoicos e No exame ultrassono- SANTAROSA, M.; KROLIKOWSKI, G.
tátco não deverá ser confundido com
spp., Streptococcus preenchidos de fluido. gráfico, pode-se notar
Diagnóstico por imagem em Medicina Veterinária.
vesícula urinária (Nyland e Mattoon, Caderno didático. Ed. da Universidade Federal de
spp., Pasteurella spp., prostatomegalia, com 2004) (Figura 4). Santa Maria, 2007.
Haemophilus spp. ou Brucella canis. Os contorno irregular e padrão de ecogeni-
microrganismos rotineiramente envolvi- cidade mista. Ainda, po-
dos na prostatite são os dem-se evidenciar áreas
mesmos presentes em Os cistos paraprostáticos de calcificações no inte-
infecções do trato uriná- originam-se de rior da próstata, indica-
rio, o que sugere que a remanescentes das por ecos brilhantes
infecção ocorra de forma embriológicos de ductos que produzem sombra,
ascendente. No entanto, müllerianos ou como os quais, quando pre-
a contaminação por via extensões de um lóbulo sentes, são considerados
hematógena também é da próstata. sinais de malignidade
possível (Johnston et al., ... (Smith, 2008).
2000; Gadelha, 2003). A aparência
No exame ultrassonográ- ultrassonográfica de Cistos
fico, podem ser observa- estrutura anecogênica, prostáticos e
das alterações, como he- devido ao conteúdo
fluido, revela o sinal de paraprostáticos
terogenicidade, espaços
intraparenquimatosos hi- "bexiga dupla", no qual Os cistos prostáticos
perecoicos e preenchidos simula duas bexigas foram relacionados à hi- Figura 4. Imagem ultrassonográfica abdominal de um cão. Observa-se grande estrutura anecogêni-
ca localizada cranialmente à próstata bilobada, que não deverá ser confundida com bexiga urinária.
de fluido (Smith, 2008). urinárias presentes. perplasia, à prostatite e à
Imagem sugestiva de cisto prostático ou paraprostático.
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 4. Ultrassonografia do sistema reprodutivo 65
6. DOMINGOS, T. C. S.; SALOMÃO, M. C. Meios 15. KUAN, S.Y.; TICEHURST, K.; HOFFMAN,
de diagnóstico das principais afecções testiculares K.L.; CROSBY, D.; BARRS, V.R. Intestinal stran-
em cães: revisão de literatura. Revista Brasileira de gulation after elective ovariohysterectomy. Jounal
Reprodução Animal, v. 35 (4) p.393-399, 2011. of Feline Medicine andSurgery, v.12 (4), p.325- 329,
2010.
7. GADELHA, C.R.F. Avaliação da próstata canina
por palpação retal, ultrassonografia, citologia por 16. LEAV, I.; GERALD, V.L. Adenocarcinoma ofth-
punção aspirativa, cultivo bacteriano e dosagem ecanineprostate. Cancer, v.22, p.1329-1345, 2006.
de fosfatase ácida prostática no soro e no plasma
seminal. 2003. 60f. Dissertação (Mestrado em 17. NYLAND T. G., MATTOON J.S
Cirurgia Veterinária) - Faculdade de Ciências Ovariesanduterus. In: Small Animal
Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual DiagnosticUltrasound..Phi ladelphia:WB
Paulista, Jaboticabal, SP, 2003. Saunders, (2ed p.231-249) 2002.
8. GIL, E.M.U.; GARCIA, D.A.A.; GIANNICO, 18. NYLAND, T. G., e MATTOON, J. S. Diagnóstico
A.T.; FROES, T.R. Canine fetal heart rate: Do ac- ecográfico enpequeñosanimales (No. V673. 3
celerationsordecelerationspredicttheparturition- NYLd). 2004.
day in bitches? Theriogenology, V. 82, p. 933–941, 19. OLIVEIRA, K.S. Complexo hiperplasia endome-
2014. trial cística. Acta ScientiaeVeterinariae, v. 35 (2) p.
9. GIL EMU, GARCIA DAA, FROES TR. In ute- s270-s272, 2007.
rodevelopment of the fetal intestine: Sonographic 20. PETER, A.T.; STEINER, J.M.; ADMAS, L.G.
evaluation and correlation with gestational age Diagnosisand medical management ofprostate-
and fetal maturity in dogs. Theriogenology, v.84, disease in the dog.SeminVetMedSurg (SmallAnim),
n.5, p.681-686, 2015b. v.10, p.35-42, 1995.
10. GIL EMU, GARCIA DAA, GIANNICO AT, 21. SILVA, C.I.; GOMES, P.P.; COUTINHO,
FROES TR. EARLY resultsoncanine fetal A.R.; SOUZA, I.P.; PAULA, T.; PRESTES,
kidneydevelopment: Ultrasonographic evalu- R.S.; TORRES, R.C.; NEPOMUCENO, A.C.
ationandvalue in predictionof delivery time. Ultrassonografia gestacional no diagnóstico de
Theriogenology, v.107, p.180-187, 2018. anormalidades fetais em pequenos animais. Rev.
11. HAMMOND, G. Sistema Reprodutor Feminino. Bras. Reprod. Anim., v.44 (2), p.50-56, 2020
In: O’BRIEN, R.; BARR, F. Manual de diagnós- 22. SMITH, J. Canineprostaticdisease: A review
tico por imagem abdominal de cães e gatos. São ofanatomy, pathology, diagnosisandtreatment.
Paulo: Roca. 2012. cap. 18, p. 273 - 289. Theriogenology, v.71, p.375-383, 2008.
12. HECHT, S.; PENNINCK, D. G.; 23. TRAJANO, S. C.; ALEIXO, G. A. S.; SIQUEIRA
MAHONY O. M.; KING, R.; RAND, W. M. FILHO, R. S., JÚNIOR, M. A. P., ANDRADE,
Relationshipof PancreaticDuctDilationto L. S. S., SOUZA, A. C. F., ... & MELO, V. S.
Age andClinicalFindings in Cats. Complicações tardias do uso de abraçadeiras
Veterinaryradiologyandultrasound. v. 47, p. 287 – de náilon para ligadura de pedículos ovarianos
294, 2006. em cadela: relato de caso. Medicina Veterinária
13. JARRETTA, G. B. Ultrassonografia do Aparelho (UFRPE), 11(1), p.41-46, 2017.
Reprodutor Feminino. Em CARVALHO, C. F. 24. WEISS, R. R. et al. Avaliação histopatológica,
Ultrassonografia em Pequenos Animais. São hormonal e bacteriológica da piometra na cade-
Paulo: Roca. 2004. cap. 14, p.181 – 206. la. ArchivesofVeterinary Science, v. 9(2), 2004.
14. JOHNSTON, S.D.; KAMOLPATANA, K.;
ROOT-KUSTRITZ, M.V.; JOHNSTON G.R.
Prostaticdisorders in the dog. AnimReprodSci,
v.60, p.405-415, 2000.
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 5. Ultrassonografia do sistema hepatobiliar e das glândulas adrenais 69
Neoplasias [As]... neoplasias
baixa ecogenicidade e
hepáticas sem formação de som-
hepáticas ... podem
bra acústica. A lama é,
A apresentação das apresentar aspecto
então, móvel, e às vezes
neoplasias hepáticas é difuso, focal, multifocal,
pode dar a impressão de
variável. Essas lesões hipoecogênico,
ser um agregado, mime-
podem apresentar as- hiperecogênico, misto
tizando uma massa de
pecto difuso, focal, mul- ou até mesmo cístico,
tecido mole. É impor-
tifocal, hipoecogênico, com diferentes padrões
tante considerar que o
hiperecogênico, misto vasculares detectados
movimento da substân-
ou até mesmo cístico, pelo Doppler colorido.
cia ecogênica deve res-
com diferentes padrões ponder à gravidade, e
vasculares detectados pelo Doppler uma boa forma de atestar tal mobilidade
colorido (Carvalho, 2014; Penninck e é reposicionando o paciente. A mobili-
D’Anjou, 2015) (Figura 1). dade da lama biliar é uma das caracte-
rísticas que contribuem para diferenciá-
Espessamento da parede -la de mucocele (Penninck e D’Anjou, Figura 1. Imagem ultrassonográfica de abdômen de um cão. Observa-se lobo hepático apresentando
da vesícula biliar 2015; Fuerst et al., 2019). heterogenicidade difusa, de aspecto cavitário, relacionado a processo neoplásico.
70 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 5. Ultrassonografia do sistema hepatobiliar e das glândulas adrenais 71
tal intra-hepático e/ vias biliares intra-he-
A colecistite é definida
ou extra-hepático. A páticas. Nos quadros
pelo espessamento
maioria dos cães que agudos, pode ser adicio-
generalizado e irregular
apresentam colelitíase nada aos achados supra-
da parede da VB, com ou
são assintomáticos e os citados a hipoecogeni-
sem a presença de lama
colélitos são identifi- cidade hepática (Kelly,
biliar.
cados incidentalmente 2012; Carvalho, 2014).
durante procedimentos
de diagnóstico por imagem ou exame Obstrução das vias
postmortem. Na avaliação ultrassono- biliares
gráfica da VB, os achados encontrados
Na obstrução das vias biliares, o
nos casos de colelitíase podem estar
trajeto dos ductos torna-se dilatado e
associados à visibilização de estrutu-
tortuoso,com presença de conteúdo
ras de superfície lisa e hiperecogênica
anecoico em seu interior. A VB pode
formadoras ou não de sombreamento
ou não se apresentar dilatada. O modo
acústico posterior. O sombreamento
Doppler colorido contribui para a dife-
acústico posterior pode se tornar mais
renciação de vasos sanguíneos e ductos
evidente à medida que o tamanho e o
biliares dilatados (Souza et al., 2012).
teor de cálcio dos colélitos aumentam.
Utilizar transdutores de maiores frequ- Glândulas adrenais Figura 3. Imagem ultrassonográfica de abdômen de um cão. Observa-se parênquima hepático apresen-
ências pode auxiliar na visibilização do tando ecogenicidade aumentada e vesícula biliar apresentando estrutura hiperecogênica formadora de
As glândulas adrenais localizam- sombreamento acústico posterior, medindo em torno de 0,82cm (cursores), relacionado à colelitíase.
sombreamento acústico (Van Geffen et
al., 2008)(Figura 3). -se no espaço retroperitoneal e no
te podem apresentar adrenais mais para melhor penetração. O paciente ge-
cão possuem formato bilobado. A
finas e alongadas, sendo estas uma ralmente está posicionado em decúbito
Colecistite adrenal esquerda é
variante normal. A ultrassonografia é dorsal, mas pode ser necessário posicio-
e colangio- mais facilmente iden-
A adrenal esquerda tificada: localiza-se
usada para avaliar glândulas normais, namento intercostal da probe para acesso
hepatite é mais facilmente craniomedial ao rim
identificar alterações em suas dimen- à glândula direita no cão (Frank, 2013;
A colecistite é defi- identificada ... esquerdo, lateralmen-
sões e visibilizar massas (D’Anjou e D’Anjou e Penninck, 2015).
nida pelo espessamento craniomedial ao rim te à aorta, entre a arté-
Penninck, 2015).
generalizado e irregular esquerdo, lateralmente ria mesentérica cranial
Anatomia
da parede da VB, com à aorta, entre a artéria e as artérias renais. A
Técnica de varredura ultrassonográfica
ou sem a presença de mesentérica cranial e glândula direita está O ideal é o uso de Em cães as glân-
lama biliar. A colangio- as artérias renais. A entre a veia cava caudal transdutor de frequência Nos gatos, elas se dulas têm parênquima
-hepatite é determina- glândula direita está e a borda craniomedial igual ou maior a 7,5 MHz, apresentam com formato hipoecoico e homo-
da pela associação dos entre a veia cava caudal e do rim direito. (Frank, entretanto, para cães gran- oval ou alongadas, gêneo, podendo apre-
achados da colecistite a borda craniomedial do 2013). Algumas raças des, pode ser necessário homogeneamente sentar região central
ao espessamento das rim direito. caninas de grande por- frequência mais baixa hipoecoicas. medular hiperecoica
72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 5. Ultrassonografia do sistema hepatobiliar e das glândulas adrenais 73
ou um fino halo hiperecoico paralelo à gastrointestinal pode dificultar a sua entre 10 - 30 kg, e acima de 30 kg, Nódulos e massas em
cápsula, correspondente à junção cor- visibilização(Frank, 2013; D’Anjou e obtendo os valores de limite supe- adrenais
ticomedular (Figura 4). Nos gatos, elas Penninck, 2015). rior de 0,54 cm, 0,68 cm e 0,80 cm,
se apresentam com formato oval ou Nódulos de adrenal são geral-
respectivamente (Soulsby et al.,
alongadas, homogeneamente hipoe- Adrenomegalia
mente unilaterais e podem causar
2015). Outros autores separaram
aumento da glândula, alteração de
coicas (Kealy et al., 2003; Frank, 2013; Alguns estudos buscaram asso- os indivíduos em dois grupos, sen- seu formato e ecotextura. Tumores
D’Anjou e Penninck, 2015). ciar medidas ultrassonográficas das do que cães de até 12 kg devem ter na cortical podem ou não ser funcio-
As glândulas nor- adrenais ao porte e diâmetro do polo caudal de até 0,62 nais, exigindo associação com outros
malmente são hipo- O aumento pode ao peso de pacientes cm, enquanto aqueles com peso su- exames complementares. Autores in-
ecoicas em relação à ocorrer em apenas caninos, sendo a es- perior a 12kg devem ter a medida de dicam que a glândula contralateral
gordura adjacente, e uma ou em ambas as pessura do polo cau- até 0,72 cm (Bento et al., 2016). à afetada pode sofrer hipotrofia ou
hipo ou isoecoicas ao glândulas. Aumento dal no plano sagital a O aumento pode ocorrer em ape- hipertrofia, oumanter suas dimen-
córtex renal, e algumas simétrico bilateral, medida de referência nas uma ou em ambas as glândulas. sões normais(Frank, 2013; D’Anjou e
vezes pode ser vista a com formato bastante para normalidade do Aumento simétrico Penninck, 2015).
cápsula hiperecoica. arredondado, é sugestivo órgão. Um estudo de Lesões sólidas
bilateral, com forma- A presença de focos
A presença de gás, in- de hiperadrenocorticismo 2014 avaliou cães em acima de 2 cm de diâ-
to bastante arredon- hiperecoicos com
gesta e fezes no trato dependente de pituitária. grupos de até 10 kg, metro são mais comu-
dado, é sugestivo de sombreamento acústico mente associadas a ne-
hiperadrenocorticis- posterior indica oplasias (malignas ou
mo dependente de pi- mineralização do benignas) que ao pro-
tuitária (Frank, 2013; tecido glandular, sendo cesso de hiperplasia.
D’Anjou e Penninck, observado em tumores Por outro lado, massas
2015). Este também benignos e malignos, bem com mais de 4 cm ge-
pode levar ao aumen- como em hiperplasia. ralmente indicam neo-
to unilateral ou assi- plasia maligna. Deve-
métrico das glândulas, o que deve ser se considerar a invasão de tecidos e
considerado como diferencial para vasos adjacentes como o principal si-
neoplasia de adrenal. Entretanto, nal de malignidade de uma neoforma-
ção em adrenal (D’Anjou e Penninck,
aparência ultrassonográfica normal
2015) (Figura 5).
ou alterada não descarta nem de-
A presença de focos hiperecoicos
termina a ocorrência de alteração
com sombreamento acústico poste-
funcional da glândula, devendo ser rior indica mineralização do tecido
associada a sinais clínicos e a outros glandular, sendo observado em tumo-
exames para ser dado o diagnósti- res benignos e malignos, bem como
Figura 4. Imagem ultrassonográfica de abdômen de um cão. Observa-se adrenal direita hipoecogênica
apresentando fino halo hiperecoico (seta), correspondente à junção corticomedular. Polo caudal me-
co (Kealy et al., 2003; Frank, 2013; em hiperplasia (D’Anjou e Penninck,
dindo em torno de 0,53cm de espessura (cursores), compatível com normalidade. D’Anjou e Penninck, 2015). 2015).
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 5. Ultrassonografia do sistema hepatobiliar e das glândulas adrenais 75
Tumores em adrenais são raros em 12: Adrenal Glands, In: PENNINCK, D & 7. HAN, Connie M.; HURD, Cheryl D. de Viçosa. Revista de Educação Continuada
D’ANJOU, M.Atlas ofsmall animal ultrasonog- Diagnóstico por imagem para prática vete- em Medicina Veterinária e Zootecnia do
gatos, e sua manifestação clínica é bas- raphy. 2 ed. John Wiley& Sons, 2015. P. 387. rinária. 3. ed. – São Paulo: Roca, 2007. CRMV-SP, v. 9, n. 2, p. 37-37, 11.2011
tante variável (D’Anjou e Penninck,
4. FEENEY, Daniel et al. Statistical relevance of 8. HITTMAIR, K.; VIELGRADER, H.; 15. SECCHI, Priscila. Prevalência, fatores de
2015). LOUPAL, G. Ultrasonographic evaluation of
ultrasonographic criteria in the assessment of- risco e marcadores bioquímicos em cães
gallbladderwallthickness in cats. Veterinaryr com lama biliar diagnosticada por ultras-
diffuseliverdisease in dogsandcats. American
Referências journal of veterinary research, v.69, n.2,
adiology&ultrasound, v.42, n. 2, p. 149-155,
2001;
sonografia. 50 f. Dissertação (Mestrado) –
p.212-221, 2008; Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
1. BENTO, L. P., CENTER, S. A., RANDOLPH, Faculdade de Veterinária, Porto Alegre, 2011.
J. F. et al. Associationsbetween sex, body- 9. KEALY, J. Kevin et al. Radiografia e
weight, age, andultrasonographicallydeter- 5. FRANK, M. P. Chapter 36: The Peritoneal Ultrassonografia do Cão & do Gato. 5. ed.
Space. In: THRALL, D. E. Textbook of veteri- Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 16. SOULSBY, S. N. et al. Ultrasonographic evalu-
mined adrenal glandthickness in dogswith
nary diagnostic radiology.6 ed. Philadelphia: ationof adrenal glandsizecomparedtobody-
non-adrenal glandillness. Jornal of American
W. B. Saunders, 2013. p. 659 – 678. 10. K EALY, J.K.; McALLISTER, H; GRAHAM, weight in normal dogs. Veterinary Radiology
Veterinary Medical Association, v.248, n.6,
J.P. Chapter 6: Soft Tissues: Adrenal and Ultrasound, v. 56, n. 3, p. 317–326, 2015.
p.652-660, 2016.
6. FUERST, J.A.; HOSTNIK, E.T. CT attenu- Glands. In: KEALY, J.K.; McALLISTER, H;
ationvaluesand mineral distribution can be GRAHAM, J.P. Diagnostic radiology and ultra- 17. SOUZA, Luis Ronan Marquezodrigues, F.
2. CARVALHO, Cibele Figueira.
Ultrassonografia em Pequenos Animais. 2. used to differentiate dogs with and without sonography of the dog and cat.3 ed. Philadelphia: B., Tostes, L. V., Barreto, G. B., & Cardoso,
ed. – São Paulo: Roca, 2014. gall bladder mucoceles. Veterinary radio- W.B. Saunders, 2003. p. 423. M. S. Avaliação por imagem das lesões císti-
logy & ultrasound, v.60, n.6, p.689-695, cas congênitas das vias biliares. Radiologia
11. NELSON, Richard W.; COUTO, C. Brasileira, v. 45, n. 2, p. 113-117, 2012.
3. D’ANJOU, M.&PENNINCK, D. Chapter nov-dez/2019;
Guillermo. Medicina interna de pequenos
animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 18. THRALL, Donald E. Diagnóstico de ra-
diologia veterinária. 6. ed. Rio de Janeiro:
12. P ENNINCK, Dominique; d’ ANJOU, Elsevier, 2014.
Marc-André. Atlas de Ultrassonografia de
Pequenos Animais. 1. ed. Rio de Janeiro: 19. VAN GEFFEN, C.; SAVARY-
Guanabara Koogan, 2015.
BATAILLE, K.; CHIERS, K. et al.
Bilirubincholelithiasisandhaemosiderosis in
13. S ANTOS, IVAN F.C. Ultrassonografia ab-
ananaemicpyruvatekinase-deficient Somali
dominal de cães e gatos hígidos, adultos e
cat. Journal of small animal practice, v.49,
filhotes. 2009. 157p. Dissertação (Mestrado).
Faculdade de Medicina Veterinária e n.9, p.479–482, 2008;
Zootecnia – Universidade Estadual Paulista,
Botucatu, SP, 2009; 20. ZEMAN, R.K.; TAYLOR, K.J.;
ROSENFIELD, A.T. et al. Acute experimen-
14. S ARTO C. G.; HAGE M. F. Exame ultrassono- tal biliaryobstruction in thedog: sonograph-
gráfico em cães com alterações hepatobiliares. icfindingsandclinicalimplications.American
Estudo retrospectivo de 43 casos atendidos no Journal of Roentgenology, v.136, n.5, p. 965-
Hospital Veterinário da Universidade Federal 967, 1981.
Figura 5. Imagem ultrassonográfica de abdômen de um cão. Nota-se adrenal esquerda com aumento
de volume e perda do formato usual (setas), parênquima heterogêneo pela presença de múltiplos nó-
dulos hiperecogênicos, relacionado a processo neoplásico.
76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 5. Ultrassonografia do sistema hepatobiliar e das glândulas adrenais 77
abordagem abdominal caudalmente ao longo
Nos caninos, as
ventral, utilizada para do abdômen lateral es-
dimensões e a localização
avaliar toda a extensão querdo ou se mover
do baço têm uma
esplênica (Hetche Mai, medialmente por meio
grande variação dentro
2015). A abordagem da linha média ventral.
da normalidade. Pode
intercostal esquerda Algumas vezes, o órgão
apresentar borda
pode ser necessária para normal apresenta uma
cranial em posição
visibilização da cabeça borda dobrada sobre si.
subcostal, estendendo-se
esplênica (Kealy et al., Nos gatos, o baço tem
caudalmente ao longo
2012), utilizada em cães uma localização menos
do abdômen lateral
de grande porte, cães de variável, estendendo-se
esquerdo ou se mover
tórax profundo, quando sem dobras por região
medialmente por meio da
o órgão está deslocado adjacente à parte da pa-
linha média ventral.
6. Ultrassonografia pelo útero gravídico no
terço final da gestação
ou por outras causas
A avaliação do volume
rede abdominal esquer-
da (Larson, 2018).
As bordas esplêni-
esplênica, vascular e de
do baço é subjetiva,
(Larson, 2018). especialmente no cão. cas são bem definidas,
O baço canino é ade- afiladas, e o órgão é en-
linfonodos
quado para essa avaliação por ser superfi- volvido por uma cápsula fina e hipere-
cial, não havendo interferência de estru- coica. Seu parênquima possuiecotextu-
turas ou presença de gás. No entanto,na ra homogênea com padrão fino e denso,
Ultrassonografia necessária, e a citologia por aspiração por espécie felina, pode ser de difícil visibili- bem como maior ecogenicidade quan-
agulha fina é um método efetivo e segu- zação devido ao tamanho relativamente do comparado ao parênquima hepático
esplênica menor do órgão (Larson, 2018). e ao córtex renal (Hetche Mai, 2015;
ro para obtenção de amostras do tecido.
A ultrassonografia é um método de Além disso, é possível que haja processo Anatomia Larson, 2018). Veias esplênicas apare-
diagnóstico por imagem de grande uti- cem como estruturas anecoicas pelo pa-
patológico em um baço com aspecto e ultrassonográfica rênquima esplênico(Kealy et al., 2012).
lidade para avaliar o parênquima esplê- dimensões preservados (Ballegeeret al.,
O baço é localizado usualmente
no quadrante cranial esquerdo do ab- Alterações no volume
nico, detectar lesões difusas ou focais, 2007).
sólidas ou cavitárias, dômen, próximo à curvatura maior esplênico
sejam elas associadas a A ultrassonografia é um Técnica de do estômago,adjacente ao polo cra- A avaliação do volume do baço é sub-
sinais clínicos ou não método de diagnóstico varredura nial do rim esquerdo e à parede abdo- jetiva, especialmente no cão (Tannouz,
(Tannouz,2014). Deve- por imagem de grande Por sua localiza- minal (Keally et al., 2012; Tannouz, 2014). A redução das dimensões do órgão
se lembrar que o aspecto utilidade para avaliar o ção variável em cães, as 2014;Larson, 2018). Nos caninos, as pode ocorrer em pacientes com hemorra-
da lesão não é o suficien- parênquima esplênico, abordagens para a var- dimensões e a localização do baço têm gia profusa e hipotensão, com consequen-
te para indicar sua malig- detectar lesões difusas redura podem ser dife- uma grande variação dentro da norma- te anemia aguda e contração esplênica,
nidade, portanto carac- ou focais, sólidas ou rentes em cada paciente. lidade. Pode apresentar borda crania- caquexia ou malformações congênitas
terização celular se faz cavitárias. Comumente se usa a lem posição subcostal, estendendo-se
78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 79
(Morais et al., 2010). Hipoplasia ou atrofia (Kealy et al., 2012; Hetche Mai, 2015; ultrassonográfico, não sendo possível do baço pode variar de acordo com a
do baço é comumente observada em ani- Larson, 2018). É importante lembrar identificar o tipo ou a malignidade da severidade da torção e o tempo de pro-
mais idosos (Kealy et al., 2012). O órgão que o aumento do órgão é também um lesão apenas pelos achados de imagem gressão da congestão, da hemorragia ou
apresenta diminuição da sua altura/espes- achado comum em cães sedados por ace- (Hetche Mai, 2015; Larson, 2018) dos infartos (Hetche Mai, 2015). Caso
sura, e também é possível observar cápsula promazina, tiopental, ketamina e diaze- (Figura 1). a vascularização seja comprometida em
rugosa (Tannouz, 2014). pam (Hetche Mai, 2015; A torção esplênica é rara em cães. diversos pontos, decorrente de vários
Quando aumentado A hematopoiese Larson, 2018), o que Ocasiona aumento de volume e redução trombos, isso resulta em infartos mul-
de tamanho, geralmente extramedular, a deve ser considerado na difusa da ecogenicidade do órgão, geral- tifocais que promovem um parênquima
se nota abaulamento de hiperplasia linfoide avaliação da imagem. mente com aspecto rendilhado (Kealy heterogêneo, com presença de áreas hi-
suas bordas. O parênqui- benigna e as neoplasias Em cães hígidos et al., 2012). Nota-se ainda dilatação poecoicas mal definidas (Hetche Mai,
ma pode se estender além infiltrativas comumente da raça Pastor Alemão, de veias esplênicas com redução a in- 2015).
da linha alba até região resultam em parênquima comumente se obser- terrupção de fluxo vascular nos hilos es- O aumento difuso da ecogenicidade
direita ou caudalmente, aumentado e va aumento esplênico plênicos, verificado nos modos Doppler é pouco comum, sendo mais observa-
chegando a ocupar com- heterogêneo, com aspecto fisiológico, associado à (Hetche Mai, 2015). O infarto esplêni- do em gatos (Tannouz, 2014).Está ge-
pletamente o abdômen mosqueado, irregular moderada dilatação de co difuso pode ter aparência semelhan- ralmente associado a lesões vasculares
ventral,ou dobrar-se so- e com pequenos focos vasos sanguíneos, o que te (Larson, 2018). Entretanto, o aspecto crônicas, peritonite, infarto ou doença
bre si (Tannouz, 2014). hipoecoicos difusamente deve ser considerado ao
Aumento na região de distribuídos. se diagnosticar espleno-
corpo ou cauda do baço megalia patológica nesses
é a causa mais comum de efeito de mas- pacientes (Morais et al., 2010).
sa em região mesogástrica (Kealy et al.,
2012). Nos gatos, estudo realizado em pa- Alterações difusas do
cientes hígidos obteve o valor de normali- parênquima esplênico
dade médio de 8,00 mm ± 1,6 mm, que é
As lesões difusas geralmente são
próximo a dados publicados previamente
acompanhadas de esplenomegalia e
por outros autores, sendo esta a medida
alterações de ecogenicidade (Hetche
de altura (ou espessura) obtida em região
Mai2015;Larson, 2018).
de maior diâmetro do eixo curto do órgão
A hematopoiese extramedular, a
(Jhonsonet al., 2017).
hiperplasia linfoide benigna e as ne-
Esplenomegalia difusa com preser-
oplasias infiltrativas comumente re-
vação de ecotextura homogênea e parên-
sultam em parênquima aumentado e
quima de ecogenicidade normal a redu-
heterogêneo, com aspecto mosqueado
zida pode ocorrer associada a doenças
(Tannouz, 2014; Larson, 2018), irregu-
infecciosas ou parasitárias, ser causada por
lar e com pequenos focos hipoecoicos
hematopoiese extramedular, torção esplê-
difusamente distribuídos (Hetche Mai,
nica, infarto, congestão por trombose em Figura 1. Imagem ultrassonográfica de abdômen de um cão. Nota-se baço com aumento de volume,
2015). Neoplasias infiltrativas podem
veia esplênica ou infiltração neoplásica contorno irregular, ecogenicidade reduzida e parênquima heterogêneo, relacionado a processo neo-
assumir grande variedade de aspecto plásico difuso.
80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 81
infiltrativa não neoplási- mumente associadas guíneos (Ballegeer et e maior o número de le-
Existem diversas Não é possível a
ca, como hematopoiese ao abaulamento focal al., 2007; Hetche Mai, sões com aspecto ultras-
possibilidades diferenciação entre
extramedular (Larson, de bordas esplênicas e 2015; Larson, 2018). sonográfico semelhan-
diagnósticas para lesões lesões benignas (como
2018). podem estar associa- Nódulos hiperecoicos te, maior a suspeita de
focais e multifocais infarto, hematoma
das a processos benig- homogêneos também malignidade (Ballegeer
Alterações esplênicas, incluindo ou hiperplasias) e
nos, como hiperplasia têm sido relatados em et al., 2007; Mahoney,
neoplasias benignas malignas com base
focais e e malignas, doença
nodular e hematomas, casos de hiperplasia lin-
apenas no exame
2011), porém deve-se
multifocais ou neoplasias malignas
metastática, hiperplasia
foide, fibrose e, menos
ultrassonográfico, bem
ressaltar que processos
(primárias ou metastáti- frequentemente, em infecciosos podem ge-
Nódulos isoecoicos, nodular, hematopoiese como a diferenciação de
cas) (Kealy et al., 2012; lesões malignas, como rar tanto nódulos úni-
hipoecoicos ou hipere- extramedular, lesões malignas entre si.
Hetche Mai, 2015). matocitomas em feli- cos quanto múltiplos
coicos, de dimensões hematoma, infarto,
A hiperplasia nodu- nos e histiocitose ma- (Ballegeer et al., 2007). A
variáveis são achados processo infeccioso ou
lar ou hiperplasia lin- ligna sistêmica em cães (Ballegeeret al., presença simultânea de hemoabdômen
comuns e inespecíficos. abscesso.
foide é a lesão mais fre- 2007). é um forte indicador de tumor malig-
O contorno esplênico quente em cães idosos e Ecotextura heterogênea com múlti- no, principalmente hemangiossarcoma
pode se tornar irregular pela presença pode produzir nódulos ou massas (Kealy plos pequenos nódulos hipoecoicos, as- (Mahoney, 2011). Nódulos ou massas
de nódulos adjacentes às suas bordas et al., 2012). Ohemangiossarcoma ten- sumindo aspecto semelhante a “queijo com halo periférico hipoecoico e centro
(Hetche Mai, 2015; Larson, 2018). de a ser multifocal como um grande nó- suíço” ou “favos de mel”, hiperecoico a isoecoico,
Existem diversas possibilidades diag- dulo ou massa em um dos polos esplê- é sugestivo de linfoma, assumindo aspecto de
nósticas para lesões focais e multifocais A presença simultânea
nicos (Tannouz, 2014). mas também ocorre em “alvo”, são comumente
esplênicas, incluindo de hemoabdômen é um
neoplasias benignas e Nódulos fortemente Nódulos fortemen- outras condições malig-
forte indicador de tumor associados a processo
te hiperecoicos, com
malignas, doença me- hiperecoicos, com ou sem ou sem tênue sombra
nas e benignas – como
maligno, principalmente maligno, porém também
tênue sombra acústica esplenite e hiperpla- ocorrem em lesões be-
tastática, hiperplasia hemangiossarcoma.
posterior e de dimensões acústica posterior e de sia linfoide (Tannouz, nignas, como hiperplasia
nodular, hematopoiese dimensões variáveis, 2014; Hetche Mai, 2015). nodular (Hetche Mai, 2015).
extramedular, hemato- variáveis, representam
mielolipomas e são representam mieloli- Não é possível a diferenciação entre As áreas de infarto esplênico geral-
ma, infarto, processo pomas e são achados lesões benignas (como infarto, hema- mente aparecem hipoecoicas a anecoi-
infeccioso ou absces- achados incidentais
comuns, principalmente incidentais comuns, toma ou hiperplasias) e malignas com cas, podendo apresentar aspecto “ren-
so (Tannouz, 2014; principalmente em cães base apenas no exame ultrassonográfi- dado”, com bordas bem distintas em
Hetche Mai, 2015; em cães e gatos senis.
Essas lesões benignas e gatos senis. Essas le- co, bem como a diferenciação de lesões relação ao parênquima normal adjacen-
Larson, 2018). malignas entre si (Kealy et al., 2012). te. Ao modo Doppler, nota-se redução
As massas esplê- podem estar localizadas sões benignas podem
em borda mesentérica estar localizadas em Ao contrário do que se pode pensar, a ou interrupção do fluxo sanguíneo. Ao
nicas também podem borda mesentérica do presença de atividade sanguínea ao uso contrário das massas esplênicas, as áreas
apresentar ecogenicida- do baço, bem como em
região mais central do baço, bem como em de Doppler colorido ou pulsado não de infarto geralmente não causam dis-
de, ecotextura, formato é capaz de indicar o caráter da lesão torção no contorno do órgão (Hetche
e tamanho variáveis, e parênquima, geralmente região mais central do
próximo a vasos parênquima, geralmen- (Hetche Mai, 2015). Alguns autores Mai, 2015).
podem ainda ter áreas te próximo a vasos san- sugerem que quanto mais generalizada Hematomas tem aparência variá-
cavitárias. Estão co- sanguíneos.
82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 83
vel, o que depende do seu estágio de bios de coagulação (Kealy et al., 2012). Ultrassonografia vascular caudal que são visibilizados incluem:
desenvolvimento. Inicialmente, a lesão Abscessos esplênicos são incomuns. tronco das artérias celíacas (artérias
é hiperecoica, mas, com o tempo, re- Aparecem de variadas formas, desde A característica não invasiva e a gástricas esquerda, hepática e esplêni-
gride de volume e se torna hipoecoico. simples área hipoecoicamal delimitada acessibilidade da ultrassonografia em ca), mesentérica cranial, renais e ilíacas
Conforme o coágulo se retrai, é possível até massa cavitária complexa. A presen- modo bidimensional (modo B) e ao bilaterais (circunflexa profunda, co-
identificar líquido anecoico adjacente ça de gás no seu interior é indicada por estudo Doppler fazem dessa técnica a mum, externa e interna) (Matton et al.,
(Kealy et al., 2012). Áreas hemorrágicas áreas hiperecoicas formadoras do arte- primeira escolha entre os exames de 2005; D’Anjou e Carmel, 2015).
esplênicas podem estar associadas à pre- fato de reverberação (Larson, 2018). imagem para avaliação do sistema vas- Os grandes vasos e seus principais
sença de neoplasias, traumas ou distúr- cular em animais (Carvalho, 2014). ramos passíveis de avaliação pela ul-
Entretanto, torna-se necessário co- trassonografia foram esquematizados
nhecer as características anatômicas, na Figura 2:
Referências Janeiro: Elsevier, 2012.
morfológicas e hemodinâmicas nor-
5. MAHONEY, P. Spleen. In: BARR, F., GASCHEN, mais dos principais vasos sanguíneos Técnica de varredura
1. TANNOUZ, V. G. S. Capítulo 8: Baço. In:
CARVALHO, C.F. (ed).Ultrassonografia em L. (Eds.),BSAVA Manual of Canine and Feline
Ultrasonography. Quedgeley, Gloucester: British para adequada utilização da ultrasso-
Pequenos Animais. 2. ed. – São Paulo: Roca, p. A tricotomia deve estender-se desde
103-120, 2014. Small Animal VeterinaryAssociation. 1rst ed. p. nografia vascular (USV) (Spaulding,
2. BALLEGEER, E.A., FORREST, L.J.,
100-109, 2011. 1997; Szatmári et al., 2001; Carvalho, a região caudal da pelve até o 8° espaço
DICKINSON, R.M. et al. Correlation of ultra- 6. MORAIS, H.L., ARGYLE, D.J., O’BRIEN, R.T. Chamma e Cerri, 2008). intercostal, ampliando principalmente
sonographic appearance
of lesions and cytologic
and histologic diagnoses in splenic aspirates from
DiseasesoftheSpleen. In: ETTINGER, S. J. &
FELDMAN,E.C. (Eds.), Textbook of Veterinary
A artéria aorta abdominal e a veia do lado direito (Carvalho, 2014). São
dogs and cats:
32 cases (2002–2005). JAVMA, v. Internal Medicine. St, Louis, Missouri, Saunders cava caudal (VCC) são os principais recomendados transdutores de maior
230, n. 5, p. 690-696, 2007. Elsevier. 7a ed. p. 810-819,2010. vasos abdominais (Spaulding, 1997; frequência devido à qualidade da ima-
3. JHONSON, L. K., PORTER, E. G., BERRY, C.R. 7. HETCH, S., MAI, W. Chapter 7: Spleen. In: Carvalho, 2014). A VCC cruza o ab- gem, porém a escolha do transdutor vai
Analysis offelinesplenicradiographic measure-
ment sand their correlation to ultrasonographic
PENNINCK, D; d’ ANJOU, M.A. (Ed). Atlas dômen caudocranialmente à direita da variar de acordo com o vaso avaliado e
of Small Animal Ultrassonography. Hoboken, NJ,
measurements. Jornal ofFeline Medicine andSur-
Wiley.
2 ed. p. 253-272, 2015. linha mediana. No sentido craniocau- sua localização, com o porte e escore
gery, v.19, n.10, p. 985-991, 2017. corporal do paciente.
8. LARSON, M.M. Chapter 40: LiverandSpleen. In:
dal, é possível visibilizar,
4. KEALY, J.K.; McALLISTER, H; GRAHAM, J.P.
Capítulo 2: O Abdome – O Baço. In: KEALY, J.K.; THRALL, D. E. (Ed).Textbook of veterinary diag- por meio do exame ul- Todos os decúbitos A técnica é dependen-
McALLISTER, H; GRAHAM, J.P. Radiografia e nostic radiology.St. Louis, Missouri, Elsevier.7. ed. trassonográfico, as veias podem ser utilizados, te da experiência e da
Ultrassonografia do Cão & do Gato. 5. ed. Rio de p. 792 – 822, 2018.
hepáticas, frenicoabdo- porém os decúbitos preferência do ultras-
minais, renais e ilíacas laterais são mais sonografista e do vaso
bilaterais (circunflexa indicados pela maior sanguíneo avaliado.
profunda, comum, ex- proximidade do Todos os decúbitos
terna e interna). transdutor com os vasos, podem ser utilizados,
A aorta é localizada pela menor interferência porém os decúbitos
dorsal à VCC no abdô- dos gases intestinais, laterais são mais indi-
men cranial e caudal- pelo maior conforto do cados pela maior pro-
mente percorre seu tra- paciente e pela maior ximidade do transdu-
jeto do lado esquerdo da facilidade na realização tor com os vasos, pela
linha mediana. Seus ra- de planos de imagem menor interferência
mos no sentido cranio- adicionais. dos gases intestinais,
84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 85
e Hudson, 1989; Spaulding, 1997; imagem em modo B, uma caixa cor-
Szatmári et al., 2001). respondente ao volume amostral atri-
Em vasos com maior diâmetro ou bui cores específicas às velocidades
com baixa velocidade de fluxo sanguí- médias dos fluxos sanguíneos (Finn-
neo, podem ser evidenciados ecos in- Bodner e Hudson, 1998). A direção
traluminais em movimento (Sigel et al., do fluxo em relação ao transdutor
1983). confere aspectos diferentes à exibição
das cores. Convencionalmente, fluxos
Anatomia em direção ao transdutor aparecem
ultrassonográfica em tons de vermelho a amarelo; tons
vascular ao modo amarelo-claros representam os fluxos
Doppler de maior velocidade. Quando contrário
ao transdutor, o fluxo é representado em
Doppler colorido tons entre o azul e o verde; aos fluxos de
maior velocidade são atribuídos tons
O Doppler colorido é uma forma mais claros. Dessa forma, é possível uma
diferente de apresentar as velocidades avaliação qualitativa da velocidade do
Figura 2. Desenho esquemático da anatomia topográfica dos grandes vasos abdominais e de seus ra- de fluxo detectadas pelo Doppler. Na fluxo de acordo com a intensidade das
mos principais em pequenos animais. Fonte: Médica Veterinária Izabela Patrício de Souza.
86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 87
cores (Finn-Bodner e Hudson, 1998; maneira, o transdutor recebe e processa (Nyland et al., 2005). As de média é calculada
... O espectro fornece, no
Nyland et al., 2005).(Figura 4) apenas ecos que retornem nesse inter- artérias produzem sons
eixo vertical, a variação automaticamente na
O Doppler colorido é mais utilizado valo de tempo. Esse momento é cha- agudos, parecidos com maioria dos aparelhos
da frequência ou da
para avaliação de triagem, para definir mado de portal ou gate e determina a sibilos, enquanto o som (Nyland et al., 2005).
velocidade e, no eixo
presença ou ausência do fluxo sanguí- diferença entre as frequências dos feixes das veias é semelhante É possível determinar
horizontal, o tempo ...
neo, localizar pequenos fluxos e áreas de sonoros transmitidos e recebidos. Para a um sopro forte e con- o pico de velocidade
fluxo anormal (Finn-Bodner e Hudson, tanto, é necessário determinar a pro- tínuo. Quanto maior a sistólica, a velocidade
1998; Carvalho, 2009). Os sistemas fundidade e a região do fluxo avaliado velocidade do fluxo sanguíneo, mais diastólica final ou a velocidade em qual-
que apresentam essa ferramenta, tam- (volume amostral), que são definidas audível é o som emitido (Szatmári et al., quer ponto do ciclo cardíaco a partir
bém são capazes de realizar a avaliação pelo operador utilizando os cursores 2001). do espectro Doppler (Finn-Bodner e
espectral, permitindo maiores informa- no monitor do modo B (Finn-Bodner O espectro fornece, no eixo verti- Hudson, 1998).
ções sobre a área avaliada (Nyland et al., e Hudson, 1998; Nyland et al., 2005). cal, a variação da frequência ou da ve- O espectro Doppler permite a dis-
2005). Portanto, pulsar os feixes sonoros per- locidade e, no eixo horizontal, o tempo tinção entre vaso arterial e venoso. As
mite não somente identificar a origem (Nyland et al., 2005). Convencionou-se artérias apresentam fluxo com aspecto
Doppler espectral do eco de retorno, mas também realizar que fluxos em direção trifásico (Figura 4A),
O Doppler espectral ou pulsado medições de velocidade do vaso sele- ao transdutor são exi- enquanto o fluxo veno-
bidos acima da linha de
O espectro Doppler so é monofásico (Figura
envia os feixes sonoros em pulsos de in- cionado (Szatmári et al., 2001; Solano permite a distinção entre
tervalos regulares e recebe os ecos que base e fluxos opostos 4B) (Spaulding, 1997).
et al., 2010). vaso arterial e venoso.
ao transdutor, abaixo, Outra característica
são, então, processados (Finn-Bodner e A diferença entre as frequências é As artérias apresentam
sendo a linha de base avaliada no espectro é a
Hudson, 1998). Assumindo que a ve- demonstrada no monitor sob a forma fluxo com aspecto
a ausência de fluxo tonalidade; quanto mais
locidade do som no tecido é constante do espectro ou traçado e é audível pelos trifásico (Figura 4A),
(Szatmári et al., 2001; intenso o branco, maior
(1,540 m/s), o tempo de retorno do autofalantes do aparelho; ambos forne- enquanto o fluxo venoso
Nyland et al., 2005) o número de células
feixe sonoro pode ser calculado. Dessa cem informações do fluxo sanguíneo é monofásico.
(Figura 5).A velocida- vermelhas no fluxo san-
A B
A B
Figura 4. Imagens ultrassonográficas em modo Doppler colorido dos grandes vasos abdominais de um
cão. A. Artéria aorta apresentando fluxo contrário ao transdutor (azul) e veia cava caudal (VCC) em dire- Figura 5. Imagens ultrassonográficas em modo Doppler pulsado dos grandes vasos abdominais de um
ção ao transdutor (vermelho).B. Plano transversal da artéria aorta com fluxo em direção ao transdutor cão. A. Artéria aorta apresentando espectro com fluxo trifásico.B. Veia cava caudal apresentando es-
(vermelho). pectro com fluxo monofásico.
88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 89
guíneo (Nyland et al., de êmbolos neoplásicos, dendo ser identificados com precisão o tama-
Geralmente os trombos É possível determinar
2005). e infartos (Ocarinoet al., ao modo B. Contudo, nho de um trombo e
possuem ecogenicidade com precisão o tamanho
Os vasos sanguíne- 2010). Ambas as afec- a ecogenicidade dessas o grau de oclusão do
diferente do sangue, de um trombo e o grau de
os possuem traçados ções são consideradas estruturas podem ser se- vaso avaliado (Stone
podendo ser identificados oclusão do vaso avaliado
Doppler individuais e pouco comuns em pe- melhantes à do sangue et al., 2017). A oclu-
ao modo B. Contudo, ... A oclusão total de um
específicos. Para a ava- quenos animais quando ou discretamente ecogê- são total de um vaso
a ecogenicidade dessas vaso por trombo resulta
liação vascular, é impor- comparadas à medici- nicas, sendo necessária por trombo resulta
estruturas podem em ausência do fluxo, não
tante o reconhecimento na humana (Nelson e a avaliação do fluxo ao em ausência do fluxo,
ser semelhantes à do sendo detectados sinais
do espectro normal do Couto, 2015). modo Doppler para sua não sendo detectados
sangue ou discretamente ao Doppler. As oclusões
vaso avaliado para visi- Grande variedade detecção (Finn-Bodner sinais ao Doppler.
ecogênicas, sendo parciais causam alterações
bilizar as alterações in- de doenças estão en- e Hudson, 1998; As oclusões parciais
necessária a avaliação do do fluxo sanguíneo mais
dicativas de processos volvidas no processo Szatmári et al., 2001). A causam alterações do
fluxo ao modo Doppler facilmente analisadas ao
patológicos (Spaulding, de formação dos trom- ecotextura dos trombos fluxo sanguíneo mais
para sua detecção. Doppler, podendo ocorrer
1997; Szatmári et al., bos ou êmbolos (Suter, pode ser homogênea facilmente analisadas
sinais característicos de
2001; Carvalho et al., 1992). Na clínica de ou heterogênea devido ao Doppler, podendo
fluxos turbulentos.
2008). pequenos animais, são consideradas àlise parcial (Figura 6), ocorrer sinais carac-
como causas mais relevantes a doença às áreas de mineraliza- terísticos de fluxos
Tromboembolismo renal, os processos neoplásicos e trau- ção ou recanalização trombótica, ou turbulentos (Bradley et al., 1993; Finn-
A trombose é a agregação patológica máticos, a anemia, a diabetes mellitus e ainda em caso de trombos formados Bodner e Hudson, 1998; D’Anjou e
intravascular de componentes sanguíne- as cardiopatias (Carvalho, 2014; Nelson por meio de invasões vasculares neoplá- Carmel, 2015).
os, principalmente plaquetas e fibrina, e Couto, 2015). sicas (Carvalho, 2014;
que se aderem ao leito vascular e alteram Os sinais de obstrução arterial são D’Anjou e Carmel,
Os shunts ou desvios
Desvios
ou obstruem o fluxo sanguíneo (Suter, conhecidos como os “sete Ps”: pain 2015).
portossistêmicos (DPS) vasculares
1992; Lamb et al., 1996; Ocarinoet al., (dor, em inglês), palidez, parestesia, pul- Na presença do
comunicam o sistema Os shunts ou
2010; Nelson e Couto, 2015). Êmbolos so (ausência), polar (frio), paresia/para- trombo venoso, pode
venoso portal à circulação desvios portossis-
podem ser constituídos por partículas lisia e prostração (Suter, 1992). Calor, ocorrer dilatação do
sistêmica por meio de um têmicos (DPS) co-
desprendidas de trombos, gases, gordu- dor, edema, eritema, dilatação venosa vaso atingindo pro-
vaso anômalo. municam o sistema
ra, parasitas, corpos estranhos, células e cianose podem ocorrer em casos de porções até duas vezes
... venoso portal à cir-
neoplásicas ou qualquer outra subs- tromboses venosas profundas (Giannini maiores que a artéria
Entre os DPS, o extra- culação sistêmica
tância que pode ser carreada pelo fluxo et al., 2005; Stone et al., 2017). Alguns correspondente,sendo
hepático surgindo da por meio de um vaso
sanguíneo, e formam os trombos quan- outros sinais manifestados incluem essa distensão um fa-
veia porta representa o anômalo (D’Anjou
do se aderem à parede vascular (Suter, claudicação, vômito, anorexia, ascite e tor importante correla-
mais comum, sendo mais e Penninck, 2015),
1992; Ocarino et al., 2010). Os proces- automutilação, e são dependentes das cionado aos processos
prevalente em cães de permitindo que o
sos tromboembólicos podem acarre- estruturas afetadas e do grau da lesão agudos (Tapsonet al.,
porte pequeno e gatos. Já sangue com toxinas
tar, como consequências, abscessos ou (Suter, 1992; Konečný, 2010). 1999; Carvalho, 2009;
os intra-hepáticos são mais normalmente remo-
processos inflamatórios, nos casos de Geralmente os trombos possuem Karendelet al., 2016).
prevalentes em cães de vidas e metaboliza-
êmbolos sépticos, metástase, em casos ecogenicidade diferente do sangue, po- É possível determinar
raças grandes. das pelo fígado cir-
90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 91
Quando congê-
Quando congênitos, Referências
nitos, é possível en-
é possível encontrar 1. BRADLEY, M. J., SPENCER,
contrar ao modo B P. A., ALEXANDER, L. et al.
ao modo B redução Colour flow mapping in the
redução do volume
do volume hepático, diagnosis of the calf deep vein
hepático, diminuição thrombosis. ClinicalRadiology, v.
diminuição da 47, n. 6, p. 399-402, 1993.
da visibilização das
visibilização das veias 2. CARVALHO, C. F.;
veias porta intra-he-
porta intra-hepáticas, CHAMMA, M. C.; CERRI, G.
páticas, identificação G. Morfologia duplex Doppler
identificação do vaso dos principais vasos sanguíneos
do vaso anômalo in-
anômalo intra ou abdominais em pequenos ani-
tra ou extra-hepático mais. Ciência Rural, v. 38, n. 3,
extra-hepático ... que p.880-888, 2008.
(Lamb, 1996) que
geralmente é grande
geralmente é grande 3. CARVALHO, C. F. Grandes
e tortuoso. Litíases de vasos e circulação periférica
e tortuoso. Litíases
urato nos rins ou na abdominal. In: Ultrassonografia
de urato nos rins ou em pequenos animais. 2. ed. São
bexiga também podem Paulo: Roca, cap. 12, p 205 –
na bexiga também
ser encontradas... 215, 2014.
podem ser encontra- 4. CARVALHO, C. F.
das (Finn-Bodner e Ultrassonografia duplex Doppler vascular: aspec-
tos gerais. In: Ultrassonografia Doppler em peque-
Hudson, 1998). Já nos DPS adquiri- nos animais. 1. ed. São Paulo: Roca, Cap. 9, p 87
dos, pode ocorrer redução do volu- – 97, 2009.
me e alterações da ecotextura hepá- 5. D’ANJOU, M. A.; CARMEL, E. N. Abdominal
Figura 6. Imagem ultrassonográfica abdominal de um cão ao modo bidimensional: Veia cava caudal tica, hipertensão portal e presença cavity, lymph nodes, and great vessels. In:
(VCC) com trombo ecogênico (seta) de grandes dimensões (entre cursores). Fonte: Imagem gentilmen- PENNINCK, D.; D’ANJOU, M. A. Atlas of small
te cedida pela médica veterinária Izabela Patrício de Souza.
de vasos anômalos colaterais tortuo- animal ultrasonography. 2. ed.John Wiley & Sons,
sos extra-hepáticos (Finn-Bodner e cap. 15, p. 455 – 479, 2015.
cule pelo organismo (Murphy et al., prevalente em cães de porte pequeno Hudson, 1998). 6. D’ANJOU, M. A.; PENNINCK, D.; Liver. In:
__. A. Atlas of small animal ultrasonography. 2.
2001). e gatos. Já os intra-hepáticos são mais A detecção do vaso anômalo per- ed.John Wiley & Sons, cap. 6, p. 183 – 238, 2015.
Os DPS são considerados as ano- prevalentes em cães de raças grandes mite o diagnóstico definitivo. O uso 7. FINN-BODNER, S.T.; HUDSON, J.A.
malias vasculares mais comuns em pe- (D’Anjou e Penninck, 2015). do Doppler aumenta a sensibilidade Abdominal vascular sonography. Veterinary
Clinics of North America Small Animal Practice,
quenos animais,podendo ser congê- O exame ultrassonográfico é con- da técnica ultrassonográfica devi- v.28, n.4, p.887-941, 1998.
nitos e geralmente diagnosticados em siderado um método preciso para do à detecção da presença do fluxo 8. GIANNINI, M.; ROLLO, H. A.; MAFFEI F. H.
pacientes jovens, ou adquiridos e con- avaliação vascular na suspeita de DPS sanguíneo no vaso anômalo e da ca- A. O papel do mapeamento duplex no diagnós-
tico da trombose venosa profunda assintomática
sequentes de hepatopatias crônicas. (Lamb, 1996). Entretanto, é impor- racterização do fluxo sanguíneo da dos membros inferiores. Jornal Vascular Brasileiro.,
São classificados como únicosou múl- tante salientar a necessidade do co- VCC (Lamb, 1996). Em casos de v. 4, n. 3, p. 290-296, 2005.
tiplos e intra-hepáticos ou extra-hepá- nhecimento de anatomia ultrassono- DPS, o fluxo sanguíneo da VCC na 9. KARANDE, G. Y., HEDGIRE, S. S., SANCHEZ,
região de inserção do vaso anômalo Y. et al. Advanced imaging in acute and chronic
ticos (Murphy et al., 2001; D’Anjou gráfica vascular e de experiência por deep vein thrombosis. Cardiovasc Diagn Ther, p.
e Penninck, 2015). Entre os DPS, o parte do ultrassonografista para iden- é turbulento e apresenta altas velo- 493-507, 2016.
extra-hepático surgindo da veia porta tificá-los corretamente (Carvalho, cidades (Finn-Bodner e Hudson, 10. KONEČNÝ, F. Thromboembolic conditions, ae-
representa o mais comum, sendo mais 2014). 1998). tiology diagnosis and treatment in dogs and cats.
Acta Veterinaria Brno, v. 79, n. 3, p. 497-508, 2010.
92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 93
11. LAMB, C. R., WRIGLEY, R. H., SIMPSON, K.
W. et al. Ultrasonographic diagnosis of portal vein
18. SIGEL, B., MACHI, J., BEITLER, J. C. et al. Red
cell aggregation as a cause of blood-flow echo-
Ultrassonografia dos et al., 2011; Carvalho, 2014). Além
thrombosis in four dogs. Veterinary Radiology & genicity. Radiology, v. 148, n. 3, p. 799-802, 1983. linfonodos disso, deve-se considerar a punção
Ultrasound, v. 37, n. 2, p. 121 – 129, 1996. aspirativa guiada pelo US como uma
19. SOLANO, J., VÁZQUEZ, M., RUBIO, E. et al.
12. LAMB, Christopher R. Ultrasonographic di- Doppler ultrasound signal spectral response in
Normalmente a avaliação de toda importante ferramenta no diagnós-
agnosis of congenital portosystemic shunts the measurement of the blood flow turbulence a cadeia linfática não faz parte do tico de doenças do sistema linfático
in dogs: results of a prospective study.
VeterinaryRadiology&Ultrasound, v. 37, n. 4, p.
caused by stenosis. Physics Procedia, v. 3, n. 1, p. exame ultrassonográfico de rotina, (Carvalho, 2014; D’Anjou e Carmel,
605-613, 2010.
281-288, 1996. com exceção em alguns casos clí- 2015).
20. SPAULDING, K. A. A review of sonographic
13. MATTON, J. S.; AULD, D. M. NYLAND, T. G. nicos (Carvalho, 2014). A maioria
identification of abdominal blood vessels and
Técnicas de Varredura Abdominal por Ultrassom.
In: NYLAND, T. G.; MATTON, J. S. Ultrassom juxtavascular organs. Veterinary Radiology & dos linfonodos possuem dimensões Anatomia
diagnóstico em pequenos animais. 2.ed. São Paulo: Ultrasound, v. 38, n. 1, p. 4-23, 1997. pequenas, dificultando sua visibili- ultrassonográfica
Roca, cap. 4, p. 54 – 94, 2005. 21. STONE, J., HANGGE, P., ALBADAWI, H. et zação, porémalguns podem ser iden-
14. MURPHY, S.T. et al. A comparison of the am- al. Deep vein thrombosis: pathogenesis, diag- tificados durante o exame ultrasso- Os linfonodos caracterizam-se
eroid constrictor versus ligation in the surgical nosis, and medical management. Cardiovascular como estruturas ovaladas ou fusifor-
management of single extrahepatic portosystemic DiagnosisandTherapy, v. 7, n. 3. p. 276 – 284, 2017. nográfico abdominal– especialmente
shunts. Journal of the American Animal Hospital os mais superficiais, mes, isoecogênicas ou
22. SUTER, P. F. Moléstia vascular periférica. In:
em animais de pe- A maioria dos linfonodos levemente hipoeco-
Association, v.37, p.390-396, 2001.
ETTINGER, S. J. Tratado de medicina interna vete-
15. NELSON, R.; COUTO, C. G. Distúrbios do rinária: moléstias do cão e gato. v.2, 3.ed. São Paulo: queno porte ou filho- gênicas em relação ao
sistema cardiovascular. In:__. Medicina interna de Manole LTDA, cap. 81, p. 1246 – 61, 1992. possuem dimensões tecido adjacente, de
pequenos animais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. tes (Carvalho, 2014; pequenas, dificultando
Cap. 12, p. 605 – 643. 23. SZATMÁRI, V.; SÓTONYI, P.; VÖRÖS, K.
D’Anjou e Carmel,, aspecto homogêneo,
16. NYLAND, T. G., MATTOON, J. S., HERRSELL,
Normal duplex Doppler waveforms of ma- sua visibilização, com contornos bem
E. J. et al. Princípios físicos, instrumentação e
jor abdominal blood vessels in dogs: a review. 2015). É avaliado o porémalguns podem ser definidos (Carvalho,
Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 42, n. 2, p. tamanho, o contorno,
segurança do diagnóstico por ultrassom. In:
93-107, 2001. identificados durante o 2014; Stieger-Vanegase
NYLAND, T. G.; MATTON, J. S. Ultrassom as bordas, o formato,
diagnóstico em pequenos animais. 2.ed. São Paulo: 24. TAPSON, V. F., CARROLL, B. A., DAVIDSON,
exame ultrassonográfico Frank, 2018).Os vasos
Roca, cap. 1, p. 01 – 19, 2005. B. L. et al. The diagnostic approach to acute ve-
a arquitetura, a ecotex- abdominal–
tura e a ecogenicidade sanguíneos na região
17. OCARINO, N. M., PAIXÃO, T. A., CARVALHO, nous thromboembolism. Clinical practice guide- especialmente os mais hilar podem formar li-
E. C. Q. et al. Sistema cardiovascular. In: line. American Thoracic Society. American journal do parênquima dos
SANTOS, R. L.; ALESSI A. C. Patologia veteriná- of respiratory and critical care medicine, v. 160, n. 3, superficiais, em animais nhas hiperecoicas no
ria. 1. ed. São Paulo: Roca, cap. 2, p. 51 – 88, 2010. p. 1043, 1999. linfonodos e, ao modo de pequeno porte ou
Doppler, a quantidade parênquima, corres-
filhotes. pondentes às suas pa-
e a distribuição dos
seus vasos internos redes, porém são difi-
(Swarte et al., 2011). Os linfonodos cilmente visibilizados
Eles são avaliados e caracterizam-se como ao Doppler colorido
classificados de acor- estruturas ovaladas (D’Anjou e Carmel,,
do com sua localização ou fusiformes, 2015).
anatômica,sendo parte isoecogênicas ou As dimensões va-
importante do esta- levemente hipoecogênicas riam de acordo com
diamento de neopla- em relação ao tecido o porte do cão ou do
sias, influenciando no adjacente, de aspecto gato e, por essa razão,
prognóstico e no tra- homogêneo, com o seu formato torna-
tamento (Muramoto contornos bem definidos. -se um parâmetro mais
94 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 95
importante para iden-
Os linfonodos Técnica de Linfadenopatia denso, mineralizado e com sombra
tificar normalidade acústica é compatível com linfono-
frequentemente varredura Quando anormais, os linfono- do cronicamente distrófico reati-
ou alteração do órgão.
encontrados incluem os O paciente é posi- dos tendem a aumentar e se tornar vo ou metastático. Aspecto fluido
O termo “eixo longo”
jejunais (mesentéricos) cionado em decúbito mais arredondados apresentando reforço
se refere à medida de
e os ilíacos mediais. Os dorsal, esquerdo ou e hipoecogênicos Quando anormais, os acústico posterior su-
comprimento do lin-
jejunais são linfonodos direito. Deve-se con- (D’Anjou e Carmel,, linfonodos tendem a gere necrose, cisto ou
fonodo em corte lon-
fusiformes alinhados siderar que, quando 2015) (Figura 7). Os aumentar e se tornar abscesso (Carvalho,
gitudinal, enquanto o
à artéria,à veia o animal encontra- locais mais prováveis mais arredondados e 2014). No entanto, é
“eixo curto” é o valor
mesentérica cranial e a -se em decúbito dor- para detectar altera- hipoecogênicos. necessária a avaliação
da espessura dele, tam-
seus ramos do omento. sal, os linfonodos ções nos linfonodos citológica ou histo-
bém em corte longitu-
Os ilíacos mediais são mesentéricos loca- são: hilo esplênico, região portal, lógica para conclusão diagnósti-
dinal.Em cães, a razão
tipicamente maiores lizam-se na região região perirrenal, proximidades das ca (Swarte et al., 2011; D’Anjou e
de 0,5 entre medida
que os outros e mais epimesogástrica pro- artérias mesentérica cranial e cefá- Carmel,, 2015).
do eixo curto / eixo
facilmente visibilizados funda, necessitando lica e ao longo do trajeto da aorta
longoé geralmente
na abordagem pelo maior pressão para abdominal, utilizando-se a bexi- Reativa ou hiperplásica
considerada normal
flanco lateral, evitando o avaliá-los (Carvalho, ga como janela acústica na região
para os diversos lin- Corresponde à resposta dos linfo-
cólon descendente. 2014). Para visibili- (Carvalho, 2014).
fonodos, ou seja, o
zaçãodos linfonodos, A aparência ultrassonográfi- nodos a diferentes estímulos antigêni-
comprimento normal
toda a cavidade abdominal deve ser ca de linfonodos pode auxiliar na cos, podendo ou não haver aumento
éduas vezes maior que a sua espessu-
classificação da linfadenopatia em de suas dimensões. Geralmente, os
ra. Entretanto, algumas cadeias apre- observada cuidadosamente, consi-
metastática ou reativa.Aspecto linfonodos tendem a ter bordas me-
sentam formato mais alongado, o que derando ainda que eles estão inti-
faz com que as medidas excedam essa mamente relacionados a vasos abdo-
relação, como os linfonodos jejunais minais (Carvalho, 2014; D’Anjou e
(D’Anjou e Carmel, 2015). Carmel,, 2015). Os linfonodos fre-
Em cães e gatos filhotes, oslinfo- quentemente encontrados incluem
nodos tendem a ser uniformemente os jejunais (mesentéricos) e os ilía-
hipoecoicos, ou podem apresentar cos mediais. Os jejunais são linfono-
centro hiperecoico com halo periféri- dos fusiformes alinhados à artéria,à
co hipoecoico de espessura variável. veia mesentérica cranial e a seus ra-
Alguns têm as mesmas dimensões mos do omento. Os ilíacos mediais
que em indivíduos adultos, ou po- são tipicamente maiores que os
dem ser normalmente maiores, o que outros e mais facilmente visibiliza-
tem sido atribuído a estímulo antigê- dos na abordagem pelo flanco late-
nico. Em cães, podem ter formatos ral, evitando o cólon descendente
alongados variáveis além do ovoide (D’Anjou e Carmel,, 2015; Stieger-
(Krole O’Brien, 2012). Vanegas e Frank, 2018). Figura 7. Imagem ultrassonográfica de abdômen de uma felina. Observa-se a cadeia de linfonodos
cólicos aumentada (asteriscos), circundando o íleo (seta).
96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 97
nos definidas, porém contornos irregulares, caninos (Swarte et al., 2011), podendo Referências
Reativa ou
permanecem com a aumentar de volume estar associado à presença de absces- 1. CARVALHO, C.F. Capítulo 13: Linfonodos.
hiperplásica
arquitetura preserva- eassumir formato oval so ou de inflamação severa (D’Anjou e In: CARVALHO, C.F.(ed.) Ultrassonografia em
Geralmente, os Pequenos Animais. 2. ed. – São Paulo: Roca, p.
da (Carvalho, 2014; a arredondado. Autores Carmel,, 2015). Linfonodos metastá-
linfonodos tendem a ter 217-225, 2014.
D’Anjou e Carmel, relatam aumento da ra- ticos podem apresentar aspectos variá- 2. D`ANJOU, M.A. CARMEL, E. N. Chapter 15:
bordas menos definidas,
2015). Apresentam ge- zão entre eixos curto/ veis, homogêneos a heterogêneos, o que Abdominal Cavity, Lymph Nodes, andGreatVes-
porém permanecem com sels. In: PENNINCK, D., d’ ANJOU, M.A. (Ed).
ralmente razão entre longo dos linfonodos provavelmente corresponde aos dife-
a arquitetura preservada Atlas ofSmall Animal Ultrassonography.Hoboken,
eixo curto/longo<0,7, neoplásicos em relação rentes tipos celulares NJ, Wiley.
2 ed. p. 455-479, 2015.
... Apresentam
mantendo formato aos normais ou reati- e locais da neoplasia 3. KROL, L., O`BRIEN, R.
geralmente razão entre
ovoide mesmo quando vos, sendo valores >0,7 primária (Swarte et Os linfonodos neoplásicos Ultrasonographic Assessment
eixo curto/longo<0,7, estão comumente Of Abdominal Lymph Nodes In
aumentados. Deve-se preditivos de malig- al., 2011). Puppies. Veterinary Radiology &
mantendo formato associados à reatividade Ultrasound, v. 53, n. 4, p.455-458,
considerar que essa ra- nidade (Swarte et al., Os linfonodos
ovoide mesmo quando tecidual adjacente, com 2012.
zão deve ser avaliada 2011; Muramoto, 2011; neoplásicos estão
aumentados.
comumente asso- mesentério apresentando- F.A.; HAGEN, C.F.et al.Avaliação
4. MURAMOTO, C., STERMAN,
com cuidado, uma vez D’Anjou e Carmel,
que alguns linfonodos 2015). ciados à reatividade se hiperecoico. ultrassonográfica de linfonodos
na pesquisa de metástases de neo-
de morfologia normalmente mais alon- Afecção neoplásica primária ou tecidual adjacente, plasia mamária em cadelas.Pesquisa Veterinária
gada, como os jejunais, podem mantera metastática comumente ocasiona redu- com mesentério apresentando-se hipe- Brasileira, v.31, n.11., 2011.
razão entre os eixos dentro da normali- ção da ecogenicidade dos linfonodos, recoico (Swarte et al., 2011). Dessa for- 5. STIEGER-VANEGAS, S. M., FRANK, P. M.
Chapter 39: Peritoneal space, In: THRALL, D. E.
dade mesmo quando afetados por lesão porém áreas hiperecoicas entremeadas ma, linfonodos de contornos regulares Textbook of veterinary diagnostic radiology. 7. ed.
maligna (D’Anjou e Carmel,, 2015). podem se formar associadas à hemorra- observados em meio à gordura normal St. Louis, Missouri: Elsevier, 2018. p. 764-791.
É importante destacar que algumas gia, à mineralização ou à necrose coagu- têm grande possibilidade de não serem 6. SWARTE, M., ALEXANDER, K., RANNOU,
afecções não neoplásicas causam alterações lativa (D’Anjou e Carmel,, 2015). Focos malignos (Swarte et al., 2011). B. et al.Comparison Of Sonographic Features Of
Benign And Neoplastic Deep Lymph Nodes In
significativas em linfono- hipoecoicos a anecoicos Dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 52, n.
dos. As doenças granulo- também podem ser ob- 4, 2011, p. 451–456.
Os linfonodos
matosas, como a perito- servados, devido à ne-
metastáticos tendem a
nite infecciosa felina, por
ter contornos irregulares, crose ou à formação de
exemplo, podem mime- cistos e de cavitações.
aumentar de volume
tizar processos malignos Os linfonodos tendem
eassumir formato oval
devido à linfadenome-
a arredondado. Autores a apresentar melhor
galia abdominal severa, definição de bordas e
relatam aumento da
podendo assumir aspec-
razão entre eixos curto/ podem apresentar re-
to de massas (D’Anjou e forço acústico posterior
longo dos linfonodos
Carmel,, 2015). (D’Anjou e Carmel,,
neoplásicos em relação
2015). Parênquima he-
aos normais ou
Neoplásica reativos, sendo valores terogêneo é geralmente
observado em processo
Os linfonodos me- >0,7 preditivos de
maligno nos pacientes
tastáticos tendem a ter malignidade.
98 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 6. Ultrassonografia esplênica, vascular e de linfonodos 99
meiramente empregada deve ao fato de os apare-
As amostras de materiais
para guiar citologias por lhos portáteis fornecerem
obtidas de forma guiada
aspiração com agulha acessibilidade a esse tipo
são mais eficientes,
fina (Solbiati, 1998). de serviço, podendo ser
precisas e seguras,
Desde então, a modali- utilizados em clínicas que
quando comparadas às
dade está em constante não possuem aparelho
técnicas intervencionistas
crescimento, principal- ou, ainda, guiando pro-
às cegas
mente devido ao rápido cedimentos cirúrgicos
desenvolvimento tecno- (Meyer, 2016). Além dis-
lógico dos equipamentos (DeJong, 2017). so, esse tipo de serviço é menos oneroso
A ultrassonografia intervencionista quando comparado a outras modalidades
consiste em todas as práticas que utilizam a de imagem intervencionistas, não emite
imagem ultrassonográfica como guia para radiação ionizante (Kanayama, 2014),
a realização de procedimentos médicos de possibilita recuperação rápida do paciente
102 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 7. Ultrassonografia intervencionista e focada (FAST) 103
bilizar linhas A, ou mais empregadas. Pode ser (Kanayama, 2014). válvulas de três vias, equipo de infusão
A ultrassonografia
comumente a imagem realizada aspiração por Além da hemorragia, o pneumo- e tubos para coleta de material e análi-
intervencionista torácica
em espelho do fígado agulha fina, ou biopsias tórax pode ser consequência após in- se (Brown e Hugues, 2011). Arritmias
é geralmente utilizada
e o coração podem ser com agulhas convencio- tervenções torácicas, no entanto com- ventriculares podem ocorrer caso a
para realização de
identificados tanto no nais ou Tru-cut quan- plicações que necessitam manobras agulha entre em contato com o cora-
biopsias e aspirações por
acesso intercostal próxi- do a massa é extensa terapêuticas são raras ção, portanto é neces-
agulha fina de massas,
mo ao 3º, 4º ou 5º espa-
desde que tenha contato
(Nyland et al., 2004). (Hecht, 2011a). É considerado um sário o monitoramento
ço intercostal e,às vezes,
com a parede torácica, procedimento diagnóstico constante com eletro-
pelo acesso abdominal
drenagem de líquido
Espaço pleural Pericárdio e terapêutico, pois a cardiograma durante o
(Tidwell,1998). A ul-
no espaço pleural e Na toracocentese A pericardiocente- remoção, mesmo que procedimento (Ware,
trassonografia interven-
pericárdico. guiada, deve ser reali- se é um procedimento de pequenos volumes 2010; Brown e Hugues,
cionista torácica é ge- zada tricotomia ampla relativamente seguro se de fluido do pericárdio, 2011). Geralmente o sí-
ralmente utilizada para torácica bilateral e antissepsia cirúrgica, realizado com cautela pode diminuir as tio de punção está entre
realização de biopsias e aspirações por inserir o cateter entre o espaço intercos- e emergencial em ca- consequências do a quarta e sexta costelas,
agulha fina de massas, desde que tenha tal, no nível da junção costocondral e sos de tamponamento tamponamento cardíaco. imediatamente lateral
contato com a parede torácica, drena- paralelo à costela, acoplar uma válvula cardíaco (Ware, 2010). ao esterno; a penetração
gem de líquido no espaço pleural e pe- de três vias ao cateter com extensor e re- Guiar por meio da ultrassonografia é deve evitar os vasos intercostais que cor-
ricárdico (Nyland et al., 2004). São pro- tirar o fluido com ajuda de uma seringa importante para evitar o contato do ca- rem caudais a cada costela. (Figura 1).
cedimentos relativamente seguros e de (Thompson e Rebar, 2016). A efusão é teter direto com o coração (Kanayama, Uma pequena pressão negativa
grande valor diagnóstico ou terapêutico visibilizada como um material anecogê- 2014). É considerado um procedimento deve ser aplicada na seringa durante o
(Hecht, 2011). nico ou ecogênico separando as pleuras diagnóstico e terapêutico, pois a remo- avanço da agulha em direção ao cora-
parietal e visceral, e o diafragma da su- ção, mesmo que de pequenos volumes ção (Ware, 2010). Se a extremidade do
Pulmões e mediastino perfície pulmonar (Hecht, 2011a). A ul- de fluido do pericárdio, pode diminuir cateter entrar em contato com o epicár-
As massas torácicas geralmente trassonografia é uma ferramenta impor- as consequências do tamponamento dio, complexos ventriculares prematu-
encontradas incluem processos neo- tante nessa prática por indicar o melhor cardíaco (Brown e Hugues, 2011). ros ocorrerão; basta retrair o cateter até
plásicos, hematomas, abscessos e gra- ponto para drenagem e evitar estruturas Geralmente o procedimento é reali- que se resolvam as disritmias (Brown
nulomas pulmonares e mediastinais vitais como o coração, porém deve-se zado do lado direito; o paciente é man- e Hugues, 2011). O fluido deve ser
(Tidwell,1998). Para realização das ressaltar a necessidade de o líquido es- tido em decúbito lateral esquerdo ou drenado o mais rapidamente possível
biopsias ou citologia de massas torá- tar em contato com a parede torácica, esternal, é realizada a tricotomia entre e geralmente possui um aspecto muito
cicas, transdutores line- pois,caso contrário, o terceiro e sétimo espaços intercostais hemorrágico, porém é diferenciado do
ares são preferidos por A efusão é visibilizada pode não ser visibili- e do esterno até a junção costocondral sangue por não coagular e possuir um
fornecerem maior cam- como um material zado durante o exa- e deve ser feita antissepsia cirúrgica da sobrenadante amarelado. Com a drena-
po de visão. Ambas as anecogênico ou ecogênico me. Portanto,pode ser região. A necessidade de anestesia varia gem, a taquicardia do paciente diminui
técnicas descritas neste separando as pleuras necessária a realização de acordo com o quadro e o comporta- e é perceptível um conforto respiratório
capítulo para realização parietal e visceral, e o de exame radiográfi- mento do paciente (Ware, 2010). Para (Ware, 2010).
o procedimento,são utilizados catete- A principal complicação que impli-
da ultrassonografia inter- diafragma da superfície co ortogonal previa-
vencionista podem ser pulmonar. mente à toracocentese res de calibre 14 a 18 gauges, seringas, ca o uso dessa técnica é a lesão ou pun-
104 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 7. Ultrassonografia intervencionista e focada (FAST) 105
al., 2011). Além dis-
Outros procedimentos Bexiga
so, a ultrassonografia
[têm] a ultrassonografia A cistocentese é
vem sendo utilizada
como guia; ... as um procedimento re-
para guiar procedi- cistocenteses, lativamente simples,
mentos terapêuticos abdominocenteses, que geralmente não
ou paliativos, como paracenteses (drenagem necessita de sedação
a administração in- de coleções líquidas do paciente e pode ser
tralesional de fár- contidas) e a drenagem feita guiada (Penninck
macos (Penninck e de cistos ou abscessos. e Finn-Bodner, 1998).
Finn-Bodner, 1998). Por meio da ultrasso-
Outros procedimentos são muito nografia, é verificado se há repleção
realizados tendo a ultrassonografia suficiente da bexiga para realização da
como guia; dentre eles, podem ser coleta. A pele na região é higienizada, e
citadas as cistocenteses, as abdo- uma agulha com seringa inserida cranial
minocenteses, as paracenteses (dre- ou lateralmente ao transdutor, preferen-
Figura 1. Procedimento de pericardiocentese guiado por ultrassonografia,realizado pelo lado direito, nagem de coleções líquidas conti- cialmente em região de linha mediana.
entre o quarto e o quinto espaço intercostal ventral. Nota-se a válvula de três viasacoplada à seringa A agulha surgirá na tela
contendo conteúdo sanguinolento, compatível com hemopericárdio. das) e a drenagem de
cistos ou abscessos como uma fina linha hi-
A cistocentese é
ção cardíaca causando arritmias, porém calha ou cirúrgicas, e a necessidade de perecogênica, que pode
(Kanayama, 2014). um procedimento
é uma alteração autolimitante; após a sedação ou anestesia vai depender do causar reverberação dis-
relativamente simples,
retração do cateter, os parâmetros nor- procedimento e do comportamento do Peritônio tal ou artefatos de som-
que geralmente não
malizam. Outras alterações são pneu- paciente (Nyland et al., 2004). Os mes- breamento (Sutherland-
A abdominocentese necessita de sedação
motórax ou hemorragias pulmonares, mos cuidados em relação à antissepsia, Smith, 2011) (Figura
guiada pela ultrassono- do paciente e pode
laceração da artéria coronária, infarto já explicados nas intervenções torácicas, 2). Entretanto, devido
grafia é rotineiramen- ser feita guiada ... A
devem ser adotados para qualquer tipo ao risco de dissemina-
do miocárdio, hemorragias no espaço te realizada em clínica agulha surgirá na tela
de intervenção abdominal. ção de células neoplá-
pericárdico, disseminação de infecção de pequenos animais. como uma fina linha
A ultrassonografia é utilizada sicas, a cistocentese
ou células neoplásicas (Ware, 2010). Com o mínimo de prá- hiperecogênica, que pode é contraindicada nos
Essas complicações são minimizadas para guiar exames de biopsia e de causar reverberação
citologia, sendo os órgãos que mais tica, mesmo pequenas casos de suspeitas de
com o preparo adequado da técnica e quantidades de líquido distal ou artefatos de
comumente sofrem intervenção processos neoplásicos
o acompanhamento ultrassonográfico abdominal livre podem sombreamento.
na medicina veterinária o fígado, vesicais (Kanayama,
(Brown e Hugues, 2011). ser drenadas de forma 2014). Nesses casos,a
os rins ea próstata. A complicação
mais comum é a hemorragia, sen- segura (D’Anjou, 2011). A ultrassono- técnica de escolha requer o acesso atra-
Técnicas abdominais do relatadas hemorragias graves grafia facilita bastante o procedimento vés das vias urinárias inferiores, com
As intervenções intra-abdominais após biopsias percutâneas em 1,2% por indicar o melhor ponto para a pun- utilização de sonda urinária.Para tanto,
geralmente são realizadas com o pacien- - 16,9% dos casos, com risco maior ção e o quanto a agulha pode ser inseri- a bexiga deve ser esvaziada, e um pou-
te em decúbito dorsal, em mesas tipo associado à biopsia renal (Watsonet da (Kanayama, 2014). co de solução salina injetada para ajudar
106 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 7. Ultrassonografia intervencionista e focada (FAST) 107
A B
108 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 7. Ultrassonografia intervencionista e focada (FAST) 109
ultrassonográfico ime-
Próstata Baço Referências Passado, Presente e Futuro. Revista Ciências em
Saúde, v. 1, n. 1, p. 15-21, 2011.
diatamente depois de
Para evitar lesões As biopsias aspi- 1. BROWN, D.; HUGUES, G. Coração. In:
11. NYLAND. T.G. Biopsia guiada por Ultrassom. In:
finalizado o procedi- PENNINCK, D.; D’Anjou, M.A. Atlas de ul-
uretrais é recomentada rativas no baço com trassonografia de pequenos animais. Rio de
Nyland T.G.; Mattoon, J.S. Ultrassom diagnósti-
mento e mantido pelo co em pequenos animais.São Paulo: Roca, 2004.
a sondagem do paciente lesões difusas são par- Janeiro: Guanabara Koongan, p. 149 – 214, 2011.
menos por 6 horas em 12. PENNINCK, D.G.; FINN-BODNER, S.T.
antes da realização do ticularmente úteis no 2. CORTOPASSI S.R.G.; JUNIOR, E.M.Técnicas
Updates in interventional ultrasonography.
hospitalização, devido anestésicas utilizadas nos exames ultrassonográfi-
procedimento ... São diagnóstico e podem cos. In: Carvalho C.F. Ultrassonografia em pe-
Veterinary Clinics of North America: small ani-
ao maior potencial he- mal practice. v. 28, n. 4, 1998.
realizadas drenagens de ser realizadas com a quenos animais. Ed. 2. São Paulo: Roca, p. 423
morrágico desse órgão – 434, 2014. 13. SOLBIATI, L. New applications of ultrasonogra-
cistos ou lesões cavitárias
utilização de agulhas, phy: interventional ultrasound. European Journal
(Nyland et al., 2004). 3. D’ANJOU, M.A. Cavidade abdominal, linfono-
e biopsias com Tru- por meio da técnica de dos e grandes vasos. In: Penninck, D.; D’Anjou,
of Radiology, v. 27, p. S200-S206, 1998.
Próstata cut de massas sólidas. mão livre (Nyland et M.A. Atlas de ultrassonografia de de pequenos 14. TIDWELL, A. S. Ultrasonography of the tho-
animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koongan, p. rax (excluding the heart). Veterinary Clinics of
Os procedimen-
Nesse último caso,são al., 2004). O procedi- 443 – 460,2011. North America:small animal practice. v. 28, n. 4,
tos intervencionistas
necessárias múltiplas mento deve ser evitado 4. DEJONG, M.R. Ultrasound-Guided
1998.
prostáticos geralmen-
amostras para aumentar em massas esplênicas Interventional Techiniques.In: Hagen- 15. SUTHERLAND-SMITH, J.; Bexiga e uretra. In:
dade do diagnóstico (Nyland et al., As abordagens são relativamente se- D.J. Canine and Feline Cytology. Elsevier, p. 1 20. WARE, W.A. Doença pericárdica e tumores car-
2004). melhantes às já citadas neste capítulo – 15,2016. díacos. In: Nelson, R. W.; Couto C. G. Medicina
interna de pequenos animais. Rio de Janeiro:
e os riscos variam de acordo com cada 10. NASSER, F; CARDOSO, R.S.; DE JESUS
Elsevier, p. 155 – 168, 2010.
SILVA, S. G. Radiologia Intervencionista:
procedimento.
110 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 7. Ultrassonografia intervencionista e focada (FAST) 111
Ultrassonografia pleural (Santos et al., 2012; Boysen e líquido livre na pleura e
[FAST] ... quatro
quatro sítios padrões: sí-
focada (FAST- Focused Lisciandro, 2013). no pericárdio, pela vi- tio hepatodiafragmático
são subxifoidea, ainda
sítios padrões: sítio (SHD), projetado na
Asssesment Sonography for FAST abdominal não foram avaliadas em
hepatodiafragmático região subxifoidea, com
Trauma) (A-FAST) cães ou gatos (Boysen e
(SHD), projetado na o objetivo de avaliar a
Lisciandro, 2013).
região subxifoidea, interface hepatodiafrag-
A ultrassonografia na avaliação do O traumatismo abdominal causa
A capacidade para
com o objetivo de mática, a integridade da
traumatismo abdominal em humanos com frequência lesões associadas a he-
detectar lesão intra-
avaliar a interface vesícula biliar, o saco pe-
foi descrita pela primeira vez em 1971. moperitônio, e a ultrassonografia focada
-abdominal pode ser
hepatodiafragmática, a ricárdico e o espaço pleu-
O uso do FAST tem sido considerado o (FAST) parece ser a técnica com me-
limitada na admissão
integridade da vesícula ral; sítio esplenorrenal
mais importante avanço na avaliação ini- lhor custo/benefício para a detecção de
do paciente se o tempo
biliar, o saco pericárdico (SER), localizado cra-
cial abdominal não invasiva de pacien- pequenas quantidades de líquido livre
entre o trauma e a ava-
e o espaço pleural; sítio nial ao flanco esquerdo e
tes com trauma (Patel e intra-abdominal. Esse
liação ultrassonográfica
esplenorrenal (SER), abrangendo as áreas en-
Riherd, 2011; Santoset al.,
O traumatismo líquido pode se acu-
não foi o suficiente para
localizado cranial tre baço, parede abdomi-
2012). Tornou-se o teste
abdominal causa mular em diferentes
o acúmulo de líquido
ao flanco esquerdo e nal e rim esquerdo;sítio
de diagnóstico inicial de
com frequência locais do abdômen e a
significativo. Vários es-
abrangendo as áreas cistocólico (SCC), ava-
escolha em humanos para
lesões associadas a ecogenicidade varia de
tudos têm mostrado
entre baço, parede liado em região abdomi-
a avaliação não invasiva
hemoperitônio, e a acordo com o conteú-
que a sensibilidade da
abdominal e rim nal caudal para vizibili-
da presença de líquido
ultrassonografia focada do celular. No caso de ultrassonografia para
esquerdo;sítio cistocólico zação de líquido entre
livre peritoneal, pleural e
(FAST) parece ser a hemoperitônio,pode
detectar fluido intrape-
(SCC), avaliado em as alças intestinais e a
pericárdico em pacientes
técnica com melhor parecer ecogênico
ritoneal é relativamente
região abdominal caudal bexiga, além da integri-
instáveis e estáveis após
custo/benefício para a inicialmente devido
proporcional à quanti-
para vizibilização de dade dela; e sítio hepa-
traumatismo, uma vez
detecção de pequenas à presença de células
dade de fluido livre na
líquido entre as alças torrenal (SHR),cranial
que o exame clínico pode
quantidades de líquido eritrocitárias (Moon e
cavidade, especialmen-
intestinais e a bexiga, ao flanco direito para
não ser confiável devido à
livre intra-abdominal. Biller, 2008).
te quando o operador
além da integridade avaliar as áreas entre fí-
dor ou à sedação (Boysen O exame envolve a
é inexperiente. Dessa
dela; e sítio hepatorrenal gado, parede abdominal
e Lisciandro, 2013). visibilização do diafragma, do fígado, da
maneira, a repetição
(SHR),cranial ao flanco e rim direito (Figura
O uso da FAST em medicina vete- vesícula biliar, do baço, dos rins, das al-
seriada da avaliação ul-
direito para avaliar as 4) (Lisciandro, 2011;
rinária é recente quando comparado ao ças intestinais e da bexiga urinária e tem
trassonográfica pode
áreas entre fígado, parede Boysen e Lisciandro,
uso em medicina. A técnica foi adaptada como objetivo identificar rapidamente
atingir o tempo neces-
abdominal e rim direito 2013).
da humana e, além de ser utilizada em líquido livre e ar no espaço peritone-
pacientes traumatizados, em veteriná- al dos pacientes com traumatismo. A sário para acumular a A sensibilidade e a
ria, a indicação inclui pós-cirúrgicos avaliação do sítio hepatodiafragmático quantidade suficiente de líquido para especificidade da FAST para detecção
imediatos, hipotensão sem causa defi- pelo acesso subxifoide, com maior pro- ser visibilizado na cavidade abdominal, de líquido livre são altas mesmo quan-
nida e abdômen agudo. Consiste em vi- fundidade, permite a detecção de fluido aumentando a sensibilidade da técnica do esta é realizada por profissionais que
sibilizar sítios estratégicos no abdômen livre nos espaços pleurais e pericárdico (Blackbourneet al., 2004). não são especialistas na área de diag-
e no tórax, no intuito de localizar líqui- durante o exame. No entanto, a sensibi- O tempo médio para realizar FAST nóstico por imagem (Santoset al., 2012;
do livre e/ou ar no espaço peritoneal e lidade e a especificidade de detecção de em cães é de 3 a 6 minutos, utilizando os Boysen e Lisciandro, 2013).
112 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 7. Ultrassonografia intervencionista e focada (FAST) 113
Um estu- que, em conjun-
A B
do prospectivo to com outros
na veterinária achados do exa-
demonstrou o me clínico, pode
valor da FAST ab- ajudar a decisões
dominal seriada clínicas terapêu-
em conjunto com ticas. A FAST
a quantificação abdominal deve
do líquido livre ser realizada a
abdominal em es- cada quatrohoras
Figura 5. Ultrassonografia do abdômen de um cão com sítios cistocólicos (A) e hepatodiafragmáti-
core (abdominal ou mais frequen- co (B) positivos, representados por líquido anecogênico adjacente à bexiga e aos lobos do fígado,
fluid score-AFS). temente, se os respectivamente.
O AFS é facil- achados clínicos
mente consegui- ditarem o con- FAST torácico (T-FAST) quanto no saco pericárdico (Lisciandro
do registrando- trário (Boysen et al., 2008).
A avaliação ultrassonográfica do tó- Na avaliação ultrassonográfica to-
-se o número de e Lisciandro, rax deve ser realizada em quatro sítios rácica, as costelas são identificadas por
sítios entre os 2013). estratégicos (Figura 6): sítio torácico suas sombras acústicas posteriores que
quatro em que é Hemoabdome esquerdo e direito, localizado entre o impedem a visibilização das estruturas
Figura 4.Representação dos sítios para a realiza-
detectado líquido ção do FAST abdominal (A FAST). e uroabdome são sétimo e o nono espaço intercostal, em
livre com o ani- as duas lesões mais profundas. Entre
SCC: sítio cistocólico; SER: sítio esplenor- região dorsal; e sítio elas é possível visibilizar
mal em decúbito renal; SHR: sítio hepatorrenal; SHD: sítio mais frequentes pericárdico direito e FAST torácico a linha pleural hipereco-
lateral. O AFS 0 hepatodiafragmático. em cães que so- esquerdo, visibilizado (T-FAST) gênica. Essa linha resul-
representa todos frem de trauma- entre o quinto e o sex- A avaliação ta do encontro da pleura
os sítios negativos; tismo abdominal.
(Abdominal fluid score- to espaço intercostal, ultrassonográfica do visceral com a parietal, e
AFS 1, um sítio posi-
AFS). O AFS é facilmente Não sendo possível em região ventral do tórax deve ser realizada a sua cintilância se deve
tivo; AFS 2, positivo diferenciar a carac-
conseguido registrando-se tórax. O exame pode em quatro sítios ao deslizamento entre
em quaisquer dois terística do fluido
o número de sítios entre os ser executado tanto em estratégicos (Figura 6): elas (Neto et al., 2012).
sítios; AFS 3, posi- abdominal livre pela
quatro em que é detectado decúbito esternal quan- sítio torácico esquerdo e O aspecto normal pre-
tivo em quaisquer ultrassonografia,
líquido livre com o animal to lateral. Em alguns direito, localizado entre cisa ser familiar antes
três sítios; e AFS 4,
em decúbito lateral. O AFS recomenda-se a as- casos, pode-se utilizar o sétimo e o nono espaço que se possa detectar e
positivo em todos
0 representa todos os sítios piração e a análise o sítio HD pertencen- intercostal, em região decifrar o anormal de
os quatro sítios. Na laboratorial do con-
negativos; AFS 1, um sítio te ao FAST abdominal dorsal; e sítio pericárdico forma segura e confiá-
avaliação seriada, é
positivo; AFS 2, positivo em teúdo em pacientes também na avaliação direito e esquerdo, vel (Mannion, 2010).
possível documentar que são FAST po-
quaisquer dois sítios; AFS torácica. O objetivo é visibilizado entre o O achado normal e fun-
a progressão ou a re-
3, positivo em quaisquer três sitivos (Boysen e identificar a presença de quinto e o sexto espaço damental no exame de
solução de hemorra-
sítios; e AFS 4, positivo em Lisciandro, 2013) líquido e/ou de ar tan- intercostal, em região ultrassom pulmonar é
gia intra-abdominal, (Figura 5).
todos os quatro sítios. to na cavidade torácica ventral do tórax. o deslizamento pleural,
114 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 7. Ultrassonografia intervencionista e focada (FAST) 115
Figura 7. Ultrassonografia FAST de um felino em sítio pericárdico. Nota-se presença de líquido entre
o saco pericárdico (seta) e o coração, bem comode líquido livre (LL) no espaço pleural, relacionada à
efusão pericárdica e à efusão torácica, respectivamente.
todo rápido para avaliar outros ferimen- of ultrasound for dogsandcats in the emergen-
cyroom: AFAST and TFAST. The Veterinary
Figura 6.Representação dos sítios para a realização do FAST torácico (T FAST). SP: sítio pericárdico tos torácicos em cães traumatizados. clinicsof North America: Small animal practice,
direito; ST: sítio torácico direito e esquerdo; SHD: sítio hepatodiafragmático. Em um estudo com pacientes avaliados v. 43, n. 4, p. 773-797, 2013.
utilizando-se o protocolo padrão FAST 3. LANG, J. Diagnóstico por Imagem do Abdome
queconsiste na movimentação em ciclos mais comum e a mais facilmente diag- torácico, os resultados mostraram uma Geral. In: MANNION, P. Ultrassonografia de
regulares da pleura parietal e pulmonar nosticada, e o ultrassom pode ainda ser sensibilidade geral de 78%, especificida- Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Revinter,
2010. p 38-49.
juntamente com o artefato de reverbe- utilizado como guia para a obtenção de de de 93% e 90% deprecisão da FAST
ração, acompanhando os movimentos amostras do líquido para a avaliação ci- em relação ao exame radiográfico do tó- 4. LISCIANDRO, G.R. Abdominal and thoracic
respiratórios (Neto et tológica (Powell, 2007). focused assessment with sonografy for trau-
rax para avaliação pós-traumatismo no ma, triage, and monitoring in small animal.
al., 2012). A ultrassonografia diagnóstico de pneumotórax e efusão Journal of Veterinary Emergency and Critical
A efusão pleural é o Care. v. 21, n.2, p. 104-122, 2011.
Doenças da cavi- também é muito efeti- pleural (Lang, 2010).
problema mais comum
dade torácica, especial- va para descartar rapi-
e a mais facilmente 5. LISCIANDRO, G.R.; LAGUTCHIK. M.S.;
mente do espaço pleural
diagnosticada, e o damente o pneumotó- Referências MANN, K.A.et al. Evaluation of a thoracic fo-
cused assessment with sonography for trauma
e do coração, podem ser rax, pois a presença de
ultrassom pode ainda 1. BLACKBOURNE L.H., SOFFER (TFAST) protocoltodetectpneumothorax
evidenciadas com a uti- deslizamento pleural D.,McKENNEY M., et al. Secondary ultra- and concurrent thoraci cinjury in 145 trauma-
ser utilizado como guia sound examination increases the sensitivity of tizeddogs.Journal of Veterinary Emergency and
lização da ultrassono- exclui esse diagnóstico
para a obtenção de the FAST exam in blunt trauma. J Trauma,v. Critical Care. v. 18, n.3, p.258-269, 2008.
grafia (Figura 7). A efu-
amostras do líquido para (Netoet al., 2012). A ul-
57, p. 934–938, 2004.
são pleural é o problema trassonografia é um mé- 6. MOON, M.; BILLER,D. Diagnóstico ultras-
a avaliação citológica. 2. BOYSEN, S. R.; LISCIANDRO, G. R. The use sonográfico em traumas torácicos e abdomi-
116 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 100 - agosto 2021 7. Ultrassonografia intervencionista e focada (FAST) 117
nais. In TELLO,H.T.Trauma em cães e gatos.
São Paulo: MedVet Livros, 2008. Cap. 7 p.
73-82.