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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA


PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

ADAPTAÇÕES CURRICULARES NA EDUCAÇÃO ESPECIAL:


COMO ASSEGURAR ESSE DIREITO AO PORTADOR DE
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS?

Por: Alice Maria de Jesus

Orientador: Profª. Maria Esther de Araújo


Co-orientadora: Profª Giselle Böger Brand

Rio de Janeiro
2016
GE 41 41

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

ADAPTAÇÕES CURRICULARES NA EDUCAÇÃO ESPECIAL:


COMO ASSEGURAR ESSE DIREITO AO PORTADOR DE
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS?

Alice Maria de Jesus

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre


– Universidade Candido Mendes como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em Educação
Especial e Inclusiva.

Orientador: Profª. Maria Esther de Araújo


Co-orientadora: Profª Giselle Böger Brand

Rio de Janeiro
2016
GE 41 41

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me dado ânimo e


coragem para concluir este trabalho, à
minha família pelo apoio e às orientadoras
pelas diretrizes para a elaboração deste
trabalho monográfico.
GE 41 41

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos alunos que neste meu


trajeto como professora pude aprender a vê-los
como capazes mas também pude perceber que
eles precisam ser vistos e compreendidos em
suas deficiências.
GE 41 41

RESUMO

O presente trabalho tem como referencial a pesquisa e reflexão sobre o processo da


inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais no sistema regular de
ensino através das adaptações curriculares. A educação é uma questão de direitos
humanos assegurada pela Constituição Federal de 1988 e várias outras leis.
Houve um considerado avanço quanto à criação de leis que regularizam o processo
de inclusão nos estabelecimentos de educação, especialmente na rede regular de ensino,
com oferta de atendimento educacional especializado. As pessoas com necessidades
educacionais especiais devem fazer parte das escolas, as quais devem se adaptar para
incluir todos os alunos e lhes permitir uma real educação de acordo com suas
possibilidades e capacidades. As adaptações curriculares necessárias são quanto aos
objetivos, conteúdos, metodologias, didática, organização curricular, temporalidade e
avaliação. A inclusão se efetiva quando a escola possui profissionais capacitados para
atuar com alunos com necessidades educacionais especiais, sendo assim as instituições
devem oferecer desde a formação inicial condições para o educador aliar a teoria à
pratica dentro do contexto educacional que cada dia é mais diversificado.
GE 41 41

METODOLOGIA

A pesquisa será desenvolvida através de pesquisa bibliográfica e documental, de


acordo com o apresentado nas referências, estudando o percurso da história da educação
inclusiva até a atualidade, explicando a concepção de inclusão e analisando o conceito
de adaptações curriculares e seu impacto na educação dos alunos portadores de
necessidades educacionais especiais.
A elaboração da pesquisa será realizada no campo teórico, através da análise de
legislação e das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial, livros, artigos
científicos e bibliografias que abordem o tema, fazendo uma leitura e comparação das
leis e sua implicação, objetivo, implantação e cumprimento dentro da perspectiva da
inclusão. Por fim, outra estratégia adotada, e não menos importante, foi a busca de
artigos e livros por meio de autores ou de referências consideradas clássicas da
literatura. Essa busca privilegiará autores conhecidos: Carneiro, Fávero, Stainback,
Mantoan e Mazzota, que desenvolvem trabalhos nessa área. A metodologia utilizada de
revisão bibliográfica visa validar a pesquisa como um procedimento reflexivo
sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações
ou leis, em qualquer campo do conhecimento (ANDER-EGG apud LAKATOS).
SUMÁRIO

Introdução..................................................................................................................pg 07
Capítulo 1- O que é Educação Especial e sua importância no Sistema Regular de
Ensino........................................................................................................................pg 09
Capítulo II- A Educação Especial no Brasil..............................................................pg 15
Capítulo III- Adaptações Curriculares.......................................................................pg 22
3.1- Curríulo...............................................................................................................pg24
3.2- Adaptações de Acessibilidade Metodológicas e Arquitetônicas........................pg25
3.3- Adaptações Curriculares quanto aos objetivos e conteúdos........................... ...pg26
3.4- Adaptações Curriculares quanto à Didática........................................................pg27
3.5- Adaptações Curriculares quanto à avaliação.......................................................pg27
3.6- Adaptações Curriculares quanto à organização curricular..................................pg28
Capítulo IV- Formação Docente.................................................................................pg30
Conclusão....................................................................................................................pg36
Referências..................................................................................................................pg40
Webgrafia....................................................................................................................pg41
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem por tema Educação Inclusiva e adaptações


curriculares. Está centrado na problemática de ‘Como as adaptações curriculares
contribuem para o processo de inclusão das pessoas com necessidades educativas
especiais?’. A escolha do tema se baseou na necessidade da compreensão sobre a
educação inclusiva e o cumprimento de tal através da aplicação e cumprimento da
legislação que favorece aos alunos com necessidades educativas especiais (PNEs),
sendo uma delas a as adaptações curriculares como forma de assegurar o aprendizado
desses alunos.
Os princípios norteadores dos sistemas educacionais modernos implicam a
democratização de acesso ás escolas, a gestão participativa e a qualidade de ensino, a
formação continuada de seus professores e a garantia de atendimento aos alunos
“excluídos” do sistema educacional, respeitando as diferenças culturais, étnicas e
sociais. E por que não assegurar esse direito também ao aluno com necessidades
educativas especiais?
A educação é uma questão de direitos humanos, e as pessoas com deficiências,
altas habilidades e transtornos globais de comportamento devem fazer parte das escolas,
as quais devem modificar seu funcionamento para incluir todos os alunos. São estas as
diretrizes internacionais, como foi apresentado na Conferência Mundial de 1994 da
UNESCO sobre Necessidades Educacionais Especiais (Liga Internacional das
Sociedades para Pessoas com Deficiência Mental, 1994).
Diante desta demanda há um novo desafio para a escola, professores, pedagogos e
psicopedagogos: a necessidade (e validade) da inclusão. Isso só acontecerá quando a
escola (dizemos aqui corpo docente e escola como sistema) fizer as devidas adequações
e adaptações arquitetônicas, curriculares, metodológicas e afins, para promover a
aprendizagem dos alunos com necessidades educativas especiais (NEEs). A
Educação Especial não substitui a educação regular, pelo fato de ser uma modalidade
educacional que faz parte desta, é direito de todos e dever constitucional do Estado
assegurando aos educando com necessidades educativas especiais, “atendimento
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino.” (Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988). A
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Educação Especial não é um sistema educacional autônomo, independente, consiste em


um conjunto de instrumentos, recursos e serviços especiais que são disponibilizados
para atender apropriadamente aos educandos com necessidades educativas especiais, ou
seja, ela é mediada pela educação comum.
O presente projeto tem como objetivos analisar as adaptações curriculares e seus
efeitos no âmbito da educação inclusiva. Está analise será feita mediante a pesquisa da
legislação e das Diretrizes Nacionais para a Educação Inclusiva. Será realizado também,
estudo bibliográfico sobre a legislação que ampara o aluno com necessidades educativas
especiais no âmbito da escola pública e privada e levantamento, estudo e reflexão sobre
as adaptações curriculares.
No capítulo I será esclarecido a especificação do termo e significado dentro do
sistema regular de educação. Como surgiu o termo, qual o objetivo da Educação
Especial e a legislação que assegura o direito de Educação Especial aos alunos com
necessidades educacionais especiais (NEEs) e a diversidade da comunidade escolar.
No capítulo será traçado um caminho que a Educação Especial percorreu no
Brasil até os dias atuais desde a Idade Média, quando as deficiências eram associadas à
religião, passando pelo caráter médico, a criação das primeiras instituições que são
referências nos dias atuais e as primeiras formas de investimento do governo, além da
criação de mais leis que visem a inclusão.
Finalmente no capítulo III começará a especificação sobre o tema escolhido
deste trabalho monográfico, apresentando de forma geral o que é adaptação curricular,
seu significado e o que a legislação designa com adaptações curriculares, em quais
dimensões ela deve ocorrer e a obrigatoriedade dos sistemas de ensino em fazê-la.
Também serão estudadas as adaptações quanto ao currículo, acessibilidade
metodológicas e arquitetônicas, objetivos e conteúdos, didática e currículo.
No capítulo IV será enfocada a importância e necessidade do professor ser
capacitado para trabalhar com alunos com necessidades educacionais especiais desde a
sua formação inicial e da possibilidade da formação continuada atuar como
complementar a essa carência.
A conclusão apresentará a síntese de todo o trabalho monográfico, destacando os
pontos importantes, resumindo o conteúdo do trabalho. Nas referências serão
apresentados os autores, livros, artigos, consultas à textos da Internet ou qualquer outra
fonte que foi utilizada para a elaboração deste trabalho monográfico.
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CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO ESPECIAL E QUAL A SUA IMPORTÂNCIA
NO SISTEMA REGULAR DE ENSINO

Assim como a inclusão social, a educação especial é desconhecida por uma


parcela da sociedade, que não a dissocia do parecer clínico, o sentido atribuído a
educação especial, ainda hoje, tem sido o de assistência a deficientes e não de educação
de alunos que apresentem alguma necessidade educacional especial. Ou ainda
confundem inclusão com integração, já que o objetivo da integração é inserir um aluno,
ou um grupo de alunos, que se encontrara excluído, quando a inclusão, ao contrário,
busca não deixar nenhum aluno sem o ensino regular, desde o começo da vida escolar.
Não se sabe se é pelo fato da inclusão da “educação de deficientes”, da “educação dos
excepcionais” ou da “educação especial” na política educacional brasileira passar a
ocorrer somente no final dos anos cinqüenta e início da década de sessenta, no século
XX e mais efetivamente a partir da década de 80, a Educação Especial é definida
atualmente como:
Processo educacional definido processo por uma proposta pedagógica que
assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente
para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos substituir os serviços
educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o
desenvolvimento das potencialidades dos educandos especiais, em todas as etapas e
modalidades da educação básica.
Foi a partir da Declaração de Salamanca (UNESCO 1994) que se iniciou a
discussão acerca da escola inclusiva. Alicerçada nessa idéia a Lei de Diretrizes e Base
para a Educação Nacional, Lei nº 9.394/96 em seu artigo 4, inciso III, enfatiza a
obrigatoriedade do Estado em oferecer ensino especializado aos educandos com
necessidades educacionais especiais, preferencialmente na rede regular de ensino.
A Educação Especial não visa somente oferecer vagas para os alunos com
necessidades educacionais especiais, ela almeja desenvolver as potencialidades desses
alunos, assim também como possibilitar-lhes o convívio e a interação com os demais
alunos.
"O que define o especial da educação não é a dicotomização e a
fragmentação dos sistemas escolares em modalidades diferentes,
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mas a capacidade de a escola atender às diferenças nas salas de


aula, sem discriminar, sem trabalhar à parte com alguns, sem
estabelecer regras específicas para se planejar, para aprender,
para avaliar (currículos, atividades, avaliação da aprendizagem
especial). (...) Em outras palavras, este especial qualifica as
escolas que são capazes de incluir os alunos excluídos,
indistintamente, descentrando os problemas relativos à inserção
total dos alunos com deficiência e focando o que realmente
produz essa situação lamentável de nossas escolas".
(Mantoan: http://www.lerparaver.com/bancodeescola.)

A educação inclusiva ajuda no desenvolvimento físico e intelectual dos alunos


especiais, estimula valores como respeito e companheirismo entre os demais alunos e os
permite aos professores terem um melhor desempenho profissional ao aluno com
diferenças na sala de aula (Informativo MEC).
Olhando por este prisma, espera-se que as escolas inclusivas funcionem como
fontes de germinação para a construção de um sistema educacional inclusivo.
É importante lembrar que a Educação Especial não substitui a educação regular,
pelo fato de ser uma modalidade educacional, o que se espera através da Educação
Especial é a garantia de educação para todos os alunos que possuam qualquer
necessidade educacional especial, de preferência que esse acesso seja em classes
comuns na rede regular de ensino.
As escolas inclusivas propõem um modo de organização do sistema educacional
que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas
necessidades.
Na constituição de 1988, foram aprovados vários dispositivos direcionados aos
direitos das pessoas com necessidades especiais, destacando-se na Educação o Inciso
III, do artigo 208 prevê: Atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.
De acordo com a concepção inclusiva e na lei, atendimento especializado deve
estar disponível em todos os níveis de ensino, de preferência na rede regular, desde a
educação infantil até a universidade. A escola comum é o ambiente mais adequado para
se garantir o relacionamento dos alunos com ou sem deficiência e de mesma idade
cronológica, a quebra de qualquer ação discriminatória e todo tipo de interação que
possa beneficiar o desenvolvimento cognitivo, social, motor, afetivo dos alunos, em
geral.
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Outros documentos legais, de igual importância que sucederam a Constituição,


também surgiram para reafirmar o direito a educação para a pessoa com necessidades
especiais. Podem ser citados alguns destes:
● Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação especial
(SEESP/MEC/2001);
● Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96;
● Declaração de Salamanca – Documento fruto do consenso internacional enfatiza
a escola como inclusiva. Princípios e recomendações que buscam assegurar a
educação como direito de todos.
● Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (MEC/2001)
– Este documento visa orientar a organização do trabalho pedagógico quanto à
inserção dos alunos no sistema regular de ensino, apontando estratégias para
adaptações curriculares.
● Estatuto da criança e do adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90;
● Diretrizes Curriculares para a Educação Especial (MEC/2001)
A educação como direito para todos é obrigação do Estado como cita o artigo da
Constituição Federal de 1988. E a LDB em seu artigo 58, parágrafo 3º, salienta que
deve a educação ter início na faixa etária de zero a seis anos.
Sendo que esse ensino deve ser o menos excludente possível, pois quando a
Constituição Federal garante educação para todos, assim o deve ser. Assim a rede
regular de ensino deve atender ao proposto pela Constituição Federal e a outras
legislações pertinentes, não podendo manifestar qualquer atitude de exclusão,
utilizando-se de recursos adequados para a inclusão destes alunos em sala de aula.
Como aponta Mittler (2003):

A inclusão não diz respeito a colocar as crianças nas escolas regulares,


mas a mudar as escolas para torná-las mais responsivas às necessidades
de todas as crianças; diz respeito a ajudar todos os professores a
aceitarem a responsabilidade quanto à aprendizagem de todas as
crianças nas suas escolas e prepará-los para ensinarem aquelas crianças
que estão atual e correntemente excluídas das escolas por qualquer
razão (p.16)

Para que a escola se torne uma escola inclusiva, implicará em uma nova
postura que deverá ser assumida pela mesma, propondo em seu projeto político
pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na forma de avaliação e de suma
importância nas atitudes dos educadores e dos demais educandos, ações que permitam a
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integração no ambiente escolar. Quando verdadeiramente há inclusão na escola, ela se


adapta para atender as necessidades de todos, independentes das necessidades que
possam apresentar, e não de um grupo seleto, trazendo grupos excluídos para dentro da
escola. De acordo com Sartoretto:

“Se consultarmos o dicionário, verificamos que a palavra incluir


significa compreender, abranger, fazer parte, pertencer, processo que
pressupõe, necessariamente e antes de mais nada, uma grande dose de
respeito. A inclusão só é possível lá onde houver respeito à diferença
e, conseqüentemente, a adoção de práticas pedagógicas que permitam
às pessoas com deficiências aprender e ter reconhecidos e valorizados
os conhecimentos que são capazes de produzir, segundo e na medida
de suas potencialidades. Qualquer procedimento, pedagógico ou
legal, que não tenha como pressuposto o respeito à diferença e a
valorização de todas as possibilidades da pessoa deficiente, não é
inclusão.”

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei nº


9394/96, é assegurado ao aluno com necessidades educacionais especiais, atendimento
educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (título III, artigo
4º, inciso III) exceto quando não for possível a integração do aluno nas classes comuns
de ensino regular, que se fará sua inserção em classes ou escolas especializadas
(capítulo V, artigo 58, parágrafo 2º). Isto está previsto no artigo 8 da Declaração de
Salamanca, somente quando a classe regular não atender as necessidades e
especificidades da deficiência do aluno, é que ele deverá ser encaminhado para uma
escola especial.
Conclui-se que, somente quando a escola não dispuser de um currículo que
atenda às necessidades especiais dos alunos, é que poderão estudar em escolas especiais,
que tenham um currículo específico que atenda a necessidade especial dos alunos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) recomendam a diversidade da
comunidade escolar, baseando-se no pressuposto de que as adaptações curriculares
ocorridas na escola podem atender às necessidades particulares de aprendizagem dos
alunos. Contudo, considerando que essa atenção a diversidade seja concretizada através
de medidas que não levem em conta somente as capacidades intelectuais e
conhecimentos dos alunos, mas também considere seus interesses e motivações.
Essa atenção enfatizada pelos PCN’s está pautada no direito de acesso a escola,
e visa à melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos, sem restrições, e as
perspectivas de desenvolvimento e socialização. Espera-se que a escola vendo as
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necessidades especiais dos alunos, não as tomando como obstáculos, mas como fatores
de enriquecimento, consolidem o respeito às diferenças e vetem a desigualdade em seu
âmbito.
Quando se fala em diversidade na comunidade escolar, há uma gama de
características que se enquadram ao termo. De acordo com os Parâmetros Curriculares
Nacionais para a educação especial (SEESP/MEC/2001), necessidades educacionais
podem ser identificadas em diversas situações (não necessariamente vinculadas a
deficiências) decorrentes de fatores variados como condições individuais, econômicas
ou socioculturais dos alunos, como por exemplo, alunos com altas habilidades, condutas
típicas, condições físicas diferenciadas, menores de rua, menores trabalhadores, crianças
pertencentes a minorias lingüística, étnicas ou culturais e etc. Porém o termo
necessidades educacionais especiais no corpo deste texto se refere aos alunos com
dificuldades físicas e mentais.
Toda essa diversidade de alunos com suas deficiências e peculariedades deve
ser bem vinda na escola regular, não por simples obrigação prevista na legislação, mas
acima e antes de tudo pensando no processo de inclusão.
O termo necessidades educacionais especiais, que atualmente se refere aos
vários fatores sociais, físicos ou econômicos que interferem diretamente no aprendizado
do educando surgiu para evitar efeitos negativos causados pelo emprego de termos e
expressões que estigmatizam, rotulavam, classificavam e disseminavam idéias
preconceituosas e pejorativas em relação as pessoas com necessidades educacionais
especiais no contexto social e educacional.
Durante a conferência internacional na Espanha em 1994 que deu origem a
Declaração de Salamanca, foi retificado o termo crianças, jovens a adultos com
necessidades educacionais especiais. No Brasil desde 1986, este termo já era empregado
e posteriormente surgiu em alguns documentos como a Lei de Diretrizes e Bases para a
Educação Nacional, na Política Nacional de Educação Especial e nas Diretrizes
Curriculares para a Educação Especial, o termo portadores de necessidades
educacionais especiais (PNEE).
Alguns desses termos – excepcionais, deficientes, anormais, superdotados,
incapacitados etc. – ainda são utilizados por algumas pessoas e até mesmo por alguns
autores em seus livros quando se refere às pessoas com alta habilidade cognitiva ou com
alguma deficiência física, psíquica ou sensorial.
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O grande desafio para a educação inclusiva é ensinar o aluno com


necessidades educacionais especiais com os demais, sendo isto viável na rede regular de
ensino a inclusão deixará de ser uma filosofia ou ideologia e se tornará ação concreta
para os alunos com necessidades educacionais especiais. Quando a inclusão
verdadeiramente acontece à escola se adapta para atender às necessidades de todos, e
não apenas de um grupo.
É importante lembrar que a Educação Especial não substitui a educação
regular, pelo fato de ser uma modalidade educacional, o que se espera através da
Educação Especial é a garantia de educação para todos os alunos que possuam qualquer
necessidade educacional especial, de preferência que esse acesso seja em classes
comuns na rede regular de ensino.
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CAPÍTULO II
A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL

Refletindo sobre a história da Educação Especial no Brasil, percebemos através


de documentos e livros que o processo de implantação e evolução do atendimento
educacional especial se caracterizou de forma diferente dos países europeus e norte-
americanos. Enquanto que aqui a fase de negação, negligência ou omissão perdurou até
início da década de 1950, em outros países durou somente até o século XVII.
A Educação Especial no Brasil (infelizmente) também teve seus precedentes
impregnados por um caráter discriminatório, de cunho assistencialista e segregador.
Durante a Idade Média os portadores de necessidades especiais tinham a sua deficiência
associada a valores sociais, filosóficos, éticos e principalmente a religião, em
conseqüência a isso eram incluídos na classe dos loucos, criminosos ou considerados
“possuídos pelo demônio” e assim afastados da sociedade, isoladas em prisões,
ambientes de proteção e hospitais, justificados todos esses atos pela religiosidade,
ignorância, piedade e rejeição.
Somente na fase do renascimento, no século XVII, quando a ciência médica
tomou lugar junto às explicações sobre as pessoas com necessidades especiais que estes
começaram a serem olhados através de uma perspectiva humanística, embora, ainda não
muito aceitável e marcada pelo atendimento clínico.
Outro fator que reforçou esse caráter discriminatório foi o descaso com esse
grupo da sociedade. A Constituição de 1824 determinava a instrução primária gratuita
para toda população. No entanto apenas 2% da população tinham acesso à educação,
para as pessoas com deficiências ou “os desfavorecidos” não produzia efeito algum, por
isso somente as elites tinham esse direito. Houve descaso não apenas com a Educação
Especial, mas com a educação de forma geral, já que a população predominante era
rural e a educação não era vista como importante e necessária também para este outro
grupo da sociedade.
Ainda no período do Brasil Colônia, foi criado em São Paulo ma Irmandade da
Santa Casa de Misericórdia, uma forma de atendimento para os deficientes físicos,
porém destinada àqueles que tinham uma deficiência de maior percepção pela
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sociedade, considerada mais severa, esse proceder excluía os deficientes mentais e as


pessoas com deficiências “leves”.
Após dois séculos de “silêncio”, em 1854 foi fundado através de iniciativas
particulares isoladas por D. Pedro II, o Imperial Instituto dos meninos cegos, atual
Instituto Benjamim Constant (IBC), três anos após foi fundada no Rio de Janeiro o
Instituto dos surdos-mudos, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos.
Em 1874 foi criada em Salvador uma instituição particular junto ao Hospital
Juliano Moreira e outra em 1887 no Rio de Janeiro, para atendimento ao deficiente
mental, já que a educação popular não era vista como necessária, o que dificultava
muito o diagnóstico da deficiência. Nesse período a medicina era muito enfocada
política e socialmente como área de maior expansão, então a classe médica assumiu a
preocupação com os deficientes, somando esta preocupação a campanhas de saúde
pública, caracterizando esse período pelo assistencialismo clínico.
De acordo com a idéia de Jannuzzi (1992), este período da história da educação
especial no Brasil esteve dividido em duas vertentes, a saber: a médica-pedagógica e a
psicopedagógica.

Vertente médico-pedagógica: mais subordinada ao médico, não só na


determinação do diagnóstico, mas também no âmbito das práticas
escolares [...]
Vertente psicopedagógica: que não independe do médico, mas
enfatiza os princípios psicológicos [...]. (Jannuzzi, 1992:59)

Os médicos foram os primeiros a estudar o caso de deficiências, criando


instituições para crianças junto a sanatórios psiquiátricos. Após a criação de serviços de
higiene, o interesse dos médicos pelas pessoas com deficiência aumentou mais ainda,
culminando com o surgimento do serviço de Inspeção médico-escolar em alguns
estados. A idéia de deficiência era associada a doença e geralmente atribuída à sífilis,
tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis, pobreza e falta de higiene.
Durante este período os especialistas da área médica se destacaram e podendo
até mesmo interferir no currículo e diagnóstico. Apesar das preocupações pedagógicas
(que eram poucas), o ensino especial era influenciado diretamente pela perspectiva
especialista de que o indivíduo precisava de melhoramentos segmentados em áreas.
(Silva, Llerena Jr. & Cardoso, 2002). Prevalecia o caráter terapêutico em detrimento do
pedagógico nos currículos escolares (Soares, 1990).
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Além do caráter assistencialista, a segregação também marcou esta fase, surgiu


nessa época a avaliação psicopedagógica, fundamentada na Psicologia e pelas reformas
nos sistemas educacionais e nos ideias da escola nova, tinha como finalidade “apontar”
os alunos que não eram considerados “capazes de receber instruções”, estes alunos eram
encaminhados para salas separadas sob a justificativa de receberem adaptações, porém
esse não era o único motivo, mas também afastar os alunos com deficiências dos
demais, os ditos “normais”. Neste período o uso de testes de inteligência passa a ser
difundido para identificar deficientes intelectuais.
Os ideais do movimento escola-novista eram baseados na crença no poder da
educação, no uso das pesquisas científicas, com o objetivo de reduzir as desigualdades
sociais e estimular a liberdade individual das crianças, através das reformas
educacionais assegurando educação como direito à todos de forma estatal, laica e
gratuito.
Foi neste momento histórico que professores psicólogos europeus vieram ao
Brasil para ministrar cursos para os professores nativos. Entre eles, destacou-se a
psicóloga russa Helena Antipoff, que muito influenciou no panorama nacional da
Educação Especial.
A partir das décadas de 20 e 30 do século XX, a Educação já estava mais voltada
para as necessidades especiais, mas seu caráter era de uma educação segregadora,
alicerçada na teoria de segregar para tratar os deficientes mentais. Nesse período muitas
instituições de caráter filantrópico assumiram a Educação Especial, devido à
inexistência de serviços especializados, muitas dessas instituições prevalecem até hoje.
Elas se fortaleceram com o decorrer do tempo, qualificando seus profissionais,
desenvolvendo seus métodos, currículos e projetos pedagógicos
Dentre as que mais se destacaram:
v Sociedade Pestalozzi – Fundada em 1932 por Helena Antipoff, que acreditava
veemente na necessidade e importância da educação especial;
v AACD – Associação de Apoio a Adolescente e Crianças com Deficiências,
criada em 1952 em São Paulo;
v Escola Luiz Braille, criada em 1952 no Rio grande do Sul;
v Associação de amigos do Autista (AMA)- nascida na década de 80, em São
Paulo, uma das primeiras organizações privadas que se dedicaram às pessoas
autistas.
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v APAE- Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, esse movimento surgiu


no Rio de Janeiro em 1954, estimulada pelos ideais de Helena Antipoff.
A APAE ainda é um dos maiores referenciais de educação para alunos com
necessidades educacionais especiais e atualmente conta com uma federação de mais de
2000 instituições no Brasil.
O Ministério da Educação também criou na década de 1950 campanhas
nacionais para a educação de pessoas com deficiência: Campanha para Educação do
Surdo Brasileiro (CESB), 1957; Campanha Nacional de Educação e Reabilitação dos
Deficitários Visuais (CNERDV), 1958; Campanha Nacional de Educação do Deficiente
Menta (Cademe), 1960. Essas campanhas foram criadas como prestação de assistência
técnica-financeira às secretarias de educação e instituições especializadas.
Somente á partir de 1960, surgiu à idéia de uma educação especial vinculada aos
sistemas de ensino, o que regularizou as funções dos serviços oferecidos com esta
finalidade, através de estratégias e parâmetros, como a Lei 4024/61 e 5692/71. No
Brasil a educação especial pôde fazer parte do sistema regular de ensino através da
aprovação da Lei nº 4.024/61 promulgada em 20 de dezembro de 1961, criando o
Conselho Federal de Educação. Pela primeira vez foi utilizado o termo “educação dos
excepcionais”.
Art. 88 - A educação dos excepcionais deve, no que for possível,
enquadrar-se no sistema geral da educação a fim de integrá-los na
sociedade.
Art. 89 – Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos
Conselhos Estaduais de Educação, e relativa à educação de
excepcionais receberá tratamento especial mediante bolsa de estudo,
empréstimos e subvenções.

A Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, define a clientela de educação especial, mas


dá enfoque aos problemas do fracasso escolar.

Art. 9: “Os alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os


que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de
matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de
acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de
Educação” (BRASIL, 1971).
O processo de expansão da escolaridade básica começa a se expandir apenas em
meados do século XX ainda de forma bastante lenta. Quanto à rede pública de ensino,
esta expansão se processa, de maneira mais significativa, a partir das décadas de 1970 e
19

1980. Até a década de 70 a educação das pessoas deficientes se dava geralmente em


instituições especializadas, atingindo um número bastante reduzido de alunos.
A partir da criação primeiro órgão responsável pela formulação e
acompanhamento de uma política de Educação Especial, em âmbito nacional – o Centro
Nacional de Educação Especial (CENESP/ MEC)- em julho de 1973, começa a ocorrer
a criação de setores especializados nas Secretarias de Educação. Após a criação desse
órgão, a implantação do atendimento educacional para alunos então considerado como
“excepcionais” abrangeu também as escolas regulares estaduais e municipais. Surgindo
as classes especiais, e outras modalidades educacionais, inclusive, o atendimento desses
educandos em classes comuns, baseado no ideal da Integração. No entanto ainda se via
bem claro a separação em dois sistemas, um regular e outro especial.
Atualmente temos diversas leis que amparam o aluno com necessidades
educacionais especiais, essas leis dispõem de dispositivos que estabelecem normas e
procedimentos quanto à inserção do aluno com necessidades educacionais especiais no
sistema regular de ensino, também prevêem adaptações que devem ocorrer nas escolas
para que as necessidades individuais de cada aluno sejam atendidas.
Em 1986 é criada a CORDE (Coordenadoria Nacional da Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência), Lei nº 7.853/89. A CORDE se fundamenta em várias ações
referentes à educação, à saúde, à profissionalização e defende os interesses das pessoas
com necessidades especiais.
Na Constituição de 1988, foram aprovados vários dispositivos referentes aos
direitos das pessoas com necessidades especiais, tanto na educação como em outras
áreas, sendo que na Educação, destaca-se o Inciso III, do Artigo 208, que define como
dever do Estado “o atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.
As constituições estaduais subseqüentes, e as leis orgânicas de alguns
municípios incorporaram o dispositivo constitucional e, em alguns casos, o
complementaram. Outros importantes documentos legais pós-constituição, como a Lei
nº 7.853/89, chamada “Lei da Integração”, e o Estatuto da Criança e Adolescente
(ECA), de 1990, reafirmaram o direito à Educação e a noção de integração social. O
Decreto nº 3298 de 1999 (que regulamentou a Lei nº 7853/89, que previa a oferta
obrigatória e gratuita de educação) prevê a opção pelas escolas especializadas.
Mas a que mais se destaca de todas essas legislações é a Declaração de
Salamanca (UNESCO, 1994) onde foram preconizadas as diretrizes da Educação Para
20

Todos, que tomaram força as discussões acerca da Escola Inclusiva, os avanços da


educação especial no Brasil parecem ter sido marcados com a divulgação deste
documento.
Esta proposta também se encontra no corpo da Lei nº 9.394/96 – de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, que define como dever do Estado o “atendimento
educacional especializado aos educandos com necessidades especiais ,
preferencialmente na rede regular de ensino” (Artigo n° 4, III), norteando as políticas
educacionais desde então, e oferecendo a base legal para a propagação da Educação
Inclusiva, e as ações que se seguiram.
A LDB lei 9394/96 quem define os encaminhamentos a serem realizados pelos
sistemas de ensino. As colocações presentes no corpo da LDB são para efetivar o
processo de inclusão, não como modismo, mas como direito a educação para todos os
alunos com qualquer necessidade educacional especial.
O movimento pela ampliação do acesso e qualidade para as pessoas com
necessidades especiais ganhou maior ênfase a partir da metade da década de 80. Em
países desenvolvidos, a inclusão é mais fácil de ser implantada, porque existem muito
mais recursos materiais e humanos e investimentos colocados à disposição das escolas.
No entanto ainda há muito que e fazer, investir e exigir para que esse
movimento venha se expandir. É importante ressaltar que a inclusão começa pela
família e pela escola, onde as crianças, os jovens e os adultos devem viver a experiência
de convivência com todos, em vez da segregação dos grupos isolados.

Dantino (1997, p.102). “... na educação ainda se reflete a ideologia


político-social de qualquer sociedade, há de se tentar compreender a
educação especial que hoje temos de conformidade com a sociedade
em que vivemos. Sociedade essa que tende a excluir as minorias e
delas esperar sempre muito pouco (...). Sabe que essa idéia de isolar e
segregar está presente em muitos que pensam na educação dos
portadores de necessidades educacionais especiais, por considerar que
a sua plena integração social jamais se consolidará em uma sociedade
competitiva que preconiza o desempenho, a produtividade, o vigor, a
beleza, etc.”

A história da Educação Especial no Brasil está marcada por momentos de


estagnação e avanços, quanto à legislação houve avanços, mas o real cumprimento das
leis deixa a desejar. Os alunos com deficiências não tem acesso a educação, seja porque
há poucas escolas que possam atender suas expectativas e possibilidades ou pela falta de
profissionais qualificados. Ainda há a predominância de instituições que acabam por
21

ainda manter a segregação de séculos atrás, muitas destas instituições ainda são aquelas
que surgiram quando o poder público matinha sua postura de descaso, para alguns pais
elas são o local onde encontram conforto e auxílio.
22

CAPÍTULO III

ADAPTAÇÕES CURRICULARES

Adaptação de acordo com o dicionário minidicionário Luft significa: Ajustar (-se);


amoldar (-se); acomodar (-se).
De acordo com o os Parâmetros Curriculares Nacionais, adaptações
curriculares podem ser entendidas como:

MEC/SEESP/SEB (1998 p.15), estratégias e critérios de atuação


docente, admitindo decisões que oportunizem adequar a ação
educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem do aluno,
considerando que o processo de ensino-aprendizagem pressupõe
atender a diversificação de necessidades dos alunos na escola.

Através das adaptações ocorridas no currículo que o aluno poderá ter acesso
aos conteúdos ensinados em sala de aula, toda escola que tem que prover adaptações
curriculares não somente arquitetônicas, mas também quanto aos objetivos, conteúdos,
metodologias, recursos, avaliação e didática, como estão previsto.

Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.


CNE/CEB, 2001. Artigo 8º, inciso III”... flexibilização e adaptações
curriculares, que considerem o significado prático e instrumental dos
conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos
diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento
dos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, em
consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitando a
freqüência obrigatória.”

Adaptações curriculares se referem ás mudanças e adequações necessárias ao


planejamento, objetivos, atividades, formas de avaliação, ou seja, no currículo como um
todo e também na acessibilidade ao mesmo.
O caminho para o atendimento às necessidades específicas de aprendizagem
dos alunos se inicia através das adaptações curriculares. No entanto, identificar as
“necessidades” requer que os sistemas educacionais modifiquem não apenas as suas
atitudes e expectativas em relação a esses alunos, mas que se organizem para construir
uma real escola para todos, dando conta dessas especificidades.
23

A escola que se propõe a oferecer educação, seja para qualquer faixa etária e
não dispuser de profissionais formados e orientados para trabalhar com essas crianças,
não poderá deixar de atender a essas crianças, pois ela ainda é obrigada a oferecer vaga
para elas e providenciar profissionais capacitados.
Quando se fala em oferecer vagas para os alunos com necessidades
educacionais especiais, não significa apenas colocá-lo em uma sala de aula no ensino
regular, isso seria integração, a escola deve ter como um dos princípios norteadores o
artigo 206, I, Confederação Federal de 1988.
“Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
Por “permanência” entendemos a participação do aluno com necessidades
educacionais especiais nas atividades escolares, seu desenvolvimento nas diversas áreas
e conhecimentos e seu desenvolvimento pessoal, contudo isso só será possível se a
escola entender o termo “condições” como esforço por sua parte para adequar seu
currículo às necessidades e possibilidades desses alunos.
O processo de inclusão necessita de ações eficazes que garantam o
desenvolvimento intelectual, social afetivo e profissional dos alunos. Esse processo
ainda está em construção, há muito a ser feito para que a Educação Especial esteja ao
alcance de todos os alunos que têm o direito à educação.

É importante destacar que as transformações exigidas pela inclusão


escolar não são utópicas e que temos meio de efetivá-las. Essas
mudanças já estão sendo implementadas em alguns sistemas públicos
de ensino (...). É certo que os alunos com deficiências constituem
uma grande preocupação para os educadores inclusivos, mas todos
sabemos que a maioria dos alunos que fracassam na escola são
crianças que não vem do ensino especial, mas que possivelmente
acabarão nele! (MANTOAN, 2001, P.125-6)

Mudanças hão de ser realizadas no âmbito escolar para os alunos possam ter
acesso ao conhecimento e aos conteúdos trabalhados com os demais alunos, ou seja,
para que ele possa ter esse acesso, serão necessárias adaptações curriculares,
metodológicas, avaliativas e arquitetônicas.
O currículo especial para a escola inclusiva foi oficializado aqui no Brasil a
partir de medidas desenvolvidas junto à Secretaria de Educação Especial do Ministério
da Educação com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais que propõem o
conceito de adaptações curriculares estratégias e critérios.
24

3.1 – Currículo

Não há como falar em inclusão escolar e não fazer referência ao currículo escolar, a

escola regular deve adequá-lo o máximo às necessidades dos alunos que apresentam

quaisquer necessidades educacionais especiais seja de ordem física e/ou mental.

Vale ressaltar que, currículo:

(Maclaren, 1998, p.116). “... representa muito mais do que um


programa de estudos, um texto em sala de aula ou o vocabulário de
um curso. Mais do que isso, ele representa a introdução de uma forma
particular de vida; ele serve, em parte, para preparar os estudantes
para posições dominantes ou subordinadas na sociedade existente. O
currículo favorece certas formas de conhecimento sobre outras e
afirma os sonhos, desejos e valores de grupos seletos de estudantes
sobre outros grupos, com freqüência discriminando certos grupos
raciais, de classe ou gênero”

Percebe-se através deste fragmento que o currículo é importante para a


efetivação da inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais na escola
regular quanto para acirrar a discriminação. Mais do que programas, listas de conteúdos
e de atividades, o currículo é o desenvolvimento de formas de pensar, de perceber o
mundo, de viver. Deveria preparar o aluno para a sociedade existente, não para posições
de domínio ou de submissão, ou sequer para a assunção de posições alienadas em
relação à realidade, nem para a vivência parcial da cidadania.
As perspectivas conceitual e filosófica de Educação que regem o currículo
definem o cotidiano escolar e as suas decorrências, deve os seus organizadores estar
preocupados com a diversidade e a com a inclusão.
De acordo com esta perspectiva, o currículo não trabalha só com o
conhecimento, mas com a cultura, a identidade e a subjetividade. Elaborar currículos é
tomar decisões sobre os saberes que serão considerados, valorizados e transmitidos pela
escola. É também decidir quanto à criação ou não de grupos excluídos e culturas
negadas pela escola. A perspectiva de uma escola inclusiva faz com que o currículo se
comprometa com o ensino de qualidade e com a perspectiva de acolhimento e respeito
às diversidades.
25

Não são apenas os profissionais da Educação que são os responsáveis pelo


currículo. Há saberes fundamentais que competem a especialistas, mas há outros que
vêm da comunidade interna e externa à escola e dos próprios alunos, e que podem
aprimorar o currículo. Assim, ele precisa ser democrático, abrangente e inclusivo, para
atender às singularidades do alunado – não apenas às chamadas necessidades
educativas especiais, mas às necessidades individuais dos que transitam no espaço
escolar.
No caso do currículo, não significa trabalhar para os grupos “especiais”,
pois isso ainda é excluí-los, mas trabalhar com eles na construção da concepção de
sujeito, de conhecimento e de mundo que o currículo envolve. Não se trata apenas dos
alunos com necessidades educativas especiais, mas também dos “culturalmente
diferentes” da norma de desempenho que a escola espera, “culturalmente
desfavorecidos” em relação à cultura dominante.

3.2- Adaptações de acessibilidade metodológicas e arquitetônicas

As adaptações curriculares de acessibilidade visam à eliminação de barreiras


arquitetônicas e metodológicas, como pré-requisito para que os alunos possam
freqüentar a escola com autonomia e participar das atividades com os demais alunos.
As adaptações de acessibilidade referem-se às adaptações e mudanças
efetuadas na arquitetura e na metodologia da escola, como medidas para eliminar
qualquer barreira desse nível, podem ser citadas como adaptações de acessibilidade:
condições físicas de acesso às dependências, como rampas e elevadores apropriados
para os alunos que tenham dificuldades para se locomoverem ou se locomovem em
cadeira de rodas ou com auxílios de muletas, materiais adequados de acordo com a
necessidade de cada aluno, meios de comunicação como intérprete de LIBRAS,
transcrição de textos em braile e comunicação alternativa para outras dificuldades de
comunicação em decorrência da paralisia cerebral, por exemplo.
Segue abaixo outros exemplos de materiais e recursos adequados para
possibilitar o acesso e aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais
especiais:
26

-Materiais específicos como bengala, soroban - material para cálculo de matemática,


reglete e punção-instrumentos para escrever em braile para cada aluno com deficiência
visual matriculado nas escolas públicas;
-Mapas e livros em braile, além de outros materiais, como livros falados, livros em
tipos ampliados com letras grandes para alunos com baixa visão, lupas e luminárias;
-Dicionários de Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros materiais, como livros de
histórias também em Libras.
-Material visual.
-Métodos de comunicação alternativa como prancha com sinais – símbolos que
correspondem às letras usadas por crianças que não conseguem falar ;
-Lápis engrossado com fita crepe ou barbante para crianças com dificuldade motora;
-Carteiras adaptadas para facilitar a entrada de cadeira de rodas;
-Pranchas de madeira para prender papel
Quanto à metodologia, a escola deve dar preferência às atividades interativas,
visando à cooperação entre todos os alunos para que ocorra o desenvolvimento das
aprendizagens realmente significativas.
Todas estas exigências estão previstas no art. 12 das Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na Educação Básica: Os sistemas de ensino, nos termos da Lei
10.098/2000 e Lei 10.172/2001, devem assegurar aos alunos que apresente necessidades
educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas urbanísticas,
na edificação – incluindo instalações, equipamentos e mobiliário – e nos transportes
escolares, bem como de barreiras nas comunicações, provendo as escolas dos recursos
humanos e materiais necessários.

3.3- Adaptações curriculares quanto aos objetivos e conteúdos

Devem ser considerados e sistematizados os conteúdos que realmente são


necessários ao desenvolvimento cognitivo, pessoal e social dos alunos com
necessidades especiais, ou seja, conteúdos já que durante o período letivo nem sempre é
possível a esses alunos assimilarem todo o conteúdo, e manter a seqüência gradativa dos
27

conteúdos, do mais simples para o mais complexo. Caberá ao professor fazer a seleção
desses conteúdos para que não comprometa o desenvolvimento do aluno.

3.4-Adaptações curriculares quanto à Didática

Adaptações quanto à didática se referem às mudanças e adaptações nos


métodos e estratégias de ensino dos conteúdos curriculares, na introdução das atividades
alternativas para os alunos com necessidades educacionais especiais e para as
planejadas para toda classe e à oferta de recursos e apoio como métodos e técnicas de
aprendizagem específica para esses alunos de acordo com a sua necessidade.

3.5- Adaptações curriculares à avaliação

Consiste na seleção de técnicas, métodos, instrumentos de avaliação distintos


e quando necessário, alteração na temporalidade de acordo com a necessidades
educacionais especiais dos alunos, sem que altere o objetivo da avaliação e seu
conteúdo. A avaliação deve considerar todo o processo de desenvolvimento do
educando, seu desenvolvimento pessoal, sua autonomia.
Ela também de preferência não deve ser quantitativa (tanto para os alunos
com necessidades educacionais, quanto para os demais alunos), mas sim qualitativa,
procurando não estabelecer padrões de desenvolvimento e comparação para os alunos.
Uma escola que tem uma proposta inclusiva necessita ter uma definição
operacional do processo de avaliação escolar do aluno com necessidades educacionais
especiais sob a mesma perspectiva, mesmo que haja necessidade de flexibilização e
adaptação de alguns critérios.
A avaliação não pode se expressar apenas em termos de adjetivo. No currículo
inclusivo ela deve ser flexível e objetiva, não deve se orientar pela rotulação e
estereótipos, isso leva a uma avaliação que foca as dificuldades e limites do aluno com
necessidades educacionais especiais, desconsiderando as possibilidades de
aprendizagem desses alunos e tornando quase irrelevante os avanços já alcançados por
eles.
28

Cada aluno possui um grau de aprendizagem, alguns aprendem de forma muito


rápida e outros de forma mais devagar, igualmente são assim os alunos com
necessidades educacionais especiais, que precisam de adequações no currículo para
poder alcançar os objetivos propostos, mas isso não os torna inferiores ou incapazes de
aprenderem.
Os alunos com altas habilidades, por exemplo, precisam de menos tempo para
executar as tarefas propostas e assimilarem o conteúdo, já os alunos com outras
necessidades educacionais precisam de mais tempo para concluir as tarefas dadas em
aula, por isso que algumas vezes é necessário alterar a temporalidade da avaliação, para
mais ou para menos, de acordo com a necessidade e desenvolvimento do aluno, ou
alterar os níveis de complexidade da tarefa.
Também devem ser avaliadas as condições reais de inclusão que são
oferecidas aos alunos, já que esta é meta do trabalho desenvolvido. É necessário ter
coragem de ousar no que diz respeito à avaliação, rompendo com práticas
tradicionalmente utilizadas, e criando adaptações, da mesma forma que foi proposto em
relação ao currículo em geral. Não é apenas o aluno que precisa ser avaliado, mas o
próprio currículo, a instituição e aqueles que o implementam, todo o contexto
educacional, incluindo as políticas e o entorno comunitário e familiar que o compõe.

3.6 – Adaptações curriculares quanto a organização curricular

Adaptações Curriculares tratam das modificações necessárias no planejamento,


como objetivos, conteúdos, didática, avaliação, em prol do atendimento a todas as
crianças, independente das suas necessidades educacionais.
A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na classe
regular implica o desenvolvimento de ações adaptativas, visando à flexibilizar o
currículo, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e
atender as necessidades individuais de cada aluno. De acordo com o MEC/SEESP/SEB
(1998), essas adaptações curriculares realizam-se em três níveis:
• Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar) que devem
focalizar, principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio,
29

propiciando condições estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e


no nível individual.
• Adaptações relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à
programação das atividades elaboradas para sala de aula.
• Adaptações individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do professor
na avaliação e no atendimento a cada aluno.
30

CAPÍTULO IV

FORMAÇÃO DOCENTE

Não raro, muitas vezes, ouvimos o termo “mediador” referindo-se ao professor.


Conclui-se que é outorgada a ele a “missão” de levar os alunos a atingirem o seu pleno
desenvolvimento. Porém assim como o aluno o professor ainda não detém todo
conhecimento e se tratando de alunos com necessidades educacionais especiais, ele não
saberá como agir diante de uma turma que tenha algum aluno com qualquer necessidade
educacional especial. Os professores necessitam de formação contínua, no entanto
também faz falta uma capacitação que atinja o local de trabalho, devido às dificuldades
dos educadores em relação a horários e deslocamentos para a realização de cursos, já
que muitos trabalham em horário integral ou em mais de uma escola. Salvo aqueles que
trabalham em redes que oferecem capacitações a seus professores não causando nenhum
ônus a estes.
Para que a verdadeira inclusão dentro da educação aconteça, além das adaptações
arquitetônicas e curriculares também é necessário a capacitação de recursos humanos na
área, com vistas à ampliação das oportunidades de atendimento educacional adequado,
de maneira que um dos objetivos específicos propostos pelo CENESP/MEC, para o
Plano Nacional de Educação Especial no período de 1977/1979, foi o de:

“Capacitar recursos humanos, envolvendo pessoal docente e técnico


especializado das equipes multidisciplinares para atendimento aos
excepcionais, a partir da educação precoce até a formação
profissional.” (BRASIL, 1977, 19).

Ações voltadas para preparação e atualização dos educadores e técnicos


atuantes na Educação Especial em nível nacional foram planejadas além da capacitação
de professores das universidades, com o objetivo de formar agentes multiplicadores,
visando à implantação e manutenção de cursos de licenciatura em instituições de ensino
superior.
O professor que em sua formação foi capacitado para trabalhar com alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais, não terá grandes dificuldades para
apresentar os conteúdos a seus alunos, sejam quais for as suas necessidades individuais,
31

já o professor preparado somente para transmitir conteúdos, sem ter algum preparo para
trabalhar com a diversidade em sala de aula, nem sempre conseguirá trabalhar os
conteúdos necessários, até mesmo para alunos que não apresentem nenhuma
necessidade especial.
Na visão da necessidade e importância do avanço da educação inclusiva, e dentro
da perspectiva formativa, fica muito claro a necessidade da formação específica de
profissionais para atuar nesta área, tal formação lhes permitirá o conhecimento das
deficiências e habilidades dos alunos, quais estratégias utilizar, os métodos adequados,
os recursos e tecnologias neste contexto, que venham a beneficiar o aluno e garantir o
êxito do trabalho pedagógico. No entanto não apenas o professor precisa estar preparado
para a atuação com a diversidade, mas todos os profissionais atuam nas instituições de
ensino.
Já se vê muitos avanços no Brasil, no tocante à legislação existente e aos
documentos oriundos de órgãos educacionais, voltados a temática da educação
inclusiva. Várias iniciativas foram empreendidas pelo MEC e por variados órgãos em
nível federal, estadual e municipal, relativos à formação de docentes para favorecer a
inclusão de todos os alunos na escola regular.
Há várias portarias, mas foi a partir da Portaria Ministerial nº 1793 que foi
reconhecida a importância de se complementar os currículos de formação de docentes e
de outros profissionais que atuam em áreas afins, para tal fim a inclusão de disciplina
específica, focalizando aspectos ético-político-educacionais relativos às pessoas com
necessidades especiais, sendo a prioridade nos cursos de Pedagogia, Psicologia e em
outras licenciaturas, ainda também a inclusão de conteúdos específicos em cursos da
área da Saúde e em outras áreas.
Na Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), que institui as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, no tocante à inclusão e à
formação de professores:

A Educação Básica deve ser inclusiva, no sentido de atender a uma


política de integração dos alunos com necessidades educacionais
especiais nas classes comuns dos sistemas de ensino. Isso exige que a
formação dos professores das diferentes etapas da Educação Básica
inclua conhecimentos relativos à educação desses alunos. (BRASIL,
2001, p. 25-26).
32

De acordo com o disposto nesta resolução e na portaria, entende-se que desde a


formação inicial e durante a graduação, todos os professores da Educação Básica já
devem desenvolver competências para atuar também com alunos que apresentem
necessidades especiais, em qualquer etapa ou modalidade de ensino, na perspectiva de
se efetivar a educação inclusiva.
Tem crescido o número de cursos oferecendo disciplinas voltadas para a
Educação Especial, na perspectiva inclusiva, no entanto estudos evidenciam que ainda
existe a necessidade de aprimorar este processo para melhor desempenho dos
professores que atuarão no contexto inclusivo, seja ampliando a carga horária das
disciplinas da sua grade curricular, como também acrescentando outras disciplinas
pertinentes, oportunizando um maior aprofundamento teórico e prático.
A formação básica que o professor recebe na sua graduação não é tão voltada
para a inclusão, mas especificamente para a disciplina escolhida, o que é óbvio, mas
pouco se vê nos cursos um maior período dedicado à disciplinas voltadas para a
inclusão. A formação inicial dos professores não é suficiente para a demanda da
educação inclusiva.

Qualquer aluno que sendo formado para ser professor deveria receber
uma adequada preparação básica, que lhe proporcionasse algumas
estratégias para desenvolver seu trabalho com alunos que apresentam
necessidades específicas de modo a poder oferecer-lhes respostas
adequadas em situações cotidianas. Os objetivos da formação inicial
deverão incluir dimensões relativas aos conhecimentos, destrezas,
habilidades e atitudes relacionadas aos processos de atenção à
diversidade dos alunos (GONZÁLES, 2002, p. 245).

É necessário que os cursos ofereçam a maior carga horária possível de conteúdo


voltado para as necessidades educacionais especiais e não apenas um ou dois períodos
que geralmente se vê nos cursos de graduação, sendo necessário sempre uma ou mais
especializações na área da educação especial e inclusiva.
Diante desta ação fica claro que apesar da Portaria nº 1.793/94 e das Resoluções
do CNE, muitas instituições de ensino superior não estão estruturadas para oferecer
disciplinas e /ou conteúdos relativos ao tema nos seus cursos de licenciatura, e outras
quando oferecem, o fazem de maneira precária, através da oferta de disciplina eletiva,
ou com carga horária reduzida, como se fosse algo que tem que entrar no currículo
apenas por exigência e não por importância e necessidade, o que não favorece a
33

aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento de destrezas, habilidades e atitudes


relativas ao processo de atendimento à diversidade dos educandos. (MARTINS, 2009).
No entanto a formação dos profissionais da educação, de maneira geral, não se
esgota na fase inicial, até mesmo que tenha sido uma ótima graduação ou qualquer outro
curso de formação. Ainda há a necessidade de voltar atenção a formação continuada,
visando o aprimoramento da qualidade do ensino nas escolas regulares, de acordo com
os princípios de atenção à diversidade.
O crescente processo de inclusão educacional que assegura a matrícula de alunos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades tem
desafiado os espaços escolares a repensarem sua forma de ensino, por outro ainda há a
falta de preparo dos profissionais envolvidos neste processo. Diante disso, a formação
continuada tem se mostrado como uma possibilidade de (re)pensar as demandas
escolares e os processos de ensino desses alunos, que são público-alvo da educação
inclusiva.
A formação continuada dos professores deve capacitá-los a conhecer melhor o
que hoje se sabe a respeito das possibilidades de trabalho pedagógico em prol do
desenvolvimento de todos os educandos com necessidades educacionais especiais, que
também auxiliarão essas crianças na construção de seus conhecimentos acerca do
mundo e de si. Esses professores precisam compreender que as crianças com
necessidades educacionais especiais são crianças capazes de desenvolvimento
educacional, apesar das suas diferenças, que devem ser identificadas e contextualizadas
no processo de aprendizagem, o que requer dos professores o conhecimento de novas
estratégias de ensino
A formação continuada é uma oportunidade dos educadores refletirem sobre a
ação educativa. Um momento de analisar a sua prática e confrontar com a teoria
apresentada e com o currículo utilizado na escola, os mecanismos utilizados para validar
esses conhecimentos que definem o que é educação inclusiva e como fazê-la. Contribui
para a os profissionais refletirem sobre sua prática e como atuar de forma melhor com
as diferenças que os alunos apresentam, decorrentes de suas deficiências, transtornos e
altas habilidades. . Não é apenas um mero movimento de “passar” teorias e leis, ou um
acúmulo de cursos e capacitações, tem que haver a ligação da teoria à prática,
acompanhar o movimento da educação inclusiva não se resume a ofertar cursos aos
educadores sem que lhes permitam refletir sobre suas práticas no cotidiano educacional.
Nóvoa disserta bem sobre essa questão:
34

A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de


conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de
reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente
de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa
e dar um estatuto ao saber da experiência [...]. Práticas de formação
que tomem como referência as dimensões coletivas contribuem para
a emancipação profissional e para a consolidação de uma profissão
que é autônoma na produção dos seus saberes e dos seus valores.
(Nóvoa, 1995, p. 25):

Há de ser levado em consideração o ambiente em que o professor exerce sua


função, favorecendo situações que mobilizem a criação de recursos dentro do seu
contexto de atuação para levá-los a essa análise reflexiva e a superação das possíveis
dificuldades. Partindo desse pressuposto podemos entender a ideia de Perrenoud quando
diz que:

A formação dos professores deveria ser orientada para uma


aprendizagem por problemas para que os estudantes se
confrontassem com a experiência da sala de aula e trabalhassem a
partir de suas observações, surpresas, sucessos e fracassos, medos e
alegrias, bem como de suas dificuldades para controlar os
processos de aprendizagem e as dinâmicas de grupos ou os
comportamentos de alguns alunos. (Perrenoud, 2002; p.22)

Também é importante que o processo de formação do professor dialogue os


conhecimentos teóricos com as realidades das escolas, para que quando o profissional
da educação chegue à escola não sinta que sua formação foi em vão, tendo a idéia de
que teoria é uma coisa e a prática é outra, Tardif (2012) reforça essa visão na sua fala:
“na formação de professores, ensinam-se teorias [...] que foram concebidas, a maioria
das vezes, sem nenhum tipo de relação com o ensino nem com as realidades cotidianas
do ofício de professor”, (p.241).
A formação continuada ou permanente, ainda é um dos meios que os educadores
podem recorrer para adquirir ferramentas e atuar, de forma mais eficaz, diante da oferta
de inclusão no sistema educacional, buscando oferecer condições de atendimento
educacional adequado às condições e necessidades dos alunos, realizando não apenas a
inserção dos alunos no ambiente escolar, mas buscando a real inclusão. Diante da busca
por inclusão desde a formação do educador fica claro que:

Ainda que muitas perguntas permaneçam sem respostas, as


oportunidades disponíveis atualmente para o desenvolvimento
35

profissional constituem um marco principal para todos os


professores e, portanto, para todas as crianças. (MITTLER, 2003, p.
237).
36

CONCLUSÃO

Ensinar o aluno com necessidades educacionais especiais junto com os


demais alunos que não apresentem qualquer necessidade educacional é o grande desafio
para a Educação Inclusiva, pois havendo a verdadeira interação desses alunos no
ambiente escolar – sendo essa inclusão não somente física, mas também intelectual, a
Educação Inclusiva deixará de ser uma ideologia ou uma filosofia e se tornará uma ação
concreta.
A escola deveria se caracterizar por reconhecer e valorizar as diferenças
sociais, culturais, econômicas e de aprendizagem para todos os alunos que façam parte
do corpo discente, para que ela possa ser vista como um ambiente de construção de
conhecimento, onde não haja a discriminação decorrente das diferenças entre os alunos.
Isto nos remete a idéia de que a “escola deve buscar o respeito às diferenças e que as
mesmas não podem ser vistas como obstáculo para o cumprimento da ação educativa.”
(BRITTO, 1999)
Ela (escola) é vista como um espaço onde o aluno adentra em busca do
conhecimento e do seu pleno desenvolvimento, onde será capacitado para atender a
expectativa da sociedade que espera um cidadão consciente de seus direitos, deveres e
obrigações, além de estar preparado para a demanda do mercado de trabalho.
Concluímos que a sociedade espera muito dos sistemas educacionais, mas
eles algumas vezes não estão preparados para corresponder a essa expectativa, seja tanto
para o aluno considerado “normal”, quanto mais para os alunos com necessidades
educacionais especiais.
O emprego dos termos “normais” e ”anormais” empregados para distinguir os
alunos com necessidades educacionais especiais dos demais causa certo desconforto e
estigma para esses alunos e seus pais. Um aluno que tem uma deficiência a meu ver não
deve ser chamado de anormal, ele é claro, dependendo da deficiência tem limitações e
dificuldades em se locomover, falar ou realizar suas atividades. O fato de uma pessoa
ser deficiente e outra não ser, não deveria indicar ou fazer dissensões entre elas.
Esse conceito é decorrente de uma sociedade que não vê a pessoa com
deficiência como capaz de desenvolver suas atividades, mesmo que com auxílio de
adaptações e recursos, essa sociedade tende a excluir as minorias e delas esperar sempre
muito pouco, é uma sociedade competitiva que preconiza o desempenho, a
37

produtividade, o vigor, a beleza, etc. A exclusão é vista em diversos setores da


sociedade: meios de transporte, de comunicação, acesso à ruas, à prédios e também à
educação de qualidade.
Mudanças são fundamentais para que ocorra a inclusão da pessoa com
deficiência em todos os setores da sociedade, mas isso exige esforço de todos. Para que
o processo de inclusão escolar se concretize são necessárias ações do poder público, das
escolas, dos professores, dos pais das pessoas com necessidades especiais e das pessoas
inseridas na sociedade.
É necessário ocorrer uma mudança na postura dos pais (aproximação da
escola, do corpo docente a fim de mobilizar toda a comunidade escolar para aceitação
dos alunos com necessidades educacionais especiais, como demonstração de
conscientização da importância da diversidade na escola. Essas mudanças devem visar
beneficiar todas as pessoas envolvidas nesse processo.
Também é necessário que o corpo docente seja preparado, especializado, que
saiba como trabalhar os conteúdos e utilizar recursos para os alunos com necessidades
educacionais especiais, por isso deve-se investir na formação dos professores em nível
superior ou médio. E a escola deve assessorar o professor, dando a ele subsídios para a
resolução de problemas do cotidiano em sala de aula.
Há vários outros fatores que favorece o processo de inclusão nas escolas,
muitos são atitudinais (talvez por isso sejam barreiras tão grandes), como sensibilização,
conscientização das pessoas, valorizar as metas e não os obstáculos no processo de
inclusão, o desenvolvimento já obtido pelo aluno, suas possibilidades e não a sua
deficiência. Superando essas barreiras, as demais barreiras de acessibilidade
(arquitetônicas, curriculares, metodológicas, instrumentais e comunicativas) serão
eliminadas mais facilmente.
Esse enfoque derruba o paradigma do rótulo e do estigma que olha o aluno
em detrimento de sua deficiência e não em seu processo de desenvolvimento e
personalidade global. Antes de serem deficientes, eles são alunos, e o professor tem
tanta responsabilidade de ensiná-los quanto aos demais. Se eles apresentam
características diferenciadas, com as quais o professor não tem condições de lidar
sozinho enquanto atende ao resto da turma, a escola tem que providenciar suporte
especializado, como professor itinerante, material adequado ou sala de recursos, por
exemplo. Esse suporte deve ser disponível para todos os alunos que estiverem
apresentando qualquer dificuldade permanente ou temporária em acompanhar o trabalho
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realizado na sala de aula, e não apenas para os que vieram encaminhados do ensino
especial.
O processo da inclusão tem uma amplitude que vai, além da inserção de
alunos considerados especiais na classe regular, e de adaptações pontuais na estrutura
curricular. Inclusão implica em um envolvimento de toda a escola e de seus gestores,
um redimensionamento de seu projeto político pedagógico, e, sobretudo, do
compromisso político de uma re-estruturação das prioridades do sistema escolar
(municipal, estadual, federal ou privado) do qual a escola faz parte, para que ela tenha
as condições materiais e humanas necessárias para empreender essa transformação.
Assim como nas demais áreas do currículo a forma de avaliar os alunos com
necessidades educacionais especiais também deve ser específica, considerando todas as
áreas do seu desenvolvimento. Ela não deve ser vista como julgamento do aluno, e sim
como diretriz para o professor se orientar por qual caminho trilhar, sendo necessário
discernir quais as dificuldades que são do próprio aluno, separando-as das que foram
causadas por práticas e processos pedagógicos não adequados às necessidades
educacionais do aluno. Toda a avaliação requer ações correspondentes, no sentido do
aprimoramento do processo ensino-aprendizagem. Se isto não acontecer, estaremos
avaliando apenas para rotular e, conseqüentemente, discriminar e excluir.
Acredito que com a verdadeira inclusão dos alunos com necessidades
educacionais especiais no sistema regular de ensino a educação estará mais próxima do
ideal de igualdade e direito à educação para todos. Ainda há muito que fazer:
conscientizar a comunidade, as famílias dos alunos com necessidades educacionais
especiais, promover adaptações e melhoria no sistema educacional regular, ou seja,
todas as leis previstas deveriam, realmente, ser praticadas.
Através de adaptações curriculares ocorridas no seio das escolas, os alunos com
necessidades educacionais especiais, de qualquer ordem- física, comportamental, social,
econômica, étnica, cultural e etc.- terão o pleno direito à educação, já que em alguns
casos é abnegado a eles. A educação inclusiva não pretende somente colocar em sala de
aulas alunos com necessidades educacionais especiais, mas sim lhes possibilitar meios
para o acesso à educação e ao desenvolvimento social.
É benéfica para todos que estão inseridos no contexto- pais, professores e alunos-.
Mas ainda muitas pessoas precisam enxergar e compreender essa possibilidade, de uma
sociedade que realmente tem como ideal a igualdade, que vê as pessoas através de sua
capacidade- que muitas vezes é subestimada- e não por suas dificuldades ou deficiências
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e isso será capaz se começar pela educação, uma educação que deverá ser de qualidade
para todos. Mesmo que a inclusão seja um processo complexo, esta complexidade
deve ser respeitada, atendida e não minimizada.
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