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FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

THAÍS MIRIAN DA CRUZ

JORNALISMO PARTICIPATIVO NA INTERNET


O EU-REPÓRTER DO GLOBO ONLINE: UM ESTUDO DE CASO

VOLTA REDONDA
2

2010
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

JORNALISMO PARTICIPATIVO NA INTERNET


O EU-REPÓRTER DO GLOBO ONLINE: UM ESTUDO DE CASO

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social do


UniFOA como requisito à obtenção do título de bacharel em
Jornalismo.

Aluno:
Thaís Mirian da Cruz

Orientador:
Professor Dr. Rogério Martins

VOLTA REDONDA
3

2010
FOLHA DE APROVAÇÃO

Aluno: Thaís Mirian da Cruz

Jornalismo Participativo na Internet


O Eu-Repórter do Globo Online: Um estudo de caso

Orientador: Professor Dr. Rogério Martins

Banca Examinadora:

_________________________
Professor orientador Rogério Martins

__________________________
Professora Fernanda Cupollilo

__________________________
Professor Heitor Luz
4

DEDICATÓRIA

Primeiramente a Deus, porque sem Ele não estaria aqui.


E aos meus pais, Clécio e Rosana, por terem me gerado
e amado incondicionalmente.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que é digno de toda honra, glória e louvor.


Agradeço aos meus pais e irmãos, Priscila e Coto, por terem
acreditado em mim com amor, carinho, dedicação e apoio
desde o meu nascimento até aqui e para sempre. Agradeço ao
meu marido amado, Tavinho, por ter sonhado meus sonhos e
me fazer completa. Agradeço ao meu lindo sobrinho Davi pela
alegria que representa em minha vida; e à minha vovó pelo
amor e cuidado, mesmo estando longe. Agradeço aos
professores, especialmente ao orientador pela paciência,
sabedoria e ensino. Por fim, agradeço aos amigos, aqueles
mais chegados que irmãos, por me acompanhar em todo
tempo.
6

RESUMO

As novas tecnologias da comunicação, em especial a internet, colaboraram não


apenas para a ascensão do jornalismo online como um novo produto midiático, mas
também para o estabelecimento de um novo modelo de comunicação, em que
muitos falam para muitos. Neste contexto surge o jornalismo participativo na internet
como uma ferramenta que explora a interatividade como nunca antes havia sido feito
nos meios de comunicação tradicionais (TV, rádio, impresso). Veículos online abrem
espaços destinados à participação de usuários comuns (público) na produção e
publicação de conteúdos noticiosos, como ocorre no EU-REPÓRTER do Globo
Online, que é tema do estudo de caso do presente trabalho. A partir das análises
desta seção apresentamos rupturas do jornalismo participativo na internet sobre três
diferentes aspectos: do público, que passa a participar efetivamente do processo de
comunicação, deixando a posição de receptores passivos e se tornando produtores
potenciais de conteúdo (cidadãos-repórteres); dos jornalistas, que têm a prática e
cultura profissional alteradas, tendo o desafio de abrir mão do controle da
informação em favor da participação dos leitores e, ao mesmo tempo, manter
convenções do jornalismo tradicional massivo; e dos meios tradicionais, que passam
a convergir com o jornalismo online e suas ferramentas.
7

Palavras-chave: Jornalismo participativo; internet; jornalismo online; Eu-Repórter;


interação.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................9

1 A EVOLUÇÃO MIDIÁTICA DO JORNALISMO ONLINE: DA MERA


TRANSPOSIÇÃO DE CONTEÚDOS À NOVA DIMENSÃO JORNALÍSTICA...........14

1.1 O desenvolvimento jornalístico na web.........................................................14


1.2 O caminho até a terceira geração do jornalismo online.................................17
2 JORNALISMO PARTICIPATIVO NA INTERNET: DIFERENTES NÍVEIS DE
INTERAÇÃO E A ABERTURA PARA COLABORAÇÃO EFETIVA DO
PÚBLICO................................................................................................................... 24
2.1 Do modelo comunicacional de mão única à comunicação em rede e
interativa.................................................................................................................... 24
2.2 De identidades distintas e isoladas à inversão de papéis........................... 30
2.3 A prática jornalística e o estabelecimento de uma nova cultura
profissional................................................................................................................ 37
3 ESTUDO DE CASO: EU-REPÓRTER DO O GLOBO ONLINE............................. 43
3.1 A mecânica de participação dos leitores...................................................... 43
3.2 Formas de publicação: do leitor para o eu-repórter e da versão digital para o
impresso.................................................................................................................... 50
3.3 Um momento ambíguo: o aprofundamento da interação x o controle da
informação................................................................................................................. 57
4 CONCLUSÃO......................................................................................................... 60
5 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 62
8

LISTA DE QUADROS

Quadro 1..................................................................................................................15
9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.....................................................................................................................43
Figura 2.....................................................................................................................45
Figura 3.....................................................................................................................47
Figura 4.....................................................................................................................48
Figura 5.....................................................................................................................49
Figura 6.....................................................................................................................49
Figura 7.....................................................................................................................50
Figura 8.....................................................................................................................52
Figura 9.....................................................................................................................54
Figura 10...................................................................................................................54
10

INTRODUÇÃO

As tecnologias da informação fizeram surgir a prática jornalística na internet,


denominada de jornalismo online1, caracterizado por: hipertextualidade;
interatividade; multimidialidade; personalização; memória; e atualização contínua –
em tempo real (PALACIOS, 1999; MIELNICZUK, 2003).

Em consequência e adequação às características próprias da web,


desencadeia-se o jornalismo participativo2, em que a elaboração, produção e edição
de notícias são desenvolvidas por usuários comuns, quando os mesmos tornam-se
produtores de conteúdo jornalístico em potencial.

Mas, antes de discutir o jornalismo participativo – tema do presente estudo -,


tanto em sua ascensão, como em suas futuras perspectivas, faz-se necessário
entendê-lo como uma ferramenta do jornalismo online e identificar em que contexto
ele é inserido. Tendo como base para apresentação do objeto deste presente
estudo, contextualizamos a realidade atual do jornalismo online dentro da
comunicação. Para tal, o trabalho gira em torno de um estudo de caso da seção Eu-
Repórter3, do O Globo Online. O objeto será apresentado no terceiro capítulo, para
estabelecimento da relação entre o jornalismo participativo e seu contexto na
internet.

Em dois capítulos anteriores ao estudo sobre o Eu-Repórter, explanaremos


sobre o contexto midiático que originou esta seção interativa no Globo Online. No
primeiro, a proposta é apresentar o desenvolvimento da internet como Nova

1
Conforme Mielniczuk (2003, p. 27), o jornalismo online é desenvolvido utilizando tecnologias de
transmissão de dados em rede e em tempo real.
2
Trata-se de uma prática em que qualquer internauta é potencialmente um jornalista, podendo
contribuir com a produção de conteúdo em sites afins (LINDEMANN, 2007, p. 1)
3
Seção do site www.oglobo.com aberta à participação de internautas, para envio de foto, vídeo, texto
e áudio.
11

Tecnologia de Comunicação (NTC), tendo como resultante o jornalismo online que


aparece como um novo produto midiático.

A partir disso, o jornalismo online é exposto em três fases, vivenciadas até a


produção deste trabalho, e já apresentadas por outros autores (SILVA JR, 2001;
MIELNICZUK, 2003; PRIMO E TRÄSEL, 2006). No primeiro momento, a prática
jornalística na internet, que surge como resultado das novas tecnologias digitais, não
passa de uma simples adaptação do jornalismo tradicional para a World Wide Web.
Aqui o jornalismo online é apenas uma transposição do conteúdo publicado em
edições impressas e não apresenta nada novo para o público, se não o acesso
virtual.

A segunda fase, bem como deve ser, já traz algumas dimensões de um novo
jornalismo. Neste contexto, o jornalismo online inicia seu desprendimento das outras
mídias, em busca de certa autonomia, mesmo que ainda distante da realidade
futura, prevista anteriormente por alguns estudiosos da comunicação.

No segundo capítulo do estudo haverá destaque para a terceira fase do meio


online, pois a partir dela surge o jornalismo participativo, que será centralizado nesta
parte do trabalho, sendo ressaltado e discutido como uma das rupturas que
configuram um novo produto midiático. Aqui, a interatividade torna-se uma das
principais características exploradas pelo jornalismo online, por apresentar uma
quebra com os padrões midiáticos tradicionais e oferecer possibilidades inéditas a
partir das tecnologias da rede.

Tomando o jornalismo participativo na internet, exploraremos uma discussão


em torno do mesmo, tratando desde sua relação com o meio – a fim de abordar seu
peso sobre os meios de comunicação de massa (rádio, TV e jornal impresso); com o
público, que, por sua vez, ganha amplo espaço para colaboração, se tornando parte
efetiva no processo de comunicação; e ainda para com os jornalistas, que assumem
novas atribuições enquanto profissionais, mediando conteúdos colaborativos. Estes
três eixos darão forma às partes desenvolvidas no segundo capítulo do estudo.
12

Deste ponto partimos para o questionamento de até que ponto o jornalismo


participativo ‘ameaça’ a relação do público com os outros meios e o papel do
jornalista.

Pretende-se, neste capítulo, mostrar que, embora o jornalismo participativo já


fosse encontrado nos meios tradicionais, antes mesmo do advento da internet, sua
prática era mantida superficialmente.

[...] É bem verdade que diferentes vozes atravessam qualquer texto


jornalístico. Pode-se acrescentar que qualquer noticiário inclui sempre, em
alguma medida, a participação de seu público. Antes do e-mail, essa
participação já ocorria através de cartas e ligações, por exemplo, na forma
de sugestões de pauta ou mesmo para alguma seção do tipo “cartas do
leitor”. Porém, a filtragem daquelas cartas, o pequeno espaço disponível
para sua publicação e a necessidade de utilização de outro meio para
envio (não se pode responder através da televisão) acabam por
desestimular uma maior participação (PRIMO E TRÄSEL, 2006, p. 3 e 4).

Em comparação com o praticado na internet, entende-se que o jornalismo


participativo aberto no meio online, ao dispor de espaço virtualmente ilimitado para
publicação de conteúdo, passou a disponibilizar novas ferramentas para a
participação de leitores/usuários. Consequentemente, os usuários comuns se
sentem mais diretamente parte do processo jornalístico, seja pela troca de e-mails
com jornalistas, fóruns e comentários, ou através de sessões específicas de
colaboração, nas quais o público interage desde a sugestão, elaboração e
publicação de conteúdo (textos, fotos, vídeos e áudios).

Além das mudanças na prática jornalística, ainda no segundo capítulo


enfatiza-se como a participação/colaboração de leitores (internautas) no jornalismo
online transforma a cultura profissional e, principalmente, substitui o modelo
emissor-meio-mensagem-receptor por um modelo de comunicação descentralizado
(LINDEMANN, 2007, p. 1). Os novos produtos midiáticos, entre eles, blogs e redes
sociais, como o Twitter, só vêm reforçar a independência e autonomia dos
internautas em produzir conteúdos livres e publicá-los na internet. Daí a necessidade
de os meios de comunicação de massa inseridos na web oferecerem mais
oportunidades de interação ao público, tendo em vista a grande gama de
possibilidades da internet, que, por disponibilizar diariamente uma grande
13

quantidade de informações, impede que o internauta se sinta fiel a qualquer veículo


online, conforme explica Ferrari (2009, p. 20).

Um novo cenário midiático é inaugurado a partir do jornalismo participativo na


internet, no qual simples leitores passam a atuar fundamentalmente em jornais
online, criando suas próprias notícias e interagindo diretamente com o meio, através
de comentários, sugestões etc. Para traçar esse processo de interação, o objetivo é
identificar como, ou, até que ponto, o jornalismo participativo interfere ou ‘coloca em
risco’ o papel dos jornalistas - que se tornam também mediadores de conteúdos 4 -, e
ao mesmo tempo confere maior identificação e proximidade do jornal com o seu
público, facilitando e até alterando o modelo linear do processo de comunicação.

A partir da coleta de dados e análise do jornalismo participativo praticado no


Eu-Repórter – objeto do presente estudo -, elaboramos o terceiro capítulo, que será
subdividido sob os aspectos do público, dos profissionais da comunicação e do meio
online, enquanto novo produto midiático.

Tentaremos mostrar que o jornalismo participativo não representa ameaça à


prática dos jornalistas, nem mesmo sua diminuição enquanto profissional, mas é sim
um desafio, que, segundo Cristiane Lindemann (2007, p. 54) exige uma atualização
da forma de encarar a prática profissional. Este aspecto, voltado para o impacto do
jornalismo participativo sobre o exercício da profissão, será abordado na segunda
parte do terceiro capítulo.

Como último ponto deste estudo de caso, há destaque para a interação entre
os meios tradicionais e o jornalismo online, que cada vez mais servem de
complemento um para o outro, conforme visto com a publicação periódica de
notícias do Eu-Repórter na edição impressa do jornal O Globo. Neste ponto, dois
aspectos são ressaltados no trabalho e compõem a última parte do terceiro capítulo:
o primeiro em relação à transposição do conteúdo online para o impresso,
promovendo, dessa forma, a inversão dos papéis determinados na primeira fase do

4
Profissionais responsáveis pela filtragem, triagem e validação, cada vez mais requeridos pela ampla
massa de informação das NTC (Novas Tecnologia de Comunicação).
14

jornalismo online, em que o mesmo era apenas uma cópia do jornal impresso para a
tela do computador. Em segundo lugar é possível observar a necessidade de se
publicar, diariamente, uma editoria exclusiva do jornalismo participativo no jornal O
Globo, tendo em vista o público-alvo – tanto os usuários já cadastrados no Eu-
Repórter, que são estimulados a dar continuidade à colaboração, quanto os que
ainda desconhecem a seção aberta à participação de leitores.

Em síntese, entre objetivos secundários, com o estudo de caso do Eu-


Repórter, a proposta deste trabalho visa confirmar a hipótese de que, apesar de
grande parte das características do jornalismo online se configurar como
continuidade e potencialização5 das ferramentas antes disponíveis em outros
suportes midiáticos, o jornalismo participativo surge como ruptura da interação
oferecida pelos meios tradicionais. Isto se dá à medida que nas seções de jornais
online abertas à participação do público verifica-se uma superação e alteração do
modelo comunicacional presente nos outros veículos, que pode ser identificada no
presente objeto de estudo.

5
Segundo PALACIOS (2003, p. 3), as características do Jornalismo na Web aparecem,
majoritariamente, como Continuidades e Potencializações e não, necessariamente, como Rupturas
com relação ao jornalismo praticado em suportes anteriores.
15

1 A EVOLUÇÃO MIDIÁTICA DO JORNALISMO ONLINE: DA MERA


TRANSPOSIÇÃO DE CONTEÚDOS À NOVA DIMENSÃO JORNALÍSTICA

1.1 O DESENVOLVIMENTO JORNALÍSTICO NA WEB

As discussões em torno da nomenclatura ideal para o jornalismo específico


da web são apresentadas em todas, ou pelo menos em grande parte das obras –
livros, artigos e outras - pesquisadas para produção deste trabalho. Portanto é
preciso deixar explícito aqui a definição escolhida para abordagem neste estudo e o
que levou a esta decisão, antes mesmo de entender o histórico do jornalismo online.

Jornalismo digital, eletrônico, ciberjornalismo e webjornalismo são as


principais denominações apresentadas, além do jornalismo online, que é utilizado
nesta proposta para definir a prática jornalística na internet, em especial a inserção
de veículos de comunicação de massa em sites na grande rede, ou seja, as edições
online de jornais diários, que ganham destaque na presente análise. Além da
definição, o termo jornalismo online foi também escolhido pela familiaridade pessoal
e contato diário com o mesmo.

O quadro a seguir, visto em Luciana Moherdaui (2007, p.121), sintetiza as


terminologias usadas por diferentes autores e suas respectivas características6.

Nomenclatura Definição
Jornalismo Utiliza equipamentos e recursos eletrônicos.
eletrônico
Jornalismo digital ou Emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento
jornalismo multimídia jornalístico que implica no tratamento de dados em forma de bits.
Ciberjornalismo Envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço.
Jornalismo online É desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de
dados em rede e em tempo real.
Webjornalismo Diz respeito à utilização de uma parte específica da internet,

6
MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo na web: uma contribuição para o estudo do formato
da notícia na escrita hipertextual.
16

que é a web.
Quadro 1 – Lista de nomenclaturas

Partindo da ascensão de novas tecnologias na esfera global, identificamos o


estouro da World Wide Web7 como a parte multimídia da internet – sistema que
permite a troca de informações entre computadores, em toda e qualquer parte do
mundo. Naturalmente, como consequência do desenvolvimento da web, os meios de
comunicação de massa viram na necessidade de entrar na grande rede uma
oportunidade para lançar seus produtos jornalísticos na era da informação digital.
Conforme a autora, o início desta nova era informacional online se dá nos Estados
Unidos, no final dos anos 1980, mas no Brasil só aconteceu mais tarde.

A expansão do jornalismo digital no Brasil deu-se a partir do êxito de


versões similares de revistas e jornais norte-americanos e ingleses, em
meados de 1995 [...] A explosão de produções jornalísticas na Web se deu
somente no início de 2000 [...] No Brasil, o jornalismo online começou a se
consolidar em 2001. Em pouco tempo, ele se tornou um grande
concorrente para os veículos tradicionais [...] (MOHERDAUI, 2007, p. 25,
33 e 65)

Com a rápida explosão e popularização da internet, o sentido e as


perspectivas em torno da comunicação se tornaram questionáveis e alvos de
pesquisas e previsões de estudiosos da área. Inicialmente, a web não passava de
uma novidade, até então não palpável a todos, mas com a sua ampla divulgação,
principalmente a partir dos anos 90, ela se transformou na principal personagem e
desencadeadora da revolução digital.

Através da consolidação da Wold Wide Web, uma nova rede comunicacional


estava sendo formada e levada rapidamente ao conhecimento e posse de muitos.
Desde então, passou-se a utilizar a internet como rede de troca de informações e,
bem como, para divulgação de conteúdos midiáticos, antes restritos apenas aos
meios tradicionais (TV, rádio e impresso). Porém, até este momento, não se tinha a
dimensão do quanto e como novas formas comunicacionais poderiam ser
potencializadas por meio das ferramentas oferecidas pela Web.

7
Desenvolvida pelo britânico especialista em computação, Tim Bernes, no início da década de 1990.
17

O primeiro site jornalístico brasileiro foi o do Jornal do Brasil, criado em


maio de 1995, seguido pela versão eletrônica do jornal O Globo. [...]
Empresas tradicionais como as Organizações Globo, o grupo Estado, o
grupo Folha e a Editora Abril se matem como os maiores conglomerados
de mídia do país, tanto em audiência, quanto em receita com publicidade.
Foram eles que deram os primeiros passos na Internet brasileira, seguidos
pelo boom mercadológico de 1999 e 2000 [...] (FERRARI, 2009, p. 25 e 27)

Apesar disso, premissas, como a sugerida por Pierre Lévy (1999, p. 188), já
apontavam que os novos meios de comunicação, em especial, a internet,
substituiriam e eliminariam os antigos. O jornalismo online, ainda ‘amador’, era visto
como uma ameaça aos meios tradicionais e para a cultura profissional jornalística.
Entretanto, o próprio desenvolvimento da prática jornalística na internet contradiz as
previsões sobre o desaparecimento do jornalismo, ou dos jornalistas enquanto
intermediários do processo de comunicação.

O estouro da bolha pontocom jogou água fria nessa conversa sobre


revolução digital. [...] Se o paradigma da revolução digital presumia que as
novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da
convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir de formas
cada vez mais complexas. O paradigma da revolução digital alegava que
os novos meios de comunicação digital mudariam tudo. Após o estouro da
bolha pontocom a tendência foi imaginar que as novas mídias não haviam
mudado nada. Como muitas outras coisas no ambiente midiático atual, a
verdade está no meio termo. Cada vez mais, líderes da indústria midiática
estão retornando à convergência como uma forma de encontrar sentido,
num momento de confusas transformações [...] (JENKINS, 2008, p. 31 e
32).

Passada a fase em que a internet era novidade e os sites eram trabalhados


como unidades isoladas, o novo suporte midiático precisou valer-se de uma
estrutura integrada de funcionalidades e conteúdos, segundo explica PRIMO (2007,
p. 2). Partindo deste ponto, surge a Web 2.08, figurando a segunda geração de
serviços online, que amplia os espaços para interação entre os participantes do
processo.

Segundo Mark Briggs (2007, p. 27), “o termo “Web 2.0” se refere às páginas
web cuja importância se deve principalmente à participação dos usuários”:

8
Segundo PRIMO (2007, p.1), a Web 2.0 é caracterizada pela potencialização das formas de
publicação, compartilhamento e organização de informações. Refere-se não apenas a uma
combinação de técnicas de informática, mas também a um conjunto de novas estratégias
mercadológicas e a processos de comunicação mediados pelo computador.
18

Tem tudo a ver com abertura – com software do tipo código aberto, que
permite aos usuários maior controle e flexibilidade de sua experiência na
Web, bem como uma maior criatividade online. Os editores da Web estão
criando plataformas ao invés de conteúdo. Os usuários estão criando
conteúdo (BRIGGS, 2007, p. 28).

É aí, inserida da segunda para a terceira fase do jornalismo online, que a


Web 2.0 gera o jornalismo participativo como a principal ferramenta de interação dos
veículos de comunicação na internet, conforme veremos no desenvolvimento do
presente estudo.

1.2 O CAMINHO ATÉ A TERCEIRA GERAÇÃO DO JORNALISMO ONLINE

Inicialmente, nada além do que o suporte tecnológico apresentava algo


realmente novo no jornalismo online. “A maioria dos sites jornalísticos surgiram
como meros reprodutores do conteúdo publicado em papel” (FERRARI, 2009, p. 23).
Aqui identificamos a primeira fase do jornalismo online, que, de acordo com Luciana
Mielniczuk (2003, p. 3 e 4), chega à sua terceira geração em virtude de rupturas no
jornalismo desenvolvido para a web, de modo que este se constitua efetivamente
como um novo formato de produtos jornalísticos.

Neste primeiro momento, podemos considerar a prática jornalística na internet


como uma mera transposição de outras mídias, em que o jornalismo online servia
apenas como reprodução das publicações dos meios de comunicação de massa
para a tela de computador. Notícias e reportagens produzidas e editadas por
repórteres, para a edição impressa de um jornal diário, por exemplo, passaram a ser
também disponibilizadas virtualmente na íntegra. Mas é importante ressaltar que, até
então, nenhum veículo de comunicação oferecia integralmente o conteúdo na
internet, e essa disponibilização ainda era feita sem periodicidade. Até então, além
de estar inserido na web ou ‘grande rede’, nada diferenciava o jornalismo online das
outras formas de comunicação já conhecidas dos jornais impressos, TV ou rádio.

Como novo produto midiático que é, estudos e pesquisas permeiam o


jornalismo online - desde o seu surgimento até os dias atuais -, para o qual ficam
19

delimitadas seis características9 sobre sua prática, em consonância ao meio em que


se dá a produção e veiculação de conteúdo: interatividade, multimidialidade,
hipertextualidade, instantaneidade e atualização contínua, memória e
personalização.

Para Marcos Palacios10, as características do online aparecem como


continuidades e potencializações com relação ao jornalismo praticado em suportes
anteriores.

Entendido o movimento de constituição de novos formatos mediáticos não


como um processo evolucionário linear de superação de suportes
anteriores por suportes novos, mas como uma articulação complexa e
dinâmica de diversos formatos jornalísticos, em diversos suportes, “em
convivência” (e complementação) no espaço mediático, as características
do Jornalismo na Web aparecem, majoritariamente, como Continuidades e
Potencializações e não, necessariamente, como Rupturas com relação ao
jornalismo praticado em suportes anteriores (PALACIOS, 2003, p. 3)

O autor apresenta uma breve descrição de características do jornalismo


online em um de seus artigos11 e exemplifica a ideia de Continuidade e
Potencialização: segundo ele, na TV já ocorre uma conjugação de formatos
midiáticos (imagem, som e texto), configurando a multimidialidade12 do jornalismo na
web como continuidade. O autor ainda afirma:

[...] A personalização é altamente potencializada na Web, mas já está


presente em suportes anteriores, através da segmentação de audiência
(públicos-alvos). No jornalismo impresso isso ocorre, por exemplo, através
da produção de cadernos e suplementos especiais (cultural, infantil,
feminino, rural, automobilístico, turístico, etc); no rádio e na TV a
personalização tem lugar através da diversificação e especialização das
grades de programação e até mesmo das emissoras [...] (PALACIOS,
2002a)13.

9
Tais características foram elencadas como constituintes do jornalismo online. (PALACIOS, 1999 e
2003).
10
Ver ‘Fazendo Jornalismo em Redes Híbridas: Notas para discussão da Internet enquanto suporte
mediático’. Artigo produzido para discussão na Lista JnCultural, em fevereiro de 2003, disponível no
site da FCA, PUC Minas Gerais: http://www.fca.pucminas.br/jornalismocultural/m_palacios.doc
11
Ruptura, Continuidade e Potencialização no Jornalismo Online: o Lugar da Memória (PALACIOS,
2003, p. 3, 4 e 5 ).
12
No contexto do Jornalismo Online, multimidialidade refere-se à convergência dos formatos das
mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico. (PALACIOS, 2003, p. 3)
13
“Jornalismo Online, Informação e Memória: apontamentos para debate”, apresentado no Workshop
de Jornalismo Online, realizado na Universidade da Beira Interior, Covilhã (Portugal).
20

O entendimento de Palacios sobre as características do jornalismo online não


é de todo descartado neste trabalho, mas não serve como parâmetro para o atual
contexto da prática jornalística na web.

Partindo do ponto em que a web já não é tão desconhecida dos


usuários/leitores e dos jornalistas (emissores), a segunda fase do jornalismo online é
inaugurada. Neste momento, alguns elementos e ferramentas próprias da web são
somados ao jornalismo online. Ainda permeadas pelo texto e diagramação padrão
da notícia veiculada em jornais impressos, as notícias publicadas na internet
ganham como complementos de diferenciação, recursos de hipermídia e conteúdo
exclusivo e específico para a versão online.

O padrão de consumo é controlado pelo público, não pelo provedor. É um


consumo não linear. Isso sugere necessidade de repensar o processo da
narrativa tradicional; analisar um texto e reconstruí-lo para um público
online e seus padrões de consumo não-linear (WARD, 2007, p. 24).

O jornalismo online começa a valer-se de novas formas que o diferenciem


dos outros meios já conhecidos anteriormente pelo público (TV, impresso e rádio).

[...] As condições tecnológicas para produção e disseminação através, da


web, têm progredido de forma considerável, atingindo um patamar razoável
que permite a implementação de várias possibilidades que exploram as
características oferecidas pela web (MIELNICZUK, 2003, p. 4).

Além da inserção de novas ferramentas, como hiperlinks, conteúdo


multimídia, enquetes, fóruns e outras, o jornalismo online apodera-se de práticas
tradicionais dos outros meios, visando assim aperfeiçoá-las para a grande rede,
como forma de explorar as potencialidades da internet. Segundo Luciana Mielniczuk,
o jornalismo online passa por um momento de dualidade:

[...] Ao mesmo tempo em que é necessário manter convenções a fim de


que o público – leitores/usuários – reconheça e se identifique com o
produto jornalístico, também é preciso que rupturas aconteçam para que os
webjornais se firmem como uma opção singular e com atrativos
diferenciados diante do público (MIELNICZUK, 2003, p.3).
21

Desde então, é iniciada a terceira geração do jornalismo online, marcada pelo


uso de linguagem própria e potencialização dos recursos oferecidos pela web, que
consagram a independência deste novo produto midiático com relação aos outros
meios e constroem uma identidade própria do jornalismo praticado na internet. Nesta
fase, o desenvolvimento das características do jornalismo online é aprofundado e
explora-se o uso de ferramentas de busca, textos curtos e exclusivos da internet,
hiperlinks, espaços para interação como fóruns e comentários, publicação de vídeos
e imagens, entre outras.

Culminando com a recente Web 2.0, que tem papel tecnológico fundamental
entre as NTC, o jornalismo participativo surge ainda na terceira geração do online
como a ferramenta que contribui essencialmente para dimensionar uma nova
identidade midiática, principalmente no âmbito da interação.

Embora a interatividade já estivesse presente nos meios de comunicação de


massa (TV, rádio e impresso), para que houvesse interação por parte do público, era
necessário fazer uso de outros meios como telefone, cartas e, ainda assim, a
participação dos usuários tinha restrito espaço para publicação. Já no jornalismo
online, a prática interativa traz inovações, em especial a possibilidade de que todo e
qualquer cidadão comum (usuário/leitor) é potencialmente um repórter.

[...] A notícia multimédia reveste-se, ou tende a revestir-se, da mesma


roupagem da linguagem multimédia. Tem o seu trunfo decisivo na
capacidade de interagir com o leitor, proporcionando um diálogo efectivo
entre “fonte-redacção; redacção-leitores; leitores-anunciantes: leitores,
leitores” como referem Pérez Luque e Foronda (NUNES, Ricardo)14.

Partindo do contexto tecnológico, Cristiane Lindemann15 expõe:


“[...] As novas tecnologias, por si só, não representam uma panacéia, mas os
processos interativos, estes sim podem facilitar o surgimento e o desenvolvimento
de um sistema comunicacional diferenciado [...]”.

14
Notícia digital – em busca da identidade: Artigo disponível em http://www.bocc.uff.br/pag/nunes-
ricardo-noticia-digital.pdf. Acesso em: 21 de set. 2010.
15
Em: ‘A potencialização da interação no webjornalismo participativo: um modelo
comunicacional democrático?’ (2007, p. 2).
22

À medida que esta interação é entendida no jornalismo online e explorada


como um dos principais aspectos de diferenciação para outros meios, o jornalismo
participativo ocorre de diversas formas, variando de um veículo para o outro. Na
maioria dos sites de empresas jornalísticas tradicionais, por exemplo, a participação
do público acontece por meio de fóruns, comentários, enquetes e seções abertas
para envio de fotos, textos, vídeos, mas sempre é mediada por jornalistas, que são
responsáveis por selecionar, editar e filtrar as informações. Este é o caso do O
Globo Online, que, além de oferecer as ferramentas citadas acima, tem em sua
página uma seção aberta à participação de usuários/leitores, o Eu-Repórter, do qual
um estudo de caso será apresentado no terceiro capítulo deste trabalho.

Em outros sites, como o Overmundo16, a participação de usuários comuns


acontece livremente, sem a interferência de editores, e em alguns casos o conteúdo
chega a ser mediado pelos próprios colaboradores. Um exemplo é o site Viva
Favela17, uma revista digital com conteúdo selecionado entre as colaborações de
correspondentes comunitários - como os colaboradores (usuários/internautas) são
denominados nesta página -, que são moradores de favelas atuando como
repórteres, fotógrafos e produtores de conteúdo multimídia. O próprio público
participa da mediação neste veículo, através da opinião e voto para os melhores
conteúdos.

A ideia desta produção colaborativa de uma revista multimídia é parte de


um projeto pioneiro do Viva Favela: a construção de uma escola virtual de
comunicação interativa. Todo o processo passa pelo site, que une a
proposta do jornalismo cidadão com a da educação à distância. Ao
promover encontros entre correspondentes e editores através de um fórum
e uma sala de reunião virtual, estamos proporcionando uma troca de
experiências e ideias que é essencial na produção de qualquer veículo de
comunicação18.

Nesta fase do jornalismo online, além da interação com o produto


simplesmente, um nível de interatividade que até então não havia sido explorado em
TV, impresso ou rádio, passa a ganhar forma e peso na web. Conforme descreve

16
www.overmundo.com.br Acesso: 27 de jul. 2010.
17
www.vivafavela.com.br Acesso: 27 de jul. 2010.
18
Disponível em <http://www.vivafavela.com.br/o-que-%C3%A9> Acesso em: 27 de jul. 2010.
23

Mike Ward (2007, p. 25), o consumidor pode também se tornar o provedor: “À


medida que o meio de comunicação online amadurece, algumas vozes ‘lá de fora’
estão se tornando mais confiáveis contribuindo para o conteúdo principal19”.

[...] novas formas de participação vêm sendo oferecidas no webjornalismo,


chegando ao limite de ampla e irrestrita redação e edição por parte de
qualquer pessoa com acesso à rede. Abre-se, assim, espaço para a
interação mútua (Primo, 2004), na qual o desenvolvimento do processo
interativo é negociado entre os participantes. Neste caso, o relacionamento
desenvolvido entre os interagentes têm um impacto recursivo sobre a
interação, seus participantes e produtos (PRIMO e TRÄSEL, 2006, p. 9).

Sobre o jornalismo participativo, Cristiane Lindemann (2007, p. 4) aponta:

A principal característica dessa lógica de produção é a superação do


modelo comunicacional emissor-meio-mensagem-receptor, uma vez que
este último torna-se um produtor de conteúdo em potencial de modo que a
fronteira entre produção e leitura não é nitidamente delimitada ou não
existe (PRIMO; TRÄSEL, 2006).

Dessa forma, mais do que as mudanças de linguagem e processos de


interação, o jornalismo participativo na internet vem a transformar o processo de
comunicação pregado e fielmente praticado pelos meios massivos. Aí identificamos
uma ruptura ou quebra com os padrões levantados no jornalismo tradicional.

Portanto é importante esclarecer aqui que, apesar dos fundamentos cabíveis


da ideia tomada de Marcos Palácios (2003), de que as características do jornalismo
online não passam de continuidade e potencialização do padrão apresentado nos
meios de comunicação de massa (TV, impresso e rádio), ela pode ser confrontada
no atual contexto. Entende-se que o jornalismo online já está consolidado como um
novo produto midiático, que independe do conteúdo de outros meios para sua
sobrevivência, mas pode também convergir com os mesmos. Além disso, novas
ferramentas agregadas à prática jornalística na web, a partir da segunda fase do
jornalismo online, mas principalmente em sua terceira geração, já resultaram em
rupturas tanto na forma de produção e veiculação de notícias, quanto no processo
de comunicação.
19
Os outros níveis de interatividade, segundo Mike Ward, são: Consumidor interagindo com o
provedor – leitores enviam e-mails para jornalistas; e Consumidor interagindo com o consumidor, por
exemplo, através de fóruns de mensagem para troca de opiniões e informações entre os leitores.
24

Tendo o jornalismo participativo se configurado como uma das principais


características inovadoras do online, contribuiu diretamente para sua personalização
como um novo produto jornalístico, potencializando e explorando as ferramentas
disponibilizadas pela web. Portanto, o jornalismo participativo na internet nos servirá
como objeto de estudo no próximo capítulo, no qual abordaremos sua influência
sobre o jornalismo online e outros meios, sobre a relação público-jornalistas
(receptores-emissores), e ainda sobre a prática jornalística e a cultura profissional.

2 JORNALISMO PARTICIPATIVO NA INTERNET: DIFERENTES NÍVEIS DE


INTERAÇÃO E A ABERTURA PARA COLABORAÇÃO EFETIVA DO PÚBLICO

2.1 DO MODELO COMUNICACIONAL DE MÃO ÚNICA À COMUNICAÇÃO


EM REDE E INTERATIVA
25

Tomando o jornalismo participativo na internet como tema deste estudo


observou-se a discussão de que esta ferramenta não é exclusiva do jornalismo
online, por já estar presente nos produtos midiáticos tradicionais (TV, impresso e
rádio), antes mesmo do advento de novas tecnologias comunicacionais. Portanto,
neste trabalho apresentamos um paralelo entre a interação nos meios tradicionais
com relação à participação aberta e interativa, dada em diversos aspectos no online.

Levando-se em conta os diferentes níveis de interação presentes no meio


online podemos dizer que o jornalismo participativo na internet ultrapassa os limites
antes vistos na comunicação massiva.

[...] Pela primeira vez na história da humanidade, a comunicação se torna


um processo de fluxo em que velhas distinções entre emissor, meio e
receptor se confundem e se trocam até estabelecer outras formas e outras
dinâmicas de interação, impossíveis de serem representadas segundo os
modelos dos paradigmas comunicativos tradicionais (Shannon-Weaver,
Katz-Lazarsfelde, Eco-Fabbri etc) (DI FELICE, 2008, p.23).

A diferenciação que vamos abordar aqui vai além do suporte tecnológico e


suas ferramentas em si, na medida em que tocará também nas transformações da
identidade e papel dos sujeitos interagentes (emissores e receptores) no processo
de comunicação. Citado por Massimo Di Felice, Marshall McLuhan (1996, p. 52)
esclarecia como “os efeitos da tecnologia comunicativa não ocorrem aos níveis das
opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas relações entre os sentidos e nas
estruturas da percepção”.

Segundo tal visão, olhar a história das transformações comunicativas não


significa, portanto, perceber somente a mudança das formas de armazenar,
organizar e comunicar as informações num sentido evolutivo, mas
compreender o caráter qualitativo de cada ruptura comunicativa e, com esta,
a cada fase, a introdução de uma nova forma de sentir o mundo e de definir
a realidade (DI FELICE, 2008, p. 21).

Do ponto de vista dos suportes midiáticos podemos identificar a primeira


distinção entre a interação oferecida nos meios tradicionais e no online: se no jornal
impresso, por exemplo, a participação dos leitores acontece, necessariamente, com
o suporte e através de outros canais – telefone, e-mail, carta -, no meio online este
processo se dá, até mesmo, na interatividade com as interfaces (mouse, teclado e
26

redes) e na navegação pelas páginas da Web, mas não se restringe a isso. Até
então, o que ocorre aqui é a interação reativa, que é um processo “[...] cujas trocas
encontram-se pré-determinadas no par ação-reação” (PRIMO; TRASEL, 2006, p. 9).
Este processo fica claro na interatividade oferecida pela TV, que tem no controle
remoto a máxima de ação-reação. O telespectador tem nas mãos o controle do que
quer assistir e muda de um canal para o outro até que encontre o que busca. Esta
interação é típica dos meios massivos, em que a comunicação segue um modelo de
mão única.

Porém, no jornalismo praticado na internet há ainda outros níveis de


interatividade que vão além de uma reação à mensagem enviada por emissores e
compõem o jornalismo participativo, figurando-o como um processo de interação
mútua – uma conversação -, em que a relação interativa é negociada entre os
interagentes:

Os níveis de interação no jornalismo online ocorrem:

1- Entre público e conteúdo, na qual o internauta pode navegar pela


estrutura de hipertexto20, conferindo mais controle ao leitor, que pode ir de uma
página a outra no momento em que desejar;

Já a informação alojada na Internet é não-linear. Nela, o hipertexto permite


que o usuário se movimente mediante as estruturas de informação do site
sem uma sequência predeterminada, mas sim saltando entre os vários tipos
de dados que necessita. A principal característica do hipertexto é a sua
maneira natural de processar informação, funcionando de uma maneira
parecida com a mente humana, que trabalha por associações de ideias e
não recebe a informação linearmente. [...] A não-linearidade da informação
na Internet exige que o material mostrado na tela do monitor suscite no leitor
a confiança de que ele encontrará no site a informação procurada. O redator
do texto precisa antecipar o motivo pelo qual o usuário está visitando aquele
site e certificar-se de que o que ele vê tem um contexto estabelecido, uma
navegação apropriada e, por último, vai satisfazer plenamente as suas
necessidades de informação (PINHO, 2003, p.50).

20
A abordagem mais simples do hipertexto é descrevê-lo como um texto estruturado em rede, em
oposição a um texto linear. O hipertexto é constituído por “nós” (elementos de informação, parágrafos,
páginas, imagens, sequências musicais etc.) e elos entre esses nós – referências, notas, ponteiros,
botões indicando a passagem de um nó a outro (MOHERDAUI, 2000, p. 35; PINHO, 2003, p. 186).
27

2- Entre público e emissores (jornalistas), em diferentes esferas. Ao


disponibilizar links que levam a outras páginas da Web, “o redator renuncia o
controle da informação em favor do leitor” (RICH, 2002a)21. Ainda neste sentido, Di
Felice (2008, p. 45) toma o exposto por Lúcia Santanella:

O emissor não emite mais mensagens, mas constrói um sistema com rotas
de navegação e conexões. A mensagem passa a ser um programa
interativo que se define pela maneira como é consultado, de modo que a
mensagem se modifica na medida em que atende às solicitações daquele
que manipula o programa. Essas manipulações se processam por meio de
uma tela interativa ou interface que são lugar e meio para o diálogo
(SANTANELLA, 2004, p.163).

Nesta interação entre emissores e receptores, há ainda a troca mútua de


informações entre eles. Bem como os jornalistas distribuem informações em sites
noticiosos para seu público, qualquer cidadão comum passa também a contribuir
com o conteúdo online, seja pela sugestão de pautas – enviadas através de e-mail
para o veículo de comunicação ou diretamente para o repórter -, pela participação
nos comentários, fóruns de discussão, enquetes e outras ferramentas interativas; ou
ainda na produção direta de textos, fotos, vídeos e áudios para publicação em
seções abertas à participação do público.

Mas no webjornalismo participativo, o interagente é integrado ao processo


de produção da notícia como nunca antes. Alguns sites noticiosos, inclusive,
podem depender totalmente da intervenção dos internautas. Sem a
participação ativa de um grupo em interação mútua, esses webjornais não
têm qualquer função (PRIMO; TRASEL, 2006, p. 10)

Ainda sobre os níveis de interação, Lindemann (2007, p. 49) cita a evolução


da participação do público no jornalismo online:

Na quinta fase, o público ganha o direito de produzir uma matéria com o


apoio do mediador. Os conteúdos podem ser bons ou ruins e o usuário
ainda aprende a soltar a voz por muito tempo abafada pelos meios de
comunicação de massa. [...] Na quinta fase o usuário também adquire o
direito de disponibilizar conteúdos audiovisuais. Parece mais um papparazi
do que um cidadão-repórter, como o da sexta fase. Nesta fase, emissores e
receptores invertem os papéis para construir de modo interativo uma história
(QUADROS, 2005, p. 13-14).
21
Citado em Jornalismo na Internet: Planejamento e produção da informação on-line (J.B. Pinho,
Summus Editorial, 2003, p. 186).
28

Esta fase, em que o jornalismo é aberto à participação do público, é a que


mais interessa e ganha destaque no estudo, pois representa uma transformação em
todos os âmbitos do modelo comunicacional (emissor-meio-mensagem-receptor),
que será melhor discutida no segundo momento deste capítulo.

3 – Entre leitores, que podem trocar informações e discutir opiniões, através


de fóruns, comentários e outros recursos, de acordo com a estrutura interativa
oferecida em cada veículo. Sobre esta possibilidade de interatividade Luciana
Mielniczuk explica:

A segunda situação refere-se às possibilidades decorrentes da interação


entre usuários, a qual pode gerar, por exemplo, novos gêneros jornalísticos,
como aponta Armentia (2001) ao referir-se aos chats promovidos pelos
jornais com alguma personalidade pública: o resultado seria uma entrevista
coletiva, na qual os entrevistadores seriam os próprios leitores
(MIELNICZUK, 2003, p. 11).

Enfim, dadas estas diferenciações fica evidente que além de potencializar a


interação, o jornalismo online transforma a cultura participativa e a relação entre
público, meio e emissores. Assim configura-se uma inovadora ferramenta de
colaboração dos leitores, até mesmo pela necessidade de estabelecer a fidelização
do público online.

A rede não segue os padrões da TV, cuja mensagem é levada e alardeada


na sala de um telespectador passivo. Ao contrário: com milhões de sites na
Web disponíveis na rede mundial, a audiência tem de buscar a informação
de maneira mais ativa. Daí se dizer que a Web é uma mídia pull, que deve
puxar o interesse e a atenção do internauta, enquanto a TV e o rádio são
mídias push, nas quais a mensagem é empurrada diretamente para o
telespectador ou ouvinte, sem que ele a tenha solicitado (PINHO, 2003, p.
55).

Estas novas formas de interação presentes no jornalismo online também


provocam mudanças no modelo comunicacional tradicional, visto em meios
massivos como TV, impresso e rádio. Nestes, emissor-meio-mensagem são
mantidos separadamente para transmissão das informações e os receptores
29

(público) e emissores são distanciados pela identidade de cada um. Enquanto que
no meio online, o jornalismo participativo contribui para o estabelecimento de uma
nova comunicação:

Ao contrário de tal modelo, a comunicação digital apresenta-se como um


processo comunicativo em rede e interativo. Neste, a distinção entre
emissor e receptor é substituída por uma interação de fluxos informativos
entre o internauta e as redes, resultante de uma navegação única e
individual que cria um rizomático processo comunicativo entre arquiteturas
informativas (site, blog, comunidades virtuais etc.), conteúdos e pessoas (DI
FELICE, 2008, p. 44).

Estas superações presentes no jornalismo online com relação à prática


interativa em meios tradicionais estão bem claras, tanto que, mesmo os veículos de
TV, impresso e rádio já notaram a necessidade de aproveitar e integrar conteúdos
do online em seus meios e vice-versa. Se inicialmente o jornalismo online era
caracterizado apenas pela novidade de um suporte tecnológico – a internet – e
ficava restrito a transpor para a rede o conteúdo midiático tradicional, como por
exemplo, dispor aos internautas versões digitais do jornal impresso, agora ele
apresenta rupturas suficientes para que haja uma inversão desta troca. Tanto que,
em jornais que mantém versões online, passou-se a destinar – periodicamente, de
acordo com cada veículo - determinados espaços na edição impressa
especificamente para publicação da participação dos leitores, seja por meio de
comentários, seções colaborativas ou outras ferramentas. Aí ocorre a inversão, na
qual o que antes vinha do impresso para o online, agora sai da tela do computador
(página da internet) para o papel. Neste contexto identifica-se a convergência das
mídias:

Por convergência refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos


suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao
comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão
quase a qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que
desejam [...] Meu argumento aqui será contra a ideia de que convergência
deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que
une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a
convergência representa uma transformação cultural, à medida que
consumidores são incentivados a buscar novas informações e fazer
conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos (JENKINS, 2008, p. 27
e 28).
30

Este processo é iniciado a partir da ascensão de novas tecnologias da


comunicação e principalmente pelas potencialidades apresentadas no jornalismo
online, que começaram a transpor a delimitação e remover as barreiras que
separavam os diferentes meios de comunicação. Se o conteúdo televisivo só podia
ser visto em um aparelho de TV, agora ele é disponibilizado em outros canais, como
na internet. Esta disponibilização foi efetivada, principalmente, com o lançamento do
Youtube e passou a ser integrada também nos próprios sites oficiais dos veículos.
Os jornais também começaram a permitir a disponibilização do mesmo conteúdo por
outros suportes, assumindo diferentes formas de recepção com público
diversificado. Um exemplo é ter a versão impressa completa publicada no online,
seja apenas para assinantes ou livre a qualquer internauta.

Contudo, entende-se que se na explosão da internet como um novo meio de


comunicação, o jornalismo online era visto como uma ameaça sobre os meios
tradicionais (TV, impresso e rádio), agora eles conseguiram estabelecer uma relação
em favor da integração de conteúdos, da audiência, e especialmente do público, que
busca cada vez mais ter acesso a diversos conteúdos e informações em canais
distintos, de acordo com a necessidade pessoal e momentânea na qual esteja
inserido. Além disso, com esta convergência midiática, os meios de comunicação
tornam maior a personalização em suas publicações, tendo em vista que no
jornalismo online esta característica é um dos principais atrativos de público, pela
segmentação proporcionada na web.

[...] os velhos meios de comunicação nunca morrem - nem desaparecem,


necessariamente. O que morre são apenas as ferramentas que usamos
para acessar seu conteúdo [...] O cinema não eliminou o teatro. A televisão
não eliminou o rádio. Cada antigo meio foi forçado a conviver com os meios
emergentes [...] Os velhos meios de comunicação não estão sendo
substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão sendo
transformados pela introdução de novas tecnologias (JENKINS, 2008, p. 39
e 40).

Conforme abordam PRIMO e TRÄSEL (2006, p. 8), o “principal papel do


webjornalismo participativo é cobrir o vácuo deixado pela mídia tradicional [...]”.
Sobre o jornalismo praticado em TV ou impresso, ganham maior peso ou ‘espaço’
conteúdos de grande repercussão social, política e econômica. Já no jornalismo
praticado na internet e aberto à participação de usuários comuns, o conteúdo é
31

pautado pela necessidade e apelo popular, tendo espaço destinado para veiculação
de temas que fogem ao padrão pregado anteriormente, e viabilizam a
personalização, na qual a finalidade é atender os interesses específicos de cada
leitor.

2.2 DE IDENTIDADES DISTINTAS E ISOLADAS À INVERSÃO DE PAPÉIS

No momento em que o jornalismo online cria novas formas interativas, através


de seu suporte e ferramentas, surge o jornalismo participativo na internet, no qual as
barreiras que distinguiam as identidades e papéis de emissores e receptores são
ultrapassadas.

Esta fase no meio online ocorre a partir da necessidade de que rupturas


aconteçam para diferenciá-lo e distanciá-lo da prática jornalística presente em TV,
impresso ou rádio. Necessidade essa incentivada pelo próprio público (internautas,
usuários) que sente o desejo de ter sua interação potencializada desde que as
novas tecnologias resultaram em produtos e aparelhos, como câmeras digitais e
celulares, que lhe permite a produção de fotos, vídeos e áudio. Ou seja, as
tecnologias digitais motivam a participação dos receptores no processo noticioso.

Tal processo tem como fator inicial a ampliação das formas de acesso à
Internet: a queda progressiva do custo de computadores e de conexão; a
multiplicação de serviços e pontos de acesso gratuito (como em telecentros,
ONGs e outras instituições comunitárias), cibercafés e pontos de conexão
sem fio (Wi-Fi). Além disso, blogs (incluindo fotologs e moblogs4), wikis e as
tecnologias que simplificam a publicação e cooperação na rede favorecem a
integração de qualquer interagente no processo de redação, circulação e
debate de notícias [...] Outro fator que motiva o desenvolvimento do
webjornalismo participativo é a vulgarização de máquinas de fotografia
digital e celulares que podem captar fotos ou vídeos e enviar mensagens
multimídia. Essas tecnologias de comunicação móvel facilitam o registro e
divulgação de fatos no momento em que eles ocorrem. As empresas
jornalísticas passaram a contar com a pulverização de fontes de imagens e
informações, mesmo onde não haja qualquer jornalista ou repórter-
fotográfico. E não faltam ilustrações sobre os processos distribuídos e
capilarizados que subsidiaram a ampliação da cobertura de grandes
notícias: o ataque às torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001; o tsunami
no sudeste asiático, em dezembro de 2004; as explosões no metrô de
Londres, em julho de 2005 (PRIMO; TRÄSEL, 2006, p.4).
32

Neste mesmo sentido Fábio Malini (2008, p. 4 e 5) aponta o entendimento de


Chris Anderson de que a cultura colaborativa em rede se acelera por causa
de três forças, sendo a primeira a da democratização das ferramentas de
produção:
“O melhor exemplo disso é o computador pessoal, que pôs todas as
coisas, desde as máquinas de impressão até os estúdios de produção de
filmes e de músicas, nas mãos de todos” (ANDERSON, 2006, p.52).

Uma segunda força é a de redução dos custos do consumo pela


democratização da distribuição. “O fato de qualquer um ser capaz de
produzir conteúdo só é significativo se outros puderem desfrutá-lo. O PC
transformou todas as pessoas em produtores e editores, mas foi a Internet
que converteu todo o mundo em distribuidores” (ANDERSON, 2006, p.52).
E uma terceira força é a ligação cada vez mais próxima entre oferta e
demanda. Milhares de usuários, em seus blogs, são capazes atualmente de
formar preferências, que chegam até a eles graças a tecnologias de busca.
O contato entre consumidores acaba por gerar um efeito colateral positivo: a
conversação entre eles, à medida que descobrem “que, em conjunto, suas
preferências são muito mais diversificadas do que sugerem os planos de
marketing” (MALINI, 2008, p.5).

Como expõe Henry Jenkins (2008, p. 44), “as promessas desse novo
ambiente midiático provocam expectativas de um fluxo mais livre de ideias e
conteúdos”. Os receptores se tornam mais exigentes conforme vislumbram a
possibilidade de deixar a posição de consumo passivo e começam a entender que
têm caráter decisivo no processo de comunicação, podendo até mesmo interferir
diretamente na publicação midiática, opinando, sugerindo e colaborando
efetivamente na produção de conteúdo.

MALINI (2008, p. 9 e 10) toma também a visão de Dan GILLMOR (2005) de


que essa nova prática jornalística é diretamente influenciada pelo
aparelhamento tecnológico da sociedade que, principalmente, através da
internet, possibilita às pessoas a produzirem informações e conteúdos
multimídia e os distribuírem, em diversos formatos, em redes sociais
online, através dos telefones móveis e, principalmente, através dos blogs.

O jornalismo online como novo produto midiático que é não merece


destaque apenas pelo suporte tecnológico, mas sim por representar uma mudança
33

ampla no paradigma comunicacional em vigor nos meios tradicionais. Além de


romper com limitações de tempo e espaço, a inserção midiática na web possibilita
um novo grau de interatividade, em que o público tem voz ativa e espaço aberto
para participação, em diferentes níveis, que variam de um veículo para o outro.

Segundo Rosental Alves (2006), a transferência de controle do emissor para


o receptor é percebida com mais claridade no “início da segunda década do
jornalismo digital”.

Isso abre caminho para uma comunicação que poderíamos chamar de eu-
cêntrica, pois está baseada nas decisões individuais do receptor, diante do
enorme leque de opções que a Internet lhe abre. A comunicação se torna
eu-cêntrica porque tenho acesso somente ao que eu quero, na hora em
que eu quero, no formato em que eu quero e onde eu quero. Trata-se,
sobretudo, de uma transferência importante de poder ou de privilégio, que
passa do emissor para o receptor, numa evidente ruptura dos modelos
fechados que se conheciam até agora (ALVES, 2006, p. 96, 97).

Este processo de transformações no modelo comunicacional decorrente do


jornalismo participativo na internet, no qual estão inseridas principalmente a
descentralização da informação e a interação mútua entre os interagentes
(emissores e receptores), também é atribuído às inovações tecnológicas por
Cristiane Lindeman (2007). Se antes do jornalismo online as mensagens só podiam
ser emitidas por um agente (emissor/jornalista), em único e específico meio,
igualmente para todos os receptores, todos estes aspectos sofreram transições com
a ascensão de novos suportes tecnológicos como novos meios de comunicação.

A idéia do JPI é, justamente, descentralizar a emissão, oportunizando uma


amplitude de vozes no espaço público. Destaca-se, nesse processo, a
possibilidade de interação mútua, que é facilitada graças às inovações
tecnológicas, especialmente a Internet e a web 2.0. O modelo de produção
do webjornalismo participativo aproxima-se, muitas vezes, das experiências
de jornalismo comunitário ou de imprensa alternativa, que surgem,
geralmente, da insatisfação do povo frente às informações da mídia massiva
(LINDEMANN, 2007, p. 4, 5).

Portanto, a autora defende que “as propostas de utilização emancipadora dos


meios de comunicação são, em sua maioria, efetivadas com o webjornalismo
participativo [...]” (2007, p. 6).
34

Sobre o jornalismo participativo na internet, cabe destacar aqui a transição de


receptores em seus papeis delimitados na comunicação de via única. Eles passam a
colaborar efetivamente no processo de comunicação, sem apenas se encontrarem
passivos em posição de receber mensagens ou consumir conteúdos expostos em
jornais online, mas também assumindo o papel de emissores potenciais.

Entende-se que esta mudança não acontece de imediato com a explosão da


internet, mas é desenvolvida na medida em que o suporte do jornalismo online
potencializa plataformas e ferramentas, criando novos formatos de interação com o
meio e mensagem, que consequentemente permitem a ascensão de uma
comunicação aberta e participativa.

Um enfoque da criação e distribuição de conteúdos na Web caracterizada


pela comunicação aberta, controle descentralizado, liberdade para
compartilhar e re-combinar conteúdos, bem como o desenvolvimento da
idéia de “mercado como uma conversa” (muitos para muitos). No modelo
1.0, um editor (seja um site de notícias ou um site pessoal no Geocities)
colocava o conteúdo num site da Web para que muitos outros lessem, mas
a comunicação terminava aí. O modelo 2.0 não apenas permite que “muitos
outros” comentem e colaborem com o conteúdo publicado, como também
permite que os usuários coloquem, eles mesmos, material original (BRIGGS,
2007, p. 28).

Entre estas novas plataformas podemos ressaltar o lançamento dos blogs,


inicialmente tomados como diários íntimos, nos quais os autores postavam,
gratuitamente na rede, suas experiências do dia-a-dia e confidências pessoais e
particulares. Entretanto, conforme os internautas começaram a perceber as
inúmeras chances que tinham para expor opiniões, discutir determinados
acontecimentos e até mesmo publicar coberturas jornalísticas e críticas, tendo
liberdade para se expressar sem seguir protocolos, pré-determinações ou editoriais,
iniciou-se uma nova onda dos blogs, em que novas possibilidades comunicacionais
passaram a ser exploradas. Com esta nova usabilidade formou-se uma nova
comunidade chamada de blogosfera – comunidade dos blogs – em que a circulação
de informações é feita livremente por diferentes autores, permitindo até a conexão e
ligação entre diversos blogs através do uso de hiperlink.
35

Considera-se que os blogs foram os principais contribuintes para que a


audiência (receptores) passasse a atuar fundamentalmente no processo de
comunicação, podendo emitir ou publicar mensagens de cunho particular ou sob
ponto de vista pessoal. Ainda nos blogs, até mesmo os receptores que não se
tornaram autores num primeiro momento, ganharam espaço para expor suas
opiniões e interagir com o conteúdo, por meio da abertura à participação dos
leitores, principalmente em espaços destinados a comentários, mas ainda através de
ferramentas para busca em posts antigos e links para outros sites, deixando livre a
visitação e circulação por diferentes páginas da web. Sob a prática jornalística, os
blogs carregam ‘furos’ de reportagem em tom informal e ganham espaço nobre na
rede, pautando jornais e conferindo também uma relação de proximidade com
jornalistas e o jornalismo cidadão.

[...] A informalidade, uma característica evidente dos blogs, também


incentivou a participação do leitor, elevando-o, de fato, à categoria de
usuário [...] Nesse contexto, em que o público passa a ter outras alternativas
para buscar e divulgar um fato, o papel dos gatekeepers – conceito criado
por Kurt Lewin para se referir aos editores que decidem o que deve ou não
fazer parte do fluxo de informação - é reavaliado para explorar o potencial
comunitário e agregador, como define Lemos (2002), da nova tecnologia,
garantindo a audiência de internautas que, de certa forma, têm mais direitos
do que deveres na rede das redes. Neste sentido, o usuário pode interagir
de forma efetiva e a seu bel-prazer no momento que troca informações em
um meio descentralizado e sem muitas regras definidas. Assim, ao exercer
o seu poder na Internet, também decide novos rumos da mediação
(QUADROS, 2005, p. 3).

A análise de fatos sob um ângulo particular também é vista como evolução


jornalística, já que cobre, por vezes, aspectos ausentes da cobertura tradicional.
Enfim, no que diz respeito à construção jornalística por autores ‘anônimos’ - grande
parte sem formação profissional - os blogs são ferramentas que tornam livre a
participação de qualquer pessoa em um processo jornalístico na web. O receptor
tem espaço para participar da construção da mensagem e não apenas recebê-la
sem intervir.

Deste ponto fica clara a inversão de papeis e novas relações no processo de


comunicação a que este estudo é dedicado: a audiência assume a posição de
emissor, transmitindo mensagens a diversos receptores, buscando audiência para
seu conteúdo e participação em seu próprio canal, ou seja, internautas comuns se
36

transformam em repórteres potenciais, tornando real uma das principais


características do jornalismo participativo na internet.

Neste sentido, os jornais online só tiveram reforçada a necessidade de


explorar novas ferramentas interativas em suas páginas, a fim de atender a
demanda do público e seu desejo de participação mais ativa no processo midiático.
Os blogs e as redes sociais – que apareceram na web apenas alguns anos depois –
foram responsáveis também por gerar nos receptores (público) a liberdade de
migração para as plataformas que escolhessem e que lhes proporcionasse a real ou
pelo menos a esperada interação.

De acordo com Fábio Malini “[...] os grandes jornais online leem esse cenário
de maneira ambivalente. Por um lado, como um momento de oportunidade, por
outro, como instante de crise”.

No primeiro caso, o jornal constituiria um espaço mais elástico de


visibilidade e diálogo público, pois agregaria as mais diversas notícias
advindas da cobertura feita pelo cidadão e editada pelo jornalista. No
segundo caso, o jornal passaria por uma séria crise porque sua força em
constituir uma “opinião pública” estaria a diminuir graças à diversidade de
versões sobre os significados dos fatos produzidos, novamente, no âmbito
da internet. Assim, a facilidade de produção e a velocidade de circulação da
informação que estão disponíveis ao cidadão recompõem o jogo de forças
no âmbito contemporâneo midiático. Isso por dois aspectos fundamentais: a
atenção aos meios, tendencialmente, se fragmenta, pois as pessoas
dividem o seu tempo entre ler notícia em um jornal e vê-la no Youtube, lista
de discussões, blogs e outras mídias sociais; e o fato noticioso não fica
preso a versão única do fato, agora, este é objeto de um intenso diálogo
público nas listas de discussão, de uma crítica nos blogs ou mesmo é
remixado em sites online, como o Youtube (MALINI, 2008, p. 10).

Progressivamente, os jornais online foram implantando em suas edições na


web ferramentas de participação, que vão desde enquetes, passando por fóruns de
discussão, comentários, até chegarem à abertura de seções participativas. As novas
tecnologias da comunicação abriram os canais, deixando que as informações fluam
livremente, de forma que fontes independentes – usuários comuns – ganham peso
sobre as fontes oficiais (emissores). Neste nível a que chegamos com o meio online,
especialmente com o jornalismo participativo, esta abertura não poderá ser
37

novamente bloqueada, pois o público já tem controle suficiente sobre o que, quando,
como e onde acessa os conteúdos midiáticos na Web.

Nestas seções abertas à participação do público, que efetivamente


constituem uma ruptura no modelo comunicacional e no fazer jornalístico, ocorre
uma transferência de poder, que vai dos emissores – até então detentores do
controle do conteúdo e da maneira como este é recebido – aos receptores
(usuários/público), que conquistam o privilégio ou poder de atuar essencialmente na
produção de conteúdo, mesmo que não sendo autor do mesmo, à medida que os
jornais online tendem a oferecer informações cada vez mais personalizadas, a fim
de atingir uma segmentação individual até então não vista em outros meios.

O jornalismo participativo na internet não diz respeito apenas à produção e


publicação de notícias na web a partir de qualquer usuário ou a prática jornalística
aberta a todos, mas suas implicações vão além. A abertura do jornalismo
participativo no online significa perder o controle da informação (conteúdo) e trazer a
audiência (receptores) para o processo, abrindo as cortinas que separavam estas
partes na comunicação, transparecendo mais o fazer jornalístico e mudando a
relação entre mídia e público.

O conteúdo nos jornais da web começa a sobressair a partir do momento em


que o jornalismo online é firmado como um novo produto midiático, não apenas pela
novidade do formato, mas por inserir novas ferramentas que evidenciem o
estabelecimento de um novo modelo comunicacional, no qual a relação entre os
participantes é horizontal (todos - todos), diferente do processo vertical (um para
todos) visto anteriormente em meios tradicionais (TV, rádio, impresso). O jornalismo
participativo possibilita a descentralização da emissão, permitindo que mais e
diferentes vozes possam emitir mensagens na rede. Contrariando a restrição que
permitia apenas um emissor, o jornalismo online abre espaço para que qualquer
usuário comum seja produtor de conteúdo na comunicação, mas mantém mediação
e filtragem sobre esta interação.
38

Qualquer cidadão pode se tornar repórter e esta prática não está apenas no
papel ou sendo profetizada, ela já ocorre em grande parte dos sites jornalísticos,
seja com mediação ou não. Por isso, no terceiro capítulo apresentaremos o estudo
de caso do Eu-Repórter, do O Globo Online, para entender mais claramente um dos
vários exemplos de seções de jornalismo participativo presentes no meio online e de
que forma se dá esta transformação no processo comunicacional.

2.3 A PRÁTICA JORNALÍSTICA E O ESTABELECIMENTO DE UMA NOVA


CULTURA PROFISSIONAL

Mas, se o jornalismo participativo na internet transforma o modelo


comunicacional massivo (emissor-meio-mensagem-receptor), o que muda para os
profissionais da área em sua prática e cultura profissional, é o que permeará nossa
discussão nesta parte do trabalho.

Seguindo o mesmo processo do jornalismo online, que inicialmente ficava


restrito somente a transposição de mídias para um novo suporte tecnológico, o
primeiro contato dos jornalistas com o novo meio se resumiu a transições físicas e
estruturais. Tratando destas mudanças agora, há mais de dez anos do surgimento
do meio online, podemos encará-las como parte de um processo natural e
consequente da ascensão de novas tecnologias, mas que foram um tanto quanto
assustadoras para aqueles que as vivenciaram de perto.

As transformações começaram logo com a informática, passando a produção


do papel para a tela do computador até atingirem a estrutura das redações, tanto no
espaço físico em si, quanto na composição do quadro de funcionários, já que
algumas funções essenciais foram aos poucos se extinguindo. Neste caso uma
pessoa passou a exercer mais de uma função, como por exemplo, os editores que
agregaram para si as atribuições dos antigos ‘pauteiros’. Mas estas transições
couberam ser decididas em cada veículo de comunicação.
39

Especificamente com relação à internet, entre as mudanças trazidas pelo


jornalismo online pode-se destacar a quebra de periodicidade – fortemente presente
no jornalismo tradicional -, através da implantação da cultura do tempo real, que
configura uma das principais características do jornalismo online denominada de
instantaneidade ou atualização contínua. Ainda em virtude do advento da internet,
as transformações transpassaram os níveis estruturais e alcançaram o papel, a
posição e as funções dos jornalistas no modelo de comunicação e na relação com o
público.

Jornalistas são geralmente desconfiados em relação aos novos métodos de


exercer o jornalismo. Ok, esta é realmente uma das profissões que tem
demonstrado maior dificuldade para aceitar a mudança. Algumas décadas
atrás, repórteres se sentiam inseguros em relação ao uso de citações num
artigo ou quando recebiam a informação por telefone, uma máquina nova na
época. Nos anos 90, os repórteres sentiam a mesma desconfiança em
relação ao uso de e-mail. Hoje, apesar dos avanços nos sites de notícias,
ainda permanece um sentimento de indiferença em relação às novas mídias
por parte de muitos jornalistas “tradicionais” [...] (BRIGGS, 2007, p. 43 e 44).

Se com o jornalismo participativo na internet usuários e cidadãos comuns


atuam efetivamente no processo comunicacional, deixando a posição única de
receptores passivos, passando também a exercer o que era atribuído somente aos
emissores (jornalistas) e atuando como repórteres potenciais, através da produção e
envio de conteúdos (textos, fotos, vídeos e áudios), os profissionais têm seu papel,
seu posicionamento na relação com o público e sua rotina produtiva alterados.

Podemos identificar duas reações dos jornalistas perante estas novas práticas
e interações dos leitores (usuários). Inicialmente, uma sobressaiu visivelmente sobre
a outra, já que a maioria, senão toda esta classe profissional, se posicionou
radicalmente contra a participação efetiva do público na produção de conteúdo. Eles
viam esta abertura como uma ameaça que extinguiria o exercício de suas funções
ou ao menos reduziria o prestígio de ter controle da informação. Tal reação vinha
reforçada por profecias ‘pessimistas’ pregadas por estudiosos da comunicação, que
previam a substituição dos meios tradicionais pelo emergente online, bem como a
banalização da prática jornalística. Entende-se que esta reação dos jornalistas se
deu ‘naturalmente’, pois as novas formas de participação estariam provocando
mudanças diretas no contexto em que estavam inseridos habitualmente.
40

[...] já não é mais o jornalista o único responsável pela produção de notícias.


Muda, portanto, o papel desse profissional, seu limite de autonomia, assim
como as rotinas de produção – tudo isso em decorrência da tecnologia. A
produção no webjornalismo participativo não envolve etapas costumeiras do
jornalismo tradicional, como a rotina de reunião dos jornalistas para
discussão de pautas, saídas externas para contatar as fontes, entrevistá- las
e fotografá-las. Não há mais texto padronizado, com lead, pirâmide invertida
etc (LINDEMANN, 2007, p. 54).

Portanto, tanto alarme foi, aos poucos, dando lugar a uma estabilidade e
busca por uma boa relação com o jornalismo participativo, especialmente com o
público. Se esta nova prática já estava estabelecida e conquistava rapidamente o
interesse dos leitores, coube aos jornalistas se adequar e decidir não ficar alienados
ao processo de transformação do modelo comunicacional vigente até o presente
momento. Tomando o conceito de PENA (2006) podemos confirmar a ideia de que
os jornalistas devam encarar o jornalismo participativo na internet e suas
implicações como um novo desafio profissional, lembrando-se sempre da função
essencial que lhe é atribuída: a de mediador, segundo o conceito de gatekeeper22.

[...] As decisões dos selecionadores de notícias sempre estão mais


influenciadas por critérios profissionais, ligados às rotinas de produção
(como os fatores de noticiabilidade, falta de espaço, repetição, falta de
qualidade do material, interesses publicitários, etc.) do que por uma
avaliação individual e subjetiva. Já no caso do webjornalismo participativo,
no entanto, isso muda de figura: não há mais o fator espacial (pois a Internet
é “ilimitada”) e os cidadãos-repórteres não têm a devida cautela jornalística
ou comercial para com o material que publicam (FONSECA; LINDEMANN,
2007, p. 6).

Contudo, se com o jornalismo participativo os usuários comuns se tornam


repórteres em potencial, podendo participar efetivamente da produção de notícias e
conteúdos, eles também passam a exercer também a função de “gatekeepers”,
selecionando algo de sua rotina ou do convívio social, etc, e publicando no meio
online.

[...] o jornalismo cidadão é “uma ação por meio da informação”, porque,


segundo VARELLA (2007, p. 80), o cidadão-repórter informa algo porque
quer que algo seja feito, “que seu bairro esteja limpo, que a prefeitura
proporcione melhor atendimento, que o professor ensine com mais
dedicação ou que a coleta de lixo seja mais organizada e eficiente”. Essa

22
Conforme LINDEMANN (2007, p.54), este conceito da teoria de gatekeeper foi utilizado pela
primeira vez nos estudos de jornalismo por David Manning White (1993).
41

visão, assim, localiza o “jornalismo-cidadão” como uma narrativa local,


dentro daquilo que se denominou como esfera do jornalismo hiperlocal
(MALINI, 2008, p.10).

Neste sentido, Cristiane Lindemann (2007, p.55) aponta como ficam os


jornalistas a partir de mais esta transformação, referenciada por Bruns (2003), que
diz: “estes passam a filtrar o conteúdo disponível na rede ou enviado por
colaboradores, e são então chamados de gatewatchers”. A filtragem se faz
necessária porque se a internet oferece espaço virtualmente ‘ilimitado’ e a produção
de conteúdos foi aberta ao público, a demanda de informações só tende a crescer
‘desgovernadamente’. As notícias vêm de diversos locais, transmitidas por diferentes
emissores (usuários comuns), e a filtragem passa a ser a única forma de avaliar as
informações e adequá-las de acordo com a linha editorial e os interesses do público
(segmentação) do veículo online em que será publicado.

A filtragem se faz importante também porque o conteúdo colaborativo não


precisa ser descartado: “Não é mais preciso rejeitar notícias devido à falta de
espaço, porque pode-se publicá-las todas. Nota-se um deslocamento da
coleta de informação para a seleção da mesma” (PRIMO;TRÄSEL, 2006,
p.8). Se nos meios tradicionais os conteúdos produzidos oficialmente por
um repórter do veículo têm espaço garantido sobre qualquer outra ‘classe’
de informação, com o jornalismo participativo na internet o meio online
consegue romper esta delimitação e abrir espaço para publicação de
textos, fotos e vídeos produzidos por qualquer usuário comum. Além de
serem publicados nas páginas da internet, os conteúdos colaborativos que
passam pelo processo de filtragem – feito por jornalistas – são, em alguns
casos, transpostos também para as mídias impressas dos correspondentes
jornais online.

Ainda assim, muitos jornalistas e empresas de comunicação insistem em


questionar a veracidade, credibilidade e objetividade dos conteúdos enviados por
usuários comuns. Mas até que ponto o jornalismo tradicional segue fielmente estes
preceitos? Se o público está mais próximo dos acontecimentos que relata e
transforma em notícia, quem realmente é a fonte oficial? No modelo comunicacional
42

massivo (emissor-meio-mensagem-receptor) os ruídos eram tidos como


abomináveis e comprometedores para o estabelecimento de uma conversação entre
as partes envolvidas, enquanto que agora, com o jornalismo participativo na internet
os ruídos se tornam importantes na comunicação e chamam a atenção de mais
internautas (leitores), pois talvez retratem com mais fidelidade o ponto de vista
público presente nos fatos noticiados.

Passada a explosão inicial do jornalismo online e tendo seu firmamento


estabelecido enquanto um meio de comunicação tecnológico, com rápida e grande
aceitação por parte do público, cabe agora aos jornalistas se engajarem com o
jornalismo participativo, a fim de estreitar esta nova relação interativa estabelecida
com o público (audiência) e explorar novas possibilidades que ampliem a prática
profissional e o fazer jornalístico. Uma vez abertas as portas do jornalismo ao
público, elas não podem mais ser fechadas; portanto, os jornalistas devem encarar a
participação ativa dos receptores no processo de comunicação como um desafio, no
qual o principal objetivo deve ser abrir mão do controle sem sair do comando.

Este desafio consta também do fato de que os jornalistas precisam se tornar


repórteres multimídias para atender as expectativas geradas pelo suporte
tecnológico em que o meio online está inserido, ou seja, devem sempre produzir
vários produtos para um mesmo conteúdo – texto, vídeos, fotos, áudios – e, desta
forma, ir além de apenas publicar notícias, oferecendo ao público um jornalismo-
serviço.

Para além de emissores, os jornalistas tornam-se também mediadores e suas


atribuições ganham maior responsabilidade, a partir do momento em que passam a
filtrar o conteúdo disponível na Web ou enviado por colaboradores
(leitores/internautas). Os profissionais têm, ainda, a missão de preservar a
credibilidade do conteúdo jornalístico neste novo contexto.
43

3 ESTUDO DE CASO: EU-REPÓRTER DO O GLOBO ONLINE

3.1 A MECÂNICA DE PARTICIPAÇÃO DOS LEITORES

Leitor denuncia que ambulantes ‘entopem’ bueiros com mercadoria irregular na


Barra
44

23

Figura 1 – Foto do leitor Joelmar Marques Barbosa enviada ao EU-REPÓRTER

Rio - Vejam só onde são guardados os refrigerantes e as carnes que os pedestres


comem na porta do Barrashopping, no final das tardes. Nesse horário, a calçada fica
cheia de pessoas saindo do trabalho para o ponto de ônibus. O comércio informal
costuma atrair exatamente esse tipo de freguês. O problema é que, para fugir da
fiscalização da Guarda Municipal e das operações do Choque de Ordem, os
ambulantes precisam encontrar um lugar de fácil acesso para ocultar suas
mercadorias. Ignorando o perigo e o bom senso, os vendedores guardam seus
produtos em bueiros e caixas de luz, algumas vezes, bem distantes da entrada do
shopping, já no canteiro da Avenida das Américas. A manobra é feita sem o menor
constrangimento na frente dos pedestres, os mesmos que costumam comprar
bebidas e petiscos. Além de entupir os bueiros, as mercadorias podem causar curto
nas caixas de luz. Sem falar na falta de higiene ao depositar comida fresca em local
sem refrigeração alguma e sujeito à presença de ratos e baratas24.

A notícia acima não segue uma narrativa comum às presentes nas mídias
tradicionais. O leitor registra o fato com palavras informais, sem responder
esquematicamente as perguntas básicas do ‘lead’ (quem, quando, onde, como,

23
Foto do leitor Joelmar Marques Barbosa, enviada ao EU-REPÓRTER, retratando ambulantes
guardando alimentos em bueiros no Rio.
24
O texto e a foto foram enviados ao EU-REPÓRTER pelo leitor do Globo, Joelmar Marques Barbosa,
em 10 de jul. 2010. Disponível em <http://oglobo.globo.com/participe/mat/2010/07/10/leitor-denuncia-
que-ambulantes-entopem-bueiros-com-mercadoria-irregular-na-barra-917118223.asp> Acesso em 11
de jul. 2010.
45

porque). Apesar desta diferenciação, o autor consegue contar a história do que viu e
retratar em fotografia o flagrante obtido em seu cotidiano, o que talvez dificilmente
fosse registrado pelas lentes de um fotógrafo de qualquer veículo de comunicação,
até mesmo pela instantaneidade da situação descrita. Além de tocar em aspectos
importantes do dia-a-dia, como a falta de higiene por parte dos ambulantes que
comercializam alimentos na rua, a notícia se torna importante por ter sido produzida
por um leitor do Globo, através do EU-REPÓRTER.

Assim é o conteúdo desta seção de jornalismo participativo: recheado de


pautas ‘incomuns’ e relatos pessoais de usuários comuns (leitores). O EU-
REPÓRTER entrou no ar, na página do <www.oglobo.com>, em agosto de 2006, e
desde então está aberto à publicação diária de notícias e conteúdos produzidos por
leitores. Porém, esta editoria interativa só foi lançada dez anos depois do início das
atividades do Globo no meio online em 1996. Não diferente dos outros veículos de
comunicação, a versão online era apenas a transposição do jornal O Globo para as
páginas da internet – do impresso para a web. Seguindo ainda as fases do
jornalismo online no Brasil, o Globo começou a explorar as potencialidades
tecnológicas da internet, aderindo em sua versão virtual novas ferramentas de
publicação e, principalmente, de interação com o público.

O conjunto de novos elementos deveria cumprir três finalidades principais:


melhorar a oferta de conteúdos disponíveis, dando maior espaço para
seções interativas como os blogs; oferecer mais recursos multimídia e
ampliar a interação com o leitor (BORBA, 2010, p.62).

No caminho até a implantação do EU-REPÓRTER, o Globo tinha a


participação de leitores apenas pelo envio de e-mail, resposta às enquetes e
discussão em fóruns. Aos poucos, novas ferramentas multimidiáticas e interativas,
como espaços para comentários dos leitores, foram somadas ao online, culminando
com o lançamento da seção de jornalismo participativo em 2006:
46

Figura 2 – Página principal do EU-REPÓRTER no site do Globo Online

Inicialmente, a proposta era, além de abrir espaço à participação dos leitores


no envio de conteúdos, conceber uma integração entre a versão digital e os veículos
impressos da Infoglobo25, por meio da publicação dos materiais enviados pelos
internautas em suas edições.

Com o slogan ‘Aqui você faz a notícia’, o EU-REPÓRTER é apresentado aos


leitores como a seção de jornalismo participativo do Globo. “Aqui os leitores são
repórteres”, é a chamada usada para atrair a atenção e participação do público, que
é indagado a enviar conteúdos: Mande sua história em foto, vídeo, texto e áudio, diz
a página do EU-REPÓRTER. A notícia mostrada no início desta parte do capítulo foi
escolhida por representar bem esta ‘contação’ de histórias feita pelos leitores do
Globo, porém, dentro desta seção identificamos ainda outras ‘classes ou modelos’
de notícias provenientes da produção de usuários comuns ou cidadãos-repórteres
como são comumente chamados. Mas, antes de apresentarmos os outros aspectos
das notícias colaborativas, é importante discutir como realmente acontece esta
relação de interatividade proporcionada especificamente por esta seção do Globo
25
Empresa responsável pela edição dos jornais O Globo, Extra, Expresso e Diário de São Paulo.
47

Online até o momento da veiculação ou publicação do conteúdo produzido pelo


público em sua página na internet e posteriormente no jornal impresso.

O primeiro ponto observado é de que a abertura à participação de cidadãos


comuns (leitores/internautas) para a publicação de notícias, vídeos e fotos é restrita
apenas a usuários previamente cadastrados no site do O Globo. Entretanto, não é
necessário ser assinante da edição impressa do jornal, podendo os interessados
realizar o cadastro na própria página do Globo na internet. Esta restrição é
entendida aqui como o mínimo de controle que pode ser utilizado pelo veículo de
comunicação visando gerar relatórios sobre quem está acessando o online e traçar
um perfil do público, como média de idade e sexo, por exemplo. Além disso, o
cadastro prévio como exigência para envio e publicação de conteúdos ao EU-
REPÓRTER, é mais uma ferramenta em busca de garantir a veracidade das notícias
publicadas na web e prezar pela credibilidade de seu conteúdo, para benefício do
próprio veículo e do público, direta ou indiretamente ligado à sua veiculação.

Após ter feito o cadastro, as regras de participação no EU-REPÓRTER são


apresentadas aos leitores do Globo Online. Em seguida, para enviar material o
participante deve aceitar o Termo de Compromisso e Cessão de Direitos Autorais:
48

26

Figura 3 – Regras de participação do EU-REPÓRTER

Destacamos dois itens considerados mais relevantes para discussão do


presente estudo. O primeiro de que “O Eu-Repórter só publica textos, fotos, vídeos e
áudios noticiosos, nunca opinativos”, confirmando o caráter jornalístico do conteúdo
veiculado nesta seção de participação dos leitores. E o segundo: “A publicação do
conteúdo está sujeita a aprovação da equipe de editores do site O Globo”, que
retrata a existência de mediação por parte dos profissionais do online e filtragem do
conteúdo recebido no EU-REPÓRTER. Também é importante ressaltar um terceiro
item que define: “Todos os textos, imagens, vídeos e áudios publicados serão
26
Regras de Participação do EU-REPÓRTER. Disponível em
<http://oglobo.globo.com/participe/regras.asp> Acesso em 24 de jul. 2010.
49

assinados”. Neste ponto verifica-se que antes de se tornar produtores potenciais de


conteúdo, os cidadãos-repórteres são tratados como leitores, acima de tudo, mas
nem por isso deixam de ter sua autoria devidamente publicada, com a assinatura no
material enviado.

Além de enviar textos, fotos, vídeo ou áudio, os leitores podem comentar os


conteúdos publicados no EU-REPÓRTER e avaliar, conferindo nota ao material
veiculado.

27

Figura 4 – Comentários de leitores publicados em notícia do EU-REPÓRTER

A votação é livre a qualquer leitor que acessa o conteúdo publicado no EU-


REPÓRTER e fica visível na parte superior de cada notícia. O público pode dar nota
de zero a cinco e a partir desta votação uma média estabelece as quatro melhores
notícias do dia, que ganham destaque como ‘As escolhidas pelos leitores’:

27
Comentários de leitores postados em matéria do EU-REPÓRTER. Disponível em
<http://oglobo.globo.com/servicos/comente/comentarios.asp> Acesso em 24 de jul de 2010.
50

28

Figura 5 – Lista das notícias do EU-REPÓRTER com as maiores médias de votação dos leitores

Além das notícias com as melhores médias em votação dos leitores, a partir
do número de cliques são listados os conteúdos mais lidos e os mais comentados no
EU-REPÓRTER. Ambas as ferramentas são usadas como medidoras de audiência
do jornalismo participativo no Globo Online.

29

Figura 6 – Lista das notícias do EU-REPÓRTER mais lidas e as mais comentadas

Aos poucos novas ferramentas e plataformas multimidiáticas foram agregadas


ao EU-REPÓRTER, conferindo maior relação de proximidade entre leitores e o
Globo Online, bem como entre leitores e jornalistas.

28
Lista das notícias colaborativas com as melhores médias obtidas em votação dos leitores.
29
Lista das notícias mais lidas e das mais comentadas no EU-REPÓRTER.
51

Em 2009, O Globo On-line aprimorou ainda mais a multimidialidade do Eu-


Repórter ao lançar um aplicativo no qual os usuários portadores de iPhone
ou iPod podem enviar suas colaborações para o site por meio de seus
próprios aparelhos, ou seja, do próprio local do fato. O aplicativo pode ser
baixado gratuitamente e radicaliza ainda mais a característica de cobertura
dos fatos de forma cada vez mais instantânea e disseminada, já que
qualquer usuário implicado no fato a ser publicado ou que esteja presente
no momento em que ele aconteceu, pode enviar logo em seguida sua
colaboração para o site (BORBA, 2010, p. 62 e 63).

30

Figura 7 – Página do aplicativo do EU-REPÓRTER para Iphone

3.2 FORMAS DE PUBLICAÇÃO: DO LEITOR PARA O EU-REPÓRTER E


DA VERSÃO DIGITAL PARA O IMPRESSO

Durante o período de análise do EU-REPÓRTER verificamos grande


participação do público na produção de notícias, em resposta positiva à abertura do
jornalismo participativo no Globo Online. De todos os textos recebidos diariamente,
pelo menos três são publicados na página do EU-REPÓRTER. Nesta parte do
presente trabalho apresentamos como e de que maneiras se dá a publicação destes
conteúdos colaborativos no site do Globo e também no jornal impresso.

30
Aplicativo gratuito do EU-REPÓRTER para Iphone. Disponível em
http://oglobo.globo.com/mobile/iphone.asp#eureporter> Acesso em 3 de ago. 2010.
52

Primeiramente observamos que os textos dos leitores são integrados a uma


notícia construída pela própria equipe de jornalistas e editores do EU-REPÓRTER.
Ou seja, antes do conteúdo ser publicado na página do Globo Online já ocorre o
primeiro nível de mediação, no qual os profissionais responsáveis pela seção de
jornalismo participativo manipulam os textos enviados por leitores (usuários
comuns), configurando mais proximidade com a narrativa jornalística tradicional,
mas ressaltando os relatos pessoais e particulares dos colaboradores. Para ilustrar
melhor este processo podemos exemplificar da seguinte forma: os leitores têm em
mãos importantes narrativas factuais e flagrantes do cotidiano, que podem ser
disponibilizados na web através do envio para o EU-REPÓRTER. Porém, uma
equipe profissional precisa dar forma noticiosa aos relatos de cidadãos-repórteres,
como se estivessem trabalhado na construção ou composição de um corpo: os
leitores enviam partes essenciais como braços e pernas (testemunhos presenciais e
pessoais dos acontecimentos), mas cabe aos jornalistas uni-los à cabeça e ao
tronco, como por exemplo, pela inserção de um lead.

Segundo Jupiara, existe todo um processo para comprovar a veracidade da


informação antes de publicá-la. Uma dessas formas é por se fazer uma
minuciosa checagem através do leitor, de órgãos públicos e da própria
equipe de apuração do site. Em relação ao material recebido,
principalmente nos textos, são necessárias correções gramaticais e
ortográficas. Os editores não estão preocupados com regras de redação
jornalística como o uso de lead e sub-lead. Neste caso, mais uma vez a
informação apresentada sofre interferência por parte de jornalistas
profissionais que fazem uma busca minuciosa para verificar a veracidade do
fato. Uma equipe da editoria Eu-Repórter faz esta checagem antes de
publicar tal informação (BORBA, 2010, p.76).

Na maioria das notícias, a mediação de editores ou jornalistas responsáveis


pela sessão fica clara: geralmente o lead é produzido pela equipe do O Globo
Online, para que os outros leitores/internautas tenham conhecimento de cada caso.
Mas no decorrer das notícias, os textos enviados pelos cidadãos-repórteres são
incluídos para ilustrar mais detalhadamente os fatos e também para apresentar o
posicionamento das pessoas que veem cada situação sob variados olhares,
diferentemente do que talvez seria produzido por jornalistas profissionais, como no
exemplo abaixo.

Leitores registram acidente em esquina de Ipanema, Zona Sul do Rio


53

Rio – Na tarde desta segunda-feira, dois táxis colidiram na esquina da Rua


Nascimento Silva, com Aníbal Mendonça, em Ipanema, Zona Sul do Rio. De
acordo com uma testemunha, uma pessoa ficou ferida e foi socorrida pelo
Corpo de Bombeiros. Os internautas que registraram o acidente escreveram
para o Eu-Repórter, a seção de jornalismo participativo do GLOBO,
relatando que o problema é constante naquele local. Os leitores afirmam
que já avisaram as autoridades das batidas frequentes, mas que, até agora,
nenhuma providência foi tomada. Confira os flagrantes: (EU-REPÓRTER,
2010)31.

Neste caso, além de resumir o acidente, o lead apresenta uma chamada para
o EU-REPÓRTER, ressaltando a seção do Globo aberta à participação do público e
reforçando as principais observações relatadas nos testemunhos dos leitores
enviados em forma de texto. Em seguida estes relatos e as fotos produzidas pelos
cidadãos-repórteres são apresentados no decorrer da notícia:

32

Figura 8 – Foto da leitora Elena Devincenzi publicada na página do EU-REPÓRTER no Globo


Online

Elena Devincenzi:
“Nesta segunda-feira, no cruzamento da Nascimento Silva com Aníbal de
Mendonça, houve um acidente entre dois táxis. Não é possível que não
coloquem sinal nesta esquina. Toda hora tem um acidente”.
Lourenço Baptista Bicudo:
“Sempre ocorrem batidas na esquina das ruas Nascimento Silva com Aníbal
de Mendonça, em Ipanema. Muitas vezes, há feridos. Muitos moradores e
eu já falamos com a Cet-Rio e nada de uma solução para o problema. O
ideal seria colocar um sinal com luzes amarelas para informar melhor sobre
o cruzamento”.
Andrea Devai:
“Não, ele não fica nas estranhas do Complexo do Alemão, tampouco no alto
do Boréu. Fica ali mesmo, nas quadras mais valorizadas de Ipanema,
esquina da Nascimento Silva com Aníbal de Mendonça. É a morte rondando
todos que precisam passar pelo local, de carro, de bicicleta e até a pé. É a
31
Notícia publicada às 17h32 do dia 19 de abr. 2010 no EU-REPÓRTER com a participação de
leitores. Disponível em <http://oglobo.globo.com/participe/mat/2010/04/19/leitores-registram-acidente-
em-esquina-de-ipanema-zona-sul-do-rio-916377652.asp> Acesso em 20 de abr. 2010.
32
Foto da leitora Elena Devincenzi enviada em 19 de abr. de 2010 para o EU-REPÓRTER.
54

roleta russa. Nos últimos anos, o índice de acidentes neste cruzamento tem
sido de, no mínimo, um por semana – perguntem a qualquer pessoa
residente nas redondezas. Os acidentes se sucedem, os porteiros saem
para olhar, as pessoas nas janelas dos apartamentos comentam, os
transeuntes param. Virou entretenimento. O Corpo de Bombeiros é
acionado, a polícia é chamada. Dirão as autoridades: existe sinalização!
Sem dúvida, existe. Porém, pelo número de acidentes justo nesta esquina,
está claro que a sinalização não atende seu objetivo. É incompreensível
como até hoje não foi colocada uma simples sinaleira de alerta, como já
existe na esquina da Avenida Henrique Dumont com Barão da Torre. Nada
acontece, tudo continua igual. Até o próximo acidente. Há anos. Este das
fotos aconteceu na tarde desta segunda-feira, e fiquei indignada – dois
taxistas que dependem dos seus veículos para o seu sustento”.

É interessante observar como os relatos dos leitores agregam valor à notícia


e integram pontos de vista que provavelmente não fossem descritos por um repórter
que saísse às ruas com um bloco e caneta nas mãos. Os textos dos leitores são
repletos de sinceridade, informalidade e espontaneidade na forma de retratar o
acontecido. O importante também é que de diferentes formas os três leitores
acabaram por enaltecer e chamar atenção para o mesmo problema: a precariedade
na sinalização do cruzamento e a ocorrência frequente de acidentes no local. A
terceira leitora, em especial, conseguiu expor sua indignação numa narrativa
desprendida dos pretextos jornalísticos tradicionais. Andrea Devai soube contar uma
história de maneira criativa e seguindo a ordem cronológica dos fatos, ressaltando
aspectos vivenciados diariamente por ela e por quem mora, trabalha ou passa pelo
local. Os textos chamam atenção não por retratar um acidente qualquer, mas sim
por alertar sobre uma ocorrência que já se tornou comum no local.

Ainda nesta matéria do EU-REPÓRTER atentamos para o fato de que entre


os 61 comentários enviados por leitores um novo aspecto foi discutido e ressaltado:
a imprudência dos taxistas no trânsito do Rio.
55

33

Figura 9 – Comentário de leitor sobre notícia do EU-REPÓRTER

Em alguns casos, também é possível observar a continuidade dada pelos


jornalistas do EU-REPÓRTER ao conteúdo enviado por leitores, como quando se
inclui, por exemplo, a resposta ou posição de órgãos responsáveis pela solução de
determinado problema. Neste ponto, fica claro que, à medida que a participação é
aberta para cidadãos-repórteres, os leitores passam a pautar o conteúdo dos
veículos de comunicação de massa.

Interagindo com a seção de jornalismo participativo, o leitor Fernando Cunha


foi um dos autores de conteúdo que teve continuidade na página do Globo Online,
até mesmo no jornal impresso. No dia 11 de agosto de 2010 ele fotografou a
chegada de pinguins na Praia das Conchas, na Região dos Lagos:

Figura 10 – Foto do leitor Fernando Cunha publicada no EU-REPÓRTER

“Cansado da viagem, este pingüim descansava na Praia das Conchas, em


Cabo Frio. Após as fotos, procurei a Guarda Marítima e Ambiental, mas fui
informado que não havia veículo para resgatá-lo naquele momento. Uma
pena” (EU-REPÓRTER, 2010).34

33
Espaço de comentários no EU-REPÓRTER.
34
Texto e foto enviados pelo leitor Fernando Cunha em 11 de ago. 2010.
56

Na mesma matéria os jornalistas do EU-REPÓRTER publicam apuração junto


ao Corpo de Bombeiros sobre como proceder em casos como o relatado por
Fernando Cunha:

De acordo com o Corpo de Bombeiros, em casos como esse, em que os


animais chegam ao litoral, é preciso ligar para o número 193 ou procurar um
quartel dos Bombeiros próximo ao local. Os agentes, após receberem o
chamado, encaminham os animais para o zoológico da cidade, para que
eles se recuperem. O ‘repouso’ merecido dura cerca de uma semana (Eu-
Repórter, 2010).35

Depois, o desfecho da viagem dos pinguins foi fotografado pelo mesmo leitor
Fernando Cunha e enviado ao EU-REPÓRTER. Desta vez o conteúdo ganhou
destaque na editoria de Opinião do jornal O Globo, no dia 23 de agosto de 2010:

Final infeliz para pinguins em Cabo Frio


Três pinguins morreram na areia da Praia das Conchas porque o carro da
Guarda Marítima e Ambiental de Cabo Frio estava no mecânico e não pôde
recolhê-los. O leitor Fernando Cunha, que havia fotografado a chegada dos
animais à cidade, registrou o triste desfecho da viagem. – oglobo.com/eu-
reporter (O Globo, 2010, p. 8).36

Esta continuidade é também observada nas notícias em que os leitores


cobram ou reivindicam ações de órgãos públicos ou privados que tenham
responsabilidade sobre determinado fato. Por vezes, a equipe do EU-REPÓRTER
dá prosseguimento à notícia, realizando uma apuração mais profunda para ser
apresentada, tanto ao autor do conteúdo, como aos leitores em geral do site. Há
ainda as notícias colaborativas que rendem novas pautas para os repórteres da
edição impressa.

Nas análises do Eu-Repórter foram identificados os temas enviados com


maior frequência pelos leitores, que, comumente, tocam em implicações de apelo
popular – seja em questões relacionadas aos órgãos públicos e privados, ou de
cunho social e cultural -, muitas vezes abdicadas por outros meios, devido a tantos
padrões impostos, seja pela linha editorial ou pelo público-alvo para o qual o veículo

35
Notícia publicada às 20h31 de 11 de ago. de 2010 no EU-REPÓRTER. Disponível em
<http://oglobo.globo.com/participe/mat/2010/08/11/leitor-registra-chegada-de-pinguim-em-uma-praia-
de-cabo-frio-na-regiao-dos-lagos-917369783.asp>.
36
Matéria publicada na página 8 do jornal O Globo do dia 23 de agosto de 2010.
57

é destinado. Os conteúdos enviados com maior frequência, na maioria das vezes,


estão enquadrados nas editorias de cidades, meio ambiente e polícia. Com esta
observação, confirmamos a ideia de que o jornalismo participativo na internet abre
espaço para que os conteúdos enviados pelo público cubram o que muitas vezes
fica de fora das publicações dos veículos de comunicação tradicionais.

Na visão do Globo Online, o jornalismo participativo também tem a missão


de apresentar pontos de vistas diferentes dos mesmos assuntos. O jornal
está cobrindo um evento e os leitores resolveram cobrir também? “Ótimo”,
diz Jupiara. O editor acredita que e a pluralidade de opiniões é que dá graça
a essa forma de jornalismo (MENDES, 2009, p.318).

Aproveitando-se disso, a seção de jornalismo participativo do Globo Online


consegue identificar temas que possivelmente resultariam na produção jornalística
por parte de diversos cidadãos-repórteres e lança chamadas para conteúdos
específicos, tanto na web, quanto no impresso. Nestes casos são utilizados
assuntos factuais de grande repercussão social, como o caso recente dos arrastões
no Rio de Janeiro; e temas um tanto quanto incomuns às mídias tradicionais. As
chamadas como ‘Fez fotos dos estragos da chuva? Envie para o EU-REPÓRTER’
indagam os leitores a enviarem seus textos, fotos, vídeos e áudios. As tradicionais
‘Este texto foi escrito por um leitor do Globo. Quer participar também e enviar sua
notícia?’ é sempre postada ao final de cada conteúdo colaborativo, com link que
redireciona à página na qual o leitor envia texto, imagens ou áudio. Estas chamadas
também são publicadas na editoria de Opinião da edição impressa do Globo,
visando atrair novos cidadãos-repórteres ao EU-REPÓRTER, além de conferir
destaque para a interação e participação dos leitores.

Com este objetivo, a foto de um gato de estimação enviada ao EU-


REPÓRTER pela leitora Claudia Martini foi publicada na edição de 4 de setembro de
2010 do jornal O Globo:

A FOTO do esperto gatinho que “rouba” um gole de água fresca na pia é


uma das dezenas de belas imagens enviadas por leitores. Fotografe você,
também, seu animal de estimação ou algum bicho incrível que você viu em
uma viagem, na sua rua, da janela do trabalho e envie para o site. –
www.oglobo.com/eu-reporter (O GLOBO, 4 de set. 2010, p. 8)
58

Se a princípio os conteúdos enviados ao EU-REPÓRTER eram publicados


restritamente na seção de jornalismo participativo do Globo Online, aos poucos eles
foram conquistando espaço no jornal impresso. Conforme já falamos anteriormente,
ocorre nesta fase uma inversão, na qual a transposição ocorre da web para o papel,
inversamente ao que acontecia na primeira fase do jornalismo online, em que o
conteúdo dos jornais impressos era transposto para a tela do computador, para a
internet.

No Globo uma página é destinada diariamente para publicação da editoria


intitulada de ‘Opinião Dos Leitores’, com a chamada: Pelo e-mail, pelo site do
GLOBO, por celular e por carta, este é um espaço aberto a expressão do leitor.
Nesta seção são apresentados comentários de leitores postados no site, opiniões
enviadas por meio de cartas, a interação do público nas mídias sociais como Twitter
e Facebook, além, é claro, da publicação de um conteúdo do EU-REPÓRTER
enviado por cidadãos-repórteres.

Durante as pesquisas do presente estudo de caso observamos que as


notícias do jornalismo participativo o Globo que vão para a edição impressa são
aquelas que obtiveram maior média de votação no dia, ou, as que geraram grande
repercussão e audiência no site (sejam as mais lidas ou mais comentadas).

Mas o que fica de destaque neste ponto do presente trabalho é de como são
feitas alterações que diferenciam o texto postado no online para o que é publicado
no jornal impresso do dia seguinte. Se na página do EU-REPÓRTER na internet os
relatos dos leitores são postados na íntegra, mesmo que com visível mediação dos
jornalistas; para aproveitamento do mesmo na versão impressa, os cidadãos-
repórteres são citados como fontes, na medida em que a narrativa é transformada
de acordo com os padrões jornalísticos tradicionais e o processo de moderação é
mais aprofundado, prezando dessa forma pela objetividade jornalística.

3.3 UM MOMENTO AMBÍGUO: O APROFUNDAMENTO DA INTERAÇÃO X

O CONTROLE DA INFORMAÇÃO
59

Nesta análise do EU-REPÓRTER verificamos um impasse comum a partir do


momento em que há espaço para participação do público na produção direta de
conteúdos. Ao mesmo tempo em que se abre uma seção de jornalismo participativo,
visando proporcionar um nível mais profundo de interação com os leitores; o jornal
não quer renunciar ao modelo narrativo massivo. Ou seja, da mesma forma em que
se entende a necessidade de configurar uma nova relação de proximidade do
veículo de comunicação e dos emissores com o público (audiência), há uma
resistência ainda forte em abrir mão do controle da informação, até mesmo por
fatores de interesse comercial.

Entendemos que esta resistência seja resultante principalmente da


inquietação dos jornalistas que têm suas funções alteradas e passam por um
momento de reposicionamento estratégico com o jornalismo participativo na internet.
Os profissionais ganham mais peso no papel de mediação, moderação e filtragem
dos conteúdos colaborativos enviados por usuários comuns (público) e também são
mais pautados pela audiência. Por isso eles ainda temem renunciar os padrões
jornalísticos tradicionais a que se adequaram na formação profissional, resistem
adaptações a novas modalidades no fazer jornalístico, embora esta realidade já
tenha mudado consideravelmente conforme falamos no segundo capítulo.

Esta inquietação com relação à prática profissional é gerada pelas mudanças


físicas e estruturais, em especial no ambiente de trabalho. A maioria das redações
de jornais impressos que lançaram versões online sofreram uma integração entre
ambos os setores. O impresso passou a depender do online, assim como o segundo
estava ligado diretamente ao primeiro no início da web. O conteúdo de um tem
ligação com o outro, portanto os repórteres que antes compunham equipes
separadas para cada meio dentro de um mesmo veículo, tiveram que estabelecer
uma nova relação de proximidade e troca mútua de informações entre si.

Há também as transformações comportamentais dos jornalistas que veem


novas expectativas em torno de seu trabalho e do cumprimento de seu papel
enquanto interagente no processo de comunicação. Os repórteres precisam ser
cada vez mais multimidiáticos (escrever, fotografar, produzir e editar vídeos etc) para
60

acompanhar a evolução das mídias e do fazer jornalístico, e ainda para atender a


demanda de informação requerida pelo público, que tem se tornado mais exigente
conforme ganha espaço efetivo na comunicação e obtém controle sobre as
informações que acessa.
61

CONCLUSÃO

Ter abordado neste trabalho, discussões em torno do jornalismo participativo


na internet, tema ainda tão recente, nos reforçou o entendimento de que ainda estão
em curso as transições provocadas pelo jornalismo online, tanto no modelo
comunicacional linear, quanto nos meios tradicionais ou massivos. Como a
ascensão e popularização deste novo meio midiático ocorreu tão rapidamente,
muitos estudos anteriores tenderam a um otimismo exacerbado; mas agora, com a
oportunidade de trazê-lo ao contexto atual, verificamos que apesar de já ter
alcançado certo nível de estabilidade, o jornalismo online ainda está sujeito a
possíveis mutações nos próximos anos. Por termos vivenciamos de perto esta nova
era da informação, desde o seu ponto inicial, às vezes tendemos a naturalizar
alguns aspectos.

Dessa forma, ao adotar uma análise comparativa entre os níveis de interação


presentes nos meios tradicionais (TV, rádio e impresso) com relação ao jornalismo
online, confirmamos que o jornalismo participativo na internet surgiu como uma
ruptura ao modelo de comunicação massivo (um para todos), estabelecendo uma
nova relação (todos para todos) e conferindo maior proximidade entre emissores
(jornalistas) e receptores (público). A partir disso, os interagentes que antes
ocupavam papéis separados e mantinham identidades distintas, passaram ao nível
de troca mútua de informações, pois apesar de os meios massivos já terem antes
oferecido alguma possibilidade de interatividade, delimitações entre emissores e
receptores eram mantidas intransponíveis e só foram rompidas no meio online,
através do jornalismo participativo.

Com base no estudo de caso do EU-REPÓRTER concluímos ainda que, além


da abertura à participação de usuários comuns na produção de conteúdo para o
jornalismo online ter resultado numa inversão de papéis, deixando a posição de
meros telespectadores da informação para conseguir voz ativa e participando
efetivamente do processo de comunicação; na qual os receptores passaram a ter
voz ativa, participando efetivamente do processo de comunicação e deixando a
posição de meros telespectadores da informação; o jornalismo participativo na
internet tem sido responsável pela transformação na prática e cultura profissional, na
62

medida em que os emissores começam abrir mão do controle da informação em


favor da interação mútua com o público, permitindo que diversas vozes e olhares
relatem, noticiem e publiquem conteúdos de caráter jornalístico, mesmo que
diferenciado dos padrões e aspectos tradicionais, seja pela informalidade ou
pessoalidade presente nas notícias colaborativas. Neste aspecto também é
importante ressaltar a permanência dos repórteres como mediadores, moderadores
e filtradores do conteúdo enviado por leitores.

Também com o estudo de caso foi possível verificar a convergência e


integração entre as mídias tradicionais e o online. Se no início do jornalismo online
identificamos uma simples transposição do conteúdo do impresso para a web, com a
abertura do jornalismo participativo na internet, a transposição passou a ocorrer a
partir do online para o papel.

Em síntese, com a elaboração do presente trabalho confirmamos a hipótese


de que o jornalismo online apresenta sim uma ruptura aos meios tradicionais, que
vai além não apenas do nível de interação com o público, mas toca também no que
diz respeito ao modelo comunicacional linear, ao exercício do jornalismo, e ao fazer
jornalístico nos veículos de comunicação de massa.
63

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