Você está na página 1de 5

DIREITO E ARTE:

RESENHA CRÍTICA GENI E O ZEPELIM

Chico Buarque, em sua composição autoral, ambicionou expressar o relativismo da


moral feminina perante a uma sociedade. Porém, a canção ganhou voz e incorporou diversos
cenários interpretativos que pudessem explorar pontos ricos, além do que o que fora
anteriormente supracitado.

“Geni e o Zepelim” é uma das composições mais fortes e incisivas no que diz
respeito à criticas sociais já apresentadas pelo veículo comunicativo musical da Música
Popular Brasileira. Isso por que, trata dos aspectos moralistas que existem no convívio social,
com suas respectivas taxatividades que aprosionam a liberdade do sexo feminino ser, se
reconhecer como detentora de tal direito e se posicionar como quiser e como bem entender.

Mas de enorme importância é salientar que, para toda e qualquer expressão artística,
deve haver anteriormente um estopim como causa motivadora para que a sensibilidade
permeie por entre telas, quadros, vasos, estátuas, letras e canções.

O cenário em que a composição fora realizada era por volta da década de 70, auge da
ditadura militar, por decorrência do Ato Institucional 5, que marcou a vida de inúmeros
artistas e idealistas pelas constantes censuras de expressão artística e pessoal que eram
praticadas sem a menor concepção do diz respeito à conservação do estado da dignidade da
pessoa humana.

Chico Buarque, com toda a sua incrível sutileza, utilizando-se se seu enorme
arcabouço vocabular, soube explorar o universo da composição com uma enorme crítica
social embutida, que facilmente passaria despercebido aos ouvidos insensíveis daqueles que
distribuíam horrores, por ordens militares (ou nem isso).

Junto a outros artistas, inspirados em ter suas vozes ecoando por entre as pessoas com
mensagens de resistência à tirania da ditadura, o cantor trouxe à tona um forte refrão de
extremo moralismo e objetificação do sexo feminino, quando, na verdade, a sutileza do
desenrolar dos seus versos mais omissos condenavam em palavras amenas o posicionamento
social perante o uso do corpo da mulher não casada por escolha, bem como a sua vida sexual.
Em resumo, o corpo da mulher como mero objeto de prazer ou maus tratos evidencia
o pensamento das pessoas que viviam naquela época. Geni é posicionada como prostituta, e,
além disso, indignificando também a mais antiga forma de prover o sustento famérico, isto é,
trabalho.

Geni, como mulher, se despe te tal preconceito narrado na canção por ser uma mulher
atemporal aos preceitos “normativos” ditados pelos “idealistas” da época. Sua bondade,
resiliência e olhar humano para com o coletivismo deixa de ser uma máxima reconhecida
socialmente para ceder espaço ao desprezo daqueles e daquelas que não se ousaram a
tamanha coragem! Isso, sim, deve ser visto como algo louvável... mas assim não foi com
muitas que se ousaram a posicionar-se de forma tão “libertina” quanto...

O refrão, artisticamente falando, tende a frisar a proposta da letra, o ápice, o ponto


máximo que culmina a ideia do artista. Mas o refrão de “Geni e o Zepelim” ressalta a
crueldade das pessoas que viviam naquela cidade, ressalta a indiferença para com o próximo,
como também a calúnia e difamação, ambos previsionado no código penal de 1945. Mas era
o poderio da ditadura que diziam os preceitos “moralmente normativos” que deveriam ser
seguidos: o uso injustificado da violência. E neste presente caso, tratam-se da violência
moral, física e psicológica de Geni.

O autor da canção traz um espaço para que possamos interpretar Geni sob um
contexto: a Geni Transsexual/ Travesti. A desmoralização diz respeito à sociedade não
conceber as categorias de gênero que eram temas ligados à uma disfunção sujeita à
depravação criminal, tendo como exemplo o atentado ao pudor.

Por ser uma figura tida como diferente e expressiva , a vulgarigaridade taxada pela
sociedade manchava o patrimônio imaterial famíliar, por ferir “preceitos religiosos” que
preodominavam ideologicamente na década de 70. Inúmeras Genis, sejam elas mulheres
donas de si, sejam elas prostitutas, sejam elas transexuais ou travestis, eram vistas como
doentes como doentes, deturpadas, como anômalas por sua forma de se expressar.

Um dos fatos que mais chamam à atenção na canção é que, cessado o interesse social
em preservar a sua securidade, voltam novamente a perturbar a securidade daquela que já não
tem mais validade moral, após de consentir aos prazeres carnais do Zepelim, o vilão da
narrativa.

Vale ressaltar mais um ponto curioso: precisamos nós, enquanto indivíduos


pertencentes a uma coletividade maior, achar um verdadeiro culpado para deixarmos de nos
responsabilizar pelas mazelas inerentes a qualquer ser humano? Pois assim, de forma
inquisitorial, ainda nos prestamos a se comportar de tal maneira, hoje, em pleno século XXI.
Assim, pairamos sob um questionamento: como pessoas completamente desumanizadas
obtêm condições de prosperar com a sua integridade física e psicológica? A justificativa de
tais atos? Simples resposta: o uso que ela faz do próprio corpo com o domínio de si
mesma!!!!!

A musica aborda sobre a questão da vivencia social de todas as mulheres, sejam elas
cis ou trans/travestis, considerando sua condição laboral de prostituição e do
emponderamento feminino perante aquela sociedade daquela epoca onde são constante
vitimas de falsas acusações por atentado ao pudor, expresso nos art. 213 e 214, consoante o
art 233 do CP. Desta maneira, essas mulheres agredidas e imputadas falsamente, são
prejudicadas a exercer suas funções indiferente dos cargos trabalhistas que elas ocupam.

O ponto a ser abordado nesta conclusão é o fato dos limites impostos às mulheres
presentes no sistema patriarcal, ainda mais dominante no século passado, e seus prejuízos
advindos deste contexto social machista e transfóbico em que essas vítimas têm seus corpos,
suas mentes e suas condutas lícitas julgadas e marginalizadas acarretando frustrações na
execução do seu labor a fim de manter, muitas vezes, sua sobrevivência salientado o art 927
complementado pelos arts.186 e 187 do CC.

Ressalta-se a teoria da causalidade direta e imediata nestes casos onde, nos termos do
art. 403 do CC, exige que a causa do evento danoso seja direta e imediata, que no caso
abordado configura tais suposições, pois a prática dos delitos tendem a ser imediatistas tendo
ligação direta com o fato danoso. A reparação se dará no que se relacione aos danos diretos
sofridos pela vítima em decorrencia da conduta humana, ou seja, ao prejuízo efetivamente
praticado e experimentado, presumindo o dano moral e patrimonial (nos casos em que o labor
da vítima seja a prostituição) art 944 CC, dano estetico art 949 CC e dano pela perda de uma
chance, art 402 do CC.
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. OFENSAS. PALAVRAS
DE BAIXO CALÃO. DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO.
PROCEDÊNCIA.
Os danos à esfera existencial da pessoa humana, prejudicando
interesses inerentes aos direitos da personalidade, que extrapolam
meros desconfortos e aborrecimentos, geram o dever de indenizar, pelo
abalo moral. Ofensas de baixo calão proferidas pelo réu contra a
autora, que agrediram sua honra, devidamente demonstradas.
Discriminação de gênero. Dever de indenizar caracterizado, ante a
incidência dos arts. 186 e 927, do CC. Quantum fixado a título de dano
moral, em R$ 6.000,00, mantido, porquanto não houve apelação da
autora pleiteando sua majoração.
PROC. Nº 70071677884 (Nº CNJ: 0377982-51.2016.8.21.7000)

Alunos:
Caio Antônio Almeida Arantes - 201651281068
Julia Lopes Santiago Souza - 201851235858

Você também pode gostar